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POUGH, J. H.; JANIS, C. M.; HEISER, J. B.

A
vida dos vertebrados. 4ª ed. São Paulo:
Atheneu, 2008, 750p

CAPÍTULO

2 Parentesco e Estrutura
Básica dos Vertebrados

Neste capítulo, explicamos as estruturas características dos vertebrados, discutimos o parentesco desses orga-
nismos com outros membros do reino animal e descrevemos os sistemas que fazem com que os vertebrados
sejam animais funcionais. Precisamos de uma compreensão dos fundamentos do padrão dos vertebrados para
entender as modificações que ocorreram durante a evolução do grupo e para investigar as homologias entre
vertebrados primitivos e derivados.

rante a alimentação por filtração. O endóstilo está presente


2.1 Vertebrados em Relação a Outros
em adultos de tunicados e cefalocordados, e nas larvas das
Animais lampreias. Ele é homólogo da tireóide dos vertebrados, uma
Os vertebrados constituem um grupo de animais diversifi- glândula endócrina da região da garganta, envolvida com a
cados e fascinantes. Pelo fato de nós mesmos sermos ver- regulação do metabolismo (embora a tireóide dos vertebra-
tebrados, esta afirmação pode parecer chauvinista, mas os dos também pareça incorporar estruturas adicionais da fa-
vertebrados são notáveis quando comparados com a maio- ringe dos cordatos; Mazet 2002). Dentro dos cordados, os
ria dos outros gmpos animais. Eles estão classificados no tunicados parecem ser mais primitivos do que os cefalocor-
subfilo Vertebrata do filo Chordata. Foram nomeados dados e os vertebrados, que estão ligados entre si por diver-
cerca de 30 outros filos, porém somente o filo dos Arthro- sos caracteres derivados.
poda (insetos, crustáceos, aranhas etc.) rivaliza com os ver- Embora os cordados sejam todos basicamente animais
tebrados quanto à diversidade de formas e habitats. Além de simetria bilateral, eles também compartilham um tipo
disso, somente no filo Mollusca (caramujos, bivalves, lulas) adicional de assimetria da esquerda para a direita dentro do
encontramos animais (como polvos e lulas) que se aproxi- corpo que é determinado pelo mesmo mecanismo genético
mam do tamanho muito grande de alguns vertebrados e que (Boorman e Shimeld 2002). Este tipo de assimetria da es-
têm capacidade para uma aprendizagem complexa. querda para a direita aparece no próprio ser humano: por
Os tunicados (subfilo Urochordata) e cefalocordados exemplo, na posição do coração do lado esquerdo e, princi-
(subfilo Cephalochordata) são classificados junto com os palmente, do fígado do lado esquerdo. Raros indivíduos têm
vertebrados no filo Chordata. Os caracteres derivados com- uma condição chamada "situs inversus", onde os maiores
partilhados dos cordados, que ocorrem em todos os mem- órgãos do corpo estão invertidos.
bros do filo, em alguma fase de sua vida, incluem uma O parentesco dos cordados com outros tipos de animais é
notocorda (um bastonete endurecido que dá o nome ao filo revelado por caracteres anatômicos, bioquímicos e embrio-
Chordata), um tubo nervoso dorsal oco, uma cauda muscu- lógicos, bem como pelo registro fóssil. A Figura 2-1 mostra
lar pós-anal segmentada (que se estende além da região do o parentesco entre os filos animais. Os vertebrados asseme-
intestino), e um endóstilo. O endóstilo é um sulco ciliado, lham-se, de modo superficial, a outros animais ativos, tais
glandular, no assoalho da faringe (a região da garganta), como insetos, por possuírem uma extremidade cefálica dis-
que secreta muco para aprisionar partículas alimentares du- tinta, patas articuladas e simetria bilateral (isto é, um lado é

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Vertebrados em Relação a Outros Animais 17

I Mollusca

Celoma (cavidade do corpo


commesoderme)
Ectoderma
Mesoderma H
Três camadas de células Endoderma H
órgãos
simetria bilateral As setas indicam a direção
da passagem de alimento/do
adultos movimentam-se
fluxo de água.
Camadas de células e tecidos
sistema nervoso com neurônios

Colágeno, heterotrofia, forma inicial do embrião em


esfera oca de células (blástula)
A Figura 2-1 Uma filogenia simplificada do reino animal. Atualmente, existe um total de cerca de 30 filos (Chordata, Echinodermata,
Annelida etc., todos representando filos). Conhecem-se aproximadamente 15 filos adicionais do início do Paleozóico, que se extinguiram
no final do Período Cambriano.

a imagem especular do outro). Surpreendentemente talvez, pentarradial das formas modernas possa ser um caráter de-
o filo Chordata está intimamente aparentado ao filo Echi- rivado daquela linhagem (veja Gee, 1996). Assim, o grupo
nodermata (estrelas-do-mar, ouriços-do-mar) que contém irmão dos vertebrados pode estar entre equinodermos livre-
formas marinhas sem cabeça distinta e com simetria pentar- natantes extintos, e os hemicordados podem também estar
radial (quíntupla e circular) nos adultos. relacionados aos equinodermos, ou aos mais primitivos dos
O parentesco exato entre cordados, equinodermos e he- deuterostômios.
micordados (um pequeno filo de animais marinhos pouco Para considerar como os deuterostômios estão aparenta-
conhecidos, contendo os balanoglossos e os pterobrânquios) dos com outros animais, faremos uma abordagem diferente,
não está completamente compreendido. Os três grupos são iniciando na base da árvore e trabalhando em direção às
ligados, como deuterostômios (Grego deutero = segundo e extremidades dos seus ramos. Todos os animais (metazoá-
stoma = boca), por diversos aspectos embrionários peculia- rios) são pluricelulares e compartilham aspectos embrioná-
res, como a maneira pela qual seus ovos se dividem após rios e reprodutivos comuns. Inicialmente, o embrião forma
a fertilização (clivagem), a forma de suas larvas e alguns uma esfera oca de células (a blástula), as células sexuais
outros aspectos que serão discutidos mais adiante. Os he- formam-se em órgãos especiais e os espermatozóides são
micordados freqüentemente são considerados o grupo irmão móveis por possuírem uma cauda em forma de chicote.
dos cordados, porque esses dois grupos apresentam fendas Acima do nível das esponjas, todos os animais têm um
faríngeas que são aberturas na faringe (região da garganta), sistema nervoso e seu corpo é constituído por camadas dis-
originalmente usadas para filtrar partículas alimentares tintas de células, ou camadas germinativas, formadas cedo
da água. Os equinodermos modernos não possuem fendas no desenvolvimento, numa fase chamada gastrulação. A
faríngeas, mas certos animais extintos desse filo possivel- gastrulação ocorre quando a esfera oca de células da blástula
mente as possuíam. Além disso, os equinodermos primitivos se dobra sobre si mesma produzindo duas camadas distintas
podem ter tido simetria bilateral, significando que a simetria de células e um intestino interno com uma abertura para o
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exterior em uma de suas extremidades. A camada externa de aproximadamente 100, são sésseis como adultos, fixando-se
células é o ectoderma (Grego ecto = do lado de fora e der- ao substrato solitariamente ou na forma de colônias.
mis = pele) e a camada interna forma o endoderma (Grego A maioria dos tunicados adultos apresenta pouca similari-
endo = no interior). dade com os cefalocordados e vertebrados, exceto por terem
Medusas e animais aparentados apresentam estas duas ca- um endóstilo e uma faringe com fendas usadas para a ali-
madas de tecidos do corpo tornando-os diploblásticos (Grego mentação por filtração (Figura 2-2b). Entretanto, suas larvas
diplous = dois e blastos = broto). Animais acima do nível das semelhantes a girinos (Figura 2-2a) são mais parecidas com
medusas e de seus parentes acrescentam uma camada adi- formas que pertencem ao filo Chordata. As larvas dos tuni-
cional e mediana de células, o mesoderma (Grego mesos = cados possuem uma notocorda, um tubo nervoso dorsal oco e
meio) tornando-os triploblásticos (Grego triplos = três). Os uma cauda muscular pós-anal que movimenta o animal com
animais triploblásticos também têm um intestino que se abre um padrão semelhante ao dos peixes. A maioria das espécies
em ambas as extremidades (isto é, com uma boca e um ânus) apresenta um curto período de existência livre-natante (desde
e são bilateralmente simétricos, tendo uma extremidade ce- alguns minutos até poucos dias), após o qual se metamorfo-
fálica em alguma fase de sua vida. O mesoderma forma os seiam em adultos sésseis afixados ao substrato.
músculos do corpo e somente animais com mesoderma são Uma teoria popular e mantida durante muito tempo foi
capazes de locomover-se como adultos. a de que os cefalocordados e vertebrados teriam evoluído a
O celoma, uma cavidade interna do corpo que se forma partir de um ancestral semelhante a uma larva de tunicado.
como uma fenda no interior do mesoderma, é outro caráter No início do século vinte, Walter Garstang propôs um cená-
derivado da maioria, porém não de todos os animais triplo- rio evolutivo complicado, pelo qual formas larvais poderiam
blásticos. Animais celomados (isto é, animais com celoma) tornar-se sexualmente maduras, originando adultos móveis.
são divididos em dois grupos com base em como a boca e o No entanto, pesquisadores mais recentes sugeriram que os
ânus se formam. Quando a blástula sofre invaginação para tunicados com estágio adulto séssil são as formas derivadas
formar uma gástrula, ela deixa uma abertura para o exterior e que as poucas espécies de tunicados atuais que permane-
chamada blastopore (Latim porus = uma pequena aber- cem numa forma larval permanente são aquelas que se asse-
tura). Nas medusas, o blastopore é a única abertura para o melham ao cordado ancestral.
interior do corpo e ele serve como boca e como ânus. No
Cefalocordados O subfilo Cephalochordata contém cerca
entanto, durante o desenvolvimento embrionário dos celo-
de 22 espécies marinhas, todas pequenas, superficialmente se-
mados, surge uma segunda abertura. Na linhagem chamada
melhantes a peixes e geralmente com menos do que 5 cm de
protostômios (Grego protos = primeiro e stoma = boca) o
comprimento. O cefalocordado melhor conhecido é o Bran-
blastopore (que foi a primeira abertura no embrião) origina
a boca enquanto que nos deuterostômios (Grego deuteros = chiostoma lanceolatum, o anfioxo (Grego amphi = ambos e
segundo) o blastopore torna-se o ânus e a segunda abertura oxy = pontiagudo; anfioxo significa "pontiagudo em ambas
origina a boca. A maneira pela qual o celoma se forma du- as extremidades", um termo apropriado para um animal sem
rante o desenvolvimento também difere entre protostômios e cabeça distinta, sendo que tanto a extremidade cefálica como
deuterostômios. Moluscos (caramujos, bivalves, lulas), artró- a caudal parecem pontiagudas). Os anfioxos são amplamente
podes (insetos, caranguejos, aranhas) e anelídeos (minhocas) distribuídos nas águas oceânicas das plataformas continentais
e alguns outros filos são protostômios; os cordados, hemicor- e, quando adultos, são animais escavadores e sedentários. Em
dados e equinodermos são deuterostômios (Figura 2-1). algumas poucas espécies, os adultos retêm o comportamento
ativo e livre-natante das larvas.
Uma característica notável do anfioxo é sua locomoção
semelhante à de um peixe. Esta resulta de uma caracterís-
Os dois grupos existentes de cordados não-vertebrados são tica compartilhada com os vertebrados: miômeros - blocos
formados por animais marinhos pequenos. Podem ter exis- de fibras de musculares estriadas, arranjadas ao longo de
tido mais cordados não-vertebrados no passado, mas estes
ambos os lados do corpo e separadas por septos de tecido
animais de corpo mole raramente são preservados como
conectivo (larvas de tunicados têm músculos bandeados em
fósseis. Alguns cordados primitivos do início do Cambriano
suas caudas, mas não têm miômeros distintos em qualquer
são descritos no fim desta seção.
outro músculo na região do corpo). Contrações seqüenciais
Urocordados Os tunicados (subfilo Urochordata) atuais dos miômeros curvam o corpo de lado a lado de modo a im-
são animais marinhos que filtram partículas alimentares da pulsioná-lo para frente ou para trás. A notocorda ama como
água por meio de uma faringe perfurada semelhante a um um bastonete elástico e incompressível, estendendo-se por
cesto. Existem cerca de 2000 espécies viventes e todas, exceto todo o comprimento do corpo e impedindo que ele encurte
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Faringe

• Entrada de água

Saída de água do átrio


adulto bem desenvolvido

Faringe

Remanescente
da cauda

Remanescente
da notocorda
Anus Células reprodutivas

Sistema nervoso
reduzido

Estômago
Superfície adesiva

Tubo nervoso "Raios"conjuntivos


Miômeros
Faringe \ Ceco Notocorda da nadadeira
Intestino médio / Intestino
Órgão
da roda

Raios" conjuntivos
Endóstilo Parede Gônadas da nadadeira
Extremidade cranial
do átrio
da notocorda

' F i g u r a 2-2 Cordados não-vertebrados.


