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ol af breuning
tony bellotto
jac leirner
antoni mu ntadas
constant dul aart
The Band,
de Olaf Breuning
Gugu-dadá
A infantilização da cultura em tempos de Big Brother
I S SN 2 2 3 6 - 3 9 3 9
fev/mar 2012
ANO 02 ESPECIAL 3D COM óculos para ver IMAGENS DE NOVO FILME EM ULTRA-HD
EDIÇÃo 04
R$ 14,90
9 7 7 2 2 3 6 3 9 3 0 0 3 0 0 0 0 4
www.kia.com.br
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Kia Sportage:
vencedor na categoria Utilitário esportivo.
SUV, segundo leitores O melhor do segmento.
2011 Vehicle satisfaction award
da revista Carro.
2011
FOFURAS E DIABRURAS
O P ÓS -PO P ALUCI NA DO D E TA KASHI M URA KA MI, N ASCIDO DO M ANGÁ E DO AN I M E 34
Google art Favor tocar Sempre jovem Precocidade total BBB não é coliseu
O artivismo usa e abusa das Não se reprima: há peças Cinco mais que jovens Os equívocos de um formato
ferramentas do maior site desenhadas para ser sobre a eterna juventude artistas de talento e uma obsoleto diante dos novos
de buscas da internet cutucadas e apalpadas como padrão de beleza tendência commodity sistemas de informação
Cinema do futuro
Filme 3D em altíssima
resolução para ver
tudo muito além da
imaginação
Use os ócUlos
encartados na revista
50 Mo da
Brincar de super-herói
Era uma vez, em um
reino muito, muito
distante, príncipes e
princesas fashion
SELECT é uma publicação da EDITORA BRASIL 21 LTDA., Rua William Speers, 1.000, conj. 120, São Paulo - SP, CEP: 05067-900, Tel.: (11) 3618-4200 / Fax: (11) 3618-4100.
COMERCIALIZAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO: Três Comércio de Publicações Ltda.: Rua William Speers, 1.212, São Paulo - SP; DISTRIBUIÇÃO EXCLUSIVA EM BANCAS PARA TODO O BRASIL: Fernando Chinaglia
Distribuidora S.A.; Rua Teodoro da Silva, 907, Rio de Janeiro-RJ, Tel.. (21) 2195-3307.
IMPRESSÃO: PROL Editora Gráfica Ltda - Avenida Papaiz, 581 – Jd Nações – Diadema/SP – CEP.: 09931-610
Esta revista foi impressa em papel Couché Suzano Print® Gloss 75g/m
WWW.SELECT.ART.BR
da Suzano Papel e Celulose, produzido à partir de florestas renováveis de
eucalipto. Cada árvore utilizada foi plantada para este fim.
editorial
Paula
Alzugaray
Do GooGle-DaDá Ricardo
van Steen
à inteliGência coletiva
Giselle
Cheia de transgressão, irreverência e brincadeiras, seLecT está interessada nos sig- Beiguelman
nificados do que é ser jovem hoje. Se, por um lado, triplicamos nosso tempo de
vida em menos de cem anos (como afirma o dermatologista Otávio Macedo para a
jornalista Mônica Tarantino, na seção Curto-Circuito), por outro, a sociedade nun-
ca foi tão gugu-dadá. A infantilização da cultura – no que ela tem de mais fofo ou
perverso, retrógrado ou vital – é o tema desta quarta edição de seLecT. Angélica
de Moraes
Por isso chamamos Tony Bellotto para nos responder por que roqueiros não en-
velhecem, e convocamos o crítico de arquitetura da revista The New Yorker, Paul
Gold berger, para esclarecer o “efeito parque de diversões” que tomou conta das cidades
e dos museus. Recorremos também a Rodrigo Savazoni para refletir sobre o papel dos
recém-nascidos movimentos de ocupação na construção de uma inteligência coletiva.
Juliana
Afinal, cada um de nós sente na pele o quanto a natureza humana mudou na era da Monachesi
informatização. Mesmo que ainda engatinhemos no que diz respeito a domínio e
discernimento das novas ferramentas da cultura pós-moderna, vimos eclodir, em
2011, outro modo de fazer política, a partir das redes inteligentes. Mas também é
verdade que, no estágio de exploração sensorial em que nos encontramos em re-
lação às novas tecnologias (equivalente às fases tátil e oral dos bebês), a segurança Nina
da nossa vida digital nos é confortavelmente garantida por ambientes protegidos, Gazire
E, já que até Martin Scorsese se rendeu aos encantos da tecnologia 3D para realizar
seu primeiro filme para crianças, seLecT decidiu produzir em 3D o Portfólio desta
edição, para satisfazer os desejos mais pueris de seus leitores.
Paula Alzugaray
D i reto ra d e re d a ç ã o
Adriano
Vanni
Ilustrações: rIcardo van steen, a partIr do aplIcatIvo face your mangá
Parabéns pela seLecT. blicação tornou-se uma sonhei fazer desde o ContAtos interAtivos
Muito boa a revista. E das minhas preferidas primeiro período de fa- Mac-usP eM branco
novo museu é temA de
ensAio fotog ráfiCo inédito
as fotos do Ricardo van pela relevância dos te- culdade. o dires Mlászh o
impressos virA m esCuLturAs,
o futuro Do pApEl
literatura seM auto r
espeCiAListAs deBAtem
novos formAtos nA rrAtivos:
WWW.SElECt.Art.Br
conheço. Autores, textos, revista seguir pelo cami- via Twitter
fotos e edição fantásticos. nho daquela que, após
EDIÇÃO 03
jan 2012
R$ 14,90
anO 01
03
Pedro Mezgravis, passar para os auspícios Gostei muito da frase
da arvorezinha, virou “contra-atacar a falta de
capa_select_03_RF_V1.indd 1-2 11/22/11 3:55 PM
via Twitter
uma vitrine de anúncios e imaginação” no último
Parabéns pela seLecT! anunciantes. Inclusive no número da @revistase-
Revista maravilhosa. Da- campo das artes. lect, na matéria sobre o
quelas que vão passando Manoel Inacio Camilo hotel dirigível.
de mão em mão... Até Carreira, leitor Sergio Amadeu,
terminar de ler tive de fi- professor da Universi-
car vigiando para os ami- Descoberta da madruga- dade Federal do ABC
gos não levarem. Agora da: @revistaselect _ Pre-
mesmo já foi, com a pro- ciso de TODAS as edições Genial a entrevista de An-
messa de voltar. Duvido, impressas! Oh my God! gélica de Moraes com Jor-
mas tudo bem... O que é Rafael, via Twitter ge Luis Borges!
bom merece ser compar- Damara Bianconi,
tilhado! Muito obrigada! Adorei ver no site o vídeo artista, via Facebook
Valeria Boa Sorte, da grande banda Sex Gang
via Facebook Children (me lembrou a Fantástica, clara e justa
época das antigas que eu a afirmação de Borges
Estou adorando a revista. ouvia esse som) e o vídeo sobre o livro como “ex-
Parabéns e obrigada pelo do Don McLean foi muito tensão da memória e da
presente que ela é! legal, gosto do som des- imaginação”!
Lala Deheinzelin , se artista. Descobri vocês Arlete de Oliveira,
produtora cultural através da matéria do pro- artista, via Facebook
grama Vitrine, da Cultura.
Obrigado pela inclusão Edson, leitor Parabéns pela revista, une
da nota da hora sobre a tudo o que mais gosto!
mostra This Orient no site Angélica, querida, psico- @WhiteSkull,
escreva-nos
da seLecT! Fico feliz com grafaste isto? Touché! via Twitter
rua itaquera, 423,
a existência desta publica- Monica Paiva, de Nova York pacaembu, são paulo - SP
ção. Vi uma matéria sobre Duca, Angélica, sua en- cep 01246-030
a revista na tevê e achei Show de revista. Esta edi- trevista com Borges!
revistaselect
uma ideia incrível. Para- ção está duca!. Tonica Chaga, revistaselect
béns a todos vocês. Renato Valderramas, jornalista, de www.select.art.br
César Meneghetti, artista via Facebook Nova York faleconosco@select.art.br
curadoria
marcelo campos
12
Bob Wolfenson
é fotógrafo. Colabora com as principais publicações nacionais e algumas
internacionais. é coeditor e cocriador da revista Sem Número. – comportamento p 102
navegação
14
Exposição
ExErcício dE mEmória
Individual de Douglas Gordon em Frankfurt reúne
conjunto poderoso de trabalhos em videoarte e cinema
www.newmuseum.org
Notas PúBlicas (da série lemBretes), de Íris HeleNa, iNstalação fotográfica aBerta à iNterveNção do PúBlico
artes visuais
Convite à viagem
Projeto de mapeamento da produção emergente no Brasil é apresentado a partir
de fevereiro em São Paulo
A quinta edição do programa Rumos Itaú Cultural Artes Visuais propõe uma viagem pelo Bra-
sil por meio das mais de cem obras de 45 artistas de todo o País. O destaque é a produção
carioca, que ultrapassa São Paulo em número de selecionados (11 contra 8). Outra presença
grandiosa é a dos artistas gaúchos (7), maior de todas as edições do programa. Mas o que a
exposição coordenada por Agnaldo Farias traz de mais instigante vem do Norte e Nordeste. A
artista paraibana Íris Helena faz ampliações fotográficas (jato de tinta) sobre post-its amare-
los, nos quais os visitantes podem escrever suas anotações. O maranhense Thiago Martins de
Melo participa com quatro pinturas. Ele acaba de integrar a mostra Caos e Efeito, também no
Itaú Cultural, com pinturas desconcertantes que sobressaíam no módulo assinado pelo curador
Paulo Herkenhoff. JM
BeBida
Cerveja iConoClasta
BrewDog chega ao Brasil para agradar a paladares não conformistas
A cervejaria escocesa BrewDog foi criada em 2007 por dois jovens insatisfeitos com o mercado britânico
de cerveja. Martin Dickie e James Watt, ambos com 24 anos, eram dois amigos com uma missão: “Criar
algumas das mais extraordinárias e não conformistas cervejas artesanais conhecidas pelo homem”, con-
forme atesta o site da marca. As cervejas BrewDog são a epítome do punk, prossegue a propaganda-
manifesto: “Nós fabricamos cerveja intransigente, ousada e irreverente, cerveja com alma e propósito.
