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EBOOK PARA MÉDICOS

MedWeek Sanar Pós | 2ª edição

Guia para Médicos na UTI: Conceitos e Aplicação


Olá, doutor(a)!
Este material foi preparado pela Sanar Pós especialmente
para você, participante da 2ª edição da MedWeek Sanar
Pós - Medicina de Emergência e Terapia Intensiva.

Esperamos que este ebook, assim como as aulas da


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MedWeek Sanar Pós | 2ª edição


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 02
CONCEITOS 02
VOLUMES VENTILATÓRIOS 03
PRESSÃO NAS VIAS AERÉAS 04
CURVAS 05
CICLO VENTILATÓRIO 09
MODALIDADES VENTILATÓRIAS 17
DESMAME DA VENT. MECÂNICA 21
INDICAÇÃO DE TRAQUEOSTOMIA 26
APLICANDO NA PRÁTICA 27
PARA AJUDAR A FIXAR 28
REFERÊNCIAS 29

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INTRODUÇÃO
Para começar, é necessário ter em mente qual é a função dos pul-
mões.
A sua principal função é realizar a troca gasosa de oxigênio e gás
carbônico. Para que isso aconteça, é preciso que dois processos ocor-
ram, são eles:
Troca gasosa
Ventilação

A ventilação mecânica (VM) vai ocorrer através da utilização de


aparelhos que, de forma intermitente, irão insuflar as vias respiratórias
com volumes de ar (volume corrente - VT).
Há dois tipos de ventilação mecânica: a por pressão negativa, onde
o movimento do gás para dentro dos pulmões se dá devido à geração
de um gradiente de pressão entre as vias aéreas superiores e o alvéo-
lo; e a ventilação por pressão positiva, onde um equipamento
aumenta a pressão da via aérea proximal.

CONCEITOS
Aqui nesse material serão comentados apenas os aspectos que
estão relacionados à ventilação por pressão positiva, pois na prática
ela possui maior aplicação clínica. Na ventilação mecânica controla-
mos a concentração de O2 (FIO2), que é necessária para se conse-
guir uma taxa arterial de oxigênio (pressão parcial de oxigênio no
sangue arterial - PaO2) adequada. Além disso, também controlamos
a velocidade com que o ar será administrado (que é denominado
fluxo inspiratório), e, por último, definimos a forma da onda de
fluxo.

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VOLUMES VENTILATÓRIOS
VOLUME CORRENTE (Vt)
O volume corrente é o principal parâmetro analisado na VM. Esse
volume pode ser inspirado ou expirado e sua relevância maior se dá
quando, ao examinarmos o volume expirado, avaliamos se há ventila-
ção adequada no paciente entubado. Quando há falhas no circuito, o
volume corrente expirado é muito diferente do inspirado, o que indica,
por exemplo, vazamentos.

!
DICA

O índice de respiração rápida superficial (índice de Tobin) é derivado do


Volume Corrente. Ele é calculado a partir do quociente entre frequência
respiratória e volume corrente (FR/Vt). Um índice de Tobin menor ou
igual a 100 respirações/min/L é indicativo de sucesso na extubação.

FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA
A frequência respiratória é definida como a quantidade de ciclos
ventilatórios que são realizados em um minuto. Ela é estabelecida de
acordo com a demanda real do paciente, a necessidade esperada de
oxigenação e ventilação, além do impacto resultante na relação l:E
(divisão do tempo inspiratório pelo tempo expiratório).

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VOLUME-MINUTO
O volume-minuto é resultado do seguinte produto: Vt x FR, e
significa o volume de ar ventilado em 1 minuto; como o volume-mi-
nuto representa a ventilação pulmonar, tem relação direta com o CO2
alveolar e arterial (PaCO2). Ele também está associado com os esto-
ques corporais de CO2.

PRESSÃO NAS VIAS AÉREAS

PEEP
Ao final da expiração fisiológica, o ar não é todo expulso dos pul-
mões. Parte dele não é expirada: a esse volume de ar damos o nome
de volume residual. Esse volume é garantido pela ação das pregas
vocais e ocorre de forma fisiológica em ventilação espontânea. O
volume residual impede o colabamento dos alvéolos e gera uma
pressão residual fisiológica nas vias aéreas.

