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AS VIVÊNCIAS TRAVESTIS E
TRANSEXUAIS NO ESPAÇO DOS
TERREIROS DE CULTOS AFRO-
BRASILEIROS E DE MATRIZ AFRICANA

TAIANE FLÔRES DO NASCIMENTO1

BENHUR PINÓS DA COSTA2

Resumo: Gênero, sexualidade e religião são temáticas pouco discutidas dentro da geografia, e que estão
essencialmente ligadas aos estudos marginais da ciência. Entretanto, com a atual expansão e manifestações de
diferentes expressões de gêneros, quanto manifestações de cunho religioso no espaço, a ciência geográfica, aliada
as ciências sociais, acompanha a trajetória da sociedade nesta temporalidade, se tornando uma ciência
interdisciplinar e plural. Neste sentido, este artigo tem como objetivo geral, relacionar o espaço do terreiro de
cultos afro-brasileiros e de matriz africana, como lugar de possibilidade de vivência e expressões travestis e
transexuais. Salienta-se que a religiosidade afro em todas as suas formas de manifestação, é periférica. A
concepção de que o espaço sagrado do terreiro constitui relações de expressões de gênero diferenciadas, aparece
para a sociedade como uma forma de romper a linha contínua de padrões heteronormativos.

Palavras-chaves: Gênero; Religião; Geografia

Introdução ________________________ sexualidade ainda são incipientes,


considerando o espaço-tempo em que os
Dentre os diferentes espaços e estudos se solidificam, e demandam muitas
contextos de sua introdução, em âmbito compreensões sobre a sua meta narrativa,
geográfico, os estudos sobre gênero e pois “durante muito tempo, as existências
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espaciais desses grupos ou de suas ações sexualidade baseada no paralelismo entre
concretas não foram consideradas sexo biológico, gênero e sexualidade.
“adequadas” como objetos de estudos do Nesta forma paralela, a norma
campo da geografia” (SILVA, 2009). Neste construtora dos padrões normativos de
sentido, este artigo tem como objetivo sexualidade é a evidencia da natureza do
geral, relacionar o espaço do terreiro de sexo biológico (macho com pênis e fêmea
cultos afro-brasileiros e de matriz africana, com a vagina) e a construção dos papéis
como lugar de possibilidade de vivência e do homem e da mulher (do masculino e do
expressões travestis e transexuais. feminino socialmente falando), assim como
A priori, gênero, sexualidade e a manutenção da heterossexualidade, que
religião são temáticas pouco discutidas fixa as relações sexuais baseadas neste
dentro da geografia, e que estão binarismo. No entanto, no esforço teórico
essencialmente ligadas aos estudos de Butler (2003), as plurais dissidências
marginais da ciência. Entretanto, com a sociais e situacionais das vivências do
atual expansão e manifestações de sexo, do gênero e da sexualidade
diferentes expressões de gêneros, quanto desvalidam esta norma binária, tornando-
às manifestações de cunho religioso no a somente um conjunto de signos sociais
espaço, a ciência geográfica, aliada as dogmáticos comumente transgredidos.
ciências sociais, acompanha a trajetória da No entanto, sujeitos que constroem
sociedade nesta temporalidade, se seus desejos, suas afetividades e seus
tornando uma ciência interdisciplinar e corpos de forma “transgressora” à norma
plural. binária dos sexos e dos gêneros e contra a
As travestis e transexuais são forma unitária da hegemonia da
sujeitos que apresentam performatividades heterossexualidade (que também se
(BUTLER, 2003) de gênero feminino apresenta de forma binária pelo desvio da
dissidentes do modelo normativo da homossexualidade), são comumente
mulher binária – o gênero feminino interditados de espaços institucionalizados
relacionado, tradicionalmente, de forma pelos padrões normativos de gênero e
nata, ao sexo biológico da “femea”. De sexualidades.
acordo com Butler (2003), há uma Os espaços interditos (SILVA, 2009) são
construção social historicamente inúmeros e tais espaços marginalizam as
produzida pelas relações de poder que travestis e transexuais dos processos de
elegeram uma normativa de controle da convivência, trabalho e lazer sociais.

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Muitas religiões não aceitam em seus
dogmas e cultos a expressão de corpos A fenomenologia de modo geral,
dissidentes dos modelos hegemônicos de busca evidenciar as essências repondo-as
gênero e sexualidade. Por outro lado, em na existência, na medida em que o
outras, as travestis e transexuais são concreto sempre existiu “ali”, numa forma
plenamente aceitas e se tormam “espaços anterior ao pensamento. A abstração
possíveis” de expressão de suas intelectual espaço-temporal do mundo
feminilidades. Este é o caso dos terreiros “vivido” materializou-se no exercício
de religiões afro-brasileiras, nas quais as descritivo da experiência da maneira como
travestis e transexuais estudadas neste ela ocorre, uma vez que o real deve ser
trabalho se inserem tranquilamente e são registrado e não construído ou constituído
aceitas na plenitude da construção de seus (MERLEAU-PONTY, 1999). Neste
gêneros e de suas sexualidades. Neste sentido, a experiência que constrói o
artigo, iremos discutir as trajetórias mundo vivido e ela aparece como é
teóricas e metodologias da pesquisa observada pelo próprio sujeito.
estabelecidas com estes sujeitos, assim Nas considerações de Alfred
como os resultados obtidos. Schutz, em geral, sobre a intencionalidade
fenomenológica, destaca-se a
A fenomenologia como método fenomenologia do mundo social. Segundo
filosófico e a análise de discurso como Schutz (1979), Husserl aponta a vida
método operacional de pesquisa sobre cotidiana como um espaço da vida natural,
as relações entre gênero e religião na ou seja, um espaço onde as pessoas se
Geografia _________________________ relacionam com os objetos as quais a
intencionalidade está alcançando-as.
Como proposta de método de Schutz ressalta ainda, que a importância
abordagem da pesquisa, utilizou-se a do significado é dada pela experiência
fenomenologia atrelada ao dispositivo de passada que a pessoa possui sobre um fato.
análise denominado Análise do Discurso Quando o autor fala em fenomenologia do
(AD), que consistiu basicamente na mundo social, instrumenta para as ciências
estrutura abaixo: sociais o método husserliano com o
objetivo de compreender os mecanismos e
Método de Dispositivo de
abordagem análise de identificar as práticas e os significados
sociais e subjetivos que os indivíduos
Fenomenologia Análise de
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manifestam nas interações cotidianas. As conteúdo do pensamento. Expressam
noções de contexto, de ação, de para nós como o mundo e as coisas

