Você está na página 1de 2

Como usar uma prova de touros?

O melhoramento genético do rebanho leiteiro já é uma realidade. Isso se deve, em grande parte, à
utilização correta de provas de touros por criadores brasileiros. Mas qual a principal finalidade desse
tipo de ferramenta? De acordo com Mário Luiz Martinez, pesquisador da Embrapa Gado de Leite, o
objetivo principal das provas de touros é avaliar geneticamente os animais visando a identificação e
seleção de touros superiores. "Assim, esses animais podem ser intensamente utilizados para
promoverem o melhoramento dos rebanhos", explica Martinez.

A maioria desses touros são provenientes de empresas de inseminação artificial que investem
intensivamente na pecuária leiteira. Mas, antes de fazer a escolha de um touro, o criador deve ficar
atento: se utilizar essa prova de forma errônea, em vez de melhorar o rebanho ele poderá perder
qualidade. Como evitar isso?

Antes de mais nada, o criador deve conhecer suas vacas individualmente e verificar qual a necessidade
de cada uma. A partir de então, poderá utilizar um touro para melhorar determinada característica do
rebanho. "Em geral, o produtor deve ficar atento com úberes, produção e aprumos. Esses são os itens
básicos para qualquer um. Já os criadores que preparam seus animais para exposições têm que estar
atentos em mais detalhes", explica Heverardo Rezende Carvalho, diretor da Alta Genetics.

O responsável por pecuária leiteira da Semenzoo Italy, Paulo Zenella, concorda com Carvalho e
acrescenta: "O criador deve realizar uma avaliação individual em suas vacas e verificar qualquer
deficiência. A partir de então, escolhe-se um touro para ajustar esse problema", afirma Zenella.

Para João Floriano Casagrande, da Sembra Produtos de Reprodução, o criador deve utilizar as
avaliações lineares de suas vacas e o acasalamento computadorizado. "O produtor ficará mais tranqüilo,
pois o computador escolhe corretamente o touro ideal para cada vaca. Caso o criador não tenha acesso
a isso, deve ficar atento, então, para prova de leite (PTAM), composto de úberes (UC), composto de
pernas e pés (FLC) e facilidade de parto (CE)", explica Casagrande.

Ao avaliar uma prova de touros, o criador deve tomar consciência de que ele está realizando um
investimento a longo prazo. "O produtor tem que investir em algo que lhe dê retorno com segurança.
Um bom touro é aquele que passa confiabilidade, ou seja, repetibilidade, quantas filhas o animal teve
por rebanho. Além disso, deve-se levar em consideração o antecedente genético desses animais. No
Brasil, leva-se muito em conta que uma vaca é filha de tal touro e nunca que ela é neta ou bisneta
daquele famoso touro. Isso prova que aquele animal tem 'em suas veias' genética de ponta", explica
Rogélio Faustino Pereira, gerente de marketing da Araucária-Aberekin.

ATENÇÃO - Carlos Vivacqua, diretor responsável da Advanced Genetics do Brasil (AG Brasil), acredita
que as provas de touros no Brasil são mal exploradas pelos produtores brasileiros. "Geralmente, o
criador fica mais atento à TPI, que é uma forma de remuneração do leite em cinco anos, só que é uma
forma norte-americana de remunerar o produtor. No Brasil, o criador recebe por volume de produção de
leite, gordura e, principalmente, proteína, que deve ser uma tendência mundial hoje em dia. Analisando
TPI, o retorno esperado não é garantido. Acho que deveríamos estabelecer um padrão", explica
Vivacqua.

O gerente de marketing da Pecplan ABS, Carlos Marcelo Saviani, tem outra opinião "Devido à
produtividade apresentar variações significativas no País, acredito que deve haver um padrão para cada
região. Temos padrões de qualidades diferentes", resume Saviani.

