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POLÍCIA MILITAR DE MINAS GERAIS

AJUDÂNCIA-GERAL

SEPARATA
DO
BGPM

Nº 99

BELO HORIZONTE, 30 DE DEZEMBRO DE 2014.

Para conhecimento da Polícia Militar de Minas


Gerais e devida execução, publica-se o
seguinte:
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Nossa profissão, sua vida.

BOLETIM TÉCNICO CONJUNTO Nº 01

Assunto:
Orientações para a elaboração do ato de sanção disciplinar

Belo Horizonte/MG
Dezembro de 2014
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GOVERNADOR DO ESTADO
Dr. Alberto Pinto Coelho

SECRETÁRIO DE DEFESA SOCIAL


Dr. Marco Antônio Rebelo Romanelli

COMANDANTE-GERAL DA PMMG
Cel PM Márcio Martins Sant’Ana

CHEFE DO ESTADO-MAIOR
Cel PM Divino Pereira de Brito

CORREGEDOR DA POLÍCIA MILITAR


Cel PM Renato Batista Carvalhais

DIRETOR DE RECURSOS HUMANOS


Cel PM Eduardo César Reis

REDAÇÃO
Ten Cel PM Peterson Rodrigo Brandão Silveira
Maj PM Vitor Flávio Lima Martins
Maj PM Wanderlúcio Ferraz dos Santos
Maj PM Cláudio Márcio Pogianelo
Maj PM Silma Regina Gomes da Rocha Oliveira
Cap PM Ivana Ferreira Quintão
Cap PM Maurício José de Oliveira
Cap PM Wesley Barbosa Rezende
Cap PM Luciana Ferreira André Rezende
Cap PM Sônia Rúbia de Matos Figueiredo
1° Ten PM Aires Fernando Moreira Simões
2° Ten PM Marcos Gonçalves Farias

REVISÃO FINAL
Ten Cel PM Jaqueline Rocha
Ten Cel PM Wagner Adriano Augusto
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1. INTRODUÇÃO

Os militares estaduais, inegavelmente, lidam com valores ímpares como a


vida, o patrimônio e a manutenção da ordem pública. Desempenham tarefas nas
quais a agilidade operacional, a força da palavra e o cumprimento estrito das ordens
são imprescindíveis ao desempenho da função.

Para o fiel cumprimento dessas atribuições funcionais, foram estabelecidas


normas disciplinares as quais orientam as condutas dos militares estaduais. Ao
infringir um dos artigos que tipificam as transgressões disciplinares, o policial militar,
incidirá, em tese, em uma conduta transgressiva, que será ou não validada, após o
devido processo administrativo.

Como corolário de seu poder disciplinar, a Instituição Militar Estadual tem o


dever de apurar as transgressões disciplinares praticadas por seus servidores, visto
que a hierarquia e a disciplina constituem a sua base institucional. Assim, aqueles
militares que deixarem de observar os preceitos éticos de sua carreira poderão vir a
sofrer uma sanção disciplinar.

Nesse contexto, há de ser ressaltado que a PMMG criou um ato


administrativo específico para a aplicação da sanção disciplinar, o qual se denomina
“ato de sanção disciplinar” (nomenclatura utilizada pelo anexo único da Instrução de
Recursos Humanos (IRH) n. 239, de 02 de agosto de 2002).

A IRH n. 239/02 da Diretoria de Recursos Humanos veio a estabelecer


importantes orientações para a elaboração de um ato de sanção disciplinar, todavia,
em virtude da sua vigência que perdura há mais de uma década sem qualquer tipo
de alteração em seu texto original, a mesma carece de um aperfeiçoamento
doutrinário.

Desta forma, o presente Boletim Técnico Conjunto tem por objetivo orientar os
operadores do Sistema de Recursos Humanos (SRH), auxiliares da pasta de Justiça
e Disciplina e aos Chefes de Seção de Recursos Humanos, a trabalharem de forma
mais detalhada e refinada em relação a escorreita elaboração do ato de sanção
disciplinar.
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2. ASPECTOS TEÓRICOS DA INDIVIDUALIZAÇÃO DA SANÇÃO DISCIPLINAR

2.1 A dosimetria da sanção disciplinar no Direito Administrativo Sancionador:

Um dos institutos oriundos do Direito Penal e que tem inteira aplicação no


Direito Administrativo Sancionador é a individualização da pena feita pelo sistema
trifásico. A Lei n. 14.310/02 também se utilizou do sistema trifásico para a
individualização da sanção disciplinar, sendo esta calculada em três fases, a saber:

2.1.1 Primeira fase- definição da pontuação-base:

Para cada transgressão disciplinar a autoridade aplicadora da sanção


disciplinar atribuirá pontos negativos dentro dos seguintes parâmetros:

a) para a transgressão leve: 5 pontos;

b) para a transgressão média: 15 pontos;

c) para a transgressão grave: 25 pontos.

A pontuação-base acima mencionada se encontra ancorada no artigo 18, §


1° do CEDM que in litteris:

Art. 18 – Para cada transgressão, a autoridade aplicadora da sanção atribuirá pontos


negativos dentro dos seguintes parâmetros:
I – de um a dez pontos para infração de natureza leve;
II – de onze a vinte pontos para infração de natureza média;
III – de vinte e um a trinta pontos para infração de natureza grave.
§ 1° – Para cada transgressão, a autoridade aplicadora tomará por base a seguinte
pontuação [...]:
I– cinco pontos para transgressão de natureza leve;
II– quinze pontos para transgressão de natureza média;
III– vinte e cinco pontos para transgressão de natureza grave ( grifo nosso).
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2.1.2 Segunda fase- a incidência das circunstâncias atenuantes (art. 20 do


CEDM) e das circunstâncias agravantes (art. 21 do CEDM):

Após a definição da pontuação base, incidirão sobre ela as circunstâncias


atenuantes do art. 20 e as circunstâncias agravantes do art. 21 do CEDM. Referida
determinação é oriunda da própria vontade da lei, que assim veio a disciplinar a
matéria: art. 18, “§ 2°- Com os pontos atribuídos, far-se-á a computação dos pontos
correspondentes às atenuantes e às agravantes, bem como da pontuação prevista
no art. 51, reclassificando-se a transgressão, se for o caso” (grifo nosso).

Necessário se faz ressaltar que para cada atenuante será atribuído um


ponto positivo na pontuação-base e para cada agravante será atribuído um ponto
negativo na pontuação-base. Citada orientação decorre do art. 17 do CEDM, que in
verbis: “Parágrafo único - A cada atenuante será atribuído um ponto positivo e a
cada agravante, um ponto negativo”.

