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UNIVERSO 25: DA UTOPIA PARA O INFERNO

Gabriela Sandri Zeferino1


Júlia Maidana Picek2
Maria Eduarda Voelz Poersch3
Susana Back4

RESUMO

O experimento denominado Universo 25 foi considerado a obra prima dos


experimentos do etologista John B. Calhoun, que conseguiu criar em uma área de três
metros quadrados uma verdadeira utopia para ratos. O tema da pesquisa baseia-se
nas teorias de Calhoun sobre descobrir em quanto tempo os ratos chegariam num
ponto insustentável de superpopulação. Nunca faltou comida ou água, porém a
intenção era que eventualmente faltasse espaço, criando, assim, um colapso na
sociedade de ratos. Era um fato que o experimento estava fadado ao desastre,
entretanto, os meios em que o Universo 25 veio a perecer foi o que alarmou Calhoun
e seus colegas. Dessa forma, foram utilizadas fontes bibliográficas e uma pesquisa
de opinião para analisar a visão da sociedade sobre o assunto. O estudo irá abranger
aspectos introdutórios do tema, tais como a conceituação do termo utopia, tomando
como base a obra de Thomas More. O objetivo geral do trabalho, portanto, é
estabelecer uma relação entre a sociedade de ratos do Universo 25 e a nossa
sociedade atual. Também se leva em conta o pouco conhecimento das pessoas sobre
o assunto, o que justifica a escolha de tal tema.

Palavras-chave: Experimento Científico - Extinção – Comportamento Humano –


Sociedade.

INTRODUÇÃO

Tendo como base seus estudos sociológicos, John B. Calhoun realizou


diversas tentativas de um experimento científico que acabou por revelar um

1
Aluna regularmente matriculada no 2º ano do Colégio Concórdia de Santa Rosa, RS.
gabrielasandriney@gmail.com

2
Aluna regularmente matriculada no 2º ano do Colégio Concórdia de Santa Rosa, RS.
julia.maidana.picek@gmail.com

3
Aluna regularmente matriculada no 2º ano do Colégio Concórdia de Santa Rosa, RS.
mariaeduardavoelz1@gmail.com

4
Orientadora, professora Susana Back, Mestre em Educação em Ciências, Licenciada em Física pela UFSM,
professora de física do Colégio Concórdia de Santa Rosa, RS. susana.back@colegioconcordia.com
2

verdadeiro modelo da humanidade a partir do uso de ratos de laboratório. Esse


experimento recebeu prestígio mundial e foi chamado de Universo 25.

No ápice de sua carreira, Calhoun participou de diversas conferências ao redor


do mundo. Até mesmo organizações como a NASA aderiram aos seus estudos. Desde
então, o experimento de Calhoun foi incluído como um dos “Quarenta Estudos que
Mudaram a Psicologia”, juntamente com artigos de figuras como Freud e Pavlov.

Além do mais, os resultados dos experimentos de Calhoun ajudaram a


desenvolver os postulados da teoria da Comunicação Proxêmica de Edward T. Hall
em 1996, onde Hall criou diversas teorias a respeito do uso do espaço pelo homem
como forma de cultura.

Desta forma, a escrita deste artigo dá-se a fim de comparar a sociedade


contemporânea, quanto ao aspecto comportamental, com base em um experimento
científico. Ademais, compreender de que forma a depressão impulsiona o isolamento
social, analisar de que forma a queda de natalidade e aumento da mortalidade
relaciona-se com o tema abordado e, por fim, determinar se a hierarquia social
contribui para o aumento de atos de preconceito. Para tanto, será utilizada a pesquisa
bibliográfica, com enfoque quantitativo através de um questionário com perguntas
fechadas.

Assim, a escrita terá como organização a história de John B. Calhoun, o


conceito de utopia, a estrutura do Universo 25, suas quatro fases e, por fim, a
similaridade dos comportamentos entre seres humanos e ratos de Calhoun.

1. SOBRE O CIENTISTA JOHN B. CALHOUN

John B. Calhoun (1917-1995) foi um etólogo e psicólogo norte-americano


especializado em densidade populacional e seus efeitos no comportamento social.
Calhoun nasceu em uma pequena cidade chamada Elkton no estado de Maryland, no
condado de Cencil.

