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SUMÁRIO

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s
I Sumário

II Editorial | Jorge Raposo

Arqueologia
III O Espólio Lítico
de Santo Antão do Tojal
João Oliveira Costa

IV O Santuário Rupestre do Penedo


da Moura (Nogueira, Viana do Castelo)
Luís Filipe Loureiro

V Espaços e Estratigrafias da
Qt.ª de St.º António / Qt.ª da Torrinha
(Monte de Caparica, Almada)
Rui Pedro Barbosa e Pedro López Aldana

VI Ocupação Romana no Subsolo da


Travessa do Mercado (V. F. de Xira)
João Pimenta e Henriques Mendes

adenda VII O Lugar da Idade do Bronze do


Lombo da Enxurreira
(Riba de Âncora, Caminha)

electrónica Luís Filipe Loureiro e Ivone Magalhães

VIII Tafonomia, Paleodemografia e


Morfologia (Convento de Jesus, Lisboa)
N.º 14 | Dezembro 2006 Filipe Ribeiro Bárrios

Opinião
[http://almadan.cidadevirtual.pt]
IX Sobre uma Nova Legenda
[em migração para Monetária Ibérica: leuni ou laBini ?
António Marques de Faria
http://www.almadan.publ.pt]
Património
X Requalificação das Colecções
de Arqueologia Pré-Histórica
do Museu Geológico
José M. Brandão

XI O “Padrão dos Povos” de Aquae Flaviae


João Mário Martins da Fonte

XII Notícias: actividade arqueológica

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I electrónica
ficha técnica
EDITORIAL
adenda electrónica
e
al-madan IIª Série, n.º 14, Dezembro 2006
adenda electrónica Capa Jorge Raposo
Propriedade
Centro de Arqueologia de Almada Fase de escavação de um dos fornos da olaria
Apartado 603 EC Pragal romana da Quinta do Rouxinol (Corroios, Seixal, 1988),
2801-601 Almada PORTUGAL em homenagem ao Amigo recentemente desaparecido,
Tel. / Fax 212 766 975 Armando Sabrosa, que na imagem trabalha
na companhia de Maria Fernanda Lourenço.
E-mail almadan@mail.telepac.pt
Registo de imprensa 108998 Fotografia © Jorge Raposo/Centro de Arqueologia de Almada

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[em migração para http://www.almadan.publ.pt]
ISSN 0871-066X
Depósito Legal 92457/95
ano de 2006 fica marcado pela criação do IGESPAR - Instituto de
Director Jorge Raposo (director.almadan@clix.pt)
Conselho Científico Amílcar Guerra, António Nabais,
Luís Raposo, Carlos Marques da Silva e Carlos Tavares da Silva
Redacção Rui Eduardo Botas, Ana Luísa Duarte,
O Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, que reúne
atribuições e competências dos antigos IPA, IPPAR e DGEMN e
concretiza a anunciada reformulação dos institutos públicos na área do
Elisabete Gonçalves e Francisco Silva Património, transformando radicalmente a tutela que condiciona a gestão
Colunistas Mário Varela Gomes, Amílcar Guerra, Víctor Mestre, pública e privada do Património e tem a missão de definir o futuro
Luís Raposo, António Manuel Silva e Carlos Marques da Silva enquadramento da actividade arqueológica no nosso país.
Colaboram na edição em papel Ass. Port. Avaliação de Impactes, Contudo, uma vez que o enquadramento legislativo final e o modo de
Miguel Almeida, Jorge António, Thierry Aubry, Helena Barranhão,
Pedro Barros, Lília Basílio, Luísa Batalha, Fátima Bento, José Bettencourt,
materialização desta solução só serão conhecidos em 2007, as páginas da edição
Nuno Bicho, Jean-Yves Blot, Pedro Braga, Jacinta Bugalhão, João P. impressa da Al-Madan n.º 14 centram a sua atenção noutro acontecimento com
Cabral, Marco Calado, João Caninas, Guilherme Cardoso, Rosalina reflexos importantes na sociedade portuguesa: o início da aplicação do “modelo
Carmona, António R. Carvalho, Patrícia Carvalho, Helena Catarino,
de Bolonha” ao ensino superior universitário e politécnico.
João Catarino, Manuela Coelho, João Costa, Eugénia Cunha, Adriaan
De Man, Fernando Dias, Gina Dias, A. Dias Diogo, Ana L. Duarte, De facto, no ano lectivo de 2006-2007, boa parte das ofertas de formação
Carlos Fabião, Lídia Fernandes, Mª Teresa Ferreira, Sofia Figueiredo, superior foram reformuladas, no sentido de integrar o sistema português numa
Iola Filipe, Victor Filipe, João Fonte, Tiago Fontes, Ana Gaspar, M. “Área Europeia do Ensino Superior” que reflicta os mecanismos de integração
Varela Gomes, R. Varela Gomes, Filipe Gonçalves, Victor S. Gonçalves,
Suzana T. Grave, Jorge A. Guedes, Amílcar Guerra, Fernando europeia nos planos da igualdade de oportunidades e da mobilidade dos
Henriques, Mafalda Jorge, Vítor O. Jorge, Virgílio Lopes, Luís Luís, cidadãos. Tendo subjacente um novo paradigma pedagógico, mais centrado na
Isabel Luna, António Marques, José Meireles, Víctor Mestre, Mário acção do aluno, a adesão a Bolonha implicou a reformulação dos graus
Monteiro, João Muralha, Pedro Narciso, Nuno Neto, Mª João Neves,
N’Zinga Oliveira, Luiz Oosterbeek, Rui Parreira, Gabriel R. Pereira,
académicos, dos planos de curso e dos conteúdos curriculares, para facilitar a sua
Teresa R. Pereira, Marina Pinto, João Raposo, Jorge Raposo, Luís compatibilidade e complementaridade. Um estudante europeu poderá, a partir de
Raposo, Paulo Rebelo, João Rebuge, Ana Ribeiro, Leonor Rocha, 2010, quando se prevê que o novo sistema esteja generalizado, circular por
Armando Sabrosa †, Jorge D. Sampaio, Raquel Santos, António M.
diferentes estabelecimentos de ensino, no seu país ou no estrangeiro,
Silva, Teresa Soeiro, Manuela Teixeira, João P. Tereso, Ana M. Vale,
António C.Valera, Gonçalo L. Velho, Alexandra Vieira acumulando créditos transferíveis que lhe garantem a equivalência e o
Colaboram na Adenda Electrónica M. Arsénio, Rui P. Barbosa, José reconhecimento das habilitações académicas.
Bettencourt, José M. Brandão, João Cabral, Patrícia Carvalho, Luís Em dossiê especial, Al-Madan apresenta uma síntese do processo e dos
Cónego, João O. Costa, António M. de Faria, Cristóvão Fonseca, João seus objectivos, da forma como o sistema de ensino português se está a
M. da Fonte, Tiago Fontes, Pedro López Aldana, Luís F. Loureiro,
Ivone Magalhães, Henrique Mendes, J. Miranda, Nuno Neto, Lurdes reajustar e da procura que esta nova oferta suscitou na última fase do concurso
Nieuwendam, João Pimenta, Salete da Ponte, Margarida Ramalho, de ingresso, nas áreas da Arqueologia, da História, do Património e da
Paulo Rebelo, Filipe Ribeiro Bárrios, Raquel Santos, António L. Tavares Conservação. São também incluídos alguns textos de opinião e é dada
Publicidade Elisabete Gonçalves oportunidade aos representantes dos diferentes estabelecimentos de ensino
Apoio administrativo Palmira Lourenço para apresentarem as propostas pedagógicas com que respondem aos
Resumos Jorge Raposo (português), Luisa Pinho (inglês) desafios de Bolonha.
e Maria Isabel dos Santos (francês)
Para além disso, na continuidade da experiência iniciada com sucesso em
Modelo gráfico Vera Almeida e Jorge Raposo
2005, a edição inclui ainda uma Adenda Electrónica, que permite explorar a
Paginação electrónica Jorge Raposo
crescente expansão da Internet para distribuir outros conteúdos junto de um
Tratamento de imagem Jorge Raposo
universo de utilizadores potencialmente muito vasto.
Ilustração Jorge Raposo
Com um tratamento editorial em tudo semelhante ao do tradicional volume
Revisão Maria Graziela Duarte, Fernanda Lourenço
em papel, o site da Al-Madan Online constitui assim uma via suplementar de
Pré-impressão GC Design Ldª
comunicação entre autores e leitores, promovendo a difusão alargada da cultura
Impressão Printer Portuguesa
científica, sem os constrangimentos e as limitações de distribuição que sempre
Distribuição da edição em papel CAA
enfrentam iniciativas desta natureza.
Distribuição da Adenda Electrónica distribuição gratuita através
de http://almadan.cidadevirtual.pt
Tiragem da edição em papel 1500 exemplares
Jorge Raposo
Periodicidade Anual
Apoios C. M. de Almada, C. M. do Seixal e Inst. Port. da Juventude

