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UTILIZAÇÃO DO SILÍCIO NO CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS DO


CAFEEIRO IRRIGADO

Article · March 2010

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4 authors, including:

André Luis Teixeira Fernandes Eusímio F. Fraga Jr


Universidade de Uberaba - UNIUBE Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
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Agronomia/Agronomy 45

UTILIZAÇÃO DO SILÍCIO NO CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS DO


CAFEEIRO IRRIGADO

FERNANDES, A. L. T.1; MERRIGHI, A. L. N.2; SILVA, G. A.3; FRAGA JÚNIOR, E. F. F.4


1
Prof. Dr.Engenharia de Água e Solo., FAZU – Faculdades Associadas de Uberaba e UNIUBE - Universidade de Uberaba;
e-mail: andre.fernandes@uniube.br;
2
Engenheiro Agrônomo Marca Agropecuária;
3
Engenheiro Agrônomo, SLC Agrícola;
4
Mestrando ESALQ – USP.

RESUMO: Usualmente, o manejo fitossanitário do cafeeiro é realizado somente com o uso de defensivos químicos.
Porém, produtos alternativos provindos de silício aparecem como opção sustentável para a realização do controle de
pragas e doenças. O presente experimento foi desenvolvido para avaliar a eficiência do silício (Si) no controle das
principais doenças do cafeeiro (ferrugem e cercosporiose) e da principal praga, o bicho-mineiro, comparado com
tratamentos químicos. O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com 5 tratamentos e 6 repetições,
totalizando 30 parcelas, compostos por uma testemunha (T1); a aplicação de 2000 kg ha-1 de Agrosilício (T2); a aplicação
do defensivo Azoxistrobina + Ciproconazol (0,6 L ha-1) e Tiametoxan (1,6 kg ha-1) em 2 e 1 aplicação, respectivamente
(T3); a aplicação de 4 000 kg ha-1 de Agrosilício (T4) e a aplicação de 4 L ha-1 de silício líquido solúvel (Sili-K) (T5). Os
tratamentos T3 e T5 obtiveram os melhores resultados no controle de cercosporiose e da ferrugem. Os tratamentos T2 e T4
obtiveram bons resultados em ferrugem apenas aos 90 DAA. Já em T2, T3 e T5 obtiveram-se bons resultados aos 120
DAA, diferenciando de T4 que não obteve resultados satisfatórios em cercosporiose. Para a infestação de bicho-mineiro, o
T5 obteve resultados satisfatórios.

PALAVRAS CHAVE: Coffea arabic; Leucoptera coffeella; Hemileia vastatrix; Cercospora coffeicola.

SILICON USE IN COFFEE IRRIGATED TO CONTROL PESTS AND DISEASES

ABSTRACT: Usually, the control handling of coffee true is only carried through with the use of chemical defensives,
however alternative products come from silicon appear as sustainable option for the construction of the same. The present
work has been developed to evaluate the efficacy of the silicon (Si) in the control of diseases as rustiness, Cercospora and
plagues the leaf miner (Leucoptera coffeella) in the coffee crop, compared with others forms of control. The experimental
outline was completely occasional, with 5 treatments and 6 repetitions, totalizing 30 experimental parcels, begin composed
by one witness (T1); the application of 2000 kg ha-1 of Agrosilício (T2), the application of Azoxistrobina + Ciproconazol
(0,6 L ha-1) and Tiametoxan (1,6 kg ha-1 in 1 application (T3), the application of 4 000 kg ha-1 of Agrosilício (T4) and the
application of 4 L ha-1 of dissolvable liquid silicon (Sili-K) (T5). The treatments T3 and T5 have obtained the best results
in the control of the cercosporiose and the rustiness. The treatments T2 and T4 have obtained good results in the rustiness
only 90 DAA. The treatments T2, T3 and T5 obtained good results at 120 DAA, different from the treatment T4 which has
not obtained satisfactory results in cercosporiose. For the leaf miner (Leucoptera coffeella) infestation, the treatment T5
obtained satisfactory results on its control.

