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Será a guerra moral ou imoral?

Ao longo de toda a humanidade existiram muitos conflitos armados, com especial relevância
para o século passado, das quais podemos realçar a I e II Guerras Mundiais. Porém, no século
atual, continuaram a existir vários conflitos tais como a Guerra Civil Ucraniana, Guerra Civil Síria
e Guerra Civil do Iémen, o que nos leva a crer que no futuro poderão existir mais guerras e com
um impacto mais devastador. A análise filosófica da guerra examina a guerra do ponto de vista
moral questionando, não só as suas causas, mas também se há ou não justificação moral para
esse conflito e como deve ser conduzido uma vez declarado. A evolução tecnológica foi um
passo gigante e uma conquista nessa vontade de domínio e de controlo. Surgiu então uma nova
vertente, que permite ao homem ir além de apenas alterar o meio ambiente, poder também
alterar as formas de vida. Não nos basta o que temos, somos portadores duma ânsia constante
em querer mais, tentando satisfazer as nossas expectativas mais coerentes com a nossa
grandeza. Kant defende, uma resolução pacífica e guiada pela razão de conflitos, e isso fica
claro no segundo artigo definitivo para a paz perpétua (o direito das gentes deve fundar-se numa
federação de Estados livres): ‘’(…)segundo o direito das gentes, o que vale para o homem no
estado desprovido de leis, segundo o direito natural – «dever sair de tal situação» (porque
possuem já, como Estados, uma constituição interna jurídica e estão, portanto, subtraídos à
coação dos outros para que se submetam a uma constituição legal ampliada em conformidade
com os seus conceitos jurídicos); e visto que a razão, do trono do máximo poder legislativo
moral, condena a guerra como via jurídica e faz, em contrapartida, do estado de paz um dever
imediato(..)’’ (Kant, 1988, p.134). A partir daqui conclui-se que, para Kant, nem a guerra
preventiva nem a guerra preemptiva são legítimas, já que utilizam a força ou violência e não a
razão e a constituição para resolver um conflito. Os conflitos poderão ser sempre resolvidos
através da razão, por meio de acordos ou tratados.

Segundo Karl Van Clausewitz, um dos mais influentes na área cita, (PowerPoint). Esta definição,
apesar de correta, é incompleta, pois diz-nos muito pouco sobre a natureza da guerra… Quem
só tiver esta informação não tem ideia de que a guerra pode ser, por exemplo, um conflito
armado. No entanto, nem todos os conflitos armados são guerras. Pequenos conflitos entre
fronteiras, revoltas e outras formas de violência não têm a proporção de uma guerra.

Agora interpretando a obra A Paz Perpetua, de Immanuel Kant, o filósofo cita a partir de um
autor: “se esta inscrição satírica numa perspetiva de lojista holandês vale para homens ou
especialmente para chefes de estado que nunca se cansam da guerra” . Este escritor estabelece
uma condição “o político prático tende a olhar para baixo com grande presunção para o teorista
político, considerando-o como um académico cujas ideias vazias não podem colocar em perigo a
nação?…”.

Nele, propõe um programa para a paz que deve ser implementado pelos governos, dividido por
secções.

- A primeira secção apresenta os artigos preliminares para a paz perpetua entre estados. Sendo
eles:

1. «Não deve considerar-se como válido nenhum tratado de paz que se tenha feito com a
reserva secreta de elementos para uma guerra futura»
2. «Nenhum estado independente (grande ou pequeno) poderá ser adquirido por outro
mediante herança, troca, compra ou doação»
3. «Os exércitos permanentes (miles perpetuus) devem, com o tempo, desaparecer
totalmente»
4. «Não se devem emitir dívidas públicas em relação com os assuntos de política exterior»
5. «Nenhum Estado deve imiscuir-se pela força na constituição e no governo de outro
Estado»
6. «Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir tais hostilidades que tornam
impossível a confiança mútua na paz futura, como, por exemplo, o emprego no outro
Estado de assassinos, envenenadores, a ruptura da capitulação, a instigação à traição
(perduellio), etc.»

- A segunda secção apresenta os artigos definitivos com o mesmo fim. Passando a citá-los, são
os seguintes:

1. Primeiro Artigo definitivo para a Paz Perpétua


A Constituição civil de cada Estado deve ser republicana.
2. Segundo Artigo definitivo para a Paz Perpétua
O direito das gentes deve fundar-se numa federação de Estados livres
3. Terceiro Artigo definitivo para a Paz Perpétua
O direito cosmopolita deve limitar-se às condições de hospitalidade universal

Em suma, partindo do ponto de vista de Kant, O ensaio de Kant, em alguns aspectos, assemelha-se à
teoria da paz demográfica moderna. Define os estados republicanos, Republikanisch (não democráticos),
como tendo governos representativos, nos quais o legislativo é separado do executivo. Kant afirma que
as repúblicas estarão em paz umas com as outras, pois devem tender ao pacifismo mais do que outras
formas de governo. O ensaio não trata os governos republicanos como suficientes por si próprios para
produzir a paz: a hospitalidade universal e uma federação dos estados livres são necessários para
implementar conscientemente seu programa de seis pontos. Contudo, Kant argumenta contra um governo
mundial, pois seria sujeito à tirania. A solução preferível para a anarquia no sistema internacional era criar
uma liga de estados republicanos independentes. Portanto, como resposta a este problema, Kant, mesmo
defendendo a pena de morte, diz que a guerra é algo imoral. Já Clausewitz, diz que os efeitos na guerra
das forças físicas apoiam-se inteiramente nos efeitos das forças morais e não podem separar-se deles
por um processo químico como uma liga metálica.

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