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* Diretor do Serviço de Pneumologia e chefe da UTI - Respiratória do Hospital das Clinicas e Professor Doutor do
Curso de Fisioterapia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo- FMUSP
** Médico Assistente da UTI - Respiratória do HC-FMUSP
*** Professor e Médico Assistente de UTI Respirtória do HC-FMUSP
Endereço para correspondência : Rua Cipotânia, 51 - Cidade Universitária - 05360-000 São Paulo, SP.
em terapia intensiva, que justifica o uso de ser obtidos através de equações simples ou
ventilação mecânica é a Síndrome do Descon- podem ser diretamente fornecidos pelo apare-
forto Respiratório Agudo (SDRA). Nesta lho através de software já acoplado.
condição, coexistem áreas do pulmão onde os
alvéolos estão murchos (atelectasias), áreas Propriedades Mecânicas do Sistema
que se encontram preenchidas por líquido Respiratório
(edema alveolar por aumento da permeabilida-
de capilar), ao lado de áreas praticamente nor- As propriedades mecânicas do sistema res-
mais. Obviamente, o fluxo sangüíneo é conti- piratório são definidas pela equação do movi-
nuo pelo pulmão (débito cardtaco-DC) e, nas mento do sistema respiratório relaxado:
áreas lesadas, à medida que o sangue venoso
vai passando, ele não entra em contato com o Pva = 7 ^ VC + Rsr VI + Lr V
ar alveolar (devido às atelectasias ou à
presença de edema - áreas de shunt), gerando
no final uma Pa02 insuficiente. A ventilação Onde:
artificial consegue contrabalançar esse defeito.
Nos últimos anos uma série de modalidades Pva = pressão nas vias aéreas;
ventilatórias foram incorporadas aos respira- Csr = complacência do sistema respiratório;
dores artificiais, com o objetivo de facilitar a VC = volume corrente;
adaptação dos pacientes e também o controle Rsr s resistência do sistema respiratório;
da disfunção respiratória, baseando-se no me- VI • fluxo inspiratório;
lhor conhecimento da fisiopatologia das doen- Isr • inertância do sistema respiratório; e
ças pulmonares. Nessa linha, a utilização, nos V = aceleração.
ventiladores mecânicos, de telas que demons-
tram as curvas de pressão nas vias aéreas, o Pela análise dessa equação podemos en-
fluxo inspiratório e o volume corrente, durante tender como ocorre o movimento do ar através
cada ciclo respiratório, trouxe um enorme do sistema respiratório, enquanto fazemos os
avanço na aplicação da respiração artificial ajustes no respirador, sabendo-se ser a iner-
nas UTIs e propiciou uma linguagem comum tância (análoga da inércia) a medida da ten-
entre os intensivistas, pneumologistas, fisiolo- dência do sistema respiratório em resistir a
gistas, fisioterapeutas etc., envolvidos no estu- mudanças no fluxo aéreo. Nas freqüências
do e na aplicação da ventilação mecânica. respiratórias usualmente alcançadas na venti-
Através da análise desses dados pode detectar- lação mecânica, ou na espontânea, os efeitos
se um mau funcionamento do aparelho, mini- da inertância são desprezíveis. Assim, normal-
mizarem-se os riscos de complicações, além mente ela não é levada em conta nos cálculos
de avaliarem-se diretamente os modos utiliza- de mecânica e a equação fica simplificada, re-
dos. As medidas da Pva, VI e VC permitem o lacionando a pressão total com os seus consti-
cálculo de propriedades fisiológicas básicas tuintes, pressão resistiva e elástica do sistema:
do sistema respiratório, como a complacência
e a resistência, que facilitam a monitorização Pva = Pres + Pel;
e o manejo do doente grave. Os dados podem Pres = VI x Rsr;
Pel = VC/Csr; do ar inspirado e, portanto menor pressão nas
Pva = VI x Rsr + VC/Csr. vias aéreas.
Estudos experimentais em animais têm • FIO2 necessária para uma Pa<>> entre
denxxistrado que o uso de PEEP ligeiramente 60 e 90 mmHg.
