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Power Play - Chances de Pontuação 03

Avon Gale

Um acidente durante os Playoffs da Copa Stanley acabou com a carreira


no hóquei de Max Ashford. Apesar de tudo, Max volta ao jogo que ama, só que
desta vez atrás do banco, como treinador assistente do Spartanburg Spitfires,
o pior time de toda a liga. Mas nada o prepara para o choque quando ele
descobre que o novo treinador é Misha Samarin, o homem que causou o
acidente de Max.

Depois de passar anos cheio de culpa por sua participação no acidente


de Max, o russo Misha Samarin não tem ideia do que fazer quando se
confronta com a presença de Max. O otimismo de Max causa estragos no
equilíbrio de Misha, assim como a atração feroz que surge entre eles.

Eles não só devem superar o remorso de Misha e um passado que ele


tentou a vida inteira esquecer, mas também um gerente de marketing
desprezível, que está determinado a usar sua história como um gancho de
marketing. Mas quando um visitante indesejado mira em um jogador, Misha
se vê obrigado a voltar a seus dias mais sombrios, e isso pode custar a ele e
Max o começo que eles trabalharam tanto para construir.

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Chances de Pontuação

1 – Fugir

2 – Salvar o Jogo

3 – Power Play1

3.5 – Hora Extra

4 – Rede Vazia

5 – O Desafio do Treinador

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Táticas em um esporte de equipe envolvendo a concentração de jogadores em um ponto específico. Sendo o nome para designar uma jogada,
optamos por deixar o nome no original.

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Capítulo 1

Vestido com um terno e cheio de otimismo, Max Ashford foi para a


Arena do Bon Secours em seu primeiro dia como o novo assistente de
treinador do Spartanburg Spitfires.

Bem, talvez não esteja cheio. Talvez apenas fervendo.

Pelo pouco francês que ele aprendeu ao jogar hóquei profissional para o

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Montreal Canadiens, principalmente insultos aos membros da família das
pessoas e às muitas e variadas palavras para chupar, Max sabia que Bon
Secours significava „ajuda.‟

Talvez tenha sido um bom presságio. Isso seria legal. Ele estava ansioso
por uma boa ajuda e um novo começo depois de uma lesão, cinco anos antes,
encerrando abruptamente sua carreira profissional. Ser o assistente
Treinador do pior time da ECHL que não estava jogando nos playoffs da Copa
Stanley, mas era um começo.

Max conhecia o hóquei por dentro e por fora, e mesmo que sua
experiência anterior como treinador estivesse limitada a uma posição de
assistente para sua antiga equipe da faculdade em Duluth, ele estava
determinado a encontrar sucesso atrás do banco. Felizmente, quem quer que
fosse o novo treinador dos Spitfires, eles ainda estavam entrevistando quando
contrataram Max não se importaria muito com a inexperiência dele.

Um dia, Max Ashford voltaria às grandes empresas atrás do banco, em


vez de nele, talvez, mas Max não era nada, se não determinado. Ele chegou a
um acordo com o fim abrupto de sua carreira de jogador, porque não havia
mais nada a fazer, a menos que ele quisesse mergulhar em decepção pelo
resto da vida. Ele fez um pouco disso no começo porque era difícil não fazer.
do acidente, ele era um jogador jovem e talentoso assinou um contrato de
vários anos com acordos de patrocínio, uma nova casa nos subúrbios de
Montreal e uma linda noiva.

Mas sua lesão anulou as negociações, a casa foi vendida em uma venda a

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descoberto e a noiva desapareceu há muito tempo. Tudo o que Max restava
era um apartamento perfeitamente agradável, com muitas caixas que ele
ainda não tinha desempacotado, um terno novo muito quente ao sol da
Carolina do Sul e um Jeep Wrangler que ele comprara usado e meio que se
arrependia.

A Arena Bon Secours estava quieta quando Max se dirigiu aos


escritórios. Ele foi recebido por um sorridente Jack Belsey, proprietário e
gerente geral do Spartanburg Spitfires. Belsey tinha cinquenta e poucos anos
e parecia um ex-jogador de futebol. Ele tinha ombros largos e um nariz que
poderia ter sido quebrado uma ou duas vezes, e estava vestido com um terno
que custaria mais do que Max faria em três meses e usava um anel de
diamante mindinho honesto com Deus.

Max não gostava de Belsey quando se conheceram durante a entrevista


de Max, mas também não o detestava. Ele apenas lembrou a Max o tipo de
cara que tentou vender um carro para você. Agressivamente. Mesmo se você
não estivesse comprando uma.

— Max Ashford. — Belsey sorriu como se ele tivesse acabado de roubar


dinheiro da carteira de Max e estendeu a mão. — Como você está?
Aguardamos a sua chegada. — Ele continuou sorrindo, como se não apenas
tivesse roubado dinheiro da carteira de Max, como investido em strippers e
pornografia, e ia ganhar milhões e não compartilhar nenhum lucro.

— Obrigado. — Disse Max. Ele deu a Belsey o mesmo sorriso que deu
aos repórteres quando perguntaram se ele sentia falta de jogar hóquei após

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sua aposentadoria forçada. — Estou feliz por estar aqui. — Isso era verdade,
pelo menos. Ele gostava de voltar a Duluth, mas aos vinte e nove anos, era
incrível o quanto ele se sentia mais velho do que os universitários do time. Era
difícil acreditar que ele tivesse sido tão jovem.

— Certamente estamos ansiosos por esta temporada. — Disse Belsey,


com os olhos brilhando. Ele parecia estar vibrando bastante de alegria, o que
era suspeito. O histórico dos Spitfires não inspirou nada perto de alegria. —
Só sei que as mudanças que fizemos levarão a um hóquei emocionante.

— Espero que você melhore bastante no gelo. — Disse Max, imaginando


se deveria ficar preocupado ou aliviado por seu chefe ter dito hóquei
emocionante, em vez de bom hóquei.

— Tudo começa atrás do banco. — O sorriso de Belsey aumentou. Estava


começando a deixar Max desconfortável, assim como o fato de Belsey não ter
soltado sua mão. — Agora vamos lá. Quero que você conheça o treinador e
depois vamos deixar vocês dois resolverem as coisas.

Essa deveria ter sido a primeira pista de Max de que Belsey estava
tramando algo, mas Max não poderia esperar o que veria quando Belsey
abrisse a porta do escritório do treinador.

— Max, eu gostaria que você conhecesse o treinador do Spartanburg


Spitfires. — Disse Belsey, mas Max mal podia ouvi-lo pelo zumbido em seus
ouvidos. Lembrou-se da maneira como o mundo girara, como o gelo parecia
quando ele o atingia, o som de seu crânio estalando contra a ponta de um taco
de hóquei, o gosto de sangue em sua boca e o som de silêncio onde alguns

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momentos antes houveram o rugido de uma multidão.

Até o mais obstinado fã de hóquei teria dificuldade em lembrar o nome


do homem de pé no escritório uma figura alta, com cabelos louros e olhos
surpreendentemente escuros. Mas Max nunca esqueceria isso enquanto
vivesse. Cinco anos antes, durante um jogo de rivalidade acalorado que
decidia qual time jogaria na Copa Stanley, aquele homem jogou o golpe que
mandou Max ao gelo, onde sua cabeça bateu com força no lado de um taco.
Foi um acidente estranho e não intencional, mas ele ainda estava nocauteado
e deixou o jogo em uma maca. A concussão resultante não foi grave, mas a
lesão que ele sofreu na visão periférica foi suficiente para mantê-lo fora do
gelo para sempre.

— Nós nos conhecemos. — Disse Max secamente enquanto avançava


para apertar a mão de Misha Samarin.

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Capítulo 2

Max Ashford parecia muito diferente do que Misha lembrava.

É claro que Misha lembrava que Max estava deitado imóvel no gelo,
ainda como um cadáver. Uma visão que ele ainda via às vezes, nos espaços
escuros onde deveriam estar seus sonhos.

Belsey sorriu de maneira antecipada, esperando para ver o que eles


fariam. Quando Misha foi contratado como treinador, ele teve a impressão de
que eles ainda estavam no processo de entrevistar um assistente Treinador.
Sem dúvida, Max estava igualmente desinformado, porque não conseguiu
esconder sua surpresa quando viu Misha pela primeira vez.

Misha apertou sua mão e seus olhos se encontraram. Max era de um


verde claro e brilhante. Expressivo. O resto de seu rosto era desafiadoramente
melindroso, mas Misha entendeu a comunicação silenciosa, a mensagem que
Max estava enviando com sua postura e seu olhar.

— Não lhe dê satisfação. — Dizia. — Jogue com calma.

Misha sorriu educadamente.

— Max. Bom te ver. — De uma maneira estranha, foi. Melhor do que a


última vez que Misha o vira, certamente.

— Você também. — Disse Max, apesar de Misha duvidar que ele quis

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dizer isso. Max deu um passo atrás e suas mãos migraram para os bolsos.
Misha se inclinou casualmente contra a mesa e cruzou os braços. Os dois
olharam para Belsey.

Belsey olhou entre eles e bateu palmas como um selo. Ele parecia
decepcionado, ou pelo menos seu sorriso falso não estava em lugar algum.

— Bem. Agora que vocês dois se conheceram, tenho certeza que vocês
têm muito o que discutir. Vou deixar você com isso. Devo ir?

Misha assistiu impassível enquanto Belsey se desculpava e deixava a


porta aberta quando ele saiu no corredor. Ele se perguntou o que Belsey
esperava que acontecesse. Que Max iria olhar nos olhos de Misha? Chutá-lo
na rótula? Gritar insultos contra ele? Chorar?

— Agora sim. Isto é estranho.

Misha piscou e virou-se para Max. Ele não esperava que Max dissesse
nada, mas não sabia ao certo o porquê. Não era como se ele conhecesse Max.

— Um pouco. — Ele concordou, sem saber o que deveria dizer. Mesmo


se ele tivesse revisado mil versões do que diria a Max se tivesse a chance, a
possibilidade de isso realmente acontecer nunca lhe ocorrera.

A única coisa que ele sabia que deveria dizer, o que ele queria dizer, não
viria.

Eu sinto muito.

Não apenas isso parecia trivial demais, Misha temia que isso pudesse
perturbar o delicado ato de equilíbrio que eles pareciam estar realizando

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apenas para irritar o gerente geral.

Os anos foram gentis com Max, mesmo que o destino não. Ele cabelos
escuros, barbeado, olhos claros. Ele parecia estar em boa forma e usava um
terno feito sob medida para o seu corpo. Bonito. Misha não deveria ter
percebido isso. Mas ele ficou feliz em ver que Max estava saudável, mesmo
que a culpa o estivesse consumindo por dentro, porque Max estava lá, em vez
de no gelo onde deveria estar.

— Acho que decepcionamos Belsey. — Disse Max. Sua voz era suficiente,
mas suas mãos ainda estavam enfiadas nos bolsos.

— Não sinto muito por isso. — Disse Misha. Max lançou um olhar para
ele e deu um leve sorriso. Ele se virou e olhou para as paredes vazias e a mesa
vazia.

— Nem eu. Olha, Samarin, eu posso fazer isso. Está bem.

Misha assentiu, mesmo que Max não estivesse olhando para ele.

— Sim. — Ele não tinha ideia do que mais dizer. Talvez Belsey não
esperasse realmente uma briga entre Misha e Max, mas ele deveria ter
previsto constrangimento e tensão. Misha não tinha ideia de como
emparelhá-los deveria ajudar seu time de hóquei, mas aparentemente Max
ajudou.

— Ele vai usar isso para trazer as pessoas para cá.— A voz de Max
estava tensa.

O estômago de Misha deu um nó desagradável. Seriam mais uma

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atração para os fãs, outra ferramenta de marketing para vender ingressos.
Misha achou que o emprego o deixaria passar pelo momento único e decisivo
de uma carreira que durou duas décadas, uma carreira que terminou em com
um anel da CopaStanley que ele nunca usava, porque achava que não merecia.

Tudo isso seria dragado novamente Satanás Samarin, os nomes, as


duras acusações. Ele podia sentir uma dor de cabeça começando atrás dos
olhos.

— Nós teremos que dar a eles outra coisa para prestar atenção. — Disse
Misha. — Max... — Ele começou, ainda incerto. Você arruinou a vida deste
homem. O mínimo que você pode fazer é pedir desculpas.

— Não. — Max virou-se para encará-lo e levantou a mão. A voz dele


estava tensa. — Não diga isso. Eu não preciso ouvir isso. Pois não muda nada.

Misha aceitou isso com um leve aceno de cabeça, porque é claro que
Max estava certo. Palavras não foram suficientes para desfazer o dano que
Misha havia causado a ele.

— Tudo certo. E quando eles trouxerem isso à tona? A mídia?

— Somos bons o suficiente para ter alguma mídia? — Max perguntou e


depois limpou a garganta. — A equipe, quero dizer.

— Acho que não. Se estivéssemos, Belsey não confiaria em mais nada


para atrair fãs.

Max enfiou as mãos nos bolsos novamente.

— Sim. Bem, diga o que quiser. Diremos que deixamos isso para trás.

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Porque é. — O olhar dele se afiou.

Misha assentiu novamente, mas ele se perguntou se isso era verdade se


poderia ser verdade para qualquer um deles.

— Vamos conversar sobre o time. — Disse Max. E as instalações. Seria


bom vê-los. Ele queria sair do escritório. Misha sabia. Ele não podia culpá-lo.
Parecia um espaço muito pequeno para acomodar o peso de toda a história
entre eles.

Toda essa história, e essa foi a primeira vez que eles se falaram.

Eles tinham duas semanas antes de iniciaros treinamentos de campo


para montar um plano, e não estava indo bem.

Misha não era um homem falador, embora tivesse aprendido que era
um treinador eficaz. Ele conhecia o hóquei melhor do que podia expressar em
sua língua adotada ou na língua nativa, e era sempre mais fácil se comunicar
no gelo do que fora dele.

Mas Max não parecia mais relaxado com Misha do que quando estava
sendo apresentado reintroduzidono escritório de Misha. Quando eles estavam
revisando as listas do ano passado e as listas de testes do ano atual, filmagens
de jogos e estatísticas, Misha às vezes pegava Max olhando para ele
estudando-o.

Ele se perguntou o que Max viu. Ele estava, como Misha, ponderando a
estranheza do universo que os unira como se estivesse determinado a lhes

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contar uma história com um começo compartilhado, em vez de apenas um fim
compartilhado? Era um pensamento ridículo, fantasioso de uma maneira que
fazia Misha se sentir ridícula, mas ele não conseguia evitar.

— O último treinador deixou alguma anotação? — Max perguntou


enquanto se encontravam no pequeno quarto, perto do vestiário que era
ostensivamente o escritório de Misha. — Porque eu não acho que havia um
treinador assistente antes de mim.

Misha empurrou uma pasta de arquivos sobre a mesa para Max.

— O último treinador me deixou isso.

Max abriu a pasta. Ele olhou para Misha.

— Tudo o que tem aqui é um post-it que diz 'Boa sorte, otário'.

A boca de Misha se contraiu.

— Sim.

— Estamos em um reality show? — Max olhou ao redor da sala. — Não


estou assinando nenhum formulário de consentimento, se estivermos.

— Não dê nenhuma ideia a Belsey. — Disse Misha. Max fez um pouco de


barulho por isso. Uma risada, talvez, se ele não parecesse tão tenso.

Max tamborilou com os dedos sobre a mesa. Ele era propenso a gestos
nervosos assim, Misha notou. Não estava claro se era normal para Max ou se
era porque Max estava perto de Misha.

— Poderíamos apenas ter uma equipe totalmente nova. Recomeçar. —

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Ele olhou para Misha. — Dê à temporada um tema inteiro, ou algo assim.

Misha não tinha certeza se Max estava falando sério. Estar perto dele
abalou o equilíbrio de Misha, mais frequentemente do que não.

— Isso pode ser uma boa ideia.

— Ou podemos colocar um monte de gatinhos em patins e ver como isso


funciona.

Por um momento, Misha achou que ele não tinha entendido os ingleses
e franziu a testa.

— Gatinhos?

— Filhotes? Crianças? Coelhos pequenos e adoráveis? — Max fez uma


careta. — Você continua concordando comigo.

— Eu não acho que os coelhos sejam uma boa ideia. — Disse Misha,
piscando. — Mas vi uma vez um cachorro em patins de gelo.— Ele pensou por
um momento. — Talvez haja um ponto na quarta linha.

Max bufou e depois se recostou na cadeira. Ele esticou os braços sobre a


cabeça e torceu no assento. Misha o observou do jeito que seu corpo se movia
e então se disse cruelmente para parar.

— Você não parece querer discutir comigo. — Max direcionou isso para
a parede, não para Misha.

— Eu não pensei que você estivesse falando sério. — Disse Misha. —


Sobre os gatinhos. Se você fosse, eu provavelmente argumentaria.

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Max olhou para Misha. Ele parecia perigosamente perto de sorrir. —
Você não discute com nada que eu digo, quero dizer. Você acha que devemos
abandonar todos os jogadores do ano passado e começar tudo de novo, ou o
quê?

— Acho que devemos considerar isso. Sim. — Disse Misha, confusa. —


Eu não entendo, Max. Eu devo discutir com você?

— Eu só não quero... — Max olhou para baixo e as pontas das orelhas


ficaram vermelhas. — Deixa pra lá. Veja. Temos que pensar em alguma coisa.
O acampamento de treinocomeça em alguns dias e temos que ter algum tipo
de plano para a equipe. Não é?

Misha se recostou na cadeira e olhou para o bloco de notas, onde ele


estava anotando. E desenhar para manter as mãos ocupadas durante os
inevitáveis silêncios desconfortáveis. Talvez Max estivesse acostumado a
gestos nervosos, mas Misha não.

— Samarin, sério. Um plano. Você é o treinador principal. Eles pagam


um pouco mais do que eu para criar essas coisas.

— Existem duas maneiras pelas quais podemos proceder. — Disse Misha


lentamente. O calendário em seu bloco de notas era do logotipo dos Spitfires,
um avião antigo no estilo da Segunda Guerra Mundial. Ele adicionou algumas
mechas de fumaça ao redor do nariz do avião. — Temos um plano e
escolhemos os jogadores. Ou escolhemos os jogadores e apresentamos um
plano.

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— Então, o que vai ser, Treinador? — Max se inclinou sobre a mesa e o
tecido de sua jaqueta puxou seus ombros. — Poderíamos jogar uma moeda e
deixar o acaso decidir.

— Isso é como os gatinhos? — Misha perguntou, desenhando outro


Spitfires2 e depois outroum esquadrão.

— Eu não tenho ideia do que você quer dizer com isso. Esperar. Você
quer dizer que estou falando sério?

Misha pensou por um momento e depois olhou para o bloco de notas.


Todos os aviões dos desenhos animados estavam pegando fogo.

— Devemos escolher o time primeiro. É isso que eu penso.

— Vamos dizer a Belsey o quão confiantes estamos em nossos planos


para o futuro de sua equipe. — Disse Max e, em seguida. — O que você está
fazendo? Desenhando? Você esta, não é? Pensei que você estivesse fazendo
anotações e rabiscando. Isso ajuda você a pensar?

Misha assentiu, depois virou o bloco de notas para que Max pudesse vê-
lo.

Max pegou o pequeno esquadrão de Spitfires de fogo e disse:

— Novo logotipo. Eu gosto disso. Acha que poderíamos ter Belsey a


bordo?

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É o mesmo que pessoa irascível, mau humorado.

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— Uma equipeque sobe e desce. — Disse Misha a título de explicação. A
parte de trás do seu pescoço estava quente, sem uso, pois ele mostrava
qualquer coisa a alguém. — Se um deles cai e queima, todos eles fazem.

— Nem sempre. — Disse Max, mas ele não estava olhando para Misha.

Misha não respondeu. Não parecia haver nada a dizer.

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Capítulo 3

Max recostou - se nas pranchas, observou os jogadores passarem e fez


algumas anotações em sua prancheta. De vez em quando ele apitava para
mudar os exercícios, fazia algumas palavras encorajadoras e voltava a
observar.

Misha estava do outro lado da pista, assistindo e fazendo anotações. Ou


desenhar mais aviões de desenhos animados apanhados em sua agonia. Por
alguma razão, Max não conseguiu tirar esse pequeno desenho da cabeça. Ele
não tinha certeza do porquê. Talvez fosse porque ele não esperava que Misha
fosse boa em arte. Embora por que Max pensasse isso, ele não tinha certeza.
Eles não se conheciam.

Misha, impossivelmente mais alto com seus patins, usava um casaco


preto que fazia sua pele clara parecer ainda mais pálida do que o normal. Ele
era um homem impressionante, um estudo em contraste com seu rosto pálido
e seus cabelos loiros claros, fazendo seus olhos negros parecerem ainda mais
escuros. Max se perguntou por que diabos ele notou. Ele sempre misturara a
aparência de Samarin com preto e dourado... E vermelho B rajado de seu
uniforme Bruins e o derramamento de sangue no gelo.

Os esperançosos dos Spitfires estavam dispostos em linhas no gelo.


Atletas suados e cansados ficaram sozinhos ou em grupos, bebendo água e

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tentando ao máximo impressionar os treinadores. O time pode ter o pior
registro de toda a liga, mas ainda era um time profissional de hóquei, e havia
muitos caras que queriam jogar.

Eles não haviam recomeçado do zero, pois o time tinha jogadores


contratados, embora não muitos. Alguns optaram por não voltar. Ainda havia
mais vagas do que jogadores que retornavam, o que foi um pouco assustador,
mas também foi uma boa chance de começar de novo, e Max estava ansioso
por isso. Mesmo que seus chamados “novos começos” não tivessem saído
totalmente como planejado, certamente ele teria sorte eventualmente.
Direita?

— Eu disse para não entrar no maldito vinco. Você precisa de um


maldito diagrama?

Max tentou e falhou impedir o estremecimento ao ouvir o goleiro Isaac


Drake, perder a paciência novamente com um dos jogadores. Drake foi
contratado pela Spitfires por quatro anos e era realmente um jogador muito
talentoso... Quando ele conseguia manter a máscara e a merda juntas, era
isso. Ele era intenso e de temperamento rápido e teve quase tantos minutos
de penalidade na última temporada quanto o executor da equipe, Matt
Huxley.

Naquele momento, Drake estava parado no gelo, olhando furioso para o


lançador com olhos estreitos e seu cabelo azul-cobalto bagunçado e em pé
como espinhos suados. Ele também tinha um piercing nos lábios, que Max fez
o possível para convencer Drake a remover. Não deu certo.

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— Drake. — Disse Max, esfregando os olhos. Seu estômago roncou,
lembrando-o de que ele perdeu o café da manhã. Como sempre. Ser adulto
era difícil. — Coloque sua máscara de volta.

O pobre rapaz que deveria atirar no disco parecia que queria se virar e
fugir nos seus patins. Qualquer coisa que o tirasse do campo de visão do
goleiro furioso o mais rápido possível.

— Estou apenas dizendo, Treinador, que é uma broca de tiro, não uma
broca de merda de goleiro de neve.

— Tenho certeza de que não foi intencional. — Apontou Max, tentando


não olhar para o relógio. Ele se perguntou se os treinadores de hóquei
poderiam tomar uma cerveja no almoço e se Misha teria um refrigerador
debaixo da mesa em seu escritório para que eles pudessem tê-las quando
necessário. Max havia passado muito tempo como atleta profissional para
beber muito, mas estava começando a desenvolver uma nova apreciação pelos
efeitos calmantes do álcool. Max acenou com a cabeça para o garoto que
estava esperando para atirar.

— Sua vez, Wolfe.

Drake apontou o graveto para Wolfe.

— Fique onde você deveria ou eu vou bater em você até você receber a
maldita mensagem. — Ele puxou a máscara de volta sobre o rosto, entrou em
sua posição e bateu no bastão no gelo para mostrar que estava pronto. Alguns
goleiros foram fáceis e relaxados no gol. Não Drake. Drake estava tenso, como
se os patinadores que se dirigissem a ele disparassem balas em vez de discos.

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Mas, apesar de sua estrutura relativamente menor, ele se movia
graciosamente. Como um dançarino.

Apenas um muito zangado.

Max tocou o apito e Wolfe patinou para frente, parou a um metro e meio
do gol e atirou o disco diretamente na luva de Drake.

— Você pode se aproximar um pouco mais do que isso. — Disse Max,


divertido apesar de tudo.

— Eu não sei disso. — Disse Wolfe, olhando Drake. — Joguei aqui no


ano passado, Treinador. Uma vez ele me bateu com esse bastão. Ele
machucar.

— Você tem todo esse estofamento, no entanto. — Apontou Max. — Não


poderia ter doído tanto assim.

— Sim. Bem, eu normalmente não estou usando no vestiário. — Wolfe


murmurou, mas ele patinou antes que Max pudesse dizer alguma coisa.

Depois que os exercícios do dia terminavam, Misha e Max se


encontravam para revisar os resultados do dia, decidir quem cortar e, em
seguida, ter um momento constrangedor em que se despediam e saíam para
seguir caminhos separados.

Naquele dia, porém, quando eles se encontraram no escritório de


Misha, Max disse:

— Podemos fazer isso em um bar? Ou em algum lugar com cerveja?


Porque eu preciso de uma bebida.

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Misha o surpreendeu assentindo.

— Eu também. — Ele passou a mão pelos cabelos. — Na Rússia, eu tive


um treinador que colocou vodka em um frasco. Quando ele o pegou e
começou a beber no gelo, sabíamos que estávamos com problemas.

Max riu e percebeu que era a primeira vez que Misha fazia uma única
referência à sua carreira de jogador. Obviamente eles não conversaram sobre
o jogo, e isso foi bom para Max. Ainda assim, Misha jogou por um longo
tempo. Havia outros jogos sobre os quais ele podia falar, dada a duração de
sua carreira, e Max desejava estar mais chateado com isso. Com a história
compartilhada à parte, Misha era a pessoa com a experiência de jogo, e Misha
havia passado os últimos cinco anos como assistente técnica na LAH.

Eles acabaram no Fidelizes, um bar de esportes a alguns quilômetros de


distância, que felizmente não estava muito lotado, já que era o meio da
semana. Ele e Misha pegaram uma mesa perto dos fundos, e Max examinou o
cardápio enquanto tentava fazer algum tipo de conversa fiada. Por que ele
achava que adicionar álcool e um ambiente social ao relacionamento já
estranho de Misha e ele era uma boa ideia, era uma incógnita.

Quando o garçom chegou, Max pediu uma cerveja e alguns palitos de


queijo, porque ele só podia imaginar o quanto seria ruim se ele bebesse álcool
com o estômago vazio.

— Os aperitivos comprando um, ganham outro de graça agora. — Disse


o garçom, Kyle.

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— Oh. — Max olhou para Misha, que pedira uma cerveja em vez da
vodka que Max esperava que ele bebesse. Talvez fosse muito cedo para beber
muito. Então, novamente, após essa prática, talvez não tenha importância. —
Você quer dividir alguns nachos de frango?

— Não, obrigado.

O modo de ser do Centro-Oeste de Max entrou em ação.

— Você ainda almoçou? — Ele ficou vermelho e se perguntou o que


diabos ele estava fazendo. Não deveria importar se Misha almoçou ou não.
Pare de ser educado, Max.

— Talvez ele não goste de nachos. — Sugeriu Kyle. Ao olhar de Max, ele
deu de ombros. — O que? Ele pode não gostar. Temos outras coisas.

— Eu não como carne. — Disse Misha, a título de explicação.

Kyle bateu a caneta no bloco de notas.

— Nós temos nachos vegetarianos. Eles são feitos com feijão. Você quer
isso em vez disso?

— Claro. — Disse Max, entregando seu cardápio. Se Misha não os


quisesse, ele os colocaria em uma caixa e os levaria ao trabalho no dia
seguinte, em vez de um sanduíche. Ou ele esqueceria e deixaria a caixa no
restaurante, era o que ele costumava fazer com as sobras.

— Então, por que você é vegetariano? Amante de animais ou de saúde?


— Max perguntou uma vez que estavam sozinhos novamente. Ele percebeu
como isso soou e estremeceu. — Desculpa. Provavelmente isso não é da minha

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conta.

Misha apenas deu de ombros.

— Está tudo bem. Nem mesmo. Meu pai era açougueiro.

Max assentiu.

— Claro. Seu pai era açougueiro, então você não come carne. É assim, a
versão russa da rebelião adolescente?

Isso deu a ele o menor sorriso.

— Talvez um pouco.

Tudo o que Max conhecia da Rússia era informação de segunda mão de


filmes e jogando hóquei com outros russos.

— Você é realmente russo, no entanto certo? Da Rússia.

Misha deu-lhe um olhar estranho.

— Sim.

— É que, uma vez no gelo, chamei esse cara de russo e ele ficou
chateado. — Explicou Max. — Ele me acertou.

— Você o chamou de comunista? Ou um marxista?

— Hã? — Max fez uma careta. — Não. Acho que acabei de chamá-lo de
russo de merda. Russkie talvez. Pensar em nachos de repente fez Max se
lembrar da viagem que fez alguns anos antes para o México. Era para ser sua
lua de mel, mas depois que Emma saiu, ele decidiu fazer uma viagem com
alguns amigos.

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Ele apareceu no resort com tudo incluído determinado a transar e beber
muito. E foi exatamente isso que aconteceu apenas Max se viu de joelhos
chupando o barman muito gostoso, em vez de ficar com garotas gostosas
aleatórias, como era o plano.

Fui para o México e tudo o que consegui foram aulas de queimaduras


solares e boquetes. Após a revolta dos últimos anos, foi uma surpresa, mas
não totalmente indesejável. Então ele gostava de chupar caras. Muitas
pessoas experimentaram férias…. Eles não?

Com drogas, geralmente. Mas tudo bem.

— Então por que ele foi insultado? — Misha perguntou e uau, Max
realmente deveria parar de pensar em chupar pau.

— Ele era ucraniano. Acho que eles não gostam de ser chamados de
russos. — Max considerou isso. — Ou talvez ele não gostouque eu o chamei de
filho da puta. Mas quem não é chamado de filho da puta gay no gelo?

Misha olhou para a mesa.

— Poderia ter sido também. Provavelmente foi o primeiro. Mas não


é…. Isso é desaprovado na Rússia.

— Ser ucraniano?

— Bem. Por alguns. — A boca de Misha se levantou na esquina por um


breve momento. — Principalmente eu quis dizer a outra coisa.

— Chamar alguém de filho da puta? Ou ser um gay? — Por que ele


ainda estava falando sobre isso?

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— Sim. Sendo um. — A expressão de Misha era inescrutável. Qualquer
sugestão de diversão já se foi há muito tempo. — É ilegal na Rússia.

— Realmente? Isso é estupido. — Max já havia jogado hóquei com gays


antes, e embora ele não tivesse certeza se gostava de chupar pau às vezes o
tornava gay, bi, ou o quê, ele ainda não queria lidar com a homofobia além de
todos os outros problemas que os Spitfires tinham.

Ele cruzou os braços e deu a Misha o que esperava ser um olhar


imponente.

— Eu não vou me importar com isso. Se algum de nossos jogadores for


filho da puta gay. — Ele limpou a garganta. — Quero dizer... Você sabe o que
eu quero dizer. Se eles chupam pau, tipo, de verdade.

Ele ouviu um ruído de pigarro ao lado da mesa.

— Suas bebidas estão... Aqui está. — Kyle largou as bebidas e depois se


recompôs. Ele parecia ter uns dezessete anos, talvez um pouco mais velho.
Garoto do ensino médio trabalhando em um emprego de verão,
provavelmente. — Meu irmão é gay. Se você disser algo homofóbicos, eu
cobrarei esses nachos. Eu realmente irei. Eles não estão tecnicamente no
menu de aperitivos pela metade do preço, mas eu estava tentando ser legal.

— Eu não sou homofóbicos. — Protestou Max. Ele olhou para Misha. —


Estou apenas checando para ter certeza de que ele não é.

— Você não deveria ter percebido isso antes de sair com ele? — Ao olhar
de Max, Kyle disse apressadamente: — Vou checar sua comida. — E fez uma

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retirada rápida.

— Eu não sou... Eu não tenho nenhum problema com isso. — Disse


Misha, tão baixo que Max quase não o ouviu. — Se isso é... O que alguém é.

— Gay? Bem, isso é bom. Porque eu não tenho nenhum problema com
isso. — Max ergueu os olhos da bebida e encontrou os olhos escuros de Misha,
que estavam tão concentrados em Max que isso lhe deu um calafrio e não era
de alguma lembrança do acidente, meio enterrado em sua consciência.

Na verdade, era uma lembrança do ar quente da noite e da tequila, das


ondas salinas e oceânicas, dedos nos cabelos, palavras em um idioma que ele
não entendia e a sensação de concreto sob os joelhos.

— Estou feliz que você não é. — Disse Max. Ele fechou todas as portas
metafóricas o mais rápido possível e jogou todos os trancos, por uma boa
medida. Ele não odiava Misha e ele realmente nunca tinha, mas isso não
significava que ele deveria querer magoá-lo.

Há um cenário entre “ódio” e "chupar seu pau,”Max. Encontre-o e


disque-o lá. Rápido.

Max tomou um gole fortificante de cerveja e, felizmente, Kyle voltou


com a comida.

— Desculpe o atraso. Na primeira ordem, o chef colocou bacon sobre


eles. Não sei por que você faria isso quando são nachos vegetarianos. Talvez
nem seja realmente bacon, mas eu não tinha certeza. Assim… — Kyle colocou
os pratos de comida na mesa. — Ele está muito drogado. O chefe.

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— Por que você colocaria bacon em nachos? — Misha perguntou.

— Cara. Estamos na América. Colocamos bacon em tudo. Obrigado. —


Disse Max a Kyle. Ele pensou em apontar que eles não estavam em um
encontro, mas decidiu talvez deixar para lá.

Eles estavam lá para conversar sobre o time. O que eles fizeram e


comeram. Eles revisaram a lista que estava lentamente tomando forma.

Como sempre, Max hesitou quando chegou ao nome de Drake.

— Esse garoto tem um problema de atitude do tamanho da… Rússia. A


Rússia é grande, não é?

— Sim. — Disse Misha. — Muito.

— Eu sei que ele tem um contrato, mas talvez devêssemos trocá-lo por
alguém. Acho que os outros jogadores têm medo dele.

Misha considerou isso. Max insistiu que Misha experimentasse um


palito de mussarela frito, mas ele o estava comendo com uma faca e um garfo
provando que ele não era, de fato, uma pessoa normal.

— Talvez isso seja uma coisa boa. Hum? Ele poderia mantê-los na linha.

— Ele tem quase tantos minutos de penalidade quanto nosso executor.


— Lembrou Max.

Misha arqueou uma sobrancelha porque é claro que ele poderia fazer
isso.

— Talvez devêssemos dizer ao Huxley para entrar em mais brigas

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— Não é assim que você come palitos de mussarela. — Max reclamou,
curvando-se na cadeira como um adolescente mal-humorado. — Bem. Então,
nós estamos mantendo Drake? — Max colocou a cabeça na mesa e gemeu. —
Ele tem um piercing nos lábios.

— O que é que foi isso? Eu não consigo te ouvir. Você disse que ele...
Tem uma prótese de quadril? Ele é tão jovem.

Max levantou a cabeça. Misha estava comendo calmamente seu palito


de mussarela dissecado e observando-o com algo que Max tinha certeza de
que era divertido.

— Você tem que estar brincando comigo.

Misha piscou para ele. O mundo de Max virou de cabeça para baixo e
virou de lado. E então, sem motivo, ele notou que Misha não estava usando
um anel de casamento. Ele desejou não ter notado, masnotou. Ele também
ficou momentaneamente fascinado pelos dedos longos e delgados de Misha,
enrolados no garfo.

Puta merda. Eu acho que meio que quero chupar ele.

— Acho que devemos manter Drake. — Disse Misha, como se Max não
estivesse pensando em boquetes embaixo da mesa. — Eu acho que ele deveria
ser capitão.

— Eu acho que você é louco. — Max sentou-se e disse a si mesmo para


não pensar em nada além de hóquei. — Os goleiros nunca são o capitão.

Misha deu de ombros. Ele fez isso de maneira muito elegante. Parecia

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muito europeu. Os russos eram europeus? Max era terrível em geografia.

— Talvez devessem estar. E às vezes eu já vi isso. Roberto Luongo,


quando jogou pelo Canucks. Ele era capitão.

Ele também era louco, se sua conta no Twitter tivesse algo acrescentar.

— Você acha que devemos fazer do nosso capitão goleiro de cabelos


azuis e piercing nos lábios. Mesmo que ele seja louco.

— Sim.— Misha fez uma pausa. — Uma vez eu joguei com um goleiro
que iria comer areia antes de um jogo.

— Areia? Você disse areia? — Max fez uma careta. — Aí credo. Por quê?
Isso não faz nenhum sentido.

— Ele disse que isso o impedia de perder o foco.

— Como?

— Eu não faço ideia. — Misha pegou outro palito de queijo. — Eu nunca


tive isso antes. — Ele habilmente derramou um pouco de molho no prato de
aperitivo e girou delicadamente o pedaço de mussarela frita no molho.
Parecia chique como só as pessoas ricas comiam. Se as pessoas ricas comiam
palitos de mussarela.

— Então, mantemos Drake e fazemos dele o capitão. — Max continuou,


tentando não observar os dedos de Misha e seus maneirismos estranhos e
elegantes.

