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Diagnóstico da Educação no Rio de Janeiro

Proposta para o programa de redução -

NOME: Pedro Vasconcelos Rosa


ESTADO A SER ANALISADO: Rio de Janeiro
NÍVEL DE ENSINO: Ensino Médio
INDICADOR ESTUDADO: índice de reprovação por falta

1. INTRODUÇÃO
Justifica-se a escolha do aprofundamento sobre o índice de reprovação por falta na
rede estadual de ensino do Rio de Janeiro por ter demonstrado o pior desempenho da
regional em 2022 nesse quesito. Além disso, é vital acompanhar esse indicador no
momento atual para entender os impactos da transição do ensino pandêmico para o ensino
regular nos anos subsequentes à pandemia. É notório que o agravamento recente desse
índice indica perda do hábito de ir à escola, mas a longo prazo o impacto desse indicador
não se resume a questões relacionadas apenas à pandemia de COVID-19. Outras
hipóteses podem ser levantadas sobre variáveis que afetam o índice de reprovação por
falta, como mobilidade urbana e, principalmente no que tange o Rio de Janeiro, a Violência.
Para mais, entende-se que o índice de reprovação por falta seja de suma relevância para o
acompanhamento e controle da taxa de abandono escolar, visto que pode-se estudar a
hipótese de que alunos que reprovam por falta possuem maior chance de abanarem o
ensino em algum momento. Portanto, a reprovação por falta pode ser um indicador que
indique o futuro próximo do abandono escolar.
Em 2020 o Rio de Janeiro apresentou o menor percentual de jovens de 15 a 17 anos
matriculados no ensino médio, 79,4% contra 82,7% da região sudeste no geral.
(IBGE/PNAD). Em 2020 o Rio de Janeiro apresentou o segundo menor percentual de
jovens de 19 anos que concluíram o Ensino Médio na região sudeste. foram 66,7% para o
Rio de Janeiro contra 77,2% no sudeste e 64,7% no estado com pior índice, o Espírito
Santo. (IBGE/PNAD). No panorama da região sudeste, em 2019, o Rio de Janeiro
apresentou as piores taxas de aprovação, reprovação e abandono, com destaque para a
taxa de abandono de 5,8% , que superou a taxa nacional de 4,8%. (IBGE/PNAD).
Avaliando a evolução da taxa de frequência à escola por idade no brasil de 1997 a
2022, percebe-se frequência quase unânime dos estudantes de 6 a 14 anos. De 15 anos
em diante, idade para se cursar o Ensino Médio, a taxa de frequência cai significativamente,
particularmente aos 17 anos. A queda vertiginosa da frequência durante o ensino médio
indica a importância de se monitorar a reprovação por falta justamente nesse período do
ensino. (IBGE - CENSO ESCOLAR 2022).
No geral, as taxas de evasão escolar no ensino médio se demonstram
significativamente superiores às do ensino fundamental. Nesse contexto, a taxa de
reprovação por falta pode ser um recorte importante para analisar o futuro da taxa de
evasão. (IBGE - CENSO ESCOLAR 2022).
Em suma, é razoável chamar a atenção para o índice de reprovação por falta,
principalmente no contexto pós-pandêmico, como indicador de re-adaptação do ensino
presencial e suas dificuldades perenes. nesse período, alguns indicadores como taxas de
aprovação foram distorcidos por conta de adaptações necessárias, dificultando a análise
intertemporal do ensino. indica-se o índice de reprovação por falta como bom indicador para
comparar essa distorção no período atual.
2. DIAGNÓSTICO DO ÍNDICE DE REPROVAÇÃO POR FALTA NO RIO DE JANEIRO

2.1. NÍVEL E EVOLUÇÃO TEMPORAL


Primeiramente quanto aos dados, realizou-se a coleta das taxas de abandono de
todas as escolas por série do ensino médio para o Rio de Janeiro, São Paulo e Brasil. Ou
seja, os dados apresentados consolidam todas as esferas da rede pública de ensino médio
assim como a rede privada. há um enorme abismo entre as taxas de abandono da rede
pública e da rede privada, e essa questão é relevante para estudos mais aprofundados.
Uma boa abordagem poderia ser a busca pelos fatores presentes na vida dos jovens da
rede pública e ausentes na vida dos jovens da rede privada que causam essa distorção
entre as taxas de abandono isoladas. Em outra análise, a pouca variação das taxas de
abandono da rede pública em relação a rede de ensino médio total provavelmente advém
da diferença significativa de tamanho entre as duas redes de ensino.

