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9.1 INTRODUÇÃO
CFC, de 19/12/2018, a denominada ICPC 22 passa a ter aplicação obrigatória no país aos
exercícios sociais iniciados a partir de 1º de janeiro de 2019.
Em linhas gerais, a Interpretação busca esclarecer como a entidade deve aplicar os
requisitos de reconhecimento e mensuração do Pronunciamento Técnico CPC 32 – Tri-
butos sobre o Lucro, aprovado pela Deliberação CVM n° 599/2009 e pela Resolução CFC
n° 1.189/2009, quando há incertezas sobre os tratamentos fiscais. A ICPC 22, aplicável
apenas a tributos sobre o lucro, situa-se em território normativo diverso ao das provi-
sões e contingências, regido pelo Pronunciamento Técnico CPC 25 – Provisões, Passivos
Contingentes e Ativos Contingentes, aprovado pela Deliberação CVM nº 594/2009 e pela
Resolução CFC nº 1.180/2009. Apesar disso, há uma inevitável oportunidade de voltar a
refletir sobre como a contabilidade avalia e quantifica contingências na esfera tributária, a
partir da intersecção de conceitos do CPC 25 e da novel ICPC 22, e dos desafios relacio-
nados à aplicação dessas normas. Esse, pois, constitui-se o pano de fundo dos aspectos a
serem discutidos neste capítulo.
No seu desenvolvimento, o capítulo objetiva realizar uma sucinta exposição dos princi-
pais conceitos oriundos do CPC 25, de modo a permitir uma compreensão de aproximações
e distanciamentos no tratamento de incertezas entre esta norma e a ICPC 22, e dos conceitos
oriundos do próprio CPC 32, pois é este o escopo de aplicação da Interpretação Técnica.
Ao final, buscaremos analisar os impactos e alguns pontos controvertidos da ICPC 22.
Para que se possa estabelecer uma análise crítica da ICPC 22, cabe situar, mesmo que
brevemente, os conceitos relacionados a “provisões” e “contingências”, e ilustrar alguns de
seus aqui denominados “paradoxos”.
Como se sabe, em geral, para que um ativo ou passivo seja reconhecido em uma demons-
tração contábil, este ativo ou passivo deve satisfazer à definição própria, e ser mensurável.
No que diz respeito ao ativo, trata-se, no âmbito da convergência ao padrão IAS/IFRS,
de “um recurso controlado pela entidade como resultado de eventos passados e do qual
se espera que fluam futuros benefícios econômicos para a entidade” (§ 4.4, a, Pronuncia-
mento CPC 00 (R1) – Estrutura Conceitual para Elaboração e Divulgação de Relatório
Contábil-Financeiro, aprovado pela Deliberação CVM n° 675/2011 e pela Resolução CFC nº
1.374/11). A caracterização contábil do chamado “ativo contingente” revela um ativo “possí-
vel”, “cuja existência será confirmada apenas pela ocorrência ou não de um ou mais eventos
futuros incertos não totalmente sob controle da entidade” (§ 10, CPC 25). É curioso notar,
nesse esquema definitório, que, mesmo diante da probabilidade de entrada de benefícios
econômicos, a contingência restringe o reconhecimento de um ativo nas demonstrações
contábeis, “uma vez que pode tratar-se de resultado que nunca venha a ser realizado” (§ 33,
CPC 25). O ativo deixa de ser “contingente” e passa a ser reconhecido apenas se a entrada
de benefícios econômicos for “praticamente certa”.
Já no que diz respeito ao passivo, este é definido pela Estrutura Conceitual como “uma
obrigação presente da entidade, derivada de eventos passados, cuja liquidação se espera
que resulte na saída de recursos da entidade capazes de gerar benefícios econômicos” (§
4.4, b, CPC 00(R1)). Note-se que dois são os elementos essenciais de um passivo: (i) repre-
senta uma obrigação presente perante um terceiro, (ii) cuja liquidação resultará na saída
de recursos da entidade.
Provisão é provavelmente um dos termos mais conhecidos do jargão contábil. De
maneira geral, provisão é “espécie” do gênero “passivo”, com a particularidade de ser um
passivo “de prazo ou de valor incerto” (§ 10, CPC 25).
Em um registro histórico, os autores do Manual de contabilidade societária advertem
que o termo “provisão” sempre foi utilizado na prática por contadores como qualquer
obrigação ou redução do valor de um ativo. Nesse aspecto, os autores compreendem que,
à luz do padrão IAS/IFRS e da Deliberação CVM n° 594/2009, há necessidade de as contas
retificadoras do ativo serem consideradas como perdas estimadas, sendo o termo provisão
utilizado, pois, somente para as obrigações.3
Já no âmbito jurídico, como noticia Elidie Palma Bifano, a terminologia surgiu inicial-
mente em norma tributária, o art. 60 da Lei nº 4.506/1964, que admitia a dedutibilidade
fiscal de provisões para créditos de liquidação duvidosa, para responsabilidade pela eventual
despedida dos empregados, e para o ajuste do custo de ativos ao valor de mercado, nos casos
previstos em lei.4 Com o advento da regulação societária da matéria contábil, o art. 184,
I, da Lei nº 6.404/1976, nesse aspecto ainda em vigor, ao tratar dos critérios de avaliação
do passivo, determina que “as obrigações, encargos e riscos, conhecidos ou calculáveis,
inclusive imposto de renda a pagar com base no resultado do exercício, serão computados
pelo valor atualizado até a data do balanço”.
Veja-se, portanto, que provisão é justamente uma espécie de passivo – obrigação pre-
sente da qual se espera que resulte na saída de recursos da entidade – cujo prazo ou valor
são incertos.
Dessa forma, todas as provisões são, por definição, contingentes, porque são incertas
quanto ao seu prazo ou valor. Para fins contábeis, entretanto, o termo “contingente” é uti-
lizado para passivos e ativos não reconhecidos nas demonstrações financeiras (off balance).
Na prática, é comum a utilização do termo provisão para se referir aos passivos oriundos
de disputas administrativas e judiciais. Esses são exemplos clássicos de provisões, uma vez
que o valor a ser pago pela entidade poderá variar sensivelmente dependendo da decisão
final. O prazo é igualmente incerto, geralmente superior a um ano.
3. GELBCKE, Ernesto Rubens et al. Manual de contabilidade societária: aplicável a todas as sociedades: de
acordo com as normas internacionais e do CPC. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018. p. 367.
4. BIFANO, Elidie Palma. Distinção Jurídico-tributária de Provisões e o Pronunciamento Técnico CPC n. 25 –
Essência e Forma Essencial. In: MOSQUERA, Roberto Quiroga; LOPES, Alexsandro Broedel. Controvérsias
jurídico-contábeis (aproximações e distanciamentos). São Paulo: Dialética, 2013. v. 4. p. 60-61.
