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Como escrever melhor…

A escrita é um processo complexo, de maturação e de melhoramento contínuo. Nada


surge por acaso, tudo resulta de um árduo esforço de perfeição que só a prática torna possível.
Assim, desde o momento inicial – em que, perante um tema, se lançam para o papel ideias
diversificadas que se organizam num plano/esquema – até à fase final – em que se melhora a
pontuação, se revê a ortografia e enriquece o vocabulário – o processo da escrita é longo,
exigente e reflexivo, compreendendo três etapas.

Planificação

No início do processo, perante o tema proposto e a tipologia textual exigida, lançam-se


para o papel ideias, palavras-chave, expressões feitas,… Faz-se um plano que contemple o
resultado do trabalho anterior, agora de uma forma mais desenvolvida e ordenada, para que
não se esqueça o essencial, para não repetir ideias e para que o texto seja coeso e coerente,
não esquecendo que qualquer texto é constituído por três partes fundamentais.

Introdução

Apresenta uma situação inicial a partir da qual o enredo evolui e se altera, ou


aprofunda. Geralmente, ocupa um parágrafo genérico, que é o ponto de partida para os
parágrafos seguintes.

Desenvolvimento

Pode ocupar vários parágrafos, constituindo o corpo do texto. Concentra a maior parte da
informação e as diferentes perspetivas relativamente ao assunto principal.

Conclusão

Normalmente, ocupa um só parágrafo, que realça e sintetiza o mais importante e finaliza a


ação do texto.

Textualização

A textualização diz respeito à concretização escrita do plano, tendo em atenção alguns aspetos
essenciais:

 assinalar corretamente os parágrafos;


 respeitar a pessoa e os tempos verbais;
 não produzir frases muito longas;
 utilizar uma pontuação correta para assinalar pausas, realçar a intencionalidade
comunicativa dos interlocutores, dar ênfase às ideias mais importantes;
 não repetir a construção frásica, variando os conetores e o vocabulário;
 adequar o registo de língua ao contexto.

Revisão

A revisão ou avaliação é a parte final de todo o processo, tendo como objetivos:


 o aperfeiçoamento do texto, suprimindo ideias ou expressões repetidas, deslocando
frases de um momento do texto para outro e substituindo alguns vocábulos por outros mais
sugestivos;
 o alargamento vocabular;
 a correção de ortografia, acentuação, pontuação e sintaxe.
COERÊNCIA E COESÃO TEXTUAIS
A palavra texto deriva do latim texto- (tecido). Um texto é, assim, um
entrelaçamento, ou seja, um conjunto ordenado de enunciados, devidamente
articulados de acordo com critérios de coesão e de coerência textuais.

COERÊNCIA TEXTUAL

Considera-se que um texto é coerente quando as ideias que o constituem se


encontram ligadas de forma lógica, permitindo a sua correta interpretação.
Ex. Gostei de ler o livro, pois a intriga era interessante.

(Esta frase é coerente, pois a justificação apontada para o facto de se ter apreciado a leitura é
lógica. Seria incoerente dizer – Gostei de ler o livro, pois a intriga era desinteressante.)

Para que um texto seja coerente, é necessário:

que se mantenham alguns referentes (por exemplo, no texto narrativo, podem


manter-se como referentes as personagens, o espaço e o tempo);
que se introduza informação nova ( garantindo a progressão temática);
que não se contradiga o que se disse (ou que ficou pressuposto) antes.

COESÃO TEXTUAL

Há coesão textual quando os vários elementos linguísticos de um texto se


encontram ligados entre si. A coesão é assegurada através:
- da ordem das palavras na frase:

Ex. Eu li um livro. (* Um li eu livro.)

- da concordância:

Ex. Eu li um livro. (*Eu li uma livro.)

- do uso correto de preposições, conjunções, conectores:

Ex. Li um livro em duas horas; de seguida, fechei-o e arrumei-o.

- da pronominalização:

Ex. Li um livro; de seguida, fechei-o e arrumei-o.

- da substituição lexical:

Ex. Os livros são mais interessantes do que os filmes; de facto, as peliculas são
pouco expressivas.

- da repetição intencional:

Ex. Leio muitos livros: leio romances, leio BD, leio poesia …

- do uso interdependente dos tempos verbais:

Ex. Lembro-me que aos quinze anos li um livro que já lera antes.
MARCADORES DISCURSIVOS

Um texto / discurso não é uma soma arbitrária de palavras ou frases, mas um todo coeso,
coerente e estruturado, isto é, um conjunto de elementos interligados de acordo com uma
sequência e com as regras gramaticais da língua portuguesa.

 Os marcadores discursivos contribuem para a coesão de um texto (oral ou escrito).