KEYWORDS: Coffea arabic; Leucoptera coffeella; Hemileia vastatrix; Cercospora coffeicola.

INTRODUÇÃO pragas e doenças (KORNDÖRFER; PEREIRA;


CAMARGO, 2004).
O silício é um elemento capaz de aumentar a Segundo Carvalho e Chalfoun (1998), a busca por
resistência natural das plantas, possibilitando assim uma novas técnicas para a redução da aplicação de defensivos
agricultura mais sustentável, com menor custo e químicos leva a adoção de um novo conceito do controle
ecologicamente correta. A crescente demanda nutricional de doenças e pragas do cafeeiro, esta busca constante por
por variedades cada vez mais produtivas, assim como o altas produtividades leva o agricultor a usar intensivamente
aumento de áreas plantadas em solos de baixa fertilidade defensivos químicos procurando erradicar as doenças,
tem exigido uma melhor compreensão da dinâmica dos causando, na maioria das vezes, grandes prejuízos para o
nutrientes na cultura do café. No Brasil, há poucos agrossistema.
experimentos relacionados com o efeito que o silício Já que os mecanismos de defesa dos patógenos pelo
apresenta no controle das principais doenças do cafeeiro, já hospedeiro tratado com silício ainda não são muito bem
que a cultura é bastante susceptível a um grande número de conhecidos, existem duas propostas para explicar esta
supressão: o aumento do silício na parede celular impede o