A nossa abordagem tem o mesmo desprezo pelo mercado de cerveja em massa que os punks da velha-
guarda tinham pela cultura pop”. A atitude e o sabor de suas long necks com nomes como Trashy Blonde
(ale frutada), 5a.m. Saint (o Santo Graal das ales vermelhas), Paradox (cerveja de malte “imperial”), Tac-
tical Nuclear Penguin (cerveja preta com 32% de teor alcoólico, resultado de um processo de maturação
em barril de carvalho de uísque escocês e diversos processos de congelamento sucessivos) logo caíram
no gosto dos mais exigentes e agora está disponível no Brasil com distribuição da Getec Trading. JM
16
aRQuitEtuRa FloREstal
aRQuitEtuRa
constRução
18
moda
HomEnagEns
ao quadrado
Arquivo de fotos de Daniel Buren
vira série limitada de lenços da
Hermès
Na onda dos objetos com bateria recarregável, que tal um vestido feito com tecido
luminoso para ser usado em sua noite mais brilhante? Essa é a proposta da coleção
Rhyme & Reason 1.0, da designer americana Mary Huang. Para quem possa inter-
pretar essas roupas como algum tipo de acontecimento natalino, a estilista afirma
que sua criação é atemporal: trata-se, afinal, de explorar novas tecnologias de gera-
ção de luz em tecidos. Em sua mais recente coleção, Huang embutiu uma trama de
LEDs que criam um efeito luminescente e diáfano sob a malha. Além disso, caso
a usuária não faça questão de sair parecendo uma fada e atraindo vaga-lumes e
borboletas ao seu redor, é possível desfilar o modelito simplesmente desligando-o.
Todas as roupas da coleção Rhyme & Reason 1.0 possuem baterias removíveis com
oito horas de duração. Não saia de casa sem recarregar o seu brilho. NG
dEsign
mErgulHo
socioambiEntal
Coleção alto verão de joias de Elisa Stecca
enfoca diversidade dos povos da floresta
www.elisastecca.com.br
72
mEio amBiEntE
nitidEz E transParência
Papel e celulose brasileiros são pioneiros no uso
de estratégias verdes
tEcnologia dE
ProtEsto
Artista sul-africano desenha roupa de proteção para
manifestantes
aRtE
22
dEsign
o mais autêntico
Punk britânico
Design gráfico arrojado e fora dos padrões
define a identidade visual das Olimpíadas
de Londres
fotoS: divulgAção
www.editora3.com.br
PATROCÍNIO: REALIZAÇÃO:
design industrial Nome: BigDog | CompaNhia: Boston DynAmics | aNo de Criação: 2009 |
país: eUA | Combustível: óleo Diesel | peso: 108 kg
24
Nome: Ar. Drone | CompaNhia: PArrot | aNo de Criação: 2008 | país: eUA
Combustível: BAteriA | peso: 379,88 g
Objeto
Pa u l a a l z u g a r ay
identif
corpo humano, quadricópteros
guiados por celular e big hits
da robótica são objetos de
desejo e funcionariam bem até
em exposiçOes de arte
Nome: HAmmerHeAD
altitude máxima: 2.500 m
autoNomia: 482 km
veloCidade máxima: 400 km/hora
tos nÃo
tificados
26
Lu dóf i los
Eles deixaram para trás a infância, mas sem perder
a ternura. O design meigo e aconchegante, de cores
festivas e bordas arredondadas, afaga corpos e
mentes desta tribo com alma de Peter Pan
28
1CArrinhOs
9OO
18OO c r Ia d o s n o s é c ul o 1 9, p a s s a r a m
UrsOs a se r c on h e c I dos c omo “ t e ddy-
dE bea r ” e m h ome n a ge m a o p r e s I de n t e
pElúCiA d o s eua t h e odor e roos e v e l t , q ue
se r ecu s ou a p a r t I c I p a r de uma
(EUA) ca ça d a de ur s os e m 1 90 2
179O
BiCiClEtA
pEsqUisA: gisEllE (frAnçA)
BEigUElmAn, ilUstrAçõEs: a s p r Im eI r a s
b I c Ic let a s er a m
mArCElO Cipis, infOgráfiCO: d e m a d eI r a e não
riCArdO VAn stEEn t Inh a m p ed a I s
E BrUnO pUgEns
1413
BOnECAs
(AlEmAnhA)
a p e s a r de
13OO A.C. exIstIrem desde
o e g Ito, h á
ChOCAlhO 5 mIl anos,
(EgitO) a p r I me I r a
os pr I meIros f á b r Ic a de
cho cal hos bonecas surgIu
s u r gIram no na alemanha
egI to por
vo lta de 136 0
séC. 6 A.C. no sec. 15
BOlA (ChinA)
a.c. e tI nham
fo r mato de
anI m aIs as bolas, eram feItas
d e p e lo s d e a nI m a I s
na c h Ina . são m a nI a
1OOO A.C. 5OO A.C. na cIo na l no b r a sI l ,
e m r a zão d o f u t e bo l,
iOiôs dE pEdrA (gréCiA) BAmBOlê (EgitO) Int r o d u z Id o a qu I n o
f Im d o sé cu lo 1 9 , p o r
c h a r le s m I lle r
o s pr ImeIros
Io Iô s eram
feI to s de marfIm
e fI o de seda. os
am er Icanos louIs
& d ave marx os
po pu la rIzaram
pelo m undo
os prImeIros bambolês
eram feItos com galhos, no
egIto. o bambolê de plástIco
colorIdo começou a ser
fabrIcado nos eua em 1958.
1 93O 1BancO
936
imOBiliáriO (eua) 29
futeBOl de BOtÃO (Brasil)
Cr i A ção br Asil eirA do CArioCA
g er Aldo déC ourT. ATé sereM indusTriA-
li zAd o s , er AM feiTos CoM boTões de
Cu eCA, unifo rM es e CAMisAs.
Cr i A ção d o M A r C e ne i r o
d i nA M A r qu ês ole Ki r K
Ch r i sT i Ansen, o s blo C o s
1 949
d e p lá sT i Co d er A M legO
o r i g eM não só A o le g o , ( dinamarca)
eM 1958, MAs TAMbéM A
v á r i o s ‘ le g o lA nd s’ A v e r são p r o f i ss i on A l ,
T eM p i sT A d e 4 8 M e Tr os
d e ex T e nsão
1 956
autOrama
(inglaterra)
nA v er são
A r T e sA n A l ,
1958 ex i sT e M d esd e
o s A no s 1 9 30,
skate n As r u A s d A
O filósOfO Walter Benjamin (eua) C A li f ó r ni A
30
A erA do
cApitAlismo
fofinho
e seus
dissidentes
Giselle BeiGuelman
32
créditos: Jake thomas, occupy Labs, ashLey carter, eL passo Libre e phLoating man
©TA
O ja pO nê s que sup erOu
34
a n dy WarhO l n a p rOduçãO
g lO ba li zada e m assiva
KA
d e arte , faz u m p ó s -pOp
a m b í guO, m i stu ra d e
fO fu ra e p e rve rsi dade
SHI
angélica de moraes
mu
The FacTory (a Fábrica), o míTico esTúdio que andy
Warhol criou nos anos 1960 na rua lexingTon, em
nova york, para inundar o mundo das arTes com
uma produção verTiginosa, Fica minúsculo na
comparação. o mundo das artes mudou definitivamente de
escala. Warhol tinha meia dúzia de auxiliares e seu mercado eram
rA
os eua e, depois, alguns países europeus. Takashi murakami vende
para os cinco continentes, mora entre Tóquio, nova york e los an-
geles e mantém ocupada uma centena de assistentes, em três “fábri-
cas”: em Tóquio, trabalham 50 assistentes no estúdio central e mais
uma dezena no estúdio de animação.
na sede norte-americana, em long island (ny), há outros 40 auxi-
liares e mais uma dezena no escritório nova-iorquino, que coordena
KA
a produção executiva de sua agenda de exposições ao redor do mun-
do, em estreito diálogo com as galerias que o representam. a próxi-
ma exposição individual de murakami será inaugurada em 9 de fe-
vereiro e fica em cartaz até 24 de junho, no qatar museum, em doha
(golfo pérsico). denominada sugestivamente de ego, é a primeira
em grande escala do artista no oriente médio. acontece depois do
sucesso da individual no palácio de versalhes (França), em 2010, e na
galeria gagosian de roma, no ano passado.
mI
em pouco mais de duas décadas, murakami criou um império onde
jamais o sol se põe: o kaikai kiki company limited. o nome da
empresa dá a pista para entender sua produção. são dois persona-
gens onipresentes na obra: kaikai é um bebê róseo e feliz metido
em uma fantasia de coelho, kiki tem expressões diabólicas e dentes
serrilhados de diabinho. ambos saltaram do universo otaku, ou seja,
da cultura de massa japonesa baseada no animê (desenho animado)
e no mangá (história em quadrinhos).
