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CONTABILIDADE

BÁSICA

Filipe Martins da Silva


Princípios contábeis
e regime de competência
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer os princípios e as convenções contábeis geralmente aceitos.


 Explicar o que são despesas e receitas e o momento em que ocorrem. 
 Identificar o resultado contábil de acordo com os princípios contábeis
da realização e da confrontação das despesas com as receitas.

Introdução
Neste capítulo, você vai conhecer os princípios contábeis vigentes
atualmente na contabilidade e os motivos para segui-los. Em conjunto,
apresentaremos as convenções contábeis, que servem de guia para
a execução da contabilidade.
Além dos princípios, também estudaremos quando devemos con-
siderar uma receita e despesa na contabilidade da empresa, pois uma
má classificação pode distorcer o resultado na empresa, levando a
tomadas de decisões incorretas. E vamos compreender a importância
de confrontar as receitas com as despesas e entender o princípio da
competência e sua aplicação prática.
2 Princípios contábeis e regime de competência

Princípios e convenções contábeis


geralmente aceitos
A contabilidade é uma ciência de característica prática, e para a sua execução
foram desenvolvidos critérios para normatizar a ciência. Para atender a esse
objetivo foram criados os princípios contábeis (PADOVEZE, 2017). Visando
à uniformização dos procedimentos no desenvolvimento das atividades do
processo contábil, os profi ssionais observam regras, critérios e normas de
procedimentos defi nidas pelo Conselho Federal de Contabilidade, através
de suas resoluções. No Brasil, a estrutura da teoria contábil é defi nida por
órgãos regulamentadores, como o Conselho Federal de Contabilidade (CFC)
e o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC).
Tais princípios servem como padrões a serem seguidos na
contabilização dos fatos contábeis. A normatização prevista na Resolução
CFC nº. 750, de 29 de dezembro de 1993, do Conselho Federal de
Contabilidade foi modificada pela Resolução CFC n. 1.282/2010. Os
princípios contábeis estabelecidos nessas Resoluções foram válidos até
2008, quando começou o processo de convergências das normas brasileiras
de contabilidade para o padrão internacional.
Porém, a revogação das Resoluções CFC nº. 750/1993 e posteriormente
da Resoluções CFC nº. 1.282/2010, não significou que os princípios de
contabilidade estariam extintos. A revogação teve como objetivo a
uniformização conceitual para evitar divergências na concepção doutrinária
e teórica que após o ano de 2008 começaram a ser estabelecidas pelas
normas internacionais de contabilidade, que no Brasil são divulgadas pelo
Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC). Após a convergência do
Brasil às normas internacionais, os princípios contábeis passaram a ser
tratados no pronunciamento contábil CPC00 (R2) e na NBCTG – Estrutura
Conceitual para Relatório Financeiro, de 21 de novembro de 2019. No
quadro 1, você pode verificar como eram os princípios contábeis antes e
depois da convergência às normas internacionais de contabilidade:
Princípios contábeis e regime de competência 3

Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual

CFC – Conselho Como é apresentado na CPC00 (R2) do


federal de Como era na
Resoluções nº. 750/93 Comitê de pronunciamentos
Contabilidade
e 1.282/2010 Contábeis e na NBCTG – Estrutura
(princípios
Conceitual para relatório Financeiro
anteriormente (Revogadas)
do CFC
aceitos)

Princípio da Esse princípio tratava da Não se encontra na NBC TSP – estrutura


entidade necessidade da conceitual. Porém mesmo sem a sua
diferenciação do menção, os estudiosos de contabilidade
patrimônio particular no entendem que este deve ser observado,
universo dos visto sua relevância. Dessa forma, toma-se
patrimônios existentes, por base a exigência prevista no Código Civil
independentemente de (Art. 967). É obrigatória a inscrição do
pertencer a uma pessoa, empresário no Registro Público de Empresas
um conjunto de Mercantis da respectiva sede, antes do início
pessoas, uma sociedade de sua atividade; Art. 968. A inscrição do
ou instituição de empresário far-se-á mediante requerimento
qualquer natureza ou que contenha: (I) o seu nome, nacionalidade,
finalidade, com ou sem domicílio, estado civil e se, casado, o regime
fins lucrativos. de bens; (II) a firma, com a respectiva
assinatura autógrafa; (III) o capital; e (IV) o
objeto e a sede da empresa. O artigo 985,
também do Código Civil, complementa que
a sociedade adquire personalidade jurídica
com a inscrição, no registro próprio e na
forma da lei, dos seus atos constitutivos.

