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Resumo Abstract
Percebemos a importância de se discutir te- We realize the importance of discussing is-
mas como: o respeito às diferenças e à di- sues such as respect for di�erences and se-
versidade sexual. Nesse sentido, o presente xual diversity. In that sense, this work is
trabalho vem tratar dessa questão, trazendo addressed to this issue, bringing the geo-
a contribuição da Geogra�a, discutindo graphy contribution in discussing concepts
conceitos de espaço, território e territoriali- like space, territory and territoriality, and
dade, bem como a relação destes com o their relation with the group in question.
grupo em questão. Veri�camos que inúme- We found that many territories and terri-
ros territórios e territorialidades surgem no torialities occur in space, varying according
espaço, variando de acordo com a escala e to the scale, and to the actors responsible
com os atores responsáveis pelo controle do for control it. Accordingly, we verify how
mesmo. Nesse sentido, veri�caremos como the homosexuals as a group, with its own
os homossexuais, enquanto grupo, dotado identity, are able to form territories and
de identidade própria, são capazes de for- territorialities in a local scale. We also aim
mar territórios e territorialidades em escala to raise a re�ection on this issue, in order
local. Procuraremos deixar uma re�exão so- to ponder on the prejudice that still exists
bre essa questão, a �m de re�etirmos sobre in our society in relation to that group.
o preconceito que ainda existe em nossa so-
ciedade, em relação a esse grupo. Keywords: Territory; Identity; Homosexu-
ality.
Palavras-Chave: Território; Identidade;
Homossexualidade.
Revista Latino-americana de Geogra�a e Gênero, Ponta Grossa, v.1, n.1,p.14-20, jan. / jul. 2010.
Geogra�a da Diversidade:
Breve Análise das Territorialidades Homos-
sexuais no Rio de Janeiro
Revista
RevistaLatino-americana
Latino-americanadedeGeogra�a
Geogra�ae eGênero,
Gênero,Ponta
PontaGrossa,
Grossa,v.1,
v.1,n.1,p.
n.1,p.1-8,
14-20,jan.
jan./ jul.
/ jul.2010.
2010.
Geogra�a da Diversidade:
Breve Análise das Territorialidades Homos-
sexuais no Rio de Janeiro
cuja aceleração é desigual (SANTOS, 2002, p. 153). Claval que se aproxima do que foi abordado:
Limonad (2004) apresenta ainda uma visão com- O território diz respeito à projeção sobre um espaço deter-
plementar a cerca do espaço, ao dizer que ele pressupõe uma minado de estruturas especí�cas de um grupo humano [o
concepção de tempo, de processo histórico, podendo ser en- DNA territorial] que inclui a maneira de repartição e, ges-
tendido enquanto: tão ou ordenamento desse espaço (BRUNET et al., 1992,
p. 436 apud CLAVAL, 1999, p. 9).
(…) um entremeado de �uxos e processos, que coexistem
espaço-temporalmente e tendem a se tornar hegemônicos Souza (1995) complementa a discussão mostrando
em determinados momentos e espaços, condicionados e que o espaço é apropriado, ocupado por um grupo social, de-
propiciados pelas circunstancias e práticas sociais (LIMO- limitando o território em diversas escalas e de diferentes mo-
NAD, 2004, p. 53). dos. Portanto, ainda segundo o autor, a ocupação desse terri-
tório é vista como algo gerador de raízes e identidade, onde
Partiremos, dessas visões de espaço para entender a em determinado momento esse grupo não poderá mais ser
formação do território como sendo resultado de uma produ- compreendido sem o seu território. Com isso, o autor acres-
ção a partir do espaço. centa à discussão, a importância da identidade na construção
É importante ressaltar, que além dos territórios, territorial. Para Souza (1995, p.87), os territórios se apresen-
podemos entender também a região como uma produção a tam como “relações sociais projetadas no espaço”, sendo que
partir do espaço, dada de forma diferente da que resulta no ele ressalta também, a importância da territorialidade, que se-
território. Segundo Limonad a região é: “uma construção so- ria “aquilo que faz de qualquer território um território” (Idem,
cial que atende a interesses políticos precisos, mesmo em se p. 99).