— Eu recomendaria isso. Sim. Talvez diga para ele se livrar desse brinco
no lábio.

31
— É um anel labial. — Disse Max, sem sentido. — Não é um brinco.

Misha deu a ele um olhar que Max estava começando a interpretar


como seu é assim, estúpido americano. Ele acenou com a mão.

— O anel labial, então. Não entendo por que alguém iria querer um
desses.

— Para beijar, talvez. — Disse Max, infundido por um repentino desejo


de... O quê? Diga coisas levemente classificadas como pessoal a Misha? Ele
era mais suave do que isso quando tentou convidar Tara Pike para o baile da
oitava série.

— Para... Beijar. — Misha ficou muito quieto.

— Sim. — Disse Max, e ele continuou. — Para beijar.

A tensão entre eles não era desagradável, mas Max não tinha certeza se
isso era uma coisa boa ou não. Eles se entreolharam por mais um momento, e
então Misha largou a faca e o garfo e disse baixinho:

— Vou pegar a conta.

No final do campo de treinamento, eles tinham uma equipe, se não


campeões, pelo menos uma equipe de jogadores de hóquei razoavelmente
decentes.

Um endosso estimulante para ter certeza. Mas foi um começo, e isso era
tudo o que eles precisavam. Eles tiveram um começo limpo, uma nova equipe,

32
uma nova atitude e uma nova equipe técnica atrás do banco. A temporada
estava cheia de possibilidades, e a emoção na arena era palpável.

Ou seria, se Max levasse algum tipo de existência encantada de filme


para a vida toda. O que ele não tinha. E ele sabia que, porque assistir a filmes
da Lifetime3 era um prazer culpado, ele absolutamente não admitia a
ninguém.

O que ele realmente tinha era um time de desajustados, capitaneado por


um goleiro com problemas de controle da raiva e um piercing facial, treinado
pelo homem que encerrou a carreira profissional de hóquei de Max,
pertencente e gerenciado por um babaca desprezível que usaria isso para
publicidade.

Era também um time que tinha cinco jogadores chamados Jacob. E


mesmo sendo responsável pela contratação dos jogadores, Max havia
conseguido ignorar isso completamente.

— Espere. É sério? — Max gemeu quando o quinto Jacob, que na


verdade era Jakob, se apresentou no primeiro dia de prática. — Qual é o seu
sobrenome?

— Wawrzyniak, Treinador.

Max trocou um olhar com Misha.

— Parabéns, Jakob. Você é o único que manterá o primeiro nome.

3
Lifetime é uma rede de televisão por assinatura, estado-unidense de entretenimento, que faz parte do Lifetime Entertainment Services, uma
subsidiária da A&E Networks, que é de propriedade conjunta da Hearst Corporation, The Walt Disney Company e NBCUniversal.

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No gelo, o time parecia... Não exatamente bom, mas não era terrível.
Max não sonhava com a glória da Copa Kelly, mas também não tinha
pesadelos. Foi o melhor que ele poderia esperar naquele momento da
temporada, porque era um novo time que precisava de tempo para jogar
juntos e definir sua dinâmica.

Misha era um bom treinador, mas ele era uma merda em conversar com
os jogadores. Seu método normal de comunicação era encará-los até que eles
saíssem para fazer o que ele lhes dissera. Ele nunca teve que gritar, e de
alguma forma fez seu apito parecer ameaçador. O apito de Max soava como
um barulho pateta de desenho animado na maioria das vezes.

Como o mais gentil dos dois embora houvesse peças de equipamento de


hóquei mais fáceis de conversar do que Mishae Max estavam principalmente
encarregado das relações com os jogadores, retenção e atitude geral dos
vestiários. Então eles imediatamente tiveram que se livrar do elefante na sala,
ou mais apropriadamente o elefante em forma de “acidente de Misha e Max”.

Foi incrivelmente estranho e, em última análise, inútil tentar discutir o


assunto com Misha. Ele apenas enrijeceu e disse:

— Como você se sentir confortável. — E depois não olhou para Max.

Como ficar confortável era impossível, Max fez o que parecia ser a coisa
mais fácil. No segundo dia de treinos, ele disse:

— Não se preocupe comigo e com o Treinador Samarin. Não vamos ter


problemas por causa do meu acidente.

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— Quando você sofreu um acidente? — Shawn Murphy perguntou,
piscando.

Drake levantou os olhos de amarrar os patins.

— Ele bateu em você com o carro dele ou algo assim?

Oh, pelo amor de Deus.

— Procure no YouTube. — Disse Max, e foi isso.

Não foi tão fácil com Belsey. O intrépido gerente de marketing deles
achava que a melhor coisa a fazer era capitalizar o passado sórdido de Max e
Misha para atrair multidões. Ele não entendeu que, se o time não sabia,
provavelmente as legiões de fãs de hóquei em Spartanburg, Carolina do Sul
também não.

Especialmente considerando que não havia legiões de fãs de hóquei em


Spartanburg. Pode haver uma dispersão, e mesmo isso provavelmente foi um
exagero. E Max realmente não sabia como mostrar um sucesso no final da
carreira ou seja, quando se tratava de um acidente que iria agradar a
comunidade ao seu esporte. Mas, aparentemente, Belsey não pensava muito
nos sulistas. Ele disse que isso os lembraria do futebol da faculdade.

Max achou que não, mas manteve a boca fechada porque gostava do
trabalho.

A primeira tentativa de Belsey de usar a infâmia a seu favor foi convocar


uma conferência de imprensa totalmente desnecessária e totalmente inútil.
Era óbvio que os jornalistas foram pagos para participar e fazer algumas

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versões ligeiramente diferentes da mesma pergunta, porque Max e Misha
responderam:

— Como vocês dois estão trabalhando juntos depois do que aconteceu?


— Cerca de dezessete vezes.

Max imaginou o que aconteceria se ele respondesse: “Eu vou bater nele
com meu carro” e depois pensou que talvez estivesse passando muito tempo
com o goleiro zangado dos Spitfires.

Misha parecia sério e russo como sempre, e apenas disse que lamentava
muito o acidente e estava ansioso para trabalhar com Max e ter uma boa
temporada com os Spitfires. Ele dizia isso da mesma maneira todas as vezes, e
Max percebeu, quase no final, que Misha estava com o sotaque bem grosso.

A certa altura, os dois trocaram um olhar que dizia claramente: “Isso é


miserável. Alguém me mata”. E ocorreu a Max que, se Belsey fosse bem-
sucedido em alguma coisa, estava transformando Misha de seu inimigo em
seu aliado na guerra implacável e agressiva contra o desinteresse do hóquei
sendo travada pelo gerente geral. Quem era um imbecil completo e absoluto.

Quando a conferência de imprensa falhou em provocar qualquer tipo de


confusão, Belsey começou a trabalhar em uma campanha publicitária para os
Spitfires. Centrou-se em torno da frase “Nova Temporada. New Start,”o que
seria bom se não apresentasse imagens antigas da lesão de Max sobrepostas
com; “Esperando por um herói”, a versão dos anos oitentas de Bonnie Tyler.

Toda vez que ligava, fazia Max querer bater em uma parede.

36
O que eles precisavam não era um herói. Foi ofensa. Porque os Spitfires
perderam seus quatro primeiros jogos da temporada, todos sem marcar um
único gol, e o novo começo de Max estava começando a cheirar a velhos
equipamentos de hóquei deixados por muito tempo no porta-malas de um
carro.

— Olhe dessa maneira. — Disse Max a Misha após o quarto jogo. — Pelo
menos ninguém estava aqui para vê-lo.

Isso não era verdade para o quinto jogo, contra os campeões do ano
passado, o Jacksonville Sea Storm. O Storm era um time talentoso que
mantinha a maioria de seus jogadores. Eles demoliram o Spitfires de oito a
zero na frente de uma multidão em sua arena em Jacksonville.

Foi depois dessa derrota humilhante que Misha finalmente perdeu a


paciência durante uma das reuniões miseráveis e obrigatórias da equipe.

E foi glorioso.

Eles estavam sentados ao redor da mesa de conferência, enquanto


Belsey continuava falando sobre promoções, cerveja barata e publicidade, e
Max estava esperando que ele sugerisse que ele e Misha reencenassem o
acidente quando Misha falou.

— Precisamos ganhar jogos.

— O que é que foi isso? — Perguntou Belsey. Ele se virou na direção


deles. — Sinto muito, pensei que você tivesse dito algo útil.

Misha jogou a caneta no chão. Max percebeu que estava rabiscando de

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novo, mas não conseguia ver o que era. Provavelmente mira. Max pegou sua
própria caneta e se perguntou se poderia desenhá-las. Isso pode fazê-lo se
sentir melhor.

— Eu disse, precisamos vencer jogos. — Misha rebateu com uma voz


muito mais alta do que Max estava acostumado. — É isso que vende ingressos.
Em Jacksonville eles eram campeões. Eles têm uma multidão. Aqui você está
tentando vender um drama. Não é hóquei.

— Também não parecemos ter isso. — Disse Belsey, que... Ok. Bem. Ele
tinha razão.

— Eu sei isso. Max sabe disso. Mas acho que estamos cansados de ter
nosso passado desfilando por aí como se fosse algum tipo de artifício
publicitário.

— É exatamente isso que é. — Retrucou Belsey. Obviamente, a falta de


sucesso estava afetando-o, mas Max achou difícil demonstrar simpatia por
um cara que pretendia desfilar o pior momento de sua vida para as massas
definidos como Bonnie e Tyler.

— Talvez devamos mostrar alguns destaques da temporada. — Sugeriu


Kim Stamford, assistente de marketing. Max lhe lançou um olhar agradecido,
e ela lhe deu um pequeno sorriso em troca.

— Quando tivermos alguns, teremos certeza disso. — Belsey estreitou os


olhos. — Eu poderia demitir vocês dois. Isso é péssimo.

Não contrate a porra da sua equipe de treinadores pelo valor de suas

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vidas privadas, então, seu imbecil.

— O que nos impede de ganhar? — Belsey exigiu.

— Perdendo. — Disse Misha.

Já à beira da reunião, da estação e do fato de que ele não conseguia


parar de perceber o quão bem Misha usava um terno, Max escondeu uma
risada repentina e selvagem em uma tosse. Era totalmente pouco
convincente.

— Não preciso que você seja espertinho. — Retrucou Belsey, impaciente.

— Essa é a resposta para o motivo de não estarmos vencendo. — Disse


Misha.

— Samarin, eu odiava literatura existencialista russa quando estava na


faculdade, então com certeza não quero lidar com essa merda no trabalho.

— Você não está fazendo as perguntas certas, é o que eu quero dizer. —


Continuou Misha como se Belsey não tivesse insultado o país de origem...
Qualquer tipo de literatura da porra. Max não tinha ideia do que isso
significava. — Você pergunta por que não estamos vencendo quando precisa
perguntar por que estamos perdendo. E porque esse time nesta temporada
você fez isso sobre o passado. Sobre acidentes e finais. Não começo.

Isso fazia tanto sentido que Max se perguntava se deveria pegar um


pouco dessa literatura.

— Ele está certo. — Acrescentou, porque queria apoiar Misha. E porque


Misha estava certa. — Treinador Samarin e eu não temos problemas um com

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o outro. Você está jogando com algo que não importa, em vez de algo que
importa.

— O que estou fazendo é tentar encontrar uma maneira de comercializar


um time de hóquei no sul. Um time de hóquei que não apenas não venceu
nenhum jogo, mas também não marcou um único gol. Você quer esse
marketing fora? Então me dê alguns malditos destaques para usar em um
novo.

— Feito. — Disse Misha e se levantou. — Se você me der licença, eu


tenho fitas de jogos para assistir.

Todos na sala assistiram em silêncio enquanto Misha andava até a


porta, com o caderno na mão e saiu sem dizer mais nada.

Todo mundo se virou para olhar para Max, que tinha acabado de
perceber que a bunda de Misha parecia realmente boa nessas calças.

— Eu também. — Disse ele. Então ele fugiu.

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Capítulo 4

Misha estava sentado no escuro de seu escritório com uma dor de


cabeça latejando atrás dos olhos, assistindo fitas de jogos em seu laptop sem
realmente vê-las.

Ele deveria estar prestando atenção à equipe. Ele deveria estar


assistindo e tentando descobrir o que estava acontecendo de errado para que
ele pudesse consertar. Ele não deveria estar pensando em Max.

E se ele estava pensando em Max, deveria estar pensando nele em


termos de treinamento e não... Em outras coisas em que não tinha motivos
para pensar. Não tem o direito de pensar.

Talvez Max não o odiasse, mas era isso. Tudo o que importava era
encontrar uma maneira de consertar o que estava acontecendo de errado com
a equipe. Era uma segunda chance para Max, que jovem como ele era poderia
se preparar para treinar um time nas grandes seleções algum dia e colocar seu
nome na Copa Stanley.

Mishaestava lá, mas ele nunca tinha visto. Ele recusou seu dia com a
Copa porque achava que não merecia. Assim como ele nunca usava seu anel
de campeão. Ainda estava em uma caixa que ele nunca abriu, escondida em
um cofre em seu armário.

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Ele foi suspenso por quinze jogos após a lesão de Max, apesar de Misha
não ter sofrido uma penalidade pelo golpe durante o jogo. O golpe foi legal e,
pelo que ele entendeu, a lesão que expulsou Max do gelo aconteceu quando a
cabeça de Max atingiu a ponta do taco de Misha. Mas a liga queria fazerdele
um exemplo, e o fizeram com uma suspensão prolongada que enfureceu os
Bruins em nome de Misha. Eles queriam apelar, mas Misha não deixou. Em
vez disso, Misha assistiu da imprensa enquanto sua equipe vencera a Copa
Stanley e depois se retirou silenciosamente.

Esse foi o final inglório da história da carreira profissional de hóquei no


gelo de Mikhail Samarin. Poderia ter sido uma história inspiradora do jogador
russo que mal falava inglês, foi recrutado pela NHL e se mudou para a
América sem a ajuda ou o apoio de amigos ou familiares.

O problema era o desejo que seguira Misha a vida inteira, indesejável e


tão feroz que ele não podia ignorá-lo. Não importa quantas vezes ele orou,
não importa quantas recitações ele fez na missa quando era mais jovem e
acreditou nessas coisas, nada poderia tirar isso dele.

Ele não tinha permissão para querer o que queria nem na Rússia, nem
em sua família, nem na vida em que seu pai estava tão arraigado. Ele era um
açougueiro. Sim. Mas não do tipo que Max provavelmente pensou que fosse
quando Misha contou a ele.

Max não o chamou de nomes como a imprensa nos dias seguintes ao


acidente. Ele simplesmente alcançou o espaço que os separava e apertou sua
mão. Max era muito americano. Misha desejou que ele pudesse ser assim,

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mas anos de vida nos EUA nunca lhe deram o otimismo de tirar o fôlego que
os americanos pareciam herdar do berço.

Max cumprimentava Misha todos os dias com “bom dia” quer ele
quisesse ou não. Max não acusou, nem gritou, nem o encarou, como Misha
merecia. Max sorriu para ele e fez seu trabalho, e talvez fosse porque ele não
sabia o que Misha pensava à noite em sua cama.

Era inesperado e imperdoável para Misha querer Max. Misha não podia
retribuir o presente inesperado do perdão de Max com os pensamentos
sombrios e lascivos que surgiram à noite e o fizeram estremecer
silenciosamente e com os dentes cerrados.

— Eu não achei que você estivesse falando sério. — Disse uma voz atrás
dele. — É por isso que demorei tanto para chegar aqui. Eu pensei que você
tinha feito a coisa sensata e ido a um bar. Ou ao estacionamento para cortar
os pneus de Belsey. — Max encostou-se à porta com um leve sorriso. Ele
assentiu para a tela do laptop. — Tirando algo útil disso?

— Que somos horríveis. — Disse Misha abruptamente. Ele pensou em


deslizar de joelhos na frente de Max, desfazendo o jeans que estava vestindo e
levando o pênis de Max em sua boca. A luxúria atingiu Misha como um
martelo brutal e impiedoso.

— Bem, sim. Algo mais?

— Não. — Misha enfiou a mão no bolso e fechou os dedos ao redor da


pílula que lhe oferecia alívio da dor de sua dor de cabeça. Ele não a pegou. Ele

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apenas esfregou-o entre o polegar e o dedo como se quisesse se assegurar de
que estava lá.

Ele não aceitaria Max. Isso o tornaria fácil demais com suas palavras
muito livre e talvez ele dissesse algo de que se arrependeria. Ele não tomou as
pílulas quando teve que ver Max, ou treinar hóquei, ou dirigir um carro. Em
casa, ele simplesmente bebeu vodka e foi dormir. Misha não achou que ele
merecesse que sua dor terminasse tão facilmente.

Ele sabia que isso era dramático ao ponto de ser ridículo. Mas ainda era
a verdade.

— Ei. Você está bem? — Max parecia preocupado. — Quero dizer, além
da bagunça em que estamos.

A bagunça em que estamos. Juntos. Dois deles. O perdão de Max foi


quase fácil demais. Como a pílula que Misha se recusou a tomar. Ele não fez
nada para ganhar isso também.

— Uma dor de cabeça. — Disse Misha. Eles não eram realmente dores
de cabeça. O médico as chamou de enxaqueca. Não apenas dolorosas, ou um
incômodas, elas eram debilitantes.

— Oh. Quer aspirina ou algo assim?

— Não, obrigado. — Misha podia sentir seu pulso nas têmporas e atrás
dos olhos. Seu sangue correu para o sul com a ideia de se ajoelhar na frente de
Max, e isso fez outras coisas palpitarem. Não foi tão agradável quanto deveria
ser. Ele deveria tomá-lo como o aviso que era.

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— Assistir a fitas de jogos provavelmente não ajuda. — A boca de Max
se torceu. — Ou o brilho da tela ou o que há nela.

Misha sorriu um pouco.

— Não.

— Isso é... Fico feliz que você tenha dito isso. Na reunião. — Max olhou
para baixo e enfiou as mãos nos bolsos.

Misha podia ver seus dedos se moverem sob o tecido de sua calça jeans.
Max nunca usava terno, a menos que eles estivessem em um jogo.

— Era verdade, e você disse isso muito melhor do que eu. — Disse Max.

Os elogios fizeram Misha corar, e ele assentiu desconfortavelmente.

— Isso tinha que ser dito. Belsey está errado ao usar o que aconteceu
com você como uma desculpa.

— Para nós. — Disse Max com firmeza. — Para nós, Misha. Não só eu.

Toda vez que Max dizia seu nome, algo dentro dele ansiava um pouco
mais pelas coisas que ele não tinha o direito de querer. Era um nome para
amigos e familiares próximos. Fazia muito tempo que Misha também não era,
e esse era o nome que todos na América o chamavam.

— Para você. — Misha repetiu em sua voz de treinador. — Foi você quem
mais sofreu, Max.

— Besteira. — Max respirou fundo. — Veja. Eu acho...Eu não queria ter


que fazer isso. — Fale sobre isso.

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— Então não vamos.

— Mas nós precisamos. Mas não aqui. — Max fez uma careta. —
Imagino que Belsey possa estar à espreita na esquina. Ou há escutas no seu
escritório.

— Escutas? — Seu cérebro estava com enxaqueca lenta, e levou um


minuto para perceber o que Max queria dizer. — Ah. Sim. Como a KGB.

Max sorriu.

— Eu sei mais sobre coisas de espionagem russas do que sobre a


literatura de que Belsey estava falando. Mas sério, vamos lá. Ah... A menos
que sua cabeça doa e você queira ir para casa?

A cabeça de Misha doía, e ele queria ir para casa. Mas ele não faria isso.
Se Max quisesse conversar, eles conversariam mesmo que seu estômago
estivesse enrolado de nervos, mesmo que as luzes estivessem começando a
produzir cores que não estavam lá brilhando atrás de seus olhos.

— Está tudo bem. — Disse Misha. Ele sentiu as pontas da pílula contra
os dedos, rolou-a uma vez, duas vezes, e depois puxou a mão do bolso e se
levantou. — Onde você quer ir?

— Minha casa. — Disse Max, e as palavras de Misha foram todas


roubadas, tiradas dele pelos bonitos olhos de Max Ashford e seu sorriso fácil e
todas as coisas que ele estava dando a Misha algo que ele não merecia. Todas
as coisas que ele queria que ele não poderia ter.

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O apartamento de Max estava em um novo empreendimento ao sul da
cidade, a cerca de dez minutos de carro da casa de Misha. Os apartamentos
eram simples e limpos, com paredes brancas, novas bancadas e
eletrodomésticos atualizados. Max ainda tinha caixas na sala de estar.

Pendurado em sua parede, havia uma foto da equipe dos Habs desde
quando derrotaram a Capital para avançar para o campeonato da conferência.
Max foi fácil de detectar. Ele estava sorrindo e parecia suado e triunfante.

Misha já se sentiu tão feliz com o hóquei? Se ele nunca tivesse atingido
Max nas finais, ele seria suspenso e venceria a Copa com sua equipe sem
culpa? Ele era capaz desse tipo de felicidade despreocupada? Ele achou não.
Jogar hóquei nunca foi sobre alegria. Era sobre sobrevivência. Ele gostava de
treinar hóquei muito mais do que jogar.

A enxaqueca de Misha bateu incansavelmente. Max veio atrás dele e lhe


entregou algo frio em uma garrafa. Cerveja. Bud Light.

— É tudo o que tenho. — Disse ele na defensiva, como se Misha


esperasse champanhe. — Caso você queira algo mais sofisticado.

Misha balançou a cabeça, o que o fez sentir náuseas. Ele tomou um gole
cuidadoso de cerveja, sabendo que não deveria. Ele queria água, mas se
recusou a pedir e insultar a hospitalidade de Max. A garrafa fria estava boa
em suas mãos.

— Vamos sentar. — Max tomou um gole de cerveja. Ele parecia nervoso,


e Misha assumiu que era porque ele estava lá, pairando sobre ele
ameaçadoramente.

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Misha sentou no sofá e levou um momento para descansar a cabeça
contra a parede atrás dele. A enxaqueca rosnou, beliscando e mordendo seu
crânio e o pescoço.

— Você tem certeza que não quer aspirina?

— Da. — Disse Misha, estremecendo com seu momentâneo lapso de


russo. — Sim. Obrigado.

— Sim, você tem, ou sim, você tem certeza?

— Estou bem. Sobre o que você quer conversar?

Max suspirou.

— Certo. Ok. Apenas um segundo. — Ele se sentou ao lado de Misha o


que era perturbador e pegou um controle remoto. Ele ligou a televisão,
murmurou para si mesmo e passou por uma variedade estonteante de opções
de menu até o YouTube aparecer na tela.

Misha teve uma sensação de afundamento que não tinha nada a ver com
sua enxaqueca.

— Max.

— Apenas... Eu sei. Ok? — Ele olhou e sorriu para Misha, e a falta de


recriminação fez a respiração de Misha ficar presa na garganta. Sua cabeça
latejava em protesto. Outras coisas palpitavam de desejo. — Não tocarei
baladas de rock enquanto estivermos assistindo.

— Graças a Deus. — Misha murmurou, e Max riu, o som tão claro e


brilhante como seus olhos.

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Em contraste, Misha estava sentado ao lado dele se afogando na
escuridão.

Ele tinha visto a repetição, é claro. Misha assistiu quase obsessivamente


após o acidente, antes e depois de sua suspensão, e sempre que ele o viu no
noticiário. Era uma espécie de penitência não desviar o olhar, sofrer vendo o
que ele fazia repetidamente.

— Eu nunca assisti isso, você sabe.

— O vídeo do YouTube? — Misha tinha visto isso também. Estava cheio


de comentaristas furiosos gritando que ele deveria ser deportado de volta
para a Rússia.

— O sucesso.

Misha piscou.

— Você viu o comercial, no entanto. Sim?

— Sim, eu gostaria de poder dizer que não vi isso. Mas eu quis dizer, eu
não assisti isso até alguns meses atrás. Eles jogaram esse jogo no canal da
NHL, então eu assisti.

Nunca ocorreu a Misha que Max não teria visto, mas então ele lembrou
que Max era o herói, não o vilão da história.

Misha assistiu o golpe acontecer na tela. Como deve ser a sensação de


ver o momento em que tudo acabou? Quando Max bateu no gelo, ele sabia
que esse era o último jogo?

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Misha sabia que era o dele? Como se sentiu? Ele não conseguia se
lembrar.

A cena mudou para a repetição. Misha assistiu desapaixonadamente,


retirou-se para a dor ofuscante de sua enxaqueca e disse a si mesmo que
estava tudo bem em sofrer, que deveria, que merecia.

Max pausou o vídeo.

— Veja. Viu o que tenho lá?

Misha piscou. Ele não esperava perguntas.

— Eu o quê?

— O disco, Misha. O disco. Seu golpe não foi o causador.

Oh.

— Sim. Eu sei.

Max olhou para ele. Na tela da televisão, seus jovens eram suspensos no
momento em que tudo mudava. Max estava deitado de bruços no gelo. Misha
ficou de pé, olhando para ele com a cabeça baixa como se estivesse rezando.

— Você sabia disso o tempo todo?

— Da. — Disse Misha e esfregou os olhos. Não ajudou, e fechar os olhos


fez seu estômago revirar. Ele foi colocar a cerveja na mesa em frente ao sofá,
mas não havia porta-copos, então não o fez.

— Eu...Foi um golpe legal. Quando caí, bati a cabeça na lateral do bastão


e fiz algo para atrapalhar minha visão periférica. Não vejo o suficiente para

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jogar hóquei e tenho sorte de ter passado no teste de motorista. — Max
estremeceu. — Eu provavelmente não deveria ter.

— Não foi o seu bastão. Era o meu. — Misha sabia disso. Lembrou-se de
estar sozinho no vestiário. O som da multidão era um rugido distante e sem
graça, e havia sangue nas bordas do bastão.

— Por que... Por que você não disse nada? Eles não deveriam ter
suspendido você, não por muito tempo. Não por um golpe legal. Mesmo que
seja... Quero dizer, as pessoas se machucam em nosso esporte. Eu fiz. Não é
como se eu não soubesse que isso poderia acontecer. É apenas… — Max deu
de ombros. — Eu não esperava isso. Mas quem faz?

Misha, se ele estivesse sendo honesto.

— Não importa se você ainda teve o disco ou não, Max. Foi... Terminou
sua carreira.

— Se você começar a cantar “eu preciso de um herói,” vou dar um soco


na sua cara.

— Eu não vou. — Assegurou Misha. Max continuou a encará-lo com os


olhos arregalados. Misha não tinha certeza de quantos anos ele tinha, mas ele
assumiu trinta ou apenas um pouco menos. Misha tinha quarenta anos, pelo
menos dez anos mais. Ele se sentiu muito mais velho que isso.

— Só estou tentando dizer, Misha, que sinto muito.

Misha olhou para ele, estupefata.

— Eu... Prosti, chto ti skazal?

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Max inclinou a cabeça.

— Uh.

Ele falou em russo novamente. A enxaqueca estava começando a causar


estragos em seus sentidos. A enxaqueca e Max tão perto e dizendo que estava
arrependido.

— Eu disse; isso não importa. Do que você está arrependido? Você não
tem culpa de nada. Não há nada. Sem motivo.

— Bem, eu deveria ter dito algo quando você teve seu julgamento. Eu
poderia ter dito a eles que não foi intencional, se eu tivesse assistido isso. E
talvez então você tivesse jogado a final.

Max parecia tão sério que Misha realmente riu. Mesmo que isso fizesse
a dor em sua cabeça crescer mil.

— Max. Não teria importado. Eles ficariam irritados com você, se você
tivesse. Eles queriam me dar uma punição severa. Eles deveriam ter. E eles
fizeram.

— Por que eles deveriam? Você tentou terminar minha carreira? Porque
eu não acho que você fez. Eu acho que você estava tentando me tirar do disco,
desde que você era um defensor. E é isso que você fazia. — O queixo de Max
subiu. — Então é isso? Você estava tentando me tirar? Alguém estava pagando
você? Algum apostador profissional?

— Não. Claro que não. — Disse Misha, sentindo... Alguma coisa. Dor da
enxaqueca, mas outra coisa. Talvez tolo.

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— Eu nunca pensei isso. Sempre. Eu pensei que era péssimo e… Sim.
Talvez eu estivesse com raiva de você por, oh, dez minutos quando acordei e
percebi o que aconteceu. Mas não estou mais e não tenho há muito tempo.
Faz cinco anos, Misha. Você sabe com quem eu estava bravo? Minha noiva,
por me deixar quando disseram que eu não podia mais jogar. Minha cabeça
estúpida, por virar o caminho errado quando caí, de modo que isso estragou
minha visão. Meu capacete, por não funcionar como deveria. O gelo, por ser
duro. Deus. Eu mesmo. Mas não com você.

Misha não sabia o que dizer. O perdão que Max lhe dera era absoluto e
avassalador, e ele não o queria. Ele não poderia ter. Isso tornava as coisas
muito confusas e tirava a simplicidade de seu sofrimento. Ele viu o mundo,
em vez preto e branco, em muitas cores brilhantes.

— Você deveria estar com raiva de mim. — Disse Misha, engolindo um


pouco. Ele tocou a pílula no bolso. Ele queria tanto tomar isso e não tinha
certeza se poderia voltar para casa com a dor de cabeça tão forte quanto
estava. Ele teria que dormir em seu carro.

— Bem eu não estou. E você estava certo quando disse a Belsey que ele
precisava parar de usar o passado como tema para a nossa temporada. Isso
não nos fará marcar gols ou vencer. Mas também não é sua culpa. — Os olhos
de Max se estreitaram. — Mas para constar? Não foi apenas a minha carreira
que terminou depois desse jogo. E sima nossa. Foi um maldito acidente,
Misha, e foi péssimo. Para nós dois.

Max soltou um suspiro. Ele estendeu a mão, pegou o controle remoto e

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desligou o YouTube.

— E nunca leia a porra dos comentários aqui. Eu não sabia que as


pessoas ainda estavam tão bravas com os comunistas. A maioria deles nem
nasceu caralho, nessa época. Não há comunistas. Certo? Ou ainda existem? —
Max fez uma careta. — Eu sou péssimo com a história. Mas somos claros ok?
Nós vamos superar isso? Nós superamos isso? Nós dois certo?

Não havia nada que Misha pudesse fazer além de concordar.

— Da. Sim. Com licença? — Misha perguntou e se levantou. Suas pernas


estavam tremendo e seu equilíbrio foi destruído. Era a enxaqueca. Foi Max.
Foi tudo isso.

Encontrou o banheiro e tirou a pílula branca do bolso da calça. Ele


olhou para ela, ergueu-o e jogou-a na pia. Seu reflexo no espelho parecia
pálido e tenso sob o suave brilho amarelo das luzes. Ele ligou a água e lavou a
pílula na pia.

Max pareceu preocupado quando Misha voltou para a sala.

— Você não parece tão bem. Quero dizer. Você parece doente. Como se
você estivesse doente. — Você quer se deitar ou algo assim?

Sim. Ele queria. Misha riu e disse algo em russo, algo como “Você não
tem ideia do quanto eu quero me deitar” e depois foi em direção à porta. Ele
tinha que sair dali antes que outra coisa, parte do fundamento de sua vida, se
desfizesse.

— Eu não acho melhor você dirigir. — Max bloqueou o caminho. — Você

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pode se machucar. E você não vai me deixar com esse time de merda,
Samarin. De jeito nenhum.

Misha piscou para ele. Ele desejou não ter jogado a pílula na pia. Ele
desejou estar em casa. E desejou ter esperado meio segundo antes de bater
em Max, desejou que fosse um golpe tardio e tão ruim quanto todo mundo
alegou que tinha sido. Algo... Qualquer coisa para torná-lo o vilão que todos
queriam que ele fosse. O vilão Misha queria tanto ser que doía.

— Maldito, porra de russos. — Disse Max, e Misha fez a única coisa que
ele conseguiu pensar, a única coisa que ele sabia que deixaria Max irritado e
finalmente o faria punir Misha como ele merecia.

Ele se inclinou para frente e o beijou.

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Capítulo 5

Max sabia que Misha estava fodido com alguma coisa por causa de sua
dor de cabeça ou por Max não odiá-lo e ele tinha certeza de que tentar
impedi-lo de sair não ia terminar bem. Max nunca fora um lutador no gelo, e
enquanto Misha fora um defensor e não um executor, ele teve mais lutas em
sua carreira do que Max.

Max sabia disso porque estava curioso sobre a carreira de Misha e talvez
tenha pesquisado algumas noites antes. Não houve muitas brigas, e Misha
nunca as iniciou exceto uma vez, em um jogo contra os Flyers, e os Flyers
provavelmente o mereceram, mas ele tinha uma quantidade respeitável e fez
uma boa exibição.

Portanto, não estava fora do reino da possibilidade que Misha o socasse


no estômago para fazer Max sair do seu caminho. Mas ele certamente não
esperava que Misha o beijasse.

Misha parecia determinada a fazer Max odiá-lo. Esse era o seu mais
novo truque? Se assim for, foda-se essa merda. Não ia dar certo. Max não
tinha muita experiência com homens, mas tudo isso com o barmen no riu no
México havia lhe dado o suficiente. Além disso, beijar era beijar.

Mas isso não na realidade um beijo. Era Misha tentando deixá-lo com
raiva, talvez tentando derrubá-lo como se estivesse jogando hóquei. Foda-se

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isso. Max não estava sendo derrubado por um maldito beijo. De jeito
nenhum.

Ele estendeu a mão e colocou a mão na gravata de Misha o que, espera...


Ele deveria estar usando gravata nas reuniões da equipe? E o puxou para
baixo porque Misha era alto. Max enfiou a língua na boca dele.

Misha fez um barulho, algo surpreso, áspero e faminto, e todas as


metáforas do hóquei saíram da cabeça de Max, junto com todo o resto que
não era Oh, ele é bom nisso.

— Que raio foi isso? — Max perguntou quando eles se separaram. Os


olhos de Misha estavam escuros e ardendo como carvão. — Eu disse que não
era homofóbico. — Não era a coisa mais inteligente a dizer, mas era tudo o
que tinha. Ele pressionou os dedos na boca. Seus lábios pareciam formigar.

— Você tinha uma noiva. — Disse Misha, com sotaque pesado e


lembrando Max de um vilão de Bond. De um jeito bom. Os russos eram bons
rapazes, não eram? Às vezes? Uma das guerras mundiais? Foi a Segunda
Guerra Mundial?

— Sim. Não acho que ela se importe, vendo que está casada e espera um
bebê. — A noiva de Max, Emma, estava perfeitamente pronta para assumir a
vida como esposa de um atleta profissional. Tanto que, depois do acidente de
Max, ela foi em frente e encontrou outro. Um jogador de beisebol do outro
ladodo país em San Francisco.

Max já havia superado, mas ainda esperava que o bastardo fosse


trocado pelos Cubs.

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Max cruzou os braços sobre o peito.

— Não brinque comigo. Você está me beijando para me assustar ou


porque queria me beijar?

Misha parecia que ele estava considerando a pergunta. O que era um


pouco demais para o ego de Max suportar.

— É sério?

— Talvez os dois. — Disse Misha, e depois: — Minha cabeça dói.

— Você é muito ruim nisso. — Max suprimiu a vontade de sorrir. —


Tipo, muito ruim.

— Eu sei. Posso tomar um pouco de água?

Ele não podia negar-lhe água e realmente parecia terrível. Mas Max
ainda estava excitado, faminto, querendo, irritado. E não, Misha não poderia
ter água, a menos que ele respondesse à pergunta.

— Fale, Samarin.

— Eu queria te beijar. Sim. E pensei que você me odiasse.

— Isso ainda é sobre o acidente? — Max perguntou. — Não pode ser.

Misha encostou a cabeça na porta. Ele parecia atormentado e infeliz.

— Exatamente como você queria que alguém cuidasse deles se te


beijam. Certo.

— Não.

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Aparentemente, isso era tudo o que ele estava recebendo. Max assentiu
e disse:

— Vou pegar água. E um pouco de aspirina. Isso deve ser uma dor de
cabeça assassina.

— É uma enxaqueca.

— Eles não dão remédio para elas? — Ele lembrou que a esposa de seu
irmão os tinha há muito tempo. Ela disse que se livrou delas engravidando.
Isso não era exatamente uma opção para Misha.

— Sim.

— Você tem algum com você? — Max teve conversas mais fáceis com os
gatos domésticos.

Misha abriu os olhos.

— Eu fiz. Mas agora não.

— Você já tomou? É tão difícil obter respostas de você o tempo todo?

— Não. Joguei-o na pia. E sim. Eu odeio falar de mim mesmo.

Max sorriu levemente na última parte, mas depois lançou um olhar


preocupado para Misha.

— Porque você fez isso? Por que você não ostomou?

— Eu sou russo. — Disse Misha com o menor indício de sorriso. —


Ficamos angustiados, Max.

— Eu vejo isso. Bem, eu sou americano. Nós forçamos merda a outras

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pessoas, se achamos que elas precisam. Como democracia. E música pop. —
Max o deixou lá e foi à cozinha pegar um copo de água.

— Aqui. — Ele entregou o copo a Misha. — Eu tenho algo. Espere. — Ele


entrou em seu quarto e evitou olhar para a cama que não havia sido feita, e
talvez se Misha não parecesse que a morte esquentava com Max faria algo a
respeito e foi ao banheiro.

Ele voltou e entregou a Misha dois analgésicos.

— Estes não são para enxaquecas, mas são Vicodin4. Eu os peguei


quando tirei meu apêndice há alguns anos.

