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*A EXPERIÊNCIA ENSINA*

Autor: Hans Bachl; iniciado na A.'. R.'. L.'. S.'. Luz e Verdade Terceira, GOB,
08/07/1949. Fonte: Nos Bastidores da Maçonaria. Editora: Aurora. Página: 15-18.
Joinville, Santa Catarina.

O título "Irmão" inclui obrigação séria; a de socorrer qualquer outro Irmão que se
achar em situação difícil e que não esteja originada por sua própria culpa ou
leviandade.

O Mundo profano sabe disso. E houve mesmo em nosso Or.'. Vários casos em que gente
momentaneamente ou cronicamente em situação precária se lembrava da Maçonaria. É a
maior preocupação dessa gente conseguir entrar numa Loja para, em seguida,
apresentar o seu pedido de ajuda financeira. Não é esta a finalidade da Franco-
Maçonaria. E não serve para nós uma pessoa que quer se aproveitar da nossa Subl.'.
Ordem, e que pensa com sua entrada efetuar uma espécie de seguro contra o
infortúnio, mediante pagamento de suas mensalidades. Já houve esses casos. Mas em
geral não é de muita duração a permanência de tais elementos em nossas fileiras,
porque dentro em breve são descobertas suas egoístas intenções.

Diferente é quando um Irmão, inesperadamente fica surpreendido por uma desgraça.


Neste caso, a sua Loja, sem ele pedir, ajudá-lo-á o máximo possível. Também pode
vir um pedido de outra Loja e será atendido dentro das possibilidades. Há casos
isolados em que Irmãos visitantes necessitam de socorro. Também são atendidos. Mas,
com toda cautela. Pois já houve casos de abusos e de impostores. Ficou estabelecido
em nossa Oficina que nenhuma ajuda é dada individualmente fora da loja. Unicamente
em conjunto numa sessão onde se examina o caso convenientemente. Mas, podem ocorrer
casos de grande urgência. Poderão ser tratados dessa maneira?

Lembro-me que numa noite tivemos o prazer de receber a visita dum Irmão de outro
Oriente. Era empresário de uma troupe de artistas. Deu diversos espetáculos em
nossa cidade. Prestigiando o Ir.'., todos adquirimos ingressos. Mas, notamos que a
freqüência em seu show estava fraca. Ficou quase uma semana. No último dia, o nosso
Irmão artista e empresário achava-se numa situação embaraçosa. A despesa superava
em muito a renda dos espetáculos. Faltavam-lhe recursos para poder pagar a despesa
do hotel para todo o ensemble e mais ainda o custo do frete da volumosa bagagem.

Apresentou-se em meu escritório todo nervoso e angustiado:

- Meu Ir.'., você é o último que estou procurando e também a minha última
esperança. Já falei com quase todos os Irmãos e lhes contei o meu caso. Nenhum
deles pode ajudar-me. Dizem que não é da competência deles. Mandaram-me falar com o
Ven.'.. Este, por sua vez, afirma que o meu caso só poderá ser resolvido em Loja,
na próxima sessão, daqui quatro dias. Mas não posso esperar tanto. Mais quatro dias
para dez pessoas no hotel seria acumular mais despesas. Não pretendo levar
dinheiro. Preciso apenas a assinatura como avalista numa Nota Promissória sobre dez
mil. Será que a Maçonaria desconfia de todo Irmão que pede um favor?

Refleti se devia ajudar a esse Irmão. Não é parecido com aqueles trapaceiros que já
passaram por aqui, levando dinheiro emprestado para nunca mais o devolver, ou dar
satisfação. Também me lembrei da resolução em loja: "Não dar dinheiro fora da
Oficina". Entretanto, qualquer coisa me impeliu a responder:

- É contra o regulamento de nossa Loja. Mas em vista do seu caso de excepcional


urgência assinarei o seu título como avalista, confiando no Irmão e na sua palavra.

Fomos ao Banco e assinei a letra com o prazo de três meses.

Muitíssimo satisfeito despediu-se o Irmão empresário, prometendo pagar o título


pontualmente no vencimento.
Já havia passado meio ano. A promissória não paga já fora debitada em minha conta
bancária e nada de notícias do Irmão artista. Pensei comigo: "Será possível que a
gente se engana tanto num homem que se chama maçom e Irmão?" Não pode ser! Não
seria o primeiro caso de desilusão. Mas, nunca numa importância tão elevada para um
só Irmão prejudicado. E considerei que se também este Irmão me desiludir, terei por
força das circunstâncias de acreditar naquela frase célebre e pejorativa: "nem todo
maçom é ladrão, mas muito ladrão se intitula maçom" - frase esta que li em um
panfleto de outra co-irmã, advertindo os Irmãos contra um falso Maçom, explorador
de incautos.

Comparando as duas personalidades, meu íntimo inclinou-se em favor do Irmão


artista, embora este não haver se manifestado ainda. Pode que ele tenha ficado
doente, pensei, ou outras circunstâncias adversas não o permitiram ainda saldar a
sua dívida contraída. Algum dia, talvez não muito longe, virá uma notícia dele
esclarecendo tudo.

E esse dia chegou inesperadamente semanas mais tarde, quando na rua principal de
nossa cidade encontrei o Irmão empresário. Ele me abraçou efusivamente se
desculpando:

- Queira o Irmão não me levar a mal a demora. Mas hoje estou aqui para me
reabilitar. Não faça mau juízo de mim. O azar me tem perseguido todo este tempo.
Tive que dissolver o meu ensemble. E agora estou a caminho para o Sul, onde já
tenho contrato com outra Companhia. O Irmão teve que pagar o meu título?

- Paguei sim meu Irmão.

- Quanto incômodo lhe causei! Mil desculpas! Vamos já ao banco. Quero saber quanto
de juros lhe devo.

Fomos ambos ao Instituto de Crédito. Recebi o meu dinheiro de volta, inclusive os


juros. Ele levou o título quitado que estava debitado em minha conta.

No mesmo dia ainda seguiu viagem. Ao despedir-se disse-me:

- Muitas gracias por tudo, e que o G.'. A.'. D.'. U.'. vos dê muita saúde. Isto é
tudo que um pobre artista perseguido pela má sorte pode desejar em retribuição.

- Não há de que, meu Ir.'.! É dever do maçom socorrer outro Irmão em situação
difícil. Nada mais fiz que cumprir com a meu dever.

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