O CPC 25 determina que a entidade reconheça uma provisão quando for provável que
haverá uma saída de recursos da entidade. O referido CPC define, no seu § 23, uma saída
de recurso como provável se “o evento for mais provável que sim do que não de ocorrer,
isto é, se a probabilidade de que o evento ocorrerá for maior do que a probabilidade de
isso não acontecer”.
Na IAS 37 – Provisions, Contingent Assets and Contigent Liabilities, norma interna-
cional correlacionada ao CPC 25, probable é definido como more likely than not.
Note-se que, caso a probabilidade de saída de recursos seja apenas possível, estaremos
diante de um passivo contingente que deverá ser divulgado em Nota Explicativa, mas não
registrado nas Demonstrações Financeiras. No caso de a saída de recursos ser remota, nem
a divulgação é obrigatoriamente exigida.
É relevante salientar, portanto, a existência de assimetria entre os critérios de reconhe-
cimento da provisão (passivo contingente) e de um ativo contingente. Em outras palavras,
as exigências mínimas (threshold) para registro contábil de ativos e passivos oriundos de
contingências é distinta; a norma (CPC 25) requer uma “maior certeza” para o registro de
ativos.
A título ilustrativo, considere-se duas empresas que litigam entre si. A empresa ré (polo
passivo) deverá registrar uma provisão caso entenda ser provável a perda da referida ação.
Em contrapartida, a autora da ação (polo ativo) não reconhecerá o referido ativo decorrente
dos valores a receber. Regra geral, como o critério para o registro contábil é que o ganho
seja “praticamente certo”, a entidade deverá, na maioria dos casos, esperar o trânsito em
julgado da ação. Essa assimetria implica o registro de uma despesa e de um passivo pela
parte “perdedora” do processo – sem correspondente ativo e receita pela “ganhadora”. Como
se diz anedoticamente na prática, “o Balanço do mundo não fecha”.
Atribui-se essa assimetria entre os critérios contábeis para registro de um ativo e de
um passivo ao que se convencionou denominar na contabilidade de conservadorismo,
termo geralmente empregado para dizer que os contadores devem divulgar o menor dos
valores possíveis para os ativos e as receitas, e o maior para os passivos e despesas. Ou
seja, por trás do conservadorismo e diante de incertezas, “supõe-se que o pessimismo
seja melhor do que o otimismo, na divulgação de informações financeiras”, nas palavras
de Eldon S. Hendriksen e Michael F. van Breda.5 O pessimismo seria uma proteção aos
credores e ao mercado em geral, por contrabalancear o excesso de otimismo de admi-
nistradores e proprietários.
Os mesmos autores desenvolvem duras críticas ao “conservadorismo”, que reputam
“um método muito pobre para lidar com a existência de incerteza na avaliação de ativos
e passivos e na mensuração do lucro”, e que sequer deveria ter lugar na teoria da conta-
bilidade. O ponto é que a subestimação deliberada pode conduzir tão frequentemente a
5. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. 1. ed. 12. reimpr. São Paulo: Atlas,
2015. p. 104.
6. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. 1. ed. 12. reimpr. São Paulo: Atlas,
2015. p. 105.
7. HEALY, Paul; WAHLEN, James. A review of the earnings management literature and its implications for stan-
dard setting. Accounting horizons, 1999. p. 368.
8. SCHIPPER, Katherine. Commentary on earnings management. Accounting horizons, v. l3, n. 4, 1989, p. 92.
9. CHARNESKI, Heron. Normas internacionais de contabilidade e direito tributário brasileiro. São Paulo: Quar-
tier Latin, 2018. v. XXIV. p. 130. Série Doutrina Tributária.
empresa e advogado, podem ter interesses comuns para que o processo não seja avaliado
como provável, e sim como possível ou remoto.
Para a empresa, isso diminuiria o passivo registrado contabilmente. Para o advogado,
poderia aumentar suas chances de contratação e de retenção da causa. Isso porque, caso ele
já indique no momento da contratação que a perda da ação é provável, a empresa poderia
simplesmente não o contratar. Afinal, a empresa busca ganhar o processo. E se o advogado
já lhe afirma ex ante que a perda é provável, a empresa poderia ter incentivos para procurar
outro profissional. O tema é complexo, pois, ao mesmo tempo, o advogado patrocinador
da causa é o que deve deter a maior expertise para a avaliação das suas probabilidades.
10. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. 1. ed. 12. reimpr. São Paulo: Atlas,
2015. p. 428.
11. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. 1. ed. 12. reimpr. São Paulo: Atlas,
2015. p. 431-433.
sua exigibilidade diferida para quando do recebimento, o que levaria a empresa a registrar,
juntamente com a receita, o passivo fiscal diferido.
Tome-se o caso hipotético12 de uma empresa que, no ano 1, tenha adquirido uma má-
quina para a produção de bens, no valor de $ 200.000, com vida útil econômica estimada
de 5 anos e taxa anual de depreciação contábil de 20%. A legislação tributária prevê uma
taxa anual de depreciação de 25% para a máquina. A receita bruta de bens em cada ano é
de $ 800.000, e o custo de produção é de $ 300.000. Para simplificar, não existem outros
elementos de resultado e a depreciação será linear, sem ajuste do valor residual do bem. Até
que o valor de aquisição da máquina esteja totalmente depreciado na escrituração mercantil
no quinto ano,13 o cálculo tributário levaria ao seguinte resultado:
Quadro 9.1 – Demonstrativo de efeitos das diferenças temporárias sobre resultados acumulados
12. O exemplo foi livremente inspirado e adaptado a partir do item 30 do Parecer Normativo RFB nº 1/2011,
conforme apresentado em: CHARNESKI, Heron. Normas internacionais de contabilidade e direito tributário
brasileiro. São Paulo: Quartier Latin, 2018. v. XXIV. p. 68. Série Doutrina Tributária.
13. De acordo com o § 16 do art. 57 da Lei nº 4.506/1964, inserido pelo art. 40 da Lei nº 12.973/2014, a partir
do período de apuração em que o montante acumulado das quotas de depreciação computado na deter-
minação do lucro real atingir o limite do custo de aquisição do bem, o valor da depreciação, registrado na
escrituração comercial, deverá ser adicionado ao lucro líquido para efeito de determinação do lucro real.
14. HENDRIKSEN, Eldon S.; VAN BREDA, Michael F. Teoria da contabilidade. 1. ed. 12. reimpr. São Paulo: Atlas,
2015. p. 429.
a minuta.15 Com isso, a ICPC 22 não se aplica a outros tributos, tão ou mais permeados de
incertezas no contexto nacional, como a contribuição ao PIS, a COFINS, o ICMS, o IPI e o
ISS, e os eventuais riscos e contingências associados a esses tributos devem continuar sendo
avaliados com base no CPC 25 – Provisões, Passivos Contingentes e Ativos Contingentes.