Para se proceder um perfeito enquadramento das circunstâncias atenuantes


e agravantes na segunda etapa do sistema trifásico, devem ser considerados os
seguintes esclarecimentos:

a) prática simultânea ou conexão de transgressão disciplinar:

Havendo a prática simultânea ou conexão de duas ou mais transgressões,


será considerada para fins de sanção a mais grave, que absorverá a mais leve, que
passará a funcionar como circunstância agravante, consoante prevê o art. 21, II, do
CEDM.

b) reincidência:

A reincidência de transgressões, conforme disposto no art. 21, III, do CEDM,


deve ser entendida como a reincidência específica, sendo a repetição de falta,
sancionada ou não, considerando-se o mesmo inciso de um mesmo artigo do
CEDM.
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Neste instante, vale a pena ressaltar que a reincidência de transgressões do


art. 34, I, do CEDM é genérica, o que a difere do disposto no art. 21, III, do CEDM.

c) serviços relevantes:

Ter prestado serviços relevantes, verificados através dos registros


profissionais são as recompensas que não puderem ser computadas como
pontuação positiva para efeito de reclassificação da transgressão.

d) conluio de duas ou mais pessoas:

Combinação com o fim de cometer transgressão disciplinar, não sendo


necessário que a combinação seja expressa, isto é, se a atitude de alguém em face
do caso concreto é deduzida por fatos, haverá o conluio na forma tácita.

e) durante a execução do serviço:

Circunstância se origina do alto grau de disciplina e conduta irrepreensíveis


que se espera do militar, principalmente nessa situação, contudo, tal circunstância
será empregada quando não fizer parte da própria elementar do enquadramento
específico da transgressão.

f) estando fardado e em público:

Deve ser entendido como sendo externo, uma vez que nessa situação deve
o policial militar primar pela máxima correção e exemplo.

g) com induzimento de outrem à prática de transgressão mediante concurso


de pessoas:

Será levada em conta se o fato não constituir transgressão autônoma.

Por fim, há de se ressaltar que as diminuições ou aumentos decorrentes da


aplicação das circunstâncias atenuantes e agravantes são feitos sobre a pontuação-
base. Esta pontuação, diminuída ou aumentada, passará a se chamar de pontuação
alterada, passando-se então para a fase seguinte.
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2.1.3 Terceira fase- causas de especial diminuição da pontuação alterada:

Sobre a pontuação alterada, incidirão as causas de especial diminuição do


art. 51 do CEDM. A incidência de aplicação do referido dispositivo normativo decorre
do próprio art. 18, § 2°, do CEDM, que assim dispõe sobre o assunto: “Com os
pontos atribuídos, far-se-á a computação dos pontos correspondentes às atenuantes
e às agravantes, bem como da pontuação prevista no art. 51, reclassificando-se a
transgressão, se for o caso” (grifo nosso).

Há de se destacar que o CEDM não previu em seu corpo textual qualquer


causa de aumento especial da pontuação alterada. As causas de especial
diminuição da pontuação alterada se encontram devidamente previstas no art. 51 do
referido código, que in verbis:

Art. 51- As recompensas, regulamentadas em normas específicas, serão pontuadas


positivamente, conforme a natureza e as circunstâncias dos fatos que as originaram,
nos seguintes limites:
I – elogio individual: cinco pontos cada;
II – nota meritória: três pontos cada;
III – comendas concedidas pela instituição:
a) Alferes Tiradentes na Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG - ou equivalente
no Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais – CBMMG: três pontos;
b) Mérito Profissional: três pontos;
c) Mérito Militar: três pontos;
d) Guimarães Rosa na PMMG ou equivalente no CBMMG: três pontos.
§ 1°- A pontuação a que se refere este artigo tem validade por doze meses a partir da
data da concessão.
§ 2°- A concessão das recompensas de que trata o caput deste artigo será
fundamentada, ouvido o CEDMU.

Ao final da terceira fase obtém-se a pontuação final, que dependendo do seu


quantum poderá se conectar as seguintes sanções disciplinares do CEDM:

Artigo 22 – Obtido o somatório de pontos, serão aplicadas as seguintes sanções


disciplinares:
I – de um a quatro pontos, advertência;
II – de cinco a dez pontos, repreensão;
III – de onze a vinte pontos, prestação de serviço;
IV – de vinte e um a trinta pontos, suspensão.

Em decorrência do que foi explanado, pode-se afirmar que a mecânica


individualizadora da pena no Direito Criminal é muito semelhante à mecânica
individualizadora da sanção disciplinar no Direito Administrativo Sancionador, uma
vez que ambas se utilizam do sistema trifásico como base.
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3. VÍCIOS MAIS COMUNS DETECTADOS NO ATO DE SANÇÃO DISCIPLINAR:

3.1 A incidência do bis in idem em virtude do duplo enquadramento:

Para a aplicação da mecânica individualizadora da sanção disciplinar é


fundamental ter-se em conta uma regra básica: não se pode desvalorar duplamente
uma mesma circunstância, isto é, existe uma proibição de desvalorização plural de
circunstâncias.

Diante dessa proibição, pode-se afirmar que a valoração negativa realizada


na 1ª fase do sistema trifásico (definição da pontuação-base) inviabiliza nova
aplicação desta mesma circunstância na segunda fase (incidência das
circunstâncias agravantes).

As agravantes do art. 21 do CEDM só poderão ser aplicadas quando não


forem elementares do próprio tipo administrativo (artigos 13, 14 e 15 do referido
código), sob pena de se materializar a indesejável acumulação punitiva.

Visando ilustrar a vedação da dupla valoração de circunstâncias no sistema


trifásico, segue abaixo a seguinte decisão judicial:

RE n. 498.949 / MS STJ
Recurso Especial
Relator: Min. Felix Fischer
Julgamento: 12/08/2003 Órgão Julgador: Quinta Turma
Ementa: Penal. Recurso Especial. Concussão. CPM. Agravantes. Bis in idem.
As agravantes só podem ser aplicadas, em regra, quando não pertencem ao tipo
(básico ou derivado), sendo vedado o bis in idem.
Recurso provido (BRASIL, 2003, grifo nosso).