Calhoun começou sua carreira como ecologista animal e fez diversas


contribuições aos laboratórios da Universidade de Virginia. Tornou-se conhecido no
departamento de biologia e formou-se em 1939. Mais tarde, iniciou estudos de pós-
graduação em zoologia na Northwestern.
3

Em 1947, o vizinho de Calhoun concordou em deixá-lo construir um recinto


para ratos nos fundos de seu quintal em Towson, Maryland. O que Calhoun utilizou
foi um quarto de terra que chamou de "cidade dos ratos", onde a população inicial
começou a partir de cinco ratas grávidas.

John calculou que o habitat era suficiente para acomodar até 5000 ratos. Em
vez disso, a população estabilizou-se em 150 e, ao longo dos dois anos em que
Calhoun vigiava, nunca chegou ao seu ápice, tendo no máximo 200 ratos. O que não
foi um fato surpreendente, pois 5000 ratos ficariam extremamente apertados naquele
local. O etólogo repetiu o experimento do “universo de roedores” com nenhum
predador e exposição a doenças mínimas. Diante disto, os experimentos foram
descritos como "utopia dos ratos" ou "paraíso dos ratos".

O pesquisador publicou os resultados de seus primeiros experimentos com os


roedores em uma edição de 1962 da revista Scientific American. O tópico "Densidade
Populacional e Patologia Social" passou a ser citado mais de 150 vezes por ano. O
universo de ratos psicopatológicos e suas comparações com a vida humana nas
cidades densamente povoadas asseguraram que os experimentos fossem adotados
como evidência científica da decadência social.

Os ratos de Calhoun tinham chegado a fazer parte da cultura popular,


contribuindo para solucionar parte dos problemas de aglomeração urbana. Junto com
sua popularidade pública, os experimentos desempenharam um papel crítico no
desenvolvimento de disciplinas, como a psicologia comportamental.

Calhoun passou a atuar no Instituto Nacional de Saúde Mental (NIMH), do qual


se aposentou em 1984, mas continuou a trabalhar em pesquisas a respeito da
densidade populacional em relação ao planejamento urbano até a sua morte em 7 de
setembro de 1995.

2. DA UTOPIA PARA O INFERNO

Quase três décadas após o descobrimento da América, com o intuito de


apontar uma sociedade ideal, o diplomata inglês Thomas More (1478-1535) publicou
a obra “Utopia”. O termo utopia foi criado a partir da justaposição dos prefixos gregos
arcaicos “ou” (prefixo de negação) e “top (o) ” (lugar), significando “lugar que não
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existe”, sendo assim um lugar ideal, de felicidade e plena harmonia entre seus
indivíduos. O livro “Utopia” remete a uma ilha imaginária e discute temas atuais até
hoje, como guerras, paz, poder e economia.

Segundo More (1516), “Um governante que vive solitariamente no luxo e nos
prazeres, enquanto à sua volta todos vivem em meio ao sofrimento e lamentações,
estará atuando antes como carcereiro do que como um rei. ”

A ilha imaginária de More era perfeita, não somente em questões políticas em


que os cidadãos aproveitavam de plena eficiência do Estado, mas a religião também
era retratada como ideal de tratamento entre os homens. Mesmo que o livro de More
caracterizasse uma ilha irreal, é importante ressaltar que várias passagens reais da
negociação que ocorriam na Bélgica para defender os interesses dos mercadores
londrinos são descritas em seu livro.

Por conseguinte, o termo distopia foi criado pelo filósofo John Stuart Mill para
designar uma sociedade igualmente imaginária, no entanto, que vive em condições
de opressão, caos e desigualdade social. À vista disto, uma distopia pode ser
entendida como um modelo de inferno, palavra usada por diferentes religiões e
mitologias que significa "as profundezas" ou o "mundo inferior", ou seja, o inferno é
caracterizado como um lugar de discórdia e sofrimento.

Distopia e seu significado promovem a vivência em uma utopia negativa, e,


como citado, utopia remete ao lugar perfeito, sendo assim inalcançável. Porém,
enquanto o mundo utópico não apresenta nenhum tipo de problemática, o mundo
distópico agrava exageradamente os tipos de problemas que podem existir em uma
sociedade, pois quando o presente não satisfaz, o cérebro humano tende a imaginar
um possível futuro que pode ser tanto melhor, quanto pior que a realidade. Mais
informações sobre a visão da sociedade ante o conceito de utopia podem ser
observados na pesquisa de opinião.

