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ESPAÇOS LIVRES DE GOIÂNIA: QUANTIFICAÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E

PERSPECTIVAS*
Osmar Pires Martins Júnior

Resumo: o primeiro Plano Diretor de Goiânia foi elaborado sob a influência de


uma das concepções marcantes do urbanismo mundial, a Cidade-Jardim de Howard. Com
ênfase neste plano e na sua evolução, realizou-se a classificação e quantificação dos espaços
livres, visando determinar o índice de área verde (IAV). A evolução do IAV em correlação
com a evolução da densidade demográfica permitiu prever a quantidade de área verde por
habitante urbano. O IAV calculado é de 100,25 m².hab-1. Em relação ao que foi estabelecido
no plano de criação da cidade houve uma redução per capita de 17,68%, prevendo-se uma
redução de 54,4%, nos próximos 15 anos, caso persista a política de privatização dos espaços
públicos. As áreas verdes urbanas são bens públicos de uso comum da população. Apesar
disso, elas vêm se reduzindo com o tempo. Calculou-se o grau de dilapidação do patrimônio
público. Foi sugerida, dentre outras medidas, a adoção de um programa de cadastramento e
monitoramento do patrimônio ambiental da capital de Goiás.
Palavras-chave: espaço livre, área verde, arborização urbana, urbanização, IAV.

A urbanização é um fenômeno do desenvolvimento da sociedade humana que se


acentuou no Séc. XX (Mumford, 1982). No entendimento de diversos autores, o marco
divisor conceitual do urbanismo moderno pode ser encontrado na obra de Howard (1996).
Este desenvolveu o conceito de Cidade-Jardim que quebrou a dicotomia entre o urbano e o
rural, elaborando um plano urbanístico que se propôs a conciliar as benesses sociais e
econômicas da cidade com a disponibilidade de recursos naturais do campo. O urbanismo,
assim, deixou de se preocupar apenas com a cidade em si e seus aspectos físico-territoriais,
mas também com o campo e com a planificação de regiões e do país como um todo (Ottoni,
1996).
As influências da concepção de Howard se refletiram no planejamento urbano de
todo o mundo: na Escandinávia com os Planos de Copenhague, em 1948 e 1960 e de
Estocolmo, em 1952 e 1966; nos EUA, com a implantação das cidades Sunnyside Garden, e
Radburn, ambas em 1928 e do Programa Governamental dos Cinturões Verdes, que construiu
as cidades-jardins de Greenbelt, Greenhills e Greendale, no período 1935-55; na França,
através do Plano Diretor da Região de Paris, em 1963-66; na Inglaterra com o Plano de
Abercrombie para a Grande Londres, em 1944 e o Plano de Construção das Cidades Novas
que se estendeu por três gerações - 1947/50, 50/64 e 1964/70, reconstruindo 21 cidades e
construindo 34 novas (Chaudacoff, 1977, p. 284-7).
No Brasil, o traçado urbano de Goiânia aprovado em 1938, foi elaborado sob a
influência da concepção de Cidade-Jardim de Howard. O plano diretor desta cidade
estabeleceu a diretriz de elevada proporção de espaços livres e, especialmente, de áreas verdes
por habitante urbano.
A vegetação original do sítio onde foi implantada a cidade de Goiânia é
caracterizada por um mosaico onde aparecem vários tipos de formações vegetais que
compõem a região do cerrado, segundo a classificação de Eiten (1994). Assim, as áreas
contendo as formações vegetais naturais foram transformadas em Unidades de Conservação,
proporcionando um diversificado Sistema de Espaços Livres, tanto no aspecto quantitativo
como no qualitativo.


Artigo publicado em: Estudos Humanidades - Revista da Universidade Católica de Goiás, v. 30, n. 3, mar.
2003, pp.557-581. ISSN 0103-0876.

** Mestre em Ecologia. Presidente da Agência Ambiental do Estado de Goiás.
BASES TEÓRICO-CONCEITUAIS

O uso e controle do solo nas cidades americanas, no geral, é realizado através de


