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Intervenções para prevenção de eventos

adversos associados ao uso do ventilador


mecânico

Thaís Santos Guerra Stacciarini - SEE


Aldenora Laísa Paiva de Carvalho Cordeiro - SEE
Cíntia Cristina Andrade – Residência Multiprofissional
Rosana Huppes Engel - SEE

2018
Material produzido pelo Serviço de Educação em Enfermagem da Divisão de Enfermagem do
Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM). Permitida a
reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte e sem fins comerciais.

Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM),


administrado pela Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – Ministério da
Educação

STACCIARINI, T.S.G., CORDEIRO, A.L.P.C., ANDRADE, C.A., ENGEL, R. H.


Intervenções para prevenção de eventos adversos associados ao uso de dispositivos invasivos:
ventilador mecânico. Serviço de Educação em Enfermagem da Divisão de Enfermagem do
HC-UFTM. Uberaba, 2018. 24p.
Unidade 3 - Eventos Adversos Associados ao Ventilador Mecânico

Tópico 1 – Eventos Adversos Associados ao Ventilador Mecânico

1. Apresentação

A Ventilação Mecânica constitui-se atualmente em importante aliada ao tratamento de clientes


com quadros clínicos de alta complexidade, no entanto, a mesma pode estar associada a diversas
complicações que a torna uma terapêutica que exige competência e expertise da equipe
multiprofissional de saúde, além de atualização técnico-científica contínua.

Neste curso de atualização, será abordada a prevenção dos eventos adversos relacionados a
ventilação mecânica invasiva, entre os quais, destaca-se: a Pneumonia Associada à Ventilação
Mecânica (PAV), a lesão associada a manutenção da via aérea artificial e a lesão induzida pelo
ventilador.

A PAV é a infecção relacionada a assistência à saúde mais comum em ambientes de terapia


intensiva. Trata-se de um processo infeccioso do parênquima pulmonar, diagnosticado no
período entre 48 horas após a intubação endotraqueal e até 48 horas após a extubação. A
incidência da PAV tem sido descrita entre 0 a 25% e aumenta proporcionalmente à duração da
intubação.

A PAV pode ser diagnosticada dentro das primeiras 96 horas após a intubação endotraqueal –
início precoce – ou após este período – início tardio. No início tardio, há maior taxa de
mortalidade e está mais frequentemente relacionada à micro-organismos multirresistentes.

No Brasil, ainda não há dados epidemiológicos precisos sobre eventos adversos associados a VM.
No entanto, nos Estados Unidos da América (EUA), estima-se que a PAV é responsável por
aproximadamente 25% das infecções adquirias em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Quanto às lesões induzidas pela VM e pela via aérea artificial, sabe-se que as mesmas aumentam
o tempo de internação e estão associados ao aumento de comorbidades e mortalidade.

Diante da magnitude dos eventos adversos associados a ventilação mecânica invasiva, a mesma
deve ser realizada de forma criteriosa, adequada e segura!

Mas afinal, o que é a ventilação mecânica invasiva?


Quais as suas indicações? Como acontece esta
ventilação? O que podemos fazer para minimizar os
riscos desta terapia tão relevante?

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Antes de iniciarmos os estudos específicos sobre a prevenção de eventos adversos associados a
Ventilação Mecânica, faremos uma introdução à esta terapia, destacando sua definição, fisiologia
e indicações.

Então, vamos começar


VamoVamoss
nossos estudos?

2. Qual é a definição e os objetivos da Ventilação Mecânica


Invasiva?

A ventilação mecânica ou suporte ventilatório mecânico trata-se de um método terapêutico para


clientes com Insuficiência Respiratória Aguda (IRpA) ou crônica agudizada. Classifica-se a
ventilação mecânica em dois grupos, a saber:

1) ventilação mecânica invasiva (VM) e

2) ventilação não invasiva (VNI).

Em ambos os casos, aplica-se pressão positiva nas vias aéreas, no entanto, enquanto que na
ventilação mecânica invasiva utiliza-se uma prótese ventilatória ou uma via aérea artificial (tubo
endotraqueal ou cânula de traqueostomia) introduzida na via área do cliente, já na VNI, utiliza-
se uma máscara como interface entre o cliente e o ventilador

Tubo endotraqueal Cânula de traqueostomia Máscara para VNI

Os principais objetivos da VM são: manter a troca gasosa; minimizar o trabalho da musculatura


respiratória do cliente e, consequentemente, reverter ou evitar a fadiga da musculatura
respiratória; diminuir o consumo de oxigênio (O2) e reduzir o desconforto respiratório.