3. UNIVERSO 25

3.1 FASES DO EXPERIMENTO

Estruturalmente, o Universo 25 era constituído por uma imensa caixa de metal


fechada com aproximadamente 3 metros quadrados e poderia abrigar em torno de
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três mil roedores. Lá dentro existiam diversos departamentos, nos quais se podia
transitar sem obstáculos. Os mesmos funcionavam como apartamentos, onde os ratos
faziam seus ninhos (sendo que o material para essa produção era fornecido) e
geravam sua prole.

A caixa metálica contava com fornecimento infinito de água e comida para os


ratos, de modo que eles não pudessem morrer de sede e fome. Nenhum predador
jamais foi inserido no ambiente.

Os primeiros habitantes do Universo 25 foram oito ratos saudáveis tanto


psicológica como fisicamente. Conforme o experimento de Calhoun progredia, ele
conseguiu perceber comportamentos peculiares nos ratos ao decorrer do tempo. Tais
comportamentos foram distribuídos em quatro principais fases que definiriam o
começo e o fim do Universo 25. São elas: Ambição, exploração, equilíbrio e declínio.

3.1.1 Ambição

Caracteriza-se como a fase de ajustamento social, onde os primeiros ratos


foram introduzidos ao ambiente. Houve considerável turbulência social entre os oito
roedores, até que os territórios foram demarcados e os ninhos feitos. No centésimo
quarto dia, nasceram as primeiras ninhadas.

3.1.2 Exploração

Durante esta fase ocorreu a explosão demográfica do universo. A cada 60 dias,


a população de ratos dobrava. Com a organização social já estabelecida, Calhoun
observou que os nascimentos tendiam a se concentrar em departamentos específicos.

Nestas condições, um grupo de ratos passou a destacar-se dos demais. Estes


roedores em particular dedicavam exclusivamente seu tempo a comer, dormir e se
arrumar, sem grande envolvimento social. Calhoun nomeou estes indivíduos de “os
bonitos” por conta de sua estrutura corporal e hábitos autoritários em relação aos
demais, onde tomavam outros departamentos, impedindo que alguns ratos
circulassem livremente pelas divisórias. Diante disto, algumas áreas acabaram
ficando superlotadas e violentas, enquanto outras mais pacíficas.

Comida e água passaram a ser consumidos parcialmente, de maneira que uma


parte da população usufruía de mais recursos que outra. Desta forma, criava-se uma
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subjetiva hierarquia social por parte dos bonitos. Ao final desta fase havia três vezes
mais camundongos socialmente imaturos.

3.1.3 Equilíbrio

A terceira fase foi denominada “Equilíbrio” não devido à estabilidade social e


sim pela estagnação populacional que perdurou no Universo 25 por alguns dias,
estabelecendo um equilíbrio para posteriormente desencadear uma série de eventos
que conduziram ao declínio da utopia.

Com o comportamento autoritário de alguns ratos, o índice de violência


aumenta e com isso, as agressões físicas. De acordo com as pesquisas de Calhoun,
os roedores buscavam uma espécie de aceitação. Afinal, já nem todos os habitantes
da utopia poderiam residir na melhor parte do universo ou constituir uma ninhada.
Estes ratos mais isolados socialmente eram alvo constante de intolerância por parte
dos bonitos, que os violentavam tanto física como sexualmente, às vezes de macho
para macho.

Segundo Marx (1870), “Não é a consciência do homem que lhe determina o


ser, mas, ao contrário, o seu ser social que lhe determina a consciência.”

As fêmeas passaram a apresentar comportamentos desleixados durante a


gravidez: ao amamentar tornam-se agressivas, assumindo essencialmente o papel
dos machos territoriais, não obstante, os ninhos não eram preparados e a alimentação
das ratas era irregular e com isso, elas perdem seus filhotes. Ao decorrer do tempo, a
prole que conseguia ser gerada era abandonada, isto é, a reprodução não era sequer
cogitada pelos machos por conta do alto nível de violência ou rejeição.

Devido à tendência de muitos animais escolherem se agrupar em números


acima de quinze por local de nidificação (ato de construir o ninho) em seu pico de
2.200 ratos, 20% de todos os locais eram geralmente desocupados. Assim, sempre
havia a oportunidade para as fêmeas selecionarem um espaço vazio para criar os
jovens, se assim o desejassem. No Universo 25, a mortalidade infantil chegou a 96%.

