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DOM DA PREMONIÇÃO, SIMPLES

COINCIDÊNCIA E OUTRAS
PROBABILIDADES
Irm. Osvaldo Vargas Jaques
Loja Ceres, 9
Loja Sabedoria e Virtude, 47 - GOMS
11 out 2020

A revista Cálculo: Matemática Para Todos, n. 27, ano III, publicou um artigo com o título
Premonição de Morte. Não quero destronar os verdadeiros profetas, mas colocar a plebe ignara
(nós) para pensar antes de buscar efeitos especiais do Grande e Supremo Arquiteto do Universo
(DEUS, BRAHMA, TUPÃ, JEOVÁ, ALÁ, MANITU...).

Vamos aos fatos resumidos desse artigo, atualizando para as informações mais atuais. O artigo cita
que segundo o doutor em psicanálise Luiz Carlos Tarelho, "todo mês, dois entre dez pacientes
conversam sobre sonhos em que algum conhecido morreu". Ou seja, 20% dos brasileiros tem um
sonho em que alguém conhecido morre (parente, amigo, celebridade). Existem aproximadamente
208,5 milhões de pessoas no Brasil (IBGE 2018). Então 208.500.000 x 20% = 41.700.000 pessoas
sonham pelo menos uma vez ao mês, que alguém conhecido morre. Dividindo por 30 dias temos um
total de 41.700.000/30=1.390.000 brasileiros sonhando por dia que algum conhecido morreu.

Segundo o IBGE, em 2018, morreram 1.283.496 brasileiros. Aproximadamente


1.283.486/208.500.000 ≃ 0,6% da população. Uma média aproximada de 3.500 pessoas morrem
por dia (1.283.496/365 ≃ 3.516).

Qual a probabilidade de óbito por dia, para um população de 208,5 milhões? O quociente do
número de eventos favoráveis dividido pelo número de eventos total.

Então a Pr(O), probabilidade de óbito por dia é Pr(O)=3.500/208.500.000 ≃ 0,0016%.

Com 1.390.000 brasileiros sonhando com morte todo dia, o número esperado de sonhos "cuja
profecia se realiza" é 1.390.000 x 0,0016% ≃ 23.
Então todo dia, no Brasil, 23 pessoas sonham que alguém conhecido morre e no outro dia esse
alguém morre. Em um ano, 23x365=8395 "profetas", em 5 anos, quase 42.000 "profetas", juram de
pé junto (opa!), que foram agraciados por um ser divino ou espiritual com essa revelação.

Sem política nenhuma, esta análise pode ser estendida para o problema da pandemia do covid-19.
Hoje, segundo informes, temos um total de 5 milhões de infectados, o que dá menos de 2,5 % de
infecções no Brasil. Isto significa que tomando água, cachaça, ou fazendo a oração dos três
pulinhos, a probabilidade de não pegar a doença e 97,5%. Os métodos de evitar aglomerações,
abraços e uso de máscaras são apontados pelas pesquisas como um dos fatores que também
ajudaram a diminuir a probabilidade de infecção. Essas informações podem ser vistas nas
reportagens sobre a pandemia no dia a dia das reportagens ou no site
https://susanalitico.saude.gov.br/extensions/covid-19_html/covid-19_html.html.

Ocorreram 150 mil óbitos, ou seja 150.000/5.000.000 = 3%. Se existirem 400 mil médicos, a
estimativa é que 400.000 x 3% = 12.000 médicos percam pacientes e que 388 mil médicos não
percam pacientes com covid, não importando o medicamento, desde que não seja veneno. Ou seja,
encontraremos muitos, mas muitos médicos que não perderam pacientes.

Vemos que até aqui analisamos probabilidades médias, que podem variar. Antes de fechar este
ensaio, um amigo lembrou que se apostarmos no jogo das seis dezenas, a probabilidade de
ganharmos é 1 em 50.063.860, o que corresponde a 0,000002% de chance de ganhar. Isso significa
que a cada jogo, 208.500.000 x 0,000002% ≃ 0,4 brasileiros ganham. Contudo, volta e meia, mais
de um brasileiro acerta. É o mundo da convivência com probabilidades que nos faz olhar para os
lados da rua antes de atravessar. Contudo, ninguém olha para cima, para verificar se um meteorito,
um cofre ou piano está caindo.

Embora não tenha analisado nenhuma estatística, provavelmente todos os dias alguém sonha que
algum avião cai e uma represa se rompe e nada acontece.

A idéia aqui é apenas uma reflexão sobre como podemos ser induzidos a erros. Como disse Teilhard
de Chardin, "quanto mais espiritualizo a matéria, mais materializo minha convicção em Deus”.
Ter convicção não implica em crença sem uso da razão. Será que para Deus nada é impossível ou
nada é improvável? Improvável é a probabilidade muito próxima de zero, mas não é zero. Se o
Grande Arquiteto criou leis não creio que o mesmo violaria suas próprias leis. Penso que
desconhecemos muitas variáveis. Pela falta de conhecimento, consideramos algumas coisas
impossíveis, quando na verdade são improváveis.

Análise aguçada não significa não acreditar, mas é um modo de evitar ilusões e mistificações.

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