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Animais diblásticos e animais triblásticos

De acordo com as hipóteses mais aceitas atualmente, duas linhagens de


animais teriam se diversificado a partir dos primeiros ancestrais multicelulares:
em uma delas as células eram pouco especializadas e não estavam organizadas
em tecidos verdadeiros; na outra, as células já apresentavam um grau maior de
especialização, formando tecidos, conjuntos de células especializadas para uma
função determinada. A primeira linhagem teria originado as esponjas (poríferos)
atuais que não apresentam tecidos bem diferenciados; a segunda linhagem teria
sido ancestral de todos os outros grupos animais.
A linhagem animal que formava tecidos bem diferenciados teria originado
duas novas linhagens, uma das quais teria dado origem aos cnidários atuais, ani‑
mais que apresentam apenas dois folhetos germinativos no embrião (ectoderma e
endoderma), sendo por isso denominados diblásticos. Os cnidários são os únicos
animais diblásticos atuais.
A outra linhagem teria originado animais dotados de três folhetos germi‑
nativos (ectoderma, mesoderma e endoderma), sendo, por isso, denominados
triblásticos. Todos os animais atuais são triblásticos, com exceção dos poríferos,
que não apresentam tecidos corporais verdadeiros, e dos cnidários, que apresen‑ Veja comentários sobre essa atividade no
tam apenas dois folhetos germinativos. Suplemento do Professor.
Dialogando com o texto
Simetria
Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

Nesta atividade exercitaremos


Um critério utilizado pelos zoólogos na classificação dos animais é o tipo de algumas noções de simetria. Es‑
simetria corporal. Simetria refere‑se à possibilidade de dividir, real ou imaginaria‑ colha uma laranja com o formato
mente, um objeto em duas metades equivalentes, ou simétricas. Se nenhum plano o mais regular possível. Quantos
de simetria é capaz de dividir um objeto em metades simétricas, ele é assimétrico. planos de corte você consegue fa‑
A simetria está presente em muitos seres vivos e em quase todos os grupos de zer dividindo a laranja em metades
animais. Dos nove filos animais estudados neste livro, apenas os cnidários e algumas simétricas? Que tipo de simetria a
espécies de esponja apresentam simetria radial, em que diversos planos que passam laranja apresenta? A partir dessa
pelo eixo longitudinal de seu corpo dividem o animal em metades semelhantes. As experiência, escolha um ou mais
organismos de seu interesse e
espécies dos demais filos têm simetria bilateral, com um único plano de simetria
procure desenhá‑los esquematica‑
possível, que divide o corpo nas metades esquerda e direita. Há apenas uma exceção: mente em seu caderno, divididos
o filo dos equinodermos (estrelas‑do‑mar e ouriços‑do‑mar), cujos representantes têm por planos de simetria. Que tipo de
simetria bilateral na fase larval e simetria radial na fase adulta. A simetria radial desses simetria eles apresentam? Explique
animais é considerada pelos biólogos uma adaptação ao modo de vida séssil ou com em poucas palavras.
pequena movimentação, não refletindo diretamente o parentesco evolutivo (Fig. 4).

A B Figura 4 (A) Desenho de uma anêmona‑do‑


‑mar, que apresenta simetria radial; há diversos
planos de simetria (no eixo longitudinal) que
ILUSTRAÇÕES: SELMA CAPARROZ

dividem o animal em metades simétricas.


(B) Desenho de um caranguejo, que apresenta
simetria bilateral; há apenas um plano que
divide o corpo nas metades esquerda e direita.
(Representação fora de proporção; cores
meramente ilustrativas.)
Fonte: adaptada de REECE, J. B. et al. Biologia de
Campbell. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

Animais protostômios e animais deuterostômios


Esponjas são animais filtradores, especializados em capturar partículas de
alimento da água em que vivem por meio de células flageladas denominadas coanó‑
citos. Esses animais não apresentam tecidos corporais, tampouco sistema digestivo.
Os cnidários, como já mencionamos, apresentam dois folhetos germinativos
(são diblásticos). Acredita‑se que esses animais apresentem o primeiro tipo de
sistema digestivo a surgir na escala evolutiva zoológica. Esse sistema conta com
apenas uma abertura, a boca, por onde o alimento entra e por onde saem os
resíduos da digestão. Fala‑se, nesse caso, em sistema digestivo de fluxo bidi-
recional, antigamente denominado sistema digestivo incompleto.