Abandono 2010 2011 2012 2013 2014 2015


1o Ano RJ 15,30% 12,90% 9,90% 7,20% 7,20% 4,80%
2o Ano RJ 12,40% 9,10% 6,80% 5,60% 5,20% 3,60%
3o Ano RJ 9,60% 6,50% 4,10% 3,20% 3,30% 2,00%
1o ano Brasil 12,50% 11,80% 11,60% 10,10% 9,50% 8,80%
2o Ano Brasil 9,60% 8,80% 8,50% 7,50% 7,10% 6,30%
3o Ano Brasil 7,60% 7,00% 6,30% 5,60% 5,20% 4,60%
1o Ano SP 5,30% 5,40% 5,50% 5,80% 5,20% 4,10%
2o Ano SP 4,40% 4,50% 4,60% 4,80% 4,20% 3,10%
3o Ano SP 3,40% 3,40% 3,30% 3,30% 2,90% 2,20%

Abandono 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022


1o Ano RJ 8,90% 5,60% 5,70% 7,50% 0,50% 1,80% 4,90%
2o Ano RJ 6,30% 3,70% 4% 5,60% 0,40% 2,20% 5,40%
3o Ano RJ 4,40% 2,20% 2,30% 3,60% 0,30% 1,50% 5,60%
1o ano Brasil 8,60% 7,80% 7,90% 6,10% 2,70% 4,20% 5,50%
2o Ano Brasil 6,10% 5,70% 5,60% 4,60% 2,10% 6,00% 5,90%
3o Ano Brasil 4,30% 4,00% 4,10% 3,00% 1,90% 4,70% 5,80%
1o Ano SP 4,80% 4,20% 4,40% 2,60% 0,50% 2,80% 3,00%
2o Ano SP 3,70% 3,40% 3,20% 2,30% 0,30% 3,70% 3,60%
3o Ano SP 2,50% 2,10% 2,10% 1,30% 0,30% 3,30% 3,40%
Fonte: INEP VIa QEdu