convivência e de interação passam a ser nele aprecem ser para alguém que está
naquele corpo. Se a outra pessoa
importantes à investigação dos rituais,
emitir certos sons ou fizer certas
indetermina e das racionalidades
caretas, podemos dizer que “lá vêm
subjacentes à vida cotidiana dos
problemas” ou “não nos abandone
indivíduos.
agora”.
As pontuações de Schutz são
importantes para a ciência geográfica,
Considera-se na fala do autor, que
quando associa experiência, interações
os elementos importantes na construção
sociais com o mundo vivido. Neste
do sujeito são visualizados dentro das
contexto, faz-se um salto na evolução do
expressões que o indivíduo apresenta em
conceito fenomenológico, atraindo para a
determinado espaço ou interação com
ligação com o espaço, que é uma das
outro indivíduo. Percebe-se desta forma,
categorias de análise da Geografia. A
que a fenomenologia em primeiro
realidade social é produto de interações,
momento está atrelada aos estudos
da adição de objetos e fatos da vida
culturais dentro da geografia. A cultura
cultural e social que o senso comum
como forma de identificação social, pode
experienciada nas interações. São esses
ser restringida apenas aos valores que
grupos sociais que produzem espaços, os
cada grupo ou etnia tem e é por essas
quais são importantes para as análises
questões que estudos envolvendo novos
geográficas.
grupos sociais vêm se desenvolvendo
As análises da fenomenologia na
dentro da geografia, com ênfase nas
geografia humana têm diferentes
interações humanas.
abordagens no que se refere ao espaço
Um grupo de fiéis de uma
vivido do indivíduo. Nesta perspectiva,
determinada religião, por exemplo,
Sokolowski (2004, p. 165) ao introduzir a
evangélica, que vem se destacando pelo
fenomenologia, diz que
crescente número de seguidores, pode ser
considerado um grupo social que produz,
A língua falada, os gestos intencionais
organiza ou reorganiza o espaço. São
e a linguagem corporal imponderável
indivíduos que possuem sua própria
são todos mais do que apenas
linguagem, modo de vestir, crenças e
movimentos corporais; sinalizam atos
intencionais, e também expressam
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valores que os diferenciam de outro grupo
religioso. [...] é o estudo das essências: a
As travestis e as transexuais essência da percepção, essência da

também são um exemplo concreto de um consciência, por exemplo. Mas a


fenomenologia é também uma filosofia
grupo social construtor de espaços. Sabe-
que repõe as essências na existência, e
se que as travestis e transexuais (no
não pensa que se possa compreender o
feminino, pois é assim que elas gostam de
homem e o mundo de outra maneira
serem enunciadas), possivelmente seja um
se não a partir de sua “facticidade”.
grupo social recluso de determinados [...] É a ambição de uma filosofia que
espaços. Elas se destacam no modo de se seja uma “ciência exata”, mas é
vestir, no modo de como se comunicam e também um relato do espaço, do
principalmente no modo em que vivem. tempo, do mundo vivido. É a tentativa
Estas expressões de gênero e sexualidade de uma descrição direta de nossa
se dão pelos movimentos corporais, em experiência, tal como ela é e sem

determinados momentos com algo grau de nenhuma referência à sua gênese


psicológica e as suas explicações
afetividade, estes simbólicos, que as
causais [...] que dela possam fornecer.
diferenciam enquanto ser social.
A ideia em se trabalhar com novos
Esta linha de pensamento parte do
métodos de abordagem dá maior
pressuposto de que a consciência só pode
visibilidade à ciência a se propor em
ser entendida a partir de sua referência a
realizar pesquisas que podem ir muito
um objeto, logo, sujeito-objeto difuso na
além do conhecimento do pesquisador.
realidade, e é passível de serem analisados
Quando ressaltamos esse “além”,
distintamente através de uma
queremos referir ao sujeito interesse de
intencionalidade. No caso desta pesquisa,
estudo deste trabalho. Esta no sujeito as
nossos sujeitos são as travestis e
respostas em que o pesquisador procura,
transexuais frequentadoras dos espaços de
dando ênfase a sua inteligibilidade como
religiões de matriz africanas conhecidas a
fonte aos estudos. Neste sentido, o
partir de um árduo processo de
positivismo nega a existência dessa fonte,
aproximação da pesquisadora. Estes
reforçando apenas os fatos encontrados
sujeitos de pesquisa, ao mesmo tempo em
materializados. A fenomenologia dá esse
que transitam por diferentes espaços,
suporte quando Merleau-Ponty (1999,
também, por sua condição marginal frente
p.01), a conceitua, enfatizando que
a uma sociedade e espaço social
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heteronormativo, são interditadas da Considera-se a Análise do Discurso
vivência de muitos outros. As interdições (AD) como uma possibilidade de captar o
são, sobretudo, relacionadas aos espaços sentido não explícito no discurso. Neste
das religiosidades cristãs, como igrejas sentido, a interpretação da linguagem
católicas e evangélicas, mas, ao contrário, propriamente dita vem como uma forma
suas vivências são possibilitadas à de aproximação sujeito-pesquisador, pois é
religiosidades de matriz africana, em nesse espaço da linguagem que se podem
terreiros e umbanda e candomblé. Assim, explicar diferentes fenômenos e conceitos,
esta pesquisa procura entender as relações sendo a palavra uma condição de ponte
intrínsecas entre as formas de expressão difundida entre um ou mais locutores e um
de gênero e sexualidade dissidentes das ou mais interlocutores.
travestis e transexuais e a fé e a inserção Pode-se considerar que a palavra é
aos cultos e atividades místicas das o modo mais autêntico e também legítimo
religiosidades afro-brasileiras. As das relações sociais, configurando-se como
intencionalidades a serem estudadas se um fenômeno ideológico por excelência.
referem a dos corpos travestis e Neste sentido, destaca-se Orlandi (2013, p.
transexuais e seus envolvimentos em 15) quando diz que
terreiros de cultos daquelas religiosidades.
Nosso esforço é entender a consciências A Análise de Discurso, como seu

destes sujeitos em relação ao objeto próprio nome indica, não trata da


língua, não trata da gramática,
espacial do terreiro, que repercute em suas
embora todas essas coisas lhe
condições existenciais singulares e suas
interessem. Ela trata do discurso. E a
identidades como sujeitos transgêneros
palavra discurso, etimologicamente,
em uma sociedade construída
tem em si, a ideia de curso, de
hegemonicamente pela centralidade da percurso, de correr por, de
heterossexualidade e definição de corpos e movimento. O discurso é assim
papéis binários de gênero atrelados ao palavra em movimento, prática de
sexo biológico. Para isto, utilizamos a linguagem: com o estudo do discurso
“análise de discurso” a fim de adentrar aos observa-se o homem falando.
significados destes sujeitos aos espaços de
relações e cultos das religiosidades afro- Quando Orlandi defende a ideia de
brasileiras. que o discurso está sempre em construção,
ela se remete aos pressupostos
fenomenológicos, pois o discurso se torna
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um fenômeno ideológico, que está em fenomênico) e a ideologia na análise do
constante movimento. A autora ao discurso. Quando a autora fala em
mencionar em suas palavras o “homem”, materialidade do corpo, ela faz uma
ela se refere ao homem em geral, o homem relação entre
como espécie humana, desconsiderando o sujeito/corpo/linguagem/sociedade,
gênero, ou seja, ela sugere que a AD visando compreender o discurso,
conceba a linguagem como mediação pensando na sua historicidade, dando
necessária entre o homem e a realidade significado em um ou outro espaço de
natural e social (ORLANDI, 2013). existência, considerando o espaço de
Para se trabalhar com esta técnica vivência. Neste sentido, Orandi (2013, p.
de análise é importante considerar a 21) destaca
linguagem exteriorizada do sujeito, uma Para a Análise de Discurso, não se
vez que ela pode refletir as ideologias trata apenas de transmissão de