Exemplo administrativo clássico dessa valoração repetitiva de circunstâncias


é a permuta de serviço sem a prévia permissão da autoridade competente (tipo
administrativo constante no art. 15, VII, do CEDM). Essa permuta de serviço
somente pode ocorrer com a ingerência de duas ou mais pessoas. Neste caso, o
concurso de pessoas faz parte do próprio tipo administrativo, não se podendo, por
isso, aplicar ao caso hipotético a agravante “[...] conluio de duas ou mais pessoas
[...]” (agravante constante no art. 21, IV, do mesmo código).
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Outro exemplo de acumulação punitiva indevida é a execução de atividades


particulares durante a execução do serviço conforme art. 14, I, do CEDM: “[...]
executar atividades particulares durante o serviço [...]”. Essa transgressão somente
pode ocorrer com o militar transgressor que esteja de serviço. Neste caso, a
circunstância do militar de “estar em serviço” faz parte da própria elementar do tipo
administrativo, não se podendo, por isso, aplicar ao caso hipotético a agravante
“durante a execução do serviço” (art. 21, V, alínea “a”, do referido código) .

3.1.1 Situações hipotéticas que podem redundar em duplo enquadramento:

QUADRO 1
Tipos administrativos x agravantes que podem redundar em duplo enquadramento
(continua)

Tipos administrativos Agravantes Observações


Art. 13, I - “[...] praticar ato Art. 21, V, alínea “b”- “[...] O “[...] abuso de autoridade
atentatório à dignidade da com abuso de autoridade hierárquica ou funcional [...]” é meio
pessoa ou que ofenda os hierárquica ou funcional de execução da transgressão
princípios da cidadania e dos [...]”. disciplinar constante no art. 13, I,
direitos humanos, devidamente da Lei n. 14.310/02. A circunstância
comprovado em procedimento agravante integra o próprio tipo
apuratório [...]”. administrativo, não podendo a
mesma ser considerada como
desfavorável, sob pena do
transgressor ser sancionado
duplamente pelo mesmo fato.
Art. 13, VI “[...] apresentar-se Art. 21, V, alínea “a”- “[...] Inaplicabilidade das agravantes
com sinais de embriaguez durante a execução do “[...] durante a execução do serviço
alcoólica ou sob efeito de outra serviço [...]” e alínea “c”- [...]” e “[...] estando fardado e em
substância entorpecente, “[...] estando fardado e em público [...]”. Circunstâncias
estando em serviço, fardado, público [...]”. incorporadas ao tipo administrativo.
ou em situação que cause Referidas circunstâncias não
escândalo ou que ponha em podem agravar a pena,
perigo a segurança própria ou protagonizando-se indesejável bis
alheia [...]” (grifo nosso). in idem.

Art. 13, VIII- “[...] divulgar ou Art. 21, V, alínea “e”- “[...] A presente transgressão disciplinar
contribuir para a divulgação de com abuso de confiança somente pode ocorrer “[...] com
assunto de caráter sigiloso de inerente ao cargo ou abuso de confiança inerente ao
que tenha conhecimento em função”. cargo ou função”.
razão do cargo ou função” (grifo
Nesse caso, o abuso de confiança
nosso).
decorrente do cargo ou função faz
parte do próprio tipo administrativo,
não se podendo, por isso, aplicar a
agravante do art. 21, V, alínea “e”
da Lei n. 14.310/02.
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(continua)

Tipos administrativos Agravantes Observações


Art. 13, IX- “[...] utilizar-se de Art. 21, V, alínea “f”- “[...] Inaplicabilidade da agravante “[...]
recursos humanos ou logísticos por motivo egoístico ou por motivo egoístico ou para
do Estado ou sob sua para satisfazer interesse satisfazer interesse pessoal ou de
responsabilidade para pessoal ou de terceiros”. terceiros [...]”.
satisfazer a interesses pes-
Circunstância incorporada ao tipo
soais ou de terceiros [...]” (grifo
administrativo. Não pode referida
nosso).
circunstância agravar a pena,
protagonizando-se indesejável bis
in idem.

Art. 13, XV- “[...] dormir em Art. 21, V, alínea “a”- “[...] Inaplicabilidade da agravante “[...]
serviço [...]” (grifo nosso). durante a execução do durante a execução do serviço [...]”.
serviço [...]”.
Circunstância incorporada ao tipo
administrativo. Não pode referida
circunstância agravar a pena,
protagonizando-se indesejável bis
in idem.

Art. 13, XVIII- “[...] induzir ou Art. 21, V, alínea “h”- “[...] A presente transgressão disciplinar
instigar alguém a prestar com o fim de obstruir ou somente pode ocorrer com a
declaração falsa em procedi- dificultar a apuração finalidade de “[...] obstruir ou
mento penal, civil ou admi- administrativa, policial ou dificultar a apuração administrativa,
nistrativo ou ameaçá-lo para judicial, ou esclarecimento policial ou judicial, ou
que o faça [...]”. da verdade”. esclarecimento da verdade”. Nesse
caso, a circunstância agravante
nada mais é do que o mero dolo
em cometer a transgressão (vale
lembrar que o dolo é elemento
nuclear do tipo subjetivo).

Art. 14, I- “[...] executar Art. 21, V, alínea “a”- “[...] Inaplicabilidade da agravante “[...]
atividades particulares durante durante a execução do durante a execução do serviço [...]”.
o serviço [...]” (grifo nosso). serviço [...]”.
Circunstância incorporada ao tipo
administrativo. Não pode referida
circunstância agravar a pena,
protagonizando-se indesejável bis
in idem.

Art. 14, VII- “[...] faltar com a Art. 21, V, alínea “h”- “[...] A presente transgressão disciplinar
verdade, na condição de com o fim de obstruir ou somente pode ocorrer com a
testemunha, ou omitir fato do dificultar a apuração finalidade de “[...] obstruir ou
qual tenha conhecimento, administrativa, policial ou dificultar a apuração administrativa,
assegurado o exercício judicial, ou esclarecimento policial ou judicial, ou
constitucional da ampla da verdade [...]”. esclarecimento da verdade [...]”.
defesa”.
Nesse caso, a circunstância
agravante nada mais é do que o
mero dolo em cometer a
transgressão (lembramos apenas
que o dolo é o elemento nuclear
do tipo subjetivo).
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(conclusão)

Tipos administrativos Agravantes Observações


Art. 14, XVIII- “[...] não portar Art. 21, V, alínea “a”- “[...] Inaplicabilidade das agravantes
etiqueta de identificação durante a execução do “[...] durante a execução do serviço
quando em serviço, salvo se serviço [...]”. [...]” e “[...] estando fardado e em
previamente autorizado, em público [...]”.
operações policiais específicas Circunstâncias incorporadas ao tipo
[...]” (grifo nosso). administrativo. Não pode referidas
circunstâncias agravar a pena,
protagonizando-se indesejável bis
in idem.
Art. 15, VII- “[...] permutar Art. 21, IV- “[...] conluio de O concurso de pessoas faz parte do
serviço sem permissão da duas ou mais pessoas [...]”. próprio tipo administrativo, não se
autoridade competente [...]”. podendo, por isso, aplicar à agravante
“[...] conluio de duas ou mais pessoas
[...]”.