Em linhas gerais, a ICPC 22 não traz grandes novidades no tocante à aplicação dos
requisitos previstos no CPC 32. E nem deveria, já que é uma Interpretação e não um Pro-
nunciamento propriamente dito.
A premissa básica da Interpretação é a de que “a aceitabilidade de determinado
tratamento tributário, de acordo com a legislação fiscal, pode não ser conhecida até que
a respectiva autoridade fiscal ou tribunal tome uma decisão no futuro” (§ 2, ICPC 22).
Consequentemente, a entidade deve considerar a probabilidade de que a autoridade fiscal
aceite um “tratamento fiscal incerto”, de modo que a contestação desse tratamento fiscal
pela autoridade fiscal pode afetar a contabilização do tributo corrente ou diferido ativo ou
passivo da entidade.
Duas definições são fundamentais para aplicação da ICPC 22.
“Tratamento fiscal incerto” se refere ao “tratamento fiscal para o qual há incerteza so-
bre se a respectiva autoridade fiscal aceitará o tratamento fiscal de acordo com a legislação
tributária. Por exemplo, a decisão da entidade de não apresentar qualquer apuração de
tributos sobre o lucro na jurisdição fiscal, ou de não incluir determinada receita no lucro
tributável, é um tratamento fiscal incerto se sua aceitabilidade for incerta de acordo com a
legislação tributária” (§ 3.c, ICPC 22). Não parece existir dúvidas de que a norma alcança,
com essa redação, incertezas não autuadas relacionadas a diversos temas controversos de
IRPJ e CSLL na jurisprudência, como a amortização de ágio em reorganizações societá-
rias e a tributação de lucros no exterior em face de tratados internacionais, mas também
determinados planejamentos tributários que poderiam ser objurgados pelo Fisco à luz de
critérios controversos, como a eventual falta de propósito negocial. Veja-se, uma questão
é identificar a existência de um tratamento fiscal incerto de IRPJ e de CSLL para fins de
aplicação da ICPC 22, e outra questão é a avaliação da probabilidade de aceitação desse
tratamento pela autoridade fiscal.
Nesse ponto, a definição de “autoridade fiscal” surge como relevante, referindo-se “ao
órgão ou órgãos que decidem se tratamentos fiscais são aceitáveis de acordo com a legislação
tributária. Isso pode incluir tribunais” (§ 3.b, ICPC 22). Não se pode descurar o âmbito de
uma linguagem mais universal da norma, pois o padrão IAS/IFRS é aplicado em diversos
países, com sistemas próprios de fiscalização e de resolução de conflitos tributários. Em
determinadas jurisdições, pode acontecer de as dúvidas tributárias não serem frequente-
mente judicializadas ou resolvidas em tribunais, mas a definição de “autoridade fiscal” é
abrangente e não exclui os tribunais como fonte última de decisão.
decisões vinculantes dos Tribunais Superiores (STF e Superior Tribunal de Justiça – STJ),
nas respectivas matérias de competência, poderão ampliar o rol de elementos a serem
considerados na avaliação de um tratamento fiscal incerto.
Com essas breves considerações, quer demonstrar-se que a definição de “tratamento
fiscal incerto” na ICPC 22 também desperta a intrigante questão de identificar, no sistema
brasileiro, qual seria a autoridade fiscal apta a aceitar definitivamente um tratamento fiscal
como “certo”. Esse será um dos grandes desafios na aplicação da norma.
Indo além, um outro ponto polêmico – e talvez a grande novidade – trazido pela ICPC
22 diz respeito às premissas que a entidade deve assumir sobre o exame de suas práticas
tributárias pelo Fisco. Dispõe o § 8 da ICPC 22:
Assim, na contabilização dos tributos sobre o lucro a partir dos requerimentos previstos
no CPC 32 (tributos correntes e diferidos), a entidade deve assumir que a autoridade fiscal:
Veja-se, portanto, que a ICPC 22 estabelece a premissa de que o “Fisco sabe tudo” –
as autoridades fiscais terão conhecimento completo de todas as informações relevantes na
avaliação dos tratamentos tributários realizados pelo contribuinte. Nesse sentido, a empresa
não poderá considerar o “risco de detecção” na avaliação da probabilidade de que suas
transações incertas sejam “aceitas” pelo Fisco, já que, como premissa, deve assumir que (i)
será fiscalizada, tendo todos os seus registros examinados, e que (ii) os fiscais conhecem
todas as informações necessárias sobre tais transações “incertas”.
Sob a ótica contábil, a “novidade” da ICPC 22 é que essa premissa não se encontrava
reproduzida de forma explícita nem no CPC 32, nem no CPC 25. Há uma disposição sobre
“risco e incerteza” no CPC 25, no sentido de que “os riscos e incertezas que inevitavelmente
existem em torno de muitos eventos e circunstâncias devem ser levados em consideração
para se alcançar a melhor estimativa da provisão” (§ 42), porém esse dispositivo não men-
ciona expressamente o “risco de detecção tributária”, e ainda por cima está identificado com
os aspectos de mensuração, e não exatamente de reconhecimento de passivos.
No caso do CPC 25, por exemplo, ao analisar-se a probabilidade de uma saída de
recursos para fins de reconhecimento de uma provisão, ou de divulgação de um passi-
vo contingente, a entidade deveria assumir complementarmente o “risco de detecção” e
desprezar como remoto o risco de uma fiscalização? Dessa forma, constitui um tema de
Portanto, se não for provável que a autoridade fiscal aceite o tratamento dado pela
entidade na escrituração tributária, o montante dos tributos sobre o lucro nas demonstra-
ções financeiras não será idêntico ao da escrituração tributária; ao contrário, será distinto,
uma vez que os valores contábeis do IRPJ e da CSLL a pagar, ainda que diferidos, deverão
ser ajustados.
Importante salientar que a incerteza deverá ser refletida na mensuração do tributo cor-
rente e diferido; nesse sentido, não haverá necessidade de ser reconhecida uma “provisão”
separada para as posições incertas.
Nesse caso, a forma de contabilização das incertezas abrangidas pela ICPC 22, que
afetam as contas de tributos sobre o lucro, é diversa daquela das demais provisões reco-
nhecidas conforme o CPC 25, que afetam necessariamente o resultado do exercício em que
constituídas, diminuindo o resultado antes do Imposto sobre a Renda. Para fins tributários,
CONSIDERAÇÕES FINAIS
tão-somente ao IRPJ e à CSLL, e que riscos e incertezas relacionados aos demais tributos
podem continuar sendo avaliados com base no CPC 25.