Misha pegou e engoliu sem dizer uma palavra, o que disse a Max que
sua enxaqueca devia ser horrível. E também que Max provavelmente não
estaria transando.

O que foi bom. Totalmente bem. Eles se beijaram uma vez. Tanto faz. E
não contava. Foi um beijo importante ou algo assim. Mesmo que Max não
tivesse certeza de qual era o objetivo ou quem estava fazendo isso. Ele pegou
um cobertor e travesseiro para o sofá.

— Eu queria te beijar. — Disse Misha quando Max voltou para o


quarto. Ele se sentou novamente e começou a puxar a gravata. Ele colocou o
casaco sobre uma cadeira e colocou os sapatos ordenadamente ao lado do
sofá.

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Di-hidrocodeína ou simplesmente hidrocodona é um opiáceo semi-sintético derivado de dois opiáceos naturais: codeína e tebaína. É um narcótico
oralmente activo com propriedades analgésicas e antitússicas.

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Misha estava muito arrumado para ser um vilão de Bond. E ele estava
longe de ser maníaco o suficiente.

— Bom. — Disse Max. — Quero dizer. Não quero que você me beije só
para me irritar. — Ele respirou fundo. Que diabos. — Você pode, se é porque
você quer, no entanto.

Misha olhou para ele e piscou como uma coruja confusa e dopada.

— Max.

— O que? Não vamos ser estranhos sobre isso, vamos? —Max


perguntou, mordendo o lábio inferior. — Quero dizer. Não quero que seja
estranho.

— Eu acho que provavelmente será estranho.— Misha bocejou e se


sentou de costas. Ele era um pouco alto para o sofá. — Obrigado, Max.

— Pelas drogas, por te beijar de volta, ou pela bebida? — Max


estremeceu. — Eu pareço uma trepadeira.

— Por me perdoar. — Disse Misha. — E por me beijar de volta.

Max sorriu e entrou em seu quarto. Ele manteve a porta aberta, só por
precaução.

Antes de a equipe jogar gelo em Toledo contra o Jackhammers, Misha


se levantou para fazer o discurso antes do jogo.

Esse era geralmente o trabalho de Max, porque ele era muito mais

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emotivo e melhor nos discursos em geral. Mas enquanto os Spitfires tinham
seus problemas, eles levaram o treinador a sério. Tudo o que foi necessário
para fazer o vestiário se calar foi Misha pigarreando. Uma vez. Às vezes, Max
precisava usar o aplicativo da buzina no celular e, mesmo assim, não era fácil
chamar a atenção deles.

— Esta temporada não começou como queríamos. Qualquer um de nós.


— Disse Misha em sua voz baixa e profunda. — Mas podemos mudar isso. Não
pense nos jogos que vieram antes. Não pense em registros, estatísticas ou no
jogo na próxima semana. Não pense no segundo período. Pense no momento
em que você está no gelo e no disco. E é só nisso que você precisa pensar.

Não foi um discurso empolgante, mas dois minutos depois do primeiro


período, Drew Crowder marcou o primeiro gol da temporada. Não havia uma
multidão muito grande para apreciá-lo, especialmente porque eles estavam
em Toledo, mas certamente trouxe alegria ao banco. Pelo menos, foi um
destaque com um jogador de Spitfires real, em vez de um acidente envolvendo
os treinadores.

Apesar do objetivo no primeiro, o jogo estava se transformando em um


assunto bastante chato. Os Spitfires não marcaram novamente, mas seus
oponentes também não. Max estava ansioso por um ponto na coluna da
vitória e estava feliz por ter um gol. Ele também estava imaginando se talvez
ele e Misha pudessem comemorar uma vitória dos Spitfires se beijando em
seu quarto de hotel.

O terceiro período tinha outros planos.

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Um dos Jackhammers, obviamente irritado por estar perdendo para a
equipe da “vitória certa”, acertou o goleiro dos Spitfires. Essa foi uma péssima
ideia por várias razões, as duas principais sendo que você não jogou seus
socos em goleiros e, se jogou, provavelmente não quis fazer isso quando Isaac
Drake estava na rede.

Misha mudou as linhas para enviar Matt Huxley para o gelo. Na


tradição do hóquei, ele deveria defender o goleiro, espancando o jogador que
jogou o golpe. Ele também era o melhor amigo de Drake, tanto quanto Max
podia dizer, pois os dois moravam juntos. Ele até tinha visto Huxley com
tintura azul nas mãos, provavelmente por ajudar Drake a deixar seu cabelo
com uma cor não natural.

Antes da mudança de linha, porém, o jogador do Jackhammers fez isso


de novo. E dessa vez ele marcou um gol. Max tinha certeza de que isso não
seria permitido, mas, por alguma razão, os juízes de linha e os árbitros não
queriam que Max tivesse nenhum tipo de celebração comemorativa e o
considerou um bom objetivo. Misha estava com raiva e argumentou da
melhor maneira que pôde, mas sem sucesso.

E foi aí que o Spartanburg Spitfires finalmente teve o suficiente.

Dois minutos depois, Max ficou de queixo caído e estúpido ao lado de


Misha, enquanto eles observavam toda a sua equipe indo direto para o banco
dos Jackhammers.

— Oh, meu Deus. — Disse Max. Ele se virou para Misha. — Nós não
temos que lutar com os treinadores deles, temos? Entrei em duas lutas em

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toda a minha carreira e perdi as duas. O site de luta de hóquei disse isso. Por
unanimidade.

Max podia ver a briga no gelo escalando. Ambos os bancos estavam


limpos, o que foi um alívio apenas porque não era apenas a equipe de Max
que estava sofrendo um milhão de multas e milhares de dólares em possíveis
multas.

Max viu um taco de goleiro erguido alto como um chamado às armas em


meio à multidão de jogadores de hóquei brigando e zangados. Ele riu. Ele não
pôde evitar.

Misha olhou para ele.

— Isso é engraçado? Isso não tem graça.

— É engraçado. — Max ofegou. — Dessa forma, coisas que não são


engraçadas são engraçadas.

Misha murmurou algo baixinho em russo, que provavelmente era “Meu


assistente Treinador é louco” — Mas então seus lábios se contraíram.

— Nossa equipe está brigando, Max.

Eu gosto do jeito que você diz meu nome.

— Eu sei. — Ele disse. — Mas ei. Pense desta maneira. Tem que fazer um
propaganda muito melhor.

— Nós não precisamos de um herói. Precisamos de uma mangueira de


incêndio. — Misha murmurou, e Max riu e não conseguiu parar de rir.

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A briga terminou com as duas equipes sendo enviadas para o vestiário
para se refrescar e os oficiais descobrindo como avaliar as penalidades e
multas que os acompanhariam. Max sabia vagamente que a multa por uma
briga no banco era escandalosa se você fosse jogador da NHL. Mas não havia
como acontecer aos milhares quando esses caras mal ganhavam dinheiro.

Quando Misha e Max chegaram ao vestiário, encontraram a equipe em


pé junto com queixos erguidos e desafio brilhando nos olhos e visíveis em
todas as linhas de seus corpos. Eles estavam fazendo uma declaração, e Max
não pôde deixar de sentir orgulho deles.

Ele só queria que eles tivessem feito essa afirmação marcando gols.

— Suponho que seja minha culpa dizer a você para não pensar. — Disse
Misha com a maior seriedade possível, mas Max podia ver a sugestão de um
sorriso em seu rosto severo e ouvir as bordas de diversão em sua voz baixa.
Ele se perguntou se mais alguém notaria. — Mas não quero que isso aconteça
novamente.

— Não vai, Treinador. — Disse Isaac Drake. Ele tinha um olho roxo e seu
lábio estava sangrando. Obviamente, o punho de alguém pegou seu piercing
nos lábios. — Mas nós terminamos de rir. Estamos nos defendendo a partir de
agora.

Misha suspirou.

— Sim, bem. Deixe nossos executores lidar com o que deveriam, capitão
Drake. E o resto de vocês, tente se defender com ofensa. Hmm? O tipo que
termina em objetivos.

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Drake assentiu.

— Sim, Treinador. Nós vamos. Todos nós.

Max nunca ouvira Drake falar tão respeitosamente. Ele nem teve que
olhar ameaçadoramente para o resto de seus colegas de equipe, que todos
concordaram.

Misha olhou para Max.

— Alguma coisa que você queira acrescentar, Treinador Ashford?

Max abriu a boca para dizer algo castigador. Em vez disso, ele disse:

— Mesmo se perdermos o jogo, vocês venceram totalmente essa luta.

A equipe aplaudiu. Misha esfregou as têmporas e suspirou.

Os Spitfires não venceram o jogo, mas os Jackhammers também não.


De fato, nenhum time tinha jogadores suficientes para jogar o resto do jogo
graças aos pênaltis, por isso foi perdido.

Max assistiu enquanto Drake foi ao banco dos Jackhammers quando a


perda foi anunciada. Ele viu o goleiro apertando a mão do cara que o acertou
e depois ouviu risadas. Alguns dos outros Spitfires acabaram se juntando a
ele, e em pouco tempo ambas as equipes estavam planejando ir a um bar.

Max olhou para Misha, que estava recebendo uma bronca do atacante.
Ele tinha aquele olhar no rosto, aquele que recebia nas reuniões da equipe,
aquele que dizia estar rabiscando aviões explodindo ou algo igualmente
violento.

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O treinador assistente dos Jackhammers veio até Max.

— Bem, isso aconteceu.

— Sim. — A boca de Max se contraiu, apesar de si mesmo. — Estou feliz


que não tivemos que brigar.

— Eu também. Você e o Treinador Samarin querem se encontrar mais


tarde? Nós lhe pagaremos uma bebida. — O treinador cruzou os braços. — Só
para você saber, eu odeio os Habs e os Bruins. Sou fã do Leafs.

— Sinto muito. — Disse Max automaticamente, e os dois riram.

O treinador os convidou para um bar diferente e melhor, com aperitivos


que não eram amendoins e balas de hortelã, e Max fez planos para se
encontrar até Misha voltar de seu ataque verbal e dizer-lhe qual seria a multa
deles.

A máquina de venda automática parecia um pouco cara demais. Merda.

Quando Max mandou uma mensagem para o treinador dos


Jackhammers para se desculpar, ele notou que tinha quatro mensagens de
texto e uma mensagem de voz de Belsey. Max desligou o telefone, foi até o
posto de gasolina em frente ao hotel e comprou um pacote de seis cervejas e
uma sacola de Cheetos.

Então ele foi procurar Misha.

Misha estava no chuveiro quando Max voltou, então ele ficou no

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corredor do lado de fora do quarto de Misha por tempo suficiente para
começar a se preocupar que era uma má ideia.

A porta se abriu.

— Ah, Max.

— Sim, Misha. Posso entrar? — Ele levantou a cerveja e Cheetos. — Eu


trouxe o jantar.

— Foi isso que você trouxe para o jantar? Então não. — Misha fechou a
porta e deixou Max boquiaberto como um peixe com sede por dois segundos.
Então ele abriu a porta e deu um passo para trás para deixar Max entrar.

— Eu pensei que você estava falando sério. — Disse Max, e ele teria que
ignorar Misha que estava vestido apenas com uma toalha, mas ele viu as
tatuagens.

E não eram apenas tatuagens comuns como as de Max. As duas de Max


foram más decisões. Um caractere chinês para dar sorte que com certeza
funcionou bem e uma daquelas faixas tribais em torno de seu braço que ele
achou vagamente embaraçoso de se olhar.

Não. As tatuagens de Misha eram.... Não havia cores, por um lado. E


nenhum deles estava em inglês, o que ele provavelmente deveria ter esperado.
Também não eram desenhos tribais.

Em vez de comentar sobre as tatuagens de Misha ou seu físico


impressionante, porra, alguém claramente se mantinha em boa forma
durante a aposentadoria Max colocou a cerveja na mesinha que todo quarto

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de hotel parecia ter. Em todas as reuniões importantes que você realiza no
Super 8. Misha desapareceu de volta ao banheiro e Max ficou um pouco
decepcionado.

Max tomou um gole apressado de cerveja, abriu o Cheetos e se


perguntou por que estava tentando transar e comer um lanche que deixou os
dedos alaranjados ao mesmo tempo.

Um boquete, Max lembrou a si mesmo. Esse era realmente o limite de


sua experiência com homens. E quando ele se mudou para boquetes de se
beijar?

Quando você viu Misha naquela toalha com todas aquelas tatuagens.

Misha saiu do banheiro vestindo uma calça de pijama e uma camiseta


desbotada dos Bruins.

— Recebi seis mil mensagens de Belsey. — Disse Max. Ele se sentou na


cadeira desconfortável ao lado da mesa. — Eu não li ou ouvi nenhum deles.

Misha parecia ainda mais alto que o normal quando ele estava de pé e
Max não. Ele pegou a cerveja que Max lhe entregou sem comentar a marca ou
o fato de que já estava um pouco quente demais.

— Eu também tenho algumas. — O sorriso de Misha era tão sutil quanto


quase tudo nele. — Também não ouvi. Além disso, ele me deixa mensagens de
voz e fala muito devagar e muito alto. Como se eu não o entendesse.

— Não. Ele faz isso comigo também. Isso não é porque você é russo. É só
porque ele é um idiota. — Max brincou com a aba da lata. — Você acha que

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vamos ter problemas?

— Você me ouviu dizer enquanto estávamos sendo multados?

É por isso que eles estavam bebendo cerveja barata e comendo Cheetos
no quarto, em vez de sair em um bar com aperitivos que não eram feitos de pó
de queijo e inchado de ar e bebidas que provavelmente estavam frias.

— Sim. Ele ficará chateado. Provavelmente foi mais do que fizemos na


venda de ingressos no mês passado.

Em um momento de total solidariedade, Misha e Max bateram as latas


de cerveja e tomaram um gole como se fosse um brinde. Max levantou-se e
tentou encontrar coragem, porque sabia que se não fizesse nada, Misha
também não faria.

— Então eu pensei... — Max começou. Ele se perguntou como diabos ele


deveria se aproximar de Misha ou se eles deveriam comer Cheetos e tirar
sarro de Belsey um pouco mais. — Umm. Você... Talvez queira...?

— Essa é uma péssima ideia, Max.

— Provavelmente. — Max concordou e se aproximou. Ele queria tirar


essa camisa. E queria ver as tatuagens de Misha e passar as mãos por cima
dele. — Suas tatuagens são quentes.

Algo escuro brilhou no rosto de Misha.

— Max.

— Misha. O que? Elas significam. Eu tenho duas, mas elas são tão
idiotas. Como se eu os tivesse tirado de um livro no balcão. É assim que elas

70
são. As suassão em russo, então elas já são mais trabalhadas. Ou, pelo menos,
se elas dizem merda esfarrapada como “Viva a vida ao máximo”, não sei
dizer. Assim… — Max sorriu para Misha. — Se você não quer fazer nada, não
precisamos. Peguei mais quatro cervejas e um pacote de Cheetos, e este lugar
pelo menos tem Tv a cabos. Então nós poderíamos fazer isso. Em vez de...

Misha abaixou os cílios, escondendo o olhar sombrio por um momento.

— É claro que eu quero. — Ele disse tão baixinho que Max quase não
conseguiu ouvir.

Quase. Ele ouvir, embora. E ouvir isso fez seu pau ficar duro
imediatamente.

— Você não quer dizer comer Cheetos. Certo?

Misha fez um ruído sufocado.

— Não. Não quero dizer comer Cheetos.

— Então não há problema. Eu já fiz isso antes. Juro de mindinho. — E


levantou a mão, mindinho estendido.

Misha levantou a mão, mas ele parecia completamente ignorante sobre


o que fazer. Max mostrou-lhe o gesto solene, depois aproveitou a
oportunidade para estender a mão e tirar a camisa de Misha. Não foi fácil,
pois Misha era tão alto.

— Desculpe, mas não posso dar uns amassos com um cara de camisa
Bruins. Eu joguei pelo Habs. Eu acabaria linchado se descobrissem em
Montreal. Eles teriam um tumulto. Você sabe como é fácil para eles fazerem

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isso.

Max estava tão preocupado em fazer as coisas boas, em não deixar claro
que “eu já fiz isso antes” chegou a menos de um punhado de vezes, que ele
não percebeu o que estava dizendo até Misha ficar quieto e tenso.

Max levou alguns segundos para retroceder o momento para descobrir o


que ele havia feito.

— Misha. Pare de ser tão... — Max acenou com a mão. — Russo. A


menos que você possa ser mais russo, como Alexander Ovechkin. Ele é... Bem,
louco, mas entusiasmado.

Misha piscou e disse:

— Não se isso significa estrelar um vídeo de rap russo ruim. — Então ele
se inclinou para beijá-lo antes que Max pudesse perguntar se havia algum
outro tipo.

Misha não beijou como ninguém que Max já havia beijado antes. Assim
como naquela noite em seu apartamento, Misha beijou como se estivesse
morrendo de fome, e estava tão quente que os joelhos de Max estavam fracos
quando eles se separaram para respirar.

— Tem certeza de que é isso que você quer?

— Bem. — Max brincou. — Está perto. Se estivéssemos na cama e


houvesse boquetes, seria muito mais perto.

Misha suspirou e descansou a testa brevemente contra a de Max.

— Essa é uma péssima ideia. Muito ruim. Não devemos fazer isso.

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— Então podemos parar. Mas poderíamos decidir de uma maneira ou de
outra, agora? — Max olhou para Misha com o que sabia ser uma expressão de
dor. — Eu vou ficar chateado se seu pau estiver na minha boca e você mudar
de ideia.

Max estava perto o suficiente para ouvir a respiração afiada de Misha, e


ele não achou que Misha iria detê-lo.

— Não vou mudar de ideia de que é uma má ideia.— As mãos de Misha


deslizaram até os quadris de Max e o puxaram para mais perto.

— Mas nós estamos fazendo isso de qualquer maneira? — Max


perguntou esperançosamente, com a boca seca. Ele nunca quis tocar alguém
tanto quanto queria tocar Misha.

— Aparentemente. — Disse Misha, e ele o puxou para beijá-lo


novamente. Através do pijama, Max sentiu que Misha estava duro, e isso fez
Max quase choramingar quando pressionou a rigidez com a sua e se esfregou
contra ele.

Misha fez um som faminto e o puxou para trás. A próxima coisa que
Max soube foi que estavam enroscados na cama e se beijando calorosamente.

— Você já fez isso antes também. Certo? — Max perguntou, embora não
tivesse certeza do porquê disso.

— Sim, Max. Eu já fiz isso antes. — Havia algo triste na expressão de


Misha, mas Max afugentou quando ele decidiu que estava acima da angústia
russa e muito mais na agressividade e nas tatuagens russas. Ele empurrou

73
Misha de volta para beijá-lo enquanto ele o montava na cama.

Se Misha riu das tatuagens de Max quando ele tirou a camisa de Max,
Max não ouviu porque estava ocupado excitado comas mãos de Misha se
sentiam sobre ele, quente e o tipo certo de áspero, impaciente e claramente
querendo tudo dele. agora, mais rápido, mais duro.

— Eu quero... — Max se afastou da boca de Misha e quase gemeu com o


olhar no rosto de Misha o rubor nas maçãs do rosto e a maneira como seus
olhos estavam tão incrivelmente escuros. — Foda-se. — Ele disse. Ele
esqueceu o que estava dizendo. Ele esqueceu de tudo.

Max sempre gostou de sexo, mas nunca soube o quão desesperado


poderia estar por isso. Nem mesmo na pior fase adolescente, causada por
hormônios, já havia se sentido tão urgente.

— Posso te chupar? Por favor, diga sim.

Misha fez um barulho e disse algo em russo. Antes que Max pudesse
perguntar o que ele disse, Misha enroscou a mão no cabelo dele empurrou a
cabeça para baixo e Max quase gozou em seus jeans.

Ele foi facilmente para onde Misha o estava empurrando, embora


estivesse distraído com as tatuagens no estômago dele e parou para morder os
músculos tensos lá.

— Eu não sei o que você acabou de dizer, mas espero que isso signifique
sim.

Misha apertou a mão no cabelo de Max e puxou a calça do pijama.

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— Foi 'sim‟. Você pode me chupar. Eu quero que você chupe. — Misha
levantou a outra mão e esfregou o polegar sobre o lábio inferior de Max.

Max respondeu pegando o pênis de Misha na mão e abrindo a boca.

A primeira vez que Max deu um boquete foi no México, mas ele já havia
pensado nisso antes. Você não bebeu apenas alguns mojitos, e mudou sua
sexualidade. De maneira alguma as bebidas em um resort com tudo incluído
eram tão potentes. E por melhor que fosse, não era como ele imaginou.

Mas chupar o pau de Misha, sim, era isso que ele queria de um boquete.
Misha murmurou e se moveu embaixo dele. Ele empurrou como se não
pudesse se conter, e sua mão estava no cabelo de Max muito apertado e quase
doloroso. Max engasgou algumas vezes, e facilmente, porque Misha era um
homem alto e adequadamente bem-dotado. Mas, aparentemente, os dois
gostaram disso, porque Misha gemeu mais alto e suas palavras eram mais
russas e menos inglesas. E os olhos de Max lacrimejaram, mas ele não poderia
ter se importado menos.

Misha disse algo em russo e fez aquilo com o polegar novamente,


esfregando-o no lábio inferior de Max. Max deslizou a boca para baixo e
passou a mão sobre as bolas de Misha, tentando o máximo possível para
torná-lo o melhor possível.

Pela primeira vez, quero fazer você se sentir bem, não culpado.

Agora quem estava se sentindo angustiado? Max conversou


mentalmente e calou a voz interior desagradável. Em vez disso, ele se

75
concentrou em como Misha se sentia e em sua aparência, quando se separou
sob as mãos e a boca de Max.

— Você é bom, Max. Não pare. — Misha ofegou, e essa foi,


possivelmente, a coisa mais quente que alguém já disse a Max na cama.

Não demorou muito para Misha soltar um gemido baixo e tenso, suas
coxas tremendo e puxando os cabelos de Max como se ele estivesse tentando
puxar Max de seu pênis.

Max não tinha a intenção de fazer nada além de terminar, e ele já havia
feito isso antes, embora a memória fosse um pouco confusa. Porém, ele se
lembraria disso do jeito que Misha agarrava a cabeça com as duas mãos, as
coxas tensas enquanto os músculos do estômago ficavam tensos, os quadris
estalavam para frente e ele ficou mais duro na boca de Max.

Max sentou-se e se sentiu um pouco presunçoso enquanto limpava a


boca com as costas da mão. Ele gostou da aparência de Misha, do jeito que ele
jogou um braço sobre os olhos e tentou recuperar o fôlego.

— Viu. Eu disse que tinha feito isso antes. — Disse Max. Ele deu à forma
longa e magra de Misha uma apreciação completamente agradecida. Ele
realmente queria saber o que todas as tatuagens diziam, mas seu pênis estava
duro como uma rocha, e ele não tinha certeza de que queria dedicar algum
tempo para descobrir.

Misha soltou o braço dele e depois estendeu a mão e puxou os cabelos


de Max.

76
— Venha aqui.

Max foi.

Misha o beijou, o que Max não esperava, considerando o que acabara de


fazer. Mas ele beijou de volta com entusiasmo, e quando Misha o empurrou
de costas, Max foi fácil e colocou as mãos atrás da cabeça.

A maneira fácil como Misha tirou o jeans deveria ter sido sua primeira
pista de que ele estava prestes a ser totalmente ultrapassado. Porque não
havia dúvida e nenhuma contestação de que a experiência limitada de Max
não tinha absolutamente nada sobre Misha. Misha era muito bom em chupar
pau. De uma maneira que disse a Max que sim, Misha já havia feito isso antes.
E muito.

Misha fez coisas que Max não sabia que eram possíveis. Ele usou a
língua, a mão, a boca e até os dentes. Max ficou tão surpreso que não
conseguiu pensar. Ele não podia fazer nada além de se debater e gemer muito.
Ele começou e parou frases como: “Sim, isso é” e "Deus, isso é tão... Você
é... Sim, oh” Então ele desceu a gemidos incoerentes e gozou com tanta força
que pensou ter visto estrelas atrás de seus olhos.

Depois, quando Max tinha inteligência suficiente para lembrar coisas


como piscar, respirar e conversar, Misha deu a ele o sorriso mais presunçoso
do mundo e Max disse:

— Sim. Bem. Você tem isso. É por isso que você é o chefe treinador,
huh?

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Misha bateu no estômago dele e gemeu.

78
Capítulo 6

— Diga- me, senhores. — Disse Belsey. — Que música devo usar no


comercial com nossos novos destaques? 'Olho do tigre'?5 'Uma noite em
Bangkok'6?

— Que tal o 'Hit' Em Up 'de Tupac7? — Max sugeriu. Ele limpou a


garganta. — Só estou me perguntando por que você está tão determinado a
usar músicas dos anos oitentas, quando há tantas outras décadas para
escolher. Também por que a música sobre Bangkok? Toledo está em Ohio,
não na China.

Misha ficou quieto e tentou não estremecer diante da intimidade de


Max e de sua clara falta de conhecimento no que diz respeito à geografia
mundial.

— Ashford, cale a boca ou saia do meu escritório. — Retrucou Belsey. —


E vá ouvir a música. Tem uma coisa toda sobre homens durões caírem.

Misha sentiu seu pescoço esquentar e muito cuidadosamente evitou


olhar para Max. Ele podia ouvir Max fazer um barulho que parecia uma risada
histérica escondida em uma tosse não convincente, mas Belsey tinha ficado
sem paciência. Ele olhou para Misha e não percebeu.

5
https://youtu.be/-HP7EGyMLy8 do filme Rock I
6
https://youtu.be/RnHGb-aK8mA
7
https://youtu.be/vRHR7ldYhtc

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— Sabe, se você não tivesse vencido todos os jogos na viagem após
aquela farsa de uma briga no banco, eu teria demitido vocês dois.

Misha assentiu, mas ele não acreditou. Belsey gostava de dizer coisas
como

— Eu poderia demitir vocês dois. — Mas ele não queria testar a teoria e
esperava que Max ficasse quieto enquanto Belsey se dirigisse a ele. Belsey não
parecia estar com disposição para a língua inteligente de Max.

É claro que Belsey não sabia o quão inteligente a língua de Max poderia
ser. Que Misha fez não era algo que ele deveria estar pensando. Homens
durões realmente caem. Misha se perguntou se Belsey sabia que aquela
música era de um musical sobre xadrez. De alguma forma ele duvidava disso.

— Você queria algo novo para os destaques. — Disse Misha. — Nós te


demos vitórias. Alguns objetivos. Chamamos atenção não é?

— Certo. Sim. — Belsey acenou com a mão e seu desagradável relógio


de ouro captou a luz do sol da tarde. Misha duvidava que Belsey realmente
entendesse o hóquei. O que o fez comprar um time e pensar que ele poderia
administrá-lo? — Ainda temos um histórico de derrotas.

Belsey nunca deixou de pôr os dentes de Misha no limite.

— Temos mais jogos para jogar. — Ressaltou. Talvez isso fosse uma
coisa desrespeitosa de se dizer. Certamente seria se ele estivesse em casa na
Rússia. Mas ele não estava na Rússia e talvez os Estados Unidos o tivessem
irritado mais do que ele pensava.

80
Isso, é claro, o fez pensar em Max novamente naquele quarto de hotel,
pela segunda vez, Max se deitou nu em cima dele, beijando-se e se esfregando
até que ambos gozassem, e Max lambendo suas tatuagens enquanto Misha
tentava lembrar em inglês o que eles queriam dizer com isso e poderia dizer a
ele.

— Samarin? Você ouviu o que eu acabei de dizer? — Belsey deu um


suspiro exagerado. — Pelo amor de Deus, alguém já me ouviu?

Quando você disser coisas que vale a pena ouvir, talvez comecemos.

— Sim?

— Admito que sua pequena façanha em Toledo coincidiu com um


aumento na venda de ingressos assim que a notícia saiu. Maldito YouTube. —
Belsey tamborilou com os dedos na mesa. Ele usava anéis demais para um
homem. Isso fez Misha pensar desagradável em seu pai. — Não me
interpretem mal. Foi um minuto. Como em minúsculo. — Ele disse, e na
última parte ele se dirigiu não a Misha, mas a Max. Como se talvez Max não
soubesse o que essa palavra significava.

Belsey acha que Max é estúpido. Misha sentiu uma onda quente de
raiva, mas não era como se Max fosse tão ofendido. Max foi a primeira pessoa
a admitir que não erao mais inteligente e que se perderia entrando na arena
se não fosse o Google Maps.

— Mas houve um aumento. Então isso é alguma coisa. E eu sei que você
vai ficar todo furioso e dizer que é porque você ganhou alguns jogos, blá blá
blá. E talvez você esteja certo. Só há uma maneira de descobrir. Ganhe um

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pouco mais. Agora saia do meu escritório. Eu tenho uma reunião com o
estagiário de marketing.

Eles tinham um estagiário de marketing? Isso era novo.

— Isso significa. — Max perguntou a ele, alguns minutos depois. — Que


se ganharmos jogos e não vendermos mais ingressos, ele nos dirá para fazer
os caras brigarem com o banco do outro time?

Misha gemeu interiormente. Essa era uma possibilidade distinta.

— E eu gosto de como ele acha que não sei o que significa minuto. —
Max bufou. — Eu não sou um gênio, mas me dê um tempo.

— Ele é um idiota. — Disse Misha com um pouco mais duro do que se


justificava. — E ele não sabe nada sobre hóquei. — Ele não sabia se isso era
verdade, porque Belsey parecia menos interessado no esporte real e mais em
receita. O que seria bom se ele não estivesse tentando gerenciar a equipe em
vez de apenas possuí-la.

Max piscou, obviamente surpreso com a demonstração incomum de


emoção de Misha.

— Você realmente não gosta do cara, hein? É por causa desses


comentários? Quero dizer, seria o suficiente para eu não gostar dele.

É porque ele contratou você para não ser um treinador, mas uma
exibição lateral. E ele não o respeita, porque acha que você não passa de um
clipe de quatro segundos no YouTube. Porque essa era a verdade disso. Não
é? Misha foi contratado por causa do acidente, talvez, mas ele treinou por

82
vários anos e teve uma carreira que durou duas décadas.

Max teve uma passagem de três anos nos principais e um ano na equipe
técnica de Duluth. Ele tinha experiência, mas se Misha não tivesse sido
contratado, Max teria sido?

Sempre seria assim, com uma de suas carreiras à mercê da outra?

Misha virou-se de repente e agarrou o braço de Max. Ele caminhou


propositalmente pelo vestiário até o escritório, puxou Max sem cerimônia
para dentro e bateu a porta. Então ele empurrou Max contra ele e resistiu à
vontade muito forte de beijá-lo.

— Ouça-me. — Disse Misha. Ele olhou nos olhos verdes e arregalados


de Max. — Vamos fazer com que esse time vença. Não para Belsey, mas para
nós. — Você vai ter uma carreira nem que isso me mate. Max queria ser
treinador de hóquei, e Misha se certificaria de que ele seria um. Belsey
provavelmente pretendia demitir Max após a temporada, se não desse certo.
Misha não permitiria que Max Ashford perdesse outra oportunidade. De
novo não.

— Ok! — Max disse muito lentamente. — Uau. Você só foi intenso


comigo. Uh Existe uma razão?

Sim. Você pensa o melhor de todos e não deveria. Nem sempre. Às


vezes, existem razões para odiar as pessoas. Às vezes, eles realmente não
têm seus melhores interesses no coração.

— Estou cansado de me preocupar com o que ele vai fazer. Não

83
podemos pensar nele. — Isso foi perto o suficiente da verdade. — Temos um
time de hóquei para treinar. É nisso que devemos nos concentrar.

— Gosto de como você está me dizendo isso como se eu não estivesse de


acordo com você. — Disse Max. Ele colocou um dedo em volta da gravata de
Misha e o puxou. — Você me trouxe aqui para dar uns amassos, não foi?

Misha precisou de um momento para analisar isso.

— Porque eu faria isso?

— Uau. Seria melhor se você dissesse sim e apenas me beijasse.


Melhoraria suas chances de transar mais tarde. É isso que eu estou dizendo.

Misha o beijou com as mãos nos ombros de Max para mantê-lo preso à
porta. A raiva em nome de Max o queimava como um pavio pegando fogo.
Estava bem.

Embora isso também pudesse ter algo a ver com o quanto duro Max
estava e o fato de ele já estar empurrando seus quadris para frente. Como se
estivessem sozinhos em um quarto de hotel. Como se eles pudessem fazer isso
aqui.

Misha se afastou. Ambos estavam respirando com dificuldade. Max


falou primeiro, é claro. Indomável era uma boa palavra para Max.

— Isso não parece uma péssima ideia, afinal, quando isso significa que
nós temos que transar depois das reuniões com Belsey. — Ele sorriu. Sua
boca estava vermelha e suas roupas estavam levemente tortas por serem
manuseadas.

84
E dei uma boa olhada nele. Eu quero transar com ele. Aqui. Contra a
porta. Sobre a minha mesa. Em toda parte.

O sorriso de Max ficou malicioso.

— Você realmente não tem ideia de como quente a olhada que você está
me dando agora.

Estava de alguma formatão quente quanto o jeito que Max estava


olhando para ele como se quisesse ser devorado, Misha tinha uma ideia. Ele
se afastou e tentou parecer apresentável.

— Venha para minha casa. — Disse ele enquanto passava a gravata à


toa. — Esta noite. Eu vou fazer você jantar.

Max estendeu a mão e cutucou-o levemente no ombro.

— Acho que vai ser um problema se é isso que acontece sempre que
Belsey o deixa bravo. Porque eu vou querer que ele faça isso o tempo todo.

Misha sorriu para ele. Com dentes.

— Sete horas. Pergunte ao seu Google Maps como chegar lá, para que
você não se atrase.

Misha comprou uma casa em Spartanburg quando ele assinou seu


contrato de três anos com os Spitfires, porque parecia fazer mais sentido do
que alugar. Jogava hóquei profissional há vinte anos e, embora não ganhasse
tanto dinheiro como alguns, ganhava o suficiente. Ele investiu sabiamente e

85
não tinha dependentes e muito poucas contas. Fazia sentido ter um lugar
próprio, mesmo que ele pensasse que era grande demais para ele.

A casa o atraiu porque parecia muito americana. O corretor de imóveis


chamou de “estilo de artes e ofícios”, mas Misha não entendeu o que isso
significava. Parecia-lhe uma casa em um livro de histórias, onde talvez
morassem três ursos ou uma bruxa, com janelas de trapeira e telhado
inclinado. Tinha piso de madeira e uma cozinha nova, o que era bom porque
Misha gostava de cozinhar.

Com três quartos e dois banheiros e meio, era uma quantidade absurda
de casa para uma pessoa. Ele nunca entenderia essa necessidade muito
americana de ter tantos aposentos, e isso o fez sentir-se vagamente
desperdiçado por não ter um propósito para todo o espaço. Havia também um
quarto no andar superior com seu próprio banheiro. Poderia ser um quarto de
hóspedes se Misha tivesse algum convidado.

Mas ele estava tendo um convidado para jantar, então talvez ele
estivesse errado. Mas se Max passasse a noite, Misha não queria que ele
dormisse no andar de cima. E Max também não gostaria, considerando que
não havia nada lá além de algumas caixas.

Misha fez pirozhki8 com cogumelos, cebola e arroz. Ele estava na


América há tempo suficiente para apreciar os alimentos fáceis de fazer,
espaguete, por exemplo, mas esse era um prato russo que ele vinha fazendo

8
Pirozhki são pãezinhos, assados no forno ou fritos, recheados com carne, vegetais, ou outros ingredientes, originários da Rússia, mas populares em
toda a Europa Oriental, incluindo os Balcãs e a Grécia, e da região báltica até à Ásia Central. Não confundir com pierogi, que são a versão polaca dos
pelmeni russos

86
desde que teve que cozinhar para si mesmo. Era a receita da mãe dele ou
talvez ele apenas inventasse.

Max chegou exatamente ás sete, sem dúvida condicionado a chegar a


tempo por anos jogando hóquei. Ele estava vestido casualmente de jeans e
uma camiseta de mangas compridas que era um numero muito apertado.
Misha apreciou como isso mostrava o físico dele, e se perguntou se era por
isso que Max havia escolhido usá-lo.

— Oi. — Disse Max, entregando uma garrafa a Misha. — Eu te trouxe


isso.

Era vodka. Smirnoff. Misha tinha muito a ensinar a Max, e nem tudo era
sobre treinamento. Aparentemente, ele teria que adicionar vodka à lista.

— Obrigado. — Disse ele, educado demais para dizer mais alguma coisa.
Ele sempre poderia cozinhar com ele. — Entre, por favor.

Max fez isso e olhou em volta com curiosidade descarada.

— Não era assim que eu pensava que sua casa seria, Misha.

Misha foi guardar o Smirnoff na cozinha, e Max seguiu em um ritmo


mais lento, ainda olhando em volta da casa, vendo os elegantes móveis de
couro contemporâneos, os pisos de madeira escura, a cor cinza fresca e
moderna das paredes. a sua moldura de coroa branca e nítida.

— Como você achou que seria?

— Eu não sei. — Disse Max. Ele balançou a cabeça com uma risada e
pulou em um banquinho na ilha. Ele imediatamente pareceu confortável de

87
uma maneira que Misha achou surpreendente. Misha estava no país há anos,
mas na maioria das vezes não fazia amizade com americanos. Era difícil
imaginar como ele conseguiu, dado o quão amigáveis eles eram. — Você
comprou este lugar ou está alugando?