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quando os miômeros se contraem. A notocorda do anfioxo Mais recentemente alguns achados fósseis espetacu-
estende-se desde a extremidade rostral até o final da cauda, lares de animais de corpo mole foram feitos do início do
projetando-se bem além da região dos miômeros nas duas Cambriano do sul da China, a Fauna Chengiang, que tem
extremidades. A elongação cranial da notocorda aparente- 520 milhões de anos, uns 10 milhões mais jovens do que
mente é uma especialização que auxilia na escavação. Burgess Shale. Este depósito fóssil inclui o mais novo ver-
A Figura 2-2c mostra alguns detalhes da estrutura in- tebrado verdadeiro, descrito no Capítulo 3, e também al-
terna do anfioxo. Anfioxos e vertebrados diferem quanto guns intrigantes possíveis cordados primitivos (note que a
ao uso das fendas faríngeas. O anfioxo não possui tecido natureza achatada destes espécimes, como se tivessem sido
branquial associado a estas fendas; ele é suficientemente "atropelados", toma difícil interpretar sua estrutura). Um
pequeno para que a tomada de oxigênio e a liberação de tipo é denominado vetucoliano: suas características cor-
dióxido de carbono ocorram por difusão em toda a super- dadas incluem um aparente endóstilo, uma região faríngea
fície do corpo. Em vez disso, as fendas branquiais são usa- expandida com fendas branquiais, e uma região do corpo
das para a alimentação por filtração. A água é movida sobre possivelmente segmentada, mas parecem ter perdido a no-
as fendas branquiais, impulsionada por cílios situados nas tocorda (Figura 2-3b). Por causa disto foi proposto que eles
barras branquiais entre as fendas, auxiliados pelas estruturas são deuterostômios basais, cordados basais, ou mesmo tuni-
dos cirros bucais e do órgão da roda, enquanto o véu, duas cados basais (já que a maioria dos tunicados perdeu a noto-
expansões da parede lateral da faringe controla o fluxo de corda na forma adulta) (Lacalli 2002).
água numa única direção. Os yunnanozoanos são formas mais derivadas da fauna
Em adição à cavidade interna do corpo, ou celoma, vista de Chengiang. Estes animais têm características de corda-
em muitos animais, incluindo todos os cordados, o anfioxo dos, como miômeros, um endóstilo, uma notocorda e uma
também tem uma cavidade externa do corpo, chamada átrio, faringe aparentemente dentro de um átrio. Estudo de mais
que é ausente em outros vertebrados (este átrio não é o de 300 indivíduos dos yunnanozoanos Haikouella (veja a
mesmo que o átrio do coração dos vertebrados). O átrio é Figura 2-3c) por Jon Mallatt e Jun-yuan Chen (2003) reve-
formado por evaginações da parede do corpo (dobras meta- lou que este animal tem um número de características deri-
pleurais), que envolvem o corpo mais ou menos como uma vadas que o coloca como grupo irmão dos craniata. Estas
capa. O átrio abre-se para o exterior via atrióporo e parece características incluem um encéfalo grande, olhos clara-
controlar a passagem de substâncias pela faringe, em com- mente definidos, barras branquiais mais largas e um lábio
binação com o batimento ciliar das barras branquiais e do superior semelhante aqueles das larvas de lampreia. O en-
órgão da roda na cabeça. Um átrio também está presente dóstilo e os tentáculos ao redor da boca sugerem que este
nos tunicados, podendo ser um aspecto primitivo de todos animal se alimentava de material em suspensão, assim como
os cordados e que é perdido nos vertebrados. o anfioxo. Entretanto, Haikouella já parece ter desenvolvido
Cefalocordados apresentam diversos caracteres deriva- uma faringe muscular semelhante ao dos craniata, como
dos que estão ausentes nos tunicados. Além dos miômeros, o destacado pelas barras branquiais engrossadas que aparente-
anfioxo possui um sistema circulatório similar ao dos verte- mente suportam o tecido branquial e músculos faringeanos.
brados, com uma aorta dorsal e um coração ventral bombea- As barras branquiais indicam que o tecido da crista neural
dor, estrutura semelhante a um coração que força o sangue (o tipo especializado de tecido embrionário característico
através das brânquias. Adicionalmente, embora o anfioxo dos vertebrados) já tinha evoluído, embora um crânio ainda
não tenha um rim distinto, compartilha com os vertebrados não estivesse presente.
a posse de células excretoras especializadas chamadas po-
dócitos e apresenta uma nadadeira caudal semelhante à dos
vertebrados. Anfioxos e vertebrados também compartilham 2.2 Definição de um Vertebrado
alguns aspectos embrionários (veja Gans 1989). Estes ca- O termo vertebrado é obviamente derivado das vértebras ar-
racteres indicam que os cefalocordados são o grupo irmão ranjadas em série para formar a coluna vertebral. Em nós
dos vertebrados. mesmos, assim como em outros vertebrados terrestres, as
vértebras formam-se em tomo da notocorda durante o de-
Cordados Cambrianos O animal primitivo mais co-
senvolvimento e também circundam o tubo nervoso. A co-
nhecido semelhante aos cordados é o Pikaia. Aproxima-
luna vertebral óssea substitui a notocorda original após o
damente 100 espécimes deste animal são conhecidos do
Burgess Shale do Cambriano Médio da Columbia Britânica período embrionário. Em muitos peixes, as vértebras são
(Figura 2-3a). A característica mais óbvia de cordado de Pi- constituídas por cartilagem em vez de osso.
kaia são miômeros e uma notocorda ao longo dos terços Todos os vertebrados apresentam o caráter peculiar e deri-
caudais do corpo. Pikaia é freqüentemente considerado ser vado, um crânio, que é uma estrutura óssea, cartilaginosa ou
um cefalocordado, mas pode representar algum outro tipo fibrosa circundando o encéfalo (veja descrição à frente). Eles
de cordado não-vertebrado. também possuem uma cabeça conspícua contendo complexos
Definição de um Vertebrado 21

(b) o Xidazoon

Bandas musculares transversais

Endóstilo

( ) O Yunnanozoa
c
Haikouella

Nadadeira dorsal

Coração i
1 mm

A F i g u r a 2 - 3 Alguns cordados primitivos ou seus parentes, (a) Pikaia, do Cambriano Médio do Burgess Shale da Columbia Britânica-
( d ) o Vetucoliano Xidazoon, e o Yunnanozoa Haikouella, da fauna de Chengiang do início do Cambriano do sul da China.
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órgãos dos sentidos. A embriologia clássica afirma que a de um tipo de tecido embrionário chamado crista neural,
parte rostral da cabeça dos vertebrados é um aspecto novo, que forma muitas estruturas novas nos vertebrados, espe-
consistindo dos três segmentos rostrais à extremidade rostral cialmente na região cefálica (Northcutt e Gans 1983). Crista
original da cabeça do cordado. No entanto, estudos recentes neural pode ser considerada como o item mais importante na
a respeito da similaridade genética entre anfioxos e verte- origem do corpo vertebrado (Holland e Chen, 2001). Original-
brados, sugerem que enquanto a cabeça pode ter aumentado mente pensava-se que a crista neural seria derivada do folheto
nos vertebrados isso não é adição inteiramente nova (Mo- germinativo ectodérmico, porém, recentemente, foi proposto
nastersky 1996, Finnerty 2000). ser um folheto germinativo verdadeiramente independente,
Entretanto, nem todos os animais incluídos no tradicio- junto com ectoderma, endoderma e mesoderma, significando
nal subfilo dos Vertebrata, possuem vértebras. Entre os ag- que os vertebrados são os únicos animais com quatro folhe-
natos viventes (vertebrados sem maxilas), as feiticeiras não tos germinativos, tomando-os tetrablásticos (Hall 2000).
possuem qualquer elemento vertebral e as lampreias apre- As células da crista neural originam-se na borda lateral
sentam apenas rudimentos cartilaginosos flanqueando o da placa neural, a estrutura embrionária que origina o cor-
tubo nervoso. Vértebras totalmente formadas, com um cen- dão nervoso, e migram posteriormente pelo corpo para for-
tro circundando a notocorda, somente são encontradas nos mar uma variedade de estruturas. Uma população similar de
gnatostomados (vertebrados com maxilas) entre o conjunto células, com uma expressão genética similar, pode também
de formas viventes (veja Capítulo 3), e muitos peixes com ser encontrada nos anfioxos, mas aí as células não migram
maxilas retêm uma notocorda funcional quando adultos. Por e não se modificam em outros tipos de células. Entretanto,
causa da perda das vértebras nas feiticeiras, algumas pessoas estas células podem representar os precursores da condição
preferem o termo Craniata à Vertebrata para o sub-filo que vertebrada da crista neural (Holland e Chen, 2001).
inclui as feiticeiras e todos outros animais comumente co-
O tecido embrionário que pode estar relacionado com a
nhecidos como vertebrados. Entretanto, nós continuamos a
crista neural forma os placodes epidérmicos (espessamen-
usar o termo familiar vertebrado neste livro para todos esses
tos) que originam os complexos órgãos sensoriais dos ver-
animais, ainda què reconheçamos que exista alguma questão
tebrados, incluindo o nariz, os olhos, a orelha interna e os
semântica neste termo.
botões gustativos. Algumas células dos placodes migram
Dois aspectos embrionários podem ser responsáveis por
caudalmente para contribuir, juntamente com as células da
muitas das diferenças entre vertebrados e outros cordados.
crista neural, para o sistema da linha lateral e nervos crania-
Um é o Complexo do gene Hox (genes homeobox) que ca-
nos que a inervam.
racteriza os animais. Os genes Hox não codificam caracte-
rísticas específicas diretamente: eles regulam a expressão O encéfalo dos vertebrados é maior do que os encéfalos
e a hierarquia de outros genes que controlam o formato do dos cordados primitivos e é formado por três partes - pro-
corpo, especialmente o processo do desenvolvimento ao sencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo. O encéfalo do an-
longo do eixo da região cranial para a região caudal. Me- fioxo não está nitidamente dividido; no entanto, estudos
dusas (e possivelmente também esponjas) têm um ou dois genéticos mostram que ele pode ser homólogo ao encéfalo
genes Hox, o ancestral comum dos protostômios e deuteros- dos vertebrados, exceto pela parte cranial do prosencéfalo
tômios provavelmente tinha sete, e metazoários mais deriva- (o telencéfalo) (Zimmer, 2000). O telencéfalo é a porção do
dos tinham até treze. Entretanto, vertebrados são únicos em encéfalo que contém o córtex cerebral, a área de maior pro-
conseguir a duplicação do complexo Hox inteiro. cessamento nos vertebrados.
Parece que houve um evento de duplicação no iní-
cio da evolução dos vertebrados: o anfioxo tem um único 2.3 Estrutura Básica dos Vertebrados
agrupamento Hox, enquanto os vertebrados sem mandíbu-
Esta seção serve como introdução a estrutura anatômica e
las viventes têm dois. Um segundo evento de duplicação
fisiologia dos vertebrados. O ponto central dessa seção está
aconteceu com a evolução dos gnatostomados, com todos
na Tabela 2.1 e Figura 2-4, que comparam a condição ver-
os vertebrados com mandíbulas tendo pelo menos quatro
tebrada básica com aquela de um cordado não-vertebrado
agrupamentos. Finalmente houve duplicações adicionais
nos peixes ósseos de nadadeiras raiadas que podem ter até como o anfioxo. Esses mesmos sistemas serão discutidos à
sete agrupamentos (Pennisi 2001; Carroll 2002). Animais frente para outros vertebrados derivados nos últimos capí-
mais complexos geralmente possuem maior quantidade de tulos: a meta aqui é dar ao leitor uma introdução geral ao
material genético e pensa-se que a duplicação desta seqü- plano básico dos vertebrados. Detalhes mais compreensivos
ência gênica deu início à evolução de um tipo mais com- podem ser encontrados em livros tais como Hildebrand e
plexo de animal. O segundo aspecto é o desenvolvimento Goslow (2001), Kardong (2001), Liem et al. (2001).
Estrutura Básica dos Vertebrados 23

