2018
Material produzido pelo Serviço de Educação em Enfermagem da Divisão de Enfermagem do
Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (HC-UFTM). Permitida a
reprodução parcial ou total, desde que indicada a fonte e sem fins comerciais.
1. Apresentação
Neste curso de atualização, será abordada a prevenção dos eventos adversos relacionados a
ventilação mecânica invasiva, entre os quais, destaca-se: a Pneumonia Associada à Ventilação
Mecânica (PAV), a lesão associada a manutenção da via aérea artificial e a lesão induzida pelo
ventilador.
A PAV pode ser diagnosticada dentro das primeiras 96 horas após a intubação endotraqueal –
início precoce – ou após este período – início tardio. No início tardio, há maior taxa de
mortalidade e está mais frequentemente relacionada à micro-organismos multirresistentes.
No Brasil, ainda não há dados epidemiológicos precisos sobre eventos adversos associados a VM.
No entanto, nos Estados Unidos da América (EUA), estima-se que a PAV é responsável por
aproximadamente 25% das infecções adquirias em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Quanto às lesões induzidas pela VM e pela via aérea artificial, sabe-se que as mesmas aumentam
o tempo de internação e estão associados ao aumento de comorbidades e mortalidade.
Diante da magnitude dos eventos adversos associados a ventilação mecânica invasiva, a mesma
deve ser realizada de forma criteriosa, adequada e segura!
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Antes de iniciarmos os estudos específicos sobre a prevenção de eventos adversos associados a
Ventilação Mecânica, faremos uma introdução à esta terapia, destacando sua definição, fisiologia
e indicações.
Em ambos os casos, aplica-se pressão positiva nas vias aéreas, no entanto, enquanto que na
ventilação mecânica invasiva utiliza-se uma prótese ventilatória ou uma via aérea artificial (tubo
endotraqueal ou cânula de traqueostomia) introduzida na via área do cliente, já na VNI, utiliza-
se uma máscara como interface entre o cliente e o ventilador
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Este movimento de ar para dentro e fora dos pulmões ocorre devido a um gradiente (diferença)
de pressão entre as vias aéreas inferiores e superiores. Atualmente, o suporte ventilatório
mecânico é realizado mais comumente pelo aumento de pressão em via aérea proximal, ou seja,
por meio da ventilação por pressão positiva.
Assim, você deverá assistir aos vídeos sugeridos a baixo para ampliar o seu entendimento quanto
a mecânica respiratória.
VARIÁVEIS MECÂNICAS
VOLUME Quantidade de ar.
FLUXO Velocidade do ar.
PRESSÃO Força do ar em uma determinada área do sistema respiratório.
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A resistência do sistema respiratório é dividida em: a) resistência das vias aéreas e b) resistência
tecidual. Para facilitar a compreensão desse termo, pense que a “resistência” é a dificuldade que
o ar encontra para entrar nos pulmões.
Resistência das vias aéreas diferença de pressão entre alvéolos e cavidade bucal por fluxo
aéreo (atrito do ar entre as estruturas das vias aéreas). Ou seja, é a força que o ar precisa vencer
para percorrer o “caminho” entre a cavidade nasal / bucal até os alvéolos. Corresponde a 80%
da resistência total do sistema.
A Resistência do sistema respiratório pode ser obtido pela equação: resistência = diferença entre
pressão de pico (pressão inspiratória máxima) e a pressão platô (pressão no alvéolo no final da
inspiração) pelo fluxo de ar.
A complacência pode ser estática (variação do volume de ar pela pressão platô) ou dinâmica
(variação do volume de ar pela diferença entre a pressão de pico e a Pressão Positiva Expiratória
Final - PEEP).
A PEEP fisiológica varia conforme faixa etária, estatura, peso e sexo do cliente
(deve-se considerar também comorbidades, como por exemplo Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica – DPOC). A média da PEEP em um adulto
normal é de 5 cmH2O.
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4. Quais as situações e parâmetros que indicam a ventilação
mecânica invasiva?
Os modos ventilatórios definem a forma como o ciclo respiratório do cliente irá iniciar, como
será mantido e finalizado.
