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DOI: 10.1590/1413-81232018234.

13682016 1333

A saúde como ciência e o corpo biológico como artefato:

TEMAS LIVRES FREE THEMES


o caso do Jornal Nacional

Health as science and the biological body as an artifact:


the case of Brazil’s national TV news program Jornal Nacional

Eduardo Caron 1
Aurea Maria Zöllner Ianni 1
Fernando Lefevre 1

Abstract This article presents the findings of a Resumo Este artigo apresenta os resultados de
study of the coverage of health, science and tech- pesquisa sobre ciência e tecnologia em saúde, em
nology during 2012 by the Jornal Nacional, a matérias jornalísticas veiculadas pelo Jornal Na-
national television news program in Brazil pro- cional da Rede Globo de Televisão, em 2012. Fo-
duced by the Rede Globo de Televisão. A total of ram analisadas 246 matérias sobre saúde, sendo
246 news stories addressing health-related topics que metade destas se referem a pesquisas científi-
were analyzed, half of which addressed scientific cas, inovações tecnológicas e assistência hospitalar,
research, technological innovation and hospital constituindo um campo discursivo médico-cen-
care, and were shown to represent a doctor-cen- trado. Das reportagens sobre Ciência e Tecnologia,
tered discourse. The findings also show that 82% 82% divulgam produtos a serem disponibilizados
of the news stories concerning science and technol- no mercado, denotando a participação econômica
ogy advertise products that are about to be intro- destas pesquisas científicas. Discute-se dois aspec-
duced onto the market, illustrating the commer- tos nestas reportagens que caracterizam o corpo
cial nature of this research. The article discusses biológico como um artefato: a construção de uma
two aspects portrayed by these news stories that corporeidade virtualizada e fragmentada através
characterize the biological body as an artifact: the da difusão de imagens do interior do corpo; e a
construction of a virtual and fragmented body relevância dos temas biotecnológicos que têm tor-
through the diffusion of images of the inside of nado os processos da vida abertos à manipulação
the body; and the importance of biotechnological e modificação. Questiona-se a hibridização de
issues, which leaves life processes open to molecu- natureza e cultura presente nos objetos biotecno-
lar manipulation and alteration. The study also lógicos.
questions the nature-culture hybridization pres- Palavras-chave Biotecnologia, Medicalização,
ent in biotechnological objects. Mídia
Key words Biotechnology, Medicalization, Me-
dia
1
Departamento de Prática,
Faculdade de Saúde Pública,
Universidade de São
Paulo. Av. Dr. Arnaldo 715,
Cerqueira Cesar. 01246-
904 São Paulo SP Brasil.
eduardo.caron@usp.br
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Caron E et al.