Fonte: MINAS GERAIS. Lei Estadual 14.310 de 19 de junho de 2002. Dispõe sobre o Código de Ética e Disciplina dos
Militares do Estado de Minas Gerais.
Nota: Elaborado pelos autores.

3.2 Autoridade incompetente:

A competência para se aplicar a sanção disciplinar está disposta no art. 45


do CEDM, sendo atribuição inerente ao cargo e não ao grau hierárquico, podendo
existir casos em que há substituição do comando da Unidade por motivos diversos.

Assim, para que os atos daquele que responde pelo Comando, mesmo
temporariamente, tenham validade, é necessário que essa designação temporária
seja devidamente registrada com sua publicação em Boletim Interno ou BGPM, sob
pena de todos os atos serem inválidos por falta de pressuposto legal, ou seja,
competência.

3.3 Ausência de motivação do ato administrativo:

A motivação é um princípio do direito administrativo que consiste na


exposição dos elementos que ensejaram a prática do ato administrativo, mais
especificamente com a indicação de seus pressupostos fáticos e jurídicos, bem
como a justificação do processo de tomada de decisão.

Neste sentido, é necessário que a motivação, de acordo com os parâmetros


do direito administrativo, seja escrita no Ato de Sanção, ainda que de maneira
sucinta em conformidade com o que fora exposto pela Autoridade sancionadora no
Ato de Solução, tendo em vista que integra a formalização do ato.
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3.4 Falta de citação dos dispositivos normativos no ato de sanção disciplinar:

Os incisos constantes do artigo 2º da IRH 239/02 evidenciam que na


formação do ato de sanção disciplinar são imprescindíveis a definição do artigo que
é o tipo da transgressão disciplinar cometida, a indicação de atenuantes e
agravantes e as recompensas concedidas ao militar na vigência da Lei 14.310/02,
desde que há menos de doze meses do cometimento da falta disciplinar, ainda não
utilizadas para o fim de compensação na totalidade de pontos atribuídos.

Além disso, necessária se faz a verificação de saldo de pontos decorrentes


de enquadramentos anteriores, em razão de comendas ou recompensas já
utilizadas parcialmente para a compensação de pontos, dentro do limite de prazo
estabelecido no art. 51, § 1º do CEDM. Nos casos em que o saldo do militar for
positivo, ocasionando a não efetivação da perda de pontos e interferência no
conceito, no ato deverá estar caracterizada a situação da ocorrência da não punição,
devendo haver sua publicação normal em Boletim Reservado.

Outro aspecto importante a ser observado durante a confecção do


enquadramento diz respeito a necessidade de serem lançadas as atenuantes e
agravantes de maneira clara e precisa. O caso mais comum refere-se às atenuantes
previstas no art. 20, inciso V, do CEDM, já que o dispositivo contempla quatro
alíneas específicas, cujas incidências devem ser detalhadas expressamente no ato
sancionatório diante de cada caso concreto.

No mesmo sentido, temos as agravantes previstas no art. 21, inciso V, do


mesmo diploma legal, cuja ausência da alínea específica, descrita expressamente
no ato, poderá causar prejuízo ou arguições de cerceamento de defesa.

3.5 Falta de definição do quantum da suspensão ou da prestação de serviço:

No ato de sanção disciplinar de prestação de serviço ou suspensão,


respectivamente, deve ser observada a obrigatoriedade de o Comandante da
Unidade, manuscrever a quantidade de horas a trabalhar ou os dias de suspensão,
observados os limites constantes do art. 30 e do parágrafo único do art. 31, ambos
os dispositivos do CEDM.
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3.6 Aplicação excessiva de suspensão em um único mês:

O art. 31 do CEDM dita que o militar poderá ficar suspenso de suas


atividades laborativas por até 10 dias, isto quando incorrer na prática de uma única
transgressão disciplinar. O inciso I do mesmo dispositivo ainda reforça que os dias
de suspensão não serão remunerados.

Neste espeque, imaginemos um policial militar que venha a cometer 03


transgressões disciplinares, o que redundou em 30 dias de suspensão (10 dias de
suspensão para cada transgressão disciplinar).

Caso o operador do Sistema Informatizado de Recursos Humanos lance os


30 dias de suspensão em um único mês, o servidor apenado ficará sem receber o
seu vencimento mensal no referido período.

Visando garantir que a sanção administrativa não tenha o condão de


ultrapassar a fronteira do apenado / familiares do apenado (art. 5º, XLV da CR/88),
recomendamos que o lançamento no Sistema Informatizado de Recursos Humanos
não ultrapasse a quantidade de 10 dias de suspensão por mês.

3.7 Falta de citação da data da transgressão disciplinar:

A Unidade deverá observar o descrito no art. 7º da IRH n. 239/02 da


Diretoria de Recursos Humanos, a respeito da data a ser considerada como
referência para os cálculos da planilha. É imprescindível para o processo a definição
da data de acontecimento dos fatos, ou seja, da prática da conduta transgressiva.

A importância da data a ser lançada no enquadramento e posteriormente no


SIRH deve-se ao fato de que a prescrição da pretensão punitiva ocorre após 02
(dois) anos da prática do fato definido como transgressão disciplinar, nos termos do
art. 508, I, do MAPPA.

Muitas Unidades não estão observando a data correta da prática da conduta


e estão lançando equivocadamente, tanto no ato disciplinar como no SIRH, a data
da comunicação disciplinar, a data da solução do procedimento pelo Comandante da
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Unidade, ou outra referência, o que compromete o marco de contagem inicial da


prescrição.

Os aspectos que envolvem a prescrição da ação disciplinar, que tem como


um dos marcos iniciais a data da prática da conduta transgressiva e como marco
final a data da ativação da sanção, assim demandam um acompanhamento diário
por parte dos operadores do SIRH.

Caso se tenha apenas o ano da prática da transgressão disciplinar, deverá


ser lançado no SIRH o primeiro dia do referido ano. No mesmo sentido, caso se
tenha apenas o mês da transgressão disciplinar, deverá ser lançado no SIRH o
primeiro dia do referido mês (com a citação do ano).

Há de se ressaltar que esta última orientação é mais benéfica para o militar,


uma vez que, não raras vezes, os encarregados dos procedimentos administrativos
não conseguem levantar com precisão a data do cometimento da transgressão
disciplinar.