Em pacientes que estão em ventilação mecânica e intubação en-


dotraqueal a glote é incapaz de manter essa pressão expiratória, de
forma que o ventilador se torna responsável por gerar a pressão
expiratória final positiva (PEEP).

Ppico
A pressão de pico é a pressão máxima que o ventilador mede,
que pode ou não corresponder à pressão alveolar. Isso irá depender
da resistência do sistema. Uma Ppico muito elevada aumenta o risco
de barotrauma.

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Pplatô
A pressão de platô é a pressão alveolar estabilizada. Geralmente,
valores de pressão de pico de 40 cmH2O e de pressão de platô de 30
cmH2O são considerados valores de risco para barotrauma.

Auto-PEEP
A auto-PEEP ocorre quando há um represamento de ar, com
aumento das pressões pulmonares, gerando assim a pressão maior
que a PEEP desejada. Quando não há tempo expiratório suficiente
para esvaziar o ar inspirado, ocorre aprisionamento de ar e aumento
da auto-PEEP, o que pode resultar em instabilidade hemodinâmica e
redução no volume corrente com aumento progressivo das pressões.

CURVAS

Existem várias maneiras de monitorizar a função pulmonar. Monito-


rizar significa criar critérios que possam indicar limites ou mostrar de
forma gráfica um evento, com o objetivo de auxiliar na decisão clínica.
Por isso, a função da monitorização é identificar a causa da patologia,
compreender a gravidade e acompanhar a resposta a tratamentos ou
a sua evolução.

Existem muitos parâmetros que analisam a função pulmonar. Além


de números, existem representações gráficas que são de grande rele-
vância.

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PRESSÃO-TEMPO
A curva pressão-tempo pode aparecer em formato mais apicula-
do, o que indica uma ventilação volume-controlada, ou em formato
quadrado, indicando ventilação pressão-controlada.

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

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FLUXO-TEMPO
Outra curva importante é a fluxo-tempo. Existem vários tipos de
curvas fluxo-tempo, mas a curva reversa é a mais fisiológica, pois per-
mite melhor distribuição do gás no alvéolo e menos necessidade de
ar. Na fase expiratória, o pico expiratório baixo indica sinais de obstru-
ção, assim como a demora para retornar à linha basal, o que também
pode demonstrar a formação de auto-PEEP.

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

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VOLUME-TEMPO
A principal função da curva volume-tempo é avaliar a perda de
volume ou seu represamento, o que pode indicar a formação de
auto-PEEP ou então uma falha no circuito. Outra característica da
curva volume-tempo é que é possível identificar vazamento, como na
figura a seguir, quando a curva não retoma ao seu ponto inicial.

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

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CICLO VENTILATÓRIO

CICLO VENTILATÓRIO

Fase O ventilador fornece a entrada de gás para os


1 pulmões; a válvula inspiratória está aberta e a
inspiratória expiratória está fechada.

Aqui é a fase de transição entre a fase inspiratória e a


expiratória. O oposto da fase 1 ocorre: há fechamento
2 Ciclagem da válvula inspiratória e abertura da válvula expiratória.

Agora que a válvula expiratória se encontra aberta e a inspiratória


3 Fase fechada, a pressão do sistema respiratório é equilibrada com a
pressão expiratória final definida no ventilador (PEEP), resultando
expiratória na saída de gás dos pulmões, que irá para o ventilador.

Por fim temos a abertura da válvula inspiratória e a


4 Disparo válvula expiratória fechada. Assim, temos o início de
uma nova fase inspiratória, reiniciando o ciclo.

O ciclo ventilatório durante a ventilação mecânica com pressão


positiva pode ser dividido em 4 fases, descritas na tabela a seguir:

ANALISANDO OS GRÁFICOS DA
VENTILAÇÃO MECÂNICA

CURVAS DE FLUXO

O fluxo é medido diretamente pelo ventilador. O fluxo iniciará nos


modos controlados depois de determinado tempo (o qual depende da
FR ou da relação inspiração:expiração - TI/TE) ou através de um limite
de sensibilidade (trigger ou disparo) que foi pré-estabelecido.