Os desvios comportamentais chegaram a níveis tão extremos a ponto de a


violência ser predominante, fazendo com que os ratos cometessem canibalismo,
mesmo tendo comida suficiente para todos. Tudo isto ocorreu porque ratos autoritários
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consumiam mais alimentos do que os demais, já que furtavam de outros


departamentos.

Os hábitos canibais, a intensa mortalidade infantil e diversos outros desvios


comportamentais na população foram agravantes para o isolamento social de alguns
ratos. Os mesmos evitavam qualquer tipo de contato com a sociedade e saíam de
seus ninhos para comer e beber somente no horário de dormir dos outros
camundongos, assim evitando possíveis agressões.

Por conseguinte, há a presença de uma raiz cultural, isto é, os ratos que


nasciam nesta geração já problemática apresentavam os mesmos comportamentos
das linhagens anteriores. Tais fatores, como falta de conhecimento, predominância da
violência, autoritarismo e mortalidade infantil atenuaram-se à aquela população
instável, assim, levando a utopia dos ratos ao inferno.

Segundo Mannheim (2008), “O que se faz agora com as crianças é o que elas
farão depois com a sociedade”.

3.1.4 Declínio

A fase final do Universo 25, o inferno, caracterizou-se por uma população que
despencou tanto até não sobrar nenhum rato vivo. A sociedade planejada para ser
perfeita encontrou seu declínio populacional após 560 dias a partir do início do
experimento, com 2.200 ratos, sendo a capacidade máxima da caixa metálica
aproximadamente 3.000 indivíduos. A última concepção ocorreu sobre o dia 920.

Os últimos mil animais nascidos jamais aprenderam a desenvolver


comportamentos sociais, não aprenderam a ser agressivos, o que era necessário em
defesa dos locais de origem, não se envolveram em nenhuma atividade estressante
e apenas prestavam atenção em si mesmos. Esses ratos arrumavam-se em tempo
integral, assim cessando a capacidade de reprodução.

O último rato morreu sozinho no Universo 25. Foram várias as vezes em que o
experimento foi repetido e o resultado final fora o mesmo: a extinção da sociedade de
roedores. Após a conclusão dos experimentos, Calhoun cunhou o termo "ralo
comportamental" para descrever comportamentos aberrantes que alguns indivíduos
poderiam ter perante populações de alta densidade.
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Segundo Calhoun (1975), “Os efeitos da superpopulação em ratos de


laboratório foram um sombrio modelo experimental para prever o futuro da raça
humana.”

4. CONCLUSÕES DE CALHOUN

O experimento do Universo 25 e seus resultados geraram diversas teorias,


inclusive de cientistas socialistas, que compartilhavam uma ideia antagônica a de
Calhoun. De acordo com estes estudiosos, quando todo o espaço disponível é
ocupado e todos os papéis sociais preenchidos, a competição e as tensões
experimentadas pelos indivíduos resultarão em um colapso total em comportamentos
sociais complexos, resultando no fim da população.

Contudo, em documentos do Dr. Calhoun, constavam que todo o espaço


disponível não havia sido utilizado, nem todos os papéis sociais haviam sido
preenchidos e o desaparecimento de uma sociedade não condiz com o conhecimento
de que quando certa população declina para grupos remanescentes, alguns
indivíduos irão reiniciar seu crescimento.

Uma das colaboradoras de Calhoun, Halsey Marsden (1972) colocou alguns


ratos da fase “Declínio” em novos universos de baixa densidade populacional e todos
exibiram uma perda quase total da capacidade de desenvolver uma sociedade
estruturada ou comportamentos reprodutivos.

Aquisição, criação e utilização de ideias envolvem os comportamentos mais


complexos da espécie dos ratos, o mesmo acontece com a generatividade para o
homem. A perda destes comportamentos significa a morte da espécie. Para um animal
tão desenvolvido como o ser humano, não há razão lógica para que uma sequência
comparável de eventos não deva também levar à sua extinção.

5. O UNIVERSO 25 E AS QUESTÕES NO SÉCULO XXI

Mais de quatro décadas se passaram desde que Calhoun realizou seus estudos
sobre o Universo 25 e, não obstante, ainda há questionamentos sobre as conclusões
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tiradas a partir do colapso da utopia dos ratos. A opinião popular era de que o
experimento poderia ser uma metáfora para o fim da raça humana.