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Na ventilação mecânica, o ciclo respiratório pode ser:
O disparo pode ser programado da seguinte forma: a tempo (modo controlado), em que o
ventilador iniciará o ciclo de acordo com um tempo programado; a pressão (modo assisto-
controlado) em que o ventilador iniciará o ciclo a partir de uma pressão detectada na via aérea
do cliente; ou a fluxo (modo assisto-controlado), em que o ventilador iniciará o ciclo a partir de
um fluxo, por meio de uma sensibilidade pré-estabelecida.
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Para complementar os nossos estudos sobre os modos ventilatórios convencionais,
recomendamos o vídeo a seguir:
Quando o disparo do ventilador é iniciado por tempo, deve-se fixar uma frequência respiratória
realizada pelo ventilador. Nem sempre, será necessário ajustar todos os parâmetros. Depende
sempre do modo ventilatório. Destaca-se que deve-se sempre determinar os parâmetros para o
disparo do ciclo respiratório e suas limitações. Retorne ao quadro 2, e veja os parâmetros
necessários para cada modo ventilatório.
A FiO2, PEEP e FR (exceto nos modos espontâneos, pois a frequência será a do cliente), são
parâmetros que devem ser ajustados praticamente em todos os modos.
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6.1. Pneumonia Associada a Ventilação (PAV):
Para sabermos como prevenir a PAV, faz-se necessário compreender a sua etiologia e seus fatores
de risco.
Sua origem é, principalmente, aspirativa. Destacando-se as seguintes fontes: secreções das vias
aéreas superiores, inoculação exógena de material contaminado ou refluxo gastrintestinal. Estas
aspirações são, comumente, “microaspirações silenciosas” (figura 3).
2. risco elevado de ter as vias aéreas inoculados por material contaminado, principalmente,
devido ao rebaixamento do nível de consciência induzido por drogas ou doença de base que
predispõe a retenção de material / secreções acima do cuff ou balonete da via aérea artificial;
Região de acúmulo de
materiais / secreções
contaminadas.
Balonete ou cuff.
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Os fatores extrínsecos norteiam às ações que devem ser realizadas pela equipe de saúde para a
prevenção da PAV.
Fatores de risco intrínsecos:
- Virulência;
- Doença pulmonar de base;
- Imunossupressão;
- Desnutrição;
- Extremos de idade.
Os estudos sobre a segurança do cliente quanto a lesão associada a manutenção da via aérea
artificial ainda são incipientes. Sabe-se, no entanto, que tais lesões são difíceis de serem
diagnosticadas, podem ser graves e de difícil solução.
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Principais pontos de contato entre a via aérea artificial e mucosas
Dentre as complicações das lesões associadas a manutenção da via aérea artificial, destaca-se a
estenose traqueal, a traqueomalácia, paralisia de cordas vocais, fístula traqueoesofágica e edema
de laringe.
Estenose traqueal X traqueia normal
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Fatores de risco extrínsecos:
O risco para lesão de mucosa laringotraqueal pode ser identificado a partir do conhecimento de
seus fatores associados, ressalta-se ainda que é uma lesão passível de prevenção. Os fatores de
risco extrínsecos, apresentados a cima, guiam as recomendações que devem ser adotadas pela
equipe de saúde.
A ventilação mecânica, quando não ajustada adequadamente, pode agravar um quadro de lesão
pulmonar aguda ou a síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA).
A lesão pulmonar induzida pelo ventilador resulta da interação das diferentes variáveis / forças
mecânicas (pressão, volume, fluxo) – figura a baixo, que atuam no pulmão e é caracterizada por
dano pulmonar, resultando em produção local de citocinas, infiltrado inflamatório neutrofílico e
ruptura da barreira alvéolo-capilar.
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Foças mecânicas exercidas no pulmão
Pressão positiva
Entre as lesões que o ventilador mecânico pode causar, destaca-se: barotrauma, volutrauma,
atelectrauma, biotrauma e a toxicidade do oxigênio.
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Clique para saber mais!!!
Mecanismos Determinantes da Lesão Induzida pelo Ventilador Mecânico.
Lesão pulmonar induzida pelo ventilador.
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Hoje é o terceiro dia de ventilação mecânica invasiva
do senhor JHS. Vou realizar a higienização bucal
com clorexidina 0,12%, verificar a pressão intra cuff,
os parâmetros ventilatórios...