um processo no qual a espacialização da cidade adquire a forma de centros de negócios
(CBD), na sua Área Central, com uma Zona Periférica em torno daquela. Os CBD possuem
localização privilegiada e são dotados de toda infra-estrutura disponível. Consequentemente,
as funções urbanas (habitar, locomover, trabalhar e recrear-se) desenvolvem-se de forma
concentrada. Como o adensamento urbano é determinado pela estrutura e pela fisiologia
urbanas, a tendência geral é de que as regiões centrais se apresentem com maior densidade,
decaindo em direção à periferia (Corrêa, 1995).
Assim, nas cidades submetidas a este processo de urbanização, os espaços livres e
por conseqüência as áreas verdes são substituídas pelas edificações que maximizam o uso do
solo de acordo com as leis de mercado, não recebendo, portanto, tratamento prioritário na
gestão do espaço urbano.
A substituição da cobertura natural do solo por edificações contendo materiais de
constituição diversa tem como conseqüência a alteração radical do balanço da radiação solar
no meio intra-urbano. No meio natural, o balanço da radiação é formado pelo equilíbrio entre
as radiações de ondas curtas (incidentes diretas e difusas) e as de ondas longas (refletidas e
rerradiadas). A manutenção deste equilíbrio é exercida preponderantemente pela cobertura
vegetal do solo. No meio urbano, por seu turno, sobretudo, nas regiões adensadas, a vegetação
desaparece, deixando de cumprir este papel de equilíbrio. Em decorrência, o balanço de
radiação tende a apresentar prevalência de ondas longas, refletidas pelos materiais
construtivos da cidade. O asfalto, por exemplo, apesar do baixo albedo, em virtude da alta
capacidade de absorção da energia radiante do sol, torna-se um emissor de ondas longas,
aquecendo o meio intra-urbano. Já as florestas e as superfícies cobertas por água possuem
baixo albedo e elevada capacidade de absorção, mas atuam na refrigeração e umidificação do
meio.
Os espaços livres e as áreas verdes em particular cumprem importante papel na
manutenção do equilíbrio urbano, exercendo efeitos ambientais benéficos sobre o ecossistema
urbano. Segundo Sattler (1992), a arborização urbana contribui para a preservação e melhoria
da qualidade ambiental das cidades através de duas funções. A função fisiológica está
relacionada à melhoria das condições do solo; a regularização do ciclo hidrológico, limitando
as “trombas d’água”; a moderação dos extremos climáticos; a sobrevivência da fauna; e a
redução dos níveis de poluição atmosférica. A função psicológica se refere à quebra da
monotonia das cidades, com a mudança do horizonte e a manifestação de um ritmo natural,
com cores relaxantes, possibilitando a renovação espiritual.
De acordo com Ometto (1981) o percentual de vapor d'água na atmosfera é
determinado pela temperatura ambiente, bem como pelas interações físicas e fisiológicas com
o meio, incluindo vegetais e animais. No aspecto físico, a estrutura molecular do vapor d'água
possui uma propriedade de forte interação com radiações eletromagnéticas emitidas por
materiais existentes a temperatura do ambiente.
Assim, por ser um armazenador de energia e por se movimentar juntamente com o
ar, segundo este autor, o vapor d'água é um equalizador da energia do meio, amenizando,
devido a isso, as trocas de energia. Noutro aspecto, através da evapotranspiração, - um
processo físico-fisiológico de trocas com o meio -, as plantas tem as suas funções fisiológicas
estreitamente ligadas à quantidade de vapor d'água existente no ar atmosférico.
A equação de equilíbrio do fluxo de energia no meio urbano pode ser expresso
pela equação simplificada do balanço energético: RL = E + S + C, sendo: RL - radiação
líquida disponível; E – calor latente de evaporação; S – calor sensível; C – calor do solo.
Como os valores de E e S são de difícil medição, utiliza-se um artifício para a extrapolação
destes valores com base na razão de Bowen:  = S/E.
A razão de Bowen () depende da densidade do revestimento vegetal e da
disponibilidade de água. Durante o dia grande parte da energia proveniente dos raios solares é
consumida pela evaporação, nas imediações de grandes superfícies aquáticas ou de
comunidades vegetais com intensa respiração. Por isso, a razão de Bowen aumenta de uma
área florestada para uma desnuda. Assim, a estimativa da evapotranspiração pela teoria do
balanço de energia é dada por Ometto (op. cit.): E = (RL – C)/(1 + ).
Os revestimentos vegetais tendem a melhorar tanto o clima das imediações como
as condições de vida. Estes benefícios ambientais decorrem dos processos ecofisiológicos
relacionados ao balanço térmico e hídrico da vegetação. A evapotranspiração das massas
vegetais urbanas proporcionam um efeito benéfico importante na qualidade ambiental de vida.
Ricklefs (1996) afirma que as maiores reações de transformação de energia da
vida são as que envolvem o processo assimilativo e desassimilativo do carbono na
fotossíntese e na respiração. A única fonte de carbono assimilável pelas plantas é o CO 2
atmosférico. A concentração do gás carbônico no ar - de apenas 0,0003 atm -, é muito menor
do que o gradiente de pressão que puxa vapor de água da planta para a atmosfera. A diferença
de pressão que o CO2 e a H2O exerce no tecido de uma folha e no ar circundante responde –
estima o autor – pela transpiração de mais ou menos 500 g de água para cada grama de
carbono assimilado pelas plantas.
O efeito refrescante da evaporação pode ser calculado pela taxa de transpiração,
dada pela fórmula QS =  . , sendo  a quantidade de água evaporada, e  o calor latente ou
de vaporização da água (2,4-2,5 kJ . g-1 H2O ). A transpiração a uma taxa de 1 g de H 2O . dm-
2
. h-1 (0,1 mm de água por hora) corresponde à remoção de calor da ordem de 0,1 cal.cm -2.h-1
ou cerca de 70 W.h-1 (Larcher, 1986).
Em condição de clima tropical, há uma estreita inter-relação entre solo e
vegetação, mais do que nos subtrópicos e regiões temperadas. Afirmam Kramer & Koslowski
(1972), complementados por Detzel (1992) que, com adequado suprimento hídrico no solo,
uma árvore isolada pode transpirar 400 litros d’água por dia, cujo efeito térmico eqüivale ao
funcionamento diário de 5 condicionadores de ar com capacidade de 2500 quilocalorias cada.
Dessa maneira, a evapotranspiração das massas vegetais urbanas proporciona um efeito de
refrigeração e de umidificação do ar importante na qualidade ambiental de vida.
Sette (1996) constatou que numa cidade com típico clima tropical – no caso
Rondonópolis/MT – o desmatamento e a impermeabilização do solo, sobretudo na área
adensada central, impõem uma brusca redução na capacidade de armazenamento d'água pelo
solo urbano. Ressalta a autora que, sob condições de intensa radiação solar, a água
armazenada no solo poderá ser evaporada em questão de horas. Esse aquecimento rápido
diminui o consumo de calor latente (energia gasta na vaporização d'água). Assim, pelo fato de
existir pouca evaporação (pela ausência de vegetação e água disponível), toda energia
absorvida pela superfície impermeável junto à interface solo/atmosfera, transforma-se em
calor sensível, aumentando a temperatura intra-urbana e o desconforto ambiental. Observou
ainda que a temperatura da superfície do solo urbano citada apresenta uma variação de acordo
com o uso do solo e com a natureza da sua cobertura. A temperatura do solo aumenta e o
albedo diminui quando se passa de ambientes vegetados e permeáveis para ambientes
concretados e impermeabilizados.
Decorre do acima exposto que uma adequada Política de Gestão Urbana deve
contemplar o desenvolvimento de um Sistema de Espaços Livres. De acordo com Milano
(1992), os espaços livres, as áreas verdes e a arborização urbana são conceitos bastante
correlacionados. Os espaços livres são áreas não edificadas com potencial para se
transformarem em áreas verdes. Toda área verde é um espaço livre, não sendo verdadeira a
recíproca. A arborização urbana, por sua vez, é o conjunto de áreas públicas e privadas com
vegetação em estado natural ou predominantemente arbórea.
Um dos indicadores da qualidade de vida urbana é o índice de área verde (IAV). É
importante determiná-lo, pois ele proporciona benefícios ambientais, expressando a
quantidade per capita de espaços livres com potencialidade para a implantação de áreas
verdes. Este índice é um indicador do caráter do desenvolvimento urbano, em particular do
uso do solo e da produção e apropriação do espaço urbano. Apesar dos planos de urbanização
de Goiânia estabelecerem diretrizes para a preservação dos espaços livres e das áreas verdes,
observa-se um acentuado processo de degradação do patrimônio público, através de uma
política de privatização com reflexo direto na redução do IAV. Neste trabalho procurar-se-á
estabelecer uma correlação entre as variáveis que indiquem uma relação de causa-e-efeito
entre os fatores de desenvolvimento urbano e as áreas verdes.

