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Hiroldo Franklin Gurgel Serra é ator, diretor, pro-

dutor, autor e professor de teatro. Formado pela


Universidade Estadual do Ceará em Pedagogia e Pós
graduado em Arte Educação. É diretor da Casa da
Comédia Cearense que atende mais de 150 jovens
com aulas de teatro, dança e circo. É autor dos livros:
“Teatro na Escola”, “2º Ato Teatro na Escola”, “3º
Ato Teatro na Escola, “Teatro Experimental de Arte:
O Fazer Teatral dos Anos 50”, “Onde Mora a Cena Cearense”. Já atuou em mais
de 45 espetáculos, entre eles: O Morro do Ouro, A Valsa Proibida, O Casamento
da Peraldiana, Seria Cômico se não fosse Trágico, Uma Canção para Eulália, A
Família Addams, O Soldadinha de Chumbo, O Corcunda de Notre Dame. No
cinema atuou em “O Quinze”, “A Ilha da Morte”, “O Caminho das Nuvens”.
Foi conselheiro de Cultura do Estado em 2009/2010. Dirigiu espetáculos como
A Noiva Cadáver, Auto de Natal, Chicago, Hair, Grease, O Malandro.

Mano Alencar é pintor, escultor, desenhista, com-


positor e poeta. Autodidata, já realizou exposições
individuais em várias cidades do Brasil, na Itália, Fran-
ça, Estados Unidos, Portugal, Espanha e Argentina e
Cuba. Como poeta, publicou quatro livros: Mistura
Letras e Palavras, em 1985, Pensando pela Boca, em
1992, Arremesso, em 1997 e Alucinação Urbana, em
2000. Lançou um CD, Parceiros e Amigos, em 1996,
com composições de sua autoria e interpretação dos jovens talentos da música
cearense, sendo reeditado em 2009, incluindo mais cinco canções inéditas.

Fabiano Sousa Martins é


Hiroldo Serra

Fortaleza–CE
2013
Coordenação de Design
Jon Barros

Diagramação
Juscelino Guilherme

Ilustrações
Fabiano Sousa

Capa
Mano Alencar

Projeto Gráfico
Hiroldo Serra

Revisão
Aparecida Cláudio

Colaboração
Assis Teles
Jonh Ewerton
Natali Lima
Hiramisa Serra
Walden Luiz

Catalogação na fonte
Carmen Araújo

Gráfica LCR
Rua Israel Bezerra, 633 | Dionísio Torres | 60135–460
Fone: 85 3105–7900 | Fax 85 3079–7000 – Fortaleza – Ceará
atendimento01@graficalcr.com.br | www.graficalcr.com.br
Ao meu pai Haroldo Serra pelos seus 60 anos de teatro.
Ao grupo teatral Comédia Cearense pelos seus 55 anos
de atividades ininterruptas e aos 10 anos de fundação
da Casa da Comédia Cearense.
Outras publicações do autor

O Soldadinho de Chumbo
Mogli – O Menino Lobo
João e Maria
A Dama e o Vagabundo
A Família Addams

O Corcunda de Notre Dame


A Princesinha
O Recruta Samba Canção

Os Três Mosqueteiros
O Príncipe e o Mendigo
Cyrano de Bergerac

A trajetória do grupo Teatro


Experimental de Arte
1952 / 1957

Registro das casas de


espetáculos do Ceará
1880 / 2004
Prefácio
APRESENTAÇÃO
INTRODUÇÃO

Saí do útero e engatinhei no palco. O teatro foi meu berço e mi-


nha família a Comédia Cearense. Troquei os times por muitos elencos
e as torcidas por plateias que educaram meus ouvidos com aplausos
de sucesso aos meus pais Haroldo e Hiramisa Serra, maior orgulho
e exemplo de vida e persistência. Feliz infância sem pressão nem in-
fluência me deixou livre para introduzir nas veias a paixão pelo tea-
tro. Espectador, figurante, ator, contra-regra, indicador de poltrona,
coadjuvante, iluminador, sonoplasta, diretor, produtor, professor ou
adaptador; não existe hierarquia.
Feliz experiência de ser de tudo um pouco. Resistimos a 1ª, 2ª
e 3ª geração que ajudei a por no mundo. Fomos crianças que invo-
luntariamente subimos ao palco e pelas mãos de meus pais, viramos
personagens de todos os espetáculos. Mas nem sempre sabíamos dis-
tinguir a ficção da realidade. Derramamos muitas lágrimas ao assisti-
-los sofrer como personagens; presos; açoitados ou despejados.
Como ator contador de histórias, ao balançar diariamente mi-
nha filha Carolina, retirei de seu quarto, a maioria dos personagens
de meus livros. Figuras imaginárias que ganharam vida, vestidas pelas
mãos mágicas de nossa matriarca. Não preciso ser orgulhoso, mas
devo me orgulhar de ter levado um pouco de teatro aos milhares de
alunos que tive durante esses vinte e sete aos de sala de aula.
Com o 4º Ato – Teatro na Escola, que ainda não é o último ato,
trago aos leitores em linguagem teatral, A Noiva Cadáver, Peter Pan,
O Corcunda de Notre Dame e A Moura Torta e o Pássaro Azul. Possi-
bilidades de imaginar, ver, criar, interagir e até assistir. Assunto sério
de maneira lúdica; aventura e vontade de não crescer mais; paixão,
injustiça e preconceito; inveja, beleza e justiça são temas para serem
lidos e interpretados.
Ouve-se a terceira batida de Molière. As luzes se apagam ou se
acendem; abrem-se as cortinas ou as páginas. Bem vindos ao mundo
do teatro e da leitura. O espetáculo vai começar.

Hiroldo Serra
SUMÁRIO

A Noiva Cadáver......................................... 13

Peter Pan.................................................... 61

O Corcunda de Notre–Dame..................... 119

A Moura Torta e o Pássaro Azul................ 161


O QR Code é basicamente um novo código
de barras em 2D. Diferente do antigo código, que
trabalha apenas com a dimensão horizontal, o QR
Code utiliza códigos com informações tanto no
plano horizontal como na vertical. Criado em 1994
no Japão, foi desenvolvido para a indústria de au-
tomóveis japonesa, para ajudar a catalogar as peças dos carros na
linha de produção.
Para ter acesso ao conteúdo codificado em um QR Code, a pes-
soa deve primeiro dispor de uma câmera em um telefone celular ou
tablet e um programa feito para ler o código bidimensional. Deve-se
tirar uma foto da imagem pelo aplicativo que a converte imediata-
mente (o aplicativo está disponível para o sistema iOS e Android).
No nosso livro além de imaginar as cenas através da leitura ou
visualizá-las através das fotos você poderá também assisti-las. Experi-
mente e seja um espectador! Seja bem vindo ao teatro!

www.comediacearense.com.br
A Noiva
Cadáver
A Noiva Cadáver
Adaptação Livre: Hiroldo Serra

Personagens:
Víctor
Victória
Noiva Cadáver (Émily)
Mãe de Víctor
Pai de Víctor
Mãe de Victória
Pai de Victória
Lord Barkis
Caveira 1
Caveira 2
Caveira 3
Mayhew (cocheiro)
Pastor
Velho Gutknecht
Corpo de Baile
A Noiva Cadáver

(casa de Víctor)
Mãe de Víctor – Mas que linda manhã!
Pai de Víctor – É uma bela manhã!
Mãe de Víctor – Para um glorioso casório.
Pai de Víctor – Um ensaio, querida. Para ser mais exato.
Mãe de Víctor – Um ensaio para um grande casório.
Pai de Víctor – Contanto que não haja um imprevisto qualquer.
Mãe de Víctor – Ninguém para perturbar ou meter a colher.
Pai de Víctor – Por isso, cada um e todos os mínimos detalhes, mes-
mo os microscópicos detalhes devem funcionar.
Mãe de Víctor – De acordo com o plano.
Pai de Víctor – Nosso filho vai se casar.
Mãe de Víctor – De acordo com o plano.
Pai de Víctor – A família será elevada ao prestígio da classe A.
Mãe de Víctor – Aos salões reais.
Pai de Víctor – E às catedrais.
Mãe de Víctor – Reuniões com a nobreza.
Pai de Víctor – E chá das cinco com Sua Alteza.
Mãe de Víctor – Para sermos vistos e maiorais vamos ser.
Pai de Víctor – Na elite, viver e o passado esquecer.
Mãe de Víctor – Vamos procurar Víctor. Não quero me atrasar!
Pai de Víctor – Vamos querida! (saem)

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A Noiva Cadáver

(casa de Victória)
Mãe de Victória – Comerciantes de peixe! Que terrível manhã!
Pai de Victória – Melhore esse humor!
Mãe de Victória – Tão imprópria para um casamento.
Pai de Victória – Os negócios vão de mal a pior.
Mãe de Victória – E agora esse grande tormento.
Pai de Victória – Seremos obrigados a pagar esse mico?
Pai e Mãe de Victória – Casar a nossa filha com um novo rico?
Mãe de Victória – Tão comuns.
Pai de Victória – Tão insossos.
Mãe de Victória – É o fundo do poço.
Pai de Victória – Fundo do poço? Lamento discordar. Podiam ser
falidos. Nobres de museus sem um centavo para gastar como você e
eu. (mostram o cofre vazio)
Mãe de Victória – Ai, querido.
Pai de Victória – Por isso, cada um e todos os mínimos detalhes,
mesmo os microscópicos detalhes, devem funcionar.
Mãe de Victória – De acordo com o plano.
Pai de Victória – Vai ter de casar.
Mãe de Victória – De acordo com o plano.
Pai de Victória – Para nos levantar.
Pai e Mãe de Victória – Da pobreza e da ruína totais.
Mãe de Victória – E poder honrar nossos ancestrais.

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A Noiva Cadáver

Pai de Victória – Quem diria então como imaginar.


Mãe de Victória – Nossa filha e seu carão de uma lontra sem ação.
Pai e Mãe de Victória – Poderia ser a nossa salvação! (saem)

(no quarto de Victória)


Victória – Mas se Víctor e eu não gostarmos um do outro?
Mãe de Victória – Como se isso tivesse a ver com casamento. Você
acha que eu e seu pai gostamos um do outro?
Victória – Claro que gostam... Um pouco.
Mãe de Victória – É claro que não! Feche direito esse espartilho.
Posso ouvi-la falar sem ofegar. (corte de luz)

(na carruagem)
Pai de Víctor – Você fisgou mesmo um peixão desta vez, Víctor.
Mãe de Víctor – Agora só precisa puxar o anzol.
Víctor – Já estou puxando, mãe. Victória Everglot não deveria se casar
com algum lorde?
Mãe de Víctor – Ora que tolice! Somos tão bons quanto os Everglot.
Por isso eu sempre achei que merecia mais do que uma vida de ven-
dedora de peixes.
Víctor – Mas eu nunca falei com ela!
Mãe de Víctor – Pelo menos nós temos isso a nosso favor.

(casa de Victória)
Mãe de Victória – Casamento é uma parceria. Um toma lá–dá–cá. A
vida inteira ela nos observou... E, como nós, ela fará. Como nós, ela fará.

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A Noiva Cadáver

Pai de Victória – Tudo deve ser perfeito.


Mãe de Victória – Tudo deve ser perfeito.
Pai e Mãe de Victória – Por isso, cada um e todos os mínimos de-
talhes mesmos microscópicos detalhes devem funcionar. De acordo
com o plano.

(pai e mãe de Víctor chegando à casa dos Everglot)


Mãe de Víctor – Olha a sua postura. Parece que tem raquitismo! Oh,
meu Deus! Que imponência. Que gosto impecável!
Pai de Víctor – Não é tão grande como a nossa casa, querida. E um
tanto mal cuidada.
Mãe de Víctor – Cala a boca.
Pai de Víctor – (para mãe de Victória) Ora, creio que seja a Srta.
Victória. Com franqueza não parece ter mais de vinte anos. (leva um
beliscão da mulher)
Mãe de Victória – (para seu marido) Sorria, querido, sorria.
Pai de Victória – Como estão? Que prazer. Bem–vindos à nossa casa.
Mãe de Víctor – Obrigada!
Mãe de Victória – Vamos tomar um chá na sala de visitas. Venham
por aqui. (saem. Víctor encontra um piano e toca. Victória entra e fica
ao lado de Víctor que se assusta e quase cai do banco do piano)
Víctor – Ah! Perdoe-me.
Victória – Toca muito bem.
Víctor – Desculpe-me, Srta. Everglot. Que modos os meus... Bem...
Com licença. (levanta do banco)

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A Noiva Cadáver

Victória – Mamãe não me deixa chegar perto do piano. Ela diz que a
música não é apropriada para uma jovem.
Víctor – Eu posso perguntar Srta. Everglot... Onde está sua dama de
companhia?
Victória – Talvez, diante das atuais circunstâncias, devesse me cha-
mar de Victória.
Víctor – Sim, claro. Victória?
Victória – Sim, Víctor.
Víctor – Amanhã nós estaremos cas... cas...
Victória – Casados.
Víctor – Isso. Casados!
Victória – Desde criança que sonho com o dia do meu casamento.
Sempre quis encontrar alguém por quem me apaixonasse perdida-
mente. Alguém com quem pudesse passar o resto da vida. (senta-se
ao piano) Tolice, não é?
Víctor – Sim, tolice. Não! De jeito nenhum. Não! (derruba um jarri-
nho com flores que está em cima do piano) Oh! Céus! Eu sinto muito.
(Victória coloca uma flor na lapela de Víctor)
Mãe de Victória – Que absurdo é esse? Não deviam estar juntos sozi-
nhos. Está na hora. Um minuto para as cinco horas e não estão no en-
saio. O pastor está esperando. Venham imediatamente. (corte de luz)
Pastor – Sr. Víctor, vamos do início outra vez. “Com esta mão, espan-
tarei suas tristezas. Sua taça jamais ficará vazia, pois serei seu vinho.
Com esta vela, iluminarei seu caminho na escuridão. E com esta alian-
ça, peço-lhe que seja minha”. Vamos outra vez.

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A Noiva Cadáver

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A Noiva Cadáver

Víctor – Sim, senhor. Com esta vela... Com esta vela...


Mãe de Víctor – Devo ir lá falar com ele?
Pai de Víctor – Tenha calma, querida.
Víctor – Com esta vela...
Pastor – Continue! (a campainha toca)
Pai de Victória – Veja quem é.
Pastor – Então vamos continuar da parte da vela.
Mãe de Victória – (recebendo um cartão de visita) Lord Barkis.
Lord Barkis – Não tenho boa cabeça para datas. Parece que cheguei
um dia antes do casamento.
Pai de Victória – Ele é do lado da sua família?
Mãe de Victória – Não me lembro.
Lord Barkis – Continuem.
Pastor – Vamos tentar outra vez. Está bem, Sr. Víctor?
Víctor – Sim, senhor. Com esta... Esta...
Pastor – Mão!
Víctor – Com esta mão... Eu... Com...
Pastor – Três passos, três! Não sabe contar? Não quer se casar, Sr.
Víctor?
Víctor – Não? Não!
Victória – Você não quer?
Víctor – Não! Eu quis dizer que não quero não me casar. Quer dizer,
eu quero muito...

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A Noiva Cadáver

Pastor – Preste atenção! O senhor por acaso se lembrou de trazer as


alianças?
Víctor – As alianças? Sim claro! (tira do bolso e as deixa cair)
Pastor – Deixou-as cair. Esse rapaz não quer se casar.
Mãe de Victória – Que desgraça!
Víctor – Peguei.
Pastor – Chega! Esse casamento só poderá acontecer quando ele
estiver preparado. Meu jovem aprenda seus votos. (todos saem)
Lord Barkis – (para a plateia) Ele é um ótimo partido, não acham?
(Música de suspense. Víctor anda pela floresta)
Víctor – Ah, Victória. Ela deve pensar que sou um idiota. Este dia não
pode ficar pior. Não deveria ser tão difícil. São só uns simples votos.
Com esta mão, eu tomarei seu vinho... Não. Com esta mão darei de
beber... Ah, meu Deus. Com esta... Com esta... Com esta vela eu...
Eu... Ah, não adianta. (pegando a aliança) Com esta mão, eu espan-
tarei suas tristezas. Sua taça jamais ficará vazia, pois eu serei o seu
vinho. Oh, senhora Everglot está encantadora esta noite. O que disse
Sr. Everglot? Chamá-lo de pai? Já que insiste. Com esta vela ilumina-
rei seu caminho na escuridão. Com esta aliança, eu peço a você que
seja minha. (coloca a aliança num galho seco. Sons de vento, corvos,
relâmpagos e trovões. O galho é a mão da Noiva Cadáver que tenta
puxá-lo pelo braço)
Noiva Cadáver – Eu aceito. (Víctor foge, e a Noiva corre atrás dele
pela floresta) Pode beijar a noiva! (Víctor desmaia e é levado por ca-
veirinhas para o plano dos mortos)
Noiva Cadáver – Você está bem?

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A Noiva Cadáver

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A Noiva Cadáver

Víctor – O que houve?


Caveira 1 – Minha nossa! Acho que temos um vivo.
Caveira 2 – Um brinde aos recém–casados!
Víctor – Recém–casados?
Noiva Cadáver – Na floresta, você pronunciou os votos de modo
perfeito. (mostra a aliança)
Víctor – Foi mesmo?
Noiva Cadáver – Foi, sim.
Víctor – (batendo na cabeça) Acorda. Acorda. Fiquem longe de mim.
Eu quero umas perguntas. Agora.
Caveira 3 – Acho que quis dizer respostas.
Víctor – Obrigado! É isso, respostas! O que está havendo? Onde es-
tou? Quem são vocês?
Noiva Cadáver – Bom, essa é uma longa história.
Caveira 1 – E que história incrível!
Caveira 2 – Uma trágica história de romance e paixão.
Caveira 3 – E assassinato a sangue–frio.
Caveiras – Vamos lá pessoal! (música e coreografia das caveiras. Num efei-
to de teatro de sombras, mostrar Lord Barkis matando a Noiva Cadáver)

(na casa de Victória)


Mãe de Victória – Victória, saia já da janela.
Mãe de Víctor – Ele logo estará de volta. Morre de medo do escuro. Quan-
do era menino fazia xixi nas calças constantemente. Não era, William?

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A Noiva Cadáver

Mãe de Victória – Ah, Lord Barkis! Espero que o quarto seja do seu agrado.
Lord Barkis – Obrigado. É uma anfitriã muito generosa. E, é por isso
que me dói ser o portador de notícias tão ruins: Víctor foi visto esta
noite na ponte nos braços de uma mulher misteriosa! A sedutora de
cabelos negros e o Sr. Víctor sumiram noite adentro!
Mãe de Víctor – Mulher misteriosa? Ele nem conhece mulher nenhuma!
Lord Barkis – É o que todos pensavam. Podem me chamar se preci-
sarem de minha ajuda. Seja lá para o que for.
Mãe de Victória – E agora, Finis? O que vamos fazer?
Pai de Victória – Pegue meu mosquete.
Mãe de Víctor – William, faça algo!
Pai de Víctor – Não deve ter acontecido nada de importante.
Pai de Victória – Mesmo assim. Está faltando um noivo para o casa-
mento de amanhã. (à parte)* Isso sem falar nas implicações financeiras.
Mãe de Victória – E é um imenso constrangimento pra todos nós.
Mãe de Víctor – Deem–nos uma chance de encontrá-lo. Nós implo-
ramos. Deem–nos até o amanhecer.
Mãe de Victória – Muito bem! Até o amanhecer. (corte de luz)

(no plano dos mortos)


Noiva Cadáver – Víctor, querido. Onde você está?
Caveira 1 – Se quer minha opinião, o seu namorado está meio nervoso.

* Consiste num comentário feito por um personagem, presumivelmente não ouvido pelos de-
mais que estão em cena. O aparte pode ser dado diretamente à plateia ou na forma de um
comentário do personagem para si mesmo.

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A Noiva Cadáver

Noiva Cadáver – Ele não é meu namorado, é meu marido! Víctor


onde você foi? Víctor!
Caveira 2 – Lá vai ele! Lá vai ele! Está fugindo! Rápido, rápido. Atrás dele!
Noiva Cadáver – Víctor! Víctor! Cadê você? (música)
Víctor – Não tem saída!
Noiva Cadáver – Te achei. A vista não é linda? É de tirar o fôlego.
(à parte) Bem, tiraria se eu pudesse respirar! Isso não é romântico?
(sentam em um balanço)
Víctor – Ouça, sinto muito pelo que aconteceu com você... E gostaria
de ajudar, mas preciso voltar para casa.
Noiva Cadáver – Esta é a sua casa agora!
Víctor – Mas eu nem sei o seu nome!
Noiva Cadáver – É Émily.
Víctor – Émily, minha mãe não vai gostar de eu ter sumido assim.
Aliás, ela não gosta mesmo de nada.
Noiva Cadáver – Acha que ela teria gostado de mim?
Víctor – Sorte sua não tê-la conhecido. Se bem que... Já que falou
nisso, acho que deveria conhecê-la. Na verdade, já que estamos... ca-
sados, você devia mesmo conhecê-la. E o meu pai também. Devíamos
ir vê-los agora!
Noiva Cadáver – Que ideia fantástica! Onde estão enterrados? Qual
o número da sepultura? (silêncio)
Víctor – Eles não estão aqui.
Noiva Cadáver – Onde eles estão? Ah, ainda estão vivos!

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A Noiva Cadáver

Víctor – Eu creio que sim.


Noiva Cadáver – Isso é um problema. A não ser que... ah, não podemos...
Víctor – O que foi?
Noiva Cadáver – Vamos ver o velho Gutknecht. (música, raios e trovões)

(a cena se passa numa espécie de gruta e ou numa biblioteca velha)


Noiva Cadáver – Velho Gutknecht! Você está aí? Olá. Tem alguém
em casa? (o velho entra tossindo) Aí está o senhor!
Velho Gutknecht – Ah, minha querida. É você?
Noiva Cadáver – Eu trouxe o meu marido, Víctor.
Velho Gutknecht – O que disse? Marido?
Víctor – É um prazer conhecê-lo, senhor.
Noiva Cadáver – Precisamos ir lá para cima para visitar o Mundo dos
Vivos.
Velho Gutknecht – O mundo dos vivos? Oh, minha querida.
Noiva Cadáver – Por favor, velho Gutknecht.
Velho Gutknecht – Mas por que ir lá em cima se as pessoas estão
morrendo para vir aqui para baixo?
Víctor – Eu imploro por sua ajuda. É tão importante para mim... para nós.
Velho Gutknecht – Deixe-me ver o que posso fazer. Onde eu colo-
quei aquele livro? Ah, é este aqui. (folheando um livro grande e ve-
lho) Achei. Um feitiço de assombração ucraniano. Justinho para essas
viagens rápidas.
Noiva Cadáver – Estou feliz por ter tido essa ideia.

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A Noiva Cadáver

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A Noiva Cadáver

Víctor – Eu também.
Velho Gutknecht – Ah, aqui está. Prontos? Mas lembrem–se: quan-
do quiserem voltar, digam “amarelinha”.
Noiva Cadáver – Amarelinha?
Velho Gutknecht – Isso mesmo. (joga um pó sobre eles, efeito de
luz e fumaça)

(no plano dos vivos. Projeção da lua no fundo do palco)


Noiva Cadáver – Eu passei tanto tempo na escuridão... que quase
havia me esquecido como é linda a luz do luar. (dança uma pequena
coreografia)
Víctor – Espere, espere. Eu acho que deveria preparar meus pais para
a novidade. Eu vou na frente, e você espera aqui.
Noiva Cadáver– Perfeito.
Víctor – Eu não vou demorar. Fique bem aqui! Eu volto logo.
Noiva Cadáver – Certo. (fica em cena em um foco de luz)
Víctor – Não olhe.