(Continua)
4 Princípios contábeis e regime de competência

(Continuação)

Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual

CFC – Conselho Como é apresentado na CPC00 (R2) do


federal de Como era na
Resoluções nº. 750/93 Comitê de pronunciamentos
Contabilidade
e 1.282/2010 Contábeis e na NBCTG – Estrutura
(princípios
Conceitual para relatório Financeiro
anteriormente (Revogadas)
do CFC
aceitos)

Princípio da Em relação à Encontra-se nas características


oportunidade tempestividade qualitativas da informação
e à integridade contábil. De acordo com o item
do registro do 3.19, tempestividade significa ter
patrimônio e das informação disponível para os
suas mutações, isto usuários antes que ela perca a
é, o registro deve ser sua capacidade de ser útil para
feito no momento fins de prestação de contas e
da sua ocorrência responsabilização e tomada de
e corretamente, decisão.
independente de
sua origem.

Princípio da A continuidade De acordo com os itens 11, 12


continuidade ou não da e 13 da Estrutura Conceitual,
empresa devem as demonstrações evidenciam
ser consideradas a situação patrimonial e o
no momento da desempenho da entidade não
avaliação de suas fornecem todas as informações que
operações, pois sua os usuários precisam conhecer a
vida útil (definida ou respeito dos programas de longo
indefinida) influencia prazo, a entidade tem existências
no valor econômico longas, porém sua continuidade das
dos ativos e, em entidades fundamenta a elaboração
muitos casos, o valor das demonstrações contábeis.
ou o vencimento
dos passivos,
especialmente
quando a extinção
da entidade tem
prazo determinado,
previsto ou
previsível.

(Continua)
Princípios contábeis e regime de competência 5

(Continuação)

Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual

CFC – Conselho Como é apresentado na CPC00 (R2) do


federal de Como era na
Resoluções nº. 750/93 Comitê de pronunciamentos
Contabilidade
e 1.282/2010 Contábeis e na NBCTG – Estrutura
(princípios
Conceitual para relatório Financeiro
anteriormente (Revogadas)
do CFC
aceitos)

Princípio do Os componentes do De acordo com o item 7.13 da


registro pelo patrimônio devem Estrutura Conceitual, custo histórico
valor original ser registrados pelos é a importância fornecida para se
valores originais das adquirir ou desenvolver um ativo,
transações, ou seja, o qual corresponde ao caixa ou
devem ser expressos equivalentes de caixa ou o valor
na moeda corrente de outra importância fornecida
do país (no caso do à época de sua aquisição ou
Brasil, em reais), e o desenvolvimento.
valor desse registro
deve ser feito com
base nos valores de
entrada.

Princípio da As receitas e as O item 22 da Estrutura Conceitual


competência despesas devem define que as demonstrações
ser incluídas na contábeis têm como objetivo a
apuração do divulgação da informação contábil,
resultado do baseada no regime de competência,
período em que sendo complementado pelo
ocorrerem, sempre item 1.1, que estabelece que a
simultaneamente elaboração e a divulgação dos
quando se relatórios contábeis devem ser
correlacionarem, elaborados respeitando o regime de
independentemente competência.
de recebimento ou
pagamento.

(Continua)
6 Princípios contábeis e regime de competência

(Continuação)

Quadro 1: Princípios contábeis na estrutura conceitual

CFC – Conselho Como é apresentado na CPC00 (R2) do


federal de Como era na
Resoluções nº. 750/93 Comitê de pronunciamentos
Contabilidade
e 1.282/2010 Contábeis e na NBCTG – Estrutura
(princípios
Conceitual para relatório Financeiro
anteriormente (Revogadas)
do CFC
aceitos)

Princípio da Determina a adoção Foi retirado da Estrutura Conceitual.


prudência do menor valor para
os componentes
do ativo e do
maior para os do
passivo, sempre
que se apresentem
alternativas
igualmente válidas
para a quantificação
das mutações
patrimoniais
que alterem
o patrimônio
líquido, impondo a
escolha que resulte
menor patrimônio
líquido, quando
se apresentarem
opções igualmente
aceitáveis.