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A forma da onda de fluxo pode ser alterada no ventilador diretamen-
te ou indiretamente, dependendo do modo ventilatório escolhido. Mais
à frente nesse material, os diferentes modos ventilatórios serão descri-
tos. Abaixo, são demonstrados alguns exemplos de curva de fluxo.

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

!
DICA

As formas mais utilizadas na prática clínica são a quadrada, permite a


realização da monitoração da mecânica respiratória, proporciona uma
melhor distribuição do ar inspirado.

DISPARO DO VENTILADOR
Na ventilação mecânica, é preciso que uma variável que é pré-deter-
minada seja atingida para iniciar a inspiração. Na ventilação controlada,
essa variável é o tempo: ela não depende do esforço do paciente. Nos
modos ventilatórios que permitem ciclos assistidos e espontâneos, a
inspiração inicia quando é alcançado um nível de pressão ou fluxo
pré-determinado.
Quando o disparo se der pela pressão, o ventilador vai detectar uma
queda na pressão das vias aéreas que ocorre devido ao esforço

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do paciente. Isso pode iniciar a inspiração se a pressão negativa reali-
zada ultrapassar o limiar de pressão para o disparo ou pode não dispa-
rar o ciclo. Caso a pressão negativa não atinja este limiar, haverá
apenas um maior trabalho respiratório e dissincronia. Esse limiar é
selecionado pelo operador no ventilador.
Já o disparo por fluxo envolve o uso de um fluxo inspiratório que é
basal e contínuo. Quando a diferença entre o fluxo inspiratório e o
expiratório alcança um certo limite de sensibilidade, a válvula inspira-
tória é aberta e um novo ciclo ventilatório se inicia.

Observe na imagem os gráficos do disparo do ventilador por


pressão e fluxo:

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

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CURVAS DE PRESSÃO
A pressão é medida pelo ventilador de forma direta, através de
transdutor que fica instalado próximo ao tubo endotraqueal.
Durante a ventilação espontânea, fisiológica, no momento da inspi-
ração ocorre a contração da musculatura inspiratória, o que vai resultar
em uma queda da pressão nos alvéolos/vias aéreas, com o objetivo de
que seja gerado o fluxo inspiratório. Isso está representado no gráfico
a seguir:

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

Por outro lado, durante a ventilação assistida, a contração da mus-


culatura depende da demanda metabólica do paciente, concedendo a
queda de pressão no circuito e, de acordo com a sensibilidade ajusta-
da, irá proporcionar a abertura da válvula (disparo), provocando um
pico de fluxo inspiratório, aumentando de forma progressiva a pressão
no sistema respiratório do paciente. Na expiração, ocorre o contrário:
como a pressão no sistema está alta, a abertura da válvula expiratória
acarreta a saída do volume corrente de forma passiva.

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Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

Na ventilação espontânea, a pressão intratorácica é negativa na


inspiração e positiva na expiração. Já na ventilação mecânica, a pres-
são nas vias aéreas é mantida positiva durante todo o ciclo (desde que
se use uma PEEP).

À medida que o fluxo de ar penetra o sistema respiratório, eleva-se


a pressão inspiratória, pois essa pressão é essencial para vencer dois
componentes: o componente resistivo (1), devido à resistência ao fluxo
de ar passando pelas vias aéreas; e o componente elástico (2), oriundo
da distensão dos pulmões e da parede torácica.
Estes dois componentes da pressão inspiratória são demonstrados
no gráfico abaixo. Quando um determinado volume é fornecido com
fluxo constante até determinado ponto (observe no número 1 do
gráfico), ocorre uma interrupção do fluxo (pausa inspiratória) que de-
termina a pressão de platô (representada pelo número 2 do gráfico).

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Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

O primeiro ponto (1) está representando o pico de pressão (PPI) nas


vias aéreas, que sofre interferência tanto do fluxo (Pres = pressão resis-
tiva) como da variação de volume (Pel = pressão elástica). E o segundo
ponto (2) está demarcando a pressão de platô (PPLATÔ) das vias
aéreas, que significa a pressão de equilíbrio do sistema respiratório, na
ausência de fluxo.

Se não existe fluxo, então não existe o componente de resistência


das vias aéreas. Na circunstância de fluxo zero, ou seja, durante a
pausa inspiratória, a pressão resistiva é zero e a pressão observada no
sistema (pressão de platô) corresponde à pressão elástica do sistema
respiratório (diferença entre a PPLATÔ e a PEEP).