3. Como acontece a ventilação mecânica invasiva?

A VM acontece por meio da utilização de um equipamento (ventilador mecânico) que insufla as


vias respiratórias do cliente com volume de ar que entra e sai dos pulmões (volume corrente -
VT).

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Este movimento de ar para dentro e fora dos pulmões ocorre devido a um gradiente (diferença)
de pressão entre as vias aéreas inferiores e superiores. Atualmente, o suporte ventilatório
mecânico é realizado mais comumente pelo aumento de pressão em via aérea proximal, ou seja,
por meio da ventilação por pressão positiva.

Para entender melhor a fisiologia da ventilação mecânica, é necessário antes, compreender


conceitos prévios e a mecânica respiratória do nosso organismo.

Assim, você deverá assistir aos vídeos sugeridos a baixo para ampliar o seu entendimento quanto
a mecânica respiratória.

Clique para assistir!!!


Sistema respiratório.
Pressão inspiratória e expiratória.

Enquanto que a ventilação fisiológica acontece por meio de um gradiente de


pressão negativa gerada no interior dos alvéolos pela contração do diafragma e
músculos intercostais externos; a ventilação mecânica convencional, acontece
por meio de pressão positiva gerada pelo ventilador mecânico.

Para compreender a “EQUAÇÃO DO MOVIMENTO” na VM, destaca-se os seguintes


conceitos: RESISTÊNCIA e COMPLACÊNCIA do sistema respiratório e as variáveis
mecânicas: PRESSÃO, FLUXO E VOLUME.

VARIÁVEIS MECÂNICAS
VOLUME  Quantidade de ar.
FLUXO  Velocidade do ar.
PRESSÃO  Força do ar em uma determinada área do sistema respiratório.

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A resistência do sistema respiratório é dividida em: a) resistência das vias aéreas e b) resistência
tecidual. Para facilitar a compreensão desse termo, pense que a “resistência” é a dificuldade que
o ar encontra para entrar nos pulmões.

Resistência das vias aéreas  diferença de pressão entre alvéolos e cavidade bucal por fluxo
aéreo (atrito do ar entre as estruturas das vias aéreas). Ou seja, é a força que o ar precisa vencer
para percorrer o “caminho” entre a cavidade nasal / bucal até os alvéolos. Corresponde a 80%
da resistência total do sistema.

Resistência tecidual  é o atrito da expansão da caixa torácica, parênquima pulmonar e


diafragma. Corresponde a 20% da resistência total do sistema.

A Resistência do sistema respiratório pode ser obtido pela equação: resistência = diferença entre
pressão de pico (pressão inspiratória máxima) e a pressão platô (pressão no alvéolo no final da
inspiração) pelo fluxo de ar.

Complacência  a inspiração ocasiona a distensão das estruturas elásticas do pulmão, assim,


entende-se por complacência a diferença entre o volume de ar inspirado pela pressão
intrapulmonar. Simplificando, a complacência é a capacidade máxima de expansão pulmonar, é
o que facilita a entrada de ar nos pulmões.

A complacência pode ser estática (variação do volume de ar pela pressão platô) ou dinâmica
(variação do volume de ar pela diferença entre a pressão de pico e a Pressão Positiva Expiratória
Final - PEEP).

A PEEP é a pressão positiva nos pulmões que existe no final da expiração.

Para entender melhor, durante a expiração fisiológica, uma quantidade de ar


fica dentro dos alvéolos, impedindo o colapso alveolar, esse volume de ar gera
uma determinada pressão, denominada de PEEP.

A PEEP fisiológica varia conforme faixa etária, estatura, peso e sexo do cliente
(deve-se considerar também comorbidades, como por exemplo Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC). A média da PEEP em um adulto
normal é de 5 cmH2O.

Clique para saber mais!!!


Consenso Brasileiro de Ventilação Mecânica.
Recomendações brasileiras de ventilação mecânica.
Equação do movimento em ventilação mecânica.

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4. Quais as situações e parâmetros que indicam a ventilação
mecânica invasiva?

As situações que indicam a ventilação mecânica invasiva são as seguintes:

- Parada Cardiorrespiratória (PCR);


- Hipoventilação e apneia;
- Hipoxemia;
- Falência mecânica do aparelho respiratório;
- Prevenção de complicações respiratórias (pós-operatório de cirurgias de abdome superior,
torácica de grande porte, deformidade torácica, obesidade mórbida e parede torácica instável;
- Redução do trabalho muscular respiratório e fadiga muscular.

Os parâmetros que podem indicar a ventilação mecânica invasiva são os seguintes:

Tabela 1. Parâmetros que podem indicar a necessidade de ventilação mecânica invasiva.

