ESTIMATIVA DE CONTRIBUIÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA AO MUNICÍPIO DE

SÃO CARLOS-SP PRODUZIDA PELA COMBUSTÃO DO BIOGÁS DE SEU

ATERRO SANITÁRIO
ESTIMATION OF ELECTRICITY CONTRIBUTION TO THE CITY OF SÃO CARLOS-SP
PRODUCED BY THE COMBUSTION OF BIOGAS FROM THEIR LANDFILL

Gustavo Oliveira Ferreira

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – São Carlos – Brasil
guoliveira131@gmail.com

Rogério Alexandre de Almeida

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar – São Carlos – Brasil
rogerio_aa@hotmail.com

Palavras-Chaves: biogás, aterro sanitário, potencial energético

RESUMO ABSTRACT
,

Pretende-se estimar o potencial de The objective is to estimate the

geração de energia elétrica a partir do
uso do biogás proveniente do aterro
sanitário no município de São Carlos,
utilizando o Método de Decaimento de
Primeira Ordem para obtenção dos
dados, determinando, através do
dimensionamento da vazão do metano,
a potência, energia disponível e a
porcentagem de representatividade na
composição do consumo energético do
município, com projeção do ápice de
produção em meados de 2035 e
posterior decaimento até 2053.
potential of electric power generation
from the use of biogas from the landfill
in the city of São Carlos, using the First
Order Decay Method to obtain data,
determining, through methane flow
sizing, the power, available energy and
the percentage of representation in the
composition of the municipality's energy
consumption, with projection of the
production peak in mid-2035 and
subsequent decay by 2053.

1. INTRODUÇÃO E REVISÃO DA LITERATURA

As alterações no padrão de vida e nos ecossistema como um todo

hábitos da população humana estão (NASCIMENTO et al., 2014).
diretamente ligadas à produção de
Nesse âmbito, a disposição final
resíduos sólidos nas cidades
ambientalmente adequada dos
atualmente. A redução, reutilização e
resíduos sólidos são um dos grandes
reciclagem dos materiais, traduzidos
desafios enfrentados pelas cidades,
em coleta, tratamento e disposição
principalmente devido ao aumento da
ambientalmente adequada,
utilização de materiais descartáveis em
formalizadas com a chegada da Lei nº
detrimento dos reutilizáveis, que
12.305 de 2010 que institui a Política
contribuem significativamente no
Nacional de Resíduos Sólidos
crescente volume de resíduos
(BRASIL, 2017), são ferramentas de
domiciliares gerado anualmente
gestão que visam melhorar a qualidade
(FRANCISCO, 2013). Dentro das
de vida da população, das águas
possibilidades de disposição,
subterrâneas, dos rios e do
encontram-se nos aterros sanitários
como uma alternativa viável,
econômica e ambientalmente, para os
resíduos sólidos gerados (BRASIL,
2008). Trata-se de uma obra de
engenharia projetada a partir de
premissas técnicas (ASSOCIAÇÃO
BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 1992), cujo objetivo
principal é o de assegurar que a
disposição dos Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU) seja realizada de forma
a minimizar os impactos e os danos ao
meio ambiente e à saúde humana,
através do confinamento e e próxima aos pontos de carga, a partir
compactação até o menor volume
possível, para posteriormente encobrir
com uma camada de solo (PORTELLA;
RIBEIRO, 2014).
Esses resíduos sólidos, uma vez
depositados nos aterros sanitários,
compactados e aterrados, produzem
alguns subprodutos, tais como o
chorume - que é coletado para as
lagoas, e os gases provenientes da
digestão anaeróbia dos resíduos
(VIERA et al., 2015), onde predominam
o dióxido de carbono (CO2) e o gás
metano (CH4) (CANDIANI; TORRES,
2015) - este último com a possibilidade
de ser coletado para uma central de
queima de biogás para produção de
O trabalho tem como objetivo estimar o potencial energético do RSU disposto no
aterro sanitário do município de São Carlos-SP durante sua vida útil, através da
geração de energia elétrica produzida pela queima do biogás.
2. METODOLOGIA
O estudo foi elaborado, considerando o
aterro sanitário de São Carlos -SP, que
conforme dados do IBGE (2019), a
população estimada é de 251.950
pessoas, sendo o trigésimo primeiro
(31º) município no Estado de São
Paulo em população e o centésimo
vigésimo segundo (122º) em economia
e precipitação média anual de 1440
mm (Climate Data 2019). O aterro
energia elétrica (BRASIL, 2007). A
quantidade cada vez maior de resíduo
gerado contribui na redução da vida útil
destes aterros sanitários onde, uma
vez atingida a capacidade máxima,
deve ser finalizada. Não obstante, a
produção de gases continua a
acontecer mesmo após a desativação
do aterro, inclusive com considerável
potencial de aproveitamento.
São diversas as vantagens da
produção de energia elétrica a partir
deste biogás, dentre as quais pode-se
mencionar a geração descentralizada
de uma fonte renovável que vem sendo
tratada como resíduo; a possibilidade
de uma receita extra ao aterro
sanitário, a partir da energia gerada
com biogás e vendida às
concessionárias; a redução na
utilização de energia elétrica de fontes
convencionais não renováveis; o
possível uso de processos de co-
geração; a diminuição das emissões de
metano (CH4) para a atmosfera, pelo
fato deste ter grande contribuição na
promoção do efeito estufa, por ser mais
eficiente na captura da radiação que o
CO2; créditos de carbono; dentre
outras vantagens possíveis de serem
constatadas após a implantação do
sistema.
sanitário, localizado a cerca de 25 km
da cidade, possui uma área de
565.685,33 m², com previsão de
utilização por 22 anos a contar da data
em que entrou em operação, no ano de
2012 - ou até completar sua
capacidade, estimada de 1.944.502
toneladas com 2.798.192 metros
cúbicos, sem considerar o material de
cobertura (BRASIL, 2008). Atualmente
recebe a coleta de mais de 200
toneladas de resíduos domiciliares
diariamente (São Carlos Ambiental,
2019).
Foi realizado uma estimativa por meio
de um método empírico já bem
Tabela 1 – Consumo energético do município de São Carlos (CPFL, 2019)
2.1 Método de Decaimento de Primeira
Ordem (USEPA 2, 1997; IPCC, 1996)
Este método considera a geração de
metano por uma quantidade de resíduo
depositada no ano x durante os anos
seguintes. Sendo que em cada ano,
novos resíduos são depositados, a
quantidade de metano gerada no ano
analisado será igual à geração de
resíduo depositado no ano T, somado
às gerações dos resíduos depositados
nos anos anteriores, referentes ao ano
T (CETESB/SMA 2003).

