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“A Igreja do Diabo”:

Machado de Assis, um leitor de Fausto


LÍVIA MARIA DE OLIVEIRA*
MARIHÁ MICKAELA NEVES RODRIGUES LOPES**

Resumo: A “eterna contradição humana” que compõe o conto “A Igreja do Diabo” e diversas outras obras
de Machado de Assis, que sempre buscou problematizar e debater as questões humanas, é presente desde
os primórdios, afinal existe um caráter de dualidade que percorre a cultura e a religiosidade de tempos em
tempos. Nesse sentido, esse conto machadiano revela-se como uma representação satírica da condição do
homem, dual, cheio de vazios, essencialmente subversivo. Considerando a relação dialógica entre
Machado de Assis e Goethe, com sua célebre obra Fausto, analisamos o conto machadiano, publicado no
livro Histórias sem data (edição de 1994), evidenciando a ambiguidade da condição humana, a figura do
diabo, a relação intertextual entre os autores e a carnavalização da literatura, de Bakhtin. A carnavalização
alcançada nesse conto machadiano relativiza as verdades universais e aponta para a problematização
humana, pautada nos ideais de obrigação e desejo. O Diabo, logrado ao final da narrativa, não passa de
uma figura de compaixão, confirmando que o ser humano é mais complexo do que as divindades podem
esperar. Com esse trabalho, observou-se que a atualidade de Goethe floresceu na obra machadiana e traz
reflexos para as discussões em diversas áreas humanas na contemporaneidade.
Palavras-chave: Goethe; Relação dialógica; Carnavalização; Diabo.
Abstract: The “eternal human contradiction” that composes the short story “A Igreja do Diabo” and
several other works by Machado de Assis, which has always sought to problematize and debate human
questions, has been present since the beginning, after all there is a duality character that travels through
culture and religiosity from time to time. In this sense, this Machadian tale reveals itself as a satirical
representation of the human condition, dual, full of emptiness, essentially subversive. Considering the
dialogical relationship between Machado de Assis and Goethe, with his famous Faust, we analyzed the
Machadian tale, published in the book Histórias sem data (1994 edition), showing the ambiguity of the
human condition, the figure of the devil, the intertextual relationship between the authors and the
carnavalization of literature, by Bakhtin. The carnivalization reached in this Machadian tale relativizes the
universal truths and points to the human problematization, based on the ideals of obligation and desire.
The Devil, achieved at the end of the narrative, is no more than a figure of compassion, evidencing that the
human being is more complex than the deities can expect. With this work, it was observed that the
actuality of Goethe flourished in the Machadian work and brings reflections to the discussions in diverse
human areas in the contemporaneity.
Key words: Goethe; Dialogical relationship; Carnavalization; Devil.

*
LÍVIA MARIA DE OLIVEIRA é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos
Literários pela Universidade Federal de Uberlândia.

**
MARIHÁ MICKAELA NEVES RODRIGUES LOPES é mestranda do Programa de Pós-
Graduação em Estudos Literários pela Universidade Federal de Uberlândia.
Esse artigo é um trabalho de conclusão da disciplina Seminários em Literatura e outras artes, ministrada
pela profa. Kênia Pereira e pelo prof. Luiz Arantes do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários
da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