Introdução que vamos discutir aqui é, portanto, um conjun-


to de noções sobre saúde que conforma a socie-
Os impactos dos avanços das ciências biomédicas dade contemporânea. Vale salientar que 50% das
e da centralidade do espaço midiático na vida so- reportagens sobre ciência e tecnologia exibidas
cial têm marcado o século XXI com implicações pelo Jornal Nacional, em 2012, foram produzidas
políticas, éticas e epistemológicas na área da saú- e veiculadas em países da Europa, Ásia e América
de. Referenciais das ciências médicas informam do Norte. Nosso objetivo é tomar esse espaço mi-
critérios normativos em diversas esferas sociais diático para problematizar como se dá a constru-
e atualizam a medicalização da vida cotidiana. ção de descobertas científicas e tecnológicas na
Num contexto social em que a experiência da relação com as necessidades de saúde, a partir de
vida cotidiana é cada vez mais “midiatizada” e um conhecimento no qual a ciência médica e a
as identidades e inserção social se produzem saúde pública estão intrinsecamente implicadas.
através do consumo, a mídia torna-se um espaço No Brasil, o espectador de TV passa em mé-
privilegiado de subjetivação, produção de mo- dia 4 horas diariamente diante da televisão. Em
dos de pensar e de condutas. Embora limitados 2013, 98% dos domicílios possuíam televisão,
pela autorreferencialidade, incompletude e ve- mesmo aqueles sem acesso à infraestrutura bási-
locidade próprios aos formatos de produção da ca, inclusive sem geladeira, possuem um aparelho
comunicação de massa, conceitos de complexi- de televisão4. Entre 2012 e 2015, o Jornal Nacio-
dade crescente são traduzidos e incorporados ao nal teve uma audiência média de 22 a 25 milhões
mercado. Neste contexto, Castiel et al.1 discutem de telespectadores diários, somando de 25 a 33
a emergência de regimes de verdade fundados pontos no Painel Nacional de Televisão – IBO-
sobre a racionalidade tecnocientífica contempo- PE5, o que representa mais de 6 milhões e 300 mil
rânea ordenada como dispositivos biopolíticos im- domicílios nas 14 principais regiões metropoli-
bricados nos processos comunicacionais em saúde tanas do país.
que produzem uma espetacularização e morali-
zação de modos de vida. Referenciais teórico-conceituais:
A noção clássica unidirecional do processo de sociedade de consumo, reflexividade,
comunicação é ultrapassada pela de comunicação biopoder e híbridos de natureza-cultura
em rede. Emissores e receptores não são autôno-
mos, mas fazem parte de uma rede comunicativa, Como veremos, ao analisar o conhecimen-
multipolar, onde a noção de comunicação é menos to científico-tecnológico sobre o corpo, a vida
a de transferência de sentidos, e mais de trama de e a saúde - gerador de reportagens amplamente
sentidos, formando um “mercado simbólico”2 no consumidas por meio da televisão - põe-se em
qual os bens simbólicos são produzidos, circulam questão a própria sociedade contemporânea.
e são apropriados pelas pessoas. Ao problematizar Elegemos aqui um conjunto de referenciais teó-
a enunciação de riscos, reducionismos, descrédi- rico-conceituais necessários para contextualizar
tos e crenças em exposição nos canais midiáticos, essa discussão: sociedade de consumidores e in-
Vasconcellos-Silva et al.3 propõem que dividualização, reflexividade e sociedade de risco,
os processos de produção de sentidos, de modo biopoder e hibridização cultura-natureza.
diverso à lógica frankfurtiana primordial, inter- Podemos dizer que hoje vivemos o impacto
ligam-se a diversos níveis nos quais circulam as da sociedade de consumidores desde o aspecto
ideias, as representações que sustentam a comuni- biomolecular até a dimensão geofísica das altera-
cação e a identidade dos grupos, o nível histórico ções climáticas. Centralmente é o próprio huma-
cultural do imaginário como produção cumulativa no que está em questão, cada vez mais individu-
das ideias que circulam como referenciais sempre alizado, cuja existência se sustenta nos mercados
susceptíveis de ressignificação. dos quais depende para se oferecer como “recur-
No caso, o Jornal Nacional ocupa um lugar so humano”, onde se qualifica como indivíduo e
de interlocução importantíssimo nesta rede e por produz identidades. Em última análise a indivi-
isso mesmo é influente e está fortemente sujeito a dualização significa dependência do mercado em
influências de múltiplas conexões. Neste contex- todas as dimensões da conduta humana6, como
to as matérias jornalísticas do Jornal Nacional so- eixo de organização da sociedade ditado pela su-
bre Ciência & Tecnologia em Saúde apresentam premacia do mercado, onde o indivíduo-consu-
temas, discursos, imagens, conteúdos, linguagens midor é ele mesmo mercadoria7.
e repertório que compõem o imaginário da po- Outro eixo organizador das formas sociais
pulação que assiste a esse programa televisivo. O contemporâneas que condiciona a produção e o
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consumo de bens de saúde repousa sobre a no- ciedade pela crescente incorporação tecnológica
ção de modernização reflexiva. A modernidade na intervenção sobre a vida e os corpos. A TV é
se assenta sobre um olhar para o mundo que tem um dos espaços em que esse processo de medica-
as ciências como paradigma do conhecimento: a lização é fabricado.
reflexividade produz a difusão da cientificidade Olhar para o mundo e narrar sobre ele, ao
e da incorporação tecnológica na vida cotidiana, mesmo tempo em que produz e define objetos
que entre outros efeitos conduz à reificação da também nos produz como sujeitos. Embora in-
saúde. Objetivada, a saúde deixa de ser um valor visíveis, através de dispositivos se estabelecem
próprio do sujeito para se incorporar a merca- regimes de visibilidade e enunciação e se desen-
dorias (medicamentos, instalações e serviços de cadeiam processos de objetivação e subjetivação,
saúde) das quais se é dependente para obte-la8. o que confere aos dispositivos uma dimensão de
A veiculação massiva de informação tecnocien- poder e de força12. O dispositivo médico-centra-
tífica sobre saúde na mídia homogeneíza a oferta do tem o corpo biológico genérico como o verda-
de produtos e procedimentos no mercado, massi- deiro e único objeto de saber da medicina como
ficando e padronizando necessidades associadas prática hegemônica capaz de definir o que é nor-
não somente a doenças, mas também a beleza, mal e patológico13. Nestes termos a medicalização
higiene, dieta ou humor. Nessa medida, a refle- resulta do olhar que define patologias e doentes
xividade na era da modernidade, ao incorporar através das leis gerais das ciências biomédicas que
tecnologia no cotidiano da vida social, aciona compõem o fundamento de conhecimento que
uma turbina de necessidades cada vez mais acele- sustenta e estrutura esse dispositivo.
rada. Segundo Giddens9 A medicalização da sociedade é uma das for-
Diz-se com frequência que a modernidade é mas da biopolítica, isto é, uma estratégia de po-
marcada por um apetite pelo novo, mas talvez isto der para o controle de processos da vida como
não seja completamente preciso. O que é caracte- nascimento, morbidade, comportamentos, atra-
rístico da modernidade não é uma adoção do novo vés de prescrições de condutas, medicamentos e
por si só, mas a suposição da reflexividade indis- intervenções médicas no corpo, no espaço urba-
criminada. no e nas condições de vida das populações14. No
Uma das consequências do êxito e da crise da decorrer do século XX a medicalização transcen-
modernidade é a fabricação de risco. Risco não de as questões propriamente médicas referentes à
é um dado, mas uma produção. Diariamente salubridade e às doenças, erigindo-se como fun-
nos deparamos com consequências indesejadas ção normativa pela qual se definem os limites do
produzidas pela incorporação de conhecimento normal e anormal nos mais variados campos da
científico-tecnológico reflexivamente aplicado vida social. Segundo Zorzanelli et al.15, a partir
no cotidiano das sociedades, desde alterações at- das transformações postas em curso na abertura
mosféricas, acidentes nucleares, bactérias multir- do século XXI a medicalização adquire novas im-
resistentes, crises do mercado financeiro e muitas plicações sociais e tecnocientíficas,
outras. Além de um mundo atravessado por in- compreendido por uma nova economia biopo-
certezas, a modernização reflexiva produz e am- lítica da medicina, saúde e doença, por mudanças
plia zonas de conhecimento, mas também de des- nas formas de viver e de morrer, pela formação
conhecimento. Desconhecimento decorrente das de uma arena complexa na qual os conhecimen-
incapacidades de conhecer, das inacessibilidades, tos biomédicos, serviços e tecnologias são cada vez
da seleção do conhecimento e da ocultação do mais intrincados, e por um novo e cada vez mais
próprio desconhecimento10. Há uma tensão per- acirrado foco na otimização e no aperfeiçoamento
manente entre a solidez científica e a liquefação individual por meios tecnocientíficos.
reflexiva. Neste contexto sob todos os aspectos a Esse biopoder penetra tanto os comporta-
saúde encontra-se ameaçada, inclusive por fontes mentos, as disposições do viver e a cultura, quan-
desconhecidas, o que cria e estimula uma cultura to a vida orgânica, intracelular e biomolecular.
de administração do risco. Paradoxalmente, num Na sua esteira desenvolve-se uma bioeconomia
contexto social que valoriza o desempenho do in- que financia pesquisa, cria biovalor e mercado
divíduo, lidar com o risco torna-se uma questão de produtos e tecnologias de controle e produ-
sempre atualizada, como nos esportes radicais e ção de tecidos, células, genes, vírus, seres híbridos
outras práticas sociais que envolvem situações de de natureza e cultura16. A biotecnologia interfe-
risco11. Neste processo de fabricação de incerte- re profundamente na natureza da vida, tanto na
za, desconhecimento e risco há uma busca pelo dimensão molecular quanto na dimensão ecos-
controle que aprofunda a medicalização da so- sistêmica e social, rompendo as fronteiras epis-
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temológicas entre o mundo da natureza e o dos Categorias temáticas