(na casa de Victória. Víctor ouve a conversa atrás da porta)


Pai de Victória – Se eu encontrar aquele jovem, Víctor, eu vou es-
trangulá-lo com minhas próprias mãos.
Mãe de Victória – Suas mãos são grossas, e o pescoço dele é muito
fino. Use uma corda.
(Velho Gutknecht fala escondido se passando pela consciência da
Noiva cadáver)

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A Noiva Cadáver

Velho Gutknecht – Esta é a voz da sua consciência. Escute o que lhe


digo. Confesso que eu não confio naquele rapaz. Ele não é um bom...
Noiva Cadáver – Vai encher o ouvido de outra pessoa! Víctor foi en-
contrar os pais, como ele disse. Garanto que ele tem uma razão muito
boa para demorar tanto.
Velho Gutknecht – Eu garanto que sim. Por que não vai perguntar
a ele?
Noiva Cadáver – Está bem, eu vou.
Velho Gutknecht – Afinal, ele não pode ter ido muito longe. Covar-
de como ele é. (corte de luz. Victória está bordando em seu quarto
quando Víctor chega de surpresa)
Víctor – Victória!
Victória – Víctor! Estou tão feliz em vê-lo. Está gelado como um mor-
to! Vou aquecê-lo. Por onde esteve? Você está bem?
Víctor – Eu... Oh, céus!
Victória – O que aconteceu com você?
Víctor – Victória, eu confesso. Hoje de manhã eu estava morrendo
de medo de me casar. Mas depois que eu a conheci, senti que devia
ficar com você para sempre. Eu não vejo a hora do nosso casamento
acontecer.
Victória – Víctor, eu sinto a mesma coisa. (quase se beijam quando
Víctor vê a Noiva Cadáver se aproximando. Música)
Víctor – Victória, acontece... Acontece que eu já estou casado e você
precisa saber que foi inesperado... (Victória vê a Noiva Cadáver e
assusta- se)

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A Noiva Cadáver

Noiva Cadáver – Não pude esperar, querido. Eu quero conhecer...


Ah! Querido, quem é ela?
Victória – Quem é ela?
Noiva Cadáver – Eu sou a esposa dele. (mostra a aliança)
Victória – Víctor?
Víctor – Victória, espere. Não está entendendo. Ela está morta. Veja.
Noiva Cadáver – Amarelinha! (raios, trovões, relâmpagos e fumaça.
A Noiva Cadáver desaparece levando Víctor)
Víctor – Nãooooo! Victóriaaaaa! (corte de luz)

(plano dos mortos)


Noiva Cadáver – Você mentiu para mim! Só para poder voltar para
aquela outra mulher!
Víctor – Você não entende? Você é a outra mulher!
Noiva Cadáver – Não! Você casou comigo! Ela é a outra! (chora)
Velho Gutknecht – Ela tem razão.
Noiva Cadáver – E eu pensei que tudo estava indo tão bem.
Víctor – Olha, eu sinto muito, mas... Isso não pode dar certo.
Noiva Cadáver – Por que não?
Víctor – Olhe, se fosse em outras circunstâncias, quem sabe? Mas
somos diferentes demais. Você está morta.
Noiva Cadáver – Você devia ter pensado nisso antes de me pedir em
casamento.
Víctor – Tente entender. Eu nunca me casaria com você. Foi um en-

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A Noiva Cadáver

gano. (sai)
Noiva Cadáver – (despetalando um buquê) As rosas são amor eter-
no. Os lírios, a doçura. Cravo de amor. Chuva de prata. Talvez ele
tenha razão. Talvez sejamos diferentes demais. Talvez ele deva ficar
com ela. A senhorita “vivinha”... Com suas bochechas rosadas e seu
coração pulsante. (canta)

(casa de Victória)
Victória – Víctor está casado com uma mulher morta. É verdade,
mãe. Eu a vi. Um cadáver. Estava bem aqui com ele.
Mãe de Victória – Víctor? Ele esteve no seu quarto?
Victória – Eu tenho que ajudá-lo.
Mãe de Victória – Um escândalo! Você precisa de uma camisa de
força. Está completamente louca. (sai. Barulho de chuva. Victória vai
até a igreja)
Pastor – Quem poderá ser a essa hora? Senhorita Victória? O que faz
aqui? Devia estar em sua casa sofrendo com sua dor.
Victória – Pastor, preciso lhe perguntar uma coisa.
Pastor – Isso é muito estranho. (ameaça sair)
Victória – Por favor, eu lhe imploro. O senhor é o único aqui que sabe
o que nos espera além do túmulo.
Pastor – Um assunto fúnebre para uma noiva.
Victória – É uma noiva que eu temo. Por isso, preciso saber. Os vivos
podem se casar com os mortos?
Pastor – Mas do que é que você está falando?

36
A Noiva Cadáver

Victória – Por favor, é o Víctor. Ele se casou com um cadáver. Ele tem
uma noiva cadáver! Deve haver algum jeito de desfazer o que foi feito.
Pastor – Eu creio que sei o que devo fazer. Venha comigo. (corte de luz)

(na casa de Victória)


Mãe de Victória – Victória? Onde está seu espartilho?
Pastor – Ela está falando tolices sobre uniões entre vivos e mortos.
Acho que sua mente está perturbada.
Victória – Não é verdade! Solte-me!
Mãe de Victória – Obrigada, Pastor. Muito obrigada. Vá para o seu
quarto. (Pastor sai)
Victória – Estou dizendo a verdade. Víctor precisa da minha ajuda!
Mamãe, papai, por favor!
Mãe de Victória – Chave na porta e barras nas janelas. Você não vai
sair de novo. Será que esse suplício não tem fim? Levará anos para
que possamos aparecer em público outra vez. O que faremos?
Pai de Victória – Continuaremos de acordo com o planejado. Com
ou sem Víctor.
Lord Barkis – Esse rapaz ter rejeitado uma jovem como Victó-
ria... É mesmo imperdoável. Ah, se eu tivesse uma mulher como
sua filha nos meus braços... Eu a cobriria de riquezas dignas de
uma rainha.
Mãe de Victória – A sua esposa é uma mulher de muita sorte.
Lord Barkis – Pobre de mim! Não sou casado. Fui noivo alguns anos
atrás, mas... uma tragédia levou embora minha pobre noiva. Quando

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A Noiva Cadáver

se vive sozinho, o dinheiro não serve para nada. (Lord Barkis sai. O
casal tem uma ideia)
(no quarto de Victória)
Pai de Victória – Ótimas notícias, Victória. Vai haver um casamento,
afinal.
Victória – Vocês o acharam?
Mãe de Victória – Apresse–se querida. Nossos parentes chegarão a
qualquer momento. Você precisa ficar apresentável para Lord Barkis.
Victória – Lord Barkis?
Mãe de Victória – Ele será um ótimo marido.
Pai de Victória – Sim, foi uma feliz mudança nos acontecimentos.
Mãe de Victória – Uma perspectiva melhor desta vez.
Victória – Mas eu não o amo. Não podem me obrigar a fazer isso.
Pai de Victória – Precisamos.
Victória – Por favor, eu imploro! Deve haver outra saída.
Pai de Victória – Se não se casar com Lord Barkis, nós vamos parar
na rua sem um tostão. Estamos arruinados.
Victória – Mas e Víctor?
Mãe de Victória – Víctor foi embora, filha.
Pai de Victória – Irá se casar com Lord Barkis amanhã.
Pai e Mãe de Victória – De acordo com o plano! (um para o outro.
Saem. Corte de luz)
Lord Barkis – (conversando com o retrato de Victória) Ah, minha
querida. Não olhe para mim desse jeito. Só irá sofrer com essa união

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A Noiva Cadáver

até que a morte nos separe. E isso acontecerá antes do que você ima-
gina. (corte de luz)
(no plano dos mortos)
Víctor – (com um buquê nas mãos) Acho que deixou isso cair. Sinto muito se
menti para você sobre querer ver os meus pais. É que o dia de hoje não saiu
muito bem... De acordo com o plano. (chega o cocheiro dos pais de Víctor)
Víctor – Mayhew! Que bom ver você! O que aconteceu?
Mayhew – Morri num acidente de carruagem!
Víctor – Eu sinto muito.
Mayhew – Tudo bem. Na verdade, eu me sinto ótimo.
Víctor – Mayhew, tenho que voltar. Todo mundo deve estar preocu-
pado. Como estão todos?
Mayhew – Bem, ainda estão se perguntando para onde você foi. E
a Srta. Victória...
Víctor – Como é que ela está?
Mayhew – Ela vai se casar, hoje à noite.
Víctor – O quê? Vai se casar com quem?
Mayhew – Com um recém-chegado. Um tal lorde sei-lá-o-quê.
Víctor – Mas isso é impossível!
Mayhew – É, e como você foi embora. Acho que não queriam
desperdiçar o bolo de casamento.
Víctor – Como ela pôde fazer isso?
Caveira 2 – (bebendo) Mulheres. Não se pode viver com elas... Não
se pode viver sem elas...

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A Noiva Cadáver

Caveira 3 – É hora de recolher os pedaços e seguir em frente, eu


acho. (Víctor sai)
Noiva Cadáver – Víctor, onde você vai. (corte de luz)

(casa de Victória que está vestida de noiva)


Victória – (à parte) Ontem achei que meu casamento seria feliz. Ago-
ra sinto que fui apanhada por uma onda e arrastada para o mar.
Lord Barkis – Com esta vela, iluminarei seu caminho na escuridão.
Com esta aliança, peço a você que seja minha.
Pastor – Eu vos declaro marido e mulher. (corte de luz)

(no plano dos mortos)


Víctor – (no escuro) Tarde demais.
Noiva Cadáver – O que vou fazer? Ele foi embora sem dizer uma
palavra. Vocês homens são todos assim?
Caveira 1 – Bem, acho que nenhum de nós é muito inteligente.
Caveira 2 – Quando colocamos uma coisa na cabeça, é difícil nos
fazer mudar de ideia.
Velho Gutknecht – Minha querida, precisamos conversar.
Noiva Cadáver – Sobre o quê?
Velho Gutknecht – Há uma complicação no seu casamento.
Noiva Cadáver – Não estou entendendo.
Velho Gutknecht – Seus votos só valem até que a morte os separe.
Victória – O que está dizendo?
Velho Gutknecht – Que a morte já saparou vocês.

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A Noiva Cadáver

Victória – Se ele descobrir, irá embora. Deve haver algo que possa fazer.
Velho Gutknecht – Bom, existe um jeito. Mas exigirá um imenso sacrifício.
Victória – E qual é? (Víctor ouve escondido)
Caveira 3 – Por favor, deixe-me contar para ela. Temos que matá-lo!
Victória – O quê?
Velho Gutknecht – Víctor teria que abrir mão da vida que ele tem
para sempre. Teria que repetir seus votos no mundo dos Vivos e beber
do vinho dos tempos.
Victória – Veneno?
Velho Gutknecht – Isso faria com que seu coração parasse para sem-
pre. E só então ele estaria livre para dá-lo a você.
Victória – Eu nunca pediria isso a ele.
Víctor – Não precisa pedir. Eu farei isso.
Velho Gutknecht – Meu filho, se escolher este caminho, jamais po-
derá voltar para o mundo lá de cima. Você entende?
Víctor – Eu entendo. Aproximem-se. Decidimos fazer isso como deve
ser feito. Então peguem o que puderem e venham conosco. Vamos
levar essa festa de casamento lá para cima.
Caveira 1 – Lá em cima? Eu não sabia que existia um “lá em cima”!
Caveira 2 – Parece assustador! (música e coreografia)

(no plano dos vivos)


Lord Barkis – Façam silêncio agora, todos vocês. Obrigado. Elegante,
culto, radiante. Victória encontrou um marido com todas essas quali-
dades e outras mais. O acaso acabou nos unindo e nenhuma força na
terra poderá nos separar. (trovões, raios e mudança de luz. Entram os
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A Noiva Cadáver

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A Noiva Cadáver

mortos. Histeria total)


Mãe de Victória – Finis, quem convidou essas pessoas? Elas devem
ser do lado da sua família.
Pai de Victória – É claro que não. Se meu pai Everglot visse isso, es-
taria se revirando no túmulo.
Caveira 3 – Finis, onde você guarda as bebidas? (Pai e Mãe de Victó-
ria gritam e saem correndo)
Lord Barkis – Vamos pegar todo o dinheiro que pudermos e vamos
embora!
Victória – Dinheiro? Que dinheiro?
Lord Barkis – Seu dote! Eu tenho direito!
Victória – Mas meus pais não têm dinheiro nenhum. É meu casa-
mento com você que vai salvá-los da pobreza.
Lord Barkis – Da pobreza? Está mentindo! Não é verdade! Diga que
está mentindo!
Victória – As coisas não saíram de acordo com o seu plano, Lord
Barkis? Ora, talvez em decepções nós sejamos um casal perfeito. (cor-
te de luz)

(casamento de Víctor com a Noiva Cadáver)


Velho Gutknecht – Caros presentes e os que já partiram. Estamos
reunidos aqui para unir esse homem e esse cadáver em casamento.
(Victória aparece e observa) Agora os votos.
Victória – Víctor! (para si)
Velho Gutknecht – O vivo primeiro.

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A Noiva Cadáver

Víctor – Com esta mão, espantarei suas tristezas. Sua taça nunca fi-
cará vazia, pois eu serei o seu vinho.
Velho Gutknecht – Agora você.
Noiva Cadáver – Com esta mão, espantarei suas tristezas. Sua taça
nunca ficará vazia, pois eu serei... (colocando vinho envenenado na
taça e avistando Victória) Eu serei...
Velho Gutknecht – Continue minha cara.
Noiva Cadáver – Sua taça nunca ficará vazia... Pois eu serei...
Víctor – Eu serei o seu vinho. (quando Víctor vai beber do vinho, a
Noiva cadáver o impede)
Caveira 1 – Ela está em dúvida.
Caveira 2 – O que está acontecendo?
Noiva Cadáver – Eu não posso.
Víctor – Por que não?
Noiva Cadáver – Isso está errado. Eu era noiva. Meus sonhos foram
roubados de mim. E agora eu roubei o sonho de outra pessoa. Eu
amo você, Víctor. Mas você não é meu. (chama Victória)
Víctor – Victória!
Todos – Ohhh!!!
Lord Barkis – Tão emocionante! Eu sempre choro em casamentos.
Nossos jovens amantes juntos, finalmente. Com certeza, agora vão
viver felizes para sempre. (para Víctor e puxando Victória) Mas você
esqueceu que ela ainda é minha mulher. E não vou sair daqui de mãos
abanando.

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A Noiva Cadáver

Noiva Cadáver – (reconhecendo o Lord) Você?


Lord Barkis – Émily?
Noiva Cadáver – Você!
Lord Barkis – Mas eu deixei você...
Noiva Cadáver – Morta!
Lord Barkis – Essa mulher está tendo alucinações. Lamento ter que
interromper, mas precisamos ir embora. (sacando a espada)
Víctor – Tire as suas mãos dela.
Lord Barkis – Vou ter que matá-lo também?
Mayhew – (pegando outra espada) Víctor! Pegue! (travam uma luta.
Víctor fica desarmado e, quando Lord Barkis vai matá-lo, Émily fica na
frente recebendo o golpe)
Lord Barkis – Touché, minha cara.
Noiva Cadáver – Vá embora!
Lord Barkis – Já estou indo. Mas antes um brinde a Émily. Sempre
a dama de honra, nunca a noiva. Diga-me, minha cara... o coração
ainda se desilude depois que para de bater? (faz um brinde e bebe o
veneno. Tomba. Mudança de luz)
Caveira 3 – Ele agora é um dos nossos. (os mortos avançam em dire-
ção ao Lord Barkis e levam-no para fora de cena)
Victória – Ah, Víctor. Achei que nunca mais veria você. (a Noiva Ca-
dáver vai saindo)
Víctor – Espere! Eu fiz uma promessa.
Noiva Cadáver – Você manteve sua promessa. Você me libertou.

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A Noiva Cadáver

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A Noiva Cadáver

(entrega-lhe a aliança) Agora posso fazer o mesmo por você. (vai sain-
do e joga o buquê para trás. Música crescente. Em um efeito com luz
negra a Noiva Cadáver vai se transformando em borboletas)
Victória – Com essa mão espantarei suas tristezas.
Víctor – Sua taça nunca ficará vazia, pois eu serei o seu vinho. Com
esta aliança, peço que seja minha. (dançam. Corte de luz)

(coreografia de agradecimento)

Fim

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A Noiva Cadáver

A Noiva Cadáver 2011


Teatro Arena Aldeota

A montagem do espetáculo foi uma parceria entre a Comédia


Cearense e a Nativa Promo.

Elenco:
Noiva Cadáver Scarlett Abdon
Víctor Lúcio Leonn
Natali Lima / Larissa Góis
Victória
Mãe de Víctor Hiramisa Serra
Mãe de Victória Ivanilde Rodrigues
Pai de Víctor Odair Prado
Pai de Victória Paulo César Cândido
Lord Barkis Hiroldo Serra
Velho Gutknecht Luiz Carlos Pedrosa
Pastor Magno Freitas
Gabriel Gomes
Caveirinha
Caveira/Mayhew Ítalo Tomaz
Caveira Cantor Felipe Araújo
Caveira Niiw Teixeira
Corpo de Baile Larissa Góes, Letícia Gois, Fernanda Santiago,

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A Noiva Cadáver

Amanda do Vale

Ficha Técnica
Adaptação livre e direção Hiroldo Serra
Figurinos Hiramisa Serra
Cenários J. Amora
Maquiagem Haroldo Jr.
Caracterização em látex Cláudio Magalhães
Fotos Magno Freitas / Luana Clara
Adereços Carri Costa
Cenotécnico João Tenório
Confecção de figurinos Sula/Marina
Pintura em tecido Daniele Valente
Op. de luz Nito Bates
Contra regra Afonso Sampaio
Pianista Gabriel Gomes

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A Noiva Cadáver

Cenário

Toda peça acontece em determinado lugar, no tempo e no espa-


ço. Para dar essa idéia para a platéia, são necessários os cenários, um
faz de conta que trará o espectador para a época e lugar da história.
O cenógrafo cria o espaço artificial fazendo com que ele seja o mais
natural possível. Antigamente o cenário se limitava a um pedaço de
pano pintado, que traduzia uma sala, um jardim, uma rua. Mais tar-
de, o teatro se tornou mais sofisticado, e alguns móveis foram coloca-
dos em cena, e em vez de um simples pano, os cenógrafos passaram
a usar madeira para criar espaços, fazendo com que tudo parecesse
mais real. Veja como ficou a concepção do cenógrafo J. Amora para
o espetáculo A Noiva Cadáver.

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A Noiva Cadáver

Cenários J. Amora

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A Noiva Cadáver

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A Noiva Cadáver

Maquiagem

Recurso de linguagem cênica que consiste na criação de uma


máscara através de pintura colocada no rosto do ator. Duas são as
funções básicas da maquiagem: projetar a expressão fisionômica do
ator e caracterizar o personagem. Um texto pode pedir que o ator
envelheça vinte ou mais anos durante o espetáculo. A maquiagem
será fundamental para isso. E é interessante notar que no teatro qua-
se nada é feito para ser visto de muito perto. Um ator deve ser visto
a distância. Assim, se julgarmos o trabalho do maquiador a curta dis-
tância, poderá nos parecer rudimentar e malfeito, mas tudo fica ajus-
tado e perfeito quando visto da primeira fila das poltronas para trás.
Aprecie a maquiagem criada por Haroldo Serra Jr. para o espetáculo
A Noiva Cadáver.

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A Noiva Cadáver

Maquiagem: Haroldo Serra Jr.

Lúcio Leonn, Scarlet Abdon

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A Noiva Cadáver

Natali Lima, Lúcio Leonn, Scarlet Abdon

Lúcio Leonn, Scarlet Abdon, Luiz Carlos Pedrosa

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A Noiva Cadáver

O látex
Os cremes e tintas de maquiagem são um excelente meio para se
criar diversos efeitos de maquiagem. No entanto, com elas é possível
criar efeitos apenas em duas dimensões. O realce e o sombreado (ou
luz e sombra) fornecem apenas a ilusão ou idéia que é tridimensional.
Mas outros efeitos para serem passíveis de crédito pelo expectador
precisam ser realmente tridimensionais. Existem diversos materiais
usados para se criar efeitos tridimensionais de maquiagem, o látex é
o mais comum.
O látex é uma borracha líquida usada como maquiagem e como
adesivo. Quando usá-lo como adesivo, primeiro teste numa pequena
área do antebraço do ator para observar se ele tem alergia. Ao passar
perto dos olhos, mantenha-os fechados até a secagem. E não utilize
em regiões com pêlos. Para usá-lo, aplique na prótese que você vai
colar e na área do corpo em que deseja aplicar. Para isso, é preciso fa-
zer uma cópia do rosto do ator (ou réplica positiva) ou de outra parte
do corpo feita de um material permanente como o gesso. Em cima do
positivo, a maquiagem pode ser esculpida em argila de modelar cha-
mada de plastilina e um negativo é feito a partir destas características
esculpidas. Então através de vários métodos, uma cópia da escultura
é feita, chamada de aplique ou prótese, num material flexível que é
grudado no ator para criar um personagem.

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A Noiva Cadáver

Caracterização em látex: Cláudio Magalhães

Odair Prado, Hiramisa Serra, Ivanilde Rodrigues, Paulo César Cândido

Hiroldo Serra, Hiramisa Serra

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A Noiva Cadáver

Gabriel Gomes (pianista)

Hiramisa Serra e Patrícia Pilar

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PETER PAN
PETER PAN
Adaptação Livre: Hiroldo Serra e Walden Luiz

Personagens:
João
Miguel
Wendy
George – Pai de Wendy
Caolho
Marina – Mãe de Wendy
Sereia
Peter Pan
Náná – Cachorra babá dos meninos
Crocodilo
Gancho
Barrica
Bicudo
Calado
Pequeno
Princesa Olhos de Lince
Corpo de baile
Peter Pan

(João e Miguel lutam de espadas (madeira) em cima das camas e


usam um cabide como se fosse o gancho)
João – É o seu fim, Peter Pan!
Miguel – Tome isso! Desiste, Capitão Gancho? Desiste?
João – Nunca! Vai me pagar por cortar minha mão!
Wendy – Ah, não, João. Era a mão esquerda!
João – Ah, sim. Obrigado, Wendy. Garoto insolente! Tome um golpe
de espada!

(entra em cena Naná e traz três colheres de mel para os meninos)


Wendy – Ah, Naná, temos mesmo que tomar esse remédio? (tomam
o remédio)
Miguel – Vou picá-lo em pedacinhos!
João – Cuidado, Miguel, meus óculos.
Miguel – Desculpe, João.
João – Nunca sairá vivo deste navio.
Miguel – Sairei, sim! Tome isto!
João – Seu covarde, vou cortar sua goela!
Miguel – Ah, não vai, não!

(Naná arruma as camas dos meninos e apanha alguns brinquedos que


estão pelo chão)
João – Para trás, seu vilão!
Miguel – Seu cão insolente! Pirata malvado!

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Peter Pan

João – Ah, te peguei.