Porém, é importante ressaltar a citação do professor Fábio Moraes da Costa,


da Fucape Business School:

A recente revogação da Resolução nº 750/1993 não implica na extinção dos


princípios contábeis no Brasil. Na verdade, após a aprovação da Resolução
1.374/2011, o Brasil passou a contar com uma Estrutura Conceitual (EC/11).
Enquanto a Resolução nº 750/1993 era estruturada em ‘princípios’, a EC/11 é
estruturada em capítulos, como, por exemplo, o do objetivo ou o das carac-
terísticas qualitativas.
Princípios contábeis e regime de competência 7

Convenções contábeis
De acordo com Padoveze (2017), convenções são restrições aos princípios
contábeis, ou seja, possuem um caráter prático que deve ser observado na
execução da contabilidade, servindo com norteadores para o trabalho do
contador, porém não são definições de critérios contábeis e não possuem força
de lei. Convenções são conceitos que servem como guia para o profissional
da área contábil, normatizando padrões de conduta na hora de escriturar os
fatos contábeis. São consideradas convenções contábeis:

 Objetividade: o contador deve ser objetivo, isto é, no momento de escriturar


um fato ele precisa embasar essa escrituração de elementos objetivos para
evitar a subjetividade no lançamento. Para isso, a escrituração é embasada
de documentos válidos (exemplo: nota fiscal), ser passível de mensuração
e não lançar de acordo com julgamentos pessoais (PADOVEZE, 2017).
 Conservadorismo: na dúvida o contador deve optar pela forma mais
conservadora de escrituração, ou seja, lançar todas as despesas sempre
que possível, já em relação à receita, na dúvida, não lançar (PADOVEZE,
2017). Outra abordagem do conservadorismo na contabilidade é a de
disciplinar o entusiasmo natural dos sócios e gestores das organizações
nos negócios apresentados na entidade. Ou seja, entre duas alternativas
válidas opta-se pela menor (IUDICIBUS, 2010).
 Materialidade: essa convenção está ligada ao custo/benefício da in-
formação contábil gerada, onde a contabilidade pode ser elaborada
buscando a perfeição, mas quando se foca em detalhes imateriais, o
custo de tais informações supera seu benefício (IUDICIBUS, 2010).
O contador deve sempre buscar a exatidão numérica no lançamento,
desde que não seja prejudicial à empresa, sempre dando preferência a
valores relevantes, pois os demais valores podem ser tratados de forma
mais simples, sem prejuízo à empresa (PADOVEZE, 2017).
 Consistência ou uniformidade: no momento em que um contador
adotou um determinado critério de avaliação, seja no ativo ou passivo, ele
deverá adotar esse critério consistentemente ao logo dos anos. Quando
se fazer necessária, a mudança deverá ser informada e justificada em
notas explicativas (PADOVEZE, 2017).
8 Princípios contábeis e regime de competência

 Evidenciação: basicamente, o processo de evidenciação se apresenta em


uma peça contábil denominada de notas explicativas, pois nela são apre-
sentados todos os itens das demonstrações contábeis que necessitem de
uma informação adicional para a sua compreensão. Entre as informações
apresentadas estão os critérios de avaliação de ativos e passivos, com suas
respectivas mudanças (como visto na convenção da consistência). São
informações que qualificam o detalhamento das informações numéricas
apresentados nas demonstrações contábeis (PADOVEZE, 2017).

O instrumento fundamental do processo de convergência das Normas Brasileiras


de Contabilidade ao padrão internacional, editado pelo International Financial
Reporting Standards (IFRS, na sigla em inglês), foi traduzida e adaptada para o Brasil
pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), pela Estrutura Conceitual para
Relatório Financeiro (CPC00 (R2)) e também foi publicada pelo Conselho Federal de
Contabilidade, no dia 21 de novembro de 2019, como a norma técnica NBCTG -
Estrutura Conceitual para Relatório Financeiro. Essa norma antecede a convergência
das demais, apresentando os conceitos basilares para a elaboração e divulgação de
informação contábil de propósito geral pelas entidades do setor privado. Após essa
norma de estrutura conceitual, foram publicadas outras normas convergidas, que
estão disponíveis em: https://cfc.org.br/tecnica/normas-brasileiras-de-
contabilidade/normas-completas/.
A Resolução nº. 750/1993, e a seguinte que a modificou (Resoluções CFC nº.
1.282/2010), que dispunham dos princípios de contabilidade geralmente aceitos,
foram revogadas, no entanto, não significa que todos os princípios de contabilidade
estejam extintos, alguns deles foram mantidos e outros acrescentados nas normas
que foram criadas de acordo com as normas internacionais (IFRS). A revogação das
resoluções visa à unicidade conceitual, indispensável para evitar divergências na
concepção doutrinária e teórica, que poderiam comprometer aspectos formais das
Normas Brasileiras de Contabilidade (NBCs). O Brasil passou a contar com uma
Estrutura Conceitual (CPC00), assim como outros pronunciamentos publicados em
sequência desse. Enquanto as Resoluções nº. 750/1993 e 1.282/2010 eram
estruturadas em “princípios”, a Estrutura Conceitual é estruturada em capítulos,
como, por exemplo, o do objetivo ou o das características qualitativas da informação
contábil. De maneira geral, podemos ver que todos os princípios mencionados na
Resoluções nº. 750/1993 e 1.282/2010 também estão na Estrutura Conceitual ou em
CPCs seguintes, com exceção do princípio da prudência (GIROTTO, 2016).
Princípios contábeis e regime de competência 9

