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ARTIGO ORIGINAL

Fernanda Callefe Moreira1,2, Cassiano Teixeira3,4,


Augusto Savi4, Rogério Xavier5,6
Alterações da mecânica ventilatória durante a
fisioterapia respiratória em pacientes ventilados
mecanicamente
Changes in respiratory mechanics during respiratory
physiotherapy in mechanically ventilated patients

1. Centro Universitário Univates - Lajeado (RS), RESUMO (T-1 = 52,3 ± 16,1mL/cmH2O versus
Brasil. T0 = 65,1 ± 19,1mL/cmH2O; p < 0,001),
2. Unidade de Cuidado Respiratório, Hospital Objetivo: Avaliar as alterações da
Moinhos de Vento - Porto Alegre (RS), Brasil.
do volume corrente (T-1 = 550 ± 134mL
mecânica ventilatória e da hemodinâmi- versus T0 = 698 ± 155mL; p < 0,001) e
3. Departamento de Clínica Médica,
Universidade Federal de Ciências da Saúde de
ca que ocorrem em pacientes dependen- da saturação periférica de oxigênio (T-1 =
Porto Alegre - Porto Alegre (RS), Brasil. tes de ventilação mecânica submetidos 96,5 ± 2,29% versus T0 = 98,2 ± 1,62%;
4. Centro de Tratamento Intensivo, Hospital a um protocolo padrão de fisioterapia p < 0,001), além de redução da resistên-
Moinhos de Vento - Porto Alegre (RS), Brasil. respiratória.
5. Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
cia do sistema respiratório (T-1 = 14,2
Métodos: Estudo experimental e ± 4,63cmH2O/L/s versus T0 = 11,0 ±
Porto Alegre (RS), Brasil.
6. Laboratório Experimental de Vias Aéreas e
prospectivo realizado em duas unidades 3,43cmH2O/L/s; p < 0,001) logo após
Pulmão, Hospital de Clínicas de Porto Alegre - de tratamento intensivo, nas quais pa- a realização das manobras de fisioterapia
Porto Alegre (RS), Brasil. cientes dependentes de ventilação mecâ- respiratória. Todas as alterações se man-
nica por mais de 48 horas foram aloca- tiveram na avaliação realizada 1 hora
dos, de forma consecutiva, e submetidos (T+1) após as manobras de fisioterapia
a um protocolo estabelecido de mano- respiratória. Já com relação às variáveis
bras de fisioterapia respiratória. Variáveis hemodinâmicas, houve elevação imedia-
ventilatórias (complacência pulmonar ta, porém não sustentada da frequência
dinâmica, resistência do sistema res- cardíaca (T-1 = 88,9 ± 18,7bpm versus T0
piratório, volume corrente, pressão de = 93,7 ± 19,2bpm versus T+1 = 88,5 ±
pico inspiratório, frequência respirató- 17,1bpm; p < 0,001).
ria e saturação periférica de oxigênio) e Conclusão: Manobras de fisiotera-
hemodinâmicas (frequência cardíaca) pia respiratória geram mudanças ime-
foram mensuradas 1 hora antes (T-1), diatas na mecânica pulmonar e na he-
imediatamente (T0) e após 1 hora (T+1) modinâmica dos pacientes dependentes
da realização do protocolo de manobras da ventilação mecânica, e as alterações
de fisioterapia respiratória. ventilatórias provavelmente permane-
Resultados: Durante o período cem por pelo menos 1 hora.
de coleta dos dados, 104 pacientes fo-
ram incluídos no estudo. Quanto às Descritores: Terapia respiratória; Res-
Conflitos de interesse: Nenhum. variáveis ventilatórias, houve aumento piração artificial; Mecânica respiratória
da complacência pulmonar dinâmica
Submetido em 15 de dezembro de 2014
Aceito em 20 de maio de 2015

