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306e D
Distúrbios da função
rrespiratória
Edward T. Naureckas, Julian Solway
Ed
ra 306e.1 mostra as propriedades de cada componente do sistema res-
piratório relacionadas com o volume. Em razão da tensão superficial na
interface ar-líquido entre revestimento líquido da parede alveolar e gás
alveolar, e em razão do próprio recolhimento elástico pulmonar, há ne-
cessidade de gradiente pressórico transmural positivo entre gás alveolar e
As principais
A pri
rinc
ri n ipais funções do sist
sistema respiratório – oxigenar o sangue e eli- superfície pleural para que o pulmão se mantenha inflado; essa diferença
mina
minarar dióxido de carbono – requerem contato virtual entre sangue e ar é denominada pressão de recolhimento elástico do pulmão e aumenta com
fresco
c o que facilita a difusão
fresco, difusã dos gases da respiração entre sangue e ar o volume pulmonar. Com o aumento de volume, o pulmão se torna bas-
ambiente. Esse processo ocorre nos alvéolos pulmonares, onde o sangue tante rígido, de forma que alterações relativamente pequenas no volume
fluindo pelos capilares na parede alveolar fica separado dos gases alveo- são acompanhadas por grandes variações na pressão transpulmonar; por
lares por uma fina membrana formada por células endoteliais e epiteliais outro lado, a grande complacência pulmonar é maior com volumes me-
achatadas por meio da qual os gases se difundem até atingir o equilíbrio. nores, incluindo aqueles nos quais a ventilação corrente costuma ocorrer.
O fluxo de sangue para os pulmões é unidirecional, passando por uma Com pressão de insuflação zero, até pulmões normais retêm algum volu-
via vascular contínua ao longo da qual o sangue venoso absorve oxigênio me de ar nos alvéolos, porque as pequenas vias respiratórias periféricas
e libera CO2 para o ar inspirado. Por outro lado, as vias de passagem de do pulmão são mantidas abertas por pressão radial centrífuga produzida
ar chegam a um ponto sem saída nas paredes alveolares; dessa forma, o por parênquima pulmonar insuflado fixado à adventícia; à medida que o
espaço alveolar deve ser ventilado correntemente, com influxo de ar fres- pulmão desinfla durante a expiração, aquelas pequenas vias respiratórias
co e efluxo de gás alveolar alternando-se de maneira periódica segundo são tracionadas e mantidas abertas em grau progressivamente menor até
a frequência respiratória (FR). Para atingir a enorme área de superfície que por fim se fecham, aprisionando algum volume de gás nos alvéolos.
2
alveolar (em geral 70 m ) para difusão sangue/ar dentro do discreto volu- Esse efeito pode ser aumentado com a idade e em especial nas doenças
CAPÍTULO 306e
me da cavidade torácica (normalmente 7 L), a natureza distribuiu o fluxo pulmonares obstrutivas crônicas, resultando em aprisionamento de gran-
de sangue e a ventilação entre milhões de mínimos alvéolos por meio das des volumes nos pulmões.
múltiplas ramificações de artérias pulmonares e brônquios. Como con- O comportamento elástico da parede torácica passiva (i.e., sem
sequência de variações em comprimento e calibre ao longo dessas vias, ativação neuromuscular) difere acentuadamente do observado nos pul-
efeitos da gravidade, de flutuações nas pressões correntes e das restrições mões. Enquanto o pulmão tende à deflação plena quando não há pressão
anatômicas da parede torácica, observam-se variações entre alvéolos no de distensão (transmural), a parede torácica mantém grande volume
que se refere às suas ventilação e perfusão relativas. Não é surpreendente quando a pressão pleural se iguala à pressão (atmosférica) na superfície
que, para eficiência máxima na troca gasosa, a ventilação de um dado do corpo. Além disso, a parede torácica mostra-se mais complacente com
alvéolo deva corresponder à sua perfusão. maiores volumes encerrados, expandindo-se rapidamente em resposta a
Capacidade
Volume Capacidade pulmonar
corrente vital total
Volume de
reserva
Capacidade expiratória
residual
funcional
Volume _
residual Pressão transmural +
complacência nos volumes pulmonares médios. Ademais, há um ponto normais (Rvr normalmente <2 cmH2O/L por segundo). Contudo, durante
de repouso passivo do sistema respiratório, obtido quando a pressão dos exalações aceleradas, outro fenômeno reduz o fluxo abaixo daquele es-
gases alveolares se iguala à pressão na superfície corporal (i.e., a pressão perado caso a resistência friccional fosse o único impedimento ao fluxo.
transrespiratória no sistema é zero). Neste volume (denominado capa- Esse fenômeno é denominado limitação dinâmica ao fluxo de ar e ocorre
cidade residual funcional [CRF]), o recolhimento elástico (para fora) da porque os brônquios por meio dos quais o ar é exalado são colapsáveis e
parede torácica é contrabalançado exatamente pelo recolhimento elástico não rígidos (Fig. 306e.3). Uma característica anatômica importante das
(para dentro) dos pulmões. À medida que esses recolhimentos elásticos vias respiratórias pulmonares é sua estrutura em árvore. Como as vias
respiratórias a cada geração sucessiva, desde a mais proximal (traqueia)
PARTE 11
A pressão máxima que esse conjunto de músculos é capaz de gerar varia avança em direção à boca. A energia necessária para essa aceleração “con-
com o volume pulmonar em que estejam operando. Essa variação decorre vectiva” é retirada do componente energético gasoso manifesto na forma
das relações comprimento-tensão nos sarcômeros dos músculos estria- de pressão local, o que resulta em redução da pressão intraluminal do gás,
dos e das alterações na vantagem mecânica à medida que se alteram os redução da pressão transmural nas vias respiratórias, redução no tama-
ângulos de inserção com a mudança do volume pulmonar (Fig. 306e.1). nho das vias respiratórias (Fig. 306e.3) e redução do fluxo. Trata-se do
De qualquer forma, sob condições normais, os músculos respiratórios são efeito de Bernoulli, o mesmo que mantém voando o avião, gerando uma
“superdimensionados” para o seu papel e geram força mais que suficiente força de sustentação ao reduzir a pressão acima da superfície superior
para levar o sistema respiratório aos seus extremos de rigidez, determi- curva da asa em razão da aceleração do ar que flui sobre ela. Quando um
nados pelos pulmões (capacidade pulmonar total [CPT]) ou por parede indivíduo tenta expirar com mais força, a velocidade local aumenta, as-
torácica ou fechamento da passagem aérea (volume residual [VR]); o sim como é reduzido o tamanho das vias respiratórias, resultando em au-
volume residual sempre evita que o pulmão de adultos se esvazie com- mento zero no fluxo. Nessas circunstâncias o fluxo terá atingido seu valor
pletamente em circunstâncias normais. A variação entre o pulmão total máximo possível, ou fluxo limite. Os pulmões normalmente apresentam
e minimamente insuflado é chamada capacidade vital (CV; Fig. 306e.2) esse limite dinâmico ao fluxo de ar. Tal limitação pode ser avaliada com a
e representa a diferença entre os volumes de dois extremos não relacio- espirometria, na qual o indivíduo inala até a CPT e em seguida exala com
nados de rigidez – um determinado pelo pulmão (CPT) e o outro pela força até o VR. Um parâmetro útil obtido com a espirometria é o volu-
parede torácica ou pelas vias respiratórias (VR). Assim, embora a CV seja me de ar expirado no primeiro segundo (VEF1), como discutido adiante.
facilmente mensurada (ver adiante), ela pouco diz sobre as propriedades O fluxo expiratório máximo a cada volume pulmonar é determinado por
intrínsecas do sistema respiratório. Como ficará claro, é muito mais útil densidade do gás, área e distensibilidade das vias respiratórias, pressão
para o médico considerar a CPT e o VR individualmente. de recolhimento elástico dos pulmões e perda de pressão friccional em
função do limite de fluxo local das vias respiratórias. Em condições nor-
Propriedades mecânicas relacionadas com o fluxo–Dinâmica A parede mais, o fluxo expiratório máximo é reduzido com o volume pulmonar
torácica passiva e o sistema neuromuscular ativo apresentam comporta- (Fig. 306e.4) em função principalmente da dependência da pressão de
mentos mecânicos relacionados com a frequência de alteração dos volu- recolhimento elástico do volume pulmonar (Fig. 306e.1). Nos casos com
mes, mas tais comportamentos se tornam quantitativamente relevantes fibrose pulmonar, a pressão de recolhimento pulmonar aumenta com o
apenas com frequências respiratórias acentuadamente acima das fisioló- volume pulmonar e, assim, o fluxo expiratório máximo encontra-se ele-
gicas (p. ex., durante ventilação mecânica de alta frequência) e, assim, vado quando considerado em relação ao volume pulmonar. Por outro
não são abordados aqui. Por outro lado, as propriedades dinâmicas dos lado, no enfisema, a pressão de recolhimento pulmonar está reduzida;
pulmões afetam substancialmente tal capacidade de ventilar e contri- tal redução é o principal mecanismo a responder pela queda no fluxo
buem de modo decisivo para o trabalho respiratório, e essas propriedades expiratório máximo. As doenças que estreitam as vias respiratórias com
muitas vezes são perturbadas por doenças. Portanto, é importante conhe- qualquer pressão transmural (p. ex., asma ou bronquite crônica) ou que
cer as propriedades dinâmicas do fluxo de ar. causam capacidade excessiva de colapso das vias respiratórias (p. ex., tra-
Como ocorre com o fluxo de qualquer fluido (gás ou líquido) por queomalácia) também reduzem o fluxo expiratório máximo.