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Uma aquisição evolutiva importante dos animais foi o sistema digestivo de fluxo unidirecional
(anteriormente chamado de sistema digestivo completo), o qual é dotado de duas aberturas: a boca, por
onde o alimento entra, e o ânus, por onde são eliminados os restos da digestão. No embrião dos animais,
na fase em que é esboçado o sistema digestivo (fase de gástrula), há apenas uma abertura de comunicação
entre a futura cavidade digestiva e o meio externo: o blastóporo. A passagem evolutiva para o sistema
digestivo com fluxo unidirecional ocorreu com o aparecimento de uma segunda abertura no arquêntero.
Curiosamente, uma linha divisória entre duas linhagens ancestrais dos animais refere‑se ao destino
do blastóporo: em uma das linhagens, o blastóporo origina a boca, sendo o ânus uma neoformação, ou
seja, a segunda abertura a surgir. Na outra linhagem, o blastóporo origina o ânus e a boca surge depois,
como uma neoformação. Animais em que o blastóporo origina a boca são denominados protostômios
(do grego protos, primeiro, e stoma, boca), enquanto aqueles em que o blastóporo origina o ânus são
chamados de deuterostômios (do grego deuteros, segundo). Dos filos de animais que estudaremos neste
livro são protostômios os: nematódeos, os moluscos, os anelídeos e os artrópodes. São deuterostômios:
os equinodermos e os cordados, grupo ao qual pertencemos.

Cavidades corporais e metameria


Em muitos grupos animais, o corpo apresenta espaços internos, geralmente preenchidos por líquido
ou por tecidos celulares frouxos, que desempenham funções como absorção de choques mecânicos,
distribuição de substâncias, apoio à ação dos músculos, entre várias outras. Na maioria dos animais, essa
cavidade corporal é revestida completamente por um tecido de origem mesodérmica, sendo denominada
celoma (do grego kóilos, cavidade).

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
Animais com celoma – moluscos, anelídeos, artrópodes, equinodermos e cordados – são chamados de
celomados. Apenas nos nematódeos a cavidade corporal é revestida em parte por mesoderma e em parte
por endoderma, sendo denominada pseudoceloma (do grego pseudos, falso). Por isso os nematódeos são
considerados animais pseudocelomados. Os platelmintos são os únicos animais triblásticos estudados
neste livro que não apresentam cavidade corporal; eles são chamados acelomados (Fig. 5).

Mesoderma Endoderma
(mesênquima)
ILUSTRAÇÕES: SELMA CAPARROZ

Cavidade
digestiva
Cavidade
Mesoderma digestiva
Ectoderma Endoderma Celomado Celoma
Ectoderma
Acelomado Endoderma
Figura 5 Representações esquemáticas de cortes transversais
Mesoderma
dos três tipos corporais básicos de animais triblásticos:
acelomados, pseudocelomados e celomados. (Representação
Cavidade fora de proporção; cores meramente ilustrativas.)
digestiva Fonte: adaptada de REECE, J. B. et al. Biologia de Campbell. 10. ed.
Pseudocelomado Pseudoceloma
Ectoderma Porto Alegre: Artmed, 2015.

Uma estratégia evolutiva considerada importante na adaptação animal é a LARVA


segmentação corporal, ou metameria, que consiste em apresentar, ao menos
na fase embrionária, o corpo organizado em segmentos transversais iguais ou
semelhantes, os metâmeros. Acredita‑se que uma das principais vantagens da ADULTO
metameria seja conferir ao animal maior versatilidade em sua movimentação
corporal. Estudos recentes sugerem que a metameria pode ter surgido de forma
independente nas linhagens ancestrais dos três grupos de animais que exibem
segmentação corporal: anelídeos, artrópodes e cordados. A presença ou não de
metameria não refletiria, nesses casos, relações de parentesco evolutivo entre
esses grupos, uma vez que seriam adaptações voltadas ao desempenho de fun‑
ção semelhante, o que os biólogos denominam convergência evolutiva (Fig. 6). Cabeça Tórax Abdome

Figura 6 Representações esquemáticas do corpo de uma larva e de um inseto adulto; as cores indicam a
correspondência entre os metâmeros desses dois estágios do ciclo de vida. Nos insetos, alguns metâmeros
da larva se fundem para formar as diversas partes do corpo do animal adulto. (Representação fora de
proporção; cores meramente ilustrativas.)
Fonte: adaptada de REECE, J. B. et al. Biologia de Campbell. 10. ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.

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