Autor correspondente:
Fernanda Callefe Moreira
Rua Ramiro Barcelos, 910 - Bairro Floresta
INTRODUÇÃO
CEP: 90035-001- Porto Alegre (RS), Brasil
E-mail: fcallefe@yahoo.com.br O suporte ventilatório oferecido aos pacientes com insuficiência respirató-
ria aguda visa oferecer repouso à musculatura ventilatória e reduzir o trabalho
Editor responsável: Carmen Valente Barbas respiratório até a resolução do processo agudo. A mobilização e a remoção de
DOI: 10.5935/0103-507X.20150027 secreções respiratórias têm papel fundamental no auxílio da higiene brônquica,
das trocas gasosas e da redução do trabalho respiratório - alterando a mecânica
dos pacientes graves submetidos ao suporte ventilatório invasivo.(1)

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Na maioria das unidades de terapia intensiva (UTI), da modificação dos parâmetros da VM nos 120 minutos
a fisioterapia respiratória é parte integral do manejo dos anteriores e posteriores ao atendimento de fisioterapia
pacientes graves que necessitam de suporte ventilatório in- respiratória; então, realizaram-se manobras de vibrocom-
vasivo. Dentre as várias técnicas, estão drenagem postural pressão torácica (VCT), sendo 5 minutos em decúbito
(DP), mobilização, vibração, percussão, hiperinsuflação lateral direito e 5 minutos em decúbito lateral esquerdo;
manual (HM) e aspiração das vias aéreas.(2) A combinação essa técnica consiste em comprimir manualmente a cai-
rotineira das mesmas tem por objetivo principal a preven- xa torácica durante a expiração e liberar a compressão ao
ção de complicações como obstrução de prótese traqueal, final da expiração, facilitando a inspiração ativa, com o
pneumonia associada à ventilação mecânica (VM) e assin- objetivo de mobilizar as secreções pulmonares, e melho-
cronia ventilatória.(3-14) rar a ventilação alveolar; depois, foi realizada HM, com
Existem inúmeros protocolos de fisioterapia respirató- instilação de 10mL de solução salina (soro fisiológico a
ria descritos no atendimento de pacientes dependentes de 0,9%) no tubo endotraqueal e realização de ressuscitação
VM, porém com resultados conflitantes.(10-12,15,16) O ob- manual com bolsa durante 1 minuto, seguida de aspiração
jetivo deste estudo foi avaliar as alterações da mecânica de secreção brônquica durante um máximo de 15 segun-
ventilatória e da hemodinâmica que ocorrem em pacientes dos; por foi, foi feito o reposicionamento do paciente em
dependentes de VM submetidos a um protocolo padrão decúbito elevado de 30º.
de fisioterapia respiratória.
Dados coletados
MÉTODOS
Todos os pacientes foram ventilados mecanicamente
Estudo experimental e prospectivo, realizado em duas pelos respiradores Savina®, Evita-2® ou Evita-4® (Drager,
UTI clínico-cirúrgicas: Centro de Tratamento Intensivo Lübek Alemanha), com capacidade de análise das curvas de
do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, e UTI pressão, fluxo e volume. As variáveis ventilatórias coletadas
do Hospital de Pronto-Socorro de Canoas, em Canoas, foram: modo ventilatório, complacência dinâmica (Cdin),
ambos no Rio Grande do Sul. O estudo recebeu a aprova- resistência do sistema respiratório (Rsr) naqueles pacientes
ção para sua realização nos Comitês de Ética em Pesquisa ventilados em regime objetivados a volume e com fluxo
dos dois hospitais (Projeto nº 2004/18 e nº 05-407, res- quadrado, volume de ar corrente (VT), pressão de pico ins-
pectivamente) e os pacientes ou familiares próximos parti- piratório (Ppico) e PEEP. As variáveis hemodinâmicas e de
ciparam da pesquisa após preencherem o Consentimento oxigenação registradas continuamente por monitores mul-
Informado Livre e Esclarecido (CILE). tiparamétricos Siemens SC 7000® e SC 9000® (Siemens,
Foram incluídos, consecutivamente, todos os pacientes Suécia) foram: FC, frequência respiratória (FR) e saturação
dependentes de VM ≥ 48 horas com prescrição médica de periférica de oxigênio (SpO2). Todos os dados foram coleta-
fisioterapia respiratória no período de fevereiro a setembro dos em três momentos relacionados ao protocolo de atendi-
de 2014, após obtenção do CILE. Os critérios de exclusão mento fisioterápico: (a) pré-protocolo - variáveis analisadas
foram: pacientes com instabilidade hemodinâmica (mo- 1 hora antes do atendimento fisioterápico protocolar (T-1);
dificação na dose de vasopressores nas últimas 2 horas, (b) pós-protocolo imediato - logo após do atendimento fi-
pressão arterial média ≥ 120mmHg ou ≤ 60mmHg, fre- sioterápico (T0); e (c) pós-protocolo tardio - após 1 hora
quência cardíaca - FC ≥ 130bpm ou ≤ 50bpm e presença do atendimento fisioterápico (T+1). Foram também adqui-
de arritmias ventriculares graves); pacientes com instabi- ridos dados radiológicos pulmonares do dia da internação
lidade ventilatória, isto é, necessidade de fração inspirada na UTI (laudados por radiologistas do serviço), causas da
de oxigênio (FiO2) ≥ 0,8 ou necessidade de pressão expi- insuficiência respiratória aguda, doenças preexistentes e pa-
ratória final (PEEP) ≥ 15cmH2O; pacientes moribundos râmetros de VM, bem como dados demográficos.
(definidos pela equipe médica); pacientes com fratura de
dois ou mais arcos costais com comprovação radiológica e Análise estatística
presença de broncoespasmo grave. Realizou-se uma análise descritiva dos dados por meio
Protocolo de fisioterapia respiratória de média e desvio padrão para as variáveis quantitativas (ou
mediana e intervalo interquartílico), enquanto as variáveis
Era aplicado, em todos os pacientes, o seguinte proto- categóricas foram expressas em frequência e percentual.
colo. Primeiramente, foi feita a proibição do uso de me- Foi utilizado o teste de Kolmogorov-Smirnov para verifi-
dicações broncodilatadoras inalatórias ou endovenosas, e car a normalidade de distribuição dos dados. Na análise