3.8 Ausência de publicação do ato administrativo:

Importante salientar que o ato de solução do Comandante da Unidade, bem


como o ato de sanção disciplinar devem estar devidamente publicados, sendo o
último em BIR, necessariamente, salvo se houver determinação da autoridade, com
parecer prévio do CEDMU, sobre a publicação ostensiva da transgressão, com o fito
de fortalecer a disciplina e hierarquia militares conforme dispõe o art. 25 da Lei
Estadual n. 14.310/02.

A publicação do ato de sanção deve ser imediata a assinatura do ato pela


autoridade competente para que sua postergação não traga nenhum prejuízo à parte
em relação aos cálculos da planilha de enquadramento.

3.9 Ausência de notificação do militar no ato de sanção disciplinar:

A notificação do ato ao militar transgressor somente é válida se o ato já tiver


sido publicado, ou seja, apto a produzir seus efeitos, nos termos do § 1º do art. 473
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do MAPPA. Embora o art. 546 do MAPPA autorize a notificação por outros meios,
além dos previstos na norma, desde que haja a devida comprovação da ciência ao
interessado, importante ressaltar que a regra é a notificação pessoal do sancionado,
conforme dispõe o art. 25 da Lei Estadual n. 14.310/02.

Deve-se observar, ainda, a oportunidade em razão do tempo e da


conveniência para as notificações. Exemplificando, para a notificação de reuniões de
CEDMU, audições em processos e procedimentos administrativos, a norma regula o
prazo.
Qualquer que seja o resultado da sanção, sendo aplicada ou não, a SRH
deverá colher o ciente do militar, na frente e no verso do enquadramento disciplinar,
podendo lhe fornecer segunda via.

No caso do CEDMU, o prazo de notificação é de 48 (quarenta e oito) horas


antes da reunião. Muitos CEDMU, no entanto, fazem a notificação por dia,
desconsiderando as horas decorridas, tratando-se de irregularidade. Em se
demonstrando o prejuízo, poderá haver a anulação da ata, com marcação de novo
prazo, o que enseja em mais tempo no processo, e o atraso consequente das outras
fases, podendo se chegar à prescrição.

Em regra, as notificações com a comprovação da leitura devem sempre


estar presentes no processo, salvo se houver prova do comparecimento do militar.

3.10 Inobservância do efeito suspensivo no recurso disciplinar:

Com a vigência do MAPPA, o art. 10, I da Instrução de Recursos Humanos


n. 254/02 que estabelece orientações sobre alterações nos sistema SMAB/SIRH,
face à Lei 14.310, de 19 de junho de 2002, deve ser entendido de forma diferente,
pois o trânsito em julgado nos dois recursos ocorrerá apenas em relação aos
processos cujos recursos disciplinares tenham sido interpostos ainda com base na
Resolução 3666/02 (MAPPAD), ou seja, até 31Ago12.

Os processos cujos recursos em 1ª instância foram interpostos a partir de


01Set12 terão efeito suspensivo somente em 1ª instância, não coincidindo com seu
trânsito e julgado.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 16 - )

3.11 Inobservância do art. 87 do CEDM:

A sanção disciplinar deverá ser ativada no SIRH de imediato, isto no caso


em que o militar venha a interpor o recurso disciplinar após o prazo estabelecido no
art. 60 do CEDM (intempestivo).

Neste caso, a autoridade a quo- autoridade que aplicou a sanção disciplinar-


deverá encaminhar o recurso interposto à autoridade ad quem- autoridade
competente para analisar e decidir o recurso disciplinar- com a sanção disciplinar já
ativada no SIRH (o que muitas vezes não tem sido observado pelas Unidades da
Corporação), explicitando no ofício de remessa acerca da intempestividade
constatada e certificando sobre a ativação.

3.12 Ativação irregular de algumas sanções disciplinares:

Após a vigência do MAPPA houve alguns incidentes por parte das SRH de
Unidades que ativaram sanções disciplinares de militares que tinham direito ao
segundo recurso disciplinar com efeito suspensivo, apesar do texto expresso no
sentido de observar a transição das regras do MAPPAD para o MAPPA.

Para maior controle da Fração e assessoramento a estas Unidades técnicas


(CPM/DRH), as Frações devem ter cautela com o processo e carimbar no ato de
sanção a data da ativação, bem como sua publicação e ciência do militar. Além de
se demarcar as etapas realizadas pela Administração Militar (SRH), o ofício da
autoridade a quo deve esclarecer sobre a presença ou não de pressupostos de
admissibilidade, inclusive sobre questões regionais que possam influenciar na
tempestividade do recurso.

Conforme o texto do Memorando n. 10.453/12 – EMPM que estabeleceu


orientações sobre a ativação das sanções disciplinares inativas no Sistema
Informatizado de Recursos Humanos, a Unidade deve ativar as sanções
disciplinares imediatamente ao tomar conhecimento do despacho administrativo da
autoridade competente em decidir o recurso disciplinar, para que não ocorra a
prescrição da pretensão punitiva quando estiver terminado o efeito suspensivo,
notificando simultaneamente o militar sancionado.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 17 - )

Noutro giro, tem sido verificado que as Unidades não adotam procedimento
uníssono quanto à ativação das sanções quando da verificação da ausência de um
dos pressupostos de admissibilidade (tempestividade). O art. 87 do CEDM dispõe
que “a não interposição do recurso disciplinar no momento oportuno implicará
aceitação da sanção, que se tornará definitiva”.

Para que a peça recursal seja apta a produzir seus efeitos, inclusive
referente à retratação da autoridade sancionadora, deverá possuir todos os
pressupostos de admissibilidade previstos no art. 472 do MAPPA, quais sejam a
tempestividade, a legitimidade para recorrer, o interesse recursal e o cabimento.

Importante salientar que o recurso deverá ser apresentado nos termos


previstos no art. 61, I e II do CEDM, atendidos os pressupostos de admissibilidade já
citados. Desta forma, sendo intempestivo o recurso interposto, a autoridade não fará
análise de mérito, devendo ativar a sanção disciplinar, encaminhando os autos para
apreciação da autoridade superior para resposta formal ao recorrente.

3.13 Inobservância das orientações sobre a cientificação do conceito “C”:

Após o trânsito em julgado da transgressão disciplinar cometida, caso o


militar ingresse no conceito C, será advertido de sua submissão ao Processo
Administrativo Disciplinar (PAD).

É muito importante reforçar esta orientação, uma vez que o art. 326, §§ 4° e
5° do MAPPA tem sido frequentemente desrespeitado.