Parâmetros Normal Considerar


Frequência respiratória 12 – 20 > 35
Volume corrente (ml/kg) 5–8 <5
Capacidade Vital (ml/kg) 65 – 75 < 50
Volume minuto (L/min) 5–6 > 10
Pressão inspiratória máxima (cmH2O) 80 – 120 > - 25
Pressão expiratória máxima (cmH2O) 80 – 120 < + 25
Espaço morto (%) 25 – 40 > 60
PaCO2 (mmHg) 35 – 45 > 55
PaO2 (mmHg) (FiO2 = 0,21) > 75 < 60
P (A-a)O2 (FiO2 = 1,0) 25 – 80 > 350
PaO2 / FiO2 > 300 < 200

5. Quais são os modos ventilatórios convencionais?

Para ampliar ainda mais o nosso entendimento


quanto a ventilação mecânica invasiva, descreveremos
agora os modos ventilatórios convencionais e os
principais parâmetros que devem ser ajustados para
iniciar o suporte ventilatório.

Os modos ventilatórios definem a forma como o ciclo respiratório do cliente irá iniciar, como
será mantido e finalizado.

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Na ventilação mecânica, o ciclo respiratório pode ser:

1. Espontâneo  Iniciado, mantido e finalizado pelo cliente.

2. Assisto-controlado  Iniciado pelo cliente, mas mantido e finalizado pelo ventilador


mecânico.

3. Mandatório Intermitente Sincronizada (SIMV)  Sincronia entre os ciclos iniciados,


mantidos e finalizados pelo cliente e entre os ciclos realizados pelo ventilador.

4. Controlado  Iniciado, mantido e finalizado pelo ventilador mecânico.

4. Controlado  Iniciado, mantido e finalizado pelo ventilador mecânico.


Disparo ventilatório  início do ciclo respiratório, mais especificamente, início
da fase inspiratória. Ajustar o disparo é definir como o ciclo respiratório irá
iniciar.

O disparo pode ser programado da seguinte forma: a tempo (modo controlado), em que o
ventilador iniciará o ciclo de acordo com um tempo programado; a pressão (modo assisto-
controlado) em que o ventilador iniciará o ciclo a partir de uma pressão detectada na via aérea
do cliente; ou a fluxo (modo assisto-controlado), em que o ventilador iniciará o ciclo a partir de
um fluxo, por meio de uma sensibilidade pré-estabelecida.

Além do disparo, ressalta-se o conceito de LIMITAÇÃO do ciclo respiratório. Ou seja, deve-se


definir o pico máximo de pressão, de volume ou fluxo (as variáveis mecânicas da ventilação,
lembra?) na fase inspiratória para o cliente. O que limita o ciclo respiratório é a pressão ou o
volume que será enviado para o cliente na fase inspiratória.

A partir de tais conceitos, é possível resumir os modos ventilatórios convencionais. O quadro a


seguir, apresenta um esquema dos modos ventilatórios.
Modos ventilatórios
Controlado Assisto-controlado Mandatório Intermitente Espontâneo
(SIMV)
CPAP PSV
Limitado à Pressão Volume Pressão Volume Pressão Volume Sem Pressão
(SIMV + PSV) limitação
Disparo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Tempo Sem Pressão
Pressão Pressão Pressão Pressão detecção Fluxo
Fluxo Fluxo Fluxo Fluxo
Ciclado Tempo Tempo/ Tempo Tempo Tempo Tempo Sem Fluxo
Volume Volume Pressão Volume ciclagem
Fluxo
Parâmetros PC VT PC VT PC VT FiO2 Pressão de
FR FR FR FR FR FR PEEP Suporte
FiO2 FiO2 FiO2 FiO2 FiO2 FiO2 Vent. FiO2
PEEP PEEP PEEP PEEP PEEP PEEP Backup PEEP
T.insp T. insp / T.insp T. insp/Fluxo T.insp T.insp/Fluxo Sensibilidade
Fluxo Sensibilidade Sensibilidade Sensibilidade Sensibilidade % Ciclagem
Vent. Backup

Quadro 1. Resumo dos modos ventilatório convencionais.

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Para complementar os nossos estudos sobre os modos ventilatórios convencionais,
recomendamos o vídeo a seguir:

Clique para assistir!!!


Modos ventilatórios essenciais.

Alguns parâmetros que são ajustados no ventilador mecânico:

1. Frequência Respiratória (FR).


2. Pressão Positiva Expiratória Final (PEEP).
3. Fração inspirada de Oxigênio (FiO2).
4. Volume Corrente (VT)  Usar VT 6ml/kg/peso predito inicialmente.
Homens: 50 + 0,91 x (altura em cm – 152,4).
Mulheres: 45,5 + 0,91 x (altura em cm - 152,4).
5. Volume Minuto (VM).
6. Fluxo (V).
7. Tempo inspiratório (T.insp.).
8. Pausa inspiratória.
9. Relação inspiração: expiração (E:I).
10. Pressão controlada ou de suporte.
11. Sensibilidade (sens.).