levando em conta o sentido, enquanto informação, nem há essa linearidade


na disposição dos elementos da
simbologias constituídas do próprio
comunicação, como se a mensagem
indivíduo e sua história. Para tanto,
resultasse de um processo assim
destaca-se as observações de Orlandi
serializado: alguém fala, refere-se
(2012, p. 83) sobre a questão da
alguma coisa, baseando-se em um
materialização do corpo, ou ainda, sobre o código, e o receptor capta a
processo de significação do mesmo mensagem, decodificando-a.
Considerando a materialidade do sujeito,
o corpo significa. Em outras palavras, a
Trazendo essa “fórmula” que a
significação do corpo não pode ser
autora destaca para a realidade da
pensada sem a materialidade do sujeito. E
vice-versa, ou seja, não podemos pensar a pesquisa, tem-se:
materialidade do sujeito sem pensar em
relação com o corpo. Por isso nos
- Alguém fala = travestis e transexuais
interrogamos: como juntar corpo, sujeito,
sentido, pensado a questão da - Refere-se alguma coisa baseando-se em
materialidade discursiva? um código = questões relacionadas as
suas vivências ou não nos terreiros de
cultos afro-brasileiros e de origem
Na perspectiva da autora, é africana
possível perceber que há, mesmo
- Receptor capta a mensagem,
intimamente, um interesse em relacionar a decodificando-a = pesquisador grava o
subjetividade do sujeito (o que se torna curso, compreende a fala e os gestos e
o interpreta
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Breve contextualização sobre a relação
O quadro pode ser entendido como Gênero, Sexualidade e Religião ______
uma forma resumida da proposta da Judith Butler é um dos grandes
pesquisa, porém a AD discutida por nomes dos estudos de gênero, sexualidade
Orlandi (2013) possibilita que esses e também queer3 no cenário acadêmico
segmentos não precisam estar nesta mundial. Ela traz para a
ordem propriamente dita, pois não há contemporaneidade, os estudos
separação do emissor e receptor. Neste envolvendo outra noção de gênero como
sentido, esses três elementos, podem estar os gays, lésbicas, transexuais e novas
relacionados criando um efeito de sentidos identidades homossexuais, que foram
entre os locutores, ou seja, criando uma invisibilizadas ao longo do tempo pelos
regularidade que só funciona se não estudos feministas. Para ela, essas outras
ocultar deste mecanismo, o social e o identidades sexuais desestabilizam as
histórico, o sistema em que tal sujeitos outras, sejam homo ou heterossexuais.
estão inseridos. Para tanto, considera-se Neste sentido, destacam-se as palavras de
que a AD seja a chave de interpretação de Butler (1990, p.7)
diferentes produções de sentidos da fala,
da linguagem, gestos e tudo que o O gênero pode também ser designado
pesquisador conseguir interpretar diante como o verdadeiro aparato de
de um discurso. produção através do qual os sexos são

A estrutura metodológica estabelecidos. Assim, o gênero não


está para a cultura como o sexo para a
representativa remete a fenomenologia
natureza; o gênero é também o
pois considera-se que é uma situação em
significado discursivo/cultural pelo
que sujeitos estão se envolvendo com algo:
qual a „natureza sexuada‟ ou o „sexo
uma vivência, uma experiência e suas
natural‟ é produzido e estabelecido
subjetividades estão em relação. A AD como uma forma „pré-discursiva‟
como busca das ideologias e anterior à cultura, uma superfície
representações que se repetem é um politicamente neutra sobre a qual a
engessamento teórico-metodológico à cultura age.
pesquisa, pois pode-se utilizá-la para
entender as subjetividades dos sujeitos. Argumentando posteriormente que
o gênero Butler (2008, p. 58)

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[...] é a estilização repetida do corpo, movimento à estrutura, tornando possível
um conjunto de atos repetidos no a possibilidade de pluralidades.
interior de uma estrutura reguladora A divisão de gênero funciona como
altamente rígida, a qual se cristaliza
uma espécie de pilar fundamental da
no tempo para produzir a aparência de
política feminista e parte da ideia de que o
uma substância, de uma classe natural
sexo é natural e o gênero é socialmente
de ser.
construído. Butler vai problematizar essa
premissa, onde discutir essa dualidade é o
Neste sentido, seguindo o
ponto de partida para que a autora
pensamento de Butler, o gênero não é um
debatesse o conceito de mulheres como
conjunto de significados culturais
sujeito do feminismo. Uma das maiores
impressos num corpo nem a interpretação
preocupações de Butler seria o
cultural de um corpo sexuado, e também
fortalecimento das teorias queer4, dos
ser do sexo masculino ou ser do sexo
movimentos de gays, lésbicas e
feminino não constituem uma essência
transgêneros e de certo abandono do
interior do indivíduo, mas sim, um
feminismo como um campo ultrapassado.
conjunto de normas fundamentadas sobre
Pelas considerações de Judith Butler
o corpo que geram essa aparência de
(2003, p. 39-40)
substância e torna o indivíduo livre.
A autora, traz em seu livro
A heterossexualização do desejo
“Problemas de Gênero: feminismo e
requer e institui a produção e
subversão da identidade” de 2003, a
oposições discriminadas e assimétricas
desconstrução do gênero. Pensa as ficções
entre “feminino” e “masculino”, em
sociais que produzem desigualdades nos que estes são compreendidos como
processos de produção de diferenças atributos expressivos de “macho” e
identitárias. Butler desconstrói essa meta “fêmea”. A matriz cultural por
narrativa sobre a perspectiva do corpo, intermédio da qual a identidade de
ressaltando que a representação de gênero gênero se torna inteligível exige que

é fragmentada, onde a diferença está no certos tipos de “identidade” não

próprio corpo. Um exemplo são as possam “existir” [...]

travestis, que não executam a


A autora destaca que a identidade é
masculinidade. Ele subverte o padrão de
uma categoria importante na construção
gênero, onde desestabiliza esta norma e dá
de um pensamento baseado na temática