Miguel – Pegou nada. Nem tocou em mim.
João – Tome isto e isto! E isto!
George – Meninos, menos barulho, por favor.
João – Ah, oi, papai.
Miguel – Seu ratão!
George – Co... Como? Veja bem, Miguel...
João – Ah, você não, papai. Ele é o Peter Pan.
Miguel – E João é o Capitão Gancho.
George – Sim, sim, claro. Por acaso viram minhas abotoaduras... (tro-
peça em Naná)
Oh, Naná, francamente! Onde estão as abotoaduras?
Miguel – Abotoaduras, papai?
George – Sim, as de ouro.
João – Miguel, o tesouro enterrado. Onde está?
Miguel – Eu não sei.
João – Então pegue o mapa. Cadê o mapa do tesouro?
Miguel – Está perdido.
George – Céus, minha gravata! NÃOOO!(a gravata está pintada com
o mapa do tesouro)
Miguel – Oba! Encontrou!
Marina – George, querido, devemos nos apressar, senão...

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Peter Pan

George – Marina, olhe!


Marina – George!
Miguel – É só giz, papai.
Marina – Miguel!
João – A culpa não é dele. Faz parte da história. E Wendy diz que...
George – Wendy? História? Eu deveria saber. Wendy! Wendy! (gritando)
Wendy – Sim, papai?
George – Pode por favor explicar...
Wendy – Ah, mãe! Está linda!
Marina – Obrigada, querida.
George – Wendy!
Marina – É só o meu velho vestido, reformado. Mas ficou muito bom...
George – Marina, se você não se importa.
Wendy – Nossa, pai, o que fez com a sua gravata?
George – O que fiz...? Ah? (gritando)
Marina – Ora, George, francamente. Sai fácil.
George – Isso não é desculpa. Wendy, já não te avisei? Enchendo a
cabeça dos meninos com essas histórias bobas.
Wendy – Ah, mas não são!
George – Eu digo que são! Capitão Pan! Peter Pirata!
Wendy – Peter Pan, papai.
George – Pan! Pirata! Baboseiras!

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Peter Pan

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Peter Pan

Miguel – Não, papai.


João – Não entende!
George – Uma baboseira total! E ainda digo mais...
Marina – Ora, George. (arrumando sua gravata)
George – Bem, “Ora, George”, agora quem vai mandar sou eu!
Maria – Por favor, querido.
George – Marina, a garota está crescida. Por isso ela já tem o próprio
quarto agora. Falo sério. Jovenzinha, esta será sua última noite com
os meninos. E é a última vez que tocarei no assunto... (vai saindo e
escorrega caindo por cima da Naná) NÃOOOOOO!
Marina, Miguel, João, Wendy – Oh! Pobre Naná.
George – “Pobre Naná?” Essa foi a última gota! Fora! Fora, estou
mandando!
Miguel – Não, papai, não!
George – Sim! Não teremos mais cachorro servindo de babá nessa
casa! (sai levando Naná)
Miguel – Adeus, Naná. (a luz do quarto escurece)
George – “Pobre Naná”. Ah, sim, “pobre Naná”. Mas “pobre pa-
pai?” Não! Droga! Onde está aquela corda? (Naná entrega a corda)
Ah, obrigado. Pare com isso, Naná, não olhe para mim assim. Não é
nada pessoal. (colocando comida numa vasilha) É só que... Bem, você
não é uma babá. Você é... bem, um cachorro. E as crianças não são
filhotes. São gente. E mais cedo ou mais tarde, Naná, as pessoas pre-
cisam crescer. (voltando a luz do quarto)

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Peter Pan

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Peter Pan

Wendy – Mas, mãe, eu não quero crescer!


Marina – Ora, querida, não se preocupe mais com isso hoje. (colo-
cando os meninos para dormir)
João – Ele chamou o Peter Pan de “baboseira absoluta”.
Marina – Tenho certeza de que não quis dizer isso, João. Seu pai só
está zangado.
Miguel – Pobre Naná... Lá fora sozinha.
Maria – Chega de lágrimas, Miguel. É uma noite quente. Ela estará bem.
Miguel – Mãe.
Marina – O que é querido?
Miguel – Tesouro enterrado. (mostra as abotoaduras)
Maria – Ouçam, crianças. Não levem seu pai a mal. Afinal, ele ama
muito vocês. (fechando a janela)
Wendy – Ah, não tranque, mãe. Ele pode voltar!
Marina – “Ele”?
Wendy – Sim, Peter Pan. Pois achei algo que pertence a ele.
Marina – É mesmo? E o que seria?
Wendy – Sua sombra.
Marina – “Sombra”?
Wendy – Estava com a Naná. Mas... Eu a peguei.
Marina – Ah? Sim, claro. Boa noite, querida. (sai do quarto e apaga a luz)
Mas, George, acha que as crianças estarão seguras sem a Naná?
George – Seguras? Claro que sim. Por que não estariam?

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Peter Pan

Marina – Bem, Wendy disse algo sobre uma sombra, e eu...


George – Sombra? Sombra de quem?
Marina – Do Peter Pan.
George – Ah, Peter Pan… Peter Pan! (assustando–se) Não me diga.
Minha nossa, o que iremos fazer?
Marina – Mas, George...
George – Acione o alarme! Chame a polícia!
Marina – Deve ter havido alguém...
George – Ah, Marina, de todas as criancices e coisas impossíveis...
Peter Pan, ora. Como podemos esperar que elas cresçam e sejam prá-
ticas quando você é pior do que eles. Dá para ver de onde Wendy tira
essas ideias tolas. (vão saindo)
(uma luizinha (Sininho) percorre o quarto dos meninos acompanhada
de um efeito sonoro e depois entra dentro de um abajur que se acende)
Peter Pan – Deve estar aqui, em algum lugar. (procura sua sombra
pelo quarto, dentro de um baú, na penteadeira) Sombra! Oh, som-
bra! (chamando)
Wendy – Peter Pan. Ah, Peter. Sabia que voltaria. Guardei sua som-
bra para você. Ah, espero que não esteja amassada. Sabia que era a
sua sombra, assim que a vi. Você é exatamente como eu imaginava.
Um pouco mais alto, talvez...
Peter Pan – Garotas falam demais!
Wendy – Ah, sim garotas falam!
Peter Pan – Bem, continue garota.

73
Peter Pan

Wendy – Meu nome é Wendy. Ah, mas como a Naná pegou a sua
sombra, Peter?
Peter Pan – Pulou em cima de mim numa noite, na janela.
Wendy – E o que você fazia lá?
Peter Pan – Venho sempre ouvir suas histórias.
Wendy – Minhas histórias. Mas são todas sobre você.
Peter Pan – Claro. É por isso que gosto. Eu as conto para os meninos
perdidos.
Wendy – Os meninos perdidos... Ah, lembrei. É a sua tropa. Fico tão
feliz que tenha vindo essa noite. Ou eu nunca mais o veria.
Peter Pan – Por quê?
Wendy – Porque tenho que crescer amanhã.
Peter Pan – Crescer?
Wendy – Essa foi minha última noite neste quarto.
Peter Pan – Mas isso quer dizer que não teremos mais histórias. Não!
Não aceitarei. Vamos.
Wendy – Mas... Onde vamos?
Peter Pan – Para a Terra do Nunca.
Wendy – Terra do Nunca!
Peter Pan – Lá você nunca crescerá.
Wendy – Ah, Peter, será tão maravilhoso! Mas espere. O que diria
Mamãe? Vamos acordar os meninos!
Peter Pan – Mamãe? Que mamãe?

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Peter Pan

Wendy – Ora, Peter, uma mãe é alguém que te ama e que cuida de
você, e te conta histórias.
Peter Pan – Ótimo. Você pode ser nossa mãe. Vamos!
Wendy – Ora, espere só um minuto... Vejamos. Preciso fazer as malas. E
devo deixar um bilhete dizendo quando voltarei. Não posso ficar muito
tempo. E depois terei que... Ah, a Terra do Nunca! Ah, eu... Estou tão
feliz que... Acho que vou te dar... Um beijo. (a luninária onde está Sini-
nho pisca várias vezes acompanhada do som característico da Sininho)
Peter Pan – O que é... Um beijo?
Wendy – Ora, eu te mostro. (muito barulho de Sininho e um peque-
no corte de luz)
Peter Pan – Pare! Pare já com isso, Sininho!
Miguel – João, João, acorde! Ele está aqui.
João – Puxa vida!
Miguel – Olá, Peter Pan. Eu sou o Miguel.
João – E meu nome é João. Como você vai?
Peter Pan – Muito bem. Wendy, vamos.
Miguel – Aonde estamos indo?
Wendy – Para a Terra do Nunca.
Miguel – Terra do Nunca?
João – Está aí uma Terra que não sabia que existia. Os livros de Geo-
grafia não falam dela.
Peter Pan – É uma ilha linda coberta por nuvens. É por isso que os
aviões não sabem a existência dela. Lá tem piratas terríveis, tem flores-

75
Peter Pan

ta, tem uma tribo de índios Pele Vermelha e tem também as sereias.
João – Sereias? Com escamas, rabo de peixe e tudo?
Peter Pan – Com cauda, escamas e tudo. Sereias iguaizinhas a essas
que aparecem pintadas nos livros de histórias.
João – Eu nunca vi uma sereia de verdade.
Peter Pan – Eu costumo vir aqui, para escutar do lado de fora da ja-
nela as lindas histórias que você conta.
Wendy – E você vem sempre?
Peter Pan – Tantas vezes vim que sou capaz de repetir uma por uma
todas as histórias que vocês já ouviram.
Wendy – Engraçado, eu nunca vi você na janela.
Peter Pan – Outro dia você estava contando uma história tão bonita.
Wendy – Qual?
Peter Pan – Aquela do príncipe que não encontrou a moça que usava
sapatinhos de cristal.
Miguel – É a história da Cinderela.
Wendy – E ele acabou achando a moça, se casaram e foram felizes
para sempre.

(O relógio bate meia–noite)


Peter Pan – Já é tarde. Os meninos perdidos já devem estar preocu-
pados com a minha demora. Eles ficaram me esperando para ouvir o
final da história. Eu venho aqui, ouço as histórias ali da janela e depois
conto para eles direitinho.

76
Peter Pan

Wendy – Eu sei mais de cem histórias, cada qual mais bonita, se você
ficar, eu contarei todas elas.
Peter Pan – Mais de cem? Você é um verdadeiro livro de histórias.
Mas o melhor seria você vir comigo para a Terra do Nunca.
Wendy – Não posso, Peter Pan. Mamãe não consentiria nunca.
Peter Pan – Você poderá contar todas essas histórias para os meni-
nos perdidos. Poderá ainda remendar as roupas deles, pregar botões
e de noite botar os meninos para dormir como uma verdadeira mãe.
Venha comigo, Wendy.
João – Como eu gostaria de visitar uma Terra com índios, feras, pira-
tas e sereias.
Miguel – Vamos, Wendy. Eu quero ver as sereias.
Wendy – Não podemos. A Terra do Nunca é muito longe daqui.
João – Eu adoraria cruzar espadas com piratas de verdade.
Peter Pan – Muito bem, mas terão que obedecer a ordens.
Miguel e João – Sim, senhor!
Wendy – Mas Peter como iremos à Terra do Nunca?
Peter Pan – Voando, claro.
Wendy – Voando?
Peter Pan – É fácil. Tudo que tem a fazer é pensar em alguma coisa boa.
Wendy, Miguel e João – Qualquer coisa boa?
Wendy – Lembre o natal a chegar!
João – Pense em nuvens a passar!

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Peter Pan

78
Peter Pan

Wendy – Vou pensar numa lagoa de sereias. Em noite de lua cheia...


Miguel – E eu numa caverna de piratas.
João – Acho que serei um índio guerreiro.
Peter Pan – Vamos todos juntos.
Todos – Um, dois, três...
Peter Pan – Assim não dá. O que há com vocês? Basta ter fé e con-
fiar. E uma coisa eu esqueci. O pó!
Todos – Pó?
Peter Pan – Só um pouco de pó mágico. Agora pensem nas coi-
sas boas. É como ter asas. (joga o pó sobre os meninos que não
conseguem voar) Vamos todos tentar outra vez. Vamos lá, pessoal.
Aqui vamos nós! (música. João pega a cartola e um guarda chuva
e Miguel pega um ursinho de pelúcia. Corte de luz e efeito dos
atores voando)

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Peter Pan

(Música dos Piratas)


Piratas, que vida feliz
Eles têm
Não dão suspiros nem ais
Enfrentaram a morte
Sorrindo, zombando
Da vida que é curta demais
Oh! Da vida que é curta demais
Pirata eu sou e sempre serei
Pois esta é a vida
Que sempre sonhei
Na terra quantos piratas não há
Pois quando a morte chegar
Vão todos bem livres, felizes brincar
Com os peixinhos no fundo do mar.
Oh! Peixinho no fundo do mar  
Gancho – Com seiscentos milhões de demônios, já vasculhamos a
ilha toda e não encontramos o esconderijo do maldito Peter Pan!
Se eu encontrasse o seu esconderijo, eu o mataria. Mas, onde é?
No lago das sereias? Não, não dá. Na gruta dos canibais? Também
não. No pico tenebroso? Não pode ser. Na taba dos índios? Não,
não, não.
Barrica – Mas os índios são amigos do Peter Pan, eles nunca revelariam
o seu esconderijo.
Gancho – Tem razão! Descobri!!! A Pantera Olhos de Lince. A prin-
cesa filha do chefe!
Barrica – Mas, mas, ela nos contará, Capitão?

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Peter Pan

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Peter Pan

Gancho – Será obrigada. Eu arrancarei o segredo de Peter Pan com


o meu gancho.
Caolho – Talvez possamos convencê-la!
Gancho – Podemos mandá-la andar sobre a prancha, enforcá-la,
afogá-la. Sabendo onde fica o esconderijo de Peter Pan, podemos
surpreendê-lo quando estiver dormindo.
Barrica – Matar um homem enquanto ele está dormindo, não é correto,
capitão!
Gancho – Correto? Maldição! Peter foi correto quando me cortou a
mão?
Barrica – Cortou a sua mão, mas não fez isso por mal. Foi sem querer,
por acaso! Numa luta.
Gancho – Mas, ao atirá-la ao crocodilo, aquele maldito gostou tanto
da mão que até hoje me segue a procura de comer o resto!
Caolho – E já teria comido, Capitão, se não tivesse engolido tam-
bém um despertador. Mas, quando ele está por perto, dá o alarme
fazendo o tic–tac, tic–tac, tic–tac.

82
Peter Pan

83
Peter Pan

Música
Tic–tac, tic–tac
Bate as horas sem parar
Tic–tac, tic–tac
Tá na hora do jantar
Tic–tac, tic–tac
Isto é uma maldição
tic–tac, tic–tac
Bate o meu coração
Tic–tac, tic–tac
O Crocodilo me apavora
tic–tac, tic–tac
Todo dia, toda hora
Tic–tac, tic–tac
Procura se aproximar
Tic–tac, tic–tac
Ele quer me devorar
Gancho – E pare este maldito tic–tac.
Barrica – Eu já parei, meu Capitão.
Gancho – Pare você também!
Caolho – Eu também já parei, Capitão.
Gancho – Então, só pode ser...
Barrica – Só pode ser?
Todos – O crocodilo! (saem correndo, entra o crocodilo andando len-
tamente atrás do bando de piratas)

84
Peter Pan

(música e coreografia dos meninos perdidos)


Pequeno – Qualquer dia eu pego este Capitão Gancho, pico em pe-
dacinhos e boto pro crocodilo comer.
Bicudo – Ah! Se Peter Pan estivesse aqui.
Calado – Garanto que aqueles três patetas não escapariam. (entra
Peter Pan)
Peter Pan – Alguém me chamou?
Pequeno – Que bom que você voltou.
Bicudo – Os piratas estiveram aqui.
Calado – Estavam procurando o nosso esconderijo.
Pequeno – Eles querem raptar a princesa Olhos de Lince.
Bicudo – O Capitão Gancho vai obrigar a princesa Olhos de Lince a
andar sobre a prancha.
Pequeno – Eles vão enforcá-la!
Bicudo – Os malvados vão afogá-la!
Peter Pan – Mas isso não pode ser! Precisamos salvar a pobre princesa
Olhos de Lince, custe o que custar. Os índios são nossos aliados e
nossos amigos.
Calado – Vamos logo pegar aqueles bandidos antes que eles consigam
capturar a princesa Olhos de Lince.
Peter Pan – Antes eu tenho uma grande novidade. Finalmente eu
trouxe uma mãe para todos vocês.
Todos – Viva!

85
Peter Pan

Pequeno – Eu sempre quis ter uma mãe.


Peter Pan – Pois agora eu vou apresentar a mãe de vocês. (puxan-
do Wendy para a cena) Meninos, esta é Wendy. E este é João, e
este é Miguel.
Bicudo – Nós somos seus filhos! Eu sou o Bicudo.
Calado – Eu sou o Calado!
Pequeno – E eu sou o Pequeno. Você quer ser nossa mãe?
Wendy – Querer eu quero, mas... Acontece que eu ainda sou uma
menina e não tenho muita prática...
Peter Pan – Não importa. Isto é um detalhe sem importância. Eles
nunca tiveram mãe e querem experimentar se é bom.
Bicudo – Então? Você aceita?
Wendy – Com muito gosto.
Todos – Viva!
Wendy – Serei a mãe de todos! Contarei histórias à noite, remendarei
as roupas de dia, agradarei aos que chorarem e brigarei quando
fizerem coisas erradas. Tudo igualzinho como mamãe faz lá em casa.
Pequeno (batendo palmas) – Que bom!
Bicudo – Que maravilha!
Calado – Para começar, conte uma linda estória para a gente.
Peter Pan – Então entrem todos que Wendy vai contar para vocês
uma linda história. (saem todos)
(entram os piratas Caolho e Barrica carregando a princesa Olhos de
Lince e cantando)

86
Peter Pan

87
Peter Pan

Olhos de Lince – Me soltem, seus bandidos covardes.


Caolho – Cale a boca, sua índia desaforada, se não a gente acaba
com você aqui mesmo.
Olhos de Lince – Vocês são uns covardes. Só me pegaram porque
foi à traição.
Barrica – E você acha que nós temos medo de mulher?
Caolho – Nós somos os piratas mais corajosos e mais terríveis dos
sete mares.
Barrica – Não temos medo de nada!
Olhos de Lince – E por que vocês não me soltam e me enfrentam
cara-a–cara? (Barrrica se assusta)
Barrica – Para você fugir? Está pensando que a gente é besta?
Olhos de Lince – Estou! Vocês são uns bestas, uns burros e uns
cavalos!
Caolho – Olha, você não insulta não. Se não a gente acaba com
você aqui mesmo!
Barrica – Não, Caolho! O Capitão falou que queria a princesa Olhos
de Lince com vida.
Caolho – Tem razão. Mas esta índia fala demais, eu já estou perdendo
a paciência.
Barrica – É só amarrar a boca dela com o lenço que ela vai ficar
caladinha. (amarra o lenço e a índia dá uma mordida na mão de
Barrica) Ai! A desgraçada me mordeu.
Caolho – Me dê isso aqui, seu desajeitado, não sabe fazer nada.

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Peter Pan

Barrica – Ela me mordeu. (chora)


Caolho – Uma mordidazinha de nada.
Barrica – É porque não foi na sua mão.
Caolho – Pode deixar que eu mesmo vou amarrar. (entra Peter Pan
com os meninos sem ser visto pelos piratas)
Peter Pan – Ali estão os piratas.
Miguel – Vamos agarrá-los. (avança e é puxado por Peter Pan. En-
quanto isso os dois tentam colocar a mordaça na índia que tenta
mordê-los)
Peter Pan – Não! Eles podem ferir a princesa Olhos de Lince.
João – Tem razão. Devemos agir com cautela.
Peter Pan – Tive uma ideia. Os piratas mesmo vão soltar a princesa
Olhos de Lince.
Pequeno – Eles nunca vão libertar a princesa!
Peter Pan – Podem deixar comigo. Eu vou imitar a voz do Capitão
Gancho. Eles não vão ter coragem de desobedecer a uma ordem do
Capitão. (voz do Capitão Gancho dublada por Peter Pan, que está
sendo visto pelo público, mas não pelos piratas)
Voz do Capitão – Com seiscentos bilhões de demônios, que é que
vocês estão fazendo, seus idiotas?
Caolho – Tentando amarrar a boca da índia, Capitão!
Barrica – É para ela parar de desafiar a gente, Capitão, mas está difícil.
Voz do Capitão – Bando de palermas! Soltem imediatamente esta índia.
Caolho – Mas, Capitão, a princesa Olhos de Lince é uma verdadeira fera.

89
Peter Pan

Barrica – Ela me mordeu, Capitão.


Voz do Capitão – Com dois mil e trezentos e setenta e cinco trilhões
de diabos. Cortem já as cordas e soltem essa índia.
Caolho – Mas, Capitão!
Voz do Capitão – Não tem mais nem menos! Você não escutou a
minha ordem? Ou quer que lhe abra os ouvidos com o meu gancho?
Caolho – Não, Capitão. Eu estou ouvindo muito bem.
Voz do Capitão – Pois então faça o que eu lhe mandei.
Caolho – Só não estou entendendo é mais nada.
Voz do Capitão – E desde quando você entende alguma coisa?
Solte a moça, ou precisa eu mesmo ir soltar?
Caolho – Sim, Capitão! Quer dizer, não, Capitão. (desamarram a ín-
dia) Pronto Capitão! (bate continência, a índia vai para onde está Pe-
ter Pan e os meninos)
Olhos de Lince – Você imita a voz do Capitão gancho direitinho.
(saem deixando apenas Barrica e Caolho. Entra o Capitão Gancho)
Gancho – E então?
Barrica – Seguimos as suas ordens, Capitão!
Gancho – E onde está a Princesa Olhos de Lince?
Caolho – Foi embora, meu Capitão.
Gancho – Embora?! Embora?!
Barrica – Nós soltamos a Princesa Olhos de Lince como o meu Capitão
mandou.