Comparação entre Aspectos de Cordados Não-Vertebrados e Vertebrados Primitivos

Cordado Não-Vertebrado Generalizado Vertebrado Primitivo


i Com base em caracteres do cefalocordado vivente, (Com base em caracteres de vertebrados agnatos
o anfioxo) viventes - feiticeiras e lampreias)

A. Encéfalo e Extremidade Cefálica


Notocorda estende-se até a extremidade rostral da c abeça C abeça estende-se além da extremidade da notocorda.
(pode ser uma condição derivada).
Crânio ausente. Crânio - suportes esqueléticos em torno do encéfalo,
consistem cápsulas que circundam as principais partes
do encéfalo e de seus componentes sensoriais.
Encéfalo simples (vesícula cerebral) e órgãos sensoriais Encéfalo tripartido e órgãos sensoriais multicelulares
especializados também simples (exceto o órgão frontal (olho, nariz, orelha interna).
fotorreceptor, provavelmente homólogo do olho dos
vertebrados).
Sensação a distância fraca (embora a pele seja sensível). Sensações, a distância, mais desenvolvidas: além dos
olhos e do nariz, tamb ém possuem um sistema d a
linha lateral ao longo d a c abeç a e do corpo, capaz
de detectar movimentos da água (sistema da linha
lateral pouco desenvolvido na cabeç a somente nas
feiticeiras).
Eletrorrecepção ausente Eletrorrecepção pode ser um caráter primitivo dos
vertebrados (no entanto, ausente em feiticeiras).

B. Faringe e Respiração
Arcos branquiais para a alimentação por filtração Arcos branquiais (arcos faríngeos) sustentam brânquias
(a respiração ocorre por difusão em toda a superfície usadas na respiração.
do corpo).
Numerosos arcos e fendas branquiais (até 100 em Menos fendas branquiais (6-10 em cada lado), brânquias
cad a lado). individuais com estrutura interna altamente complexa
(filamentos branquiais).
Faringe não muscularizada (exceto na parede do átrio Faringe com musculatura especializada
ou cavidade externa do corpo). (branquiomérica).
Movimento de água através da faringe e sobre os arcos Movimento de água através da faringe e sobre
branquiais por ação ciliar. as brânquias por bom beamento muscular ativo.
Arcos branquiais de colágeno ou mucoescleroproteína. Arcos branquiais cartilaginosos (permitindo recuo elástico
- auxilia no bombeamento).

C. Alimentação e Digestão
Intestino não muscularizado. A passagem de alimento é Intestino muscularizado. A passagem de alimento
efetuada por ação ciliar. é efetuada por peristaltismo muscular.
A digestão do alimento é intracelular: partículas A digestão do alimento é extracelular: enzimas são
alimentares individuais entram em células que revestem lançadas sobre o alimento na luz do intestino,
o intestino. depois os produtos decompostos são absorvidos
por células que revestem o intestino.
Sem fígado e pâncreas distintos: a estrutura chamada ceco Tecidos hepático e pancreático distintos.
ou divertículo do intestino médio provavelmente é
homóloga de ambos.
D. Coração e Circulação
Estrutura bombeadora ventral (não é um coração Somente um coração bombeador ventral (porém há
verdadeiro, somente regiões de vasos que se contraem regiões bombeadoras acessórias em feiticeiras).
= seio venoso dos vertebrados). Também existem Coração com três câmaras: (no sentido do fluxo
regiões bombeadoras acessórias em outros locais sangüíneo) seio venoso, átrio e ventrículo.
do sistema.
24 CAPÍTULO Parentescos e Estrutura Básica dos Vertebrados

Comparação entre Aspectos de Cordados Não-Vertebrados e Vertebrados Primitivos


TABELA 2.1 (continuação)

Cordado Não-Vertebrado Generalizado Vertebrado Primitivo

Sem controle neural do coração para regular o Controle neural do coração (exceto em feiticeiras).
bombeamento. Sistema circulatório aberto: grandes seios sangüíneos,
Sistema circulatório fechado: sem seios sangüíneos (alguns permanecem em feiticeiras e lampreias)
sistema capilar não muito extenso. e co m um extenso sistema capilar.
Sangue especificamente envolvido no transporte de
Sangue não especificamente envolvido no transporte de gases respiratórios ( 0 e C 0 principalmente
2 2

gases respiratórios. C om células sangüíneas vermelhas contendo o pigmento respiratório


transportados via difusão). Sem células sangüíneas hemoglobina (combina-se co m 0 e C 0 e ajuda
2 2

vermelhas e sem pigmento respiratório. no seu transporte).

E, Excreção e Osmorregulação

Sem rim especializado. Líquido celomático é filtrado por Rim glomerular especializado, estrutura segmentar ao
solenócitos (células-flama) que funcionam criando uma longo d a parede dorsal do corpo, funciona por
pressão negativa no interior d a célula. As células ultrafiltração do sangue. Esvazia-se para o exterior via
esvaziam-se no átrio (falsa cavidade do corpo) e duetos arquinéfricos que se dirigem até a cloaca.
depois para o exterior via atrióporo.
Líquidos d o corpo co m a mesma concentração e a Líquidos do corpo mais diluídos que a água do mar
mesma composição iônica d a á gua d o mar. Não há (exceto em feiticeiras). O rim é importante na
necessidade de controle d o volume nem de regulação regulação do volume, especialmente no ambiente
iônica. de á gua doce. íons monovalentes são regulados
pelas brânquias (também os locais de excreção
nitrogenada), íons bivalentes são regulados pelos rins.

F. Suporte e Locomoção
A notocorda fornece o principal suporte para os músculos A notocorda fornece o principal suporte para os músculos
do corpo. do corpo, elementos vertebrais e m torno do tu bo
neural pelo menos em todos os vertebrados, exceto
nas feiticeiras.
Miômeros com forma de um simples "V". Miômeros co m forma mais co mplexa de um "W".
Nadadeiras laterais e medianas ausentes, exceto a Primitivamente, sem nadadeiras laterais. A nadadeira
nadadeira caudal. caudal apresenta raios dérmicos. Nadadeiras dorsais
presentes em todos, exceto nas feiticeiras.

Ao nível do animal total, um aumento no tamanho do A motilidade faz com que os vertebrados entrem em contato
corpo e da atividade distinguem os vertebrados de cordados com uma ampla gama de ambientes e objetos naqueles am-
mais primitivos. Os vertebrados primitivos geralmente apre- bientes e, por isso, o revestimento externo protetor de um
sentavam um comprimento do corpo de 10 cm ou mais, o que vertebrado precisa ser firme, porém flexível. Ossos e outros
é cerca de uma ordem maior de magnitude do que a dos cor- tecidos mineralizados que consideramos característicos dos
dados não-vertebrados. Devido a seu tamanho relativamente vertebrados tiveram sua origem neste tegumento protetor.
grande, os vertebrados necessitam de sistemas especializa-
dos para realizar os processos que são efetuados por difusão
ou ação ciliar nos cordados não-vertebrados. Os vertebrados
são também animais mais ativos do que os cordados não- Estudar embriões pode mostrar como os sistemas se de-
vertebrados, e assim necessitam de sistemas de órgãos mais senvolvem e como a forma do adulto está relacionada com
especializados que conseguem desempenhar os processos fi- os constrangimentos funcionais e históricos durante o de-
siológicos com uma taxa maior (veja Gans 1989). senvolvimento. Os cientistas modernos não aderem mais ri-
Os vertebrados são caracterizados por motilidade e a ca- gidamente à lei biogenética de que "a ontogenia recapitula a
pacidade de mover-se requer músculos e um endoesqueleto. filogenia", proposta por embriologistas do século dezenove,
25

anfioxo

Miômeros segmentares
Vesícula cerebral Notocorda em forma de "V"
Tubo neural i

"Coração" com uma


única câmara

Encéfalo tripartido Miômeros segmentares Nadadeira caudal


Notocorda Tubo neural em forma de "W" com raios dérmicos
Crânio

Órgãos sensoriais -Dueto


do crânio Tireóide sarquinéfrico
Tecido pa n c reá ti c o \ intestino (muscularizado)
Fenda branquial /Arco branquial \ C o r a ç ã o c o m

(cartilaginoso) t r e s c a m a r a s

Faringe
(muscularizada)

' F i g u r a 2-4 Padrão de um cordado não-vertebrado generalizado, comparado com aquele de um vertebrado primitivo.

tais como von Baer e Haeckel (isto é, a idéia de que o em- revestimentos das partes mais craniais e caudais do trato
brião passa fielmente por seus estágios evolutivos ancestrais digestório, e o sistema nervoso, incluindo a maioria dos ór-
durante seu desenvolvimento). Apesar disso, a embriologia gãos dos sentidos, como o olho e a orelha. O folheto mais
pode fornecer pistas sobre a condição ancestral e sobre ho- interno, o endoderma, forma o resto do revestimento do
mologias entre estruturas de animais diferentes (Northcutt, trato digestório, bem como o revestimento de glândulas
1990). associadas com ele - incluindo o fígado e o pâncreas - e
O desenvolvimento dos vertebrados, a partir de uma a maioria das superfícies respiratórias das brânquias e dos
única célula fertilizada (o zigoto) até a condição adulta, será pulmões dos vertebrados.
resumida brevemente. Esta é uma informação básica im- O folheto intermediário, o mesoderma, geralmente é o úl-
portante para muitos estudos, mas um tratamento detalhado timo dos três folhetos a aparecer durante o desenvolvimento.
está além do escopo deste livro. Hall (1992) oferece uma Ele forma todo o restante: músculos, esqueleto (incluindo a
excelente revisão do trabalho recente que integra estudos notocorda), tecidos conjuntivos, e o sistema circulatório e
genético evolutivos com os morfológicos tradicionais. os órgãos urogenitais. Um pouco mais tarde durante o de-
Vimos anteriormente que todos os animais, com exceção das senvolvimento, forma-se uma fenda no mesoderma original-
esponjas, são formados por distintas camadas de tecidos ou fo- mente sólido, originando um celoma ou cavidade do corpo.
lhetos germinativos. Os destinos dos folhetos germinativos têm O celoma é a cavidade que contém os órgãos internos e é
sido muito conservativos durante a evolução dos vertebrados. dividido na cavidade pleuroperitoneal (em torno das vís-
O folheto germinativo externo, o ectoderma, origina ceras) e na cavidade pericárdica (em torno do coração).
as camadas superficiais da pele do adulto (a epiderme); os Estas cavidades são revestidas por finas camadas de meso-
26 CAPÍTULO 2 Parentescos e Estrutura Básica dos Vertebrados

