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RESUMO
A Floresta Amazônica, como ecossistema mais diversificado do planeta, sempre semeou
a cobiça dos povos. Nos últimos anos, uma atividade vem crescendo na Amazônia: a
biopirataria, que consiste na retirada ilegal de material genético de seres vivos da
floresta. O aumento nos índices de contrabando de animais e plantas, a derrubada de
árvores nativas e a apropriação do conhecimento tradicional exigem que o Estado aja no
sentido de proteger a nossa biodiversidade, mantendo aqui as riquezas naturais, ou,
recebendo benefícios das entidades que utilizem o material genético amazônico.
ABSTRACT
The Amazon Forest, the most diversified ecosystem of the planet, has always seeded the
greed of people. In the last years an activity has been growing in the Amazon:
biopiracy, that consists in the removal of illegal genetic material of living beings of the
forest. The increase in the indicators for animal, plants and tree logs traffic, along with
the appropriation of traditional knowledge demand that the state act to protect our
∗
Graduando pelo Centro Universitário de Ensino Superior do Amazonas, Trabalho de Curso:Monografia.
∗∗
Mestre em Direito Público pela UFSC; professora universitária licenciada da UCP, Coordenadora de
Monografia do Curso de Direito do CIESA, no MARTHA FALCÃO professora de Projeto de Pesquisa e
Monografia, em Manaus; Advogada e Conselheira da Comissão de Ensino Jurídico da OAB-AM.
biodiversity, keeping the natural wealth or receiving benefits from the entities that use
genetic material from the Amazon.
INTRODUÇÃO
A chegada efetiva à Amazônia se deu, primeiro, por obra dos espanhóis, alguns
anos após sua chegada. Em 1531 o espanhol Francisco Pizarro chegou à capital inca,
onde hoje é o Peru e ali se estabeleceu, reunindo informações sobre as riquezas da
região. Em 1541 Francisco Pizarro, vice-rei do Peru organiza uma expedição em busca
1
SALADOR, frei Vicente do. História do Brasil: 1500-1627. São Paulo: Melhoramentos, 1975. p.59
apud NADAI, Elza. NEVES, Joana. História do Brasil. São Paulo: Saraiva, 1995. p36.
do “país da canela”, e dá o seu comando a seu irmão Gonzalo Pizarro e a Francisco
Orellana, governador de Guayaquill. Esta foi a primeira expedição européia em busca
de um produto natural, diferente de ouro ou prata, mas também de alto valor mercantil
naquela época. A canela era produto de grande importância naquela época, razão pela
qual a expedição foi constituída por 220 espanhóis a cavalo, 4.000 índios, 2.000 lhamas,
4.000 porcos e 1.000 cães dos quais retornaram apenas Orellana e outros 80 espanhóis,
entre eles frei Gaspar de Carvajal2.
2
BRASIL, Altino Berthier. Desbravadores do Rio Amazonas, Disponível em:
<http://www.amazoniaenossaselva.com.br/Pal2.asp?Cod=9&Sld=$>. Acesso em: 18.10.2006
A partir da unificação dos países ibéricos sob uma mesma coroa, colocou-se
em prática uma política agressiva para rechaçar as outras nações e estabelecer de vez
seu predomínio na região.
3
CAMBRINI, Roberto. O Espelho Índio. Os Jesuítas e a destruição da alma indígena. Rio de Janeiro:
Espaço e Tempo, 1988, p. 83-86. Apud DA SILVA, Marilene Corrêa,. O Paiz do Amazonas. Manaus:
Valer, 2004, p.88.
4
BENCHIMOL, Samuel Isaac. Grupos culturais na formação da Amazônia brasileira e tropical. In:
Encontro Regional de Tropicologia, 2, 1985, Recife. Anais... Recife: Massangana, 1989. p. 115-144.
Disponível em: <http://www.tropicologia.org.br/conferencia/1985grupos_culturais.html>. Acesso em:
03.11.2006.
1. Devemos cultivar o arroz, o cacau, o café, o algodão, o açúcar, o carrapato, a
canela, os couros em sola, a couranha, o gergelim e o tabaco.
8. Além de tudo há uma infinidade de madeiras, tanto para navios como para
móveis, que são tratadas com tal desprezo e ignorância nas roças, que queimam
madeiras que valeriam muitos mil cruzados para semear uns poucos feijões;
9. Se se cultivasse tudo isso seria de muito maior utilidade, porque além de dar
melhor fruto, poupava muitos dias metidos nos matos, em busca desses gêneros,
quando os podiam ter muitos melhores à sua porta.
10. Por não fazerem esta arte, o Estado está no último precipício da miséria e da
pobreza, pois podendo ser um Estado poderoso ficou na condição de pedir
socorro e esmola como qualquer pobre.
5
REIS, Arthur César Ferreira. Seringal e o Seringueiro. Manaus: Ed. Universidade do
Amazonas: 1997.
Uma passagem constante da Enciclopédia Britânica6 demonstra a vida dos
seringalistas: “O seringalista, no barracão da margem do rio navegável, era um nababo
primitivo. O do seringal Iracema, no Alto-Acre, vestia smoking para jantar. Era um
jantar aparatoso, ao som da orquestra que contratara em Belém ou Manaus. Bebia-se
champanha como se fosse água. O preço não importava. [...]. Desciam com a borracha
para Manaus ou Belém. Subiam com mercadorias”.
