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RESUMOS

ANATOMIA I

Sara Lourenço de Matos Sêrro Fidalgo

2011/2012
Anatomia I
2011/2012

ÍNDICE

Anatomia - Geral 3

Principais Leis Anatómicas 4

Conceitos 7

Simetria Anatómica 8

Osteologia
1. Nomenclatura dos ossos 10
2. Tipologia dos ossos 10
3. Elementos morfológicos descritivos dos ossos 11
4. Estrutura macroscópica dos ossos 11
5. Osteogenia 12
6. Inervação e irrigação dos ossos 12
7. Acidentes Ósseos 13
8. Ossos idiotópicos 16

Artrologia
1. Tipologia das articulações 17
2. Movimentos das articulações 17
3. Sinartroses 18
4. Anfiartroses 18
5. Diartroses 19
6. Regras gerais de Artrologia 20
7. Principais diartroses 21

Miologia
1. Estrutura e tecidos constituintes dos músculos 24
2. Inserções musculares 25
3. Classificação dos músculos 25
4. Acção dos músculos 26
5. Anexos musculares 27

Cavidades do Corpo
1. Cavidade torácica 28
2. Cavidade abdominal 29
3. Cavidade pélvica 30

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Ictiotomia
1. Pele 31
2. Esqueleto 31
3. Barbatanas 32
4. Peixes e Pseudo-peixes 32
5. Músculos e Órgãos eléctricos 33
6. Aparelho digestivo e Aparelho urinário 33
7. Aparelho respiratório e Aparelho circulatório 34
8. Sistema nervoso e Órgãos dos sentidos 35

Anatomia da Lampreia 36

Esplâncologia das Aves (Galo)


1. Cavidades somáticas 37
2. Aparelho digestivo 38
3. Aparelho respiratório 45
4. Aparelho urinário 49
5. Aparelho genital masculino 50
6. Aparelho genital feminino 53
7. Anatomia do ovo 50

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Anatomia I
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ANATOMIA GERAL
Anatomia: ciência que estuda a estrutura macroscópica dos seres vivos.
Biontologia: ciência geral dos seres vivos abrangendo a biologia (vida), a psicologia (reactividade perante o
ambiente) e a sociologia (associativismo interindividual).

Ramos da Anatomia
Vertebrados Gnastótomos (com mandíbula)
BUOTOMIA Boi
CINOTOMIA Cão
CRIOTOMIA Carneiro
MASTOTOMIA Mamíferos
CUNICLOTOMIA Coelho
GALEOTOMIA Gato
HIOTOMIA Porco
HIPOTOMIA Cavalo
TRAGOTOMIA Bode
ANFIBIOTOMIA Anfíbios e Batráquios
ORNITOMIA Aves ALECTOROTOMIA Galo
ICTIOTOMIA Peixes
HERPETOMIA Répteis

Tipos de Anatomia
Anatomia Função
Descritiva Estuda órgãos agrupados nos respectivos aparelhos e sistemas.
Analítica Estuda separadamente cada estrutura.
Sistemática Estuda diferentes sistemas de aparelhos.
Funcional Estuda relações entre estruturas e respectivas funções.
Aplicada Estuda estruturas relacionadas com um dado problema.
Patológica Estuda alterações sofridas pelas estruturas.
Embrionária Estuda as modificações anatómicas do embrião durante a vida pré-natal.
Evolutiva Estuda as modificações anatómicas das espécies no decurso da evolução.
Comparativa Estuda aspectos anatómicos comuns às espécies comparadas e valoriza particularidades
anatómicas de cada espécie.
Constitucional Estuda, dentro da espécie animal a que se refere, os diferentes tipos morfológicos
apresentados pelos indivíduos dessa espécie.

Anatomia Veterinária: anatomia dos animais domésticos, que pode ser apresentada de forma comparativa
ou através da descrição isolada de cada uma das espécies.

Técnicas utilizadas pela Anatomia


Técnica Processo
Dissecção Separação de estruturas cm instrumentos seccionantes de gume fino.
Ressecção Separação de estruturas por seccionantes +/- grosseiros.
Injecção Replectiva Introdução de fluidos em cavidades.
Maceração Colocação em água e ataque por microrganismos que isolam estruturas.
Digestão Ataque por enzimas.
Corrosão Ataque por substâncias químicas.
Cocção Submeter a cozimento.

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PRINCIPAIS LEIS ANATÓMICAS


A) LEIS ANATÓMICAS ESTRUTURAIS APLICÁVEIS AO CONJUNTO DO ORGANISMO
Órgãos embriologicamente equivalentes e estruturalmente idênticos diferem na
função, forma ou localização.
4 tipos: Interespecial (entre diferentes espécies), Serial (entre órgãos seriados de um
LEI DA HOMOLOGIA mesmo organismo, vértebras ou costelas), Sexual (ex. pénis e clítoris) e Simétrica
(quando 2 ou mais órgãos pares diferentes se situam do mesmo lado, dizem-se
Ipsilaterais, quando pertencem a lados opostos, dizem-se Contralaterais).
Ex. Ducto auditivo e primeira fenda branquial.
Órgãos de origem embriológica e natureza anatómica diferentes têm funções iguais.
LEI DA ANALOGIA
Ex. Pulmões e brânquias.
Órgãos sem qualquer relação anatómica possuem natureza morfológica idêntica.
LEI DA HOMOPLASIA Ex. Componente córneo do bico das aves, parte córnea do corno dos ruminantes e
porção córnea das unhas, garras ou cascos.
Órgãos de um mesmo organismo podem apresentar perfil anatómico semelhante.
LEI DA HOMOTIPIA 1. Resultante da existência de órgãos derivados (vértebras): homologia serial;
ANATÓMICA 2. Resultante da semelhança de constituição tecidual (ossos, músculos, nervos);
3. Resultante da semelhança de constituição estrutural (dedos).
•• ••• • • •••••• •• • •• • •• • •• • ••• •• •• • • •••• • • ••• • •• • • • •• • • •• • ••• •• • • •• • ••••• • • •• ••• • ••• •
animal, enquanto o respectivo volume (e portanto o peso) é proporcional ao cubo das
LEI DA RELAÇÃO mesmas dimensões lineares.•
DIMÊNSIONAL DOS Assim, quando as dimensões duplicam, a superfície fica 22 e o volume 23.
ORGANISMOS Ex. Espessura dos membros do elefante é muito maior que a dos membros do rato.
Assim, quanto mais pequeno é o animal, maior é o quociente entre a superfície e o
volume (ou peso), o que tem a maior importância no caso da Lei das Superfícies.
LEI DAS CONEXÕES •• • •• • •• •• •• • • • •• •• • • ••• • • • •• •• • • •• ••• ••• • •• • •••• • • •• • •••• • •• • ••• ••• •• • • •••• • •
ORGÂNICAS • ••• •• • •• ••• •• • ••• ••- Critério das Homologias - Ver lei do limiar das correlações.
•• • • • • • •• • ••• • •• •• • • •• • •• • •• • •••• • ••• •• • • • ••• •• ••• • • • ••• • ••• •• ••• •• • •• ••• • •• ••• • •
acção sobre as dimensões das formações anatómicas, podem verificar-se grandes
PRINCÍPIO DA
divergências entre formações que, normalmente deveriam ser anatomicamente
DIAUXESE
•• • •• •• • • •• •••- Tal não se verifica em raças de animais muito puras.
Ex. Divergências entre maxila e mandíbula.
•• • • •• ••• •• • • •• • •••• • • • • • •• •• •• • • • • • •• • • • • • • • • • • •• •• • •• •-se extremamente
PRINCÍPIO DA
• •• • • ••• • • • • •• • ••• •• •• • •• • ••• •• • ••- Pode ser desvantajoso.
HIPERTELIA
Ex. Bico do tucano, tromba do elefante.
Lei de Bertalanffy: estabeleceu a expressão que traduz a intensidade do crescimento
em função dos processos do anabolismo e do catabolismo. d P/d t = aPm • cPn
Lei das Superfícies: os animais de sangue quente (homeotérmicos) obedecem a esta
lei, que estabelece que o metabolismo é sensivelmente proporcional à superfície do
2/3
corpo. d P/d t= aP • cP
Lei dos Volumes: os animais de sangue frio comportam-se de acordo •• • •• ••Lei dos
Pesos•••• metabolismo desses animais é proporcional ao seu peso. d P/ d P = P(a - c)
Lei do Crescimento Embrionário: Relação ainda mais simples, na qual intervém a
LEIS DO
constante embrionária K. P1/3 = K t
CRESCIMENTO
Lei do Crescimento Uniforme: é o caso do crescimento dos cabelos, dentes e unhas, é
GERAL DOS
ORGANISMOS uniforme e respeita uma equação. M = M0 + v t
Lei do Crescimento Exponencial: é o caso do crescimento celular, multiplicação de
bactérias e expansão de certas epidemias. M = M0 ec t
Lei da Alometria: •• • •• • •• ••• •• • •• • •• • • • •• •• • • •• •• • •• •• • • ••• • ••• •••• •••• • • •• •• • ••
diferentes partes do corpo não é geralmente paralelo, pelo que as suas dimensões
•• •• ••• • ••• • ••• • •• • ••• •••• • •• •• • •• ••• •• •• • •• • •• • • • •• •• • • •• •• log y = • log x + log K
3 tipos: Nula α=1 ou Isometria (corpo e órgão crescem à mesma velocidade), Positiva
α>1 (órgão cresce mais rapidamente) ou Negativa α<1 (corpo cresce mais
rapidamente).

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B) LEIS ANATÓMICAS DO CRESCIMENTO


Consideradas nas Leis do Crescimento Geral dos Organismos.

C) LEIS ANÁTOMO-CLIMÁTICAS
•• • •• • ••• •• • •• • •••• • •• • •• • •• •• • ••• •• • •• • •• • •• • •• •• • • ••• ••• • • •• •• • • •• • ••••• • ••• • ••••••• •••• • • • • •• •

LEI DE BERGMANN••• ••• • • • •• •••• • • • • • •• LEI DE HESSE••• ••• • • • •• ••• • •• ••• •• ••• • •• • ••• •• •• • ••
LEI DE GLOGER••• ••• •, nos climas mais frios e secos, uma
LEI DE ALLEN••• ••• • menores apêndices do corpo pigmentação amarelada, em contraste com os animais
•• •• •• • ••••• • • • ••• • • • •• •••• similares que vivem em climas quentes e húmidos, que
•• • • • • •• ••• ••• • • ••• •• •• •• • •• ••• •• ••

D) LEI DO NANISMO INSULAR


•• •• • •• • • • •• • • • ••• •• •• • • • • • •• • • • • • • • • •• • •• •• •• •• •• • • ••• • • • • •• • • • •• • • • • • • ••• •• •• • •• •• ••• •• • • • • ••
• • • • •• •• • •••• • ••• • • •• ••••
Ex. Póneis das ilhas Shetlands, Bois das ilhas Jersey e Guernsey.

E) PRINCÍPIO DO LIMITE DE SELECÇAO DAS ESPÉCIES


•• ••• •• ••• • •• • • •• • • •••• • •• •• • • •• • • • •• •• • ••• • • • ••• •••• • • •• •• • •••• ••• •• • • •••• • • •• •• • • • •• •••• • • ••• ••• ••
•• • • ••• • • • ••• • ••• • • • ••• •• • ••• ••• • •• •• • ••• •• • •• • • ••• • ••

F) LEIS ANATÓMICAS APLICÁVEIS AOS MEMBROS


•Os membros torác••• ••• •• • •• ••• •••• • ••• • ••••• •• • •••• • • •• • • •• • •• • •• • •• • • • •• ••
1 Zonopódio (cintura escapular ou cintura pélvica)
1 Estilopódio (braço ou coxa)
1 Zeugopódio (antebraço ou perna)
1 Autopódio dividido em:
LEI DA HOMOTIPIA
- Basipódio (carpo ou tarso);
DOS MEMBROS
- Metapódio (metacarpo ou metatarso);
- Acropódio (dedos, numerados de 1 a 5 no sentido medial-lateral).
Quando o primeiro dedo contrasta muito com os restantes, é chamado de Pólice ou
Polux no membro torácico, e Álice ou Halux no membro pélvico.
Estes conceitos referem-se aos membros dos animais vivos e não ao esqueleto.
•• •• ••• ••• • ••• • • ••• • •• • •• • • • •• •• • • • ••• •• •• •-se em diferentes raios deste, conforme a
• •• • ••• ••• • ••• • •• • • ••
 Protaxonia: 1º raio ou próximo • •• • • •• • •• • •• •• •• • • •• • •• •• ••• •
 Pré-entaxonia: entre o 1º e o 2º raio • •Homem;
 Entaxonia: • •••• •• •• • •• •• ••• • •• mão de Dasypus e mão de Grampus;
 Premesaxonia: • • ••• •• •• ••• •• •• •••• •• •• •• • •• • •Notoryctes e mão de Choeropus;
PRINCÍPIO DA  Mesaxonia: 3º raio ou próximo • •• •• • •• •• • •• ••• • • • •• ••• •• •• • •• ••• • •• • • •• Tapir;
METAXONIA  Paraxonia: • • ••• •• •• ••• •• •• •••• •• •• •• • ••• •• • ••• •
 Ectaxonia: 4º raio ou próximo • •• • •• • •Macropus e pé de Propithecus;
 Metectaxonia: entre o 4••• •• •• •••• •• •• •• • •• • •Phalanger;
 Pentaxonia: 5º raio ou próximo • •não se conhece nenhum exemplo nos mamíferos.
O Cão e o Gato têm autopódios torácicos paraxónicos, e autopódios pélvicos
mesaxónicos. O Coelho tem autopódios torácicos mesaxónicos e autopódios pélvicos
paraxónicos.
PRINCÍPIO DA •• ••• ••• • • • •• • •• • •• • •• • • •• • • •• ••• • • •• • • •• ••••• • ••• •• ••• • • • •••• • • •••
HOMOPODIA Ex. Ruminantes, Equídeos, Porco, Cão e Gato.
PRINCÍPIO DA •• ••• ••• • • • •• •••• • •• • ••• • • • • • •• •• ••• •• • •• ••••• • ••• •• ••• • • • ••• ••• •• • •• ••
HETEROPODIA Ex. Coelho, Rato e Aves.

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•• • ••• •pécies que se deslocam sobre o solo, a extensão do membro que contacta com o
terreno é diferente, quer de espécie para espécie, quer (no caso das espécies
heterópodas) entre o membro torácico e o membro pélvico••
 Nuligradia membro não apoia nenhuma parte n• ••• •• •• •• • • •••• • • • • •• ••• • • • • •
 Unguligradia: só • ••• • • •• •••• ••• • •• • • • •• ••• • • •••• • •• • •••• ••• •••• •• • • •• •• • ••• •• •• •
PRINCÍPIO DA Boi;
PLURIGRADIA  Semidigitigradia: só a parte distal do acropódio se apoia no solo • Gato almiscarado;
 Digitigradia: só o acropódio se apoia no solo • Cão;
 Semiplantigradia: o apoio do membro no solo é feito através do acropódio e da parte
distal do metapódio • Marta;
 Plantigradia: o apoio no solo é feito através do acropódio, metapódio e basipódio •
Ursos.
•• • •• • ••• • • ••• •• • ••• •••• • ••• • ais os ossos do zeugopódio são livres entre si, a posição de
paralelismo destes ossos, supinação, pode ser comutada numa posição de cruzamento
X dita pronação, com orientação anterior da face dorsal do autopódio e colocação
PRINCÍPIO DA • • • •• ••• • •• ••• • • • ••
PRONAÇÃO Nos animais domésticos de interesse, estes movimentos só se verificam no antebraço
do Cão e do Gato, mas de uma forma pouco marcada.
Supinação (homens e primatas) quando a palma da mão esta voltada para a frente,
enquanto a Pronação é o dorso da mão que fica voltada para a frente.