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1. Introdução contradição se pauta nas noções de
obrigatoriedade e de desejo: na
O diabo na sociedade ocidental realização de uma noção, evidencia-se a
corresponde ao adversário da divindade. necessidade humana de aparição da
Considerando que no cristianismo a outra.
divindade é totalmente boa, havia a
necessidade de conciliar isso com a Essa “eterna contradição humana”
queda do homem e o juízo final, (ASSIS, 1884) que compõe o conto “A
representados pela figura da entidade igreja do diabo” e diversas outras obras
maligna. Segundo Carlos Roberto de Machado de Assis, que sempre
Nogueira, em O Diabo no Imaginário buscou problematizar e debater as
Cristão (1986), no final da Idade Média, questões humanas, é presente desde os
o diabo era a figura principal, primórdios. Vale ressaltar, como dito
juntamente com a peste negra. Com o por Krishnamurti (1949), que essa
Iluminismo, a religiosidade deixa de ser condição do ser humano sempre existirá,
coletiva e passa para o campo da pois em nossa sociedade há uma
individualidade. Já no Romantismo, entidade, um censor, que interpreta e
existia a necessidade de brincar com o qualifica nossas ações, sendo definidas
mal e com o diabo, sob um viés de de modos diferentes, e essas opiniões
rebeldia (NOGUEIRA, 1986). diversas geram conflitos e, portanto,
dualidade.
[…] a rebeldia e a irreverência
também são formas de manifestação Nesse sentido, esse conto machadiano
do Satanismo, tanto é que Satã foi o revela-se como uma representação
primeiro ser a rebelar-se contra o satírica da condição do homem, dual,
poder instituído, tornando-se um cheio de vazios, essencialmente
expatriado, eternamente subversivo. Considerando a relação
transgressor e irreverente. Como diz dialógica entre Machado de Assis e
o ditado popular, o diabo não é tão
Goethe, com sua célebre obra Fausto,
feio como o pintam, ele encarna o
desejo de liberdade e de rebeldia analisaremos o conto machadiano,
latente dentro de cada um de nós. publicado no livro Histórias sem data
Transferimos para o diabo a nossa (edição de 1994), evidenciando a
vocação para o mal. Encontramos ambiguidade da condição humana, a
nele um aliado perfeito a nos apoiar figura do diabo, a relação intertextual
contra a mão ferrenha do onipotente entre os autores e a carnavalização da
(CAVALCANTE, 2004, p. 3). literatura, de Bakhtin.
E é a partir dessa perspectiva de rebeldia 2. Machado de Assis: um leitor de
que Goethe cria sua obra literária mais Fausto
célebre: Fausto.
Segundo o Maniqueísmo, o Bem e o
Observa-se, nessas primeiras Mal são constituintes do mundo, são
considerações, um caráter de dualidade princípios ontológicos, ou seja, fundam
que percorre a cultura e a religiosidade todas as coisas. Logo, o pecado não é
de tempos em tempos. Machado de um desvio, mas fruto de um mal que
Assis, coadunando com essa dualidade, constitui nossa essência, sendo um
afirmou no século XIX que existe uma grande reflexo da nossa condição
eterna contradição humana. Tal humana, composta pelos dois extremos.

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Para Simone de Beauvoir (1947), em Por vezes, vamos contra os tabus para
Por uma Moral da Ambiguidade, a provarmos estar vivos, desse modo
ambiguidade é reflexo da condição confirma-se a essência dual do homem,
humana, que é naturalmente ambígua. que pratica atos considerados restritos.
“Essa ambivalência se acha, em maior
Nesse sentido, a natureza do homem
ou menor grau, na constituição de todo
apresentada nas escrituras é dicotômica,
indivíduo” (FREUD, 2013, p. 58).
a dualidade, então, aparece desde a
nossa criação. O homem (formado por O bem e o mal coexistem na
corpo e alma) vive na luta constante humanidade, “todo 'vir-a-ser' implica
entre desejo e razão; assim ocorreu com 'não-vir-a-ser', e enquanto existir vir-a-
Adão e Eva, precisamente, o desejo ser existirá dualidade, com o seu
sobressai como marca humana, pois conflito infindável”
fomos gerados por ele, fato que não (KRISHNAMURTI, 1949, p. 23). O
pode ser negado. Em narrativas bíblicas desejo gera a dualidade, essa busca pela
encontramos marcas desta dualidade: “E satisfação e prazer nos coloca em
formou o Senhor o homem do pó da contato com tabus e com o Outro. A
terra e soprou nas suas narinas o fôlego dualidade é representada, especialmente,
da vida, e o homem foi feito alma quando nota-se que o desejo quase
vivente” (Gênesis. 2.7, grifos nossos). sempre se vincula ao proibido:
Com o surgimento da psicanálise, [...] nasce o desejo de refreá-los,
verificou-se essa questão. Ora, se a com seu próprio tipo de vontade.
Assim, há conflito entre a vontade
essência do humano é a dualidade, logo,
expansiva e a vontade de reprimir.
somos compostos pelo desejo e pela Esse conflito tanto pode criar
negação; a contradição compõe o compreensão, como confusão e
humano. Nesse sentido, como forma de ignorância. A vontade expansiva e a
domar os desejos, surgem os tabus, os vontade de reprimir são a causa da
quais se caracterizam como “o mais dualidade, fato que não pode ser
antigo código de leis não escritas da negado (KRISHNAMURTI, 1940,
humanidade. Considera-se geralmente p. 102-103).
que o tabu é mais antigo que os deuses e Nesse sentido, veremos adiante que o
remonta a épocas anteriores a qualquer conto de Machado de Assis ocorre como
religião” (FREUD, 2013, p. 13). uma representação satírica da condição
Inicialmente a punição para quem do homem, dual, cheio de vazios,
violava um tabu era a instância interior, essencialmente subversivo, logo, pode-
por efeito automático, esse vingava a si se afirmar que o homem se constitui e se
mesmo. Posteriormente, quando surge reconhece na transgressão, que é
uma ideia sistemática da religião, do característica humana.
divino, o tabu associa-se a ela e a O autor Joaquim Maria Machado de
punição passa a ser divina. Assis, mais conhecido como Machado
O tabu consiste nas restrições que os de Assis, foi um jornalista, contista,
povos se submetem. Essas, na maioria cronista, romancista, poeta e teatrólogo.
das vezes, cerceiam a “capacidade de Nasceu no Rio de Janeiro, capital, em
fruição, a liberdade de movimento e 1839 e faleceu, na mesma cidade, em
comunicação” (FREUD, 2013, p. 16). 1908.