3.14 Irregularidades envolvendo a aplicação do art. 10 do CEDM:

Foi realizado pela CPM e pela DRH, um diagnóstico sobre os tipos de


transgressões disciplinares mais cometidos pelas Unidades Operacionais e
Administrativas no ano de 2012, sendo constatado que de um total de 5.000 (cinco
mil) transgressões cometidas, cerca de 2.000 (duas mil) foram substituídas pelo
benefício constante do art. 10 do CEDM.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 18 - )

Não obstante o caráter discricionário de sua aplicação pela autoridade


sancionadora, para que tal situação não seja banalizada e tenha repercussão
negativa, principalmente para os militares que nunca cometeram transgressões
disciplinares, é necessário que os aspectos elencados no art. 1º da Instrução de
Recursos Humanos n. 260/03 que estabelece orientações sobre aplicação do artigo
10 da Lei 14.310, de 19 de junho de 2002 (Aconselhamento Verbal ou Advertência
Verbal Pessoal) e esclarece sobre lançamento de dados nos sistemas SMAB/SIRH,
sejam observados, quais sejam: análise meticulosa das circunstâncias em que o fato
ocorreu, levantamento de dados funcionais do servidor, a serem considerados no
julgamento, além da fundamentação e motivação do ato administrativo a ser
expedido.

Conforme o art. 6º da IRH 260/03, a aplicação tanto do Aconselhamento


Verbal quanto da Advertência Verbal Pessoal, operam os mesmos efeitos
administrativos constantes do artigo 8º inciso III da IRH n. 254, de 21Out02, no que
se refere ao instituto da reincidência, disposto no art. 21, III do CEDM e ao
cancelamento de punições, nos termos do artigo 94 do CEDM.

Em relação à reincidência, vale ressaltar que este instituto ocorre em razão


da comprovação da transgressão disciplinar cometida, ainda que a sanção seja
substituída ou não seja concretizada por ocasião do somatório de pontos,
considerando que no caso da aplicação do benefício do art. 10 do CEDM, não há
modificação da situação disciplinar, mas há prova do cometimento da conduta
definida como antiética.

A sua aplicação, também, deve ser orientada por situações que importem
em não concessão por vezes reiteradas a um mesmo militar, haja vista estar
atrelada a verificação dos dados funcionais do servidor e o cometimento de várias
transgressões disciplinares implica em não merecimento do benefício.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 19 - )

3.15 Enquadramento disciplinar no art. 13, XX, do CEDM (quando se tratar de


descumprimento de ordem judicial que determinou a prestação de serviço em
desfavor de militar que se encontra sub judice):
O descumprimento de uma escala de serviço, por si só, não é meio hábil
para ensejar a desconsideração sobre a origem desta obrigação laborativa (que não
raras vezes é de origem judicial, oportunidade em que a prestação de serviço é
aplicada como pena restritiva de direito, ou como circunstância condicionante de
concessão do sursis ou da própria transação penal).

Neste viés, não podemos deixar de mencionar que o fato jurídico principal é
a decisão judicial, sem a qual o fato jurídico acessório (fixação de obrigação
laborativa) não existiria. À luz dessas considerações, temos a convicção de que o
brocardo jurídico “o acessório segue o principal” não fica restrito ao campo teórico,
uma vez que na prática é inadmissível a assertiva de que “o principal segue o
acessório”.

Com essas considerações, não restam dúvidas de que o enquadramento


disciplinar deverá estar ancorado na violação do fato jurídico principal
(descumprimento de ordem / art. 14, III, do CEDM), e não no fato jurídico acessório
(faltar o serviço / art. 13, XX, do CEDM).

Por fim, outra situação relevante que corrobora com o enquadramento no


art. 14, III, do CEDM, é o fato de que estes tipos de decisões judiciais resultam em
escalas de serviços extras, que são cumpridas pelo militar em seu horário de
descanso ou folga (não sendo, inclusive, contabilizadas para fins de carga horária de
trabalho semanal). Em razão deste caráter extra da escala de serviço, não nos
parece razoável a aplicação do art. 25, § 1°, do CEDM.

Outro desdobramento administrativo que deve ser adotado nessa situação é


a comunicação ao juiz competente de que o militar descumpriu decisão judicial (o
que poderá redundar na cassação dos benefícios judiciais que foram concedidos
neste período de provas).

Esse mesmo entendimento deve ser considerado no descumprimento de


prestação de serviço decorrente de sanção disciplinar.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 20 - )

4. ORIENTAÇÃO TÉCNICA

Orientamos aos Comandantes, Diretores e Chefes, em todos os níveis, que


procedam à ampla divulgação do presente documento, sobretudo com relação ao
cumprimento das orientações técnicas contidas nos itens 2 e 3 do presente Boletim
Técnico Conjunto.

A escorreita orientação aos militares diretamente envolvidos na


confecção/elaboração do ato de sanção disciplinar, por certo uniformiza
procedimentos e impede a proliferação de vícios, mormente àqueles capazes de
gerar nulidades do feito, o que contribui para a efetiva solução do processo e para a
consecução da justiça.

Salienta-se, por oportuno, que este Boletim não tem por objetivo revogar as
orientações contidas na IRH n. 239/02 – DRH e nas demais normas que já dispõem
sobre a matéria, mas apenas e tão somente aclará-las, isto em face do surgimento
de modernas doutrinas do Direito Administrativo Sancionador que abrangem o ato
de sanção disciplinar.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 21 - )

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, 2010. Disponível em
<http://www.senado.gov.br/legislacao/const/con1988/CON1988_13.07.2010/art_144
_.shtm.> Acesso em: 7 abr. 2011.

______. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial 498.949/MS (2002/0166420-


1), 5ª Turma. Penal. Recurso especial. Disponível em: <https://ww2.stj.jus
.br/revistaeletronica/Abre_Documento.asp?sSeq=419676&sReg=200201664201 &
Data =20030915&formato=PDF>. Acesso em: 10 fev. 2013.

CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 16 ed.


rev. ampl. atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

MINAS GERAIS. Lei Estadual n. 14.310, de 19 de junho de 2002. Dispõe sobre o


Código de Ética e Disciplina dos Militares do Estado de Minas Gerais.

______. Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar. Comando Geral. Manual de


Processos e Processos Administrativos das Instituições Militares de Minas Gerais
(MAPPA PM/BM). Belo Horizonte:PMMG/CBMMG – Comando-Geral, 2012.

______. Polícia Militar de. Estado Maior. Memorando n. 10.453/12 – EMPM. Belo
Horizonte, 2012.

______. Polícia Militar de. Diretoria de Recursos Humanos. Instrução de Recursos


Humanos 239, primeira edição. Belo Horizonte, 2002.