Não apenas a economia da região foi inflada nos anos do período áureo da
borracha, mas também a sua população. Em 1890 a população da Amazônia estava em
torno de 476.000 habitantes. Dezesseis anos depois, este número já era superior ao seu
dobro. Em 1906 haviam na região mais de 1.100.00 habitantes, vindos de todo o país
em busca da borracha, principalmente do nordeste (Maranhão e Ceará).
6
Enciclopédia Britânica. Encyclopaedia Britannica Editores Ltda. : São Paulo. 3v – BORRACHA, a
Civilização da. 207p. 1977.
7
ARRUDA, José Jóbson de a Arruda; PILETTI, Nelson. Toda a História. Ed. Ática: São Paulo 7ed.
Samuel Benchimol, em sua obra Romanceiro da Batalha da Borracha8, traz o
testemunho de um destes nordestinos, impedidos até mesmo de desembarcar nas
capitais em razão do estado deplorável em que se apresentavam:
Vim mode conhecer isso aqui. Todos me diziam que o Amazonas era
uma terra de bondade. Se ajuntava dinheiro com ciscador. Era só
apanhar dinheiro com as mãos e voltar. Então, eu disse comigo, que eu
ainda hei de conhecer essa terra. Gosto do inverno, sem comparação.
Eu estava em União. A moda lá é vir pro Amazonas. É só o que se fala
por lá. A animação no Ceará é grande. Só se fala no Amazonas, nas
suas riquezas, nas suas facilidades. As coisas por lá andam mesmo
ruim. A terra anda virando pó. Está tão seca que nem língua de
papagaio. Não há ninguém que podendo vir não vem. Sempre tive
vontade de conhecer isto aqui. Todo mundo me falava nela. Eu vim
antes que fosse tarde demais. Dois anos que faz seca. Estamos entrando
no terceiro. Lá é assim: um ano só verão, no outro não há inverno. Não
há quem possa viver.
O preço pago por um quilograma de borracha crua no ano de 1825 era de 220
réis. Em 1910, o mesmo quilograma era negociado a 17.800 réis.
8
BENCHIMOL, Samuel. Romanceiro da Batalha da borracha. Manaus: Imprensa Oficial, 1992
vegetais e animais capazes de, manipuladas corretamente, agir em prol de toda a
população mundial por meio de remédios, vacinas, alimentos, cosméticos, e outros
produtos.
9
ALMEIDA, Ceci,. UNB Revista, Brasília: Ano 1, n.º 1, 2001.
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defende-lo e preserva-lo para
as presentes e futuras gerações.
[...]
10
DEL NERO, Patrícia Aurélia, in Propriedade Intelectual: A tutela jurídica da biotecnologia. São
Paulo. Revista dos Tribunais, 1998.
11
HOMMA, Alfredo, In Biopirataria na Amazônia: Ainda é tempo para salvar? Disponível em:
<http://www.atech.br/agenda21.as/download/amazonia2.pdf> Acesso em: 28.008.06
Por todos os motivos apontados, fica demonstrada a urgência com que uma lei
que regulamente o estudo, exploração, manejo e desenvolvimento de tecnologias
relacionadas ao material genético da Floresta Amazônica, aplicando penas e sanções a
quem deixar de observá-la, com a finalidade de proteger o Amazonas e explorar a sua
biodiversidade de maneira consciente e benéfica a todos.
Porque nos últimos anos, com a crescente repercussão dos benefícios dos
produtos naturais da Amazônia, a facilidade de difusão de informação, a busca por uma
vida mais saudável e o valor econômico agregado a produtos com a marca “Amazônia”
aumentaram os casos de biopirataria na região.
Frutas, sementes e até mesmo animais são patenteados por empresas
multinacionais todos os anos, sem qualquer contrapartida para aqueles que passaram o
conhecimento adiante ou mesmo para o país ou os locais onde são achados e colhidos.
12
Cupuaçu: registro da marca é cancelado no Japão. Publicado por: Rota Brasil Oeste. Disponível em:
<http://www.brasiloeste.com.br/noticia/908/>. Acesso em: 30.10.06.
Esta foi uma vitória dos povos amazônicos e de toda a Amazônia em si, porém
é apenas um grão de areia.
13
http://www.theacaiberrycompany.com/about.htm
Da casca da andiroba é produzido um chá utilizado para combater febre e
verminoses. Se transformado em pó, a casca pode ser utilizada também como
cicatrizante.
A andiroba é indicada, ainda, contra gripe, tosse, pneumonia, depressão,
infecções do trato respiratório superior, dermatites, úlceras, escoriações, diabetes,
reumatismo, protetor solar e também cosméticos.
São tantas aplicações da andiroba que a indústria internacional não se demorou
muito em tentar se apropriar do nome. Em 1999, antecipando o lucro dos produtos
retirados da árvore, a multinacional Rocher Yves Biolog Vegetable (participantes da
França, Japão e Estados Unidos) e a japonesa Morita Masaru fizeram o pedido para
registro de patente no Japão e na União Européia.
2.6 O CURARE
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS