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CONOF/CD
Elaboração (*):
© 2023 Câmara dos Deputados. Todos os direitos reservados. Este trabalho poderá ser reproduzido ou transmitido
na íntegra, desde que citados os autores e a Consultoria de Orçamento da Câmara dos Deputados. São vedadas a venda,
a reprodução parcial e a tradução, sem autorização prévia por escrito da Câmara dos Deputados. Este trabalho é de
inteira responsabilidade de seus autores, não representando necessariamente a opinião da Câmara dos Deputados ou
de suas comissões.
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
SUMÁRIO
1
Solicitação de trabalho nº 63/2023, do Dep. PEDRO PAULO/PSD-RJ, e Outros.
2 Os pisos da saúde e educação passarão a ser reajustados de acordo com a receita corrente líquida, ou da
arrecadação dos impostos, conforme o caso. Os limites para os demais Poderes e órgãos autônomos dependerão
dos parâmetros definidos anualmente nas LDOs. Alterações da regra de ouro dependem, igualmente, de PEC.
3
A calibragem das medidas inclui a definição de sua intensidade e duração.
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
aperfeiçoamento, o que pode subsidiar o propósito de integração das regras fiscais a que se
propõe o novo arcabouço fiscal. Vide, em ANEXO, quadro-síntese dessa análise.
4. O advento da pandemia teve como consequência vários aperfeiçoamentos da legislação
aplicável em situações excepcionais de calamidade pública nacional (art. 65 da LRF, EC nº
109/21). Assim, o chamado regime fiscal extraordinário, aplicável em caso de calamidade pública
nacional, com suas cláusulas de escape4, já contempla de forma razoável a necessária
flexibilização das normas fiscais em tais situações, bem como as respectivas medidas
compensatórias, não sendo objeto deste estudo.
5. O trabalho deteve-se, portanto, na análise do chamado regime fiscal ordinário regulado
pelas regras fiscais vigentes, que atuam de forma relativamente independente, listadas a seguir
em ordem decrescente de amplitude da variável fiscal que se propõem a controlar: limites para
a dívida pública5; regra de ouro (CF, art. 167, III e LRF, art. 12); meta de resultado primário (LRF
arts. 4º e 9º); teto da despesa primária total e percentual máximo de comprometimento com
despesas obrigatórias (ADCT, art. 106 e ss); despesa total com pessoal em relação à receita
corrente líquida (CF art. 169 e LRF); e, limites e condições voltados ao controle difuso
(compensação) de atos e proposições que aumentam despesas obrigatórias ou reduzem receita
tributária (LRF, arts. 14, 16 a 17).
6. No âmbito das finanças públicas, o princípio da ação fiscal responsável (LRF, art. 1º)
“pressupõe a ação planejada e transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios
capazes de afetar o equilíbrio das contas públicas”. Não basta, portanto, fixar limites. É necessário
acionar medidas de ajuste necessárias e suficientes para corrigir os desvios e a tendência do
desequilíbrio. Os limites (gatilhos) que acionam tais ajustes devem ser determinados,
preferencialmente, de forma prudencial e preventiva, antes do limite máximo. A ausência ou a
demora no acionamento de medidas estabilizadoras foi identificado neste estudo como a
principal lacuna das regras fiscais vigentes.
7. Dentre as possíveis medidas de correção destacam-se aquelas voltadas ao controle do
crescimento das despesas obrigatórias (gasto legislado)6, que representam mais de 90 % da
despesa primária. Este controle deve ser acionado, de preferência, em estágios sequenciais, uma
vez que a dificuldade política da implementação das medidas correlatas é crescente na seguinte
ordem: a) vedação de reajustes em percentual superior ao da inflação (e.g. art. 167-A, inc. VIII);
b) vedação de quaisquer aumentos ou da criação de novas despesas (e.g. art. 167-A, inc. VII); c)
revisão da legislação permanente que regula os atuais benefícios ou despesas. Em qualquer caso,
as medidas que vedam o aumento ou novas despesas obrigatórias não impedem o crescimento
vegetativo dos gastos já legislados.
8. As sanções não se confundem com as medidas de correção. Enquanto as medidas de
correção atuam para corrigir determinada situação, tendo como efeito um resultado econômico-
fiscal que corrige os desvios da variável que se quer controlar, as sanções impõem consequência
4
Em suma, prevê a dispensa de cumprimento da regra de ouro, dos resultados fiscais, do teto e das regras de
compensação (apenas para as despesas diretamente relacionadas ao enfrentamento da calamidade).
5
CF (art. 48, XIV, e art. 52, VII, IX); na LRF (art. 30, I e II); e nas Resoluções do Senado (SF 40/2000; Res. SF
48/2007 e Res. SF 43/2001).
6
As despesas discricionárias são controladas diretamente pelo orçamento, seja na elaboração ou na execução
(contingenciamento). O controle das despesas obrigatórias pode se dar pela proibição do aumento ou da criação
de novas despesas, ou pela revisão da legislação atual.
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Estudo nº 03 /2023
tória nária
1 - DÍVIDA PÚBLICA X X X X X X X X
2 - REGRA DE OURO (2) (2) X (2) (2) (2) X (3) -
3 - META DE
X X X X X - - X
RESULTADO
4 - TETO X X X - - - - X
4.1 – LIMITE 95%
OBRIGATÓRIAS
X - - - - - - -
5 – PESSOAL/RCL X - - X (4) - - - -
6 - COMPENSAÇÃO X (5) - - X (5) - - -
Fonte: Legislação. Elab. Conof/CD.
Obs.
(1) Demais eventos ou operações com impacto patrimonial na dívida pública ou na despesa pública, mas que não tramitam pelo orçamento.
(2) Alterações nas despesas e receitas correntes podem afetar o montante de operações de crédito.
(3) Operações de Crédito.
(4) Receita Corrente Líquida.
(5) Atos e Proposições que implicam aumento de despesas obrigatórias e renúncias tributárias.
12. Segundo a OCDE, as regras fiscais devem combinar controles e indicadores de estoque
(dívida) e de fluxo, com flexibilidade suficiente para se ajustar aos ciclos econômicos.
13. O momento de verificação e apuração das regras fiscais deve ocorrer na aprovação do
orçamento, sejam créditos originais ou adicionais, e também durante sua execução.
14. Do exame das regras fiscais vigentes com base no modelo conceitual utilizado neste
trabalho (atributos dos mecanismos de controle) identificamos como principal lacuna a ausência
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relevância das despesas com pessoal, seu controle tem sido objeto de inúmeras disposições
constitucionais e legais. É fato que, no caso da União, os limites máximos devem ser melhor
calibrados. Ainda assim, não houve crescimento dessas despesas, seja em relação ao PIB ou em
relação à RCL, ao contrário. Nos Estados/DF e Municípios, no entanto, a contenção das despesas
com pessoal é ingrediente importante na manutenção do equilíbrio fiscal e orçamentário.
f) Regras de neutralidade orçamentária - compensação do aumento das despesas
obrigatórias e das renúncias de receita (LRF) – trata-se de regras que promovem o controle
difuso ou procedimental de atos e proposições que acarretam aumento de despesa obrigatória
ou redução de receita tributária. Além da estimativa do impacto fiscal, exige-se para a aprovação
de tais atos normativos e proposições, medida compensatória que tem como propósito preservar
o nível de equilíbrio da lei orçamentária vigente. No âmbito do Legislativo, o cumprimento pleno
da regra da neutralidade depende de aperfeiçoamento no texto constitucional, já que nem
sempre as propostas que criam novas despesas obrigatórias, ou aumentam a renúncia de receita,
identificam as respectivas fontes orçamentárias compensatórias. A questão adquire maior
complexidade quando o desequilíbrio é promovido diretamente por emendas constitucionais, a
exemplo das Emendas Constitucionais nºs 123, 2022 (Kamikaze); 126/2022 (Transição); e
127/2022 (piso aos profissionais de saúde dos Estados/DF e Municípios). De qualquer modo, a
maior transparência acerca do impacto fiscal de cada decisão (exigência do art. 113 do ADCT) e
um controle centralizado dessas proposições (observância das margens de expansão a serem
fixadas na LDO) podem dar bons resultados em termos de gestão fiscal.
7
Art. 6º O Presidente da República deverá encaminhar ao Congresso Nacional, até 31 de agosto de 2023, projeto
de lei complementar com o objetivo de instituir regime fiscal sustentável para garantir a estabilidade
macroeconômica do País e criar as condições adequadas ao crescimento socioeconômico, inclusive quanto à
regra estabelecida no inciso III do caput do art. 167 da Constituição Federal.
8 Foi apresentado, como contribuição antecipada ao debate da nova âncora fiscal, o PLP 62/2023, do Dep. Pedro
Paulo. Disponível: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2345738
9
Ressalte-se que a revogação do Novo Regime Fiscal tem como consequência a exclusão dos limites
orçamentários para os demais Poderes e órgãos autônomos, do limite de 95 % das despesas obrigatórias e
também o método de correção dos pisos da saúde e educação e das emendas parlamentares impositivas).
10
A lei complementar deverá contemplar os indicadores e níveis de compatibilidade dos resultados fiscais com
a trajetória da dívida; a trajetória de convergência do montante da dívida com os limites definidos em legislação;
bem como medidas de ajuste, suspensões e vedações autorizando, inclusive, a aplicação das vedações já
previstas no art. 167-A da Constituição, que basicamente replicam aquelas previstas no art. 107 do ADCT
(controle do aumento de despesas obrigatórias).
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2023 (governo central) estima um déficit orçamentário de cerca de 226 bilhões. De acordo com
a STN/ME11, a Dívida Bruta do Governo Geral (DBGG) alcançou 73,3% do PIB em dezembro de
2022 (quase R$ 6 trilhões)12, sendo que a taxa de juros real é a maior do mundo 13. O superávit
primário obtido no final do exercício de 2022 não reflete a tendência das contas públicas,
especialmente por dispor de receitas extraordinárias e de não incorporar novas despesas projetadas
para 2023 (LOA 2023).
17. Como ponto de partida para a substituição do atual regime, a lei complementar prevista
na EC nº 126/2022 deverá demonstrar a superioridade do regime proposto quanto ao critério
da sustentabilidade. Não será suficiente que se aponte a atual situação fiscal do país (déficit
primário na LOA 2023) como única justificativa para a mudança, pois a regra do teto foi
igualmente concebida em situação semelhante, com o intuito de “reverter, no horizonte de médio
e longo prazo, o quadro de agudo desequilíbrio fiscal em que nos últimos anos foi colocado o
Governo Federal”14.
18. A “sustentabilidade” pode ser compreendida sob dois aspectos: fiscal (contenção da
trajetória da dívida) e político (atendimento de demandas sensíveis). Considerado o primeiro
aspecto, será necessário analisar como as novas regras teriam se comportado no período de
vigência do NRF, além de projetar, sob diferentes cenários, como se comportarão no futuro. Em
relação aos aspectos políticos, justificar por quais razões a maior resiliência do novo modelo não
o afastaria do objetivo primordial de estabilizar a dívida no longo prazo.
19. A proposta de revisão das regras fiscais ocorre após recorrentes déficits primários a
partir de 2014, culminando com a EC nº 126/2022 (EC da transição). As situações emergenciais
vivenciadas após o início da pandemia (2020), provocaram uma sequência de alterações
constitucionais15, com flexibilização da legislação fiscal. Primeiramente, de forma transitória
(enfrentamento à pandemia, auxílio e ações emergenciais). De outra parte, as ECs nºs 114, 126 e
127, mais recentes, excluem despesas que tendem a se propagar nos orçamentos futuros.
20. As alterações com reflexos plurianuais são aquelas decorrentes da alteração do regime
dos precatórios, e, especialmente, da ampliação do limite em montante de R$ 145 bilhões, dos
quais R$ 70 bilhões destinados às despesas obrigatórias de duração continuada (auxílio
brasil/bolsa família) e o restante (R$ 75 bilhões) para o atendimento de diversas políticas
11
Plano Anual de Financiamento PAF. Disponível em:
https://sisweb.tesouro.gov.br/apex/f?p=2501:9::::9:P9_ID_PUBLICACAO:46035.
12
O percentual de vencimentos da DPF em 12 meses ultrapassa 20% do estoque. O custo médio acumulado em
doze meses da DPMFi alcançou 10,80% a.a., em dezembro/22.
13
Fonte: https://www.gov.br/fazenda/pt-br/assuntos/noticias/2023/marco/secretaria-de-politica-economica-
apresenta-o-primeiro-boletim-macrofiscal-de-2023
14
Exposição de motivos da PEC 241/2016.
15
Dentre as principais medidas de flexibilização fiscal a partir de 2020 destacamos:
a) EC nº 106, de 07/05/2020 (e LC nº 173/2020) (Regime Extraordinário);
b) EC nº 109, de 15/03/2021 (Emergencial);
c) EC nº 113, de 08/12/2021;
d) EC nº 114, de 16/12/2021 (Precatórios);
e) EC nº 123, de 14/07/2022 (Kamikaze);
f) EC nº 126, de 21/12/2022 (Transição).
g) EC nº 127, de 22/dez/2022 (piso aos profissionais de saúde dos Estados/DF e Municípios).
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públicas, todas aprovadas sem contrapartida fiscal. Além disso, foram excluídos do teto despesas
no valor de R$ 24 bilhões. Vale lembrar que, a partir de 2027, os precatórios não pagos e
acumulados até o exercício de 2026 terão que ser considerados para fins de limites de
pagamento.
21. Neste momento que antecede a apresentação de nova legislação fiscal, prevista para o
primeiro semestre deste exercício, julgou-se pertinente realizar uma análise comparativa das
atuais regras fiscais de modo a identificar em que medida as mesmas se mostram insuficientes
ou disfuncionais, apontando-se eventuais falhas, sejam relacionadas à formulação da norma ou
ao comportamento dos agentes.
22. Para a avaliação das regras atuais, as mesmas serão confrontadas com os atributos
básicos de um modelo de controle denominado “mecanismo” fiscal (item seguinte), um conjunto
articulado de disposições voltadas ao controle de determinada variável fiscal, retroalimentado
com medidas de ajuste e correção dos desvios, além de eventuais sanções de ordem pessoal ou
institucional.
8
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
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16
A percepção dos credores da dívida quanto à capacidade de pagamento do Tesouro tem potencial para induzir
a elevação das taxas e o aumento das despesas com juros, um círculo vicioso bastante conhecido. Além dos
juros, o estoque da dívida é especialmente sensível ao crescimento econômico e aos resultados fiscais.
17
O Indicador é a unidade que possibilita medir a variável fiscal (de estoque ou de fluxo) que será controlada.
Permite aferir a situação fiscal, verificar se o limite predefinido foi atingido e analisar sua tendência. A referência
ou limite sinaliza o momento de acionamento das medidas.
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
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29. No campo das finanças públicas, as respostas obtidas com as medidas de ajuste nem
sempre são imediatas ou suficientes, além do que atuam várias interferências e situações de
ordem econômica e política. Diante disso, a formulação de mecanismos fiscais deve possuir certa
flexibilidade, com cláusulas de escape para situações justificadas18.
30. A situação que se pretende controlar ou manter equilibrada (o problema a ser
enfrentado) pode depender de várias causas e múltiplos fatores, do que resultará a definição das
medidas adequadas de correção, sempre que ultrapassados os limites de referência (gatilhos).
31. As medidas aqui consideradas são aquelas determinações legais objetivas (ex. art. 9º, art.
22 e 23 da LRF; art. 167-A CF), aplicáveis quando verificado o desvio, e que visam um resultado
de natureza econômico-fiscal. As medidas devem ser suficientes e viáveis, pelo tempo necessário.
Devem identificar os agentes públicos competentes e responsáveis.
32. A abrangência ou a amplitude das medidas, bem como sua intensidade, devem ser
compatíveis com o propósito de retorno à situação fiscal desejada, o que exige calibragem. Deve-
se definir o momento - na elaboração e/ou durante a execução da lei orçamentária - e o período
de apuração desses desvios (anual, quadrimestral, etc.), o termo inicial e a duração das medidas.
33. As medidas que obstam aumentos reais de despesas obrigatórias têm maior chance de
êxito do que medidas mais restritivas, que exigem redução das atuais despesas, não apenas sob
o aspecto político, mas pela maior dificuldade em termos jurídicos.
34. As sanções não se confundem com medidas de correção. As sanções decorrem do
descumprimento de uma conduta imposta ao agente público, dentro de sua esfera de
competência. As sanções, por si só, não corrigem o desvio da variável que se deseja manter
equilibrada, mas estimulam e induzem a observância das normas. As sanções podem ser
meramente administrativas, ou se resumir a obrigatoriedade de explicações públicas do gestor
(custos de reputação).
35. Não deve haver sanção quando a variável fiscal extrapola o limite em função de fatos
econômicos desprovidos e desvinculados de uma conduta específica do gestor. Ou quando o
18
Fundo Monetário Internacional (FMI) https://www.imf.org/en/Publications/Staff-Discussion-
Notes/Issues/2018/04/12/Second-Generation-Fiscal-Rules-Balancing-Simplicity-Flexibility-and-
Enforceability-45131.
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gestor adotou todas as medidas (obrigações de fazer e de não fazer) que estavam ao seu alcance,
sendo que essas não se mostraram suficientes.
36. A dependência da ação humana e o tema da responsabilização do agente público serão
examinados no Capítulo X.
37. Diante do exposto, o modelo de mecanismo fiscal adotado como referência para fins de
verificação da funcionalidade das principais regras fiscais vigentes contempla os seguintes
elementos: identificação da situação fiscal desejada, objeto do controle pretendido; escolha do
indicador da variável fiscal a ser controlada, bem como a fixação de limites (gatilhos que
acionam as medidas de correção); definição das medidas de ajuste e correção, comandos legais
dirigidos ao gestor que servem para prevenir e corrigir os desvios, do que decorre uma conduta
necessária; e sanções, que se destinam a dissuadir e punir o descumprimento da conduta
prescrita.
Medidas de Correção
(amplitude, duração,
calibragem, etc.) em casos
de desvios
38. Quanto à definição da situação fiscal desejada, manter o estoque ou a trajetória da dívida
pública em padrões sustentáveis é considerado o propósito mais abrangente ou a síntese da
política e da gestão fiscal planejada.
39. A variação do estoque da dívida em cada exercício, por sua vez, decorre da combinação de
fluxos de entradas e saídas, o que inclui, em uma relação de causa-efeito, as despesas com juros,
as alterações da legislação da receita e da despesa, as oscilações nas variáveis econômicas (taxas
de juros, inflação, câmbio, massa salarial, crescimento, etc.) e também outros eventos
patrimoniais que repercutem no patrimônio público (contingências, decisões judiciais, riscos
fiscais, etc.).
40. Ainda que a sustentabilidade da dívida possa ser considerada o objetivo último do
conjunto das regras fiscais, diferentes preceitos encontram-se formulados na legislação atual a
partir de objetivos intermediários específicos, a serem examinados neste trabalho: manter o
equilíbrio do orçamento corrente (regra de ouro); garantir resultados fiscais fixados na LDO;
11
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19
As receitas correntes arrecadadas dentro do exercício aumentam as disponibilidades financeiras do Estado, em
geral com efeito positivo sobre o Patrimônio Líquido. Incluem tributos, contribuições e outras (MTO 2023).
20
As receitas de capital aumentam as disponibilidades financeiras do Estado. Porém, não provocam efeito sobre
o Patrimônio Líquido. São representadas pelas Operações de Crédito, Alienação de Bens, Amortização de
Empréstimos, Transferências de Capital e Outras Receitas de Capital (MTO 2023).
21
As despesas correntes não contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital,
classificadas em: pessoal e encargos sociais, juros e encargos da dívida e outras despesas correntes. (MTO 2020).
22
As despesas de capital contribuem, diretamente, para a formação ou aquisição de um bem de capital,
classificadas em: investimento, inversões financeiras e amortização da dívida. (MTO 2020).
23
Segundo o MTO, as receitas primárias referem-se, predominantemente, às receitas correntes que advêm dos
tributos, das contribuições sociais, das concessões, dos dividendos recebidos pela União, da cota-parte das
compensações financeiras, das decorrentes do próprio esforço de arrecadação das Unidades Orçamentárias
(UOs), das provenientes de doações e convênios e outras também consideradas primárias.
24
Classificação utilizada no cálculo do resultado primário, despesas necessárias para o atendimento dos serviços
públicos à sociedade, desconsiderando o pagamento de juros
25
Além do teto para as despesas primárias (art. 107 do ADCT), o art. 109 do ADCT estabeleceu um limite
prudencial que ativa medidas de ajuste (vedações) sempre que verificado, desde a aprovação da lei orçamentária,
que a relação entre a despesa obrigatória primária em relação à despesa primária total supera 95%.