Quando o disparo do ventilador é iniciado por tempo, deve-se fixar uma frequência respiratória
realizada pelo ventilador. Nem sempre, será necessário ajustar todos os parâmetros. Depende
sempre do modo ventilatório. Destaca-se que deve-se sempre determinar os parâmetros para o
disparo do ciclo respiratório e suas limitações. Retorne ao quadro 2, e veja os parâmetros
necessários para cada modo ventilatório.

A FiO2, PEEP e FR (exceto nos modos espontâneos, pois a frequência será a do cliente), são
parâmetros que devem ser ajustados praticamente em todos os modos.

Clique para saber mais!!!


Parâmetros ventilatórios.

6. Quais são os eventos adversos mais comuns associados a


ventilação mecânica?

Os eventos adversos mais comuns associados a VM são os seguintes: Pneumonia Associada à


Ventilação Mecânica (PAV), lesão associada a manutenção da via aérea artificial e lesão pulmonar
induzida pelo ventilador mecânico.

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6.1. Pneumonia Associada a Ventilação (PAV):

Para sabermos como prevenir a PAV, faz-se necessário compreender a sua etiologia e seus fatores
de risco.

Sua origem é, principalmente, aspirativa. Destacando-se as seguintes fontes: secreções das vias
aéreas superiores, inoculação exógena de material contaminado ou refluxo gastrintestinal. Estas
aspirações são, comumente, “microaspirações silenciosas” (figura 3).

Os clientes em ventilação mecânica constituem-se um grupo de risco aumentado para o


desenvolvimento desta infecção devido a três fatores específicos:

1. diminuição da defesa pulmonar do cliente (reflexo de tosse e transporte mucociliar ineficaz);

2. risco elevado de ter as vias aéreas inoculados por material contaminado, principalmente,
devido ao rebaixamento do nível de consciência induzido por drogas ou doença de base que
predispõe a retenção de material / secreções acima do cuff ou balonete da via aérea artificial;

3. presença de micro-organismos mais resistentes aos antimicrobianos no ambiente hospitalar.

Ilustração de “microaspirações silenciosas”.

Região de acúmulo de
materiais / secreções
contaminadas.

Balonete ou cuff.

O cuff, mesmo insuflado dentro da pressão recomendada pela literatura, não


apresenta uma “vedação perfeita”, devido as características anatômicas e
histológicas da parede traqueal (em dobras).

Podemos classificar os fatores de risco para a ocorrência da PAV em fatores intrínsecos e


extrínsecos ao cliente.

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Os fatores extrínsecos norteiam às ações que devem ser realizadas pela equipe de saúde para a
prevenção da PAV.
Fatores de risco intrínsecos:
- Virulência;
- Doença pulmonar de base;
- Imunossupressão;
- Desnutrição;
- Extremos de idade.

Fatores de risco extrínsecos:


- Quebra de barreiras de proteção por parte da equipe multiprofissional;
- Equipamentos de terapia respiratória contaminados;
- Frequência da manipulação da via aérea artificial;
- Posição supina;
- Uso de via aérea artificial sem sistema de aspiração subglótica;
- Dieta enteral;
- Higienização bucal precária;
- Uso de medicamentos imunossupressores, sedativos e microbianos de uso prolongado;
- Ventilação mecânica > 7 dias;
- Intubação nasotraqueal como primeira escolha;
- Extubação acidental;
- Intubações subsequentes;
- Procedimentos cirúrgicos de cabeça, pescoço, tórax e abdome superior;
- Imobilização devido a trauma ou outra doença.

6.2. Lesão associada a manutenção da via aérea artificial

Os estudos sobre a segurança do cliente quanto a lesão associada a manutenção da via aérea
artificial ainda são incipientes. Sabe-se, no entanto, que tais lesões são difíceis de serem
diagnosticadas, podem ser graves e de difícil solução.

A fisiopatologia da lesão está relacionada, principalmente, à isquemia local decorrente da pressão


exercida pelo cuff (compressão dos capilares) e ao atrito entre tubo ou cânula de traqueostomia
nas mucosas laringotraqueais e na cavidade bucal. A figura a baixo, apresenta os principais pontos
de contato entre a mucosa laringotraqueal / bucal e a via aérea artificial.