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electrónica II al-madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (14) | Dezembro 2006
NOTÍCIAS
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n
Fortaleza de Nª. Sr.ª da Luz (Cascais)
apresentação dos trabalhos arqueológicos
inseridos no programa de recuperação Fig. 1 - Fortaleza de N.ª Sr.ª da Luz.

João Cabral, Lurdes Nieuwendam, Margarida Ramalho,


Nuno Neto, Paulo Rebelo, Raquel Santos e Tiago Fontes
[Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Cascais]

Introdução

presente artigo visa dar Prior do Crato e assim abrir um cami-

O a conhecer as interven-
ções realizadas no de-
correr do ano de 2004 e primeiro se-
nho rápido à rendição da fortaleza vizi-
nha de S. Julião da Barra e, consequen-
temente, de Lisboa. Ficava demonstra-
mestre de 2005 na Fortaleza de N.ª Sr.ª da assim a fraca capacidade defensiva
da Luz e área envolvente. Estas decor- da velha torre. Nos anos que se seguem,
reram sob responsabilidade do Gabinete durante o reinado de Filipe II, a torre é
de Arqueologia da Câmara Municipal de então envolvida por dois meios baluar- ca datável dos finais do séc. XV ao Através da realização de cinco son-
Cascais, integradas num projecto de in- tes virados ao mar, e um outro inteiro, XVII, onde foi exumada variada cerâ- dagens de dois metros de lado, pudemos
vestigação, que culminará com a recu- virado a terra, tornando-se numa forta- mica comum e vidrada, bem como fa- distinguir em termos estratigráficos os
peração e musealização da fortaleza. leza abaluartada de planta triangular. iança portuguesa pintada a azul sobre três momentos de utilização do fosso.
Num futuro próximo, procurar-se- Rebaptizada, passa a ter o nome de N.ª fundo branco, a grande maioria datável Num momento inicial, foi colo-
-á dar a conhecer de uma forma mais Sr.ª da Luz. Após a reconquista da inde- da primeira metade do séc. XVII. En- cada uma primeira camada de pedras de
desenvolvida os diferentes aspectos pendência, em 1640, a defesa de Cas- contrámos ainda cerâmicas importadas, médias e grandes dimensões. O fosso
desta intervenção arqueológica, nomea- cais é de novo reforçada com a constru- tais como: cerâmica sevilhana pro- original da Fortaleza de N.ª S.ª da Luz
damente a cultura material e a análise ção da cidadela. AFortaleza de N.ª Sr.ª duzida entre os finais do séc. XV e a estaria praticamente à cota da platafor-
estrutural e evolutiva do espaço. da Luz perde então alguma importância, primeira metade do séc. XVI, onde se ma rochosa onde esta se implanta.
AFortaleza N.ª Srª da Luz locali- passando a funcionar apenas como destacam os pratos cónicos e as malgas Um segundo momento correspon-
za-se em contexto urbano, mesmo jun- mais uma bateria da cidadela. carenadas; vários fragmentos decorados de ao entulhamento do fosso com terras
to ao mar, espaço fronteiro agora ocu- Esta intervenção teve como objec- a azul sobre azul (berettino), cuja provenientes do interior da fortaleza
pado pela Marina de Cascais. A sua tivo o melhor entendimento da sequên- proveniência é algo duvidosa, podendo aquando da realização de obras, nos fi-
construção terá sido iniciada por volta cia estratigráfica e estrutural, quer da ser das oficinas italianas (possivelmente nais do séc. XVIII-inícios do séc. XIX.
de 1590, envolvendo a antiga Torre de Torre de St.º António, quer da própria de Pisa) ou de Sevilha que, após a Estas terras terão sido niveladas com no-
St.º António, mandada construir por Fortaleza de N.ª Sr.ª da Luz. Para esse segunda metade do séc. XVI e séc. va camada de pedras, sobre as quais se
D. João II em finais do século XV. Esta efeito, nesta primeira fase dos trabalhos XVII, produzirá cerâmicas assim deco- implantou a ponte que liga as duas ba-
é desenhada em pormenor por Georgius foram realizadas várias sondagens pari- radas, designadas por tipo “italiani- terias da fortaleza. Esta ponte substituiu
Braun, num desenho publicado em etais e 18 sondagens no solo, bem como zante”. Surgem igualmente objectos uma ponte levadiça anterior. De facto,
1572, na obra Civitates Orbis Terrarum. a conclusão da escavação do “baluarte” metálicos, vidros, moedas enquadra- durante as guerras liberais a fortaleza
Afazer fé nessa representação, esta es- da torre. Foi possível pôr a descoberto das entre finais do séc. XV e finais do serviu para receber cerca de duzentos
trutura militar era composta por uma várias estruturas e ter um melhor enten- séc. XVI, e embutidos em osso, per- presos políticos que vinham de S. Julião
torre quadrangular, um anexo mais dimento da planta e evolução da Torre tencentes possivelmente a partes de da Barra. Pela descrição feita na época
baixo, de planta rectangular, e uma cin- de St.º António, bem como apurar as algum móvel ou caixa de madeira. por um dos presos, deduz-se que estes te-
tura de muralhas, o “baluarte”, que en- estruturas directamente relacionadas rão entrado na fortaleza através de uma
volvia o conjunto, pelo menos do lado com a construção da fortaleza ou reali- Fosso Norte da ponte de pedra, que aparece referenci-
do mar. As primeiras intervenções ar- zadas depois, nomeadamente após a Fortaleza de N.ª Sr.ª da Luz ada pela primeira vez numa planta de
queológicas, realizadas entre 1986 e Restauração e, finalmente, em finais finais do séc. XVIII-princípios do XIX.
1991 sob a responsabilidade de Marga- do séc. XIX-inícios do séc. XX. Será O troço objecto de intervenção O terceiro momento corresponde
rida Magalhães Ramalho, vieram, gros- necessária uma segunda fase para um situa-se entre a muralha Sul do revelim ao entulhamento do fosso com terras
so modo, confirmar a veracidade deste melhor entendimento de algumas da cidadela e a cortina Nordeste da possivelmente provenientes de obras no
desenho (RAMALHO 1989). questões levantadas durante os traba- Fortaleza de N.ª Sr.ª da Luz. palácio da cidadela, em princípios do
Cerca de 100 anos depois da sua lhos agora dados a conhecer, bem como Esta fortificação marítima tinha a séc. XX. Estas terras terão sido nivela-
construção, a torre capitula em menos para a preparação e concretização do envolvê-la um largo fosso, que primi- das e, por cima delas, foram deposita-
de duas horas perante a artilharia do du- projecto museológico da fortaleza. tivamente teria os dois acessos abertos das terras de jardinagem quando o fos-
que d’Alba. Nas suas muralhas são ex- No que se refere ao espólio arqueo- ao mar. Com a construção da cidadela, so foi transformado em jardim, perden-
postos os corpos de D. Diogo de Mene- lógico, foi possível detectar nos níveis a partir de 1640, o fosso terá sido mura- do as suas funções militares. Adatação
ses, do alcaide da torre e de mais dois superiores materiais contemporâneos. do, donde se depreende que terá estado deste último enchimento poderá remon-
soldados, sacrificados pelos castelhanos No entanto, nas camadas subsequentes aberto ao mar no máximo durante cer- tar a 1902, altura em que o rei D. Car-
para atemorizar as tropas afectas ao verificámos uma coerência cronológi- ca de cinquenta anos. los mandou acrescentar um andar ao