tratando de uma região funcional, ou da região natural” (LI- Nesse sentido, Damiani (2002) nos mostra a ter-
MONAD, 2004, p. 57). Porém, o conceito de região não será ritorialidade como uma apropriação crítica, podendo ou não
aprofundado nesse trabalho, sendo usado somente para ajudar se resultar numa apropriação espacial, ou seja, em um terri-
na distinção deste em relação a outros conceitos. tório. A autora, de�ne territorialidade como ações resultantes
Vemos, portanto, que ambos os conceitos envol- de movimentos de reivindicação, sendo con�guradas como
vem relações sociais, sendo importante não confundirmos territorialidades, áreas cuja gênese é a exclusão. Essas territo-
esses conceitos. Nesse sentido, cabe ressaltar que tanto o terri- rialidades são mostradas também por Souza (1995), ao tra-
tório como a região são construções feitas a partir do espaço, tar das territorialidades cíclicas, que delimitam territórios por
porém através da de�nição de alguns autores, como Souza um dado período de tempo, como os pontos de travestis e
(1995, p. 78), temos o território como “um espaço de�nido e prostitutas que aparecem fazendo trottoir, numa determinada
delimitado por e a partir de relações de poder”. Dessa forma avenida durante um período de tempo ao dia, entre outros
veri�camos que será a relação de poder sobre o espaço que irá exemplos. Veremos mais adiante como os homossexuais po-
diferenciar o território dos outros conceitos acima citados. dem delimitar territórios e territorialidades.
É importante veri�car ainda, as contribuições da- Com essa breve explanação, é possível então com-
das por Claval (1999) nesse debate. Esse autor nos diz que preender o território como construído a partir do espaço e
a ideia de território está ligada à de controle, à de soberania. formado a partir de territorialidades, caracterizado ainda por
Nesse sentido, Claval, apresenta ideias ligadas a Sack (SACK, uma relação de poder exercida por determinados atores sobre
1986 apud CLAVAL, 1999), onde ele a�rma que o território um determinado espaço, podendo ser construído em diversas
nasceria de estratégias de controle necessárias a vida social, res- escalas e dotado de identidade. Partindo disso, o passo seguin-
saltando ainda a ideia de territorialidade. te desse trabalho será entender a formação dos territórios de
Na mesma linha, vemos que o território pode ser convivência LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Transgêne-
entendido, segundo Souza, como (des) construído nas mais ros ) que vêm sendo formados nos mais diversos locais, sendo
diversas escalas, desde a local até a global, passando pela na- cada vez mais visíveis no cotidiano da nossa sociedade.
cional, escala que muitos autores a�rmam estar passando por
uma crise, como a�rma Souza Santos apud Araujo (2007) ao A Identidade Gay e os Territórios de Convivência
dizer que “...o espaço-tempo nacional estatal está perdendo a LGBT
primazia, convulsionado pela importância crescente dos espa- A partir desse momento, enfocaremos a formação
ços-tempo global e local que com ele competem” (SOUZA de territórios e territorialidades voltando-se, especi�camente,
SANTOS, 1999, p. 42-43 apud ARAUJO, 2007, p. 34). para o que chamaremos aqui, como territórios de convivên-
Podemos perceber ainda a interferência que exer- cia LGBTs. Para tratar desse tipo de território é importante
cem os atores e agentes sociais, independente da escala, atuan- entender a questão da identidade, como ela é construída e se
do na formação territorial, onde Limonad (2004) irá caracte- manifesta nesse grupo especi�co e como ela é percebida pelos
rizá-los como sendo um DNA territorial, podendo esse DNA indivíduos.
ser desde a população de um determinado país, até os homos- Cada indivíduo possui na sua formação, enquanto
sexuais que delimitam e compartilham de um determinado sujeito social, uma série de identidades, que são formadas por
espaço, ou seja, de grupos, independente da escala analisada. diversos fatores, podendo variar desde sua formação a partir
Nesse sentido, vemos a contribuição dada por Brunet apud de fatores biológicos, étnicos e culturais, ou de escolhas indivi-
Revista Latino-americana de Geogra�a e Gênero, Ponta Grossa, v.1, n.1,p. 14-20, jan. / jul. 2010.
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Breve Análise das Territorialidades Homos-
sexuais no Rio de Janeiro
duais, regionalismos, entre outros. Nesse sentido, a identida- homossexual nos dias atuais, através de seus símbolos cada
de aparece na visão de Claval (1999) como uma construção vez mais evidentes no nosso dia-adia, como a bandeira do
cultural. Ressaltando, que essa(s) identidade(s) irão de�nir o arco-íris, além do modo de falar característico e uso de gírias
indivíduo. próprias, bem como o modo de se vestir e até mesmo gostos
Entendendo que essa série de identidades compõe musicais predominantes.