26
No caso da União, além do limite prudencial de 95%, o gatilho também é acionado automaticamente com a
decretação de estado calamidade de âmbito nacional (CF, art. 167-G).
12
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(*) A regra do art. 167, III da CF, em linhas gerais, limita despesas correntes em função das receitas não decorrentes de
endividamento.
Fonte: Legislação, MTO 2023. Elab. Própria.
43. Quanto mais abrangente a variável fiscal que se quer controlar e o indicador utilizado
maior a variedade de medidas controladoras que podem ser acionadas. De outra parte, maior a
instabilidade e a imprevisibilidade do resultado. Por exemplo, o propósito de se controlar
diretamente o estoque da dívida sofre interferências originadas de uma grande variedade de
eventos patrimoniais e orçamentários (receitas e despesas) que influenciam sua trajetória, como
já relatado.
44. Dentre as regras de controle de fluxo, a regra de ouro é a mais abrangente, visto que a
necessidade de operações de crédito é direta e indiretamente sensível às variações de todas as
receitas e despesas, inclusive financeiras.
45. Quanto à regra que fixa metas de resultado primário, a situação desejada pode ser
alcançada pelo aumento de receita ou pela redução de despesa primária, um indicativo
relativamente abrangente do esforço fiscal em cada exercício. O resultado nominal, de outra
parte, varia em função da dívida, sendo assim influenciado por déficits passados que se traduzem
em aumento dos encargos da dívida.
46. Regras que limitam exclusivamente despesas (a exemplo da regra do teto) são
consideradas mais previsíveis e fáceis de manejar, especialmente se destinadas às despesas
discricionárias sob gestão direta do governo e com orçamento flexível. De outra parte, tendem a
concentrar o ajuste fiscal apenas na despesa, omitindo-se quanto à necessidade de preservar ou
de aumentar as receitas, bem como em relação a outras medidas com impacto na dívida.
47. Por fim temos as regras da LRF que visam garantir a neutralidade orçamentária de atos e
proposições que implicam aumento de despesa ou renúncia de receita, exigindo-se de tais atos a
devida compensação (existência de fonte de custeio). Tais preceitos são aplicados de forma
particular ao processo legislativo, porque se configuram como uma condição de admissibilidade
da aprovação de legislação que tenha impacto fiscal, controle procedimental promovido no
exame da adequação orçamentária e financeira.
48. O quadro 3 ilustra de que forma a escolha e a definição da variável fiscal objeto de controle
delimita as medidas de correção:
27
Receita Corrente Líquida, definida na LRF.
28
Despesas obrigatórias são aquelas que decorrem de legislação prévia que cria vínculo obrigacional de sua
orçamentação e execução.
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
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Transferências Constitucionais
(repartição de receita).
Corrente
Outras Obrigatórias - Abono e Seg. Des.
LOAS/RMV, compensação RGPS, Demais
Poderes, Sentenças, Subsídios, etc.
DÍVIDA PÚBLICA (estoque)
RESULTADO NOMINAL
Outros fatores (política econômica, taxa real de juros, PIB, reconhecimento de dívidas, riscos fiscais,
operações do banco central, etc).
Fonte: Classificações Orçamentárias. Elab. Conof
49. Segundo a OCDE30, as regras fiscais devem combinar indicadores de estoque e de fluxo,
com flexibilidade suficiente para se ajustar aos ciclos econômicos. Dentre as condições para
garantir a efetividade das regras fiscais foram destacados: a) existência de base jurídica sólida;
b) definição de atribuições e responsabilidades institucionais; c) informações e contabilidade
transparente, com relatórios abrangentes; e, d) sanções adequadas, evitando-se aquelas que
oneram a sociedade.
30
Ter-Minassian, Teresa. Fiscal Rules for Subnational Governments: Can They Promote Fiscal Discipline?
OECD Journal on Budgeting Volume 6 – No. 3.
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50. Moutinho31, com base na literatura técnica e com o propósito de comparação dos
atributos das principais propostas de novo arcabouço fiscal, apresenta um conjunto organizado
de critérios de avaliação, aqui reproduzidos de forma sintética.
a) Grau de detalhamento: verifica se a regra contempla apenas princípios ou se traz
preceitos objetivos a serem cumpridos pelo gestor.
b) Abrangência: verifica a amplitude das variáveis fiscais controladas pela regra;
c) Caráter pró-cíclico/anticíclico: espera-se que a regra fiscal atue como um
elemento estabilizador da política fiscal, evitando-se o risco da regra aprofundar
os momentos de recessão e de crescimento.
d) Cláusulas de escape: capacidade da regra se manter em períodos excepcionais.
As regras de escape devem ser transparentes e delimitadas ao enfrentamento da
questão fática, com limites temporais definidos.
e) Grau de estruturação: uma âncora fiscal voltada ao objetivo final do controle que
atende as expectativas de médio prazo e de sustentabilidade (ex. estoque da
dívida); e uma regra operacional de curto prazo, associada ao atendimento da
“âncora fiscal”, de forma a evidenciar o que e como será feito para o atingimento
dessa meta mais ampla (ex. resultado orçamentário).
f) Seletividade no tratamento das despesas: relaciona-se com a abrangência da
variável controlada, de modo a se evitar que a regra faça recair a maior parte do
esforço fiscal em determinadas despesas (ex. investimento).
g) Previsibilidade de recursos para despesas prioritárias: o objetivo é garantir
previsibilidade de recursos, atributo importante em especial para as despesas
discricionárias consideradas prioritárias.
h) Ancoragem da regra fora do processo político ordinário: A regra fiscal deve
balizar previamente o processo decisório político anual do orçamento, contendo
assim a tendência de elevação do gasto, déficit e dívida. O propósito principal do
arcabouço fiscal é a fixação de resultados antecipados à decisão orçamentária
anual.
31
Novo Arcabouço Fiscal - Critérios de desenho e uma discussão preliminar das alternativas em debate.
Fernando Moutinho Ramalho Bittencourt: https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-
de-estudos/orcamento-em-discussao/edicao-49-2023-novo-arcabouco-fiscal-criterios-de-desenho-e-uma-
discussao-preliminar-das-alternativas-em-debate.
15
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Sanções
Indicador. Limites.
LRF - proibição de transferência
União - inexsitente; Est/DF/Mun.
voluntária e OC; Crime de
Responsabilidade (Lei 1079/50) e Dívida Consolidada/Receita
Código Penal. Corrente Líquida.
Medidas de Correção
Vedação OC, Obtenção Superávit,
Proibição Rec. Transferência
Voluntária
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
54. Situação Fiscal Desejada. A situação fiscal desejada, a sustentabilidade da dívida, deve
orientar a política fiscal de modo a fixar uma trajetória de sua convergência no médio e longo
prazo.
55. As alterações do estoque da dívida sofrem inúmeras variações e demoram em dar
resultado, exigindo medidas que se prolongam no tempo, para além dos mandatos, o que dificulta
o estabelecimento de limites fixos na legislação. O desafio é conter o crescimento da dívida
pública em relação ao PIB, criando condições para a redução dos juros e o crescimento
econômico. A dívida cresce com os juros reais e com os déficits. De outra parte, o maior
crescimento do PIB faz com que a relação Dívida/PIB diminua e menor o resultado primário
necessário para estabilizar a dívida. Quando os juros reais ultrapassam o crescimento do PIB, a
relação dívida/PIB aumenta. Quanto maior os juros, maior o resultado primário requerido. O
crescimento médio anual do PIB no Brasil (IBGE), desde 1997, foi de cerca de 2,1%. O Boletim
Macrofiscal do Ministério da Fazenda de março de 2023 mostra que a atual taxa de juros reais
ex-ante no Brasil é de 7,4% (a maior do mundo)32.
56. Na União, a falta de um limite fixo não impediu no passado a fixação na LDO de objetivos
de médio alcance na gestão da dívida pública federal, ainda que sem caráter vinculante, a
exemplo da “estabilização da dívida líquida do setor público”, ou da contenção da dívida bruta
do governo geral em relação ao PIB. Mais recentemente, diante dos déficits primários e do
agravamento das contas decorrente da pandemia, a diretriz passou a ser a “redução gradual da
dívida no médio e longo prazo”, dado o inevitável crescimento no curto prazo. Tão importante
quanto reduzir o estoque da dívida é criar condições para que as despesas com juros se
mantenham reduzidas, daí a importância de resultados fiscais favoráveis, que reduzem a
necessidade de emissão de novos títulos, um jogo de expectativas com múltiplos fatores. 33
57. Indicador. Quanto aos demais entes, o indicador é a relação Dívida Líquida
Consolidada/Receita Corrente Líquida34. A escolha do indicador como percentual de
comprometimento da receita corrente líquida faz com que a regra tenha natureza pró-cíclica, ou
seja, favorece o aumento de despesas em períodos de maior crescimento econômico e maior
arrecadação.
58. O limite é 200% para Estados e Distrito Federal, e 120% para Municípios. Não existe um
limite definido para a dívida da União, sendo que a União normalmente utiliza como indicador
em suas projeções o estoque da dívida bruta do governo geral e a dívida líquida do setor público,
ambas em percentual do PIB (DBGG/PIB e DLSP/PIB).
59. Como dito, a eleição do estoque da dívida pública (em % do PIB) como indicador fiscal
incorpora todos os eventos que afetam sua formação (fluxos de receita e despesa, inclusive
financeiras, crescimento e demais parâmetros macroeconômicos, passivos contingentes, riscos
de ordem diversa, etc.) 35. Em contrapartida, maior é a sua volatilidade.
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60. Em relação ao quesito flexibilidade da regra atual, deve-se observar que o § 5º do art. 30
da LRF possibilita o Presidente da República enviar ao Senado Federal (limite de dívida dos
entes) ou ao Congresso Nacional (dívida mobiliária), conforme o caso, proposta de manutenção
ou alteração dos limites e condições.
61. O gráfico seguinte mostra a evolução da DBGG e da DLSP, além do superávit primário, no
período de 1997 a 2022, em percentual do PIB. O endividamento público cresceu a partir de
2014, junto com os sucessivos déficits primários. As despesas de enfrentamento dos efeitos da
Covid geraram forte incremento da dívida a partir de 2020, situação ainda não totalmente
revertida a despeito de ganhos recentes na arrecadação.