Nesse escopo de aplicação, procuramos discutir algumas “incertezas no tratamento
contábil das incertezas”, relacionadas à ICPC 22. Ao propor uma avaliação da probabilida-
de de aceitação de posições fiscais incertas de IRPJ e de CSLL, com potenciais reflexos na
mensuração das despesas correntes e diferidas desses tributos, a ICPC 22 desafia o aplicador
a encontrar no ordenamento pátrio a “autoridade fiscal” capaz de, definitivamente, atestar a
certeza ou a incerteza de uma posição fiscal. Em paralelo, a suposição de que as autorida-
des fiscais têm pleno conhecimento das posições fiscais do contribuinte e examinarão um
tratamento incerto se afirma como uma premissa explícita da ICPC 22, e deverá represen-
tar a grande novidade de repercussão prática na aplicação da Interpretação. O recurso ao
julgamento contábil, na avaliação de premissas e estimativas, revela-se importante vetor de
alcance da representação fidedigna.
A ICPC 22 não traz requisitos específicos de divulgação, mas, mesmo que a entidade
conclua pela probabilidade de aceitação de um tratamento fiscal incerto, poderá ter de di-
vulgar passivos contingentes de IRPJ e de CSLL, como o faria em relação a outros tributos,
de acordo com o CPC 25. No caso de incertezas não autuadas, mesmo que seja provável a
sua aceitação e, pois, dispensado o reconhecimento de uma despesa tributária, as próprias
exigências de divulgação dessas posições poderão suscitar discussões quanto a uma eventual
violação do direito fundamental à privacidade (art. 5º, X, da CF de 1988) e da garantia de
não autoincriminação.
Essas potenciais alegações, que de resto poderiam estar mais voltadas para as compa-
nhias de capital aberto (ou, se de capital fechado, obrigadas à publicação de demonstrações
financeiras), não devem descurar do real objetivo da ICPC 22, que é contábil e societário,
como apresentado neste capítulo. É informação útil e relevante para os acionistas e para
os investidores (atuais e futuros) tomarem as suas decisões econômicas o conhecimento
de exposições fiscais da companhia investida, mas sem tirar daí quaisquer consequências
jurídico-tributárias.
Elidie Palma Bifano explica, com razão, que se, para fins contábeis se registram no
passivo obrigações e provisões, em linha até com o disposto no art. 184, I, da Lei das S.A.,
sob a ótica jurídica há distinção entre riscos, conhecidos ou calculáveis, que se identificariam
como provisões, mas em que não se permite obrigar eventual devedor ao cumprimento
de qualquer prestação e obrigações em que não há risco, mas compromisso de liquidar, a
partir do vínculo jurídico que permite ao credor exigir algo do devedor.17
Assim, o que se deve ter sempre presente para fins jurídicos é que o mero registro de
uma provisão ou de um passivo fiscal diferido, conquanto caracterize uma obrigação para
fins contábeis e observe preceitos de normas como o CPC 25, o CPC 32 ou a ICPC 22,
17. BIFANO, Elidie Palma. Distinção Jurídico-tributária de Provisões e o Pronunciamento Técnico CPC n. 25 –
Essência e Forma Essencial. In: MOSQUERA, Roberto Quiroga; LOPES, Alexsandro Broedel. Controvérsias
jurídico-contábeis (aproximações e distanciamentos). São Paulo: Dialética, 2013. v. 4. p. 63-67.
não se traduz de plano em uma obrigação jurídico-tributária. Essa obrigação surge apenas
a partir da ocorrência do fato gerador descrito em lei.
Incertezas no tratamento fiscal possuem meios jurídicos para a sua resolução. O seu
mero reconhecimento ou divulgação na contabilidade não possui qualquer relação com o
estabelecimento de uma relação jurídica obrigacional e tampouco constitui prova de uma
obrigação em sentido jurídico.
REFERÊNCIAS
10.1 INTRODUÇÃO
o ágio pago por expectativa de lucros futuros da coligada ou controlada deverá ser amortizado
dentro do período pelo qual se pagou por tais lucros, ou seja, contra os resultados dos exercícios
considerados na projeção dos lucros estimados e que justificaram o ágio. O fundamento aqui é o
de que, na verdade, as receitas equivalentes aos lucros da coligada ou controlada não representam
um lucro efetivo, já que a investidora pagou por eles antecipadamente, devendo, portanto, baixar o
ágio contra essas receitas.1
1. IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de contabilidade das sociedades
por ações. São Paulo: Atlas, 1979. p. 223.
2. SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 25.
3. SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 25.
4. SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 48.
5. SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 59-62.
6. SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 79-80.
A despeito de sua clareza, a posição acima deve ser objeto de análise mais detida, pois
a ideia de que o ágio constitui um pagamento antecipado pelo lucro que se espera obter
tem gerado controvérsias, como se pode verificar das discussões atualmente existentes no
âmbito do CARF.
Parece-me que os autores que defendem a natureza de pagamento antecipado dos
lucros futuros tentaram expor uma possível lógica econômica subjacente ao regime jurí-
dico do ágio, antes e depois do ato societário de incorporação, fusão ou cisão, sem entrar
propriamente na análise da sua natureza jurídica. O problema está nos julgados que pre-
tenderam transformar essa possível lógica econômica em um pressuposto normativo para o
aproveitamento fiscal do ágio.
A rigor, o ágio constitui uma parcela do custo de aquisição incorrido pela pessoa
jurídica adquirente de uma participação societária, independentemente de qual seja a sua
fundamentação econômica. A ideia de que o ágio representa um pagamento antecipado
por lucros projetados, cuja dedução fiscal é condicionada à tributação dos referidos lucros,
não tem qualquer base legal e tem provocado inúmeras discussões sem sentido. Um bom
exemplo do problema pode ser encontrado na chamada tese do “real adquirente” atualmen-
te adotada pela Câmara Superior de Recursos Fiscais (CSRF), segundo a qual a confusão
patrimonial é condição para a dedução fiscal do ágio e deve ocorrer entre a pessoa jurídica
investidora originária (que incorreu na despesa e adquiriu o investimento) e a sociedade
investida (que é a potencial geradora dos lucros que justificaram a rentabilidade futura).
No acórdão n. 9101002.387, de 13/7/2016, julgado pela 1ª Turma da CSRF, o voto
vencedor proferido por André Mendes de Moura afirma que “o requisito expresso de que
investidor e investida passem a compor o mesmo patrimônio [...] encontra fundamento
no fato de que, com a confusão de patrimônios, o lucro auferido pela investida passa a
integrar a mesma universalidade da investidora”. Como se vê, o foco da discussão passa a
ser o encontro do ágio com a rentabilidade futura, caracterizado como “requisito expresso”
para a dedutibilidade do ágio. Só faltou mencionar qual o texto legal onde consta expres-
samente esse “requisito”.
Mais recentemente, no acórdão n. 9101-003.374, de 19/1/2018, a 1ª Turma da CSRF
afirmou que
Novamente, a premissa é a de que o ágio foi pago para a aquisição dos lucros futuros
da sociedade investida, o que autorizaria a sua dedução.