  .  . . .  
(1)
Onde:

 = Metano gerado no ano T
(m³/ano);
F = Fração de metano no biogás (%);
 = Quantidade de resíduo depositado
no ano x (kg);

K = Constante de decaimento (
= Potencial de geração de biogás
( kg de CH4/ kg RSD);
T = Ano atual;
X = Ano de deposição do resíduo.
A fração de metano no gás F, que
segundo Mendes e Sobrinho (2005) é
fundamentada na literatura - o método
de Decaimento de Primeira Ordem
(IPCC, 2006), sendo, de acordo com
Mendes e Sobrinho (2005) o método
que mais se aproxima da realidade.
de 50%. No entanto, Pecora V et.al
(2009), diz que medições in loco
mostram 40% de CH4 presente no
biogás.
A quantidade de resíduo depositado ao
ano  , é uma variável que depende
do produto dos termos como a taxa de
crescimento populacional, a taxa de
resíduos sólidos domiciliares (RSD)
produzido por habitante ao ano, e a
porcentagem de resíduos que é
coletada e disposta no aterro sanitário.
A constante de decaimento K, é uma
variável que leva em conta fatores
como a disponibilidade de nutrientes,
pH, temperatura e fundamentalmente a
umidade.

 2
/
Onde:
/ = Tempo médio para 50% da
decomposição do resíduo = 9 anos.
); Os valores sugeridos para K, segundo
o Word Bank (2003), variam de 0,01
  a 0,09  , em função da
precipitação anual e intensidade de
decomposição do resíduo, conforme
pode ser observado na tabela (2)
abaixo.
 Tabela 2 – Valores sugeridos para K (WORD BANK, 2003)

Valores para K ( )

Precipitação anual Decomposição Decomposição
Relativamente inerte
moderada alta
< 250 mm 0,01 0,02 0,03
> 250 mm a < 500 mm 0,01 0,03 0,05
> 500 mm a < 1000 mm 0,02 0,05 0,08
> 1000 mm 0,02 0,06 0,09

O potencial de geração de metano C 15

(biogás) ! , significa a produção total D 40
de metano (m³/kg RSD) e pode ser E 30
obtido pela equação (3) abaixo.