36
TAN TAN BO PUKING - A.K.A. GERO TAN, 2002 acrílica sobre tela
38
A cultura oficial japonesa detesta as manifestações otaku na mesma misturadas a personagens, quem prefigurou o universo planar do
medida em que venera a cerimônia do chá. Mas Murakami é a melhor desenho animado de qualquer latitude. Também da mesma época
representação da cultura japonesa contemporânea. Uma cultura mul- (Período Edo, séculos 16 a 19), a pintura Kanô (fundo de ouro), é
tifacetada que trata as fraturas do pós-guerra e as sequelas atômicas de rigorosamente planar ao criar cenas em diversas distâncias e tam-
Hiroshima e Nagasaki desenvolvendo uma fascinante relação de amor e bém influenciou Murakami, que focou seus estudos universitários
ódio com o Ocidente. Algo novo que refaz os mitos de bravura não mais nesse assunto.
pelas sagas dos samurais, mas pela ação dos super-heróis apropriados da Warhol, autodidata alérgico a teorias, também transformou suas
tradição ocidental dos estúdios de HQ da Marvel e da Disney. pinturas em superfícies planares e esse é um dos traços a unir a
arte pop do norte-americano ao pop otaku de Murakami, além do
De Warhol à Disney A aparente banalidade da obra de Muraka- uso de matrizes serigráficas na pintura. Mas a personalidade dos
mi é apenas isso: aparente. O artista é autor do Manifesto Superflat dois não podia ser mais diversa. Warhol ganhou de seus assisten-
(2000) texto sofisticado em que defende uma arte feita de superfícies tes o apelido de Drella, por combinar a candura de Cinderela e o
planas, em oposição à tradição ocidental da perspectiva renascen- utilitarismo vampiresco de Drácula. Algo a ver com Kaikai e Kiki?
tista. Seria possível imaginar a maestria de desenho de Murakami Difícil saber diante da notória discrição oriental. Mas Warhol não
sem que houvesse, antes, o mestre nipônico da gravura em madeira costumava criar oportunidades profissionais para seus assistentes.
(xilogravura) Hokusai? Foi Hokusai, com as séries de panorâmicas Murakami já tem uma década dessa prática. “Kaikai Kiki também
40
M u ra k aMi
co n c eb e u e
o rga ni za ,
des de 20 0 1 , a
g e i sai art Fai r,
u M a Fe i ra de
arte jove M e M
qu e n ão há a
M e d i aç ão de
ga l e r i as
44
acima, RElEAsE chAKRA’s GATE AT ThIs INsTANT (2008), acrílica e folha de platina sobre tela. na página ao lado, BEyONd ThE PAlE Of vENGEANcE (2011), acrílica sobre tela
Um
46
parque de
diversões
chamado Artivistas apropriam-se
de uma das maiores
empresas do mundo
para contestar,
fazer arte ou
dar muita risada
NiNa Gazire
fotos: divulgação
48
eles compram ações do Google com o objetivo de se
tornarem, gradualmente, proprietários.
Caso o empreendimento dê certo, prometem entre-
gar todas as ações para o GTTP Ltd. (Google To The
People Public Company), de propriedade dos artistas
criadores do projeto. Essa associação, a GTTP Ltd., é
encarregada de receber clicadores que se cadastram
voluntariamente para acessar os anúncios providos
pelo AdSense criados pelos artistas.
Atualmente, o GWEI detém 819 ações do Google,
que, somadas, valem mais de US$ 400 mil. Esse di-
nheiro foi arrecadado com base em mais de 1,5 mi-
lhão de cliques em anúncios e é enviado para uma
conta aberta em um banco da Suíça. Com base nos
ganhos atuais, o artista Bernhard, do UBERGMOR-
GEN, calcula que dentro de 200 mil anos eles se tor-
narão os donos da empresa.
Anônimos e divertidos
Nem só transgressão e rebeldia fazem a Google Arte.
Grande parte das apropriações é feita de irreverência
e brincadeira. Um desses exemplos é Where in The
World Is The Loira do Banheiro? (Em Qual Lugar
do Mundo Está a Loira do Banheiro?), do brasileiro
José Carlos Silvestre. Foi em 2007 que o artista, ao
realizar um trabalho para uma disciplina do Pro-
grama de Pós-Graduação em Tecnologias da Inte-
ligência e Design Digital da PUC-SP, criou uma das Nem só transgressão e rebeldia
obras mais divertidas da rede. O trabalho é um dos fazem a Google arte. Grande
primeiros a se apropriarem de outra ferramenta do
Google, o Google Maps. Para isso ele escolheu a fa-
parte das apropriações é feita
mosa lenda urbana da Loira do Banheiro, em que o de irreverência e brincadeira
fotos: divulgação
Ao infinito e
50
52
Baptiste e Dimitri vestem casacos Da cavalaria militar De Napoleão BoNaparte (acervo pessoal), calças e polos vicomte a., coelho empalhaDo
e Broches Da taBela perióDica Da loja Do Bispo.
Baptiste veste Carré e Cinto Hermès, parka surfaCe to air, Calça laCoste, Botas louis vuitton. Cléo veste BomBe de equitação, fouet, gravatas, pulseira e
sellier talaris tudo Hermès. Corset e saia marita de dirCeu, Cinto e sapatos louis vuitton, tailleur Weill
54
56
aciMa: baPtistE vEstE chaPéu hErMès, cashMErE Missoni, Polo E shorts vicoMtE a. , MEias FalkE, saPatos louis vuitton. baMbolês rua 25 dE Março. diMitri
vEstE cashMErE Missoni, Polo E shorts vicoMtE a. , MEias FalkE, saPatos hErMès. cléo vEstE colEtE E vEstido Glória coElho , saPatos osvaldo costa Para
sarah abstrato , Minicasaco MulticorEs udi la Galinha.
à dirEita: MariasolE vEstE rEinaldo lourEnço, bolsa MariasolE cEcchi Para lEs PEtits jouEurs, saPatos christian louboutin. clEo vEstE rEinaldo lourEnço,
bolsa MariasolE cEcchi Para lEs PEtits jouEurs, saPatos osvaldo costa Para sarah abstrato. back liGht loja do bisPo.
Produção ExEcutiva: anna Guirro. ModElos: MariasolE cEcchi, clEo dobbErthin, diMitri Mussard, baPtistE dEMay E osvaldo costa. bElEza: bruno Miranda
aGradEciMEntos: FazEnda catuçaba, loja do bisPo, hErMès
58
tátil, tangível
Designers e artistas colocam a mão na massa para
PA U L A A L Z U G A R AY
À esquerda: Girafa em crocodilo (2011), criada por Marjolijn Mandersloot para o ateliê petit H. nesta página: instalação diG (2011), de snarkitecture
aciMa, Ghost chair, de snarkitecture, da galeria Baró; Os BuBBle Games Bem que tentaram. Vi-
aBaixo, puff tato-White Bunny, de Maurizio galante, feito
eM poliuretano Macio coBerto coM tecido tecnológico e
raram mania em laptOps e palmtOps,
iMageM iMpressa, da firMa casa cOmO que reVerBerandO em uníssOnO:
O que a pOnta dOs dedOs nãO tOca O
cOrpO nãO sente. mas isso até aparecerem mo-
biliários inteiramente revestidos por plástico bolha,
devolvendo-lhe a condição de “material” e redimen-
sionando suas relações sensoriais. ao criar a Bubble
chair, os designers brasileiros rodrigo almeida e
Guto requena evocaram a memória infantil de estou-
rar as bolhinhas com os dedos, mas amplificando-a
para todo o corpo. “decidimos penetrar essa bolha e
seguir um caminho que guiou nossos pensamentos
para um universo onírico e de fantasias, obedecendo
apenas à vontade do material e dos estímulos que ele
proporcionava”, afirmam eles. como almeida e re-
quena, há diversos artistas e designers que trocam o
tato da tecla do computador pela criação de espaços
tangíveis e tridimensionais.
quando a dupla Humberto e Fernando campana
deixou a zona de conforto dos produtos industriais
macios, abandonando-a pelo tensionamento entre re-
alidades tão contraditórias como o vime e o plástico,
chegou a uma obra que explora por completo o fas-
cínio das matérias. isso fica evidente em seus objetos
artesanais, como o cabideiro de couro em forma de
árvore seca, uma de suas últimas criações. na França,
a manualidade faz a diferença do petit h, laboratório
fotos: marCos Cimardi (BuBBle Chair), Baleri (Pufe tato-tatoo), daniel malhao
62
criativo da Hermès, que desde 2010 aproxima desig- loja do estilista richard chai, em nova York. seu de-
ners e artesãos em atividades de reaproveitamento de sign tátil e tangível inclui também a Ghost chair, co-
matéria-prima. a responsável pelo projeto, pascale berta pela pele de um falso tecido. efeito ótico e desejo
mussard, define a produção como “objetos poéticos tátil também se combinam nos trabalhos do italiano
não identificados”. maurizio Galante, que chegou ao design pela via da
O trabalho manual chega às últimas consequências alta-costura. seus pufes tato-tatoos são objetos que
em daniel asrham/snarkitecture, tornando-se um despertam os sentidos de cuidado e afeto, pets que pe-
impulso tátil corporal. na instalação performática dem para ser abraçados.
diG, realizada em nova York, em 2011, o artista, ar- sentar, deitar e rolar é o tipo de relação que todo de-
mado de martelos, picaretas e cinzéis, mergulhou em sign tangível pede. mas o que acontece quando obras
blocos de isopor, criando um ambiente tridimensio- de arte, que não devem ser tocadas – especialmente
nal que denomina “arquitetura da escavação”. “nós quando expostas em galerias e instituições – atin-
não usamos modelagem paramétrica. todo o nosso gem altos graus de sedução tátil? “reconheço que o
trabalho é criado pelas mãos”, diz asrham, que com meu trabalho tem esse elemento de tatilidade, e que
o mesmo empenho braçal manufaturou as paredes da a abundância de cor, as texturas, as formas e o mo-
na página ao lado, instalação sem título (2009, coleção Bernardo paz), de Maria nepoMuceno,
feira de cordas, contas, resina e fiBra de Vidro; À esquerda, manceBo caatinGa (2011), eM couro,
dos irMãos caMpana, da firMa casa; aciMa, escultura Hallyu (2011), de joana Vasconcelos
64
66
GIacoMo aLbanEsE
Profissão: engenheiro civil
Idade: 53 anos.
Há quanto tempo tem a coleção? 1998
Tem outras coleções? Flâmulas de futebol,
soldadinhos de chumbo, rótulos de cerveja,
cartões- postais do brasil, tudo que se
relacione ao sPFc, fotografias e pôsteres de
cinema, memorabilia da revolução de 1932
e arte sacra.
68
PauLa TrabuLsI
Profissão: cineasta
Idade: 48 anos.
Há quanto tempo tem a coleção?
Há mais de 20 anos. são cerca
de cem peças.