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crescimento e a penetração do fungo e de outros camada de sílica limita a perda de água pelas folhas e
patógenos, nos tecidos da planta; a ativação dos dificulta a penetração e o desenvolvimento de hifas de
mecanismos naturais de defesa da planta como, por fungos, conforme mostrado na FIG. 1 (MALAVOLTA,
exemplo, a produção de compostos fenólicos, quitinases, 1980).
peroxidases e acúmulo de lignina, além também da Portanto, o silício tem como função a proteção
interação que pode existir entre a barreira física e química mecânica dos tecidos vegetais onde há grande penetração
(FIGUEIREDO; RODRIGUES, 2004). de patógenos. Várias doenças causadas por fungos e
As plantas, de modo geral são capazes de produzir bactérias em diversas culturas, bem como algumas pragas
substâncias tóxicas e outros compostos, que, uma podem ser reduzidas significativamente com a fertilização
vezexsudados, atuam como mecanismos de defesa contra silicatada.
vários agentes. Estes compostos são capazes de promover
alteração no gosto do tecido vegetal, tornando-o menos
palatável aos animais, que por isso, diminuem seu
consumo, ou ainda, esses vegetais produzem efeitos
tóxicos e antinutricionais, para os organismos que os
consomem (KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO,
2004).
Nelson e Moser (1994), afirmam que síntese e o
acúmulo de vários destes compostos naturais evoluíram,
conforme as plantas foram se adaptando à grande
diversidade de ambiente, sendo observado que, a proteção
fornecida pelo Si às plantas está relacionada com a
resistência aos efeitos bióticos quanto abióticos (EPSTEIN,
1999). FIGURA 1 - a) Corte transversal do limbo foliar de
O silício (Si) é o segundo elemento mais abundante, monocotiledônea B) Desenvolvimento de
em peso, na crosta terrestre, sendo componente majoritário hifa de fungo em tecido foliar sem
de minerais do grupo dos silicatos (RAIJ, 1991). acúmulo de sílica. C) Camada de sílica
Várias classes de solo da região central do Brasil, abaixo da cutícula dificultando o
principalmente nas áreas sob vegetação de cerrado, são desenvolvimento da hifa de fungos.
pobres em silício solúvel, disponível para as plantas (RAIJ; Fonte: KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO, 2004.
CAMARGO, 1973).
Os silicatos tem comportamento no solo similar ao Entretanto, é necessário conhecer a características e
dos carbonatos de cálcio e magnésio, sendo capazes de demandas para a cultura, tipo de solo e microclima em que
elevar o pH e neutralizar o Al trocável, quando aplicados realiza o manejo fitossanitário. Para isto, o objetivo deste
como corretivo. Ainda por comportamento semelhante ao trabalho foi avaliar a influência da aplicação de silício em
dos carbonatos, ocorrem sítios de troca com fósforo duas formas (sólido e líquido) no controle das principais
absorvido nas argilas, deslocando estes nutrientes para a doenças e pragas da cultura do cafeeiro, comparado com
solução do solo, tornando-os assim mais assimiláveis pelas outras diferentes formas de controle utilizadas na região.
plantas (KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO, 2004).
Os principais solos sob vegetação de cerrado MATERIAL E MÉTODOS
apresentam alto grau de intemperismo, com alto potencial
de lixiviação, baixa saturação de bases, baixos teores de Si- O experimento foi instalado no Campus
trocável e baixas relações (Ki) Si2 –Al2O3 e (Kr) Sílica – Experimental da Universidade de Uberaba – Fazenda
Sesquióxidos de Fe e Al, apresentando, portanto, baixa Escola, em lavoura de café Catuaí 144, plantado em
capacidade de fornecimento de Si disponível para as dezembro de 1998 no espaçamento de 4,0 x 0,5 m, no
plantas (BRADY, 1992). município de Uberaba, MG, cujas coordenadas geográficas
Em relação à disponibilidade do Si no solo, a são: latitude 19º44’13 “S, longitude 47º57’27” W e altitude
textura do solo (teor de argila) tem sido considerada como de 850 m, em um solo classificado como Latossolo
um dos principais parâmetros para se prever a necessidade Vermelho Amarelo, distrófico, com teores de areia de
de Si para as plantas. A definição do extrator é uma peça 72,64%, argila de 21,96% e silte de 5,4%. A precipitação
fundamental a ser considerada na recomendação de adubos anual é de 1474 mm e a temperatura média anual é de
contendo Si (KORNDÖRFER; PEREIRA; CAMARGO, 22,6ºC. O sistema de irrigação utilizado no experimento foi
2004). a aspersão em malha, com aspersores instalados em uma
Nas plantas o silício é absorvido na forma de ácido malha hidráulica de 15 x 15 m.
monosilícico – H4SiO4 (JONES; HANDREK, 1967). Para a análise da água utilizada no experimento,
Seu transporte, na mesma forma assimilada, é feito foram retiradas amostras da água no reservatório da
através do xilema, sendo sua distribuição dependente da fazenda, e feitas análises dos parâmetros físicos,
transpiração dos órgãos envolvidos. Nas folhas de arroz, organolépticos, biológicos, químicos, bacteriológicos e de
forma-se uma camada dupla de sílica abaixo das cutículas metais pesados. Antes do início do experimento, foram
nas células epidérmicas. Segundo alguns autores, essa retiradas amostras de solo em cada parcela, que foram