derma - o peritôneo (= a pericárdio em torno do coração). corda em desenvolvimento. A própria notocorda parece con-
O intestino está suspenso na cavidade peritoneal por cama- ter as instruções para o desenvolvimento deste crítico evento
das de peritôneo chamadas mesentérios. embrionário, motivo provável pelo qual a notocorda é retida
A crista neural origina muitas das estruturas da região nos embriões de vertebrados (como em nós mesmos) que não
rostral da cabeça, incluindo alguns ossos e músculos, antiga- mais apresentam esta estrutura na fase adulta. As células que
mente considerados como sendo formados por mesoderma. formarão a crista neural surgem perto do tubo nervoso em
Ela também forma quase todo o sistema nervoso periférico desenvolvimento (o tubo neural), neste estágio. Um pouco
(isto é, aquela parte do sistema nervoso externa ao encéfalo mais tarde no desenvolvimento, estas células da crista neural
e à medula espinhal) e, adicionalmente, contribui com par- dispersam-se lateralmente e ventralmente, para finalmente se
tes do encéfalo. Algumas estruturas no corpo, que são as- assentarem e diferenciarem ao longo do embrião.
pectos novos nos vertebrados, também são formadas pela O mesoderma embrionário divide-se em três porções
crista neural. Estas incluem as glândulas adrenais, as células distintas, como é mostrado na Figura 2-5, com o resultado
pigmentares da pele, células secretoras do intestino e mús- de que os vertebrados adultos são uma estranha mistura de
culos lisos que revestem a aorta. componentes segmentares e não-segmentares. A parte dor-
A Figura 2-5 mostra um estágio inicial do desenvolvi- sal do mesoderma, situada acima do trato digestório e perto
mento embrionário, onde o aspecto cordado ancestral das bol- do tubo nervoso, forma uma série de porções segmentares
sas faríngeas na região da cabeça é, pelo menos, um aspecto de paredes espessas, ou somitos (epímero), dispostas desde
transitório nos embriões de todos os vertebrados. Nos peixes, a extremidade cefálica até a da cauda. A parte ventral do
os sulcos entre as bolsas (as fendas faríngeas) sofrem perfura- mesoderma, circundando o trato digestório e contendo o
ção para originar as fendas branquiais, enquanto que nos ver- celoma, tem parede fina e não é segmentada, sendo deno-
tebrados terrestres estas fendas desaparecem nos adultos. Os minada de placa lateral (hipômero). Pequenas porções seg-
revestimentos das bolsas faríngeas originam meia dúzia ou mentares unindo os somitos e a placa lateral são chamadas
mais estruturas glandulares freqüentemente associadas com o nefrótomos (mesômero ou mesoderma intermediário). O
sistema linfático, incluindo o timo, as glândulas paratireóides, sistema nervo também segue este plano segmentado versus
os corpos carotídeos e as amídalas (= tonsilas). não-segmentado, como será discutido mais tarde.
O tubo nervoso dorsal oco, típico dos vertebrados e de Os somitos segmentares finalmente formarão a derme
outros cordados, é formado pela invaginação e subseqüente da pele, os músculos estriados do corpo que são utilizados
separação de uma longa crista de ectoderma, dorsal à noto- na locomoção, e porções do esqueleto (a coluna vertebral e

Ectoderma
Rombencéfalo Nefrótomo Notocorda
Placode auditivo
Tubo neural / / Mesentério
Mesencéfalo
dorsal

Camada externa da
placa lateral (forma o
Faringe peritôneo externo e o
esqueleto apendicular)

Intestino
Endoderma do intestino
Prosencéfalo
Celoma
Parede do corpo
Camada interna da placa lateral
Cálice óptico (forma os músculos do intestino,
Estomodeu Fendas Coração Mesoderma do coração, sangue e vasos
sangüíneos tecido conjuntivo
faríngeas não segmentado
e o peritônio interno)
da placa lateral
Placode nasal
Ectoderma M e s e r |
t é r i o ventral

A Figura 2-5 Vista tridimensional de uma parte de um embrião generalizado de vertebrado em um estágio de desenvolvimento chamado
estágio de faríngula, quando aparecem as bolsas da brânquia. O ectoderma foi retirado para mostrar a segmentação do mesoderma na região
do tronco e o desenvolvimento da faringe. O estomodeu é a boca em desenvolvimento.
Estrutura Básica dos Vertebrados 27

partes do dorso do crânio). Mais tarde, alguns destes mús- tebrados têm um tipo único de colágeno fibrilar que pode
culos migram ventralmente a partir de sua posição dorsal ser responsável pela habilidade de formar um esqueleto in-
(epiaxial) original para formar a camada de músculos es- terno (Boot-Handford e Tuckwell 2003). O colágeno é rijo
triados da face ventral do corpo (os músculos hipoaxiais) e e não se distende facilmente. Em alguns tecidos, o colágeno
a partir deles formam-se os músculos das pernas nos tetra- combina-se com a proteína elastina, que pode se distender
podes (vertebrados terrestres com quatro membros = patas). e voltar ao normal. Outra proteína fibrosa importante en-
A placa lateral forma todas as porções internas e não- contrada somente em vertebrados é a queratina. Enquanto
i

segmentadas do corpo, tais como o tecido conjuntivo, o o colágeno forma a estrutura dentro da mesoderme, a que-
sistema vascular-sangüíneo, os mesentérios, o revestimento ratina é primariamente um tecido ectodérmico. A queratina
peritoneal e pericárdico das cavidades celomáticas e os ór- é principalmente encontrada na epiderme (pele externa) dos
gãos reprodutivos. Ele também forma os músculos lisos do tetrápodes, formando estruturas tais como pêlos, escamas,
trato digestório e o músculo cardíaco (coração). Os nefróto- penas, unhas, cornos, bicos etc., mas também forma estrutu-
mos formam os rins (que são estruturas segmentares alon- ras córneas semelhantes a dentes nos agnatos viventes.
gadas na condição dos vertebrados primitivos), os duetos de
O Tegumento O revestimento externo dos vertebrados, o
drenagem dos rins (os duetos arquinéfrícos) e as gôriadas.
tegumento, é um único órgão que perfaz até 15 a 20 por cento
Existem exceções para esta divisão segmentada versus do peso do corpo de muitos vertebrados e muito mais nas
não-segmentada do corpo dos vertebrados. Os músculos lo- formas com armadura. Inclui a pele e seus derivados, como
comotores, ambos axial (na região do tronco) e apendicular as glândulas, escamas, armadura dérmica e pêlos. A pele
(nos membros), e esqueleto axial são derivados dos somitos, protege o corpo e recebe informações do mundo exterior. As
mas curiosamente os ossos dos membros (com exceção da principais divisões da pele dos vertebrados são a epiderme
escápula e da cintura escapular) são derivados da placa late- (a camada de células superficiais derivada do ectoderma em-
ral, como são os tendões e ligamentos do músculo apendicu- brionário) e a derme (a camada mais profunda de células
lar, mesmo que essencialmente formem uma parte da porção originadas do mesoderma e da crista neural), peculiar desses
segmentar do animal. A explicação para esta anormalidade animais. A derme aprofunda-se mais num tecido subcutâneo
aparente pode estar no fato de que os membros são adições (hipoderme), derivado do mesoderma e que recobre músculos
ao plano básico dos vertebrados sem membros. e ossos.
Outras peculiaridades são encontradas na extremidade A epiderme constitui a fronteira entre o vertebrado e seu
rostral expandida da cabeça dos vertebrados, que possui um ambiente e é de suprema importância na proteção, trocas
complexo padrão de desenvolvimento e não acompanha a e sensações. Freqüentemente contém glândulas secretoras
simples segmentação do corpo (Northcutt 1990). O meso- e pode ter um papel significativo na regulação osmótica e
derma da cabeça contém somente somitos que dão origem do volume. A derme, a principal camada estrutural da pele,
aos músculos estriados do olho e músculos branquioméri- inclui muitas fibras colágenas que fornecem elasticidade e
cos que reforçam os arcos viscerais (brânquias e maxilas). ajudam a manter sua força e sua forma. A derme contém
No encéfalo, a parte mais rostral do cérebro (à frente do vasos sangüíneos e o fluxo de sangue nestes vasos está sob
telencéfalo) e a parte mediana do cérebro não são segmen- controle neural e hormonal (como, por exemplo, enrubeci-
tados, mas a parte rostral do cérebro e da parte caudal do mento humano, quando os vasos são dilatados e o sangue
cérebro mostram divisões segmentares durante o desenvol- corre para a pele).
vimento (Redies e Puelles, 2001). A derme também contém melanócitos derivados da crista
neural, células pigmentares contendo melanina, e fibras mus-
Tipos de Tecidos do Adulto culares lisas, tais como aquelas nos mamíferos que produzem
o arrepiar da pele ao redor do mamilo. Nos tetrápodes a derme
Existem cinco tipos de tecidos nos vertebrados: epitelial, con-
abriga a maioria das estruturas sensoriais e nervos associados
juntivo, sangüíneo (vascular), muscular e nervoso. Estes
com sensações de temperatura, pressão e dor.
tecidos combinam-se para formar unidades maiores cha-
madas órgãos. Freqüentemente os órgãos contêm a maioria A hipoderme, ou camada de tecido subcutâneo situa-se
ou todos os cinco tecidos básicos. As funções da vida dos entre a derme e as faseias sobre os músculos. Esta região
vertebrados são mantidas por grupos de órgãos reunidos em contém fibras colágenas e elásticas e é a área na qual gordura
sistemas de órgãos. subcutânea é armazenada por aves e mamíferos. Os múscu-
los estriados subcutâneos dos mamíferos, como aqueles que
Um componente fundamental da maioria dos tecidos
permitem que realizem expressões faciais e que agitam a pele
animais é a proteína fibrosa colágeno. O colágeno é prima-
para livrar-se de uma mosca, são encontrados nesta área.
riamente um tecido mesodérmico: em adição aos tecidos
mais moles dos órgãos, também forma a matriz orgânica Tecidos Mineralizados Os vertebrados possuem um tipo
dos ossos, o tecido resistente de tendões e ligamentos. Ver- peculiar de mineral chamado hidroxiapatita, um composto
28

complexo de cájcio e fósforo. A hidroxiapatita é mais re- hidroxiapatita. Os cristais de hidroxiapatita estão alinhados
sistente a ácidos do que a calcita (carbonato de cálcio), que na matriz de fibras colágenas formando camadas com dire-
forma as conchas de moluscos. Esta resistência aos ácidos ções alternadas, muito semelhante à estrutura da madeira
pode ser importante quando os vertebrados estão ocupados compensada. Esta combinação de células, fibras e minerais
com vigorosas atividades musculares, suficientes para libe- fornece ao osso o seu aspecto rendado complexo e que com-
rar ácido lático para o sangue. bina força com uma relativa leveza e auxilia a impedir ra-
Seis principais tipos de tecidos podem tornar-se minera- chaduras e fraturas.
lizados nos vertebrados, cada um formado de uma linhagem O osso permanece altamente vascularizado mesmo
de células no desenvolvimento. Três deles, esmalte, dentina quando está mineralizado (ossificado). A natureza vascu-
e osso, somente são encontrados na condição mineralizada lar do osso também o capacita a remodelar-se. Osso velho
no adulto. Esmalte e dentina são os tecidos mais mineraliza- é destruído por células sangüíneas especializadas (osteo-
dos - (respectivamente, com 99 por cento e 90 por cento de clastos), derivadas das mesmas linhagens de células que
minerais) - e são encontrados em dentes de vertebrados vi- originam os leucócitos macrófagos que englobam bactérias
ventes e no esqueleto dérmico de alguns peixes primitivos. estranhas ao corpo. Novos osteoblastos entram atrás dos
Este alto grau de mineralização explica porque é mais pro- osteoclastos e depositam osso novo. Dessa forma, um osso
vável encontrar dentes fossilizados do que ossos que contêm fraturado consegue emendar-se e os ossos podem mudar
apenas 50 por cento de mineralização. sua forma para adaptar-se ao estresse mecânico imposto ao
O quarto tipo de tecido duro, a cartilagem, geralmente animal. Este é o motivo pelo qual o exercício constrói osso
não é mineralizado em tetrápodes, mas é o principal tecido e porque os astronautas perdem osso na gravidade zero do
esquelético interno mineralizado em tubarões (tubarões espaço. Cartilagem calcificada, como aquela do esqueleto
e outros peixes cartilaginosos parecem ter perdido tecido de tubarões, é incapaz de remodelar-se porque não contém
ósseo verdadeiro). Algumas descobertas recentes mostram vasos sangüíneos.
que alguns vertebrados com mandíbulas também tinham Existem dois tipos principais de ossos nos vertebrados:
cartilagens internas calcificadas, que provavelmente evoluí- osso dérmico, como o nome sugere é formado na pele, e osso
ram independentemente da condição nos tubarões (Janvier e endocondral que é formado no interior de cartilagem. Osso
Arsenault 2002). dérmico (Figura 2-6a) é o tipo primitivo de osso nos vertebra-
O osso pode substituir a cartilagem no desenvolvimento, dos, visto pela primeira vez em vertebrados agnatos fósseis
mas o osso não é simplesmente cartilagem sobre o qual chamados ostracodermes que é descrito no Capítulo 3.
foram adicionados minerais. Em vez disso, ele é formado Somente nos peixes ósseos e tetrápodes o endoesqueleto
por diferentes tipos de células - osteócitos (Grego osteo = é formado primariamente por osso. Nestes vertebrados, o
osso e eitos = célula) que são denominados osteoblastos endoesqueleto inicialmente é formado por cartilagem que,
(Grego blasto = broto) enquanto estiverem efetivamente mais tarde no desenvolvimento é substituída por osso.
construindo o osso, em oposição aos condrócitos que for- O osso dérmico era formado originalmente na superfície
mam a cartilagem. As células que formam o osso e as células externa do corpo, como uma armadura (ostracoderme signi-
cartilaginosas são derivadas do mesoderma, as que formam fica "vestido com concha"), formando um tipo de exoesque-
a dentina são derivadas de tecido da crista neural e aquelas leto. Pensamos em vertebrados como animais que possuem
que originam o esmalte são derivadas do ectoderma. somente um endoesqueleto, mas a maioria dos ossos do
Um quinto tipo de tecido duro dos vertebrados, o ename- nosso crânio são ossos dérmicos e eles estão posicionados
lóide, é um tecido semelhante ao esmalte que é a condição externamente, formando uma concha ao redor dos nossos
vertebrada primitiva, e é encontrado atualmente na maioria cérebros. A estrutura endoesquelética dos vertebrados ini-
dos peixes. O esmalte verdadeiro, encontrado somente em cialmente consistia somente em uma caixa craniana e era
tetrápodes e em seus ancestrais, peixes de nadadeiras loba- originalmente formada por cartilagem. Assim, a condição
das, é formado de células ectodérmicas, enquanto o ename- nos primeiros vertebrados eram exoesqueletos ósseos e um
lóide é mais parecido com a dentina já que é formado de endoesqueleto cartilaginoso (Figura 2-7).
células que se originam da mesoderme (células que formam A estrutura básica dos dentes de gnatostomados é seme-
osso e cartilagem são também de origem mesodérmica). lhante àquela dos odontódios, os componentes originais e
O último tipo de tecido duro é o cemento, uma substância semelhantes a dentes da armadura dérmica de vertebrados
semelhante a osso que fixa os dentes em seus alvéolos em primitivos. Dentes são compostos por uma camada interna de
alguns vertebrados, incluindo mamíferos, e que pode se de- dentina e por uma camada externa de esmalte ou enamelóide,
senvolver para tomar-se parte da própria estrutura do dente. em tomo de uma cavidade central, a polpa (Figura 2-6b). As
Os tecidos mineralizados dos vertebrados são compostos escamas de tubarões (dentículos dérmicos) têm uma estrutura
por uma complexa matriz de fibras colágenas, por células similar. Os dentes formam-se a partir de estruturas chamadas
que secretam uma matriz proteica do tecido e por cristais de papilas dérmicas, e assim formam-se somente na pele, usual-
Estrutura Básica dos Vertebrados 29