LEIS ANATÓMICAS RELACIONADAS COM A EVOLUÇAO


I. PRINCÍPIOS OU LEIS APLICÁVES AO CONJUNTO DO CORPO
•Órgãos de origem diferente evoluíram de forma a apresentarem estrutura quase igual
LEI DA
• • ••• •• ••• • • • • •• ••• • • •• • • •• ••
CONVERGÊNCIA
Ex. Olhos dos vertebrados e olhos dos moluscos.
•Órgãos de origem semelhante evoluíram de forma a apresentarem estruturas muito
LEI DA
d•• • ••• •••
DIVERGÊNCIA
Ex. Mão humana e asa de morcego, unhas, garras, cascos.
•• • • • • • •• •• •• • •• • •• •• • ••• •••• •• • •• • • • •• •• • ••• •• •••• • • ••• •• • ••• ••• •••• •• ••••• • • •• •
LEI DO LIMIAR DAS
• •• • • ••• • ••• •• • •••• •• • • • •• • • •• •• ••• •• •• • ••• •••• •• • ••••• • •• • •• • • •• • ••• • • • •• ••
CORRELAÇÕES
Ex. Quirópteros (Morcego), Pinípedes (Foca e Otária) e Talpídeos (Toupeira).
•• • ••• ••órgãos dum organismo sofrem redução a rudimentos, ou mesmo desaparecem
PRINCÍPIO DA
•• • • •• •• • • • •• •• • •• • •• ••• •• • •• • • •• •• • ••
CATAPLASIA
Ex. Rudimentos da clavícula do Coelho, Gato e Cobaia.
•• • • •• •• • • ••• • ••• • •• • •• ••• •• • •• • • •• •• • ••• • • • • ••• •• ••••• • •• ••• •• • •• • •• ••• • • •• •••
PRINCÍPIO DA certos órgãos novos que, eventualmente, sofrem aumento de dimensões e/ou
ANAPLASIA •• • •• • •••
Ex. Ossos sesamóides e rótula ou patela olecraniana presente nas aves.
II. PRINCÍPIO EVOLUTIVO APENAS APLICÁVEL AOS MEMBROS
•• • ••• • •• • •••• • • • • • • • •••• ••• • • • •• ••• • •• ••• •••• • • • • •• •• • • •• •••• • ••••• • •• • • • • •• •
PRINCÍPIO DA
• • • •• ••• • • • •• •••• •• •••• •••
HETEREXÉLISE DOS
Ex. No membro torácico do Gato ainda se nota o dedo I, embora menos desenvolvido,
MEMBROS
enquanto no membro pélvico este dedo já desapareceu inteiramente.

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CONCEITOS
Sistema: conjunto de órgãos presentes em varias regiões do organismo. Acção semelhante e mesmo
funcionamento integrado. Ex. Sistema Circulatório, Sistema Nervoso, etc.
Aparelho: conjunto de órgãos localizados numa parte limitada do organismo. Funcionamento
estreitamente integrado. Ex. Aparelho Urinário, Aparelho Respiratório, etc.

Válvula: dispositivo que existe no interior de certos ductos, a fim de impedir o refluxo de fluidos ou gases.
Estas podem ser:
- Nidiformes: em forma de ninho → o seu conjunto forma as Valvas;
- Foliáceas: em forma de folha → pode decompor-se em 2 ou 3 lâminas (Cúspides).
Valva: conjunto de Válvulas Nidiformes.
Cúspide: cada lâmina que compõe uma Válvula Foliácea.

→ Nota: a válvula Ileo-Cecal no intestino não existe em nenhum animal doméstico de interesse veterinário.

Espaço: porção do espaço somático, ou seja, do corpo do animal, compreendido entre outras estruturas
somáticas. Ex. Entre órgãos.
Cavidade: solução de continuidade presente numa estrutura somática. As cavidades podem ser:
- Cavidades Reais: as paredes mantêm-se afastadas entre si devido à existência de estruturas ósseas,
cartilagíneas ou fibrosas, ou por motivo de tracção permanente operada por músculos, aponervos ou
ligamentos. Ex. Estômago;
- Cavidades Virtuais: as paredes contactam-se, excepto se houver alguma substância entre elas. Ex.
Pleura, quando ocorre uma infecção, as duas membranas separam-se e cria-se um espaço que inicialmente não
havia.

Lobo: parte de um órgão muito nitidamente delimitado e individualizado macroscopicamente. Ex. Lobo
Pulmonar.
Lóbulo: nunca deve ser utilizado em anatomia, é um termo histológico.

Diferenças entre a Ordem dos Lagomorfos (Coelho) e a Ordem dos Roedores:


Lagomorfos Roedores
2 pares de incisivos superiores; 1 par de incisivos superiores;
Forâmes ópticos fundidos; Forâmes ópticos separados;
Cristas palatinas muito numerosas (23 ou 24 no Cristas palatinas em número reduzido (8 pares no
Coelho); Rato grande);
Fossa mandibular oval, com o eixo maior transversal; Fossa mandibular longitudinal, estreita e alongada;
Orbitosfenóide muito desenvolvido; Orbitosfenóide pequeno;
Cauda curta; Cauda comprida;
Ceco muito longo e volumoso, com prega espiral. Ceco muito mais reduzido, sem prega espiral.

Nos Lagomorfos, todos os dentes são de crescimento permanente.

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SIMETRIA ANATÓMICA
Simetria: pode aplicar-se a todo o organismo, ou apenas a uma região ou órgão. Ocorre sempre que é
possível dividir um organismo em segmentos idênticos.
Somatómeros Primários: segmentos idênticos nos quais um organismo pode ser dividido.

Tipos de Simetria
Os diferentes tipos de simetria definem-se em função de um ou mais elementos invariantes, que são
comuns a todos os somatómeros primários.
Tipos Descrição
ASSIMETRIA Inexistência de quaisquer invariantes. Ex. Ameba.
RADIAL Os somatómeros primários estão dispostos em torno do eixo de simetria, apresentando um
(Axial) perfil de sectores, o único possível nesta situação.
Parirradial: • ••• ••• ••• ••• •• •••• •••• • •• • ••• ••
Imparirradial: • ••• ••• ••• ••• •• •••• •••• • • •• • • • •• • ••
ESFÉRICA Ocorre em organismos que apresentam uma forma esférica, sem que neles seja possível
(Central) considerar nenhuma polaridade anatómica. O centro de simetria corresponde ao centro da
esfera somática. Ex. Espécies microscópicas → Simetria Universal.
BILATERAL Cruzada ou “Birradial”: comporta dois planos de simetria cruzados ortogonalmente e sem
relação um com o outro, pois não são definidos por um mesmo tipo de acidente anatómicos
polares. Ex. Ctenário.
Cúbica: admite 3 sistemas axiais ou radiais de simetria: 3 eixos ortogonais, 4 eixos ortogonais ou
6 eixos ortogonais. Ex. Vírus.
Helicoidal: a disposição das secções simétricas faz-se segundo uma rotação em torno de um
eixo de simetria, acompanhando-se por uma traslação paralela ao mesmo eixo. Ex. Vírus.

SIMETRIA BILATERAL
Pólos: local onde os eixos de simetria intersectam a superfície do organismo.
Determinação dos pólos:
- Pólo cefálico/anticefálico: os animais deslocam-se no sentido do pólo cefálico, e nesse mesmo estará a
cabeça bem definida, a boca, e os órgãos sensoriais indispensáveis;
- Pólo ventral/dorsal: a face do corpo voltada para o nadir corresponde ao pólo ventral;
- Pólo esquerdo/direito: determinam-se no final pela examinação do animal com o pólo cefálico voltado
para o observador.

Planos Secantes Primários: dividem o organismo em Hemímeros ou Protómeros Simples.


Hemímeros ou Protómeros Simples:
MESOPLAGIOMÉRICO Aristómero (esquerda)
(2 Plagiómeros) Dexiómero (direita)
METACROMÉRICO Cefalómero
(2 Acrómeros) Anticefalómero
MESELCSIMÉRICO Notómero
(2 Helcsímeros) Gastrómero

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Eixos: - Longitudinal: define o pólo cefálico e o pólo anticefálico;


- Transverso: define o pólo esquerdo e o pólo direito;
- Dorsoventral: define o pólo dorsal e o pólo ventral.

Diatomoprotómeros ou Protómeros de Intersecção:


Tetartómeros: intersecção dos 3 Hemímeros 2 a 2 (12 tetartómeros):

ACROPLAGIÓMEROS
(4 Tetartómeros)

HELCSIPLAGIÓMEROS
(4 Tetartómeros)

HELCSIACRÓMEROS
(4 Tetartómeros)

Ogdómeros: conjugação de 2 Hemímeros (8 ogdómeros):

Planos Secantes Secundários: dividem o organismo em Deuterómeros.

ENCARSIÓMEROS
(paralelos ao plano Mesoplagiomérico)

METÂMEROS
(paralelos ao plano Mesacromérico)

SORÓMEROS
(paralelos ao plano Meselcsimérico)

Simetria Bilateral Secundariamente Modificada: verifica-se quando um organismo apresenta simetria


bilateral à excepção de uma estrutura que assume proporções diferentes. É criada uma assimetria. Ex.
Caranguejo com 1 pinça muito maior que a outra, e Caracol que enrola a carapaça mais para um dos lados.

Simetria anatómica Local ou Regional


Planos Tangentes aos Membros

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OSTEOLOGIA
1.NOMENCLATURA DOS OSSOS
A nomenclatura aplicada aos ossos não é sistemática, esta resulta da utilização de alguns critérios:
- Critério da situação relativa (ex. metacárpicos e metatársicos);
- Critério da situação absoluta (ex. frontal);
- Critério da forma (ex. fíbula e patela);
- Critério da função (ex. parietal e axis);
- Critério da localização (ex. maxila e nasal);
- Critério do volume (ex. cuneiforme maior e cuneiforme menor).

2.TIPOLOGIA DOS OSSOS


Tipos de esqueletos
Tipo Constituição

Esqueleto cefálico Coluna axial encondral e um conjunto ampolar periférico.


Esqueleto axial Tronco.
Esqueleto apendicular Representado pelos eixos ósseos dos membros.
Esqueleto de ossos idiotópicos Ossos desenvolvidos no seio de órgãos diversos. Ex. Ossos cardíacos,
peniano, etc.
Esqueleto dérmico Derme quando sofre uma transformação óssea.

Situação em relação ao plano mesoplagiomérico


Tipo de osso Descrição
Remotos entre si: colocam-se longe do
plano mesoplagiomérico;
Pares/simétricos São atravessados pelo mesmo plano.
Contíguos entre si: o plano de separação
coincide com o plano mesoplagiomérico.
Ímpares/assimétricos Não são atravessados pelo mesmo plano.

Conformação tridimensional
Tipo de osso Definição

Comprido O comprimento predomina sobre as outras dimensões que são aproximadamente iguais:
C>>(E• L)
Possuem sempre uma cavidade medular.
Alongado Uma dimensão predomina de forma muito acentuada sobre as outras duas (caso de ossos
finos de grande comprimento).
Curto As três dimensões são equivalentes: C• • • •

Chato/Plano A espessura é muito inferior às outras duas dimensões: E<< (C• ••

Pneumáticos Ossos compridos das aves que apresentam uma cavidade cheia de ar, ligada aos sacos aéreos,
em vez de uma cavidade medular.

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Os ossos compridos e alongados podem ser categorizados segundo a direcção absoluta do eixo maior:
- Rectilíneos: perfil recto;
- Curvilíneos: perfil curvo;
- Espiróides: perfil espiral;
- Sigmóides: perfil em S;
- Ângulosos: perfil com dois ramos unidos por um ângulo.
Se se considerar a direcção do eixo maior relativamente aos planos secantes primários, os ossos podem
classificar-se em horizontais, verticais e oblíquos.

3. ELEMENTOS MORFOLÓGICOS DESCRITIVOS DOS OSSOS


Ossos compridos ou alongados (A): têm duas extremidades (distal e proximal) e um corpo com quatro faces
(anterior, posterior, medial e lateral) e bordos, que delimitam essas faces.
No caso do osso comprido, existe no interior do corpo do osso, uma cavidade
medular preenchida pela medula óssea. No caso do osso alongado não existe
nenhuma cavidade no interior, apenas existe um eixo de tecido ósseo esponjoso.
Ossos planos/chatos (B): distinguem-se sempre duas faces separadas por um
contorno, no qual se identificam dois ou mais bordos e um número igual de
ângulos.
Ossos curtos (C): distinguem-se várias faces, vários bordos que separam essas faces, e vários ângulos
resultantes da concorrência desses bordos.

4. ESTRUTURA MACROSCÓPICA DOS OSSOS


Um osso é constituído por tecido ósseo cavado de cavidades muito variadas, totalmente infiltradas pela
medula óssea, que pode ser: medula rubra/vermelha/fetal ou medula flava/amarela/adiposa. Nos ossos
também se encontram veias, artérias e nervos.
O osso está totalmente envolvido por um revestimento fibroso, o periósteo, que é constituído por um
plano exterior fibroso muito resistente, e por um plano interior osteogénico (muito activo nos primeiros anos
de vida). O periósteo só não recobre o osso nas áreas cartilagíneas e nas áreas de inserções ligamentosas e de
inserções tendinosas. É encontrado um revestimento cartilagíneo dos ossos a certos níveis, como as
extremidades articulares, as corrediças tendinosas e as zonas continuadas pelas cartilagens complementares.
O tecido ósseo pode ter uma forma e disposição variante, que pode ser classificada em dois tipos:
- Tecido ósseo compacto: envolve todos os ossos (com maior ou menor espessura conforme os níveis);
- Tecido ósseo esponjoso: massa de tecido ósseo existente no interior dos ossos.

A disposição dos dois tipos de tecido ósseo não é igual em todos os ossos, esta varia de acordo com o tipo
de osso:
- Ossos compridos: encontra-se sucessivamente de fora para dentro: uma espécie de cilindro (fechado nas
extremidades) de tecido compacto, e colocado exteriormente; uma massa de tecido esponjoso interior
especialmente espessa junto das extremidades do osso; e uma parede de tecido compacto a envolver a
cavidade medular, parede essa que na diáfise contacta com a parede exterior de tecido compacto;
- Ossos alongados: existe um eixo de tecido esponjoso, contido numa espécie de cilindro de t. compacto;
- Ossos curtos: há uma massa central de tecido esponjoso, revestida por tecido compacto;
- Ossos chatos: existe uma lâmina de tecido esponjoso (denominada díploe, no caso dos ossos do crânio)
revestida por duas lâminas de tecido compacto, tecido que constitui também os bordos e os ângulos.