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Principais pontos de contato entre a via aérea artificial e mucosas

Dentre as complicações das lesões associadas a manutenção da via aérea artificial, destaca-se a
estenose traqueal, a traqueomalácia, paralisia de cordas vocais, fístula traqueoesofágica e edema
de laringe.
Estenose traqueal X traqueia normal

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Estenose traqueal.
Funções do cuff da cânula traqueal.

Fatores de risco intrínseco:


- Extremos de idade;
- Delirium;
- Doenças de base: diabetes, anemias, hipotensão, doenças da traqueia, insuficiência cardíaca,
renal ou hepática;
- Via aérea difícil;
- Variações anatômicas da via aérea.

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Fatores de risco extrínsecos:

- Pressão de cuff acima de 25 cmH2O;


- Intubação de emergência;
- Intubação prolongada;
- Tamanhos inadequados de tubos / cânulas endotraqueais;
- Tração na via aérea artificial;
- Fixação inadequada do tubo endotraqueal;
- Frequência da aspiração de secreções traqueobrônquicas;
- Frequência da manipulação da via aérea artificial;
- Extubação acidental.

O risco para lesão de mucosa laringotraqueal pode ser identificado a partir do conhecimento de
seus fatores associados, ressalta-se ainda que é uma lesão passível de prevenção. Os fatores de
risco extrínsecos, apresentados a cima, guiam as recomendações que devem ser adotadas pela
equipe de saúde.

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Lesão laringotraqueal.

6.3. Lesão pulmonar induzida pelo ventilador mecânico

A ventilação mecânica, quando não ajustada adequadamente, pode agravar um quadro de lesão
pulmonar aguda ou a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).

Os parâmetros do ventilador mecânico devem ser ajustados considerando as condições clínicas


e características biológicas do cliente (faixa etária, estatura, peso ideal). O uso de pressões
inspiratórias altas, valores altos ou baixos de PEEP, volume corrente elevado são exemplos de
parâmetros que podem causar as lesões pulmonares induzidas pelo ventilador mecânico.

A lesão pulmonar induzida pelo ventilador resulta da interação das diferentes variáveis / forças
mecânicas (pressão, volume, fluxo) – figura a baixo, que atuam no pulmão e é caracterizada por
dano pulmonar, resultando em produção local de citocinas, infiltrado inflamatório neutrofílico e
ruptura da barreira alvéolo-capilar.

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Foças mecânicas exercidas no pulmão

Pressão positiva

Entre as lesões que o ventilador mecânico pode causar, destaca-se: barotrauma, volutrauma,
atelectrauma, biotrauma e a toxicidade do oxigênio.

Lesões induzidas pelo ventilador mecânico: causas e consequências


Lesão Causas Consequências
Barotrauma - Pressão inspiratória elevada - Pneumotórax
- PEEP elevada - Pneumomediastino
- Pneumopericárdio
- Pneumoperitônio
- Enfisema intersticial
- Enfisema subcutâneo
- Embolia gasosa

Volutrauma - Volume corrente elevado - Hiperdistensão pulmonar


- Estiramento pulmonar
- Ruptura tecidual pulmonar
- Alterações estruturais na membrana alvéolo-capilar

Atelectrauma - PEEP baixa + volume - Distensão alveolar


corrente elevado ou pressão - Colapso alveolar
inspiratória elevada. - Atelectasias

Biotrauma - Atelectrauma e estiramento - Síndrome de resposta inflamatória sistêmica


pulmonar seguido de ruptura - Sepse
tecidual - Disfunção de múltiplos órgãos
- Dano celular
- Assincronia cliente-ventilador
Toxicidade do - Hiperóxia (FiO2 elevada) - Retinopatia
oxigênio - Displasia bronco pulmonar
- Atelectasias de absorção, além de traqueobronquite
- Lesão pulmonar aguda.

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Clique para saber mais!!!
Mecanismos Determinantes da Lesão Induzida pelo Ventilador Mecânico.
Lesão pulmonar induzida pelo ventilador.

7. Quais são as recomendações para prevenção de eventos adversos


associados a ventilação mecânica?

Os eventos adversos associados à ventilação mecânica são passíveis de prevenção a partir do


conhecimento da fisiopatologia de tais eventos e pela adoção de medidas preventivas pela equipe
de saúde.