90
Peter Pan

Gancho – Maldição! Eu mandei prender a Princesa Olhos de Lince,


imbecil!
Caolho – Nós prendemos, Capitão. Mas depois o senhor mandou
soltar.
Gancho – Com seiscentos e sessenta cães dos infernos, seus
pamonhas. Eu não dei ordem nenhuma!
Barrica – Perdão, Capitão, mas nós ouvimos muito bem o senhor
mandar soltar a princesa Olhos de Lince.
Gancho – Não fui eu, idiotas!
Caolho – Mas era a sua voz, Capitão.
Gancho – Isso foi mais uma brincadeira daquele moleque do Peter
Pan! (pega uma madeira e bate em Barrica) Quando eu puser o meu
gancho naquele moleque, ele vai ver.
Barrica – Lá nele, Capitão!
Gancho – Vou dar tanta pancada (bate no Caolho) que nunca mais ele
vai querer imitar o Capitão Gancho (bate no Barrica). Ele vai aprender
a me respeitar (bate no Caolho. Os dois piratas saem correndo com
o Capitão Gancho dando pancadas hora num, hora no outro. Saem.
Entram Peter Pan, os meninos e a princesa Olhos de Lince)
João – Essa foi boa, Peter!
Miguel – O Capitão Gancho deu uma lição naqueles dois piratas.
Olhos de Lince – Obrigada, Peter Pan. Agora eu vou voltar para
a tribo. Os guerreiros do meu pai devem estar em pé de guerra por
causa do meu desaparecimento.
Peter Pan – Leve lembranças minhas para o chefe. (Olhos de Lince

91
Peter Pan

sai). Vamos conhecer as belezas da Terra do Nunca! (vêem uma sereia


em cima de uma pedra)
Wendy – Uma sereia. Que maravilha!
Peter Pan – Quer ser apresentada? Então vamos.
Sereia – Oh! Peter. Que bom você ter vindo. Por que demorou tanto?
Sentiu saudades? Conte uma de suas aventuras.
Peter Pan – Quando decepei a mão do Capitão Gancho e atirei-a ao
crocodilo?
Sereia – Ah, eu sempre gostei dessa!
Peter Pan – Bem, eu estava perdido na praia cercado por...
Wendy – Peter!
Sereia – Quem é ela?
Peter Pan – Ah, é a Wendy!
Sereia – Uma menina? O que ela faz aqui? E está de camisola! Ve-
nha, menina, nadar um pouco comigo.
Wendy – Não eu não posso. Não estou com roupas de banho.
Sereia – Venha. Venha. (puxando-a)
Wendy – Não, por favor, não. Peter! (Peter ri)
Peter Pan – Ela só estava brincando. Não estava?
Sereia – Claro! Eu só iria afogá-la.
Peter Pan – Tá vendo?
Wendy – Se você acha que estou vendo graça nessa brincadeira?
(música e coreografia das sereias)

92
Peter Pan

93
Peter Pan

Peter Pan – Psiu! É o Gancho! Vamos, Wendy. (saem. Entram os pi-


ratas e o Capitão Gancho)
Gancho – Com um bilhão e meio de demônios!
Barrica – Um bilhão e meio, Capitão?
Gancho – Não! Dois! Dois bilhões de demônios.
Barrica – Não é muito demônio não, Capitão?
Gancho – Não, imbecil! Eu estou cercado de incompetentes! Deixa-
ram a princesa Olhos de Lince escapar por entre os dedos.
Caolho – Não foi por entre os dedos não, Capitão. Foi pela floresta!
Gancho – Calado, idiota! Não vê que eu estou tentando raciocinar?
Caolho – Sim, Capitão!
Gancho – Meninos perdidos! Que dia mais desgraçado! É o fim... E
ainda por cima, o maldito Peter Pan arranjou uma mãe para os meni-
nos perdidos.
Caolho – Mãe? O que quer dizer mãe?
Barrica – Ele não sabe o que é mãe.
Gancho – Esse desgraçado nunca teve mãe. Barrica, explica pra ele o
que é mãe!
Barrica – Bem, mãe é mãe. Mãe é padecer num paraíso. É a coisa
mais sublime. Mãe é mãe!
Caolho – Fiquei na mesma.
Gancho – Oh, desmamado burro. Eu não gosto de falar de mãe que
me dá vontade de chorar (chora).

94
Peter Pan

Barrica – Eu também! (chora)


Caolho – Capitão, me diga o que é mãe que quero chorar também!
Gancho – Oh, filho desnaturado. Mãe é,... (chora) Mãe!
Caolho – Se os meninos agora têm mãe, talvez ela ande por aí con-
tando historinhas para o Peter Pan.
Barrica – (faz gesto de embalar criancinha nos braços) Com toda
certeza!
Gancho – É disso que eu tenho inveja. Eles agora têm mãe e nós não
temos.
Caolho – Capitão, a gente podia sequestrar a mãe desses meninos
para que ela fosse a mãe da gente.
Gancho – Silêncio! Que eu estou tendo uma ideia.
Barrica – Que ideia?
Barrica – Não sei. O Capitão ainda não disse... Mas só pode ser uma
bela ideia.
Gancho – Que tal se a gente raptasse a mãe dos meninos para ela ser
a mãezinha da gente?
Caolho – Que ideia genial, Capitão! Só mesmo o senhor poderia ter
uma ideia dessas!
Barrica – Eu não disse que era uma bela ideia. Que plano lindo!
Gancho – Que plano!?
Barrica – O plano que o senhor vai bolar!
Caolho – Vamos pegar os meninos e trazê-los para o navio.

95
Peter Pan

Gancho – Wendy virá procurá-los. Aí nós a pegamos para ela ser


nossa mãe!
Barrica – É muito triste a gente não ter mãe.
Gancho – Eu quero uma mamãe! (vai para a platéia) Mamãe! Me
empresta a sua mãe? A senhora que ser a minha mãe? Eu quero a
mamãe!... Ninguém quer ser a minha mãe! (Barrica vai sentar num
cogumelo. Antes de sentar é impedido por Caolho, que quando faz
menção de sentar é impedido por Gancho que senta e logo começa a
sair fumaça. O Capitão dá um grito e abana-se com o chapéu)
Gancho – Ai! Que brincadeira é esta?
Barrica – Não sei, Capitão!
Gancho – Este cogumelo está quente como uma chaminé.
Caolho – Achei, Capitão.
Gancho – Se achou, é meu, passe para cá!
Barrica – O que foi que você achou?
Caolho – Descobri!
Gancho – Descobriu o quê?
Caolho – Capitão, na verdade, não fui eu que descobri. Foi o senhor.
Barrica – O que foi que o Capitão Gancho descobriu?
Caolho – Capitão, o senhor já viu algum cogumelo quente e desse
tamanho?
Gancho – Não!
Caolho – Capitão, com que foi que o senhor achou o cogumelo
parecido?

96
Peter Pan

Gancho – Com uma chaminé.


Caolho – Pois então? O senhor descobriu o esconderijo de Peter Pan
e dos meninos perdidos!
Gancho – Descobri?
Barrica – Descobriu! Só o senhor mesmo poderia fazer uma descoberta
dessas!
Gancho – E onde é?
Caolho – Aqui!
Barrica – Aqui!
Caolho – Aqui, mesmo!
Gancho – Aqui, mesmo?
Caolho – Embaixo dos nossos pés! Veja como é tudo oco! (sapateia
com barrica fazendo muito barulho)
Gancho – E o cogumelo é a chaminé, por isso que estava quente.
Barrica – Agora é só cavar e pegar todos eles como se pega um tatu.
Caolho – Nada disso. Para que ter todo esse trabalho?
Gancho – É. Pra quê?
Caolho – É só esperá-los de um em um. (para Caolho) Mas como nós
vamos fazer esses ratos saírem da toca?
Barrica – É muito simples. É só colocar um bolo de chocolate com
remédio para dormir, bem aqui. Os meninos vão chegar e pensar que
foi a mãe deles que preparou o bolo de chocolate para eles meren-
darem. Aí, eles comem do bolo e logo estarão dormindo. Então é só
pegá-los e levá-los para o navio!

97
Peter Pan

Gancho – (para Barrica) Viu como é simples?


Barrica – Genial, Capitão!
Gancho – (para o Caolho) Agora vá buscar o bolo de chocolate!
Caolho – (para o Barrica) Agora vá buscar o bolo. (Barrica sai) E eu
vou buscar o remédio. (sai)
Gancho – E eu vou prender todos os meninos perdidos. Depois Wen-
dy vai ser nossa mãezinha. E por último eu darei um fim neste inso-
lente do Peter Pan. É felicidade demais num só dia. A princesa Olhos
de Lince me escapou, mas eu vou pegar todos os coelhos de uma só
tacada.
Barrica – O bolo, Capitão!
Gancho – Hum!... Esta com um cheirinho gostoso de chocolate.
Barrica – Capitão. O bolo é de chocolate.
Gancho – Eu sei, imbecil!
Caolho – Pronto, o remédio pra dormir Capitão! (entra com uma
bomba de borrifar) Agora é só espalhar em cima do bolo e esperar
para pegar aqueles pestinhas.
Barrica – Será que eles vão comer o bolo?
Gancho – Barrica, Barrica! Qual é a criança que resiste a um belo bolo
de chocolate? Até eu estou com a boca cheia d’água! (coloca veneno
no bolo)
Caolho – Agora vamos nos esconder. É só esperar. (entram João e
Miguel)
João – Olha, Miguel. Um bolo de chocolate.

98
Peter Pan

Miguel – Deve ter sido Wendy que fez para nós. (passa o dedo na
cobertura no bolo)
João – Não faça isso, Miguel. É falta de educação.
Miguel – O que é que tem? É só um pouquinho. (prova) Hum...
Está uma delícia!
João – É só um pouquinho. (Miguel boceja, João também. Se apóiam
um no outro e vão descendo até ficarem sentados no chão dormindo.
Entram os piratas e carregam João e Miguel para fora de cena. Entra
Wendy chamando e encontra o bolo)
Wendy – João, Miguel!... Que linda torta de chocolate! Parece com
as que a mamãe fazia para nós. Vai ver foram os meninos que fizeram
para mim. (passa o dedo na cobertura do bolo, prova e cai desmaia-
da. Entram os piratas para retirar Wendy de cena)
Gancho – Está dando certo!
Caolho – Eu disse que eles não resistiriam?
Barrica – Bolo de chocolate é a minha especialidade! (levam Wendy. En-
tram Pequeno, Bicudo e Calado. Olham para o bolo e correm para prová-lo)
Pequeno – Um bolo de chocolate!
Bicudo – Foi mamãe Wendy que preparou para a gente.
Calado – Coisa boa é a gente ter mãe!
Pequeno – Eu nunca tinha provado um bolo tão bom! (cai desmaiado)
Bicudo – Nem eu... (cai)
Calado – Nem, ah!... (rodopia, cambaleia e cai duro. Entram os Piratas)
Barrica – Vamos! Agora é levar tomo mundo para o Navio Hiena dos

99
Peter Pan

Mares e esperar que Peter Pan tente salvá-los.


Caolho – Que bela sacada, Capitão.
Gancho – Rápido com isso! Levem todos eles! Ninguém. Ninguém.
Mas ninguém mesmo pode com o terrível Capitão Gancho.
Barrica – Viva o Capitão Gancho!... (música e coreografia dos piratas)
(No navio)
Barrica – (olhando com uma luneta) Crocodilo se aproximando a
bombordo, Capitão! (aponta para a direita)
Gancho – Bombordo é o lado esquerdo do navio, seu cabeça–de–
bagre! (toma a luneta e bate com ela na cabeça de Barrica) O lado
direito é estibordo!
Barrica – É que eu sou canhoto.
Gancho – (olhando pela luneta) Com seiscentos e oitenta e cinco mil
demônios. Aquele maldito crocodilo me persegue por todo canto!
Caolho – Capitão Gancho, os prisioneiros já estão bem amarrados e
não poderão fugir.
Gancho – Nesse caso, traga-os para cá. (senta num trono, que tem
uma caveira no alto.)
Barrica – O que o senhor vai fazer, Capitão? Atirá-los para o Crocodilo?
Gancho – Não. Já que vamos ter mãe, que tal ganhar filhos também?
Barrica – Filhos, Capitão?
Gancho – Sim, filhos. Eu sempre quis ter filhos, sempre invejei quem
tem filhos. Já pensou Barrica, uma porção de crianças correndo,
brincando pelo convés?

100
Peter Pan

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Peter Pan

Barrica – Crianças correndo e brincando pelo convés? O senhor


está se sentindo bem, Capitão?
Gancho – Nunca me senti tão bem em toda a minha vida! (entra
Caolho conduzindo os prisioneiros de mãos amarradas)
Caolho – Aqui estão os prisioneiros, Capitão. Prontos para serem
lançados ao mar.
Gancho – Não!... Eu mudei de ideia. Como sou uma pessoa muito
boa e generosa, resolvi que aqueles que assim o desejarem poderão
ficar aqui no meu navio Hiena dos Mares como grumetes, a fim de
virarem piratas.
Wendy – Esta barrica velha é mesmo uma Hiena em forma de navio.
Quem é que quer ficar neste navio horrendamente feio, velho, de
velas sujas, rasgadas e cordas sebentas? Com um mau cheiro horrível!
Gancho – Vocês estão tendo a honra de serem meus hóspedes!
Wendy – Honra? Hóspedes? Nós fomos raptados e arremessados
com brutalidade no porão, onde só tem escuridão, casas de aranha,
poeira e ratos.
Gancho – Qualquer um teria o maior prazer de ter a oportunidade
que vocês estão tendo. De se tornarem piratas do Hiena dos Mares e
ficarem aqui para sempre.
Wendy – Grande porcaria!
Gancho – Você aí do meio. (aponta para João) Você tem cara de me-
nino esperto. Tem jeito para grumete. Que tal a ideia de ficar comigo
neste navio?
João – Se eu ficar, você me dá o nome de Jack, o Mão Peluda?

102
Peter Pan

Gancho – Claro que sim.


João – Nesse caso, eu fico!
Wendy – Não, João!
João – Eu sempre quis brincar de ser pirata.
Wendy – Ser pirata não é brincadeira não!
Gancho (para Miguel) – E você, o que me diz?
Miguel – Depende do nome que você me der.
Gancho – Que tal: Joe, o Barba Negra. Gosta?
Miguel – Gostei. Assim eu também fico.
Gancho (para os piratas) – Soltem as mãos dos meninos.
João e Miguel (se cumprimentam gritando) – Os piratas!... (Peter
Pan entra sem ser notado pelos piratas, mas visível para o público e
para Wendy e esconde–se no convés do navio)
Gancho – Agora, escute, minha querida. Salvo sua vida se você me
prometer que será a minha mãe e a mãe dos outros piratas.
Wendy – Nunca! Prefiro nunca ter filhos.
Gancho – Maldição! Com todos os demônios do inferno!
Barrica – Todos, Capitão?
Gancho – Todos! Sem sobrar nenhumzim! Amarrem esta mãe desna-
turada no mastro para assistir à morte de todos os meninos, um por
um. Caolho, vá buscar as pedras de afogar prisioneiros! (ouve–se um
galo cantar dentro da cabine. É Peter Pan visto apenas pelo público
imitando um galo)
Barrica – O que é isso, Capitão?

103
Peter Pan

Gancho – Não sei! Nunca existiu galo nenhum a bordo do Hiena dos
Mares.
Caolho – Deve ser assombração. Mulher em navio só traz desgraças.
Wendy – O que traz desgraça é gente ruim dentro do navio.
Barrica – Isso é bruxaria, Capitão! Galo cantando fora de hora
é desgraça na certa.
Gancho – Parem com essas besteiras. Caolho, vá buscar as pedras.
Caolho – Mande o Barrica, Capitão...
Barrica – Eu não. Ele mandou foi você.
Gancho – Caolho, você está com medo?
Caolho – Estou! Quer dizer, não, Capitão. Eu nunca tive medo de nada.
Gancho – Pois então prove e vá buscar as pedras para a gente acabar
logo com isso. (empurra Caolho. Houve–se um grande barulho, de-
pois uns piados de passarinhos e em seguida silêncio)
Gancho – Caolho, traga logo estas pedras! (silêncio) Barrica, vá ver o
que há na cabine.
Barrica – Eu, Capitão?
Gancho – Você mesmo, imbecil!
Barrica – Mas, Capitão!
Gancho – Ligeiro.
Barrica – Está bem, Capitão. (vai em direção à porta e volta) Capitão,
o senhor não quer deixar essa execução para amanhã? (sai)
Gancho (encosta o Gancho no nariz de Barrica, que volta–se e vai em

104
Peter Pan

direção à cabine e pára com as pernas tremendo) – Será possível que


neste navio não tem um homem? Pode deixar que mesmo vou buscar
esse bicho–papão com o meu gancho. (pega uma lanterna de vela e
se dirige a cabine. Ouve–se um barulho e o Capitão sai cambaleando
da cabine com a lanterna apagada.)
Barrica – O que aconteceu, Capitão?
Gancho – Alguma coisa soprou a minha lanterna e bateu na minha
cabeça.
Barrica – Quem, Capitão?
Gancho – Um monstro horrível de um olho só, três metros de altura,
cinco braços e quatro pernas!
Barrica (voltando) – Capitão, eu tive uma ideia. Aí na cabine deve
ter algo sobrenatural e assombrador. O melhor é a gente lançar os
prisioneiros contra o monstro.
Gancho – Boa ideia. Empurre a meninada para a cabine do monstro.
(meninos fogem com medo e pedem para não serem jogados na ca-
bine. Barrica empurra todos eles na cabine)

(música de perseguição)
Barrica – E Wendy, o que vamos fazer com ela?
Gancho (chama Barrica e ficam conversando de costas para a porta
da cabine e para Wendy. Peter Pan sai da cabine sem ser notado pelos
piratas e troca de lugar com Wendy. Cobre–se com um pano) – Muito
bem! Assim seja. Lance-a aos tubarões e acabe logo com a vida dessa
criatura que só está trazendo desgraças para nós.
Barrica – Chegou a sua hora, menina.

105
Peter Pan

Gancho – Nada no mundo poderá salvá-la. (puxa o pano) Peter Pan? (os
meninos saem da cabine gritando e armados de espadas de madeira)
Peter Pan – Peter Pan, o vingador.
Bicudo – Vamos, meninada, em cima deles!
Peter Pan – Abaixem as armas. Ninguém ataque o Capitão Gancho.
Isso é entre mim e ele. Agora sou eu ou o Capitão Gancho.
Pequeno – Bravo, Peter Pan!
Gancho – Garoto atrevido. Prepare–se para a viagem.
Peter Pan – Velhote sinistro e gagá, quem vai viajar é você com pas-
sagem só de ida para o inferno. (começam a lutar de espada. A espa-
da cai da mão do Capitão, Peter Pan convida o adversário a recuperar
a espada e a luta recomeça.)

(música)
Gancho – Será que eu estou lutando com o demônio? (pára de lutar)
Peter Pan, me responda quem é você?
Peter Pan – Eu sou a juventude! Sou a alegria da vida. Sou invencí-
vel. (recomeça a luta, o Capitão escorrega e cai. Peter Pan o ajuda a
levantar, mas é furado pelo Capitão no braço. Peter Pan dá um chute
no traseiro do Capitão que cai abraçado com Barrica) Covarde! Me
pegou a traição.
Wendy (corre e se abraça com Peter Pan) – Você está ferido?
Peter Pan – Foi só de leve. (entra o crocodilo fazendo tic–tac. O Ca-
pitão se apavora)
Gancho – Me escondam, me escondam. Não deixem esta fera me

106
Peter Pan

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Peter Pan

pegar. (coloca Barrica como escudo)


Barrica – Ele só quer o senhor, Capitão! É melhor fugir!
Gancho – Mas eu vou voltar!
Peter Pan – Se o crocodilo não lhe comer!
Gancho – Aguardem Peter Pan dois. A volta do Capitão Gancho. (sai
correndo com Barrica e caolho seguido pelo crocodilo)
Meninos (gritam) – Gancho é um bacalhau! Viva Peter Pan!
Pequeno – Viva Wendy!
Peter Pan (para Wendy) – Você parece triste.
Wendy – Estou me lembrando de um casal que tinha três filhos que
resolveram fugir de casa voando pela janela. Os pobres pais devem
ter caído na mais profunda tristeza e nunca mais fecharam as janelas
do quarto dos meninos fujões, na esperança que um dia eles voltem.
Peter Pan – Não, Wendy, não é bem assim. A janela não está aberta
a espera de que os três meninos voltem.
Wendy – Está sim. Mamãe deve estar nos esperando.
Peter Pan – Está fechada porque há um novo bebê lá no quarto.
Wendy – Por que você diz isso, Peter? Você esteve lá? Viu alguma
coisa pela janela?
Peter Pan – Não. Não estive lá, nem vi, mas imagino. Porque foi
assim que aconteceu comigo. Um dia eu voltei e encontrei a janela do
meu quarto fechadíssima e, lá dentro, no meu próprio berço, havia
um novo bebê!
Wendy – Não, Peter Pan. Você não sabe o que é o amor de mãe. A

108
Peter Pan

janela estará sempre aberta nos esperando.


Miguel – Wendy, vamos embora para casa!
Wendy – Vamos sim!
João – Ainda hoje?
Wendy – Imediatamente. Peter, você providencia o que for necessário?
Peter Pan – Como você quiser.
Pequeno – Wendy, você vai nos abandonar?
Calado – A gente já se acostumou a ter mãe e não vamos mais
suportar a vida de órfãos.
Peter Pan – A gente pode muito bem passar sem mãe, as mães é que
acham que a gente não pode passar sem elas.
Bicudo – Não abandone a gente, Wendy!
Wendy – Quem falou em abandonar vocês? Viremos sempre visitar
vocês. Agora, Peter, está na hora. Vá apanhar suas coisas.
Peter Pan – Negativo. Não vou com vocês.
Wendy – Você não quer encontrar a sua mãe, Peter.
Peter Pan – Já disse que não. Ela vai dizer que já estou crescido e eu
não quero crescer.
João – Venha com a gente Peter.
Peter Pan – Não posso ir. Não acho graça em crescer. Ficarei aqui
mesmo na Terra do Nunca com os meninos perdidos e as fadas. Mas
ficarei muito contente se vocês todos vierem me visitar todos os anos
e passar as férias comigo.

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Peter Pan

110
Peter Pan

Wendy – Eu prometo! Todos os anos na primavera. Vamos, meninos!


(música e efeito de teatro de sombras mostrando os meninos voando)
(na casa de Wendy)
Marina – George, que bom que mudou de ideia sobre a Wendy. Afi-
nal, ela ainda é uma criança.
George – Marina, sabe que nunca falo sério. Não é Naná? (Wendy
está olhando pela janela)
Marina – Wendy, o que está fazendo aí?
Wendy – Ah, mamãe, nós voltamos!
Marina – Voltaram?
Wendy – Todos menos os meninos perdidos. Não estavam prontos.
George – Meninos... Prontos?
Wendy – Para crescer! Foi por isso que ficaram na Terra do Nunca.
George – Terra do Nunca?
Wendy – Sim. Mas eu estou pronta para crescer.
George – Ah! Ah! Bem, minha querida, tudo a seu tempo. Afinal
talvez nós fomos muito...
Wendy – Ah, mamãe. Foi uma aventura tão maravilhosa! Os piratas,
a sereia e o Peter Pan. Ele foi o mais maravilhoso de todos. Até mes-
mo quando fomos raptados...
George – Raptados?
Wendy – Sabia que Peter Pan nos salvaria e salvou. E nós o chama-
mos de bacalhau. Quero dizer, o Capitão Gancho. E aí então viemos
de navio pelo céu.

111
Peter Pan

George – Marina, vou dormir.


Wendy – Oh, mamãe! Ele é mesmo maravilhoso, não é? Veja como
sabe manobrar o navio! (avistando a sombra do navio)
George – O que é agora, Marina? Naná, você viu...? Sabe, tenho
uma sensação estranha de que já vi aquele navio antes. Há muito
tempo atrás... Quando eu era pequeno.