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5. OSTEOGENIA
O mesenquima embrionário que vai dar origem aos ossos pode sofrer dois tipos fundamentais de evolução:
1. o tecido fibroso em que se transforma sofre directamente o processo de ossificação, dando origem
aos ossos membranáceos (osso da abóbada craniana e osso periféricos da face), que são sempre superficiais e
mais ou menos achatados;
2. o tecido fibroso intermediário transforma-se em tecido cartilagíneo, antes de sofrer a ossificação,
resultando desta evolução os ossos condrais/cartilagíneos, representados pelos ossos dos membros, do tronco
e do eixo encondral da cabeça.
Os ossos não sofrem uma ossificação simultânea em toda a sua
extensão, antes surgem vários centros de ossificação, a partir dos
quais a ossificação vai progredindo, até que as áreas ósseas
respectivas se encontrem e se fundam. Alguns ossos possuem
apenas um núcleo de ossificação. Considerando um osso, os
núcleos de ossificação periféricos são ditos epífises, e o núcleo de
ossificação central denomina-se diáfise, que no topo que contacta
com a cartilagem epifisal, é chamado metáfise.
- Ossos compridos ou alongados: apresentam sempre um
núcleo central, diáfise (que corresponde sensivelmente à zona de
ossificação do corpo do osso no caso dos ossos compridos), e uma
ou mais epífises. O metacarpo, as falanges e o calcâneo são ossos
compridos mono-epifisais; o radio, a ulna e a fíbula são ossos di-
epifisais; outros ossos como o fémur e o úmero são poli-epifisais.
- Ossos curtos: a ossificação dá-se frequentemente a partir de
um núcleo de ossificação.
- Ossos chatos/planos: apresentam vários núcleos de
ossificação (ou apenas um em alguns casos) que se reúnem numa
espécie de mosaico, não sendo hábito distinguir-se epífises e
diáfises em alguns casos.
Nos ossos encondrais, a zona cartilagínea ainda não atingida
pela ossificação e que separa as epífises da diáfise, e dita
cartilagem epifisal, e a sua projecção à superfície do osso é
denominada linha epifisal/epifisária.
A cartilagem epifisal é muito importante, pois é quase exclusivamente pela sua permanente proliferação
que o osso vai crescendo em comprimento, cessando este crescimento no momento em que a cartilagem
epifisal desaparece por fusão das epífises com a diáfise.
O crescimento dos ossos em espessura deve-se à camada osteogénica do periósteo, que vai depondo
camadas concêntricas de tecido novo sobre o osso já existente.

6. INERVAÇÃO E IRRIGAÇÃO DOS OSSOS


As diáfises dos ossos compridos, e mesmo as zonas correspondentes aos núcleos principais doutros ossos,
apresentam um importante forâmen dito forâmen nutrício, continuado por um canal nutrício, que dá
passagem a uma volumosa artéria e geralmente a uma volumosa veia, ditos vasos nutrícios de primeira
ordem, do osso em referência.
As epífises apresentam um grande número de buracos vasculares, que dão passagem a vasos nutrícios de
segunda ordem do osso considerado. É grande a importância das veias de segunda ordem em relação à
circulação óssea. Os numerosos vasos, quase microscópicos, vindos do periósteo são ditos vasos nutrícios de
terceira ordem. Os vasos linfáticos ósseos tendem a repetir a disposição das veias.
Os nervos apresentam uma disposição muito semelhante à dos vasos, recorrendo para a sua passagem aos
mesmos forâmenes que são utilizados pelos vasos.

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7. ACIDENTES ÓSSEOS
Os ossos apresentam variados acidentes esculpidos ou impressos na sua superfície, que podem ser de dois
tipos:
- Acidentes ósseos articulares: destinados a corresponder a outros acidentes de ossos ou outras peças
esqueléticas contíguas para formarem as articulações;
- Acidentes ósseos não articulares: destinam-se a receber inserções musculares ou ligamentosas, a
alojarem ou permitirem a passagem de outros elementos anatómicos, etc.
Os acidentes ósseos podem ser saliências, reentrâncias, acidentes mistos (simultaneamente em relevo e
em depressão) ou acidentes neutros.

7.1 ACIDENTES ÓSSEOS ARTICULARES


- SEM CARTILAGEM DE REVESTIMENTO (para sinartroses e anfiartroses):
Em relevo (ex. lâmina de encaixe)
Em depressão (ex. sulco de recepção)
De tipo misto (ex. os folhetos, os denteados, os biselamentos)
De tipo neutro (ex. o bordo liso)
- COM CARTILAGEM DE REVESTIMENTO (para diartroses):
EM RELEVO

Cabeça calótica: corresponde a uma calote de esfera.


Cabeça
Cabeça hemisférica: corresponde a cerca de meia esfera ou mais.

Côndilo cilindróide: segmento de cilíndro (é o côndilo por excelência, pelo que


••• • • • • •• • • • •• •• •• • ••• • • • • •• • • • • ••• • ••••• • • ••• ••.
Côndilo
Côndilo elipsóide: segmento dum elipsóide, sólido geométrico semelhante a um melão ou
• • • •• • •• •• • •••• • • • ••
EM REENTRÂNCIA
Cavidade glenóide: reentrância em forma de tigela pouco profunda, para
recepção de cabeça calótica.
Cavidade
Cavidade cotilóide: reentrância em forma de tigela muito profunda, para
recepção de cabeça hemisférica.
MISTOS

Tróclea Dois lábios que ladeiam uma garganta.

Antitróclea Duas depressões que ladeiam um relevo (é o molde negativo da tróclea).

Com uma convexidade num sentido e uma concavidade no sentido


Sela
perpendicular ao primeiro.

NEUTROS (facetas articulares)

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7.2 ACIDENTES ÓSSEOS NÃO ARTICULARES


DEPRESSÕES (não articulares)

Fenda ou fissura: perfuração estreita e alongada.

Forâmen: perfuração geralmente circular num osso.

Poro: pequeníssimo orifício.


Perfuradas
Incisura: entalhe num bordo (por vezes irregular, outras vezes semicircular,
constituindo em muitos casos um hemi-forâmen).
Canal: tubo escavado num osso.
Hiato: fossa, prolongada por buracos ou por canais aos quais serve de átrio (em parte é
sinónimo de recesso quando este for perfurado).

Goteira: escavação alongada em forma de caleira.

Cissura: pequena goteira.


Corrediça: goteira guarnecida de cartilagem (geralmente opara o deslize de tendões).
Sulco: escavação estreita e alongada para alojamento de vasos e nervos.
Ranhura: sulco profundo e anguloso.
Impressão digital: semelhante à impressão resultante da aposição de um dedo humano
Não perfurados numa substância moldável.
Fossa: depressão extensa em todos os sentidos e largamente aberta (em
parte sinónimo de recesso).
Fóvea: pequena fossa.
Superfície de inserção: tende a assumir os caracteres dum acidente neutro.

Seio: anfractuosidade de abertura estreita.

Célula: pequena cavidade curta mas profunda, comunicante com outras células.
RELEVOS (não articulares)

Protuberância: saliência notável e arredondada.

Tuberosidade: idem, mais baixa.

Saliências Tubérculo: idem, ainda mais baixo e menos importante.


alargadas em
todos os Convexidade: saliência extensa mas pouco notável.

sentidos
Bossa: saliência não muito marcada, lisa e algo extensa em todos os sentidos.

Rugosidade: conjunto de pequenos relevos ocupando uma superfície.

Impressão: leve rugosidade.

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Crista: aresta alongada, aguda, regular e estreita.

Saliências Linha: aresta frouxa, fina e comprida.


alongadas
Espinha (1ª acepção): aresta alongada, aguda, irregular e destacada.
Lâmina: aresta alta, longa e subtil.
Lamela: pequena lâmina.

Espinha (2ª acepção): espécie de ponta muito longa, irregular e aguda.


Saliências em
ponta Processo: saliência em ponta mais ou menos espessa e de forma variada (também
denominada apófise).
Hâmulo: processo terminado em gancho.

Os processos podem apresentar designações variadas, de acordo com a sua forma:


Estilóide: em forma de coluna; Bicúspide: com duas pontas ou cúspides;
Cifóide: em forma de taça; Escafóide: em forma de barco;
Clinóide: em forma de coluna de cama; Odontóide: em forma de dente;
Coronóide: em forma de bico de gralha; Unciforme: em forma de unha;
Coracóide: em forma de bico de corvo; Subuliforme: em forma de furador;
Mastóide: em forma de papila de mama; Vaginal: em forma de bainha;
Pterigóide: em forma de asa; Tricúspide: com três pontas.

Forâmen: abertura mais ou menos circular que ocorre num osso, ou noutra estrutura anatómica formada
por um tecido rígido, como por exemplo uma cartilagem ou uma formação fibrosa.
Óstio: abertura circular que ocorre em tecidos moles.
Canal: acidente tubular escavado num osso ou noutras estruturas duras.
Ducto: acidente tubular escavado em tecidos moles, que por vezes está contido num canal.
Lúmen: diâmetro interior dum forâmen, dum canal ou de um ducto.

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8. OSSOS IDIOTÓPICOS

Ossos idiotópicos/viscerais/ectópicos/esplâncnicos: ossos peculiares de certos grupos zoológicos (ou


mesmo de certas espécies), que se mostram estranhos ao plano geral de organização do esqueleto, e que com
este não apresentam significativa relação anatómica. Estes ossos podem apenas ocorrer em certos indivíduos
de uma espécie, e nunca devem ser confundidos com:
- variadas ossificações acidentais que podem surgir nos diversos pontos do organismo;
- determinadas ossificações dérmicas características de alguns grupos;
- certos ossos próprios de algumas espécies, mas presentes no esqueleto normal;
- ossos musculares.

OSSOS IDIOTÓPICOS
1. Osso peniano Situado no interior do pénis e resultante da ossificação parcial do corpo cavernoso e
mesmo da glande. Está presente nos Pinípedes (sendo muito desenvolvido na
Morsa), nos Roedores, nos Insectívoros, nos Quirópteros, nos Dermápteros, nos
Fissípedes (incluindo o Cão) e nos Primatas, sem prejuízo da sua ausência em muitos
géneros destas ordens, como é o exemplo do Homem e da Hiena.
2. Osso clitoridiano É o homólogo do osso peniano, mas de menores dimensões e de muito mais rara
ocorrência. Proveniente da ossificação dum prolongamento do corpo cavernoso do
clitóris. Está presente em algumas espécies de Fissípedes (incluindo a Gata), de
Roedores, de Pinípedes e de Primatas.
3. Ossos cardíacos Resultam da ossificação parcial do disco filocartilagíneo/átrio-ventricular do coração.
Estão presentes em muitos Ruminantes (incluindo o Boi, o Carneiro e a Cabra) e,
possivelmente, também em outros grupos.
4. Osso intercarotídeo Encontrado por exemplo nos Equídeos, que apresenta a forma de bastonete e que
serve de suporte ao glomo carotídeo situado no local de ramificação das artérias
carótidas.
5. Osso diafragmático Típico dos Camelídeos, que é plano e sensivelmente circular, e se situa no diafragma,
junto ao óstio da veia cava caudal.
6. Ossos esofágicos Um ou mais, presentes no esófago na sua porção mais próxima do diafragma e
também característicos dos Camelídeos.
7. Osso rostral Presente nos Porcídeos (incluindo o Porco), situado no extremo anterior do focinho
e relacionado com o hábito de fossamento deste grupo.
8. Ossos tonsilinos Ou amigdalinos, repetidamente encontrados na tosila (ou amígdala) palatina da
espécie humana.
9. Ossos oculares Anteriores e posteriores das Aves, que resultam de ossificações anulares parciais das
calotes anterior e posterior da esclerótica, e que mostram a interessante
particularidade de serem constituídos por uma serie de escamas ósseas articuladas
entre si, de forma a não prejudicarem a elasticidade do globo ocular.
10. Ossos palpebrais Existentes nas pálpebras móveis (inferiores) de Crocodilos.
11. Ossos prenasais Presentes por exemplo na Toupeira, nas Preguiças ou nos Tatus, relacionados
principalmente com a actividade de escavamento de galerias subterrâneas, e
provavelmente, homologáveis aos ossos rostrais dos Porcídeos.

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ARTROLOGIA
1. TIPOLOGIA DAS ARTICULAÇÕES

Articulações: são estruturas de reunião de peças esqueléticas, sendo tecidos que se mostram diferentes do
tecido constituinte de, pelo menos, uma das peças
articuladas. As articulações podem ser:
- Simples: se reúnem duas peças esqueléticas;
- Compostas: se reúnem mais de duas peças
esqueléticas.
Embriologicamente, as articulações são o resultado
duma diferente diversificação do eixo ou do plano
mesenquimatoso primitivo, que nuns casos sofre uma
evolução que não ultrapassa a fase fibrosa, noutros
casos atinge a fase óssea e noutros casos detém-se na
fase cartilagínea.

Tipos de Articulações:

Classificação Descrição
Duas ou mais peças esqueléticas articuladas entre si com uma cavidade
Sinoviais DIARTROSES articular a separá-las. São junções móveis, mas algumas são praticamente
imóveis.
Duas ou mais peças esqueléticas articuladas entre si, sem a existência de
SINARTROSES uma cavidade ou fenda articular (tipo contínuo). São articulações que
Assinoviais tendem a desaparecer precocemente com a idade.
Articulação sem fenda articular (tipo contínuo) que tem tendência a manter-
ANFIARTROSES
se por toda a vida do animal.

2. MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES

As articulações podem permitir movimentos angulares, de rotação (ou torção) e de deslize (ou translação).

MOVIMENTOS DAS ARTICULAÇÕES


ÂNGULARES Adução Redução do ângulo perpendicular ao plano mesoplagiomérico;
(há modificação Abdução Aumento do ângulo perpendicular ao plano mesoplagiomérico;
do angulo de Flexão Redução do ângulo paralelo ao plano mesoplagiomérico;
união das peças) Extensão Aumento do ângulo paralelo ao plano mesoplagiomérico.
ROTAÇÃO As duas peças movem-se sem modificar o seu ângulo de reunião, mas
(torção) modificando a sua posição relativa à geratriz.
DESLIZE Há alteração da posição relativa de níveis segmentares de referência das
(translação) peças ósseas, sem alteração dos ângulos nem das posições.
Apos uma deslocação angular, o elemento mobilizado executa uma deslocação de rotação
CIRCUNDUÇÃO que o faz passar sucessivamente por posições de flexão, extensão, adução e abdução, com
o aumento ou diminuição do ângulo inicial.

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3. SINARTROSES
Sinartroses: sem cavidade articular, são praticamente imoveis e tendem a desaparecer com a idade.
Suturas: ocorrem quando o periósteo ou o pericôndrio das peças esqueléticas reunidas pela sinartrose
passa de uma destas peças para a outra sem sofrer interrupção.

Tipos de Sinartroses:
Tipos Características Subtipos
Tecido unitivo: Sincondrose Occipito-Esfenoidal;
segmento cartilagíneo Sincondrose Interesfenoidal;
SINCONDROSES
(reúnem sempre ossos Condrosinartrose entre diáfise e epífise ou epífises contiguas
encondrais). num osso comprido.
Tecido unitivo: fibroso,
Sindesmoses Intermetacárpicas ou Intermetatársicas;
elástico ou fibroelástico
SINDESMOSES
(permanecem até idades
Sindesmoses entre cartilagens costais.
muito avançadas).
Dentadas (Serratas)
(ex. Sutura inter-parietal)
Biselada (Escamosa)
(ex. Sutura parieto-temporal)
Tecido unitivo: fibroso Harmónica (Plana)
SUTURAS
(muito subtil). (ex. Suturas Occipito-temporal e internasal)
Foliada
(ex. Suturas intermaxilar e fronto-nasal)

Esquindileses (Sulco)

4. ANFIARTROSES
Anfiartroses: sem cavidade articular, permitem movimentos reduzidos (angulares e de rotação) e
permanecem ao longo da vida.

Tipos de Anfiartroses:
Tipos Características
CONDROANFIARTROSES Tecido unitivo: cartilagem.
Tecido unitivo: fibrocartilagem (normalmente são ímpares)
SÍNFISES
(ex. Articulação entre ossos pélvicos adjacentes e corpos de vertebras adjacentes).