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actividade arqueológica

vidro. Destacamos ainda o apareci-


mento de fragmentos de tecido (?), que
surgem associados a um cordão em
cabedal e a um medalhão (?).
É de realçar que estes níveis de en-
chimento foram deliberadamente com-
pactados, muito provavelmente para
suportar o piso do revelim e respectiva
muralha. De notar, neste nível, a exis-
tência de dois conjuntos de buracos, dis-
postos em grupos de três e com restos
de madeira e pregos. Pensamos que
poderiam ter sido feitos para instalar
“cabrilhas” (estruturas de madeira com-
Fig. 2 - Sondagem III, calçada e exterior da cisterna. Fig. 3 - Revelim, estruturas identificadas.
postas de três varas, que serviam para
montar e desmontar peças de artilharia
e levantar pesos).
palácio. Existem também duas plantas Revelim velim teve de ser alteada e nivelada, sen- Na zona do revelim foi também
da cidadela, uma de 1911 e outra de do encontradas várias camadas de ter- identificado o antigo paiol que servia de
1914, onde está marcado um jardim Na parte final do Passeio Maria ras barrentas calcadas com esse objecti- apoio à artilharia aqui posicionada. Co-
ao longo do fosso, no lado adjacente ao Pia, realizou-se uma sondagem de 6,2 vo. Os estratos da intervenção arqueo- mo a maior parte dos paióis, este foi
palácio. Nos finais dos anos 1930, du- por 10,5 metros na zona onde se situaria lógica agora realizada neste local reve- construído de modo a ter uma cave. O
rante as obras de adaptação da Fortale- o paiol do revelim da cidadela. lam o modo como se procedeu a esse acesso a esta era feito por uma escada
za da Luz a Estação Rádio Naval, foi Foi possível detectar várias reali- enchimento. Em termos estratigráficos, de cantaria, também agora posta a des-
aberta uma vala para implantação de dades arqueológicas e respectiva evolu- os níveis mais antigos devem ser con- coberto. O paiol terá sido utilizado co-
uma conduta de esgoto. ção cronológica. Sobre o calcário reci-
O espólio recolhido nesta inter- fal, observou-se uma camada de nivela-
venção é heterógeneo e com materiais mento, sobre a qual foi implantada uma
muito fragmentados, integráveis sobre- estrutura bastante destruída, de planta
tudo no intervalo entre os séculos XVI rectangular, de pedra e argamassa. In-
e XIX. Surge cerâmica comum com e tegradas nas camadas junto à base des-
sem vidrado plumbífero (local e regio- ta estrutura surgiram duas moedas, que
nal, de difícil integração cronológica en- permitem uma aproximação à datação
tre os séculos XVI e XIX); cerâmica de da sua construção e/ou destruição du-
vidrado estanhífero (da qual se destaca rante o séc. XVI: um ceitil de D. Manuel
cerâmica sevilhana de tipo “mourisco”, (1495-1521) e V reais de D. Sebastião
do séc. XVI, e cerâmica azul sobre azul, (lei de 1560). O alicerce detectado po-
“berettino”, de proveniência sevilhana derá ter pertencido a uma casa de apoio
ou italiana dos séculos XVI e XVII); fa- às obras periódicas de consolidação
iança portuguesa (pintada a azul e bran- das estruturas da torre de Cascais. Com Fig. 4 - Revelim, aspecto geral da escavação.
co, do séc. XVII, bem como faiança po- a construção da fortaleza esta estrutura
lícroma datável a partir de 1750); porce- terá sido abandonada.
lana da Companhia das Índias, pro- Após a Restauração, foi construí- temporâneos da estrutura do séc. XVI, mo casa de apoio às artes de pesca lo-
duzida durante a dinastia Qing (1644- da junto à fortaleza uma fortificação de já referida. Terão sido cortados quando cal até à altura da sua efectiva destrui-
-1911), incluindo exemplares do servi- raiz, a cidadela. Esta fortaleza de plan- se abriram os alicerces do paiol de que ção, em 1986.
ço “Coroa Real”, associado à Rainha ta irregular vai desenvolver-se a partir adiante falaremos.
D. Maria Pia, produzidas no séc. XIX; da Fortaleza de N.ª Sr.ª da Luz, que pas- Acima destes níveis encontram-se
fragmentos de azulejo hispano-mou- sa a funcionar quase como um baluarte sucessivos enchimentos de terra bar- Referências Bibliográficas
risco (técnica de aresta, datável do séc. autónomo. Ao mesmo tempo, é tam- renta (com características idênticas às da
XV ou da primeira metade do terra rossa), alternando com CID, P. de A. I. (1998) − “As Arquitecturas
XVI); cachimbos (sobretudo de Fig. 5 - Cachimbo. camadas de lixeira. Os materiais da Barra do Tejo: as fortificações”. In N.ª
cerâmica branca ou caulino, com aqui exumados são variados e Sr.ª dos Mártires: a última viagem.
cronologia nos sécs. XVII-XVIII, abundantes, destacando-se: cerâ- Lisboa: Editorial Verbo, pp. 33-49.
RAMALHO, M. de M. (1989) − “ATorre de
e um exemplar de fornilho em mica comum com e sem vidrado, Cascais: uma perspectiva arqueológi-
porcelana, com datação nos sécu- integrável nos séculos XVI-XVII; ca”. Arquivo de Cascais. Boletim
los XVIII-XIX); metais (elemen- faiança portuguesa, datável sobre- Cultural do Município. Cascais. 7.
tos de construção como, por exem- tudo da primeira metade do séc. RAMALHO, M. de M. (1989) − “Em Busca
plo, pregos e botões de farda); e XVII; cerâmica de importação, da Torre Perdida”. Revista Oceanos.
pederneiras em sílex, entre outros. Na bém levantado um revelim, que vai ter alguma dela possivelmente das oficinas Lisboa. 2.
primeira fase de enchimento foi tam- como objectivo reforçar a defesa da en- sevilhanas, e vários fragmentos deco- RAMALHO, M. de M. (2001) − “II. As
Fortificações Marítimas do Porto e
bém detectada uma moeda proposita- trada na baía de Cascais, funcionando rados a azul sobre azul, de produção ita- Nobre Vila de Cascais”. In BARROS, M.
damente cortada, identificada como como a porta de ligação entre a cidadela liana ou igualmente das oficinas sevilha- F. R. et al., As Fortificações Marítimas da
sendo de dez reis, enquadrável nos e a fortaleza. Construído sobre uma es- nas; bem como porcelana chinesa. Sur- Costa de Cascais. Lisboa: Quetzal
reinados de D. João V ou de D. José I. carpa rochosa, toda a área do futuro re- gem também artefactos metálicos e em Editores, pp. 25-80.