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em questão, por apresentar diferentes questionam a linearidade do mecanismo de
formas de entendimento e compreensão. gênero, pois é considerável que o gênero é
Ela evidencia o mecanismo de gênero em constituído a partir das práticas sociais, ou
sua primeira parte da obra e destaca que o seja, os corpos das travestis e transexuais
feminismo pressupõe a existência de uma contrariam as normas de linearidade entre
identidade feminina, ou seja, o sexo/gênero/desejo. Neste sentido, o
estabelecimento de uma linguagem gênero é um fenômeno constante e
pressupõe a busca da visibilidade feminina. contextual, ou seja, resultado da relação
A crítica feminista tem de explorar as de espaço/tempo/relações sociais, ou
afirmações totalizantes da economia ainda, o espaço é permeado por relações de
significante masculina, mas também deve gênero e estas se ressignificam nas
permanecer autocrítica em relação aos relações socioespaciais cotidianas.
gestos totalizantes do feminismo Compreender os grupos
(BUTLER, 2003). marginalizados da sociedade
Os debates feministas heterossexual normativa, nas relações de
contemporâneos sobre o essencialismo gênero, vivenciadas no contexto da
ressaltam de outro modo a questão da religiosidade principalmente de origem
universalidade da identidade feminina e da africana e afro-brasileiras, é um desafio à
opressão masculina. Esta abordagem ciência geográfica. Por se tratar de
universalista é baseada em um ponto de temáticas também marginalizadas e pouco
vista epistemológico comum ou discutidas em âmbito acadêmico, o
compartilhada, como estruturas desenvolvimento de uma meta narrativa
compartilhadas de opressão. Neste que possa construir conceitos, fica a deriva
sentido, Butler (2006, p. 59) destaca que em estudos geográficos.
A busca do fenômeno espacial, em
O gênero é o mecanismo pelo quais as que as travestis e transexuais se destacam
noções de masculino e feminino são atualmente, seja ele relacionado a
produzidas e naturalizadas, mas ele territórios de poder ou espaços religiosos,
poderia ser muito bem o dispositivo
ressalta a ideia da subjetividade do sujeito,
pelo qual estes termos são
na vivência de espaços possíveis ou não a
desconstruídos e desnaturalizados.
diferentes expressões de gênero. Na
formação cultural da sociedade brasileira,
As travestis e transexuais como
a influência da religiosidade é um fator
exemplo de desconstrução do gênero,
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indiscutível, produzindo padrões de peculiar de cunho antropológico que
subjetividades masculinas e femininas, constitui e delimita os papéis de gênero
normatizando e estabelecendo formas de (masculinos e femininos). O embasamento
controle sobre a sexualidade, dessa visão encontra-se em uma ordem
principalmente no que se refere as talvez indiscutível, por estar em forma de
relações afetivas. O surgimento da dogmas. À medida que as expressões da
diversidade religiosa não tem se mostrado sociedade surgem, as religiões
suficiente para alterar a hegemonia do reproduzem sua ordem de valores, que
modelo normativo dessas relações e refletem em seu discurso, sob o pretexto
reduzir a marginalização daqueles que não da revelação divina.
se encaixam nos padrões estabelecidos Rosendahl (1996) enfatiza que, os
pela sociedade normativa. Portanto, a estudos realizados com a temática
temática de gênero e sexualidade, geografia da religião, possuem diversos
juntamente com a intercessão do padrão sentidos de análise, que incluem a
heterossexual das relações, se mantêm diversidade dos fenômenos religiosos e as
como uma questão de confluência entre a inúmeras possibilidades que buscam
maioria dos grupos religiosos como um explicar a expansão de diferentes religiões
todo. no espaço e no tempo. Neste sentido,
O acréscimo da diversidade analisar religião não está apenas em
religiosa não tem se mostrado suficiente enfatizar a fé, mas também evidenciar as
para decompor a hegemonia da possibilidades de relações sociais que os
normatividade de relações afetivas e espaços simbólicos constituem diante dos
sexuais. Ainda não reduzem a indivíduos que dividem a mesma crença.
discriminação àqueles que vivenciam Sobre essa questão, destaca-se as
formas alternativas de identidade e considerações de SOUZA (2004, p. 122-
orientação sexual, porém não se pode 123)
generalizar, uma vez que algumas
religiões procuram ser mais abertas as A religião é, antes de tudo, uma
questões relacionadas a opção sexual de construção sócio-cultural. Portanto,

cada adepto ou fiel que a cultua. As discutir religião é discutir


transformações sociais, relações de
religiões têm, explícita ou implicitamente,
poder, de classe, de gênero, de
em sua estrutura teológica e prática
raça/etnia; é adentrar num complexo
institucional e histórica, uma visão
sistema de trocas simbólicas, de jogos
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de interesse, na dinâmica da oferta e na geografia e a irrelevância da temática
da procura; é deparar-se com um para a Geografia Crítica funcionaram
sistema sócio-cultural como complicadores para que isso
permanentemente redesenhado que
acontecesse, tal fato justifica a
permanentemente redesenha as
aproximação da religião a Geografia
sociedades.
Cultural e Humanista, duas tendências
geográficas baseadas nos estudos humanos
Ao enfatizar a relação da religião
e sociais. Neste sentido, destaca-se a noção
com as transformações sociais, no nosso
introdutória desses estudos, nas palavras
caso, as que envolvem o gênero, sugere-se
de GIL FILHO (2007, p. 208)
discussões que possam identificar a
influência dos padrões normativos diante
O homem no seu processo de
de uma nova visão sobre a diversidade. A
adaptação com o meio marca a
religiosidade afro integra todas essas terra a partir de seu pensamento
discussões, uma vez que todas elas fazem atribuindo sentido às
parte de seu universo fundamentalista. realidades naturais e sobrenaturais.
Um exemplo importante a ser considerado Deste modo o homo faber
sobre diversidade de gênero, está atrelado sapiens torna-se o homo religiosus.
aos grupos queer dentro dos terreiros de Em razão deste aspecto é