______. Polícia Militar de. Diretoria de Recursos Humanos. Instrução de Recursos


Humanos 254, primeira edição. Belo Horizonte, 2002.

______. Polícia Militar de. Diretoria de Recursos Humanos. Instrução de Recursos


Humanos 260, primeira edição. Belo Horizonte, 2003.

OLIVEIRA, Silma Regina Gomes da Rocha. Reformatio in pejus nos atos de sanção
disciplinar na Polícia Militar de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2011.

QUINTÃO, Ivana Ferreira Quintão. Efeitos do sobrestamento no prazo prescricional


nos processos e procedimentos administrativos disciplinares da PMMG. Belo
Horizonte, 2012.

REZENDE, Luciana Ferreira André. A incidência do bis in idem no ato de sanção


disciplinar. Belo Horizonte, 2013.

Belo Horizonte, 23 de dezembro de 2014.

(a) Cel PM Renato Batista Carvalhais (a) Eduardo César Reis, Cel PM
Corregedor da Polícia Militar Diretor de Recursos Humanos
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 22 - )

Nossa profissão, sua vida.

BOLETIM TÉCNICO INFORMATIZADO Nº 09

Assunto:
Indicadores de resolutividade
dos processos administrativos disciplinares

Belo Horizonte/MG
Dezembro de 2014
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 23 - )

GOVERNADOR DO ESTADO
Dr. Alberto Pinto Coelho

SECRETÁRIO DE DEFESA SOCIAL


Dr. Marco Antônio Rebelo Romanelli

COMANDANTE-GERAL DA PMMG
Cel PM Márcio Martins Sant’Ana

CHEFE DO ESTADO-MAIOR
Cel PM Divino Pereira de Brito

DIRETOR DE RECURSOS HUMANOS


Cel PM Eduardo César Reis

REDAÇÃO
Maj PM Vitor Flávio Lima Martins
Maj PM Cláudio Márcio Pogianelo
Maj PM Silma Regina Gomes da Rocha Oliveira
Cap PM Ivana Ferreira Quintão
Cap PM Wesley Barbosa Rezende
Cap PM Sônia Rúbia de Matos Figueiredo
1° Ten PM Aires Fernando Moreira Simões
2° Ten PM Marcos Gonçalves Farias
2° Ten PM Jorge Araújo de Alcântara
Sub Ten PM Tarciso Bento da Costa

REVISÃO FINAL
Ten Cel PM Jaqueline Rocha
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 24 - )

1. INTRODUÇÃO

O dever da boa administração ganhou relevância jurídica com a Emenda


Constitucional n. 19, de 04 de junho de 1998, que veio a inserir o princípio da
eficiência entre os princípios constitucionais da Administração Pública, isto conforme
se vê no próprio art. 37, caput, da Constituição da República Federativa do Brasil
(CRFB) de 1988.

Esta inovação trazida pela Emenda Constitucional de 1998 encontra-se


voltada para a qualidade dos serviços públicos prestados, de maneira tal que a
Administração Pública possa alcançar excelentes resultados com os recursos
despendidos. Exige-se assim que a atividade administrativa seja exercida com
rendimento funcional, visto que sua legitimação está diretamente relacionada ao
resultado positivo a ser obtido.

Em virtude do dever de eficiência, a Administração Pública Militar passou a


ter em mira o tempo de duração de seus processos administrativos disciplinares.
Neste contexto, surgem os indicadores de resolutividade dos processos
administrativos disciplinares.

A resolutividade dos processos administrativos disciplinares consiste na


capacidade da Instituição Militar Estadual em monitorar as habilidades de seus
servidores em gerar respostas correcionais, em menor tempo e com a melhor
qualidade possível.

Desta forma, o presente Boletim Técnico Informatizado tem por objetivo a


incrementação de indicadores que visam o fortalecimento da hierarquia e disciplina,
haja vista que a Instituição Militar Estadual tem o dever institucional de apurar as
transgressões disciplinares praticadas por seus servidores em momento oportuno e
adequado.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 25 - )

2. INDICADORES DE RESOLUTIVIDADE DOS PROCESSOS ADMINISTRATIVOS


DISCIPLINARES

2.1 Resolutividade de Processos Demissionais (RPD):

Na busca contínua por uma gestão mais eficiente de gerenciamento de


recursos humanos e com vistas a cumprir os objetivos que foram delineados no
Plano Estratégico- 2012/2015, a DRH criou o indicador de Resolutividade de
Processos Demissionais.

O Indicador consiste na utilização de uma formula capaz de monitorar o


lapso temporal de duração dos processos demissionários, levando-se em
consideração o Tempo de Referência de Solução Processual e o Tempo Ideal para
a Solução Processual.

2.1.1 Fórmula de cálculo:

RPD = Tempo de Referência de Solução Processual


60

O Tempo de Referência de Solução Processual é a diferença em meses da


data do fato irregular, em tese praticado, e a data da publicação da solução do
Processo Administrativo-Disciplinar instaurado nos termos dos artigos 34 e 64 da Lei
n. 14.310/02.

A parcela divisora (60) representa o prazo prescricional dos processos


administrativos demissionais (60 meses), sendo, portanto, um número invariável na
fórmula do cálculo.

2.1.2 Cálculo de desempenho:

O índice de cumprimento da meta seguirá o seguinte farol:

≤ 0,40 - VERDE
≤ 0,60 - AMARELO
> 0,60 - VERMELHO
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 26 - )

2.1.3 Polaridade:

Menor melhor.

2.2 Resolutividade de Processos não Demissionais (RPnD):

O Indicador consiste na utilização de uma formula capaz de monitorar o


lapso temporal de duração dos processos não demissionários, levando-se em
consideração o Tempo de Referência de Solução Processual e o Tempo Ideal para
a Solução Processual.

2.2.1 Fórmula de cálculo:

RPnD = Tempo de Referência de Solução Processual


24

O Tempo de Referência de Solução Processual é a diferença em meses da


data do fato irregular, em tese praticado, e a data da publicação da solução do
Processo Administrativo Acusatório de caráter não demissionário (o que afasta o
RIP e outros processos administrativos inquisitórios).

A parcela divisora (24) representa o prazo prescricional dos processos


administrativos não demissionais (24 meses), sendo, portanto, um número invariável
na fórmula do cálculo.

2.2.2 Cálculo de desempenho:

O índice de cumprimento da meta seguirá o seguinte farol:

≤ 0,50 - VERDE
≤ 0,75 - AMARELO
> 0,75 - VERMELHO
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 27 - )

2.2.3 Polaridade:

Menor melhor.