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submetidas à análise. As análises de solo foram repetidas (contando da ponta para a base), em ramos produtivos
anualmente. As características físico-hídricas do solo do situados na altura média do cafeeiro, e dos dois lados da
experimento estão agrupadas na TAB. 1. linha de café. As folhas foram acondicionadas em envelope
de papel (furado), e levadas para o laboratório para análise.
TABELA 1 – Características físico-hídricas do solo do A retirada das amostras foi realizada em duas
experimento. Uberaba, 2006. épocas: uma antes do início do experimento e outra 6
Características Valor meses após o início da aplicação dos tratamentos.
Para a avaliação da incidência de pragas e
Areia 72,60% patógenos, foram realizadas cinco avaliações mensais para
obtenção da incidência das pragas e doenças em todos os
Silte 5,40%
tratamentos. Em cada avaliação, foram coletadas 100
Argila 21,96% folhas ao acaso em 20 plantas centrais de cada repetição,
Ponto de murcha no 3º e 4º pares dos ramos no terço superior dos cafeeiros,
0,132 cm3 cm-3 determinando-se a porcentagem de folhas com minas
permanente
vivas, pústulas de ferrugem e infecção de cercosporiose.
Capacidade de campo 0,213 cm3 cm-3 Com o intuito de avaliar o efeito da aplicação do
Água disponível 0,081 cm3 cm-3 silício na formação de camada protetora no mesófilo foliar,
foram feitas fotografias microscópicas do corte transversal
Densidade aparente 1,47 kg dm3 do mesófilo, para a avaliação do acúmulo de sílica entre a
cutícula e a epiderme, antes e após a finalização do
Foram estudados os seguintes tratamentos experimento, com o intuito de verificar se nos tratamentos
fitossanitários, que estão dispostos de forma detalhada na com silício, é formada uma camada protetora externamente
TAB. 2: a) Tratamento 1 – Testemunha; b) Tratamento 2 - à cutícula das folhas do café. As fotos foram tiradas em
2 Toneladas de Silício em pó ha-1, aplicado via solo; c) laboratório, com uma ampliação de 10 x 10 a 10 x 100, no
Tratamento 3 - Tratamento Químico convencional, com mês de janeiro, sendo repetidas ao final do experimento,
inseticidas e fungicidas – (Azoxistrobina + Ciproconazol - utilizando-se a mesma metodologia.
0,6 L ha-1 e Tiametoxan - 1,6 kg ha-1), aplicado via folha; Para o acompanhamento dos níveis nutricionais no
d) Tratamento 4 - 4 Toneladas de silício em pó ha-1, perfil de solo antes do experimento, foram realizadas
aplicado via solo; e) Tratamento 5 - 4 L de silício solúvel análises de solo antes nas profundidades de 0–20 cm e 20–
ha-1, aplicado via folha. 40 cm de profundidade. Para a retirada das amostras de
solo, foi utilizada a metodologia proposta pelo Ministério
TABELA 2 - Tratamentos realizados no experimento, com da Agricultura (MATIELLO et al., 2006), que
início em dezembro de 2006, Fazenda Escola recomendam a retirada em 2 profundidades (na mesma
da Uniube, Uberaba – MG. cova), de 0-20 e de 20-40, para possibilitar a orientação
sobre a necessidade de correção diferenciada, importante
Produtos Época de
Trat. Dose na detecção do estado nutricional na região das raízes do
comerciais aplicação
cafeeiro. As amostras, de acordo com esta recomendação,
T1 - - - foram retiradas na projeção da saia dos cafeeiros, em
ambos os lados da linha, na faixa onde são feitas as
T2 AgroSilício 2 ton ha-1 Dezembro adubações.
A colheita foi realizada em junho de 2007, para todos os 5
3 aplicações de Dezembro e tratamentos, colhendo-se 6 plantas em 4 repetições,
Azoxistrobina + 0,6 L ha-1 + Fevereiro
T3 Ciproconazol + totalizando 24 plantas por amostra. Foi colhido
Tiametoxan 1 aplicação de separadamente o café do pé do café do chão, obtendo-se a
1,6 Kg ha-1
média de produtividade, maturação, infecção de
T4 AgroSilício 4 Ton ha-1 Dezembro cercosporiose nos frutos e peso das amostras. Os resultados
foram submetidos à análise estatística, com aplicação do
Silício líquido teste T de variância e comparação das médias a partir teste
4 L ha-1 Dezembro à de Tukey, a 5% de probabilidade.
T5 solúvel
(4 aplicações) Março
(Sili-K)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O delineamento experimental foi o inteiramente
casualizado, com 5 tratamentos e 6 repetições, totalizando Nota-se na TAB. 3, nas análises do solo antes da
30 parcelas experimentais. realização do experimento, o baixo teor de Ca e Mg no
Para a análise nutricional das folhas, foi utilizada a solo. Após o final do experimento, foi realizada outra
metodologia de Matiello et al. (2006), que recomendam a amostragem de solo, onde se pode notar o aumento do teor
retirada de 40 a 60 folhas por talhão, em pelo menos 20 de Ca e Mg, nos tratamentos que receberam o silicato de
plantas de café. Foram retiradas folhas de cerca de 100 cálcio e magnésio (TAB. 4).
plantas para cada tratamento (100 e 200 m de linhas
laterais). As folhas foram coletadas do terceiro/quarto par