cultos afro-brasileiros e de matriz africana. necessário que uma parte da


Geografia Humana estude o
As travestis e transexuais são grupos
homem sob à influência da religião, ou
sociais excludentes das convenções da
seja, uma Geografia das
sociedade, onde ser normal, é ser
Religiões.
heterossexual.
Partindo da perspectiva de que a
A geografia na sua perspectiva
religião é uma temática de cunho social,
humanista e também cultural pode ser
com uma gama de significações espaciais,
capaz de explicar essas relações de
durante muito
subversão e/ou de acolhimento por parte
tempo não interessou aos estudos
de grupos religiosos no que se refere a
geográficos, deixando as ciências sociais se
introdução desses grupos sociais
apropriarem, contribuindo
marginalizados da sociedade
fundamentalmente, para a compreensão do
heteronormativa. É importante ressaltar
fenômeno. Na visão de Rosendahl (1996),
que os estudos do fenômeno religioso
a influência positivista
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estão atrelados a estas duas tendências, dogmas de uma religião pode influenciar
pois ainda se baseiam em códigos culturais nas ações do sujeito, refletindo nas suas
de determinado grupo social para explicar relações estabelecidas socialmente. A
as manifestações religiosas no espaço. partir desta perspectiva, uma das
Neste sentido, ressaltarei algumas possibilidades diante da composição do
premissas que possam justificar a espaço religioso por relações sociais
necessidade de um olhar geográfico em se diferenciadas de gênero e também de
debruçar na temática de gênero e sexualidade pode ser relacionada diante de
sexualidade para analisar a atual uma análise de discurso e também cultural
configuração espacial de forma que o dos pressupostos da diferenciação de
próprio espaço sagrado seja possível crenças. A partir da premissa de que a
principalmente aos grupos queer. Sob esta religião é uma forma de conhecimento
perspectiva de se analisar o fenômeno relativo, é possível entendê-la como
religioso a partir das realidades sociais, dinâmica e diversificada. (GIL FILHO,
Claval (1999, p. 53) afirma: 2008). Neste sentido, é possível relacionar
as religiões como possíveis espaços
Insistindo sobre o sentido dos lugares, interditos ou não-interditos às diferentes
sobre a importância do vivido, sobre o relações e expressões de gênero e
peso das representações religiosas, sexualidade. A partir desta ideia, Lemos
torna indispensável (2005, p. 26) considera que
um estudo aprofundado das realidades
culturais. É necessário conhecer a
A religião continua em cena porque o
lógica profunda das ideias, das
ser humano precisa dela para se
ideologias ou das religiões
localizar num mundo dotado de
para ver como elas modelam a
significado e para se entender como
experiência que as pessoas têm do
parte de um cosmos. Ou seja, o
mundo e como confluem sobre sua
indivíduo para entender a si mesmo,
ação.
compara-se com outros, com valores,
instituições e com os significados
Quando Claval fala em presentes na sociedade. Caso não
“experiências das pessoas”, mesmo que consiga se localizar em relação ao
ocultamente, está falando em indivíduos lugar que ocupa no seio da sociedade,
sem destacar o gênero e/ou sexualidade. sente-se ameaçado de perder os laços
Ele traz a ideia de que essas ideologias, que o satisfazem emocionalmente, a

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sua orientação na experiência da vida, Eu sempre fui de religião, e não tenho
ou seja, sente-se ameaçado de anomia. um terreiro fixo. Vou onde tem festas
e que sei que sou bem-vinda. Na
Tendo em vista as considerações verdade, decidi assim por que se uma

de Lemos acerca da procura do homem mãe (de santo) descobre que estou
indo em uma casa que ela não gosta,
pela fé, sugere-se que se os grupos queer
depois vira fofoca. Então prefiro assim
sentem-se fora dos padrões, considerando
mesmo, sem estresse, sem problema,
que a religião possa dar sentido à vida dos
apenas curtindo os “bafos”5. [...]
sujeitos, talvez seria possível compreender
(Maria)
que a presença de uma religiosidade [...] eu vivia sempre sem nada, não
focada aos grupos exclusos da sociedade tinha essa coisa de acreditar em nada,
normativa, é uma tentativa do que se já tinha perdido todos os créditos,
poderia chamar de liberdade assumida da digamos assim. Ai foi quando eu
negação de um padrão dominante. reencontrei uma amiga que é trans, a
gente se reencontrou depois de muitos

Os discursos das travestis e anos, e ai eu não estava ainda no


processo de mudança, e ela me
transexuais: afirmação ou
convidou: “vamos lá, tenho que visitar
desmistificação? ___________________
meu pai de santo, faz muitos anos que
não venho ao Brasil, eu quero ir lá e
As vivências travestis e tu quer ir junto comigo?”, ai eu disse:
transexuais nos terreiros de cultos afro- “vou, vamos, né? O que há, né?”
brasileiros tem como resultado da Cheguei lá, fui muito bem recebida,
marginalização tanto dos grupos queer, aquela coisa toda, vi que também era
quanto da religião, que ainda está em uma trans e aí depois teve outro
processo de afirmação na sociedade momento que fui numa festa de

brasileira. A pesquisa encontrou nos religião lá, aí um dia eu disse que


queria jogar os búzios. E aí ela jogou
discursos, a aproximação dos sujeitos
os búzios para mim, essa que é pai de
travestis e transexuais com a religiosidade
santo, que hoje é mãe de santo
afro, em diferentes perspectivas. Ao
também. Aí ela jogou os búzios e
serem questionadas sobre a
parecia que ela estava desvendando
aproximação com a religiosidade afro, toda minha história, coisas que eu não
obtivemos as seguintes respostas: tinha nunca falado pra ninguém,
coisas minhas, coisas muito

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individuais, enfim, parece que ela Com base no segundo discurso
havia aberto um livro da minha vida. apresentado, detalhou-se a primeira
Dai eu fiquei impressionada com experiência de Flor dentro da religião, que
aquilo e comecei a frequentar, ir lá e
foi através de uma amiga, a qual abriu a
tal. Na época que ela jogou os búzios,
oportunidade da mesma conhecer afundo o
ela disse que “tu não tem, atualmente
modo de como se apresentavam as
tu tá perdido, sem nenhuma crença, a
religiões afro. De certa forma, foi um olhar
pessoa precisa ter uma crença
superior, coisa e tal. Mas tu fica livre.
primeiro da entrevistada, sendo que, ela

Tu tens dois caminhos, ou tu segue mesma, inicia seu discurso salientando que
essa vida que tu tem, ou tu segue o não acreditava em nenhuma crença. Essa
outro caminho que é o da primeira impressão sobre a religiosidade a
religiosidade”. Então foi isso. Na qual teve Flor, foi o ponto de partida para
verdade, eu me aproximei através de que ela percebesse outras questões que
uma amiga para essa religião e ai poderiam dizer muito mais sobre ela
comecei então a frequentar aos
mesma. Os búzios, a que se referiu, foi
pouquinhos, mas sempre com aquele
uma forma de apresentação de caminhos e
olhar observador, né? De não cair
relações que Flor poderia alinhar na sua
direto, por que tu sabe, a gente fica
compreensão sobre o que seria a crença.
com o pé atrás com algumas coisas,
Isto fica evidente, quando ela diz que
né? E aí foi quando comecei a
frequentar. (Flor)
Bom, aí depois, que eu fiz o primeiro
ritual, parece que deu uma mudança, mas
Maria não entrou em muitos
também eu posso te dizer, que foi através
detalhes sobre sua inserção dentro dos dali que eu tive um pouco de
terreiros, mas salientou que prefere em ir autoconfiança, até para começar a
em todos conhecidos e não assumir o construir essa minha identidade, começar