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5. DIARTROSES
Diartroses: com cavidade articular, reúnem duas ou mais peças esqueléticas, extremamente móveis mais
algumas quase imóveis (articulação sacro-coxal). Em todas as diartroses se encontra uma cavidade articular,
que é delimitada quer pelas superfícies articulares diartrodiais dos ossos
reunidos, quer pela cápsula articular, composta de:
- Membrana fibrosa exterior: pode ser incompleta e decompor-se
em ligamentos individualizados;
- Membrana sinovial interior: é sempre completa, reveste
totalmente a cavidade sinovial com excepção das superfícies articulares,
e tem forma de regalo ou manga curta. Interiormente pode estar
provida de pregas e vilosidades sinoviais.
Sinóvia: líquido especial de grande poder lubrificante, existente no
interior da cavidade articular.
Cartilagem articular: delgado plano cartilagíneo que reveste as
superfícies ósseas das diartroses, na qual podem existir escavações
fóveais. É despromovida de pericôndrio, sendo a sua nutrição efectuada por simples embebição. Nalguns casos,
o contorno das cavidades articulares é elevado por anéis complementares cartilagíneos ou fibrocartilagíneos.

Tipos de diartroses:
Nome Esquema Características
Cabeça hemisférica + Cavidade cotilóide
COTILARTROSE Movimentos: angulares, de rotação e de circundução.
(Ex. Articulação coxo-femoral)
Cabeça calótica + Cavidade glenóide
GLENARTROSE Movimentos: angulares, de rotação e circundução.
(Ex. Articulação escapulo-umeral)
Tróclea + Antitróclea
TROCLEARTROSE Movimentos: angulares numa única direcção.
(Ex. Articulações interfalângicas)
Duas superfícies planiformes
PLANARTROSE Movimentos: deslize.
(Ex. Articulações intervertebrais)
Duas selas
SAGMARTROSE Movimentos: angulares muito pronunciados.
(Característico das aves)
Peça côncava + Peça convexa
TROCARTROSE
Movimento: rotação.
(Estrofartrose)
(Ex. Articulações atlanto-axial ou costo-centrais)
Côndilo elipsóide + Cavidade adequada
CONDILARTROSE
Movimentos: angulares.
(Elipsartrose)
(Ex. Articulação Occipito-atlantal)

Côndilo cilindróide + Cavidade adequada


CILINDRARTROSE
Movimentos: angulares (longitudinalmente) e deslize (transversalmente).

MISTOS Tipos de transição.

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Ligamentos articulares: mantêm reunidos os ossos que se interarticulam por diartroses, e podem ser
classificados segundo vários critérios:
- Composição e côr: Fibrosos  Brancos;
Elásticos  Amarelos;
- Forma: Membraniformes  Espessura muito reduzida;
Funiculares  Comprimento muito superior às outras dimensões;
- Colocação: Periféricos  Constituem a membrana fibrosa da Cápsula Articular;
Interósseos  São sempre do tipo Funicular.
Discos fibrocartilagíneos: são segmentos curtos (de forma achatada) dum eixo mesenquimatoso, que
foram isolados pelo aparecimento de duas fendas articulares muito próximas, as quais ficam a separar o disco
de dois ossos contíguos. A cada disco correspondem sempre duas diartroses independentes, ou seja, duas
membranas sinoviais e duas cavidades sinoviais independentes, embora seja comum descrever-se como uma
única entidade articular. Os diartrodiscos podem ser ciclodiscos ou elipsodiscos, de acordo com a sua forma.
Meniscos fibrocartilagíneos: ocorrem sempre em par conjugado e determinam em rigor a existência de
duas articulações, pois estão interpostos entre as duas superfícies ósseas articulares, como os discos. Cada
menisco tem forma de meia-lua, e podem descrever-se como uma única entidade articular.
Raquidiscos: unem os corpos das vertebras entre si e fazem parte duma anfiartrose.

Elipsodisco Ciclodisco Meniscos

6. REGRAS GERAIS DE ARTROLOGIA

Peça Articular Articulação Movimentos Ligamentos


- Flexão e Extensão;
- 1 Ligamento Membraniforme
Cavidade Glenóide GLENARTROSE - Adução e Abdução;
Periférico (Cápsula Articular).
- Rotação e Circundução.
- Flexão e Extensão; - 1 Ligamento Membraniforme
Cavidade Cotilóide COTILARTROSE - Adução e Abdução; Periférico (Cápsula Articular);
- Rotação e Circundução. - 1 Ligamento Interósseo.
- 2 Ligamentos Funiculares Colaterais;
CONDILARTROSE
Côndilo - Flexão e Extensão. - 1 Ligamento Membraniforme na face
(Elipsartrose)
de flexão.
- 2 Ligamentos Funiculares;
Tróclea TROCLEARTROSE - Flexão e Extensão.
- 1 Ligamento Membraniforme.
Osso servindo de
TROCARTROSE - Rotação. - Ligamentos variáveis.
Eixo a outro
Faceta Articular PLANARTROSE - Deslize. - Ligamentos variáveis.

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7. PRINCIPAIS DIARTROSES
Articulação Ossos Superfícies Articulares Ligamentos Movimentos Classificação
Parte Escamosa do temporal:
- Ruminantes e Equinos: flexão,
- Ruminantes e Equinos: forra mandibular e processo retroarticular; Porco e Coelho:
extensão, propulsão, retropropulsão
- Cão e Gato: cavidade anticondiliana muito cavada; - 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula GLENARTROSE
e lateralidade;
Temporal - Porco e Coelho: espécie de goteira articular longitudinal. Articular) ALONGADA
ESCAMOSO -
+ Mandíbula:
MANDIBULAR - Cão e Gato: flexão e extensão;
Mandíbula - Ruminantes e Equinos: côndilo elipsóide; Nas grandes espécies pode ser reforçado por 1 Restantes animais:
- Cão e Gato: côndilo elipsóide; ligamento lateral e 1 ligamento caudal. CONDILARTROSE
- Porco e Coelho: propulsão e
- Porco e Coelho: formação convexa alongada. (Elipsartrose)
retropropulsão.
1 Elipsodisco cartilagíneo interposto às sup. articulares.
- 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula
Occipital:
Occipital Articular);
- 2 Côndilos Elipsóides; CONDILARTROSE
OCCIPITO -ATLÂNTICA + - 2 Ligamentos Membraniformes Occipito- - Flexão e Extensão.
Atlas: (Elipsartrose)
Atlas Atlântico: 1 dorsal e 1 ventral;
- 2 Cavidades anticondiliana.
- 2 Ligamentos Laterias.
Atlas: Ligamentos Periféricos:
Atlas - 2 Superfícies planiformes; - Equinos e Ruminantes: elástico (amarelo);
ATLANTO - AXIAL + Axis: - Restantes animais: fibroso (branco). - Rotação. TROCARTROSE
Axis - Processo Odontóide; Ligamentos Odontoideus;
- 2 Superfícies laterais côncavas. Ligamentos Odontoideus Apicais.
Corpos das - 1 Ligamento Longitudinal Dorsal;
Raquidiscos Fibrocartilagíneos. - Obscuros. ANFIARTROSE
Vértebras - 1 Ligamento Longitudinal Ventral.
Zigapofisais
Em cada vertebra existem 4 Superfícies Zigapofisais.
(Entre superfícies
Superfícies planiformes: - 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula
articulares dos - Deslize. PLANARTROSE
INTERVERTEBRAIS - 2 Processos articulares caudais da vértebra anterior; Articular).
processos
- 2 Processos articulares craniais da vértebra posterior.
articulares)
- Ligamentos Interlamelares;
Lamelas laterais dos arcos;
Arcos de Vértebras - Ligamentos Interespinhais;
Processos Espinhosos.
- Ligamentos Supraespinhais.
Costela: - 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula
Cabeça da Costela
- 2 Facetas planiformes do capítulo (cabeça); Articular);
COSTO - CENTRAL + - Rotação. TROCARTROSE
Vértebras: - 1 Ligamento Radiado;
Vértebras
- Hemicúpulas de 2 vértebras contíguas, formam a cúpula. - 1 Ligamento Intra-articular.
Costela:
Costela - 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula
COSTO - - Faceta da tuberosidade costal;
+ Articular); - Rotação. TROCARTROSE
TRANSVERSÁRIA Vértebras:
Vértebras - 1 Ligamento Costotransversário.
- Faceta do processo transverso.
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Articulação Ossos Superfícies Articulares Ligamentos Movimentos Classificação


Escápula:
Escápula - Flexão e extensão;
- Cavidade glenóide; - 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula
ESCÁPULO - UMERAL + - Adução, abdução; GLENARTROSE
Úmero: Articular).
Úmero - Rotação e circundução.
- Cabeça calótica.
Úmero:
Úmero - Tróclea - 1 Ligamento Membraniforme Anterior;
ÚMERO -
+ - Relevo lateral da superfície articular distal; - 1 Ligamento Colateral Medial; - Flexão e extensão. TROCLEARTROSE
ANTEBRAQUIAL
Rádio e Ulna Rádio e Ulna: - 1 Ligamento Colateral Lateral.
- Antitróclea proximal.
Cão e Gato: Cão e Gato:
Rádio
- Ligamento Anular do Rádio; - Cão e Gato: rotação (pronação e TROCARTROSE
RÁDIO - ULNAR +
- Ligamento Interósseo Rádio-Ulnar; supinação). Outras espécies:
Ulna
- Ligamento Rádio-Ulnar. SINARTROSE
Rádio e Ulna:
Rádio e Ulna
ANTEBRÁQUIO - - Superfície antebraquial distal trocleiforme; - Flexão e extensão (muito
+ TROCLEARTROSE
CÁRPICA Carpo: marcados).
Carpo
- Superfície cárpica proximal antitrocleiforme.
1º Horizonte cárpico:
MEDIOCÁRPICA
1º e 2º Horizonte - Superfície distal trocleiforme;
(INTERCÁRPICA ou - Flexão e extensão. TROCLEARTROSE
Cárpico 2º Horizonte cárpico:
CARPOCÁRPICA)
- Superfície proximal antitrocleiforme.
2º Horizonte 2º Horizonte cárpico:
Cárpico - Superfície planiforme distal;
CARPOMETACÁRPICA - Deslize (limitado). PLANARTROSE
+ Metacarpo:
Metacarpo - Superfície planiforme proximal.
Pisiforme: - 1 Ligamento Membraniforme Periférico (Cápsula
Pisiforme
- Superfície planiforme; Articular);
PISOCÁRPICA + - Deslize (limitado). PLANARTROSE
Piramidal: - 4 Ligamentos: Piso-Ulnar, Piso-Piramidal, Piso-
Piramidal
- Superfície planiforme. Quartal e Piso-Metacárpico.
Metacarpo:
Metacarpo
METACARPO - - Tróclea; - Ligamento Membraniforme Posterior;
+ - Flexão e extensão. TROCLEARTROSE
FALÂNGICA Falange: - Ligamento Colateral Lateral e Medial.
Falange
- Antitróclea.
Falange proximal:
Falanges (dos
- Tróclea; - Ligamento Membraniforme Posterior;
INTERFALÂNGICAS membros torácicos - Flexão e extensão. TROCLEARTROSE
Falange distal: - Ligamento Colateral Lateral e Medial.
e pélvicos)
- Antitróclea.

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Articulação Ossos Superfícies Articulares Ligamentos Movimentos Classificação


Sacro:
Sacro - Face auricular planiforme;
SACRO - ILÍACA + Ílio (Coxal): - Ligamento Membraniforme Periférico. - Deslize (quase nulo). PLANARTROSE
Ílio (do Coxal) - Face auricular planiforme
(uma é o negativo da outra)
Coxal:
Coxal - Ligamento Membraniforme Periférico; - Flexão e extensão;
- Acetábulo (cavidade cotilóide);
COXO - FEMURAL + - Ligamento Interósseo; - Adução, abdução; COTILARTROSE
Fémur:
Fémur - Equinos: Ligamento Acessório. - Rotação e circundução.
- Cabeça hemisférica.
Fémur:
Fémur - Ligamento Fémoro-Patelar Medial e Lateral.
- Tróclea;
FÉMORO - PATELAR + - Ligamento Membraniforme Rudimentar; - Flexão e extensão. TROCLEARTROSE
Patela:
Patela - Ligamento Patelo-Tibial.
- Antitróclea (na parte óssea e na cartilagem complementar).
Fémur:
- Ligamento Membraniforme Posterior;
Fémur - 2 Côndilos elipsóides;
- Ligamento Colateral Medial e Lateral; CONDILARTROSE
FÉMORO - TIBIAL + Tíbia: - Flexão e extensão.
- Ligamentos Cruzados Cranial e Caudal; (Elipsartrose)
Tíbia - Superfície articular proximal;
- Ligamentos Meniscais.
2 Meniscos Fibrocartilagíneos.
Tíbia:
Tíbia
CRURO - TÁRSICA (TÍBIO - Antitróclea;
+ - Flexão e extensão. TROCLEARTROSE
- TÁRSICA) Astragálo:
Astragálo (Talo)
- Tróclea proximal.
Artiodáctilos (Porco e
Artiodáctilos (Porco e Ruminantes):
CALCÂNEO - Calcâneo Ruminantes):
- Tróclea posterior do Astragálo;
ASTRAGÁLICA + TROCLEARTROSE
Restantes Animais:
(TALO - CALCÂNEA) Astragálo Restantes animais:
- Superfícies planas.
PLANARTROSE
Artiodáctilos (Porco e Ruminantes): Artiodáctilos (Porco e
Artiodáctilos (Porco e Ruminantes):
Calcâneo e - Flexão e extensão; Ruminantes):
- 3 Trócleas do Astragálo;
Astragálo Cão, Gato e Coelho: TROCLEARTROSE
Cão, Gato e Coelho:
MEDIOTÁRSICA + - Flexão, extensão, adução, abdução, Cão, Gato e Coelho:
- Cabeça esférica;
Cubóide e rotação e circundução; ESFERARTROSE
Equinos:
Navicular Equinos: Equinos:
- Superfícies planas.
- Deslize. PLANARTROSE
Tarso
TARSO - METATÁRSICA + Superfícies Planas. - Deslize PLANARTROSE
Metatarso

23
MIOLOGIA
1. ESTRUTURA E TECIDOS CONSTITUINTES DOS MÚSCULOS

Miologia: estudo dos músculos.

Músculos: órgãos importantes e numerosos aos quais se devem os movimentos.

Tecidos constituintes dos músculos:

Tipos Características

Tendinoso Forma os tendões;


Fibras colagéneas dispersas longitudinalmente.
Aponevrótico Forma as aponevroses;
Fibras colagéneas entrecruzadas perpendicularmente.
Muscular Fibras elementares sinciciais agrupadas em feixes primários.

O tecido muscular é formado por fibras musculares sinciciais que se agrupam em feixes primários e
secundários, e estão organizadas em:

- Endomísio: rede de fibra colagéneas (t. conjuntivo


laxo) que envolve cada fibra muscular;

- Perimísio: tecido conjuntivo laxo que reveste cada


feixe secundário de fibras musculares (fásciculo);

- Epimísio: tecido conjuntivo denso (aponevrótico)


entrecruzado que envolve os conjuntos de feixes
secundários.

Constituintes de um músculo:

Constituintes Descrição
TENDÕES Podem ser: Maciços e Ocos, e Colunares e Achatados.
APONEVROSES DE Fibras conjuntivas de inserção;
INSERÇÃO Fibras colagéneas entrecruzadas perpendicularmente.
APONEVROSES DE Envolvem a zona contráctil do músculo;
REVESTIMENTO Conferem o brilho e o aspecto característico;
Facilitam o deslizamento do músculo.
OSSOS ORIMENTAIS Sesamóides Ossos curtos;
Estilóides Ossos longos;
Resultam da ossificação dos tendões das aves.
Aponevróticos Ossos achatados resultantes da ossificação extensa de
aponevroses de inserção do Peru.
Estilóides Ossificação de colunas fibrosas de músculos, apenas em bovinos
Endomusculares de carne para consumo.
INSERÇÕES, COLUNAS Por vezes encontradas nas massas contrácteis dos músculos.
E LÂMINAS FIBROSAS
Artérias e Veias Nutrícias, Nervos Motores, Sensitivos e Vegetativos.
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2. INSERÇÕES MUSCULARES

Inserções musculares: locais de fixação esquelética dos músculos, que podem existir directamente, por
tendões ou por aponevroses. Estas inserções podem ser em ossos, cartilagens, fibrocartilagens, ligamentos
articulares, aponevroses de contenção, etc.