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inferencial, com intuito de avaliar a variação entre as três A tabela 2 demonstra que ocorreu aumento da Cdin,
medidas realizadas no mesmo paciente, foi utilizado o teste VC, FR e SpO2 e redução da Rsr logo após a realização das
ANOVA de medidas repetidas, com as comparações múlti- manobras de fisioterapia respiratória. As alterações man-
plas de Bonferroni para identificar qual ou quais momentos tiveram-se na avaliação realizada 1 hora após o término
diferiram. Para a análise dos dados, foi utilizado o programa das manobras de fisioterapia respiratória. Houve elevação
Statistical Package for the Social Science (SPSS) 12.0; o nível imediata, porém não sustentada, da FC, conforme de-
de significância adotado foi de 5%. monstrado na tabela 2.
RESULTADOS
Tabela 2 - Comportamento das variáveis ventilatórias e hemodinâmicas nos três
Durante a coleta de dados, 104 pacientes foram inclu- momentos da avaliação, ou seja, 1 hora antes (T-1), imediatamente (T0) e após e 1
hora (T+1) da aplicação das manobras de fisioterapia respiratória
ídos no estudo. Cada paciente foi incluído somente uma
vez na análise. A idade média dos pacientes foi de 53 ± Variáveis T-1 T0 T+1

22 anos, e as principais causas de insuficiência respiratória Cdin (mL/cmH2O) 52,3 ± 16,1 a


65,1 ± 19,1 b
64,7 ± 20,2b
foram politraumatismo (26,9%) e trauma cranioncefálico VC (mL) #
550 ± 134 a
698 ± 155 c
672 ± 146b
(22,1%), conforme a tabela 1. PPico (cmH2O)## 22,2 ± 5,54b 21,6 ± 5,71ab 21,5 ± 5,24a
RSR (cmH2O/L/s)##
14,2 ± 4,63 b
11,0 ± 3,43 a
11,2 ± 3,68a