qualquer tubo, a manutenção do fluxo de ar pelas vias respiratórias re- O efeito Bernoulli também se aplica à inspiração, mas quanto mais
quer um gradiente de pressão negativo na direção do fluxo, cujo grau negativa for a pressão pleural durante a inspiração, menor será a pressão
é determinado pela velocidade do fluxo e pela resistência friccional ao fora das vias respiratórias, o que leva a aumento da pressão transmural e
fluxo. Durante respiração corrente calma, os gradientes pressóricos a promove a expansão da passagem de ar. Assim, raramente há limitação
determinar o fluxo inspiratório ou expiratório são pequenos em razão do fluxo inspiratório de ar em razão de doença difusa das vias respirató-
da resistência friccional muito baixa produzida pelas vias respiratórias rias. Por outro lado, o estreitamento extratorácico das vias respiratórias
Expiratório
Expiratório
pletas de gás alveolar que não chegou à boca
ao final do fluxo expiratório. Durante a ina-
lação subsequente, ar fresco entra imediata-
CPT CPT mente na árvore respiratória, mas o gás que
Inspiratório Fluxo
Inspiratório Fluxo
Inspiratório Fluxo
CPT
penetra primeiro nos alvéolos no início da
VR Volume VR Volume VR Volume inalação é o mesmo gás que se encontrava
nos condutos respiratórios e que acabara
de deixar os alvéolos na respiração anterior.
Como consequência, não há entrada de gás
← Volume crescente ← Volume crescente ← Volume crescente fresco nos alvéolos até que se tenha inspira-
do um volume igual ao das vias respirató-
FIGURA 306e.4 Curvas fluxo-volume. A. Normal. B. Obstrução das vias respiratórias. C. Obstrução
rias. Esse volume é chamado espaço morto
central fixa das vias respiratórias. CPT, capacidade pulmonar total; VR, volume residual.
anatômico (VD). A respiração calma com vo-
lumes correntes inferiores ao espaço morto
(p. ex., causado por adenoma traqueal ou por estenose pós-traqueosto- anatômico não introduz ar fresco nos alvéolos; apenas a parte do volume
mia) pode levar a limitações do fluxo de ar inspirado (Fig. 306e.4). corrente inspirado (Vc) que é maior que o espaço morto (VD) introduz ar
fresco nos alvéolos. O espaço morto pode ser aumentado funcionalmente
O trabalho da ventilação No indivíduo sadio, as cargas elásticas (rela-
se parte do volume corrente inspirado for desviado para uma região do
cionadas com a variação de volume) e dinâmicas (relacionadas com o flu-
pulmão que não esteja recebendo fluxo sanguíneo e, consequentemente,
xo) que devem ser superadas para que seja possível ventilar os pulmões
não possa contribuir para a troca gasosa (p. ex., nos segmentos pulmona-
CAPÍTULO 306e
são muito pequenas, e o trabalho dos músculos respiratórios é mínimo.