Quando um músculo contrai, determina a aproximação das suas duas inserções (ou grupo de inserções)
opostas. Esta aproximação pode dar-se pela deslocação de:

- Uma única inserção: 1 inserção móvel (Terminação) + 1 inserção fixa (Origem);

- Uma ou outra inserção: as inserções são móveis ou fixas, consoante o movimento, jamais ambas
desempenham o mesmo papel;

- Ambas as inserções: nenhuma é considerada fixa.

3. CLASSIFICAÇÃO DOS MÚSCULOS

Quanto à situação relativamente ao plano mesoplagiomérico:

- Ímpares (Simétricos): quando são atravessados pelo plano mesoplagiomérico;

- Pares (Assimétricos): quando não são atravessados pelo plano mesoplagiomérico, ou seja, existe um em
cada plagiómero.

Quanto à situação relativamente à superfície do corpo:

- Superficiais (Supratelares): encontram-se sobre a teia cutânea, os músculos cutâneos estão


imediatamente sob a derme e pelo menos uma das inserções é feita na pele;

- Profundos (Infratelares): quando se situam sob a teia cutânea, em compartimentos circunscritos por
aponevrose de contenção.

Quanto à forma:

- Longos: uma dimensão é muito superior às outras, composto por cabeça, ventre e cauda;

- Largos (membraniformes): têm duas dimensões predominantes;

- Curtos: as três dimensões são mais ou menos equivalentes.

Tipos de músculos longos:

- Quanto à direcção do eixo:

- Quanto ao perfil:

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2011/2012

Tipos de músculos largos:

Relação Músculo- Tendão:

E ainda:
 Oco
 Cónico

4. ACÇÃO DOS MÚSCULOS

Os músculos podem agir sobre as alavancas representadas pelos ossos (ou outras peças esqueléticas),
podem agir sobre aponevroses (músculos tensores), sobre outros músculos (modificando a acção destes),
sobre estruturas esplâncnicas diversas, sobre a pele, etc.

Alavancas ósseas: estão fixas sobre um centro/fulcro (centro articular), têm que vencer uma dada
resistência para se locomoverem, a força aplicada é representada pela acção do músculo, e o ponto de
aplicação desta força corresponde à inserção móvel do músculo no osso em questão.

Tipos de Alavancas Ósteo-musculares:

Tipo Caracterização Representação Músculos

INTERFIXA O fulcro articular situa-se entre Musculo de acção


(Tipo 1) a resistência e a potência. interfixa

INTER-RESISTENTE A resistência está entre o fulcro Musculo de acção


(Tipo 2) articular e a potência. inter-resistente

INTER-POTENTE A potência exerce entre a Musculo de acção


(Tipo 3) resistência e o fulcro articular. inter-potente

Os músculos, ao agirem sobre as alavancas ósseas, podem determinar efeitos de flexão, extensão, adução,
abdução, circundução, rotação e translação (deslize). Em determinadas localizações alguns destes movimentos
podem receber as designações de elevação, abaixamento (ou depressão), protracção (ou protrusão), retracção,
de lateralidade, de didução (movimentos de lateralidade da mandíbula), dilatação, etc.

Músculos Sinérgicos: músculos que exercem função idêntica.

Músculos Antagonistas: músculos com funções opostas.

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2011/2012

5. ANEXOS MUSCULARES

Anexos musculares: formações que não fazem parte integrante dos músculos, mas que têm função
ordenada à acção muscular.

Tipos de anexos musculares:

Tipos Descrição Representação


- Estão inseridas nos ossos;
APONEVROSES DE - Delimitam compartimentos especiais nos quais
CONTENÇÃO estão contidos os músculos;
(FÁSCIAS) - Não confundir com Aponevroses de Inserção ou de
Revestimento.
- Parede formada por tecido conjuntivo e cheias de
líquido seroso;
BOLSAS SEROSAS
- Surgem em zonas onde o músculo contacta com
zonas resistentes.

BAÍNHA FIBROSA DE - Natureza osteofibrosa ou fibrosa;


TENDÕES - Constroem vias de alojamento para tendões.

- Natureza osteofibrosa ou fibrosa;


BAÍNHA VESICULAR
- Providos de bolsas serosas subtendinosas;
DE TENDÕES
- Facilita a movimentação dos tendões.

BAÍNHA SINOVIAL DE - Bolsas complexas completamente fechadas;


TENDÕES - Providas de líquido lubrificante.

LIGAMENTOS - Impedem que tendões flectores se afastem dos


ANULARES raios ósseos durante movimentos de flexão.

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2011/2012

CAVIDADES DO CORPO
O corpo dos mamíferos está separado em duas cavidades pelo diafragma, as cavidades torácica e
abdominal, que comunicam através do hiato aórtico, do forâmen da veia cava e do hiato esofágico. Ocorre
ainda uma terceira cavidade, a cavidade pélvica, que se encontra em continuidade com a cavidade abdominal,
estando a delimitação entre as duas marcada pelo promontório do sacro, pela linha arqueada ou iliopectínea
dos ílios e pelo bordo cranial dos púbis, que definem a chamada linha terminal. Nos machos encontra-se ainda
a cavidade escrotal em continuidade com a cavidade abdominal.

Genericamente as paredes das cavidades corporais apresentam uma mesma estrutura, de fora para dentro
identificam-se cinco camadas:
- Pele;
- Fáscia externa do tronco;
- Músculos esqueléticos;
- Fáscia interna do tronco (fáscia endotorácica a nível do tórax; fáscia transversa a nível do abdómen);
- Membrana serosa.

Membrana serosa: forra internamente cada uma das cavidades corporais e, de uma forma geral, cobre a
superfície externa das vísceras contidas em cada cavidade, formando sacos fechados, exceptua-se o caso das
fêmeas, onde as tubas uterinas se abrem no interior da cavidade abdominal e comunicam indirectamente com
o exterior. Esta membrana serosa designa-se por pleura a nível da cavidade torácica e por peritoneu a nível das
cavidades abdominal e pélvica, e está unida à fáscia profunda do tronco por tecido areolar que inclui uma
quantidade variável de gordura denominada tela subserosa.
- Parietal: forra as apredes das cavidades;
- Visceral: cobre os órgãos;
- Intermédias: ligam órgãos.

Tela subserosa: cria um espaço entre a membrana serosa e a fáscia profunda do tronco, que na sua maior
parte é estreito. Contudo, ao nível do tecto da cavidade abdominal e do pavimento da cavidade pélvica, este
espaço é mais amplo e designa-se por espaço retroperitoneal.

1. CAVIDADE TORÁCICA

A cavidade torácica estende-se desde a abertura torácica cranial, ao nível do primeiro par de costelas, até
ao diafragma, tendo como limites:
- Parede dorsal: vértebras torácicas, ligamentos e músculos relacionados com as mesmas;
- Paredes laterais: costelas e músculos intercostais;
- Parede ventral: esterno, cartilagens das costelas esternais e músculos com elas relacionados;
- Parede caudal: diafragma (é muito oblíqua e fortemente convexa).

Fáscia endotorácica: é uma camada de tecido conjuntivo fibroelástico que reveste a cavidade torácica no
plano mediano ou próximo deste, e que se reflecte dorsal e ventralmente; forma uma lâmina de tecido
conjuntivo mais ou menos sagital, que divide a cavidade torácica em dois compartimentos, um direito e um
esquerdo, em que cada um é revestido pela pleura; há, assim, a formação de dois sacos pleurais, um direito e
um esquerdo.

A dividir longitudinalmente a cavidade torácica identifica-se um septo (mediastino) que se estende desde a
parede dorsal até às paredes ventral e caudal, originando duas cavidades, uma direita e uma esquerda.

Mediastino: septo que corresponde, na realidade, ao espaço que fica entre os dois sacos pleurais e onde se
encontram todas estruturas e órgãos da cavidade torácica excepto os pulmões, a veia cava caudal e a parte
caudal do nervo frénico direito (alojado na prega da veia cava caudal). Assim, no mediastino encontra-se o

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esófago, a traqueia, o pericárdio (coração), os grandes vasos, os gânglios linfáticos e tecido conjuntivo (lâmina
resultante da reflexão da fáscia endotorácica).

O mais volumoso dos órgãos localizados no mediastino é o coração e, dado que este se encontra mais do
lado esquerdo, o mediastino não ocupa uma posição mediana na sua maior parte. A parte onde se encontra o
coração é designada por mediastino médio, enquanto as partes cranial e caudal ao coração são designadas por
mediastinos cranial e caudal, respectivamente. Seguindo o mesmo critério identifica-se um mediastino dorsal
(entre o pericárdio e as vértebras torácicas) e um mediastino ventral (entre o pericárdio e o esterno)

Pleura: é uma delgada túnica serosa, brilhante e escorregadia, que reveste praticamente toda a superfície
do pulmão. Possui dois folhetos, o parietal (na parede da cavidade) e o visceral (cobre os órgãos da cavidade
torácica). Em função da região da cavidade torácica com que se relaciona, denomina-se: pleura pulmonar,
pleura costal, pleura mediastínica, pleura pericárdica ou pleura diafrágmica.

Cavidade pleural: é o espaço existente entre os dois folhetos pleurais (parietal e visceral), e contém uma
película de fluído seroso de espessura capilar que facilita o deslize dos dois folhetos, um contra o outro,
durante a respiração.

Recessos pleurais: são as partes da cavidade pleural que correspondem às reflexões pleurais:
costomediastinal (entre as pleuras costal e mediastinal), mediastinal, costodiafragmática, lombodiafragmática
e mediastinodiafragmática.

2. CAVIDADE ABDOMINAL

A cavidade abdominal estende-se desde o diafragma até à linha terminal, constituindo a cavidade corporal
de maiores dimensões. Como limites mais significativos há ainda a considerar:
- Parede dorsal: parte dorsal do diafragma, os músculos dorsais e sub-dorsais, e as vértebras dorsais;
- Paredes laterais: músculos abdominais oblíquos (externos e internos) e transversos, fáscia abdominal,
partes craniais dos ílios, cartilagens das costelas esternais, costelas e músculos intercostais;
- Parede ventral: cartilagem xifóide, músculos rectos do abdómen, aponevroses dos músculos abdminais
oblíquos e transverso, e fáscia abdominal;
- Parede cranial: diafragma (é muito oblíqua e fortemente convexa).

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Para além das três aberturas a nível do diafragma (hiato aórtico, forâmen da veia cava e hiato esofágico), a
parede da cavidade abdominal apresenta mais duas aberturas, designadamente os canais inguinais, cada um
dos quais vai desde o ânulo inguinal profundo (limitado cranialmente pelo músculo oblíquo interno do
abdómen, medialmente pelo músculo recto do abdómen e caudolateralmente pelo ligamento inguinal, uma
parte mais espessa da parte caudal da aponevrose do músculo oblíquo externo do abdómen que se estende
desde a tuberosidade coxal até à eminência iliopúbica) até ao ânulo inguinal superficial (abertura alongada na
aponevrose do músculo oblíquo externo do abdómen, na região inguinal).

É na cavidade abdominal que se encontra a maior parte dos órgãos dos aparelhos digestivo (e glândulas
anexas) e urinário, o baço, as glândulas adrenais e parte dos órgãos genitais internos.

Peritoneu: é uma membrana serosa que forra a cavidade abdominal e a cavidade pélvica (em parte) e
cobre, em maior ou menor extensão, as vísceras nelas contidas. Possui dois folhetos simples, um folheto
parietal, que envolve a cavidade abdominal, e um folheto visceral, que envolve os órgãos das cavidades
abdominal e pélvica. Possui mesos ou ligamentos, que representam folhetos duplos: mesocólon (da parede ao
órgão) e meso-hepatico-gástrico (de órgão a órgão). Finalmente, possui dois mesos especiais (mesentérios),
que são túnicas serosas intermédias, contêm linhas de gordura e são geralmente excessivos em tamanho:
- Omento maior • saco peritoneal laxo entre a parede abdominal dorsal e a curvatura maior do estômago
(o estômago sofre uma rotação e a bolsa do omento coloca-se numa posição transversal caudalmente ao
estômago);
- Omento menor • liga a curvatura menor do estômago e a parte cranial do duodeno à superfície visceral
do fígado, estando dividido em: ligamento hepato-gástrico (até à curvatura menor do estômago) e ligamento
hepato-duodenal (contém a veia porta, a artéria hepática e o ducto biliar).

Cavidade peritoneal: é virtual porque as suas paredes opostas estão, normalmente, separadas por uma fina
película de fluido seroso (secretado pela túnica), que age como lubrificante.

3. CAVIDADE PÉLVICA

A cavidade pélvica estende-se desde a linha terminal (bordo da pelve) até à fáscia perineal, que se insere
no ânus e seus músculos, e no pudendo feminino (na fêmea) ou na raiz do pénis (no macho). Esta cavidade tem
uma parte cranial peritoneal e uma parte caudal retroperitoneal, tendo como limites:
- Parede dorsal: sacro e primeiras vértebras caudais;
- Paredes laterias: ílios e ligamento sacrotuberal;
- Parede ventral: púbis e ísquios;
- Parede caudal: terceira vértebra caudal, dorsalmente arco isquiático e ventralmente bordo caudal do
ligamento sacrotuberal períneo.

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ICTIOTOMIA
1. PELE

A pele está estreitamente unida aos órgãos subjacentes e mostra-se coberta por placas de origem dérmica
revestidas por uma camada epidérmica exterior e escamas.

Escamas: são o revestimento exterior da pele e encontram-se parcialmente sobrepostas numa disposição
especial dita imbricação. Podem ser consideradas como um esqueleto dérmico, e são classificadas em quatro
tipos.

Tipos de escamas:

Escamas Descrição Representações

- Discóides, flexíveis e de bordo liso;


CICLOIDES
- Típicas de peixes ósseos.

- Discóides, flexíveis e de bordo dentado;


CTENOIDES
- Típicas de peixes ósseos.

- Rígidas, de consistência óssea, cobertas por uma


GANOIDES
espécie de esmalte.

- Rígidas, de consistência óssea, sem cobertura de


esmalte, e possuem pequenos dentículos dérmicos
PLACOIDES
voltados para trás, deixando a pele com um ar áspero;
- Encontradas em tubarões e raias.

2. ESQUELETO

Esqueleto: pode ser dérmico (escamas), ósseo ou cartilagíneo, existindo muitas espécies com esqueleto
inteiramente cartilagíneo, como por exemplo nos Seláceos.

Divisões do esqueleto:

Divisões Descrição

VÉRTEBRAS Geralmente são anficélicas, e verifica-se a persistência da corda dorsal.

ESTERNO Está ausente, logo as costelas não se reúnem na linha média ventral do corpo.

CRÂNIO É extremamente complicado, apresentando numerosos ossos.

MEMBROS Barbatanas Peitorais: tendem a colocar-se sempre a nível do notómero, apresentando


(BARBATANAS uma posição fixa;
PARES)
Barbatanas Pélvicas/Abdominais: colocadas sempre a nível do gastrómero, mas
mostram uma posição muito mais variável, chegando a colocar-se numa posição mais
anterior que as barbatanas peitorais (Ex. Bacalhau).

A cintura escapular é por vezes muito desenvolvida, mas a cintura pélvica está sempre atrofiada ou
ausente.

