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E MONITORIZAÇÃO ESTÁTICA
Marcelo Farani López
Leonardo Pamponet Simões
Bruno Prata Martinez
INTRODUÇÃO
A mensuração e o entendimento da mecânica respiratória pelo fisioterapeuta e pela equipe de
saúde são importantes para o conhecimento mais preciso das possíveis alterações da função
respiratória, decorrentes de alterações do estado de saúde ou da modificação da posição
corporal.
Além dessa informação pontual e temporal acerca das cargas mecânicas do sistema respiratório,
esse conhecimento pode servir para nortear a adoção de determinadas condutas terapêuticas e
avaliar os efeitos de tais intervenções.
Por definição, a monitorização da mecânica respiratória equivale ao estudo e à análise das
forças que agem sobre o sistema respiratório. De forma geral, identificam-se três pressões que
agem no sistema respiratório e influenciam o processo de ventilação:
OBJETIVOS
Ao final da leitura deste artigo, espera-se que o leitor seja capaz de:
ESQUEMA CONCEITUAL
FISIOLOGIA DO SISTEMA RESPIRATÓRIO
A fisiologia e a biomecânica do sistema respiratório têm íntima relação com a atuação
da musculatura respiratória, contrapondo-se às cargas mecânicas do sistema respiratório. Essa
combinação envolve a integração dos sistemas:1
nervoso;
osteomioarticular;
vascular;
cardiorrespiratório.
O sistema respiratório é composto pelas vias aéreas, pelos pulmões, pelo arcabouço torácico,
pelos músculos respiratórios, além das estruturas adjacentes. Cada componente, isoladamente,
interfere na mecânica ventilatória, porém, durante a avaliação à beira do leito, entende-se o
sistema respiratório como um único compartimento, em que a mensuração estática da mecânica
pulmonar identifica as características de todo esse conjunto.2
diafragma;
músculos do gradil costal (incluindo os músculos intercostais, escalenos e
acessórios da respiração);
músculos abdominais.
Outros músculos localizados na região da cintura escapular e da coluna cervical podem auxiliar
na elevação das costelas, como os músculos peitoral maior, peitoral menor, trapézio, serrátil
anterior e esternocleidomastóideo.5
Na ventilação pulmonar, o movimento de fluidos é determinado pela lei de Poiseuille. Portanto,
para que exista fluxo aéreo da atmosfera até os alvéolos, é necessário que ocorra diferença de
pressão entre esses pontos na fase inspiratória, sendo dependente do raio (r), do comprimento
das vias aéreas (L) e da viscosidade do gás (η).
Equação de Poiseuille:
de parênquima pulmonar;
de parede torácica.
Essa elastância é inversamente proporcional à complacência. A complacência pode ser definida
como a grandeza obtida pela divisão do volume pulmonar pela pressão elástica do sistema
respiratório.1
Outra importante variável a ser descrita é a constante de tempo do sistema
respiratório (Tsr), a qual pode ser definida como o tempo necessário para aerar
completamente o pulmão. Pode ser obtida pela multiplicação da complacência pela resistência.
A literatura descreve as seguintes equivalências:
Assim, para preencher este pulmão em mais de 99% são necessárias aproximadamente 5Tsr, o
que equivale a 1,0 segundo de tempo inspiratório.
PRESSÕES RESPIRATÓRIAS
Algumas pressões relacionadas ao pulmão, à caixa torácica e à superfície corporal são de
extrema relevância para o entendimento da mecânica respiratória. Para que ocorra a entrada de
ar no sistema respiratório, é necessário que a pressão transpulmonar seja maior do que zero, o
que pode ser obtido pelo aumento da pressão alveolar (Palv) (por meio da aplicação de pressão
positiva externa), ou pela negativação da Ppl (por meio da contração dos músculos
inspiratórios).7
A pressão relacionada à caixa torácica é denominada pressão transtorácica, a qual é obtida
por meio da diferença entre a Ppl e a pressão de superfície corporal (Psc). Por sua vez, a
pressão do sistema respiratório (Psr), denominada pressão transrespiratória, corresponde à
soma das pressões transpulmonar e transtorácica (Palv – Psc ou atmosférica). Essa
fundamentação é importante, pois o pulmão e a caixa torácica apresentam forças opostas em
certos níveis da capacidade pulmonar total. Entretanto, essas forças equilibram-se próximo a
35% da capacidade vital, ponto denominado capacidade residual funcional.8
Onde: Palv = pressão alveolar; Ppl = pressão pleural; Psc = pressão da superfície corporal;
Psr = pressão do sistema respiratório
A estrutura do sistema alveolar, da caixa torácica e da superfície corporal com as pressões
respiratórias relacionadas pode ser vista na Figura 1, a seguir.
Figura 1 – Estrutura do sistema alveolar, da caixa torácica e da superfície corporal com as
pressões respiratórias relacionadas.
Palv = pressão alveolar, Ppl = pressão pleural; Psc = pressão da superfície corporal; Pva =
pressão nas vias aéreas.
Fonte: Adaptada de Lucangelo e colaboradores (2008).8
Onde: PEEP = pressão positiva ao final da expiração; Pelas = pressão elástica do pulmão-caixa
torácica; Pmus = pressão muscular; Pres = pressão resistiva das vias aéreas; Pvent = pressão
do ventilador; VC = volume corrente
Nos pacientes submetidos à VM, a pressão gerada pelo ventilador e pelo paciente varia em
diversas proporções, dependendo da condição do paciente e do modo de ventilação,
determinando o fluxo e o volume que o paciente recebe.