Gráfico 1 – DBGG, DLSP e Resultado Primário do Setor Público - 2006 a 2022 (% PIB)
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64. Medidas de correção. De acordo com a LRF (art. 31), se ultrapassado o limite da dívida,
essa deverá ser reconduzida no prazo de doze meses, com redução de 25% do excedente no
primeiro quadrimestre do período de ajuste. Enquanto o excesso perdurar o ente não poderá
realizar novas operações de crédito, internas ou externas, ressalvadas as destinadas ao
pagamento de dívidas mobiliárias (art. 31, § 1º, I).
65. Além disso, deverá obter superávit primário compatível com a recondução da dívida ao
limite (art. 31, §1º, inciso II). Vencido o prazo para retorno da dívida ao limite, e enquanto
perdurar o excesso, o ente ficará também impedido de receber transferências voluntárias da
União ou do Estado (art. 31, §2º).
66. Não foram definidos limites prudenciais. As medidas de correção foram previstas na LRF
apenas para os casos em que a dívida ultrapassa o limite máximo. Falta um rol mais abrangente
de medidas preventivas de correção quando verificada a tendência de desvio da trajetória.
67. Impedir o ente de receber transferência voluntária não é propriamente medida de
correção porque não tem relação causa-efeito com o retorno à situação de equilíbrio desejada, já
que não reduz sua dívida. Trata-se apenas de uma espécie de sanção (administrativa). A
proibição de realizar operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, e de obtenção
de garantias, configura-se como medidas de correção, porque relacionada com o objeto de
controle.
68. O art. 30 da LRF prevê mecanismos de revisão de limites em caso de instabilidade
econômica ou alterações nas políticas monetária ou cambial. Em havendo calamidade pública,
nos termos do art. 65 da LRF, ficam suspensas a contagem dos prazos e as disposições do art. 31
da mesma lei.
69. Além do controle da dívida consolidada, a LRF traz também condições e limites para as
operações de créditos, os restos a pagar e para as despesas em final de mandato.
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70. Sanções. A tipificação de condutas proibidas com vistas ao controle da dívida e das
operações de crédito é relativamente detalhada e extensa na legislação. Vide em especial art. 1036
da Lei 1.079/50, Resoluções do Senado, arts. 359-A do código penal e art. 1º, XVI e XX do DL
201/67.
71. Existem também sanções que envolvem o pagamento de multa que pode chegar a 30%
dos vencimentos anuais, a inabilitação para o exercício da função pública por um período de até
5 anos e a perda do cargo público e a cassação de mandato, e, até pena prevista no código penal.
36
Art. 10. São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária: (...) 5) deixar de ordenar a redução do
montante da dívida consolidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor
resultante da aplicação do limite máximo fixado pelo Senado Federal; 6) ordenar ou autorizar a abertura de
crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária
ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal; 7) deixar de promover ou de ordenar na
forma da lei, o cancelamento, a amortização ou a constituição de reserva para anular os efeitos de operação de
crédito realizada com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei; 8) deixar de promover
ou de ordenar a liquidação integral de operação de crédito por antecipação de receita orçamentária, inclusive os
respectivos juros e demais encargos, até o encerramento do exercício financeiro; 9) ordenar ou autorizar, em
desacordo com a lei, a realização de operação de crédito com qualquer um dos demais entes da Federação,
inclusive suas entidades da administração indireta, ainda que na forma de novação, refinanciamento ou
postergação de dívida contraída anteriormente; 10) captar recursos a título de antecipação de receita de tributo
ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido; 11) ordenar ou autorizar a destinação de recursos
provenientes da emissão de títulos para finalidade diversa da prevista na lei que a autorizou; 12) realizar ou
receber transferência voluntária em desacordo com limite ou condição estabelecida em lei.
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V. REGRA DE OURO
Sanções
Crime de Responsabilidade: Lei Indicador. Limite.
1079/50. Lei 10.028/00. Código Operações de Crédito excedem
Penal. Despesas de Capital
Medidas de Correção
Proibição de operação de crédito
que exceda o montante
37
De acordo com a Resolução nº 48 do Senado, as receitas das emissões de títulos serão consideradas apenas no
exercício financeiro em que elas forem utilizadas para pagamento de despesas. Receitas de emissões que
excedam as despesas de capital são separadas em uma subconta específica da Conta Única, e podem ser
utilizadas para amortização da dívida pública em exercícios posteriores.
38
Conorf/Senado Federal. Orçamento em Discussão. Regra de Ouro: Falhas de Concepção e de Aplicação no
âmbito a União. Os autores apontam interferências, a exemplo das receitas na alienação de ativos e amortização
de empréstimos concedidos, e nas despesas com a cobertura do déficit do Banco Central e com a atualização
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Estudo nº 03 /2023
como cláusula de escape (art. 167, III) o afastamento puro e simples da limitação, bastando a
aprovação, por maioria absoluta, sem qualquer outra providência.
75. O equilíbrio da regra de ouro deve ser observado desde a elaboração da LOA (art. 12, § 2º
LRF ). Ocorre que, neste momento, não se pode contar com a cláusula de escape, vez que
39
créditos suplementares e especiais só existem após a aprovação da lei. Diante disso, a solução
encontrada para aprovar orçamentos com excesso de operações de crédito em face das despesas
de capital (vide gráfico seguinte) tem sido a de incluir autorização na LDO que permite o ingresso
antecipado na LOA de receitas de operações de crédito e de despesas (correntes), ambas
condicionadas, ou seja, cuja eficácia fica condicionada à aprovação futura de créditos
orçamentários pela maioria absoluta do Congresso Nacional.
76. Essa forma de contornar a regra de ouro cria embaraço, qual seja, a aprovação pelo
Congresso Nacional de uma lei orçamentária precária, onde a autorização de montante
relativamente elevado de despesas correntes, inclusive obrigatórias40 (a exemplo de benefícios
previdenciários e despesas com pessoal) passam a depender de nova aprovação durante a
execução, quando o mesmo Congresso é chamado para aprovar projeto de crédito adicional, com
quórum qualificado, e assim confirmar tais despesas.
77. Assim, prorroga-se a aprovação de um orçamento corrente deficitário já se sabendo que
não haverá alternativa. De fato, não seria razoável a recusa do Legislativo de aprovar créditos
destinados a despesas obrigatórias. Ademais, a ausência de autorização de operações de crédito
para despesas financeiras acarretaria graves consequências na gestão da dívida pública.
78. O gráfico mostra publicação41 do Tesouro Nacional acerca do cumprimento da regra de
ouro, mostrando os valores de (in)suficiência a partir de 2009, durante a execução do orçamento.
As insuficiências (operações de crédito superam as despesas de capital) se manifestam, grosso
modo, com déficits elevados, insuficientes para o pagamento das despesas correntes. A LOA 2023
prevê um excesso de operações de crédito em relação às despesas de capital (insuficiência da
regra de ouro), no âmbito do orçamento fiscal e da seguridade social, no valor de cerca de R$ 200
bilhões.
79. A EC nº 126/2022, no art. 6º, estabeleceu o envio pelo Presidente da República ao
Congresso Nacional, até 31 de agosto de 2023, de projeto de lei complementar com o objetivo de
instituir regime fiscal sustentável, inclusive quanto à regra de ouro (inciso III do art. 167). Ocorre
monetária da dívida. Também são citadas a sensibilidade a estratégias de dívida e a sensibilidade a regras e
estratégias de gestão financeira, bem como a forma de cômputo das operações de crédito realizadas no contexto
da gestão da dívida. E concluem que a utilização da regra de ouro como indicador deveria ser precedida de uma
revisão. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/orcamento/documentos/estudos/tipos-de-
estudos/orcamento-em-discussao/edicao-46-2020-regra-de-ouro-falhas-de-concepcao-e-de-aplicacao-no-
ambito-da-uniao>. Acesso em 12 set 2020.
39
Art. 12 [...] § 2º O montante previsto para as receitas de operações de crédito não poderá ser superior ao das
despesas de capital constantes do projeto de lei orçamentária.
40
No PLOA 2021, dentre as programações condicionadas à futura aprovação legislativa de que trata o inciso III
do art. 167 da CF, R$ 272,1 bilhões corresponde a benefícios previdenciários e R$ 119 bi a despesas com pessoal
e encargos sociais. Também estão condicionadas despesas com sentenças judiciais e complementação Fundeb.
41
Disponível em:
<https://www.tesourotransparente.gov.br/visualizacao/painel-da-regra-de-
ouro#:~:text=Essa%20regra%20impede%20que%20governos,Constitui%C3%A7%C3%A3o%20Federal%20d
e%201988%3B%20art.>. Acesso em 27 fev 2023.
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Estudo nº 03 /2023
que o art. 167, III não ficará revogado pelo que consta no art. 9º da mesma EC, o que delimita a
eventual regulamentação nesta lei complementar.
42
A proposta de emenda constitucional foi apresentada pelo Deputado Pedro Paulo/RJ. Disponível em:
https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/prop_mostrarintegra;jsessionid=C3392DD400C800AD0BE0BDE
5CF0E8A04.proposicoesWebExterno2?codteor=1679711&filename=PEC+438/2018
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Estudo nº 03 /2023
uma série de medidas de correção, as mesmas que devem ser acionadas pela União em caso de
calamidade pública nacional ou quando a relação entre despesa obrigatória e despesa primária
atinge 95% (art. 109, ADCT). As medidas, em suma, impedem o aumento de despesas correntes
e proíbem a renúncia de receitas tributárias. Ainda que as medidas de ajuste sejam facultativas,
existem sanções - concessão de garantias por outro ente e tomada de operações de crédito pelo
ente envolvido - se as medidas não forem adotadas, (art. 167-A, § 6 º)
84. Conclui-se pela necessidade de aperfeiçoamento da regra de ouro tal como atualmente
encontra-se formulada na Constituição e na LRF.
85. Sanções. A legislação contempla punições severas ao responsável pela realização de
operações em desconformidade com a lei (crime de Responsabilidade: art. 85, VI da CF; Lei
1079/50 (art. 9, item 4; 10, itens 7 e 9; e art. 11, item 3), LRF (art. 32, § 1º, V); Código Penal: art.
359-A. Lei nº 8.429/92 (art. 73 LRF).
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Indicador. Limite.
Sanções Específicas Diferença entre Receita e
Lei 10.028/00; Lei 8.429/92 Despesa Primária. Limite é a
meta fixada na LDO.
Medidas de Correção
Limita despesas discricionárias
(art. 9º LRF).