MATERIAL E MÉTODOS
Objetivos

Levantar, classificar e quantificar os espaços livres do município, caracterizando


preliminarmente as áreas verdes da zona urbana e de expansão urbana, visando determinar o
índice de área verde (IAV) da capital em estudo, em metros quadrados por habitante,
conforme metodologia a seguir descrita; identificar as áreas públicas constantes dos planos de
loteamento, de acordo com o memorial e a planta aprovada, bem como atualizar o uso do
solo, visando quantificar as que foram desvirtuadas; calcular o índice de dilapidação do
patrimônio público, por micro-região, como um indicador da degradação das áreas verdes do
município, conforme metodologia a seguir descrita.
Realizar a análise estatística dos fatores densidade demográfica e índice de
dilapidação do patrimônio público, por micro-região urbana, enquanto indicadores da
presença humana no meio urbano, procurando estabelecer o tipo de associação entre estes
fatores e o IAV; a partir da análise estatística, calcular a equação de regressão entre as
variáveis analisadas, para que se possa estimar o IAV em função do adensamento humano.

Caracterização da Área de Estudo

A área objeto de estudo é o município de Goiânia. Situa-se no Planalto Central do


Brasil, a cerca de 764,5 metros acima do nível do mar, latitude 16º40’43” e longitude
49º15’14”; possui uma área de 789,7 km² que corresponde a 0,23% da área total do Estado,
abrigando 1.090.581 habitantes.
O clima da região, segundo classificação de Köppen é do tipo Aw, tropical úmido
- clima de savana, caracterizado por apresentar duas estações bem definidas – uma chuvosa,
de outubro a março e outra seca, de abril a setembro, no qual a precipitação anual é menor que
10 vezes a precipitação do mês mais seco (sendo esta inferior a 60 mm) e a temperatura de
todos os meses maior que 18ºC. Pela conjunção de fatores locais de relevo e altitude,
diferencia-se em Goiânia uma modalidade de clima subquente e subúmido.
A geologia regional é constituída por rochas do Arqueano, pertencentes ao
Complexo Basal Goiano, inseridas no vasto Planalto Central Goiano, numa subunidade
conhecida como Planalto Rebaixado de Goiânia, localizada a 850 - 950 metros, sobre
litologias diversas, cristalinas e metassedimentares. As principais unidades geomorfológicas
são os Terraços e Planícies Fluviais da Bacia do Meia Ponte, os Fundos de Vale e o Planalto
Embutido de Goiânia. No geral, os terrenos desta última unidade são altos e secos, de relevo
suave a fortemente ondulado, recobertos por solos do tipo Latossolos, Podzólicos, Gleissolos,
Cambissolos, Litossolos e Solos Aluviais. O primeiro grupo citado predomina sobre os
outros, o que contribui para a existência de uma malha hidrográfica bastante rica, pertencente
à bacia da margem direita do Rio Meia Ponte.
O Planalto Central do Brasil situa-se sob o Domínio dos Cerrados, que pelo
caráter florístico, faunístico e geomorfológico e pela extensão de quase dois milhões de
quilômetros quadrados, se constitui no ponto de equilíbrio dos grandes domínios
morfoclimáticos e fitogeográficos do Brasil. Em termos de paisagem vegetal, a cidade de
Goiânia está localizada na área “core” da Província Biogeográfica do Cerrado. Neste meio
urbano ainda se pode encontrar formações abertas como campo e cerrado stricto sensu,
ambientes de vereda, mata ciliar e fragmentos de interflúvio, implicando numa significativa
diversidade florística urbana. É provável que essa heterogeneidade de ambientes propicie
condições para a sobrevivência de muitas espécies animais. No entanto, o impacto da
urbanização tem resultando no rápido empobrecimento do patrimônio ambiental da cidade
estudada.

Descrição do projeto

Os dados cartográficos do município em estudo foram organizados no Projeto


Gyn; projeção UTM/córrego; escala 1:100000; coordenadas planas; retângulo envolvente: X1
= 662000 mE, X2 = 700000 mE; Y1 = 8140000 mN, Y2 = 8172000 mN; meridiano central
O-49-16-00.
Utilizou-se a técnica do geoprocessamento para quantificar e avaliar a evolução da
cobertura vegetal per capita, através do Sistema de Informações Geográficas (SGI/INPE). As
informações geográficas foram formatadas e representadas em trinta e dois PI’s, agrupando os
bairros ou setores da cidade de acordo com o macrozoneamento e, em geral, com os trinta e
quatro distritos administrativos estabelecidos no Plano Diretor para a zona urbana e de
expansão urbana. Os PI’s definidos pertencem à categoria modelos temáticos delimitando
regiões correspondentes a cada uma das classes de uso do solo, analisadas e categorizadas por
espaços livres, segundo metodologia adaptada de Escada, apud Bianchi & Graziano (1992) e
Richter, apud Sousa et al. (1992).
De acordo o Plano Diretor da Cidade e com as plantas e memoriais descritivos dos
planos de loteamento, os espaços livres foram identificados e selecionados para inclusão nas
Zonas de Proteção Ambiental definidas pelo Zoneamento Urbano, sendo classificados em
praça, parque, parque linear, verde de acompanhamento viário, espaço livre público, área
verde particular, cemitério, equipamento público, jardim de representação e área pública
parcelada (identificada pelo confronto das cartas planialtimétricas dos loteamentos com as
cartas aerofotogramétricas e com o Mapa Urbano Básico Digital de Goiânia).
Para cada PI foi calculada a área das respectivas classes de espaços livres, sendo
as de função ambiental computadas no somatório da categoria de área verde, que foi definida
como todo espaço livre, público ou particular, não edificado, na zona urbana ou de expansão
urbana, com potencial ou efetiva função ambiental, de uso comunitário, de permeabilidade do
solo e/ou de conservação dos recursos naturais.
Portanto, temos: área verde total = praça + parque + parque linear + verde de
acompanhamento viário + área verde particular + cemitério + jardim de representação + área
pública parcelada que mantém função ambiental + equipamento público com área permeável.
O índice de área verde (IAV) foi calculado através da fórmula: IAV = Área verde total (m²) ÷
População (n.º de habitantes). Calculou-se o índice de dilapidação do patrimônio público,
como um indicador da degradação das áreas verdes, através da seguinte relação: Índice (%) =
(Área pública parcelada por PI, em m² ÷ Total dos espaços livres por PI, em m²) x 100.
RESULTADOS
Análise quantitativa