res distais a um grande êmbolo pulmonar). Nessa situação, a ventilação
Entretanto, o trabalho respiratório pode aumentar de maneira conside-
minuto exalada (2E = Vc × FR) inclui um componente da ventilação do es-
rável em função de demanda metabólica por aumento substancial na
paço morto (2D = VD × FR) e um componente de ventilação alveolar com
ventilação, por aumento anormal da carga mecânica, ou ambos. Como
ar fresco (2A = [Vc – VD] × FR). A eliminação de CO2 dos alvéolos é igual a
discutido adiante, a taxa de ventilação é determinada principalmente pela
2A vezes a diferença na fração de CO2 entre o ar inspirado (essencialmen-
necessidade de eliminar dióxido de carbono e, sendo assim, a ventilação
te zero) e o gás alveolar (normalmente cerca de 5,6% após correção para
aumenta durante exercício (algumas vezes mais de 20 vezes) e durante
umidificação do ar inspirado, correspondendo a 40 mmHg). No estado
acidose metabólica como resposta compensatória. Naturalmente, a taxa
de equilíbrio, a fração alveolar de CO2 é igual à produção metabólica de
40 99 40 650
mmHg mmHg mmHg mmHg
40 mmHg 40 mmHg
40 mmHg (75%) 40 mmHg
(75%)
(75%) (75%)
40 mmHg 99 mmHg 40 mmHg 650 mmHg
(75%) (100%) (75%) (100%)
55 mmHg 56 mmHg
(87,5%) (88%)
40 99 200 650
mmHg mmHg mmHg mmHg
40 mmHg 40 mmHg
(75%) 40 mmHg (75%) 40 mmHg
(75%) (75%)
45 mmHg 99 mmHg 200 mmHg 650 mmHg
(79%) (100%) (100%)
(100%)
FIGURA 306e.5 Variação da ventilação com ar versus oxigênio na oxigenação arterial mista em casos de shunt e desequilíbrio na relação ven-
tilação/perfusão. A pressão parcial de oxigênio (mmHg) e a saturação de oxigênio são apresentadas para sangue venoso misto, sangue capilar
final (alvéolos normais e afetados) e sangue arterial misto. , fração de oxigênio no ar inspirado; 2/1, ventilação/perfusão.
Fluxo
Fluxo
Fluxo
Fluxo
Fluxo
CAPÍTULO 306e
FIGURA 306e.6 Anormalidades comuns na função respiratória (ver texto). Os valores da função pulmonar são expressos em percentual dos
valores preditos, exceto para Rvr, que é expressa em cmH2O/L por segundo (normal < 2 cmH2O/L por segundo). Os números ao final de cada
coluna representam a configuração característica das curvas de fluxo/volume para cada condição, incluindo a função fluxo/volume durante
respiração corrente. b.d., broncodilatador; CPT, capacidade pulmonar total; CRF, capacidade residual funcional; CVF, capacidade vital forçada;
DCO, capacidade de difusão pulmonar de monóxido de carbono; Rvr, resistência das vias respiratórias; VEF1, volume expiratório forçado em um
segundo; VR, volume residual.
motivo, a definição do padrão de alteração fisiológica existente pode ou da parede torácica e a CRF cai. Considerando que a força dos músculos
se mantêm relativamente inalteradas, de forma que a Rvr encontra-se nor- a espirometria é usada para medir o fluxo de ar, que reflete as proprie-
mal no enfisema “puro”. A perda de superfície alveolar e de capilares nas dades dinâmicas dos pulmões. Para a manobra de CVF, o paciente deve
paredes alveolares reduz a DCO, mas porque os ácinos enfisematosos mal inalar até a CPT para então exalar rapidamente e de forma forçada até o
ventilados também são mal perfundidos (devido à perda de seus capi- VR; este método assegura que se atingiu o limite de fluxo para que o es-
lares), em geral não se observa hipoxemia arterial em repouso até que forço exato realizado tenha pouca influência sobre o fluxo real. O volume
o enfisema se torne muito grave. Entretanto, durante o exercício, a PaO2 total de ar exalado é a CVF, e o volume de ar exalado no primeiro segundo
cai rapidamente se houver destruição extensa da vasculatura pulmonar é o VEF1; o VEF1 é uma taxa de fluxo que revela a alteração de volume no
Distúrbios do sistema respiratório
evitando que haja aumento suficiente no débito cardíaco, e o conteúdo de tempo. Assim como ocorre com os volumes pulmonares, os fluxos expira-
oxigênio venoso misto cai de maneira substancial. Nessas circunstâncias, tórios máximos de um indivíduo devem ser comparados com os valores
qualquer mistura venosa em unidades com baixa 2/1 produz um efeito preditos com base em estatura, idade e sexo. Embora a relação VEF1/CVF
particularmente acentuado na redução da pressão de oxigênio no sangue em geral esteja reduzida em paciente com obstrução ao fluxo de ar, nesses
arterial misturado. casos também é possível haver redução na CVF elevando o VR, o que às
vezes torna a relação VEF1/CVF “artificialmente normal”, levando à con-
MEDIÇÕES FUNCIONAIS clusão equivocada de que não há obstrução. Para evitar esse problema, é
Medidas da função ventilatória • VOLUMES PULMONARES Na Figura útil comparar o VEF1, como fração de seu valor predito, com a CPT, como
306e.2 foi apresentado um traçado de espirometria em que os volumes fração de seu valor predito. No indivíduo sadio, os resultados costumam
de ar entrando ou saindo dos pulmões são marcados ao longo do tempo. ser semelhantes. Por outro lado, um VEF1 com 95% do valor predito na
Na manobra de capacidade vital lenta, o indivíduo deve inalar a partir da verdade pode ser relativamente baixo se a CPT tiver 110% do seu valor
CRF enchendo totalmente os pulmões até sua CPT para então exalar len- predito. Neste caso, é possível que haja obstrução das vias respiratórias,
tamente até o VR; a CV é a diferença entre CPT e VR, e representa a ex- independentemente do valor “normal” para VEF1.