86. Legislação e breve histórico. A LRF (art. 4º, § 1º) determinou a necessidade de o projeto
de LDO conter metas anuais, em valores correntes e constantes, relativas a receitas, despesas,
resultado nominal e primário e montante da dívida pública, para o exercício a que se referirem e
para os dois seguintes. Desde o início, o caráter obrigatório e vinculante foi atribuído apenas às
metas de resultado primário previstas para o primeiro ano.
87. O saldo primário, desde a LRF e até a aprovação da EC 95/2016 (teto de gastos), era o
principal mecanismo de controle fiscal, utilizado como âncora fiscal na elaboração e execução
dos orçamentos. De acordo com a lei fiscal, os orçamentos devem ser compatíveis com as metas
fixadas na LDO. O Congresso Nacional praticamente não altera a meta de resultado proposta pelo
Executivo. Uma vez fixada para o exercício, em havendo frustração na receita estimada ou
aumento da despesa obrigatória na execução, é o gestor obrigado a limitar as despesas
discricionárias. A meta de resultado é considerada pró-cíclica, na medida em que impõe maior
redução na despesa pública em situações de baixo crescimento com perda de arrecadação.
88. O gráfico seguinte mostra, no âmbito da União, a evolução das receitas primárias (líquidas
de transferências) versus despesas primárias no período de 1997-2022, indicando também os
montantes previstos na LOA 2023. O resultado primário positivo vinha se mantendo em torno
de 2% do PIB, com alguma variação, até 2014, quando se inicia um processo que associa queda
de receita43 44 com a elevação da despesa primária.
89. A partir de 2017 os resultados se recuperam lentamente, até o advento da Covid 19 em
2020, que exigiu grande aumento de despesas. O represamento de gastos e o adiamento de
precatórios, aliada ao aumento de receita extraordinária, contribuíram para o resultado positivo
43
A variação da receita primária líquida deflacionada nos anos de 2014, 2015 e 2016 foi, respectivamente, de -
3,8%, -6,5% e -2,1%. Fonte: Nota Técnica Conjunta PLOA 2021 – Tabela 7.
44
Em setembro de 2015 o Brasil perdeu o grau de investimento.
25
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Estudo nº 03 /2023
90. Situação fiscal desejada. Trata-se de adotar como variável fiscal a ser controlada uma
meta de resultado fiscal consistente com o contexto da política econômica e fiscal. A LRF não
prevê uma meta específica, mas determina que caberá às LDOs de cada ente fixá-las,
acompanhadas de demonstrativo (art. 4º, § 2º, II) que evidencie a consistência das mesmas “com
as premissas e os objetivos da política econômica nacional”. Os projetos de LOA (art. 5º, I da LRF)
devem ser elaborados de forma compatível com as metas aprovadas na LDO.
91. O objetivo da política fiscal declarado nas LDOs variou ao longo do tempo. Por um algum
período o compromisso era o de estabilizar a relação dívida líquida/PIB. Ainda antes da
pandemia, passou a ser o do menor déficit primário possível, ou também de garantir uma
trajetória sustentável no médio e longo prazo.
92. Os demonstrativos que acompanham as LDOs não trazem informação suficiente para
aferir se o resultado primário fixado para o exercício a que se refere e para os dois seguintes é
compatível, do ponto de vista estrutural, que abstrai flutuações sazonais, com a desejada
estabilização ou sustentabilidade da dívida no médio e longo prazo.
93. A partir da instituição do teto de gastos, a meta primária perdeu relevância e passou a ser
consequência do volume de arrecadação, dado que o montante de gastos ficou pré-estabelecido.
Nas propostas orçamentárias, especialmente a partir de 2014, metas deficitárias foram fixadas
com ampla margem para cumprimento, adotando-se expectativas mínimas para o desempenho
45 A EC nº 126/22 ampliou o teto em R$ 145 bilhões, além de R$ 23 bilhões (investimentos fora do teto).
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
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46
Quanto maior o crescimento do PIB, menor o superávit primário necessário (menor a relação Dívida/PIB).
Juros reais maiores do que o crescimento do PIB aumentam a relação dívida/PIB, exigindo maior superávit
primário.
47
O aumento identificado das despesas obrigatórias durante a execução torna obrigatório maior
contingenciamento das despesas discricionárias. Isso porque o § 2º do mesmo art. 9º esclarece que as despesas
obrigatórias não serão objeto de contingenciamento.
48
As tentativas do Congresso Nacional de fixar metas de resultado nominal, ainda que referenciais, foram
vetadas.
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
100. Após a EC nº 95/2016, a regra de resultado coexiste com a regra do limite de despesas
primárias. Na presença de duas regras fiscais (teto e resultado primário) prevalecerá sempre a
mais restritiva.
101. Medidas de correção. De acordo com a LRF, em caso de desvio da meta, a correção da
trajetória é feita por meio do contingenciamento de despesas discricionárias. O acionamento
ocorre sempre que identificado, durante a execução da lei orçamentária, frustração de receita ou
aumento de despesa obrigatória49. Caso surjam novas receitas ou nas situações em que despesas
obrigatórias se mostrem superestimadas, a limitação de despesas discricionárias pode ser
afastada. Antes da EC nº 95/2016, o contingenciamento era bastante usual.
102. O art. 9º da LRF previu a possibilidade de a LDO ressalvar despesas do contingenciamento.
Os decretos de contingenciamento não identificam as programações específicas cujos empenhos
e pagamentos ficam bloqueados, apenas fixam limites orçamentários e financeiros por órgão.
103. O monitoramento da meta fiscal prevista para o exercício é feito no final de cada bimestre,
o que exige a publicação de relatórios a cargo do Poder Executivo, fixando-se os limites de
empenho e pagamento, aplicáveis a todos os demais Poderes e MP. A apuração dos montantes de
contingenciamento é avaliada a partir da atualização dos parâmetros macroeconômicos, da
projeção da receita e das despesas obrigatórias.
104. A fixação de metas deficitárias a partir de 2015, esgotada a possibilidade de compressão
das despesas discricionárias, não foi acompanhada de medidas de restrição às novas despesas
obrigatórias e de contenção das renúncias, ou mesmo de aumento da receita.
105. Sanções. De acordo com o art. 5º da Lei 10.028/2000, constitui infração administrativa
contra as leis de finanças públicas: (...) II – propor lei de diretrizes orçamentárias anual que não
contenha as metas fiscais na forma da lei; III – deixar de expedir ato determinando limitação de
empenho e movimentação financeira, nos casos e condições estabelecidos em lei;
106. Identificado durante a execução da lei orçamentária o risco de não cumprimento da meta
de resultado fiscal constante da LDO vigente, é obrigação do Presidente da República efetuar o
contingenciamento. De acordo com a LRF, cabe aos Tribunais de Contas fiscalizar o cumprimento
das metas, as avaliações bimestrais e se as medidas estão sendo tomadas.
49
Não está expresso no texto da LRF, mas tem sido prática corrente.
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Estudo nº 03 /2023
Medidas de Correção
Vedações ao aumento das despesas
obrigatórias, etc.
50
A soma dos limites individualizados do Poder Executivo e dos demais Poderes e Órgãos, estabelecidos pela
EC nº 95/2016, alcança no PLOA 2021 R$ 1.485,9 bilhões.
51
Desde a LRF, exige-se compensação prévia para a aprovação de legislação que crie ou aumente despesa
corrente obrigatória, além de outras disposições de mesmo propósito constantes das leis de diretrizes
orçamentárias. No entanto, as disposições no plano infraconstitucional - LRF - apresentaram eficácia
relativamente baixa.
52
Despesas com seguro desemprego e abono salarial, LOAS/RMV, Fundeb, Demais Poderes, Sentenças
Judiciais e Precatório, Subsídios e subvenções, etc.
53
Despesas necessárias ao atendimento dos pisos da saúde e educação, bolsa família, auxílios a servidores, etc.
29
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
110. O histórico das despesas discricionárias parece indicar que existe na União um nível de
resistência de cerca de 2% do PIB, que, na prática, funciona como um piso, haja vista o nível de
comprometimento das atividades de estado e dos investimentos públicos quando essa classe de
despesas ficou em torno de 1,5% (2020 a 2022).
111. Quanto às despesas obrigatórias, o item que mais cresceu foi as previdenciárias. As
despesas com pessoal, em relação ao PIB, e também em relação à RCL, mantiveram-se
relativamente estáveis com queda mais acentuada nos últimos anos em virtude da ausência de
reajustes. Depois da reforma previdenciária, vários itens de despesas obrigatórias já foram
objeto de propostas de redução: precatórios, abono salarial, promoções e progressões; redução
proporcional de jornada de trabalho e vencimentos; e aquelas apresentadas no contexto da
reforma administrativa (controle do teto remuneratório e das parcelas indenizatórias). No caso
dos precatórios houve adiamento de pagamentos, o que afetará sensivelmente as despesas
obrigatórias a partir de 2026. As despesas obrigatórias com controle de fluxo54 quase dobram de
participação em 2023 em relação ao início da série, em decorrência do novo patamar para o
atendimento do programa Bolsa Família, que passará de 0,3% do PIB em 2008 para 1,7% do PIB
em 2023.
112. Vale lembrar os principais pontos que balizaram o teto de despesas quando de sua
formulação, em um contexto de déficit público:
a) ajuste fiscal exclusivamente pelo lado da despesa primária, de modo a não
requerer aumento da receita (manutenção de carga tributária); crescimento real
54
Classificação adotada pela STN de despesas que, apesar de decorrerem de determinação legal ou
constitucional, possuem características tais que permitem uma flexibilidade relativa na programação
orçamentária e financeira, a exemplo das despesas com piso da saúde e educação, benefícios a servidores, bolsa
família, etc. São exemplos de despesas obrigatórias que não se sujeitam a controle de fluxo as despesas com
pessoal, previdência, repartição de receita, etc., ou seja, encargos da União líquidos e certos, com data certa de
pagamento, sem qualquer flexibilidade.
30
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Estudo nº 03 /2023
31
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
56
A nova redação, em contraposição àquela do texto anterior, fez com que os limites de despesa primária, quando
da elaboração da LOA, se tornassem instáveis e provisórios, porque fixados com base em projeções do IPCA
no exercício em que se elabora o PLOA.
57
Diante do esgotamento das alternativas de contenção das despesas primárias submetidas ao teto, obrigatórias
e discricionárias, imaginava-se uma revisão antecipada do método de correção do teto, mantendo-se o atual
paradigma, e não sua revogação.