1. Preferência pela ventilação mecânica não invasiva, quando


possível;
Implantação
2. Dar preferência a intubação orotraqueal;
3. Higiene das mãos.
1. Higiene das mãos;
2. Higiene bucal;
3. Prevenção de broncoaspiração (elevação da cabeceira entre
30-45%; aspiração da secreção subglótica rotineiramente;
indicação e cuidados com o sistema de aspiração; cuidados
Fases

com a dieta enteral; monitorização da pressão do cuff da


cânula traqueal);
Manutenção e
4. Manter o sistema de ventilação mecânica, conforme
remoção do
recomendações vigentes (cuidados com umidificadores,
ventilador mecânico
circuito do ventilador, inaladores e nebulizadores);
5. Mobilização precoce;
6. Adequar diariamente o nível de sedação e teste de
respiração espontânea;
7. Diminuir o tempo de VM;
8. Uso criterioso de bloqueadores neuromusculares
9. Evitar extubação não programada (acidental) e reintubação.

Então, quais são as recomendações para prevenir os eventos


adversos associados ao uso do ventilador mecânico? Este
tópico está dividido em 3 partes: implantação da via aérea
artificial, manutenção da remoção da via aérea artificial.

Veja o cenário a seguir!!!

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Hoje é o terceiro dia de ventilação mecânica invasiva
do senhor JHS. Vou realizar a higienização bucal
com clorexidina 0,12%, verificar a pressão intra cuff,
os parâmetros ventilatórios...

Implantação da via aérea artificial

1. Realizar a higienização das mãos.

Nota:
a. Higienizar as mãos com água e solução degermante ou com
solução hidroalcoólica gel à 70%.

b. Utilizar preparação alcoólica gel, quando as mãos estiverem


visivelmente limpas.

Clique e saiba como!!!


Seguir o POP Institucional “Higienização simples das mãos” ou “Fricção das mãos
com antisséptico alcoólico”.

2. Remover prótese dentária ou qualquer outro corpo estranho da cavidade bucal, se for o caso.

3. Aspirar as vias aéreas superiores com técnica limpa, antes da intubação traqueal, se necessário.

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Clique e saiba como!!!
Seguir o POP Institucional “Aspiração de secreções de vias aéreas superiores”.

4. Pausar a infusão da dieta enteral, se for o caso.

5. Introduzir o cateter gástrico para drenagem, antes da intubação traqueal, se o cliente apresentar
risco elevado de broncoaspiração.

6. Utilizar materiais esterilizados quando contato com as vias aéreas inferiores (tubo / cânula
traqueal, fio guia, bougie, cateter de aspiração).

7. Realizar pressão cricóide (manobra de Sellick) nos momentos da ventilação com bolsa-
ventilatória e da intubação com cânula orotraqueal, para minimizar a distensão abdominal e o
refluxo gástrico.

8. Insuflar o balonete do tubo / cânula traqueal.

Nota:
a. Recomenda-se que a pressão do cuff permaneça entre 18 a 22
mmHg ou 25 a 30 cmH2O.

Manutenção da via aérea artificial

1. Realizar a higienização das mãos antes e após dos cuidados com o cliente em ventilação
mecânica.
Nota:
a. Higienizar as mãos com água e solução degermante ou com
solução hidroalcoólica gel à 70%.

b. Utilizar preparação alcoólica gel, quando as mãos estiverem


visivelmente limpas.

Clique e saiba como!!!


Seguir o POP Institucional “Higienização simples das mãos” ou “Fricção das mãos
com antisséptico alcoólico”.

2. Mante a cabeceira do leito elevada entre 30 a 45º.

Nota:
a. A cabeceira do leito elevada reduz a incidência de PAV
especialmente em clientes com dieta enteral.

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b. A cabeceira do leito elevado melhora os parâmetros
ventilatórios do cliente.

c. Abaixar a cabeceira da cama, somente quando necessário.

3. Aspirar secreções subglóticas rotineiramente.

Nota:
a. Recomenda-se um sistema de aspiração de secreção subglótica
contínua ou intermitente para clientes que irão permanecer em
VM acima de 48h ou 72h (II).

4. Aspirar secreções de vias aéreas, quando necessário.

Nota:
a. Evitar instilar soro fisiológico 0,9% pela cânula para proceder à
aspiração.

b. Não existe diferença na incidência de PAV quando comparados


os sistemas de aspiração aberto ou fechado.

c. Utilizar pressão adequada para realizar a aspiração de vias


aéreas.

d. Recomenda-se em adultos uma pressão de até 120 mmHg em


adultos; para clientes neonatal e pediátrico, de até 100mmHG.

Clique e saiba como!!!


Seguir o POP Institucional “Aspiração de secreções de vias aéreas superiores” e
“Aspiração de secreções vias aéreas inferiores”.

5. Realizar higiene bucal com antissépticos.

Nota:
a. A utilização de clorexidina 0,12% para higiene bucal tem um
efeito positivo para a redução da PAV (II).

b. A pressão intra cuff e a posição do tubo devem ser aferidos


antes de se iniciar a higiene bucal (III).