— Eu comprei. — Disse Misha, um toque defensivo. — Foi um bom


investimento. — Ele abriu o freezer e pegou uma garrafa de boa vodka do tipo
que eles não vendiam no posto de gasolina. Ele encontrou dois copos, serviu
uma bebida para os dois e empurrou o de Max na direção dele.

Max ergueu as sobrancelhas.

— Você não vai colocar nenhuma mistura agridoce nela e me fazer um


Kamikaze? — Ele riu da expressão de horror que Misha não conseguiu
esconder. — Estou brincando. Também é muito gentil que você não esteja
mencionando que eu trouxe a Bud Light da bebida sagrada do seu país.

Misha sentiu suas orelhas ficarem vermelhos e ele escondeu um sorriso


no copo enquanto tomava uma dose de vodka.

— Isso é um costume americano? Hum? Traga um presente que ofenda


seu anfitrião e veja se ele percebe?

— Duh. Nós somos idiotas. — Max piscou para ele. — Encantador, no


entanto. Pelo menos é o que o mundo pensa dos americanos. Ou é o que eles
pensavam em Montreal, pelo menos.

Misha não pôde deixar de desviar o olhar, embora ele soubesse que não
deveria. Ele sabia que Max não gostava que ele pensasse no passado deles.

88
— Misha...

— Eu sei que você me perdoou. — Disse Misha, interrompendo-o antes


que ele recebesse a palestra — Apenas deixe para lá e seja legal.Eu sei que foi
um acidente. Mas não posso esquecer que isso aconteceu. Ainda sinto muito
por isso. Fui eu quem o jogou no gelo. E sim, Max. Isso me faz sentir mal. E
talvez eu sempre vá sentir. Mas não acho que seja bom fingir que não
aconteceu.

Max pareceu brevemente envergonhado.

— Provavelmente não. Eu só…. Você não pode saber o que a vida lhe
reserva, Misha. Eu joguei três anos na cidade mais louca e louca por hóquei
do mundo. Com fãs loucos e babacas que sangram o vermelho, blanco et
bleu9. E agora estou aqui. Então não. Não preciso esquecê-lo, mas acho que
não é bom nenhum de nós insistir nisso.

Misha olhou para ele, sem saber como responder ao otimismo perpétuo
de Max. Ele decidiu

— Seu sotaque francês é atroz.

— Foda-se. — Max riu. — Deus, eu sou péssimo em idiomas. Tão ruim


quanto na geografia. Veja, você pode ver dessa maneira. Pelo menos você me
salvou de ter que aprender mais francês. — Max deu um suspiro exagerado. —
Pare de pensar. Foi isso que você me convidou para fazer?

9
Branco e Azul.

89
— Não. Mas então você apareceu com vodka ruim. — Misha manteve o
rosto sem expressão. — Máxima russa antiga. Os planos mudam dependendo
da bebida.

— Uh-huh. — Max sorriu. — Você é hilário, Samarin. O que há para o


jantar e posso ajudar com alguma coisa?

Misha balançou a cabeça.

— Não. Está tudo certo. Eu convidei você. Isso significa que eu vou
cozinhar.

— Máxima russa antiga? — Max tomou outro gole de sua vodka. — Isso
é bom. Sem o agridoce mesmo.

Misha não dignificou isso com uma resposta. Ele serviu mais vodka aos
dois e voltou para o pirozhki. Eles falaram à toa sobre a equipe, sobre Belsey,
e até fizeram sugestões de músicas com temas de luta que poderiam usar para
um comercial teórico de brigas de banco.

Os pirozhki estavam no forno, e Misha estava tomando uma bebida


quando Max perguntou:

— Então, você deixou a Rússia porque é gay?

Misha deixou cair o copo na bancada. Não quebrou, mas rolou


perigosamente em direção à borda antes que Misha a pegasse. Ele pegou uma
toalha e limpou cuidadosamente o derramamento.

— Umm... — Disse Max, pigarreando. — Isso foi... Foi irônico que você
deixou cair o copo naquele momento?

90
— Por que... Por que você diria isso? — Misha perguntou, ainda não
olhando para ele. Ele podia sentir o suor escorrer pela testa enquanto seu
estômago revirava desagradável. Ele resistiu ao desejo de sugar o álcool da
toalha de papel e jogou-o fora.

— Bem, hum. Por causa do que estamos fazendo? E você sabe... —


Continuou Max, alheio à luta interna de Misha. — Porque você é tão bom
nisso.

Isso não era o que Misha esperava que ele dissesse. Ele se virou, as
sobrancelhas franzidas.

— É por isso que você pensa que eu sou gay?

— Bem, quero dizer. — Max disse. — Eu apenas imaginei que os gays


eram provavelmente melhores do que os outros em coisas que envolvem
paus. Melhor do que, digamos, barmen bissexuais no México. — O rosto de
Max estava vermelho brilhante. — Toda essa prática.

Misha riu. Max pensou que Misha era gay porque ele era bom em
chupar pau. Nenhuma outra razão. Algo tão quente quanto a vodka queimou
Misha. Ele acalmou seu estômago e esfriou o suor em sua testa.

— Sim. Eu deixei a Rússia porque sou gay.

Max apenas assentiu.

— Sim. Você disse que era ilegal lá.

Max não fazia ideia de que Misha nunca admitira em voz alta que ele era
gay. Nem para si mesmo. Ele sugeriu e falou sobre isso. Mas ele nunca dera às

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palavras a chance de ecoar, de ser ouvido e lembrado.

— Sim. É ilegal. — Disse Misha, ainda muito envolvido na enormidade


do momento para dizer muito mais. E o que havia para dizer, realmente? Ele
era gay e tinha sido assim a vida toda, e não foi algo que desapareceu só
porque ele queria. Era algo que ele mantinha escondido, em segredo. Quase
lhe custara a vida. Mas isso foi anos antes, em um país diferente. Seu medo
havia diminuído, mas ele nunca se sentiu confortável com isso. Na verdade
não.

— Eu gostaria de sair também. — Max disse simplesmente.

Eu saí porque meu pai ameaçou me estripar como um porco preso. Ele
não diria isso a Max. Max teve o suficiente da escuridão de Misha por toda a
vida. Certamente para a noite.

— Eu pensei que era hétero. — Disse Max, trazendo a atenção de Misha


de volta para ele. — E então eu fui nessa viagem ao México. Era para ser
minha lua de mel, mas como isso não aconteceu, eu apenas fui com alguns
amigos. E quando eu estava lá, fiquei bêbado e chupei o barman. O nome dele
era Javier.

No que diz respeito às confissões, Misha gostou muito mais do que o


dele. A imagem de Max, encharcado de suor e bronzeado pelo sol, ajoelhado
em uma praia sensual, chupando um homem que ele mal conhecia.

— Eu fiz isso quatro vezes. E uma vez que seus amigos estavam lá. Eu os
chupei também. — Max olhou para Misha, não tão envergonhado quanto
curioso. — E aí está você. Assim. Ainda não sei se isso é suficiente para me

92
tornar bom nisso ou não. — Ele deu um sorriso esperançoso para Misha. —
Mas eu acho que se você me der mais algumas lições, eu aprenderei bem
rápido. — Ele piscou.

Misha colocou o copo no balcão, caminhou até Max e se inclinou para


beijá-lo. Foi um beijo lento e caloroso e não parecia tão urgente quanto antes
em seu escritório. Ele não sentia culpa e queria aproveitar o tempo. Ele podia
sentir Max deslizar a mão quase timidamente pelo estômago, mas Max beijou
de volta sem hesitar tão ansioso e aberto com isso quanto com qualquer outra
coisa.

— Você não vai fazer outra piada de treinador, vai? — Misha perguntou
quando eles se separaram. Ele queria esquecer o jantar e levar Max para a
cama. O pensamento de ter Max nu, espalhado na cama de Misha, que na
verdade era grande o suficiente para os dois, diferente do hotel era tão
intoxicante quanto a vodka.

— Quem disse que eu estava brincando? — A voz de Max saiu rouca,


pesada e áspera de desejo. Misha mais uma vez não conseguia acreditar que
isso estava acontecendo que alguém como Max queria algo com ele,
especialmente após o acidente que os uniu.

Max gostou do pirozhki, que ele chamou de pierogies, e contou a Misha


uma história engraçada sobre suas tentativas de cozinhar quando estava na
faculdade. Depois, ele insistiu em ajudar com os pratos, embora não fosse tão
útil, pois sua proximidade deixou Misha louco de desejo.

Quando terminaram de lavar a louça, a tensão começou a crescer a um

93
ritmo perceptível. Max provou ser capaz de iniciar coisas, mesmo que não
fosse tão experiente. Misha não ficou surpreso quando Max o empurrou
gentilmente contra a geladeira e se acomodou contra Misha.

— Você se sente muito bem. — Disse Max, olhando para ele. Suas
pupilas já estavam dilatadas.

Misha não era promíscuo, mas ele certamente não tinha vivido como
um santo. É verdade que ele tinha o hábito de pagar por sexo, mas mesmo
quando não era, mesmo quando se tratava de desejos mútuos... Nunca foi tão
parecido com isso. Ninguém nunca o quis tanto quanto Max.

— Você também. — Ele disse e se inclinou para a boca no pescoço de


Max. — Você quer ir para a cama?

— Porra. Você é tão bom nisso. — Disse Max. Antes que Misha pudesse
dizer qualquer coisa, Max agarrou seu rosto com as duas mãos e o puxou para
beijá-lo com exuberância. — Claro que sim. Eu quero ir para a cama Era isso
que eu esperava que você quisesse dizer quando me convidou para jantar. —
Ele fez uma pausa. — Não que eu não goste dos pierogies.

Quando eles estavam no quarto de Misha, Max deu um assobio baixo do


tamanho da cama de Misha.

— King size, hein? Boa escolha.

— Eu sou muito alto para os outros tamanhos. — Disse Misha.

Max deve ter notado sua defesa, porque olhou para Misha e perguntou:

— Por que você faz isso? É uma coisa russa?

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— Querendo uma cama em que eu possa caber? — Misha desejou que
Max voltasse a beijar e menos falar.

— Ha! Ha! — Disse Max, mesmo que Misha não estivesse brincando. —
Quero dizer, como você me disse que a casa era um bom investimento e a
cama combina com você.

— Essas coisas são verdadeiras. — Misha respondeu, lentamente,


confuso.

— Sim, mas como... Cara. — Max riu. — Eu tinha uma casa com seis
quartos, cinco banheiros e meio e uma sala de cinema. Minha noiva e eu
fizemos, quero dizer. De jeito nenhum eu precisava de todos aqueles quartos.
Eu só queria isso. — O rosto dele ficou vermelho. — O que é meio embaraçoso
admitir, mas... Você pode gastar seu dinheiro com merda só porque você
quer, você sabe.

— E você pode querer coisas por razões práticas. — Disse Misha, embora
Max estar em seu quarto fosse a prova de que Misha estava aprendendo a
querer coisas que eram impraticáveis.

Max deu de ombros novamente, tão facilmente como sempre.

— Provavelmente apenas uma dessas diferenças entre nossas culturas.


— Brincou. — E daí...

— Max. — Misha interrompeu. Ele pegou Max pelo braço, como havia
feito mais cedo naquele dia no corredor. Ele não tinha perdido o quanto Max
gostava da agressão, e embora tenha despertado certos impulsos de que

95
Misha não tinha certeza de que ele estava confortável em se entregar, isso
trouxe o foco de volta ao aqui e agora.

Quarto de Misha. Sexo. Uma cama, Máx. Misha queria transar com ele
tanto que estava tonto com isso. Ele não fez mais isso. Seus encontros
ocasionais de uma noite eram quase exclusivamente orais, com dedilhados
ocasionais ou brinquedos. Ele mal conseguia se lembrar do último, e
certamente não esteve com ninguém desde que se mudou para a Carolina do
Sul.

Misha queria transar com Max. Ele queria fazer isso com Max deitado
de costas, olhando para ele com aqueles arregalados olhos verdes. Queria ver
Max desmoronar, ouvir os sons que ele fazia, ver cada emoção tocando em
seus belos traços. Mas Max, por sua própria admissão, era novo em tudo
isso. Talvez ainda não estivesse pronto para o que Misha queria.

O pensamento de ensinar Max a gostar de um homem era tão excitante


que Misha teve que se abaixar e pressionar a mão contra si mesmo.

Ele colocou Max de costas e deitou entre as pernas. Max respondeu ao


boquete tanto quanto na primeira vez e se contorceu e fez tanto barulho
quanto antes. Ele agarrou o cabelo de Misha e torceu embaixo dele. Frases
semi inacabadas caíram de sua boca em um abandono bonito e impensado.

Misha trouxe Max à beira do orgasmo duas vezes e gentilmente o


afastou, e Max o amaldiçoou por ser um pau. Misha não se lembrava de sorrir
tanto na cama, mesmo com homens que ele não estava pagando.

96
Ele redobrou seus esforços e trouxe Max mais uma vez à beira com uma
precisão rápida e especializada. Quando Max ofegou e torceu debaixo dele,
Misha gentilmente pressionou seus dedos sob as bolas de Max e esfregou-os
sobre seu ânus. Só para ver.

— Você acha que eu vou gostar disso?

Era a frase mais coerente que Max havia conseguido em alguns minutos,
então Misha levantou a cabeça, com cuidado para continuar estimulando o
pênis de Max, para que ele não o chutasse ou o chamasse mais nomes. Max
estava nu e coberto de suor. Todo o seu corpo estremeceu e sua boca se abriu.
Foi o suficiente para fazer Misha perder o cuidado com o qual ele costumava
tratar Max e dizer:

— Só há uma maneira de descobrir. Sim?

Max ergueu-se nos cotovelos e piscou para Misha com olhos vidrados.

— Do que você gosta? Você é... Você sabe. O especialista e tudo.

O equilíbrio de Misha tremeu perigosamente, mas talvez ele devesse se


acostumar. Pareceu acontecer muito em torno de Max. Ele beijou Max e
depois pegou o lubrificante que mantinha na mesa de cabeceira.

— Eu irei parar. Se você não gosta. Mas sim. Eu acho que você vai. E
sim. Eu gosto disso.

Misha não podia mentir quando ele olhou nos olhos de Max. Era como
se Max pudesse ver em seu coração, mesmo com suas sombras. Mesmo
quando o afogavam.

97
— Vá em frente. — Disse Max e recostou-se na cama. — Se você acha
que eu vou gostar, confio em você. — Max passou os dedos pelos cabelos de
Misha.

Misha chegou apenas a colocar dois dedos antes que uma caricia firme
sobre a próstata de Max o fazer arquear da cama e gozar com um grito alto,
quase surpreso. Misha levou Max pela garganta. Ele amava o jeito que a carne
dura pulsava em sua boca. O fato de ser o pênis de Max, a carne de Max, o
levou a empurrar os quadris incansavelmente na cama em busca de atrito.

Max tremeu quando Misha finalmente se sentou e tentou respirar. Ele


tentou ignorar como seria fácil lubrificar seu pau e deslizar dentro de Max
sentir aquela tensão e calor ao seu redor.

— Puta merda. — Max ofegou. — Por que demorei tanto para ser bi? Isso
foi incrível.

Apesar do quanto Misha queria seu próprio orgasmo, ele colocou o rosto
no estômago de Max e riu. Parecia quase tão bom quanto um pouco depois,
quando ele enredou as mãos nos cabelos de Max e gozou na boca dele
enquanto Max esfregava as coxas de Misha para cima e para baixo como se o
estivesse acalmando. Como se ele estivesse o acalmando.

98
Capítulo 7

OsSpitfires, venceram três dos próximos quatro jogos. Sua única derrota
veio como cortesia de um gol com o Athens Ice Dogs.

A participação aumentou nos jogos em casa, o que pode ter sido graças à
sequência de vitórias ou talvez tenha algo a ver com Belsey dando um carro
no final de cada um. Ele disse que eles foram doados por uma concessionária
local como forma de publicidade, mas Max estava convencido de que Belsey
estava comprando os carros e entregando-os. Ele parecia ter muito dinheiro,
mas Max não sabia ao certo como. Ele não perguntou, porque tinha medo de
que um cara chamado Jimmy aparecesse e quebrasse as suas rótulas.

Seria bom se Max pudesse ganhar um desses carros. Em retrospectiva,


comprar um Jeep Wrangler usado foi uma ideia estúpida. De alguma forma,
ele equipara Spartanburg a lugares como Charleston, sem perceber que o
clima realmente esfriou no inverno. Claro que não era Duluth, mas também
não era exatamente a praia. Ele deveria ter optado por um veículo mais
sensato.

Uma tempestade de granizo no final de outubro colocou alguns buracos


desagradáveis no jipe. Misha disse a ele para estacionar na garagem na noite
da tempestade, mas Max não queria deixar Misha e seus dedos mágicos para
movê-la. Max apontou que apenas um carro cabia na garagem, então um de

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seus carros seria danificado. Mas Misha apenas deu a ele o “olhar de aff”,
seguiu Max até a concessionária para deixar seu carro e depois o levou de
volta ao seu apartamento para pegar algumas camisas limpas.

Não era como se Max estivesse morando com Misha ou algo assim. Ele
estava apenas ficando com ele enquanto seu carro estava sendo consertado
para que ele pudesse pegar uma carona para trabalhar de manhã. E era bom
ter alguém que preparasse um jantar que não viesse uma caixa em e pacotes
de molho pronto e depois o levasse para a cama e o fizesse perder a cabeça.

No gelo, Misha era todo solene e imponente. Max pensou em seu sorriso
perverso, seus dedos que deixavam Max quase louco de prazer, sua boca
chupava muito bem e o hábito de falar em russo quando ficava realmente
excitado. Foi bom que toda a Guerra Fria acabou, porque Max realmente
gostava de Misha falando russo.

Max realmente gostava de Misha, ponto final.

A viagem ao México confirmou seu interesse por pau, mas nunca


ocorreu a Max que ele pudesse ter sentimentos por alguém do seu gênero. De
uma maneira estranha, provavelmente vagamente ofensiva, Max supôs que
ele só estava interessado em dormir com homens por diversão e imaginou que
ele terminaria em um relacionamento mais sério e permanente com uma
mulher.

Ele tentou ler sobre bissexualidade na Internet, mas ele não entendeu o
que eles estavam falando ou se distraiu com um pornô bem quente.

100
Max podia facilmente admitir que era bissexual ou, tudo bem, parecia
estúpido não admitir. Não era como se isso o chamasse ou algo assim. Não
parecia grande coisa, porque ele jogava hóquei profissional e tinha visto
coisas, ouvido coisas, nas quais nunca pensara muito. Obviamente, quando
você junta um monte de machos alfa hipercompetitivos, as coisas acontecem.
Como na prisão, ou pelo menos nas prisões dos filmes que Max assistia na
Internet. Ele conhecia alguns caras em Montreal, seus companheiros de
equipe, que eram casados e ainda brincavam um com o outro porque
precisavam “desestressar”.

Max sabia exatamente o que eles precisavam para explodir, e com


certeza não era vapor. Se fosse, eles precisavam consultar um médico. A
princípio, ele pensou que eles estavam apenas sendo franco-canadenses. Mais
tarde, porém, ele descobriu que um deles era de Lansing e o outro era de
Alberta. Então talvez não.

Max não pensava tanto em sexualidade quanto em compromisso.


Ingenuamente, ele apenas assumiu que, quando chegasse a hora de se
acalmar de verdade, ele o faria com uma garota. Como Emma.mas talvez
alguém que não o deixou com contas do hospital e uma hipoteca para que ela
pudesse se casar com um jogador de beisebol.

Embora ele não tenha mais tanta certeza. Max estava se apaixonando
por Misha de uma maneira que significava mais do que apenas sexo, e isso
era... Bem, isso foi muito mais surpreendente do que qualquer coisa que
tivesse a ver com boquetes. Ou o quanto ele gostava de ter os dedos de Misha

101
na sua bunda.

Ele não sabia o que fazer porque, por um lado, ele gostava. Ele gostava
da companhia de Misha, gostava de como ele parecia quando estava nu, e até
gostava da música russa estranha que às vezes cantava quando pensava que
Max não estava ouvindo.

O que Max não gostou foi a tendência de Misha de refletir, a maneira


como ele ainda ficava tenso se Max dissesse algo sobre o acidente ou referisse
sua carreira passada, e a maneira como ele foi tão rápido em adiar as coisas
em benefício de Max.

Quando eles pediam pizza, Misha retirava toda a carne em vez de pedir
meia e meia porque Max poderia querer mais da metade.

Havia também os milhões de segredos que Misha não queria


compartilhar, as enxaquecas pelas quais ele se recusava a tomar remédios e o
passado sobre o qual ele absolutamente não falava. Max, por outro lado, não
tinha nenhum segredo. Misha sabia quase tudo o que havia para saber sobre
ele, porque Max não tinha motivos para não lhe contar coisas. Ele sabia dos
pais de Max, Emma e do barmen no México. Ele sabia dos caras que Max
agora percebia que tinha uma queda por Montreal. Ele sabia o que era a
cerveja favorita de Max e como ele gostava de bacon.

E enquanto Misha gostava de receber boquetes, gostava de Max subindo


em cima dele e se esfregando até que ambos gozassem, e mesmo que ele
dissesse que gostava de ser tocado, ele não deixou Max fazer isso. E Max
queria, porque pensava que era trapaça estar com um cara e apenas fazer a

102
coisa de beijar e masturbar. Além disso, ele queria ver se Misha estava caído
por Max, assim como Max estava por ele.

Ele também tinha certeza de que queria que Misha o fodesse, porque,
diabos, se isso era incrível com os dedos, Max só poderia imaginar que o pau
de Misha, seu pau grande e grosso se sentiria tão bem em sua bunda que Max
poderia morrer.

Ele sabia que Misha também queria. Uma manhã no chuveiro, enquanto
Max batia uma punheta e chupava seu pescoço, Max perguntou se ele queria
transar com ele, e Misha gemeu e gozou em ambos antes que Max terminasse
de falar.

Mas Max decidiu que não permitiria que Misha o fodesse até que ele
dissesse a Max qual era o negócio dele ou deixasse que Max o tocasse. Poderia
haver uma razão válida, e Max poderia respeitar isso, mas ele continuava se
lembrando de Misha dizendo que tinha gostado, e Misha não era do tipo que
mentia. Ele não podia nem colocar suas próprias coberturas favoritas em uma
pizza, pelo amor de Deus. Então Max queria saber por que Misha parecia tão
hesitante se ele gostava tanto.

E ele tinha um time de hóquei para treinar, o que foi mais difícil do que
seu trabalho de treinador em Duluth, onde ele era apenas um dos três
assistentes. Mas juntos ele e Misha estavam se mostrando uma equipe de
sucesso. Misha era tecnicamente brilhante e tinha uma ótima maneira de
motivar os jogadores. Seu olhar frio como a morte sugeria que calassem a
boca e fizessem o que ele disse. E Max estava descobrindo um talento real

103
para traduzir Misha.

As pessoas sempre acusavam Max de ser um bastardo ensolarado e


positivo, o que o tornava uma raridade em Montreal, onde os fãs não eram tão
otimistas quanto ilusórios quando se tratava de seu time de hóquei. Ninguém,
exceto os Habs, teria um site popular chamado vigésima quinta Stanley, em
referência à vigésima quintaCopa Stanley que eles ainda não haviam vencido
tecnicamente. Mas Max estava tão empolgado em ganhar jogos por trás do
banco quanto estivera no gelo. Ele sentiu uma conexão real com os caras do
time “seu time” e se orgulhava de quão bem eles estavam jogando.

Max esperou por Misha após o treino para que ele pudesse finalmente
recuperar seu carro. Estava pronto por alguns dias, talvez até uma semana
tempo suficiente para que o cara da concessionária fizesse ameaças não tão
vagas sobre “vender seu maldito jipe ao meu primo por seis dólares e um
maço de cigarros”. Enquanto esperava, notou o goleiro dos Spitfires, Isaac
Drake, tendo uma conversa acalorada ao lado do prédio.

Drake, cujo antagonismo havia diminuído nessa temporada porque ele


tinha um time competente jogando à sua frente, ainda estava com um
temperamento quente e tendia a gritar com seus companheiros de equipe.
Mas todo mundo já estava acostumado com ele, e embora fosse incomum ter
um goleiro como capitão, os instintos de Misha estavam certos. Drake levou
suas responsabilidades a sério e não um pouco violentamente. Talvez fosse
uma palavra muito forte. Talvez apaixonadamente fosse melhor.

Ele não parecia muito feliz no momento e com quem ele estava falando

104
não era um companheiro de equipe. Max se perguntou brevemente se era o
pai de Drake. Ele esperava que não, considerando que eles estavam tendo
uma discussão acalorada e Max não estava interessado em interromper a
discussão entre pais e filhos.

Havia algo na maneira como o homem estava agindo em relação a


Drake que deixava Max desconfortável. Ele não era excessivamente agressivo,
mas estava muito perto e claramente invadindo o espaço pessoal de Drake,
apesar do óbvio descontentamento de Drake.

— Eu te disse. Não venha aqui. Ok? Não é... — Drake parou quando Max
se aproximou, e Max viu algo parecido com medo atravessar o rosto dele.
Drake nunca parecia ter medo de nada, e o desconforto de Max cresceu. —
Algo errado, Treinador Ashford?

— Só estou esperando o Treinador Samarin. — Disse Max. — Você está


bem, Drake? — Ele se dirigiu ao jogador, mas Max olhou para o companheiro
de Drake quando ele falou.

O homem tinha olhos pequenos e mãos nervosas, e Max podia ver


claramente o suor umedecendo os cabelos ralos e as axilas da camisa. Eles
estavam no sul, mas era meado de novembro. O tempo estava bonito e de
maneira alguma digno de suor, mesmo para alguém de Minnesota, como
Max.

— Claro. — Disse Drake. Ele não parecia querer dizer o mínimo.

A maneira como o homem observou Drake fez o estômago de Max se


revirar. Algo estava definitivamente errado.

105
— Você conhece esse cara?

O homem riu desagradável.

— Ele conhece-me. Muito bem. Muito bem. Não é, Benjy?

Quase nada fez Isaac Drake parecer derrotado. Ele parecia desafiador
mesmo no final de sua derrota por oito a zero para Jacksonville, quando
sentou no banco depois de ser puxado e seu apoio foi enviado. E o ver se
curvar e abaixar o queixo de uma maneira que Max nunca pensou ter visto
antes.

Ele não gostou nada disso. Drake era a espinha dorsal dos Spitfires, e
Max seria condenado se algum cara desprezível com problemas de
transpiração fizesse Drake... Fracassar.

— Não tenho certeza do que você está fazendo aqui, mas essa é um
treino fechado e você parece estar incomodando Drake. — Disse Max. Ele não
era tão imponente quanto Misha, talvez, mas ainda tinha mais de um metro e
oitenta de altura, bem construído. E foda-se, de jeito nenhum esse imbecil o
estava intimidando. — E eu preferiria se você não estivesse aqui.

— Todos nós temos preferências. — Disse o sujeito. — Talvez você deva


mudar a sua. Eu sei que Benjy aqui sabe. Se o preço estiver certo.

— Foda-se. — Drake murmurou, mas era uma imitação pobre de suas


obscenidades coloridas habituais. E ele disse isso no chão, em vez de no rosto
do cara desprezível.

O desprezível sorriu. Seus dentes estavam manchados, e a melhor

106
palavra que Max poderia pensar em descrevê-lo seria oleoso. Ou talvez com
muito cheiro.

— Acho que vamos ver, hein. — O homem se virou e saiu


assobiando. Ele parecia tão convencido que Max queria bater nele como se
fazia no cinema.

— Drake. — Ele começou, sem saber o que dizer. — O que foi aquilo?

A cabeça de Drake se levantou e ele encarou Max com um olhar que não
estava de acordo com seus padrões habituais. Mas sua voz era um assobio
baixo, espessa com o que parecia odioso.

— Não é da sua conta.

E com isso ele saiu, deixando Max olhando para ele confuso,
imaginando o que diabos aconteceu.

— Eu acho que algo está acontecendo com Drake. — Disse Max mais
tarde naquela noite, enquanto observava Misha cozinhar coisas misteriosas
que acabaram resultando em jantar. Misha aceitou sua oferta de ajudar
exatamente uma vez. Então ele descobriu que Max não tinha esperança na
cozinha, então apenas cozinhou e serviu vodka a Max. O tipo bom. Isso
funcionou bem para o Max.

Max pegou Misha derramando o Smirnoff em uma panela em um


ponto. Mas uma vez que ele provou uma boa vodka, Max ficou surpreso que
Misha não a derramou na pia.

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— Algo mais do que o habitual? — Misha estava de jeans e uma
camiseta branca lisa. Ele estava descalço, e o cabelo estava molhado do banho
e escorregou do rosto. Parecia que ele deveria estar em um comercial de
produtos masculinos. Ou um anúncio da Calvin Klein destinado a homens
mais velhos. Max se perguntou se Misha havia passado a vida inteira com
toda a sua gostosura não apreciada.

Claramente, ele tinha muito o que compensar.

Max assentiu.

— Havia um cara conversando com ele. — Ele disse e contou a cena fora
da arena. — Foi assustador. O cara parecia que ele estava tentando convencer
Drake a olhar alguns filhotes em sua van. Drake estava chateado.

Misha fez uma careta.

— Por que os filhotes irritam alguém?

— Eu quis dizer que ele parecia um molestador de crianças. — Max deu


de ombros. — Você sabe. O tipo que atrai crianças prometendo filhotes.

— Drake tem vinte e quatro. Sim?

— Misha. — Max balançou a cabeça, impotente. — Você está fazendo


isso com Belsey, onde finge não entender inglês para evitar falar com ele?

— Não. — Misha assegurou. Ele deu um sorriso pequeno e contido que


fez Max se sentir quente e confuso por dentro. Embora, na verdade, dois
copos de vodka com o estômago vazio também possam ser um fator que
contribui. — Eu não entendo a referência. Talvez seja porque você é muito

108
mais jovem que eu.

— Certo, vovô. — Max brincou, levantando o copo, mas ele ficou sério de
novo. — Eu não acho que Drake queria que o cara estivesse por perto. Isso
foi… — Ele tentou pensar na melhor maneira de explicar seu sentimento de
desconforto. — Parecia ameaçador.

A cabeça de Misha se levantou e seus olhos escuros se estreitaram.

— Ele estava ameaçando Drake?

Max pensou cuidadosamente em como responder a isso. A intensidade


repentina de Misha estava realmente quente, o que ele gostava, mas era
apenas um sentimento, e ele não queria causar nenhum drama. Belsey pode
usá-lo como uma campanha publicitária. Ele quase podia ouvir Sting
cantando sobre como ele sempre estaria assistindo.

— Eu não…. Mais ou menos? Parecia mais... Ele estar lá estava deixando


Drake com raiva. Mais irritado que o normal. — Max esclareceu. — Ele me
disse para se foder.

— Drake ou o homem que estava com ele?

— Drake, mas o homem o chamava de Benjy. — Max fez uma careta. —


Não tem como esse ser o apelido de Isaac Drake. Sinto que ele atacaria
qualquer um que tentasse fazer isso também.

Havia um olhar estranho no rosto de Misha, algo assombrado que se


fora rápido demais para Max descobrir o que era.

— Talvez um membro da família.

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— Talvez. Se ele realmente não goste de sua família. E Drake é muito
mais bonito que esse cara, então teria que ser parente por associação. — Max
notou que a boca de Misha se apertou um pouco e sua expressão ficou fria.
Misha não era um homem excessivamente quente, mas ele estava usando
o rosto de Treinador Samarin. O que ele usava quando algum de seus
jogadores pensava em não fazer o que lhes era dito.

Quando Misha ficou assim, até Max quis fazer o que ele disse o que
trouxe algumas ideias interessantes que foram melhor guardadas para mais
tarde, quando eles não estavam discutindo os dramas pessoais em potencial
de seus jogadores.

— Nem todo mundo gosta de sua família. — Disse Misha. Ele parecia
tenso, como se estivesse esperando pelas perguntas inevitáveis que
acompanhariam tal declaração.

Max estava curioso, mas não gostava de Misha sendo tenso e infeliz,
principalmente por causa dele.

— Verdade. De qualquer forma, não sei o que fazer sobre isso ou se há


algo que possamos fazer. Acho melhor ficar de olho.

Misha deu a Max um olhar pensativo.

— Se isso afetar o jogo de Drake, investigaremos mais. Caso contrário,


não é da nossa conta. Sim?

— Não. Quero dizer sim Veja, é por isso que você não pode adicionar
sim ao fim das coisas. É confuso. — Max sorriu. — Ainda sabendo como eu

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sou bonito e burro.

Misha fez uma careta.

— Você não é burro.

Max nunca superaria o quão inflexível Misha era sobre Max ser mais
inteligente do que Belsey lhe dava crédito. Misha provavelmente estava dando
a Max mais crédito do que ele merecia. Ele não era muito esperto com os
livros, porque passava o tempo todo jogando hóquei. Mas se você precisasse
de ajuda para mover ou carregar coisas pesadas, ele era muito melhor nisso.

Max desejou poder jogar de volta sua vodka de uma maneira sexy, mas a
única vez que tentou isso, Misha deu uma aula porque ele não estava na
faculdade. Em vez disso, ele se aproximou de Misha e o beijou.

— Quanto tempo até o jantar estar pronto?

— Tempo suficiente. — Disse Misha. Ele colocou as mãos nos ombros


de Max e deu um leve empurrão para mandá-lo de joelhos Misha sabia o
quanto Max gostava dele mandão.

Embora Max tenha gostado do que aprendeu sobre estar com um cara,
ele ainda gostava de chupar pau. Ele pode não ter todas as habilidades
técnicas incríveis de Misha, mas estava entusiasmado e Misha não parecia ter
nenhuma queixa. Ele pressionou Misha contra os balcões e deslizou as mãos
pelas coxas musculosas dele, demorando um pouco e passando a boca sobre o
pênis de Misha através da cueca boxer. Misha parecia tão bom nelas, Max
imaginou se ele conseguiria tirar fotos furtivas de telefone celular.

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Misha gostava de ser agressivo e Max gostava de brincar, e quando o
pênis de Misha estava em sua boca, Misha estava com as mãos nos cabelos de
Max e murmurava em russo enquanto avançava com os quadris. Ele sempre
parava se Max engasgava, até Max descobrir que era bom. Ele havia
aprendido como fazer isso até que realmente era demais, o que ele sempre era
capaz de transmitir com um simples toque na coxa de Misha. Por mais que
Misha se perdesse com o que Max estava fazendo, ele estava sempre tão
ciente de Max, tão afinado com ele que isso deixava Max tonto embora às
vezes isso fosse falta de ar.

Quando acabou, Misha girou e segurou-o com as costas de Max


pressionadas contra o peito. Ele murmurou o pescoço de Max e o fez gozar ali
mesmo na cozinha com a mão. Misha era ótima em punhetas, e não
importava o quanto ele tentasse reproduzi-lo por conta própria e, apesar de
ter transado muito, Max ainda tentava ele nunca pegou o jeito. Talvez fosse a
parte em que ele não tinha Misha atrás dele, enquanto sua voz suave e escura
sussurrava coisas sujas em seu ouvido.

Foi no espírito de satisfação calorosa provocada pela vodka e pelo


orgasmo e o fato de ele não ter que tentar preparar o jantar que levou Max a
dizer:

— Ei. Meus pais estão chegando no Dia de Ação de Graças. Quer jantar
conosco?

Misha parou de preparar o jantar e ficou quieta.

— Seus pais?

112
— Sim. A menos que você tenha outros planos? — Max sentiu o rosto
corar. Ele não deveria assumir que Misha não tinha nada planejado só porque
os russos não tinham Ação de Graças.

— Eu não... Eu não tenho. — Misha lançou-lhe um olhar tão agudo que


Max quase quis verificar se havia um possível sangramento. — Você quer que
eu jante com sua família.

Era e ainda não era uma pergunta. Max assentiu.

— Sim. Quero dizer, sei que minha casa é pequena, mas tenho certeza
que eles gostariam de conhecê-lo. Você está bem com isso?

Misha não parecia bem, e com um horror crescente, Max percebeu que
ele poderia ter interpretado totalmente errado a coisa com os dois. Talvez
fosse como aqueles dois caras em Montreal. Sexo e nada mais.

— Umm... — Ele começou com cuidado, sem ter certeza de que era a
melhor hora para ter essa conversa. — Você não precisa ir, se preferir. — Ele
terminou fracamente.

Misha ainda o encarava.

Max tentou mudar de assunto.

— Estou faminto. Você vai me deixar ter um pouco disso ou apenas me


provocar com isso?

Misha piscou e colocou a porção de Max em um prato. Era algum tipo


de fritada com arroz, e Max comia frango enquanto Misha com tofu. O fato de
Misha ter comprado e mantido carne em casa, apesar de ser vegetariano, fez

113
Max se perguntar se talvez Misha não estivesse acostumado a ter um
namorado. Mas isso era coisa de namorado. Não era?

Max largou o garfo.

— Isso é um relacionamento. Certo? Essa coisa que temos. Porque estou


muito aqui e fazemos muito sexo, e você me faz frango, mesmo que não o
coma. E você me deixou usar sua máquina de lavar. — Ou isso era um
relacionamento, ou Max deveria realmente ir para casa e lavar a própria
roupa. E também fazer compras no mercado. — Foi por isso que perguntei se
você queria ir ao jantar de Ação de Graças. Quero dizer. Também somos
amigos. — Ele terminou, sentindo-se tolo.