58
Os precatórios devidos e não pagos em 2022 aproximam-se de R$ 30 bilhões. As sentenças devidas e não
pagas entre 2022 e 2026, com correção monetária, possivelmente na casa de centenas de bilhões de reais,
representam esqueleto a ser desembolsado em 2027 e salto significativo na dívida pública federal.
59
A eventual aplicação deste dispositivo exigirá uma definição mais clara acerca das despesas obrigatória. Vide,
a propósito, o Estudo Técnico 13/2018 - Vínculo Obrigacional e Grau de Rigidez das Despesas Orçamentárias.
Disponível em: https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/estudos/2018/et13-2018-vinculo-
obrigacional-e-grau-de-rigidez-das-despesas-orcamentarias.
32
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autônomo, uma espécie de limite prudencial com o propósito de reduzir o crescimento das
despesas obrigatórias antes do limite máximo. Contudo, esse nível mostrou-se nitidamente
elevado, vez que seu acionamento dependeria de uma redução insustentável de despesas
discricionárias.
117. A figura seguinte ilustra a dificuldade de se manter por muitos anos um teto reajustado
apenas pelo IPCA, diante do fato de que grande parte das despesas obrigatórias crescem
acima da inflação, destacando-se os precatórios, os benefícios previdenciários e assistenciais
(ampliação do auxílio-brasil /bolsa-família).
60
Ver a propósito estudo acerca dos efeitos da Reforma da Previdência (EC nº 103/2019) na regra do teto (EC
nº 95/2016): proposta de ajuste metodológico no cômputo dos limites
33
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É necessário uma definição mais precisa do que seja despesa “obrigatória”, evitando-se
contabilidade criativa61.
123. Para os demais entes, o indicador é a relação despesas correntes/receitas correntes.
124. Os limites estabelecidos aplicam-se tanto para o valor autorizado (lei e créditos
adicionais) como para a execução financeira (inclui restos a pagar). A existência de um limite
desde a autorização dos créditos orçamentários mostrou-se positiva em inúmeros aspectos da
gestão fiscal e orçamentária (previsibilidade, segurança, etc.) e na estipulação de limites aos
demais Poderes e Órgãos autônomos.
125. Os limites por Poder e órgão autônomo foram determinados num primeiro momento com
base no valor de 2016, devidamente corrigidos a cada ano pelo IPCA.
126. Na aplicação dos limites foram incluídas operações, mesmo que não orçamentárias, que
afetam o resultado primário. E foram excluídas as despesas obrigatórias que decorrem da
repartição de receitas e da complementação da União ao Fundeb. Também foram excluídos os
créditos extraordinários62, as despesas sazonais para a realização de eleições e o aumento de
capital de estatais não dependentes.
127. O objetivo implícito das exclusões no âmbito da União é o de retirar do limite as despesas
obrigatórias que decorrem de causas sobre as quais o governo tem pouco ou nenhum controle
sobre as mesmas. Quase todas as despesas excluídas são obrigatórias63, tratando-se de um rol
limitado (numerus clausus).
128. Medidas de correção. As medidas de correção são aquelas dos incisos do art. 109 do
ADCT, acionadas quando atingida a relação de 95% entre despesas obrigatórias e despesas
primárias totais. Consistem em vedações relacionadas ao aumento de despesas com pessoal,
criação ou aumento acima da inflação de despesa obrigatória, revisão geral anual, etc. Aplicam-
se “até o retorno das despesas aos respectivos limites”, ou seja, as proibições deixam de existir
apenas depois de confirmado o retorno ao limite anual.
129. Importante destacar que as medidas de correção do art. 109 do ADCT não obrigam o
Legislativo a tomar decisões para reduzir despesas obrigatórias, mas apenas o impede de criar
novas despesas e assim conter seu crescimento. As medidas que vedam novas despesas
obrigatórias também não obstam o crescimento vegetativo dos gastos já legislados (benefícios
previdenciários e assistenciais, etc.).
130. Inclui-se também na proibição a criação ou expansão de programas e linhas de
financiamento, bem como a remissão, renegociação ou refinanciamento de dívidas que
impliquem ampliação das despesas com subsídios e subvenções; a concessão ou a ampliação de
incentivo ou benefício de natureza tributária. Curioso observar, com base no modelo de
referência utilizado neste trabalho, que algumas dessas medidas não têm relação com as
despesas primárias, ou seja, não corrigem o desvio. Logo podem ser consideradas como sanções
administrativas.
61
No PLOA 2020, várias despesas discricionárias (investimentos na área militar) estavam classificadas como
despesas obrigatórias, uma forma de evitar o contingenciamento.
62
Houve temor, inicialmente, que essa exclusão pudesse ser utilizada de forma indevida. No entanto, revelou-
se oportuna. Sua utilização regular permitiu o enfrentamento da calamidade, sem prejuízo para as demais
despesas.
63
As despesas com aumento de capital de empresas estatais não dependentes não são obrigatórias. Sua exclusão
foi uma escolha política.
34
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
131. As medidas não incluem a restrição das despesas discricionárias, já que tais despesas
funcionam como variáveis de ajuste no contexto do limite geral.
132. Os incisos do art. 109 do ADCT impõem o dever de abstenção em relação aos atos que
especifica. Adicionalmente, o caput contempla um dever genérico dos órgãos e entidades de
adotar “outras medidas” para o retorno das despesas aos respectivos limites.
133. As vedações aplicam-se em especial às proposições legislativas (§ 4º do art. 109).
134. É fato que, se algumas das medidas de ajuste tivessem sido acionadas desde o início da
vigência da EC nº 95/2016, as despesas discricionárias (custeio e investimento) estariam menos
comprimidas64. Diversas despesas obrigatórias (a exemplo do aumento do teto remuneratório,
das PECs dos servidores dos ex territórios federais, do aumento dos militares, da criação de
cargos no TRF 6, do aumento dos policiais do DF, etc.), refinanciamentos de dívidas (setor
agrícola, Pró-Santas Casas, etc.), e novas renúncias (desoneração folha de pagamento), não
teriam sido aprovadas sem a devida compensação.
135. Sanções. A autorização ou a execução financeira de despesas acima dos limites
estabelecidos (descumprimento do teto) é sensível à eventual imputação de crime de
responsabilidade (CF, art. 85, VI; Lei 1.079/1950, art. 9º, 465; art. 1066 e art. 1167).
136. Em se comprovando lesão ao erário, seja por ação ou omissão, o ato pode ser considerado
como de improbidade (art. 10, IX da Lei 8.429/92), nos seguintes termos: (...) IX - ordenar ou
permitir a realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento; e, XI - liberar verba
pública sem a estrita observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a
sua aplicação irregular. O código penal tipifica como crime contra as finanças públicas ordenar
despesa não autorizada por lei (art. 359-D).
137. Em relação ao limite de 95% das despesas obrigatórias, o dever jurídico diz respeito à
observância das vedações, sendo que as sanções seriam aplicáveis apenas em caso de conduta
contrária.
138. Quanto ao atingimento dos limites máximos (art. 107, § 4º do ADCT), a norma diz que as
despesas primárias autorizadas na lei orçamentária anual não poderão exceder os valores
máximos68 previstos no § 3º do mesmo artigo.
64
Novas despesas obrigatórias teriam sido contidas. Não teria atingido despesas obrigatórias cujo crescimento
vegetativo é inercial, o que depende da legislação vigente.
65
Art. 9º São crimes de responsabilidade contra a probidade na administração: 4 - expedir ordens ou fazer
requisição de forma contrária às disposições expressas da Constituição;
66
Art. 10. São crimes de responsabilidade contra a lei orçamentária: (...) 4 - Infringir, patentemente, e de qualquer
modo, dispositivo da lei orçamentária.
67
Art. 11. São crimes contra a guarda e legal emprego dos dinheiros públicos: 1 - ordenar despesas não
autorizadas por lei ou sem observância das prescrições legais relativas às mesmas; 2 - Abrir crédito sem
fundamento em lei ou sem as formalidades legais;
68
Art. 107, § 3º. A mensagem que encaminhar o projeto de lei orçamentária demonstrará os valores máximos
de programação compatíveis com os limites individualizados calculados na forma do § 1º deste artigo,
observados os §§ 7º a 9º deste artigo.
35
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
Sanções Específicas
Indicador
Lei 10.028/2000 (Infração
administrativa), Lei 8.429/92; % Despesa total por
DL nº 201/67; CP art. 359-D, F Poder/Órgão Autônomo / RCL
eG
Medidas de Correção
CF, art. 169; LRF art. 21 a 23
69
A Lei Complementar 82, de 1995, da Deputada Rita Camata, foi depois transformada na Lei Complementar
96, de 1999.
70
A Constituição determina que a autorização específica deve constar da LDO. A experiência mostrou que esse
arranjo não era funcional, uma vez que as autorizações na LDO não eram acompanhadas da devida dotação, o
que dificultava qualquer controle quantitativo. Por isso essa autorização, a partir da LDO 2001, migrou para um
anexo específico da LOA, compatibilizada com as respectivas dotações que constam em reserva específica.
71
Enquanto não aprovada a legislação específica, as despesas orçamentárias são consideradas como de natureza
“discricionária” (não obrigatórias).
36
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
144. O próximo gráfico mostra como as despesas com pessoal se comportaram na União em
termos de percentual da RCL. O percentual de comprometimento encontra-se em patamar
inferior ao máximo admitido para o Executivo da União (37,9 %). O indicador utilizado (% da
RCL) é sensível às variações da receita, o que explica as grandes variações no período de 2020 a
2022, destacando a perda de receita na pandemia e as receitas extraordinárias em 2022. O
indicador pode ser aperfeiçoado se considerado, na sua apuração, não apenas os últimos 12
meses, mas um período maior, de forma a suavizar os eventos sazonais.
37
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
145. Situação fiscal desejada. A situação fiscal desejada é a de manter sob controle o
montante destinado às despesas com pessoal e encargos sociais (ativos, inativos e pensionistas),
dada sua elevada rigidez e a tendência de crescimento, uma forma de não comprometer as
demais demandas do ente da federação, ou mesmo do serviço da dívida.
146. Indicador. O indicador utilizado para aferir a situação fiscal desejada é a proporção entre
despesa total com pessoal (art. 18 da LRF), em cada período de apuração, e a receita corrente
líquida - RCL (art. 2º, IV da LRF). Os limites são aqueles que constam dos arts. 19 e 20 da LRF. Os
percentuais para a União revelaram-se relativamente folgados no âmbito do Executivo, diante do
crescimento da RCL.