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De família humilde, foi criado no Morro Existe uma relação dialógica entre
do Livramento, enfrentou muitas Machado de Assis e Goethe. Este
dificuldades nos estudos e em 1854 último, vivendo entre 1749 e 1832, é
lançou sua primeira obra, um soneto, autor de uma obra considerada
que foi publicado em um jornal. Em universal, destacando-se com a escrita
1856, juntou-se à Imprensa Nacional de Fausto, representante do mito da era
para aprender o ofício de tipógrafo; em moderna. Tal obra foi baseada em um
1858, tornou-se revisor e colaborador de Fausto médico, mágico e alquimista que
outro jornal; e em 1860 compôs, a viveu entre 1480 e 1540, nomeado
convite de Quintino Bocaiúva, a redação Johann Georg Faust. Esse indivíduo
de um importante periódico do Rio de histórico foi acusado pela crença
Janeiro. popular de ter feito um pacto com o
diabo.
A partir disso, sua carreira de escritor
deslanchou e este começou a publicar, Na obra literária, Fausto é um homem
não só em jornais, mas também em voltado para as ciências que procura o
revistas, ensaios, críticas teatrais, peças, sentido da vida, pois já havia estudado
entre outras obras. Vale destacar que ele muito e de tudo, em um desejo ávido de
teve papel fundamental não só na superar os conhecimentos de sua época.
literatura, propriamente dita, mas na Na observância dessa característica de
história desta no Brasil. Foi um dos Fausto, Mefistófeles decide realizar uma
fundadores da Academia Brasileira de aposta com Deus:
Letras (ABL) e presidente por mais de O SENHOR
10 anos. Nesse sentido, a ABL muitas Viste Fausto?
vezes foi e é chamada de Casa de MEFISTÓFELES
Machado de Assis. O doutor?
SENHOR
A obra do autor abarca, praticamente, Sim, o meu servo.
todos os gêneros literários, perpassando MEFISTÓFELES
pela poesia, como em Crisálidas (1864) Servo teu? Guapo servo! O rei dos
e Falenas (1870); em consonância, parvos.
aparecem os contos – um deles será Seu comer e beber são do doutro
trabalhado por nós no presente trabalho mundo.
– entre eles Contos fluminenses (1870) e Pasce-se do fervor da cachimônia,
(...) em suma, é doido, e ele próprio
Histórias da meia-noite (1873) e
o suspeita. Ambiciona cá do céu as
diversos romances como Ressurreição estrelas mais formosas,
(1872), A mão e a luva (1874), Helena da terra gozos máximos. Nem
(1876) e Iaiá Garcia (1878). Desse perto, nem longe, vê, nem sonha,
modo, percebemos que o autor era em que se farte.
multifacetado e muito contribuiu com a O SENHOR
literatura brasileira. Porém, pode-se Por enquanto anda à toa; em breves
dizer que muitas obras machadianas não dias lhe darei a claridade.
podem ser alocadas em um gênero (...)
específico, pois o transcende; por isso MEFISTÓFELES
tão singulares são os escritos de Que vossa Majestade uma
apostinha?
Machado de Assis.
Verá se também este não se perde,