Misha parecia em pânico, o que confundiu o inferno com Max. E seu


namorado russo alto e medroso, porque Max descobriu que não se importava
de usar essa palavra, nem para si mesmo e sendo o alto, medroso e russo, e
Max não tinha ideia do que fazer. Ele só podia seguir em frente, porque talvez
não soubesse de curiosidades, culinária ou como separar sua roupa, mas sabia
tudo sobre seguir em frente. Ele fazia isso a vida toda, no gelo e fora dele.

— Você poderia dizer alguma coisa. — Max ofereceu. Se sua metáfora de


hóquei se aplicava a Misha, Misha estava apenas sendo defensivo por hábito.

— Eu não sei o que seria isso. — Misha finalmente soltou Max de seu
olhar de laser e olhou para seu prato. Ele sempre comia do outro lado da ilha
da cozinha, de pé, mesmo que houvesse uma banqueta ao lado daquela em
que Max estava sentado.

114
— Você quer que isso seja algo de amigos com benefícios? Algo em que
não digo a ninguém quem você é? — Max fez uma careta. — Porra. Eu vou ser
tão ruim nisso.

— É isso que você quer? Um relacionamento?

— Bem, vendo como eu achava que tínhamos um... Sim. — Disse Max. —
Mas você... Eu preciso saber o que você quer. Tipo, se você não quer ser meu
namorado, então me diga. Provavelmente é bom se você fizer isso mais cedo
ou mais tarde. Não quero que tenhamos encontros dramáticos no
estacionamento depois do treino. Não é o meu estilo. — Max deu um sorriso
hesitante.

Misha não o devolveu.

— Você poderia ter outra pessoa. — Disse ele, o que não era o que Max
queria ouvir, mas, considerando como Misha era... Não foi uma surpresa que
ele tenha perdido totalmente o objetivo.

— Misha. — Max o encarou com um olhar firme. Ele não tinha o olha de
laser tão bom, mas era um esforço respeitável. — Eu não quero outra pessoa.

Misha finalmente sorriu. Ele balançou a cabeça e deu uma risadinha que
quase parecia envergonhada. Provavelmente era o mais adorável que Max já o
vira. Max alcançou seu copo, querendo mais vodka para que ele pudesse
esquecer que apenas pensava em Misha como adorável, mas acabou sendo
água. Misha era adorável e sorrateiro.

— Isso é muito estranho. — Disse Misha.

115
— Você está me dizendo. Estou tentando descobrir se estou me fazendo
de bobo e você está sendo... Não diga adorável, Max. — Inútil.

Misha se inclinou sobre a mesa, pegou o queixo de Max entre os dedos e


o beijou.

— É isso que eu quero.

Max estava de pé em sua banqueta e se inclinou para mais perto de


Misha para que ele pudesse beijá-lo de volta.

— Ótimo. Mas você ainda não está me dizendo o que é isso. Você quer o
que exatamente?

— Você.

— Misha. — Disse Max e mordeu a boca em aviso. Ele queria terminar a


conversa e ir foder, já.

— Max. — Misha o beijou novamente. — Namorado? Essa palavra é


tão... Juvenil.

— Considerando que eu quase tive que escrever uma carta 'você gosta de
mim, marque sim ou não' para descobrir se é isso que você é, ela se encaixa. —
Max sentou-se, satisfeito consigo mesmo, Misha, jantar e tudo, exceto seu
copo cheio de água em vez de vodka. — Então, pela última vez, você quer ir ao
jantar de Ação de Graças comigo e com meus pais?

— Sim. — Misha assentiu. — Se você prometer que não vai cozinhar. —


Ele sorriu, e não era o seu pequeno e habitual sorriso reservado. Max viu
dentes, até. E pela primeira vez não havia olhar assombrado nos olhos escuros

116
de Misha, nem cautela, nem a culpa que Max esperava que Deus um dia
partisse e nunca mais voltasse. Ele era apenas um homem bonito, sorrindo
para Max, como se tivesse ganhado na loteria.

Ele já conhecia Misha bem o suficiente para saber que o alívio do mau
humor não duraria, mas ele não pôde deixar de desejar. Fazer Misha parecer
feliz era mil vezes melhor do que qualquer coisa.

— Eu prometo. — Disse Max, e sua voz era um pouco rouca. Talvez ele
estivesse apenas falando sobre cozinhar, mas talvez ele não estivesse.

117
Capítulo 8

Quanto mais perto chegava do Dia de Ação de Graças, mais Misha se


perguntava se ele estava cometendo um erro terrível.

Não a parte em que ele estava tendo um relacionamento com Max, ele
ainda não tinha certeza de que poderia lidar com a palavra namorado, mas a
parte em que ele concordou em conhecer os pais de Max. Como eles poderiam
querer isso, jantar com o homem que arruinou a carreira de seu filho? E
certamente Max não iria dizer a eles que estavam juntos.

Não. Max havia perdido o suficiente por causa de Misha. Ele não
deixaria Max perder mais nada, e sabia o quanto a família de Max era
importante para ele e o quão bem todos se davam. Mas recusar-se a jantar
seria decepcionar Max. Misha ficou dividido entre seu desejo de fazer Max
feliz e sua necessidade de protegê-lo, e ele não tinha ideia do que fazer.

Os Spitfires estavam saindo lentamente do buraco, mas os últimos jogos


não foram bem. O desempenho de Drake no gol, que fora estelar no último
mês, estava começando a sofrer uma baixa. Sua atitude havia piorado e, um
dia após o treino, Misha pegou ele e Matt Huxley, o executor da equipe,
gritando um com o outro no vestiário.

— Só estou dizendo, cara, você não está em casa há quatro dias...

118
— Que diabos, Hux? Por que você se importa? Pago minha parte do
aluguel. — Drake, quando não estava usando todo aquele equipamento de
goleiro, não era um homem fisicamente imponente. Ele não era tão alto
quanto a média da liga para goleiros, com pouco menos de um metro e
oitenta, e ele era mais um jogador de futebol do que qualquer coisa.

Huxley, por outro lado, tinha um metro e oitenta e dois, noventa e


tantos quilos e todos os músculos. Ele cruzou os braços sobre o peito e olhou
enquanto Drake batia as coisas em seu armário com mais força do que o
necessário.

— Jesus, Drake. Você sabe, as pessoas podem se importar com o que


acontece com você, imbecil. Chama-se ser seu amigo. Você não assistiu a Vila
Sésamo quando criança, ou o quê? — Huxley levantou a voz alguns pontos. —
Você não está seriamente no Gavin, está? Eu pensei que você odiava esse cara.

— Eu não tenho tempo para isso. — Respondeu Drake, sua própria voz
aumentando. Ele bateu a porta do armário. — Basta recuar, Hux.

— Existe algum problema? — Misha perguntou, sua voz fria. Ele resistiu
ao desejo de esfregar as têmporas. Misha esperava que a resposta a essa
pergunta fosse negativa, mas Hux o surpreendeu.

— Sim. Há — Ele retrucou, encarando Drake. — Mas boa sorte em


conseguir o que quer que seja do capitão Drake, aqui. — Com isso, Hux pisou
fora e bateu alto, é claro fora do vestiário.

Misha virou-se para Drake, e ele se perguntou o que Max diria naquela
situação. Ele desejou que Max estivesse lá para lidar com isso.

119
— Alguma coisa que você precisa me dizer, Drake?

Drake olhou para ele, e havia algo sobre a atitude de Drake, sua cautela
e o olhar assombrado em seus olhos. Misha reconheceu e desejou com todo o
coração que ele não o fizesse. Ele tinha um mau pressentimento sobre a
situação desde o momento em que Max lhe contou pela primeira vez sobre
testemunhar o confronto no estacionamento, e isso estava piorando.

Drake abriu a boca, mas antes que ele pudesse quebrar qualquer coisa,
Misha levantou a mão.

— Treinador Ashford me disse que havia um homem incomodando você


no estacionamento. Esse homem apareceu nos jogos?

Drake parecia zangado e a tensão apertou as linhas magras de seu


corpo, mas ele assentiu.

— Sim.

— Isso está afetando o seu jogo. — Não foi uma pergunta. — Diga-me o
nome dele. Vou garantir que ele não esteja no próximo.

Isso claramente não era o que Drake esperava. Sua postura ficou tensa,
mas ele se curvou e não olhou mais para Misha. Ele não era o mesmo goleiro
que havia esmagado ferozmente sua vara no gelo em Toledo.

— Apenas deixe Lathrop jogar. Ele deveria. Ele é bom.

— Você não é o treinador. — Disse Misha, escolhendo suas palavras com


muito cuidado. — Eu sou. Lathrop começará um jogo quando eu digo. Você é
o goleiro titular e é o capitão desse time. — Misha manteve o olhar calmo, sua

120
voz firme, mas calma. — Diga-me o nome deste homem, e eu entrarei em
contato com a bilheteria.

— Belsey terá um filho da puta se você disser a ele que está recusando
uma venda de ingressos. — Drake murmurou.

Provavelmente.

— Você me deixa lidar com Belsey. Não quero que você se preocupe com
isso. — Ele fez uma pausa. — O que acontece lá fora? — Ele apontou
vagamente para o estacionamento fora da arena. — Ele não precisa seguir
você aqui.

Por um momento, Misha viu um medo nu nos olhos de Drake.

— Você não precisa fazer isso.

— Faço o que acho melhor para esse time. — Disse Misha, ainda
observando atentamente suas palavras. Drake estava nervoso e sabia que a
coisa errada poderia acalmar o temperamento de Drake. — Agora você é o
goleiro e não precisa de distrações. Se isso mudar, eu irei resolver isso. Está
claro?

Drake desviou o olhar, mas não antes que Misha visse um alívio
momentaneamente sobre suas feições e seus ombros baixarem ligeiramente.

— Sim. Quero dizer sim, Treinador. Está claro.

— Bom. — Misha se virou e foi em direção à porta.

— Treinador?

121
— Sim? — Misha parou na porta, sentindo uma satisfação calorosa ao
ouvir alguém se dirigir a ele como treinador. Ele não tinha percebido o quanto
gostava disso.

Houve um segundo de silêncio, e então Drake disse baixinho:

— Obrigado.

Misha assentiu, saiu do vestiário e foi em direção ao escritório de


Belsey.

Misha não estava familiarizada com a expressão “tenha um bezerro”,


mas se traduzia para Belsey olhando para ele e chamando-o de idiota, Drake
havia acertado perfeitamente a reação de Belsey.

— Deixe-me ver se entendi. — Disse Belsey, com os olhos fixos nos de


Misha. Ele estava com as cortinas abertas atrás da mesa e o sol estava nos
olhos de Misha. Não ajudou a enxaqueca, mas ele não pediu a Belsey para
fechá-las. — Você quer que eu diga não. Para alguém. Que quer comprar um
ingresso.

Antes que Misha pudesse dizer que sim, era exatamente isso que ele
queria, continuou Belsey.

— Não. Absolutamente não. Fora de questão. Não vou recusar uma


venda de ingressos porque nosso goleiro não consegue manter a merda
juntos.

O estômago de Misha torceu com raiva, mas ele estava familiarizado

122
com a educação de sua expressão para não mostrar emoções.

— E se esse homem é uma ameaça à segurança de um dos meus


jogadores?

— É ele está? Porque eu não acho que ele é. Eu acho que ele
provavelmente é algum... Algum... Viciado em drogas que Drake se envolveu
e...

— Isaac Drake não é drogado. — Misha interrompeu. — Os jogadores


são testados em drogas. Você sabe disso.

Belsey bufou.

— Certo. E ninguém sabe como fingir um teste de urina hoje em dia.


Olha, Samarin, estou feliz que esteja cuidando dos jogadores. Mas a verdade é
que Drake sempre foi um ímã de drama, e Deus sabe que ele não deveria ser
um goleiro de partida se não puder jogar um jogo sem se distrair com alguém
na multidão que o observa. Esse é o ponto de ter uma multidão. O que
realmente não sabemos. Então não. Não vou impedir que alguém pague para
assistir a um jogo maldito. Isso é um absurdo.

— Eu acho que...

— Eu não terminei. — Retrucou Belsey. — E se descobrirmos que


estamos afastando as pessoas na porta, o que você acha que vai fazer pela
reputação dessa equipe?

— Você estava disposto a usar o que aconteceu comigo e Max para


publicidade. — O temperamento de Misha ferveu brevemente.

123
— E quem sentou na porra da minha sala de conferências e me disse que
'não é sobre o passado e você está tentando vender drama, não hóquei'?

Misha podia acreditar na tentativa de Belsey de imitarseu sotaque. Ele


inspirou e expirou lentamente e concentrou-se na dor latejante, pela primeira
vez, deixando-a centralizá-lo.

— Há uma diferença entre drama e segurança. — Disse ele, mas sabia


que estava travando uma batalha perdida.

— Sim. E se você me der algum motivo para acreditar que a segurança


de Drake está realmente em perigo, Samarin, entenderei a ideia com algum
tipo de seriedade. Mas para agora? Você precisa fazer o seu trabalho, e se
Drake não puder fazer o dele, arranje alguém que possa.

Misha assentiu rigidamente. Ele não voltou para Drake e disse a ele que
não poderia mantê-lo seguro, não depois que ele prometeu. Talvez ele
pudesse conversar com o escritório da frente. Talvez ele devesse ter feito isso
primeiro.

Belsey não era nada senão inteligente. E sorrateiro o suficiente para


saber o que Misha estava planejando.

— Ah, e Samarin? Se eu descobrir que você foi atrás das minhas costas
sobre isso? O que eu vou fazer, porque esse é o meu time, vou ter que reduzir
minha equipe técnica.

A expressão de Belsey deslizou em um sorriso em que Misha não


confiava.

124
— E eu também não quero dizer você. Nós realmente não precisamos de
um assistente Treinador. Assim. Tenha isso em mente. Ashford não é a
lâmpada mais brilhante do candelabro, mas não posso mentir e dizer que ele
não é bom com o time. Mas eu realmente não preciso dele, e se você não pode
fazer seu trabalho, ele também não precisa. Você me entendeu? — Belsey
perguntou bruscamente quando Misha permaneceu quieto. — Porque eu
quero que isso fique perfeitamente claro.

Ficou claro que Belsey demitiria Max se Misha tentasse cumprir sua
promessa ao goleiro dos Spitfires. Misha não gostava de se sentir impotente.
Isso o lembrou de ser jovem, vulnerável e com medo.

— Compreendo. Sim. — Eu acho que você é um idiota, mas eu entendo.

— Bom. Algo mais? — Belsey estava mexendo nos papéis, já o


dispensando. Misha se perguntou o que o homem faria o dia todo. Anúncios
mentais diretos? Comprar automóveis e joias caras? Provavelmente.

— Não. — Disse Misha. — Não há mais nada.

Misha foi para casa, e a enxaqueca floresceu quando ele estacionou o


carro e entrou. Max não estava lá. Ele deixou uma mensagem enquanto Misha
se encontrava com Belsey. Ele disse que estava tentando limpar seu
apartamento e que convidou alguns dos jogadores que ficaram só durante o
feriado para virem ao jantar de Ação de Graças, para que não fiquem
sozinhos.

A mensagem aliviou um pouco da raiva de Misha, mas não o suficiente.

125
Ele queria se exercitar, mas estava incapacitado pela enxaqueca e não queria
continuar furioso por vomitar por toda parte.

Misha pegou a garrafa de vodka no freezer, segurou-a nas mãos e sentiu


o frio penetrar em sua pele. Ele colocou de volta, pegou uma bolsa de gelo e
foi pelo corredor até o quarto.

Havia um par de sapatos que não era o seu próximo ao lado de Max da
cama. Havia também um livro de espionagem de bolso e um livro sobre
aprender russo na mesa de cabeceira. Isso o fez sorrir. As tentativas de Max
em russo foram cativantes. Algumas noites antes, Max tentou usar o livro
para decifrar uma das tatuagens de Misha que dizia “Confie em si mesmo”.
Demorou uma eternidade, e quando ele finalmente conseguiu, jogou os
braços para cima na cama e aplaudiu como se tivesse acabado de marcar um
gol.

A lembrança daquele momento aliviou a raiva até que tudo que Misha
sentiu foi a enxaqueca. Ainda não era agradável, então ele foi ao banheiro e
notou a escova de dentes e a caixa de lente de contato de Max no balcão. Ele
os guardou e depois pegou o frasco do remédio contra enxaqueca do armário.

Misha encheu um copo de água e tomou a pílula sem pensar duas


vezes. Então ele entrou no quarto, fechou as cortinas, despiu-se e deitou-se na
cama com a bolsa de gelo sobre os olhos. O remédio entrou em ação
gradualmente e, vinte minutos depois, com a lembrança dos dedos de Max
traçando o desenho no estômago, Misha adormeceu.

126
Capítulo 9

Max pretendia ficar em sua casa naquela noite, considerando que


pensava que ele estaria limpando até cerca das duas da manhã. Ele quase
nunca estava em casa, então seu apartamento parecia uma cena de crime.
Mas quando foi pedir uma pizza para o jantar, viu-se olhando horrorizado
para o telefone.

Ele tinha sete mensagens. Sete. Eles não eram todos de uma pessoa
também.

Eram mensagens de sete de seus jogadores que achavam ótimo se juntar


aos pais de Max, Misha e Max para o jantar de Ação de Graças.

O que? Porra.

Quando Max fez a oferta, ele esperava que apenas um ou dois jogadores
do Spitfires o aceitassem. Mas, enquanto olhava para o telefone, mais três
mensagens de texto se juntaram ás sete e depois mais duas. Ele ia hospedar
um time inteiro de hóquei da ECHL em seu pequeno apartamento para o Dia
de Ação de Graças. Em dois dias.

Max olhou loucamente para a sala de estar. Se ele colocasse o sofá no


quarto e depois alugasse algumas mesas de cartas, talvez funcionasse. Talvez.

Sim. Se você derrubar as paredes e anexar o apartamento do seu

127
vizinho.

O que diabos ele ia fazer? Não havia como ele encaixar sua equipe lá,
mas não havia como ele se virar e dizer que estava apenas brincando. Sua mãe
o mataria, por exemplo, mesmo que ela pudesse fazer isso de qualquer
maneira, quando ele lhe dissesse quantas pessoas ela teria que preparar
caçarola de feijão verde. Oh Deus. Ele ia ficar envergonhado e renegado. E de
castigo. De alguma forma.

O telefone tocou de novo e Max gemeu alto.

— Por que nenhum de vocês quer ir para outro lugar?— Ele perguntou,
embora fosse culpa dele pensar que alguém teria a chance de voltar para casa.
Eles só tinham dois dias de folga e algumas equipes estavam programadas
para jogar no Dia de Ação de Graças.

Então tudo bem. Sim. Talvez ele devesse ter esperado a resposta. Os
pais de Max estavam viajando para vê-lo apoiar seu filho em sua nova carreira
e em seu novo lar adotivo. E eles provavelmente também gostaram da
previsão que dizia que estariam casa de trinta graus Ele se perguntou se eles
ficariam bravos se ele sugerisse economizar na comida e pedir algumas dúzias
de pizzas. Talvez eles tenham pizzas de peru.

Max imaginou como Misha se sentiria ao receber ele, seus pais e o time
de hóquei deles em um feriado que ele não comemorava. Max discou o
número de Misha antes que ele pudesse perguntar, mas o telefone de Misha
foi direto para o correio de voz.

128
Em vez de deixar um recado, Max pegou suas chaves, um cupom de
pizza e algumas peças de roupa e foi para a casa de Misha.

Na casa de Misha ele se sentiu muito mais em casa do que em seu


apartamento. E tinha uma cama confortável, estava sempre limpa e alguém
cozinhava comida para ele quando estava lá. Sem mencionar com que
frequência ele transou. Seu lugar ainda tinha caixas que ele não tinha
desempacotado, e jogar um cobertor sobre elas não fez nada para fazê-las
parecer uma peça de mobília habilmente coberta. Não havia nada em sua
geladeira, exceto duas Bud Light e provavelmente um presunto mofado, e a
roupa era comum em uma comunidade claramente com muita pressa de
esperar que Max trocasse de roupa antes de jogar a roupa molhada no chão.

Certo. Talvez ele tenha deixado na lavadora um dia ou dois, mas ainda
assim.

A casa estava em silêncio quando Max entrou, ele tinha uma chave, o
que o fez sorrir quando pensou nisso e isso era estranho, porque eram apenas
oito e meia. Misha estava definitivamente em casa. O carro dele estava na
garagem. Mas mesmo que Max o provocasse por ser um homem velho, ele
não deveria estar dormindo ainda.

Max finalmente encontrou Misha no quarto, dormindo em cima das


cobertas com as cortinas fechadas. Na cama ao lado dele havia um bloco de
gelo derretendo lentamente que obviamente caíra da testa de Misha quando
ele se mexeu durante o sono. Max pegou e foi ao banheiro para colocá-lo na
pia. No balcão estava o frasco de remédios para enxaqueca de Misha.

129
Misha estava com enxaqueca e tomara o remédio. Max virou a garrafa
entre os dedos e sorriu um pouco. Misha havia escolhido não sofrer. Parecia
um pouco como uma vitória, como traduzir aquela tatuagem alguns dias
antes. Menos sexy, mas ainda significativo.

Ele deixou os comprimidos no balcão, caso Misha precisasse tomar


outro depois que Max lhe perguntasse sobre o Dia de Ação de Graças.

Max voltou para o quarto, incerto se deveria deixar Misha dormir e se


preocupar com isso amanhã. Ele estendeu a mão gentilmente e passou os
dedos pelos cabelos dele. Era bom de uma maneira que era diferente do sexo,
mas de alguma forma tão íntima.

Max revirou os olhos para si mesmo, mas não parou de acariciar os


cabelos de Misha. Ele tinha cabelos grossos, todos loiros, mas de perto Max
podia ver alguns fios brancos misturados. Max sorriu. Ele pretendia dar muito
mais a Misha.

Os olhos de Misha se abriram eventualmente, e olhou diretamente para


Max. Ele disse alguma coisa em russo e repetiu até finalmente lembrar que
Max não estudara russo por tempo suficiente para incluir frases.

— Oi. — Disse Max. Ele se sentiu meio estúpido por ser pego brincando
com o cabelo dele, então ele largou a mão e tentou ser casual sobre isso. —
Você está bem?

Misha assentiu.

— Sim. Enxaqueca. Tomei remédio e adormeci.

130
— Eu vi a garrafa. Não acredito que você realmente pegou uma.

Misha sorriu um pouco.

— Tive um encontro com Belsey. Tortura suficiente por dia.

Quando Misha largou seus artigos, isso significava que ele estava
excitado ou relaxado. Ou ainda meio adormecido e meio drogado. Isso
provavelmente significava que era uma boa hora para perguntar sobre o Dia
de Ação de Graças dos Spitfires em sua casa. Vantagem ofensiva. Claramente,
Max era um estrategista brilhante. Definitivamente, o treinamento era seu
chamado.

— Então, eu estava limpando meu apartamento e... Eu meio que talvez...


Bem, você sabe como eu convidei alguém que não tinha um lugar para ir a
minha casa no Dia de Ação de Graças? — Max disse o mais brilhantemente
possível. — Por causa de como eu sou legal assim.

Misha deu a ele os olhos de laser, que ainda eram intensos, mesmo
quando ele estava meio fora disso.

— Agradável. Sim. Ou talvez louco.

Max fez uma careta, embora não pudesse negar isso.

— Talvez eu tenha a maioria, ah. O time. Vindo para a minha casa no


Dia de Ação de Graças.

Os olhos de laser de Misha se estreitaram.

— Você não tem espaço para equipe. — Ele limpou a garganta. — A


equipe.

131
— Obrigado, Treinador pelo óbvio. Eu sei. — Max sorriu. — Você faz.
Quantos boquetes serão necessários para convencê-lo a hospedá-los?

Misha colocou as mãos atrás da cabeça. Ele parecia estar considerando


isso.

— Hum. Talvez eu pense, um para cada hóspede.

— Você faz uma boa barganha, Samarin, — disse Max e se inclinou para
beijá-lo. — Obrigado. Sério, me desculpe. Às vezes, fico pensando demais
sobre as coisas.

O rosto de Misha ficou sério, mas antes que ele pudesse pensar nele,
Max o beijou novamente.

— Quer que eu peça o jantar? Eu ganhei um cupom para pizza. Ou


aquele lugar tailandês. Mas lembre-se de que levou seis horas para entregar a
última vez que pedimos de lá.

— Hora de você começar aqueles boquetes que me deve. — Disse Misha.

Max sorriu e pegou o telefone.

Quando Max estava crescendo, ele pensava que os pais de todos eram
como os dele.

Levou até o ensino médio para perceber que isso não era verdade. Os
pais dele tinham o tipo de história de amor que você encontra em um

132
romance adolescente. Sua mãe era a estrela atleta e jogadora de lacrosse10, e
seu pai era o garoto esperto e estudioso que a ensinava no último ano do
ensino médio em álgebra. Eles se casaram aos dezenove anos contra o
conselho de todos, conquistaram a faculdade juntos, tiveram dois filhos e
ainda estavam tão felizes quanto apareciam nas fotos do casamento.

O relacionamento de seus pais sempre pareceu tão fácil para Max, que
pensou que, porque as coisas eram relativamente livres de estresse com
Emma, seu próprio casamento seria da mesma maneira. Exceto com Emma,
aparentemente fácil significava fácil sair. E não apenas para ela também. Max
sempre assumiu que era o acidente e o estresse de perder sua carreira que o
distraíam do desgosto de perdê-la, mas ele não tinha mais tanta certeza.

Talvez seus pais não tivessem um relacionamento fácil. Talvez eles


tenham apenas um que funcionou. Como um time de hóquei, eles estavam
perfeitamente sincronizados, mas apenas com muito trabalho e prática.

Max pegou seus pais no aeroporto no dia anterior ao Dia de Ação de


Graças e os levou ao seu apartamento o que rendeu um olha rápido e sujo,
literalmente, se a expressão de sua mãe no estado de seu quarto e lavanderia
era algo para dizer de seu apartamento. Depois, levou-os ao hotel e, quando
disse à mãe que eles estavam dando o Dia de Ação de Graças para todo o time
de hóquei, ela insistiu em ir às compras. Ela levou tudo com calma,
principalmente porque Max prometeu a ela uma cozinha gourmet, um chefe
que não era ele, e que o jantar seria no Misha.

10
Lacrosse é um esporte de equipe, jogado com um taco de lacrosse, que possui uma rede na ponta. Os jogadores usam a cabeça do taco de lacrosse
para carregar, passar, pegar e atirar a bola para o gol. É praticado principalmente na costa leste dos Estados Unidos e Canadá e com origem nos povos
Nativo americanos.

133
Max não tinha certeza do que lhes dizer sobre Misha ou se deveria. E
não foi por causa do acidente. Quando ela descobriu que ele estava treinando
com Misha, sua mãe lembrou Max de ser educado e lembrar que ele não
machucou Max de propósito. Ele não tinha certeza de que seus pais se
importariam com ele estar com um homem, porque eles eram bastante
liberais. Seu pai reclamou do governo e dos impostos, mas seu pai era
contador. Ele sempre dizia a Max e seu irmão, Scott, que ser gay era
perfeitamente aceitável e que não era uma escolha ou um motivo para não
gostar de alguém.

Mas Max não tinha certeza de ser bissexual e estar com um homem
era uma escolha que ele estava fazendo. Tudo o que sabia era que não era
hora de descobrir, já que seus pais estavam visitando apenas alguns dias e
eles tinham que alimentar uma tribo de jogadores de hóquei com fome uma
refeição de férias. Além disso, Misha já estava nervoso o suficiente por
conhecer os pais de Max. Ele não precisava adicionar; “Ah, e vamos dizer a
eles que você é meu namorado”, na mistura.

Suzanne Ashford era uma profissional no supermercado, e ela tinha os


mantimentos selecionados, ensacados e pagos apesardos protestos de Max em
menos de uma hora. Max dirigiu-se à casa de Misha, fez o possível para agir
como se não fosse grande coisa e falhou miseravelmente. Ele falou demais e
sabia disso. Finalmente, sua mãe interrompeu uma história longa e sem
sentido sobre os reparos em seu jipe com...

— Querido, você não precisa se preocupar. Seu pai e eu estamos bem em

134
ver Misha novamente.

Esperar. O que?

— Novamente? — Max olhou para sua mãe, que insistia em andar no


banco de trás do jipe porque era “divertido”. Ele não tinha certeza se a ouvira
corretamente. — Você nunca o viu antes.

— Bem, nunca o conhecemos. — Disse ela. — Mas nós o vimos no


hospital, logo depois que eles te trouxeram lá. Eu queria dizer a ele que não o
culpamos por nada e que foi apenas um acidente, mas ele parecia
tão…. Bem. Não achei que ele quisesse ser interrompido.

— Misha me visitou no hospital? — Max quase passou um sinal


vermelho. Ele suportou a bronca dos pais que acompanhava sua falta de
habilidades de direção e tentou processar as informações. — Hã. Eu não fazia
ideia.

— Você estava dormindo e tomando muita medicação. Foi logo depois


que eles descobriram o que aconteceu. — Sua mãe sempre falava do acidente
como algo lamentável, mas não devastador. Max percebeu o quanto era
importante para ele durante sua recuperação especialmente mentalmente
estar perto de alguém que reforçava essa atitude. Seus pais nunca agiram
como se sua vida tivesse acabado, apenas que era hora de encontrar uma nova
direção. E eles nunca disseram uma única palavra ruim sobre Misha ao seu
redor também.

Isso o fez relaxar um pouco, mas não acalmou completamente seus


nervos ao apresentar Misha a seus pais. Isso tinha mais a ver com o fato de

135
Max estar apaixonado por Misha como as temperaturas no inverno de
Minnesota, e a realização quase o fez passar outro sinal vermelho. Ele ainda
era legalmente capaz de dirigir, mesmo que o acidente tivesse atrapalhado sua
visão periférica.

— Max. — Disse o pai. — Acho que você precisa de um carro mais


seguro, se é assim que você dirige.

— Eu acho que você precisa de uma licença de aprendiz. — Sua mãe


respondeu. Os dois riram.

Max os pegou se olhando pelo espelho retrovisor. De repente, ele se


perguntou o que sua mãe tinha pensado sobre Emma, mas eles estavam
entrando na entrada de carros de Misha, e não era o momento dessa
conversa.

Misha os encontrou na porta, e Max percebeu que estava nervoso. Ele


estava com a cara de treinador, o que era muito quente, mas também o fazia
parecer inacessível. Max deu um sorriso encorajador, mas Misha apenas
olhou para ele como se Max fosse um novato prestes a ganhar um patins
novo.

— Mãe, pai, esta é Misha Samarin. — Disse Max. — Misha, estes são
meus pais, Suzanne e Jim.

A mãe de Max sorriu e se moveu para apertar a mão de Misha.

— É tão bom te conhecer, Misha. Posso te chamar assim? Eu sei que


existem regras sobre nomes russos. Isso não está certo?

136
Havia? Isso foi novidade para Max.

— É a abreviação de Mikhail. Sim. — Disse Misha, e seu sotaque era


mais pesado que o normal. Ele estava nervoso ou fazendo isso de propósito,
embora Max pensasse que ele só fazia o último com Belsey. — Mas Misha está
bem, é claro. — Misha apertou a mão da mãe e depois a do pai, e seus olhos
tremularam nervosamente para Max, mas ele não disse nada.

— Está tudo bem que eu te chame de Misha? — Max perguntou


maliciosamente enquanto eles descarregavam as compras da parte de trás do
jipe.

— Agora você me pergunta? — Havia talvez, apenas talvez, uma pequena


pitada de calor na voz de Misha. — Eu suponho.

Max sorriu e ergueu o que pareciam dois sacos cheios nos braços. Então
ele entrou e encontrou sua mãe exclamando pela cozinha.

— Oh, Misha. Deus o abençoe-o por oferecer voluntariamente sua casa.


Se eu tivesse que cozinhar alguma coisa na cozinha de Max, eu poderia
chorar.

— Não é tão ruim. — Max murmurou. — Eu simplesmente não tenho


muitas coisas. — Como pratos. Ou pegadores de panela. Ou qualquer ideia de
como cozinhar coisas que precisam de um aparelho que não seja o micro-
ondas.

— Trouxemos um presente para você, Misha. — Disse o pai de Max, e


entregou algo a Misha em um saco de papel, e ele aceitou com sua habitual

137
gratidão sombria.

Max não tinha ideia do que era. Ele não se lembrava de seus pais terem
escolhido algo especial para Misha, mas ele tinha uma ideia horrível do que
poderia estar na sacola.

— Obrigado. — Disse Misha, e Max teve que se virar para esconder o


sorriso enquanto Misha colocava mais uma garrafa de vodka no congelador.

Max fez uma anotação para procurar “Tal pai, tal filho”em seu livro
russo.

Enquanto guardavam mantimentos e reuniam suprimentos, a conversa


foi fácil e descontraída, centrada principalmente nos Spitfires. Max fez todo
mundo rir com uma recontagem da briga que ocorreu com todo time, até
Misha riu, embora fosse uma espécie de risada moderada. Seus pais gostavam
de ouvir sobre as várias personalidades de sua equipe, embora sua mãe fizesse
uma careta quando Max mencionou Belsey.

— Aquele homem. — Ela disse e depois balançou a cabeça e fingiu fechar


os lábios. — É tudo o que vou dizer sobre isso. É melhor ele não aparecer
amanhã. Ele não está pegando minha caçarola.

— Ele não foi convidado. — Assegurou Max. A menção a Belsey pareceu


prejudicar a conversa por um momento. Belsey tinha esse efeito nas pessoas.
Mas o pai de Max restaurou o equilíbrio, perguntando a Misha sobre sua
experiência anterior como treinador.

Max estava preocupado que Misha pudesse voltar ao seu modo “frio e

138
miserável de angústia russa” graças à menção de Belsey, mas isso não
aconteceu. Misha ficou tenso quando mencionou o treinamento com a equipe
de LAH do Boston Bruins em Providence, e Max suspirou quando seus pais
reinaram em seu instinto de vaiar qualquer coisa relacionada aos Bruins. Seu
pai os odiava muito antes de seu filho jogar pelos rivais. Max jogando para o
Habs apenas tornou mais conveniente.

A conversa mudou para receitas e um plano de cozimento, que Max se


desligou. Quanto menos ele estivesse envolvido com a culinária, melhor. Ele e
o pai picaram as coisas, cortaram as fatias e juntaram várias caçarolas em
pratos conforme as instruções. No momento em que prepararam tudo, a mãe
de Max e Misha parecia ter se ligado à sua capacidade de preparar comida
adulta. Foi um começo.

Max viu Misha esfregando as têmporas uma ou duas vezes, o que ele
esperava que não significasse que Misha estivesse com enxaqueca.

— Se você está com enxaqueca esta amanhã, precisa tomar seu remédio
em vez de beber vodka. — Disse Max a Misha e bateu levemente no ombro
dele.

Misha fez uma careta para ele.

— Eu não tenho enxaqueca.

— Eu não disse que você esta. Acabei de dizer para tomar seu remédio,
se você estiver tendo uma. — Max acenou com a mão. — Não faça isso,
resistir... O que você faz.

139
Misha piscou para ele.

— Eu não tenho ideia de que palavra você está tentando dizer.

Max estava programando essa palavra estúpida em seu telefone para


que ele pudesse lembrar o que era.

— Essa palavra que Belsey usa. Sobre literatura? Veja. Isso não é
importante. O mais importante é...

— Existencialista? Essa é a palavra?

Max cruzou os braços.

— Sim. Obrigado por interromper.

— Você estava procurando a palavra. Eu estava ajudando. — Misha


colocou um pedaço de cenoura em sua boca. Sua expressão estava mais
reservada do que nunca, mas Max apostaria seu salário abismalmente
pequeno de que havia um brilho naqueles olhos escuros.

— Hum. Prometa que vai tomar uma pílula, não se trancar no quarto e
me deixar com todos esses atletas famintos por alimentos.

— Eu não vou. — Assegurou Misha. — Eu tenho medo do que pode


acontecer com a minha cozinha.

Max ouviu uma tosse discreta e percebeu que tinha esquecido tudo
sobre seus pais. Seu rosto ficou vermelho, mas ele deu um sorriso normal e se
virou. Não havia nada de estranho nessa conversa, havia? Apenas um cara
lembrando o amigo para tomar os remédios em vez de beber as enxaquecas
que às vezes recebia e precisava se deitar em um quarto escuro para se livrar.

140
Totalmente normal.

— Vocês querem voltar para o hotel agora?— Max ainda devia a Misha
alguns boquetes e achava que poderia ajudar Misha a relaxar antes do que
certamente seria um dia caótico.

— A menos que todos planejemos uma festa do pijama. — Brincou seu


pai. Ele não trocou um olhar com a mãe de Max, que disse: “Nosso filho está
transando com o treinador”. Não que Max soubesse exatamente como isso
seria. Espero que ele não tenha deixado claro como o dia em que passou a
maior parte do tempo lá e que seu apartamento era pouco mais que um
armário de armazenamento empoeirado e meio bagunçado.

Max levou seus pais de volta ao hotel e se perguntou se eles iriam dizer
alguma coisa ou se ele estava apenas sendo paranoico. Quando saíram do jipe,
os dois o abraçaram e disseram que estavam felizes por ele e Misha parecerem
amigos e que estavam orgulhosos dele por não deixar o acidente atrapalhar.