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TABELA 3 - Características químicas do solo retirada na profundidade de 0 a 20 e de 20 a 40 cm, antes do começo do


experimento (Dezembro de 2006).
pH N P K Al Ca Mg H+Al S.B. T V M.O.
Prof./cm
H2O -----g dm -3 ---- ---------------------- mmolc dm -3 -------------------------- % g dm -3
0 a 20 4,2 0,9 25 1,2 15 8 2 34 11 45 24 18
20 a 40 4,1 0,6 12 0,8 16 7 1 34 9 43 21 11

TABELA 4 – Características químicas do solo retirada na profundidade de 0 à 20 cm e 20 a 40 cm, no final do


experimento (Jun/2007).
pH N P K Al Ca Mg H+Al S.B. T V M.O.
Prof./cm -3 -3
H2O ----g dm ---- --------------------- mmolc dm -------------------------- % g dm -3
T1 0-20 4,3 0,8 18 1,8 18 11 3 34 16 50 32 16
T2 0-20 4,7 0,8 18 2,9 9 15 5 28 23 51 45 16
T3 0-20 4,4 0,9 12 1,2 14 14 3 31 18 49 37 19
T4 0-20 4,2 0,7 18 4 18 12 2 37 18 55 33 14
T5 0-20 5,1 0,7 20 2,1 0 13 7 21 22 43 51 14
T1 20-40 4,2 0,7 14 1,6 20 10 4 36 16 52 31 14
T2 20-40 4,6 0,7 13 2,9 8 15 6 24 24 54 44 14
T3 20-40 4,3 0,8 12 1 15 14 2 35 17 52 33 16
T4 20-40 4,1 0,7 5 2,4 21 10 2 37 14 51 27 13
T5 20-40 4,9 0,8 5 2,1 0 15 5 25 22 47 47 16

Os teores de nutrientes foliares obtidos antes e após (T5), que se caracteriza pela aplicação de silício líquido
a realização dos tratamentos estão dispostos na TABELA solúvel, houve um aumento de 23% no teor de silício nas
5, onde se observou redução no teor de silício nas folhas na folhas. Nos tratamentos baseados na aplicação de silício
testemunha (T1), 6 meses após o início da aplicação dos via solo (agrosilício), foram encontrados valores de 0,6 mg
tratamentos. No tratamento (T2), que se caracteriza pela kg-1, e no tratamento via folha (silício solúvel), o valor de
aplicação de Agrosilício em pó via solo (2 ton ha-1), houve 0,7 mg kg-1.
um aumento de 45% no teor de silício. Já no tratamento Ferreira et al. (2007) obtiveram a determinação de
(T3), que se caracteriza pela aplicação do programa Café silício em tecido vegetal através do método AID
Forte (Azoxistrobina + Ciproconazol + Tiametoxan), tradicional e modificado, que foi realizado na Universidade
houve um aumento de 16% no teor de silício. Observando Federal de Uberlândia, e chegaram a conclusão de que, os
o tratamento (T4), que se caracteriza pela aplicação de teores de silício em uma folha de café em média é de 0,3
Agrosilício em pó via solo (4 ton ha-1), houve um aumento mg kg -1 em condições normais de campo.
de 27% no teor de silício. E, finalmente, no tratamento