homens. A incorporação de conhecimento cien-
tífico e tecnológico no cotidiano das sociedades Ao analisarmos os temas centrais abordados
condiciona a produção de seres híbridos (pro- nas 246 reportagens do JN sobre saúde, em 2012,
dutos agrícolas, culturas animais, formas de vida encontramos em 87% da amostra as seguintes
sinantrópicas, insetos, vírus, bactérias, vacinas, categorias temáticas (Tabela 2): Hospital (28%),
etc.) aparentemente naturais, mas cuja existência Ciência & Tecnologia (20%), Hábitos e Compor-
é coemergente ou produzida pela atividade hu- tamento (12%), Mercado de produtos e serviços
mana. A própria modernidade, dessa forma, põe (11%), Epidemiologia (10%) e Corporação Mé-
em cheque o que é natureza no contexto das so- dica (6%). Além de ser a categoria temática mais
ciedades contemporâneas17. A crise ambiental e a frequente, o Hospital está implicado secundaria-
ecológica não se distinguem da crise da socieda- mente em outras 13 reportagens sobre pesquisas
de. Não há natureza intocada, nada mais pode fi- e avanços tecnológicos e em 13 sobre regulação
car limitado exclusivamente ao mundo natural18. de mercado, planos de saúde e proteção ao con-
sumidor.