(música de agradecimento e coreografia final)

112
Peter Pan

113
Peter Pan

Montagem comemorativa aos 55 anos da Comédia Cearense em


2012, no Teatro Arena Aldeota.
Elenco
João Lucas Cavalcante
Miguel Matheus Pereira
Wendy Lia Serra
Pai de Wendy Ítalo Thomaz
Caolho Javier Medrano
Mãe de Wendy Adriana Gomes
Mãe de Wendy Natali Lima
Sereia Amanda do Vale
Peter Pan Lúcio Leonn
Náná Fernanda Santiago
Crocodilo Niiw Teixeira
Gancho Hiroldo Serra
Barrica Luiz Carlos Pedrosa
Bicudo Avelino Souza
Calado Gabriel Gomes
Pequeno Rebeca Louise
Princesa Olhos de Lince Larissa Goes
Corpo de Baile Larissa Goes, Letícia Gois,Fernanda
Santiago, Niiw Teixeira, Ítalo Thomaz,
Rayan Monteiro, Euvaldo Barros, Taynara
Tavares, Amanda do Vale

114
Peter Pan

Ficha Técnica
Adaptação Hiroldo Serra e Walden Luiz
Coreografias Viliane Bento
Pintura de Cenários Ticiana Férrer
Contra regra Afonso Sampaio
Figurinos Hiramisa Serra e Dami Cruz
Cenotécnica João Tenório
Metalúrgica Sérgio
Op. de iluminação Nito Bates
Edição de imagens Jonh Ewerton
Estúdio Bebeto
Fotos Gustavo Portela
Direção, ambientação e Iluminação Hiroldo Serra

115
Peter Pan

Fernanda Santiago, Euvaldo Barros, Taynara Tavares, Luiz Carlos Pe-


drosa, Letícia Gois, Rayan Monteiro, Javier Medrano,
Hiroldo Serra, Amanda do Vale, Ítalo Tomaz, Niiw Teixeira

Luiz Carlos Pedrosa (Barrica),Larissa Góes (Olhos de Lince),


Javier Medrano (Caolho)

116
Peter Pan

Lúcio Leonn (Peter Pan), Hiroldo Serra (Capitão Gancho), Luiz Carlos
Pedrosa (Barrica), Javier Medrano (Caolho)

Lúcio Leonn (Peter Pan), Hiroldo Serra (Capitão Gancho)

117
Peter Pan

Fernanda Santiago, Rebeca Louise, Larissa Góes, Letícia Gois, Niiw


Teixeira, Avelino Souza, Rayan Monteiro, Amanda do Vale, Lúcio
Leoon, Gabriel Gomes

118
Peter Pan

Ítalo Tomaz (Pai), Adriana Gomes (Mãe), Lucas Cavalcante (João),


Lia Serra (Wendy), Matheus Pereira (Miguel), Fernanda Santiago (Náná)

119
O Corcunda de
Notre-Dame
O Corcunda de Notre-Dame
Personagens:
Corcunda
Frollo
Padre
Cigano1
Capitão Febo
Djali (cabrinha)
Esmeralda
Cigana
Gárgula1 1 = G1
Gárgula 2 = G2
Bufão
Ciganos

1 Biqueira, muitas vezes com forma de uma figura ou animal grotesco, por onde escorre a água
da chuva.
O Corcunda de Notre-Dame

(A peça se passa na Cidade de Paris. Dobram os sinos da Catedral de


Notre-Dame. Uma cigana é perseguida pelo juiz Frollo)

Na rua
Frollo – Pare! O que esconde? Com certeza coisas roubadas. Você
será levada ao palácio da justiça!
Cigana – Senhor! Não roubei nada.
Frollo – Me dê isso já! Oh! Mas não é possível, o que é isto? (Ouve-
-se um choro de bebê) Um bebê? Mas é um monstro! É uma alma
profana. Uma aberração! Vou mandá-la ao inferno que é o seu lugar!
Cigana – Senhor, tenha piedade dessa pobre criatura; ele não pediu
para nascer!
Frollo – Não sou culpado. Tenho a consciência limpa.
Padre – (Entrando) Cuide da criança e crie como se fosse sua.
Frollo – O quê? (Gargalhada) Eu devo cuidar deste traste?
Padre – Pode ser um desígnio de Deus!
Frollo – Está bem. É possível. Mas com uma condição: que ele more
com você na sua igreja.
Padre – Mas como na minha igreja? Onde?
Frollo – Em qualquer lugar, contanto que seja bem escondido. No
campanário2. Deus escreve certo por linhas tortas, talvez, quem sabe,
essa criatura possa, um dia, servir a mim.
Cigana – Como a criança poderia se chamar?

2 Parte aberta da igreja onde estão os sinos.

125
O Corcunda de Notre-Dame

126
O Corcunda de Notre-Dame

Frollo – Deixe-me ver! Quasímodo! Ele se chamará Quasímodo, que


significa mal formado.

(Corte de luz, sinos e música)


No campanário
G1 – Quasímodo, o que está havendo lá na praça? Briga, açoitamento?
G2 – É um festival!
G1 – Festival dos tolos? É demais! Demais! Abra o champanhe e solte
os gases!
G2 – É um prazer ver o esplendor colorido do pessoal simples do
campo.
G1 – Nada melhor do que ver o festival de camarote!
Corcunda – É... vê...
G2 – Êpa, êpa, êpa, o que é que foi?
G1 – Não vai ver o festival com a gente? Impossível! Está doente?
G2 – Impossível. Ele ouve as suas tolices há vinte anos e se nunca fi-
cou doente até hoje, não fica mais!
G1 – Quasímodo sempre achou o máximo ver o festival dos tolos.
G2 – De que adianta ver uma festa e não participar de tudo?
G1 – Ele não tem o coração de pedra como nós!
G2 – Quasi, o que foi? Quer falar sobre isso com sua amiga Laverne?
Corcunda – Eu...eu só não estou com vontade de ver o festival.
G2 – Já pensou em ir lá, em vez de ver?

127
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Claro, mas não me aceitariam, não sou normal.


G2 – Quasi, Quasi, Quasi...
G1 – Como seus amigos e guardiões, insistimos que vá ao festival.
Corcunda – Quem? Eu?
G2 – Não, o papa! Claro que é você!
G1 – Você terá várias experiências instrutivas! Vinho, mulher e música!
G2 – Você vai aprender a identificar vários tipos de queijos regionais,
catar caracóis e ouvir músicas folclóricas.
G1 – Quasi, nós temos muitos anos de janela. A vida não é pra ser vista!
G2 – Se ficar só sentado olhando, vai ficar assistindo à vida passar!
G1 – É, você é humano com carne, cabelo e cera no ouvido!
G2 – Nós somos só parte da arquitetura, não é Vítor? Se nos raspar,
não soltamos lágrimas; se nos molhar, não pegamos resfriados; o dia
todo sob o sol e não contraímos câncer de pele!
G1 – Quasi, ponha uma túnica nova, um par de meias limpas...
Corcunda – Obrigado pelo encorajamento, mas vocês estão esque-
cendo uma grande coisa...
G1 e G2 – O quê?
Corcunda – Meu mestre. Juiz Frollo!
G1 e G2 – Ih! É mesmo!
G1 – Bem, quando ele diz que você está proibido de sair do campa-
nário, quer dizer nunca mesmo?

128
O Corcunda de Notre-Dame

129
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Nunca mesmo. Ele odeia o festival dos tolos. E se eu pe-


disse, ele ficaria furioso.
G2 – Quem tem costas largas não pede.
Corcunda – Ah, não.
G2 – Foge de fininho...
G1 – É só uma tarde!
Corcunda – Eu não posso!
G2 – E depois você volta!
G1 – Ele nem saberá que saiu.
Corcunda – E se ele me pegar?
G2 – É melhor implorar perdão do que pedir permissão.
Corcunda – Ele pode me ver!
G1 – Pode usar um disfarce!
G2 – Só desta vez! O que Frollo não vê, você não sente!
G1 – Aqui ninguém quer ficar para sempre engaiolado!
Corcunda – Tem razão! Eu vou!
G1 e G2 – Boa! Viva! É assim que se faz!
Corcunda – Vou descer as escadas, vou atravessar a porta e... (Frollo
entra repentinamente e G1 e G2 ficam imóveis)
Frollo – Bom dia, Quasímodo.
Corcunda – Ah! Bom dia, mestre.
Frollo – Com quem estava falando, meu caro?

130
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Com os... amigos.


Frollo – Sei, sei! E do que os seus amigos são feitos?
Corcunda – De pedra.
Frollo – E as pedras falam?
Corcunda – Não, não falam.
Frollo – Isso mesmo! Você é inteligente! Vamos repassar o alfabeto?
Corcunda – Claro, mestre. Eu vou gostar muito!
Frollo – Bom, muito bom! A...
Corcunda – Abominação!
Frollo – B...
Corcunda – Blasfêmia!
Frollo – C...
Corcunda – Contrição!
Frollo – D...
Corcunda – Danação!
Frollo – Bom! E...
Corcunda – Eterna danação!
Frollo – F...
Corcunda – Festival!
Frollo – Como disse?
Corcunda – Fra...fraternal!
Frollo – Você disse festival?

131
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Não, não...


Frollo – Você está pensando em ir ao festival?
Corcunda – É que o Senhor vai todo ano e...
Frollo – Eu sou um juiz eclesiástico3, eu tenho que ir, mas não me
divirto em momento algum. São uns salteadores, a ralé da humani-
dade, todos juntos!
Corcunda – Eu não queria aborrecê-lo!
Frollo – Quasímodo, você não entende? Quando sua mãe impiedosa
o abandonou ainda criança, qualquer outro o teria afogado. E é esse
o seu agradecimento por eu criá-lo como um filho?
Corcunda – Desculpe, senhor.
Frollo – Ah, meu caro Quasímodo. Você não é conhecedor da vida
lá fora! Eu sou, eu sou. O mundo é cruel, perverso. Eu sou seu único
amigo na cidade; confie só em mim. Eu que o alimento, ensino e vis-
to, medo de você nunca senti. Para protegê-lo, eu insisto, fique sem-
pre aqui, pra que sair... Lembre-se do que eu lhe ensinei, Quasímodo!
Seu aleijão...
Corcunda – Meu aleijão!
Froloo – É muito feio!
Corcunda – É muito feio!
Froloo – O mundo inteiro não tem muita pena desse crime, você tem
que entender.
Corcunda – O mestre me protege...

3 Relativo aos integrantes do clero

132
O Corcunda de Notre-Dame

Frollo – Compará-lo a um monstro.


Corcunda – Eu sou um monstro.
Frollo – Dessas coisas é que o povo ri.
Corcunda – Eu sou um monstro, eu sou um monstro...
Corcunda – O Senhor é bom mestre! Perdão...
Frollo – Está bem, mas lembre–se, Quasímodo: este é o seu Santuá-
rio... Santuário... Santuário... (Sai)
Corcunda – Meu Santuário... (Corcunda canta. Escurece)
Cap. Febo – Senhor!
Frollo – Mas é o nosso grande Capitão Febo recém-chegado da guerra!
Febo – Me apresentando ao serviço, conforme o combinado.
Frollo – Sua folha militar é excelente, Febo. Eu espero simplesmente
o melhor de um herói de guerra do seu calibre.
Febo – E é o que terá, senhor, eu posso garantir.
Frollo – É... O meu último capitão da guarda foi um tanto que decep-
cionante para mim, mas pouco me importa, tenho certeza de que vai
colocar meus homens na linha.
Febo – Obrigado, senhor! É uma grande honra!
Frollo – Chegou à cidade numa hora perigosa capitão. Será preciso
mão firme para salvar os fracos de espírito de serem desencaminhados.
Febo – Desencaminhados?
Frollo – Ciganos, capitão, ciganos! Seus modos pagãos inflamam os
mais baixos instintos das pessoas, e eles têm que ser detidos.

133
O Corcunda de Notre-Dame

Febo – Eu fui convocado da guerra para prender quem lê a mão e


adivinha a sorte?
Frollo – A verdadeira guerra é esta que aqui está. Eu venho lutando
contra os ciganos há vinte anos, um a um; mesmo assim, com todo o
meu sucesso, eles têm voltado. Acredito que tenham um refúgio se-
guro dentro dos muros da cidade, um ninho. Eles o chamam de pátio
dos milagres.
Febo – E o que vamos fazer, senhor?
Frollo – (Usa o chicote)
Febo – Expõe suas ideias de maneira clara!
Frollo – Gosto do senhor, capitão. (Ruído de vozes) O dever me cha-
ma. Já esteve em algum Festival de camponeses, capitão?
Febo – Não recentemente, senhor.
Frollo – Então será instrutivo para o senhor. Venha!

(Corte de luz. Cortejo com malabaristas, engolidor de fogo, pernas


de pau, etc... música).
Bufão – Respeitável público! É com imensa alegria que iniciamos mais
um festival dos tolos. (Palmas e gritaria) Os bonitos que me perdoem,
mas feiura é fundamental. Para participarem do nosso festival, basta
fazer a careta mais feia, mais horrenda, mais horripilante, mais asque-
rosa e será aclamado o feio dos feios. (Música) Está iniciada a compe-
tição. Que suba ao palco o primeiro candidato a papa dos tolos!

(Cornetas, aplausos, vaias e risadas. As ciganas convidam as crianças


da plateia a fazerem suas caretas dentro de um arco e receberem o
aplauso da plateia)

134
O Corcunda de Notre-Dame

135
O Corcunda de Notre-Dame

Bufão – Vamos ao segundo candidato de hoje! (Música). Eu tenho


certeza de que, no meio desta distinta platéia, temos ótimos candida-
tos ao nosso concurso. Quem mais gostaria de participar? Só precisa
subir ao palco e fazer a careta mais feia. Vamos! Subam! (Música)
Mais algum candidato? Bem, bem, parece que temos mais um can-
didato! Vamos, não precisa ser tão tímido! Suba ao palco. Parece um
fortíssimo candidato! (Sobe o Corcunda, rosto grotesco, dentes tor-
tos e com falhas, sobranceira grossa e verruga sobre o olho)
Todos – Viva! Viva! Temos um papa! O papa dos tolos!
Bufão – Silêncio! Calma! Vamos coroar nosso papa. (Música. Colo-
cam uma capa de rei e uma coroa no Corcunda. Aplausos). Agora
vamos conhecer o verdadeiro rosto do nosso papa. Pode parar de
fazer careta!
Todos – Pare de fazer caretas! Deixa de ser feio!
Bufão – Eu não acredito! É o rosto dele mesmo!
Todos – Não! (Vaias e gritos)
Bufão – Mas você é a criatura mais soberbamente feia que já vi em
toda minha vida. Por mim, você mereceria até o maior dos papados.
Todos – Ele é o nosso papa! Viva!
Homem – É Quasímodo! O sineiro da Igreja!
Mulher – É Quasímodo, o corcunda de Notre-Dame. Viva nosso papa,
viva nosso rei! (Música. Todos saem em procissão conduzindo o Cor-
cunda nos ombros)
Homem – Vejam! É Esmeralda!
Mulher – Esmeralda está na praça! (Esmeralda dança)

136
O Corcunda de Notre-Dame

Esmeralda – Djali! Djali! Djali, em que mês nós estamos?

(A cabrinha levanta a patinha dianteira e bate no pandeiro o número


de vezes correspondente ao mês escolhido. Todos aplaudem)
Esmeralda – Djali, em que dia do mês nós estamos? (A cabrinha
levanta a patinha dianteira e bate no pandeiro o número de vezes
correspondente ao dia desejado. Todos aplaudem)
Esmeralda – Djali, que horas são agora? (Djali bate no pandeiro, e o
relógio da praça bate simultaneamente. Todos vão ao delírio com a
esperteza da cabrinha).
Frollo – Isso é feitiçaria!
Esmeralda – Djali, como faz o capitão da artilharia na parada militar
da candelária? (A cabrinha põe–se em posição de sentido, faz conti-
nência e marcha, arrancando aplausos e gargalhadas)
Frollo – Isso é sacrilégio! Profanação!
Esmeralda – Ah! Esse homem sempre me persegue! (Passa o pandei-
ro recolhendo moedas e sai com Djali rapidamente)
Todos – Viva o nosso papa, viva o corcunda!
Bufão – Senhoras e senhores, nada de pânico! Nós pedimos o rosto
mais feio de Paris e aqui está ele, o corcunda de Notre-Dame. (Vaias
e gritaria. Jogam objetos no corcunda, tipo geleia, frutas e verduras.
Amarram com uma grande corda e puxam–no pelo teatro).
Homem – Vejam como ele é feio!
Mulher – A diversão está apenas começando.
Corcunda – Mestre, mestre, por favor, me ajude!

137
O Corcunda de Notre-Dame

Febo – Peço permissão para impedir essa crueldade.


Frollo – Espere um momento. Uma lição tem que ser aprendida!
Esmeralda – Não tenha medo... Eu sinto muito! Isso não devia ter
acontecido. Saiam, saiam... Soltem–no.
Frollo – Você, cigana! Saia já daí!
Esmeralda – Sim, meritíssimo. Assim que eu soltar essa pobre criatura.
Frollo – Eu a proíbo! Como ousa desafiar-me?
Esmeralda – Maltrata esse pobre rapaz como maltrata o meu povo.
Fala de justiça e é cruel com os que mais precisam de sua ajuda.
Frollo – Calada!
Esmeralda – Justiça!
Frollo – Calada cigana, guarde as minhas palavras. Vai pagar por essa
insolência.
Esmeralda – Então parece que coroamos o tolo errado! O único tolo
que vejo aqui é você!
Frollo – Cap. Febo, prenda-a!
Esmeralda – Oh! O que uma moça pode fazer contra um terrível ca-
pitão? (Faz que chora, produz um efeito de fumaça e foge).
Frollo – Feitiçaria! Encontre-a capitão. Eu a quero viva!
Febo – Sim, senhor Frollo. Vamos cercar a área imediatamente. (Sai).
Corcunda – Desculpe, mestre! Eu nunca mais vou desobedecer ao senhor.
Frollo – Volte para o campanário imediatamente. (Música e corte de
luz. Esmeralda está escondida no salão da Catedral armada de um
punhal. Quando Febo entra, Esmeralda avança)

138
O Corcunda de Notre-Dame

Esmeralda – Seu... Infame. (Tenta alcançar o rosto de Febo com um


punhal)
Febo – Calma, calma! Já fiz a barba pela manhã.
Esmeralda – É? Mas ainda falta um pedacinho.
Febo – Calma, tenha calma. Dê-me uma chance de me desculpar.
Esmeralda – De quê?
Febo – (Tenta roubar-lhe o punhal) Disso, por exemplo!
Esmeralda – Canalha! Você é sempre assim charmoso, ou eu tive
sorte? (Lutam).
Febo – Candelabro, privacidade, música! Não há lugar melhor para
um combate a dois. Você luta quase tão bem quanto um homem.
Esmeralda – Engraçado, eu ia dizer o mesmo de você.
Febo – O nível está baixando, não acha?
Esmeralda – E vai baixar mais agora! (Tenta acertá-lo nas pernas)
Febo – Permita-me apresentar-me. Meu nome é Febo, que quer dizer
Deus do sol. E você é...
Esmeralda – É um interrogatório?
Febo – Eu chamo de apresentação.
Esmeralda – Não vai me prender?
Febo – Não enquanto você estiver aqui. Não se pode prender nin-
guém dentro da igreja.
Esmeralda – Você não é como os outros soldados.
Febo – Obrigado.

139
O Corcunda de Notre-Dame

Esmeralda – Então, se não está aqui para me prender, o que você quer?
Febo – Me contento com o seu nome.
Esmeralda – Esmeralda.
Febo – É lindo! Pelo menos é melhor do que Febo. (Frollo entra)
Frollo – Bom trabalho, capitão. Agora prenda-a.
Esmeralda – (Para Febo) Você me enganou.
Frollo – Estou esperando, capitão.
Febo – Lamento, senhor... Ela clamou santuário e não pode ser presa
aqui dentro.
Frollo – Então arraste-a para fora e .... (Avança para Esmeralda)
Febo – Lamento, senhor. (Faz continência e sai)
Padre – (Entrando) Não toque nela, Frollo! Tenho certeza de que o
senhor, como ministro, sabe respeitar a santidade da Igreja.
Frollo – Acho que fui passado para trás, mas eu sou um homem pa-
ciente e os ciganos não conseguem viver entre quatro paredes. (Avan-
ça e faz menção de enforcar Esmeralda).
Esmeralda – O que está fazendo?
Frollo – Só estou imaginando uma corda em volta deste lindo pescoço.
Esmeralda – Eu sei muito bem o que você está imaginando.
Frollo – Que bruxa esperta! É típico da sua laia torcer a verdade para
confundir a cabeça das pessoas com pensamentos pagãos. Mas não
importa, você escolheu uma prisão magnífica, mas é uma prisão. Po-
nha os pés para fora e será toda minha! (Saindo) Vamos guardar cada
centímetro desta igreja.

140
O Corcunda de Notre-Dame

Esmeralda – Se Frollo pensa que pode me manter presa aqui, está


muito enganado.
Padre – Não se precipite, minha jovem. Você provocou um grande
tumulto no festival. Não seria prudente atiçar ainda mais a raiva de
Frollo.
Esmeralda – O senhor viu o que ele fez lá. Deixou aquele coitado ser
torturado. Eu achei que se uma pessoa o enfrentasse! O que eles têm
contra as pessoas diferentes, afinal?
Padre – Você não pode consertar tudo que há de errado no mundo
sozinha.
Esmeralda – E ninguém lá fora vai ajudar?
Padre – Bom, talvez haja alguém que possa. (Sai. Esmeralda canta.
Esmeralda vê corcunda em algum lugar e corre atrás dele até chegar
ao campanário)
Esmeralda – Ei, espere! Não fuja...Calma! Eu quero falar com você!
G2 – Olha! Ele trouxe uma amiga com ele!
G1 – É, talvez o dia não tenha sido de todo perdido. Uma visão gra-
ciosa!
G2 – Congratulações. Você conseguiu!
G1 – Não a deixe ir embora.
Corcunda – É, eu sei.
G1 – Você dá linha e depois puxa, dá linha e depois puxa.
G2 – Calado! Ela é uma moça e não um peixe.
Esmeralda – Você está aí. Pensei que o tivesse perdido.

141
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – É, hum! Eu tenho coisas a fazer. Gostei de rever você.


Esmeralda – Espere! Que lugar é este?
Corcunda – É onde eu moro. (Corcunda tem uma coleção de minia-
turas dos personagens e dos lugares da cidade a qual pode ser de
massa ou fantoches).
Esmeralda – E você fez isso tudo sozinho?
Corcunda – Quase tudo.
Esmeralda – Mas é lindo! Se eu soubesse fazer tudo isso, não dan-
çaria na rua por trocados.
Corcunda – Mas sua dança é maravilhosa!
Esmeralda – Bem, pelo menos eu tenho um ganha–pão. Esta sou
eu? Você é uma pessoa surpreendente, Quasímodo, sem falar que
tem sorte... Este lugar todinho só pra você!
Corcunda – Não é só para mim. Tem as gárgulas e, é claro, os sinos.
Você gostaria de conhecê-los?
Esmeralda – Mas é claro!
Corcunda – Vou mostrá-los. Essa é a pequena Sofia e estas são Ma-
rie, Jean Marie, Luid Marie. São trigêmias.
Esmeralda – Eu não sabia que eram tantas. Quem é aquela?
Corcunda – É a grande Marie. (Badalada geral).
Esmeralda – É um lugar maravilhoso! Eu poderia viver aqui para
sempre.
Corcunda – E pode, claro!
Esmeralda – Não, não posso.

142
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Pode, sim, em santuário.


Esmeralda – Mas não sem liberdade. Os ciganos não sobrevivem
entre quatro paredes.
Corcunda – Mas você não é como os outros ciganos. Eles são maus.
Esmeralda – Quem disse isso?
Corcunda – Meu mestre, Frollo. E ele me criou.
Esmeralda – Como um homem tão cruel pode ter criado alguém
como você?
Corcunda – Cruel? Ah, não, ele salvou a minha vida. Ele me acolheu
quando ninguém me quis. Sabe, eu sou um monstro.
Esmeralda – Ele disse isso?
Corcunda – Olhe pra mim! (Beija o Corcunda)
Esmeralda – Me dê sua mão.
Corcunda – Para quê?
Esmeralda – Quero vê-la.
Esmeralda – Hum! Longa linha da vida, e esta diz que é tímido. En-
graçado!
Corcunda – O quê?
Esmeralda – Eu não vejo nenhuma linha de monstro. Nenhuma li-
nhazinha. Agora olhe pra mim. Acha que sou má?
Corcunda – Não, não! É agradável, é gentil e bonita.
Esmeralda – Mas talvez Frollo esteja errado sobre nós dois. (mudança de luz)
G1 – O que ela disse?