Linha típica de festas da família Ashford, então Max relaxou e percebeu


que estava livre. Ele queria que seus pais soubessem, mas ele não achou uma
boa ideia surpreender seus pais com sua bissexualidade no dia anterior antes
de receber vinte pessoas para o jantar de Ação de Graças. Eles podem não ter
problemas com isso, mas ainda assim seria um choque, e ele gostaria de ter
uma chance de conversar com eles sobre isso, em vez de apenas dizer: “Ei, eu
sou bissexual agora, e você pode passar as batatas?”

Quando voltou para a casa de Misha, encontrou-o no mesmo lugar em


que o havia deixado, como se não tivesse movido um único músculo no tempo

141
em que Max se fora.

— Ei. — Disse Max, chegando ao lado dele. — Isso foi bom. Viu? Eles
gostam de você. Eles disseram que é ótimo sermos amigos.

Misha não disse nada, mas ele olhou... Max na verdade não conseguia
descobrir como ele estava, nem triste ou com raiva, mas definitivamente não
estava relaxado ou divertido. Não era o rosto de treinador dele, mas era algo
semelhante. Muito parecido. Como na noite em que Misha o beijou pela
primeira vez, quando ele quase parecia derrotado pela recusa de Max em
odiá-lo.

— Você está bem? — Max bateu nele com o ombro. — Está tudo bem, eu
voltei, porque acho que poderia ter perguntado a você.

— Está bem. Claro. — Disse Misha.

Max sentiu uma estranha agitação de algo muito próximo à irritação e


se perguntou se Misha diria a ele quando algo não estava bem.

— Misha...

— Belsey não vai impedir que o homem que está incomodando Drake
venha ao jogo. — Disse Misha. Ele falou devagar, com cuidado, mas ainda
deixou o artigo no final.

Max se sentiu estúpido por pensar que o sofrimento de Misha era sobre
ele. Ele se encostou no balcão.

— Não acredito que vou dizer isso, mas a menos que saibamos que o
cara é uma ameaça para Drake... Ele provavelmente é... Ugh. Não consigo

142
fazer as palavras saírem da minha boca.

Misha olhou para o teto.

— Prometi a ele, Max. Que eu faria tudo bem para ele estar seguro. E é
mentira.

— Uau. Uau. — Max levantou as mãos. — Você fez o que pôde, e tenho
certeza que Drake vai gostar. — Não era um pensamento muito simpático,
mas Max ocasionalmente achava o goleiro propenso a drama um pouco
demais.

— Esse não é o ponto. Eu sou o treinador. Eu preciso garantir que meus


jogadores possam jogar.

— Você faz. — Max concordou. — Mas vamos lá. Você também não pode
deixá-los fazer exigências irracionais. — Ele disse cuidadosamente. — E
Misha, eu gosto de Drake, mas é um cara dentre... Bem, talvez não mil, mas
você sabe o que eu quero dizer... Na multidão. Drake realmente não pode
perder o foco tão facilmente. E se ele fez, Deus o ajude se alguma vez jogou
hóquei em Montreal.

Misha olhou para ele, mas não havia sinal de censura em seu rosto.

— Belsey disse que aceitaria o pedido se eu pudesse provar a ele que o


homem era uma ameaça para Drake.

— Você poderia contorná-lo, suponho. — Disse Max, inquieto ao pensar


em Misha se metendo em confusão. Em sua opinião, os Spitfires precisavam
de Misha muito mais do que Drake.

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Houve um lampejo de algo parecido com raiva nos olhos de Misha, e sua
boca se apertou em uma linha plana.

— Não. Eu não vou fazer isso.

— Por quê? — Max perguntou e olhou para ele. Essa foi uma reação
estranha. Geralmente, o pensamento de minar Belsey fazia Misha reagir
exatamente da maneira oposta.

— Não seria bom para a equipe. — O tom de Misha sugeriu que ele
havia terminado a conversa. Mas ele continuou com — O que eu faço, Max?
Você é muito bom com essas coisas. Como digo a Drake que não posso fazer o
que prometi?

Max ficou quieto surpresomomentaneamentecom pedidode Mishade


sua opinião. Ele esperava que Misha estivesse bravo com ele por concordar
basicamente com Belsey, e hesitou em dizer o que realmente pensava sobre a
situação, porque não queria que eles brigassem. Mas talvez ele não estivesse
dando crédito suficiente a nenhum deles. Eles começaram a namorar depois
de um incidente que terminou suas duas carreiras, não começaram?

Isso fez Max pensar em seus pais novamente e em como ele estava
começando a descobrir que os relacionamentos, quando importavam, não
deveriam ser fáceis.

— Eu não acho que você deva prometer essas coisas em primeiro lugar.
— Disse Max sem rodeios. — Eu sei que você tinha boas intenções, mas isso é
algo que você não pode controlar. Você sempre pode pedir a Drake para lhe
dizer o que exatamente está acontecendo com esse cara, mas eu não o faria.

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Seja qual for o motivo, Drake não quer que você saiba. Então honre isso e
apenas diga a ele que você tentou. Ajude-o a descobrir uma maneira de não
pensar nisso quando estiver no gelo. Encontre alguns exercícios de
concentração ou algo para os goleiros. Aquele tipo de coisa. Seja seu treinador
de hóquei, Misha. Isso é realmente tudo o que você pode fazer.

Misha estava estudando-o enquanto ele falava e ouvia atentamente.

— Você é um bom treinador, Max. Eu gostaria que você estivesse lá


quando falasse com ele. Eu não sou muito bom nessa parte.

— Você é melhor do que pensa que é. Definitivamente com Drake. —


Max disse com um sorriso. — Mas obrigado.

— De nada. — Misha subitamente entrou no espaço de Max e deu-lhe


um empurrão suave com as mãos. — Nós devemos ir para a cama. Sim?

— Sim. — Disse Max, sua voz rouca. — Definitivamente devemos fazer


isso.

No espírito de dizer o que pensava, Max esperou até que estivessem nus
e Misha o estivesse fodendo com dois dedos para dizer:

— Por que você não me deixa fazer isso com você?

Misha, que era alto o suficiente para tocar em Max e chupar seu pescoço
ao mesmo tempo, levantou a cabeça. Seus olhos escuros eram toda pupilas, o
rosto pálido corado e sua respiração era um pouco de calor na pele de Max.
Ele disse algo em russo, balançou a cabeça brevemente e repetiu em inglês.

— Por que você está perguntando isso agora?

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Seus dedos ainda estavam fodendo com Max, apenas um pouco mais
intensamente do que antes. Max teve que arquear as costas e gemer antes que
pudesse voltar à pergunta. Os russos eram sorrateiros. Não é à toa que eles
venceram a Guerra Fria.

Espere... Eles venceram?

— Porque eu... Foda-se. Eu quero fazer isso. Para você. E você disse
que... Gosta, mas... Misha, caramba... Você não me deixa. E eu quero.

Os dedos de Misha diminuíram a velocidade, o que foi ótimo para as


habilidades de conversação de Max, mas não tanto para seu pênis.

— Talvez você não queira fazer isso.

Max sentou-se nos cotovelos.

— Você precisa parar de fazer isso. Não! Não é isso, por favor. Nunca
pare de fazer isso. Eu quis dizer que você precisa parar de tentar tornar tudo
seguro. Para mim. Para Drake. Talvez se eu não gostar, e eu vou lhe dizer.
Mas se é tão bom, e se você geme e começa a murmurar em russo e agarra
meu cabelo enquanto eu o faço? Eu vou gostar. Ok? Da? Você entendeu,
camarada?

Misha estreitou os olhos para ele e o fodeu com mais força com os
dedos.

— Camarada?

— Desculpe. — Max chiou, seus quadris empurrando para frente,


montando descaradamente a mão de Misha. — Eu não sou... Isso é... Tão

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bom. Deus, você é tão bom nisso.

Misha deu a ele um sorriso sinistro e se inclinou para murmurar em seu


ouvido:

— Podrochi sebe, Max. — Antes que Max pudesse perguntar o que


aquilo significava, Misha mordeu gentilmente seu ouvido e disse: — Faça você
gozar.

— Eu pensei que você nunca perguntaria. — Com dois golpes duros em


seu pênis, Max gozou sobre seu estômago e estava quente e úmido, e Misha o
observava o tempo todo com seus olhos escuros.

Max levou alguns minutos para se recuperar, respirando com


dificuldade e remontando seus pensamentos em algo que tinha mais palavras
e menos gemidos.

— Então, ei. — Ele ofegou, tremendo um pouco com a intensidade de


seu orgasmo. — Se é assim que é ser fodido, então eu definitivamente quero
que você faça isso. — Ele esperou que isso afundasse e observou com prazer
presunçoso como os olhos de Misha se arregalaram. Ele também gostava da
respiração repentina de Misha. — Mas primeiro eu quero fazer isso com você.

Misha pareceu sem palavras por um segundo, e então ele assentiu uma
vez e deitou de costas.

— Eu gosto. — Ele disse baixinho. — E eu quero te foder.

Ouvir isso na voz suave e acentuada de Misha fez Max tremer. Se ele não
tivesse acabado de gozar, ele poderia ter exigido como uma mandona que

147
Misha o fodesse naquele momento. Em vez disso, ele tomou mais algumas
respirações calmantes, virou de lado e traçou as tatuagens no peito dele.

Max não tinha ideia do que estava fazendo, mas sentiu que tinha
experiência relevante o suficiente para entender por onde começar.

— Apenas me diga o que não está certo. — Disse Max e se estabeleceu


entre as pernas de Misha.

Não foi tão bem no começo. Misha estava claramente tenso, e ele olhou
para o teto como se estivesse fazendo um exame físico extremamente
desconfortável. Max o mordeu na coxa e bateu no estômago, porque não eram
coisas que aconteciam nos exames físicos fora do pornô na Internet.

— Ei. Você disse que gostou disso. Você estava mentindo?

— Não. — Disse Misha e olhou para ele. Ele suspirou. — Faz muito
tempo. Isso é tudo. — Ele gentilmente deslizou os dedos pelos cabelos de Max
e respirou lentamente, claramente tentando relaxar.

Max concentrou-se em fazer com que Misha parecesse o mesmo, mas a


princípio parecia que ele tinha dezessete anos novamente e tentava foder a
namorada do ensino médio sem a menor ideia do que ele deveria estar
fazendo. Mas, eventualmente, Max pegou o jeito, Misha fez um barulho
quente e resistiu contra a mão de Max, e tudo estava ótimo.

Quando Misha fazia isso com ele, Max sempre se via querendo assistir,
mas era muito difícil manter os olhos abertos. Agora ele estava fascinado pela
visão de seus dedos deslizando escorregadios no corpo de Misha, e ele estava

148
tão quente por dentro, tão apertado, que Max definitivamente iria querer
transar com ele em algum momento.

Misha esparramado de pernas compridas e ofegando na cama. Sua


respiração gaguejou e ele empurrou seus quadris inquieto. Seu pênis estava
duro e corado contra seu estômago. Sim. Isso era bom.

— Você gosta disso. — Disse Max. Ele sorriu, satisfeito consigo mesmo e
com o mundo em geral, enquanto tentava inclinar o pulso perfeitamente e
fazer Misha perder a cabeça.

Uma torrente de palavras em russo foi sua única resposta. Max riu e
tentou mover a mão um pouco mais para frente. Misha gostava de um tipo
áspero na cama, gostava de Max mordendo-o e agarrando seu cabelo, e
gostava de engasgar com o pau de Max tanto que provavelmente estava dando
a Max um complexo. Isso o fez se sentir como uma estrela pornô, então
espero que Misha aprecie alguma reviravolta. Seus instintos estavam certos, e
as costas de Misha se arquearam um pouco quando ele gemeu quando Max
começou a foder com mais força com a mão.

— Já que você gosta disso, provavelmente gostaria se eu te fodesse


também, não é. — Max disse alegremente. Ele viu Misha agarrar seu pau e
gozar por todo o estômago, dizendo algo que Max esperava que fosse sim.

Os dois tomaram banho e voltaram para a cama. Max estava folheando


o livro de espionagem à toa e havia um bandido russo e tentava deixar de ser
alternadamente atraído pelo vilão e irritado com os estereótipos russos
quando se lembrou do que seus pais haviam dito antes. Ele colocou o livro no

149
peito e virou a cabeça.

— Você veio me visitar no hospital?

Misha estava lendo algo que parecia ser um livro de treinamento. Ele
usava um par de óculos de leitura, e Max desejava ele os usasse o tempo todo,
porque eram sexy como o inferno. Misha olhou para ele.

— Ah. Sim.

Era Misha, então uma resposta simples foi tudo o que ele conseguiu.
Max olhou para ele até Misha suspirar, fechar o livro e depois tirar os óculos.
Droga.

— Eu queria ter certeza de que você estava bem.

— Meus pais viram você. — Explicou ele. — E isso significava que você
entrou sem um disfarce inteligente, Misha. Ideia idiota, cara. Era Montreal, e
você tirou um Hab de quadra. — Max levantou a mão. — Não se preocupe, ou
insistirei em cozinhar algo amanhã. Pense na sua cozinha.

Os cílios de Misha ocultaram seu olhar por um momento, mas ele


assentiu.

— Eu não…. Eu não estava pensando direito. Eu só queria ver você.

— Você gostava de mim, mesmo assim. — Brincou Max, colocou seu


próprio livro sobre a mesa e rolou. — Admita.

Misha não parecia divertido.

— Por que você insiste em fazer piadas sobre a pior coisa que já

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aconteceu com você?

— Eu não sei. — Disse Max. Ele queria pegar o livro e bater nele. —
Talvez porque eu tenha superado isso?

Misha olhou para ele.

— Eu nunca vou te entender.

— Bem, eu também nunca vou te entender. Pelo menos nunca ficaremos


entediados. — Max se inclinou e o beijou. Firmemente. — Pare de se
angustiar Ok? Meus pais acabaram de mencionar e você nunca disse nada.
Não que eu esteja surpreso. De acordo com filmes e livros, tenho que colocá-
lo em uma armadilha mortal para fazer você falar.

A expressão de Misha não mudou, mas ele disse:

— Sou muito alto para caber no seu jipe. — Max bufou uma risada e
apagou a luz.

151
Capítulo 10

Na próxima vez que Misha pensasse que sua casa era grande demais, ele
se lembraria de hospedar um time inteiro de hóquei para um feriado
americano que não comemorava, apresentando como peça central algo que
não comia.

Não que o peru fosse a única opção. Havia tanta comida em sua cozinha
que Misha mal conseguia ver as bancadas. Cada centímetro disponível de
espaço era ocupado por pratos de algum tipo ou recipientes de plástico.
Aparentemente, todos os jogadores de Spitfires tinham sido ordenados por
membros da família a trazer algo para o jantar. Incluindo os não americanos.

Foi uma reunião interessante. Peru, pirozhki, algo com feijão verde e
fritos crocantes em cima deles que Suzanne Ashford fez, salada de pepino e
embalagens plásticas de biscoitos. Foi esmagador.

— Parece que Piggly Wiggly11 vomitou aqui. — Disse Isaac Drake.

— É uma mercearia. — esclareceu Misha, quando Suzanne olhou para


ele interrogativamente. Ele deu a Drake um olhar afiado. — Esta é a mãe
de Treinador Ashford. Comporte-se.

11
A Piggly Wiggly é uma cadeia de supermercados americana que opera nas regiões Sul e Centro-Oeste dos Estados Unidos,
administrada pela Piggly Wiggly, LLC, uma afiliada da C&S Wholesale Grocers.

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— Segundo Treinador. — Drake sorriu. Ele foi um dos poucos jogadores
que estavam mais à vontade com Misha do que com Max. O que não ajudou a
amenizar a culpa de Misha por não ser capaz de cumprir sua promessa. Mas
Drake parecia alegre é suficiente no momento, e Misha se recusou a arruinar
o feriado do jovem discutindo um assunto desagradável.

Ter o time em sua casa era barulhento e lotado, mas Misha descobriu
que ele realmente não se importava tanto. Não era algo que ele gostaria de
repetir semanalmente ou mensalmente e duas vezes por ano provavelmente
seria bom o suficiente, mas o lembrava de reuniões familiares lotadas em
casa. E não de uma maneira ruim também, o que significava que era uma das
poucas lembranças de sua infância que ele não queria reprimir
automaticamente.

Misha imediatamente procurou Max com os olhos e o encontrou em pé


com o pai e alguns dos Spitfires. Max tomava uma cerveja, usava seu jeans
habitual e um suéter casual e parecia perfeitamente relaxado. Em casa, até.

Max olhou pela sala e sorriu. Ele levantou a cerveja. Misha sorriu
levemente em resposta.

— Acabei de ver o Treinador Samarin sorrir. — Matt Huxley disse a


Drake, enfiando um biscoito na boca.

— Não fale com a boca cheia. — Disse Drake.

— Você diz isso para todos os caras que sugam o seu...Ei! — Shawn
Murphy chiou quando Drake o golpeou na cabeça com uma colher de servir.

153
— Você pode se comportar, cara? É sério. Há pais e coisas assim
aqui. Vá lavar isso. — Ele ordenou, entregando o utensílio. — Desde que eu
não sei quando foi a última vez que você lavou o cabelo.

Murphy murmurou algo, mas foi para a pia, depois de olhar para uma
garota que estava rindo, provavelmente sua namorada provou que não
haveria ajuda daquele bairro.

Eu gosto daqui. Misha gostou do seu time e do desafio de fazê-los


aproveitar o seu potencial. Ele gostava de sua casa, mesmo que estivesse um
pouco cheia demais no momento, com jovens se batendo com colheres. Ele
até gostava do sotaque dos habitantes locais, do chá doce e do fato de eles
realmente terem um supermercado chamado Piggly Wiggly.

E Max. Ele também gostava de Max. Especialmente ontem à noite,


quando...

— Misha?

Misha quase engasgou com seu copo de chá gelado quando Suzanne se
materializou ao lado dele. Definitivamente, ele não deveria estar pensando
nisso com uma casa cheia de seus jogadores e dos pais de Max.

— Sim?

— Eu queria saber se posso falar com você por um segundo? — Suzanne


sorriu. — Talvez lá fora naquela varanda da frente? Não acredito que esteja
quente o suficiente para fazer isso e é novembro.

Misha não achou que ele deveria dizer não ao pedido dela, mas ele

154
queria. Porque Max claramente herdou muitas coisas de sua mãe, incluindo
os olhos, a estrutura óssea e a familiaridade fácil e calorosa com ambos os
sentimentos e com a expressão deles. Isso significava que ela poderia querer
fazer isso com Misha, e ele não achava que poderia fazê-la parar, como às
vezes fazia com Max.

— É claro. — Ele disse e a seguiu até a varanda.

— Essa é uma boa equipe que você tem. — Suzanne sentou-se no


balanço da varanda e deu um empurrão. Ela tinha cabelos loiros onde Max
era escuro, e ela não era tão alta quanto seu filho, mas a alegria infantil que
ela sentiu balançando na varanda... Bem, Max fez a mesma coisa. Max
herdara claramente sua disposição ensolarada e tendência a ter prazer em
pequenas coisas. Max ficou animado quando eles tiveram um fim de semana
de pré-visualização de um canal de filme a cabo.

— Eles são um desafio. — Disse Misha. Pelo canto do olho, ele viu
Murphy e Huxley em pé ao lado da casa. Eles estavam fumando. —
Ummomento, Suzanne. — Ele caminhou até a beira da varanda, cruzou os
braços e limpou a garganta.

Huxley olhou para cima e deu a Misha um olhar culpado. Então ele
chutou o tornozelo de Murphy.

— Desculpe, Treinador.

— Não jogue no meu gramado. — Disse Misha e voltou para a varanda.


Ele revirou os olhos. — É como ser diretor de uma escola, mas não posso detê-
los.

155
Suzanne riu.

— Eu aposto. Eu tive problemas suficientes para criar dois meninos.


Você tem muito mais que isso.

— É mais fácil quando eles não me seguem para casa. — Misha sorriu
levemente, enfiou as mãos nos bolsos e encostou-se ao poste. Ele esperou o
que Suzanne dissesse e, embora não achasse que fosse algo negativo, quase
desejou que fosse. A gentileza de Max foi difícil o suficiente para lidar. Ele não
achava que poderia lidar com a mãe em cima disso.

— Max me disse cerca de seis mil vezes para não dizer nada. — Disse
Suzanne, e Misha tentou não ficar tenso ao perceber que eles provavelmente
iriam falar sobre o acidente. — Mas ele provavelmente sabia que isso não
importaria se eu decidisse que queria falar. Eu só quero que você saiba que
Jim e eu, não o culpamos pelo que aconteceu. — Ela olhou para Misha, e ele
se perguntou como era que ela parecia quase mais jovem que ele.

Talvez ele apenas se sentisse mais velho do que parecia. Provavelmente.

— Obrigado. — As palavras eram rígidas e formais, mas ele não pôde


evitar. Se eles precisassem conversar, seria melhor depois do jantar. Depois
de vodka.

— Nós nunca fizemos. — Continuou ela. — E nem Max. Ele estava


confuso quando acordou pela primeira vez e estava... Chateado. Com raiva,
até, mas nunca com ninguém em particular. Talvez Emma, quando ela foi
embora. Mas eu realmente não acho... De qualquer maneira. — Ela acenou

156
com a mão. — Eu só quero que você saiba disso. Caso você estivesse
preocupado.

Caso ele estivesse preocupado. Misha assentiu novamente. Ele não


sabia mais o que fazer. O desejo de pedir desculpas foi esmagador, mas
desnecessário. Max estava certo. Em algum momento ele teria que parar de se
desculpar.

— Você sabe, Jim e eu, nós dois estávamos tão orgulhosos de Max
quando ele foi convocado. Lembro-me de seu primeiro jogo com os Habs,
como não podia acreditar que realmente era meu filho. Não é como se eles
tivessem nos dado ótimos assentos ou algo assim, mas eu podia pelo menos
dizer quando ele estava no gelo. — Ela sorriu. — Aquela cidade era louca por
hóquei. Mas você sabe o que me deixa ainda mais feliz como mãe? Vendo o
quanto ele te respeita e como vocês dois se tornaram amigos. Isso é algo que
eu valorizo mais do que qualquer troféu, e isso me faz pensar que talvez eu
não tenha estragado tudo aquilo de ser mãe.

Misha estava quase certo de que ele estava corando. Ele não pôde evitar.
Ele e Max eram mais que amigos, por um lado e por outro respeitá-lo? Para
quê? Ele lutou por algo a dizer, porque percebeu que queria dizer algo para
ela. Algo sobre o quão grato ele estava pela amizade de Max e como Max
absolvê-lo da culpa que ele carregava por cinco anos era um presente que ele
nunca pensou em ganhar.

— Ele é um homem bom. — Disse Misha, e, embora fosse verdade, não


transmitia o suficiente o que ele queria expressar. Ele se sentiu envergonhado

157
e abaixou a cabeça, esperando que não fosse óbvio o quão desconfortável
estava. Ele não queria parecer ingrato.

Suzanne sorriu e empurrou o balanço novamente com os pés. Misha


lembrou quando ele se mudou e como ele pensou em retirá-lo, porque ele não
podia se imaginar usando-o.

— Sim. Ele é. E acho que será um ótimo treinador. Você sabe, as coisas
que aprendi praticando esportes, a razão pela qual eu queria que meus filhos
os praticassem... Não era para que eles pudessem crescer e brincar na LNH ou
ter uma bela casa ou um bom carro ou uma linda esposa. Queria que eles
aprendessem o trabalho em equipe, como confiar em seus instintos, o que
significava tentar e como vale a pena ter paciência e prática. Então acho que é
por isso que estou mais orgulhosa de Max por se tornar um treinador quando
ele poderia ter desistido. Embora ele tivesse que encontrar algo para fazer,
porque eu tinha transformado o quarto dele em uma academia. Então, teria
que dormir na esteira se pensasse que iria voltar para casa.

Ela finalmente se levantou, espanou as mãos na calça jeans e voltou-se


para Misha com outro daqueles sorrisos brilhantes. Antes que Misha pudesse
fazer qualquer coisa para detê-la, ela o abraçou.

— Eu sei que o idiota de Belsey provavelmente estava tentando usar o


que aconteceu com você e Max, e isso me faz querer bater na boca dele com
um dos meus paus de lacrosse. Mas estou feliz que você e Max tiveram a
chance de se encontrar novamente. E a razão pela qual estou lhe dizendo isso
é porque eu sei disso, não importa o que Max diga, ou o que Jim ou eu

158
digamos, principalmente eu, porque Jim nunca teria essa conversa com
ninguém você ainda pode se culpar. Mas ser derrubado é apenas parte do
jogo. O que importa é que você volte a se levantar.

Ela deu um tapinha nas costas dele e depois se afastou.

— Agora, se Max pudesse aprender a pendurar as toalhas molhadas


depois de tomar um banho, ele poderia ser o filho perfeito. Mas não diga a ele
que eu disse isso.

Misha definitivamente não diria nada a ele. Embora ele tenha


concordado com Suzanne sobre as toalhas, e ele teve que parar de acrescentar

— Também deixando os sapatos na frente da porta.

A casa não pegou fogo, então Misha considerou o jantar um sucesso.


Felizmente, havia muitas pessoas e muitos atletas profissionais do sexo
masculino com um senso de humor equivalente a um garoto de doze anos
para dar a volta e fazer algo terrível como dizer o que você é grato.

Alguns dos rapazes trouxeram namoradas com eles, e Misha não tinha
ideia de que o apoio deles, Anthony, era casado. As meninas formaram um
grupo unido com Suzanne Ashford depois do jantar. Beberam café e
conversaram sobre hóquei, política e moda enquanto os Spitfires limpavam.

Max ficou ao lado de Misha e observou os caras na cozinha. Houve


alguns murmúrios ocasionais, “Opa” e mais do que alguns sons barulhentos,
mas na maioria das vezes tudo estava indo bem. Misha serviu uma vodka para
si e para Max a boa vodka, que ele estava vigiando.

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— Tvajó zdorov'ya. — Disse ele, batendo o copo com o de Max.

— Sim. Isso... — Disse Max e tomou um gole. — Camarada. — Ele


piscou.

— Significa 'para sua saúde'. — Disse Misha. — É torrada. Sim?

— Não, Misha. — Max disse com um olhar exagerado. — É vodka. Você


tira torradas da torradeira.

Misha sorriu um pouco ao redor da borda do copo. Os jogadores não


eram os únicos com o humor de um garoto de doze anos.

A multidão diminuiu depois que os pratos foram lavados, e Misha


percebeu que ele teria que conversar com Drake. Ele não queria, preferiria ter
um final de tarde agradável para todos, mas sabia que precisava ser feito. Ele
ficou pensando nas palavras de Suzanne ser derrubado é apenas parte do
jogo. O que importa é que você se recupere e se levante novamente. E Max
dizendo a ele que ele não poderia manter Drake seguro. Ele só poderia ajudar
Drake a aprender como enfrentar quem era esse homem e superar isso. Ele
não tinha percebido que estava tentando proteger Drake como ele fez com
Max, e não pôde deixar de pensar que esses novos instintos de proteção eram
todos culpa de Max em primeiro lugar.

Ele foi ao seu quarto pegar um suéter, pois a noite estava fria e ele achou
que era uma boa ideia conversar com Drake do lado de fora. Mas antes que
ele pudesse sair da sala, Max entrou correndo, empurrou-o contra a porta e o
beijou.

160
Misha, temendo a próxima conversa com Drake e procurando uma
desculpa para adiá-la, virou-as para que Max estivesse pressionado contra a
porta. Então, sabendo o quanto Max começou a falar russo, ele se inclinou e
disse:

— Quero te foder com a mão na boca, para que você não faça barulho. —
Na língua nativa.

— Isso também é um brinde? — Max perguntou, sua voz sem fôlego.


Misha deu uma risada suave e o beijou novamente.

— Mais uma promessa. — Misha se afastou, embora gostasse do modo


como Max o encarava, todo de olhos brilhantes e corado.

— Você é meio que uma piranha, Samarin. — Max chamou enquanto


Misha habilmente se movia ao redor dele para sair da sala. — Vou deixar
meus sapatos na porta só para você tropeçar neles.

— Você faria isso de qualquer maneira. — Misha chamou por cima do


ombro e depois se certificou de que não houvesse nenhum vestígio do sorriso
muito satisfeito e provavelmente estúpido em seu rosto quando ele ressurgiu
na sala de estar.

Ele não podia deixar seus jogadores pegá-lo sorrindo demais. Ele teve
que manter sua reputação de durão sem humor.

Ele encontrou Drake sentado no sofá, bebendo uma Coca-Cola e


mexendo no telefone. Huxley e Murphy estavam tentando explicar o futebol
para Jakob, que parecia bêbado. Misha fez uma anotação mental para

161
verificar seu suprimento de bebidas e também para encontrar uma carona
parao garoto para casa.

— Drake. — Disse Misha, colocando delicadamente a mão no ombro de


Drake para chamar sua atenção.

Drake imediatamente se afastou dele, mas ele relaxou um pouco quando


viu que era Misha.

— Sim, Treinador?

Misha acenou com a cabeça em direção à porta da frente.

— Eu gostaria de falar com você por um momento.

Drake se levantou graciosamente, seguiu Misha para fora e pegou um


capuz do gancho perto da porta.

Tudo o que Drake precisava era de um cigarro para completar a


aparência de “nada de bom adolescente”, embora Misha soubesse que ele
tinha pelo menos vinte e quatro anos. Drake encolheu-se no capuz, encostou-
se na parede e observou Misha com uma expressão cautelosa, dizendo que
esperava ouvir algo que preferia não ouvir.

— Falei com Belsey. — Disse Misha. Ele não era do tipo que media
palavras. — A menos que eu tenha uma razão específica pela qual esse homem
é perigoso, ele não fará nada.

Drake não reagiu como se estivesse surpreso, mas estava escuro demais
para ver se estava completamente desapontado por Misha não ter cumprido
sua palavra. Misha sentiu uma pontada no estômago quando pensou nisso.

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— Então você quer que eu te diga o porquê. É isso?

Parecia inócuo o suficiente, mas Misha ouviu a nota cautelosa


subjacente às palavras muito casuais de Drake e imediatamente decidiu o que
ele faria. Até aquele momento, ele não tinha certeza se iria pedir a Drake para
explicar ou não. Mas ver sua postura defensiva e a maneira como Drake
parecia não zangado, mas resignado à inevitável decepção mudou de ideia.
Ele não podia proteger Drake ou mantê-lo seguro, mas podia deixar Drake
guardar seus segredos.

— Segunda-feira você chegará mais cedo. Antes do treino. E passaremos


por alguns exercícios. Para o seu foco.

Drake se endireitou. Sua postura parecia mais confusa do que


defensiva.

— Espere. O que?

— Só posso fazer uma coisa para ajudá-lo. — Disse Misha. — E isso é


para mostrar maneiras de melhorar o foco. Então você pode prestar atenção
nas coisas que... — Mil palavras erradas, em inglês e russo, dançavam em sua
cabeça. — As coisas que você pode controlar. — Ele terminou com cuidado.

O silêncio se estendeu por tempo suficiente para que Misha se sentisse


desconfortável e se perguntasse se ele havia dito a coisa errada. Apesar de
toda a sua bravata, Drake lembrou a Misha um gato facilmente assustado à
espreita em um beco escuro.

— Você poderia me pedir para lhe contar. Eu gostaria.

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Misha lutou contra o desejo mais estranho de se inclinar e escovar
alguns dos cabelos muito compridos de Drake para fora de seus olhos. Em
parte porque o fazia parecer um punk, e em parte porque a defesa de Drake o
lembrava muito de si mesmo. E pela primeira vez pensar nisso não o deixou
envergonhado ou enjoado.

Mas foi por causa de seu passado que Misha sabia que não devia tocar
Drake, mesmo com carinho. Ao contrário de Max, que aceitava o afeto físico
com facilidade, mesmo quando não era sexual, Drake seria como o gato e o
gatinho. Depois de sibilar e morder Misha por ousar fazê-lo em primeiro
lugar.

Misha entendeu isso muito bem.

— Eu poderia. — Ele concordou. — Mas eu não vou. Se você não quer


minha ajuda, não precisa aceitá-la. Mas eu estou oferecendo.

Drake enfiou as mãos nas dobras do capuz e xingou baixinho.

— Não importa, Treinador. Sou uma merda e você pode me deixar lidar
com isso.

Frustrado, Misha passou a mão pelos cabelos e desejou que ele fosse
melhor em conversar com seus jogadores.

— Isso importa, e não, você não é uma merda. E lamento não poder
fazer o que prometi.

A cabeça de Drake se levantou.

— Não. Eu...Obrigado por tentar. É... É idiota. Eu deveria juntar tudo,

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como você disse. Eu quero. Eu amo esse time.

A conversa não estava indo como planejada a medida em que Misha


tinha um plano para a conversa.

— Drake. — Disse Misha, mantendo a voz cuidadosa e uniforme. — Não


é idiota, e não foi isso que eu disse. Tudo certo?

Em vez de responder, Drake chutou o calcanhar contra a parede e olhou


para o espaço. Como se estivesse procurando algo na escuridão.

— Se eu te dissesse o que era, contaria a Belsey?

— Não. E essa discussão acabou. Antes do treino, segunda-feira de


manhã. Duas horas mais cedo. E Drake?

— Sim, Treinador?

— Você precisa de um corte de cabelo. Pegue um. — Misha acenou com


a cabeça em direção à porta da frente. — Vamos entrar.

Quando Max saiu para levar os pais de volta ao hotel, Misha se serviu de
um copo de vodka e sentou-se em sua sala de estar maravilhosa, bonita e
pacificamente tranquila, e pensou no dia em que passara. Às vezes era um
pouco estressante e envolvia muitas conversas sobre sentimentos, mas no
geral... Ele gostou.

Ele ficou triste ao contemplar quanto tempo passara nos EUA, cercado
por pessoas que poderiam ter sido amigas se ele parasse de pensar que não
merecia. Mesmo antes do acidente de Max, Misha sempre pensava que era
melhor para todos se ele se mantivesse em segredo. Mas ele estava

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começando a pensar que estava errado. Ele estava começando a pensar que
estava errado sobre muitas coisas.

Max entrou na porta lateral perto da garagem, fazendo o máximo de


barulho possível. Misha sorriu em seu copo de vodka.

— Bem, meus pais basicamente te amam. — Disse Max quando ele


apareceu na porta. Ele parecia revigorado do frio como era. Seus olhos verdes
eram brilhantes e seu cabelo escuro era descuidadamente bagunçado e tão
carente de um corte de cabelo quanto o de Drake. — O que eu te disse que eles
iriam. Eles ficavam me dizendo como estavam felizes por sermos amigos. O
sorriso de Max era contagioso. — Minha mãe me disse para agradecer
adequadamente pelo uso da sua casa.

Misha se desenrolou do sofá e foi até onde Max estava encostado


casualmente contra a porta, dando-lhe um olhar foda-me, se é que havia
algum.

— Eu acho que foi uma boa ideia. — Disse Misha e se inclinou para
prendê-lo.

— Eu pensei que você iria gostar disso. — Max o arrastou para frente
com uma mão na camisa de Misha. — Eu provavelmente ainda te devo um
boquete ou dois.

— Dois? Sua matemática é tão boa quanto sua geografia. Tente vinte e
dois. Isso parece certo. — Ele colocou a boca perto da orelha de Max e disse:
— Eu tenho uma ideia melhor.

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— Espere. É sério? — Max o empurrou um pouco para trás, mas Misha
colocou a boca no pescoço do jeito que ele gostava, e Max mudou de ideia e o
puxou de volta. Ele inclinou a cabeça para dar a Misha mais espaço. — Há
uma ideia melhor do que boquetes? O que é isso?

— Você está gemendo e chamando por mim enquanto eu te fodo.

Houve uma pausa no coração e, em seguida, Max expirou:

— Jesus Cristo, Misha. Finalmente.

Misha colocou o rosto no pescoço de Max e deu uma risada triste. Pelo
menos ele sabia com certeza que Max queria, dado que ele envolveu todos os
seus membros em volta de Misha como se ele fosse escalá-lo.

— Aqui?

Misha se afastou e deu-lhe um olhar estranho.

— O quarto, pensei. Sim?

— Eu estou bem em qualquer lugar. — Disse Max. Então ele o beijou e


começou a se afastar da parede.

Misha virou os dois e foi em direção ao quarto, andando para trás e


permitindo que Max os empurrasse para onde eles precisavam ir.

Fazia um tempo desde que Misha transou com alguém, mas Max estava
muito ansioso e não lhe deu tempo para se preocupar com isso. Ele estava em
cima de Misha quando estavam na cama, beijando-o e puxando com
impaciência as roupas dele ao mesmo tempo. Misha manteve Max de costas,
porque ele queria poder ver seu rosto quando o fodesse. Misha o chupou até o

167
ponto em que Max prometeu coisas impossíveis como: “se apresse e continue
com isso, caramba, Misha”. Então ele demorou preparando Max com os
dedoso suficiente para que Max tentasse chutá-lo e puxar o cabelo em meio a
todos os gemidos.