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uma vez que me deixe encaminhá- No século XIX, Machado de Assis inicia
lo. seus estudos de língua alemã, mais
O SENHOR precisamente em 1883. A obra prima de
Deixo, enquanto for vivo. Onde há Goethe servirá como influência para a
cobiças, é natural o errar. composição literária do escritor
(GOETHE, 2003, p. 39-40)
brasileiro. Existem referências claras à
obra goethiana em Quincas Borbas
Para alcançar seu próprio objetivo, (1891), em Esaú e Jacó (1904) e em
Fausto aceita estabelecer um trato com Memorial de Aires (1908). Além desses
Mefistófeles. O pacto dizia que, em romances, podemos observar uma
troca de respostas, Fausto aceitaria ceder retomada de Fausto no conto
sua alma ao diabo. No trecho seguinte, o machadiano intitulado “A Igreja do
Diabo em diálogo com Fausto se Diabo”, a ser analisado nesse artigo.
caracteriza como parte de uma força
que, ao se voltar para o mal, consegue Segundo Eloá Heise (2012, p. 15), a
também estabelecer o bem. Observa-se figura do diabo “merece um foco
nesse sentido o contraponto religioso em privilegiado no rastreamento da ligação
que bem e mal são faces de uma mesma de Machado com a tradição alemã”.
moeda: Além disso, a relação com outras
culturas traz uma consciência maior
FAUSTO
sobre a própria identidade cultural
Como te chamas?
nacional: “beber na fonte de valores
MEFISTÓFELES
universais enriquece o autor nacional
Ridícula pergunta para um sábio
sem o reduzir a um mero cronista do
que timbra tanto em desprezar
palavras, exotismo local” (HEISE, 2012, p. 18).
(...)
Essa relação intertextual, seja com a
MEFISTÓFELES crença popular, seja derivada da célebre
Quem eu sou? obra goethiana, coaduna com o que
Parte da força, que, empenhada no Samoyault (2008, p. 9) afirma sobre a
mal, o bem promove. literatura possuir “relação com o mundo,
mas também se apresenta numa relação
FAUSTO consigo mesma, com sua história, a
Não te percebo o enigma história de suas produções, a longa
(GOETHE, 2003, p. 109). caminhada de suas origens”. Nesse
sentido, a noção de independência e de
reprodução pura cai por terra ao
É importante considerar, nesse considerar que as relações intertextuais
momento, que essa obra de Goethe já trabalham em um sentido de influência
possui uma relação dialógica e recíproca.
intertextual com a narrativa oral sobre as
crenças populares. Além de Goethe, Em 1966, Julia Kristeva utilizou pela
outros escritores também apresentaram primeira vez o termo intertextualidade,
suas versões sobre o mito, como Dante,
determinado a partir dos estudos
em A divina comédia e Milton, em O bakhtinianos de dialogismo. O discurso
paraíso perdido. literário revela um diálogo textual, pois

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ocorre uma absorção de outros corpus Renascimento: o contexto de François
literários anteriores: Rabelais.
todo texto se constrói como um Na segunda obra, Bakhtin (1987)
mosaico de citações, todo texto é desenvolveu uma teoria a respeito da
absorção e transformação de um cultura cômica popular na Idade Média
outro texto. Em lugar da noção de e no Renascimento, analisando a obra
intersubjetividade, instala-se a Gargantua e Pantagruel, de François
intertextualidade e a linguagem Rabelais. Nessa obra literária, o escritor
poética lê-se pelo menos como francês renascentista ridicularizava a
dupla (KRISTEVA, 2005, p. 28).
religião oficial e o clero, desvalorizando
No processo intertextual, existe um os valores aristocráticos. Bakhtin
papel importante do leitor, afinal cabe a considerou que essa ação do escritor se
ele manejar o mosaico de citações, de pautava nas múltiplas manifestações do
modo a descobrir as relações riso.
estabelecidas pelo escritor, consoante O discurso carnavalesco tem como
seu conhecimento literário e de mundo, principal característica quebrar com as
bem como sua sensibilidade à repetição. leis que regem a sociedade e a política,
Existem algumas manifestações de modo a agir como um catalisador das
intertextuais, como epígrafes, culturas relegadas à margem. Esse
paráfrases, citações, paródias, pastiches, discurso tem referência ao carnaval
entre outros. Nesse sentido, a tradição é enquanto ritual. A transposição desse
retomada, relativizada e, ainda, negada, ritual para a literatura foi evidenciada
subvertida. como carnavalização da literatura.
Ainda sobre a intertextualidade, Jenny Na ação carnavalesca, a “vida [é]
(1979) evidencia o “efeito de eco”, uma desviada da sua ordem habitual,
vez que considera que a obra literária [representando] em certo sentido uma
está dentro de um sistema intertextual de ‘vida às avessas’, um ‘mundo invertido’
retomada para reafirmação ou para (‘monde à l’envers’)” (BAKHTIN,
negação. Além disso, com essa noção de 1981, p. 105). Nesse sentido, o mundo
intertextualidade, alarga-se a noção que se apresenta invertido e a ordem da vida
possuímos de texto: “A intertextualidade comum é revogada, bem como as
designa não uma soma confusa e normas e os valores são suspensos. Isso
misteriosa de influências, mas o trabalho comprova a legitimidade do discurso
de transformação e assimilação de enquanto inversão intencionada. Com o
vários textos, operado por um texto carnaval, a vida ganha espaço para se
centralizador, que detém o comando do representar de maneiras múltiplas, de
sentido” (JENNY, 1979, p. 14). forma a comprovar a relatividade das
verdades e das autoridades do poder.
Além da relação intertextual, é possível
Bakhtin (1981, p. 108) pontua: “é a vida
considerar, ainda, para a análise do
deslocada do seu curso habitual”.
conto machadiano o conceito de
carnavalização, delineado por Mikhail Considerando tais características, ainda
Bakhtin em Problemas da poética de é preciso apontar para o riso
Dostoiévski e aprofundado em A Cultura carnavalesco – de caráter coletivo e tom
Popular na Idade Média e no sério contra repressões, dirigido contra o