Material e procedimentos metodológicos


Resultados
Nesta investigação foram analisadas 246 inser-
ções sobre saúde apresentadas no Jornal Nacio- Controle de doenças
nal ao longo dos 12 meses de 2012, totalizando 7
horas e 15 minutos de vídeo disponibilizadas no No conjunto das matérias analisadas, Ciência
site http://g1.globo.com/jornal-nacional/videos & Tecnologia em Saúde é a categoria de conteú-
e acessadas através da palavra chave SAUDE (Ta- do mais frequente e que ocupa o jornal de forma
bela 1). Estas 246 inserções foram apresentadas mais extensa ao lado do tema do Hospital, outro
em 159 edições do Jornal, isto é, o tema saúde eixo ordenador daquilo que caracteriza o disposi-
aparece em metade de todas as edições ao longo tivo médico-centrado. Nas reportagens do Jornal
do ano de 2012, sendo que saúde foi a matéria de Nacional, a pesquisa científica é tida como meio
abertura de 9 edições. Ciência & Tecnologia em de desenvolvimento de instrumentos de inter-
Saúde é o tema central em 49 reportagens duran- venção biológica, física e farmacológica visando
te o ano, somando1 hora e 33 minutos de progra- o domínio, o poder ou o controle sobre as doen-
mação, o que representa 20% das inserções sobre ças e o corpo. Em 80% das reportagens a aproxi-
saúde e é a matéria de abertura de duas edições mação do objeto se dá pela doença ou deficiência
do Jornal. física ou sensorial. Mesmo as reportagens sobre
pesquisas que não anunciam nenhum produto
consumível fazem referência a doenças e produ-
tos, como em 10/10/2012 a premiação do Nobel
de Química sobre receptores de membrana celu-
lar: Metade de todos os remédios faz efeito através
Tabela 1. Número de edições, de inserções e a duração dos receptores ligados a proteína-G, a compreen-
por mês. são do funcionamento desses receptores vai ajudar
Mês Edições Matérias Duração muito na produção de medicamentos mais efi-
Janeiro 16 32 50m 11s cazes e com menos efeitos colaterais para doen-
Fevereiro 11 16 25m 46s ças como diabetes, câncer e depressão. Ao tratar
Março 13 22 36m 56s a doença como natureza, e coloca-la no centro
Abril 17 26 52m do trabalho e do conhecimento, naturaliza-se a
Maio 16 23 37m 05s concepção de saúde como negação da doença19.
Junho 11 22 33m 29s Entre as doenças mais abordadas, 23% das
Julho 11 22 35m 37s matérias são sobre neurociências, com destaque
Agosto 14 20 36m 49s para o Alzheimer, 19% trazem inovações para o
Setembro 9 13 25m 33s tratamento de neoplasias e 30% estão distribu-
Outubro 15 19 32m 36s ídas entre as seguintes doenças: cardíacas (8%),
Novembro 7 8 20m 13s infecciosas (8%) com destaque para o HIV, do
Dezembro 19 23 49m 28s sistema endócrino (6%), do tecido ósseo (6%) e
Total 159 246 7h 15m 43s respiratórias (2%). As doenças neurológicas são
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Tabela 2. Peso das categorias por número de inserções e por duração.
Categoria Matérias % Duração %
Hospital 68 27,6 107m36s 24,7
Ciência e Tecnologia 49 20,0 93m2s 21,3
Comportamento 31 12,5 63m59s 14,7
Mercado 28 11,2 49m52s 11,3
Epidemiologia 24 9,7 34m31s 7,9
Corporação Médica 14 5,7 32m30s 7,5
Internacional 16 6,5 23m26s 5,4
Policia 9 3,6 13m5s 3,0
Sociedade 5 2,4 14m55s 3,5
Orçamento Saúde 2 0,8 1m9s 0,3
Total 246 7h15m43s