A tese encampada pela CSRF vem sendo seguida pelas turmas julgadoras do CARF. É
o que se verificar no acórdão n. 1201002.085, de 14/3/2018, no qual 1ª Turma Ordinária,
da 2ª Câmara da 1ª Seção do CARF afirmou que
7. Na dicção de Ricardo Lobo Torres: “O princípio da renda líquida significa que o tributo federal recai sobre
o acréscimo de patrimônio que se corporificar além da reserva do mínimo existencial, garantida a deduti-
bilidade de custos e despesas necessários à obtenção do dito acréscimo patrimonial. [...] O acréscimo de
patrimônio suscetível de imposição é, em princípio, o total das entradas, em determinado período, abatido
dos custos e despesas necessários à produção do rendimento. [...] Conclui-se, portanto, que o direito à de-
dução integra o conceito constitucional de renda e compõe o fato gerador definido nos art. 43 e 44 do CTN”
(TORRES, Ricardo Lobo. Estudos e pareceres de direito tributário. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 61-62).
8. ÁVILA, Humberto. Dedutibilidade de Despesas com o Pagamento de Indenização Decorrente de Ilícitos
Praticados por Ex-Funcionários. In: ADAMY, Pedro Augustin Adamy; FERREIRA NETO, Arthur M. (coords.).
Tributação do ilício. São Paulo: Malheiros, 2018. p. 84-88.
9. BIANCO, João Francisco. Transparência fiscal internacional. São Paulo: Dialética, 2007. p. 60.
10. ZILVETI, Fernando Aurelio. O princípio da realização da renda. In: SCHOUERI, Luís Eduardo (coord.). Direito
tributário: homenagem a Alcides Jorge Costa. São Paulo: Quartier Latin, 2003. v. I. p. 304; POLIZELLI, Victor
Borges. O princípio da realização da renda: reconhecimento de receitas e despesas para fins do IRPJ. São
(i) o ganho de capital, que correspondia à diferença positiva entre o acervo líquido
e o valor contábil das ações ou quotas extintas era computado na determinação
do lucro real, mas o contribuinte podia, desde que observadas determinadas
condições, diferir a tributação sobre a parte do ganho de capital que se referia a
bens do ativo permanente, até o momento da realização;
(ii) a perda de capital, que correspondia à diferença entre o valor contábil e o valor
do acervo líquido avaliado a valor de mercado, era dedutível do lucro real, sendo
concedida ao contribuinte a possibilidade de optar pelo tratamento da diferença
como ativo diferido, amortizável no prazo máximo de dez anos.
Como se vê, a perda de capital poderia ser imediatamente deduzida do lucro real, o
que compreendia o ágio de rentabilidade futura registrado na aquisição do investimento.
Porém, é importante pontuar que o art. 34, I, do Decreto-lei nº 1.598/1977 somente permitia
a dedução da perda de capital, incluindo o valor correspondente ao ágio de rentabilidade
futura, caso o acervo líquido absorvido tivesse sido avaliado a valor de mercado. Dessa
forma, para as operações de fusão, incorporação ou cisão realizadas a valor contábil, não
existia a possibilidade de dedução imediata do ágio pago pela pessoa jurídica.11
Assim, o legislador tributário, ao prever que o valor do ágio deverá ser deduzido para
fins fiscais à razão de 1/60 (um sessenta avos), no máximo, para cada mês do período de
apuração, apenas diferiu a dedução de um custo de aquisição que deveria ser dedutível no
momento do próprio evento societário.
Paulo: IBDT/Quartier Latin, 2012. v. VII. p. 67. Série Doutrina Tributária; OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Funda-
mentos do imposto de renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 368-388.
11. À época, o Parecer Normativo CST nº 51/1979 confirmou que a dedução imediata apenas se aplicava aos
casos de fusão, incorporação ou cisão de sociedades cujo valor do acervo líquido fosse avaliado a valor de
mercado.
serve para evidenciar que o art. 7º da Lei nº 9.249/1995 e o art. 22 da Lei nº 12.973/2014
não instituíram qualquer tipo de benefício fiscal.
Como se sabe, é comum afirmar que a amortização fiscal do ágio foi concebida para
estimular o processo de privatização das empresas públicas.12 Como exemplo, Valter Lobato
pontua que a Lei nº 9.532/1997 foi editada no contexto do Plano Nacional de Desestati-
zação, com o claro objetivo de atrair investimentos, nacionais e estrangeiros, ainda que o
seu âmbito normativo não tenha ficado restrito às operações envolvendo a aquisição de
empresas estatais.13
Luís Eduardo Schoueri questiona a ideia dominante de que a Lei nº 9.532/1997 foi editada
em um contexto de incentivo às privatizações, para que o governo brasileiro pudesse conse-
guir melhores preços na alienação das empresas públicas.14 Na visão do autor, a Exposição de
Motivos que acompanhou a então Medida Provisória nº 1.602/1997 evidenciaria a intenção
do legislador de impedir a dedução integral do ágio no momento da incorporação, fusão ou
cisão, o que não teria relação direta com o Plano Nacional de Desestatização.
Na mesma linha, André Mendes de Moura e Marco Aurélio Pereira Valadão apregoam
que, na Exposição de Motivos que acompanhou a então Medida Provisória nº 1.602/1997, está
claro que o motivo que guiou o Poder Executivo foi o controle dos planejamentos tributários
abusivos que ocorriam pelo desvirtuamento do instituto do ágio.15 Para que não paire dúvida,
vale reproduzir o item 11 da Exposição de Motivos da Medida Provisória nº 1.602/1997:
11. O art. 8º estabelece o tratamento tributário do ágio ou deságio decorrente da aquisição, por
uma pessoa jurídica, de participação societária no capital de outra, avaliada pelo método da equiva-
lência patrimonial.
Atualmente, pela inexistência de regulamentação legal relativa a esse assunto, diversas
empresas, utilizando dos já referidos ‘planejamentos tributários’, vêm utilizando o expediente
de adquirir empresas deficitárias, pagando ágio pela participação, com a finalidade única de
12. GALHARDO, Luciana Rosanova; ASSEIS, Pedro Augusto do Amaral Abujamra. A Lei nº 12.973/14 e os Refle-
xos em Processos Administrativos Discutindo a Dedutibilidade de Despesas de Amortização de Ágio. Direito
Tributário, Societário e a Reforma da Lei das S/A, São Paulo: Quartier Latin, v. IV, 2015, p. 336-337.