Os espaços livres, dentro do perímetro urbano e de expansão urbana, calculados


por cada classe e por Plano de Informação, totalizam 116,303 milhões de m². Os espaços
livres foram identificados e selecionados para inclusão nas Zonas de Proteção Ambiental
definidas pelo Zoneamento Urbano de Goiânia (Lei Complementar n.º 031, de 29 de
dezembro de 1994).
Foram classificados e quantificados segundo metodologia já citada, sendo 3,307
milhões de m² de praça; 13,658 milhões de m² de parque; 14,569 milhões de m² de parque
linear; 2,774 milhões de m² de verde de acompanhamento viário; 3,382 milhões de m² de
espaço livre público; 55,933 milhões de m² de área verde particular; 643 mil m² de cemitério;
20,212 milhões de m² de equipamento público; e 1,827 milhões de m² de jardim de
representação/outras classes (Martins Júnior, 2001, p. 207) (tabela 1).

Tabela 1 – Classificação e quantificação (m²) dos espaços livres de Goiânia, em


20/11/2000
Espaço Área Área
Pis/ Pq. Verde Cemi- Equip. Jd. Rep.
Praça Parque Livre Verde Pública
clas-ses Linear Viário tério Público /outras
Público Part. Parc.
AERO 23.699 17.037 557.361 22.994 154.156 0 0 69.791 1.417 500.296
AGUA 182.788 1.177.244 713.938 291.063 135.300 2.927.619 0 156.888 393.819 267.719
AMAZ 52.844 114.012 472.048 2.836 37.132 251.108 0 42.484 2.588 442.412
BALN 92.182 589.842 1.210.382 60.735 264.040 2.292.322 0 221.536 13.640 3.846
CAMP 44.343 0 23.375 11.655 22.012 0 49.381 142.081 0 335.266
CAPU 88.956 0 798.588 51.435 100.260 5.093.343 0 224.406 34.893 466.803
CJAR 88.436 42.345 97.972 41.463 35.465 0 0 729.959 28.940 190.694
CRIO 27.936 0 320.609 15.500 32.306 0 0 10.159 0 307.568
CS 240.313 1.181.469 155.638 151.100 55.419 17.750 0 558.544 39.131 1.150.131
CURI 106.368 1.271.192 347.960 79.184 516.360 6.438.808 0 403.456 195.504 196.736
FAI 175.410 354.612 297.525 80.552 0 513.635 0 227.008 0 131.424
FERR 100.959 69.311 995.853 39.193 256.489 0 436.112 392.744 2.835 513.443
FINS 158.220 19.024 238.832 28.440 27.920 1.046.376 0 364.424 17.664 32.812
GARA 76.551 279.068 123.146 167 4.148 6.076.600 0 122.468 0 80.430
GENT 137.144 0 401.029 48.438 126.995 21.722 157.678 181.964 8.507 70.544
GOI2 18.772 178.644 659.140 73.360 0 12.512 0 300.376 153.644 0
GUA 35.875 585.338 673.500 115.675 362.938 813.906 0 612.075 15.031 95.013
HILA 107.796 349.280 289.768 42.296 90.084 2.178.372 0 1.267.052 13.536 91.980
ITAT 60.220 915.739 316.969 262.250 83.632,64 8.735.686 0 276.317 50.964 0
JAÓ 76.424 1.326.400 526.968 130.580 0 240.457 0 4.933.103 6.490 588.764
JATL 132.512 94.092 891.808 84.656 46.476 0 0 248.424 106.632 162.164
JDBO 137.114 116.413 349.652 61.061 205.314 3.289.726 0 276.345 31.212 43.562
JG51 85.476 247.812 257.968 126.128 151.584 195.092 0 304.776 384 280.220
MAI 15.176 61.864 0 10.428 8.616 0 0 78.956 17.128 0
MUN 96.092 581.076 311.296 76.684 37.544 112.256 0 21.136 5.836 848.588
NOVA 113.713 48.067 124.954 66.662 4.493 0 0 966.193 0 176.592
PIJB 202.896 239.229 1.079.280 75.069 511.722 2.858.427 0 334.224 159.858 466.965
PL 91.032 1.051.062 245.188 83.437 68.388 0 0 217.097 0 419.081
PLA 150.403 1.405.111 269.771 269.771 34.261 8.435.922 0 1.732.489 184.977 240.598
SERR 176.728 0 627.504 10.668 7.928 0 0 119.784 0 261.716
VERA 210.403 582.432 353.324 141.356 1.308 4.381.227 0 506.778 342.235 53.861
UNI 0 760.428 838.125 220.122 0 0 0 4.168.827 0 0
TOTAL 3.306.781 13.658.142 14.569.469 2.774.957 3.382.289 55.932.867 643.170 20.211.864 1.826.866 8.419.228
A área pública alienada é de 8.419.228 m². As áreas de equipamento público que
foram computadas no IAV, por serem permeáveis e/ou cobertas por vegetação, somam o total
de 12.400.924 m² (tabela 2).
As áreas públicas alienadas que, mesmo assim, mantém função ambiental
perfazem uma superfície de 841.304 m² (tabela 3).