Nota:
a. Higienizar as mãos com água e solução degermante ou com
solução hidroalcoólica gel à 70%.
2. Remover prótese dentária ou qualquer outro corpo estranho da cavidade bucal, se for o caso.
3. Aspirar as vias aéreas superiores com técnica limpa, antes da intubação traqueal, se necessário.
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Clique e saiba como!!!
Seguir o POP Institucional “Aspiração de secreções de vias aéreas superiores”.
5. Introduzir o cateter gástrico para drenagem, antes da intubação traqueal, se o cliente apresentar
risco elevado de broncoaspiração.
6. Utilizar materiais esterilizados quando contato com as vias aéreas inferiores (tubo / cânula
traqueal, fio guia, bougie, cateter de aspiração).
7. Realizar pressão cricóide (manobra de Sellick) nos momentos da ventilação com bolsa-
ventilatória e da intubação com cânula orotraqueal, para minimizar a distensão abdominal e o
refluxo gástrico.
Nota:
a. Recomenda-se que a pressão do cuff permaneça entre 18 a 22
mmHg ou 25 a 30 cmH2O.
1. Realizar a higienização das mãos antes e após dos cuidados com o cliente em ventilação
mecânica.
Nota:
a. Higienizar as mãos com água e solução degermante ou com
solução hidroalcoólica gel à 70%.
Nota:
a. A cabeceira do leito elevada reduz a incidência de PAV
especialmente em clientes com dieta enteral.
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b. A cabeceira do leito elevado melhora os parâmetros
ventilatórios do cliente.
Nota:
a. Recomenda-se um sistema de aspiração de secreção subglótica
contínua ou intermitente para clientes que irão permanecer em
VM acima de 48h ou 72h (II).
Nota:
a. Evitar instilar soro fisiológico 0,9% pela cânula para proceder à
aspiração.
Nota:
a. A utilização de clorexidina 0,12% para higiene bucal tem um
efeito positivo para a redução da PAV (II).
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Clique e saiba como!!!
Seguir o POP Institucional “Higienização bucal” e Rotina Operacional Padrão
(ROP) “Uso de solução bucal a base de digluconato de clorexidina 0,12%”
Nota:
a. A presença de água condensada poderá ocorrer quando
utilizado umidificador aquecido. É recomendado o uso de
umidificadores passivos como uma outra opção para clientes
com pouca secreção respiratória e com susceptibilidade menor
às atelectasias.
Nota:
a. Recomenda-se a troca do sistema de aspiração fechado a cada
72 horas ou quando houver sujidade ou mau funcionamento.
10. Realizar troca da fixação do tubo/cânula endotraqueal a cada 24 horas, ou antes, se sujidade
ou desconforto do cliente.
Nota:
a. Recomenda-se que a pressão do cuff permaneça entre 18 a 22
mmHg ou 25 a 30 cmH2O.
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12. Promover mobilização dos clientes em ventilação mecânica.
Nota:
a. Além de mudança de decúbitos e posicionamento funcional,
mobilização passiva, exercícios ativo-assistidos e ativos.
Nota:
a. A extubação acidental pode levar a complicações como
aspiração, edema de laringe e aumento do risco de PAV.
14. Inspecionar lábios, cavidade bucal, mucosa oral e os locais de fixação do tubo/cânula
endotraqueal, quanto a presença de hiperemia e lesões e outros.
Nota:
a. As estratégias ventilatórias protetoras são o principal tipo de
intervenção para prevenção de lesão induzida pelo ventilador.
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c. Cálculo do peso ideal: homens: 50 + 0,91 x (altura em cm –
152,4); mulheres: 45,5 + 0,91 x (altura em cm - 152,4).
Nota:
a. Higienizar as mãos com água e solução degermante ou com
solução hidroalcoólica gel à 70%.
Nota:
a. Evitar instilar soro fisiológico 0,9% pela cânula para proceder à
aspiração.
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Nota:
a. A utilização de clorexidina 0,12% para higiene bucal tem um
efeito positivo para a redução da PAV (II).
5. Aspirar a secreção subglótica, se utilizada cânula traqueal com sistema de aspiração subglótica,
antes de sua remoção.
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SERÁ PRECISO:
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Referências