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Clique e saiba como!!!
Seguir o POP Institucional “Higienização bucal” e Rotina Operacional Padrão
(ROP) “Uso de solução bucal a base de digluconato de clorexidina 0,12%”

Clique e saiba mais!!!

Higiene oral do paciente entubado com cânula orotraqueal em ventilação


mecânica.

6. Realizar a troca do circuito do ventilador mecânico, apenas se o mesmo estiver visivelmente


sujo ou com mau funcionamento. (I)

7. Manter as conexões do ventilador mecânico livre de água condensada.

Nota:
a. A presença de água condensada poderá ocorrer quando
utilizado umidificador aquecido. É recomendado o uso de
umidificadores passivos como uma outra opção para clientes
com pouca secreção respiratória e com susceptibilidade menor
às atelectasias.

b. Recomendado a troca dos HME a partir 48h, podendo ser


utilizado no máximo até 7 dias.

8. Utilizar fluido estéril (água destilada) para nebulização e nos umidificadores.

9. Realizar a troca dos sistemas de oxigenação, de nebulização e de aspiração (aberto) a cada 24


horas.

Nota:
a. Recomenda-se a troca do sistema de aspiração fechado a cada
72 horas ou quando houver sujidade ou mau funcionamento.

10. Realizar troca da fixação do tubo/cânula endotraqueal a cada 24 horas, ou antes, se sujidade
ou desconforto do cliente.

11. Monitorar a pressão do cuff.

Nota:
a. Recomenda-se que a pressão do cuff permaneça entre 18 a 22
mmHg ou 25 a 30 cmH2O.

Clique e saiba mais!!!


Como manipular o cuffômetro?

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12. Promover mobilização dos clientes em ventilação mecânica.

Nota:
a. Além de mudança de decúbitos e posicionamento funcional,
mobilização passiva, exercícios ativo-assistidos e ativos.

b. A redução da atividade funcional está relacionada com o maior


tempo em ventilação mecânica e, consequentemente, com o
maior risco para ocorrência da PAV.

13. Evitar a extubação acidental.

Nota:
a. A extubação acidental pode levar a complicações como
aspiração, edema de laringe e aumento do risco de PAV.

b. Caso o cliente necessite ser intubado novamente, o desfecho é


ainda mais complicado

c. A fixação do tubo deve ser realizada de forma adequada e a


avaliação do cliente quanto a agitação e delirium, deve ser
constante.
d. Não recomenda-se a contenção mecânica do cliente.

e. Recomenda-se a implantação de protocolo para avaliação diária


do nível de sedação do cliente e avaliação da prontidão neurológica
para início do desmame ventilatório.

f. Fazer uso criterioso de bloqueadores neuromusculares.

14. Inspecionar lábios, cavidade bucal, mucosa oral e os locais de fixação do tubo/cânula
endotraqueal, quanto a presença de hiperemia e lesões e outros.

15. Fazer uso da estratégia protetora de ventilação mecânica.

Nota:
a. As estratégias ventilatórias protetoras são o principal tipo de
intervenção para prevenção de lesão induzida pelo ventilador.

b. O grupo Acute Respiratory Distress Syndrome Network


(ARDSnet), recomenda a associação de baixos valores de VT
(4 – 6 ml / kg de peso ideal); FiO2 e PEEP suficientes para
manter troca gasosa; pico de pressão abaixo de 40 cmH2O.

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c. Cálculo do peso ideal: homens: 50 + 0,91 x (altura em cm –
152,4); mulheres: 45,5 + 0,91 x (altura em cm - 152,4).

16. Ajustar e monitorar adequadamente os parâmetros ventilatórios.

Remoção da via aérea artificial

1. Realizar a higienização das mãos.

Nota:
a. Higienizar as mãos com água e solução degermante ou com
solução hidroalcoólica gel à 70%.

b. Utilizar preparação alcoólica gel, quando as mãos estiverem


visivelmente limpas.

Clique e saiba como!!!


Seguir o POP Institucional “Higienização simples das mãos” ou “Fricção das mãos
com antisséptico alcoólico”.

2. Pausar a dieta enteral, se for o caso.

3. Aspirar secreções de vias aéreas, antes da extubação.

Nota:
a. Evitar instilar soro fisiológico 0,9% pela cânula para proceder à
aspiração.

b. Não existe diferença na incidência de PAV quando comparados


os sistemas de aspiração aberto ou fechado.

c. Utilizar pressão adequada para realizar a aspiração de vias


aéreas.

d. Recomenda-se em adultos uma pressão de até 120 mmHg em


adultos; para clientes neonatal e pediátrico, de até 100mmHg.