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electrónica 2 al-madan adenda electrónica ISSN 0871-066X | IIª Série (14) | Dezembro 2006
Projecto PIAS
resultados dos trabalhos de 2006

José Bettencourt, Patrícia Carvalho e Cristóvão Fonseca


[Centro de História de Além Mar da Universidade Nova de Lisboa]

s viagens de descobri- gra Ae Angra B e desenvolve trabalhos

A mento e expansão euro-


peia no Atlântico e no
Índico cedo relevaram a importância da
de prospecção remota em frente à
cidade. Em 1998, no âmbito da miti-
gação de impactes das obras de cons-
localização geográfica do arquipélago trução da marina de Angra do Heroís-
dos Açores, particularmente evidente mo, foram localizados vestígios de ou-
após a abertura regular das ligações tros dois navios (Angra C e D), escava-
entre a Europa, o Oriente e o continen- dos posteriormente e depositados a Este
te Americano, em finais do século XV, do Monte Brasil, onde se encontram na
inícios do XVI. Com efeito, as condi- actualidade (GARCIA et al. 1999). As
cionantes naturais de navegação à vela descobertas continuaram em 2001,
no Atlântico obrigaram (até à vulgari- quando mergulhadores declararam os
Fig. 1 - Aspecto geral dos trabalhos em Angra B.
zação da navegação a vapor na segun- naufrágios Angra E e F e, mais recen- Na foto observam-se as estruturas localizadas no núcleo 3.
da metade do século XIX) os navios em temente, em 2004, no âmbito do pro-
rota para a Europa a passar ao largo ou grama de carta arqueológica dos Açores
a fazer escala nas ilhas açorianas. Du- promovido pela Direcção-Regional da 2006 teve como principal objectivo a servando ainda parte do poço (0,18 m
rante todo o século XVI e parte do XVII, Cultura (DRC), com a identificação de execução de um levantamento prelimi- de comprimento máximo por 0,15 m de
a principal escala atlântica localizou-se Angra G e H. nar dos arqueossítios. Este registo ba- largura e 0,09 m de profundidade). As
na baía de Angra, na costa Sul da ilha Em 2005, na sequência destas seou-se essencialmente na execução cavernas medem de largura longitudi-
Terceira, então tornada porto oceânico descobertas, a DRC constituiu o Parque das seguintes tarefas: croqui com recur- nal entre 0,10 m e 0,19 m e aparentam
para os navios portugueses e castelha- Arqueológico da Baía de Angra, que so a medidas (Fig. 1), levantamento estar fixas ao tabuado com pregadura
nos que voltavam à Europa com as al- visa a protecção legal e valorização batimétrico, fotografia e caracteriza- mista, constituída por cavilhas de ma-
mejadas riquezas do Novo Mundo e do deste Património através do seu estudo ção/interpretação dos contextos arqueo- deira e pregos de ferro, o mesmo padrão
Oriente. Ancoradouro natural por exce- e divulgação. Em 2006, o Centro de lógicos. Estes trabalhos permitiram que foi observado nas ligações entre as
lência, protegido dos ventos dominan- História de Além-Mar (CHAM), unidade avaliar de forma preliminar as condi- cavernas e os braços. Sendo ainda cedo
tes de Norte-Nordeste, a baía de Angra de investigação da Faculdade de Ciên- ções de jazida de cada sítio e, conse- para avançar hipóteses sobre a origem,
é porém sensível às tempestades de cias Sociais e Humanas da Universi- quentemente, planear as intervenções dimensão e cronologia destes vestí-
Sul e Sudoeste, que estão na origem de dade Nova de Lisboa, deu início ao futuras. gios, não deixam de ser significativos os
numerosas perdas de navios, atestadas PROJECTO PIAS (projecto de estudo, sal- Angra F foi o primeiro sítio inter- paralelos que as características arqui-
na documentação e na tradição oral, vaguarda e valorização dos sítios Angra vencionado, procurando-se caracterizar tecturais referidas têm com os navios da
confirmadas em numerosas evidências A, B, D, E e F), que conta com finan- um contexto que ainda não tinha sido chamada tradição de construção naval
arqueológicas, que apenas recente- ciamento da DRC e apoio logístico da objecto de registo arqueográfico exaus- Ibero-Atlântica do século XVI, nomea-
mente começam e ser identificadas. Universidade dos Açores (UA). Co- tivo. Os trabalhos efectuados permiti- damente os navios de Cattewater, Red
É conhecido, desde o início do ordenado na sua componente de inves- ram delimitar o núcleo central dos vestí- Bay, Molasses Reef, Highborn Cay,
mergulho com escafandro, um conjun- tigação histórica pelo Doutor Damião gios, que se estende por cerca de 15 m Western Ledge, Emanuel Point e Ria de
to de âncoras a Este do Monte Brasil, Rodrigues (CHAM-UA), e na de Arque- de comprimento e 7 de largura. Nesta Aveiro A(OERTLING 2001 e bibliografia
um dos antigos fundeadouros da cida- ologia pelo primeiro signatário deste área conserva-se um tumulus de pedras citada pelo autor). Por outro lado, as di-
de. Ainda na década de 1960, foi recu- artigo, este projecto trienal tem como de lastro, onde foram identificados blo- mensões dos elementos observados pa-
perada uma colecção de artilharia em objectivos científicos contribuir para cos de calcário e quartzito, e onde apa- recem indicar estarmos na presença de
bronze na baía do Fanal, actualmente o conhecimento do porto de Angra rece parte da sobrequilha, do complexo uma embarcação de pequeno/médio
depositada no museu de Angra, tal co- através do estudo integrado das fontes do mastro principal, o arranque das ba- porte, o que torna este sítio de enorme
mo acontece com algumas peças cerâ- arqueológicos e escritas relacionadas lizas num dos bordos e uma tábua do importância para o estudo da construção
micas e numerosas peças de artilharia com o tema nas suas diferentes ver- forro exterior. A sobrequilha conser- naval do período de expansão ibérica.
em ferro recuperadas no interior da tentes, ambiental, económica, social e va-se em aproximadamente 4,5 m de Após a intervenção em Angra F, a
baía de Angra. É, contudo, a partir de cultural. Em parceria com a DRC, pre- comprimento e mede 19,8 cm de largu- equipa concentrou os seus esforços no
1996 que se dá um primeiro impulso na vê ainda colaborar na protecção e valo- ra, ostentando na sua face superior dois registo do sítio Angra B, já conhecido
investigação dos vestígios já antes co- rização dos vestígios arqueológicos em entalhes para os pés de carneiro que su- e alvo de trabalhos arqueológicos em
nhecidos, quando uma equipa do Institut estudo. portavam a primeira coberta. Acarlin- anos anteriores (CRISMAN 1999). Os
of Nautical Archaeology (INA) e dos Aprimeira campanha arqueológi- ga corresponde a uma expansão da so- trabalhos efectuados neste sítio, que
Amigos do Museu de Angra faz os pri- ca desenvolvida no âmbito do PRO- brequilha e mede um metro de com- mereceram especial atenção devido à
meiros levantamentos nos sítios An- JECTO PIAS e realizada em Agosto de primento por 0,38 m de largura, con- extensão e dispersão dos vestígios ex-