Fonte: INEP via QEdu

Realizando a análise histórica das taxas de abandono graficamente e


numericamente é possível indicar alguns comportamentos. Primeiramente, notifica-se dois
picos significativos da taxa de abandono no Rio de Janeiro nos anos de 2016 e 2019,
desacompanhados de variações de mesmo grau e sentido nas taxas do Brasil e de São
Paulo. Em 2016 São Paulo observou leve aumento da taxa de abandono enquanto que a
taxa nacional decresceu e em 2019 ambas as taxas decresceram significativamente,
enquanto a taxa carioca teve um de seus períodos de maior crescimento desde 2010.
Em segunda análise também conclui-se que São Paulo apresenta taxas
relativamente constantes até o período da pandemia, com exceção de um período de
moderada melhora entre 2013 e 2015, que acompanha bem a variação da taxa a nível
brasil nesse mesmo período.
Ademais, é notório que há uma forte proporcionalidade entre as taxas de abandono
de cada série do ensino médio. Na grande maioria dos casos a taxa de abandono foi
decrescente de acordo com os respectivos anos do ensino médio, com o primeiro ano
apresentando as maiores taxas e o terceiro as menores. Há certa lógica nesse
comportamento já que o primeiro ano é um período de adaptação para os alunos onde
também adquirem maior autonomia. Por sua vez, conforme o aluno passa pelas séries seu
abandono se torna mais improvável pelo aumento de seu custo de oportunidade em
paralisar os estudos dado pela proximidade de sua conclusão do ensino médio.
De resto, no que tange a análise do período como um todo destaca-se uma quebra
de tendência em 2016 para o Rio de Janeiro, instaurando um período de relativa piora
agregada até o início da pandemia. Cabe um estudo mais aprofundado para entender o que
converteu essa tendência de queda até 2015 para uma tendência de alta ou estabilização
entre 2016 e 2019, consistentemente se aproximando da taxa nacional, algo que não
ocorria desde 2011.
Em sequência, é evidente o impacto que a pandemia de COVID-19 teve nas taxas
de abandono escolar. Numa análise superficial poderia-se concluir que esse impacto foi
positivo já que diminuiu as taxas de abandono, entretanto, precisa-se levar em
consideração as condições que podem ter levado ao decrescimento das taxas como o
ensino remoto e o alívio de exigências de presença necessários durante esse período.
Dessa forma, pode-se dizer que apesar das taxas de abandono terem diminuído durante a
pandemia, essa diminuição não se traduz em nenhum tipo de impacto positivo para a
educação. Essa conjectura pode ser verificada ao analisar a evolução do SAEB no mesmo
espaço de tempo, com a piora significativa das notas concomitantemente com taxas de
abandono historicamente baixas durante a pandemia. Outra hipótese que se pode levantar
acerca dos dados durante a pandemia é de que o curto prazo da diminuição da taxa de
abandono comprova que ocorreu em razão das medidas de ensino especial, e que o
aumento vertiginoso das taxas de abandono após a pandemia se deu em razão do retorno
ao modelo de ensino tradicional presencial e normalização do dado.
Por fim, foram observadas duas tendências após a pandemia que merecem maior
atenção, um achatamento das taxas de abandono entre as séries e um forte aumento do
abandono no Rio de Janeiro de 2021 para 2022 sem alguma tendência similar em São
Paulo e no Brasil, que apresentaram resultados similares entre 2021 e 2022. É possível
levantar a hipótese de que houve uma heterogeneização dos alunos durante a pandemia,
que pode ter ocasionado esse achatamento das taxas de abandono. Além do achatamento
entre taxas de abandono também observa-se que as taxas de abandono no 3o ano
superaram pela primeira vez as taxas do 1o ano no Rio de Janeiro e em São Paulo em
2022, algo preocupante visto que há mais alunos do 3o ano escolhendo abandonar a escola
ou tendo que abandonar a escola mesmo havendo maior custo de oportunidade para essa
decisão.
Uma conjectura possível de ser levantada para explicar esse comportamento é a de
que alunos que em 2022 estavam no 3o ano do ensino médio cursam quase todo o ensino
médio em regime especial devido a pandemia e em 2022 estavam retornando para a
modalidade tradicional de ensino. Enquanto isso, estudantes que estão no 1o ano em 2022
já estão começando o ensino médio em regime tradicional. É possível que os estudantes do
3o ano de 2022 não tivessem passado pela adaptação escolar que a passagem do ensino
fundamental para o ensino médio representa em sua completude devido a pandemia. Visto
que essa mudança comprovadamente provoca maior taxa de abandono no 1o ano, é
razoável propor que estes estudantes só estejam passando por essa mudança no 3o ano
do ensino médio em 2022 e por isso haja um achatamento das taxas de abandono.
Independente da série do aluno todos passavam pelo mesmo período de adaptação em
2022, resultando em taxas de abandono similares.

Fonte: IDEB 2021,INEP Via QEdu

2.2 PROGRESSO

Há uma questão a ser levantada quanto a visualização do progresso da taxa de


abandono através do cálculo da taxa de crescimento no período observado, por conter a
pandemia haveria uma distorção significativa da taxa de crescimento se calculada com
2022 como ano final da série. Essa distorção já foi indicada através da comparação da
evolução do SAEB e a taxa de abandono ao longo do período. Sendo assim, a taxa de
crescimento foi calculada na janela entre 2010 e 2019, desconsiderando a pandemia e seu
efeito rebote nas taxas de abandono. Além disso, a fim de simplificar a análise gráfica foram
utilizadas as médias das taxas de abandono das séries do ensino médio para cada estado e
para o brasil.
Fonte: Elaboração do autor a partir de dados já apresentados

A comparação das taxas de abandonos reais e da tendência projetada demonstra


que o efeito rebote da pandemia sobre a taxa de abandono é real, todos os indicadores se
encontram acima de sua taxa de decrescimento histórico (considerando 2010 a 2019) em
2022. Esse estudo também demonstra que o Rio de Janeiro requer atenção quanto à taxa
de abandono escolar, apresentando retrocesso e variância a partir de 2016 , diferentemente
do comportamento observado no Brasil e em São Paulo, depois de um período de amplo
avanço, tendo se equiparado a São Paulo em 2015.
Outro fator preocupante é a subida vertiginosa do abandono em 2022 para o Rio de
Janeiro, aproximando-se de níveis observados em 2013, e performando menos do que a
taxa de crescimento projetada do indicador pelo único período da série. Apesar de um
comportamento similar poder ser identificado pela taxa nacional, a variação entre 2021 e
2022 não foi da mesma magnitude, enquanto São Paulo manteve-se estável quanto a esse
indicador.

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