3. MEDIDAS ADMINISTRATIVAS NECESSÁRIAS PARA A IMPLEMENTAÇÃO


DOS INDICADORES

3.1 Resolutividade de Processos Demissionais (RPD):

Para facilitar o controle da Resolutividade dos Processos Demissionais foi


desenvolvida uma planilha que calcula automaticamente o desempenho das
Unidades após o lançamento de algumas informações relativas aos processos que
se encontram solucionados nas respectivas circunscrições administrativas (isto
conforme se depreende do anexo A).

O cálculo do desempenho do indicador será acompanhado anualmente,


contudo, para fins de controle do prazo prescricional dos processos demissionais, os
Chefes das Seções de Recursos Humanos das Regiões/Diretorias deverão
encaminhar a DRH.1 (até o primeiro dia útil do mês de janeiro de cada ano) o
indicador dos processos demissionários referente ao ano anterior.

Dúvidas e sugestões do referido indicador poderão ser encaminhados, via


painel administrativo, na caixa de entrada da DRH.1 (“Drh-1/s Just Discipl-proc
Demiss”).

3.2 Resolutividade de Processos não Demissionais (RPnD):

Para facilitar o controle da Resolutividade dos Processos não Demissionais


foi desenvolvida uma planilha que calcula automaticamente o desempenho das
Unidades após o lançamento de algumas informações relativas aos processos que
se encontram solucionados nas respectivas circunscrições administrativas (isto
conforme se depreende do anexo B).
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 28 - )

O cálculo do desempenho do indicador será acompanhado semestralmente,


contudo, para fins de controle do prazo prescricional dos processos não
demissionais, os Chefes das Seções de Recursos Humanos das Regiões/Diretorias
deverão encaminhar a DRH.7 o indicador dos processos não demissionários em
dois momentos.

O primeiro momento alcançará os meses de janeiro a junho, oportunidade


em que as Regiões/Diretorias encaminharão a DRH.7 as planilhas preenchidas até o
primeiro dia útil do mês de julho de cada ano. O segundo momento alcançará os
meses de julho a dezembro, oportunidade em que as Regiões/Diretorias
encaminharão à DRH.7 as planilhas preenchidas até o primeiro dia útil do mês de
janeiro do ano seguinte.

Dúvidas e sugestões do referido indicador poderão ser encaminhados, via


painel administrativo, na caixa de entrada da DRH.7 (“Drh7/ S Just e Disc,”).

4. ORIENTAÇÃO TÉCNICA

Orientamos aos Comandantes e Diretores, em todos os níveis, que


procedam à ampla divulgação do presente documento, sobretudo com relação ao
cumprimento das orientações técnicas contidas nos itens 2 e 3 do presente Boletim
Técnico Informatizado.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 29 - )

ANEXO A

PLANILHA DE CONTROLE DOS PROCESSOS DEMISSIONAIS

IDENTIFICAÇÃO DATA DO FATO DATA DA INDICE DE FAROL


DA PORTARIA PUBLICAÇÃO DA RESOLUTIVIDADE
SOLUÇÃO




Fonte: Regiões/Diretorias

Observações:

1) A planilha preenchida deverá ser encaminhada diretamente à DRH.1, no primeiro dia útil
de janeiro de cada ano (a mensuração do indicador é anual, e abrangerá o ano anterior);
2) Na identificação da portaria, deverão ser lançados os seguintes dados: a) número da
portaria; b) ano;
3) Tanto a data do fato quanto a data da publicação da solução serão lançados por meio de
números inteiros;
4) O índice de resolutividade será calculado automaticamente, isto após as
Regiões/Diretorias alimentarem os outros dados da planilha.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 30 - )

ANEXO B

PLANILHA DE CONTROLE DOS PROCESSOS NÃO DEMISSIONAIS

IDENTIFICAÇÃO DA DATA DO FATO DATA DA INDICE DE FAROL


PORTARIA/DESPACHO PUBLICAÇÃO DA RESOLUTIVIDADE
SOLUÇÃO




Fonte: Regiões/Diretorias

Observações:

1) A planilha de controle dos processos não demissionais é semestral;

2) A planilha preenchida deverá ser encaminhada diretamente à DRH.7 no primeiro dia útil
de julho do ano (com os dados correspondentes aos meses de janeiro a junho do ano
corrente) e no primeiro dia útil de janeiro de cada ano (os dados correspondentes ao meses
de julho a dezembro do ano anterior);
2) Na identificação da portaria/despacho, deverão ser lançados os seguintes dados: a)
número da portaria/despacho; b) ano;
3) Tanto a data do fato quanto a data da publicação da solução serão lançados por meio de
números inteiros;
4) O índice de resolutividade será calculado automaticamente, isto após as
Regiões/Diretorias alimentarem os outros dados da planilha.
( - SEPARATA DO BGPM Nº 99, de 30 de Dezembro de 2014 - ) Pag. ( - 31 - )

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil de


1988. Brasília, 2010. Disponível em <http://www.senado.gov.br/legislacao/
const/con1988/CON1988_13.07.2010/art_144_.shtm.> Acesso em: 7 abr. 2011.

______. Constituição (1988). Emenda constitucional n. 19 de 04 de junho de 1998.


Dispõe sobre os princípios e normas da Administração Pública, servidores e agentes
políticos, controle de despesas e finanças públicas e custeio de atividades a cargo
do Distrito Federal, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5
jun. 1998a. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
Emendas/ Emc/emc19.htm>. Acesso em: 02 abr. 2013.

MINAS GERAIS, Polícia Militar. Sistema de Gestão Estratégica da Polícia Militar.


Diretriz n. 002/2012- CG. Organiza e disciplina a Metodologia de Gestão para
Resultados na PMMG. Belo Horizonte: Assessoria de Gestão para Resultados/
Estado-Maior, 2012.

______. Polícia Militar. Comando-Geral. Resolução n. 4.220 de 28 de junho de 2012.


Aprova o Manual de Processos e Procedimentos Administrativos Disciplinares das
Instituições Militares de Minas Gerais (MAPPA). Belo Horizonte: Ajudância Geral,
2012c. Disponível em: <https://intranet.policiamilitar.mg.gov.br/intranet/app/
legislacao/consulta.act ion>. Acesso em: 10 fev. 2013.

Belo Horizonte, 23 de dezembro de 2014.

(a) Eduardo César Reis, Cel PM


Diretor de Recursos Humanos

(a) MÁRCIO MARTINS SANT’ANA, CORONEL PM


COMANDANTE-GERAL

CONFERE COM O ORIGINAL:

ADRIANA VALERIANO DE SOUZA, MAJ PM


AJUDANTE-GERAL

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