Tubérculos do encéfalo, o esplancnocrânio formando o suporte das brân-


quias, e o dermatocrânio formado na pele como uma cober-
tura externa, não visto nos vertebrados primitivos.
O condrocrânio e o esplancnocrânio são formados pri-
mariamente tecido da crista neural. Na condição primitiva
são formados por cartilagem, mas em alguns peixes ósseos
e tetrápodes eles são ossos endocondrais. O dermatocrânio
é formado de ossos dérmicos e é cartilaginoso somente em
uma condição secundária em alguns peixes, como nos es-
turjões. Figura 2-8 mostra um diagrama da estrutura e da
evolução inicial do crânio vertebrado, e a Figura 2-9 ilustra
alguns crânios de vertebrados em maiores detalhes.
Existem dois tipos de músculos estriados na cabeça dos
vertebrados: músculos extrínsecos do olho e os múscu-
los branquioméricos. Seis músculos em cada olho giram o
globo ocular em todos os vertebrados exceto nas feiticeiras,
nas quais sua ausência pode representar uma perda secundá-
ria. Como nos músculos estriados do corpo, esses músculos
são enervados por nervos motores somáticos.
Os músculos branquioméricos são associados com o
esplancnocrânio e são usados para sugar água para dentro
da boca durante a alimentação e a respiração. Os músculos
branquioméricos têm um tipo distinto de enervação. Múscu-
los estriados são usualmente enervados por nervos motores,
provenientes da parte ventral do cordão nervoso central ou
cérebro, mas eles são enervados por nervos que saem dor-
salmente do cérebro. A razão para esse padrão diferente não
A F i g u r a 2 - 6 Organização de tecidos mineralizados de verte-
está clara, mas enfatiza a maneira pela qual a cabeça do ver-
brados, (a) Diagrama tridimensional de um osso dérmico de um
vertebrado sem mandíbula extinto (ostracoderme heteróstraco).
tebrado é única em sua estrutura em comparação com o de-
(b) Secção através de um dente em desenvolvimento (escamas de senvolvimento do resto do corpo.
tubarão são similares).
O Esqueleto Axial e sua Musculatura A notocorda é a
"coluna vertebral" original de todos os vertebrados, embora
mente sobre ossos dérmicos. Quando o dente está totalmente nunca seja verdadeiramente constituída de osso. Vértebras
feitas de cartilagem ou ossos e originalmente envolve e de-
formado empe através da linha da gengiva. Dentes de re-
pois substitui a notocorda não são encontrados na maioria
posição podem começar a se desenvolver ao lado do dente
dos vertebrados primitivos, e a estrutura das vértebras será
principal mesmo antes de sua erupção.
estudada no Capítulo 3.
A notocorda é constituída por um ceme de grandes cé-
lulas intimamente apostas, distendidas por vacúolos preen-
O aspecto estrutural básico do endoesqueleto de cordados é chidos por líquido incompressível, que tomam a notocorda
a notocorda, atuando como um bastonete rígido ao longo do rígida. A notocorda é envolvida com uma complexa bainha
comprimento do corpo. Os vertebrados adicionaram a ela o fibrosa, o local para a inserção de músculos segmentares e
crânio circundando o encéfalo e o esqueleto visceral (farín- de tecidos conjuntivos. Em todos os vertebrados, a noto-
geo) dos arcos branquiais e de seus derivados. Vertebrados corda termina na frente logo atrás da glândula pituitária e
continua para trás até a extremidade da porção carnosa da
mais recentes adicionaram o esqueleto axial (vértebras, coste-
cauda. A forma original da notocorda é perdida em tetrápo-
las e suportes medianos das nadadeiras), e outros mais recen-
des adultos, mas porções permanecem como discos interver-
tes adicionaram esqueleto apendicular (ossos dos membros
tebrais entre as vértebras.
esqueléticos e cinturas pélvica e escapular).
Os músculos axiais são constituídos de miômeros que são
O Esqueleto Craniano e sua Musculatura O crânio é for- complexamente dobrados em três dimensões cada uma esten-
mado por três componentes básicos: o condrocrânio ao redor dendo-se rostral e caudalmente sobre vários segmentos do_corpo
30 CAPÍTULO 2 Parentescos e Estrutura Básica dos Vertebrados

( O esqueleto dérmico ou exoesqueleto

O esqueleto endodérmico ou endoesqueleto

A F i g u r a 2 - 7 Esqueletos de vertebrados, contrastando o exoesqueleto ósseo original com o endoesqueleto cartilaginoso original (o
animal figurado é um peixe ósseo primitivo extinto).

(Figura 2 Blocos musculares seqüenciais imbricam-se e em blocos em forma de ziguezague, sendo que cada bloco re-
produzem ondulação do corpo. No anfioxo, os miômeros têm presenta um miômero. Este padrão é similar ao padrão de te-
uma forma simples em "V"; nos vertebrados, têm uma forma cidos em "Vs" imbricados, conhecido como espinha de peixe
mais complexa, em "W". Os miômeros dos gnatostomados são (talvez fosse melhor denominá-lo de músculo de peixe). Nos
divididos em porções epiaxiais e hipoaxiais, separadas por uma tetrápodes, o padrão é menos óbvio, mas o padrão segmentar
camada de tecido fibroso denominada septo horizontal. em forma de tábua ondulada de lavar roupa pode ser obser-
Este padrão segmentar dos músculos axiais é claramente vado no ventre de pessoas que praticam intensamente a mus-
visível em peixes. E facilmente reconhecido em uma posta culação, nos quais cada crista da tábua de lavar representa um
ema ou cozida de peixe, na qual as lascas de came separam-se segmento do músculo rectus abdominis.

> F i g u r a 2-8 Diagrama da forma e evolução inicial do crânio dos vertebrados. A condição primitiva (a) tinha um condrocrânio
formado de um par de cápsulas sensoriais, um par de cada parte do cérebro tripartido, com um suporte provido de um par de trabéculas
craniais pareadas (isto pode representar o arco branquial do primeiro segmento, cranialmente) e os paracordais (flanqueando a notocorda,
caudalmente). O esplancnocrânio era primitivamente feito de sete pares de arcos branquiais que davam suporte a seis aberturas branquiais,
sem nenhuma especialização anterior. Na lampreia (b) o arco branquial mandibular (segundo segmento) tomou-se o véu e outras estruturas
de suporte na cabeça, e o remanescente do esplancnocrânio forma uma cesta branquial complexa no exterior das brânquias (possivelmente
em associação com o modo de ventilação das brânquias em marés). Acima do nível das lampreias, o condrocrânio e esplancnocrânio são
rodeados com um dermatocrânio de ossos dérmicos, como visto nos ostracodermes (c). Nos gnatostomados (d, e) os arcos branquiais dos
segmentos mandibulares (segundo) e hióideo (terceiro) da cabeça tornaram-se modificados para formar a mandíbula e seus suportes. O
dermatocrânio é perdido nos peixes cartilaginosos (d), e nos peixes ósseos (e) em um padrão característico ainda visível em nós mesmos,
incluindo um opérculo ósseo cobrindo as brânquias e auxiliando a ventilação.
E s tr u tura Básica V e r t e b r a d os 31

Opérculo dérmico
cobrindo as brânquias
(ligado à cintura Condrocrânio
escapular)
Maxilas embutidas Maxila superior Maxila inferior
em ossos dérmicos original original
Osso dérmico da
Osso dérmico maxila inferior
da maxila superior
Elementos hióideos
Fenda branquial que Osso dérmico O
aqui foi pressionado também forma ^ • Ossos guiares
Condrocrânio
para forma um o palato
espiráculo Condrocrânio
Arco branquial 1 (arco
Condrocrânio
mandibular) forma
e esplancnocrânio
maxilas e abriga agora podem ser
dentes constituídos de ossos Dentes
Arco branquial 2 (arco
Maxila inferior
hióideo) forma maxila Maxila superior
Arcos branquiais são agora
e suporte da língua Elementos hióideos
dobrados mais complexamente
Dermatocrânio Condrocrânio Proteção dérmica
perdido (cartilaginoso) da cabeça (óssea)
Proteção dérmica circunda
o resto do crânio

Evolução da
mandíbula
Elementos do esplancnocrânio
podem formar cartilagens orais
nesta região Esplancnocrânio
Condrocrânio distorcido (cartilaginoso)
para cima e para trás
Cápsula ótica

Evolução do
osso dérmico
Paracordal Notocorda
Arcos branquiais craniais
(1 e 2) formam os suportes Arcos branquiais caudais
para a língua (3-7 mais 3 adicionais) formam Cesta branquial
Cartilagem da língua
o complexo da cesta branquial

Cartilagem orbital (ao redor Cápsula ótica (ao redor Cápsula ótica
dos olhos e do mesencéfalo)' da orelha interna e do
rombencéfalo) Notocorda
(se estende até
Paracordais (suporte Paracordal à frente da cápsula
Cápsula nasal (ao redor caudal inferior) ótica)
do nariz e do prosencéfalo) Arco branquial 2

Trabécula cranial
(suporte cranial) Formato dos arcos
Cartilagem
Cápsula ótica
Aqui aberturas branquiais em
orbital
Condrocrânio branquiais ziguezague permite Notocorda
aos músculos mudar
o volume da faringe
Esplancnocrânio

Paracordal
Dermatocrânio
Cápsula nasal
Trabécula rostral
32

Posição da primeira Fenda


Cápsula branquial
b o l s a
branquial
Cápsula nasal cartilagem ó t i c a
^ Arcuálios das vértebras Notocorda
orbital

Cartilagem em torno Cartilagem lingual


do funil bucal Arco branquial ^ Cartilagem
Bastonete Barra pericárdica
hipobranquial horizontal

Posição do Cápsula
Rostro Cartilagem espiráculo ótica
Hiomandibular
Posição da primeira bolsa branquial
Faringobranquial

Cápsula na; ?L— Epibranquial


Posição da quinta
bolsa branquial
Ceratobranquial

Arco mandibular fPalatoquadrado


(maxilas superior ( Arco \ A
e inferior) [Cartilagem mandibular hióideo \ Hipobranquial
Basibranquial

Ossos do teto dérmico > t s t <

Órbi s dérmicos operculares

Narina,

Cartilagem do palatoquadrado
Cartilagem mandibular
(articular)

Ossos dérmicos
da maxila inferior Ossos dérmicos guiares
3 Esplancnocrânio

3 Condrocrânio

A Figura 2-9 crânio de um vertebrado vivente sem mandíbula comparado àquele de um vertebrado cartilaginoso e um de mandíbula óssea.