compromisso que a religião propõem, em a ter coragem de sair do armário e toda


aquela história, então quer dizer, foi
nenhum. Salienta que gosta de terreiros
também através da religião que eu tive
onde ela é bem-vinda, coisas força em acreditar que era possível. E
aparentemente típicas de indivíduo adepto tanto é que assim, lembro como se fosse
e que vê na religiosidade afro, um lugar hoje, eu fui no dia 23 de junho, fui lá na

para estabelecer relações de amizade, casa dela, lavei minha cabeça na verdade,
fiz minha primeira obrigação com ervas,
afetiva e até mesmo de diversão.
lavei com omieró5 e tal, e no dia 24 sai de
lá. Fiquei um dia lá dentro da terreira. E
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ai eu sai de lá assim pensando “bom, agora “compromissadamente” uma religião,
o que mais eu vou fazer?”, parecia que eu entrei para a Nação africana. (Rosa)
tinha, não digo que foi isso, entendeu? Amiga, metade da minha família já era
Mas aquilo me fez despertar para outras
da religião, mas nunca tinha me
questões. Isso foi em junho, e dali em
identificado, chegou um momento que
diante não parei e minha vida mudou
sei lá... Algo me chamou, sabe? E fui
totalmente. (Flor)
me identificando, então hoje sou da
Umbanda e da Nação. (Rafaela)
Para Flor, a crença referida nas
Olha... Nasci e me criei dentro da
religiões afro, foi de extrema importância
religião, meus avós eram de religião.
na construção de sua identidade e o modo Eu sou a sexta geração de minha
de como sua vida passou por diversas família herdando nosso Terreiro.
transformações. Essa intensa ligação, pode Agora tenho meu próprio Terreiro,
ser relativizada como os parâmetros mas o de meus pais ainda está aberto
hegemônicos da religiosidade afro, ajuda com direção de minha cunhada e
na construção do sujeito em seu primos. O afro é tudo pra mim, meu

norteamento enquanto ser social. Nesta orixá Oyá é a força de minha vida.
(Beta)
perspectiva, é importante ressaltar que o
desenvolvimento da identidade religiosa
Nestes três discursos, percebe-se a
está condicionado a uma determinada
semelhança de aproximação dos sujeitos
temporalidade e espacialidade e perpassa o
com a religiosidade. Os três sujeitos já
reconhecimento institucional da religião.
estavam inseridos, mesmo que não
(GIL FILHO, 2008).
assiduamente, na religião. As três
Ainda sobre esta perspectiva da
entrevistadas são filhas de adeptos, e isso
aproximação com a religiosidade afro,
facilitou, pelas palavras acima, a
destacamos outros três discursos
identificação com os cultos. É importante
diferentes no que se refere a inserção em
destacar que a Nação em que Rafaela
terreiros de cultos afros.
destaca, é um seguimento religioso de

Eu nasci em uma família de mãe origem africano, o qual os médiuns


católica e pai umbandista, sempre tive trabalhavam dentro dos terreiros, apenas
contato com as religiões de matriz com orixás. Já a Umbanda, há o
africana. Em 2008 quando me senti sincretismo religioso, onde se reverencia
preparado para seguir as entidades com os mesmos nomes da
religião católica.
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O processo de inserção também de casa, tive um tempo fora, depois
pode-se considerar semelhantes, uma vez deu certo tudo, mas eu comecei muito

que as entrevistadas, passaram por um cedo na religião. (Lola)

processo de reconhecimento da
religiosidade e também esperaram o A aproximação de Lola é um caso

tempo certo de assumir os compromissos muito especial que envolve muitas das

que ela exige. Como fundamentos das transexuais e travestis na religiosidade

religiões afro, uma das questões é a afro. Em sua fala, ela destaca que sofria de

preparação psicológica para enfrentar os problemas como insônia e agitação e que

desafios propostos por ela. Rosa, ao isso era resultado de sua mediunidade.

evidenciar a palavra “compromisso”, trás a Aqui abro um parêntese que considero

ideia dessa preparação e Rafaela, ao interessante. Quando nos interessamos

destacar a “identificação”, declara o seu por essa temática, prevíamos que nos

aprofundamento dentro da religião afro. discursos, as travestis e transexuais

Destacamos também o discurso de procurassem a religião afro com o objetivo

Lola, onde ela diz que, de se tratarem de alguma enfermidade.

Na verdade, eu tenho 25 anos de Ao serem questionadas se a


religião. Eu comecei, eu tinha religião mudou algo em suas vidas, elas
quatorze, treze para quatorze anos e respondem com euforia e emoção, através
foi por intermédio de uma colega de de gestos espontâneos. A perspectiva das
escola, por que a família dela era da respostas é diferente, porém a ideia de
casa de umbanda, né? E eu ia, me emoção pode ser considerada a mesma, na
identifiquei. Na época eu tinha vários
medida em que elas ressaltam a
problemas de agitamento, de não
importância da religião em suas vidas:
dormir direito, né? E a mãe me
levava para consultar e os médicos
Mudou muito! Pois eu por ter mãe
nunca achavam nada e na verdade o
católica e pai umbandista via o quanto
que eu tinha era uma mediunidade
a igreja católica demonizava os
muito forte. Aí eu entrei e inclusive
homossexuais e as religiões de matriz
não foi fácil no começo porque, foi
africana não, pois as religiões afro não
escondido do meu pai, principalmente,
colocam a orientação sexual como um
e minha mãe sempre soube de tudo,
tabu. Inclusive na nossa religião
inclusive da minha própria
temos divindades que são
sexualidade. Então me escondi de
homossexuais. (Rosa)
início do meu pai e meu pai me tirou
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Nossa! A religião foi meu porto sentido, ele é posto em evidência, mesmo
seguro. Foi tudo na minha vida. Com que ocultamente, como um mecanismo
ela aprendi muitas coisas e conheci que regularia o próprio papel das
muitas pessoas que até estão em
entrevistadas do mundo. Rosa, ao referir-
minha vida. (Rafaela)
se sobre as “divindades homossexuais”,
O afro é tudo para mim, meu orixá
descobrimos um ponto positivo a mais que
Oyá é a força de minha vida. Há muito
leva a Umbanda, Quimbanda e Nação
preconceito, ninguém dá chance a
trans ou travestis. Graças a Deus e
como possíveis as diferentes expressões de