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supremo, de forma que sejam mudados deu por perceber que os seres humanos
os poderes, as verdades e a própria não cumpriam tudo o que pregava a
ordem mundial. “O carnaval é a festa do Igreja e acabavam o servindo também,
tempo que tudo destrói e tudo renova” por isso, resolveu “competir” com Deus,
(BAKHTIN, 1981, p. 107). A montando sua própria Igreja. Temos
carnavalização da literatura é, portanto, aqui o conflito humano maniqueísta.
vista como a subversão do discurso Diz, ainda, que sua Igreja será única por
oficial. se pautar na negação, afinal, temos
muitas vertentes religiosas, frutos de
É a partir desses olhares teóricos que
interpretações das histórias bíblicas: “Há
evidenciam a ambiguidade da condição
muitos modos de afirmar; há só um de
humana, a relação intertextual entre
negar tudo” (ASSIS, 1994, p. 2). Do
Goethe e Machado de Assis e a
abismo para o infinito azul, lembra que
carnavalização da literatura, de Bakhtin, precisa comunicar a Deus sua decisão de
que adentraremos o conto machadiano,
fundar uma Igreja, bem como desafiá-lo.
publicado no livro Histórias sem data,
Essa parte do conto machadiano
em 1844, porém, utilizaremos a edição
estabelece outra ligação com o texto de
de 1994.
Goethe, no que se refere à negatividade
O conto “A Igreja do Diabo”, que o Diabo aponta para si e para suas
estruturado em poucas páginas, ações:
organiza-se de um modo inesperado MEFISTÓFELES
para esse gênero textual: capítulos. Ao O Gênio sou que sempre nega!
todo, são quatro capítulos intitulados, o E com razão; tudo que vem a ser
que remonta aos textos religiosos. No É digno só de perecer;
capítulo I “De uma ideia merífica”, a Seria, pois melhor nada vir a ser
história tem início com certo mais.
distanciamento: “conta um velho Por isso, tudo a que chamais de
manuscrito beneditino...”. A Ordem de destruição, pecado, o mal,
São Bento ou Ordem Beneditina se Meu elemento é integral.
caracteriza como uma ordem religiosa (...)
católica baseada na observância dos FAUSTO
preceitos destinados a regular a Já percebo teu ofício, ilustre herói!
Nada de grande o teu furor destrói,
convivência comunitária.
Começas, pois, no que é pequeno
A partir dessa primeira passagem, que (GOETHE, 2003, p. 139-141).
dá início ao conto, podemos inferir que
o leitor está prestes a ler uma visão
O Capítulo II possui como título “Entre
parcial de um manuscrito. Alguém leu e
Deus e o Diabo”. Talvez seja nesse
está recontando – o que traz dúvida em
capítulo a intertextualidade mais
relação à veracidade dos fatos, mas em
explícita entre Machado e Goethe
muito nos relembra histórias bíblicas.
quando o Diabo diz: “Não venho pelo
Ficamos cientes de que a história é sobre vosso servo Fausto, respondeu o Diabo
um Diabo que decidiu fundar uma rindo, mas por todos os Faustos do
Igreja, por estar cansado e humilhado de século e dos séculos” (ASSIS, 1994, p.
ser uma figura secundária e viver dos 3). E comunica o desejo de fundar uma
deslizes humanos. A ideia do Diabo se Igreja: “Vou edificar uma hospedaria