Tem outras coleções? Gente bem-
humorada ao meu redor
MarcELo DuarTE
Profissão: jornalista e editor da Panda books
Idade: 47 anos.
Há quanto tempo tem a coleção? Desde
1999, quando abri a editora.
Tem outras coleções? coleciono tudo Produção ExEcutiva: anna Guirro, Produção dE objEtos/locação: solanGE
Porto / tatiana stEPanEnko, FotoGraFia - robErto WaGnEr, assistEntE dE
relacionado à coca-cola. com minha esposa, FotoGraFia: adriano vanni, dirEtor dE artE: ricardo van stEEn
faço coleção de girafas e com meu filho, aGradEcimEntos: bossa nova Films, box arquitEtura E artE, tribbo Post,
miniaturas de vilões. tErra E Panda books.
70
arquitetura Para 71
além do esPetáculo
e do consumo
Acervo do entrevistAdo
74
Bom, não há duvida de que a arquitetura de Aalto ser imitados. Somente Frank Gehry pode ser
seja o oposto do superficial e do bidimensional, Frank Gehry, da mesma maneira que há poucos
mas para entendê-lo é preciso também entender que conseguiram fazer uma arquitetura de vidro
a Finlândia, o mundo onde sua arquitetura se como Mies (van der Rohe). Mas entendo o que
inseria. Mas, na época de Alvar Aalto, nem toda você esta dizendo; creio que Gehry dá a impres-
a arquitetura era como a de Aalto. É um gran- são de que é fácil fazer edifícios espetaculares e
de erro pensar que antigamente tudo era sério e isso leva a uma arquitetura que é mais superficial.
apropriado e hoje vivemos no mundo da superfi-
cialidade. Nessa, vamos dizer, “era Gehry” tende- O s e n h O r p O d e n O s c O n ta r s O b r e O
mos a pensar que é assim, mas me lembro, anos livrO que está escrevendO sObre
atrás, quando Michael Graves era proeminente. FranK Gehry?
As pessoas achavam que tudo estava sendo feito Estou escrevendo uma biografia de Gehry que ain-
“à Michael Graves” e reclamavam de que não ha- da está muito no início. É um grande desafio, por-
via mais “seriedade” na arquitetura. Quando ar- que é a minha primeira biografia e estou fascinado
quitetos de menor talento tentam imitar algo com com a possibilidade de conseguir conectar a obra
certa complexidade acabam produzindo pastiches e a vida numa só narrativa. Muito do que estou
que, obviamente, serão superficiais. Bons arqui- tentando fazer é entrar na mente do arquiteto para
tetos criam edifícios que não podem nem devem tentar desvendar por que certas coisas são como
75
76
Forever
young
giselle beiguelman
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I wanna be...
Entretenimento-RF.indd 77 1/27/12 9:13 PM
entretenimento
78
Serginho Groisman , São Paulo (SP), 1950. Apresenta e comanda programas de entrevistas com adolescentes desde os anos 1980, quando lançou, na
TV Cultura, o Matéria-Prima, avô do atual Altas Horas, seu programa na TV Globo desde 2000. i l u s t r a ç Ã O c l a r a b e n fat t i
Marcelo Tas , Ituverava (SP), 1959. Entrou para a história do telejornalismo brasileiro com o repórter Ernesto Varela, nos anos 1980, voz da geração
criada durante a ditadura. Tornou-se a cara da juventude conectada à frente do Vitrine, na TV Cultura. Como um híbrido desses dois personagens, pilota o CQC
na Bandeirantes desde 2008. i l u s t r a ç Ã O c a m i l l e k ac h a n i
Xuxa , Santa Rosa (RS), 1963. A eterna Rainha dos Baixinhos já foi modelo nas passarelas das altinhas, namorada dos campeões Pelé e Ayrton Senna, esposa de
Luciano Szafir, pai de sua filha. Atriz de cinema, fez história em um filme de arte de Walter Hugo Khouri, que retirou de circulação, e protagonizou inúmeros outros sucessos
de bilheteria passageira de verão. Apresenta programas infantis desde 1983. i l u s t r a ç Ã O ta l i ta h O f f m a n n
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D e u s a g r e g a A f r o d i t e , 3 0 0 a .c .
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O u v i r q u e v O c ê n ã O pa r e c e t e r a i d a d e
q u e t e m s Oa cO m O e lO g i O, i n cO m O da
Ou ambOs?
M i r i a M C h n a i d e r M a n Quando alguém
nos elogia, tranquiliza nossa relação com nossa
imagem corporal. Complicado é que o parâmetro
para o elogio seja aparentar menos idade e anular a
presença de um corpo que envelhece. Se alguém me
diz que não pareço ter a idade que tenho, isso não me
soa como elogio. Acho que a grande questão é poder
ter a idade que tenho e agradar, ser gostada.
84
Ronaldo BRessane
fotos: divulgação
85
Há sinais por
todos os lados,
mas seLecT falou
com quadrinistas,
editores e críticos
para entender:
o Brasil chegou à
Era de Ouro dos
quadrinhos?
rafael grampá
quadro do livro Quando meu Pai se encontrou com o et Fazia um dia Quente, de lourenço Mutarelli.
TOP
JOCA REINERS TÉLIO
TERRON NAVEGA
JÁ É
FIVES Laerte, Guazzelli, Angeli,
Lourenço Mutarelli, Fábio
Fábio Moon & Gabriel Bá, coletivo
Beleléu, coletivo Mondo Urbano,
Moon & Gabriel Bá Samba, Golden Shower
Artistas e profissionais
ouvidos por seLecT falam quem
são os talentos consolidados Rafael Coutinho, Rafael Vitor Cafaggi, Chiquinha, André
Grampá, El Cerdo, Gabriel Kitagawa, Rodrigo Rosa, Shiko
e quem são as apostas para o
Góes, Eduardo Medeiros
futuro da HQ brasileira
Se LIGA
Rafael Coutinho, Daniel Lourenço Mutarelli, Fábio Moon & Gabriel Bá, Rafael Fábio Moon & Gabriel Bá, Rafael Fábio Moon & Gabriel Bá,
Galera, Lobo, Lourenço Laerte, André Dahmer, Grampá, André Dahmer, Marcelo Coutinho, coletivo Beleléu, Danilo Beyruth, Rafael
Mutarelli, Guazzelli Fábio Zimbres, Jaca Quintanilha, Lourenço Mutarelli coletivo Quarto Mundo, Lobo Albuquerque, Gustavo Duarte,
André Diniz
Marcelo D’Salete, Yuri Rafael Coutinho, Rafael Yida & Acioli, Wesley Os Cafaggi, “Osmoleques” (Felipe Vitor Cafaggi, Mário Cau,
Moraes, Bruno Maron, Grampá, El Cerdo, Gabriel Rodrigues, Pedro Franz, Nunes, Pedro Cobiaco e João Eduardo Damasceno, Luís
Maturi, Tito Góes, Eduardo Medeiros Vítor & Lu Cafaggi, Gêmeos Montanaro), coletivo Quadrinhos Felipe Garrocho, Shiko
Marcelo e Magno Costa Rasos, Mario Cau, Danilo Beyruth
90
Fat Convertible (2005), de erwin wurm; à direita, White SnoW and dopey (2011), de mccarthy
Fotos divulgação/cortesia galeria Xavier HuFkens, bruXelas (acima) e tHomas mueller/cortesia galeria Hauser & wirtH, ny
O - astral
de artistas que virou o mundo das artes do avesso
92
Collage Family (2007), fotomontagem de olaf Breuning: “a arte se leva muito a sério”, diz
94
Spit in Someone’S Soup, fotografia Da série instructions on How to Be Politically incorrect, Do artista austríaco erwin wurm
um carro. É isso que ainda estou fazendo aos 41 anos: procuro falar sobre as coisas prática em um minuto pelo próprio artista, por per-
de uma forma universal e não filtrada.” formers ou por visitantes de suas exposições.
Apesar do humor por vezes infantil, o artista recu-
O artista austríaco Erwin Wurm, respondendo à mesma pergunta sobre infantili- sa o rótulo: “Definitivamente, não crio obras para
dade como motor da produção, recusa a aproximação: “Não há nada de infantil no entreter as pessoas nem tampouco para fazê-las rir.
meu trabalho. Faço um trabalho sério, sobre assuntos sérios. Ele pode ser engra- Eu faço obras como One-Minute Sculptures e Ins-
çado para algumas pessoas, mas de fato é um trabalho preocupado politicamente, tructions on How to Be Politically Incorrect certo
não é sobre essa absurda realidade em que, em pleno século 21, há pessoas na Áfri- do poder subversivo e anárquico, da relação absurda
ca do Norte acreditando que a sociedade deve ser governada por 65 leis islâmicas e estranha entre objetos e pessoas”.
dos séculos 14 e 15”. Wurm admite que os dadaístas estão entre suas re-
“O que me interessa são pessoas vivendo realidades tão díspares ao mesmo ferências: “Meus trabalhos têm maior relação com a
tempo. A realidade é dez ou cem vezes mais absurda do que as pessoas gostam ideia do absurdo e das diferentes percepções da reali-
de acreditar. Como artista estou interessado em observar o mundo e comentar dade que cada pessoa tem. A palavra ‘infantil’ não se
ou lançar perguntas sobre essa nossa realidade”, afirmou à seLecT, por telefone, aplica de maneira alguma. Minha obra tem mais a ver
de seu ateliê em Viena. com a liberdade de poder rir de si mesmo ou poder
Wurm é conhecido pela ironia que beira o cinismo de suas esculturas rechon- agir de maneira ridícula e não se envergonhar disso
chudas – carros, casas, figuras humanas – e também pelas performances fotogra- nem com todas as coisas que socialmente costumam
fadas da década de 1990, as One-Minute Sculptures (Esculturas de Um Minuto), constranger as pessoas. Tem a ver com não precisar
em que ações desafiam a mesmice do cotidiano. São poses absurdas envolvendo agir de maneira apropriada ou como a sociedade con-
objetos do dia a dia, como acessórios de moda ou itens de escritório, postas em sidera normal. Isto sim é uma ideia subversiva”.