TABELA 5 – Teores de macro e micronutrientes + silício na folha, antes e no final do início do experimento Fazenda
Escola da Uniube, Uberaba-MG.
N P K Ca Mg S Fe Mn Cu Zn B Si
Tratamentos -1
-------------------------------------------------mg kg --------------------------------------------------
Antes do experimento
T1 22,2 1,7 10,8 12,4 3,6 2,2 75,0 48,0 11,0 13,5 52,5 0,4
T2 22,2 1,5 11,2 12,4 3,6 2,2 72,0 53,0 13,0 15,5 57,0 0,3
T3 20,8 1,5 10,3 14,0 4,3 2,3 111,0 56,5 12,5 13,5 51,5 0,3
T4 23,5 1,3 9,2 13,6 3,4 1,6 305,0 61,5 9,5 12,5 52,0 0,2
T5 22,1 1,5 9,2 13,2 3,4 1,4 72,0 57,5 14,5 17,0 56,5 0,2
No final do experimento
T1 17,4 1,7 14,1 20,8 4,2 1,4 72,0 66,0 13,5 16,0 53,5 0,3
T2 20,2 1,7 14,3 19,6 4,2 1,9 100,0 57,5 14,5 19,0 58,0 0,6
T3 17,8 1,3 13,4 17,2 3,7 1,6 61,0 61,5 11,5 12,0 51,5 0,2
T4 20,5 1,7 12,0 17,6 4,6 2,2 86,0 57,5 12,0 14,0 54,0 0,6
T5 17,5 1,7 13,3 19,2 3,5 2,3 100,0 66,0 16,5 18,5 57,0 0,7

FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.


Agronomia/Agronomy 49

Na FIG. 2, observa-se claramente a ausência de em microscopia, uma camada de silício entre a cutícula e a
uma camada sílica nos tratamentos TAB. 1 e TAB. 3, já epiderme, com uma cor escura destacando-se na superfície
nos tratamentos TAB. 2, TAB. 4 e TAB. 5, foi observada adaxial da folha de cafeeiro.

(a)
(b)

Ausência de Silício

(c) (d)

Presença de Silício

Presença de Silício

FIGURA 2 - Corte do mesófilo em 10 X 100 e 10 X 10, nos tratamentos T1, T3, T4, T5 e T2, sendo (a), (b), (c), (d) e
(e) respectivamente.

Na TAB. 6 constam os valores de infecção de controle satisfatório no início (30 DAA), melhorando a
ferrugem de 30 dias após a aplicação (DAA) (Dezembro de performance aos 90 DAA, embora os níveis foliares do
2007) até 150 DAA (Junho de 2007). elemento estarem em 0,7 mg kg-1. Isso pode ser explicado
Verifica-se que a testemunha T1 atingiu níveis de pela translocação mais lenta do silício na planta, quando o
infecção superiores a 60%, aos 120 e 150 DAA. Mesmo elemento é aplicado via solo. O controle não se estendeu
com esta alta infecção, os tratamentos silício líquido nos tratamentos via solo aos 120 e 150 dias após a
solúvel (T5) e Azoxistrobina + Ciproconazol + aplicação provavelmente devido ao fato das doenças e
Tiametoxan (T3) promoveram controle satisfatório aos 120 pragas já se encontrarem em níveis altos, dificultando o
DAA. No tratamento T5, esta eficiência no controle da controle com este produto (silício).
doença pode ser atribuída ao teor de silício na folha (0,7 Figueiredo et al. (2006) obtiveram como já
mg kg-1) Já aos 150 DAA, apenas no tratamento mencionado neste trabalho, uma redução de forma
Azoxistrobina + Ciproconazol + Tiametoxan houve o quadrática de ferrugem, até o mínimo estimado de 12%,
controle satisfatório da doença. Os tratamentos baseados usando uma dose de 10,63 L ha-1 de silício liquido solúvel
na aplicação do silício sólido T2 e T4 não promoveram em 3 aplicações.

