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Agrupamento de escolas Santa Maria da Feira

Português 12ºANO
Miguel Torga

Temática

A poesia de Miguel Torga apresenta três grandes linhas de rumo:

1. Problemática religiosa: Revolta da inocência humana contra a divindade


transcendente, negação de deus e obsessão da sua presença, máxima realização humana do divino e
necessidade de o homem procurar a sua verdade na terra. A problemática religiosa é quase
constante na sua poesia. Embora não tomando uma atitude de ateu, Torga, ao negar Deus, não nega
a sua existência, pelo contrário, ele sente a sua existência; nega, sim, a representação que os homens
fazem deste. O que perturba Torga é o facto de não existir um Deus humano e iminente que se
possa sentir e ter. A problemática religiosa (parece recear o Absoluto, esforça-se por negar Deus –
“Desfecho” – mas reconhece a Sua existência e socorre-se da linguagem religiosa) – “Liberdade
que estais no céu (...)/ Rezava o padre (...)/ Mas a tua bondade omnipotente/ Nem me ouvia.”,
Liberdade
- desespero religioso – conflito entre o divino e o terreno
- revolta-se contra Deus, mas não assume qualquer ateísmo
- indecisão face ao absoluto, sagrado e divino
- nega a transcendência, que lhe perturba a razão
- nega Deus/deuses para melhor afirmar o Homem
- sente-se cada vez mais próximo de Deus e menos solitário
- a ausência de um Deus humano e imanente, perturba o poeta
- esperança e desesperança surgem como uma expressão de um conflito íntimo que se desenvolve
no interior do Poeta
- busca força e consciência para entender um certo sentido de destino trágico do ser limitado que é
o Homem
- descrença e revolta contra uma divindade transcendente, parece reflectir angústia e desespero
- constante monólogo verdadeiramente inquieto com Deus
- Deus à obsessão

2. Desespero Humanista: Apego aos limites carnais, terrenos e a revolta espontânea contra
esses limites, sentimento de solidão e experiência do sofrimento, rebeldia contra os limites do
homem e busca do caminho da esperança e da liberdade. O humanista surge devido à sua constante
procura, do verdadeiro sentido da existência humana, que não consegue atingir na sua plenitude, o
que lhe traz, uma certa, angústia. Torga não se limita a conhecer o que lhe está próximo, mas sim
tudo o que lhe está destinado. O desespero humanista (o sentimento doloroso pela condição do
Homem – O Orfeu Rebelde)
Preocupado com a autenticidade criadora, mostra tristeza por não conseguir iluminar a sua poesia.
Para ele o acto poético é indissociável de um certo comportamento místico que aproxima o homem
dessa ordem cósmica em que se integra a sua animalidade

3. Sentimento Telúrico: Apologia de um sentido terreno, instintivo, a terra - local concreto


e natural do homem, inspiração genesíaca, ligação da terra com o sagrado e mito de Anteu. Em
relação à obsessão telúrica, Miguel Torga afirma, convictamente, que o homem deve unir-se à
Terra, ser-lhe fiel, pois para o poeta, a terra surge como a base da vida, chegando mesmo a
considerá-la como um ventre materno. Torga, de uma maneira, personifica a Terra como uma
mulher disposta para a fecundação. Daí ele a considerar como um ventre materno. É a voz de uma
terra –Trás-os-Montes - e também a voz de um povo rude e melancólico, mas de carácter firme e
nobre. A sua obra é um todo literário e humano. O sentimento telúrico (só na ligação à sua terra o
poeta se sente retemperado da luta que trava com Deus e contra o seu destino de homem – S.
Leonardo de Galafura; o sentimento de identificação com a terra projecta-se num amor por
Portugal e pela Ibéria; canta o mundo agrário)
Inspiração genesíaca: a terra é o lugar da realização do ser humano e da ligação ao sagrado
- Na terra fértil, a fecundação permite a vida do Homem que se reproduz na busca de novas vidas
- o Homem deve ser capaz de realizar-se no mundo, de unir-se à terra e de ser-lhe fiel para que a
vida tenha sentido e o próprio sagrado se exprima.
- a terra surge como o ventre materno e que procria
- o telurismo de Torga exprime-se no seu apego à terra, na sua fidelidade ao povo, na sua
consciência de português, de ibérico, no espírito da comunhão europeia e universal
- busca na terra a sua verdade universal, mas sente a condição humana com todos os seus limites
- ama a terra e nela vê a cura para os seus males à poder terapêutico

Torga projecta na sua escrita as suas preocupações com o ser humano, as suas limitações e a sua
necessidade de transcendência. Há um sofrimento magoado, feito desassossego, que tanto permite a
esperança como conduz ao desespero.

Torga procura na poesia uma salvação do homem que questiona deus e se revolta contra a divindade
transcendente.

CARACTERÍSTICAS ESTILÍSTICAS

- simplicidade do discurso
- variedade de estruturas estróficas
- ligação entre as estruturas estróficas e a estruturação das ideias
- irregularidade/regularidade métrica
- alegoria
- adjectivação
- comparações
- metáforas
- imagens
- personificações
- antíteses
- anáfora
- paralelismos
- Escolha das palavras: inspiração genesíaca e inovações báquicas
- Estilo poético: eloquência sóbria, viril, que aquece de entusiasmo ou fastiga
- Uso de estrofes irregulares
- Recursos: verbos e tempos verbais

Mitologia

Mito de Anteu: Figura da mitologia grega e romana, filho da deusa Terra, onde ia buscar forças
para derrotar todos quantos se aproximavam da costa líbia. Foi derrotado por Hércules, que, tendo
descoberto a origem da sua valentia, o ergueu do chão, durante a luta, impedindo, deste modo, que
ele "sugasse" a energia que o alimentava.

Mito de Orfeu - está relacionado com a descida aos Infernos para recuperar Eurídice. Este deus da
antiguidade era um excepcional poeta e músico que conseguiu com o seu canto obter autorização
para ir buscar a sua amada, sob a condição de não olhar para ela enquanto não estivessem fora do
reino dos mortos. Orfeu não resistiu e, por isso, esta desapareceu sem que tivessem chegado ao
portão. Então, a mágoa de Orfeu era traduzida pelas melodias tristes que este tocava quando
passeava pelas florestas. Um dia, um grupo de Bacantes pediu-lhe que se lhes juntasse. Como este
recusou, estas desfizeram-no e lançaram-no em pedaços ao rio. A sua cabeça, sempre a suspirar por
Eurídice, foi levada para o mar e depois sepultada pelas musas. A lira de Orfeu, depois da sua
morte, subiu aos céus e transformou-se numa constelação.

Eurídice - amada de Orfeu que na noite de núpcias morreu por ter sido picada por uma cobra, tendo
sido sepultada no reino dos mortos, de onde Orfeu a vai tentar libertar.

Tântalo - figura da mitologia grega que foi rei da Lídia, a quem os deuses castigaram a nunca poder
matar a sede ou a fome. O seu castigo consistiu em ter perto da boca um ramo de frutos que se
levanta quando este o tenta alcançar, ou em ter junto de si a água que ao tentar beber se escoa. Esta
punição deveu-se, segundo a lenda, ao facto de este ter convidado os deuses para um banquete e ter-
lhes servido o corpo de seu filho. Por isso, foi desterrado pelos deuses para os Infernos.

Fúrias - três deusas dos infernos: Alecto, Medusa e Némesis - deusas da discórdia, da vingança e
do castigo, respectivamente.

Narciso - deus da antiguidade que era extremamente vaidoso e que se enamorou de si próprio.

www.prof2000.pt/users/jsafonso/Port/torga.htm

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