Receitas e despesas no momento da ocorrência


Receitas são entradas de elementos para o ativo sob a forma de dinheiro ou
direitos a receber, vinculadas normalmente a uma venda de mercadorias,
produtos ou prestação de serviços. Receitas também podem derivar de
juros recebidos de vendas recebidas em atraso, rendimentos de aplicação
ou recebimento de aluguéis (IUDICIBUS, 2010a).
Consideram-se receitas realizadas quando resultar em aumento nos benefícios
econômicos futuros relacionados com aumento de ativo ou com diminuição de
passivo, e puder ser mensurado com confiabilidade. Isso significa, na prática, que
o reconhecimento da receita ocorre simultaneamente com o reconhecimento do
aumento nos ativos ou da diminuição nos passivos (por exemplo, o aumento líquido
nos ativos originado da venda de bens e serviços ou o decréscimo do passivo
originado do perdão de dívida a ser paga). Todas as receitas realizadas devem ser
registradas na demonstração do resultado do exercício (GELBKE et al., 2018).
Cabe ressaltar que nem sempre uma receita realizada pode ter sido recebida
no momento de sua ocorrência, ou seja, não importa se ela transitou pelo
caixa no momento do fato gerado, ou seja, a venda (RIBEIRO, 2013). Existem
casos em que a receita ocorre em função da redução de um passivo, como o
recebimento de desconto de uma dívida (IUDICIBUS, 2010).
A mensuração de uma receita ocorre com a definição do valor de troca do
produto ou serviço prestado pela empresa, ou seja, o fluxo de dinheiro que será
recebido ou que foi recebido. Normalmente esse valor está descrito na nota
fiscal de venda do produto ou de prestação do serviço (IUDICIBUS, 2010b).
Entende-se como despesas o consumo de bens ou serviços que, direta ou
indiretamente, sejam utilizados para produzir uma receita. Uma despesa irá
reduzir um ativo ou aumentar um passivo (IUDICIBUS, 2010).
Em relação às despesas, elas devem ser reconhecidas na demonstração
do resultado, quando resultarem em decréscimo nos benefícios econômicos
futuros, relacionadas com o decréscimo de um ativo ou o aumento de um
passivo, e puderem ser mensuradas com confiabilidade. As despesas devem
ser reconhecidas na demonstração do resultado com base na associação direta
entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse processo é usualmente
10 Princípios contábeis e regime de competência

chamado de confrontação entre despesas e receitas e envolve o reconhecimento


simultâneo ou combinado das receitas e despesas que resultem diretamente
ou conjuntamente das mesmas transações ou outros eventos (GELBKE et al.,
2018). Por exemplo, para gerar uma receita, é necessário que a empresa incorra
em despesas, que devem ser registradas no momento em que ocorreram.

O regime de caixa consiste na apuração do resultado do exercício, considerando todas


as despesas pagas e todas as receitas recebidas no respectivo período, independen-
temente da data da ocorrência não ter sido a mesma. O resultado apresentado nessa
apuração, é denominado resultado financeiro e a demonstração contábil que apresenta
esta movimentação é a demonstração do fluxo de caixa (RIBEIRO, 2013).
De acordo com Marcelino (2016), o regime de competência é o princípio básico da
contabilidade, diferente do regime de caixa, no qual os recebimentos e os pagamen-
tos são reconhecidos unicamente quando se recebe ou se paga mediante dinheiro
ou equivalente. Não é permitida a utilização desse método, pois estaria violando
um princípio contábil da competência. Marcelino (2016) complementa que existem
algumas exceções em que se permite a utilização do regime de caixa, como no caso
de empresas que são do ramo da atividade imobiliária.