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SENSIBILIDADE E TEMPO DE RESPOSTA
DO VENTILADOR

Quando o disparo é determinado pelo paciente há um intervalo


entre o início da deflexão negativa da pressão e o início do fluxo inspi-
ratório. Este intervalo é denominado de "tempo de resposta do ven-
tilador". Este tempo depende de alguns fatores, que são a sensibilida-
de da válvula inspiratória do ventilador e a capacidade do ventilador
em gerar o fluxo.

Quando o tempo de resposta do ventilador é elevado, o paciente


necessita fazer um esforço acima do necessário até que o fluxo se
inicie, o que gera mais trabalho respiratório, resultando em dissincro-
nia paciente-ventilador. Em geral, a responsividade é aceita quando
está abaixo de 150 milissegundos.

Fonte: https://doi.org/10.1590/S1806-37132007000800002.

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CURVAS DE VOLUME

Ao analisar o gráfico de volume em sua porção ascendente, temos o


volume pulmonar inspirado e, em sua curva descendente, o volume
pulmonar total expirado.
Os volumes devem ser iguais. Caso não sejam, estará ocorrendo: (1)
vazamento, (2) desconexão do circuito ou (3) aprisionamento aéreo.
Ao lado temos o gráfico representando a curva de volume.

Fonte: https://doi.org/10.1590/S180637132007000800002.

CURVAS DE FLUXO, PRESSÃO E VOLUME


EM FUNÇÃO DO TEMPO

De forma individual, as curvas de fluxo, pressão e volume são


importantes. Todavia, podemos utilizar e completar melhor as curvas
quando estão associadas.

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Fonte: https://doi.org/10.1590/S180637132007000800002.

MODALIDADES VENTILATÓRIAS

Após todos esses conceitos, estamos aptos a entender como operar


o ventilador mecânico de fato. E é aí que entram as modalidades venti-
latórias. Tudo começa com os parâmetros que colocamos no ventilador.

Existem parâmetros que independem do modo ventilatório escolhi-


do. Eles podem ser utilizados em qualquer situação. Por outro lado, há
parâmetros que dependem do modo selecionado. No esquema a
seguir esses parâmetros são mostrados:

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INDEPENDENTE DO MODO

FiO2
Sensibilidade
Alarmes
PEEP

A DEPENDER DO MODO

Frequência respiratória (FR)


Volume corrente (VC)
Relação I:E (divisão do tempo inspirartório pelo
tempo expiratório) ou o Tempo inspiratório (Tins)
Pressão
Fluxo

VENTILAÇÃO CONTROLADA

Esse é o modo de menor interação entre paciente e ventilador. A


frequência respiratória, o volume corrente (ou pressão inspiratória), a
relação I:E e o fluxo são definidos totalmente pelo aparelho. Nesse
modo o aparelho ignora os esforços do paciente e as respirações me-
cânicas são fornecidas de acordo com os parâmetros definidos no
ventilador.

Esse modo é utilizado quando o paciente não realiza nenhum esfor-


ço respiratório (ou praticamente nenhum), como durante uma aneste-
sia ou uma sedação profunda.

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VENTILAÇÃO ASSISTO-CONTROLADA
Já nesse modo, os esforços inspiratórios podem ser detectados e
deflagrar disparos do ventilador e, portanto, o início da inspiração.

O aparelho pode detectar os esforços inspiratórios de duas formas:

Baseado em pressão: quando o paciente realizar um esforço inspi-


ratório, será gerada uma pressão negativa no circuito que, ao atingir
um valor definido no aparelho, desencadeia o disparo.

!
DICA

Alguns fatores podem levar a maiores atrasos entre o esforço inspiratório


e a detecção da variação de pressão, atrasando o disparo. Podemos citar
como exemplo a presença de aprisionamento aéreo/autoPEEP, a qual
requer grande esforço do paciente para equalizar as pressões das vias
aéreas. Outro desses fatores é a distância entre o sensor e as vias aéreas,
a qual pode atrasar a transmissão de pressão do paciente ao ventilador.
Isso é relevante pois pequenos atrasos nessa transmissão podem causar
grande gasto energético e desconforto desses pacientes.