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actividade arqueológica

postos, permitiram identificar restos tífica, os restos da popa de um navio en-


do navio numa extensão de aproxi- contrados sobre placas do que pare-
madamente 18 m de comprimento, pro- cem ser vestígios de uma segunda em-
tegidos por um tumulus de lastro − cal- barcação, em ferro (Fig. 2). Esta peça,
cário (?), quartzito e sílex − que garan- recuperada no final da campanha por se
tiu a protecção de parte significativa do encontrar em claro risco de destruição
casco numa zona particularmente ex- (Fig. 3), corresponde a um couce de po-
posta à ondulação durante eventos ex- pa conservado em 2,60 m da sua exten-
tremos (profundidade inferior a 5 m). são original, ainda com a patilha, o iní-
No sítio observam-se três núcleos estru- cio do cadaste, com 1,17 m de altura, e
turais distintos do navio: no primeiro, concreções da primeira fêmea de leme.
situado na extremidade Este, preser- Mais uma vez, este importante vestígio
vam-se parte das balizas e tábuas do for- náutico tem paralelos em numerosos
ro exterior (extensão máx. de 2,90 m); couces e cadastes de navios de origem
o segundo núcleo apresenta as extremi- peninsular dos séculos XVI e XVII,
dades das balizas de um dos bordos do nomeadamente no de Angra D (GARCIA
navio, que se conserva numa extensão et al.1999), surgindo ainda em ilus-
máxima de 4,60 m; o núcleo 3, situado tração do tratado de construção naval de
na extremidade Oeste da jazida, con- João Baptista LAVANHA (1996). A ori-
serva também parte das balizas e do gem desta peça não foi ainda estabele-
tabuado (Fig. 1), que ocupam uma área cida: as suas características e estado
de aproximadamente 7 m2. As balizas de conservação não permitem relacio-
nos diferentes núcleos, muito erodidas ná-la com as estruturas identificadas
no sentido descendente do topo para a em Angra B. Surge assim a possibilida- Fig. 2 - Couce de popa localizado nas proximidades de Angra B.
base, medem entre 15 e 21 cm de largu- de deste vestígio, em contexto secun-
ra longitudinal e apresentam-se fixas ao dário, ter sido, por factores pós-deposi-
tabuado por pregadura mista, com cavi- cionais dinâmicos, remobilizado de um centro do tumulus (cavernas, quilha e Os resultados obtidos na primeira cam-
lhas de madeira e pregos de secção contexto de naufrágio localizado no tabuado) e na periferia (escoas). panha confirmaram o enorme potencial
quadrangular. O tabuado mede entre 5 interior da baía, ainda não identificado. Já no final da intervenção, a veri- científico, cultural e patrimonial destes
e 5,5 cm de espessura e entre 32 e 35 cm Esta hipótese apenas poderá ser con- ficação metódica de estruturas em ma- vestígios, que comprovam no mar o
de largura. Dispersos por todo o con- firmada com a continuação dos traba- deira que se observavam desde início estatuto de Cidade Património Mundial
texto observam-se fragmentos do forro lhos. dos trabalhos junto à bóia de amarração atribuído a Angra do Heroísmo.
em chumbo que protegia o casco, frag- Foram ainda efectuados trabalhos da embarcação de apoio, permitiu iden-
mentos de cerâmica comum e balas de de registo e monitorização dos vestígios tificar o que parecem ser os vestígios de
mosquete em chumbo. Trata-se obvia- de Angra A. As características arqui- um outro navio. Com efeito, além des-
mente dos vestígios de um navio de tecturais desta embarcação indicam tra- tas madeiras, que numa limpeza super- Bibliografia
grande porte que, como já proposto tar-se de um navio do século XIX ficial foi possível reconhecer como
parte da extremidade de um navio, foi CRISMAN, Kevin (1999) − “Angra B: the
identificado um tumulus de lastro e lead-sheathed wreck at Porto Novo (An-
outras estruturas em madeira disper- gra do Heroísmo, Terceira island, Azores,
sas e profundamente protegidas por Portugal)”. Revista Portuguesa de Arque-
ologia. 2 (1): 255-262.
areias. Arelação destes restos com o ca-
CRISMAN, Kevin e LOWENN, Brad (1999) −
daste referido anteriormente não é de “Angra A: the lead-sheathed wreck at
excluir, o que também só poderá ser Porto Novo (Angra do Heroísmo, Ter-
confirmado com trabalhos de sondagem ceira island, Azores, Portugal)”. Revista
e amostragem deste sector. Portuguesa de Arqueologia. 2 (1): 249-
O sítio Angra E não foi relocali- -254.
zado, situação que poderá dever-se a um GARCIA, Catarina; MONTEIRO, Paulo e
fenómeno de acreção na parte Oeste da PHANEUF, Eric (1999) − “Os Destroços
baía. Em Angra D apenas se verifi- dos Navios Angra C e D Descobertos Du-
rante a Intervenção Arqueológica Suba-
caram as condições do depósito das
quática Realizada no Quadro do Projecto
estruturas removidas após a escavação
Fig. 3 - Aspecto da recuperação do couce de popa. de Construção de Uma Marina na Baía de
de 1998, com vista à programação de Angra do Heroísmo (Terceira, Açores)”.
trabalhos futuros. No âmbito dos tra- Revista Portuguesa de Arqueologia. 2
por Kevin CRISMAN (1999), poderá da- (CRISMAN e LOWENN 1999), que se con- balhos efectuados foi ainda recuperado (2): 211-232.
tar de inícios do século XVII. Nas pro- serva sob uma mancha de lastro com um caldeirão em liga de cobre identifi- LAVANHA, João Baptista (1996) − Livro
ximidades do núcleo principal foram cerca de 35 m de comprimento e onze cado isolado a Norte de Angra F. Primeiro da Architectura Naval. Lisboa:
ainda identificados outros materiais de largura. Neste ano, os trabalhos efec- Estes vestígios vieram relançar a Academia de Marinha.
OERTLING, Thomas J. (2001) − “The Concept
arqueológicos em madeira e concre- tuados resumiram-se a um fotomosaico discussão sobre o contributo que a Ar-
of the Atlantic Vessel”. In ALVES, F. (edi-
ções de ferro que, nesta fase, não podem da área ocupada pelos vestígios e a queologia Marítima pode assumir no
tor). Proceedings International Symposium
ser relacionados com o a estrutura con- uma observação das estruturas. Estas desenvolvimento do conhecimento his- on Archaeology of Medieval and Modern
servada em Angra B. apresentam evidentes sinais de bio- tórico da Expansão, nomeadamente Ships of Iberian-Atlantic Tradition.
Entre estes vestígios destacam-se, erosão, responsável pela quase total acerca do papel estratégico das ilhas no Lisboa: IPA, pp. 233-240 (Trabalhos de
pela sua dimensão e importância cien- destruição das madeiras expostas no contexto da navegação no Atlântico. Arqueologia, 18).

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As Termas Tardo-Romanas de Chã da Bica
(Montalvo-Constância)

Salete da Ponte, J. Miranda, e M. Arsénio

Fig. 1 - Pormenor do alveum sudoeste da sala octogonal.