Tabela 1 - Caracterização da amostra FR (mrpm) 20,8 ± 5,40b 21,9 ± 5,89c 19,4 ± 4,97a
SpO2 (%) 96,5 ± 2,29 a
98,2 ± 1,62 c
97,8 ± 1,79b
Variáveis N = 104
FC (bpm) 88,9 ± 18,7a 93,7 ± 19,2b 88,5 ±17,1a
Sexo (masculino) 77 (74,0)
Cdin - complacência dinâmica; VC - volume corrente; Rsr - resistência do sistema respiratório;
Idade 53,8 ± 22,1 FR - frequência respiratória; SpO2 - saturação periférica de oxigênio; FC - frequência cardíaca.
Resultados expressos em média ± desvio padrão. * ANOVA para medidas repetidas.
Hospital a,b,c
Letras iguais não diferem pelo teste de Bonferroni (p < 0,001). # Valores referentes aos
58 pacientes ventilados em regimes objetivados a pressão; ## valores referentes aos 46
HMV 38 (36,5) pacientes ventilados em regimes objetivados a volume e com fluxo quadrado.

HPSC 66 (63,5)
Causa da insuficiência respiratória DISCUSSÃO
Politraumatismo grave 28 (26,9)
TCE 23 (22,1) Os achados deste estudo sugerem que, em pacientes
Sepse 12 (11,5)
dependentes de VM, significativas modificações hemo-
AVE 15 (14,4)
dinâmicas e ventilatórias ocorrem imediatamente após a
fisioterapia respiratória, porém somente as alterações ven-
Exacerbação de DPOC 14 (13,5)
tilatórias persistem por pelo menos 1 hora.
PO grandes cirurgias 20 (19,0)
A fisioterapia respiratória faz parte do cuidado multi-
Doenças preexistentes
disciplinar dos pacientes críticos dependentes de VM, uma
Hipertensão arterial sistêmica 18 (17,3)
vez que complicações pulmonares advindas da depressão
DPOC 14 (13,5)
do reflexo da tosse, diminuição do clearance mucociliar e
Doença arterial coronariana 9 (8,7) aumento da produção de muco brônquico podem levar à
Diabetes mellitus 5 (4,8) retenção de secreção brônquica, formação de atelectasias
Alterações radiológicas e desenvolvimento de pneumonia nosocomial.(2-5,17) Espe-
Infiltrado pulmonar 31 (30,8) cialmente nos paciente intubados, sedados e dependentes
Derrame pleural 32 (30,7) de VM, as técnicas de fisioterapia respiratória facilitam a
Atelectasia 15 (21,2) mobilização e a eliminação da secreção brônquica.(1-3,18)
Normal 26 (17,3) As manobras fisioterapêuticas consistem em técnicas
Modo ventilatório no dia da avaliação manuais, posturais e cinéticas.(1,2) As manobras conven-
Volume assisto-controlado 46 (44,3) cionais são a DP, a VCT, a compressão manual torácica
Pressão de suporte 33 (31,7) (CMT), a HM, a aspiração traqueal (AT) e os estímu-
Pressão assisto-controlada 25 (24,0)
los da tosse.(2) Quanto à DP, o posicionamento no leito
Óbito na UTI 36 (34,6)
auxilia na melhora da relação V/Q, aumenta os volumes
HMV - Hospital Moinhos de Vento; HPSC - Hospital de Pronto-Socorro de Canoas;
pulmonares reduzindo o trabalho respiratório, minimiza
TCE - traumatismo craniencefálico; AVE - acidente vascular encefálico; DPOC - doença
pulmonar obstrutiva crônica; PO - pós-operatório; UTI - unidade de terapia intensiva.
o trabalho miocárdico, mobiliza e remove secreções das
Resultados expressos em N (%) e média ± DP. vias aéreas com a ajuda da ação gravitacional.(7) A CMT