147. O planejamento orçamentário das despesas com pessoal e encargos sociais, na União, é
feito por meio da aprovação de reservas orçamentárias que constam do Anexo V da LOA, pré-
requisito à aprovação da respectiva legislação. Este mecanismo de controle - definição prévia da
margem de expansão orçamentária de despesas obrigatórias - poderia ser estendido às demais
despesas obrigatórias.
148. No âmbito dos estados/DF e municípios, as despesas com pessoal e encargos sociais são
as principais responsáveis pelo desequilíbrio fiscal. Dentre as inconsistências que erodem a regra
fiscal, a principal é a subestimativa dos gastos com pessoal, muitas vezes classificados como
custeio geral.
149. Medidas de correção. Se a despesa ultrapassar 95% do limite (prudencial), nos termos
do art. 20 da LRF, veda-se ao Poder ou órgão que houver incorrido no excesso:
Art. 22 (...)
Parágrafo único. Se a despesa total com pessoal exceder a 95% (noventa e cinco
por cento) do limite, são vedados ao Poder ou órgão referido no art. 20 que
houver incorrido no excesso:
38
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
72
A ressalva na concessão, de que trata o inciso I, diz respeito à revisão geral anual do inciso X do art. 37 da
CF.
73
Art. 359-G. Ordenar, autorizar ou executar ato que acarrete aumento de despesa total com pessoal, nos cento
e oitenta dias anteriores ao final do mandato ou da legislatura.
39
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
156. Quando houver descumprimento das condições estabelecidas na LDO, os atos podem ser
considerados atentatórios ao princípio da legalidade ou até lesivos ao erário e punidos pela lei
de improbidade administrativa: perda da função, multa, suspensão dos direitos políticos (Lei nº
8.429/92, arts. 10, IX e XI). A contratação disfarçada de mão-de-obra através de contratos de
prestação de serviços pode ser considerada irregular e sujeitar os agentes a sanções por
improbidade administrativa. Cabe aos Tribunais de Contas verificar os cálculos das despesas e
da receita corrente líquida. E aplicar sanções se houver manipulação ou fraude nas informações.
A prática de ato visando fim proibido em lei sujeita-se ao art. 11 da Lei. Nº 8.249/92.
157. Existem também sanções relacionadas às despesas com pessoal no DL nº 201/67, art. 5º,
IV; no Código Penal, arts. 359-D, F e G.
Medida de Correção
Compensação
158. Legislação e Breve Histórico. Trata-se de um conjunto de preceitos fiscais que tentam
garantir, por meio do mecanismo de compensação, a neutralidade orçamentária de nova
legislação que aumenta despesas obrigatórias ou reduz receita tributária, uma forma de tentar
conservar o nível de equilíbrio atual. Exige-se que seja indicada a origem dos recursos quando a
proposição aumenta despesa obrigatória, ou em caso de renúncia de receita.
159. Esse princípio é expresso, quanto às despesas obrigatórias de pessoal, no art. 169, § 1º,
como visto. Quanto aos novos benefícios ou serviços da seguridade social, o § 5º do art. 195
determina que "Nenhum benefício ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado
ou estendido sem a correspondente fonte de custeio total". Mais recentemente, a EC nº 95/2016
inseriu o art. 113 do ADCT, passou a exigir que toda proposição legislativa que crie ou altere
despesa obrigatória ou renúncia de receita seja acompanhada da estimativa do seu impacto
orçamentário e financeiro.
40
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
160. Na LRF, partiu-se da premissa de que o equilíbrio implícito na lei orçamentária – aprovada
de forma compatível com as metas da LDO – deveria ser preservado durante a execução, em
obediência ao princípio da ação fiscal planejada. Assim, além da estimativa do impacto, a
existência de prévia dotação orçamentária foi considerada uma condição necessária para a
aprovação de legislação que cria (aumenta) novas despesas obrigatórias (ou novas renúncias).
161. Tais disposições constam dos arts. 17 e 14 da LRF, e também do demonstrativo de que
trata o inciso V do §2º do art. 4º da LRF (estimativa e compensação da renúncia da receita e
margem de expansão das despesas obrigatórias).
162. As regras de neutralidade orçamentária possuem grande potencial de contenção de novos
gastos obrigatórios e de prevenção de perda de receita. Configura-se como um controle difuso
(específico) e prévio de proposições e demais atos que criam despesas obrigatórias e aumentam
renúncias. Depois de aprovada a despesa obrigatória inócuo74 fixar restrições orçamentárias. As
despesas obrigatórias, uma vez aprovadas, não se submetem aos limites do orçamento. Ao
contrário, é o orçamento que fica submetido às mesmas. De outra parte, restou ainda à lei
orçamentária controlar as novas despesas obrigatórias, o que é feito pela exigência da
identificação prévia dos recursos orçamentários, inclusive na forma de reservas, como ocorre
com as despesas com pessoal na União.
163. Vale ressaltar ainda que, quando da elaboração da LRF, o controle do aumento de
despesas obrigatórias (e das renúncias) foi concebido sob duas óticas de compensação.
164. A primeira é o controle difuso já referido de cada ato ou proposição (art. 17 e 14). Exige-
se previamente a estimativa do impacto e a comprovação da existência dos recursos. No caso das
despesas obrigatórias, a compensação deve ter origem no aumento (permanente) de receita e na
redução permanente de despesa. Quanto à renúncia de receita, exige-se igualmente
compensação com o aumento de outra receita, ou comprovação de que a redução já foi
considerada (já constou) na estimativa de receita do orçamento. Garante-se, assim, a
neutralidade orçamentária de cada nova despesa obrigatória ou renúncia que se pretende criar
ou aumentar, mantendo-se o sistema equilibrado.
165. Outra possibilidade de compensação é a prevista no demonstrativo que integra o anexo
de metas fiscais, qual seja, no caso de se identificar eventual margem de expansão das despesas
obrigatórias continuadas e das renúncias de receitas. O demonstrativo compara o aumento
permanente da receita com o crescimento dos gastos obrigatórios. Nesse caso, o controle
(agregado) não é de cada ato ou proposição, mas do conjunto de atos e proposições que podem
ser aprovadas no exercício (margem de expansão). No Brasil esse planejamento nunca foi
implantado, exceto quanto às despesas com pessoal (vide anexo V da LOA), como já referido.
166. Não se identificou ainda interesse do Executivo em definir previamente espaços fiscais,
porque poderia perder protagonismo. De outra parte, o processo legislativo opera com uma
lógica processual diversa, ou seja, as proposições são aprovadas em sequência (série), sem um
cronograma definido, e não de forma conjunta e articulada com o processo orçamentário,
condição para se promover um controle agregado.
74
A falta de orçamentação das despesas obrigatórias não impede o fato gerador e o consequente aumento do
endividamento. Para maiores detalhes sobre a natureza das despesas obrigatórias vide:
https://www2.camara.leg.br/orcamento-da-uniao/estudos/2018/et13-2018-vinculo-obrigacional-e-grau-de-
rigidez-das-despesas-
orcamentarias#:~:text=Na%20avalia%C3%A7%C3%A3o%20do%20grau%20de,que%2C%20genericamente
%20autorizadas%20por%20norma Acesso em 07 set 2020.
41
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
167. Não existe disposição regimental prevendo o uso de eventual reserva orçamentária
(margem de expansão) entre as inúmeras proposições concorrentes, nem critérios de alocação
entre as diversas comissões, aos moldes do processo legislativo orçamentário norte-americano
(concurrent resolution).
168. As regras de neutralidade orçamentária têm grande potencial no sentido de conservar o
equilíbrio orçamentário, mas exigem planejamento, disciplina e engajamento dos Poderes.
169. Uma situação de difícil equacionamento, além de recorrente, ocorre quando o aumento
de despesas obrigatórias, ou a renúncia de receitas, é promovido por emenda constitucional,
proposições que, a rigor, não se submetem à exigência da compensação prevista na lei
complementar (LRF).
170. O gráfico seguinte mostra a evolução das despesas obrigatórias e das discricionárias no
período de 2000 a 2022.
Gráfico 8 - Despesas Obrigatórias e Discricionárias - 2008 a 2023 (% PIB)
171. Situação fiscal desejada. As regras fiscais voltadas à garantir neutralidade orçamentária
das proposições que aumentam despesa obrigatória, ou reduzem receita, tem como propósito
preservar o equilíbrio fiscal implícito na lei orçamentária. É também uma forma de evitar o
aumento do percentual de comprometimento do orçamento com despesas correntes
obrigatórias (rigidez orçamentária).
172. Indicador. O indicador da neutralidade orçamentária é o próprio impacto orçamentário
que decorre da aprovação do ato ou da proposição, que, depois de compensado, deve ser igual
ou menor que zero. Assim, o impacto orçamentário do ato ou a proposição, após compensação,
deve ser nulo ou negativo, de modo não comprometer os resultados fiscais da LOA. No caso do
controle agregado, viabilizado a partir do demonstrativo da margem de expansão, o indicador
corresponderá aos valores obtidos a partir dos referidos demonstrativos (inciso V do §2º do art.
4º).
173. Medidas de correção. O aumento das despesas obrigatórias ou a renúncia de receitas, se
não compensados, geram desequilíbrio. A medida de correção, portanto, é a compensação. A falta
de identificação de uma fonte permanente de custeio tem como consequência o aumento do
déficit orçamentário.
42
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
181. O tema da responsabilização pessoal no âmbito das finanças públicas tem merecido
atenção crescente do legislador, a exemplo dos crimes definidos pela Lei 10.028/2000, aprovada
em conjunto com a LRF. O objetivo aqui é tão somente trazer uma visão geral sobre o assunto,
75
O inc. II do § 2º do art. 8º da LC 173/2020, quanto às despesas obrigatórias de caráter continuado, prevê que,
enquanto não implementada a prévia compensação, a lei ou o ato será ineficaz.
76
Art. 167 (...) § 7º A lei não imporá nem transferirá qualquer encargo financeiro decorrente da prestação de
serviço público, inclusive despesas de pessoal e seus encargos, para a União, os Estados, o Distrito Federal ou
os Municípios, sem a previsão de fonte orçamentária e financeira necessária à realização da despesa ou sem a
previsão da correspondente transferência de recursos financeiros necessários ao seu custeio, ressalvadas as
obrigações assumidas espontaneamente pelos entes federados e aquelas decorrentes da fixação do salário
mínimo, na forma do inciso IV do caput do art. 7º desta Constituição.