I Dermatocrânio
Estrutura Básica dos Vertebrados 33

Miômeros em
forma de " V

Anfioxo

I / Miômeros em
i \ forma de "W"

A F i g u r a 2 - 1 0 Músculos do corpo de um vertebrado (miômeros), contrastando com a forma no anfioxo (cordado não vertebrado),
lampreia (vertebrado sem mandíbula) e vertebrados mandibulados.

Locomoção Muitos animais aquáticos pequenos, espe- tostomados geralmente são usadas como leme, freio e para
cialmente formas larvais, locomovem-se por meio de cílios promover elevação, mas não para propulsão, exceto em al-
(projeções pequenas da superfície da célula) que batem guns peixes especializados como raias, que têm nadadeiras
contra a água. No entanto, a propulsão ciliar funciona so- peitorais semelhantes a asas.
mente com tamanho do corpo muito pequeno. Cordados
maiores usam a contração ciliada de músculos segmen-
tares no tronco e cauda para locomoção, possivelmente
tendo aparecido inicialmente, como respostas reflexas em A energia alimentar retirada do ambiente precisa ser
larvas. A notocorda firma o corpo e ele dobra lateralmente processada pelo aparelho digestório para liberar energia e
com a contração dos músculos. Sem a notocorda, a contra- nutrientes que, depois, devem ser transportados aos teci-
ção destes músculos resultaria apenas no encurtamento do dos. O oxigênio é necessário para o processo de liberação
corpo e não em propulsão. de energia e as funções das superfícies de trocas gasosas e
A maioria dos peixes ainda usa este tipo básico de lo- o sistema circulatório estão intimamente entrelaçados com
comoção atualmente. As nadadeiras pares dos peixes gna- aquelas do aparelho digestório.
34

Alimentação e Digestão A alimentação inclui a apreensão O sangue é um tecido fluido composto de um plasma
do alimento para'o interior da câmara oral (isto é, a boca), líquido e de constituintes celulares conhecidos como células
algum processamento oral ou faríngeo (isto é, mastigação sangüíneas vermelhas (eritrócitos) que contêm hemoglo-
no sentido mais amplo - embora atualmente apenas os ma- bina, a proteína rica em ferro, e diversos tipos diferentes de
míferos mastiguem verdadeiramente o seu alimento), e células sangüíneas brancas (leucócitos), envolvidas no sis-
deglutição. A digestão inclui a quebra dos compostos com- tema imune de defesa do corpo. Células especializadas para
plexos em moléculas menores que são absorvidas através da promover a coagulação do sangue (trombócitos) estão pre-
parede do intestino. Tanto a alimentação como a digestão sentes em todos os vertebrados exceto nos mamíferos nos
são processos divididos em duas partes; cada um deles tem quais são substituídas por plaquetas não-celulares.
um componente físico e um componente químico, embora
O sangue dos vertebrados está contido no interior de vasos
os componentes físicos dominem o processo de alimentação
e órgãos especializados, em um sistema circulatório fechado;
e os componentes químicos dominem o da digestão.
isto é, aquele no qual as artérias e veias estão em comunica-
Os ancestrais dos vertebrados provavelmente filtravam
ção por meio de capilares. As artérias transportam o sangue
pequenas partículas de alimento da água, como ainda é rea-
para longe do coração e as veias retomam sangue ao coração
lizado pelo anfioxo e pelas larvas das lampreias. A maioria
(Figura 2-11). A pressão sangüínea é maior no sistema arterial
dos vertebrados se alimenta de partículas grandes; ingerem
do que no venoso e as artérias têm paredes mais espessas do
seu alimento aos pedaços em forma de bocados em vez de
que as veias, com uma camada de músculos lisos e uma ca-
diminutas partículas. Os vertebrados têm um volume intes-
mada externa de tecido conjuntivo fibroso.
tinal maior do que o do anfioxo e músculos intestinais que
movem a comida por contrações musculares rítmicas (pe- Entre as menores artérias (arteríolas) e as menores veias
ristaltismo). Vertebrados digerem seu alimento secretando (vênulas) estão interpostos os capilares que são os locais de
enzimas digestivas produzidas pelo fígado e pâncreas para trocas entre o sangue e os tecidos. Os capilares passam perto
dentro do intestino, enquanto o anfioxo digere seu alimento de todas as células vivas e fornecem uma enorme superfície
no interior das próprias células do intestino. O pâncreas tam- para as trocas de gases, nutrientes e produtos de excreção.
bém secreta o hormônio insulina, envolvido na regulação do Suas paredes têm apenas a espessura de uma célula. Os ca-
metabolismo da glicose e dos níveis de açúcar do sangue. pilares formam densos leitos em tecidos metabolicamente
Na condição dos vertebrados primitivos, não existe estô- ativos e estão esparsamente distribuídos em tecidos com
mago, nem divisão do intestino em porções delgada e grossa, baixa atividade metabólica.
e nem existe um reto distinto. Na maioria dos vertebrados, o O fluxo sangüíneo através dos leitos de capilares é re-
intestino abre-se na cloaca, uma abertura comum para os ór- gulado por músculos esfíncteres precapilares. Anastomo-
gãos urinário e reprodutivos, e o aparelho digestório. ses arteriovenosas conectam algumas arteríolas diretamente
com vênulas, permitindo que o sangue evite o leito capilar.
Respiração e Ventilação Os cordados ancestrais prova-
Normalmente, apenas uma fração dos capilares de um tecido
velmente contavam com absorção de oxigênio e perda de
contém sangue fluindo através deles. Quando a atividade
dióxido de carbono por difusão através de uma pele fina
metabólica de um tecido aumenta - quando um músculo se
(respiração cutânea). Este é o modo de respiração do pe-
toma ativo, por exemplo - resíduos metabólicos estimulam
queno e lento anfioxo.
os esfíncteres precapilares a se dilatarem, aumentando o
A respiração cutânea é importante para muitos vertebra- fluxo de sangue para aquele tecido.
dos (p. ex., anfíbios modernos), mas a combinação do ta-
Veias porta situam-se entre dois leitos capilares. A veia
manho do corpo grande e altos níveis de atividades fazem
porta hepática, presente em todos os vertebrados, situa-se
com que estruturas especializadas em trocas de gases sejam
entre os leitos capilares do intestino e do fígado (Figura 2-11).
essenciais para a maioria dos vertebrados. Brânquias são
Substâncias absorvidas do intestino são diretamente trans-
efetivas na água, enquanto que pulmões trabalham melhor
portadas para o fígado, onde as toxinas são tomadas inofen-
no ar (veja os Capítulos 4 e 11). Tanto brânquias como pul-
mões possuem grandes áreas superficiais que permitem que sivas e alguns nutrientes são processados ou removidos para
o oxigênio se difunda do ambiente circundante (água ou ar) armazenagem. A maioria dos vertebrados também apresenta
para o sangue. uma veia porta renal entre os rins e as veias que retomam
da parte caudal do tronco e da cauda (Figura 2-11). O sistema
Sistema Cardiovascular O sangue transporta oxigênio e porta renal não é bem desenvolvido em vertebrados agna-
nutrientes pelos vasos até as células do corpo, remove dió- tos e foi perdido em mamíferos. O sistema porta renal pre-
xido de carbono e outros resíduos metabólicos e estabiliza sumivelmente leva os metabólitos que são produzidos nos
o meio interno. O sangue também transporta hormônios de músculos axiais usados na locomoção, ao fígado, onde são
seu local de produção para os tecidos alvo. processados.
Estrutura Básica dos Vertebrados 35

O coração dos vertebrados é um tubo muscular dobrado aórticos dirigem-se às brânquias onde o sangue é oxige-
sobre si mesmo e, primitivamente, dividido em três câmaras nado e retorna pela aorta dorsal. A aorta dorsal é pareada
seqüenciais: o seio venoso, o átrio e o ventrículo. O nosso acima das brânquias, as porções rostrais dirigem-se para
assim chamado coração com quatro câmaras representa a frente, para a cabeça como as artérias carótidas. Atrás
combinação de um átrio e um ventrículo, ambos divididos da região branquial, os dois vasos unem-se em uma única
em duas metades (esquerda e direita). aorta dorsal que transporta sangue para a parte caudal do
O seio venoso é um saco de paredes finas, com poucas corpo.
fibras musculares cardíacas. Ele é preenchido por pressão A aorta dorsal é ladeada por veias cardinais pares que
das veias, juntamente com reduções de pressão pulsáteis na retornam o sangue ao coração (Figura 2-11). Veias cardinais
cavidade pericárdica quando o coração bate. A sucção pro- rostrais (as veias jugulares) drenando a cabeça e veias cardi-
duzida por contração muscular impulsiona o sangue para nais caudais drenando o corpo unem-se formando uma veia
frente, para o interior do átrio que possui válvulas em cada cardinal comum que se abre no átrio do coração. O sangue
extremidade e que impedem o retorno do sangue. O ventrí- também retorna separadamente do intestino e do fígado ao
culo tem paredes espessas e as paredes musculares possuem coração via sistema porta hepático.
um ritmo pulsátil intrínseco, que pode ser acelerado ou di-
minuído pelo sistema nervoso autônomo. A contração do Sistemas Excretor e Reprodutor Os sistemas excretor e re-
ventrículo força o sangue para o interior da aorta ventral. Os produtor são derivados do nefrótomo ou mesoderma interme-
mamíferos não têm mais uma estrutura distinta identificável diário, que forma a crista néfrica embrionária (Figura 2-13).
como seio venoso; ao invés disso está incorporado na pa- Os rins são segmentares em estrutura enquanto as gônadas
rede do átrio direito como um nódulo sinatrial que controla (os órgãos que produzem gâmetas [células sexuais] - ovários
o pulso básico da batida do coração. em fêmeas e testículos nos machos) não são segmentadas. O
O plano circulatório básico dos vertebrados consiste de dueto arquinéfrico drena a urina do rim para a cloaca e dali
um coração que bombeia sangue para a única aorta ventral para o mundo externo. Em gnatostomados esse dueto também
mediana. Conjuntos pares de arcos aórticos (um de cada par é usado para a liberação do esperma pelos testículos.
suprindo cada lado da cabeça originalmente em número de Os rins eliminam produtos residuais, primariamente subs-
6) ramificam-se da aorta ventral (Figura 2-12). Na circu- tâncias nitrogenadas do metabolismo das proteínas e regu-
lação original dos vertebrados, retida nos peixes, os arcos lam a água e os minerais do corpo - especialmente sódio,

Artérias
carótidas Artérias mesentéricas

Veias cardinais craniais Veias cardinais caudais


Sangue oxigenado (arterial)
Sangue não-oxigenado (venoso)

AFigura 2-11 Diagrama esquemático do sistema cardiovascular de um vertebrado. Todos os vasos são pares na esquerda e na direita do
corpo, exceto para a aorta ventral e dorsal. Note que as veias cardinais na verdade correm dorsalmente no animal real, ao lado das artérias
carótidas (cardinais craniais) ou da aorta dorsal (cardinais caudais).
CAPÍTULO 2 Parentescos e Estrutura Básica dos Vertebrados