143
O Corcunda de Notre-Dame

G2 – Que o nariz do Frollo é quadrado e que ele usa pó de arroz.


(Riem. Mudança de luz)
Corcunda – Você me ajudou, agora eu ajudo você.
Esmeralda – Mas não há como sair. Há soldados em todas as portas.
Corcunda – Não vamos usar as portas. Confie em mim. Conheço
uma passagem secreta. Vamos!
Corcunda – Espero que tudo dê certo pra você. Eu nunca vou te es-
quecer, Esmeralda.
Esmeralda – Pois então venha comigo!
Corcunda – O quê? Para onde?
Esmeralda – Para o pátio dos milagres! Deixe este lugar.
Corcunda – Não, eu nunca mais venho aqui fora de novo. Você viu o
que aconteceu hoje. Não, o meu lugar é no campanário.
Esmeralda – Tudo bem, então eu venho visitar você.
Corcunda – Mas os soldados e Frollo?
Esmeralda – Então, eu venho ao pôr–do–sol.
Corcunda – Mas, mas o pôr–do–sol é quando termina a missa das
6h e depois eu dou polimento nos sinos e depois eu... Venha quando
quiser.
Esmeralda – Se você precisar de um refúgio, isto lhe mostrará o ca-
minho (Entrega um medalhão ao Corcunda). Lembre–se: quando usar
este medalhão, terá a cidade na mão. (Sai)
Corcunda – A cidade na mão! (Música)
Febo – Olá. Eu estou procurando a cigana, você a viu?

144
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Saia, saia!


Febo – Calma, calma!
Corcunda – Fora, fora!
Febo – Espere, eu só quero... Calma, eu não quero o mal dela. Só
diga a ela que eu não quis prendê-la na igreja, mas foi o único modo
de salvá-la. Você diz a ela? Ou não?
Corcunda – Se você for agora.
Febo – Eu vou, pode só me soltar? Ah! Mais uma coisa: diga a Esme-
ralda que ela tem muita sorte.
Corcunda – Por quê?
Febo – Por ter um amigo como você. (Sai. Música. Corcunda volta ao
campanário).
G1 – Olha ele aí!
G2 – Bravo! Bravíssimo! Você dispensou aquele palhaço metálico com
grande coragem.
G1 – Que ousadia ficar à espreita para roubar sua garota!
Corcunda – Minha garota?
G2 – Esmeralda! Morena, bonita, dançarina.
G1 – Dá-lhe, Dom Juan!
Corcunda – Dom Juan? Não, não. Eu Quasímodo...
G2 – Não seja modesto!
Corcunda – Olha, sei o que tentam fazer e agradeço, mas não vamos
nos iludir. O rosto mais feio de Paris, lembra? Acho que não sou o tipo
dela. (Corcunda brinca de teatro de fantoches e canta. Corte de luz)

145
O Corcunda de Notre-Dame

146
O Corcunda de Notre-Dame

Na praça
Febo – Bom dia, senhor. Às suas ordens.
Frollo – Encontre a cigana. Ofereça uma recompensa de dez moedas
de prata pela cigana Esmeralda. Não, não... Ofereça uma recompensa
de vinte moedas de prata pela cigana Esmeralda. Queime a casa de
quem abrigar ciganos.
Febo – Como?
Frollo – Até ficar em cinzas. Eles são traidores e têm que servir de
exemplos.
Febo – Com todo respeito, senhor, mas não fui treinado para matar
inocentes.
Frollo – Mas foi treinado para cumprir ordens.
Febo – Perdão, senhor, mas não posso.
Frollo – Insolente! Covarde! Que pecado, jogar fora uma promissora
carreira.
Febo – Essa é a minha maior honra, senhor.
Frollo – Pois então morra. A sentença para insubordinação é a morte.
(Os dois travam uma luta de espada, e Febo fica gravemente ferido)
Se precisar queimar a cidade inteira, queimarei!

(Esmeralda encontra Febo e leva-o para tratar o ferimento. Corte luz.


Os sinos tocam).
G2 – As coisas estão ruins!
G1 – É triste, absolutamente triste!
G2 – Ai, ai, ai, pobre cigana, tudo está dando errado.

147
O Corcunda de Notre-Dame

G1 – É, mas não diga nada que preocupe Quasímodo. Ele já tem mui-
tas preocupações.
G2 – Você tem razão, é melhor aliviar. Aí vem ele.
G1 – Agora fique calma, nenhuma palavra. Frios como uma pedra!
Corcunda – Algum sinal de Esmeralda?
G2 – Ai, ai, ai, tá um caos, ela pode estar em qualquer lugar, no tron-
co, na masmorra, na roda, ai, ai, ai...
G1 – Deixe de exageros!
Corcunda – Não, ela tem razão. O que é que eu faço?
G2 – Por que a preocupação? Se conheço Esmeralda, ela está três
passos à frente de Frollo e fora de perigo.
G1 – É, e quando as coisas esfriarem, ela volta, vai ver!
Corcunda – Por que diz isso?
G2 – Porque ela gosta de você, e você é o nosso bonitinho.
G1 – Pensei que eu é que era o bonitinho!
G2 – Não, você é um nanico idiota que come como um porco. Acre-
dite em nós, Quasímodo, não se preocupe.
G1 – É. Você é irresistível.
G2 – Um cavaleiro de armadura não é o que ela quer. Esse pessoal é
fácil de encontrar, mas você... Você é único.
Esmeralda – Quasímodo! Quasímodo!
Corcunda – Esmeralda? Esmeralda, você está bem? Eu sabia que vol-
taria.

148
O Corcunda de Notre-Dame

Esmeralda – Você já fez muito por mim, meu amigo, e, mais uma
vez, eu peço a sua ajuda.
Corcunda – Claro. O que quiser.
Esmeralda – Encontrei Febo gravemente ferido. Ele não pode ir mui-
to longe, e sei que ele estará a salvo aqui. Pode escondê-lo para mim?
Febo – Esmeralda!
Esmeralda – Vai se esconder aqui até se sentir forte para andar. Mui-
tas famílias devem a vida a você por ter enfrentado o juiz Frollo. Você
é o soldado mais corajoso que já vi... Ou o mais louco.
Febo – Ex-soldado...
Esmeralda – Teve sorte. O ferimento quase atingiu seu coração.
Febo – Não sei se não atingiu!
Corcunda – Frollo deve estar vindo. Vamos.
Esmeralda – Tenha cuidado, meu amigo, prometa que nada de mal
acontecerá a ele.
Corcunda – Prometo.
Esmeralda – Obrigada. (Esmeralda sai. Frollo entra)
Corcunda – Mestre, eu não sabia que viria.
Frollo – Eu sempre tenho um tempo para estar com você, meu caro!
Você está agitado? Parece que está escondendo alguma coisa.
Corcunda – Não, não, mestre.
Frollo – O que há de diferente aqui?
Corcunda – Nada, senhor.

149
O Corcunda de Notre-Dame

Frollo – (Admirando os fantoches) Esta aqui é nova, está linda, pa-


rece aquela cigana. Claro! Você a ajudou a escapar! Agora a cidade
está em chamas, e a culpa é sua.
Corcunda – Ela foi bondosa comigo, mestre.
Frollo – Seu idiota, não foi bondade, foi astúcia. É uma cigana. As
ciganas não são capazes de amar de verdade. Raciocine, pense na
sua mãe... Mas que chance uma pobre criança deformada como você
poderia ter contra a deslealdade pagã de uma cigana? Bem, não im-
porta, Quasímodo. Ela sairá de nossas vidas bem depressa. Eu vou
livrá-lo desse feitiço. Ela não irá mais atormentá-lo.
Corcunda – Como assim?
Frollo – Hoje descobri o esconderijo dela e amanhã bem cedo vou
atacar com todas as minhas forças. (Sai).
Febo – Já me sinto bem melhor. Temos que encontrar o pátio dos
milagres antes do amanhecer. Se Frollo chegar lá antes... Você vem
comigo?
Corcunda – Não posso.
Febo – Pensei que fosse amigo da Esmeralda.
Corcunda – Frollo é meu mestre, não posso desobedecê-lhe nova-
mente.
Febo – Ela defendeu você e é assim seu modo estranho de demons-
trar gratidão? Bom, eu não vou ficar parado vendo Frollo massacrar
pessoas inocentes. Faça o que achar melhor. (Sai).
Corcunda – O que é que eu faço? Saio e salvo a moça das garras da
morte pra cidade toda me aclamar como se eu fosse um herói? Ela já

150
O Corcunda de Notre-Dame

tem um cavaleiro de armadura e não sou eu. Frollo tinha razão. Frollo
sempre teve razão. Estou cansado de tentar ser o que eu não sou.
Devo estar ficando louco! Febo?
Febo – Ainda bem que você mudou de ideia.
Corcunda – Não faço por você, faço por ela.
Febo – Sabe onde ela está?
Corcunda – Não, mas ela disse que isto (Mostra o amuleto) vai nos
ajudar a encontrá-la.
Febo – Bom, bom. O que é?
Corcunda – Não sei ao certo.
Febo – Deve ser algum código, talvez seja árabe. Não, não...
Corcunda – Ela disse: quando usar este medalhão terá a cidade na
mão.
Febo – O quê?
Corcunda – É a cidade!
Febo – Do que você está falando?
Corcunda – É um mapa! Aqui está a Catedral e o rio, e esta pedrinha
deve ser...
Febo – Eu não estou vendo mapa aí.
Corcunda – É um mapa!
Febo – Está bem, ótimo, se diz que é um mapa, então é um mapa.
Mas se queremos encontrar Esmeralda, temos que trabalhar juntos.
Corcunda – Está bem, está bem.

151
O Corcunda de Notre-Dame

Febo – Vamos indo, não podemos perder tempo. (Música)


No pátio dos milagres
Febo – Parece que chegamos ao lugar certo. Quasímodo, andando
assim, você tem até vontade de sair mais vezes, não é?
Corcunda – Não, não. Só quero avisar Esmeralda e voltar para o cam-
panário antes que me meta em mais encrenca.
Febo – Encrenca? Quem sabe nós já não estamos metidos em alguma!
Corcunda – Como assim?
Febo – Ora, um guarda, uma armadilha ou uma emboscada... (Músi-
ca e coreografia cigana)
Cigano 1 – Ora, ora, ora. O que temos aqui!
Bufão – Invasores, espiões!
Febo – Não somos espiões.
Cigano 1 – Não interrompam.
Bufão – Foram muito espertos encontrando o nosso esconderijo.
Cigano 1 – Infelizmente não viverão para contar.
Bufão – É uma dobradinha, dois espiões de Frollo.
Cigano 1 – Não são espiões quaisquer. O capitão da guarda e o fiel
lacaio sineiro. (Prendem Corcunda e Febo e amordaçam–nos).
Bufão – Todos ouviram falar de um pátio no qual a galera escolheu
pra morar. E desse pátio que opera milagres é quase um milagre sair
sem caixão. A justiça é ágil no pátio e conta com doutores e juízes.
Sempre é um julgamento sumário, podemos mandá-lo de volta ao
pó. Suas últimas palavras?

152
O Corcunda de Notre-Dame

Corcunda – Somos inocentes.


Bufão – É o que todos dizem. Pois então vão morrer. (Apontam as
espadas na direção de Febo e Corcunda)
Esmeralda – Pare! Não são espiões, são amigos.
Cigano 1 – Porque não disseram isso logo?
Febo e Corcunda – Nós dissemos.
Esmeralda – Este é o soldado que salvou a família do moleiro e Qua-
símodo que me ajudou a fugir da Catedral.
Febo – Viemos avisá-los. Frollo está vindo, ele disse que sabe onde
fica o esconderijo e virá atacá-los ao amanhecer. (Algazarra)
Esmeralda – Então não podemos perder tempo, o melhor é fugirmos
imediatamente. (Para os ciganos). Correu um risco enorme vindo até
aqui. Talvez isso prove o quanto somos gratos (Beija-o).
Febo – Não agradeça a mim, mas sim a Quasímodo. Sem a ajuda
dele, eu jamais teria chegado aqui. (Frollo está acompanhado de dois
soldados)
Frollo – E nem eu. Após vinte anos de procura, o pátio dos milagres é
meu afinal. Caro Quasímodo, eu sempre soube que um dia você seria
útil para mim.
Esmeralda – Do que está falando?
Frollo – Ele me trouxe direto até você, querida.
Esmeralda – Mentiroso!
Frollo – E veja só o que eu peguei na minha rede... Capitão Febo, que
ressuscitou dos mortos, outro milagre, sem dúvida. Mas vou corrigir

153
O Corcunda de Notre-Dame

isso. Amanhã teremos uma bela fogueira na praça e todos estão con-
vidados a comparecer. Podem levá-los.
Frollo – Volte para o campanário, imediatamente.
Corcunda – Não, por favor. Não! (Corte de luz e música)

Na praça
Frollo – (Esmeralda está amarrada sobre a fogueira). A prisioneira
Esmeralda foi declarada culpada por crime de bruxaria. A Sentença: a
morte. Chegou a hora cigana, você está à beira do abismo. Mas não
é tarde demais, posso salvá-la das chamas deste mundo e do outro.
Escolha a mim ou ao fogo.
Esmeralda – Prefiro a morte! (Cospe no rosto de Frollo)
Frollo – A cigana Esmeralda recusou–se a retratar–se. Esta bruxa ma-
ligna pôs a alma de cada cidadão de Paris em perigo mortal. (Corte
de luz)

No campanário
G1 – Vamos lá, Quasímodo. Levante–se.
G2 – Eles são seus amigos!
Corcunda – Tudo culpa minha.
G1 – Tente quebrar essas correntes.
Corcunda – Não consigo. Já tentei. Que diferença faz?
G2 – Mas não pode deixar Frollo vencer!
Corcunda – Deixarei sim!
G1 – Espere aí, está desistindo? É isso?

154
O Corcunda de Notre-Dame

G2 – Não são as correntes que o prendem Quasímodo.


Corcunda – Me deixem em paz!
G1 – Está bem, Quasi! Afinal nós somos feitos só de pedra.
G2 – Achamos que você talvez fosse feito de coisa mais forte.

Na praça
Frollo – Você vai para o lugar de onde veio. O inferno! (Recebe uma
tocha do guarda para acender a fogueira. Quasímodo, num momen-
to de ira, quebra as correntes, vai até a praça, toma a tocha de Frollo,
entrega para Febo, liberta Esmeralda e volta à igreja). Não é possível!
Quasímodo!
Corcunda – SANTUÁRIO! SANTUÁRIO! SANTUÁRIO! Esmeralda está
salva!

Em frente à igreja
Frollo – Vamos invadir a catedral!
Padre – Frollo, você enlouqueceu? Não vou tolerar essa violação na
casa de Deus.
Frollo – Calado, padre idiota. O corcunda e eu temos assuntos pen-
dentes a tratar e desta vez você não vai interferir. Isso não vai ficar
assim. Estão todos contra mim, vocês pensam que já venceram a ba-
talha, mas ela está apenas começando.
Corcunda – Mestre, a minha vida inteira você disse que o mundo é
um lugar sombrio e cruel, mas agora vejo que as únicas coisas som-
brias e cruéis lá fora são as pessoas como você.

155
O Corcunda de Notre-Dame

Frollo – Quasímodo, chegou a hora de acabar com o seu sofrimento para


sempre. Eu já devia saber que arriscaria a sua vida pra salvar essa bruxa
cigana, do mesmo modo que sua mãe morreu tentando salvar você.
Corcunda – O quê?
Frollo – Agora vou fazer o que já devia ter feito há vinte anos. (Frollo
tenta enforcar Quasímodo. Febo entra e joga uma rede sobre Frollo e
com a ajuda do Corcunda o imobilizam)
Corcunda – Mestre, não há quem suporte viver sem liberdade para
sempre. Agora chegou a sua vez de ficar preso por um longo tempo,
para o senhor valorizar a liberdade dos outros. (Sai para buscar Esme-
ralda) Esmeralda, Esmeralda, você está livre!
Padre – Respeitem a casa de Deus. (Para os soldados) Retirem–se.
Febo – (Para a plateia) Cidadãos de Paris, Frollo oprimiu o nosso
povo, saqueou nossa cidade e agora declarou guerra a própria igreja
de Notre-Dame. Mas com Frollo preso, estamos livres do tirano. Viva
Quasímodo! Viva o Corcunda de Notre-Dame!
Bufão – Viva Quasímodo !
Todos – Viva! Viva!

MÚSICA FINAL

156
O Corcunda de Notre-Dame

Montagem comemorativa aos 55 anos da Comédia Cearense em


2012, no Teatro Arena Aldeota.
Elenco:
Corcunda Lucio Leonn
Esmeralda Natali Lima/Larissa Goes
Frollo Hiroldo Serra
Febo Paulo César Cândido
Gárgula Poliana Moraes
Gárgula Luiz Carlos Pedrosa
Bufão Ítalo Tomaz
Padre Javier Medrano
Cigano Niiw Teixeira
Cigana Fernanda Santiago
Djali Rebeca Louise
Anjo Amanda do Vale
Corpo de baile Larissa Goes, Letícia Gois, Fernanda Santiago,
Niiw Teixeira, Ítalo Thomaz, Rayan Monteiro,
Euvaldo Barros, Taynara Tavares, Amanda do
Vale, Fernado Bier, Priscila Cavalcante

157
O Corcunda de Notre-Dame

Ficha Técnica
Adaptação Hiroldo Serra
Coreografias Viliane Bento
Pintura de Cenários Ticiana Férrer
Contra regra Afonso Sampaio
Figurinos Hiramisa Serra
Adereços Dami Cruz
Cenotécnica João Tenório
Metalúrgica Sérgio
Op. de iluminação e som Jonh Ewerton
Direção, ambientação, produção e Iluminação Hiroldo Serra

158
O Corcunda de Notre-Dame

Natali Lima (Esmeralda), Paulo César Cândido (Febo).

159
O Corcunda de Notre-Dame

Poliana Moraes (Gárgula), Javier Medrano (Padre),


Luiz Carlos Pedrosa (Gárgula), Hiroldo Serra (Frollo)

160
O Corcunda de Notre-Dame

Lúcio Leonn (Corcunda)

161
O Corcunda de Notre-Dame

Letícia Góis, Fernanda Santiago, Taynara Tavares, Larissa Goes,


Priscila Cavalcante, Rayan Monteiro, Euvaldo Barros, Niiw Teixeira,
Fernando Bier, Ítalo Tomaz.

162
A Moura Torta e o
Pássaro Azul
A Moura Torta e o
Pássaro Azul
Adaptação livre: Hiroldo Serra

Personagens
Arauto Rubraflor
Convidado Príncipe Frederico
Rei Príncipe Alexandre
Rainha Príncipe Afonso
Felipe Rei Augusto I
Eduardo Rei Ricardo
Henrique Rei Juan Carlos
Princesa Moura Torta
Aia Jardineiro
Brancaflor
A Moura Torta e o Pássaro Azul

(Baile de máscaras no palácio real. O Rei, a Rainha e seus três filhos


Eduardo, Felipe e Henrique recebem os convidados e dançam um
minueto)
Arauto – (Anunciando) Sua Majestade o rei da Morôvia.
Todos – Glória, glória ao reino da Morôvia de luz
Terra fértil
Terra farta
Essa é nossa terra Morôvia amada
Reino justo
Reinos, sem guerra
Essa é a nossa vida Morôvia da paz...
Convidado – Viva o Rei!
Convidado – Viva sua Majestade o Rei.
Rei – Meus queridos súditos, um reino pode durar para sempre, mas
o rei não tem vida eterna. Ser rei não é só viver de festas, fartura,
presentes e riquezas. É preciso cuidar do reino e do povo. Saber lutar,
atacar, recuar, defender, derrotar e ser derrotado. Estou velho, e a
hora de deixar o trono se aproxima. Mas ainda não tenho um suces-
sor. Nenhum de meus filhos ainda resolveu se casar.
Rainha – Meu Rei, Vossa Majestade ainda é muito novo. Tem sido um
rei bom e justo. Não precisa pensar em sucessão agora. Nossos filhos
ainda são muito jovens e, na certa, vão querer aproveitar bem a vida.
Felipe – Viva a juventude!
Todos – Viva!
Eduardo – Viva a liberdade!

166
A Moura Torta e o Pássaro Azul

Todos – Viva!
Henrique – Viva os solteiros!
Todos – Viva!
Rei – Eu não me conformo que, no meio de tantas moças bonitas e
de tão nobres famílias, vocês não tenham encontrado nenhuma que
lhes falasse ao coração.
Felipe – De fato, todas são lindas apesar das máscaras, mas os tem-
pos são outros, Majestade, e ainda temos muito que conhecer mun-
do a fora.
Rainha – O lugar de vocês é aqui ao lado da família dando continui-
dade ao reinado de Sua Majestade.
Eduardo – Precisamos aprender a caminhar com nossas “próprias”
pernas, minha Rainha. Viver nossas “próprias” experiências, passar
dificuldades, sofrer para aprender.
Rei – Vocês não tem ideia do que é o sofrimento. Aqui vocês têm
tudo do bom e do melhor. São amados e respeitados por nosso povo.
Lá fora, ninguém saberá quem são vocês nem de onde vieram.
Henrique – Precisamos experimentar como é ser um homem comum,
gente do povo, conhecer outras culturas.
Rei – Cada um sabe aonde lhe aperta o calo. Se essa é a vontade de
meus filhos, assim seja feita a vossa vontade. Música! (Todos dançam
alegremente e depois deixam o salão, ficando somente os príncipes)
Felipe – Irmãos, será que estamos fazendo a escolha certa?
Eduardo – Claro que sim. Vamos viajar e conhecer o mundo. Temos
fortuna. O que mais precisamos?

167
A Moura Torta e o Pássaro Azul

Henrique – Sempre tivemos todas as mordomias. Banquetes, bailes,


lindas damas e luxo.
Eduardo – Mas pela primeira vez será diferente. A sucessão do trono
está em jogo. O Rei nosso pai não contava com essa!
Henrique – Você é o mais jovem, talvez tenha o perdão mais cedo.
Devemos partir o mais rápido possível para evitar maiores conflitos.
Felipe – Vamos partir juntos, mas em direções diferentes. Não nos
encontraremos por todo o tempo da viagem. Devemos voltar ao palá-
cio daqui a três meses e compartilhar nossas aventuras inesquecíveis.
Eduardo – Então, vamos preparar os mantimentos, a carruagem e a
comitiva.
Os três – Aqui vamos nós! Um por todos e todos por um! (Música e
corte de luz)

(Na sala do trono)


Rei – É inconcebível, inacreditável, imperdoável. Meus filhos perde-
ram o juízo definitivamente. Abrirem mão de um bom casamento e
da sucessão do trono?
Rainha – Tenha paciência e não tome decisões precipitadas, eles são
seus filhos.
Rei – Meus filhos e o meu reino. A tradição de uma família real ame-
açada. Não me conformo.
Princesa – Os tempos mudaram, meu pai!
Rei – Minha última esperança é você, princesa!
Princesa – Eu?!