o tema de maior frequência e reúnem um quarto transferência de embrião, produção de stent, chip
da amostra o que demonstra o enorme interesse solúvel, enxerto ósseo vítreo, equipamentos para
pelo cérebro, em busca de explicações e soluções deficiência visual, neurocirurgias, ultrassom fo-
neuronais e biomoleculares para o funcionamen- calizado de alta intensidade, estimulação magné-
to ou disfunções da memória, sentidos, fala, mo- tica transcraniana, estimulação cerebral profun-
bilidade e fenômenos mentais. da e robótica cirúrgica. Ou seja: 82% dos con-
4 de Junho teúdos veiculados se concentram em produtos e
24 usuários da droga (cocaína) foram sub- procedimentos cujos testes apresentam resulta-
metidos no Instituto de Psiquiatria da USP a essa dos exitosos ou apontam esperanças promissoras
estimulação magnética transcraniana [...] uma de concepção de novos remédios e técnicas que
técnica reconhecida pelo Conselho Federal de Me- estão a caminho de serem disponibilizados no
dicina para o tratamento da depressão. mercado.
As pesquisas ou inovações tecnológicas em É como se essas “descobertas” não estivessem
torno do câncer constituem a segunda maior fre- determinadas pelo objeto de investigação, pela
quência entre as matérias científicas veiculadas metodologia utilizada, pelos interesses e buscas
pelo Jornal Nacional, reportando novas técnicas de determinados resultados e pelos critérios de
quimioterápicas, nanomedicamentos, proteínas validação. O que se observa é o mito da “desco-
e genes inoculáveis para diversos tipos de câncer berta”, quando o navegante já tem missão e rota
entre os quais metástase óssea, câncer de ovário, determinadas antes da partida. Muitos são fár-
de mama, pâncreas, pele e leucemia. Além dos macos já fabricados para outros fins, ou ainda
fármacos essas matérias também reportam no- sem uso clínico, que se descobre ter um efeito
vos procedimentos cirúrgicos por ultrassom ou desejado para uma determinada doença.
robotizados. 9 de Fevereiro
Cientistas americanos anunciaram hoje um
Produtos farmacêuticos e hospitalares avanço no combate ao Mal de Alzeheimer e a
pesquisa usou um remédio que já existe [...] Os
Ao analisar as reportagens que tratam dessas pesquisadores descobriram que o Dexarotene es-
pesquisas salta aos olhos a repetição de alguns timula a produção de uma outra proteína a Apo
aspectos. 43% das matérias sobre pesquisas em -E que no estudo foi capaz de dissolver as placas
ciência e tecnologia em saúde se referem à pro- que levam aos sintomas da doença.
dução de medicamentos, incluindo aí nano- A busca pela atualização e uso daquilo que é
medicamentos, enzimas, neuroquímicos, genes produto de conhecimento mais recente torna ul-
sintéticos, DNA artificial, anticorpos, vacinas, trapassados os outros mais antigos. Esse círculo
anticoncepcional, hormônios e testes diagnósti- reforça a necessidade de novas “descobertas”. Essa
cos. 39% são reportagens sobre procedimentos, demanda por incessante conhecimento recente
técnicas, produtos e equipamentos como a pro- aparece na alta frequência de reportagens cientí-
dução e aplicações de célula-tronco, seleção e ficas apresentada no Jornal Nacional.
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Corporeidade virtual talares cujos pacientes relatam sua experiência