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3. BARBATANAS ÍMPARES

Barbatanas ímpares: barbatanas suportadas por um esqueleto próprio constituído por raios ósseos ou
cartilagíneos unidos à coluna vertebral. Existem três barbatanas ímpares:
- Barbatana dorsal: colocada na linha média dorsal do
corpo, e pode apresentar 1, 2 ou 3 lobos independentes;
- Barbatana anal: inserida na linha média inferior do
corpo, posteriormente à abertura anal;
- Barbatana caudal: de perfil bilobado, colocada no
topo caudal do corpo e suportada por raios esqueléticos
fixados na extremidade correspondente à coluna vertebral.

De acordo com a relação entre a coluna vertebral e a


barbatana caudal, podem definir-se diversas condições
morfológicas (tipos) desta barbatana:

Tipo Descrição Representação


Os raios esqueléticos respectivos fixam-se na geratriz dorsal e
DIFICERCA na geratriz ventral da coluna vertebral, a qual não se desvia no
sentido de nenhum dos dois lobos da barbatana.

A coluna vertebral penetra no respectivo lobo maior (dorsal),


HETEROCERCA
típico dos peixes cartilagíneos.

A coluna vertebral ocupa o lobo dorsal, mas os dois lobos


HOMOCERCA
mostram-se sensivelmente iguais.

Os raios esqueléticos das barbatanas podem ser de dois tipos:


- Tipo I: tipo segmentado, em que o raio é constituído por uma serie de segmentos articulados entre si;
- Tipo II: tipo simples, em que o raio é inteiriço.

Peixes melacopterígios: têm barbatanas apenas com raios de tipo I.

Peixes acantopterígios: têm barbatanas com raios dos tipos I e II simultaneamente.

4. PEIXES E PSEUDO-PEIXES

Os peixes são anatomicamente muito diferentes entre si. Os Pseudo-peixes representam um grupo
independente e muito recente.

4A. PEIXES PROPRIAMENTE DITOS


- Constituem a maioria dos peixes;
TELEÓSTEOS - Possuem um esqueleto ósseo, e pele nua ou revestida por escamas cicloides ou ctenóides;
- As suas brânquias abrem-se numa câmara branquial protegida pelo opérculo.

- Dividido em dois Subgrupos: Condrósteos e Holósteos;


GANÓIDEOS - Possuem um esqueleto ósseo ou cartilagíneo, e pele revestida por escamas ganóides;
- Possuem cauda heterocerca.

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4B. PSEUDO-PEIXES
ELASMOBRÂNQUIOS, - Esqueleto inteiramente cartilagíneo, e pele com escamas placoides;
PLAGIÓSTOMOS OU - Brânquias abrem-se directamente na superfície do corpo por fendas laterais;
CONDRÍCTIOS - As espécies mais importantes deste grupo pertencem ao Subgrupo Seláceos.

- Os sacos olfactivos fazem comunicar a cavidade bucal com o exterior;


PNEUMOBRÂNQUIOS - As barbatanas pares aproximam-se dos membros das outras classes de vertebrados;
OU DIPNEUSTES - Existem simultaneamente guelras para a respiração aquática e pulmões para a
respiração aérea (pois estes peixes passam a estação seca semi-enterrados na terra).

CROSSOPTERÍGEOS - Representados actualmente apenas pelo célebre celecanto.

5. MÚSCULOS

Os músculos dos peixes dividem-se em três grandes grupos: músculos da cabeça, músculos das barbatanas
pares e músculos do tronco.

Os músculos do tronco apresentam-se metamerizados em miómeros, separados por miosseptos


conjuntivos de perfil complexo, e estão divididos em quatro massas longitudinais: 2 massas dorsais (esquerda
e direita) e 2 massas ventrais (esquerda e direita). Cada uma das massas laterais dorsais é constituída pelos
músculos espinhoso dorsal e longo dorsal, e cada uma das massas laterais ventrais é constituída pelos
músculos sacrolombar e abdominal.

No sulco diedral superficial compreendido entre ambas as referidas massas musculares da face lateral do
corpo, encontra-se o músculo vermelho cutâneo de VOGT. Os músculos são todos compostos por fibras
musculares brancas à excepção deste último, são paralelos ao eixo maior do peixe e não apresentam tendões.

Músculos do tronco
2 massas dorsais músculos espinhoso e longo dorsais
Miómeros e miosseptos 4 massas longitudinais
2 massas ventrais músculos sacrolombar e abdominal

Órgãos eléctricos: são fruto de transformações de certos músculos, ocupam posições variadas conforme as
espécies, e estão na dependência de nervos particulares que podem provir do encéfalo (originando-se em
lobos especiais) ou da medula espinhal. Em todos os casos, estes órgãos eléctricos estão isolados num estojo
fibroso, muitas vezes dividido em alvéolos.

6. APARELHO DIGESTIVO E APARELHO URINÁRIO

O Aparelho digestivo é composto por: boca, cavidade oral, faringe, esófago, estômago, fígado, vesicula
biliar, pâncreas, intestino, secos, bexiga gasosa e ânus.

Na parede da faringe abrem-se fendas interiores das brânquias (5 a 7 pares nos Seláceos e 5 pares nos
Teleósteos e Ganóideos). Nos peixes não existem glândulas salivares.

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Nos Teleósteos o estômago pilórico recebe frequentemente a desembocadura dum grande número de
cecos, em disposições que variam entre espécies.

O fígado é muito volumoso e pode estar promovido de vesícula biliar. Este é magro nos peixes de carne
gorda e vice-versa. O pâncreas mostra uma estrutura difusa, mais ou menos pronunciada.

Nos Ganóideos e nos Teleósteos é frequente encontrar a bexiga gasosa, uma evaginação dorsal do tubo
digestivo. Esta bexiga pode ou não manter a comunicação com o esófago, e a sua função varia entre espécies.

Nos Seláceos o intestino apresenta uma prega helicoidal interior que forma a chamada válvula espiral, que
tem a função de retardar a progressão do conteúdo e aumentar a superfície intestinal.

O Aparelho urinário é composto pelos rins, muito alongados e castanhos, que se podem localizar desde a
região encefálica até à região caudal (nos Teleósteos são um órgão impar), por dois ureteres e pelo poro anal.

7. APARELHO RESPIRATÓRIO E APARELHO CIRCULATÓRIO

O Aparelho respiratório é formado pelas brânquias, cujas interfendas (nos Acantopterígios) se abrem
lateralmente para uma câmara branquial, separada do exterior pelo opérculo. Noutros grupos as brânquias
abrem-se isoladamente no exterior por meio de fendas paralelas à superfície do corpo. Os peixes
pneumobrânquios apresentam também pulmões para a respiração aérea.

O Aparelho circulatório é composto por coração, tronco aórtico e capilares. O coração apresenta a forma
de um ducto sigmóide, com quatro cavidades sucessivas: seio venoso, átrio, ventrículo e bulbo arterial. O seio
venoso recebe as veias cardinais anteriores e as veias cardinais posteriores.

A seguir ao coração encontra-se o tronco aórtico, que se resolve nos arcos aórticos (ramos da aorta),
capilarizados nas lamelas branquiais. O sangue oxigenado sai das branquias por artérias que convergem para
formar a aorta, que se vai colocar no canal hemal da coluna vertebral.

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8. SISTEMA NERVOSO E ÓRGÃOS DOS SENTIDOS

O Sistema nervoso é composto pelo cérebro, o cerebelo e a medula espinhal. O cérebro enche
incompletamente a cavidade craniana e apresenta muitas diferenças de grupo para grupo. Os dois hemisférios
podem tender a fundir-se, e são sempre muito simples. Os lobos olfactivos são muito variáveis e os lobos
ópticos apresentam-se geralmente muito desenvolvidos.

O cerebelo é muito variável, mas geralmente é bem desenvolvido. A medula espinhal é também muitíssimo
variável, e por vezes extremamente curta.

Órgãos dos Sentidos Descrição


- Mostra-se muito desenvolvido e está a cargo de órgãos particulares, como certas
TACTO barbatanas especiais, certos apêndices anteniformes da cabeça, etc., e muitos destes
apêndices são olfactivos.
ÓRGÃO DA LINHA - É uma formação notabilíssima presente nos Peixes que é inervada pelo nervo lateral
LATERAL e que capta informações acerca das mais subtis variações de pressão do meio hídrico.
ÓRGÃOS - São de natureza muito variada e destinam-se a captar certas informações químicas
GUSTATIVOS acerca do meio hídrico ambiente, ou seja, as sensações gustativas.
- Tendem a distinguir-se dos órgãos gustativos apesar de, no ambiente hídrico, o
ÓRGÃOS
substrato para as partículas sápidas e odoríferas ser sempre a água. Estes captam
OLFACTIVOS
informações químicas diferentes das gustativas.
ÓRGÃOS AUDITIVOS - Estão muito simplificados e podem apresentar relação com a bexiga gasosa.
- Órgãos anexos: tendem a atrofiar-se, só nos Seláceos se encontra um vestígio de
membrana nictitante;
- Esclera: pode ser cartilagínea nos Seláceos, mas nos outros peixes é fibrosa, com ou
sem placas de ossificação;
- Córnea transparente: mostra-se quase sem convexidade;
APARELHO VISUAL
- Coróide: apresenta em muitos peixes uma membrana argentina, resultante da
acumulação de cristais macroscópicos, que parecem desempenhar uma função
semelhante à do tapete nos mamíferos;
- Pente: está ausente;
- Cristalino: muito volumoso e totalmente esférico.

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ANATOMIA DA LAMPREIA
A lampreia pertence à classe Ciclóstomos, sendo um Vertebrado Agnata. Em Portugal existem duas espécies
de lampreias: lampreia do mar (Petromyzon marinus) e a lampreia de água doce (Lampetra fluviatilis).

As larvas de lampreia (amocetos) são muito diferentes dos animais adultos, sendo parecidas com minhocas,
e como tal são utilizadas como isca de pesca. Hoje em dia é proibida a captura a estas larvas, mas como tal não
é respeitado, estas tornam-se cada vez mais raras.

Descrição anatómica das Lampreias:

- Esqueleto: totalmente cartilagíneo ou mesmo membranoso.

- Crânio: formado quer por peças cartilagíneas, quer por peças membranosas, compreendendo um
neurocrânio (que proteje o encéfalo) e um esplancnocrânio. O esplancnocrânio divide-se num esqueleto
peribucal com numerosas peças, e num complexo esqueleto branquial, com um arco prebranquial e sete arcos
branquiais. Não existe occipitocrâneo.

Neurocrânio
Crânio Esqueleto peribucal
Esplancocrânio 1 arco prébranquial
Esqueleto branquial
7 arcos branquiais

- Mandíbula: não está presente, bem como o maciço maxilar. A boca é circular e adaptada à sucção,
possuindo dentes córneos implantados na parede bucal e na língua.

- Vértebras: formações cartilagíneas pericordais. No adulto existe corda dorsal persistente.

- Músculos: inserem-se no crânio e nos miosseptos, mas não no esqueleto axial.

- Barbatanas: não existem barbatanas pares, mas há barbatana dorsal e barbatana caudal.

- Intestino: possui prega espiral.

- Fendas branquiais: existem sete fendas, distanciadas umas das outras.

- Gónadas: são sempre ímpares.

- Aparelho circulatório: semelhante ao dos peixes.

- Medula espinhal: contida no canal neural, dorsalmente à corda dorsal.

- Pele: não possui escamas.

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ESPLANCOLOGIA DO GALO
1. CAVIDADES SOMÁTICAS

As aves apresentam oito cavidades somáticas:


- Cavidades pleurais esquerda e direita: alojam os pulmões;
- Cavidade pericárdica: aloja o coração;
- Cavidades peritoneais hepáticas dorsais esquerda e direita: situadas crâniodorsalmente ao fígado, uma
de cada lado da linha média, cranial e lateralmente ao septo pós- hepático;
- Cavidades peritoneais hepáticas ventrais esquerda e direita: situadas caudal e ventralmente ao fígado,
uma de cada lado da linha média, cranial e lateralmente ao septo pós-hepático;
- Cavidade peritoneal intestinal: situada medianamente entre as cavidades hepáticas esquerdas e direitas.

A cavidade peritoneal hepática dorsal esquerda comunica com a cavidade peritoneal intestinal. Entre as
restantes cavidades a separação é definida pelo pericárdio e por expansões da pleura e do peritoneu:
- Septo horizontal: deriva da pleura parietal e separa as cavidades pleurais dos sacos pneumáticos torácicos
craniais;
- Septo oblíquo: deriva do peritoneu parietal, continuando-se com o mesentério dorsal medianamente, e
separa os sacos pneumáticos torácicos das cavidades peritoniais; cranialmente encontra-se firmemente unido
ao pericárdio;
- Septo pós-hepático: deriva do peritoneu parietal, unindo-se ventralmente ao mesentério ventral; separa a
cavidade peritoneal intestinal das cavidades peritoneais hepáticas;
- Ligamento hepático: separa as cavidades peritoneais hepáticas dorsais e ventrais entre si, estendendo-se,
de ambos os lados, entre o septo oblíquo e o peritoneu visceral hepático;
- Mesentério dorsal: separa as cavidades peritoneais hepáticas dorsais, direita e esquerda;
- Mesentério ventral: separa as cavidades peritoneais hepáticas ventrais, direita e esquerda.

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2. APARELHO DIGESTIVO

2.1 Bico e Rima Bucal

O bico é formado por duas valvas, dorsal e ventral, que delimitam a rima bucal. A valva dorsal recobre
parcialmente a ventral, apresentando ambas uma estrutura córnea e crescimento permanente. Nos Galiformes
as valvas do bico são pontiagudas, mas nos Anseriformes são espatulares.

A cavidade que vai do bico até ao esófago designa-se por orofaringe, dado que não há uma separação entre
a cavidade oral e a faringe (nos Mamíferos esta separação é assegurada pelo palato mole que está ausente nas
Aves), sendo que na maior parte dos casos se considera que o limite caudal da cavidade oral é marcado:
- A nível do tecto, pela fileira transversa mais caudal de papilas do palato.
- A nível do pavimento, pela fileira transversa de papilas no limite caudal da parte livre da língua.

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2.2 Palato

O palato é estreito, com a extremidade rostral pontiaguda. No terço rostral apresenta uma crista mediana.
Caudalmente apresenta:
- Uma fenda longitudinal larga, situada sagitalmente, que estabelece comunicação entre a orofaringe e as
cavidades nasais. Esta fenda é mais larga caudalmente e corresponde às coanas dos Mamíferos, estando
dividida medianamente na sua parte dorsal pelo vómer e pelo septo nasal;
- Duas cristas laterais (esquerda e direita) que se estendem desde a crista mediana até ao nível do início da
parte larga da fenda.
- Cinco fileiras transversas de papilas córneas orientadas caudalmente: duas fileiras situadas rostralmente
à fenda; duas fileiras situadas ao nível da parte estreita da fenda, divididas pela própria fenda; uma fileira de
papilas mais desenvolvidas, situadas ao nível do início da parte larga da fenda e estendendo-se para cada lado,
desde os bordos da fenda até ao extremo caudal da crista lateral do lado correspondente.

2.3.Língua

A língua assenta no pavimento da parte rostral da orofaringe, apresentando uma forma triangular. É
relativamente rígida e pouco móvel, em virtude de o dorso e a ponta estarem revestidos por um espesso
estrato córneo. Desta forma, a língua promove a passagem dos alimentos através da orofaringe, auxiliando a
deglutição dos mesmos. Nos Anseriformes a língua é espatular, menos cornificada e mais muscular.

Na sua face dorsal a língua apresenta papilas bem desenvolvidas, verificando-se a existência de uma fileira
transversa de papilas córneas orientadas caudalmente, ao nível do limite caudal da sua parte livre.