Clique e saiba como!!!


Seguir o POP Institucional “Aspiração de secreções de vias aéreas superiores” e
“Aspiração de secreções vias aéreas inferiores”.

4. Realizar higiene bucal com antissépticos, antes da extubação.

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00
Nota:
a. A utilização de clorexidina 0,12% para higiene bucal tem um
efeito positivo para a redução da PAV (II).

b. A pressão intra cuff e a posição do tubo devem ser aferidos


antes de se iniciar a higiene bucal (III).

Clique e saiba como!!!


Seguir o POP Institucional “Higienização bucal” e Rotina Operacional Padrão
(ROP) “Uso de solução bucal a base de digluconato de clorexidina 0,12%”

Clique para relembrar!!!

Higiene oral do paciente entubado com cânula orotraqueal em ventilação


mecânica.

5. Aspirar a secreção subglótica, se utilizada cânula traqueal com sistema de aspiração subglótica,
antes de sua remoção.

O que fazer e como fazer para seguir e alcançar


todas essas recomendações para a prevenção de
eventos adversos?

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SERÁ PRECISO:

1. Garantir número adequado da equipe assistencial, de acordo com


o número e gravidade dos clientes.
2. Realização dos procedimentos somente por profissionais
habilitados.
3. Elaboração e implementação de protocolos multiprofissionais
4. Garantir que toda equipe de saúde envolvida na inserção,
manuseio e remoção dos dispositivos intravasculares sejam
capacitados, por meio de programas de melhoria continua, que
atenda as lacunas de conhecimento teórico e prático, com
abordagem em competências, como a rápida identificação e
resolução de problemas e o pensamento crítico para aplicar o
conhecimento.
5. Investimento institucional em materiais de boa qualidade e em
quantidade suficiente para o consumo diário.
6. Envolver o cliente e sua família no planejamento diários
dos cuidados.
7. Participação da equipe multiprofissional no planejamento
e prestação dos cuidados.
8. Revisão diária da necessidade de manutenção do
ventilador mecânico.
9. Notificar a ocorrência de eventos adversos ou queixas técnicas
relacionadas ao uso do ventilador mecânico.

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Referências

1. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Medidas de prevenção de infecção


relacionada à assistência à saúde. Série Segurança do Cliente e Qualidade em Serviços de
Saúde. 2017. 126p.
2. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Assistência segura: uma reflexão teórica
aplicada à prática. Série Segurança do Cliente e Qualidade em Serviços de Saúde. 2017,
170p.
3. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Critérios diagnósticos de infecção
relacionada à assistência à saúde. Série Segurança do Cliente e Qualidade em Serviços de
Saúde. 2017, 89p.
4. BARBAS, C.S.V.; ISOLA, A.M.; FARIAS, A.M.C.; CAVALCANTI, A.B.; GAMA,
A.M.A.; DUARTE, A. C.M. Recomendações brasileiras de ventilação mecânica 2013. Parte
I. Rev Bras Ter Intensiva. V. 26, n.2, p. 89 – 121, 2013.
5. CORDEIRO, A.L.P.C.; SILVA, R.; PRADO, C.B.C.; OLIVEIRA, K.F.; BARBOSA,
M.H. Laryngotracheal mucosa injury and associated factors after endotracheal extubation: a
pilot study. Acta Paul Enferm. V. 30, n.3, p. 316-322, 2017.
6. DALMORA, C.H.; DEUTSCHENDORF, C. NAGEL, F.; SANTOS, R.P.; LISBOA, T.
Definindo pneumonia associada à ventilação mecânica. Rev Bras Ter Intensiva. V. 25, n. 2,
p. 81-86, 2013.
7. Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM).
Protocolo/Prevenção e Controle de Pneumonia Associada à Assistência à Saúde – Unidade
de Vigilância em Saúde e Qualidade Hospitalar do HC-UFTM [protocolo institucional].
[2017 Jun; Senne ECV; Romualdo LP; Peixoto PB].
8. NARDELLI, L.M.; GARCIA, C.S.N.B.; PÁSSARO, C.P.; ROCCO, P.R.M.
Understanding the Mechanisms of Ventilator-induced Lung Injury. Revista Brasileira de
Terapia Intensiva. V. 19, n. 4, Outubro-Dezembro, 2007.
9. STACCIARINI, T.S. G.; CUNHA, M.H. Procedimentos operacionais padrão em
enfermagem. Atheneu: São Paulo, 2014, 442p.
10. TUCCI, M.R.; BERALDO, M.A.; COSTA, E.L.V. Ventilator-induced lung injury. Pulmão
RJ. V. 20, n. 3, p. 43-48, 2011.

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