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CORDEL: UMA HERANÇA CULTURAL QUE INSPIRA GERAÇÕES

“A literatura de cordel pra mim é uma marca. É um pedaço da minha história. Uma
extensão da minha produção como ser humano e do meu serviço prestado. A cantoria não
me pertence, mas eu pertenço a cantoria”, celebra o cearense Guilherme Nobre, poeta,
repentista, compositor, cordelista e palestrante. Seu gosto pela literatura de cordel iniciou
ainda quando criança através da televisão. “Meu primeiro contato com o cordel e os
cantadores de viola foi através da televisão. Passei a ver esses mestres de viola como os
meus ídolos”, aponta Guilherme. Aos 12 anos teve a oportunidade de assistir sua primeira
roda de cantoria e foi a partir de uma participação que os cantores perceberam que se
tratava de um grande talento e desde então não parou mais.
A literatura de cordel é uma das manifestações populares mais conhecidas do
Brasil. Com versos, rimas divertidas e irônicas, o cordel leva a informação dos mais
variados temas com traços de oralidade para folhetos. Sua principal função social é de
informar, ao mesmo tempo que diverte os leitores. Suas primeiras aparições foram na
região Nordeste do país no século XX, sobretudo, entre os anos de 1930 e 1960, o que fez
muitos artistas da época serem tomados pelo estilo. Desde a criação a divulgação era de
responsabilidade do cordelista. A comercialização era quase sempre em feiras e para atrair
compradores o artista usava a criatividade como a poesia falada, acompanhada de viola e
pandeiro, despertando o interesse da população.
Guilherme, apesar de muito jovem, é uma das grandes vozes da poesia no
Estado do Ceará. Das atividades ligadas ao audiovisual que mais lhe deram satisfação foi a
participação do programa Português “Praça da Alegria”, exibido desde 1995 na RTP, que o
fez repercutir por toda a Europa. “No campo do improviso, o momento que mais me
emocionou foi quando ganhei o FENOGER, em 2021, um festival da nova geração do
repente, trazendo o troféu para o Ceará que ainda não tinha ganhado”, garante. Guilherme é
autor de mais de 10 obras em cordel, gravou 4 CDs e 3 DVDs. Além disso, ele revela planos
futuros. A expectativa é de que até o fim do ano sua mais recente obra, “ A festa que o Saci
fez”, seja publicada.
“As dificuldades que a cantoria de viola e a literatura de cordel tem, é porque é tão
barato de se fazer que não sobra dinheiro para os políticos. Essa é a verdade”, explica.
Guilherme afirma que a literatura de cordel segue uma fase maravilhosa, por mais que ainda
perceba falta de investimento político. Com a desativação dos cantadores experientes, pela
idade ou por consequências parecidas, Guilherme afirma o compromisso de dar
continuidade a este legado deixado pelos cordelistas. “ Nós, cantadores mais jovens,
precisamos dar a manutenção dessa tradição ao longo da história e cumprir o papel que os
veteranos têm cumprido até agora, com viagens,
reconhecimento, festivais, cantorias e cordéis
publicados para nos tornarmos compatíveis a
assumir vagas de mestres da cultura que ao longo
do tempo estão sendo desativados na questão de
atividades, porque na história esses nomes ficam
eternos”, ressalta.
Guilherme acredita no poder que o cordel tem sobre a vida das pessoas e na
transformação que essa tradição pode trazer para
vários âmbitos da vida. Geram fontes de renda, conhecimento e amizade. “Me projeto daqui
a 10 anos como um símbolo de resistência a uma tradição milenar”, aponta o artista.
Contudo, os cordéis se destacam como uma herança cultural
viva e latente na memória afetiva de muitos nordestinos, e segue influenciando gerações.

Os jornalistas de antes
Eram vates repentistas
Mas como o tempo mudou
Os de antes são artistas
Cumprindoo a sua missão
E hoje os repentistas dão
Entrevistas aos jornalistas.

Guilherme Nobre.

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