fotos divulgação/cortesia galeria thaddaeus ropac, paris (esquerda) philippe de gobert courtesy the artist and hauser & Wirth (direita)
96
abre-alas
estereoensaios, Filme brasileiro 3d
em altíssima resolução, inaugura
visualidades e Faz a ponte entre
o pré e o pós-cinema A n g é l i c A d e M o r A e s e g i s e l l e B e i g u e l M A n
98
fotos: divulgação
câmera, de 48 quilos e sistema de lentes superpostas, aumenta as ancestral mais antiga do cinema em terceira dimensão”. Foi o que
dimensões de tudo. Que o diga Fabio Pestana, fotógrafo e came- o grupo de trabalho responsável pelo filme realizou, em parte, ao
raman do projeto. Afinal, muitas das imagens foram feitas com o trazer o estereógrafo norte-americano Keith Collea para orientar
equipamento nos seus ombros. Ele comenta: “É cinema do século os efeitos estereoscópicos dos equipamentos de última geração usa-
21, mas parece que você está lidando com as câmeras de 1910. Pe- dos na filmagem. Keith Collea é especialista em 3D e trabalhou nas
sadíssimas!” filmagens do blockbuster Avatar, do diretor James Cameron. As
O projeto enfrentou vários desafios tecnológicos, desde o par úni- câmeras Red Epic em 3D que ele trouxe ao Brasil são as mais inova-
co de câmeras, equipamento ainda desconhecido dos especialistas, doras do cinema mundial.
passando pelo processamento de imagens, com cerca de 10 milhões Do ponto de vista estético, o trabalho aposta na substituição da an-
de pixels de definição, até a exibição do filme em projetores espe- siedade quase demente que comanda a edição dos disaster movies
ciais, ainda em fase de estabilização. O objetivo da experimentação, hollywoodianos (notórios clientes dessa tecnologia na atualidade)
esclarece Jane, foi não só “formar uma competência técnica no País, por um olhar desacelerado, prazeroso, flâneur. O filme organiza-se
mas também somar a tecnologia atual à história da estereoscopia, em torno de imagens-padrão do Rio de Janeiro (paisagem, futebol,
favela e samba), além de imagens inusitadas das estruturas de concreto sob a ponte magem e ficaram intrigadas ao não ver as câmeras
Rio-Niterói e guindastes trabalhando na área portuária carioca. A busca de ima- perseguindo seus quadris para o fatal enquadramento
gens convencionais teve o objetivo de retirar a ênfase da potência narrativa da ima- em close das coberturas televisivas. “Vendo a câmera
gem para mostrar a diferença que a filmagem em 4k e 3D promove na espessura e apontada para seus pés, elas ficavam arrumando a rou-
na definição da imagem. pa, como se pensassem que havia algo de errado com
Quem nunca viu uma passista de escola de samba, com seus enormes penachos de elas.” As imagens são encantadoras. Inesquecíveis
plumas na cabeça? Em 3D, essa experiência ganha contornos inéditos: as plumas, também são as do mar. Em alguns trechos, parece
filmadas de cima para baixo, ameaçam tocar nosso nariz. As saias rodadas da ala que a água vai vazar da tela, apontando para um
das baianas da Mangueira, filmadas com a câmera quase no chão, mostram todos novo momento da reinvenção da paisagem, que tan-
os seus detalhes decorativos. Os fios de um poste de luz da favela (cheio de ligações to ocupou os pioneiros da estereoscopia.
clandestinas) estendem-se no espaço tridimensional, formando uma escultura ci-
nética. O barco que singra a Baía de Guanabara parece estar nos levando na proa.
Trata-se de um exercício de desmontagem dos clichês, a partir dos próprios cli-
chês, que implicou momentos muito interessantes na filmagem. Jane, a dire-
tora, conta que as sambistas da Mangueira não sabiam o que se passaria na fil-
fotos: divulgação
102
Produção: AnnA Guirro. Assistente de FotoGrAFiA: Pedro BonAcinA / renAtA terePins / cAiuA FrAnco, cenoGrAFiA: Aécio AmArAl
RETRATO J U L I A N A M O N AC H E S I f OtO b O b w O L f E N S O N
DO ARTISTA QUANDO
(MUITO) JOVEM
Artistas Jovens-RF.indd 103 1/27/12 9:43 PM
comportamento
104
fotos divulgação
Transparência e opacidade
De família tradicional, Flávia Junqueira cursou direi-
to e filosofia antes de estudar artes também na Faap.
“A decisão pela faculdade de artes plásticas não foi
fácil. Cresci em ambiente familiar que sempre me deu
esTabilidade econômica fa
liberdade de escolha, porém, por estar imersa em um
contexto de valores mais tradicionais, me sentia pres-
sionada a escolher profissões que proporcionassem mances fotografadas, simulando o ambiente multicolorido de festas infantis
maiores garantias no mercado de trabalho”, conta. (pilhas de presentes, balões, casa de bonecas, flores), nos quais se insere vestida
Quando se formou, em 2009, a artista já tinha uma boa de menininha e com expressão melancólica.
inserção institucional com participações em salões e Flávia Junqueira e Sofia Borges trabalham em limites diametralmente opostos do
editais, e também no mercado. “Esse caminho me espectro da investigação fotográfica: a primeira se vale da transparência e a segun-
possibilitou começar a apresentar meu trabalho fora da, da opacidade. A melancolia do set infantil de uma tem, entretanto, um paralelo
da faculdade, o que despertou o interesse de galerias. com as indecifráveis encenações da outra, que modifica pouco o ambiente de forma
A maior dificuldade que encontrei foi entrar no mer- direta. As transformações desse set solitário e desolado são produzidas no interior
cado muito jovem. Tive de aprender a dividir o tempo do processo fotográfico, da iluminação ao processamento na ampliação.
entre dar continuidade ao processo criativo e admi- “Eu sempre soube que trabalharia em alguma área ligada à criação. Durante o
nistrar tarefas além da produção. Isso é muito difícil, colegial cheguei a resolver que seria escritora. Mas, quando, morando em São
pois estou em um processo inicial de construção do Paulo havia dois meses (aos 19 anos), visitei uma exposição de arte contemporânea,
trabalho. Percebo que muitos jovens artistas também me dei conta de que havia uma área do conhecimento na qual eu poderia exercer
acabam tendo essa dificuldade, da pouca experiência aquele tipo de prática. Ao me dar conta disso, decidi cursar artes plásticas”,
aliada à demanda comercial, o que pode comprometer lembra Borges, que já saiu da USP, em 2008, com galeria (Virgilio, em São Paulo).
a produção e a concentração”, desabafa. A entrada no mercado de arte é menos cristalina no caso de alguém trabalhan-
Um universo solitário de referências infantis marca do com performance. Felipe Bittencourt conta que sua inserção foi “bem torta”:
a produção de Junqueira. A artista realiza perfor- carioca vivendo em São Paulo, participou da primeira mostra coletiva no Rio de
fotos divulgação
Hegemonia de um
padrão de gosto
“A arte está cada vez mais colada na moda, operando
segundo uma mesma lógica: assim como as marcas
lançam coleções sazonais, também as faculdades e ins-
tituições lançam artistas sazonalmente”, analisa Dora
Longo Bahia. “Hoje, o jovem artista tornou-se uma
mercadoria, é uma commodity como as ações do mer-
cado de futuros, pois a arte reproduz o sistema econô-
mico”, continua. “A descontextualização da experiência
do artista em seu ateliê em relação à obra formatada
para estar nos museus e galerias é muito perversa.”
Com base em uma pesquisa de Tiago Mesquita para
o livro Pintura Brasileira Século 21, que a editora
Cobogó lança em fevereiro, a exposição no Instituto
Tomie Ohtake promove relações entre a onipresente
produção de pintura de nomes que despontaram no
a facilitou a profissionalização
Janeiro. “Meu trabalho foi extremamente desrespeitado, assim como o de muitos cenário da arte na última década com obras em outros
outros: um edital enganoso e um espaço precário que não atenderam a nenhuma suportes de colegas de geração. Mesquita, que é cocu-
exigência dos artistas. Decepcionado, não produzi por um tempo”, lembra. De rador da exposição, atribui a profissionalização dos jo-
uma série de decepções pessoais surgiu o projeto de realizar performances de vens artistas a fenômenos novos como a continuidade
limite físico, que foram os trabalhos que lhe deram projeção e renderam convites do processo democrático e, de seis a oito anos para cá,
para expor pelo Brasil em espaços institucionais e festivais internacionais. Um à estabilidade econômica do Brasil.
exemplo é a ação de apontar vários lápis durante três horas, até sangrarem os “Esse contexto permite uma continuidade na traje-
dedos. “Testo o limite do objeto e o objeto testa o meu limite”, explica o artista. tória dos artistas; não há muitos sobressaltos. Além
Bittencourt trabalhou na exposição Objeto Transitório para Uso Humano (2008), disso, há muita organização do meio de arte nos dias
de Marina Abramovic, na então Galeria Brito Cimino, na qual as pessoas podiam de hoje”, afirma Mesquita. A facilidade do acesso
interagir com os objetos e propostas da artista. “Minha função era performar a informações – seja pela quantidade de livros cir-
ações durante 12 horas, todos os dias, por um mês, como exemplo vivo e constan- culando na internet, seja pela facilidade de se fazer
te na exposição. Foi um contato muito forte e uma grande influência em minha uma viagem de formação – também contribui para
produção”, conta ele. “A constante crítica de que minha produção não renderia a continuidade de uma investigação artística, na opi-
dinheiro foi outro fator importante no meu processo como artista, porque resolvi nião do curador. “Parte da produção brasileira atual
produzir somente pela arte e não pelos seus fins financeiros”, observa. é muito marcada pela hegemonia do mercado inter-
Um exemplo disso é o belíssimo projeto de performance diária que Bittencourt nacional de arte, pela hegemonia de um padrão de
iniciou em 8 de dezembro de 2010. “Minha proposta foi fazer uma ideia de per- gosto, e isso é um problema”, diz.