Baseado em fluxo: o aparelho irá manter um fluxo constante de ar


da alça inspiratória para expiratória, e quando o paciente realizar um
esforço inspiratório, o fluxo será desviado para os pulmões e uma
diferença entre as alças será percebida.

VENTILAÇÃO MANDATÓRIA INTERMITENTE E


VENTILAÇÃO MANDATÓRIA INTERMITENTE
SINCRONIZADA (IMV E SIMV)

A ventilação mandatória intermitente é caracterizada pela associa-


ção entre um número de ventilações controlada mandatórias e ventila-
ções espontâneas intermitentes, podendo ser assistidas ou não pelo
aparelho.

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VENTILAÇÃO ESPONTÂNEA COM PRESSÃO
DE SUPORTE
Modo espontâneo de ventilação à pressão, no qual o aparelho
assiste ao paciente com um valor de pressão positiva na inspiração,
gerando fluxo inspiratório e entrada do gás. Com o aumento do
volume pulmonar durante a inspiração, ocorre aumento também da
pressão de retorno elástico, diminuindo assim, de forma progressiva, o
fluxo inspiratório até gere a abertura da válvula expiratória e o início da
expiração.

Dessa forma, é um modo assistido. Esse é um modo utilizado nos


pacientes que estão acordados e para desmame ventilatório. Nele é
possível que ocorra a assincronia expiratória, ou seja, o aparelho conti-
nua ofertando fluxo inspiratório mesmo após cessação de uso da
musculatura inspiratória.

VENTILAÇÃO MECÂNICA NÃO INVASIVA (VNI)

A VNI envolve todos os modos de suporte ventilatório com pressão


positiva que podem ser oferecidos sem que haja a necessidade de
prótese endotraqueal ou cânula de traqueostomia. Exemplos de VNI
são as máscaras faciais e as nasais. Essa modalidade é utilizada em
situações como a exacerbação da DPOC, edema pulmonar agudo
cardiogênico, doenças da caixa torácica e apneia do sono. As suas
contraindicações são rebaixamento do nível de consciência, vômitos/
secreções abundantes, inabilidade de proteger adequadamente as
vias aéreas e choque circulatório.

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DESMAME DA VENTILAÇÃO
MECÂNICA

A ventilação mecânica é fundamental na manutenção das trocas


gasosas e da vida em pacientes com insuficiência respiratória aguda.
Porém, quanto mais tempo se utiliza, maiores serão as complicações
associadas.

As principais complicações que a VM gera são pneumonia associa-


da ao ventilador, lesão pulmonar induzida pela ventilação, trauma de
vias aéreas, uso excessivo de sedativos, complicações hemodinâmicas
e fraqueza muscular. Tudo isso leva ao aumento da morbidade e mor-
talidade, do tempo de internação e, como consequência, dos custos
hospitalares.

No entanto, retirada prematura do suporte ventilatório invasivo


também traz prejuízos ao paciente, aumentando o risco de reentuba-
ção, além de aumento da morbidade e mortalidade. Dessa forma, é
muito importante que se estabeleçam estratégias que tenham como
objetivo reduzir a duração da ventilação mecânica sem que haja
aumento do risco de reentubação.

CRITÉRIOS PARA O INÍCIO DO DESMAME


DA VENTILAÇÃO MECÂNICA

Para que o desmame da ventilação mecânica seja realizado com


sucesso, é necessário que haja a recuperação do evento que levou à
falência respiratória.

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Por isso, é de extrema importância que seja realizada uma avaliação
clínica frequente para a determinação exata do momento no qual o
paciente estará pronto para iniciar a retirada do suporte ventilatório e,
posteriormente, poderá ser extubado.

Os critérios usados para decidir se um paciente consegue aguentar


a retirada do suporte ventilatório ainda não estão bem definidos. Nor-
malmente, é feito o uso de combinações de critérios subjetivos e
objetivos para avaliação dos sistemas respiratório, cardiovascular,
neurológico, além do equilíbrio acidobásico, da presença de distúrbios
eletrolíticos e, em algumas situações, da força muscular. A presença de
todos os critérios não é suficiente para a extubação, mas sugere que
esse paciente possui uma estabilidade clínica, que é o primeiro passo
para o início do desmame.