aos orixás tenho outra renda e um gênero. A afirmação de que há entidades


bom marido. (Beta) homossexuais nas religiões afro, ainda é
[...] foi através dali que eu tive um uma discussão que não tem um
pouco de autoconfiança, até para embasamento teórico-filosófico que
começar a construir essa minha concretize as suas existências, pois são
identidade, começar a ter coragem de suposições dos sujeitos que cultuam a
sair do armário e toda aquela história,
religião.
então quer dizer, foi também através
Possível explicação para essa
da religião que eu tive força em
discussão está aquela ligada a
acreditar que era possível. [...] Foi
espiritualidade em si, onde muitos
assim, uma mudança radical, que no
espíritos estão sendo revelados em
outro ano em junho, eu já tinha ido
pra Europa, eu já tinha assumido diferentes manifestações dentro do
minha identidade, já tinha feito minha terreiro. Há quem diga que, com o passar
cirurgia e desde aquele período, um do tempo, alguns espíritos não chegam
ano depois, muita coisa mudou, muita mais a terra e no lugar, são enviados
coisa aconteceu. Inclusive, não digo outros. Neste sentido, não se sabe o
financeira, mas parece que abriu número certo de entidades que fazem
várias possibilidades, tanto no mundo
parte das religiões afro, mas sabe-se que
assim... Então foi isso, basicamente.
os espíritos se renovam e que podem ser
(Flor)
velhos ou novos. Beta e Rafaela foram
objetivas em relatar que a religiosidade foi
A questão da religiosidade na vida
tudo em suas vidas, porém era perceptível
das quatro travestis e transexuais está
em seus gestos, sentimentos e emoções
muito presente. O terreiro pode ter sido
demonstrados juntos das palavras. Pode-
uma forma de integração muito maior e de
possibilidades de relações sociais. Nesse
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se dizer que a religião, foi a base para a Amore, o que eu entendo sobre a
construção de suas vidas. opção das trans e das travestis

Destacando então, o discurso de escolherem a religião africana,


umbanda e candomblé seria a boa
Flor, onde a religiosidade foi um dos
aceitação delas nessa religião. Existe
elementos principais para que a travesti
até rituais de união homoafetiva,
“saísse do armário”, fica evidenciado a
festas lindas. Também tem a
intrínseca relação do sujeito com a fé. Para
quimbanda, que lida mais com o lado
ela, a religiosidade não foi apenas um magia negra, exus e pomba giras [...]
lugar de relações sociais, mas também de (Maria)
encontro com si mesma. Isso a ajudou no
processo de identificação, ressaltando Considerando que as religiões afro-
ainda mais sua orientação sexual, brasileiras e de origem africana são
afirmando a sua identidade enquanto diferenciadas nesta perspectiva de gênero,
homossexual. Ao salientar a religiosidade é possível salientar duas expressões
em sua vida é possível entender que as básicas que assumem forma de valorização
religiões afro-brasileiras e de origem do que se refere a identidade dos sujeitos:
africana podem se tornar um espaço “não define sexualidade” e “braços abertos
possível às vivências travestis e sem preconceitos”. Essas expressões
transexuais em qualquer ocasião, seja em importantes na construção desse trabalho,
rituais de passagens (festas), ou como é uma forma de manifestação a favor da
membro do terreiro. religiosidade afro. O terreiro, inicialmente
Questionadas sobre a presença como espaço, é tido como o lugar,
das travestis e transexuais nos posteriormente, de relações sociais, as
terreiros de cultos afros, obtivemos as quais se caracterizam pela própria
seguintes respostas: identificação religiosa citada pelas
entrevistadas. Ainda que as duas sejam
Felizmente é a religião que recebe a filhas de
gente, homossexuais, de braços umbandistas/quimbandistas/adeptos a
abertos sem preconceitos. [...] por
Nação, não se pode considerar um
que na realidade o que importa é o
elemento único para suas inserções dentro
respeito e o fundamento, e eles
do terreiro. A identificação também pode
tornam tudo igual, sem distinção de
estar relacionada com o modo em que a
sexo e gênero. (Rafaela)
religião as acolheu e acolhe. É um modo

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200:
primeiro de estabelecer uma experiência acolhimento ao modo de ser e viver das

dentro da mesma, através de sentimento travestis e mulheres transexuais e, em


outros casos, reproduzindo os papéis de
de pertencimento.
gênero e sexuais vigentes, lhes impõe uma
Ao longo da pesquisa, descobrimos forma engessada de cultuar os orixás,
que o espaço do terreiro, além de ser fazendo com que muitas pessoas trans
aberto as expressões das travestis e desistam da vida religiosa, mas leve para

transexuais também é fundamental na outros espaços de sociabilidade trans, a


cultura, a linguagem e os costumes
construção da identidade do sujeito, seja
aprendidos na vivencia do candomblé.
ele heterossexual ou homossexual, e que a
desconstrução do gênero é sempre uma
Com base nas palavras de Birman e
meta pela qual a maioria dessa população
considerando as experiências de vidas das
religiosa, propõem dia após dia. Para isso,
transexuais e travestis aqui enunciadas,
ressalta-se as considerações de Birman
considera-se parcialmente que ainda assim
(2005, p. 404)
as religiões afro-brasileiras e de origem
africana têm sido procuradas por esses
É possível melhorarmos
sujeitos, uma vez que, mesmo com
significativamente a compreensão que
diferentes formas relações estabelecidas
temos sobre as relações de gênero e o
entre elas, oferecem um espaço possível
espaço concedido à sexualidade nesses
cultos. Isso porque poderemos olhar
para que possam expressar a sua

com menos constrangimentos teóricos religiosidade tentando associar com a sua


e, quiçá, teológicos as delicadas identidade de gênero.
relações que se tecem quando a A religiosidade afro é
prática da possessão entrelaça marginalizada e estigmatizada por
humanos, deuses e espíritos em integrar a diferença entre expressões de
tramas que envolvem desejos sexuais, gênero. A ideia de que o espaço sagrado
elos afetivos e papéis de gênero com
do terreiro estabeleça relações diversas,
os diferenciais de poder que
surge para a sociedade como uma forma
atravessam todas essas inter-relações.
de desconfigurar a linearidade da
padronização produzida e estabelecida na
E as considerações de Santos
matriz cultural brasileira.
(2013, p. 17), onde conclui que

Considerações finais ________________


O candomblé aparece como um espaço
ambíguo por oferecer em alguns casos o
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201:
A geografia humana, juntamente transgressão, compreendendo então, que
com a perspectiva queer pode ser capaz de apesar de todas as divergências e
explicar essas relações de subversão e/ou dificuldades, esses espaços são possíveis.
de acolhimento por parte de grupos
religiosos no que se refere a introdução NOTAS ________________________________

desses grupos sociais marginalizados da


1 Mestranda do Programa de Pós-graduação em
sociedade normativa. A partir desta
Geografia pela Universidade Federal de Santa
perspectiva, uma das possibilidades diante Maria (UFSM). Integrante do Laboratório de
da composição do espaço religioso por Espacialidades Urbanas (LABEU) do
relações sociais diferenciadas de gênero e departamento de Geociências da UFSM. E-mail:

também de sexualidade pode ser tayflores181@yahoo.com.br.