Resultado contábil e princípio da competência


O resultado contábil é obtido através da demonstração do resultado do exercício
(DRE). Sua apresentação se dá em forma resumida, das receitas e despesas
decorrentes das operações realizadas pela empresa, durante o exercício social,
com o objetivo de demonstrar a composição do resultado líquido do período
(GELBKE et al., 2018).
O art. 187, da Lei das Sociedades por Ações (6.404/1976), estabelece a ordem
de apresentação das receitas, custos e despesas, na demonstração do resultado do
exercício, para fins de publicação. A demonstração do resultado descriminará:

I — a receita bruta das vendas e serviços, as deduções das vendas, os abati-


mentos e os impostos;
II — a receita líquida das vendas e serviços, o custo das mercadorias e serviços
vendidos e o lucro bruto;
Princípios contábeis e regime de competência 11

III — as despesas com as vendas, as despesas financeiras, deduzidas das


receitas, as despesas gerais e administrativas, e outras despesas operacionais;
IV — o lucro ou prejuízo operacional, as outras receitas e as outras despesas;
(Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
V — o resultado do exercício antes do Imposto sobre a Renda e a provisão
para o imposto;
VI — as participações de debêntures, empregados, administradores e partes
beneficiárias, mesmo na forma de instrumentos financeiros, e de instituições ou
fundos de assistência ou previdência de empregados, que não se caracterizem
como despesa; (Redação dada pela Lei nº 11.941, de 2009)
VII — o lucro ou prejuízo líquido do exercício e o seu montante por ação
do capital social.
§ 1º Na determinação do resultado do exercício serão computados:
a) as receitas e os rendimentos ganhos no período, independentemente da sua
realização em moeda; e
b) os custos, despesas, encargos e perdas, pagos ou incorridos, correspon-
dentes a essas receitas e rendimentos (BRASIL, 1976, documento on-line).

(=) RECEITA BRUTA


(-) DEDUÇÕES DE VENDAS
(=) RECEITA LÍQUIDA
(-) CUSTO DA MERCADORA VENDIDA
(=) LUCRO BRUTO
(-) DESPESAS COM VENDAS
(-) DESPESAS ADMNISTRATIVAS
(+-) RESULTADO FINANCEIRO LÍQUIDO
(=) RESULTADO OPERACIONAL OU RESULTADO ANTES DOS IMPOSTOS
(-) IRPJ
(-) CSSL
(=) RESULTADO ANTES DAS PARTICIPAÇÕES
(-) PARTICIPAÇÕES
(=) LUCRO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO/ PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO

Figura 1. Estrutura da demonstração do resultado do exercício


Fonte: Adaptado de Brasil (1976).

Gelbke et al. (2018) complementa que as definições da Lei nº. 6.404/1976


se enquadram em um dos pressupostos básicos presentes no pronunciamento
conceitual básico (R1) – estrutura conceitual para elaboração e divulgação
12 Princípios contábeis e regime de competência

de relatório contábil-financeiro, denominado Regime de Competência, que,


por sua vez, implica a confrontação entre receitas e despesas, conforme
descrito no item 95 do Pronunciamento Técnico do CPC supracitado:

As despesas são reconhecidas na demonstração do resultado com base na as-


sociação direta entre elas e os correspondentes itens de receita. Esse processo,
usualmente chamado de confrontação entre despesas e receitas (Regime de
Competência), envolve o reconhecimento simultâneo ou combinado das receitas e
despesas que resultem diretamente das mesmas transações ou outros eventos [...].

Gelbke et al. (2018) exemplifica que a receita de venda é contabilizada por


ocasião da transferência do controle (a saída do produto da empresa), e não
quando de seu recebimento; e a despesa de pessoal é reconhecida no mês em que
se recebeu tal prestação de serviços, mesmo que seja paga no mês subsequente.
Gelbke et al. (2018) acrescentam que nos mesmos períodos em que forem
lançadas as receitas e os rendimentos, deverão estar registrados todos os
custos, despesas, encargos e riscos correspondentes àquelas receitas, ou seja
a receita da venda de determinado produto deverá ser registrado no mesmo
período de todos os custos e despesas em que se incorre relativamente àquela
receita, tais como: o custo do produto vendido, que englobaria material, mão
de obra e demais custos de sua fabricação (GELBKE et al., 2018).