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Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
uma avaliação simplificada acerca do teor e da consistência das penalidades que induzem ao
cumprimento das leis (enforcement).
182. O agente responsável pelo descumprimento da norma, seja obrigação de fazer ou de não
fazer, encontra-se sujeito a sanções de natureza diversa. A tipificação das condutas torna a norma
fiscal mais efetiva, quando se cotejam os incentivos e os custos da indisciplina. O bem jurídico
protegido é a integridade das finanças públicas. As sanções encontram-se em legislação esparsa,
e são de natureza diversa: política (perda de cargo, suspensão de direitos políticos);
administrativa (limitações ao órgão ou ao ente da federação); cível (multas, perda de bens,
ressarcimento, etc.) e penal (penas restritivas de liberdade).
183. De acordo com o art. 73 da LRF, as infrações de seus dispositivos serão punidas segundo
o Decreto-lei nº 2.848/1940 (Código Penal); a Lei nº 1.079/1950 (Crimes de Responsabilidade);
o Decreto-lei nº 201/196777 (responsabilidade dos prefeitos e vereadores); a que dispõe sobre
as sanções aplicáveis aos agentes públicos nos casos de improbidade administrativa)78 ; e demais
normas da legislação pertinente.
184. Os crimes comuns contra as finanças públicas foram incluídos no código penal (Decreto-
Lei nº 2.848/1940) pela Lei 10.028/2000, sendo julgados pelo Poder Judiciário. As condutas
típicas encontram-se nos arts. 359-A a 359-H79. As infrações administrativas encontram-se
previstas no art. 5º da Lei 10.028/200080.
185. Os crimes de responsabilidade, diferentemente dos crimes comuns, são infrações
cometidas por agentes políticos em razão dos mandatos, julgados pelo Legislativo. Importa a
conduta do agente e sua responsabilidade administrativo-política. A punição é a perda do cargo
e inabilitação para o exercício de qualquer função pública (direitos políticos). Não existe a pena
de perda de liberdade ou a patrimonial. O art. 85 da Constituição caracteriza como crime de
responsabilidade os atos do Presidente da República que atentem contra a Constituição e
especialmente contra: (...) V – a probidade na administração; VI – a lei orçamentária; VII – o
cumprimento das leis e das decisões judiciais. A Lei 1.079/1950 81 detalha os crimes de
77
Vide art. 1º, itens XVI a XXIII; Art. 5º (infração administrativa)
78
Vide art. 37, § 4º da CF, e Lei nº 8.492/92. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao
erário, qualquer lesão ou omissão, dolosa ou culposa, (...) VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem
a observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (...) IX - ordenar ou permitir a
realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento; (...) XI - liberar verba pública sem a estrita
observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular;
79
Condutas típicas: contratação de operação de crédito, inscrição de despesas não empenhadas em restos a pagar,
assunção de obrigação no último ano de mandato ou legislatura, ordenação de despesa não autorizada, prestação
de garantia graciosa, não cancelamento de restos a pagar, aumento de despesa total com pessoal no último ano
do mandato ou legislatura, oferta pública ou colocação de títulos no mercado
80
Art. 5º Constitui infração administrativa contra as leis de finanças públicas:
I – deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de Contas o relatório de gestão fiscal, nos
prazos e condições estabelecidos em lei; II – propor lei de diretrizes orçamentárias anual que não contenha as
metas fiscais na forma da lei; III – deixar de expedir ato determinando limitação de empenho e movimentação
financeira, nos casos e condições estabelecidos em lei; IV – deixar de ordenar ou de promover, na forma e nos
prazos da lei, a execução de medida para a redução do montante da despesa total com pessoal que houver
excedido a repartição por Poder do limite máximo.
81
Na Lei 1.079/50, vide em especial: Art. 9º. São crimes de responsabilidade contra a probidade na
administração: (...) 4) expedir ordens ou fazer requisição de forma contrária às disposições expressas da
Constituição; 5) infringir no provimento dos cargos públicos, as normas legais; Art. 10: Art. 10. São crimes de
responsabilidade contra a lei orçamentária: (...) 2) exceder ou transportar, sem autorização legal, as verbas do
44
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
orçamento; 3) realizar o estorno de verbas; 4) infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da Lei
orçamentária; (...) 12) realizar ou receber transferência voluntária em desacordo com limite ou condição
estabelecida em lei. Além de outros crimes relacionados às providências para redução da dívida,
descumprimento de limite ou condição relacionada às operações de crédito (vide item específico); e Art. 11: São
crimes de responsabilidade contra a guarda e o legal emprego dos dinheiros públicos: 1) ordenar despesas não
autorizadas por lei ou sem observância das prescrições legais relativas às mesmas; 2) abrir crédito sem
fundamento em lei ou sem as formalidades legais.
82
De acordo com o art. 10 desta lei, constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário
qualquer lesão ou omissão, dolosa ou culposa, (...) VII - conceder benefício administrativo ou fiscal sem a
observância das formalidades legais ou regulamentares aplicáveis à espécie; (...) IX - ordenar ou permitir a
realização de despesas não autorizadas em lei ou regulamento; (...) XI - liberar verba pública sem a estrita
observância das normas pertinentes ou influir de qualquer forma para a sua aplicação irregular.
83
Fiscal Federalism 2016. Makin Decentralisation Work. Monitoring sub-central government debt: Trends,
challenges and practices. Disponível em: https://www.oecd-ilibrary.org/sites/9789264254053-
en/index.html?itemId=/content/publication/9789264254053-en>. Acesso em 24 set 2020.
45
Regras e Mecanismos de Controle Fiscal
Estudo nº 03 /2023
lei que contraria a LRF, a sanção prevista é a da nulidade da norma, ou pelo menos da suspensão
de sua eficácia, o que depende de declaração pelo órgão competente.84
84 A alteração recente do art. 21 da LRF (pela LC 173/2020), acerca de aumentos de pessoal em final de
mandato, esclareceu que a nulidade atinge todas as etapas de produção da norma, ou seja, a aprovação, a edição
ou a sanção, por Chefe do Poder Executivo, por Presidente e demais membros da Mesa ou órgão decisório
equivalente do Poder Legislativo, por Presidente de Tribunal do Poder Judiciário e pelo Chefe do Ministério
Público, da União e dos Estados. O inciso II do § 2º do art. 8º da LC 173/2020, ao estabelecer restrições até
31/dez/2021, prevê que, “não implementada a prévia compensação, a lei ou o ato será ineficaz enquanto não
regularizado o vício, sem prejuízo de eventual ação direta de inconstitucionalidade. ”
1
ANEXO 1 – QUADRO SÍNTESE DAS REGRAS FISCAIS
MEDIDAS DE CORREÇÃO DO DESVIO, SE
REGRA FISCAL, LEGISLAÇÃO INDICADOR/GATILHO QUE ACIONA
SITUAÇÃO DESEJADA DESCUMPRIDO O LIMITE OU AS SANÇÕES POTENCIAIS – LEGISLAÇÃO BÁSICA
BÁSICA MEDIDAS DE RECONDUÇÃO
CONDIÇÕES
União – não definido;
Sustentabilidade da Vedação de: Operação de Crédito (exceto
1 - DÍVIDA PÚBLICA Estados/DF - limite Dívida Cons. Líquida Crime de Responsabilidade: Lei 1079/50 (art. 10,
Dívida (trajetória de refinanciamento) e recebimento de
CF, art. 163, VIII; LRF (art. 31 e excede 200% da RCL; itens 5 e 9). Resoluções do Senado. Arts. 359-A do
sustentabilidade). transferência voluntária (LRF, art. 31).
ss), Resoluções do Senado. Municípios - limite excede 120% RCL. código penal e art. 1º, XVI e XX do DL 201/67.
Obtenção de superávit primário. Etc.
Limite OC/garantia União (60% RCL)
Proibição de operação de crédito que
Crime de Responsabilidade: art. 85, VI da CF; Lei
2 - REGRA DE OURO exceda o montante.
Equilíbrio do Orçamento Montante de Operações de Crédito 1079/50 (art. 9, item 4; 10, itens 7 e 9; e art. 11,
CF, art. 167, III; LRF art. 12, § Obs. A aprovação de crédito suplementar
Corrente. excede Despesas de Capital. item 3), LRF (art. 32, § 1º, V); Código Penal: art.
2º; 32, §3º; LDO. ou especial com quorum qualificado afasta
359-A. Lei nº 8.429/92.
a regra (e as sanções).
Resultado fiscal Contingenciamento (redução da despesa
3 - META DE RESULTADO Diferença entre receita e despesa
consistente com a discricionária) na execução, sempre que Lei 10.028/2000 (Infração administrativa - art.,
FISCAL (primário) primária. O gatilho /limite é a meta
política fiscal e necessário ao cumprimento da meta. LRF 5º, II; e art. 5º, III).
LRF art. 4º, § 1º e art. 9º; LDO. fixada na LDO.
econômica. art. 9º.
Limitar as despesas
4 – LIMITE DE DESPESAS Despesa Primária por Poder e Órgão. O Até a EC nº 109/21, as medidas de Crime de Responsabilidade (CF, art. 85, VI; Lei
primárias por Poder e
PRIMÁRIAS (TETO) limite individualizado é o montante de contenção eram acionadas se descumprido 1.079/1950, art. 9º, 4; art. 10, 4). Lei nº 8.429/92
Órgão Autônomo
EC 95/16. ADCT art. 106 e ss. gasto em 2016, corrigido pelo IPCA os limites individualizados. ADCT art. 109. (art. 10, IX); Cód. Penal Art. 359-D.
(vigência NRF)
A partir da EC nº 109/21, são acionadas as
4.1 – LIMITE DE DESPESAS Conter a proporção de Crime de Responsabilidade (CF, art. 85, VII; Lei
Proporção entre despesas obrigatórias e mesmas medidas de contenção das
OBRIGATÓRIAS (95%) despesas obrigatórias 1.079/1950, art. 9º, 4; art. 11, 1). Lei nº 8.429/92
despesas primárias. Limite 95%. despesas obrigatórias (e renúncias de
EC nº 109/21. ADCT art. 109. (rigidez orçamentária) (art. 10, IX); Cód. Penal Art. 359-D.
receita). ADCT art. 109.