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Língua portuguesa em contexto de escrita académica

Módulo 9 - O texto e o parágrafo expositivo e explicativo

Texto Complementar 2

I
Como estruturar um texto expositivo

Um texto expositivo estrutura-se do seguinte modo (cf. Silva, 2020, p. 87-104):

• Introdução: enquadramento do tema


• Desenvolvimento: ideia1; ideia 2; ideia 3...
• Conclusão: alegação final

1. Sobre a introdução

A introdução de um texto académico serve de enquadramento do tema abordado


no texto, contextualizando-o. Assim, deve explicitar o tema e indicar algumas
considerações gerais sobre o mesmo. Além disso, serve para explicitar o ponto de
vista sob o qual se irá tratar o tema em questão, abordando-o naquilo que é mais
importante, polémico ou interessante.

2. Sobre o desenvolvimento

São tarefas do desenvolvimento:

– apresentar/ descrever um conceito, entidade, pessoa, objeto;


– listar características ou propriedades respetivas;
– apresentar uma lista de elementos;
– mostrar as relações (de semelhança ou contraste) entre os elementos
referidos;
– mostrar as conexões identificadas entre os elementos referidos;
– mostrar as relações de causa-efeito entre eventos, conceitos, situações,
atitudes, etc.;
– identificar um problema, dificuldade ou questão;
– propor um solução para o mesmo;
– mostrar de que modo a proposta pode constituir a solução para o referido
problema, dificuldade ou questão.

De modo a estabelecer a unidade textual, os conectores (conectivos ou


articuladores do discurso) são, efetivamente, muito importantes na
sequencialização das ideias. Vejamos alguns deles, apresentando a proposta de
Silva (2020, p. 148-159), a qual compreende três listas (aqui reproduzidas como lista
1, lista 2 e lista 3):
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Lista 1 – Subtipos de conectores argumentativos

Conectores argumentativos
Designação Função Exemplos
Aditivos agrupar ou e, nem, além disso, bem como, não
adicionar ideias e só… mas também, de igual modo
elementos
Alternativos apresentar opções ou, ou… ou, ora… ora, seja… seja, em
alternativa, opcionalmente
Causais exprimir a razão ou porque, dado que, uma vez que, já
o motivo que
Comparativos exprimir um cotejo como, tal como, assim como, bem
ou um paralelo como, também, mais / menos do que
Concessivos exprimir uma embora, ainda que, mesmo que,
cedência que não conquanto,
invalida uma outra apesar de, não obstante, mesmo
ideia manifestada assim, ainda
assim
Conclusivos expressar um por isso, por este motivo, portanto,
resultado que assim, logo, por conseguinte, então,
decorre de uma deste modo, consequentemente
outra ideia
Condicionais introduzir hipóteses se, caso, desde que, a não ser que,
ou possibilidades contanto que
Consecutivos exprimir a ideia daí que, de tal forma… que, tanto…
de efeito ou que, tal… que, tão… que
consequência
Contrastivos indicar uma mas, porém, todavia, contudo, no
oposição entanto,
contrariamente, pelo contrário
Finais Indicar a finalidade para (que), a fim de, a fim de que, de
ou objetivo modo /forma a, com o objetivo de
Fonte: Silva (2020, p. 152) baseado em Adam (2011) e em Amorim & Sousa (2009)
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Lista 2 – Subtipos de organizadores e marcadores textuais

Conectores argumentativos
Designação Função Exemplos
Organizadores de exprimir relações em cima, em baixo, à esquerda, à direita,
espaço espaciais atrás, à frente, mais longe, mais perto
Organizadores de exprimir relações quando, enquanto, entretanto, assim
tempo temporais que, logo que, desde, antes de, depois de,
mais tarde, ao mesmo tempo
Organizadores ordenar os conteúdos por um lado, por outro lado, em primeiro
enumerativos manifestados lugar, em segundo lugar, por fim,
finalmente, em seguida, por último, para
concluir, em suma, enfim
Marcadores de indicar a mudança em relação a, relativamente a, quanto
mudança de de tema ou tópico a, no que diz respeito a
topicalização

Marcadores documentar por exemplo, a título de exemplo,


de ilustração e com um caso ou como, a saber, nomeadamente,
exemplificação espécime exemplificando

Fonte: Silva (2020, p. 153) baseado em Adam (2011)

Lista 3 – Subtipos de organizadores e marcadores textuais

Conectores argumentativos
Designação Função Exemplos
Marcadores de responsabilizar segundo o autor X, de acordo com o autor
responsabilidade alguém pelo X,diz-se que, acredita-se que, alguns
enunciativa conteúdo autores defendem que, assume-se que
manifestado
Fonte: Silva (2020, p. 153) baseado em Adam (2011)

Silva (2020: 153) menciona como relevantes os marcadores de reformulação


(ou reformuladores), «[os quais]. Eles sinalizam a manifestação dos mesmos
conteúdos usando outras palavras, visando esclarecer ou concretizar o que se
referiu anteriormente. Alguns exemplos destes marcadores são os seguintes: ou
seja, isto é, quer dizer, por outras palavras, dito de outro modo, ou melhor, ou
antes».
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3. Sobre a conclusão
A conclusão pode assumir as seguintes formas (Silva, 2020, p. 101-105):

– Sistematizar de forma breve as principais ideias apresentadas;


– Salientar ideias específicas que foram anteriormente expostas;
– Destacar a importância do que foi referido ao longo do texto;
– Anunciar uma posição perante as ideias apresentadas (por exemplo,
adesão total ou parcial a uma tese, possíveis medidas a adotar, etc.)
– Produzir uma asserção genérica acerca do tema tratado.