13. Veja-se o entendimento do autor: “É preciso destacar que a autorização legal de amortização fiscal do ágio
surgiu no contexto do Plano Nacional de Desestatização (PND), levado a efeito pelo Governo Federal à épo-
ca. Tinha-se o objetivo claro de atrair investimentos, primordialmente externos, que deveriam recair sobre
empresas estatais brasileiras, como foi o caso das empresas de telefonia. Contudo, é preciso apontar que a
lei não ficou restrita a investimentos em estatais, ou seja, àqueles que seriam realizados no âmbito do PND,
mas sim a toda e qualquer aquisição, nos termos da referida lei” (LOBATO, Valter de Souza. O Novo Regime
Jurídico do Ágio na Lei 12.973/2014. In: MANEIRA, Eduardo; SANTIAGO, Igor Mauler (coords.). O ágio no
direito tributário e societário: questões atuais. São Paulo: Quartier Latin, 2015, p. 101).
14. SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo: Dialética,
2012. p. 66-67.
15. Veja-se a posição dos autores: “A edição dessa Lei ocorreu na mesma época do Programa Nacional de
Desestatização (PND), razão pela qual existe entendimento de que a nova legislação sobre o ágio teria
sido apresentada como um incentivo às privatizações. Contudo, como visto, não há qualquer menção ao
assunto na Exposição de Motivos, que deixou claro, com todas as letras, que a motivação para o dispositivo
foi um maior controle sobre os planejamentos tributários abusivos que ocorriam pelo desvirtuamento do
instituto do ágio” (MOURA, André Mendes de; VALADÃO, Marcos Aurélio Pereira. Ágio nas reorganizações
Como se pode ver, o item 11 da Exposição de Motivos realmente afirma que a alteração
legislativa teve o objetivo de coibir planejamentos tributários que acarretavam a dedução
integral do ágio no momento da incorporação, fusão ou cisão, por meio da incorporação
da empresa lucrativa pela deficitária.
Seja como for, as correntes acima devem ser vistas com cautela.
Em primeiro lugar, cabe pontuar que não se pode atribuir relevância exacerbada à
Exposição de Motivos, que deve ser considerada apenas uma das etapas do método histó-
rico-genético de interpretação, por meio do qual se investiga os trabalhos preparatórios e
outros documentos editados à época, a fim de determinar as circunstâncias jurídico-polí-
ticas envolvidas na aprovação de determinado texto normativo. Embora a identificação da
voluntas legislatoris seja relevante, enquanto referencial da circunstância jurídico-política
envolvida na aprovação da lei, não se pode erigi-la em fator preponderante sobre o próprio
texto legal, o que constitui um limite objetivo do processo hermenêutico.16
Em segundo lugar, não se pode deixar de consignar que a Lei nº 9.532/1997 realmente
trouxe benefícios em relação ao regime anterior, tais como:
(i) para as operações societárias realizadas a valor contábil, o valor do ágio de renta-
bilidade futura passou a ser dedutível à razão de 1/60 para cada mês do período
de apuração, ao passo que, no regime anterior, a perda de capital apurada nas
operações societárias realizadas a valor contábil não era dedutível (art. 7º da Lei
nº 9.532/1997);
(ii) a possibilidade de dedução fiscal do ágio mesmo nos casos em que o investimento
não é obrigatoriamente avaliado pelo MEP (art. 8º, a, da Lei nº 9.532/1997);
(iii) a inclusão de autorização expressa para a chamada “incorporação reversa” da
sociedade investidora pela sociedade investida, eliminando, assim, as dúvidas que
existiam à época em torno do tema (art. 8º, b, da Lei nº 9.532/1997).
De qualquer forma, não se pode deixar de reconhecer que o direito à dedução fiscal do
ágio não constitui um benefício fiscal, por se tratar de um custo incorrido pelo contribuinte
na aquisição do investimento que, na ausência de regra específica, seria dedutível para fins
societárias no âmbito da Lei nº 9.532, de 1997, e a jurisprudência atual do CARF. Revista Fórum de Direito
Tributário. Belo Horizonte: Fórum, n. 93, 2018, p. 105-106).
16. Nas palavras de Gilberto de Ulhoa Canto: “A busca do elemento histórico na elaboração das leis não é, evi-
dentemente, de se desprezar, muito embora haja que fugir ao exagero de erigi-la em fator preponderante
sobre a inteligência que resulta do próprio texto [...]” (CANTO, Gilberto de Ulhoa. Estudos e pareceres de
direito tributário. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1975. p. 360).
Como se pôde antever da exposição acima, não é exata a ideia de que o ágio corresponde
a um pagamento antecipado por lucros que potencialmente serão gerados pela sociedade
investida. Os agentes econômicos levam em consideração diversos fatores no momento da
aquisição de um investimento, sem que o preço pago na aquisição necessariamente reflita
os lucros futuros.
Não existe um preço correto para o negócio jurídico de compra e venda de participação
societária, assim como não existe uma única forma de avaliação da sociedade a ser adqui-
rida. Eliseu Martins ensina que os diferentes critérios de avaliação do patrimônio de uma
pessoa jurídica representam apenas visões diferentes e complementares sobre um mesmo
objeto, sem que seja possível estabelecer qualquer tipo de superioridade de um método
sobre o outro.17
A ausência de superioridade entre os métodos de avaliação de empresas decorre do
fato de que a percepção de valor é individual, sofrendo influências do contexto, do perfil
do usuário das informações, da natureza do negócio jurídico e do ambiente econômico em
que a decisão será tomada. É justamente por isso que, na visão de Eliseu Martins e Paulo
Roberto da Silva, a escolha entre os vários métodos de avaliação deve levar em conta o
contexto e a necessidade do maior número de usuários das informações, sem julgamentos
preconcebidos.18
No âmbito da denominada teoria da avaliação patrimonial, é possível elencar as se-
guintes abordagens para a mensuração do valor do patrimônio de uma sociedade:
17. MARTINS, Eliseu. Prólogo. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da mensuração contábil à
econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 11.
18. MARTINS, Eliseu; SILVA, Paulo Roberto da. Introdução. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas:
da mensuração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 15-19.
19. LOPO, Antonio et al. Avaliação de Empresas. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da men-
suração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 269-270.
20. LOPO, Antonio et al. Avaliação de Empresas. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da men-
suração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 270.
21. LOPO, Antonio et al. Avaliação de Empresas. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da men-
suração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 271-272.
22. LOPO, Antonio et al. Avaliação de Empresas. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da men-
suração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 272-274.
23. LOPO, Antonio et al. Avaliação de Empresas. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da men-
suração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006. p. 274.
O ágio apenas seria um pagamento pelos lucros futuros se o negócio jurídico celebra-
do entre as partes envolvesse o direito de crédito relativo aos dividendos aprovados pela
assembleia geral, mas ainda não pagos. Obviamente, não é isso o que ocorre na aquisição
de uma participação societária, ainda que o preço pago na aquisição supere o valor patri-
monial contábil da sociedade adquirida.
24. LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A Lei das S.A.: pressupostos, elaboração, aplicação. Rio
de Janeiro: Renovar, 1992. p. 246-247.