Misha finalmente se moveu entre as pernas. A camisinha estava


escorregadia de lubrificante e seu sangue batia nos ouvidos. Ele tentou não
gozar apenas pelo olhar que Max deu a ele. De olhos arregalados e corados,
Max ofegou e agarrou os ombros de Misha como se estivesse se ancorando.
Apesar de todas as exigências imundas e os gemidos lascivos, Max ficou tenso
quando Misha pressionou contra ele, e Misha parou imediatamente, sentindo
a tensão.

— Não diga nada. Quero isso. É só que... Isso é diferente. — Max


informou, sem fôlego. — Me distrair.

— Te distrair? — Misha gemeu e encostou a testa na de Max. — Vou


adicionar uma conversa de quarto à lista com geografia e matemática.

— Oh, como se você fosse de alguma forma melhor nisso? Vou te dar
geografia, mas nunca vi você fazer tanta matemática, e me dizer o quão ruim
eu sou na cama não está provando que você é melhor em sexo que eu.

Conversa de sexo. Misha deu uma risada estrangulada, apesar de seu


corpo tremer e de como ele estava desesperado por se empurrar para dentro
de Max.

— Você não é ruim na cama. Apenas conversando quando você está lá.

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— Isso é tão romântico. — Disse Max. Ele colocou a mão no pescoço de
Misha. — Como isso é ruim? Eu posso dizer o quanto você quer me foder, e é
quente como o inferno. E eu quero, mas não é minha culpa que você
sejagrande como um cavalo. Então me distraia da primeira parte para que
possamos chegar à onde você me fode no colchão e eu gemo como uma estrela
pornô. Como é isso? Melhor?

— Eu diria que talvez um B menos. — Disse Misha. Ele o mordeu


gentilmente no ombro e reprimiu uma risada quando Max puxou o cabelo
novamente. Mas ele sabia o que fazer, então ele mudou para o russo e disse a
Max o quanto queria transar com ele e como seria bom estar dentro dele. Ele
também pegou a mão de Max e a carregou para baixo, pedindo que Max se
acariciasse enquanto mais uma vez empurrava lentamente seu pau contra o
ânus dele.

Max fez um barulho apreciativo e Misha o sentiu estremecer embaixo


dele. Suas pernas se abriram um pouco mais para que Misha pudesse
empurrar dentro dele. Provavelmente foi o melhor que Misha estava tão
sintonizado com Max, porque se ele se concentrasse em como era bom, em
como Max era apertado, ele gozaria antes de chegar a meio caminho de Max.
Não importa a parte em que ele o fodeu com força, como prometeu.

Ele começou devagar e parou de falar para poder beijar Max. Ele podia
sentir as juntas de Max contra seu estômago enquanto Max acariciava
lentamente seu pênis, e quando ele finalmente estava lá dentro, Max levantou
uma mão e disse, com uma voz que foi para o inferno e para trás:

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— Batida de punho, treinador.

Misha deu uma risada sufocada e bateu com o punho. O sorriso de Max
era brilhante e selvagem, e Misha o fodeulentamente a princípio. Ele sabia
quando foi de um pouco desconfortável para outra coisa quando Max
começou a gemer como uma estrela pornô.

Misha se ajoelhou, segurou os tornozelos de Max em suas mãos e


observou com desespero fascínio enquanto Max se desmanchava sob ele. Ele
era desavergonhado em seu prazer e segurou a roupa de cama embaixo dele.
Misha se inclinou para frente para que ele pudesse descansar os tornozelos de
Max em seus ombros e segurar seu pênis enquanto o fodia. Demorou apenas
alguns segundos antes que Max gozasse sobre o seu estômago, seus músculos
se apertando e se apertando com tanta força ao redor do pênis de Misha que
ele quase viu estrelas. Ele fodeu Max com força através de seu orgasmo e
finalmente caiu para a frente, completamente sem graça enquanto batia com
força no corpo de Max. Ele estava totalmente em cima dele, e a pele suada de
Max deslizou contra a dele. Ele disse alguma coisa em russo de novo e de
novo, mas não foi de propósito e nem tinha certeza do que era.

Max o abraçou e murmurou algo que era igualmente sem sentido,


apenas em inglês. Misha não conseguia ouvir através do rugido em seus
ouvidos. Mas os braços de Max ao redor dele pareciam tão bons quanto seu
corpo apertado ao redor do pênis de Misha, e não demorou muito para que
Misha chegasse com um último impulso forte e um gemido abafado contra o
pescoço de Max.

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Se o sexo já foi tão bom, Misha não conseguia se lembrar. Ele
gentilmente se afastou e beijou Max o melhor que pôde, considerando que ele
ainda estava lutando por respirar. Ele ficou momentaneamente dominado
pela emoção enquanto olhava para ele.

Max olhou para trás, parecendo tão aberto e vulnerável quanto Misha se
sentia, e por um momento os dois ficaram quietos.

Pela primeira vez Misha falou primeiro.

— De nada.

A expressão de Max se iluminou em um sorriso, e ele deu um soco


fracamente no ombro de Misha.

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Capítulo 11

Os Spitfires jogavam bem, pois o calendário avançava em direção ao


Natal, e o que quer que Misha estivesse fazendo com Drake para essas
práticas extras estava claramente dando resultado. Drake estava focado na
rede e, embora ele não fosse o seu eu de sempre, parecia estar pelo menos no
topo das coisas. Não havia mais encontros no estacionamento com homens
obscuros ou pelo menos nenhum que Max estivesse lá para testemunhar.

Belsey passou a maior parte do início de dezembro em férias em Cabo


San Lucas com Anna, a estagiária de marketing. De acordo com Kim, a
coordenadora de marketing real, Anna não parecia vender muito de nada
além de sua bunda em saias apertadas. Mas Kim disse que era o melhor, já
que Anna mantinha Belsey muito ocupado para interferir em suas tentativas
de comercializar os Spitfires de uma maneira que não envolvesse ferimentos
ou brigas de banco.

Max supôs que Belsey também estaria ocupado demais fazendo sexo
com a estagiária em Cabo para se preocupar muito com os Spitfires, mas isso
não era verdade. Uma das coisas irritantes sobre Belsey era que ele não era
um gerente geral isolado. Ele gostava de fazer check-in e ver como as coisas
estavam indo. Ele simplesmente não achava que precisava ficar no mesmo
país ou respeitar coisas como fusos horários internacionais para fazê-lo.

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Max se preocupou em deixar Misha para o Natal, mas prometeu ir à
casa de seu irmão Scott em St. Paul e teve que deixar em casa seu namorado
russo, medroso. Ele sabia que Misha teria sido mais que bem-vindo se juntar
a eles, considerando o quanto os pais dele gostavam dele. Mas Max não tinha
ideia de como trazer isso à tona ou se deveria contar à sua família sobre Misha
antes de arrastá-lo para as reuniões de férias. Porque se ele fizesse isso e
quando ele fizesse não queria que houvesse nenhuma dúvida de que eles
estavam juntos.

O irmão de Max, Scott, tinha quatro anos a mais que Max. Enquanto
Max saiua mãe e era alto, atlético e um tanto academicamente desafiador,
Scott era mais parecido com o pai. Ele tinha uma estrutura mais baixa e mais
forte e um talento para matemática e ciências. Scott foi um sétimo professor
de matemática de grau, e sem ele Max provavelmente não teria passado de
matemática quando ele estava na sétima série.

A esposa de Scott, Vanessa, era uma mulher calorosa e amigável, com


um sorriso radiante que sempre parecia estar grávida. Max tinha dois
sobrinhos, uma sobrinha e como ficou sabendo logo depois de pousar a
bagagem outro a caminho. Droga. Ele deveria ter trazido Misha depois de
tudo. Ele poderia apenas ter escondido seu anúncio com Scott e Van.

Vanessa e Suzanne Ashford estavam próximas desde o primeiro


momento em que se conheceram. Enquanto Max observava as duas rindo na
cozinha, ele se perguntou novamente se sua mãe havia gostado de Emma.

Ela tinha sido perfeitamente legal com Emma. Mas Max não conseguia

173
se lembrar de encontrar as duas rindo ou curtindo a companhia uma do
outra. E ele não tinha certeza de ter visto Emma falar tanto com Vanessa
também. Scott estava casado com Vanessa há quase dez anos e, de certa
forma, Max a conhecia muito melhor do que ele conhecera sua própria noiva.

Os adultos sentaram-se em volta e beberam gemada com Bourbon e


observaram as crianças abrirem alguns presentes precoces enquanto
conversavam com a vida uma da outra. Max jogou sua sobrinha e sobrinhos
por cima dos ombros, prometeu jogar videogame com Sam e Owen e olhou
orgulhosamente para as medalhas de Schyler para patinação artística. Ela era
tão atlética quanto seu tio Max e avó Suzanne, tão inteligente quanto seu pai e
seu avô e tão iminentemente agradável quanto sua mãe. Seus pais já estavam
convencidos de que Schyler seria presidente ou líder de um culto.

Quando as crianças se distraíram com os presentes e se empolgaram


com biscoitos de açúcar, Max se viu observando sua família e se perguntando
como Misha se encaixaria se ele estivesse lá. Ele viraria as crianças? Talvez
não. Ele era tão alto que poderia acidentalmente jogá-los no ventilador de
teto. O que ele diria ao pequeno Schyler? Ele comeria biscoitos de açúcar e
beberia gemada? Eles tinham isso na Rússia? Ele teria que perguntar. Mas
estava claro que ele sentiria falta de Misha ainda mais do que ele pensava, e
não apenas por razões sexuais.

Ele sentia falta da confiança silenciosa de Misha e de como ele sempre


sabia a resposta para qualquer tipo de pergunta trivial que Max poderia ter
para ele. Como eles deitaram na cama e leram depois de fazer sexo quente

174
escaldante. Como Misha ficava em seus óculos.

Max checava o telefone de vez em quando para ver se tinha alguma


mensagem. Ele duvidava que Misha o enviasse um, porque ele parecia
vagamente confuso com a tecnologia e levou seis horas para enviar uma
mensagem de textoe Max sabia que Misha não iria querer incomodá-lo.

Max não tinha esse recurso e era muito mais rápido em enviar
mensagens de texto porque não usava apenas o dedo indicador.

Você gosta de gemada?

Eu nunca tive nenhuma.

As mensagens de texto de Misha eram sempre frases completas,


incluíam pontuação e ortografia adequadas e nunca utilizavam emoji. Talvez
seja isso que sempre o levasse tanto tempo.

Quer? Vou te levar um pouco :)

— Max? Tem uma namorada que você não está nos contando?

Max olhou para cima e corou calorosamente ao ouvir a voz provocadora


de seu irmão. Scott sorriu para ele. Ele estava sentado no sofá, esfregando a
mão na barriga de Vanessa. Ela não parecia grávida a Max, mas ele sabia que
nunca deveria dizer isso a uma mulher. Ele nem mencionou a forma de
Vanessa quando ela estava com nove meses e grávida dos gêmeos. Ele pode
não ser o biscoito mais inteligente da caixa, mas sua mãe não criou um tolo.

— Você está sorrindo como um idiota no seu telefone. — Esclareceu


Scott.

175
— Você faz isso quando joga Tetris. — Apontou a esposa.

— Somente quando eu venço. — Disse Scott e se inclinou para beijá-la.


Então ele voltou seu olhar divertido para Max. — Fora com isso, maninho.
Quem é a sortuda?

— Eu não estava mandando mensagens para uma garota. — Disse Max,


apenas meio consciente do que estava dizendo. Principalmente, ele estava
tentando não morrer de vergonha por ser pego enviando mensagens de texto
com um sorriso bobo no rosto. Quantas vezes ele fez isso? Ele mandou uma
mensagem para Misha muito. Sempre foi acompanhado por um rosto que
parecia estupidamente apaixonado?

Oh Deus. Amor. Ele estava apaixonado. Por Misha. E provavelmente


demorou mais tempo do que ele percebeu. E parou, levantando a xícara e
tomando um gole da gemada.

— Ok. Então quem é o garoto de sorte? — Scott disse sem perder o


ritmo.

Max engasgou com sua gemada, o que não era uma experiência que ele
sempre quisesse repetir. Não era tão bom quando você tentava beber
normalmente.

— O que?

— Tudo bem se o tio Max gosta de garotos. — Schyler falou, aparecendo


ao lado de Max. — Às vezes, meninos gostam de outros meninos e meninas
gostam de outras meninas. Como melhores amigas, mas com beijos. — Ela

176
assentiu. — E tudo bem, porque você ainda pode se casar, ter uma casa e
comprar mantimentos. A Suprema Corte disse isso. — Ela fez a declaração e
depois olhou em volta para o caso de alguém ousar discordar.

O rosto de Max era da cor aproximada do vermelho no logotipo dos


Spitfires.

— Um... Eu estava apenas mandando uma mensagem para Misha.

— Oh. Como está Misha? — Sua mãe perguntou, sorrindo. — Foi muito
gentil da parte dele emprestar sua cozinha. Que homem legal ele é.

— Ele é seu melhor amigo, tio Max? — Schyler perguntou, subindo no


sofá ao lado dele.

Max sorriu e bagunçou os cabelos da sobrinha. Melhor amigo foi fácil.


Ele definitivamente poderia lidar com isso.

— Sim.

— Você o beija?

Isso, por outro lado….

— Schyler. — Vanessa disse, seu tom gentilmente repreensivo. — Nós


não perguntamos às pessoas quem eles beijam. Lembrar? — Ela deu a Max
um olhar de desculpas. — Ela está aprendendo sobre famílias. É ótimo porque
ela está absolutamente bem com a ideia de relacionamentos alternativos, mas
ela gosta de ter tudo bem arrumado e organizado, então ela faz um milhão de
perguntas. — Vanessa deu um tapinha no joelho do marido. — Eu me
pergunto de onde ela tira isso.

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— Desculpe, tio Max. — Disse Schyler. Ela se aconchegou ao lado dele e
deu-lhe um tapinha no braço, imitando a mãe. — Mas se ele é seu melhor
amigo, talvez você deva beijá-lo. Meu amigo Evan tem dois pais. Eu acho que
eles provavelmente também são amigos. E eu sei que eles se beijam às vezes
porque Evan me disse isso.

— Schyler. — Disse Scott, mas ele estava fazendo o que os adultos fazem
quando estão tentando não rir de algo e parecer severos. — Talvezdeva pegar
o livro que você queria mostrar ao tio Max. Aquele sobre hóquei?

— Oh. — Schyler deu um salto e bateu a mão na cabeça como um


personagem de televisão. — Não vá a lugar algum, tio Max. — Ela fez uma
pausa. — Eu não vou fazer mais perguntas sobre beijos, se eu puder lhe
mostrar o livro.

Max teria aceitado esse acordo, mesmo que o livro fosse sobre geografia,
em vez de hóquei.

— Claro, amendoim.

Ela sorriu para o apelido, depois correu para pegar seu livro.

— O mostrar para ela, quer dizer que você lerá para ela. — Alertou Scott.
— Eu te disse. Ela vai ser uma líder de culto. Mas, felizmente, será apenas o
tipo de culto que envolve livros de histórias e doces.

— Eu posso lidar com isso. — Max riu. Sua sobrinha voltou e se


estabeleceu ao lado dele com uma cópia do The Magic Hockey Stick, que era
realmente muito fofo. Mas ele aproveitou o fato de que ela ainda não

178
conseguia ler, pegou o telefone e enviou a Misha uma mensagem de texto
dizendo “sinto sua falta”.

Porque ele fez. Mas Deus, isso foi extravagante. Ele deveria ter feito
isso? Só porque ele percebeu repentinamente que estava apaixonado por
Misha não significa que era legal enviar mensagens de texto idiotas.

Max leu para a sobrinha porque ela queria saber o que dizia a
mensagem de texto dele e ele teve que distraí-la lendo alguma coisa. Mas ele
relaxou quando sentiu o telefone tocar no bolso. Ele esperou até Schyler se
distrair com abraços e beijos na hora de dormir e depois verificou o que
Misha disse. Pareceu uma eternidade. Ele se sentiu um idiota.

A mensagem de retorno de Misha estava em russo, então Max teve que


copiar e traduzi-lo com o aplicativo que ele colocara no telefone.
Aparentemente, foi“eu também de você”, o que o fez perceber com absoluta
certeza que ele provavelmente teria que conversar com seus pais sobre Misha
durante sua visita. Porque no próximo ano Max queria que ele estivesse lá
alto, desajeitado, provavelmente ansioso e forçado a beber gemada, mesmo
que não gostasse. E ele teria que ler um livro para a sobrinha de Max, que
provavelmente o escalaria como uma árvore.

Bem. Não era como se Max pudesse culpar alguém por isso,
considerando com que frequência ele fazia isso.

As crianças foram para a cama e Max ajudou a mãe a se limpar na


cozinha quando ela enxotou Vanessa com um aceno e uma repreensão severa
para dormir um pouco. Suzanne a beijou na bochecha e a observou sair da

179
cozinha com um sorriso afetuoso.

— Você gosta dela, hein. — Disse Max, carregando algumas xícaras para
a pia. Alguns ainda estavam carregados de gemada. Por que eles se
incomodaram com isso? Eles deveriam apenas beber o Bourbon e pular o...
Qualquer que fosse a gemada.

— É claro. — Disse Suzanne, estendendo a mão para pegar as xícaras de


Max. — Não podemos colocá-los na máquina de lavar louça. Eles são
porcelana.

— Por que as pessoas têm xícaras que você não pode lavar? — Max
perguntou, entregando uma e pegando uma toalha para a secagem que ele
sabia que faria em breve.

— Você pode lavá-los, filho. Você só precisa fazê-las manualmente.—


Disse a mãe, balançando a cabeça. — Eu me preocupo com você. — Seu tom
de provocação dizia que ela estava brincando, mas Max ficou em silêncio
enquanto trabalhavam em um silêncio agradável.

— Você gostava da Emma?

Ficou claro que ele a surpreendeu com a pergunta.

— O que faz você perguntar?

Olhou pela janela o brilho da lua da neve que ainda caía, da qual ele
absolutamente não sentia falta nem um pouco da vida na Carolina do Sul.
Ainda assim, era bom que ele não tivesse trazido o jipe.

— Você nunca…. Do jeito que você está com Vanessa. Você não era

180
assim com Emma.

— Bem, Scott está casado com Vanessa há dez anos. — Disse sua mãe,
sem olhar para ele. Ela estava esfregando muito atentamente a xícara de
porcelana, mais do que provavelmente precisava. — Eu realmente não
conheci Emma muito bem.

— Está tudo bem se você não gostava dela, mãe.

Suzanne entregou-lhe uma xícara e depois estudou o filho com olhos


sérios.

— Eu não a detestava, Max. Como eu disse, eu mal a conhecia. Ela não


era uma garota fácil de conhecer.

Isso era verdade. Max lembrou-se da última conversa e do jeito que ela
se sentou tão perfeitamente na cadeira, vestida tão bem ás nove horas da
manhã, enquanto terminava o noivado com calma.

— Sinto muito, Max. Só que cada um de nós trouxe certas expectativas


para esse relacionamento, e se você não pode manter as suas, não pode
esperar que eu mantenha as minhas. — Era assustadoramente semelhante ao
que seu agente disse quando ele rescindiu o contrato de Max.

— Vanessa é... Bem, ela é a combinação perfeita para o seu irmão. Ela o
impede de ser muito sério. Ela o adora e seus filhos...

— Você não acha que Emma me adorava? — Max perguntou. Mas ele
realmente precisava saber? Alguém que o adorou não tratou seu
relacionamento como um negócio.

181
— Eu acho que Emma... Oh, inferno. — Ela murmurou e virou com o
queixo erguido para encarar Max com tanta atitude quanto Isaac Drake. —
Não, Max. Não gostei dela e acho que ela não o adorava da maneira que
alguém deveria te adorar. Acho que ela adorava a vida que esperava que você
desse a ela.

Max desejou que ela tivesse dito algo, mas ele não mencionou isso.
Estava tudo acabado e, de qualquer maneira, o que ele teria dito se ela
tentasse?

— Está bem. Quero dizer, eu percebi que não estava tão triste quanto
deveria quando ela terminou as coisas. Isso provavelmente significa que não
tínhamos o que Scott e Vanessa tem. Ou o que você e papai também.

— Sinto muito, Max. — Disse sua mãe, colocando a mão em seu braço.
— Eu queria adorá-la como faço com Vanessa, mas isso nunca aconteceu. Me
desculpe se isso aconteceu. Eu sempre esperei que, com o tempo, chegasse a
ver o que quer que fosse que a fizesse amá-la, mas quando acabou entre vocês
dois... Admito que fiquei aliviada. — Ela mordeu o lábio. — Isso é horrível?
Você vai se inscrever na terapia e falar sobre como eu sou horrível?

Max colocou um braço em volta dos ombros e a puxou para um breve


abraço. Ela cheirava a calor, felicidade e lar e meio que Bourbon.

— Não. Quero dizer, você não acha que se eu realmente a amasse, eu


teria sentido mais a falta dela do que? Eu estava bravo com ela por ter
decolado, mas acho que nem estava tão surpreso assim. Na maioria das vezes
eu apenas senti falta de... — Max vacilou, sem saber o que dizer.

182
— Você perdeu um pouco? — A mãe dele ergueu as sobrancelhas e
depois bufou. — Você não tem quinze anos. Podemos admitir que você faz
sexo, Max. Você acha que seu pai e eu encontramos você e seu irmão em
repolhos?

— Não. Mas eu não... Não foi isso que eu quis dizer. — Ele murmurou. —
Eu sentia falta de ter alguém por perto. Sabe? Alguém para conversar. Eu
odiei vender aquela casa porque era muito foda, mas eu realmente não queria
morar lá sozinho. — Bem, isso parecia patético.

A mãe dele não parecia pensar assim.

— Você sempre foi um pouco parecido comigo assim. Extrovertido.


Essa foi uma das razões pelas quais você sempre foi um bom companheiro de
equipe e, imagino, por que seus jogadores gostam tanto de você. Você faz as
pessoas felizes. — Ela sorriu. — E as pessoas te fazem feliz. E você sempre vê
o melhor de todos, é por isso que eu sempre pensei o que você amava Emma,
talvez eu acabasse vendo a verdade.

Max corou, embora tenha sido bom ouvir isso. Seus pais sempre foram
generosos com elogios sem exagerar e críticos sem serem severos. Era um
equilíbrio difícil, mas ele esperava ter conseguido lidar com sua própria
equipe.

— Obrigado, mãe. — Ele aprendeu muito mais sobre relacionamentos


com seus pais do que imaginava e não apenas sobre relacionamentos
românticos.

183
— De nada. — Ela olhou para ele. — E eu sei que há uma razão para
você mencionar isso. O que é isso?

O coração de Max bateu forte. Ele colocou a xícara sobre o balcão e a


agarrou com as duas mãos, respirando com dificuldade.

— Eu acho...Não, eu sei. Eu estou apaixonado por alguém. De verdade


desta vez. Como você e papai, ou Scott e Vanessa.

Ela sorriu para ele, com os olhos enevoados e pressionou a mão no


coração.

— Oh querido. É Misha?

Max piscou para ela, atordoado.

— Hum...

— Max. — Ela riu um pouco e estendeu a mão para abraçá-lo. — Você


pode não saber disso, mas não conseguia parar de olhar para ele. O tempo
todo que estivemos lá no Dia de Ação de Graças. Ele entrava na sala e seu
rosto se iluminava.

Oh, Jesus Cristo. O rosto de Max não estava tão iluminado quanto
pegando fogo. Ele engoliuem seco.

— Isso é... Está tudo bem?

— Não vou mentir e dizer que não é uma surpresa, mas é claro que está
tudo bem. — Ela se afastou um pouco. Os sentimentos de Schyler são os
mesmos que os meus, querido. Não há nada melhor do que acordar todas as
manhãs e beijar seu melhor amigo.

184
Os olhos de Max ardiam, e ele estava feliz de uma maneira muito
simples por seus pais e pelo que eles tinham juntos e por sua mãe incrível,
que não o expulsava por admitir que estava apaixonado por um homem.
Mesmo que ele não tivesse dito isso ao homem em questão ainda.

— No começo eu estava feliz que você era amigo dele, porque aquele
pobre garoto. Ele parece tão triste, e você pode dizer que isso o consome, o
que aconteceu.

A única coisa que salvou Max de afundar no chão com pura vergonha foi
imaginar o rosto de Misha se ele ouvisse isso.

— Mãe, ele tem quarenta anos. Não é um garoto.

— Bem. — A mãe dele acenou com a mão. — É tudo relativo. Eu não


quero que você se preocupe. Nós gostamos de Misha. E isso é... Diferente.
Mas eu vou me acostumar. Ela sorriu e depois piscou. — E eu acho que você
realmente gosta de loiros.

— Mamãe!

Ela deu um tapinha no ombro dele.

— Eu sei. Eu sou terrível. E antes que você pergunte…. Não. Não estou
dizendo ao seu pai ou seu irmão sobre isso. Isso é com você, quando quiser
que eles saibam.

Max não acreditou nisso por um segundo ou pelo menos sobre ela não
contar ao pai, mas deu um abraço em sua mãe e saiu correndo da cozinha com
um murmúrio de boa noite. Ele estava no quarto de Schyler, e ela estava

185
dormindo com os irmãos, para desgosto deles, para que Max pudesse dormir
lá. Era uma cama de solteiro, do tamanho de uma menina de quatro anos,
mas era melhor do que o velho sofá no andar de baixo, no porão meio
acabado. Ou assim seu irmão afirmou.

Max vestiu uma calça de pijama e uma camiseta, escovou os dentes no


banheiro e voltou para o quarto de sua sobrinha. Como quase todas as
garotinhas da América, Schyler era obcecado por Frozen e Meu pequeno
pony, mas ela também tinha algumas Tartarugas Ninjas Adolescentes e
alguns Transformes espalhadose felizmente, o desenho antigo, não a versão
de Michael Bay. Em uma prateleira, estava uma pequena versão do mascote
inexplicável de Habs, Youppi12. Max suspirou. Ele deveria encontrar algo para
a sobrinha com o logotipo dos Spitfires e enviá-lo para ela. Ele também
pensou em comprar um Youppide pelúcia para Misha no Natal, e ele riu alto.

Falando em Misha, já que Max tinha alguma privacidade, ele se sentou


na cama, navegou até o número de Misha em seu telefone e pressionou
chamar.

— Max. — Misha respondeu. Sua voz baixa e quente deixou Max meio
duro e meio que culpado, considerando que ele estava olhando para um
pôster de um boneco de neve animado.

12
Youppi! é o mascote oficial do Montreal Canadiens e antigo mascote de longa data da Montreal Expos. Youppi! usa um ponto de
exclamação como número da camisa.

186
— Oi. — Disse Max, recostando-se na cama. Seus pés caíram no final.
Por muito. — Então você nunca teve gemada, hein?

— Não. Eu devo?

— Não. É bem nojento. Só o temos no Natal, e deveríamos nos ater ao


Bourbon. Como você está? — Houve uma pausa tão longa que Max finalmente
teve que dizer: — Que bom, hein?

— Eu estou...Eu não sei o que dizer.

Max bufou e se mexeu. Ele desejou que sua sobrinha tivesse alguns
travesseiros que não fosse de renda com babados.

— O que você estaria dizendo se estivesse aqui?

— Para desligar o telefone.

Max deu um latido agudo de risada e olhou em volta, culpado, com o


quão alto era.

— Eu estou dormindo na cama menor de todos os tempos. ë sério. Se


você estivesse aqui, não haveria como você se encaixar. Teríamos que
acampar no chão. E eu não sei quais são seus sentimentos sobre o filme
Frozen, mas se isso o ofende, então você definitivamente não gostaria de estar
nestequarto.

— Por que isso me ofenderia?

— Não se passa na Rússia? — Max perguntou. — Eu pensei que era


porque estava tudo frio e com neve. E você sabe. Congelados.

187
— Max. — Disse Misha. — Eu acho que você teve muito desse gemada.
Por que você está dormindo em uma cama pequena?

— É o quarto da minha sobrinha. Ela tem quatro anos. Ela me disse hoje
à noite que está tudo bem se eu quiser beijar meu melhor amigo, a propósito.
Então você deveria estar feliz com isso.

Houve outra longa pausa.

— Eu sou seu melhor amigo?

Max tentou enfiar os dedos dos pés sob o cobertor rosa dobrado e fofo
no final da cama de Schyler.

— Não. Eu quis dizer Belsey. Claro que é você. Duh. Você deveria ter
vindo comigo, sério. Você provavelmente é mais fácil dormir do que esta
cama.

Pensar em estar em cima de Misha deu a Max uma ideia, mas ele
decidiu que uma mudança de local seria necessária se ele prosseguisse. De
jeito nenhum ele estava fazendo sexo por telefone no quarto de uma menina
de quatro anos. Ai credo.

Max nunca tinha feito sexo por telefone em sua vida, então adicionar
uma configuração completamente inadequada acabaria matando o clima.
Então, ele contou a Misha uma história sobre uma fila muito longa no
aeroporto enquanto descia as escadas pela sala escura e descia até o nível
mais baixo da casa. A parte semiacabada funcionava como uma sala de jogos e
ele se lembrava vagamente do sofá e da velha televisão de console de sua

188
infância.

Estava escuro, silencioso e muito frio, então Max subiu no sofá e puxou
um afegão antigo por cima dos ombros e se sentou no sofá. Era apenas um
pouco mais longo que a cama da sobrinha, mas pelo menos não havia
travesseiros de pônei rosa ou bonecos de neve antropomorfizados olhando
para ele.

— Ei, Misha?

— Sim, Max?

Max abriu a boca, brincou com o afegão e percebeu que não tinha ideia
de como iniciar o sexo por telefone.

— O que você está vestindo?

— Por quê?

Ok. Essa foi uma abertura estúpida. Ele deveria apenas ir em frente. Era
Misha, pelo amor de Deus. Ele poderia fazer isso.

— Eu gostaria de poder chupar você. — Max disse apressadamente, mas


com um olhar furtivo ao redor da sala, como se estivesse preocupado em ser
pego. Ele também tinha a mão cobrindo a boca e o telefone, então parecia
muito mais sinistro do que ele pretendia.

— Ah, o que foi isso?

Max puxou o afegão por cima da cabeça. Estava coberto de buracos,


então não ajuda muito. Talvez ele devesse ter usado mensagens de texto, mas

189
seria na manhã de Natal antes que terminassem se ele tivesse que esperar
pelas respostas de Misha.

— Eu disse. — Ele murmurou, tentando parecer sexy.— Eu gostaria de


poder te chupar.

Isso pelo menos impediu Misha de rir dele.

— Hum. Isso seria legal.

Essa foi a brilhante salva de abertura de Max, e ele teve que conter uma
risada.

— Eu não sou muito bom nessa coisa de sexo por telefone. — Max
enfiou a mão por baixo da calça do pijama para se tocar, mas sua mão estava
congelando, e de jeito nenhum isso chegaria perto de seu pênis. Ele
finalmente o levou à boca e soprou suavemente na pele para aquecê-lo.

— Eu não acho que soprar no meu ouvido assim é o mesmo que um


boquete. — Disse Misha.

Max bufou e finalmente colocou a mão no pijama novamente.

— Eu estava esquentando minha mão, muito obrigado. Está tão frio aqui
em baixo que pode estar nevando.

— Você está certo, Max. Você não é muito bom nisso. — Disse Misha,
mas ele parecia tão divertido que Max quase o viu sorrindo. Aquele sorriso
raro dele, aquele que fazia as rugas dos olhos dele.

— Você poderia ajudar, você sabe. — Max bufou, dando um longo golpe
em seu pau. Era bom, mas também ridículo, como se ele estivesse fazendo

190
isso... Bem, no porão durante as férias de Natal com sua família dormindo no
andar de cima.

Misha disse algo em russo. Max não sabia o que era, mas ouvir Misha
falando russo tão perto de sua orelha o aqueceu mais do que o cobertor
estúpido com os buracos ou a mão ainda fria.

— Sim? — Disse Max, respirando um pouco mais pesado, apesar de não


ter ideia do que Misha estava realmente dizendo. — Diga-me... Ah. Mais sobre
isso.

— Este é o fetiche mais estranho. — Disse Misha em inglês.

Max, que estava ficando agradável e quente, parou de acariciar seu pau
e fez uma careta.

— Não é. Não é. Aposto que poderia encontrar os mais estranhos. Na


verdade, vá verificar seu histórico de navegação na Internet, porque eu
provavelmente tenho. A propósito, não estou me desculpando por procurar
pornografia em sua casa. Sua conexão com a Internet é muito mais rápida que
a minha.

Misha voltou ao russo, e Max ofegou um pouco mais alto e esfregou o


polegar sobre a cabeça de seu pau.

— Eu quero que você me foda de novo. Quando eu chegar em casa.


Quero muito. Quero que você me incline sobre o sofá. Ou na sua mesa. Porra.

Ele ouviu a respiração suave de Misha quando as palavras


desconhecidas pararam.

191
— Sim.

Felizmente, depois que ele se acostumou com a ideia, as habilidades de


sexo por telefone de Max parecia estar melhorando.

— Diga-me que você quer me foder.

A voz de Misha era quase um rosnado.

— Eu quero te foder.

— Duro?

Misha respondeu, mas não em inglês.

— Sim. — Max respirou baixinho e seus olhos se fecharam. — Você...


Me faz gozar aqui. Pensando nisso. Sobre mim e me fodendo com força. —
Seu desempenho estava definitivamente melhorando. Especialmente se o
barulho que Misha fez do outro lado do telefone fosse alguma indicação. — E
me diga... O que você quer fazer comigo?

Misha disse a ele, e enquanto Max não conseguia entender uma palavra
maldita, isso não o impediu de ter que puxar a camisa apressadamente sobre
a cabeça para que ele pudesse evitar fazer uma bagunça no sofá quando ele
gozasse. Felizmente, ele estava corado e úmido de suor, porque tudo o que
estava vestindo era um par de calças de pijama enfiadas nos quadris e um
cobertor de cordas mal conectadas.

— Você gostou disso? — A voz de Misha era pesada e tão acentuada que
demorou um minuto no cérebro de Max para perceber que as palavras eram
inglesas. E que eles formaram uma pergunta que ele deveria responder.

192
— Oh sim. — Max fez uma careta. — Você gozou? — De repente, ele se
sentiu mal. — Eu posso dizer mais algumas coisas, se você não o fez.

— Eu... Ah. — Misha riu. — Sim. Mas antes. Antes de você ligar.

Max sorriu, levantando as calças e se levantando para poder voltar para


o andar de cima.

— Você estava pensando em mim? É isso que você quis dizer?

— Não. Eu quis dizer Belsey. — Misha imitou a resposta de Max


anteriormente e chegou ao ponto de tentar parecer americana.

— Eu não pareço um cowboy, Misha. — Max pegou alguns biscoitos da


cozinha enquanto subia as escadas. — Você vai me contar todas essas coisas
que disse antes, mas em inglês? Quando eu chegarem casa, quero dizer.

— Quando você chegar em casa. Sim. — A voz de Misha ficou toda


calma. — Spokoynoynochi, Lisenok.13

Max reconheceu boa noite, mas não tinha ideia do que o resto
significava.

— Boa noite, Misha. — Ele mordeu o lábio inferior, meio tentado a dizer
mais alguma coisa, mas no final ele apenas disse: — Eu estava falando sério
sobre me foder sobre sua mesa. — Depois desligou e foi procurar uma camisa
limpa.

13
Boa noite, raposa.

193
Na véspera de Natal, Scott e Vanessa decidiram juntar o presente de
Natal da família, que era uma nova televisão. Max ajudou o irmão a descer o
velho escada abaixo e evitou olhar para o sofá ou encarar o cobertor cheio de
buracos. Ele não pôde evitar o olhar assassino que lançou ao irmão quando
Scott disse:

— Oh, devemos ter uma abertura aqui. Está congelando. — Ele jogou
algo no teto que permitiu que um ar quente maravilhoso inundasse a pequena
sala.

Scott era muito melhor com diagramas e descobrindo se as coisas


estavam niveladas ou não, então Max apenas obedientemente segurou a
televisão e se moveu gradualmente de um lado para o outro, até Scott ficar
satisfeito. Durante todo o tempo, ele percorreu várias versões potenciais
diferentes de como chegar ao irmão.

No final, ele esperou até que eles estivessem desfrutando de uma cerveja
“ligando a televisão” e disse:

— Então, eu realmente acho que você precisa de um sofá no porão.


Porque eu estou trazendo Misha comigo no próximo ano, e eu realmente não
acho que nós dois nos encaixaremos na cama de Schyler. Também estou
comprando um cobertor para você sem buracos.

Scott olhou para ele.

— Você espera. O que?

— Você disse a Schyler que estava tudo bem. — Protestou Max

194
rapidamente. — Eu te ouvi.

Scott piscou.

— Eu fiz?

— Bem, ela teve que aprender toda essa coisa de “tudo bem beijar sua
melhor amiga” de algum lugar. Era de vocês, certo? Você é os pais dela. As
escolas provavelmente não falam sobre beijar. Eles? — Max tomou um gole
apressado da garrafa de cerveja, olhando com olhos arregalados para o irmão
mais velho. Diga alguma coisa já.

Scott e Max sempre se davam bem, apesar da diferença de idade e da


total falta de interesse nos hobbies uns dos outros. Ou talvez tenha sido por
causa disso. A ideia de Scott odiá-lo por causa de Misha era impensável para
Max, mas e se isso acontecesse?

— Oh! — Disse Scott, finalmente entendendo. Ele corou facilmente


também. Essa deve ser uma característica da família Ashford. — Eu pensei
que você quis dizer... Não importa. — Ele estudou Max, pensativo. — Faz
sentido. Você está muito perto de caras.

