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FUNÇÕES E LIMITES

(Manuel Bolotinha *i)

1. DEFINIÇÃO DE APLICAÇÃO E FUNÇÃO


Considerem-se dois conjuntos A e B:

 A = {an, an-1, an-2, … , a3, a2, a1}


 B = {bn, bn-1, bn-2, … , b3, b2, b1}
Diz-se que w é uma aplicação de A em B, quando estabelece uma relação entre os
elementos de A e B, isto é, se w(ai) = bi, ai, bi, representando-se por:

w: A → B

A aplicação w dá origem a um conjunto C de pares ordenados1, que se pode, por


exemplo, representar como:

C = {(an, bm), (aj, bj), (aj, bk), (an-m, bn), (a3, b5), (ak, b5), (a6, bi), (a6, bi-2), …}
Quando uma aplicação estabelece uma relação entre os elementos de A e B, para que
a cada elemento de A corresponde um, e um só elemento de B (este tipo de relação
designa-se por relação binária), essa aplicação designa-se por função,
representando-se por f:

f: A → B
Considerando o plano XY e sendo X e Y o conjunto dos números reais, ou seus sub-
conjuntos, a função f de X em Y pode escrever-se:

f: X → Y; y = f(x)
X é designado como o domínio de f(x) e Y como o seu contra-domínio; x designa-se
como argumento da função.
Considerando o universo dos números reais ou os seus sub-conjuntos, as funções no
plano XY são representadas por um conjunto de pares ordenados do tipo (x1, y1),
designado por coordenadas, em que x1 é um elemento do domínio e designado por
abcissa e y1 um elemento do contra-domínio e designado por ordenada; nesse plano
as funções podem ser representadas por gráficos.
Para um melhor entendimento da diferença entre aplicação e função, considerem-se
as equações x2 + y2 = r2 e y = x2, cujos gráficos no plano XY representam uma
circunferência e uma parábola, respectivamente.

1 Par ordenado define-se como um par de elementos cuja ordem é relevante, isto é, (a, b) ≠ (b, a).

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Y

Parábola
y2 f(x) = y = x2

y1
Circunferência
w(x) = y2 = r2 - x2
X
-x1 x1

r -y1

Figura 1 – Gráficos das equações x2 + y2 = r2 e y = x2


Da análise dos gráficos da Figura 1 pode concluir-se

 w(x1) = y1 ˄ w(x1) = -y1


 w(x2) = y1 ˄ w(x2) = -y1
 f(x1) = f(x2) = y2
w(x) não é uma função (é uma aplicação) e f(x) é uma função.

2. TIPOS E PROPRIEDADES DAS FUNÇÕES


Se o domínio de uma função for um conjunto discreto, então o seu contra-domínio
também o é; o gráfico da função é uma série de pontos de coordenadas (xi, yi), que
para facilidade de leitura são vulgarmente apresentados em forma de gráfico de
barras, como se representa na Figura 2.
Considere-se a função f(x) = ax, cujo domínio é o conjunto dos números naturais e o
seu contra-domínio um sub-conjunto dos números naturais.

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Y
na
yn

ka
yk

3a
y3

2a
y2

a
y1

X
1 2 3 k n

Figura 2 – Gráfico de uma função discreta


Quando o domínio é contínuo, o contra-domínio também o é e se a função não for do
tipo f(x) = k (k é uma constante) designa-se como função contínua; no caso de a
função ser do tipo g(x) = k o contradomínio é um conjunto singular(4) {k}.

Y
y2
f(x)
yj

y’j = k g(x) = k

y1

X
x1 xj x2

Figura 3 – Gráficos de uma função contínua e de uma função constante


Uma função diz-se contínua, se para qualquer acréscimo infinitesimal – Δx – do
seu argumento, f(x+Δx) - f(x) é também infinitesimal.
O domínio das funções f(x) e g(x) é o intervalo (fechado) [x1, x2], o contra-domínio de
f(x) é o intervalo [y1, y2], enquanto o contra-domínio de g(x) é o conjunto singular {k}.