Daí a acertada crítica de Ricardo Mariz de Oliveira à adoção do MEP como critério
para a determinação do custo de aquisição da participação societária, tendo em vista que o
custo de aquisição efetivamente suportado pelo contribuinte é diferente do valor da última
avaliação do investimento pelo MEP. O problema surge quando a adoção do MEP para a
determinação do custo de aquisição do investimento leva à tributação de ganho de capital
inexistente, o que viola o conceito de renda e o princípio da capacidade contributiva.25 Isso
sem falar na incompatibilidade com o princípio da igualdade, pois duas pessoas jurídicas que
adquiriram ações da mesma companhia, pagando o mesmo preço, podem apurar ganhos de
capital distintos em razão da avaliação do investimento pelo método do custo ou pelo MEP.26
A par da inconstitucionalidade dos desarranjos causados pelo MEP na apuração dos
ganhos de capitais, é interessante observar que o legislador não repetiu o mesmo equívoco
com o ágio pago na aquisição do investimento, que se tornou uma parcela invariável do
custo de aquisição da sociedade investida. O ágio não acompanha as flutuações do MEP,
mantendo-se neutro para fins fiscais durante todo o período de manutenção do investi-
mento. No momento da alienação ou baixa, o ágio sempre deverá compor o seu custo de
aquisição para fins fiscais, ainda que amortizado contabilmente.
É justamente por isso que, desde a edição do art. 20 do Decreto-lei nº 1.598/1997, o
contribuinte que avaliasse investimento em sociedade coligada ou controlada com base no
MEP deveria, por ocasião da aquisição da participação, desdobrar o custo de aquisição em
(i) valor do patrimônio líquido na época da aquisição; e (ii) ágio ou deságio na aquisição,
que corresponde à diferença entre o custo de aquisição do investimento e o valor do patri-
mônio líquido. O valor do patrimônio líquido seria o componente mutável e dinâmico do
custo de aquisição, ao passo que o ágio seria o elemento estático e invariável.
É neste contexto que surge a ideia de que o ágio baseado na expectativa de lucros
futuros deve ser deduzido para fins fiscais no prazo da rentabilidade projetado, para fins
de emparelhamento entre receitas e despesas. Porém, como comentado no item 10.4 deste
capítulo, tal ideia é inexata, pois a forma de avaliação da sociedade a ser adquirida não se
confunde com o objeto do negócio jurídico.
Além disso, os agentes econômicos levam em consideração, além da lucratividade
futura, diversos outros fatores no momento da realização de um investimento, tais como:
25. OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do imposto de renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 746-
752.
26. OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do imposto de renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 753.
27. ALVES, José Carlos Moreira. Direito Romano. 13. ed. Rio de Janeiro: Forense. v. I. p. 151.
28. BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Efeitos do negócio jurídico nulo. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 41.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como visto, o ágio constitui uma parcela do custo de aquisição incorrido pela pessoa
jurídica adquirente de uma participação societária, independentemente de qual seja a sua
fundamentação econômica.
REFERÊNCIAS
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ÁVILA, Humberto. Dedutibilidade de despesas com o pagamento de indenização decorrente de ilícitos
praticados por ex-funcionários. In: ADAMY, Pedro Augustin Adamy; FERREIRA NETO, Arthur M.
(coords.). Tributação do ilício. São Paulo: Malheiros, 2018.
BDINE JÚNIOR, Hamid Charaf. Efeitos do negócio jurídico nulo. São Paulo: Saraiva, 2010.
BIANCO, João Francisco. Transparência fiscal internacional. São Paulo: Dialética, 2007.
CANTO, Gilberto de Ulhoa. Estudos e pareceres de direito tributário. São Paulo: Revista dos Tribu-
nais, 1975.
GALHARDO, Luciana Rosanova; ASSEIS, Pedro Augusto do Amaral Abujamra. A Lei nº 12.973/14 e
os Reflexos em Processos Administrativos Discutindo a Dedutibilidade de Despesas de Amor-
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IUDÍCIBUS, Sérgio de; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de contabilidade das
sociedades por ações. São Paulo: Atlas, 1979.
LAMY FILHO, Alfredo; PEDREIRA, José Luiz Bulhões. A Lei das S.A.: pressupostos, elaboração, apli-
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LOBATO, Valter de Souza. O Novo Regime Jurídico do Ágio na Lei 12.973/2014. In: MANEIRA, Eduar-
do; SANTIAGO, Igor Mauler (coords.). O ágio no direito tributário e societário: questões atuais.
São Paulo: Quartier Latin, 2015.
LOPO, Antonio et al. Avaliação de Empresas. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas:
da mensuração contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006.
MARTINS, Eliseu. Prólogo. In: MARTINS, Eliseu (coord.). Avaliação de empresas: da mensuração
contábil à econômica. São Paulo: Atlas, 2006.
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SCHOUERI, Luís Eduardo. Ágio em reorganizações societárias (aspectos tributários). São Paulo:
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ZILVETI, Fernando Aurelio. O princípio da realização da renda. In: SCHOUERI, Luís Eduardo (coord.).
Direito tributário: homenagem a Alcides Jorge Costa. São Paulo: Quartier Latin, 2003. v. I.
11.1 INTRODUÇÃO
dessas despesas quando utilizadas as chamadas “empresas veículos”; (iv) a aparente vedação
à dedução fiscal do alegado “ágio interno” etc.2
Não se pode perder de vista, naturalmente, que essas discussões também decorrem, de
certo modo, de uma legislação que, por mais de duas décadas, autorizou, de forma clara,
abrangente, e sem quaisquer limitações, que as despesas de amortização de ágio fundamen-
tado na expectativa de rentabilidade futura pudessem ser deduzidas da base de cálculo do
Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre o Lucro
Líquido (CSL), desde que os seguintes requisitos – e somente esses – fossem atendidos: (i)
aquisição de participação societária; (ii) participação societária avaliada segundo o método
da equivalência patrimonial (MEP); (iii) fundamentação econômica desse “sobrepreço”
na expectativa de rentabilidade da participação adquirida; e (iv) ocorrência de evento de
incorporação, fusão ou cisão entre a empresa adquirente (aplicadora do MEP) e adquirida
(avaliada pelo MEP).
O que se tem verificado em relação a essa discussão, contudo, é que, nos últimos anos,
sob forte postura fiscalista, dificuldades nos tribunais administrativos, restrições orça-
mentárias aumentando a sanha arrecadatória, uma série de limitadores à correta aplicação
dessas regras de dedutibilidade, que nunca estiveram previstos na legislação, passaram a
ser invocados pelas autoridades fiscais para questionar muitos casos válidos e legítimos,
sendo que, muitas vezes, tais condições vêm sendo acolhidas pelos aplicadores do Direito
Tributário, distanciando-se completamente das disposições normativas aplicáveis à matéria.