pessoal. Ver na tela uma pessoa que relata sua ex-
Através da tela da TV adentramos a criação periência coloca a doença como questão científi-
minuciosa de um universo fantástico que passa a ca no plano da vida cotidiana, o que permite um
se tornar visível, auxiliada pela ilustração gráfica pathos aproximativo que facilita identificações
animada de órgãos, nervos, células, moléculas e emocionais e o interesse pela explicação médica.
partículas. A imagem futurista dos equipamen- O drama pessoal cria um ambiente que poten-
tos e das salas de intervenção ilustra esse univer- cializa o valor do procedimento tecnológico que
so desenhado por invenções tecnológicas proces- é o foco da reportagem. O depoimento indica as
sadas em laboratórios que são lugares especiais necessidades de saúde destas pessoas, que, via
aparte do mundo cotidiano. de regra estão reduzidas ao diagnóstico de uma
Qual o sentido de uma emissora de TV apre- patologia. Essas necessidades são atendidas por
sentar um turbilhão de imagens de equipamen- procedimentos cuja construção tecnocientífica é
tos, instrumentos, telas de monitores que exibem explicada na reportagem através de uma lingua-
variadas formas e imagens eletrônicas do interior gem específica. Um determinado vocabulário é
do corpo? A reportagem não está preocupada em ensinado num cuidadoso trabalho educativo do
explicar o que são estes instrumentos. Tal am- telespectador. O “sistema perito”9 ganha códi-
bientação confere uma legitimidade extraordi- gos - enunciados, imagens e nomes - pelos quais
nária ao conhecimento aí produzido. Um conhe- aquele conhecimento específico pode se estender
cimento gestado num ambiente extra-humano, para a vida cotidiana. Vemos como o processo de
testado em formas de vida modificadas artificial- fabricação das “descobertas” produz simultanea-
mente, linhagens de camundongos com defici- mente fenômenos dependentes daquela forma de
ências, como diabetes ou melanoma, e culturas conhecimento criando um repertório conceitual
de células seletas. Tardiamente os procedimentos que ganha concretude nos corpos, moléculas, cé-
são introduzidos no ser humano, num proces- lulas, tecidos e órgãos. Por fim aquela necessida-
so de aproximação àquele universo fantástico de inicial é transformada numa outra que inclui
construído alhures. Outra face da virtualidade um novo conhecimento envolto pela esperança
corporal construída neste ambiente científico, as de que esses novos procedimentos e drogas sejam
imagens eletrônicas do interior do corpo quan- disponibilizados para a sociedade.
do expostas para uma audiência massiva na TV
produzem certa visibilidade que virtualiza a cor- O corpo como construto
poreidade e a destitui da subjetividade enquanto
corpo vivido. Segundo Ortega20: O virtual apa- No que toca este tema, a primeira questão
rece como a ampliação do real e a materialidade que se observa é a ultra-fragmentação do corpo.
do corpo-imagem nos é apresentada como a ma- A alta resolutividade dos procedimentos é alcan-
terialidade do corpo físico. É um corpo construído, çada pela extrema particularidade da interven-
despojado de sua dimensão subjetiva e descarnado. ção. Acessa-se um corpo composto de partículas
e quanto maior a acuidade da instrumentação
Produção de conceitos e necessidades bioquímica, biofísica, ou mecânica, maior o su-
cesso da intervenção.
Ao observarmos essas reportagens percebe- 31 de Março
mos o quanto aquilo que se denominou “moder- A nova tecnologia pode ser usada para tumores
nização reflexiva” se capilariza em níveis menos no abdome, na próstata, no câncer ginecológico, na
racionais, condensa desejo e mobiliza ações guia- cabeça e no pescoço. [...] nas cirurgias feitas por
das por ideias fabricadas naquele mundo fantás- esse robô não há cortes: os três braços mecâni-
tico da ciência biomédica. No contexto destas cos chegam ao tumor que vai ser retirado por
reportagens científicas as necessidades em saúde via oral.
nos parecem ser dadas pela natureza “natural” do As reportagens anunciam uma busca de pre-
corpo. Porém, ao nos determos na construção da cisão cada vez maior, através de estratégias de
matéria jornalística, observamos um processo de engenharia de reconstrução de tecidos por cé-
fabricação simbólica de conceitos e necessidades. lulas-tronco, seleção de embriões, transporte de
Os cenários dominantes das matérias são o drogas encapsuladas em vírus, manipulação de
Laboratório e o Hospital: 47% reportam pes- anticorpos e receptores de membrana, criação
quisas realizadas em laboratórios, in vitro ou de DNA, genes artificiais e nanomedicamentos,
animais, e 29% reportam procedimentos hospi- reconstituição de fibras nervosas por células ex-
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traídas de outros tecidos e descargas elétricas, humana em várias dimensões. Aqui os processos
implantação de chips e muitos outros meios de da vida podem ser revertidos, reconstruidos e
sondagem e manipulação, que atestam um co- modificados no laboratório. Neste terreno a vida
nhecimento e um domínio incomensurável dos natural não mais serve de norma para julgar de-
processos biofisicoquímicos em micro partes do cisões e enunciar conceitos sobre saúde21.
corpo. Ou seja, um conhecimento especializado