Posteriormente, é necessária uma avaliação mais específica antes


de decidir pela descontinuação da VM e pela extubação. Um dos
índices preditores para sucesso no desmame é o Índice de Tobin, em
que a frequência respiratória (FR) é dividida pelo volume corrente (Vt).
Em um resultado onde a FR/Vt ≥ 105 ipm/L, considera-se que houve
fracasso no desmame ventilatório.

TESTE DE RESPIRAÇÃO ESPONTÂNEA (TRE)

Após atestar que um paciente se encontra apto para o desmame da


VM, com os índices preditores, como o índice de Tobin indicando o
sucesso do processo, deve-se iniciar o teste de respiração espontânea
(TRE).

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O teste de respiração espontânea é realizado permitindo que o
paciente ventile de forma espontânea através do tubo endotraqueal,
conectado a uma peça em forma de “T”, com uma fonte enriquecida
de oxigênio, ou colocando-o em ventilação com pressão de suporte
(PSV).

O TRE dura normalmente de 30 a 120 minutos. A suplementação de


oxigênio deve ser feita com uma FIO2 de até 0,4, não devendo ser
aumentada durante o processo de desconexão. Os parâmetros que
indicam insucesso e necessidade de interrupção do teste são:

FR > 35 irpm;
SatO2 < 90%;
FC 20% > ou < em relação ao basal
PAS >180 mmHg ou < 90 mmHg;
Agitação, sonolência, ansiedade, sudorese
e/ou uso de musculatura acessória

É considerado que houve sucesso no TRE, quando o paciente que


consegue manter o padrão respiratório, troca gasosa, estabilidade
hemodinâmica e conforto. Esse paciente está apto para a retirada do
suporte ventilatório e para a extubação.

A falência da extubação pode ocorrer não só por incapacidade do


paciente de satisfazer suas demandas ventilatórias, mas também por
incapacidade de proteger as vias aéreas superiores e manipular de
forma adequada as secreções, ou até por alguma obstrução de vias
aéreas superiores, o que torna necessária uma avaliação cuidadosa
antes da extubação, mesmo após o paciente tolerar o teste de ventila-
ção espontânea.

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A capacidade de proteger as vias aéreas, eliminar secreções e a pre-
sença de tosse efetiva são vitais para o sucesso da extubação.

Por isso, quando pacientes apresentam tosse ineficaz e secreção


abundante ou que seja espessa, é preciso que se leve em considera-
ção a possibilidade de postergar a extubação, mesmo nos pacientes
que toleraram o TRE.

Após a extubação do paciente, é definido fracasso de extubação


quando existe a necessidade de reinstituir a via aérea artificial. A rein-
tubação é considerada precoce quando ela ocorre em menos de 48
horas.

Dependendo do grau de dificuldade e duração do processo de


desmame ventilatório, este pode ser classificado em três tipos:

1 - Desmame simples: é definido como uma interrupção da


ventilação mecânica sem necessidade de retorno para VMI em até
48h após o primeiro TRE;

2 - Desmame difícil: refere-se aos casos em que são necessá-


rios até três TRE ou tempo de VMI de até 7 dias após o primeiro
TRE;
3 - Desmame prolongado: são aqueles nos quais ocorrem
falhas em mais de três TRE ou paciente permanece em VMI por
mais de 7 dias após o primeiro TRE.

As causas geralmente associadas a um desmame difícil são:


a) Doença neuromuscular;
b) Doença clínica grave, determinando disfunção de múltiplos
órgãos;
c) Doença cardiorrespiratória preexistente, descompensada por cirur-
gia ou por doença aguda;

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MANEJO DOS PACIENTES QUE FALHAM NO
TESTE DE VENTILAÇÃO ESPONTÂNEA

A falência no teste de ventilação espontânea pode ser causada por


alterações na mecânica do sistema respiratório, broncoespasmo, fra-
queza muscular congestão pulmonar, ansiedade, controle inadequado
da dor, distensão abdominal ou uso excessivo de sedativos.

A principal causa de intolerância ao teste é o desequilíbrio entre a


demanda e a capacidade ventilatória, resultante de alterações na me-
cânica respiratória, tornando, desse modo, imprescindível a procura e
o tratamento de qualquer outra causa que possa interferir no desma-
me.