II

A revisão de texto

Depois da produção textual, é fundamental rever-se o texto. De acordo com Silva


(2020, p. 111) são requisitos principais:

«– adequar o estilo adotado no texto ao que é expectável na situação em


que ele
é produzido e em que circula;
– explicitar os conteúdos de maneira mais clara e inequívoca;
– ordenar as ideias de forma mais correta e adequada;
– articular os conteúdos de forma lógica e coerente, de tal maneira que
seja evidente para o leitor a existência de uma estrutura, de um percurso
de leitura lógico e coerente.»

Citando ainda Silva (2020, p. 111-112):

«De um ponto de vista metodológico, pode distinguir-se, pelo menos, os


seguintes tipos de revisão:

i) revisão gramatical
ii) revisão estilística
iii) revisão estrutural
iv) revisão de conteúdos

A revisão gramatical inclui, sobretudo, as correções relativas à


ortografia e acentuação, à sintaxe e à pontuação. Uma leitura atenta deve
permitir que o autor identifique e corrija erros relativos a estas dimensões. Em
textos académicos, não é aceitável que ocorram erros de ortografia, de
acentuação, de sintaxe ou de pontuação.
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Nos textos produzidos por estudantes que são objeto de avaliação, a


ocorrência e deteção de erros gramaticais reflete-se, regra geral, em
penalizações a nível da cotação atribuída.
Por isso, em contexto académico, é essencial que se proceda a uma
revisão gramatical que permita identificar e retificar tais erros (cf. capítulo 1,
em particular, o que foi referido acerca do valor da correção).
A revisão estilística diz respeito à seleção de palavras e construções que
permitem que o texto manifeste de forma mais adequada e eficaz os
conteúdos que se pretende transmitir. Para tal, é importante considerar
valores centrais em contexto académico, como o rigor e a clareza, mas
também a objetividade e a sobriedade (cf. capítulo 1). Neste âmbito, as
alterações introduzidas na versão final do texto visam introduzir índices mais
elevados das propriedades referidas, para, desse modo, melhorar a qualidade
geral do texto e, em contexto de avaliação, obter uma cotação mais elevada.
A revisão estrutural incide, em particular, na ordenação dos conteúdos
e na respetiva articulação. Como tem sido destacado, os textos académicos
devem incluir ideias adequadamente organizadas, seja a nível da ordem pela
qual são expostas, seja a nível da maneira como são relacionadas umas com
as outras. Quando isso sucede em trabalhos submetidos para serem
avaliados, o texto é valorizado na cotação que o docente lhe atribui.
A revisão de conteúdos incide na correção, no rigor e na completude
das ideias manifestadas no texto. Este tipo de revisão depende de cada
unidade curricular em que o estudante está matriculado e cujas matérias
procura compreender e assimilar. Por isso, não será, naturalmente, objeto de
reflexão neste manual, uma vez que se visa focar a atenção em aspetos
relativos às maneiras como se comunica em textos académicos.
Dado o que foi referido, parece ser recomendável que haja, no mínimo,
três leituras sucessivas após a fase de redação, ou seja, uma que incida
preferencialmente a atenção em cada uma das dimensões mencionadas: nos
aspetos gramaticais, nos aspetos estilísticos e nos aspetos estruturais (uma
quarta leitura deve ser reservada aos conteúdos manifestados no texto). De
facto, não é geralmente tão eficaz procurar detetar, numa única leitura,
aspetos tão díspares como erros de pontuação, inadequações de estilo e
inconsistências na ordenação dos conteúdos. Dadas as limitações cognitivas
de atenção que um dado sujeito falante pode conferir em simultâneo, cada
leitura deve focar-se sucessivamente em aspetos gramaticais, estilísticos e
estruturais.»
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BIBLIOGRAFIA:

ADAM, J.-M. (2011). A linguística textual. Introdução à análise textual dos


discursos (Trad. M. G. S. Rodrigues, J. G. S. Neto, L. Passeggi, E. V. L. F. Leurquin).
Cortez Editora (edição original: Paris: Armand Colin, 2008).
SILVA, P. N. (2012). Tipologias textuais. Como classificar textos e sequências. Livraria
Almedina / CELGA.
SILVA, P. N. (2020). Manual de Técnicas de Comunicação e Expressão. Coleção
Universitária, Universidade Aberta.

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