Arco 1 perdido Artéria carótida


Fenda branquial U+tllll©
1 convertida em ptEfÜS Aorta ventral
espiráculo
3 Artéria subclava
Fenda branquial (para os membros
Arco aórtico peitorais)

Arco 1 perdido Artéria carótida


Cone arterial
(quarta câmara
do coração)
Fenda branquial / Ventrículo
Átrio
3

1 perdida

Fenda branquial Aorta ventral


Seio venoso Aorta dorsal
3 tendas Artéria ilíaca (para
Arco aórtico
branquiais os membros pélvicos Fim do corpo
e arcos aórticos em todos os
Artéria caudal
adicionados gnatostomados
(para a cauda)
Ventrículo caudalmente

Átrio

Aorta dorsal
Seio venoso

Artéria carótida

Fenda
branquial

Arco aórtico 4 Aorta ventral

Átrio
Ventrículo
L
Seio venoso
Artéria carótida
Fenda (leva o sangue
branquial ao coração)
Aorta dorsal
Arco aórtico

Aortas dorsais pareadas


Aorta ventral
(sob as (sobre as brânquias, o
brânquias, sangue corre para trás)
o sangue flui Veias cardinais, Sangue oxigenado
para frente) retornam o sangue
do corpo e da cabeça Sangue não oxigenado
Aorta dorsal
Coração com (para o corpo)
uma única câmara
Estrutura Básica dos Vertebrados 37

cloreto, cálcio, magnésio, potássio, bicarbonato e fosfato. brados não possuem rins verdadeiros. O anfioxo apresenta
Nos tetrápodes, os rins são responsáveis por quase todas células excretoras chamadas solenócitos associadas com os
essas funções, mas em peixes e anfíbios, a pele e as brân- vasos sangüíneos faríngeos e abrem-se individualmente na
quias desempenham papéis importantes (veja Capítulo 4). O falsa cavidade do corpo (o átrio). Finalmente, o efluente é
papel original dos rins dos vertebrados pode ter sido prima- liberado para o exterior via atrióporo. Os solenócitos, dos
riamente a regulação de íons bivalentes tais como cálcio e anfioxos, podem ser homólogos aos podócitos do néfron
fosfato. dos vertebrados, que são as células que formam a parede da
Nos peixes, o rim é uma longa estrutura segmentar que cápsula renal, e esta é uma das razões para considerar o an-
se estende ao longo de todo o comprimento da parede dorsal fioxo o grupo irmão dos vertebrados.
do corpo. Em todos os embriões de vertebrados os rins são Reprodução é o meio pelo qual gâmetas (ovos e esper-
compostos de três porções: pronefros, mesonefros e metane- mas) são produzidos, liberados e combinados com gâme-
fros (Figura 2-13). O pronefro é funcional somente nos em- tas de um membro do sexo oposto para produzir um zigoto
briões de vertebrados viventes, possivelmente também nas fertilizado. Geralmente os vertebrados têm dois sexos e a
feiticeiras adultas. O rim dos peixes e anfíbios adultos inclui reprodução sexuada é a norma - embora espécies unissexua-
as porções mesonéfrica e metanéfrica e é conhecido como das ocorram em peixes, anfíbios e lagartos.
um rim opistonéfrico. O rim compacto com formato de fei- As gônadas são pares e usualmente situam-se na parede
jão é visto em amniotas adultos (o rim metanéfrico) inclui caudal do corpo, por trás do peritôneo (no teto da cavidade
apenas o metanefros, drenado por um novo tubo, o ureter, do corpo); é somente entre os mamíferos que os testículos
derivado da porção basal do dueto arquinéfrico. são encontrados fora do corpo, no interior de um escroto.
A unidade básica dos rins são estruturas microscópicas Os ovários contêm grandes células sexuais primárias cha-
chamadas néfrons (veja Capítulos 4 e 11). Os rins dos verte- madas folículos. A medida que amadurecem, a camada de
brados trabalham por ultrafiltração: a alta pressão sangüínea células foliculares torna-se maior, nutrindo o óvulo em de-
força água, ions e pequenas moléculas através de minús- senvolvimento, estimulando a formação de vitelo no ovó-
culas aberturas nas paredes capilares. Cordados não verte- cito e produzindo o hormônio estrógeno. Quando os óvulos

< F i g u r a 2 - 1 2 Vista diagramática da forma e da evolução inicial do coração e dos arcos aórticos dos vertebrados. Na condição mais
primitiva de um vertebrado verdadeiro (b) havia provavelmente 6 pares de arcos aórticos como são vistos nos embriões de todos os
vertebrados vivos, embora o arco 1 nunca seja visto nos adultos. Estes arcos eram estruturas de alimentação, não usadas para respiração.
Nas lampreias (c) arcos aórticos adicionais foram somados caudalmente para acomodar aberturas branquiais extras. Nos gnatostomados (d)
as artérias subclava e ilíaca são adicionadas ao sistema circulatório principal, que suprem os membros peitorais e pélvicos respectivamente.
Uma quarta câmara também é adicionada ao coração, o conus arteriosus, que amortece o componente pulsátil do fluxo de sangue.
38

amadurecem, os folículos se rompem liberando os óvulos mãe até que o desenvolvimento embrionário esteja com-
completos (ovulação). A produção de óvulos pelo ovário pleto. Ovos com casca precisam ser fertilizados no oviduto
pode ser quase contínua (como na espécie humana), sazonal antes que a casca e a albumina sejam depositadas. Vertebra-
(na vasta maioria dos vertebrados) ou ocorrer somente uma dos que põem ovos com casca e vertebrados que são viví-
vez durante a vida em alguns peixes, como a enguia e em paros precisam apresentar algum tipo de órgão intromitente
alguns mamíferos. - como os clásperes pélvicos de tubarões e o pênis dos am-
Os testículos são compostos por túbulos seminíferos niotas - pelo qual o esperma é inserido dentro do trato re-
interconectados onde os espermatozóides se desenvolvem. produtivo da fêmea.
Nestes túbulos, os espermatozóides são sustentados e nutri-
dos por células - as células de suporte ou de Sertoli - que
ficam permanentemente presas às paredes dos túbulos. Os
testículos também produzem o hormônio testosterona. Os sistemas nervoso e endócrino respondem a condições ex-
Na condição dos vertebrados primitivos, retida em agna- ternas e internas de um animal, e juntos controlam as ações
tos viventes, não há tubo ou dueto especial para a passagem dos órgãos e músculos, coordenando-os para que trabalhem
dos gâmetas. Ao contrário, o esperma ou ovos movem-se em conjunto.
através do celoma para poros que se abrem na base dos due-
Aspectos Gerais do Sistema Nervoso A unidade básica do
tos arquinéfricos. Entretanto, nos gnatostomados, os gâmetas
sempre são transportados até a cloaca via duetos especiali- sistema nervoso é o neurônio. Nos gnatostomados, os axô-
zados (pares, um para cada gônada). Nos machos, os esper- nios dos neurônios são encerrados por uma capa gordurosa
matozóides são liberados diretamente para um dueto que, isolante, a bainha de mielina, que aumenta a velocidade de
usualmente, é formado a partir do dueto arquinéfrico que condução do impulso nervoso. Geralmente, as extensões dos
drenava originalmente o rim, em não amniotas e embriões neurônios, chamadas axônios, estão reunidas como os ara-
de amniotas. Nas fêmeas, os óvulos ainda são liberados para mes de um cabo (Figura 2-14). Tais reuniões de axônios no
o celoma, mas depois são transportados via uma nova estru- sistema nervoso periférico (SNP; isto é, no corpo) são de-
tura, o oviduto. Os ovidutos produzem substâncias associa- nominadas nervos; no interior do sistema nervoso central
das com o ovo, tais como a gema ou a casca. Os ovidutos (SNC; isto é, no interior do encéfalo e da medula espinhal)
podem se alargar e fundir de várias maneiras para formar um são chamados tratos. Um grupo de corpos celulares (a por-
útero ou úteros pares nos quais os ovos são armazenados ou ção da célula nervosa que contém o núcleo) é conhecido
os jovens se desenvolvem. como gânglio no SNP e um núcleo no SNC. Os neurônios
Os vertebrados podem depositar ovos que se desenvol- comunicam-se com outros neurônios através de processos
vem fora do corpo ou reter os ovos no interior do corpo da chamados dendritos.

> Fi gu r a 2-14 Neurônios generalizados de vertebrados.

Gânglio
Estrutura Básica dos V e r t e b r a d o s 39

A medula espinhal (medula neural) é composta por um Alguns destes nervos, tais como os que suprem o nariz ( o
tubo oco contendo corpos celulares (massa cinzenta) do nervo olfatório, I) ou os olhos (o nervo óptico, II), não são
lado interno e axônios revestidos com bainhas de mielina nervos verdadeiros, mas evaginações do encéfalo. Fibras
(massa branca) do lado de fora. Os nervos do SNP são ar- motoras somáticas nos nervos cranianos inervam os múscu-
ranjados segmentalmente, saindo da medula espinhal entre los branquioméricos que servem as maxilas e os arcos bran-
as vértebras. A medula neural recebe impulsos sensoriais, quiais, e também os músculos que movimentam o globo
integra-os com outras porções do SNC e envia impulsos que ocular. Também existe um sistema de fibras sensoriais vis-
fazem com que músculos se contraiam. A medula espinhal cerais que levam informação das papilas gustativas para o
tem uma considerável autonomia em muitos vertebrados. cérebro. Não percebemos a maioria das sensações sensoriais
Mesmo tais movimentos tão complexos como os da natação viscerais, mas o paladar é obviamente um fenômeno cons-
são controlados por ela e não pelo encéfalo. Os peixes conti- ciente. Os nervos sensoriais especiais que suprem a linha la-
nuam a apresentar movimentos natatórios coordenados pela teral em peixes também podem ser nervos cranianos.
medula neural quando o encéfalo está injuriado. A conhe- O nervo vago (nervo craniano X) ramifica-se por todas
cida reação do reflexo patelar é produzida pela medula neu- as partes do tronco, exceto para a parte mais caudal, levando
ral como um arco reflexo. Da mesma maneira, um reflexo o suprimento do nervo motor visceral para vários órgãos.
espinhal faz com que você afaste a mão de uma superfície Pessoas que fraturam seu pescoço podem ficar paralisadas
quente antes que os sinais de dor alcancem o seu encéfalo. abaixo do pescoço (isto é, perdem a função de seus múscu-
A tendência na evolução dos vertebrados tem sido a de de- los esqueléticos), mas ainda podem reter suas funções visce-
senvolver conexões mais complexas no interior da medula rais (do trato digestório, coração etc.) porque o nervo vago
neural e entre ela e o encéfalo. é independente da medula espinhal e emerge acima do local
Os vertebrados são únicos entre os animais em ter um da fratura.
tipo duplo de sistema nervoso: o sistema nervoso somático
(o tão conhecido sistema nervoso voluntário) e o sistema Anatomia e Evolução do Encéfalo O encéfalo de todos
nervoso visceral (o tão conhecido sistema nervoso involun- os vertebrados é uma estrutura tripartida (Figura 2-15). Na
tário). Esse sistema nervoso duplo mimetiza o tipo duplo de condição mais simples, o prosencéfalo está associado com
desenvolvimento da mesoderme. O sistema nervoso somá- o olfato, o mesencéfalo com a visão e o rombencéfalo com
tico enerva as estruturas derivadas da porção segmentada o equilíbrio e a detecção de vibrações (audição no senso
(os somitos). Isto inclui os músculos estriados que move- amplo). Estas porções do encéfalo estão associadas, respec-
mos conscientemente (p. ex., os músculos dos membros), e tivamente, com as cápsulas nasal, ópticas e óticas do con-
recebe informação de sensações que estamos usualmente re- drocrânio (veja a Figura 2-8).
cebendo (p. ex., de receptores de temperatura e dor na pele). O rombencéfalo tem duas partes. A mais caudal, o mie-
O sistema nervoso visceral, os músculos cardíacos e lisos lencéfalo ou medula oblonga, controla funções, tais como,
que usualmente não movemos conscientemente (p. ex., os a respiração e atua como uma estação de relés para células
músculos do intestino e coração) e recebem informações receptoras do ouvido interno. A porção rostral do rombencé-
das sensações que nós não estamos usualmente conscientes, falo, o metencéfalo, desenvolve um importante crescimento
tais como receptores que monitoram os níveis de dióxido de dorsal, o cerebelo - presente como estrutura distinta so-
carbono no sangue. mente nos gnatostomados entre os vertebrados viventes. O
Cada complexo de nervos espinhais é formado por qua- cerebelo coordena e regula atividades motoras, sejam estas
tro tipos de fibras: fibras motoras somáticas para o corpo; fi- reflexas como a manutenção da postura, ou diretas como os
bras sensoriais somáticas da parede do corpo; fibras motoras movimentos de fuga. O mesencéfalo desenvolve-se em con-
viscerais para os músculos e glândulas do trato digestório junto com os olhos e recebe impulsos do nervo óptico, em-
e para os vasos sangüíneos; e fibras sensoriais viscerais da bora nos mamíferos o prosencéfalo tenha assumido grande
parede do trato digestório e dos vasos sangüíneos. A porção parte desta tarefa da visão.
motora do sistema nervoso visceral é conhecida como sis- O prosencéfalo tem duas partes. A região caudal é o dien-
tema nervoso autônomo. Em vertebrados mais derivados céfalo que atua como uma importante estação de relés entre
como em mamíferos esse sistema divide-se em duas por- áreas sensoriais e centros mais elevados do encéfalo. A glân-
ções: o sistema nervoso simpático (usualmente agindo para dula pituitária, um importante órgão endócrino, é uma eva-
acelerar coisas) e o sistema nervoso parassimpático (usual- ginação ventral do diencéfalo. O assoalho do diencéfalo (o
mente agindo para desacelerar coisas). hipotálamo) e a glândula pituitária constituem o centro primá-
Os vertebrados também têm nervos que saem direta- rio para a coordenação e integração neuro-hormonal. Outra
mente do encéfalo, chamados de nervos cranianos (10 glândula endócrina, o órgão pineal, é uma evaginação dor-
pares na condição dos vertebrados primitivos, 12 nos am- sal do diencéfalo. Sua função original era a de um fotorre-
niotas), que os cientistas designam por algarismos romanos. ceptor mediano. Muitos tetrápodes primitivos tinham uma
40 CAPÍTULO 2 Parentescos e Estrutura Básica dos Vertebrados