Tabela 2 – Equipamento público com área permeável computada no IAV


Discriminação Área (m²) Coordenadas (X1, X2; Y1, Y2)
691991.94, 693521.87;
Autódromo Internacional de Goiânia 929.923
8150078.20, 8151472.06
680241.82, 681191.41;
Hipódromo da Lagoinha 459.513
8154106.16, 8154857.72
681003.80, 681298.13;
Clube da Telegoiás 60.698
8154556.69, 8154832.31
687505.11, 687891,05;
Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) 37.515
8158581,69, 8158770,08
691485.03, 692258.31;
Central de Abastecimento (CEASA) 593.315
8160080.58, 8161325.97
690906.94, 692023.45;
GOIASRURAL 898.197
8158214.54; 8159697.28
688496.13, 691503.74;
Aeroporto Santa Genoveva 4.116.896
8158884.99; 8161201.41
689606.55, 690720.74;
Ministério da Agricultura 735.116
8158230.24, 8159388.41
687089.55, 687417.97;
Caixa Econômica de Goiás (CAIXEGO) 35.136
8158350.78, 8158568.56
686669.18, 686974.66;
Hospital Adauto Botelho 59.153
8157655.00, 8158028.34
686604.63, 687325.10;
ETAG SANEAGO/Regimento de Cavalaria 177.911
8157818.14, 8158498.31
685449.80, 685851.30;
Terminal Rodoviário de Goiânia 128.724
8157162.08; 8157628.75
682981.75, 686121.18;
Campus II da UFG 4.168.827
8162957.92, 8164843.81
TOTAL 12.400.924 -

Tabela 3 – Área pública alienada que mantém função ambiental


Coordenadas
Discriminação Destinação original Área (m²)
(X1, X2; Y1, Y2)
Parque Municipal Aquático 689221.16, 690242.01;
Clube Jaó 409.964
Jaó 8157753.05, 8159287.55
Estádio e sede do 685169.98, 685501.35;
Praça 67.314
Goiás E. Clube 8151525.27, 8151739.13
Reservatório da Saneago, 685938.00, 686384.46;
Parque Municipal Paineiras 109.070
Clube da Celg/Telegoiás 8153165,58, 8153648.48
Clubes de Engenharia, Parque Municipal do 685477.62, 685790.17;
90.611
dos Oficiais, dos Sargentos S. Marista 8153074.13, 8153862.16
Estádio e sede do Parque Municipal do S. Leste 687918.27, 688051.18;
24.798
Vila Nova F. Clube Universitário 8155668.24, 8155873,25
Estádio e sede do 682876.86, 683129.11;
Praça 31.849
Atlético Clube Goianiense 8156073.10, 8156318.39
Morro da Serrinha 684802.85, 685422.66;
Parque Municipal da Serrinha 107.698
(Telegoiás/Celg/Saneago) 8150084.87, 8150407,92
Total - 841.304 -

O IAV é o quociente entre o somatório da metragem quadrada de praça, parque,


parque linear, verde de acompanhamento viário, espaço livre público, cemitério, equipamento
público com área permeável, jardim de representação e de área pública alienada que mantém
função ambiental; e, o número total de habitantes da cidade.
3.306.781+13.658.142+4.569.469 +2.774.957 +3.382.289 +55.932.867+643.170 +12.400.924 +1.826.866+841.304
IAV =
1.090.581
IAV = 109.336.769 ÷ 1.090.581 => IAV = 100,25 m².habitante-1

As categorias levantadas de espaços livres, em ordem decrescente de superfície


são: área verde particular, equipamento público, parque linear, parque, espaço livre público,
praça, verde de acompanhamento viário, jardim de representação/outras e cemitério (figura
1).
A distribuição dos espaços livres apresenta os seguintes valores percentuais:
44,84% de área verde particular, 16,21% de equipamento público, 11,68% de parque linear,
10,95% de parque, 2,72% de espaço livre público, 2,65% de praça, 2,21% de verde de
acompanhamento viário, 1,47% de jardim de representação/outras e 0,52% de cemitério.
A área verde particular é uma categoria de espaços livres representada pela área
de preservação permanente (Zona de Proteção Ambiental, ZPA-I), estabelecida nos arts. 85 e
86 da Lei de Zoneamento: área coberta por mata ou várzea, identificada no mapa
aerofotogramétrico; faixa bilateral contígua aos cursos d’água; área circundante de nascente
temporária ou permanente; área de topos e encostas dos morros Serrinha, Mendanha, Santo
Antônio e do Além; e área circundante aos lagos, lagoas e reservatórios d’água naturais ou
artificiais.

O equipamento público é uma área institucional destinada à instalação de


equipamento público (água, esgoto, telefonia, etc.) ou comunitário (escola, posto de saúde,
segurança, etc.), bem como de parque infantil destinado ao lazer e recreação direcionado ao
público infantil e de parque esportivo, destinado ao lazer e recreação de todas as faixas etárias
(art. 85 da Lei de Zoneamento).
O parque linear é um espaço livre estabelecido no Plano Diretor e no art. 87 da
Lei de Zoneamento, como ZPA-II, área de domínio público lindeira aos cursos d’água, numa
faixa bilateral contígua mínima de 50 metros, com a função conservacionista (recursos
hídricos e mata ciliar), recreacional e/ou de lazer, de dimensão variável com a extensão do
manancial.
O parque é uma área pública estabelecida na planta e no memorial descritivo do
plano de loteamento como unidade de conservação municipal, definida pelos artigos 85 e 87
da Lei de Zoneamento como ZPA – II, dotada ou não de cobertura vegetal, com função
ambiental, recreativa e/ou de lazer, possuindo ou não equipamentos de lazer ativo ou passivo
e com área geralmente superior a 10.000 m².
O espaço livre público é uma área de domínio público, de dimensão variável,
constante da planta e do memorial descritivo dos planos de loteamento, não numerada e que
não recebeu uma destinação específica, podendo desempenhar a função comunitária ou de
preservação, de acordo com o interesse público.
A praça é uma área pública definida como ZPA – IV pelo artigo 85 da Lei de
Zoneamento, com dimensão de 1.000 m² a 3.000 m², ou de acordo com a dimensão definida
na planta e no memorial descritivo do plano de loteamento, limitada total ou parcialmente por
via de circulação de veículos, destinada a função ambiental, recreativa e/ou de lazer,
possuindo ou não equipamentos de lazer ativo ou passivo.
O verde de acompanhamento viário é uma área pública estabelecida pelo artigo 85
da Lei de Zoneamento como ZPA – IV, exerce função ornamental ou de integração urbana,
como canteiros de avenidas e rotatórias. Não tem função recreacional e a sua função
conservacionista é limitada, cuja importância ganha relevo em Goiânia, por ser uma categoria
de espaço livre presente em praticamente todos os planos de loteamento, na qual o poder
público desenvolve tradicionalmente o cultivo de flores nos canteiros e, não raro, com a
participação da população por iniciativa própria do plantio de árvores de rua.
O cemitério é um espaço livre de domínio público ou particular, incluído como
uma classe de espaço livre de acordo com a metodologia adotada (Sousa et al., 1992, p. 243),
geralmente ocupando significativas superfícies em área urbana ou de expansão urbana;
O jardim de representação é uma área de domínio público ou particular,
estabelecida como planta ornamental de logradouro pelo artigo 85 da Lei de Zoneamento
(ZPA-IV). São os jardins em volta de prédios públicos, igrejas, etc. Este espaço livre não tem
função recreacional e sua função ambiental é reduzida. Nesta classe foram incluídas outras
categorias de espaços livres que não se enquadraram em nenhuma das anteriores, como áreas
não construídas e gravadas nas plantas como reservadas, mas sem numeração e sem
destinação especificada no memorial descritivo do loteamento. Essas áreas foram
interpretadas como espaços abertos enquadrados como ZPA-IV, seguindo a jurisprudência
sobre o parcelamento e uso do solo urbano.
A área pública parcelada é uma classe de espaço livre originalmente destinada ao
uso público, comunitário e/ou ambiental que sofreu um processo de alienação, estando hoje
com uso do solo privatizado e desvirtuado da sua destinação original. O uso do solo atual
desta classe foi identificado pelo confronto das cartas planialtimétricas dos planos de
loteamento com as cartas aerofotogramétricas do município e com o Mapa Urbano Básico
Digital de Goiânia (MUBDG), versão 9.