cursão máxima do sistema respiratório. A espirometria mostra alterações As relações entre volume, fluxo e tempo durante a espirometria são
relativas nos volumes durante essas manobras, mas não é capaz de revelar mais bem visualizadas em dois gráficos – o espirograma (volume versus
os volumes absolutos em que ocorrem. Para determinar os volumes pul- tempo) e a curva fluxo/volume (fluxo versus volume) (Fig. 306e.4). Nas
monares absolutos, duas abordagens são mais utilizadas – diluição de gás situações que envolvam obstrução das vias respiratórias, o local da obstru-
inerte e pletismografia corporal. Na primeira, um volume conhecido de ção algumas vezes está correlacionado com a forma da curva fluxo/volume.
gás inerte não absorvível (em geral hélio ou neônio) é inalado em uma Nas doenças que causam obstrução das vias respiratórias inferiores, como
única grande respiração ou reinspirado a partir de um circuito fechado; o asma e enfisema, o fluxo decai mais rapidamente com a queda dos volu-
gás inerte dilui-se no ar existente no pulmão no momento da inalação, e a mes pulmonares, levando a uma curva fluxo/volume caracteristicamente
concentração final revela o volume de ar que contribuiu para a diluição. O escavada. Por outro lado, a obstrução fixa de via respiratória superior leva a
problema deste método é que regiões do pulmão mal ventiladas (p. ex., em platôs de fluxo inspiratório e/ou expiratório (Fig. 306e.4).
função de obstrução ao fluxo de ar) talvez não recebam grande volume
do gás inerte inspirado e, sendo assim, não contribuem para sua diluição. RESISTÊNCIA DAS VIAS RESPIRATÓRIAS A resistência total das vias respira-
Portanto, a diluição de gás inerte (sobretudo com o método de respiração tórias superiores e pulmonares é medida com a mesma pletismografia
única) frequentemente subestima os volumes pulmonares reais. utilizada para medir a CRF. O paciente é novamente instado a soprar, mas
Na segunda abordagem, a CRF é determinada medindo-se a com- desta vez contra um obturador fechado e depois aberto. O sopro contra o
pressibilidade do gás dentro do tórax, que é proporcional ao volume do obturador fechado revela o volume de gás torácico como descrito antes.
gás sendo comprimido. O paciente permanece sentado em um pletismó- Quando o obturador é aberto, o fluxo passa a ser dirigido para a caixa
grafo de corpo inteiro, uma câmara em geral feita de material transpa- do pletismógrafo, de forma que as variações de volume revelam a exten-
rente para reduzir a sensação de claustrofobia, e é instruído a, ao final são da compressão torácica pelo gás que, por sua vez, revela as variações
de uma respiração corrente normal (i.e., quando o volume pulmonar é de pressão que determinam o fluxo. A medição simultânea do fluxo
igual à CRF), soprar contra um bocal fechado e, dessa forma, comprimir permite o cálculo da resistência pulmonar (na forma de fluxo dividido
periódica e suavemente o ar dentro dos pulmões. Determinam-se as va- pela pressão). No indivíduo sadio, a Rvr é muito baixa, (< 2 cm H2O/L
riações pressóricas na boca e as flutuações de volume dentro do pletismó- por segundo), e metade da resistência detectada encontra-se nas vias su-
grafo (iguais ainda que opostas àquelas observadas no tórax) e, a partir periores. Nos pulmões, a maior parte da resistência tem origem nas vias
de tais valores, calculam-se os volumes de gás torácico utilizando-se a lei centrais. Por esse motivo, a medição da resistência das vias respiratórias
de Boyle. Uma vez obtida a CRF, calculam-se CPT e VR, respectivamente, tende a ser insensível à obstrução das vias periféricas.
CAPÍTULO 306e
Distúrbios da função respiratória