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proporciona uma expansão pulmonar de áreas colapsa- de fisioterapia (HM + AT) foi capaz de aumentar a Cest e
das, melhorando a relação V/Q - além de atuar como es- reduzir a Rsr por no mínimo 30 minutos. Já nosso estudo,
tímulo facilitador da mobilidade torácica que pode estar que incluía a avaliação de pacientes ventilando em PSV, as
diminuída.(12) A VCT aplicada à fase expiratória do ciclo alterações de complacência torácica foram demonstradas
respiratório permite um melhor esvaziamento pulmonar, por meio da mensuração da Cdin.
facilitando a higiene brônquica.(2,6) A HM favorece o des- Quanto às técnicas de retirada de secreção traqueal,
locamento de secreções acumuladas nas vias aéreas e re- um protocolo que consistia de HM + DP + AT aumen-
dução do shunt pulmonar.(6,8-19) Esta técnica, realizada em tou a quantidade (peso) de muco retirado.(9,23) Macken-
pacientes em ventilação espontânea, visa prevenir o colap- zie et al.(16) mostraram que, após realização das manobras
so alveolar, expandir os alvéolos colapsados, melhorar a de higiene brônquica, houve redução de 20% no shunt
oxigenação e a complacência pulmonar, minimizando o intrapulmonar, aumento da Cdin em 14% e melhora das
risco de hipoxemia, além de estimular a tosse no paciente trocas gasosas em até 2 horas após o trabalho fisioterá-
dependente da VM.(9,11,12) Nosso protocolo de estudo foi pico. Hodgson et al.,(9) em 18 pacientes mecanicamente
realizado com a aplicação de duas manobras fisioterapêu- ventilados, mostraram uma maior eliminação de secreção
ticas (VCT e HM). respiratória e um aumento de 30% na Cdin após emprego
Embora a maioria dos autores compare as técnicas iso- da HM, se comparada à AT isolada. Já Unoki et al.(12) não
ladamente, protocolos que agrupem técnicas fazem par- demonstraram diferenças na comparação entre essas duas
te da prática fisioterapêutica das UTI, e têm por objeti- mesmas técnicas em 31 pacientes em VM. Stiller et al.,(22)
vo primário a remoção de secreções respiratórias. Fink(14) em 14 pacientes com atelectasia lobar aguda, demonstra-
estudou, em dez pacientes ventilados mecanicamente, a ram maior eficácia na resolução das atelectasias e melhora
aplicação alternada de técnicas de AT, DP e tapotagem, da oxigenação pelo protocolo que contemplava a associa-
observando melhora da SpO2 e da Rva em todas as sessões ção de DP, VCT, HM e AT, quando comparado ao proto-
realizadas nos quatro dias do estudo. Mackenzie et al.(16) colo com HM e AT.
aplicaram técnicas torácicas manuais em 19 pacientes e No que se refere a variações na hemodinâmica dos pa-
demonstraram aumento da Cdin até 2 horas após o término cientes, Hodgson et al.(9) e Paratz et al.(11) demonstraram
da manobra. Em nosso estudo, o aumento da SpO2 e da redução de 10% da pressão arterial média quando aplica-
Cdin, e a redução da Rva iniciaram logo após a realização das manobras de HM, sem alteração da FC, o que contra-
das manobras e mantiveram-se na hora seguinte. Porém, ria nossos achados.
modificações da mecânica pulmonar não ultrapassaram Ntoumenopulos et al.(23) avaliaram a efetividade clínica
30 minutos.(8,10) da fisioterapia respiratória na prevenção de pneumonia em
Quanto a modificações dos índices de oxigenação, Ba- 60 pacientes dependentes de VM. Pacientes submetidos
rker e Adams(5) em 17 pacientes com síndrome do des- ao protocolo fisioterapêutico tiveram menor incidência de
conforto respiratório agudo, não evidenciaram diferenças pneumonia (39% versus 8%; p = 0,02), porém este estudo
na oxigenação (PaO2) ou na ventilação alveolar (PaCO2) não avaliou os efeitos fisiológicos das manobras. Portanto,
quando comparados três protocolos de atendimento: AT é incerto se a melhora da mecânica respiratória proporcio-
versus AT + DP versus AT + DP + HM. Em nossos pa- nada pela fisioterapia respiratória, como demonstrado em
cientes, medidas da SpO2 demonstraram melhora da oxi- nosso estudo e em anteriores, é causa da melhora clínica
genação imediatamente após o protocolo de fisioterapia ou somente está associada à mesma (por exemplo: pneu-
respiratória, com duração de pelo menos 1 hora. Outros monia associada à VM). Nosso estudo não foi desenhado
autores(20,21) demonstraram dados semelhantes de melhora com esse intuito e não tem poder amostral para avaliar
da oxigenação, porém com duração menos prolongada. desfechos clínicos relevantes (por exemplo: complicações
Poucos estudos(20) avaliaram as modificações da Ppico ou morte), porém foi capaz de demonstrar quais e por
durante e após o tratamento fisioterapêutico. Nossos da- quanto tempo duram as modificações ventilatórias e he-
dos demonstraram redução persistente da Ppico após a rea- modinâmicas provocadas por uma sessão de fisioterapia
lização do protocolo. respiratória. Também salientamos outros pontos negati-
Estudando pacientes com desmame difícil, Hodgson vos: (a) mensuração das variáveis somente nos primeiros
et al.(9) e Maa et al.,(19) em 18 e 23 pacientes respectiva- 60 minutos, o que não permite definir quanto tempo per-
mente, demonstraram melhora da Cest no grupo que re- maneceram as alterações da mecânica ventilatória, (b) uso
alizou HM. Choi e Jones,(15) em 15 pacientes com pneu- de um protocolo de atendimento fisioterapêutico, o que
monia associada à VM, confirmaram que um protocolo não permitiu a avaliação individualizada de cada manobra