O principal motivo para tal alarde, de início, fora a superlotação da Terra.


Naquela época, o experimento dos ratos pareceu espelhar um distúrbio na sociedade
humana entre os anos 60 e 70, onde uma descontrolada expansão urbana ocorria
sem precedentes. É também importante citar futuros acontecimentos históricos, como
a Guerra Fria, revoltas raciais e assassinatos políticos, que apenas fomentavam mais
a ideia de que o destino da humanidade era a extinção, assim como no Universo 25.

Apesar de tudo, Calhoun não estava tentando sugerir que a humanidade era
um espelho de seus estudos com os roedores (mesmo que ele tivesse reparado em
algumas semelhanças de comportamento). Desde o princípio, o criador da utopia dos
ratos sempre enfatizou os seres humanos como uma espécie mais sofisticada,
dotados de tecnologia e sabedoria suficientes para reverter estas tendências.

Mesmo assim, Calhoun temia que a humanidade pudesse seguir em direção


semelhante à do Universo 25 se as cidades permanecessem superlotadas e a
população mundial aumentasse além da capacidade do mercado de trabalho. Logo, o
cientista passou o resto de sua carreira contribuindo para o planejamento urbano,
criando ONG’s como a “Space Cadets”, cujo objetivo envolvia a colonização humana
em outros planetas.

Todavia, ao realizar uma observação mais reflexiva do experimento de


Calhoun, são inegáveis as similaridades entre o Universo 25 e o comportamento
humano, não apenas nos anos 70 (época em que o experimento foi criado), mas no
próprio século XXI e com ainda mais intensidade.

Segundo Chaplin (1923), “A humanidade não se divide em heróis e tiranos. As


suas paixões, boas e más, foram-lhe dadas pela sociedade, não pela natureza”.

Hodiernamente são divulgadas notícias sobre países que perpassam por


situações degradantes devido ao abuso de poder político predominante. Um bom
exemplo é a Coreia do Norte, que tem como forma de governo a ditadura. Os ideais
defendidos por esta pátria são bem rígidos e limitados aos cidadãos, que não possuem
acesso, por exemplo, à internet livre, segundo a Revista Veja. Além disso, é possível
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observar outras formas de abuso de poder no mundo e não apenas político, mas
também em situações cotidianas, como em uma empresa.

A busca pela aceitação descrita na fase Equilíbrio do Universo 25 é uma


interessante analogia aos diversos movimentos sociais presentes na atualidade, como
o feminismo, a luta da comunidade LGBTQI+ contra a homofobia e o movimento
negro. Os membros destas mobilidades almejam respeito perante a sociedade em
decorrência da intolerância que sofreram tanto no passado, como ainda sofrem no
presente, assim fizeram os ratos que eram fisicamente agredidos pelos bonitos na
utopia de roedores.

Os ratos do experimento apresentaram isolamento social na passagem de


Equilíbrio para Declínio. Estes animais permaneciam apenas nos apartamentos em
constante estado de indiferença à própria saúde, isto é, não comiam e não bebiam.
Nos dias atuais, é possível perceber que estes comportamentos são sintomas de
depressão, considerado o mal do século XXI. O abandono infantil que muitas ratas
destinaram a seus filhotes é algo constante em diversos locais do mundo. No Brasil,
existem 47 mil crianças em abrigos (dados de O Globo), porém apenas 7.300 poderão
ser adotadas.

A própria superpopulação mundial, tão temida por Calhoun, é um fator


preocupante. O péssimo planejamento das cidades contribui para uma urbanização
precária e o modo como a população de um meio urbano interage entre si depende
disto. Portanto, a estrutura de um meio social precisa corresponder às medidas do
crescimento populacional. De acordo com a ONU, a Terra deve abrigar em torno de
9,6 bilhões de pessoas em 2050.

É imprescindível citar as diferentes formas se hierarquia social também


presentes no Universo 25 e nos tempos modernos. A má distribuição de recursos que
os próprios roedores eram responsáveis é um perfeito espelho das favelas do Rio de
Janeiro em relação ao bairro da Zona Sul, por exemplo.