2.4. Glândulas Salivares

As glândulas salivares são pouco desenvolvidas nas Aves aquáticas, mas são bastante desenvolvidas no
Galo e nas Aves terrestres em geral, sobretudo nos Granívoros, ocorrendo vários grupos:
- Glândulas maxilares (na linha média do palato);
- Glândulas palatinas mediais e laterais (no palato);
- Glândulas dos ângulos da boca;
- Glândulas mandibulares rostrais;
- Glândulas mandibulares caudais (no pavimento e nas paredes laterais da faringe);
- Glândulas esfenopterigoideias (no tecto da faringe);
- Glândulas linguais rostrais e caudais;
- Glândulas crico-aritenoideias (na proeminência laríngea).

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2.5. Faringe

As tubas auditivas abrem-se por uma fenda comum situada medianamente no tecto da faringe, a fenda
infundibular. Imediatamente atrás desta fenda ocorre uma fileira transversa de papilas bastante desenvolvidas
orientadas caudalmente.

A comunicação faringo-laríngica localiza-se no pavimento da faringe, ao nível da proeminência laríngea,


através de uma fenda longitudinal, a glote, com dois lábios (esquerdo e direito) e dois ângulos (rostral e
caudal). Durante a deglutição os dois lábios unem-se fechando a fenda.

A proeminência laríngea situa-se dorsalmente à laringe e projecta-se para o interior da cavidade faríngea,
fazendo uma saliência no pavimento da faringe. Apresenta quatro fileiras de papilas orientadas caudalmente:
- Duas fileiras transversas situadas caudalmente: uma fileira transversa rostral, situada imediatamente
atrás da glote e com papilas numerosas e bastante desenvolvidas, e uma fileira transversa caudal, situada
imediatamente atrás da rostral e com papilas mais curtas e menos numerosas;
- Duas fileiras longitudinais (esquerda e direita) de cinco ou seis papilas situadas paralelamente aos bordos
da glote e lateralmente a esta.

É à custa de movimentos rostro-caudais rápidos da eminência laríngea e da língua, associados à produção


de grande quantidade de saliva, à existência de papilas orientadas caudalmente e ao encerramento da fenda
comunicante com as cavidades nasais e da glote, que se processa a deglutição dos alimentos. A transição da
faringe para o esófago é marcada:
- A nível do tecto, pela fileira transversa de papilas situadas atrás da fenda infundibular.
- A nível do pavimento, pelas duas fileiras transversas de papilas situadas atrás da glote.

2.6. Esófago

O esófago é um ducto muito dilatável que se estende desde a faringe até ao primeiro compartimento
gástrico, o proventrículo. Apresenta duas partes:
- Cervical: inicialmente situada sagitalmente por cima da traqueia, depois desvia-se para o lado direito do
pescoço e apresenta uma grande dilatação imediatamente antes da entrada do tórax, no lado direito, o papo;
- Torácica: passa sob os pulmões, dorsalmente à bifurcação da traqueia e à base do coração; a união com o
proventrículo ocorre à esquerda do plano médio.

O papo serve para armazenar os alimentos, enquanto estes não podem entrar no proventrículo. Como o
esófago não possui musculatura própria, a progressão do seu conteúdo realiza-se à custa da contracção dos
músculos esqueléticos do pescoço.

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2.7. Proventrículo

O proventrículo é o primeiro compartimento gástrico e tem um aspecto fusiforme, localizando-se no lado


esquerdo do corpo. A sua parede apresenta uma túnica muscular composta por um plano interior de fibras
circulares, espesso, e por um plano exterior de fibras longitudinais, sendo pouco dilatável, a sua grande
espessura deve-se sobretudo ao facto de possuir muitas glândulas; desta forma não se verifica acumulação de
alimentos no interior do proventrículo.

A mucosa apresenta numerosas papilas onde se abrem os ductos das glândulas. Externamente não há uma
demarcação nítida da junção com o esófago, com o qual surge em continuidade. Já caudalmente o
proventrículo apresenta uma constrição, o istmo do estômago, na junção com a moela.

2.8. Moela

A moela é o segundo compartimento gástrico, assemelhando-se a um disco muito espesso com faces muito
convexas que tendem a estar orientadas para os lados. Situa-se junto ao proventrículo, com o qual comunica
através do óstio proventricular, e comunica com o intestino delgado através do óstio duodenal.

A parede da moela é bastante espessa, sobretudo devido à existência de duas calotes musculares muito
desenvolvidas, compostas por dois músculos lisos (os músculos espessos crânio-ventral e caudo-dorsal (ou
laterais dorsal e ventral)) que formam a maior parte do órgão, o corpo, e unidas por dois centros tendinosos
esbranquiçados, direito e esquerdo (nas faces da moela). Nas extremidades da moela ocorrem dois sacos
cegos separados pelo corpo, são os sacos (ou divertículos) cranial e caudal, formados por outros dois músculos
lisos, designadamente os músculos ténues crânio-dorsal e caudo-ventral (ou intermédios cranial e caudal).

Os óstios proventricular e duodenal da moela encontram-se muito próximos um do outro, na parte


crâniodorsal da moela, o primeiro no saco cranial e o segundo na face direita, junto ao bordo do mesmo saco.
A mucosa da moela apresenta glândulas relativamente desenvolvidas e está revestida por camada córnea
muito espessa, a cutícula, e com numerosas pregas. Incrustadas na mucosa encontram-se pequenas pedras
que ajudam a esmagar os alimentos.

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2.9. Intestino delgado

O intestino delgado divide-se em duodeno, jejuno e íleo. O duodeno forma uma ansa com duas partes
paralelas entre si:
- Parte descendente: constitui a parte mais ventral do intestino, dirige-se caudoventralmente, a partir da
parte cranial da face direita da moela, mas depois o duodeno dobra-se sobre si próprio;
- Parte ascendente: dirige-se cranialmente, apresentando-se imediatamente dorsal à parte descendente.
Desta forma, a união com o jejuno situa-se perto da moela.

O jejuno apresenta-se praticamente rectilíneo nas suas partes proximal e distal, mas na sua maior parte
forma numerosas circunvoluções.

O íleo inicia-se em continuidade com o jejuno, ventralmente ao recto e à cloaca, e dirige-se cranialmente,
dorsalmente ao duodeno ascendente. Ao nível do baço dobra-se caudal e dorsalmente, continuando-se
caudalmente com o cólon, ao qual se une ao nível da abertura dos dois cecos.

2.10. Cecos

Os cecos são dois (direito e esquerdo) e muito desenvolvidos no Galo, apresentando muito tecido linfóide.
Noutras espécies de Aves podem ser bastante reduzidos (caso do Pombo, por exemplo) ou estar mesmo
ausentes, como acontece nos Psitacídeos.

Cada ceco apresenta um calibre semelhante ao do íleo, cujo trajecto acompanham. A partir da origem, na
junção do íleo com o cólon, dirigem-se cranialmente mas depois dobram-se caudalmente, ficando as suas
extremidades cegas situadas ventralmente à cloaca.

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2.11. Cólon

O cólon é muito curto, estendendo-se até ao copródeo da cloaca, onde se abre através do óstio cloacal do
intestino. Apresenta uma disposição quase rectilínea, sendo por isso designado, por vezes, por recto.

2.12. Cloaca

A cloaca é o órgão que recebe simultaneamente as terminações dos aparelhos digestivo, genital e urinário,
abrindo-se para o exterior. Está subdividida por duas pregas anulares transversas (as pregas copro-urodeal e
uroproctodeal) em três câmaras:
- Copródeo: recebe o cólon, como uma continuação dilatada daquele onde se acumulam as fezes;
- Uródeo: recebe os uretéres e as terminações do aparelho genital, ou seja, ductos deferentes no macho, e
oviducto na fêmea. As aberturas dos ureteres e as papilas dos ductos deferentes, no macho, localizam-se
dorsolateralmente no uródeo (os ureteres mais dorsalmente e as papilas dos ductos deferentes mais
lateralmente). Na fêmea, o óstio cloacal do oviducto situa-se ventrolateralmente ao ureter do mesmo lado,
geralmente o esquerdo. No macho, nas paredes ventrolaterais do uródeo e do proctódeo, encontra-se uma
zona de tecido vascular, de cada lado, o corpo vascular paracloacal ou corpo vascular do falo;
- Proctódeo: comunica com o exterior através da abertura da cloaca, em forma de uma ampla fenda
horizontal, com um lábio dorsal e um lábio ventral. Na sua parede dorsal, sagitalmente, o proctódeo apresenta
a abertura da bolsa cloacal, também designada timo cloacal ou bolsa de Fabricius. Trata-se de uma estrutura
exclusiva das Aves que surge embrionariamente como uma expansão dorsal da cloaca e sofre involução com o
aparecimento da maturidade sexual. Caudalmente à bolsa cloacal encontra-se uma saliência formada pela
glândula proctodeal dorsal, ocorrendo ainda glândulas proctodeais laterais, mais pequenas, nas paredes
laterais do proctódeo.

2.13. Fígado

O fígado está situado no pavimento da cavidade somática geral, sobre as costelas esternais e o esterno.
Apresenta dois lobos unidos cranialmente:
- Lobo direito: maior que o esquerdo, apresentando na sua face visceral a vesícula biliar, que é bastante
volumosa e apresenta um aspecto fusiforme (há entretanto algumas espécies de Aves em que a vesícula biliar
está ausente, como é o caso do Pombo e do Periquito).
- Lobo esquerdo: está subdividido em duas partes, levando alguns autores a dizer que o fígado do Galo
apresenta três lobos.

O lobo hepático direito apresenta o ducto hepatocístico, que vai até à vesícula biliar, da qual se estende o
ducto cístico-entérico até ao duodeno. O lobo hepático esquerdo apresenta o ducto hepato-entérico, que vai
até ao duodeno. Os ductos biliares abrem-se na parte ascendente do duodeno.

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2.14. Pâncreas

O pâncreas do Galo tem uma forma alongada e estreita, e está situado entre as ansas do duodeno, unindo
as partes descendente e ascendente deste. Apresenta dois lobos, dorsal e ventral, considerando-se por vezes
parte do lobo ventral com um terceiro lobo. Existem dois ou três ductos pancreáticos que se abrem na parte
ascendente de duodeno.

2.15. Baço

O baço apresenta uma forma esferóide, com cerca de dois centímetros de diâmetro, e uma côr vermelha
muito escura. Situa-se no lado direito da junção entre o proventrículo e a moela.

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3. APARELHO RESPIRATÓRIO

3.1. Narinas

As narinas estão situadas na valva superior do bico. Apresentam uma forma oval, estreita, e cada uma está
limitada dorsalmente por uma prega córnea, que é o opérculo nasal.

3.2. Cavidades Nasais

Há duas cavidades nasais (direita e esquerda) curtas e estreitas, separadas por um septo osteocartilagíneo.
As cavidades nasais comunicam com a boca e com a faringe por intermédio de uma fenda mediana. Cada uma
apresenta uma forma cónica, com o ápice dirigido rostralmente, e está subdividida em três regiões:
- Vestibular: com a concha rudimentar nasal rostral ou ventral;
- Respiratória: com a concha rudimentar nasal média ou maxilar;
- Olfactória: com a concha rudimentar nasal caudal ou dorsal.

As regiões vestibular e respiratória estão parcialmente separadas entre si pela crista nasal. As conchas
nasais projectam-se a partir da parede lateral de cada cavidade nasal, a rostral e a média, que apresentam
recessos que comunicam com a cavidade nasal, e a caudal que apresenta um divertículo do seio infraorbitário.
Este está situado lateralmente à cav. nasal e rostroventralmente à cavidade orbitaria, tendo duas aberturas:
- A abertura mais dorsal conduz ao interior da concha nasal caudal.
- Imediatamente ventral à abertura anterior encontra-se a abertura que conduz à cavidade nasal.

Ventralmente à concha nasal média, no assoalho da cavidade nasal, encontra-se o óstio nasolacrimal, uma
fenda alongada que constitui a abertura rostral do ducto nasolacrimal, o qual resulta da confluência de dois
ductos com dois ou três milímetros de comprimento, os ductos lacrimais dorsal e ventral (o primeiro tem um
diâmetro cerca de três vezes superior ao do segundo e têm ambos origem no saco conjuntival).

3.3. Laringe

A laringe abre-se no pavimento da faringe, através de uma fenda longitudinal ao nível da proeminência
laríngea (ver a faringe), que se fecha, por aproximação dos seus lábios, durante a deglutição. A cavidade da
laringe é lisa, não existindo cordas vocais. Existem 4 cartilagens laríngicas:
- Uma cartilagem cricóide, com um corpo, duas asas, uma crista ventral e um processo rostral, formando no
conjunto um anel;
- Uma cartilagem procricóide, com um corpo e uma cauda;
- Duas cartilagens aritenóides, cada uma com um corpo, um processo rostral e um processo caudal.

Ocorrem quatro articulações sinoviais:


- Articulações crico-procricoideias: cada uma das asas da cartilagem cricóide articula-se medialmente com
a cartilagem procricóide;
- Articulações procrico-aritenoideias: o corpo da cartilagem procricóide articula-se dorsolateralmente com
os corpos das cartilagens aritenóides.

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3.4. Traqueia

A traqueia é um longo tubo de anéis cartilagíneos que liga a laringe à siringe. Situa-se ventralmente ao
esófago, apresentando um trajecto semelhante ao deste, ou seja, inicialmente posicionada sagitalmente,
desvia-se depois para o lado direito do pescoço; ao aproximar-se da entrada do tórax, volta a ocupar uma
posição sagital, ficando com o papo à sua direita.

Existem 108 a 126 cartilagens traqueais, formando cada uma um anel cartilagíneo completo. Com
excepção do primeiro e dos últimos quatro, cada anel apresenta uma parte larga e uma parte estreita que se
orientam lateralmente, o que permite que os sucessivos anéis engrenem uns nos outros. A parte larga de cada
anel sobrepõe-se à parte estreita dos anéis que lhe são contíguos, formando alternadamente a metade direita
ou a metade esquerda.

Há quatro músculos traqueias, os músculos esternotraqueal, traqueal lateral, cleidotraqueal e


cleidohioideu (esterno-hioideu na NAA de 1979), que se estendem ao longo da traqueia.

3.5. Siringe

A siringe é o órgão vocal das Aves, localizada na extremidade terminal da traqueia e porções iniciais dos
dois brônquios primários. Possui quatro conjuntos cartilagíneos:
- Cartilagens craniais: são quatro anéis no macho e três anéis na fêmea, com um diâmetro ligeiramente
maior que o dos anéis da traqueia;
- Péssulo: é uma cartilagem em forma de cunha orientada dorsoventralmente, que divide o lume da siringe
nos dois brônquios primários;
- Cartilagens intermédias: são quatro de cada lado, em forma de C; a extremidade ventral é fixa, estando
unida ao péssulo; a extremidade dorsal é livre;
- Cartilagens caudais: são três de cada lado, em forma de C; a primeira tem duas extremidades fixas, unidas
ao péssulo; a segunda está unida à primeira pela sua extremidade ventral; a terceira apresenta ambas as
extremidades livres.

Os sons são produzidos por dois pares de membranas vibratórias, as membranas timpaniformes direitas
(medial e lateral) e esquerdas (medial e lateral). Cada membrana lateral estende-se entre o bordo caudal da
última cartilagem intermédia e o bordo cranial da primeira cartilagem caudal. Cada membrana medial está
inserida no bordo caudal do péssulo e nas extremidades dorsal e ventral das cartilagens caudais, e continua-se
caudalmente com o tecido conjuntivo fibroso da parede medial do respectivo brônquio primário.

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3.6. Brônquios primários

Os brônquios primários, direito e esquerdo, surgem da siringe e penetram nos pulmões pela sua face
ventral, atravessando-os em diagonal, para ir terminar no saco aéreo abdominal do lado correspondente.