1. Introdução

descoberta ocasional de Foram igualmente identificados Estes assentam directamente num las- das” pela acção da lavoura. Porém, em

A uma talha (1998), com o


grafito ARPIVS, em
propriedade agrícola, situada no Médio
alguns degraus, que ligariam o piso
térreo a um corredor, a uma cota apro-
ximada de 31,60 metros, com destino à
tro compósito de seixos, tijolo, areia e
cal, constituindo duas camadas nítidas
de assentamento: uma nivelando o
2005, na quadrícula NA 22, surgiram
três pequenos núcleos musivos, com
tesselas de diferentes cores (branco,
Tejo, e a recolha de material de cons- casa de fornax. suave declive do terreno, composto por vermelho, cinzento e amarelo), cuja
trução junto à ribeira da Bica, a umas O aparelho das paredes é de opus seixos irregulares e argamassa de areia dimensão não permite qualquer per-
centenas de metros daquele “tesouro” testacium, oscilando a sua largura entre e cal não depurada (statumen); outra su- cepção temática.
rural, foram determinantes para a orga- 0,40 e 0,60 metros. As paredes de ele- porte de opus signinum, constituída Estes núcleos apresentam-se com
nização de um conjunto de acções ar- vação do corredor, de acesso ao prae- por tijolo britado e fragmentos de tijo- uma estrutura de suporte / fixação mui-
queológicas, sistemáticas, que permi- to fragilizada devido, por um lado, à
tissem a identificação daqueles achados sujeição temporal dos trabalhos agrí-
romanos. colas, por outro à forte presença de raí-
Os resultados arqueológicos defi- zes de diferentes elementos arbóreos
niriam, numa primeira fase de acção sis- (figueira e oliveira).
temática (PONTE 2003), o tipo daquelas Nesse ano, os trabalhos de con-
ruínas romanas, a poucos metros do servação, para além de alguma limpeza
solo ocupado de oliveiras e figueiras, com água destilada, visavam funda-
tendo coexistindo com as pré-existên- mentalmente garantir a não degradação
cias algumas dessas árvores, que impe- dos núcleos. Assim, desenvolveram-se
diam a progressão e leitura daquelas. algumas operações técnicas elemen-
Trata-se de alicerces de um edifí- tares, que incluíram a fixação de um ele-
cio termal, dos meados do século III ao mento têxtil (gaze), com a ajuda de
V d.C., encravado em propriedade Fig. 2 - Ligação interior da zona de serviço à sala octogonal, do lado sudeste da ruína.
uma resina acrílica (Paraloid B72, diluí-
rural. Os trabalhos arqueológicos deste do em acetona).
ano (2006) foram bastante profícuos, Em 2006, na quadrícula NA 21,
quanto à definição de alguns espaços furnium, são constituídas com pedras lo, unidos por massame de argamassa e surgiu mais um núcleo musivo, repre-
funcionais do complexo termal. irregulares, seixos do rio e cal hidraúli- cal (nucleus). sentando um entrançado compósito,
ca, embora a superfície externa seja ra- O calcário, proveniente da região policromo (cor branca, ocre vermelho,
2. Arquitecturas e materiais zoavelmente bem afeiçoada. Os blocos de Constância, ocupa dois comparti- ocre amarelo), em fundo azul (Figs. 3 e
de pedra são de calcário da região mentos situados, respectivamente, a 4).
O balneário descoberto ocupa (Fig. 2), envolvendo em argamassa e sudeste e sudoeste da ampla sala octo- Este núcleo musivo, apesar de se
uma área de 165 m2 (Fig. 1), não es- tijolo moído os seixos do rio e pedra gonal; no primeiro, o pavimento calcá- encontrar em melhor estado de conser-
tando ainda definidos os contornos do miúda, ficando os enchimentos bem rio descreve dois círculos adjacentes, vação do que os anteriores, apresenta
edifício termal (balnea). acamados com terra amarelada e are- faltando ainda definir o seu perímetro; algumas alterações físicas, como ondu-
O modelo e volumetria deste bal- nosa. no outro, o lajeado em calcário aparece lação, desprendimento e falhas, devido
neário, de forma radiocêntrica, pelo O revestimento interior das pare- associado a mosaico policromo. É per- a factores similares aos já referidos.
que foi já identificado, situam-se numa des de alvenaria teria, em determinados ceptível o desenho de uma figura de seis Os trabalhos de conservação, além
época tardo-romana. O eixo axial do sectores do edifício termal, reboco de folhas ou fusos, com os espaços inter- da limpeza química e mecânica, con-
edifício com orientação Este-Oeste e à argamassa pintado (pintura mural), calares preenchidos por tesselas musi- substanciaram-se à pretensão de preser-
cota média de 33,60 metros, consta de dada a presença abundante de frag- vas. var o núcleo musivo. Assim, as lacunas
uma sala octogonal, pavimentada a mentos pictóricos. Os pavimentos, ora e extremidades foram protegidas,
opus signinum, com dois alveii semicir- têm revestimento de opus signinum, 2.1. Mosaico: medidas preventivas através da aplicação de uma argamas-
culares, dando aquele espaço nuclear ora lajeado em pedra, ora tijoleira, ora sa hidráulica pobre.
acesso a outras salas radiais, de meno- cobertura musiva. Os massames para o Os trabalhos decorrentes de 1999 Ainda em 2006, e no que respeita
res proporções; umas dão acesso direc- opus signinum eram constituídos por a 2004 foram férteis na identificação de aos núcleos musivos descobertos no
to a áreas de serviço, enquanto outras a pedra miúda e tijolos miúdos, unidos inúmeras tesselas soltas, resultantes de ano anterior, foram também eles su-
espaços nobres do balneário. por argamassa de cal hidráulica e areia. camadas de revolvimento ou “arranca- jeitos a limpeza química, visando essen-

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cialmente retirar a “gaze” aplicada ante- As valências científicas e pedagó-


riormente, devido ao seu estado de de- gicas destas memórias passadas, cons-
gradação. Os tratamentos posteriores fo- tituirão, por assim dizer, os vectores
ram similares aos descritos em relação fundamentais para um conhecimento e
ao núcleo de 2006. fruição participadas das comunidades
As acções desenvolvidas no con- contemporâneas.
texto dos trabalhos arqueológicos do
ano de 2006 foram assumidas clara-
mente como uma intervenção de emer-
gência, visando uma acção imediata Bibliografia
de conservação “in loco”, tendo como
perspectiva futura um enquadramento PONTE, S. (2003) − “Villa Tardo-Romana de
Fig. 3 - Pormenor de núcleo musivo policromo, com um entrançado, de três cordões. Chã da Bica (Montalvo-Constância)”.
geral destes testemunhos arqueológicos.
Cadernos do Património (Escora). Mon-
talvo. 1: 13-66.
3. Perspectivas futuras TARECO, H. (2001) − Relatório Final. Pros-
pecção por Georadar em Constância-
Projecta-se para este sítio arqueo- -Montalvo. Sítio Arqueológico de Chãos
lógico, e num futuro bem próximo, um das Bicas. Lisboa: GeoSurveys. Consul-
Plano de Investigação e de Salvaguarda tores em Geofísica, Ld.ª.
mais amplo, quer no campo da Arqueo-
logia, quer no plano da conservação e
restauro das ruínas. Está em preparação,
um plano de investigação destas ruínas
e de outras existentes na região de
Constância, num Projecto de Revitali-
zação das Memórias Identitárias do
Território, numa perspectiva turística e
Fig. 4 - Remate em voluta do mesmo núcleo musivo.
cultural.

Sepulturas Escavadas na Rocha


preservação ou abandono?