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50 Agronomia/Agronomy

TABELA 6 - Infecção de ferrugem nos diferentes tratamentos, Uberaba – MG, Dez. a Jun. de 2007.
% de folhas com pústulas de ferrugem
Tratamentos
30 DAA 60 DAA 90 DAA 120 DAA 150 DAA
Testemunha (T1) 19,8c 17,0b 21,5c 66,3c 63,5c
-1
Silício sólido 2000 kg ha (T2) 26,5c 16,1ab 12,1b 34,8b 29,5b
Azoxistrobina + Ciproconazol +
6,1ab 5,3a 2,3a 10,0a 7,8a
Tiametoxan (T3)
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 18,5bc 13,5ab 6,33ab 48,1bc 31,6bc
-1
Silício líquido 4 l ha (T5) 2,3ab 6,8ab 6,5ab 9,0a 25,1a
CV% 22,84 27,61 25,43 37,7 24,1
DMS 12,4 10,9 7,8 21,5 12,9
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Na TAB. 7 constam os valores de infecção de níveis de silício na folha (0,6 e 0,7 mg kg-1). Aos 120
cercóspora, de 30 dias após a aplicação (dezembro/2007) DAA, somente a testemunha T1 e o tratamento T4 não
até 150 DAA (junho/2007), onde se verificou que os tiveram um controle satisfatório diferenciando dos demais
tratamentos T2, T3, T4 e T5 não diferenciaram dos 30 até tratamentos, mesmo com a redução da infecção. Já aos 150
90 DAA. Os tratamentos T2, T4 e T5 foram os que tiveram DAA, não houve diferença entre os tratamentos.
aplicações de silício, na folha ou no solo, repercutindo nos

TABELA 7 - Infecção de cercosporiose nos diferentes tratamentos, Uberaba-MG, Dez. à Jun. de 2007.
% de folhas infecção por cercosporiose
Tratamentos
30 DAA 60 DAA 90 DAA 120 DAA 150 DAA

Testemunha (T1) 9,1b 24,3b 2,5a 3,5bc 26,4a


-1
Silício sólido 2000 kg ha (T2) 5,0a 16,6ab 2,6a 2,1abc 20,8a
Azoxistrobina + Ciproconazol +
Tiametoxan (T3)
6,3ab 13,1ab 1,3a 1,3ab 16,8a
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 7ab 13,6ab 1,1a 4,0c 21,1a
-1
Silício líquido 4 l ha (T5) 2,8a 10,3a 1,1a 1,1a 16,8a
CV% 23,6 25,45 32,8 29,04 38
DMS 4,4 13,1 2,7 2,3 13,1
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Ferreira et al. (2007), conduziram um experimento plantas ao ataque desta doença pode estar associada à baixa
na Fazenda Experimental da Universidade Federal de concentração de Si no tecido foliar.
Uberlândia, em um Latossolo Vermelho Distrófico Típico Conforme a TAB. 8, até os 60 dias após a aplicação,
textura argilosa, em um delineamento blocos casualizados não houve diferença significativa entre os tratamentos. Já
com 6 repetições. Utilizou-se como fonte de silício o aos 90 DAA os tratamentos (T3) e (T4), diferenciaram-se
silicato de cálcio em cinco doses (0, 500, 1000, 2000 e dos outros. Aos 120 DAA apenas o tratamento T5
4000 kg ha-1). Não se observou uma redução significativa apresentou controle satisfatório da praga. Aos 150 DAA
na incidência de cercosporiose no cafeeiro. Por ser uma não houve novamente diferença significativa entre os
planta que não acumula silício, a falta de resposta das tratamentos, provavelmente devido à redução na infestação
da praga na lavoura.

FAZU em Revista, Uberaba, n. 6, p. 11-52, 2009.