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barata; em duas palavras, vou fundar Homero; sem o furor de Aquiles,
uma igreja. Estou cansado da minha não haveria a Ilíada: "Musa, canta a
desorganização, do meu reinado casual e cólera de Aquiles, filho de Peleu..."
adventício” (ASSIS, 1994, p. 3). O mesmo disse da gula, que
produziu as melhores páginas de
Após o comunicado, Deus questiona por Rabelais, e muitos bons versos de
que só agora o Diabo pensou em fundar Hissope; virtude tão superior, que
uma igreja. E a resposta nos remete à ninguém se lembra das batalhas de
Luculo, mas das suas ceias; foi a
metáfora das franjas de algodão,
gula que realmente o fez imortal.
comparadas ao caráter humano Mas, ainda pondo de lado essas
contraditório. Outras retomadas à bíblia razões de ordem literária ou
são realizadas, como aos serafins de asas histórica, para só mostrar o valor
pesadas Miguel e Gabriel, bem como a intrínseco daquela virtude, quem
Abraão, Maomé e Lutero, no primeiro negaria que era muito melhor sentir
capítulo. Além disso, temos o início da na boca e no ventre os bons
construção da imagem do diabo como manjares, em grande cópia, do que
aquele que tudo nega, remetemo-nos à os maus bocados, ou a saliva do
paródia, à carnavalização. Deus, jejum? Pela sua parte o Diabo
cansado do discurso do Diabo, fala: prometia substituir a vinha do
Senhor, expressão metafórica, pela
“Vai, vai, funda a tua igreja” (ASSIS,
vinha do Diabo, locução direta e
1994, p. 4). verdadeira, pois não faltaria nunca
No Capítulo III “A boa nova aos aos seus com o fruto das mais belas
cepas do mundo. Quanto à inveja,
homens”, estando na terra, o Diabo
pregou friamente que era a virtude
tratou de se apresentar a todos, para principal, origem de propriedades
desmentir as histórias que as pessoas infinitas; virtude preciosa, que
contavam sobre ele: “Confessava que chegava a suprir todas as outras, e
era o Diabo; mas confessava-o para ao próprio talento” (ASSIS, 1994, p.
retificar a noção que os homens tinham 5, grifos nossos).
dele e desmentir as histórias que a seu
respeito contavam as velhas beatas” Havia uma nova ordem, tendo por base
(ASSIS, 1994, p. 4). Ele se diz o a troca de suas noções. Cortou, ainda,
verdadeiro pai, e se as pessoas viessem toda a solidariedade humana; o amor ao
para o lado dele, tudo ele daria. E as próximo era um obstáculo grave.
pessoas começaram a aparecer, de forma
que o Diabo estabeleceu sua doutrina, No Capítulo IV “Franjas e Franjas” –
com base nos sete pecados mortais: que faz referência ao capítulo II, a
previsão do Diabo metaforizada pela
[...] as virtudes aceitas deviam ser capa e pelas franjas ocorreu de maneira
substituídas por outras, que eram as satisfatória. As franjas podem ser
naturais e legítimas. A soberba, a consideradas como as arestas que
luxúria, a preguiça foram
precisam ser aparadas dentro da Igreja
reabilitadas, e assim também a
avareza, que declarou não ser mais de Deus, mas que são valorizadas na
do que a mãe da economia, com a Igreja do Diabo. Há aqui um princípio
diferença que a mãe era robusta, e a de carnavalização, cuja inversão dos
filha uma esgalgada. A ira tinha a valores é desejada. Pouco a pouco, o
melhor defesa na existência de Diabo foi conquistando todo o mundo.