2 Docente do Departamento de Geociências e
relacionada diante de uma análise de
Programa de Pós-graduação em Geografia pela
discurso e também cultural dos Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
pressupostos da diferenciação de crenças. Coordenador do Laboratório de Espacialidades
Os estudos queer em relação a Urbanas (LABEU) do departamento de
Geociências da UFSM. E-mail:
subjetividade e intersubjetividade das
benpinos@gmail.com.
travestis e transexuais, são compostos 3 Queer tem inúmeros significados e traduções,
substancialmente nas suas relações de porém pode ser considerado estranho, esquisito.
poder. Paralelo a isso, a fenomenologia Ver em: LOURO, Guacira Lopes. O corpo
poderá ser a opção de um caminho para estranho. Ensaios sobre sexualidade e teoria queer.

compreender a relação do ser social Belo Horizonte: Autêntica, 2004.


4 Considera-se uma teoria sobre o gênero onde diz
travesti e transexual com o espaço em que
de forma geral, que a orientação sexual e a
vivencia e estabelece diferentes relações identidade sexual ou de gênero dos indivíduos são
interpessoais. o resultado de uma construção social. Neste
O espaço do terreiro, é de sentido, ela defende a ideia de que não existem

afirmação de uma religiosidade cada vez papéis sexuais essencial ou biologicamente


inscritos na natureza humana. Ver em: BUTLER,
mais marginalizada por integrar
Judith. Problemas de Gênero: Feminismo e
diferentes expressões de gêneros, e a subversão da identidade. Rio de Janeiro:
crença coloca em evidência, como Civilização Brasileira, 2003.
podemos desatrelar das pesquisas, 5 Há inúmeras interpretações para este termo, que

identidades sexuais e de gênero que a princípio, significa algo que chama atenção. Na
linguagem das travestis e transexuais, “bafo” pode
transitam entre o reconhecimento aos
representar acontecimentos divertidos em geral,
padrões normativos dominante e a sua conflitos, fofocas, brigas e extravagâncias que toda

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202:
travesti e transexual, ou sujeito LGBT gosta, pois
MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia
remete a desconstrução da normalidade social e do
da Percepção. São Paulo: Martins Fontes, 1971.
equilíbrio, ou seja, o extravagante e a _______________. Fenomenologia da
desconstrução são suas realidades. Percepção. Tradução Carlos Alberto Ribeiro de
Moura. 2° Ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso em Análise:
6 Infusão de folhas e ervas utilizadas para banhar Sujeito, Sentido, Ideologia. Campinas, SP, Pontes,
pessoas ou iniciados na religião. Ver em: 2012. 239p.

https://books.google.com.br/books?isbn=853140 __________. Análise de discurso: princípios e


7427. Acesso em: 23 de abril de 2016. procedimentos. 11 ed. Campinas: Pontes, 2013.
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abordagem geográfica. Rio de Janeiro: Eduerj,
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Representação: Reconstruções teóricas da
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LOURO, Guacira Lopes. O corpo estranho.


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203:

LAS EXPERIENCIAS TRAVESTIS Y TRANSEXUALES EN EL ESPACIO RELIGIOSO DE EL PÁTIO


DE CULTOS AFROBRASILEÑOS Y MATRIZ AFRICANOS
RESUMEN: EL GÉNERO, LA SEXUALIDAD Y LA RELIGIÓN SON TEMAS POCAS VECES DISCUTIDOS DENTRO DE LA
GEOGRAFÍA, Y ESTÁN ESENCIALMENTE VINCULADOS A LOS ESTUDIOS DE CIENCIAS MARGINALES. SIN EMBARGO, CON LA
EXPANSIÓN ACTUAL Y DEMOSTRACIONES DE DIFERENTES EXPRESIONES DE GÉNEROS, COMO MANIFESTACIONES DE
CARÁCTER RELIGIOSO EN EL ESPACIO, LA CIENCIA GEOGRÁFICA, JUNTO CON LAS CIENCIAS SOCIALES, SIGUE LA
TRAYECTORIA DE LA EMPRESA EN ESTA TEMPORALIDAD, CONVIRTIÉNDOSE EN UNA CIENCIA INTERDISCIPLINARIA Y
PLURAL. POR LO TANTO, ESTE ARTÍCULO TIENE COMO PRINCIPAL OBJETIVO DE RELACIONAR EL ESPACIO DEL PATIO DE
LOS CULTOS AFRO- BRASILEÑA Y ORIGEN AFRICANO COMO LUGAR DE POSIBILIDAD DE LA EXPERIENCIA DE TRAVESTIS Y
TRANSEXUALES EXPRESIONES. TENGA EN CUENTA QUE LA RELIGIÓN AFRICANA EN TODAS SUS MANIFESTACIONES, ES
PERIFÉRICO. LA IDEA DE QUE EL ESPACIO SAGRADO DE LA YARDA ES LAS RELACIONES DE LAS DIFERENTES
EXPRESIONES DE GÉNERO, APARECE A LA SOCIEDAD COMO UNA FORMA DE ROMPER LA LÍNEA CONTINUA DE LOS
NIVELES HETERONORMATIVOS.
PALABRAS-CLAVE: GÉNERO; RELIGIÓN; GEOGRAFÍA.

THE EXPERIENCES TRANSVESTITES AND TRANSSEXUALS IN SPACE OF TERREIROS CULTS


AFRO - BRAZILIAN AND AFRICAN ORIGIN
ABSTRACT: GENDER, SEXUALITY AND RELIGION ARE ISSUES SELDOM DISCUSSED WITHIN THE GEOGRAPHY, AND ARE
ESSENTIALLY LINKED TO MARGINAL SCIENCE STUDIES. HOWEVER, WITH THE CURRENT EXPANSION AND

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204:
DEMONSTRATIONS OF DIFFERENT EXPRESSIONS OF GENRES, AS MANIFESTATIONS OF RELIGIOUS NATURE IN SPACE,
GEOGRAPHICAL SCIENCE, TOGETHER WITH THE SOCIAL SCIENCES, FOLLOWS THE TRAJECTORY OF THE COMPANY IN THIS
TEMPORALITY, BECOMING AN INTERDISCIPLINARY AND PLURAL SCIENCE. THUS, THIS ARTICLE HAS AS MAIN OBJECTIVE TO
RELATE THE SPACE OF THE YARD OF AFRICAN -BRAZILIAN CULTS AND AFRICAN ORIGIN AS A PLACE OF POSSIBILITY OF
EXPERIENCE AND TRANSVESTITES AND TRANSSEXUALS EXPRESSIONS. PLEASE NOTE THAT THE AFRICAN RELIGION IN ALL
ITS MANIFESTATIONS, IS PERIPHERAL. THE IDEA THAT THE SACRED SPACE OF THE YARD IS RELATIONS OF DIFFERENT
GENDER EXPRESSIONS APPEARS TO SOCIETY AS A WAY TO BREAK THE CONTINUOUS LINE OF HETERONORMATIVE
STANDARD.
KEYWORDS: GENDER; RELIGION; GEOGRAPHY.

ESPAÇO E CULTURA, UERJ, RJ, N. 38, P.181-204, JUL./DEZ. DE 2015


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