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Segundo o artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, possuir um hábito alimentar

saudável é um bem assegurado a todos os seres humanos. Entretanto, com a hiperinflação dos
alimentos básicos da dieta dos brasileiros, a população em situação de insegurança alimentar
aumentou, o que contradiz o direito à boa alimentação. Ademais, a indústria alimentícia induz
seus usuários a consumir, excessivamente, alimentos que contêm altos teores de sódio, açúcar
e gorduras, prejudiciais à saúde corporal. Essas questões devem ser vistas pelo Estado Brasileiro
como desafios no que se refere ao combate de influências negativas nos hábitos alimentares
nacionais, e impedem com que o país siga integralmente as prerrogativas da citada declaração.

Primeiramente, a população de baixo poder aquisitivo é inviabilizada de obter os produtos que


compõem a alimentação diária, como arroz e feijão, por serem comercializados a altos preços.
O livro “Quarto de Despejo: diário de uma favelada”, de Carolina Maria de Jesus, expõe
momentos em que a autora, como membra marginalizada da sociedade, não teve condições
financeiras de garantir a alimentação dela e de seus três filhos, devido aos crescentes custos
alimentares: “Hoje fiz arroz e feijão e fritei ovos. Que alegria! Ao escrever isso vão pensar que
no Brasil não há o que comer. Nós temos. Só que os preços nos impossibilitam de adquirir”. Para
contornar a fome, assim como outros 39,9 milhões de brasileiros fazem atualmente, segundo o
Governo Federal, a autora procurava restos de comida no lixo, como ossos animais, que serviam
para a composição de sopas. Isso evidencia que a economia está diretamente relacionada à dieta
das camadas sociais mais vulneráveis, uma vez que, regendo o que é acessível ou não para a
compra, por conseguinte altera os costumes de ingestão alimentar desta população. Nesse
sentido, entende-se que os aspectos citados, trazidos pela economia decrescente no país, que
gera inflação, afetem os hábitos alimentares de grupos socioeconomicamente degradados,
pondo em risco o processo de combate a influências negativas no âmbito nutricional diário do
tecido civil.

Em segundo Lugar, para garantir a lucratividade constante, a indústria alimentícia influencia as


massas populares, por intermédio das mídias, a se alimentar de produtos superprocessados,
sobrecarregados de sódio, açúcar e gorduras. Como defendeu Hebert Macuse em sua obra “O
Homem Unidimensional”, a reprodução midiática em uma sociedade ultracapitalista demonstra
uma visão alienante sobre o sistema, o projetando como perfeito e se apropriando da
comunicação em massa para aproximar o indivíduo receptor das necessidades impostas pela
própria indústria, como o hiperconsumismo. Em outras palavras, essa instituição social
influencia a vivência de pessoas comuns na medida em que, através de propagandas, programas
televisivos e redes sociais, se dispõe de técnicas neurocientíficas para manipular a programação
neural do receptor, projetando uma necessidade de compra de mercadorias produzidas por ela
mesma, assegurando, destarte, a venda e lucro, principais objetivos da prática capitalista.
Contudo, a composição dos alimentos produzidos por essa organização industrial é, por si,
nociva ao consumidor, porque, por possuir uma quantidade anormal de carboidratos, pode
obstruir canais e vasos sanguíneos. Logo, a supracitada influência é danosa aos costumes de
alimentação da população brasileira, e coloca em xeque a integridade da liberdade de escolha
assegurada aos cidadãos.

Portanto, se faz de suma importância a intervenção governamental sobre as influências que


afetam negativamente os hábitos alimentares. Para isso, o Estado, na figura dos ministérios da
Cidadania, da Economia e da Educação, deve estabelecer infraestruturas capazes de acolher a
população que se encontra em circunstâncias precárias, disponibilizando refeições e aulas de
educação financeira e economia doméstica, permitindo desse modo a emancipação
socioeconômica. Ademais, a indicação de alimentos prejudiciais à saúde, que deve ser feita pela
ANVISA, permite que os consumidores gerais possam ter conhecimento sobre o produto que
ingerem, de modo que diminua o número de pessoas que sofrem com os malefícios da
alimentação super-processada. Somente assim será possível cumprir com os dizeres da
Declaração Universal de Direitos Humanos, tornando o país um ambiente mais justo e saudável.

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