 "#$. #%&. '()* . . +,-. 3 A fração de carbono orgânico

degradável dissociado 0123 representa
Onde:
a parte de carbono que é
= Potencial de geração de biogás disponibilizada para o processo de
(kg de CH4/ kg RSD); decomposição do RSD, que é
apresentada pela equação (5) a seguir.
FCM = Fator de correção do metano
(%);
COD = Carbono orgânico degradável '()*  , 5.  + , 7 5
(kg de C/ kg de RSD);
'()* = Fração de COD dissociada
Onde:
(%);
'()* = Fração de COD dissociada
O carbônico orgânico degradável COD,
é estimado pela equação (4) (%);
apresentada pelo IPCC (1996), a partir T = 50ºC (Temperatura na zona
da composição gravimétrica dos RSD, anaeróbia);
nesse caso para São Carlos
apresentado por Kim (2019), e na Segundo Pecora et.al (2009), o valor
quantidade de carbono de cada de 0123 para RSD brasileiros é de
componente desse RSD. 0,77.

A tabela 3, exemplifica o conteúdo da A composição gravimétrica dos RSD

equação 4, onde tem-se as frações de
carbono orgânico degradável em
massa de cada tipo de RSD.
Tabela 3 – Frações de carbono orgânico
degradável para cada componente do RSD
(BIRGEMER; CRUTZEN, 1987)
Componente % COD (em massa)
A 40
B 17
utilizada para o presente trabalho foi
obtida através de Kim (2018), e está
detalhada na Tabela 4, a seguir:
'()   , 5 . 9 +  , :. ; +
 , <. ' +  , 5 . ) +  , = . > (4)
Onde:
COD = Carbono orgânico degradável Para o cálculo da potência disponível
(kg de C/ kg de RSD); foi utilizada a seguinte expressão (6):
A = fração de papel e papelão no RSD
B = fração de resíduos de parques e
  ?' @   A
?  6
jardins no RSD 7,
C = fração de restos de alimentos no Onde:
RSD
Px = Potência disponível no ano x
D = fração de tecidos no RSD (KW);

E = fração de madeira no RSD Qx = Vazão de metano a cada ano

(m³CH4/ano);

Tabela 4 – Composição gravimétrica de São

PC = Poder calorífico do metano
Carlos – SP. (Kim, adaptado pelo autor 2018) ( 35530000J/m³ CH4);
A = Eficiência do motor (0,28);

Para o cálculo da energia disponível,

utilizou-se a seguinte expressão:

>  ?   C   @D C (? 7

E = Energia disponível (KWh/dia);

P = Potência disponível (KW);
Rend = Rendimento do motor operado
a plena carga = 0,87;
Tempo de Operação do motor = 24
(h/dia)

3. RESULTADOS

Os resultados a seguir são para os A Tabela 5 a seguir expõe os

resíduos sólidos urbanos depositados resultados gerais obtidos, em vazão de
no aterro sanitário novo de São Carlos, biogás (metano), potência e energia
que iniciou suas atividades no ano de disponível para o aterro novo de São
2013, até um período de 40 anos, Carlos, no período analisado.
contando a partir do ano seguinte ao
início do aterro, devido ao tempo dado
ao processo de decomposição do
resíduo.
Tabela 5 – Estimativa da produção de biogás e Figura 1 – Vazão de metano para o aterro novo
energia para o aterro novo de São Carlos – SP. de São Carlos – SP. (Autor 2019)
(Autor 2019)

Figura 2 – Potência disponível para o aterro

novo de São Carlos – SP. (Autor 2019)

Figura 3 – Energia disponível para o aterro novo

de São Carlos – SP. (Autor 2019)

As figuras 1, 2 e 3 a seguir
representam em formato gráfico, os
dados da Tabela 5, para vazão de
metano, potência e energia disponível,
respectivamente.
4. CONCLUSÃO

Tendo em vista que o consumo energético Tabela 6 – Composição das Fontes de Energia
do Município de São Carlos (CPFL, 2019)
do município de São Carlos entre Janeiro e
Junho de 2019 variou entre 70.587.851 e
76.478.186 kW/h, conforme tabela (1)
(CPFL, 2019), o potencial de geração
energético do aterro para o mesmo ano é
da ordem de 9.552.267,23 kW/h,
passando a representar 12,49% do total
energético do maior mês de demanda.

BIBLIOGRAFIA

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