> Fi gu r a 2- 1 5 O encéfalo dos vertebrados.

Rombencéfalo Mesencéfalo Prosencéfalo

MIELENCÉFALO METENCEFALO DIENCÉFALO TELENCEFALO

Cerebelo I Teto I Pineal Córtex


j i

_ _ Ventrículo IV

Medula oblonga Pituitária Hipotálamo Bulbo olfatório

abertura no crânio, sobre a pineal, para admitir luz e esta cializados. Pensamos que estes dois sentidos estão intima-
condição ainda é vista hoje em dia em alguns lepidossauros mente interligados; por exemplo, nosso sentido do paladar
(tuatara e alguns lagartos). é mais fraco quando nosso sentido do olfato está bloqueado
A região mais rostral do prosencéfalo adulto, o telencé- por um resfriado. No entanto, os dois sentidos são, em ver-
falo, desenvolve-se em associação com as cápsulas olfató- dade, muito diferentes em suas inervações. O olfato é um
rias e coordena a entrada de impulsos de outras modalidades sentido sensorial somático - percebendo itens à distância,
sensoriais. Em diferentes grupos de vertebrados, o telen- sendo as sensações projetadas para o prosencéfalo. O pala-
céfalo torna-se maior de várias maneiras - na condição na dar é um sistema sensorial visceral - percebendo itens ao
qual também é conhecido como cérebro ou hemisférios contato direto e as sensações são inicialmente projetadas
cerebrais. Os tetrápodes desenvolvem uma área chamada para o rombencéfalo.
neocortex ou neopálio: nos mamíferos, esta região torna-se O campo receptor do olho dos vertebrados está disposto
o local primário de integração sensorial e controle nervoso. em uma camada hemisférica, a retina, que se origina como
Em um ramo diferente da linhagem evolutiva dos verte- uma evaginação do encéfalo. A retina contém dois tipos de
brados, nos peixes ósseos também evoluiu um telencéfalo células sensíveis à luz, cones e bastonetes, que se distinguem
maior e mais complexo - no entanto, por um mecanismo entre si pela morfologia, fotoquímica e conexões neurais.
completamente diferente (veja Capítulo 6). Tubarões e, talvez
A capacidade de perceber impulsos elétricos gerados
surpreendentemente, as feiticeiras também desenvolveram
pelos músculos de outros organismos também é uma forma
independentemente prosencéfalos relativamente grandes,
de recepção à distância, mas também estranha para a maio-
embora um cérebro grande seja primariamente uma caracte-
ria dos animais terrestres. A eletrorrecepção provavelmente
rística de tetrápodes.
foi um aspecto importante dos vertebrados primitivos e, hoje
Os Órgãos dos Sentidos Pensamos que os vertebrados em dia, ocorre primariamente em peixes. Relacionada com
têm cinco sentidos - paladar, tato, visão, olfato e audição - a eletrorrecepção está a capacidade de muitos peixes atuais
mas essa lista não reflete a condição primitiva nem todos os produzirem descargas elétricas para comunicação com outros
sentidos dos vertebrados viventes. Órgãos sensoriais multi- indivíduos ou para proteção de predadores (veja o Capítulo 4).
celulares complexos, formados a partir de placodes epidér- Originalmente, a orelha interna detectava a posição de
micos e sintonizados com os mundos sensoriais da espécie um animal no espaço e retém esta função até hoje tanto em
que os possui, é um caráter derivado de vertebrados. Agua e vertebrados aquáticos como terrestres. A orelha interna tam-
ar têm propriedades físicas diferentes, e os sistemas senso- bém é usada para ouvir (recepção de ondas sonoras) em te-
riais de vertebrados aquáticos e terrestres são corresponden- trápodes e em alguns peixes derivados (veja o Capítulo 6).
temente diferentes (veja Capítulos 4 e 8). As células sensoriais básicas da orelha interna são as célu-
Os sentidos do olfato e do paladar implicam, ambos, las ciliadas, mecanorreceptores que detectam o movimento
na detecção de moléculas dissolvidas por receptores espe- de um fluido, resultante de uma mudança de posição ou do
Resumo 41

impacto de ondas sonoras. No sistema da linha lateral de


peixes e anfíbios aquáticos, as células ciliadas agregam-se Canal semicircular Dueto
formando órgãos neuromastes que detectam o movimento caudal \ ^ endo linfático
de água em tomo do corpo (veja o Capítulo 4). Ampola , Canal semicircular
caudal rostral
A orelha interna contém o aparelho vestibular (tam- Ampola
bém conhecido como labirinto m embranoso) que inclui rostral
os órgãos de equilíbrio e, somente nos tetrápodes, a cóclea
Lagena
(o órgão auditivo). O aparelho vestibular está encerrado no Sáculo utrículo
interior da cápsula ótica do crânio e compreende uma série
de sacos e túbulos contendo um fluido, chamado endolinfa.
Ondas sonoras são transmitidas para a orelha interna, onde
criam ondas de compressão que passam através da endo-
linfa. Estas ondas estimulam as células vestibulares senso- CSC caudal Dueto endolinfático
riais que são variantes das células ciliadas básicas. CSC rostral
As partes inferiores do aparelho vestibular, o sáculo e o CSC horizontal
ufrículo, abrigam órgãos sensoriais chamados máculas que
contêm diminutos cristais de carbonato de cálcio apoiados
sobre as células ciliadas. As sensações das máculas contam Sáculo
ao animal o que está em cima e detectam aceleração linear. Utrículo
A parte dorsal do aparelho vestibular contém os canais se-
micirculares. Áreas sensoriais nas ampolas destes canais A Figura 2-16 Plano do aparelho vestibular em peixes.
detectam aceleração angular por meio de suas cristas, cé-
lulas ciliadas envoltas em uma substância gelatinosa, pelo
monitoramento do deslocamento da endolinfa durante o de um mensageiro químico (hormônio) que produz uma
movimento. Muitos peixes e anfíbios têm um dueto endolin- resposta nas células-alvo. O tempo necessário para uma res-
fatico que se abre para fora por um poro do lado da cabeça. posta endócrina varia de segundos até horas. Os hormônios
Os gnatostomados possuem três canais semicirculares em são produzidos em glândulas endócrinas distintas, cuja função
cada lado da cabeça, feiticeiras possuem somente um e as primária é a produção e liberação destas substâncias (p. ex., a
lampreias e agnatos fósseis possuem dois (Figura 2-16). pituitária, a tireóide, o timo e as adrenais) e por órgãos com
Freqüentemente deixamos de perceber, em nós mesmos, outras funções importantes no corpo - tais como as gôna-
a importância dos sentidos vestibulares uma vez que geral- das, os rins e o trato gastrointestinal.
mente dependemos da visão para determinar nossa posição. A tendência na evolução de glândulas endócrinas nos
No entanto, às vezes podemos ser enganados, como quando vertebrados tem sido a consolidação de um grupo espalhado
estamos sentados em um trem ou carro parado e pensar que
de células ou pequenos órgãos em peixes, formando órgãos
estamos nos movendo; em verdade, faltou um impulso de
maiores e melhor definidos nos amniotas. As secreções en-
nosso sistema vestibular para que percebêssemos que o veí-
dócrinas estão predominantemente envolvidas no controle e
culo perto do nosso é que está se movendo.
regulação do uso, do armazenamento e da liberação de ener-
O Sistema Endócrino O sistema endócrino transfere in- gia, bem como em alocar energia para funções especiais em
formação de uma parte do corpo para outra via liberação épocas críticas.

Resumo

Vertebrados são membros do filo Chordata, um grupo de Os Chordata geralmente distinguem-se de outros ani-
animais cujos outros membros, tunicados e cefalocordados mais pela presença de uma notocorda, de um tubo neural
(anfioxo) são bastante diferentes dos mais modernos verte- dorsal oco, de uma cauda pós-anal e de um endóstilo (glân-
brados, sendo pequenos, marinhos, lentos ou inteiramente dula tireóide). Os vertebrados parecem ser mais intimamente
sésseis como adultos. Os Chordata compartilham com muitos aparentados com os anfioxos (cefalocordados) entre os cor-
filos animais derivados os caracteres de serem bilateralmente dados não-vertebrados e a maioria das diferenças estruturais
simétricos, possuindo uma cabeça e extremidade caudal dis- e fisiológicas entre anfioxos e vertebrados primitivos parece
tintas. Evidências moleculares e embriológicas mostram que refletir uma modificação evolutiva para um tamanho maior
os cordados são relacionados com outros animais marinhos e do corpo, um maior nível de atividade e um salto da alimen-
sésseis, tais como equinodermos (estrelas-do-mar etc). tação por filtração para a predação.
42

Os vertebrados apresentam os caracteres peculiares de Um vertebrado adulto pode ser considerado como sis-
uma cabeça expandida, com órgãos sensoriais multicelulares temas interatuantes envolvidos em proteção, sustentação e
e um crânio encerrando um grande encéfalo tripartido. Os movimento, aquisição de energia, excreção, reprodução,
caracteres que distinguem os vertebrados de outros corda-
coordenação e integração. Estes sistemas sofreram profun-
dos parecem estar relacionados com duas inovações embrio-
das modificações funcionais e estruturais em diversos pon-
nárias críticas: uma duplicação do complexo do gene Hox e
o desenvolvimento do tecido da crista neural. As complexas tos-chave na evolução dos vertebrados. A transição mais
atividades de vertebrados são sustentadas por uma complexa importante é a da condição pré-vertebrada, como represen-
morfologia. Estudos da embriologia podem esclarecer como tada hoje pelo anfioxo, para a condição vertebrada apresen-
complexas estruturas são formadas e desenvolvidas. As cé- tada pelos agnatos viventes. Outras transições importantes,
lulas da crista neural, peculiares dos vertebrados, formam a serem consideradas em diversos capítulos, incluem a mo-
muitos dos caracteres derivados de vertebrados, especial- dificação de vertebrados agnatos para gnatostomados e dos
mente aqueles da nova porção rostral da cabeça. peixes para os tetrápodes.

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