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do protocolo e (c) heterogeneidade da amostra estudada CONCLUSÃO


(por exemplo: avaliação de pacientes em diferentes regi-
mes ventilatórios), o que não permitiu a avaliação con- O protocolo fisioterapêutico aplicado foi eficaz em me-
forme o modo ventilatório empregado, conforme a causa lhorar a mecânica respiratória dos pacientes dependentes
da insuficiência respiratória (pacientes hipoxêmicos versus de ventilação mecânica. Salienta-se que esses efeitos foram
hipercápnicos), entre outras. medidos após 60 minutos e permaneciam presentes na
maioria dos pacientes.

ABSTRACT volume (T-1 = 550 ± 134mL versus T0 = 698 ± 155mL; p <


0.001), and peripheral oxygen saturation (T-1 = 96.5 ± 2.29%
Objective: To evaluate the changes in ventilatory mechanics versus T0 = 98.2 ± 1.62%; p < 0.001) were observed, in addition
and hemodynamics that occur in patients dependent on to a reduction of respiratory system resistance (T-1 = 14.2 ±
mechanical ventilation who are subjected to a standard 4.63cmH2O/L/s versus T0 = 11.0 ± 3.43cmH2O/L/s; p <
respiratory therapy protocol. 0.001), after applying the respiratory physiotherapy protocol.
Methods: This experimental and prospective study was All changes were present in the assessment performed one hour
performed in two intensive care units, in which patients (T+1) after the application of the respiratory physiotherapy
dependent on mechanical ventilation for more than 48 hours protocol. Regarding the hemodynamic variables, an immediate
were consecutively enrolled and subjected to an established increase in the heart rate after application of the protocol was
respiratory physiotherapy protocol. Ventilatory variables observed, but that increase was not maintained (T-1 = 88.9
(dynamic lung compliance, respiratory system resistance, tidal ± 18.7 bpm versus T0 = 93.7 ± 19.2bpm versus T+1 = 88.5 ±
volume, peak inspiratory pressure, respiratory rate, and oxygen 17.1bpm; p < 0.001).
saturation) and hemodynamic variables (heart rate) were Conclusion: Respiratory therapy leads to immediate
measured one hour before (T-1), immediately after (T0) and one changes in the lung mechanics and hemodynamics of mechanical
hour after (T+1) applying the respiratory physiotherapy protocol. ventilation-dependent patients, and ventilatory changes are
Results: During the period of data collection, 104 patients likely to remain for at least one hour.
were included in the study. Regarding the ventilatory variables,
an increase in dynamic lung compliance (T-1 = 52.3 ± 16.1mL/ Keywords: Respiratory therapy; Respiration, artificial;
cmH2O versus T0 = 65.1 ± 19.1mL/cmH2O; p < 0.001), tidal Respiratory mechanics

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