Por exemplo, um paciente sem drive respiratório não apresenta Pmus e, portanto, toda força é
gerada pelo ventilador (Pvent). O oposto ocorre nos pacientes em regime de ventilação
espontânea.
Pressão, volume e fluxo são denominados variáveis. Supõe-se que a elastância e a resistência
mantêm-se constantes durante a ventilação e são chamadas de parâmetros, aplicando-se à
fase inspiratória.
Supondo-se que a expiração ocorra de forma passiva, o que acontece na maioria dos casos, a
Pmus e a Pvent estão ausentes e a equação do movimento dos gases assume a fórmula a
seguir.
O sinal negativo à esquerda da equação indica a direção negativa do fluxo expiratório, sugerindo
que, durante a expiração passiva, o fluxo é gerado pela energia armazenada no componente
elástico durante a inspiração. Esses são conceitos básicos que se deve ter em mente ao ventilar
o paciente.9
A) apenas I e III.
B) apenas II e IV.
C) apenas I e IV.
D) apenas II e III.
Confira aqui a resposta
3. Convencionalmente, três grupos musculares têm sido relacionados à função pulmonar.
Quais são eles?
A) apenas a I.
B) apenas a II.
C) apenas a III.
D) apenas I e III.
Confira aqui a resposta
8. Quais fatores devem ser considerados para que resistência x fluxo = elastância x
volume seja a fórmula assumida pela equação do movimento dos gases?
Para mensurar a pressão intraesofágica utiliza-se um balão de polietileno, com diâmetro interno
de 1,4mm e comprimento de 100cm, introduzido 5 a 20cm acima da cárdia. Esse método pode
ser utilizado em pacientes ventilados mecanicamente e em pacientes em ventilação espontânea
para mensurar o trabalho respiratório e a pressão transdiafragmática.15
Estudos comparando a mensuração da pressão esofágica e da Ppl pelo método de oclusão da
via aérea evidenciaram diferença inferior a 10% nos valores obtidos.
Em pacientes com quadros de injúria pulmonar, a redução dos valores de complacência estática
do sistema respiratório entre o primeiro e o sexto dia de VM foi verificado no grupo de não
sobreviventes, sugerindo associação com aumento de 2,14 vezes na taxa de
mortalidade.21 Esses dados sugerem que a redução da Cst, nesse período e para esse perfil de
paciente, pode estar associada ao desenvolvimento de edema alveolar, atelectasias e fibrose.
Outra situação que demonstra a capacidade preditora da mecânica respiratória relaciona-se ao
desfecho do desmame ventilatório. O índice integrativo de desmame (Cst sr x saturação arterial
de oxigênio / índice de respiração rápida e superficial (FR / ( VC) apresentou maior acurácia
para predizer o sucesso no desmame da VM (acurácia = 0,97).22 Valores ≥ 25 associam-se ao
sucesso no desmame da VM.23
9. Como se obtém a curva pressão volume quasi-estática, uma das formas de modelo
unicompartimental utilizadas para avaliação da mecânica respiratória?
A) apenas I, II e III.
B) apenas I, II e IV.
C) apenas I, III e IV.
D) apenas II, III e IV.
Confira aqui a resposta
CASOS CLÍNICOS
CASO CLÍNICO 1
CASO CLÍNICO 2
Paciente internado na UTI com diagnóstico clínico de pneumonia, intubado, sob VM, modo
controlado a volume (VC = 560mL, PEEP = 5cmH2O, fluxo inspiratório = 40L/min, FR = 15ipm
e fração inspirada de oxigênio = 40%), com nível de sedação 6 na escala de Ramsay.
17. Quais os valores de Rsr e Cst sr antes e após a terapia de remoção de secreção,
respectivamente?
A) 18cmH2O/L/s e 18,7mL/cmH2O; 7cmH2O/L/s e 24,35mL/cmH2O.
B) 18cmH2O/L/s e 11,7mL/cmH2O; 7cmH2O/L/s e 18,7mL/cmH2O.
C) 27,3cmH2O/L/s e 18,7mL/cmH2O; 10,6cmH2O/L/s e 24,35mL/cmH2O.
D) 27,3cmH2O/L/s e 11,7mL/cmH2O; 10,6cmH2O/L/s e 18,7mL/cmH2O.
Confira aqui a resposta
CONCLUSÃO
O entendimento da fisiologia do sistema respiratório e da influência das variáveis da mecânica
respiratória apresenta grande importância para o fisioterapeuta. Algumas das implicações
práticas relacionam-se à predição de desfechos, como mortalidade, sucesso no desmame
ventilatório, ajuste da estratégia ventilatória de proteção pulmonar e avaliação das respostas a
intervenções fisioterapêuticas específicas.
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Como citar a versão impressa deste documento
López MF, Martinez BP, Simões LP. Mecânica respiratória: fisiologia e monitorização estática. In:
Associação Brasileira de Fisioterapia Cardiorrespiratória e Fisioterapia em Terapia Intensiva;
Martins JA, Andrade FMD, Dias CM, organizadores. PROFISIO Programa de Atualização em
Fisioterapia em Terapia Intensiva Adulto: Ciclo 5. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. p.
100-52. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 4).