e preciso com o qual é possível corrigir falhas de
um corpo que naturalmente apresenta variadas Conclusões
anomalias.
Agregando-se a esse construto de ultrafrag- Os resultados apontam que as matérias sobre
mentação do corpo, as reportagens o tratam, ain- pesquisas científicas e inovações tecnológicas em
da, como um corpo cuja vida pode ser capturada. saúde se superpõem com as matérias sobre assis-
A vida presente nas células-tronco, nos genes, nos tência hospitalar e mercado de produtos e servi-
embriões, e em partes do corpo como cordões ços, somando 59% da programação de saúde do
umbilicais, na polpa dos dentes de leite, na me- JN, e constituem sentidos de produção e acesso
dula óssea, pode ser retirada do corpo, transferi- aos bens de saúde. De um lado 80% das matérias
da para outro corpo ou outras partes do corpo, sobre Ciência e Tecnologia tratam de doenças e
podendo ser estocadas para uso em outro tempo deficiências biológicas, 39% delas focadas em
e em outro espaço. O corpo fragmentado adquire procedimentos hospitalares, o que caracteriza o
cada vez maior plasticidade através de sofistica- dispositivo medico-centrado e ordena o modo
dos processos biofisicoquímicos. Observa-se, em de produção de saúde. Por outro lado, 82% das
consequência, uma série de ações e manipulações matérias sobre pesquisas científicas almejam a
em que a própria vida vai sendo objetivada e rei- disponibilização de novos medicamentos e proce-
ficada. dimentos para consumo no mercado. Nestas ma-
14 de Fevereiro térias a saúde enquanto área de negócios é com-
O bebê foi gerado com a ajuda de um proce- ponente do mesmo dispositivo que fundamenta
dimento inédito no Brasil e que selecionou em- as ciências médicas, o que dialoga com o conceito
briões com base em análise de DNA, e as células de bioeconomia proposto por Nikolas Rose22.
do cordão umbilical da criança vão ser usadas A abordagem do corpo nestas matérias é
num futuro transplante Células retiradas de 10 caracterizada por dois fatores: as tecnologias
embriões foram analisadas. Dois eram compatíveis de imageamento e a molecularização da inter-
e um acabou vingando. venção. A visualização de funções e processos
Em 30% das matérias outros temas abran- biomoleculares por técnicas de imageamento
gentes são abordados, e podem ser agrupados em computadorizadas, somada às possibilidades de
3 áreas: intervenção proporcionadas por técnicas bio-
a) Reportagens que tratam do microbio- tecnológicas, modificam radicalmente as noções
ma humano, comunicação intercelular e recep- do corpo e da própria biologia. Por um lado, tais
tores celulares. processos conduzem a uma progressiva objeti-
b) Reprodução humana reúne matérias ficação, fragmentação e virtualização do corpo,
sobre reprodução assistida, fertilização e em- por outro, o espaço biológico torna-se cada vez
briologia. Essa área tem intersecção com o grupo mais aberto à manipulação e alteração, deixa de
que trata de objetos ligados às células-tronco e a ser um dado de uma natureza constitutiva e pas-
geração de embriões selecionados geneticamente sa a ser passível de engenharia e construção. Tais
para fornecerem material biológico. mudanças têm convocado debates bioéticos que
c) Engenharia biomédica e medicina ge- buscam regular os limites de intervenção sobre os
nômica compreende 16% da programação sobre processos da vida.
Ciência e Tecnologia, trata de objetos ligados ao
genoma humano, seleção genética, produção de Considerações sobre avanços
genes isolados, DNA artificial, renovação de fi- tecnobiocientíficos, natureza e cultura
bras cardíacas, células-tronco, reconstituição e
substituição de tecidos. Essa discussão desnuda o envoltório que
Essas matérias são de particular interesse na naturaliza a biomedicina e, por conseguinte, a
medida em que dão visibilidade a uma fronteira saúde. A radicalidade da apropriação da vida ao
em que se encontram as biociências e o biopoder nível molecular desestabiliza as distinções entre
na atualidade, com implicações sobre a existência natural e social, humano e não humano e põe em
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questão as dicotomias que fundam a episteme da reivindica uma concepção da realidade que seja
racionalidade científica moderna23. Aquela Natu- ao mesmo tempo natural e sociocultural [...] como
reza instaurada num mundo objetivo e distante, construção de nova episteme que consiga integrar
que para ser conhecido depende de mediações ciências naturais e humanas. Sob novas bases, reto-
metodológicas da razão científica tende a desna- ma-se o espírito sintético e compreensivo da physis.
turalizar-se. Latour24 compara essa episteme das Viveiros de Castro28 encontra na cosmologia
ciências modernas à cisão da caverna de Platão: ameríndia terreno para uma rigorosa crítica et-
o interior obscuro, subjetivo, instável, onde os nológica que desloca e redistribui
homens vivem aprisionados tomando sombras as duas séries paradigmáticas que tradicional-
por realidade, e o exterior luminoso, objetivo e mente se opõem sob os rótulos de Natureza e Cultu-
determinado por leis naturais às quais os homens ra: universal e particular, objetivo e subjetivo, físico
só podem alcançar através da ciência. Segundo o e moral, fato e valor, dado e instituído, necessida-