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No entanto, começou a observar que que pode ser encontrado nesse conto. O
alguns fiéis estavam praticando as Diabo aqui, com forma e voz, se
velhas virtudes escondidos e algo o aproxima do humano por meio de sua
deixou incomodado: performatividade. Isso reflete no fato de
as pessoas se valerem de um sentimento
O manuscrito beneditino cita muitas
recíproco com a figura.
outras descobertas extraordinárias,
entre elas esta, que desorientou A religião hebraica serviu de inspiração
completamente o Diabo. Um dos para o surgimento de outras religiões,
seus melhores apóstolos era um
logo, através dessa que surgem as
calabrês, varão de cinquenta anos,
insigne falsificador de documentos,
primeiras representações do Deus
que possuía uma bela casa na monoteísta. Não havia, em seu início,
campanha romana, telas, estátuas, uma separação maniqueísta do mundo, o
biblioteca, etc. Era a fraude em Mal e o Bem habitavam o mesmo Deus,
pessoa; chegava a meter-se na cama o que funcionava como uma forma de
para não confessar que estava são. controle da população que deixava o
Pois esse homem, não só não politeísmo e seguia um novo caminho.
furtava ao jogo, como ainda dava Nesse período, já havia sido utilizado o
gratificações aos criados. Tendo termo “Demônio” “para designar os
angariado a amizade de um cônego, seres incorpóreos destinados à execução
ia todas as semanas confessar-se
da vontade de Deus, anjos – anggelos,
com ele, numa capela solitária; e,
conquanto não lhe desvendasse
como foram traduzidos em grego, isto é,
nenhuma das suas ações secretas, anunciadores” (NOGUEIRA,1986, p. 8).
benzia-se duas vezes, ao ajoelhar- Nesse sentido, não havia a ideia de
se, e ao levantar-se. O Diabo mal diabo e demônio bem estruturada. Com
pôde crer tamanha aleivosia. Mas a vinda do cristianismo, a noção de
não havia que duvidar; o caso era diabo aparece mais bem fundamentada e
verdadeiro (ASSIS, 1994, p. 6). é constituída através de inúmeras
referências, baseando-se, inclusive, na
Indo ter com Deus, depara-se com a
demonologia dos caldeus.
última afirmação, que constitui a
metáfora da eterna contradição humana: Sabe-se, então, que imagem do diabo foi
“— Que queres tu, meu pobre Diabo? constituída ao longo dos séculos e a
As capas de algodão têm agora franjas representação mais importante do mal
de seda, como as de veludo tiveram demoníaco aparece no livro de Jó
franjas de algodão. Que queres tu? É a (Antigo Testamento) em que Satan –
eterna contradição humana” (ASSIS, Satã – (que significa hostilizar, acusar,
1994, p. 7). caluniar – função do diabo, bem como
É revelando a dualidade da alma dos demais demônios), um dos filhos de
humana que o conto se encerra. Deus, levanta suspeitas de que Jó,
considerado o mais fiel destes, deveria
O termo diabo significa aquele que leva ser posto frente às tentações do mundo
o juízo. Na Idade Média, o Diabo para provar sua fidelidade. Desse modo,
representou algo a se temer e respeitar. Satã atormenta o fiel e faz com que a
Já na Modernidade, ele passou a ser algo desgraça recaía sobre o homem, o que
com o qual as pessoas se identificavam e conferiu a Satã o posto de “tentador,
se compadeciam. Esse último é o Diabo tornando-se o Diabo por excelência, em

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sua tradução grega Diábolos – isto é, espreitava, para agarrar o
aquele que leva a juízo – que desavisado (NOGUEIRA, 1986,
rapidamente se transformará na entidade p.35).
do Mal, no adversário de Deus” Considerando montar uma Igreja tendo
(NOGUEIRA, 1986, p. 9). No Novo como princípio a exploração da fraqueza
Testamento, o Diabo aparece como e do desejo humano, o Diabo trabalha e
símbolo do Mal. espreita. O momento do pacto, em que
O Diabo é acompanhado por uma legião Deus e o Diabo são apresentados lado a
de demônios, dos filhos rebeldes de lado, se apresenta sob o viés
Deus, eles são retomados pelo Antigo e maravilhoso, mas num sentido de
Novo testamento. aceitação, afinal ninguém questiona se
houve mesmo o diálogo entre essas duas
Durante e após o Cativeiro de entidades, bem como as pessoas não
Babilônia, os judeus entraram em
demonstram dúvida quando esse Diabo
contato com o masdeísmo persa,
influência determinante para a vem para a terra e se apresenta como
corporificação de uma demonologia qualquer outra pessoa. O pacto revela,
futura(...) conflito dos princípios do ainda, a dualidade humana entre o bem e
Bem e do Mal (NOGUEIRA, 1986, o mal. Além disso, Assis critica todas as
p.11). formas religiosas existentes no Brasil,
bem como o modo de comercializar a fé
Desse modo, criou-se a ideia através das vendas de conceito religioso.
maniqueísta de mundo e esse pano de A partir da ideologia da salvação, o
fundo dualista proporcionou à imagem homem é visto enquanto facilmente
diabólica grande importância. O cortejo manipulável e corruptível. A proposta
de criaturas demoníacas foi estruturado, do diabo é como um espelho invertido.
baseando-se também nas histórias dos Por não acreditar nas religiões de Deus,
caldeus e persas. aposta na negação, no contrário.
É o primeiro momento de glória de
Satã: a sua grandiosidade, negada Como já apontado, a ideia religiosa do
pelo Antigo Testamento, será Diabo é a própria negação e valorização
devidamente estabelecida pela do erro humano. Defende a inveja, a
literatura apócrifa e posteriormente gula, a preguiça, tudo com justificativas
reconhecida pelos Evangelhos e da história, das letras e das artes. As
pelo Apocalipse de São João, onde ações humanas que caracterizam a Igreja
Satanás assume o lugar de príncipe do Diabo coadunam com o ato de
das trevas, responsável pela carnavalização: “O carnaval é a festa do
perdição do gênero humano tempo que tudo destrói e tudo renova”
(NOGUEIRA, 1986, p. 14). (BAKHTIN, 1981, p. 107).
Logo, foram escritos textos que costuravam as histórias antigas e constituíam uma imagem bem definida do Mal
É preciso, ainda, considerar o riso
O Inimigo e miríades de demônios carnavalesco, pois possibilita que os
vagavam por toda parte, tentando e poderes sejam mudados, bem como as
corrompendo, explorando cada verdades e a ordem regente. No conto
fraqueza e desejo. Quanto mais belo machadiano, o Diabo, ao longo do pacto
e doce fosse um aspecto da vida, com Deus, traz uma passagem em que
sob a superfície, o Demônio
precisa engolir o riso:
sordidamente trabalhava e