169
A Moura Torta e o Pássaro Azul

Rainha – (Puxando a princesa) Minha filha não me venha com suas


ideias modernas agora, seu pai está muito sensível.
Rei – O que é que vocês estão cochichando aí? Precisamos arranjar
um casamento para Carolina urgentemente. Existe uma dezena de
reis que dariam seus reinos para casar os filhos com minha filha.
Princesa – Majestade, sou muito jovem. Estou na flor da minha ju-
ventude. Não é hora ainda de pensar em casamento. Tenho que estu-
dar, conhecer o mundo e as pessoas.
Rei – Ai, de novo não. Ai, está me faltando ar. (sentando-se no trono)
Rainha – Minha filha!
Rei – (Levantando-se) Ai, ai, ai. Meu trono, meu reino, nossa fortuna
ameaçada. (sentando-se)
Princesa – Majestade, não aumente seu sofrimento. O mundo gira, e
as pessoas evoluem, e nosso reino e nossa família devem acompanhar
o progresso.
Rei – Ai, ai, ai... (Levanta-se e senta)
Rainha – Minha filha!
Rei – Ai, ai, ai... (Levanta-se e senta)
Rainha – Carolina!
Princesa – O melhor é dar tempo ao tempo!
Rei – Ai, ai, ai... (Levanta-se e senta)
Rainha – Ai meu Deus! (Corte de luz)

170
A Moura Torta e o Pássaro Azul

(Felipe, Eduardo e Henrique dançam com os empregados do palácio


uma dança típica do reino. Aias, pajens, cocheiros e jardineiros fazem
a confraternização da despedida.)
Felipe – Somos muitos gratos por tudo que fizeram por nós até agora.
Eduardo – Queremos que cuidem muito bem do rei, da rainha e da
princesa Carolina enquanto estivermos viajando.
Henrique – Vamos ficar incomunicáveis e não queremos que nada de
mal aconteça a eles. Agora podem ir. É hora de se despedir do rei. (Os
empregados saem. Entram o rei, a rainha e a princesa)
Os três – Majestade!
Felipe – Chegou a hora da partida, meu pai!
Eduardo – Vamos partir em busca do conhecimento e da moderni-
dade!
Henrique – Tudo para o crescimento do reino!
Os três – Temos sua benção?
Rei – Um Rei não pode faltar a seu povo e muito menos a seus filhos.
Vocês têm minha benção e a benção de sua mãe, a Rainha.
Felipe – Precisamos, então, de uma carruagem e da escolta real!
Eduardo – Precisamos de muitos mantimentos para a viagem!
Henrique – Precisamos de dinheiro!
Os três – Muito dinheiro!
Rei – Meus filhos, é hora de partirem para o mundo em busca do que
vocês procuram, mas sem a guarda real, sem o séquito e sem o luxo
a que estão acostumados. É hora de enfrentarem sozinhos os desa-

171
A Moura Torta e o Pássaro Azul

fios que vocês escolheram vivenciar. É hora de ficarem com o povo,


ouvirem suas queixas, passarem pelas privações que vitimam tantas
pessoas mundo afora. É hora de descobrirem seus destinos. (Silêncio)
Rainha – Será que vocês estão certos do que escolheram? (Silêncio)
Meus filhos, não querem repensar essa ideia de deixarem o palácio?
Princesa – Eu dou a maior força pros meus “mano”!
Rei – O quê? O que ela disse? Esta menina está com um vocabulário
muito estranho ultimamente.
Princesa – Eu disse que torço para que a viagem deles seja muito
proveitosa e que eles aprendam muito da vida.
Rei – (À parte para a Rainha) Sua filha...
Rainha – Nossa filha!
Rei – Nossa filha está muito estranha. Suas roupas, sua maquiagem,
seu vocabulário...
Rainha – São coisas de adolescente...
Rei – Então, meus filhos? Estão prontos para partirem? (Os príncipes
se entreolham e ficam em silêncio) Estão tão calados! Pensam que eu
vou deixar vocês desamparados?
Os três – Claro que não, meu pai!
Rei – Vocês partirão amanhã de madrugada e nada levarão a não ser
uma laranja cada um.
Os três – Uma laranja? Só isso?
Rainha – Só isso. Nem dinheiro, nem armas, nem criados. É preciso
que aprendam o valor do trabalho.

172
A Moura Torta e o Pássaro Azul

173
A Moura Torta e o Pássaro Azul

Rei – É preciso que sofram na própria pele as dificuldades dos ho-


mens comuns. O sacrifício deverá amolecer o coração de vocês.
Princesa – (À parte) Nada a ver!
Rei – Quem tem pouco, muito tem a aprender! Aqui estão as laran-
jas. Em cada uma delas, está o destino de vocês. Essas laranjas trazem
um feitiço conhecido como o Segredo da Moura Torta e nem eu mes-
mo sei do que se trata. É herança de nossa família.
Rainha – Levem as laranjas sempre consigo, mas nunca, nunca des-
casquem em lugar que não haja água por perto, porque senão o en-
canto se desfará. Todos entenderam?
Os três – Sim, Majestade!
Princesa – (À parte) Eu não entendi nada, não vou mentir!
Rei – Voltem daqui a três meses. Aquele que tiver encontrado seu
caminho, tiver aprendido o melhor que a vida tem para oferecer, será
o herdeiro do meu trono.
Rainha – Sejam cuidadosos, sejam fortes, sejam felizes e voltem com
saúde.
Os três – Adeus, meu Rei, adeus minha Rainha, tchau princesa! (Cor-
te de luz)

(No quarto da princesa que veste uma roupa de roqueira atrás de um


biombo)
Princesa – Eu sou irmã de três príncipes, Eduardo, Henrique e Felipe.
Eles podem fazer qualquer coisa, eu nunca posso fazer nada. Eu sou
a princesa, eu sou o exemplo. Eu tenho deveres, responsabilidades,
expectativas, minha vida inteira foi planejada. Minha mãe manda em

174
A Moura Torta e o Pássaro Azul

175
A Moura Torta e o Pássaro Azul

cada dia da minha vida. (Imitando a mãe) Uma princesa deve mostrar
conhecimento sobre o seu reino. Ela não faz desenhos. É um ré, fi-
lha. Uma princesa não ri assim. Não enche muito a boca. Deve cedo
levantar, deve ter compaixão, ser paciente, ser cautelosa, e, acima de
tudo, uma princesa busca a perfeição! Mas, de vez em quando, tem
um dia em que eu não preciso ser uma princesa. Nada de lições nem
expectativas. Um dia em que qualquer coisa pode acontecer. Um dia
em que posso mudar meu destino.
Aia – Princesa, chegou um vestido novo lindíssimo que o rei mandou
de presente. Rosa, todo bordado e cheio de rendas.
Princesa – Tô noutra!
Aia – Como assim, princesa? O rei está queixando-se de seu compor-
tamento nos últimos dias.
Princesa – Acho que nasci na época errada! Não gosto de formali-
dades, não gosto de vestidinhos cor-de-rosa, bailes de máscaras... Eu
gosto mesmo é do “Rock in Roll”!
Aia – Ai, meu Deus! Quem é ele? É de qual reino? É bonito?
Princesa – Heloo! (A princesa aparece de calça e blusa preta, peruca
e sapatos altos) Vejam agora o outro lado de uma princesa! (A aia
desmaia)
Aia – (Acordando) Ai, ai, ai...
Princesa – Parece que viu fantasma!
Aia – Se eu desmaiei, imagine sua mãe, a Rainha.
Princesa – Chegou a hora de conhecerem quem eu sou de verdade.
Rainha – (Entra chamando pela princesa) Carolina, Carolina. Está na

176
A Moura Torta e o Pássaro Azul

hora da sua aula de música, depois aula de bordado, depois aula de


boas maneiras e oratória.
Princesa – E em que horas eu vivo? (A rainha vê a princesa e fica
estátua)
Rainha – CAROLINA, o que é isto? Que roupas são estas? Que cabe-
lo é esse? E esses sapatos? Você quer nos matar de vergonha? Uma
princesa jamais poderia vestir-se assim.
Princesa – Minha mãe, os tempos mudaram!
Rainha – Só se for nessa sua cabecinha. Tire logo essas roupas e dei-
xe de brincar de teatro. Está aproximando-se o dia do seu noivado, e
você precisa concentrar-se no seu casamento.
Princesa – Casamento? Eu mal deixei minhas bonecas!
Rainha – Eles já devem estar a caminho.
Princesa – Eles?
Rainha – Os cinco reinos mais próximos enviaram um representante,
filho primogênito dos reis, para serem escolhidos por seu pai.
Princesa – Mas, como pode ser isso? Eu não estou preparada para
casar. Sou muito jovem, não conheço nada da vida ainda!
Rainha – Nós sabemos a hora certa. Foi assim com sua bisavó, sua
avó, sua mãe e será assim com sua filha e neta.
Princesa – E já não está na hora de mudar tudo isso? Como meu pai
pode escolher com quem devo dividir a minha vida? O que ele sabe
das minhas preferências? E a minha liberdade de escolha?
Rainha – Mas você tem escolha, sim. Casar ou casar!

177
A Moura Torta e o Pássaro Azul

Princesa – Que absurdo! E onde fica o amor? Toda mulher pode até
sonhar com seu príncipe encantado, mas não escolhido por seu pai.
Rainha – Minha filha, não queira ser a responsável pela destruição
das nossas tradições. A mulher nasceu para o lar, para ter filhos, aten-
der ao marido e cuidar do palácio.
Princesa – Esse é o destino de todas as princesas?
Rainha – O destino de uma princesa já nasce traçado, e é o rei quem
decide como ele será.
Princesa – Então, eu não quero mais ser uma princesa. Eu não tenho culpa
de ser filha de rei. Quero ser uma menina comum como todas as outras!
Rainha – Você não sabe o que está dizendo, minha filha. Toda a sua
educação, seus vestidos, suas criadas, suas joias, suas festas, suas...
Princesa – (Interrompendo) Sua infelicidade, sua prisão...
Rainha – Chega de teatro dramático novamente. Tire esse figurino,
vista seu vestido, concentre-se no seu noivado e comece as aulas de
dança para a cerimônia de noivado (Sai).
Princesa – E o amor? Onde fica o amor? (Chora. Corte de luz)
Felipe – (Caminhando pelo deserto) Nunca pensei que iria passar por
tantas dificuldades nessa viagem. Que saudade do palácio, dos ba-
nhos no rio, dos banquetes, das lindas damas, da sombra das árvores.
Estou eu aqui com fome, com calor e prestes a morrer de sede. Como
estarão meus irmãos? Já estou quase delirando de tanto calor. O que
fazer? Só me resta a laranja que meu pai me deu antes da partida.
Mas e o seu conselho? Acho que era apenas para me fazer medo!
(Felipe tira a laranja de uma bolsa e começa a descascá-la. Por entre a fu-
maça e um efeito de luz, surge uma linda mulher em forma de flor branca)

178
A Moura Torta e o Pássaro Azul

179
A Moura Torta e o Pássaro Azul

Brancaflor – Água, água para Brancaflor... Água...Preciso de água.


Felipe – Meu Deus, por que não ouvi meu pai? (Pega um cantil e
vê que não pinga uma gota de água. Olha ao redor e não encontra
água) Não tenho água...
Brancaflor – Água, água... (Brancaflor dança agonizando uma core-
ografia, representando seu sofrimento e morre. Corte de luz)

(No palácio)
Rei – Você está resmungando!
Rainha – Eu não resmungo!
Rei – Resmunga sim, você resmunga quando alguma coisa a pertur-
ba. Eu culpo você. Essa teimosia vem toda do seu lado da família.
Acho que a conversa não corre muito bem, não é?
Rainha – Eu não sei o que fazer?
Rei – Fale com ela!
Rainha – Mas eu falo com ela, mas ela não me escuta!
Rei – Pare com isso. Finja que eu sou a princesa. Fale comigo!
Rainha – Eu não consigo.
Rei – (Imitando a princesa) Eu não quero me casar, quero ficar solteira
e deixar meus cabelos soltos ao vento disparando flechas ao pôr do sol.
Rainha – Menina, todo esse trabalho, todo esse tempo gasto prepa-
rando-a, ensinando-a, dando a você tudo que nós não tivemos. Eu
preciso saber o que é que você espera de nós?
(A princesa aparece, e o rei sai)

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Princesa – Cancele essa reunião, ora. Você vai matá-los? Você é a


rainha! Pode dizer aos pretendentes que a princesa ainda não está
pronta para isso. Na verdade, ela pode não estar pronta nunca.
Rainha – Eu entendo que tudo isso pareça injusto. Eu mesma tinha
reservas quanto ao meu noivado, mas não podemos fugir do que
somos...
Princesa – Eu não quero que a minha vida acabe, eu quero a minha
liberdade.
Rainha – Mas você estaria disposta a pagar o preço que a sua liber-
dade custaria?
Princesa – Eu não estou fazendo isso para magoar você.
Rainha – Se tentasse ver o que eu faço, eu faço tudo por amor.
Princesa – Mas é a minha vida. Não estou pronta.
Rainha – Acho que entenderá... É só você...
Princesa – Isso não vai acontecer, não se eu puder impedir... (Sai)
Rainha – Minha filha... (Corte de luz)
Henrique – (Caminhando por uma floresta fria) Não estou mais su-
portando esse frio. Que falta faz minha cama cheia de cobertores e a
lareira do meu quarto. Que fome e que sede. Meus lábios já estão ra-
chados do frio. Como estarão meus irmãos? Só me resta a laranja que
meu pai me deu antes de partir. (Henrique pega a laranja e começa a
descascá-la. Por entre a fumaça e um efeito de luz, surge uma linda
mulher em forma de flor vermelha)
Rubraflor – Por favor água... Água... Água para Rubraflor... Água...
Henrique – Meu Deus, por que não segui o conselho de meu pai?

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Rubraflor há dias não bebo uma gota de água. Se tivesse força, cho-
raria rios de lágrimas para molhar as tuas pétalas e saciar a tua sede.
Rubraflor – Água... Água... (Rubraflor dança agonizando uma core-
ografia, representando o seu sofrimento e morre. Corte de luz)

(No palácio, o rei e a rainha recebem os pretendentes da princesa e


os convidados)
Arauto – Sua Majestade, o Rei Augusto I, e seu filho, o Príncipe Fre-
derico. (Som de corneta) Sua Majestade, o Rei Ricardo, e seu filho, o
Príncipe Alexandre. (Som de corneta)
Sua Majestade, o Rei Juan Carlos, e seu filho, o Príncipe Afonso. (Som
de corneta)
Rei – Sejam todos bem-vindos à cerimônia de escolha do príncipe
que ganhará a mão de minha, filha Princesa Carolina, em casamento.
De acordo com as nossas leis, pelo direito de nossa herança, apenas
o primogênito de cada um dos grandes líderes pode ser apresentado
como campeão e, assim, competir pela mão da princesa da Morôvia.
Para conquistar essa bela donzela, tem que provar o seu amor por
meio de sua força e de sua habilidade. O escolhido será aquele que
tiver a maior pontuação no torneio esportivo. Terão que vencer as
provas de arco e flecha, corrida de cavalo, arremesso de lança, caça e
levantamento de peso. Antes do início do torneio, teremos a apresen-
tação artística de uma soprano, oferecimento do Sultão Mohamed
Abdala. (A princesa Carolina está irreconhecível e está acompanhada
de algumas empregadas do palácio e juntas compõem uma banda
de rocky heavy metal. A princesa canta, e as empregadas dançam, e
todos ficam escandalizados. Quando a música acaba, a princesa tira
o disfarce, e todos ficam horrorizados).

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Música
Era uma vez todos os reinos do mundo;
Onde as princesas nunca tiveram vez;
Seus pais, os reis, são seus donos;
Suas mães, as rainhas, baixam as cabeças;
Isso é a tradição, a invasão;
Não se busca o amor mas a riqueza;
Isso é a tradição, a escuridão;
Não se busca o diálogo mas o silêncio;
Isso é a tradição, a desunião;
Haverá uma vez todos os reinos do mundo;
Onde as princesas sempre terão vez;
Seus pais, os reis, serão seus parceiros;
Suas mães, as rainhas, ficarão de cabeça erguida;
Isso será tradição;
Só se buscará o amor, a imensidão;
A luz, a conversa, a justiça;
Isso será tradição;
A escolha, a igualdade;
O amor;
O amor;
O amor.

Rainha – O que significa isso?


Rei – Princesa Carolina?
Príncipe Frederico – Essa é a princesa?

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Príncipe Alexandre – Uma cantora de música estranha?


Príncipe Afonso – Deve estar havendo algum engano ou isso tudo
não passa de uma brincadeira de mau gosto.
Rei Augusto I – Viajamos tanto para assistirmos a essa palhaçada?
Rei – Calma, senhores!
Rainha – Perdão, senhores!
Rei Ricardo – Essa é a princesa que meu filho desposará?
Rei Juan Carlos – Queremos uma explicação!
Rei – Lamento muito. Acho que minha filha está sofrendo das facul-
dades mentais!
Rainha – Creio que ela comeu algo que lhes fez mal!
Rei – Acho que pode ser a emoção de ver tantos nobres juntos!
Rainha – (Chamando a princesa à parte) Você quer nos destruir?
Quer nos matar de vergonha? Não acha que esse seu teatro está indo
longe demais?
Rei – Por favor, deixem o salão por alguns instantes. Precisamos ter
uma reunião de família! (Todos saem)
Rainha – Foi demais! Você passou dos limites, mocinha.
Princesa – Mas foi você que quis!
Rainha – Você os envergonhou! Você envergonhou a mim!
Princesa – Eu obedeci às regras.
Rainha – Não sabe o que fez. Vai começar uma guerra se isso não for
reparado.

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Princesa – Me escuta!
Rainha – Eu sou a rainha. Você ouve a mim.
Princesa – Isso é muito injusto. Essa história de casamento é o que
você quer. Você já pensou em perguntar o que eu quero? Não. Você
sai por aí me dizendo o que tenho que fazer, tentando me fazer ser
como você... Mas eu não vou ser como você.
Rainha – Está agindo como uma criança.
Princesa – E você é um monstro. Nunca serei como você. (Sai. Corte
de luz)

(O Príncipe Eduardo caminha cansado e com sede)


Eduardo – Por quais provações devem ter passado meus irmãos? Eu
já passei noites misturado com o povo, passei fome, varri estábulos,
dormi em celeiros molhados, trabalhei como carregador em portos,
ouvi as queixas dos desesperados e cuidei dos feridos em batalhas.
Será que tudo isso foi em vão? Vou morrer de sede? Não há uma
gota de água em meu cantil! A laranja de meu pai! (Tirando a laranja)
Não! Meu pai disse que só posso descascar essa laranja quando hou-
ver água por perto. Água, preciso encontrar água. (Eduardo caminha
até encontrar um poço de água. Bebe até saciar sua sede) Agora sim,
posso descascar a laranja e obedecer o que aconselhou meu pai. (Por
entre a fumaça e um efeito de luz, surge uma linda mulher em forma
de flor rosa)
Rosaflor – Água... Água para Rosaflor... Água... (Felipe enche o can-
til e derrama água sobre as pétalas de Rosaflor que perde as pétalas
e se transforma numa mulher de verdade e dança uma coreografia
representando a vida)

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Rosaflor – Sou rosa flor. O senhor salvou a minha vida. Estive apri-
sionada naquela fruta por muito tempo. Eu e minhas irmãs fomos
enfeitiçadas pela Moura Torta, a feiticeira que odeia a beleza...
Eduardo – Moura Torta? Meus pais me contaram histórias sobre ela.
Rosaflor – Nunca soube por que fui enfeitiçada com minhas irmãs.
Eduardo – Foi a inveja. Qualquer uma teria inveja da sua beleza. Mas
o que importa agora? O feitiço foi quebrado e você está livre!
Rosaflor – O senhor me libertou... Sou sua escrava...
Eduardo – Rosaflor! Você é meu destino. Será minha esposa, minha
princesa, minha rainha, nunca minha escrava! (Eduardo e Rosaflor
cantam. Abraçam-se e beijam-se)
Eduardo – Rosaflor, encontrei o meu destino. Valeu a pena todas as
dificuldades por que passei. Você é minha grande recompensa, será a
minha luz, a minha inspiração. Já estou próximo ao castelo e chegarei
andando em algumas horas. Minha saudade será as minhas asas, irei
voando e trarei os mais lindos vestidos para recobrir sua beleza. Uma
carruagem e uma comitiva de nobres dignos de uma nova princesa.
Me espere, meu amor.
Rosaflor – Quero viver todos os minutos da minha vida em liberdade
e em teus braços. Nunca mais na prisão.
Eduardo – Suba nessa árvore e estará protegida. Cubra-se com a folha-
gem para não sentir frio. Virei o mais rápido que puder! (Sai. Rosaflor sobe
na árvore, olha para a água e vê refletida a sua imagem. Do outro lado do
palco, a feiticeira Moura Torta prepara mais uma porção em seu caldeirão)
Moura Torta – Asa de barata, perna de grilo, ferrão de abelha ita-
liana e pelo de morcego. Agora a porção para ficar jovem e bonita

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

está pronta. É só tomar um golezinho e imediatamente serei a mulher


mais bonita do reino. Há muitos anos, eu venho tentando essa recei-
ta e sempre faltava algum ingrediente. (Bebe a porção e se dirige ao
espelho) Raios, raios... Não fez nenhum efeito. Eu não mereço isso!
Não suporto mais minha feiura. Preciso roubar a beleza de alguém!
Vou pegar água limpa para fazer uma nova porção. (Moura Torta vai
até o poço pegar água e, quando se abaixa, vê a imagem de Rosaflor
refletida no espelho d’água e pensa ser a sua imagem)
Moura Torta – O quê? O efeito da porção mágica fez efeito afinal.
Agora eu sou jovem e linda! E eu vivo a buscar água nesse poço como
uma escrava? Eu mereço casar com um príncipe, ter joias, palácios,
empregados e poder, muito poder... (Gargalhada. Rosaflor se esforça
para não rir alto daquela cena grotesca) Agora eu sou feliz, muito
feliz. Tudo que eu queria e merecia era ser linda como agora. Só a
beleza me importa, nada mais! (Volta para casa e olha-se no espelho)
Espelho, espelho meu, mostre o rosto da mulher mais linda que sou
eu! Raios, mas o que é isso? Esse espelho teima em roubar a minha
beleza! Vou acabar quebrando-o em pedacinhos. Vou voltar ao poço
e me ver no verdadeiro espelho, espelho idiota! (Dirigi-se ao poço e
outra vez vê a imagem de Rosaflor pensando ser a sua) Eu sou bela
não sou? (Para plateia) Aquele espelho idiota não sabe de nada. Eu
sou mais bela do que todas as belas que eu roubei a beleza por inve-
ja! Eu não preciso mais pegar água para novas porções, já sou bela,
muito bela, a mais bela... (Rosaflor quase não consegue conter o riso,
e Moura Torta volta para casa)
Moura Torta – Não é possível. Eu não entendo! Afinal, eu sou linda
ou horrorosa? (Para a plateia) Esse espelho só pode ser cego! Como
pode não refletir a minha beleza como o espelho d’água? Raios, raios,

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raios... (Moura Torta volta ao poço, e ao olhar a água, vê novamente


a imagem de Rosaflor) Aqui estou eu linda como sempre, linda como
um sonho! (Rosaflor não se contém mais e ri um pouco alto) O quê?
Quem está rindo de mim? (Olhando para o alto) Então era você, linda
menina? Era a sua imagem que eu via toda vez que me olhava no
espelho d’água? Você estava fazendo uma brincadeira comigo, mas
tenho certeza de que você não fazia por maldade. O que você está
fazendo aí sozinha em cima dessa árvore?
Rosaflor – Eu... Eu espero o príncipe Eduardo, que foi buscar roupas
para mim e uma carruagem e uma comitiva...
Moura Torta – E o que esse príncipe quer de você?
Rosaflor – Ele prometeu me levar para o castelo e casar-se comigo.
Moura Torta – Vai se casar com você? Ele prometeu? Mas você não
pode receber o príncipe com esse cabelo todo despenteado desse
jeito! Deixe que eu suba aí para ajeitar seus cabelos...
Rosaflor – Eu não sei...
Moura Torta – Ora, minha querida, você não quer estar linda para
seu príncipe Eduardo? Então deixe eu cuidar disso...
Rosaflor – Está bem. Que mal poderia haver nisso? A senhora parece
uma velhinha muito caridosa! Obrigada. Eu vou ficar mais bonita, e
quando o príncipe chegar... (Moura Torta sobe na árvore e começa a
acareciar os cabelos de Rosaflor)
Moura Torta – Mas que lindos cabelos... E que cheiro tão bom... Pa-
rece cheiro de rosa!
Rosaflor – E é cheiro de rosa mesmo! Até agora há pouco, eu era
uma rosa!