acima do primeiro ponto de inflexão da curva Nesta forma de ventilar o paciente,
PxV, associado à ventilação com pequenos notava-se ser a intenção manter uma boa
volumes correntes, diminui o edema e o shunt oxigenação associada a uma boa ventilação
pulmonares, tanto por restringir as forças de alveolar (PaCO2<40mmHg), não existindo
distensão pulmonar como por reduzir as alte- uma preocupação epecífica com os níveis de
rações henxxlinâmicas. Já o uso de PEEP muito pressão atingidos nas vias aéreas. Os únicos
acima de L-Pflex pode diminuir um pouco mais dados, parcialmente observados, eram o risco
o shunt pulmonar, mas leva a uma hiperdisten- de barotrauma e a descompensação hemodinâ-
são pulmonar com graves alterações hernodinâ- mica, secundárias ao aumento da pressão
nücas. Por outro lado, o uso de PEEP abaixo de positiva dentro da caixa torácica. Para corrigir
L-Pflex, mesmo quando associado a baixos uma hipoxemia mais grave, quando uma FIO2
volumes correntes, leva a um grande aumento do igual ou superior a 0,6 era necessária,
shunt pulmonar associado também a um indicava-se, então, o uso da pressão positiva
aumento do edema pulmonar. ao final da expiração (PEEP). Outras duas
O uso de altos volumes correntes e de altas técnicas, também utilizadas com esse fim,
pressões inspiratórias em animais com pulmões eram a introdução da pausa inspiratória
previamente normais resulta em alterações da (manutenção do pulmão armado ao final da
permeabilidade da membrana alvéolo-capilar e inspiração) e/ou incremento do VC (gerando
dano alveolar difuso ("volutrauma e barotrau- mais pressão positiva nas vias respiratórias).
ma), semelhante às alterações encontradas em Estudos experimentais recentes têm de-
modelos experimentais da SDRA. Essa lesão monstrado que a utilização de altos volumes
também depende do estado de abertura dos correntes (10 a 15 mL/Kg) e altas pressões
alvéolos, isto é, pulmões ventilados com o PEEP inspiratórias nas vias aéreas (Pva>35cmH 0),
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abaixo do ponto de inflexão estariam submetidos podem, por si só, gerar lesões pulmonares
a um nível de estiramento na abertura e graves, talvez até mais importantes do que a
fechamento alveolares mais exacerbados toxidade pelo O2. Essas se caracterizam pelo
aumento da permeabilidade vascular, pelo A escolha do PEEP ideal tem, ainda, sido
extravazamento de hemácias e pela infiltração alvo de várias pesquisas. Na UTI-Respiratória
de granulócitos e deposição de membranas temos feito a escolha, baseando-se na curva
hialinas no espaço alveolar. Este quadro pressão x volume (Figura 2). Devido à lesão
anatomopatológico é semelhante ao descrito alveolar existente, ocorre uma "pressão crítica
para a SDRA, ou seja, o próprio método de colabamento" dos alvéolos, assim, à
usado para o tratamento pode agravar ou medida que insuflamos volumes progressivos
perpetuar a lesão. de ar, vamos obtendo os correspondentes
Assim, atualmente, temos preconizado., as valores de pressão, ou usamos a técnica do
situações de SDRA em que a troca gasosa fluxo contínuo e de 1 L/min. Dessa forma,
estiver bastante comprometida ((PaCty temos encontrado, na maioria dos casos, um
FIO2<200), a utilização de VC de 4 a 7 mL/Kg. nítido L-Pflex e temos indicado a aplicação de
A menor eliminação de CO2 (devi- do ao menor PEEP 1 a 2 cm acima.
VC) pode ser parcialmente contrabalançada Em pacientes com SDRA quando o ponto
pela elevação da FR (mantendo-se abaixo de de inflexão não for encontrado indica-se a
20/min), porém admite-se a ocorrência de aplicação de PEEP de pelo menos 10 cmf^O.
hipercapnia PaC(>2 até 80rnmHg - (hipercapnia Em indivíduos portadores de insuficiência
permissiva). Dessa forma, temos valorizado respiratória, mas com o parênquima pulmonar
bastante a máxima Pva, não dei-xando que o pouco comprometido (por exemplo, na doença
pico ultrapasse os 35 cmr^O. Para isso neuromuscular), em uso de ventilação
usamos, muitas vezes, o modo "pressão mecânica, um mínimo valor de PEEP deve ser
controlada". Uma das justificativas, para o mantido para garantir uma estabilização dos
uso de VC maiores, seria a profilaxia do alvéolos e prevenir a formação de microatelec-
colapso alveolar, embora esta condição possa tasias. Esse é o chamado "PEEP fisiológico" e
ser eficientemente evitada com o uso de PEEP. seu valor deve ser de 3 a 5 cmr^O.
ABSTRACT: This paper presents the concepts and principles of mechanical ventilation with special
interest in the new modalities and its application in patients with respiratory failure. It also discusses the
mechanical ventilation in acute respiratory distress syndrome (ARDS) based on the new concepts obtained
in recent clinical and experimental works. The use of low tidal volumes (4 to 7 ml/kg) and the application
of positive end expiratory pressure (PEEP) according to the low-infection point in the pressure X volume
curve of the respiratory system.