Princípio de competência
Quando se menciona reconhecer receitas e despesas no momento de sua ocorrência,
signifi ca reconhecer pelo regime de competência. De acordo com Ribeiro
(2013), no regime de competência são consideradas, na apuração do resultado do
exercício, todas as despesas incorridas e as receitas realizadas no respectivo
exercício. Esse é o critério utilizado para a elaboração da demonstração do
resultado do exercício, e o resultado encontrado também é denominado de
resultado econômico.
Esse regime é aplicado na contabilização de receitas e despesas. A necessidade de
sua compreensão é essencial para o entendimento das peças contábeis. Pode-se
dizer que para uma despesa ou receita existem dois momentos em que poderia
processar sua contabilização: conside-rando o momento econômico, ou seja, o
momento de sua ocorrência; ou o momento financeiro, ou seja, por meio de seu
pagamento ou recebimento (PADOVEZE, 2017).
Princípios contábeis e regime de competência 13

Exemplificando, consideraremos a despesa de salário do mês de de-


zembro de 2017, que é pago no mês subsequente, em janeiro de 2018.
Quando se deve contabilizar a despesa? No momento do seu fato
gerador, isto é, o mês trabalhado dos funcionários (dezembro de 2017)
ou de seu pagamento (janeiro de 2018)? Deve-se contabilizar no
momento de sua ocorrência, considerando o princípio da competência,
independentemente de seu pagamento ou recebimento, mesmo que sua
realização financeira ocorra no exercício seguinte (PADOVEZE, 2017).
O conceito de competência do exercício é dividido em 12 períodos, sendo
aplicado em cada mês. Apesar de não existir a necessidade de resultados
mensais, é recomendando efetua-los para fins de controle. Tendo vendas
realizadas em março de 2017 e que serão recebidas em junho de 2017, a receita será
contabilizada em março de 2017, e seu recebimento em junho de 2017. O
regime de competência é uma necessidade imposta pela Contabilidade para
que seja executado o controle dos direitos (valores a receber) e obrigações
(valores a pagar) nas empresas (PADOVEZE, 2017).
Segundo Padoveze (2017), o regime de competência é a expressão con-
junta de dois princípios que existiram no passado: o princípio da realização
da receita, que determina que devemos considerar uma receita no momento
em que um produto ou mercadoria é entregue para o cliente, e em relação ao
serviço, quando o serviço é finalizado; e o princípio do confronto das
despesas com as receitas, que trata que para cada receita realizada em um
determinado período a empresa incorre em despesas, que devem ser
registradas nesse mesmo momento.
14 Princípios contábeis e regime de competência

BRASIL. Lei nº. 6.404, de 15 de dezembro de 1976. Diário Oficial [da] República Federativa
do Brasil, Brasília, DF, 17 dez. 1976. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
LEIS/L6404consol.htm>. Acesso em: 16 dez. 2018.
BRASIL. Lei nº. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
[da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em: <http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 16 dez. 2018.
GELBCKE, E. R. et al. Manual de contabilidade das sociedades por ações: aplicável às
demais sociedades. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2018.
GIROTTO, M. Revogação da Resolução nº. 750/1993: contexto e considerações. Bra-
sília: CFC, 2016. Disponível em: <https://cfc.org.br/noticias/revogacao-da-resolucao-
-no-7501993-contexto-e-consideracoes/>. Acesso em: 16 dez. 2018.
IUDÍCIBUS, S. Teoria da contabilidade. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2010.
MARCELINO, D. Lucro real: regime de reconhecimento de receitas. CPA, 7 nov. 2016. Disponível
em: <http://netcpa.com.br/noticias/ver-noticia.asp?Codigo=36728>. Acesso em: 16 dez. 2018.
PADOVEZE, C. L. Manual de contabilidade básica: contabilidade introdutória e interme-
diária. 10. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
RIBEIRO, O. M. Contabilidade básica. 29. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

Leituras recomendadas
BORGES, T. B. et al. Desmistificação do regime contábil de competência. Revista de
Administração Pública, v. 44, n. 4, p. 877-901, 2010. Disponível em: <http://biblioteca-
digital.fgv.br/ojs/index.php/rap/article/viewFile/6952/5519>. Acesso em: 16 dez. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. NBC TSP Estrutura Conceitual–Estrutura
Conceitual. Brasília: CFC, 2016. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/
docs/NBCTSPEC.pdf>. Acesso em: 16 dez. 2018.
CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE. Resolução CFC nº. 1.374/11. Brasília: CFC,
2011. Disponível em: <http://www1.cfc.org.br/sisweb/SRE/docs/Res_1374.pdf>.
Acesso em: 16 dez. 2018.

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