Agronomia/Agronomy 51

TABELA 8 - Infecção da praga bicho-mineiro nos diferentes tratamentos, Uberaba-MG, Dez. à Jun. de 2007.
% infestação de larva viva do bicho-mineiro nas folhas
Tratamentos
30 DAA 60 DAA 90 DAA 120 DAA 150 DAA
Testemunha (T1) 0,6a 0,6a 15,3c 34,8b 3,8a
-1
Silício sólido 2000 kg ha (T2) 0,5a 1,0a 12,1bc 28,0b 3,3a
PrioriXtra + Actara (T3) 0,5a 0,5a 6,0a 26,3b 0,6a
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 1,0a 0,6a 9,0ab 34,1b 1,5a
Silício líquido 4 l ha-1 (T5) 0,3a 0,3a 10,0abc 7,1a 3,5a
CV% 28,0 25,1 32,2 30,4 36,9
DMS (Tukey) 1,4 1,4 5,7 13,4 3,2
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

Na TAB. 9, verificou-se a maior produtividade no pragas e doenças na testemunha, além da bienalidade do


tratamento T2, com 86 sacas beneficiadas ha-1, cafeeiro.
estatisticamente superior à testemunha (T1), com 39 sacas Silva et al. (2008), ao avaliar a produtividade do
ha-1. Em seguida, destacaram-se os outros tratamentos, café após uma aplicação de silício liquido, observou uma
embora sem diferenças estatísticas com relação à produtividade superior a testemunha, devido à
testemunha (T1). Esta superioridade em produtividade dos partenocarpia dos grãos (maior volume de grãos em
tratamentos que utilizaram alguma forma de controle relação aos outros tratamentos); o tratamento com silício
químico, embora sendo avaliada apenas uma safra, pode apresentou peso inferior a todos os outros tratamentos,
ter sido decorrência dos maiores danos causados pelas exceto a testemunha, tendo assim o silício agido como
regulador hormonal do cafeeiro.

TABELA 9 - Produtividade (sacas beneficiadas ha-1) para os diferentes tratamentos, Uberaba-MG. Safra 2006/2007
Produtividade
Tratamentos
Sacas beneficiadas ha-1
Testemunha (T1) 39a
-1
Silício sólido 2000 kg ha (T2) 86b
PrioriXtra + Actara (T3) 67ab
Silício sólido 4000 kg ha-1 (T4) 71ab
-1
Silício líquido 4 l ha (T5) 64ab
CV% 24,69
DMS 34,85
*Médias seguidas de mesma letra não diferem significativamente pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade

CONCLUSÃO CARVALHO, V. L. DE; CHALFOUN, S. M. Manejo


integrado das principais doenças do cafeeiro. Informe
A utilização de silício no controle fitossanitário é Agropecuário, Belo Horizonte, v.19, n.193, p.27-35,
uma alternativa eficiente no controle de pragas e doenças, 1998.
devendo ser utilizada com prática auxiliar. EPSTEIN, E. Silicom. Annual Reviw of plant physiology
A fonte líquida foi tão eficiente quanto a aplicação and plant molecular biology, v.50, p.641-664, 1999.
de produtos fitossanitários. FERREIRA, D. A. A. et al. Eficiência do silício no
A fonte sólida, pela menor velocidade de controle de cercosporiose e atributos químicos do solo
translocação do elemento silício na planta, não teve da lavoura cafeeira. Uberaba. Agronelli, v.1.1CD-Rom,
resultados satisfatórios no presente experimento, 2007.
provavelmente devido ao período curto de observações. FIGUEIREDO, F. C.; RODRIGUES, C. R. Silício líquido
solúvel. Revista Campo e Negócio, Uberlândia, n.44,
REFERÊNCIAS 2004.
FIGUEIREDO, F. C. et al. Influência da adubação foliar
BRADY, N. C. The nature and properties of soil, 10 ed. com silício líquido solúvel na redução de doenças foliares
New York; Macmilhan, p.179-200, 1992. e aumento do crescimento foliar do cafeeiro. 32º
CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISAS

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