Segundo Mandela (2000), “O tempo é curto – pois se não agirmos agora, de


comum acordo, as pequenas crises que proliferam em todo o mundo podem ainda
transformar-se numa conflagração incontrolável. ”
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6. PESQUISA DE OPINIÃO

Para que fosse possível ter uma visão da opinião social sobre o tema abordado
e relacioná-lo com a base teórica do nosso artigo, foi realizado um questionário com
perguntas fechadas, fazendo uso da ferramenta “Google” e disponibilizado ao público
pelas redes sociais “Whatsapp”, “Instagram” e “Twitter”.

No Gráfico 1, é possível observar a idade dos participantes do questionário.

Gráfico 1 – Faixa etária

A partir do Gráfico 1, obtivemos os seguintes resultados: 72,5% dos


entrevistados possuem entre 15 a 17 anos, 15,7% entre 12 a 14 anos e 11,8%
possuem 18 anos ou mais.

Pelo Gráfico 2, perguntamos se o público alvo já ouviu falar sobre o


experimento Universo 25.

Gráfico 2 - Experimento social universo 25.


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Com o gráfico 2, conseguimos perceber que grande parte dos entrevistados


nunca ouviu falar a respeito do experimento Universo 25, sendo assim, obtivemos
poucas respostas positivas relacionadas ao conhecimento do tema abordado.

No gráfico 3, questionamos aos entrevistados se sabiam o conceito de utopia.

Gráfico 3 – Conceito de Utopia.

Pelo gráfico supracitado, é notável a divisão de opiniões sobre o conceito de


utopia. A maioria dos entrevistados (43,1%) admite entender parcialmente o termo
utopia, enquanto o restante, 33,3% desconhece o significado, restando 23,5% do
público que realmente sabe o que é utopia.

Referente ao gráfico 4, perguntamos se o público acredita que o ser humano


possa ser a causa de sua própria extinção.

Gráfico 4 – Extinção da raça humana.


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Nesta pesquisa, obtivemos um elevado número de respostas positivas em


relação à extinção humana pelo próprio homem (80,4%), entretanto, 15,7% dos
entrevistados acredita apenas possivelmente neste incidente. Todavia, 3,9% do
público não acredita que o homem será a causa de sua extinção.

A partir do Gráfico 5, perguntamos se os entrevistados já se sentiram


privilegiados devido à sua classe social.

Gráfico 5 – Privilégio social.

A maioria dos entrevistados (76,5%) afirma ter presenciado uma situação de


benefício de classe, enquanto 19,6% viveu esporadicamente este tipo de situação.
Contudo, a minoria (3,9%) do público assume nunca ter vivido momentos de privilégio
social.

Visto no Gráfico 6, podemos analisar as diversas características presentes na


sociedade atual.

Gráfico 6 – Características da sociedade atual.


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De acordo com o público entrevistado, em relação às características da


sociedade moderna, 94,1% marcou isolamento social, 27,5% opta por baixo índice de
natalidade, 90,2% assinalou preconceito como característica, 84,3% destacou o
aumento da taxa de suicídio, 74,5% enfatizou o abuso de poder, 64,7% caracterizou
o abandono infantil e por fim, 82,4% dos entrevistados assinalou a má distribuição de
renda como característica atual.

De acordo com gráfico 7, fizemos uma correlação com a questão anterior.

Gráfico 7 – Preocupação com a extinção humana.

Condizente com o gráfico acima, recebemos respostas afirmativas da grande


parte dos entrevistados (90,2%), que afirmam sua preocupação com as características
sociais. Apenas 9,8% do público considera estas peculiaridades humanas algo
normal.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O experimento Universo 25 foi um compilado de estudos do psicólogo e etólogo


John B. Calhoun realizado para extrair informações sobre densidade populacional a
partir de ratos de laboratório. A estrutura do universo contava com uma grande caixa
metálica fechada constituída por diversos departamentos, onde os ratos poderiam
fazer os ninhos e procriar. Calhoun garantiu que os roedores contassem com
fornecimento infinito de água e comida, sem nenhum predador presente no ambiente.
Assim, surgiu a utopia dos ratos. Utopia é um termo utilizado por Thomas More em
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uma de suas obras para caracterizar um lugar de perfeita harmonia social, em


contrapartida, distopia é um local de caos e desordem.