108
C A D A
REMCloud
Teve um sonho louco na noite passada e não tem coragem
de contar para ninguém? A rede permite usar o Twitter
anonimamente para desabafar se você não tem dinheiro
para ir ao terapeuta. E, claro, fazer amizade com outros v
sonhadores por aí. http://remcloud.com
U
Ralvery
M
Rede social dedicada a quem gosta de tricô, crochê e bor-
dado. Porém, para entrar tem de mostrar algum trabalho
que você tenha tricotado. Boa sorte!
https://www.ravelry.com
MYFreeImplants
Quantas vezes você trocou o silicone? Não tem dinheiro
para aumentar seus seios? Essa é a rede social para quem
já fez ou quer fazer alguma cirurgia plástica.
http://myfreeimplants.com
fotos: divulgação
O
noção de associação por afinidades,
contudo, beira as raias da bizarrice
D R A
relações sociais que quere-
E U D O
jeito muito juvenil. Tem-se a
sensação de não termos saí-
do daquela fase adolescente,
na qual só queremos andar
com nossos iguais, sem dar
muito espaço para a dife-
rença. Há quem diga, ainda,
que a rede social da internet
2.0 apenas reproduz em um
NiNa Gazire ambiente virtual as estruturas
Respectance.com
Essa é só para quem já morreu. Se você perdeu algum
ente querido pode registrá-lo nesta rede. Funciona como
uma espécie de obituário digital em tempo real, em que
também é possível compartilhar experiência sobre a dor do
luto. http://www.respectance.com
sociais preexistentes.
A plataforma aSmallWorld,
110 por exemplo, é uma rede que
só aceita triliardários bem-
-nascidos, que são obrigados
a mostrar o extrato bancário
para ser aceitos. A pretensão
de aSmallWorld é ser uma
Spiritual Community versão de um Country Club
Você prevê o futuro? Vê fantasmas? Esta é uma rede na web, porém de maneira
social só para médiuns, videntes e paranormais. muito inocente. É muito fácil
http://www.psychics.co.uk enganar alguém falsificando
dados e saldos bancários na
internet, não é mesmo?
De fato, essas características
do anonimato e da incerteza
nas redes sociais convivem,
ao mesmo tempo, com o
esgotamento da noção de
privacidade e intimidade. Se
na web 2.0 ficou mais fácil
descobrir o pulo de cerca do
HAMSTERster namorado, também ficou
Rede social só para quem gosta de hamsters. Sem mais mais fácil exacerbar as nossas
comentários. http://www.hamsterster.com
v personas: quem nunca entrou
em chat e fingiu ser loira
e alta que atire a primeira
pedra. As possibilidades
lúdicas tornaram-se infinitas
e hoje em dia encontramos
redes sociais para todos os
gostos e vontades. Conheça
aqui uma lista do que há de
mais estranho no quesito
rede social. Se antes “de
FUBAR perto todo mundo era louco”,
Uma rede social que pretende ser um pub virtual. Por meio
agora você pode escolher a
de webcams pessoas se reúnem para beber e falar sobre
cerveja. Só é permitida a entrada de maiores de 18 anos. distância aqueles que têm
http://fubar.com uma maluquice parecida com
a sua. Não se sinta sozinho.
Stache Passions
Para aquelas que são chegadas em caras de bigode, ou
para aqueles que querem cultivar um. Bigode hoje é coisa
de hipster. http://www.stachepassions.com
112
RodRigo savazoni
Redes, ocupações, Revoluções:
o caminho da libeRdade é a Rua
de resumo do que foi o nosso encontro das redes de cultura digital. mil pessoas marcharam pacificamente. Na Turquia, as
Nossas redes nos deram a potência de tomar as ruas. O ano de 2011 mostrou isso. manifestações contra as tentativas de censura na rede
Foi uma época bem agitada da perspectiva da rearticulação do movimento liber- ganharam as ruas no mês de agosto e demonstraram
tário global. Começou em janeiro, em duas localidades: na Praça Tahir, no Cairo, que os jovens não pretendem deixar que essa infra-
onde jovens foram às ruas depois de se articularem por meio de sites de redes estrutura potencialmente emancipadora seja desarti-
sociais e depuseram Hosni Mubarak; e na Tunísia, onde a rede cumpriu papel de- culada pelos governantes. A explosão final ficou por
terminante na articulação das manifestações contra o ditador Zine Al-Abidine Ben conta do Occupy Wall Street, que começou em 17 de
Ali, que caiu. Era a Primavera Árabe, cujos ventos sopraram e refizeram a rota setembro, quando ativistas tomaram as ruas do centro
dos mouros em seu encontro com a Europa. Em 15 de maio, a Espanha também financeiro global. Em várias cidades dos Estados Uni-
se levantou com o movimento 15M (15 de Maio), que reuniu milhares de pesso- dos e de outros países, movimentos semelhantes tive-
as e produziu um enorme acampamento na Praça Porta do Sol, em Madri e em ram início. O Occupy Wall Street lembra que somos
outras cidades. No Brasil, o ponto alto foram as Marchas da Liberdade, que mos- 99% das pessoas do planeta que querem outra vida,
traram a cara de uma nova geração de ativistas. A marcha de São Paulo teve início não subordinada aos interesses de um capitalismo ge-
após a proibição e repressão à Marcha da Maconha, no início de junho. Vários nocida, e que o 1% que governa os mercados deveria
movimentos de todo o Brasil se reuniram e chamaram uma nova marcha para a nos ouvir. Em 15 de outubro foi feito um chamado de
semana seguinte, que novamente foi proibida. Desta feita, no entanto, cerca de 5 ação global. Isso me faz pensar que a história é cíclica
e que ainda estamos nos primórdios dela. Houve vários outros momentos em que ra, até conseguirem o que foram nelas buscar. Além
as novas tecnologias desempenharam papel central em processos políticos, como disso, chamou a atenção para o caráter pacífico das
no caso do Irã, em 2009, ou mesmo da mobilização espanhola após os atentados ocupações. Há dez anos, o movimento tolerava pro-
de 11 de março de 2004, quando a população, por meio de tecnologias móveis, testos violentos, os quais, em geral, eram articulados
convocou uma manifestação contra o primeiro-ministro que havia mentido sobre pelos Black Bloc, uma tática de protesto radical que
a razão da explosão no metrô. A culpa era da Guerra do Iraque, para a qual José resultava em destruir símbolos do capitalismo, como
María Aznar tinha enviado tropas e não uma ação de radicais do ETA. A partir de lojas do McDonald’s e outras grifes. Esses atos faziam
2011, no entanto, com a sequência virtuosa de protestos, manifestações, ocupações com que, na imprensa mundial, toda a articulação
e revoluções orquestradas em rede, nos colocamos diante de um dado novo, que fosse vista como violenta, o que não era o caso. Nos
devemos celebrar: a aceleração dessa (des)organização que devolveu a esperança movimentos em rede atuais, impera a política da afe-
às ruas. Em sua ida ao Occupy Wall Street, Naomi Klein disse que duas caracte- tividade, o olhar ao outro e a ideia de que precisamos
rísticas diferenciam o movimento atual daquele iniciado na virada do século. Em reinventar as práticas de sociabilidade por inteiro. E já
primeiro lugar, destaca ela, as manifestações não são esporádicas. São ocupações. aprendemos: o caminho da liberdade é a rua.
Dez anos atrás, montavam-se protestos nos momentos em que os líderes da glo- Acesse o resumo do encontro com Gilberto Gil no
balização se reuniam e, como num passe de mágica, as cúpulas e as manifestações Festival CulturaDigital.Br em (http://www.ustream.tv/
se dissolviam. Agora as ruas estão cheias de pessoas que não pretendem ir embo- recorded/18903392)
atenção Às evidências
exposição de antoni Muntadas no Museo Reina sofía mapeia as reflexões
do artista sobre o ambiente midiático que define a atualidade
Juliana Monachesi *
A 12ª edição do Big Brother BrAsil co- nique para protagonizar uma cena de sexo. o programa de domingo mostrou
meçou mAl: no primeiro diA dA gincA- cenas dos dois na cama, os corpos escondidos sob um edredom, e o rapaz reali-
nA gloBAl (terçA, 10 de jAneiro), os 16 zando movimentos indubitavelmente correspondentes aos de um ato sexual. A
pArticipAntes se comprimirAm den- cena foi arrematada por Bial com a infame frase “o amor é lindo”, a pérola que
tro de um cArro pArA disputAr umA faltava para adornar sua brilhante carreira de jornalista.
imunidAde (regAliA de não poder ser no programa de segunda-feira 16, após a enxurrada de protestos em redes so-
mAndAdo pArA o pAredão nA primeirA ciais e na blogosfera, a direção do BBB consentiu que houve algo de podre no
semAnA). Quem aguentasse mais tempo no carro reino da dinamarca. pedro Bial anunciou que daniel havia sido eliminado do
– privado de água, comida e sono – ganhava a prova programa por comportamento inadequado. e arrematou: “o show tem de conti-
(e também o carro). Quando foi ao ar o programa do nuar”. A partir daí, tudo se passou como se o participante nunca tivesse existido.
dia seguinte, o apresentador pedro Bial comunicou ninguém tocou mais no assunto, obviamente sob coerção, direta ou internaliza-
aos espectadores que três participantes permane- da, do grande irmão.
ciam na disputa e, orgulhoso, afirmou que dali a 20 o que é mais perverso? endossar um suposto crime – veiculando imagens no
minutos a prova de resistência completaria 24 horas. mínimo duvidosas em um contexto de romance – ou vetar, em seguida, qualquer
considerando que dois dos três heróis da resistência menção ao assunto? um crítico de televisão comparou o episódio da mudança de
eram mulheres, e que 24 horas sem esvaziar a bexiga postura da globo, do domingo para segunda, com a manipulação da cobertura
pode causar infecção urinária, o mais razoável que do comício das diretas já, em 1984, mascarada em festa pelo aniversário de são
se podia esperar da produção do reality show era que paulo. “2012 não é 1984”, concluiu o crítico.
a imunidade fosse concedida aos três e a prova ter- Vale notar que tampouco 2012 é 2002, quando a primeira edição do BBB foi ao
minasse ali. Ao final do programa, no entanto, Bial ar. naquela temporada de estreia, por exemplo, a mesma competição de perma-
apenas comemorou o marco das 24 horas e os teles- nência dentro de um carro durou “míseras” 14 horas. os participantes têm mais
pectadores viram a atração acabar com a cena dos resistência física dez anos depois? não. eles resistem melhor ao funcionamen-
três abandonados à própria sorte dentro do veículo to de reality shows. na quarta 18, monique se esbaldou na festa seguinte à do
(a prova terminou seis horas depois, batendo todos “incidente” e, em conversa com outra participante, contou que brincava de Big
os recordes de edições anteriores). Brother quando era criança – “A gente tinha uma poltrona na sala que a gente
prenúncio de que o programa seria recordista em filmava e fazia de confessionário”, disse. em 2002, ela tinha 13 anos, assim como
excessos por parte de seus diretores? três dias de- a maioria dos integrantes desta 12ª edição. esta é uma geração que cresceu vendo
pois, ocorreu a festa em que, supostamente, daniel BBB, conhece todos os seus códigos e, provavelmente, não considera o filme o
se aproveitou do estado de semiconsciência de mo- show de truman (1998) uma metáfora distópica.