António Luís Marques Tavares

presentamos nestas li- estudo, mas tam-

A nhas algumas considera-


ções sobre a defesa e pre-
servação das sepulturas escavadas na
bém devem ter
um papel de in-
tervenção, natu-
rocha, baseando-nos numa proposta de ralmente funda-
trabalhos apresentada a uma Junta de mentado, no co-
Fig. 1 - Sepultura de Cumieira (Espinho).
Freguesia. nhecimento da
De facto, têm sido poucas as ini- História e do Pa-
ciativas, pelo menos divulgadas, de trimónio existentes na região onde se mento de muitos monumentos. Em realização de trabalhos de limpeza e
protecção física destes monumentos enquadram. particular, as sepulturas escavadas na arranjo do espaço envolvente aos vários
arqueológicos. Associações há que têm uma sec- rocha, por se situarem normalmente exemplares ali existentes, bem como a
É, por conseguinte, importante ção, um departamento, dedicado exclu- nas zonas rurais, longe de tudo e de to- sua divulgação turística.
que se estabeleça entre os arqueólogos sivamente ao estudo da História e dos dos, estão sujeitas ao esquecimento e à A proposta de trabalhos consta
e as juntas de freguesia, as associações diversos patrimónios locais. Associa- destruição. basicamente do seguinte:
culturais, as câmaras municipais uma ções há que contam nessas secções Ainclusão destes testemunhos nos 1 − Limpeza da sepultura (detritos
relação de cooperação que vise a defe- com a colaboração de arqueólogos e roteiros turísticos ajuda definitivamente e lixo do seu interior);
sa eficaz dos diversos vestígios históri- historiadores. à sua conservação e preservação. Outras 2 − Limpeza da zona envolvente
co-arqueológicos. É fundamental evitar que o tempo, acções podem ser tomadas. (corte de vegetação rasteira: fetos, etc.);
Efectivamente, as associações cul- a incúria, o desconhecimento das pes- Nesta linha propusemos, em 2006, 3 − Possível delimitação da sepul-
turais não deverão apenas dedicar-se ao soas conduza ao definitivo desapareci- à Junta de Freguesia de Cunha Baixa, a tura: sugere-se que na área em volta do

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Para além do tratamento técnico
das sepulturas, tentámos problemati-
zar aspectos como a cronologia, os ri-
tuais funerários, quem as escavou e a
quem se destinavam as sepulturas, as
formas de povoamento.
Rapidamente demos conta que
poderíamos alargar o campo de estudo
à freguesia vizinha, para obter maior
consistência no tratamento destas ques-
tões, pois aumentava significativa-
mente o número de túmulos a estudar.
Fig. 2 - Sepultura de Abrunhosa do Mato (Cunha Baixa).
Assim aconteceu e daí resultou um tra-
balho de sistematização, de carácter
monumento sejam colocados quatro de trabalhos, em substituição daquelas monográfico, que intitulámos “Sepul-
pilares de secção quadrangular, discre- empresas, e em articulação com as enti- turas Escavadas na Rocha das Fregue-
tos, em granito, com cerca de 10 cm, um dades acima aludidas. sias de Cunha Baixa e Espinho (con-
em cada canto, de forma a “delimitar” As sepulturas que nos propuse- tributos para a História da Alta Idade
a sepultura. A implantação dos pilares mos valorizar e preservar foram as da Média numa micro região)” e está neste
Fig. 5 - Painel de madeira tratada com sumária
será feita no terreno que circunda os freguesia de Cunha Baixa, no concelho momento no prelo.
descrição histórico-cultural do monumento.
afloramentos graníticos e nunca no de Mangualde, popularmente conheci-
afloramento. Não haverá escavações das por “campas”, “campas dos mou-
nem revolvimento do subsolo. Esta de- ros”, e até por “pias” e “pias dos mou-
limitação será feita onde seja verifica- ros”.
da a sua real importância como elemen-
to de valorização;
4 − Identificação da sepultura: su-
gere-se a colocação de painel em ma-
deira tratada com a descrição sumária da
sepultura;
celho de Mangualde. Traba-
5 − Colocação de placas sinaléti-
1 lho académico apresentado
cas do tipo de trânsito rodoviário, nos na cadeira de Técnicas de
locais onde se achar conveniente, de for- 2 Investigação Arqueológica,
ma a indicar a sua localização (publi- da Fac. de Letras da Univ. de
ca-se uma tabuleta referente a um tra- 3 Coimbra.
4 MARCELINO, A. M. (1995) −
balho já efectuado, que serve de exem-
plo). Fig. 3 - Aspecto geral após intervenção: Fig. 4 - Painel Sinalético de indicação do local. Sacristia da Igreja Matriz
sepultura (1); afloramento granítico (2); de São Julião de Azurara,
6 −Após conclusão dos trabalhos
terreno envolvente (3); pilares de granito Mangualde. Relatório das
será enviado aos Serviços Regionais do escavações de emergência. Mangualde:
(4), 10 cm visíveis.
IPA o relatório dos trabalhos, bem como Bibliografia ACAB - Associação Cultural Azurara da
o estudo completo das sepulturas. Beira.
Naturalmente que ao IPA será pre- Um dos motivos que nos levou a ALARCÃO, J. (1982) − Introdução ao Estudo MARQUES, J. A. M. (2000) − Sepulturas
viamente enviado o projecto para mere- apresentar a proposta enunciada à Junta da História e do Património Locais. Escavadas na Rocha na Região de Viseu.
cer a sua necessária aprovação. de Freguesia, para além dos já expostos, Coimbra: Instituto de Arqueologia e de Viseu.
História da Arte, Faculdade de Letras NESER - Núcleo de Estudos das Sepulturas
foi também o de proceder a uma revi-
da Universidade de Coimbra. Escavadas na Rocha (1989) − “Ficha de
São estes trabalhos, na maior parte são das sepulturas publicadas pelo autor BARROCA, M. J. (1987) − Necrópoles e Se- Levantamento”. Arqueologia. Porto. 19:
das vezes levados a cabo pelas empre- (TAVARES 1988 e 1999), por GOMES e pulturas Medievais de Entre-Douro-e- 180-182.
sas de Arqueologia, que garantem a CARVALHO (1992) e por Menezes MAR- -Minho (séculos V a XV). Trabalho apre- NÓBREGA, P. P. (2005) − “Intervenção
real preservação dos diversos monu- QUES (2000). Outro propósito foi o da sentado no âmbito das Provas Públicas de Arqueológica em Mangualde Coloca a
mentos arqueológicos. Contudo, são confirmação da existência na actuali- Aptidão Pedagógica e Capacidade Cien- Descoberto Sepultura Escavada na Ro-
trabalhos de pouco valor económico-fi- dade de todas as sepulturas referencia- tífica na Fac. de Letras da Univ. do Porto. cha”. Boletim Municipal “O Zurão”.
nanceiro para as empresas, pelo que das por estes autores, bem como as que CASTILLO, A. del (1970) − “Cronologia de Mangualde. 4: 17.
les Tombes Llamadas «olerdolanas»”. SILVA, V. da (1945) − Concelho de Man-
estas preferem dedicar-se a projectos estão identificadas no Levantamento
In Actas del XI Congresso Nacional de gualde: subsídios para a História de
mais rentáveis. É total e naturalmente Arqueológico do Concelho de Man- Arqueologia. Zaragoza: [s.n.]. Portugal. Porto: [s.n.].
compreensível que assim seja. Mas isto gualde, elaborado por Luís Filipe Go- CASTILLO, A. del (1972) − “Excavaciones TAVARES, A. L. M. (1988) − Sepulturas Es-
não significa que as sepulturas escava- mes e por mim (GOMES e TAVARES Altomedievais en las Províncias de Sória, cavadas na Rocha no Concelho de Man-
das na rocha fiquem abandonadas. 1985). Logroño y Burgos”. In Excavaciones gualde. Mangualde: edição do autor.
Na nossa óptica, pode competir Identificar novas estações ou se- Arqueológicas en España. Madrid: [s.n.]. TAVARES, A. L. M. (1999) − Sepulturas Es-
aos arqueólogos que profissionalmente pulturas nas estações já existentes, re- GOMES, L. F. C. e CARVALHO, P. S. de cavadas na Rocha no Concelho de Man-
(1992) − O Património Arqueológico do gualde. Mangualde: ACAB - Associação
estão no ensino ou noutras actividades colher o máximo de informação e pro-
Concelho de Mangualde. Mangualde: Cultural Azurara da Beira.
e que nas suas férias e tempos livres se ceder a uma tentativa de integração no C. M. Mangualde (Terras de Azurara e VAZ, J. L. (1997) − A Civitas de Viseu: es-
dedicam à investigação e à participação contexto arqueológico e histórico onde Tavares, 3). paço e sociedade. Coimbra: Comissão de
nas diversas escavações arqueológicas se localizam, foram as restantes tarefas GOMES, L. F. C. e TAVARES, A. L. M. (1985) Coordenação da Região Centro (História
que acontecem no país, fazer este tipo a que nos propusemos. − Levantamento Arqueológico do Con- Regional e Local, 2).