Tem-se notado, ainda, que, sob uma alegada influência das novas regras contábeis
que passaram a ser editadas pelos órgãos técnicos para disciplinar o tratamento aplicável
às chamadas “combinações de negócios”, muitos elementos contidos nessas orientações
procedimentais passaram a ser invocados pelas autoridades ficais para questionar, de modo
geral, a legitimidade das despesas de amortização de ágio. Um desses exemplos é justamente
o conceito de “real adquirente”, sobre o qual passaremos a discutir neste capítulo.
Se antes a desconsideração de efeitos fiscais e de personalidade jurídica de entida-
des jurídicas somente ocorria em casos nos quais as autoridades fiscais reputassem que
determinada estrutura tenha envolvido “empresas-veículos” – sociedades desprovidas de
“substância econômica” e constituídas com a única finalidade de gerar benefícios fiscais
indevidos –, o que se tem percebido nos últimos anos é que, por meio do novo conceito
de “real adquirente”, em muitas hipóteses, vem ocorrendo a própria desconsideração de
investimentos realizados por entidades legalmente constituídas, operacionais e providas
de “substância econômica”, sublimando-se, com isso, a personalidade jurídica da empresa
adquirente da participação e a própria natureza do investimento realizado, para que sejam
imputados os efeitos jurídico-tributários da aquisição a terceiros de forma indistinta (muitas
vezes controladores estrangeiros). Esse tipo de situação pode ser exemplificado na ementa
do seguinte julgado:
2. A evolução das discussões foi bem pontuada, na doutrina, por GRECO, Marco Aurélio. Planejamento tribu-
tário. São Paulo: Dialética, 1998 e edições subsequentes (2008 e 2011).
Como ficará claro ao longo deste capítulo, é fundamental, contudo, que seja feita uma
ponderação cuidadosa antes da adoção dessas referências procedimentais para fins fiscais,
especialmente nas situações ainda amparadas pela legislação fiscal e anteriores aos pró-
prios balizamentos contábeis mais recentes. Deve-se ainda ter em mente que, em muitos
casos, as referências e expressões contábeis passaram a ser emitidas de forma técnica para
fins daquele campo de atuação, sem que haja, necessariamente, vinculação ao regramento
jurídico-tributário aplicável para apuração da base de cálculo do IRPJ e da CSL. O caso do
“real adquirente”, a nosso ver, é uma dessas situações que não só deixa de apresentar res-
paldo legal, como ainda as alegações atualmente invocadas não guardam coesão a própria
orientação procedimental contábil.
3. PEDREIRA, José Luiz Bulhões. Finanças e demonstrações financeiras da companhia: conceitos e fundamen-
tos. Rio de Janeiro: Forense, 1989. p. 688-689.
cípios do regime de competência. O MEP permite ainda que a investidora distinga em sua
escrituração o capital aplicado na aquisição da participação e rendimentos dela derivados.4
Assim, nos termos do art. 248 da Lei das S.A., ao adquirir investimento relevante, que
obrigatoriamente seja avaliado pelo MEP, a sociedade investidora deverá segregar o custo de
aquisição incorrido em duas subcontas da conta de “investimentos”: (i) patrimônio líquido
da sociedade investida, apurado por balanço patrimonial ou balancete levantado na mesma
data, ou até 60 dias antes da data do balanço, proporcionalmente à participação detida na
sociedade investida; e (ii) diferença entre esse valor e o custo de aquisição pela investidora,
que é justamente o “ágio” ou deságio, conforme o custo de aquisição seja maior ou menor
que o valor de patrimônio líquido.
Em cada balanço levantado após esse desdobramento inicial do custo de aquisição, a in-
vestidora promove nova avaliação da participação com base no valor do patrimônio líquido
contábil demonstrado pelo balanço da sociedade investida, ajustando, em sua escrituração,
o saldo da subconta do valor de patrimônio líquido. Com isso, a contrapartida exigida para
esse ajuste faz refletir nas contas de resultado da sociedade investidora a quota-parte que
lhe cabe nos lucros ou prejuízos da investida segundo o regime de competência.5
Com isso, pode-se chegar à definição de ágio como o valor resultante da diferença entre
o custo total de aquisição do investimento em sociedade controlada ou coligada e o valor
da parcela proporcional ao patrimônio líquido destas à época da aquisição.
Visando regulamentar os efeitos fiscais relacionados à Lei das S.A., o governo federal
publicou o Decreto-Lei nº 1.598, em 26/12/1977 (DL nº 1.598/1977). Especificamente no que
diz respeito ao MEP, o DL nº 1.598/1977 não apenas repetiu as disposições contidas na Lei
das S.A., mas, indo além, determinou que a pessoa jurídica deveria manter demonstração
que justificasse a fundamentação econômica desse ágio ou deságio, trazendo três possíveis
justificativas econômicas: (i) o valor de mercado de bens do ativo da sociedade investida
4. A esse respeito, é interessante o exemplo que Sérgio de Iudícibus apresenta para destacar a importância
de avaliar investimentos decorrentes de participações societárias com base no MEP: “Imagine-se uma in-
vestida que tenha lucros não distribuídos que façam com que seu patrimônio líquido dobre em 5 anos.
Se avaliado pelo custo, metade do seu patrimônio líquido não estará sendo reconhecido pela investidora.
Só reconhecerá essa parte relativa aos lucros não distribuídos se eles forem distribuídos um dia, ou então
quando vender esse investimento”. IUDÍCIBUS, Sérgio de et al. Manual de contabilidade societária: apli-
cável a todas as sociedades. De acordo com as normas internacionais e do CPC. São Paulo: Atlas, 2010. p.
169. Por outro lado, vale também registrar as críticas que Ricardo Mariz de Oliveira apresenta em relação
ao MEP para determinadas hipóteses, podendo levar, conforme ilustra o autor, a tributação de patrimônio
ou mesmo de perdas. Confira-se, a esse respeito, OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do imposto de
renda. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 750-751.
5. Justamente por essa razão os lucros e dividendos, quando recebidos, apenas diminuem o valor de patrimô-
nio líquido da participação na escrituração do investidor, não produzindo efeitos no resultado do exercício,
conforme aponta Ricardo Mariz de Oliveira (OLIVEIRA, Ricardo Mariz de. Fundamentos do imposto de ren-
da. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 736). Vale notar que, para fins fiscais, à exceção de lucros e dividen-
dos recebidos de sociedades domiciliadas no exterior, que devem ser oferecidos a tributação no Brasil em
decorrência das disposições contidas no art. 25 da Lei nº 9.249, de 26/12/1995 (“Lei no 9.249/1995”), os
lucros e dividendos recebidos de sociedades brasileiras não integrarão o lucro real tributável, por estarem
expressamente isentos pelo art. 10 da própria Lei no 9.249/1995.