Outro motivo por que 2012 não é 1984 (nem 2002) de real nesse “show da vida”, esvaziando o interesse por ele. Manter a transmissão
é a vigilância distribuída, este novo player do jogo aberta pode desembocar em novas infrações de preceitos do Código Brasileiro de
que coloca em xeque o modelo de vigilância advo- Comunicações, que prevê, entre as sanções cabíveis, desde multa até a interrupção
gado pela Globo na condução do BBB. Esse modelo dos serviços. Não seria hora de rever as regras do jogo?
de controle centralizado foi apropriado da figura li- Entretenimento tem limite e televisão não é coliseu. O diretor do programa, em
terária de George Orwell para dar o falso poder de uma última manobra de manipulação, chamou o público de racista. Preconcei-
controle à audiência (por meio da votação para deter- tuosa foi a postura dele, ao usar a raça do participante para chamar aqueles que
minar quem sai e quem fica) sobre os albergados na denunciaram o episódio de burros. Mobilizações em resposta aos desmandos da
casa “vigiada”. A emissora disponibiliza durante direção do reality mostram que a inteligência é mesmo coletiva. O Movimento
24 horas imagens em tempo real da casa cenográ- Defesa da Mulher, do Rio de Janeiro, e dois outros coletivos de direitos humanos
fica tanto em seu site quanto por meio de sistema decidiram atacar o inimigo pelo bolso e enviaram uma carta de apelo aos patroci-
pay-per-view na tevê a cabo, para garantir a cre- nadores do BBB para se posicionarem em nome da responsabilidade social.
dibilidade da edição. Então, como imaginar que Com participantes e espectadores ultraespecializados na novela do século 21 que
interpretações moralistas, sexistas e cínicas dos a Globo foi pioneira em criar (nos outros 23 países onde a atração da holandesa
fatos serão engolidas em massa por um público Endemol é replicada, não ocorre nem de longe a mesma repercussão na socie-
que, paralelamente, compartilha sua própria inter- dade), ou bem ela faz radicais transformações no formato – como, por exemplo,
pretação em um sistema de controle pulverizado, admitindo um processo de edição tão compartilhado quanto a função de vigilân-
desmascarando qualquer manipulação: a internet? cia – ou, como escreveu uma amiga no Twitter, depois do ”show must go on” do
Tirar do ar o streaming do Big Brother seria como ex-repórter, opta pela saída mais nobre: “The show must stop”.
assinar uma declaração oficial de que não há nada *
Colaborou NiNa Gazire
Exposição
HETERoTopiAs
conTEMpoRânEAs
GisEllE bEiGuElMAn
Em mostra retrospectiva, Jac Leirner exibe Na págiNa ao lado, a ção. Mais do que desfazer a lógica das sintaxes previ-
iNstalação Nomes, com
a arte de monumentalizar o cotidiano pela síveis, o conjunto em exposição brinca com as nossas
sacolas plásticas; acima,
ironia da noção de valor a aquarela 4 yellows, de referências mais sutis e também arraigadas. Desfaz
Um dos segredos do fascínio que as listas provocam Jac leirNer a relação entre valor e perenidade, por operações de
é sua ambivalência. Elas, aprendemos com Umberto inversão que transformam o transitório (como o ano-
Eco, oscilam o tempo todo entre a abertura para um nimato das frases escritas em notas de 100 cruzados)
infinito et cetera e um mundo que se fecha em si mes- em monumento: o Livro (dos cem), de 1987. E o pró-
mo. Impossível não pensar nisso ao visitar a retrospec- prio dinheiro é transformado em objeto descartável.
tiva de Jac Leirner, em exposição na Estação Pinacote- Leirner problematiza, como assinala o curador da
ca do Estado de São Paulo. exposição, Moacir dos Anjos, “os padrões formais
O conjunto de 60 obras, realizado entre 1980 e 2011, é estabelecidos pelo racionalismo nos movimentos
uma sequência de projetos que reorganiza, metódica artísticos (Arte Concreta e Minimalismo)”, e se ins-
e delirantemente, elementos do cotidiano. Para criar, titui, como referência da arte que inquieta porque
a um só tempo, um universo próprio e um jogo que nos impede, como as heterotopias de Foucault, de
poderia não terminar jamais. nomear “isso e aquilo”.
As obras são construídas com cartões de visita, co-
bertores, saquinhos de vômito e cinzeiros de avião,
etiquetas de preço de maços de cigarro, cédulas de ARTE
dinheiro, sacolas plásticas de lojas, adesivos, rolos de
Durex, coleções de todos os portes, cores e formas. MiRAdA sobRE A coR
No conjunto, constituem uma enciclopédia do sécu-
lo 20, cuja única variável constante parece ser a sua ivAn clAudio
capacidade de “perturbar todas as familiaridades do
pensamento”, como escreveu o filósofo Michel Fou- Com curadoria exemplar, retrospectiva
cault no prefácio de As Palavras e as Coisas. de Carlos Cruz-Diez, em Buenos Aires,
Foucault comentava aí um texto de Borges, em que persegue a materialidade da cor na obra
ele discorre sobre uma enciclopédia chinesa que as- do artista venezuelano. A grande retrospectiva
sim enumerava a divisão dos animais: “a) Pertencen- dedicada ao artista franco-venezuelano Carlos Cruz-
tes ao imperador; b) Embalsamados; c) Domestica- Diez, em cartaz no Museo de Arte Latinoamericano
dos; d) Leitões; e) Sereias; f) Fabulosos; g) Cães em Ja c Lei rn er, Esta ç ã o de Buenos Aires (Malba), até 5 de março, é exemplar
liberdade; h) Incluídos na presente classificação; i) Pinacoteca. Largo General por vários motivos. Organizada originalmente
Que se agitam como loucos; j) Inumeráveis; k) Dese- Osório, 66 . Tel. (11) 3334- para o Museum of Fine Arts of Houston, no Texas,
nhados com um pincel muito fino de pelo de camelo; 4990. De terça a domingo, a mostra reúne apenas obras de primeira grandeza
l) Et cetera; m) Que acabam de quebrar a bilha; n) das 10 às 18h00. R$ 6 e R$ 3 – o que, de resto, deveria ser o objetivo de qualquer
Que de longe parecem moscas”. (meia). Grátis aos sábados. retrospectiva. Ao dispô-las segundo a simples
Essa ordem, que paradoxalmente desordena as certe- Até 26 de fevereiro cronologia, a curadoria minimiza a intervenção,
zas, é o que as obras de Jac Leirner põem em circula- esconde a escolha meticulosa e chega a passar a falsa
Livros
Fotos: Divulgação
Cinema
Sobre relógioS
e filmeS
O herói hugO, sua amiga
isabelle e O autômatO no momento em que o nome Méliès é pronunciado.
prOtagOnizam lOnga-
metragem de scOrsese
Em uma cena luminosa, Hugo descobre que Tio
Paula alzugaray sObre a Origem dO cinema Georges (Ben Kingsley), o vilão da loja de brinquedos
e padrinho de sua única amiga, Isabelle (Chloe
Martin Scorsese presta homenagem ao Grace Moretz), é, na realidade, um grande mestre
mestre Georges Méliès em seu primeiro do cinema, do ilusionismo e dos efeitos especiais.
filme para crianças Esquecido. Como num passe de mágica, o que
Martin Scorsese conduz a cena de abertura de era sentimental torna-se comovente. Ilumina-se a
seu primeiro filme, realizado em 3D e destinado a história e volta-se aos primórdios, quando a ideia de
públicos de todas as idades, com uma trilha sonora cinema nasce para o ator e prestidigitador Georges
ostensiva e um plano-sequência com movimento de Méliès, depois de assistir às primeiras projeções de
câmera de tirar o fôlego. A câmera logo acalma, mas Atualidades dos Irmãos Lumière.
a trilha prossegue grandiloquente, acompanhando São deslumbrantes os remakes que Scorsese faz
o drama do menino órfão e maltrapilho Hugo (Asa dos filmes de Méliès, que foram mais de 500 – com
Butterfield), que vive de pequenos furtos e de dar personagens tão fantásticos quanto sereias, diabos
corda nos relógios de uma estação ferroviária na e lagostas alienígenas –, mas que foram em sua
Paris do início do século 20. maioria destruídos com a Primeira Guerra Mundial,
Hugo passa seus dias entre as fugas de um policial juntamente com os sonhos e as fantasias da sociedade
pastelão (Baron Cohen), as duras disputas com europeia da época. De escola realista, o diretor de
um velho ranzinza proprietário de uma loja de Hugo, direção de Martin Touro Indomável e Os Bons Companheiros não se
brinquedos e as tentativas frustradas de consertar Scorsese, EUA, 126 minutos deixa impregnar pelo lirismo surrealista de Méliès.
um boneco autômato, herdado do pai. Sob a tensão Previsão de estreia no Brasil Em vez dos truques ilusionistas do mestre a quem
de longos acordes sentimentais, a melancolia dá o 17/2 homenageia, prefere dedicar-se às metáforas entre
tom do primeiro terço do filme. Mas Scorsese começa relógios e cinema. Ainda assim, o espectador não
a revelar a que vem no momento em que conclui a vê o tempo passar, até que o grande diretor de Uma
fase de apresentação dos personagens. O flerte com o Viagem à Lua (1902) seja redescoberto na estação de
clichê e a sensação de déjà vu ganham um acorde final Montparnasse.