No Galo, cada brônquio primário emite quarenta a cinquenta brônquios secundários, divididos em
medioventrais, mediodorsais, lateroventrais e laterodorsais, consoante a zona dos pulmões que ventilam.

3.7. Pulmões

Os pulmões situam-se na porção dorsal da cavidade geral somática, e estão parcialmente incrustados nos
alvéolos do osso •notarium••• • •• • • •• • • •• •• • • •• •• ••• • • • • •• • • • quenos, possuindo uma estrutura
completamente diferente da estrutura dos pulmões dos Mamíferos, estes são praticamente imóveis, sendo
completamente atravessados pelos brônquios primários.

Os brônquios secundários emitem quatrocentos a quinhentos parabrônquios, que se anastomosam uns


com os outros, e é ao nível da sua parede que ocorrem as trocas gasosas. Numerosas extensões do lume
parabronquial, designadas átrios, conduzem a ductos afunilados, designados infundíbulos, que, por sua vez
dão lugar aos capilares aéreos, os quais formam uma densa rede de capilares anastomosados, estreitamente
entrelaçados com os capilares sanguíneos. À semelhança do que acontece com os brônquios primários, os
brônquios secundários ligam-se aos sacos pneumáticos.

3.8. Sacos pneumáticos

Os sacos pneumáticos são expansões de parede muito delgada dos brônquios primários e secundários que
se estendem para além dos pulmões localizando-se na cavidade somática geral entre as diversas vísceras e
invadindo mesmo alguns músculos esqueléticos e o interior de alguns ossos.

De seis pares de sacos pneumáticos primordiais, quatro fundem-se na maior parte das aves no saco
pneumático clavicular mediano. No Galo há mais um par daqueles sacos primordiais fundidos, formando o saco
pneumático cervical mediano:
- Saco pneumático cervical: apresenta uma câmara central principal, situada ventralmente aos pulmões, e
divertículos vertebrais (em todas as vértebras cervicais excepto o atlas e o áxis, e nas primeiras vértebras
torácicas);

- Saco pneumático clavicular: está situado transversalmente na entrada do peito. Apresenta uma câmara
mediana, um par de câmaras laterais e três divertículos a partir de cada câmara lateral: o divertículo peitoral, o
divertículo umeral e o divertículo axilar.

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Desta forma o Galo apresenta oito sacos pneumáticos, para além daqueles dois, ímpares, ocorrem ainda
três pares de sacos pneumáticos:
- Sacos pneumáticos torácicos craniais: situam-se ventralmente aos pulmões, entre os sacos pneumático
cervical e torácicos caudais;
- Sacos pneumáticos torácicos caudais: situam-se ventrocaudalmente aos sacos craniais;
- Sacos pneumáticos abdominais: são os maiores, ocupando as partes dorsocaudais da cavidade somática
geral. Apresentam um corpo, situado entre os pulmões e a cloaca, e dois grupos de divertículos:
 Grupo pélvico, com três divertículos perirrenais.
 Grupo femoral, com os divertículos crural, isquiático e obturador.

Os sacos pneumáticos invadem vários ossos, designadamente:


- O saco cervical ventila as costelas vertebrais e vértebras cervicais e torácicas;
- O saco clavicular ventila o esterno, as costelas esternais e os ossos da cintura e membro torácicos;
- O saco abdominal ventila os ossos da cintura pélvica (e vértebras adjacentes) e do membro torácico.

As funções dos sacos pneumáticos são variadas:


- Tornam o corpo mais leve, facilitando voo;
- Contribuem para a fonação;
- Proporcionam maior estabilidade durante o voo pois, estando essencialmente situados dorsalmente,
fazem descer o centro de gravidade;
- Contribuem para a termorregulação corporal:
 Em repouso proporcionam isolamento térmico;
 Em voo permitem um arrefecimento mais rápido das massas musculares;
- Têm um papel fundamental na respiração, particularmente na inspiração, pois é pela dilatação dos sacos
pneumáticos operada pelos músculos esqueléticos que os circundam, que o ar é aspirado, acabando por
resultar daqui dois aspectos importantes:
 O ar atravessa duas vezes os pulmões (na inspiração e na expiração), sendo quase totalmente na
fase expiratória que se opera a hematose;
 Os sacos pneumáticos proporcionam uma reserva de ar quando do bloqueio da parte torácica da
cavidade somática durante o voo;

Os sacos pneumáticos estão envolvidos numa parte significativa da patologia respiratória aviaria, por
exemplo no caso de fracturas expostas do úmero (por onde se estendem divertículos do saco clavicular)
facilmente podem surgir infecções dos sacos pneumáticos e dos pulmões .

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4. APARELHO URINÁRIO

4.1. Rins

Os rins são relativamente muito compridos, estendendo-se desde o bordo caudal dos pulmões até quase à
extremidade caudal do sinsacro. Localizam-se ventralmente a este osso e parcialmente incrustados nos seus
alvéolos, um pouco à semelhança da forma como os pulmões estão parcialmente incrustados no notarium,
apresentando-se achatados dorsoventralmente.

A coloração dos rins varia entre o rosa e o castanho, dependendo da quantidade de sangue que contêm. O
mais frequente é apresentarem uma cor vermelho escuro ou vermelho acastanhado. Em termos de
consistência são muito friáveis.

Cada rim apresenta três divisões, cranial, média e caudal, que não devem ser confundidas com lobos. A
demarcação entre as várias divisões é feita por sulcos vasculares transversais superficiais:
- Sulco para artéria e veia ilíacas externas, entre as divisões cranial e média.
- Sulco para artéria e veia isquiáticas, entre as divisões média e caudal.

4.2. Ureteres

Os ureteres originam-se na divisão cranial dos rins e estendem-se até à cloaca, onde se abrem no uródeo
(ver a cloaca). Cada ureter resulta da confluência de vários ramos primários da divisão cranial do rim e
acompanha ventromedialmente o rim, recebendo ramos primários das divisões média e caudal, antes de se
continuar para além do rim, até à cloaca.

A urina que chega ao uródeo é clara. Daí vai ao copródeo, onde se verifica uma grande reabsorção de água,
precipitando os uratos numa massa esbranquiçada que se mistura com as fezes.

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5. APARELHO GENITAL MASCULINO

5.1. Testículo

Os dois testículos localizam-se no tecto da cavidade somática, cranioventralmente à divisão cranial do rim
do mesmo lado, relacionando-se ventralmente com os sacos pneumáticos abdominais. Têm uma forma de
feijão e uma cor que varia entre o branco amarelado (no macho imaturo ou em período de inactividade
reprodutiva) e o branco (em período de actividade reprodutiva). Em período de inactividade reprodutiva
verifica-se ainda que o seu tamanho se reduz aproximadamente a metade.

A relação dos testículos com os sacos pneumáticos abdominais sugeriu a possibilidade de ser uma forma de
assegurar o arrefecimento dos testículos. A verdade é que os espermatozóides do Galo ao nível do testículo
apresentam uma fertilidade muito baixa, precisando de atingir o ducto deferente para se tornarem
inteiramente férteis.

A nível do bordo dorsomedial do testículo encontra-se a rede testicular, onde terminam os túbulos rectos
do testículo e de onde partem os dúctulos eferentes, já no epidídimo.

5.2. Epidídimo

O epidídimo é alongado e fusiforme, não se distinguindo (ao contrário do que acontece nos Mamíferos)
uma cabeça, um corpo e uma cauda. Está inserido ao longo de todo o bordo dorsomedial do testículo (bordo
epidimário), recoberto pela mesma túnica albugínea que envolve o testículo.

Os dúctulos eferentes reúnem-se em dúctulos epididimários que se abrem-se no ducto epididimário,


localizado no bordo dorsal do epidídimo e estendendo-se da extremidade cranial para a extremidade caudal. O
ducto epididimário é muito curto e pouco espiralado e sai da extremidade caudal do testículo, continuando-se
com o ducto deferente.

5.3. Ducto deferente

Os ductos deferentes apresentam um aspecto sinuoso. Iniciam-se na extremidade caudal do epidídimo e


acompanham os ureteres no seu trajecto até à cloaca.

Na cloaca, cada ducto deferente termina na parte dorsal do uródeo numa dilatação escavada na própria
parede da cloaca e que constitui o receptáculo do ducto deferente. Este abre-se no uródeo através de um
óstio aberto no vértice duma papila, a papila do ducto deferente, que se projecta caudalmente.

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5.4. Aparelho copulatório

O aparelho copulatório do Galo é constituído por vários elementos:


- As duas papilas dos ductos deferentes.
- Os dois corpos vasculares (corpos vasculares paracloacais ou corpos vasculares do falo) localizados nas
paredes ventrolaterais do uródeo e do proctódeo, cada um entre o receptáculo do ducto deferente e o falo;
- O falo, situado na linha média ventral do proctódeo, caudomedialmente às papilas dos ductos deferentes;
consta de um corpo fálico mediano e de dois corpos fálicos laterais;
- Duas pregas linfáticas, interpostas, cada uma delas, entre o corpo fálico lateral e a papila do ducto
deferente.

Em repouso, o aparelho copulatório não é visível, nem mesmo o falo, que é a estrutura mais externa.

6. APARELHO GENITAL FEMININO

6.1. Ovário

Na vida embrionária surgem precocemente dois ovários e dois oviductos, mas normalmente só o ovário e o
oviducto esquerdos se desenvolvem completamente, sendo apenas estes funcionais no animal adulto. Só
muito raramente se dá o inverso, desenvolvendo-se completamente apenas as estruturas do lado direito.

Durante a actividade sexual o ovário adulto assemelha-se a um cacho de uvas fixado ao tecto da parte
média da cavidade somática, ao nível da divisão cranial do rim esquerdo, pelo mesovário. O aspecto de cacho
de uvas é dado pela presença de vários milhares de folículos em diferentes graus de desenvolvimento que se
projectam a partir da face ventral do ovário à qual estão presos por um pedículo.

Cada folículo consta de um oócito rodeado por uma parede muito vascularizada. Pouco antes da ovulação
surge uma banda esbranquiçada, denominada estigma, no lado oposto ao do pedículo, que marca a zona de
rotura da parede folicular quando da ovulação.

Em período de repouso de actividade sexual o ovário adulto apresenta uma conformação oval, achatada e
alongada.

6.2. Oviducto

Tal como acontece com os ovários, apenas o oviducto esquerdo se desenvolve completamente na grande
maioria dos casos. Apresenta-se como um ducto contorcido de parede espessa entre o ovário e a cloaca, na
parte dorsal esquerda da cavidade somática.

Seja em termos da estrutura (diâmetro, pregas da mucosa e glândulas), seja em termos da função, o
oviducto pode ser dividido em várias partes:

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- Infundíbulo: é a extremidade cranial, em forma de funil com uma zona tubular, é o tubo infundibular (são
as glândulas do tubo infundibular que produzem o estrato calazífero que vai rodear a membrana do vitelo).
Abre-se para a cavidade somática através de uma fenda alongada, o óstio infundibular, cujos lábios
apresentam as fíbrias infundibulares e pelo qual passam os oócitos que vão sendo libertados. O bordo lateral
do infundíbulo está fixado à parede corporal perto da última costela. O infundíbulo não se insere directamente
no ovário, mas o bordo fimbriado penetra entre os folículos suspensos do ovário;

- Magno: é a parte mais longa e contorcida do oviducto, com uma parede muito espessa (devido à presença
de numerosas glândulas tubulares que produzem cerca de metade do albúmen total do ovo) e cheia de pregas;

- Istmo: é uma zona curta, com um calibre ligeiramente menor e com menos pregas do que o magno, cuja
separação em relação a este é marcada por uma zona translúcida estreita. Verifica-se a este nível a produção
de mais albúmen e das duas membranas que separam o albúmen da casca;

- Útero: é uma parte expandida e curta deste órgão, que aloja o ovo durante a maior parte do período de
formação da casca. Por isso mesmo é também denominado glândula da casca;

- Vagina: é o segmento terminal do oviducto, curto, que se abre no uródeo por uma fenda dilatável, o óstio
cloacal do oviduto. Tem uma forma sigmóide já que, seguindo-se ao útero, de imediato a vagina se orienta
cranialmente, de tal modo que o seu segmento inicial se apresenta encostado à superfície ventral do útero,
para voltar depois a orientar-se caudalmente até terminar no uródeo. O segmento inicial apresenta um
espessamento da túnica muscular, por vezes designado esfíncter da vagina. A este nível as pregas da mucosa
alojam os túbulos espermáticos (também designados, por exemplo, por glândulas vaginais ou glândulas de
armazenamento do esperma), que constituem o principal local de armazenamento dos espermatozóides, os
quais mantêm a sua capacidade de fertilização durante dez a catorze dias após a inseminação (apenas se
encontram no lume do oviducto dentro de 24 horas após a inseminação ou no período de ovulação, libertados
pelos túbulos espermáticos).

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7. ANATOMIA DO OVO

O ovo apresenta um pólo agudo e um pólo obtuso e é constituído por três partes distintas:

1. Elementos envoltórios, com:


- Cutícula: cobertura proteinácea transparente e extremamente fina, que reveste completamente a casca;
- Casca: é uma estrutura de natureza calcárea intimamente unida à membrana externa da casca;
- Membranas da casca: são duas membranas delgadas e resistentes intimamente unidas, excepto ao nível
do pólo obtuso, onde se situa a cela aérea. Existe a membrana externa da casca e a membrana interna da casca
(ao nível dos pólos está intimamente unida ao albúmen denso pelo albúmen polar ou ligamento do albúmen);
- Cela aérea: é um espaço entre as duas membranas da casca situado ao nível do pólo obtuso.

2. Albúmen ou clara, com:


- Estrato calazífero: camada interna, delgada, de albúmen denso situada à volta da membrana do vitelo;
- Duas calazas: trata-se de duas estruturas de finas fibras em espiral, que ficam, cada uma, entre o albúmen
denso do pólo respectivo e o estrato calazífero, mantendo a gema mais ou menos no centro do ovo;
- Albúmen fluido: é um albúmen com pouca mucina, dividido em duas camadas • estrato fluido interno e
estrato fluido externo; o estrato interno circunda o estrato calazífero, enquanto o estrato externo circunda o
albúmen denso excepto ao nível dos ligamentos do albúmen;
- Albúmen denso: constitui a maior parte do albúmen e contém relativamente mais mucina que o albúmen
fluido, sendo por isso mais rígido; está fortemente unido à membrana interna;
- Albúmen polar ou ligamento do albúmen: une intimamente a membrana interna da casca e o albúmen
denso em ambos os pólos.

3. Vitelo ou gema - encontra-se mais ou menos no centro do ovo, suspenso pelas calazas, ocorrendo dois tipos:
- Vitelo alvo: contém cerca de duas partes de proteína para uma de gordura; forma uma esfera central, o
centro da látera, ligado pelo colo da látebra a uma espécie de cone invertido situado imediatamente sob o
disco germinativo e que constitui o disco da látebra;
- Vitelo amarelo: contém cerca de duas partes de gordura para uma de proteína; em casos de restrição
alimentar surgem estratos mais escuros alternados com estratos mais estreitos e pálidos, mais pobres em
carotenóides.

Entre o albúmen e o vitelo encontram-se as membranas do vitelo, que são um conjunto de quatro
membranas (de dentro para fora, remanescentes do citolema do ovo, membrana perivitelina, membrana
contínua e membrana extravitelina), que formam uma camada muito estreita e estabelecem uma barreira
entre o vitelo e o albúmen. O disco germinativo é um pequeno disco de citoplasma em torno do núcleo do
oócito, assente no disco da látebra e pode tomar a designação de blastodisco quando não fertilizado, ou de
blastoderma quando fertilizado.

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