Ao observar os ratos interagindo socialmente no Universo 25, Calhoun


percebeu comportamentos peculiares naqueles animais. Tais hábitos foram divididos
em quatro principais fases: ambição, exploração, equilíbrio e declínio,
respectivamente. A ambição foi o período de colonização, na exploração ocorrem as
primeiras turbulências sociais, o equilíbrio contou com alta mortalidade infantil, abuso
de poder e até mesmo canibalismo, por fim, o declínio declarou o inferno do Universo
25: a extinção de todos os ratos.

O experimento de Calhoun virou parte da cultura popular dos anos 70,


adquirindo prestígio mundial e de organizações como a NASA. A opinião popular
naquela época era de que a utopia de roedores poderia ser um reflexo do
comportamento humano em sociedade. Por exemplo, o isolamento social que alguns
ratos apresentaram durante a fase de equilíbrio poderia ser uma clara metáfora a
doenças mentais, como a depressão.

O que se pode analisar dos estudos do Universo 25 é que um lugar utópico,


em perfeito estado de sociabilidade é inalcançável aos seres humanos. Em meio à
harmonia, onde os recursos são fornecidos facilmente, sem qualquer esforço da
população, não há trabalho ou valorização de méritos. Logo, as relações sociais são
estabelecidas de formas diferentes, podendo sim apresentar consequências
semelhantes às do Universo 25. Contudo, é interessante observarmos as
similaridades do comportamento humano e os ratos de Calhoun, fazendo uma
reflexão sobre nossos próprios atos em meio ao ambiente que vivemos.
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ANEXOS:
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ANEXO A: O Universo 25 estruturado em departamentos (barras pretas), Calhoun no


centro.

(Fonte:https://onedio.co/content/a-great-rodent-dystopia-about-the-future-of-humans-
universe-25-13898).

ANEXO B: A caixa metálica de aproximadamente três metros quadrados que abrigam


os ratos do Universo 25.

(Fonte: https://www.theburningplatform.com/2013/10/26/rat-utopia/)
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ANEXO C: John B. Calhoun e os ratos do Universo 25 em mãos.

(Fonte:http://www.mundogump.com.br/utopia/)

ANEXO D: Calhoun e seus companheiros de estudo juntamente com um dos


protótipos do experimento, contendo os sistemas de fornecimento de água e comida.

(Fonte:http://www.circulatingnow.nlm.nih.gov/2018/01/11/the-falls-of-1972-john-b-
calhoun-and-urban-pessimism/amp/)
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ANEXO E: Vídeo produzido pelo grupo em função da Iniciação Científica 2019 -


Colégio Concórdia - Santa Rosa.

ANEXO F: Pesquisa de opinião produzida pelo grupo em função da Iniciação


Científica 2019 - Colégio Concórdia - Santa Rosa.

REFERÊNCIAS

BROWN, Eric. Universe 25 Began As A Mice Paradise, But Ended As A Nightmare.


2017. Disponível em: <https://curiosity.com/topics/astronomers-once-watched-a-star-
turn-directly-into-a-black-hole-curiosity/>. Acesso em: 08 de julho de 2019.

DAVIS, Paul. John Calhoun’s Experiment. 2012. Disponível em:


<http://www.physicsoflife.pl/dict/calhoun%27s_experiment.html>. Acesso em: 08 de
julho de 2019.

FOUNTAIN, Henry. J.B. Calhoun, 78, Researcher On The Effects Of Overpopulation.


1995. New York Times. Nova Iorque. 29 de setembro de 1995. Página 00029. Acesso
em: 08 de julho de 2019.
20

HALL, Edward, T. The Hidden Dimension: An Anthropologist Examines Humans' Use


of Space in Public and in Private. 1980. Missouri. Anchor Books. p. 25. Acesso em: 08
de julho de 2019.

PEST, Victor. What Humans Can Lean From Calhoun’s Rodent Utopia. 2019.
Disponível em: <https://www.victorpest.com/articles/what-humans-can-learn-from-
calhouns-rodent-utopia>. Acesso em: 08 de julho de 2019.

RAMSDEN, Edmund; ADAMS, Jon. Escaping the Laboratory: The Rodent


Experiments of John B. Calhoun & Their Cultural Influence. 2008. Disponível em:
<https://eprints.lse.ac.uk/22514/1/2308Ramadams.pdf>. Acesso em: 08 de julho de
2019.

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