o sujeito e tendo em mente que o homem é um ser social, ele Ressalta-se, a crítica de alguns autores à chamada
procura na sociedade pelos seus semelhantes, a �m de par- ‘normatização da sociedade’, ou uma alienação dessa socieda-
tilhar e vivenciar sua identidade com o outro, o que Michel de, como mostra Agnes Heller apud Costa e Heidrich (2007
Ma�esoli (1995) chama de ‘ressurgimento comunitário’, do ) ao de�nir como ‘homem particular’ o sujeito que se mostra,
estar-junto de seu semelhante. segundo o autor, como “fragmento alienado da sociedade que
No caso da formação de uma identidade homosse- reproduz”, ou então, fazendo uma ligação da moda ao consu-
xual existem alguns fatores que devem ser levados em consi- mo. Nesse sentido, temos a critica de Henri Lefebvre, apud
deração como o preconceito, que faz com que muitos indiví- Costa e Heidrich (2007 ), dizendo que:
duos não exerçam de forma plena a sua identidade, vivendo
‘no armário’ , pois a vivência plena dessa identidade acarretaria (...) a alienação torna-se fundamento da impossibilidade de
problemas ao exercer suas outras identidades, ou seja, na sua grande parte das atividades humanas reconhecerem seus
vida em sociedade, por haver con�itos entre essas identidades processos de totalização e essa incapacidade é gerada pela
variando de acordo com o meio em que este indivíduo se en- separação completa do trabalho e da obra humana, ou seja,
contra. o trabalho se transforma em labor à medida que é trocado
Cabe ressaltar, que dentro ou fora ‘do armário’, o por salário e à medida que as atividades humanas tendem a
indivíduo vive um processo de auto-reconhecimento de suas se envolver em fetiches econômicos e consumistas (LEFEB-
identidades e procura vivenciar com o outro suas angústias e VRE, 1958 apud COSTA & HEIDRICH, 2007 ).
suas identidades, através de um processo de identi�cação com
o seu semelhante e no qual ele procura ser visto, ser ‘encon- No entanto, no estudo das identidades coletivas,
trado’ por esse semelhante, tendo como estratégia o uso do essa padronização do grupo ou tendência a um padrão de es-
campo simbólico, como explicita Kathryn Woodward (2000) tilo, ao invés de ser considerada como uma alienação pode
em seu texto: ser vista como uma estratégia de luta, principalmente no caso
de grupos que sofrem discriminação, como o caso dos negros
Existe, assim, um contínuo processo de identi�cação, no e dos homossexuais, que se utilizam desses meios simbólicos
qual buscamos criar alguma compreensão sobre nós pró- como forma de se a�rmarem, enquanto grupo, perante a so-
prios por meio de campos simbólicos e nos identi�car com ciedade.
as formas pelas quais somos vistos por outros (WOO- Portanto, é importante compreender que esses
DWARD, 2000, p.64). grupos identitários também apresentam um comportamento
espaço-territorial, expresso através de territorialidades ou mes-
Vemos ainda, a importância dos símbolos na cons- mo de territórios propriamente ditos e reconhecidos social-
trução da identidade também na fala de Claval (1999), onde mente como tal.
ele a�rma que os símbolos seriam responsáveis em de�nir o Claval (1999) nos explica essa ligação entre identi-
indivíduo e/ou um grupo, que procuraria sua identi�cação dade e território, mostrando que “a construção das representa-
através de objetos, roupas, bem como costumes e valores, além ções que fazem certas porções do espaço humanizado dos ter-
do estilo de vida que esse indivíduo e/ou esse grupo levam. ritórios é inseparável da construção das identidades” (p. 16). O
Essa simbologia pode ser inerente à pessoa, criada a partir do autor ressalta ainda, que a delimitação desse território livraria
coletivo ou até mesmo construída, incentivada e/ou mostrada esse grupo do que ele chama de ‘poluição’ que o ‘outro’ seria
pela mídia, pois segundo Ma�esoli (1995) ‘a mídia atua como portador. No caso dos homossexuais, essa ‘poluição’ poderia
espelho dos diversos narcisismos coletivos’. ser expressa através das formas de discriminação que impedem
A identidade homossexual possui um campo sim- esse sujeito de exercer de forma plena sua identidade.
bólico que vem se tornando cada vez mais visível no nosso Os territórios de convivência homossexual se carac-
dia-a-dia. Porém, alguns autores ressaltam a existência de um terizam pelos símbolos ligados a ele, sendo segundo a concep-
campo simbólico ligado a essa identidade já no início do sé- ção de Haesbaert (2007) um território simbólico, sendo ainda
culo, caracterizada, por exemplo, pela forma de abordagem e esse território um meio materializado de a�rmação dessa iden-
pela vestimenta, como nos revela Green (2000): tidade.
Porém, é importante ressaltar, que já no início do
(…) no inicio do século, passivos usavam paletós mui- século, na cidade do Rio de Janeiro, era possível se fazer re-
to curtos, lenço de seda pendente do bolso, calças muito ferência a territórios que possuíam ligação identitária com os
justas, desenhando bem as formas das coxas e das nádegas. homossexuais, como mostra a �gura 1 abaixo.
Dirigiam-se aos transeuntes pedindo fogo para acender o
cigarro, com voz adocicada (...) (GREEN, 2000, p. 86).
Revista Latino-americana de Geogra�a e Gênero, Ponta Grossa, v.1, n.1,p. 14-20, jan. / jul. 2010.
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Breve Análise das Territorialidades Homos-
sexuais no Rio de Janeiro
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Breve Análise das Territorialidades Homos-
sexuais no Rio de Janeiro
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Referências
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