autor essa objetividade do mundo natural entra de e espontaneidade, imanência e transcendência,
em crise à medida que a humanidade cria inces- corpo e espírito, animalidade e humanidade, e ou-
santemente natureza na qual se inscreve, repro- tros tantos.
duz e recria. No “perspectivismo ameríndio”, ao contrá-
As verdades naturais formuladas pela cienti- rio do monismo naturalista ocidental, a base do
ficidade moderna tornam-se problema e as leis mundo é a própria subjetividade: um fundo ge-
de uma natureza exterior, una e fixa podem ser nérico de “humanidade” dispersa por todo o real.
compreendidas como construtos filiados a certa Uma subjetividade imanente a todas as coisas da
historicidade. Minayo25 problematiza esse movi- qual tudo é constituído, humanos e não huma-
mento reflexivo que inclui a noção de complexi- nos, ao contrário da nossa concepção que preco-
dade, a pluralidade dos sujeitos e das racionali- niza uma origem animal, ou natural, a partir da
dades, temporalidades e causalidades múltiplas e qual a humanização é um evento tardio de con-
simultâneas, a crise das certezas e das regularida- quista sobre a natureza. Daí a alteridade da cultu-
des, tendo em vista uma intransparência da lin- ra, como a alma moderna que separa os humanos
guagem e uma natureza parcial e inacabada dos do resto dos entes. No pensamento ameríndio os
processos reflexivos em busca da verdade. entes se distinguem por possuírem naturezas dis-
As mudanças sociais ocorridas dos últimos 50 tintas, corpos distintos. Ao contrário do relativis-
anos levaram a maioria dos campos científicos a mo multicultural ocidental, que
se questionar sobre sua racionalidade unívoca, o supõe uma diversidade de representações sub-
que se expressa na proliferação de uma semântica jetivas e parciais, incidentes sobre uma natureza
superlativa incorporada ao dicionário dos profis- externa, una e total, indiferente à representação; os
sionais e investigadores: integralidade, interdis- ameríndios propõem o oposto: uma unidade repre-
ciplinaridade, interface, multidisciplinaridade, sentativa ou fenomenológica puramente pronomi-
interprofissionalidade, multiprofissionalidade, nal, aplicada indiferentemente sobre uma radical
transdisciplinaridade, interrelações, interinstitu- diversidade objetiva. Uma só ‘cultura’, múltiplas
cionalidade e muitos outros. Esse movimento da ‘naturezas’; epistemologia constante, ontologia va-
linguagem sugere uma inquietação e busca de aná- riável – o perspectivismo é um multinaturalismo.
lises e atuações mais abrangentes e interconectadas A partir de outra perspectiva, Rabinow29 pro-
e reflete a impropriedade das propostas unidirecio- blematiza a noção de artificialidade em oposição
nais e unívocas. à natureza, que permeia a discussão sobre biotec-
Nesse campo de tensões, sujeito e subjetivi- nologia. Ao contrário do monismo naturalista, vê
dade são trazidos para o centro da cena. Ao tocar uma maleabilidade natural que se abre para uma
nestas tensões na área da saúde Castiel26 se per- infinidade de diferenças potenciais. Estas dife-
gunta que subjetividades estão sendo produzidas renças não estão prefiguradas por causas finais, não
no contexto da incorporação tecnológica: há uma perfeição latente buscando a homeostase.
Ou seja, como os avanços tecnobiocientíficos Se a palavra ‘natureza’ deve reter algum sentido,
(como as imagens das tomografias de emissão de ela deve significar uma polifenomenalidade explí-
‘pósitrons’ ou de ‘fótons únicos’ sobre nossos cére- cita de apresentação.
bros) participam da produção/alteração de nossa Como vemos as produções biotecnológicas
categoria de pessoa e de ‘natureza humana’ e, tam- da atualidade lançam a reflexão sobre a produção
bém, dos sentidos do que seria normal e patológico. social do processo saúde-doença muito adiante
Na busca de uma concepção de natureza que da clássica formulação dos determinantes sociais,
não se dissocie da construção humana, Czeresnia27 restritos à crítica puramente social, que sustenta
1341

Ciência & Saúde Coletiva, 23(4):1333-1342, 2018


a dicotomia das séries paradigmáticas natureza e O êxito da modernidade produz contradições
cultura. Com efeito, o pensamento sanitário tem que conduzem à sua própria crise, disparando
deixado intocado o suposto naturalismo das ci- processos que ela mesma não pode conter. As es-
ências biomédicas. O corpo biológico universal, tratégias de controle sobre a vida, cada vez mais
fundamento do dispositivo médico-centrado, moleculares, genômicas - mercadorias da era
segue referendado como o regime hegemônico biotecnológica - põem em evidência o biopoder,
que orienta as práticas, as clínicas, os modelos a racionalidade biomédica e a produção social do
tecnoassistenciais, as organizações, as políticas corpo biológico o que abala a “pureza” objetiva
públicas, os sistemas e o mercado de produtos e do mundo natural e os modelos de confinamento
serviços de saúde30,31. da subjetividade.

Colaboradores

E Caron e F Lefevre participaram da pesquisa,


metodologia, concepção, redação e aprovação do
texto final. AMZ Ianni participou da concepção,
redação e aprovação do texto final.
1342
Caron E et al.

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