Análise estatística

Os dados levantados apontam para uma possível relação causal entre a ocupação
humana, indicada pela densidade demográfica (habitantes por quilômetros quadrados) e os
espaços livres, indicados pelo IAV (metros quadrados por habitantes), por micro-região, que
corresponde aos planos de informação – PI’s (tabela 4).

Tabela 4 – Relação entre densidade demográfica e índice de área verde (IAV) por micro-região (PI) de
Goiânia
Densidade Índice de Área Índice de Área
Plano de Densidade Demográfica
Plano de Informação (PI) Demográfica Verde- IAV Verde - IAV
Informação (PI) (hab.km-2)
(hab.km-2) (m².hab.-1) (m².hab.-1)
AERO 7.515 38,31 GOI2 318 731,51
AGUA 2.940 282,71 GUA 2.737 113,94
AMAZ 6.054 51,29 HILA 6.919 118,33
BALN 2.427 282,49 ITAT 3.516 589,27
CAMP 9.911 6,34 JAO 1.331 960,78
CAPU 3.045 122,97 JATL 6.128 25,65
CJAR 8.731 28,49 JDBO 876 423,28
CRIO 7.520 17,27 JG51 2.645 219,29
CS 10.187 19,22 MUN 6.572 25,71
CURI 5.617 503,38 NOVA 10.229 28,81
FAI 1.682 156,12 PIJB 3.224 115,36
FERR 4.317 116,83 PL 7.852 46,55
FINS 5.922 48,63 PLA 7.150 316,48
GARA 2.063 576,25 SERR 9.067 19,00
GENT 3.493 33,50 VERA 3.410 303,92

Tabela 5 – Desenvolvimento do método de verificação da homogeneidade dos dados da tabela 4


Dens. Dem. Média Amplitude Ampl./Med. Ampl./med.
IAV (m².hab)
PI (hab.km-²) C D E F
B
A (B + A)÷2 /A – B/ (D÷C) D÷(C)
AERO 7.515 38,31 3.776,655 7.476,690 1,980 121,662
AGUA 2.940 282,71 1.611,355 2.657,290 1,649 66,198
AMAZ 6.054 51,29 3.052,645 6.002,080 0,983 54,322
BALN 2.427 282,49 1.354,745 2.144,510 1,583 58,264
CAMP 9.911 6,34 4.958,670 9.904,660 1,997 140,656
CAPU 3.045 122,97 1.583,985 2.922,030 1,845 73,419
CJAR 8.731 28,49 4.379,745 8.702,510 1,987 131,498
CRIO 7.520 17,27 3.768,635 7.502,730 1,991 122,216
CS 10.187 19,22 5.103,110 10.167,780 1,992 142,334
CURI 5.617 503,38 3.060,190 5.113,620 1,671 92,439
FAI 1.682 156,12 919,060 1.525,880 1,660 50,332
FERR 4.317 116,83 2.216,915 4.200,170 1,895 89,206
FINS 5.922 48,63 2.985,315 5.873,370 1,967 107,496
GARA 2.063 576,25 1.319,625 1.486,750 1,127 40,927
GENT 3.493 33,50 1.763,250 3.459,500 1,962 82,387
GOI2 318 731,51 524,755 413,510 0,788 18,051
GUA 2.737 113,94 1.425,470 2.623,060 1,840 69,475
HILA 6.919 118,33 3.518,665 6.800,670 1,933 114,647
ITAT 3.516 589,27 2.052,635 2.926,730 1,426 64,599
JAO 1.331 960,78 1.145,890 370,220 0,323 10,937
JATL 6.128 25,65 3.076,825 6.102,350 1,983 110,013
JDBO 876 423,28 649,640 452,720 0,697 17,762
JG51 2.645 219,29 1.432,145 2.425,710 1,694 64,098
MUN 6.572 25,71 3.298,855 6.546,290 1,984 113,976
NOVA 10.229 28,81 5.128,905 10.200,190 1,989 142,428
PIJB 3.224 115,36 1.669,680 3.108,640 1,862 76,077
PL 7.852 46,55 3.949,275 7.805,450 1,976 124,205
PLA 7.150 316,48 3.733,240 6.833,520 1,830 111,841
SERR 9.067 19,00 4.543,000 9.048,000 1,992 134,240
VERA 3.410 303,92 1.856,960 3.106,080 0,836 36,040
MÉDIA 5.113,27 210,72 Variabilidade 27,552 6,183 13,023

Suspeita-se que o IAV (variável dependente) apresente variação de valores em


função da densidade demográfica (variável explanatória). Visando tornar válida a análise
estatística aplicou-se o método preconizado por Mead & Curnow (1983), homogeneizando e
transformando os dados em escala logarítmica (tabela 5).
No diagrama de dispersão, os pares de valores apresentaram disposição em torno
de uma reta, em sentido contrário, isto é, com o aumento da densidade demográfica - x, o
índice de área verde - y diminui (figura 2).