 Englobam diversos elementos linguísticos.
 Não desempenham qualquer função sintática na frase.
 Permitem estabelecer conexões entre enunciados, de modo a construir um discurso
coeso e coerente.
 Fazem parte dos marcadores discursivos os conetores, que englobam elementos
linguísticos pertencentes a diferentes classes de palavras (conjunções, advérbios ou
interjeições).
 Em síntese, são os seguintes os principais marcadores discursivos:

Marcadores discursivos
Os marcadores discursivos são unidades linguísticas invariáveis que permitem
estabelecer conexões entre enunciados, de modo a construir um discurso coeso e coerente.

Designação Função Marcadores discursivos

por um lado, por outro lado, em primeiro lugar,


Estruturação da ordenar a informação, após, antes, depois, em seguida, de seguida,
informação sequencialização seguidamente, até que, por último, para
concluir, cocluindo…

ou seja, isto é, quer dizer, por outras palavras,


reformular o discurso, quer dizer, ou melhor, dizendo melhor, ou
Reformuladores explicando-o ou retificando- antes, como se pode ver, é o caso de, como
o vimos, quer isto dizer, significa isto que, não se
pense que, pelo que referi anteriormente

de facto, na verdade, na realidade, com efeito,


por exemplo, efetivamente, note-se que,
atente-se em, repare-se, veja-se, mais
concretamente, é evidente que, a meu ver,
Operadores
reforçar e concretizar ideias estou em crer que, em nosso entender,
discursivos
certamente, decerto, com toda a certeza,
naturalmente, evidentemente, com isto (não),
pretendemos, por outras palavras, ou melhor,
ou seja, em resumo, em suma

Marcadores
gerir a relação entre os
conversacionais ouve, olha, presta atenção
interlocutores
ou fáticos

Conetores / Articuladores do discurso


Os conetores ou articuladores têm como função articular, conectar, ligar grupos de
palavras; unir frases simples, formando frases complexas; estabelecer nexos lógicos entre
períodos e parágrafos, de modo a construir textos coesos e coerentes. Os conectores podem
ser classificados com funcionalidades lógicas distintas, de acordo com o contexto de uso.
Designação Função Articuladores / Conetores do discurso

agrupar, adicionar ideias, e, nem (negativa), bem como, não só… mas
Aditivos segmentos, sequências, também, além disso, mais ainda, igualmente, ainda,
informação ainda por cima, do mesmo modo, igualmente

Alternativos / apresentar opções, ou, ou… ou, ora… ora, seja… seja, alternativamente,
Exclusão alternativas em alternativa, opcionalmente

mas, porém, todavia, contudo, no entanto,


indicar uma oposição, um
Contrastivos contrariamente, pelo contrário, de qualquer modo,
contraste
em todo o caso

negar o efeito, a conclusão embora, ainda que, mesmo que, conquanto, apesar
Concessivos de, malgrado, não obstante, mesmo assim, ainda
exprimir uma concessão assim

exprimir relações de tempo quando, mal, assim que, logo que, enquanto,
Temporais entre os segmentos do texto entretanto, depois que, desde que, antes que/de,
/ discurso mais tarde, ao mesmo tempo, sempre que

traduzir o fim, a intenção, o para (que), a fim de, a fim de que, de modo / forma
Finais
objetivo a, com o objetivo de, com vista a

como, tal como, assim como, do mesmo modo,


Comparativos exprimir uma comparação
bem como, também, mais / menos do que

porque, visto que, dado que, como, uma vez que, já


Causais exprimir a causa, a razão
que, por causa de

introduzir hipóteses ou se, caso, desde que, a não ser que, contanto que,
Condicionais
condições exceto se

exprimir a ideia de
por isso, daí que, de tal forma… que, tanto… que,
Consecutivos consequência, resultado,
tal… que, tão… que
efeito

expressar uma conclusão, portanto, assim, logo, por conseguinte, concluindo,


Conclusivas uma inferência (dedução para concluir, em conclusão, em consequência, daí,
lógica a partir do já exposto) então, deste modo, por isso, por este motivo

completar o sentido do
Completivos que, se, para
núcleo do grupo verbal

Confirmativos documentar por exemplo, a ilustrar, documentando,


ou
exemplificar exemplificando, nomeadamente
exemplificativos

Dúvida Talvez, possivelmente, é provável que

Opinião Na minha opinião, segundo o meu ponto de vista

Resumo/
Resumindo, em síntese
síntese
 Outros valores são expressos, por exemplo, pelas conjunções (porque introduz
um valor de causa, etc.).

 Pelos exemplos apresentados no quadro acima, não só preposições,


conjunções, advérbios e expressões que lhes sejam equivalentes desempenham a função
de conetores do discurso. De facto, também os adjetivos numerais (primeiro, segundo,
terceiro, etc.) e as formas verbais não finitas - gerundivas (sintetizando, prosseguindo,
concluindo, recapitulando, etc.) ou infinitivas antecedidas de preposição (para começar,
para concluir, a seguir, a encerrar, etc.) - podem funcionar como tal.

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