Para Cláudio Aragon, da Semex do Brasil, o produtor deve estar atento em detalhes que julgue
necessários para melhorar seu rebanho. "Em geral, ele deve ficar atento à produção de leite, gordura e
proteína, além é claro da confiabilidade desse touro, conformação, longevidade, caracterização leiteira,
aprumos e caracterização mamária. Analisando cuidadosamente esses itens, o produtor escolhe
determinado touro que atenda as necessidades de seu rebanho", afirma Aragon.

ESCOLHA E DECISÃO - Ao contrário de técnicas de manejo, sanidade e até mesmo de nutrição, a


escolha de um touro para melhorar o rebanho é algo permanente e qualquer descuido compromete todo
um trabalho. "Diferentemente de decisões de manejo, o produtor não pode mais reverter decisões
genéticas. Terá que conviver elas mesmo que reconheça o erro. Por exemplo, a genética das novilhas
de primeira cria que hoje estão produzindo leite refletem as decisões que o produtor tomou três anos
antes. Portanto, tome sempre decisões lógicos e não emocionais. Dê à sua seleção de touros
pensamentos cuidadosos", ensina Márcio Nery Magalhães, superintendente técnico da Associação dos
Criadores de Gado Holandês de Minas Gerais (ACGHMG).

Na opinião de Mário Luiz Martinez, o sucesso de qualquer programa de melhoramento genético depende
da estrutura, qualidade e quantidade de dados e da metodologia de avaliação genética. "Para que os
valores genéticos dos animais possam ser previstos com alta confiabilidade, é importante que se
preocupe com a qualidade das informações que estão sendo avaliadas", afirma Martinez.

Veja o que significa alguns tópicos presentes em provas de touros de algumas


empresas de inseminação artificial que atuam no Brasil:

Tipo – São características funcionais das vacas, que estão ligadas à longevidade da produtora
de leite. "Tipo é muito importante. Acasale para produzir vacas que tenha características de tipo
que as possibilitem produzir por várias lactações. Bons úberes e pernas e pés corretos são as
mais importantes", explica Márcio Nery Magalhães.
TPI – tem importância relativa na escolha de touros pelo criador brasileiro, porque leva muito
em conta a proteína e gordura do leite. Infelizmente, esses itens não são remunerados pelas
indústrias de laticínios no Brasil.
CE – significa Facilidade de Parto (Calving Easy) e é importante na escolha de touros para
novilhas para evitar os partos distócicos (difíceis), que trazem conseqüências danosas para a
saúde, produtividade e fertilidade da futura novilha.
Quando o criador utiliza um bom programa de acasalamento não há com que se preocupar,
porque o computador escolherá para as novilhas somente os touros produtores de bezerros
pequenos ao nascer.
Os criadores que não dispõem desta tecnologia deverão utilizar somente os touros com CE
máximo de 9%.
ILQM - Índice de Qualidade/Quantidade de Leite e Morfologia. É uma espécie de Tipo,
avaliado principalmente na Itália.
ICO - Como se fosse o Tipo americano ou o ILQM italiano. É avaliado na Espanha.
UDC - Composto de Úbere.
PTAT - Habilidade para transmitir Tipo.
PTA - O que um touro pode melhorar em Tipo.
PTAM – Equivale à produção de leite. "É um item muito importante. Todas as fazendas
leiteiras vendem leite. Essa é a única razão da existência da indústria leiteira", afirma Márcio
Nery.
LPI - Índice de Produção Vitalícia. É a caracterização de produção e conformação de um
touro. Quanto mais alto for esse índice, melhor será um touro. O produtor deve ficar atento a um
detalhe. O LPI mede principalmente a produção de proteína. Como no Brasil o mais importante,
ainda, é o volume de leite, deve tomar muito cuidado ao avaliar o LPI.

FONTE:
Revista Alimentação Animal – Número 16 - Set/Dez/1999
Sindicato Nacional da Indústria Alimentação Animal – SINDIRAÇÕES
R Claudio Soares, 160 – CEP 05422-030 – São Paulo-SP
Tel: (11) 3031-3933 / Fax: 3032-9216
E-mail: sindiracoes@uol.com.br

Você também pode gostar