Figura 2 - Gráfico de y' = log.y versus x' = log.x

O grau de associação entre as variáveis citadas foi medido pelo coeficiente de


correlação de Pearson (rxy), obtendo-se rx’y’ = - 0,74. Portanto, estas variáveis apresentam
forte correlação negativa. Para comprovar se entre elas há uma relação de causa-e-efeito,
realizou-se a análise de variância, concluindo que há regressão de y’ para x’ (tabela 6). Em
termos práticos, o aumento da densidade demográfica causa uma diminuição do índice de área
verde. O coeficiente de determinação (CD) ou coeficiente de explicação (R²) permite
conhecer quanto da variação de y pode ser explicada pela variação de x, obtendo-se: CD =
55%. Isto significa que, nesta proporção, a redução do IAV pode ser explicada pelo aumento
da densidade demográfica.

Tabela 6. Análise de variância – modelo y’ = a + b.x’, dos dados transformados


Causas de variação GL SQ QM F
Regressão 1 5,41 5,41
33,81
Desvios da Regressão 28 4,47 0,16
TOTAL 29 9,88 S² = 0,34 R² = 0,55
F = 33,81 > F ..01 (1; 28) = 7,46

Estabelecida a relação entre IAV e densidade demográfica, foi ajustada uma


equação de regressão linear simples. A regressão de y para x, numa população de pares de
valores destas variáveis, é a equação geral e reduzida da reta: y = a + b.x. Conhecendo-se o
coeficiente linear (a) e o coeficiente angular (b) que estimam os parâmetros populacionais  e
, respectivamente, chegou-se à equação da reta de regressão: y’ = 6,4837 - 1,2435.x’, que
permite estimar os valores de Ÿ para quaisquer valores de X dentro do intervalo estudado.
Poderíamos estimar, por exemplo, qual será o IAV para o ano 2.015. De acordo com projeção
do Plano Diretor, nesta data a população será de 1.564.775 habitantes. Considerando um
adensamento sobre a atual base territorial, calculamos uma densidade demográfica de 7.635
hab.km2. Assim, para X = 7.635, estimamos Ÿ = 45,40.
Por outro lado, observando-se os dados do nosso problema é possível supor que
há uma relação entre a densidade demográfica e o índice de dilapidação do patrimônio
público, por micro-região urbana. Interessa estudar o comportamento conjunto destas
variáveis e saber em que medida aumenta o índice de dilapidação do patrimônio público
quando a densidade demográfica aumenta. Seguindo o mesmo procedimento realizado
anteriormente, os dados sofreram transformação logarítmica (tabela 7).

Tabela 7 – Densidade demográfica – x (hab.km-²) e índice de dilapidação do patrimônio público – y (%) e seus
valores transformados x’ = log (x + 1) e y’ = log (y + 1), por micro-região de Goiânia

PI x y x' y' PI x y x' y'


AERO 7.515 37,15 3,88 1,58 GOI2 318 0,00 2,50 -
AGUA 2.940 8,07 3,47 0,96 GUA 2.737 3,81 3,44 0,68
AMAZ 6.054 37,93 3,78 1,59 HILA 6.919 4,08 3,84 0,71
BALN 2.427 0,16 3,39 0,06 ITAT 3.516 0,00 3,55 -
CAMP 9.911 53,38 4,00 1,74 JAO 1.331 7,76 3,12 0,94
CAPU 3.045 26,44 3,48 1,44 JATL 6.128 9,18 3,79 1,01
CJAR 8.731 15,19 3,94 1,21 JDBO 876 3,57 2,94 0,66
CRIO 7.520 43,07 3,88 1,64 JG51 2.645 19,27 3,42 1,31
CS 10.187 32,57 4,01 1,53 MUN 6.572 42,90 3,82 1,64
CURI 5.617 6,31 3,75 0,86 NOVA 10.229 11,77 4,01 1,11
FAI 1.682 10,38 3,23 1,06 PIJB 3.224 15,21 3,51 1,21
FERR 4.317 18,29 3,64 1,29 PL 7.852 19,27 3,90 1,31
FINS 5.922 3,70 3,77 0,67 PLA 7.150 5,61 3,85 0,82
GARA 2.063 11,72 3,31 1,10 SERR 9.067 21,73 3,96 1,36
GENT 3.493 6,23 3,54 0,86 VERA 3.410 2,46 3,53 0,54

O diagrama de dispersão dos pontos da amostra estudada foram ajustados em


torno de uma reta, com as variáveis estudadas variando num mesmo sentido, isto é, com o
aumento da densidade demográfica, o índice de dilapidação do patrimônio público também
aumenta (figura 3).

2,00
1,80
1,60
1,40 y' = 0,7883x' - 1,8151
y' = log (y + 1)

1,20 R2 = 0,3303

1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
-
- 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50

x' = log (x + 1)