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Moura Torta – Uma rosa? Mas como pode ser isso, menina?
Rosaflor – Eu e minhas irmãs fomos enfeitiçadas por uma bruxa mal-
vada. Ela roubou a nossa beleza, e com inveja, nos aprisionou dentro
de três laranjas.
Moura Torta – Mas que crueldade. Isso não se faz! (Mudança de luz.
Moura Torta fala à parte) Raios, raios... Ninguém tem o direito de des-
fazer feitiço meu. Minha vingança será pior ainda! (Tira um alfinete
de prata que trazia escondido, e num gesto violento, enfia entre os
cabelos de Rosaflor) Seja linda agora, Rosaflor! Seja linda! Você gosta
de se esconder entre os galhos e rir dos outros? Então os galhos serão
sua morada agora. (Dá uma gargalhada. Entre fumaça e um efeito de
luz, Rosaflor se transforma em um pássaro azul) Agora seu príncipe
será meu! Não tenho a beleza, mas terei todos os direitos de uma
princesa! Luxo e poder. E você, a partir de hoje, não passará de um
pássaro sem graça. Ninguém nunca ouvirá sequer o seu canto, e suas
asas não te darão liberdade para voar mais que alguns metros. (Mou-
ra Torta toma o lugar de Rosaflor em cima da árvore, e o pássaro azul
dança no palco uma coreografia demonstrando toda a sua tristeza)

(Trombetas anunciam a chegada do Príncipe Eduardo que vem acompa-


nhado de nobres e criados. Ao ver a Moura Torta no alto da árvore fala:)
Eduardo – O que é isso? O que aconteceu com Rosaflor? Onde está
a linda jovem perfumada que deixei aqui antes de partir?
Moura Torta – Rosaflor sou eu, meu amor! A Moura Torta se apro-
veitou de sua ausência e me enfeitiçou. Ela roubou minha beleza mais
uma vez. Que desgraça! A minha sorte é que você prometeu casar-se
comigo. Você é um príncipe, seu sangue é nobre, e você não seria

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capaz de quebrar uma promessa feita. Case-se comigo, meu príncipe.


Case-se comigo! Você prometeu! (Eduardo fica desconsolado, cheio
de mágoa e vergonha. O pássaro azul faz alguns movimentos como
quem quer contar o que de fato aconteceu, mas Eduardo, de cabeça
baixa, não sente a presença do pássaro azul)
Eduardo – Sou um homem de bem e jamais deixaria de cumprir a
promessa feita. Se esse é o meu destino, dele não posso fugir. Vistam a
princesa com o mais belo vestido e voltemos ao palácio onde todos es-
peram, ansiosos, para a cerimônia do nosso casamento. (Corte de luz)

(No palácio. Volta a cena anterior)


Princesa – Eu fui egoísta. Eu criei uma grande rachadura em nosso
reino. A culpa é somente minha. E agora eu sei que preciso repa-
rar meu erro e me casar amanhã e, então chegamos a questão do
meu noivado. Eu decidi fazer o que é certo. (A Rainha aparece
fazendo mímica em favor da princesa) E... E... Quebrar a tradição.
Minha mãe, a rainha, sente, em seu coração, que, que nós somos
livres para escrever nossa própria história e seguir nossos corações
e encontrar o amor. A rainha e eu passamos a decisão a vocês no-
bres. Não poderiam esses jovens decidirem por si mesmos quem
vão amar?
Rei Juan Carlos – Já que obviamente estão decididas. Eu só tenho
uma coisa a dizer, isso é um...
Príncipe Afonso – Ela tem razão. É nosso direito escolhermos nosso
destino!
Rei Ricardo – O quê?
Príncipe Frederico – Sim, porque não poderíamos escolher!

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Rei Augusto I – Mas ela é uma princesa!


Príncipe Alexandre - Dizem que o nosso destino está ligado a nossa
terra. Que ele é parte de nós assim como nós somos dela.
Príncipe Afonso – Outros dizem que o destino é costurado como um
tecido em que a sina de um se interliga a de muitos outros
Príncipe Frederico – É a única coisa que buscamos. Ou que lutamos
para encontrar. Alguns não encontram o destino, mas outros são le-
vados a ele. Eu abro mão de casar com a Princesa Carolina!
Príncipe Alexandre – Eu também quero ser livre para encontrar al-
guém que ame de verdade!
Príncipe Afonso – Princesa Carolina, se depender de mim, você será
livre para encontrar seu “próprio” destino!
Rei – Viva a Princesa!
Todos – Viva!
Rei – Viva o destino!
Todos – Viva!
Rei – Viva o amor!
Todos – Viva!
Rei – E por falar em amor, eu estou ansioso para conhecer minha
futura nora! O Príncipe Eduardo disse que sua beleza e seu perfume
jamais foram vistos por esse reino e por nenhum outro!
Rainha – Só a beleza não é tudo. Espero que ela também seja uma
moça prendada. Que saiba bordar e costurar. Que saiba se portar em
público e que tenha boas maneiras.

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A Moura Torta e o Pássaro Azul

Carolina – Vou ganhar uma cunhadinha! Tomara que ela goste de


música, de esportes radicais e...
Rei e Rainha – CAROLINA...
Carolina – Desculpem... Tenho certeza de que vamos nos entender
muito bem.
Arauto – (Anunciando) O Príncipe Eduardo e a Princesa Rosaflor!
(Todos aplaudem e, quando a Mora torta aparece, todos ficam hor-
rorizados)
Rei – Meu filho, onde está a princesa Rosaflor que tanto falava?
Rainha – Eduardo, deixe de brincadeiras e mostre o verdadeiro rosto
de sua amada princesa!
Carolina – (À parte) Que princesa mais feiosa!
Eduardo – Majestade, aconteceu uma tragédia. Rosaflor foi enfeiti-
çada mais uma vez pela Moura Torta que roubou sua beleza. Somos
a família real, somos justos e cumpridores de nossas promessas. Não
vamos deixar a princesa sofrer mais que o destino cruel já lhe impôs.
Rei – Eduardo, meu filho. Você deu a última prova de que, precisava
para ser o verdadeiro sucessor da minha coroa. Senhoras e senhores aqui
presentes, é com imenso prazer que oficializo o casamento do príncipe
Eduardo com a Princesa Rosaflor. (Todos aplaudem. Música e corte de
luz. O pássaro azul dança mais uma vez, demonstrando seu desespero)
Moura Torta – (Sentada sendo penteada pela aia) Ai! Cuidado com
meus cabelos sua aia idiota. Pensa que meus cabelos são uma bucha
de coco como os seus? Vocês, empregados, têm inveja de mim e da
minha beleza. Saia, saia sua bruxa. (Dá uma gargalhada) Quero outro
par de sapatos imediatamente. (Gritando) Esse não, sua incompe-

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tente. Quero o outro! Calça direito, sua desajeitada. Não sabe fazer
nada! (Chuta a aia que cai no chão) Some, some daqui! Bando de
invejosas. Despeitadas! Não se conformam por não terem a minha
beleza. (Corte de luz)
Eduardo – (Passeando pelo jardim) Maldita Moura Torta! O que fez
com minha amada? Como pôde roubar sua beleza? Como pôde
transformar o seu espírito, sua alma? Rosaflor, ontem, tão delicada,
tão meiga, tão pura e, hoje, tão grosseira, tão má. Como poderei
governar com equilíbrio vivendo ao lado de uma esposa como essa?
(O pássaro azul dança próximo a Eduardo transmitindo paz e sereni-
dade. Quando Eduardo tenta pegar o pássaro azul, ele foge)
Eduardo – (Chamando) Jardineiro!
Jardineiro – Sim, senhor.
Eduardo – Prepare um laço com uma corda e coloque um punhado
de alpiste pra prendermos o Pássaro Azul. Quero mantê-lo sempre
por perto. Na presença dele, pelo menos por alguns momentos, con-
sigo esquecer a minha desgraça. (Sai)
Jardineiro – Agirei com cuidado e eficiência senhor. (O jardineiro
prepara o laço, e o Pássaro Azul dança, mas não pisa dentro do laço
e sai. O jardineiro prepara um novo laço com fios de prata e coloca
ração. O Pássaro Azul aparece, dança, mas não pisa dentro do laço)
(No palácio)
Jardineiro – Perdão, Alteza, mas não foi possível capturar o Pássaro
Azul. Se Vossa Alteza quiser, posso derrubá-lo com uma flecha!
Eduardo – Não! Nunca faça isso com nenhum pássaro. Deixe-os ficar
em liberdade. Ele pelo menos me acompanha quando sente que es-

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tou triste. Não quero que ninguém toque nele. Vá e avise aos outros.
(O Pássaro Azul dança, e Eduardo aproxima-se lentamente. Quando o
Pássaro Azul percebe sua presença, para de dançar e tenta fugir)
Eduardo – Espere! Não fuja! Não tenha medo. Eu jamais machucaria
você. Você é a minha melhor companhia depois que minha amada Ro-
saflor se foi. Eu sinto que algo em você nos une de alguma forma. Até
parece que já conhecia você há muito tempo. Venha até aqui. Deixe-me
fazer um carinho (O pássaro azul aproxima-se, e Eduardo acaricia-lhe
o rosto). Que lindo, que macio, que azul! E tem perfume de flor. Que
coincidência! Parece que está chorando, mas pássaros não choram...
(Faz um carinho na cabeça do pássaro e encontra um alfinete de prata).
O que é isto? (Puxa o alfinete, por entre a fumaça e um efeito de luz, o
pássaro azul se transforma em uma linda mulher que é Rosaflor).
Eduardo – Rosaflor!
Rosaflor – Eduardo! Você me salvou mais uma vez! Nunca mais que-
ro me separar de você, mas ainda temo outro feitiço da Moura Torta.
Eduardo – Ninguém mais poderá impedir de vivermos o nosso grande
amor. Venha. Vamos ao palácio desfazer o meu casamento com a Mou-
ra Torta e encontrar uma maneira de prender essa feiticeira. (saem).
(No palácio. Moura Torta olha-se no espelho)
Moura Torta – Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do
que eu? Quem cala, concorda. Eu já sabia que eu sou a melhor e a
mais bonita e a mais sortuda do reino por ter casado com o príncipe
Eduardo. Aia, venha pentear meus cabelos, mas, se eu sentir alguma
dor, vou transformá-la em uma cobra cascavel. (Rosaflor entra vestida
de aia e começa a pentear Moura Torta).
Rosaflor - Seus cabelos estão lindos, senhora!

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Moura Torta – Eu já sei disso. Intrometida! Não fique querendo ba-


jular-me. Conte-me uma estória.
Rosaflor – Era uma vez uma feiticeira muito invejosa que odiava a
beleza porque era muito feia. Um dia ela encontrou três lindas irmãs
e as aprisionou dentro de três laranjas. Mas o bem triunfou, o feitiço
foi quebrado, e uma das irmãs foi libertada. Quando a feiticeira des-
cobriu a quebra do feitiço, ficou cega de ódio. Conseguiu enganar a
menina passando-se por uma velhinha caridosa e enfiou um alfinete
de prata nos cabelos da jovem, transformando-a em um pássaro azul.
Moura Torta – Espere, eu estou reconhecendo essa história! Como
se atreve?
Rosaflor – A moça enfeitiçada duas vezes se chamava Rosaflor.
Moura Torta – Pare, sua aia atrevida!
Rosaflor – O alfinete foi retirado pelo príncipe Eduardo e é esse que
agora enfio entre seus cabelos. O feitiço virou contra a feiticeira, e
a maldição virá em dobro (Rosaflor enfia o alfinete na Moura Torta,
e entre uma fumaça e efeitos de luz, transforma-se em um pássaro
negro. Entra em cena uma jaula onde o pássaro negro é aprisionado)
Arauto – (Anunciando, no palácio os convidados esperam a família real)
O rei e as rainhas da Morôvia!
O príncipe Henrique e a princesa Rubraflor!
O príncipe Felipe e a Princesa Brancaflor!
A princesa Carolina e o príncipe Alberto (Um roqueiro)
O príncipe Eduardo e a princesa Rosaflor

(Todos dançam a grande valsa)


FIM
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Atividades
Uma vez, numa excursão do Grupo Teatral Comédia Cearense, o contra-regra,
o saudoso “Muriçoca”, tinha guardado, no caminhão, o cenário e os objetos de
cena. Então perguntou a Helder Ramos, cenotécnico já falecido: está faltando
alguma coisa? Ouviu de Helder, que era brincalhão, a seguinte resposta: está
faltando trazer o proscênio. O “Muriçoca”, então, passou vários minutos procu-
rando o proscênio para levar no caminhão.
Imaginem, arrancar o proscênio do teatro! Para não sofrer esse tipo de brinca-
deira, fiquem informados!

Alguns termos são indispensáveis ao vocabulário das pessoas que fa-


zem teatro.

Preencha os espaços com a palavra correta

DRAMATURGIA * MONÓLOGO * CACO * FUGA * ADEREÇO *


PONTO * MARCAÇÃO * ROTUNDA * BATIDAS DE MOLIÈRE *
SKETCH * AFINAÇÃO * ENSAIO * PROSCÊNIO * COXIA * MERDA
* ATOR * FIGURINISTA * MÍMICA * DICÇÃO * CENOGRAFIA * BIFE
* PRODUTOR * DRAMATURGO * DEIXA * PANTOMIMA * CONTRA-
REGRA * FIGURINO * DIRETOR * PONTA * MAMBEMBE

1. _________________________________________________
Em termos gerais, enfeite, adorno. Em teatro, objetos de uso pes-
soal do personagem, tais como leque, jóias, óculos, armas, etc. O
termo é usado, também, como sinônimo de acessório.

2. _________________________________________________
A operação de ajuste de qualquer peça de cenário ou do equipa-
mento de iluminação, visando a precisão na distância, e na intensi-
dade dos focos dos refletores.

213
3. _________________________________________________
Literalmente, o agente do ato. O intérprete do personagem de fic-
ção, ou seja, aquele que dá forma e vida ao personagem do drama.

4. _________________________________________________
Pancadas ritmadas dadas no chão do palco pelo contra-regra com a
finalidade de avisar o público do início da apresentação. Posterior-
mente, o som da campainha elétrica ou o apagar das luzes da platéia
fez que as _____________________________ caíssem em desuso.

5. _________________________________________________
Gíria. Significa um trecho mais ou menos longo de texto a ser interpre-
tado por único ator. Usa-se no sentido de boa oportunidade para o ator,
donde a expressão “ter um bom ______________________________”
significa ter uma boa oportunidade.

6. _________________________________________________
Gíria. Pequena improvisação verbal feita pelo ator durante o espe-
táculo. O _______________________ pode visar o efeito cômico ou
simplesmente superar uma situação de erro.

7. _________________________________________________
A arte e a ciência da criação do cenário.

8. _________________________________________________
Aquele que administra o palco durante ensaio e apresentação. É
encarregado da localização das peças móveis do cenário, acessó-
rios e demais elementos cênicos.

214
9. _________________________________________________
Parte da caixa do teatro localizada nas laterais do palco, destinada
ao trânsito dos atores nas entradas e nas saídas de cena bem como
os operários que executam as mudanças de cenários. Também cha-
mada bastidores.

10. _________________________________________________
Qualquer indicação visual ou sonora que permite ao ator iden-
tificar o momento de entrar, falar ou agir em cena. O tipo mais
comum de ____________________________ consiste nas últimas
palavras de cada fala do diálogo.

11. _________________________________________________
Em termos gerais, a maneira de dizer as palavras, visando, espe-
cialmente, à clareza de seus significados.

12. _________________________________________________
Aquele que cria o espetáculo teatral. A figura do ____________
_____________________________ como elemento hegemônico
no processo de criação teatral surgiu na segunda metade do sé-
culo XX, quando a linguagem cênica, fortalecida com o advento
da luz elétrica, encontra-se suficientemente amadurecida para
expressar, por si só, a carga de subjetividade requerida pela nar-
rativa dramática.

13. _________________________________________________
A arte, a ciência e a técnica de escrever peças de teatro.

215
14. _________________________________________________
Aquele que escreve drama.

15. _________________________________________________
Cada um dos encontros realizados pela equipe de técnicos e artis-
tas de uma determinada produção teatral, durante a fase de pre-
paração do espetáculo. Nos ______________________________,
atores e técnicos treinam e experimentam seus respectivos ins-
trumentos no sentido de estabelecer uma forma definitiva que
integrará o resultado final da apresentação.

16. _________________________________________________
Aquele que cria, projeta e supervisiona a execução dos figurinos
ou indumentária.

17. _________________________________________________
Nome dado a cada uma das peças ou o conjunto de trajes de uma
determinada produção teatral. O mesmo que indumentária e, no
sentido coletivo, que guarda-roupa.

18. _________________________________________________
Em cenografia, o espaço destinado à passagem dos atores para
saídas e entradas em cena. Uma ____________________________
caracteriza-se por não ser visível aos olhos do público.

19. _________________________________________________
Termo popular brasileiro para designar a atividade teatral itineran-
te de grupos de segunda categoria.

216
20. _________________________________________________
Dentre os recursos da linguagem cênica, aquele que se refere ao
deslocamento do ator. A ________________________________
engloba todos os movimentos executados pelo personagem, in-
clusive entradas e saídas de cena. Independentemente de estilo, a
_______________________________ resulta basicamente da von-
tade e das emoções dos personagens.

21. _________________________________________________
Gíria usada entre os atores, na França e no Brasil, para desejar
boa sorte antes do espetáculo. corresponde à expressão norte-
-americana break a leg.

22. _________________________________________________
Termo empregado em duas acepções diferentes. Primeiro, como
sinônimo de solilóquio, ou seja, como verbalização do que se
passa na mente do personagem, seja relato, seja expressão de
emoção, reflexão, decisão. Nesse sentido, pode-se falar no “Ser
ou não ser” como ______________________________ do Ha-
mlet. A segunda acepção, que parece ser a mais apropriada,
refere-se a um tipo de peça de teatro estruturada em torno de
um único personagem.

23. _________________________________________________
Espetáculo teatral do período do Teatro Romano. Tal espetáculo
consistia na reapresentação, através de gestos e movimentos, de
pequenas cenas baseadas na história e na mitologia. Essas cenas
eram acompanhadas por um coro que descrevia os acontecimen-

217
tos. Na França, a palavra __________________________________
foi usada para denominar as peças em que apareciam o persona-
gem do Pierrô. Modernamente, os termos ___________________
________________________ e a mímica são usados praticamente
como sinônimos.

24. _________________________________________________
A linguagem da ____________________________________ mo-
derna é exclusivamente de gesto, expressão facial, figura e mo-
vimento, e sua temática humanista é apresentada por meio de
atmosferas de graciosa poesia e humor.

25. _________________________________________________
Gíria. Papel pequeno, geralmente sem qualquer fala.

26. _________________________________________________
Aquele que, antigamente, lia, em voz baixa, as falas que deviam
ser repetidas em voz alta pelo ator. O ________________________
______________ ficava instalado num alçapão localizado no cen-
tro-baixo do palco, escondido do público por uma proteção curva
que ajudava a projetar o som de sua voz para o fundo da cena.

27. _________________________________________________
O responsável pela parte administrativa e financeira de uma pro-
dução teatral. O termo é também empregado para designar aque-
le que patrocina ou subvenciona um espetáculo.

218
28. _________________________________________________
Nos teatros com palco italiano, a parte do palco localizada entre
a boca de cena e a platéia. Com a evolução arquitetônica que
desembocou na criação da boca de cena, a área da cena propria-
mente dita passou a obrigar todo o espetáculo, perdendo, então,
o _______________________________________ sua importância.
No século XX, devido à técnica e às teorias que revalorizam a
relação direta entre o ator e o espectador, como a do distancia-
mento, o ______________________________ passou a ser visto
novamente como um espaço cênico importante.

29. _________________________________________________
Cortina, geralmente de cor preta, que cobre todo o fundo do pal-
co. Conjugada a três ou quatro rompimentos, forma um espaço
cênico, que é a imagem mais próxima possível da neutralidade.

30. _________________________________________________
Cena de caráter cômico, de curta duração, geralmente parte de
um ato de variedades ou de revista musical. O Novo Dicionário
de Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda, registra a
palavra em sua forma abrasileirada: esquete.

219
Recorte, monte o quebra-cabeça colando na página seguinte e pinte.

221
223
Adereço: em termos gerais, enfeite, adorno. Em teatro, objeto de
uso pessoal do personagem, tais como gravata, chapéu etc. O termo
é usado também como sinônimo de acessório. Encontre no diagrama
de letras os nomes de alguns adereços que poderiam ser utilizados
na montagem dos espetáculos. (bengala, aliança, flor, óculos, cartola,
gancho, pena, pandeiro, chicote, lenço, espada)

U A X C A R T O L A
W E A B L O I W E U
E A S E R R A T N E
Q G A N C H O A Ç S
A U Y G E S V S O P
J O M A L I A N Ç A
E N E L A F C X A D
T E N A K L H Z N A
A J U D M O I J Q R
E Z M A E R C K I A
H I R O L D O N E O
O C U L O S T V L D
Y M P A N D E I R O

225
Sonoplastia: Qualquer som ou ruído relacionado ao enredo de uma
peça de teatro, produzido mecânica ou eletronicamente dos bastido-
res. Tais sons podem ser o de campainhas e batidas de portas; ruídos
de vento; tiros e música. Que tal experimentar ser um compositor e
escrever uma letra de música para servir como fundo musical para
a cena que Victor está ao piano na peça A Noiva Cadáver. Pode ser
também uma paródia. (Imitação cômica de uma composição literária)

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Descubra e marque os sete erros nessa cena do Peter Pan.

227
Chegou a hora de inventar a sua própria história! Pinte, recorte e
misture os personagens das histórias: A Noiva Cadáver, Peter Pan, O
Corcunda de Notre Dame, A Moura Torta e O Pássaro Azul e Os Três
Mosqueteiros. Monte uma maquete com cenário e conte sua história
para seus amigos!

Maquete feita por um aluno com a história dos Três Mosqueteiros.

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Editora

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