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O Diabo sorriu com certo ar de é, por meio da voz e por meio da
escárnio e triunfo. Tinha alguma performance de seu corpo em ação, isto
idéia cruel no espírito, algum reparo é, por meio de si mesmo, desconstruir a
picante no alforje da memória, memória coletiva negativa que as
qualquer coisa que, nesse breve pessoas construíram sobre ele ao longo
instante da eternidade, o fazia crer
do tempo: “Confessava que era o Diabo;
superior ao próprio Deus. Mas
recolheu o riso (ASSIS, 1994, p. 3). mas confessava-o para retificar a noção
que os homens tinham dele e desmentir
Vale ainda evidenciar, em relação à as histórias que a seu respeito contavam
figura do Diabo, a performatividade que as velhas beatas” (ASSIS, 1994, p. 4). É
este possui tanto na obra de Goethe, na atualização dessa performance que
quanto no conto de Assis. De acordo ocorre o desejo de atualização da
com Paul Zumthor (2005), a voz é memória coletiva que as pessoas
bastante representativa na cultura, possuem acerca do Diabo.
revelando poder e valor. A voz é
caracterizada por meio do tom, do 3. Considerações finais
timbro, do alcance, da altura e do
registro, de modo a possuir presença. Segundo Heise (2012), tanto Goethe
Assim, a palavra é responsável por quanto Assis tentaram desvendar a
“apontar” em direção a outra pessoa. essência do homem e do universo,
porém cada um seguindo um
Zumthor (2005) ainda afirma que a
pressuposto distinto. Goethe se pautou
performance ocorre sempre por meio de
na polaridade de Heráclito, enquanto
um corpo, representando um ato teatral,
Machado de Assis se voltou para a
com elementos visuais, auditivos e
dualidade de Pascal – condição humana
táteis. Sabe-se que o Fausto de Goethe é
baseada na contradição que não é
escrito em formato de poesia, mas
excludente. O brasileiro apresenta o ser
também de teatro. Existe, portanto, uma
humano dividido, criticando-o, mas
performatividade esperada para a obra.
compactuando com as fraquezas. A
No entanto, o que mais nos chama a
autora ainda pontua que Goethe busca
atenção é a presença física ainda que
uma compreensão total do universo,
dentro do pacto ficcional do texto,
como uma busca pelo sentido. O conto
performatizada por um corpo que o
machadiano se volta para a compreensão
diabo possui. Em Fausto, ele se inicia
do ser humano.
como um cachorro, para depois ganhar
formas humanas. Em “A Igreja do
Diabo”, o Diabo simplesmente desce a A carnavalização alcançada por
terra, e provavelmente possui um corpo Machado de Assis no conto “A Igreja do
como os demais, afinal como já Diabo” relativiza as verdades universais
apontado nenhum estranhamento a sua e aponta para a problematização
presença e a sua figura propiciam. humana, pautada nos ideais de
obrigação e desejo. A ideia religiosa
No conto machadiano, podemos desse personagem é a própria negação e
observar que no fundo da memória está valorização do erro humano, pois
a memória de todas as palavras humanas defende a inveja, a gula, a preguiça,
(ZUMTHOR, 2005). Quando chega a tudo com justificativas da história, das
terra, uma das primeiras ações do Diabo letras e das artes. As ações humanas que

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caracterizam a Igreja do Diabo https://www.revistas.ufg.br/lep/article/download
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