Figura 3 – Gráfico de y’ = log (y + 1) versus x’ = log (x + 1), correspondente aos dados da tabela 7
Podemos afirmar, então, que as variáveis analisadas crescem no mesmo sentido: a
dilapidação do patrimônio público é acompanhada pelo adensamento humano. O coeficiente
de determinação (CD) calculado para o problema é de 57,5% significando que, nesta
proporção, as variações em y (índice de dilapidação do patrimônio público) podem ser
explicadas pelas variações em x (densidade demográfica).
A análise da variação conjunta das variáveis estudadas por micro-região de
Goiânia mostra que a densidade demográfica e o índice de dilapidação do patrimônio público
mantêm correlação positiva entre si e, estas, relacionam-se negativamente com o IAV. No
entanto, ocorrem regiões com baixa densidade e baixo IAV, mas com alta dilapidação do
patrimônio público. Uma compreensão mais completa da variação do IAV de Goiânia exigiria
a identificação de mais indicadores de desenvolvimento urbano para uma análise multivariada
das inter-relações entre os fatores envolvidos.
A identificação destes fatores como variáveis independentes – (causas), cuja
atuação conjugada relaciona-se com a variação da variável dependente (efeito) pode permitir,
estatisticamente, a elaboração de um plano de regressão múltipla.
De acordo com Silva & Souza (1988), um esquema de regressão múltipla,
envolvendo mais de duas variáveis independentes, onde geralmente muitas causas concorrem
para o mesmo efeito, tem grande aplicabilidade a estudos ambientais. No nosso caso,
poderíamos identificar as causas da redução das áreas verdes urbanas e, preventivamente,
formular políticas de desenvolvimento urbano sustentável.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Este trabalho quantificou e qualificou os espaços livres de Goiânia, que possui um


diversificado Sistema de Espaços Livres. Cada cidadão goianiense dispõe de 100,25 metros
quadrados de área verde, efetiva ou potencialmente implantada. Contudo, constatou-se um
acentuado processo de degradação do patrimônio público. De acordo com Martins Júnior
(2001), o IAV estabelecido no Plano Original é de 121,78 m².hab -1. Em relação ao índice
atual, ocorreu uma redução de 17,68%. Neste levantamento mostrou-se que foram
privatizados quase oito milhões e quinhentos mil metros quadrados, correspondendo à
apropriação per capita de 7,72 m² de áreas verdes.
A privatização das áreas públicas, com reflexo direto na redução do IAV, pode ser
explicada, em parte, pelo aumento da densidade demográfica e pelo aumento do índice de
dilapidação do patrimônio público. O estudo da correlação entre estas variáveis apontou para
uma relação de causa-e-efeito, na qual o IAV é uma função inversa da densidade demográfica
e também do índice de dilapidação do patrimônio público. Sendo a densidade demográfica um
indicador expressivo da presença humana no ambiente, esperar-se-ia, obviamente, esse tipo de
relação. Entrementes, em se tratando de gestão do espaço urbano, existem outros fatores que
regulam a relação entre IAV e densidade demográfica. Estes fatores se referem à legislação de
parcelamento e uso do solo urbano. A legislação goianiense sempre estabeleceu, no mínimo,
35% de espaços livres, sendo 14% de áreas verdes, em relação ao total da gleba parcelada .
Assim, a legislação urbana deveria, teoricamente, impedir a degradação do patrimônio
público em geral e das áreas verdes em particular.
Apesar das normas legais vigentes, verificou-se uma acentuada dilapidação dos
espaços livres nas micro-regiões de loteamentos regularizados (70,9%). Quando os loteadores
requerem da Prefeitura o parcelamento do solo urbano, o órgão de planejamento estabelece
critérios urbanísticos para a sua aprovação. Neste caso, o crescimento demográfico não
deveria implicar numa redução per capita dos espaços livres. O estudo do meio urbano em
referência mostrou uma correlação negativa forte entre IAV e densidade demográfica. Com
base na equação de regressão calculada neste trabalho, pode-se prever que o IAV decairá dos
atuais 100,25 m².hab-1 para 45,71 m².hab-1, em 2015, implicando numa redução de 54,4%, o
que corresponde a uma taxa anual negativa de 3,65%.
Outrossim, como apontou a análise estatística, o fator densidade demográfica
explica cerca de metade da variação do IAV. Consequentemente, outros fatores relacionados
ao problema estudado devem ser investigados. É provável que, em conjunto com aqueles mais
específicos como a densidade demográfica, atuem também os indicadores de desenvolvimento
sustentável, relacionados à gestão do espaço urbano (efetividade da política ambiental,
legislação, fiscalização, conscientização, etc.). A redução dos espaços livres, nos níveis aqui
calculados, significa que o desenvolvimento municipal não é sustentável, pois ele se realiza
em permanente transgressão aos Planos de Urbanização da cidade.
Foi encontrada uma correlação positiva entre dilapidação do patrimônio público e
densidade demográfica. Esse tipo de ligação associa-se à ação dos agentes de produção e
apropriação do espaço urbano. É razoável supor que o aumento da densidade demográfica
determine um uso mais intensivo e uma valorização do solo urbano e, consequentemente,
contribua para a conversão do espaço urbano, inclusive dos espaços livres, em espaço-
mercadoria pelos detentores do capital.
Os espaços livres convertem-se em áreas de ocupação pelos agentes sociais
excluídos, num processo de “favelização” dos fundos de vale, assim como pelo próprio Poder
Público, na implantação de projetos como as avenidas marginais em fundos de vale e da
autorização de edificações em áreas de uso indireto do solo. Nos próximos anos, a tendência é
de redução dos espaços livres e, em particular, das áreas verdes num ritmo mais intenso do
que o atual. Portanto, pode-se afirmar que a continuidade da política de privatização dos
espaços livres é um fator de comprometimento da qualidade de vida urbana do goianiense.
A base de uma sociedade democrática está fundada no estado de direito. A
legislação, a doutrina e a jurisprudência brasileira estabeleceram e consagraram as categorias
de espaços livres e vias de comunicação constantes dos planos de loteamento como bens
públicos inalienáveis (Meirelles, 1977, p. 275). Portanto, a dilapidação do patrimônio público
goianiense se constitui numa agressão aos princípios da democracia e da justiça social.
Diante do exposto, recomenda-se o desenvolvimento de um banco de dados,
alfanumérico, geocodificado, com participação interinstitucional, que permita manter
atualizado um cadastro de áreas públicas de Goiânia, inserido num programa de
monitoramento do patrimônio ambiental urbano, buscando implementar meios de
procedimento on-line, com a participação direta dos segmentos sociais organizados.

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Abstract: the first Administrative Guide to Goiânia was drawn up under the influence of the
most remarkable concepts of world town planning, Howard’s Garden City. With an emphasis
on this plan and its evolution, the classification and quantifying of empty space was carried
out, with a view to determining the índex of green áreas (IAV). The evolution of the IAV in
correlation with the evolution of demographic density made it possible to predict the qauntity
of green área per urban inhabitant. Green urban áreas are public and for the population’s
common use.

Key words: free space, urban tree planting, urbanization, IAV.

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