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Considere-se agora a função cujo domínio não é contínuo, sendo definido pelo
conjunto A = [x1, x2[ U ]x3, x4], e cujo gráfico se representa na Figura 4.

f(x)

y3

y2

y1

y4

X
x1 x2 x3 x4

Figura 4 – Gráfico de uma função com domínio não contínuo


A função não é contínua e o seu contra-domínio também não, sendo definido pelo
conjunto B = [y1, + [ U [y4, + [.
Quando a função é definida por um polinómio, isto é:
f(x) = anxn + an-1xn-1 + … + a2x2 + a1x + a0
a função é designada como função polinomial; se o polinómio for do primeiro grau
(f(x) = ax + b), a função designa-se por função linear (o seu gráfico no plano XY é
uma recta – ver Figura 5) e se o polinómio for do segundo grau (f(x) = ax2 + bx + c) a
função designa-se por função quadrática (das quais a parábola centrada na origem
das coordenadas – f(x) = x2 – é um exemplo).

f(x) = ax + b

a
X

Figura 5 – Gráfico da função linear


Para além das funções lineares e quadráticas, as funções mais utilizadas em
electrotecnica são:
 Funções trigonométricas.

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 Funções exponenciais.
 Funções logarítmicas.
As funções podem ser classificadas de acordo com a relação entre os conjuntos entre
os quais é estabelecida a função.

Considere-se a função f(x) definida como f: R → R; y = f(x):

A função diz-se injectiva se xi, x j R, yi ≠ yj e sendo A o seu contra-domínio, se


verifica a relação A R.

a
b
x1
y1
x2
y2
etc.
etc.
xi yi
yn
xn
A
R
R

Figura 6 – Função injectiva


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A função diz-se sobrejectiva se xi, xj R, yi = yj e sendo A o seu contra-domínio,
se verifica a relação A = R.

x1 y1
y2
x2
etc.
etc.
yi
xi
yn
xj
xn R

R
Figura 7 – Função sobrejectiva

A função diz-se bijectiva se xi, xj R, yi ≠ yj e sendo A o seu contra-domínio, se


verifica a relação A = R.

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Data: Outubro de 2017
x1 y1
x2 y2

etc. etc.
yi
xi
yn
xn
R R

Figura 8 – Função bijectiva


As funções podem ainda classificar-se como estritamente monótonas, sendo A o
seu domínio:

 Estritamente crescentes: xi, xj A, se xi > xj → f(xi) > f(xj)


 Estritamente decrescentes: xi, xj A, se xi < xj → f(xi) < f(xj)

3. FUNÇÕES COMPOSTAS E INVERSAS


Considerem-se as seguintes funções:

 f: A → B; y = f(x)
 g: C → D; y = f(x)
As funções h e t dizem-se compostas quando:

 h = f g: A→ D; y = h(x) = f(g(x)) – o domínio de h(x) é o domínio de f(x) e o


seu contra-domínio o de g(x).
 t= f: C → B; y = t(x) = g(f(x)) – o domínio de t(x) é o domínio de g(x) e o
seu contra-domínio o de f(x).
Exemplos:

- Sendo f(x) = 2x ˄ g(x) = x2 → h(x) = f(g(x)) = 2x2

- Sendo f(x) = 2x ˄ g(x) = x2 → t(x) = g(f(x)) = (2x)2 = 4x2


A função g(x) diz-se inversa da função f(x) – g(x) = f-1(x) – se se verifica a relação:
f(x) g(x) = f(g(x)) = (x) f(x) = g(f(x)) = x
As funções que têm inversas dizem-se invertíveis, sendo condição necessária e
suficiente para tal que a função seja bijectiva.
Exemplos:

- Sendo f(x) = senh x, então f-1(x) = arsenh x → f(f-1(x)) = x

- Sendo f(x) = 2x, então f-1(x) = x / 2 → f(f-1(x)) = x

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4. LIMITES – DEFINIÇÕES E PROPRIEDADES
O conceito de limite de uma função é utilizado para estudar a forma como uma função
se comporta quando o seu argumento se aproxima de um valor determinado, sendo
utilizado no cálculo diferencial (ver Capítulo 10) e para analisar a continuidade das
funções.
Este conceito é estendido às sucessões (ver Capítulo 2).
Considere-se uma sequência de números reais:

x1, x2, x3, …, xn, …


A expressão lim xi = L significa que quanto maior for o valor de i, mais perto de L se
encontram os valores da sequência; L é assim designado como o limite da
sequência.
Considerando uma função f(x) e sendo a um ponto de acumulação de p, então ter-se-
á:

Considere-se agora o gráfico de uma função f(x), cujo domínio é o conjunto A = ]-


x1[ U ]x1, + [, representado na Figura 9:

Y
Descontinuidade
L

f(x)

X
x1

Figura 9 – Gráfico de uma função descontínua


L é o limite de f(x) quando x tende para x1, o que se escreve da seguinte forma:

A função tem uma descontinuidade na abcissa x1 e o seu contra-domínio é definido


pelo intervalo ]- L[

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As principais propriedades dos limites são:

 , se

 Sendo f’(x) a função derivada de f(x), –
re ra de l’ Hospital.

5. CÁLCULO DE LIMITES E INDETERMINAÇÕES


Quando se calculam limites podem surgir expressões do tipo k / 0, k / + , k/ - ,
0 / 0, 00, 0 / , / 0, e , sendo k uma constante.
Por convenção define-se:

 x ≠ 0, x0 = 1
+
 k ≠ 0 e constante, k / 0 = + , se x → 0
-
 k ≠ 0 e constante, k / 0 = - , se x → 0
 k ≠ 0 e constante, (k / + ) = (k / - )=0

As expressões 0 / 0), (0 / , / 0), 00 e designam-se por


indeterminações, sendo necessário resolver cada uma destas situações caso a caso,
segundo regras pré-estabelecidas, algumas das quais recorrem à regra de l’ Hospital;
esta operação é habitualmente designada por “levantar a indeterminação”.
Vejam-se agora os valores dos limites de diversos tipos de funções:

1) Função polinomial do tipo f(x) = anxn + an-1xn-1 + … + a1x + a0

 , se an > 0
 , se an < 0 e n for um número par.
 , se an < 0 e n for um número impar.
 , se an < 0 e n for um número par.

2) Função do tipo f(x) =

Os limites de f(x) quando x → ± dão origem a indeterminações do tipo ± /± .


Para levantar esta indeterminação calculam-se o limite do quociente dos termos de
ordem maior, isto é.

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As seguintes situações podem verificar-se:

 n - p = 0; então

 n - p > 0 e for um número par ˄ a/d > 0, então


 n - p > 0 e for um número impar ˄ a/d > 0; então ˄

 n - p < 0 e for um número par ˄ a/d > 0; então


 n - p < 0 e for um número impar ˄ a/d > 0; então ˄

Veja-se agora o caso em que c = s = 0:

O limite de f(x) quando x → 0 dá origem à indeterminação do tipo 0 / 0. Considere-se

Para levantar a indeterminação deriva-se sucessivamente g(x) e h(x) até se obter uma
expressão do tipo:

t(x) =

Daqui resultam as seguintes situações:

 n-p≥0 ↔ i ≥ 0; então.
 , se

 , se

 n-p<0 ↔ i < 0; no que resulta:


 Caso1: α > 0 ˄ i é par,
então
 Caso 2: α > 0 ˄ i é impar,
então
 Caso 3: α < 0 ˄ i é par,
então
 Caso 4: α < 0 ˄ i é impar,
então
Nos casos 2 e 4 a função não tem limite no ponto “0”; as Figuras 10 a 13 ilustram os 4
casos.

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Y

f(x)
α > 0 ˄ i é par

Figura 10 – Gráfico da função f(x)/Caso 1

f(x)
α > 0 ˄ i é impar

Figura 11 – Gráfico da função f(x)/Caso 2

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Y
X

f(x)
α < 0 ˄ i é par

Figura 12 – Gráfico da função f(x)/Caso 3

f(x)
α < 0 ˄ i é impar

Figura 13 – Gráfico da função f(x)/Caso 4


3) Limite fundamental da trigonometria

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4) Limites fundamentais das funções exponenciais e logarítmicas










i
Engenheiro Electrotécnico – Energia e Sistemas de Potência (IST – 1974)
Mestre em Engenharia Electrotécnica e de Computadores (FCT-UNL – 2017)
Consultor em Subestações e Formador Profissional
O Autor não utiliza o Novo Acordo Ortográfico

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