Sugere-se que um novo teste de ventilação espontânea seja reali-


zado somente após um intervalo de pelo menos 24 horas. O intervalo
deve ter essa duração mínima pois os pacientes que falham no teste
frequentemente desenvolvem fadiga muscular, de forma que necessi-
tam de pelo menos 24 horas para recuperação. Ademais, a realização
do TRE por duas ou mais vezes ao dia não tem vantagem sobre a
realização de um único teste por dia, levando apenas ao desperdício
de recursos e aumentando o risco de surgimento de fadiga muscular.

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INDICAÇÃO DE TRAQUEOSTOMIA NOS PACIENTES
DEPENDENTES DE VM

A traqueostomia é realizada em pacientes que estão em ventilação


mecânica prolongada. Dentre seus benefícios podemos citar: maior
conforto, maior facilidade na aspiração de secreções, maior mobilida-
de do paciente, acesso mais seguro à via aérea; permite a possibilida-
de de articular a fala e de se alimentar por via oral e há menor necessi-
dade de sedação. Essas vantagens podem resultar em um desmame
mais rápido e com menos complicações.

Pacientes que podem se beneficiar da realização da traqueostomia


precoce são:
- Os que necessitam de níveis elevados de sedação para tolerar o
tubo traqueal;
- Que possuem lesões neurológicas graves;
- Aqueles com mecânica respiratória limítrofe, na qual a redução da
resistência das vias aéreas pode reduzir a sobrecarga dos músculos
respiratórios;
- E os pacientes que podem apresentar benefícios psicológicos em
se comunicar melhor, ter maior mobilidade e alimentar-se por via oral.

Com relação aos riscos, a traqueostomia é considerada um procedi-


mento seguro.

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APLICANDO NA PRÁTICA
AJUSTES INICIAIS
Para o início da VMI, após a intubação orotraqueal, devemos optar
entre os dois principais modos assistidos-controlados utilizados na
prática: VCV ou PC. Os parâmetros gerais são mostrados na figura a
seguir:

(VCV)
FiO2 100% VC: 420mL
(6mL/kg)

PEEP
FR 12 ipm
5cmH2O

(PCV)
RELAÇÃO
P: 12cm
I : E 1 : 2-1 : 3
H2O

LEGENDA
- VCM: VENTILAÇÃO CONTROLADA A VOLUME
- PCV: VENTILAÇÃO CONTROLADA A PRESSÃO
- VC: VOLUME CORRENTE
- P: PRESSÃO (PMÁX- PEEP)

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PARA AJUDAR A

FIXAR

Curva Curva Curva Curva Pressão Pressão


PEEP
Ascendente Quadrada Sinusoidal Descendente de Pico d e Va p o r

C U R VA C U R VA
F L U X O -T E M P O P R E S S Ã O -T E M P O

C U R VA VENTILAÇÃO CICLO F A S E E X P I R AT Ó R I A
V O L U M E -T E M P O MECÂNICA V E N T I L AT Ó R I O

FIO2 100%
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SENSIBILIDADE

MedWeek Sanar Pós | 2ª edição 28


REFERÊNCIAS
1. Azevedo, Luciano César Pontes de; Taniguchi, Leandro Utino;
Ladeira, José Paulo; Martins, Herlon Saraiva; Velasco, Irineu Tadeu;
Azevedo, Luciano César Pontes de; Taniguchi, Leandro Utino; Ladeira,
José Paulo; Martins, Herlon Saraiva; Velasco, Irineu Tadeu (eds). Medi-
cina intensiva: abordagem prática [3ed.]. BARUERI: Manole, 2018.
1156p.

2. Carvalho, Carlos Roberto Ribeiro de; Toufen Junior, Carlos; e


Franca, Suelene Aires. Ventilação mecânica: princípios, análise gráfica e
modalidades ventilatórias. Jornal Brasileiro de Pneumologia [online].
2007, v. 33, suppl 2, pp. 54-70. Disponível em: <https://doi.or-
g/10.1590/S1806-37132007000800002>. Acesso em jul. 2021.

3. CORDEIRO, Andre Luiz Lisboa. Manual de Ventilação Mecânica


nas Afecções Virais. Editora Sanar, 1ª edição, 2020, 352p.

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