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notícia preliminar do
Centro Oleiro de Macarome
Cabanelas (Vila Verde)

Luís Cónego

1. Localização e
contexto do arqueossítio

arqueossítio de Maca-

O rome localiza-se no dis-


trito de Braga, concelho
de Vila Verde, freguesia de Cabanelas,
Fig. 1 - Extracto da CMP, Fl. 56. Fig. 2 - Fotografia aérea onde se visionam os lagos artificiais
da extracção de argila e o enquadramento do arqueossítio.

distando sensivelmente seis quilómetros


a Noroeste da cidade de Braga. As co- Cávado, que se estendem de São tância ao sítio, pois até à data só são co- ânforas, sido produzidas com argilas
ordenadas geográficas são as seguintes: Romão da Ucha a Prado. nhecidos vestígios de fornos dentro do oriundas da zona de Prado.
Latitude: 41° 35’44,02” N; Longitude: perímetro urbano. Rui MORAIS (2005: Devido às excelentes condições
8° 29’37,74” W; Altitude: 40 metros. 2. Considerações prévias 84) alega que apenas se conhece a refe- geoestratégicas, associadas à extrema
O local encontra-se implantado rência a um possível forno, encontrado abundância de matéria-prima (barro,
num planalto, no lado direito do rio O arqueossítio é detentor de todas em duas intervenções de salvamento água e lenha), pode-se avançar com a
Cávado, com uma privilegiada posição as potencialidades para ter funcionado realizadas pela UAUM - Unidade de Ar- ideia de este arqueossítio ter sido um
geográfica, sobre terrenos férteis pro- como um centro oleiro, devido ao enor- queologia da Universidade do Minho. proeminente centro de produção de ce-
porcionadores da prática agrícola e me acervo de material laterício (tegul- Acidade de Bracara Augusta en- râmica, com capacidade para abastecer
bosques para a prática silvo-pastoril. lae, ânfora, cerâmica comum, entre contrava-se interligada com o arqueos- e satisfazer as necessidades de Bracara
O arqueossítio ainda não se encon- outros materiais) disperso à superfície, sítio pela Via XIX, que servia como Augusta.
tra identificado. Desta maneira, a notí- à existência de barreiros abandonados “corredor” de extracção das matérias
cia preliminar agora apresentada visa
divulgar um sítio que, devido às suas Bibliografia
características de uso do solo (terrenos
em reserva florestal) e arqueológicas ALMEIDA, C. A. B. (1979) − “ARede Viária
(evidências de se poder tratar de um do Conventus Bracaraugustanos: via
enorme centro oleiro, com infraestru- Bracara Asturicam Quarta”. Minia. Bra-
ga. Série 2.
turas), necessita de estudo delicado e
ARGOTE, J. C. (1732-1734) − Memórias pa-
aprofundado. ra a História Eclesiástica do Arcebispado
Aprimeira e única referência sobre de Braga, Primaz das Hespanhas. Lis-
o arqueossítio é feita por Jerónimo boa.
Contador de ARGOTE (1732-1734), em BARROCA, M. (1993) − “Centros Oleiros de
Memórias para a História Eclesiástica Entre-Douro-e-Minho (séc. XVIII): con-
do Arcebispado de Braga, que recolhe tributo para o seu inventário e cartogra-
fia”. Arqueologia Medieval. Porto. 2.
a versão, sem lhe dar crédito, de poder
MARTINS, M. (1990) − “O Povoamento Pro-
tratar-se da primitiva povoação de Pra- to-Histórico e a Romanização da Bacia
do. Esta versão tem enquadramento do Curso Médio do Cávado”. Cadernos
Fig. 3 - Dispersão do material laterício.
físico e espacial devido à passagem da de Arqueologia: Monografias. Braga. 8.
Via XIX, que ligava Bracara Augusta MARTINS, M. (2000) − Bracara Augusta: ci-
(Braga) e Asturica Augusta (Astorga, que parecem ser romanos, ao tipo de existentes em todos os povoados, visan- dade romana. Braga: Unidade de Ar-
em Espanha), nas proximidades. Con- vegetação (rasteira), à tradição oleira do o abastecimento da cidade, para col- queologia da Universidade do Minho.
MORAIS, R. (1998) − “As Ânforas da Zona
tudo, existem teorias que asseveram a patente desde o período romano até à matar as suas necessidades. das Carvalheiras”. Cadernos de Arqueo-
passagem da Via neste arqueossítio. actualidade, sendo muito célebre no A actividade oleira foi muito im- logia: Monografias. Braga. 8.
Entre elas está o traçado proposto por período medievo. Daí levantar-se a portante no império romano, outrossim, MORAIS, R. (2005) − Autarcia e Comércio
Carlos Ferreira de ALMEIDA (1979: hipótese de este arqueossítio ter sido um na cidade de Bracara Augusta. Rui em Bracara Augusta: contributo para o
103), que aponta a passagem da antiga complexo oleiro dotado de todas as MORAIS (2005: 83) afirma que a olaria estudo económico da cidade no período
Via em Oleiros (cruzando com este ar- condições necessárias para o fabrico foi sem dúvida a indústria mais signi- Alto-Imperial. Braga: UAUM/ /Núcleo
queossítio). O centro produtor cerâmi- de material laterício, que abastecia as ficativa desta cidade romana e Manuela de Arqueologia da Universidade do Mi-
nho (Série Bracara Augusta Escavações
co ganha maior relevo devido à natureza necessidades da cidade de Braga. MARTINS (2000: 21) refere, também, a Arqueológicas, 2).
argilosa do solo que, segundo Manuela A existência de um complexo in- importância da actividade oleira, tendo PEIXOTO, A. (1966) − As Olarias de Prado.
MARTINS (1990: 222), integra os maio- dustrial em extramuros da cidade de a generalidade da cerâmica comum de 2ª ed. Barcelos: Museu Regional de
res e melhores barreiros da região do Bracara Augusta concede maior impor- uso doméstico e, provavelmente, as Cerâmica (Cadernos de Etnografia, 7).

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