Douglas Diegues
124
City Maravishoza
Tony BelloTTo
125
126
GooGle-dadá
na cabeça! b i t .ly/9 G RyGO b i t .ly/sWq wOV
Adultos falando tatibitati, pediatras xiitas, U m blog fe ito p or um exp e r ie nte Produtos para o seu pequeno cientista,
barrigões embrulhados para presente. Há p e dia t ra q ue t ra t a com res p e ito a s mesmo que ele ainda esteja no berço.
vida inteligente no mundo da maternidade? d úv ida s dos pa is e ev it a os ra dica lis m os
Alguns sites mostram que sim. e exces sos t ã o na m oda a t ua lm e nte.
Livros como HTML para Bebês e CSS para Se o seu bebê é pequeno demais para “Porn para grávidas”, “
Crianças podem ser encontrados neste entender uma conversa, não há melhor Povo da Walmart: uma exploração do incrível”,
site. Como diz Dan Frommer, do site de modo de interação que entrar na onda. “Ideias de fantasia de Halloween para grávidas”
tecnologia SplatF, “Ensine seus filhos a Site com excelentes games, vídeos são apenas alguns dos posts que podem ser
codificar, não a falar chinês”. e áudios educativos para crianças. encontrados neste site que entende de verdade
Totalmente em finlandês. o humor tão especial da gravidez. E sem culpa.
M a tern ida d e ri m a t an to co m fel i c i d ad e No site são discutidas dúvidas do mundo Este blog já é um clássico da web,
qu a n to co m i n s an i d ad e e o b log t rat a materno como: “Era pra ser assim tão difícil?” continua valendo mais que muitas
desses temas co m m u i t a i n tel i g ên c i a. “Isso é normal?” “Que cheiro é esse?”. sessões de terapia para traumas pós-
festas de fim de ano e reuniões familiares
em geral.
é professora do
Departamento de
bi t . ly/c IH 4 I H b i t .ly/xO8l 7 T
Artes e Design da
UFJF, consultora dos
Dentinhos de leite retratados em várias Um blog sensato, sem regras e ameaças, cursos de extensão
aventuras. Para explicar para onde eles com muita informação de quem topou a universitária em
vão depois da visita da fada do dente. maternidade como ofício. Arte e Tecnologia da
Universitad Oberta de
Catalunya (UOC) e mãe
de Sofia, de 8 meses
www.gooutside.com.br
obituário
128
PC - computador
pessoal (1971-2012)
Soberano inconteste
dos lares e empresas
do fim do século 20, o
computador chega ao
fim da primeira década
do século 21 como
trambolho dos tempos
da imobilidade
Nascido nos anos 1970, o computador pessoal (PC) parecia con- – com tesoura – e colagem com incontáveis tubos de cola Prit.
solidar as utopias acalentadas por décadas na ficção científica, No começo tinham nomes, como Commodore e Atari, que lem-
desde os tempos em que Flash Gordon enfrentava os maléficos bravam espaçonaves e embates entre jogadores de GO, mas de-
habitantes do planeta Mongo. pois, com a Apple, foram assumindo ares mais humanos, anun-
Em contraposição aos mastodônticos computadores empresariais ciando uma época de naturalização das tecnologias.
mainframe, que chegavam a ocupar uma sala e ser maiores que uma Com a internet, a partir de meados dos anos 1990, chegaram a
geladeira, eram carinhosamente chamados de “micro” por seus donos. ser os soberanos das empresas e dos espaços domésticos, trans-
Espécie de televisores “verde e preto” pendurados em teclados, não formando-se nos melhores amigos do homem contemporâneo.
serviam para muito mais que salvar a vida de datilógrafos disléxicos. Abalados pelo poder de comunicação instantânea dos celulares,
E isso já era muito, rendendo-lhes o trunfo de entrar para a história têm sua morte dada como certa, em 2012, aos 40 anos de idade,
como implacáveis assassinos de litros de corretor branquinho. Coloca- esganados pelo poder de seus filhos mais pródigos, os tablets,
ram fim a uma era de ruídos em redações jornalísticas e eclipsaram para que prometem, com o parricídio iminente, uma era de conexão
sempre técnicas de edição literalmente cut & paste, baseadas em recortes e mobilidade. Amém. GB
FOTO: DIVULGAÇÃO
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Em clima de carnaval, Delete põe som na caixa e samba mais altas no circuito Dodô (Barra-Ondina). Segundo os sites www.abadaweb.
no pé. Nosso enredo desta edição é inspirado em com.br e www.meuabada.com.br, o preço para pular o sábado de folia no
“Plataforma”, de autoria do compositor mineiro João bloco Nana Banana, do grupo Timbalada, liderado por Carlinhos Brown,
Bosco. Ele reivindica: chega a R$ 750. O preço mais módico é do Araketu: R$ 150. Pela média, o
extenso festejo baiano (uma semana) custa R$ 3 mil só no item abadá. Haja
Não põe corda no meu bloco fôlego financeiro e pulmonar.
Nem vem com teu carro-chefe Mas tem também o camarote, outra engrenagem para estabelecer diferenças
Não dá ordem ao pessoal diante da patuleia. O mais caro, o Salvador 2012, cobra R$ 1.040 para
Não traz lema nem divisa, homens frequentarem o local no sábado, com open bar. O mais barato,
Que a gente não precisa com o rótulo Skol, custa R$ 330 para homens e R$ 290 para mulheres.
Que organizem nosso carnaval A rua é o espaço público, afirmam os sociólogos. Nela, deve imperar a lógica
do convívio e do compartilhamento igualitário dos espaços. Roberto DaMatta
O carnaval mudou de dono. A tal “maior festa popular esclarece que “a rua é o oposto da casa, espaço privado por excelência, onde
do planeta” tirou o povo da frente, passou um cordão de estão ‘os nossos’, que devem ser protegidos e favorecidos”.
isolamento para deixar bem clara essa história de elite e Propomos deletar o abadá e seu cortejo de privilégios momescos. No livro O
colocou seguranças parrudos a vigiar o cercadinho vip que Que Faz o Brasil Brasil?, DaMatta observa que o carnaval cumpriria um papel
segue os carros de som dos blocos. Tudo para atender os especial entre nós. Numa sociedade “que tem horror à mobilidade social”,
diferenciados portadores de abadás. Essa curiosa roupa/ o carnaval seria “a possibilidade utópica de mudar de lugar, de posição. De
passaporte é vendida a preços extorsivos que esclarecem a realmente inverter o mundo em direção à alegria, à abundância, à liberdade e,
quem se destinam. O carnaval baiano pratica as cotações sobretudo, à igualdade de todos perante a sociedade”.
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C HUR RASC ã o dA ge n t e di f e Rê n CiAdA l evoU À C RACo lândiA , em S ão pAU lo, 1.500 peSSoAS, 100Kg de CAR ne, lingUi ç A e v i n Ag R e t e
cidades
no seu plano de erradicação do enclave dos dependentes de crack
Giselle BeiGuelman do centro de São Paulo, gerou uma onda de protestos. Variados
e veementes, vão da contestação às políticas urbanas que teriam
Sociedade civil organiza-se em objetivo de higienizar socialmente o centro para favorecer a es-
peculação imobiliária, passando pela crítica ao despreparo da
pequenas associações e restaura os Polícia Militar e chegando à confusão entre saúde e segurança
afetos entre cidadãos e cidades pública. Mas isso tudo não se faz à custa da perda do bom humor
– que parece ser uma das características da geração “pós-rancor”.
Um dos marcos desse processo foi o Churrascão de Gente Dife-
renciada – Versão Cracolândia, que reuniu ativistas diversos na
A palavra rua tem origem latina e vem de ruga, sulco, rego, vinco. área em 14 de janeiro.
Como as dobras da pele, as ruas são linhas que retêm a memória Nem todos os grupos que vêm discutindo o problema são forma-
da passagem do tempo e suas histórias. O cronista João do Rio dos por urbanistas, como a associação AmoaLuz, paulistana. Ou-
(1881-1921) dizia que a rua “é a agasalhadora da miséria.” Todos tras, como a BaixoCentro, também de São Paulo, são formadas por
os renegados ali encontram seu espaço e é ali também que a cul- ativistas que procuram reinventar a sociabilidade, a partir de redes
tura se reinventa, interferindo na língua, “matando substantivos, locais, reivindicando que “as ruas são para dançar”. O fenômeno
transformando a significação dos termos, impondo aos dicioná- não se restringe a São Paulo nem ao Brasil e muitas vezes se arti-
rios as palavras que inventa”, escreveu ele. cula com conglomerados multidisciplinares, como o Hackitetura,
Território de criação, moradia, lembrança – pessoal e urbana –, a coletivo espanhol de artistas, ativistas, programadores e arquitetos,
rua é hoje diretamente relacionada ao seu valor imobiliário. Re- e o Fabrique Hacktion, francês, um grupo de designers que propõe
beldes como João do Rio, que decidiu não compactuar com os “enxertos” nos equipamentos urbanos para melhorar o uso dos es-
livros que veem as ruas como mera sucessão de fachadas, várias paços públicos. De diferentes perfis e escalas, ecoam uma pulsação
organizações e coletivos vêm propondo ações independentes para comum que é a restauração do homem como ser político por exce-
repensar e viver as cidades. A recente operação dos governos do lência, tendo a cidade, a polis, como seu lugar no mundo.
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