— Sou treinador de hóquei.

— Bem, lá vai você. — Scott tomou um gole de cerveja. — Está legal


comigo, mano. Eu só…. Você sempre soube? Você nunca disse nada enquanto
crescia. Você não era.... Quero dizer, você não achou que eu odeio você ou
algo assim. Certo?

— Claro que não. — Assegurou Max, embora ele estivesse preocupado

195
com isso exatamente três segundos antes. — Mas você não está surpreso?
Nem um pouco?

— Talvez um pouco. — Admitiu Scott. — E Misha? Isso deve ser meio


estranho, por causa do todo... Você sabe.

— Foi um acidente, Scott. E ele é um cara legal. Você vai gostar dele.

— Imaginei. Mamãe achou que ele era adorável. Você sabe como ela diz
isso sobre as pessoas.

Max fez, e isso o fez sorrir.

— Sim. E ela gostou dele. Eu disse a ela. — Max assegurou ao irmão e


depois alterou. — Ou você sabe como é a mãe. Ela descobriu. Mas vou contar
ao papai e você pode contar à Vanessa. A menos que você queira que eu faça.

— Não. Eu vou. Porque ela pensou que você estava mentindo quando
disse que estava mandando uma mensagem para Misha. Ela pensou que era
uma garota. — Scott bufou. — Você realmente estava sorrindo como uma
droga no seu telefone. Então, acho que é sério?

— Sim. — Max puxou o rótulo da garrafa de cerveja. — Eu acho que é.


Mas eu não gostaria que você o odiasse ou qualquer coisa por causa do
acidente, mesmo que não fosse. Quero dizer, não é como se não estragasse
sua carreira também. Você sabia que eles o suspenderam por quinze jogos?
Ele tem um anel da Copa Stanley e nunca o usou. — E nunca deixou Max ver
também. Max ia ter que trabalhar nisso. Ele pretendia conseguir um dia
algum para treinar, mas não havia razão para que ele não pudesse

196
simplesmente usar Misha na casa. Por uma hora ou duas.

Scott estendeu a mão e colocou a mão no ombro de Max.

— Eu sei, Max. O que você achou que eu ia fazer, proibi-lo de entrar na


minha casa? Se você o ama, tenho certeza de que também o faremos.

Max gemeu e bateu a cabeça nas costas do sofá.

— É como um especial de Natal na televisão. — Ele riu. — Oh cara. Você


sabe o que eu acabei de perceber? Eu e Misha poderíamos nos fantasiar
totalmente para o Halloween como Grinch e Max, o cachorro. Seria demais.
Misha é alto e parece muito triste, e eu sou.... Bem, eu.

— Ele parece triste?

— Bem. Ele é russo. — Disse Max, como se isso explicasse. — Acontece,


Scott, eles são vilões de Bond ou são muito mal-humorados.

Scott apenas balançou a cabeça.

— Você vai contar para mais alguém da família?

— Você acha que eu deveria?

— Eu acho que vai ficar bem. Bem. Talvez não conte à tia Helen.
Embora ela possa surpreendê-lo e guardar rações suficientes na caverna, caso
Misha se junte a nós quando o mundo acabar.

— Não deixe papai ouvir você encorajando suas fantasias de


sobrevivência. — alertou Max. A irmã do pai deles estava convencida de que o
governo iria acabar com o mundo com a ajuda de alienígenas ou algo assim, e

197
sempre estocava latas de comida, caso isso acontecesse mais cedo ou mais
tarde.

— Falando em papai... — Scott ergueu as sobrancelhas. — Você deveria


contar a ele. Você sabe que ele odeia ser o último a saber das coisas.

— Eu vou. Ei, Scott?

— Sim?

— Obrigado. — Max disse rispidamente, e ele e seu irmão se abraçaram


brevemente e se encararam com o mesmo tom de vermelho de Ashford.

— Você é meu irmão, Max. Eu te amo mesmo se você namorar os vilões


de Bond ou o Grinch. E sim, a propósito. Foi eu quem ensinei Schyler que não
há problema em beijar o seu melhor amigo, mesmo que seja uma menina.
Você sabe porque?

Max balançou a cabeça.

— Porque um dia ela me perguntou: 'Papai, como vou saber quando


tiver uma pessoa para morar, uma casa e assistir filmes adultos, como você e a
mamãe?' E eu disse a ela: 'Querida, você saberá quando estiver certa, porque
ele será seu melhor amigo e você gostará de beijá-lo.' E ela disse: 'Mas e se eu
tiver uma namorada melhor como a mamãe?' E eu disse: 'Schyler, se você
acabar com uma garota como sua mãe, terá a mesma sorte que eu.'

Max sorriu, encantado com a história e com a maneira simples e sincera


como seu irmão a contou.

— Você já contou essa história a Vanessa?

198
— Como você acha que estamos terminando com o número quatro no
caminho? — Scott perguntou, sorrindo um pouco maldosamente.

Max sorriu.

— Seu cachorro velho.

— Certo bem. O que posso dizer? Minha esposa é gostosa como o


inferno, e nós temos ótimos filhos, então por que não ter um pouco mais?
Então isso significa que você e Jason Nichols eram uma coisa na faculdade?
Porque eu pensei que você era, e mamãe disse que vocês eram apenas colegas
de equipe.

— Éramos apenas amigos. — Protestou Max, rindo. Mas então ele


pensou sobre isso. — Eu provavelmente tinha uma queda por ele. — Admitiu.
— Mas de jeito nenhum eu percebi isso até agora. Foi... Não era apenas
Misha. Eu tinha ideias, mas não fiz nada sobre elas até... Ah! Você sabe aquela
viagem ao México?

— Você ficou com caras na viagem que deveria ser sua lua de mel com
aesnobe? — Os olhos de Scott se arregalaram. — Uh. Desculpa. É que Emma
era… Bem, Vanessa sempre a chamava assim e ficava meio preso.

— Ainda bem que você a bateu, porque culpá-la por isso não iria te
deixar com raiva, aposto. — Disse Max. E sim. Eu fiquei com caras na viagem
que deveria ser minha lua de mel. Mais ou menos. Não estou lhe dando os
detalhes, mas foi... De abrir os olhos.

— Uh-huh. — Scott estendeu o punho. — Bissexualidade latente,

199
hein? Vai ser difícil para mim vencer. Você acha que eu deveria contar para
mamãe e papai como eu e Vanessa fomos ao clube Swing uma vez?

— Sim. Mas deixe de fora a parte em que foi um acidente. — Brincou


Max.

Max sabia que sua mãe não podia esconder nada de seu pai, então tudo
o que ele tinha a fazer era encontrá-lo na cozinha preparando um sanduíche e
dizer:

— Podemos fingir que te contei tudo sobre Misha, em vez de mamãe?

— Desculpe, quem está falando? É o meu filho? Eu só tenho esse. — Ele


estava de costas para Max e seus ombros tremiam. — Eu tinha outro, mas o
repudiei por decidir que era aceitável namorar um Bruin. — As risadas
finalmente escaparam, e o pai de Max se virou e estendeu os braços para um
abraço.

Max fez uma anotação mental para nunca deixar Misha vestir uma
camisa dos Bruins em torno de seu pai, e foi isso.

200
Capítulo 12

Algumas semanas após o Ano Novo, Misha entrou no vestiário ao som


de gritos. Ele imediatamente ficou quieto quando ele entrou, o que era
suspeito. Quando o time discutiu sobre hóquei, eles continuaram gritando
quando Misha entrou na sala. Quando se tratava de outra coisa, eles calavam
a boca como amêijoas obstinadas e raivosas.

— Há um problema? — Misha perguntou, sentindo o início de uma dor


de cabeça. Suas enxaquecas suspeitavam estar ausentes ultimamente, e o
retorno delas estava lhe dando o menor indício de desastre iminente.

Jakob passou o dia de Natal no Misha com Isaac Drake e alguns outros
que não tinham ido para casa por qualquer motivo, e ele estava agindo de
forma estranha desde então. De fato, no Natal, Misha foi encher novamente o
copo e voltou a encontrar Jakob apressadamente jogando o casaco e saindo
com um murmúrio:

— Obrigado, Treinador. — Quando Misha tentou descobrir qual era o


problema, o goleiro temperamental passou por Misha até a cozinha, serviu-se
da boa vodka de Misha e ficou tão bêbado que teve que dormir no sofá de
Misha.

Ele se foi no dia seguinte, antes que Misha pudesse perguntar o que
havia acontecido ou repreendê-lo por sua má etiqueta de álcool. Mas o que

201
estava acontecendo entre Drake e Jakob, estava claramente causando um
problema no vestiário, e isso não era aceitável.

— Vocês querem deixar eu e o Treinador Samarin resolver o problema,


ou devemos ficar de um lado para o outro e nos olhar um pouco mais? Não sei
sobre vocês, mas estou com fome.

A voz de Max era quente o suficiente para mostrar que ele não estava
com raiva, mas firme o suficiente para que eles soubessem que ele estava
falando sério. Ele era muito bom nesse tipo de coisa, e Misha ficou aliviado
por ele estar lá para lidar com isso. Sua abordagem teria sido encarar Jakob e
Drake até eles partirem, o que não teria resolvido nada.

— Jakob tem um maldito problema com bichas. — Disse Drake, e Misha


sentiu seu coração bater no estômago como um disco batendo forte em uma
rede vazia. Drake, com os cabelos cortados e azul recém-colorido olhou para
Jakob do outro lado do vestiário.

Huxley gemeu.

— Porra. O que? Mesmo? Jakob, cara. Não leve Drake a começar isso,
cara. Nunca sairemos daqui e quero jantar.

Misha tentou e falhou em encontrar suas palavras. Tudo o que ele


conseguia pensar era a discussão no Natal que ele não havia testemunhado, as
coisas de Max em sua casa que Misha não se preocupara em esconder, e quão
claramente Jakob descobrira que o treinador deles era gay e...

— Por que você estaria discutindo isso no vestiário? — Max perguntou,

202
parecendo completamente razoável, como se não tivesse sido fodido, e muito
minuciosamente, pelo treinador poucas horas antes sobre a mesa dele em seu
escritório. — Cada um de vocês sabe que eu não tolero nenhum tipo de
bullying, aqui ou no gelo. Treinador Samarin também não.

— Diga a porra do Jakob isso. — Drake rosnou. — Porra de pau polonês.

— Nós não intimidamos porque as pessoas são de outros países? — Max


olhou brevemente para Misha, que assentiu imperceptivelmente. Ele achou a
total falta de compreensão de Max sobre a geografia mundial exasperante e
cativante. — Sim. Então pare com isso, Drake. Você não pode obter respeito
das pessoas se elas não respeitarem você.

Misha viu no momento em que aconteceu, no momento em que Isaac


Drake perdeu um pouco do fogo interior que o mantinha passando por
quaisquer tragédias pessoais que enfrentava em sua mente todos os dias no
gelo.

— Não importa. — Drake murmurou, com os ombros curvados.

Max tinha dito a coisa errada, e ele e Misha sabiam disso. Mas Max era
o epítome do indomável, e ele nunca desistia.

— Drake, vamos conversar sobre isso no escritório. Apenas nós dois.


Ok?

Misha estremeceu antes de Max terminar de falar, porque sabia que era
a coisa errada a dizer, mesmo que ele não pudesse dizer o porquê,
exatamente. Drake lançou um olhar para Misha, e ele parecia um animal

203
indefeso e selvagem apanhado em uma armadilha e aterrorizado por de
repente se encontrar em uma jaula.

— Acho que deveríamos deixar isso claro. — Disse Misha, embora ele
quisesse fazer nada além de deixar Max cuidar disso. — Este é um
vestiário. Jogamos hóquei em equipe. Sim? O que você faz do lado de fora
com outras pessoas, não importa.

Jakob disse algo em polonês, talvez sem saber que Misha havia pegado
um pouco de polonês em suas viagens. Ele resistiu ao desejo de algemar o
homem mais forte com força no lado da cabeça e o ignorou.

— Também, tipo, cara. — Disse Shawn Murphy, de algum lugar atrás de


Misha. — Todo mundo na porra da ECHL conhece o gay de Drake. E foda-se
se você tiver um problema com isso, porque ninguém aqui tem. Então vá se
juntar a outra porra de equipe. Mas boa sorte, porque adivinhe, idiota? Gays
jogam hóquei. Volte para a Rússia.

— Polônia. — Jakob disse.

— Tanto faz. — Disse Murphy.

Talvez não fosse um segredo que Drake fosse gay, mas Misha não sabia,
e estava claro pela expressão de Max que ele também não.

— Isso é o suficiente. — Disse Misha friamente. — Drake é seu


companheiro de equipe e seu capitão, Jakob. Isso é tudo o que importa neste
vestiário. Meu escritório. Agora. O resto de vocês, coloque seus patins.
Treinador Ashford, lidera a equipe em um treino de saco até terminarmos

204
aqui.

Houve um estrondo de descontentamento quando Misha entregou o


time já cansado ao pior de todos os exercícios de skate. Se nada mais, pelo
menos, focaria toda a ira da equipe em Misha, em vez de dar à equipe uma
razão para odiar um ou ambos os colegas de equipe.

Max deu a Misha um olhar que dizia:

— Você está falando sério? — Mas Misha sabia que Max o respeitava e
faria o que ele dissesse. Max tocou o apito um pouco alto demais. — Você
ouviu o Treinador. Saia daí. Em uma demonstração de solidariedade que o
tornaria popular com a equipe e garantiria que Misha lhe desse boquetes
todas as manhãs no chuveiro por uma semana, Max amarrou seus próprios
patins.

Misha levou Jakob ao seu escritório, escutou por dois minutos enquanto
o garoto gaguejava algo sobre religião, errado e qualquer outra coisa sem
sentido. Então, com uma voz fria, ele disse:

— Não importa. Você fará seu trabalho ou irá para casa. Esta é sua única
escolha. Ou você coloca seus patins e faz exercícios com seus colegas de
equipe ou sai deste prédio e nunca mais volta.

Ele levantou a mão.

— Você pode contar a Belsey se quiser. Mas Belsey não é o treinador.


Eu sou. Você pode pensar o que quiser, mas você vai mantê-lo para si mesmo.

Jakob parecia um pouco envergonhado, fazendo Misha se perguntar se

205
havia algo errado que não tinha nada a ver com Drake. Se a sexualidade de
Drake era conhecida pela equipe, era difícil acreditar que Jakob tivesse
acabado de desenvolver um problema com ela.

Misha pensou com cuidado. É claro que ele não apoiava as opiniões de
Jakob sobre a homossexualidade e não permitiria que ninguém fosse
intimidado ou menosprezado por isso em sua equipe. Mas ele entendeu ser
um jovem estrangeiro em um país estrangeiro e, portanto, mudou para o
polonês e também para que seu jogador soubesse que ele entendia o idioma.

— Eu sei que é difícil estar aqui. Este país não é como o que estamos
acostumados. É como, às vezes, ter tudo que você sabe retirado de uma só vez.
Eles não dizem que o jeito que você pensa está errado, que o jeito que você
vive está errado, mas o jeito que eles pensam, o jeito que eles vivem…. Parece
que é isso que eles estão fazendo.

Os olhos de Jakob estavam arregalados. Ele assentiu.

— As vezes. Sim.

— Drake é gay. Não tem nada a ver com você. Não terei um vestiário
onde alguém tenha vergonha ou sinta que precisa se esconder por causa do
que é. Se você não se sente confortável aqui, não é por causa de quem Drake
escolhe passar seu tempo longe do gelo. Mas não posso ajudá-lo se você
insistir que é. Você entendeu?

Jakob, para seu crédito, não concordou imediatamente.

— Vou tentar. — Disse ele. — Eu me sinto estúpido. Que eu não sabia e

206
todo mundo sabia.

Misha também não sabia, mas ele não disse isso.

— Não tem nada a ver com esse time, Jakob. É isso que estou tentando
lhe dizer. Agora vista seus patins, junte-se a seus companheiros de equipe e
peça desculpas ao seu capitão. E mantenha suas opiniões para si mesmo. Está
claro?

Jakob não parecia muito feliz, mas assentiu e saiu para vestir os patins.

Misha esperou alguns minutos e depois saiu para a pista. Ele recebeu
olhares de morte de cada jogador, e isso foi bom. Ele também viu Jakob
arfando, e Drake olhando para ele. Eles provavelmente estavam planejando a
morte de Misha. Também é um bom sinal.

Misha tocou o apito, ignorando o treinador assistente suado, de olhos


brilhantes, muito atraente e furioso, que provavelmente iria torturá-lo até a
morte mais tarde na cama. Misha conteve um sorriso maligno e disse:

— Lembre-se disso da próxima vez que achar que a resposta para os


problemas pessoais será dramática nos vestiários.

— Russos do caralho. Não é à toa que eles sempre são os bandidos. —


Shawn Murphy ofegou quando passou por Misha.

Misha deixou essa ir.

— Sim. — Disse Max, ainda respirando com dificuldade. — Russos do


caralho.

207
Misha chamou sua atenção e piscou quando ele tinha certeza de que
ninguém podia ver.

Na semana em que eles jogaram o Sea Storm Jacksonville em casa,


Isaac Drake parou de aparecer para praticar. Quando chegou o dia do jogo e
ainda não havia sinal do jovem capitão bravo e de cabelos azuis, Misha disse a
Belsey que Drake tinha uma emergência familiar e começou com Lathrop na
rede.

O jogo não era o caso unilateral que tinha sido no início da temporada.
Os Spitfires se mantiveram sozinhos, mas ainda perderam por quatro a dois e
ficou claro que a equipe estava decepcionada. Eles também estavam confusos
porque o goleiro não estava lá, e Misha sabia que todos pensavam que
poderiam ter vencido se Drake não tivesse desaparecido. Lathrop sentiu-se
péssimo com o jogo, e foi para um vestiário silencioso depois que acabou.

Drake ainda não compareceu na semana seguinte no treino. Foi quando


Huxley e Murphy pediram para falar com Misha em seu escritório,
claramente preocupados. Eles queriam convencer Misha a não chutar Drake
para fora do time. Eles pensaram que algo estava errado.

— Ele não está em casa há dias, Treinador. — Disse Huxley, arrastando


os pés nervosamente em frente à mesa de Misha. — Esse cara apareceu em
nosso apartamento antes do jogo de Jacksonville procurando por ele, e
quando eu contei a Drake, ele deu o fora.

208
— Ainda não acredito que ele perdeu o jogo contra o Storm. Ele estava
tão pronto para isso, cara. Quero dizer, Treinador. — Murphy alterou
rapidamente. — Ele também quer bater em Hunter o goleiro do Storm porque
ele é bi. Hunter, quero dizer. Drake é apenas gay comum.

— Você cala a boca? — Huxley olhou para o amigo. — Treinador não


quer ouvir essa merda.

— Lembra do que Drake disse? Que não deveríamos falar sobre ele
reclamar de caras só porque eram caras em vez de garotas?

— Ele não quis falar sobre ele reclamar de caras na frente de Treinador,
idiota. — Hux bateu no braço de Murphy. — E Hunter tem um namorado.
Lembra? Eu lutei com ele no ano passado. Ethan Kennedy.

Misha pigarreou.

— O homem que apareceu procurando Drake é um namorado dele? —


Ele se sentiu estranho usando a palavra namorado, mesmo quando se tratava
de Max. Ele se sentiu mil anos mais velho que seus jogadores em um bom dia,
e a palavra parecia tão juvenil.

— De jeito nenhum. — Respondeu Hux, confiante. — Esse cara era, tipo,


suado e assustador. Esse não é o tipo de Drake.

— Ele gosta muito deles. — Murphy falou. — Como Hunter. Ou


Treinador Ashford.

— Cara. — Disse Hux. Ele olhou. — É sério?

Murphy olhou nervoso para Huxley e depois aparentemente decidiu

209
ficar quieto.

— Estamos preocupados com ele. — Continuou Hux enquanto Misha


digeria a informação de que Drake tinha uma queda por Max. Pelo menos o
goleiro tinha bom gosto. — E ele ama esse time, Treinador. Eu nunca o vi tão
entusiasmado por ganhar antes. Eu sei que ele não faria nada para estragar
sua carreira, então algo tem que estar acontecendo.

— Você tem alguma ideia de onde Drake está? — Misha perguntou. —


Ele poderia ter ido visitar a família?

— Sim. Não. — Disse Huxley, balançando a cabeça. — Eles o expulsaram


quando ele tinha dezessete anos por ser gay.

— E você tem certeza que ele não está vendo ninguém?

— Ele estava vendo esse cara em Asheville no ano passado por um


minuto quente. — Disse Huxley. — Mas Drake não tem carro, então não sei
como ele chegaria lá.

— Você quer dizer aquele cara Xavier que joga pelos Ravens? — Murphy
bufou. — Ele é como, totalmente no armário. Você sabe que Drake não está
nessa merda. Ele também parecia preocupado. Drake tem um respeito louco
por você, Treinador Samarin. Se alguém pode fazê-lo parar de ser um idiota, é
você.

— Entendo. — Disse Misha, porque ele não tinha ideia do que mais
dizer. — Se ele não tem carro, onde mais ele poderia ter ido?

— Então, tem um cara com quem Drake morou antes dele e eu

210
conseguirmos um apartamento. Esse cara chamado Gavin. Ele poderia estar
em sua casa.

— E você procurou por ele lá? — Misha perguntou, sentindo-se cansado.


Por que eles não ofereceram essa solução primeiro, ou melhor ainda, foram
procurar Drake?

— Eu não tenho ideia de onde ele mora. Drake nunca disse. Prometemos
que... Olhe. É melhor que você o encontre. — Disse Huxley, dando uma
cotovelada em Murphy. — E hum. Gavin era um filho da puta de aparência
superficial, então você tem uma arma? Porque ele pode ser um traficante de
drogas.

Misha olhou para ele, mas em vez de rir como Misha esperava, Huxley
parecia esperançoso.

— Vou ver o que posso fazer. — Disse Misha e pegou o celular.

Misha conseguiu obter o antigo endereço de Drake no escritório de


Spitfires, e ele saiu mais tarde naquela noite para recuperar o goleiro rebelde
se era onde ele estava.

O local ficava em um bairro sombrio perto do aeroporto Greenville-


Spartanburg. Max insistiu em acompanhar Misha no segundo comentário de
Huxley relacionado a Misha sobre a necessidade de armas de fogo. Eles
encontraram o apartamento com bastante facilidade, seguindo a música alta e
a nuvem de fumaça saindo dele.

211
Quando ele abriu a porta, Drake nem pareceu surpresa apenas se
demitiu. Havia um monte de caras na sala de estar, todos dando a Max e
Misha olhares desconfiados. Mas Misha passou grande parte de sua
juventude em torno de homens perigosos, e sua expressão os fez levantar-se e
sair sem dizer uma palavra.

Drake estava vestido com calça cargo e uma blusa branca, e enquanto a
sala estava cheia de fumaça de maconha, ele estava bebendo um Gatorade e
jogando videogame. Misha teve uma repentina e visceralmente desagradável
lembrança de ter dezessete anos. Ele queria arrastar Drake de lá pelos cabelos
espetados e azuis.

— Eu sei. Ok? Estou fora do time. Apenas saia daqui e me deixe em paz.

— Drake... — Max deu um passo em sua direção. Drake reagiu como se


Max estivesse tentando atirar nele. Ele se afastou tão rapidamente que quase
tropeçou na mesa de café e caiu de bunda.

Drake era muitas coisas, mas no gol, além de zangado, ele era gracioso.
Era uma prova do quão assustado Drake estava que ele estava quase caindo
sobre seus próprios membros embora o apartamento estivesse uma bagunça,
talvez fosse inevitável.

Misha estendeu a mão e gentilmente segurou Max.

— Não é assim que um capitão se comporta, Drake.

— Eu tentei te contar. — Drake murmurou, olhando para longe. Ele se


sentou no sofá em uma expansão petulante e afetada. — Veja. Isso não tem

212
nada a ver com você, Treinador. — A carranca de Drake não conseguiu
esconder seu olhar de dor.

— Não. — Disse Misha com muito cuidado. — Tem tudo a ver comigo.
E Treinador Ashford, Huxley e Murphy, e o resto do time que você está
decepcionando ao fugir.

A expressão de Drake era tensa e cheia de raiva.

— Tanto faz. Lathrop é um bom goleiro. Ele vai... — A voz de Drake


ficou embargada, seus olhos brilhavam com brilho repentino e ele jogou o
controle com uma maldição. — Apenas saia daqui.

— Seus amigos estão preocupados com você. — Continuou Misha como


se Drake não tivesse falado. — Eles estavam com medo de vir aqui e encontrar
você.

Drake riu sem alegria.

— Sim. Eu não diria a eles onde estava. Eu morava aqui. Está bem. Eles
acham que Gavin é um traficante de drogas. Mas confie em mim, não é isso
que ele vende. — A voz de Drake de repente soou muito mais antiga que seus
anos.

Algo frio desceu pela espinha de Misha. Ele se agachou na frente de


Drake para se colocar no nível de Drake.

— Você é um líder e seu lugar é com seus colegas de equipe. Não aqui.
Pensei que você levasse sua responsabilidade mais á sério do que isso.

— Eu levo. — Drake deu um pulo, parecendo frenético. — Você não

213
entende? Eu estou fazendo isso por eles. Para você, Treinador. E
Treinador Ashford. Finalmente, temos uma coisa boa, e eu não posso ficar
aqui e deixar que seja fodido seis maneiras até domingo por causa do... O que
eu fiz. Quem eu sou.

Drake amassou como uma boneca de pano, desabou no sofá e enterrou


o rosto nas mãos.

— Você sabe quem é esse cara, Treinador?

O fato de ele ainda estar chamando Misha de treinador fez algo apertar
o peito de Misha.

— Não. E não preciso que você me diga.

— Que pena. Como é isso? Ele é um antigo cliente. Nem mesmo isso.
Um prostituto. Eu costumava chupar seu pau por dinheiro na Columbia.
Meus pais me expulsaram de casa, então era uma merda de dinheiro ou
desistir de hóquei. E então adivinhe qual eu escolhi?

Misha ficou em silêncio enquanto milhares de coisas diferentes


brilhavam em sua mente. Memórias de uma vida atrás, becos escuros, pedras
frias e colchões úmidos e sujos em salas mal iluminadas que cheiravam a suor
e sexo.

— Eu não preciso adivinhar.

— Eu não podia pagar nada, porra. Então me prostitui. Chupei pau por
dinheiro. Até deixei os caras me foder uma ou duas vezes. Tanto faz. Foi
sempre em Columbia, apenas no verão, e nunca aqui. E eu pensei que estava

214
bem. Mas aquele idiota me encontrou, e ele não vai me deixar em paz. E se
você não me deixar ir, ele vai... Ele vai... — Drake olhou impotente para
Misha. — Por favor, apenas vá. Por favor.

Misha não foi. Ele não se mexeu.

— Ele vai o que, Drake?

— Ele quer que eu faça filmes. Ele estava sempre tentando me


convencer a fazer isso, e eu sempre dizia não. Mas uma vez ele... Me filmou.
Com ele. E a menos que eu faça o que quer, ele colocará o vídeo que ele tem
na Internet e depois... Contará à equipe. E a mídia. Sei o quanto você odeia o
que Belsey fez com você e com Treinador Ashford, Treinador Samarin e eu...
Você é o melhor treinador que já tive. Eu não posso...

Max deu um passo à frente, porque Max iria, é claro, querer consolá-lo.
Misha estendeu a mão e o deteve com um olhar afiado que dizia “confie em
mim”. Max parecia ouvir, embora não parecesse feliz com isso.

Drake continuou falando.

— Hux e Murphy... Eles sabem que eu sou gay e eles são... Eles são tão
heterossexuais. Eles nunca haviam conhecido alguém que era gay antes de
mim, e eles foram como, 'Oh. Ok. Legal‟, quando eu disse a eles. — Apesar de
sua voz embargada, seus tempestuosos olhos azuis escuros estavam secos
como um osso. — E se eles soubessem o que eu fiz, não iam me querer como
amigo. Isso doí. Ele disse: 'Talvez seus amigos o descuidem pelo preço certo'.
E isso é tudo que eu... É tudo o que sou. Uma merda de prostituta. Isso é tudo
que eu sempre serei. Ele me disse aquilo. Disse-me que, se eu não acreditasse

215
nele, apenas o deixasse conversar com algumas pessoas e depois ver se elas se
importavam com o que eu fazia no gelo. O que eu fiz de joelhos é tudo o que
eu sou bom pra caralho.

Drake respirou fundo. Então ele olhou diretamente para Misha e, com
uma voz que parecia exausta e quase morta, disse:

— Que tipo de time quer um capitão que chupou pau por dinheiro,
Treinador?

Misha se ajoelhou diante de Drake novamente, e ele pensou em todos os


anos de sua vida e em como eles inexoravelmente levaram àquele momento e
à decisão com a qual ele se deparou.

Misha havia passado mais de vinte anos fugindo de seu passado, do que
ele havia feito e do que era. Ele viveu com vergonha e medo, e não foi até Max
que Misha finalmente conseguiu deixar tudo de lado e ser feliz com quem ele
era.

Uma palavra de Misha e ele poderia fazer Drake se sentir melhor,


poderia mostrar a ele que não estava sozinho, poderia oferecer o apoio e a
compreensão que ninguém mais poderia dar a ele. Mas era muito possível
que, quando Max descobrisse a verdade, ele voltasse os olhos verdes da
primavera para outra pessoa e Misha murchasse no escuro.

Quando se tratava disso, não era uma escolha difícil de fazer.

Que tipo de equipe quer um capitão que chupou pau por dinheiro?

— Uma equipe cujo treinador fez a mesma coisa. — Disse Misha, e que

216
coisa estranha foi abandonar um fardo que ele carregava há anos mesmo que
isso lhe custasse o único âncora que ele já havia encontrado.

Drake piscou. Então, previsivelmente, ele fez uma careta.

— Que porra é essa, Treinador?

Claro que Drake não acreditaria nele. Misha se levantou e não olhou
para Max.

— Na Rússia, meu pai ganhou muito dinheiro vendendo drogas, armas e


mulheres a comunistas, democratas e isso não importava. Ele era um homem
mau, e eu era filho dele, e era esperado que fosse como ele. Mas eu não era
como ele. Eu queria jogar hóquei, não administrar um império. E eu queria
estar com homens, não mulheres. E quando ele me pegou com outro homem e
soube a verdade do que eu era, ele me disse que, se alguma vez suspeitasse
que eu estava me humilhando novamente como um animal, ele me amarraria
como um porco e me estriparia.

Ele ouviu um som ao seu lado Max, provavelmente, mas Misha não
podia olhar para ele. Depois que ele começou, as palavras não pararam.

— Fui abordado aos dezoito anos por um olheiro da LNH. A Rússia não
era mais um país comunista, mas, para sair, era preciso ter dinheiro suficiente
para pagar pelos subornos. A única coisa que pedi ao meu pai foi o dinheiro
para vir aqui e jogasse o jogo que eu amo.

— E talvez ele tivesse me dado se não tivesse me pego uma vez com um
homem. Ele disse que eu só queria ir para a América para que eu pudesse

217
satisfazer meus desejos básicos e me contaminar. Ele disse que estava na hora
de desistir do hóquei e aprender a ser o que eu deveria me tornar.

Misha colocou as mãos atrás das costas e olhou para o teto.

— Então eu vendo a única coisa que meu pai não faz parte, para que eu
possa ganhar dinheiro suficiente para sair. Peguei homens em becos, os levei
para quartos sujos e, quando tinha dinheiro suficiente, saí sem dizer a
ninguém para onde estava indo.

— Venho para a América, mas tudo que sei é hóquei e como vender
minha boca aos homens por dinheiro. Eu ainda tenho pavor de meu pai me
encontre. Ele virá para mim. — Misha balançou a cabeça. — É estúpido, é
claro, pensar que ele fez qualquer coisa além de lavar as mãos de mim. Mas eu
estava acostumado a viver com medo e ainda estava com medo. Então,
quando meus companheiros de equipe russos oferecem hospitalidade... Eu os
recuso. Receio que meu pai descubra, machucará as famílias que deixaram
para trás. Eu digo não até que eles parem de perguntar. Eu vim aqui para uma
nova vida, mas tudo que fiz foi sobreviver. E isso não é viver, Drake. Não
espere o tempo que eu fiz para aprender isso.

Isso foi tudo o que Misha conseguiu pensar em dizer.

Drake se levantou. Seus olhos estavam arregalados e seu rosto estava


pálido, mas havia algo em sua expressão que Misha não esperava ver. Suas
próximas palavras foram uma surpresa.

— Cara. Sempre soube que você era durão, Treinador Samarin. Mas eu
não fazia ideia. Uau.

218
Um durão. Misha quase riu, mas ele foi dominado pelo terror do que
Max, que ainda estava em silêncio pensaria dele, e o barulho foi estrangulado
em seu peito.

— Belsey vai me expulsar do time. — Disse Drake, mas seus olhos


estavam cheios de esperança. A esperança e algo delicado e machucado como
uma flor passou por muitas mãos. — Você sabe que ele vai. Ele não vai querer
atenção.

— Eu não acho que isso seja um problema para Belsey. — Disse Misha e
deu de ombros. — Mas se ele fizer, eu vou embora.

— Eu também. — Disse Max, falando pela primeira vez.

O rosto de Drake se fechou novamente.

— Eu não posso deixar você fazer isso por mim...

— Sim. Você pode. — Disse Misha. — E você vai. Mas não chegará a
isso. Você vai pegar suas coisas e você virá para minha casa. Se este homem
vier buscá-lo, vou lidar com ele. — Misha sorriu, mas não muito bem. — Eu
sou filho de um gangster. Eu sei como fazê-lo com medo o suficiente para que
ele não volte.

— Porra, Treinador. — Disse Drake. Seus olhos dispararam rapidamente


para Max. Então ele olhou para o chão. — Eu não faço aqui. Eu juro.

— Não importa. — Disse Max, sua voz gentil. — Você ouviu o Treinador
Samarin. Você é o capitão do Spartanburg Spitfires, e um inferno de goleiro, e
isso é tudo o que importa.

219
Drake olhou entre os dois.

— Você pode me dar uma carona de volta ao meu apartamento? Eu


provavelmente deveria contar ao Hux o que está acontecendo.

— Sim. — Disse Misha, assentindo. — Eu acho que isso é uma boa ideia.

Foi uma viagem silenciosa de carro de volta ao apartamento de Drake, e


Misha esperou no estacionamento até que ele viu a porta aberta. Mesmo no
carro, eles viram Hux puxar Drake para um abraço e depois puxá-lo para
dentro.

— Posso te perguntar uma coisa? — Max perguntou longamente,


quebrando um silêncio que não era nada confortável.

Misha sentiu seu estômago apertar, e ele queria mais do que tudo evitar
a conversa que Max provavelmente insistiria que eles tivessem.

— Da.

— Você nunca iria me contar isso?

Você já me disse que saiu da Rússia e que seu pai é um gangster


assassino?

Misha olhou para os dedos dele, que estavam firmemente enrolados no


volante.

— Não. — Não havia sentido em mentir, e Max não merecia isso dele.

— Por que não?

Misha olhou bruscamente para ele, as pontas finas de seu

220
temperamento desgastadas como uma corda velha.

— Por que eu não queria te dizer que eu era prostituta? É isso que você
está me perguntando, Max? Por que eu iria querer que você soubesse disso?

— Porque aconteceu.

A porta do apartamento de Drake se abriu e ele saiu com uma bolsa


pendurada no ombro. Ele foi seguido por Huxley, que aparentemente estava
tentando lhe dizer algo enquanto Drake corria em direção ao carro.

— Isso é estúpido. — Disse Huxley quando Drake abriu a porta dos


fundos. — Treinador, oi. Drake não precisa sair. Eu não me importo com
algum filho da puta esquecido que eu provavelmente poderia bater, cara. Você
é meu amigo.

Max olhou tão duro para Misha, que ele quase podia sentir.

Drake jogou sua bolsa, mas ele parou antes de bater a porta.

— Eu sei. Ok, Hux? Jesus. Mas você pode me deixar fazer isso? Eu sei
que você é meu amigo, e este sou eu sendo seu. Eu não quero você envolvido.
Fim da história.

— Bem. Ser seu amigo não é nada fácil. Eu espero que você saiba disso.
É muito mais fácil lutar com caras que você irrita durante um jogo do que
convencê-lo de que eu não dou a mínima para você ser gay ou tão bom em
boquetes que as pessoas pagam por eles ou o que seja. Às vezes, te ouço com
caras que você traz para casa, mano. Eles são barulhentos. Então eu sempre
achei que você era profissional em chupar pau, assim como você é no hóquei.

221
Mesmo na penumbra do interior do carro, Misha podia ver o rosto de
Drake ficar vermelho.

— Eu sei. Cale-se já. — Ele estendeu o punho. — Obrigado. É sério. Você


é... O tipo de amigo que pensei que só existia em programas de televisão e
filmes de animação.

Huxley murmurou alguma coisa, mas deu um soco em Drake e disse:

— Não jogue suas toalhas no chão do banheiro, cara. Se Treinador


nos obrigar a fazer patinação de novo, porque você é um péssimo hóspede, eu
vou dar um soco em você.

Drake fechou a porta sem se preocupar em responder, mas um pouco de


sua tensão diminuiu.

Quando voltaram ao Misha, ele instruiu Drake a colocar suas coisas no


andar de cima no quarto de hóspedes, que tinha seu próprio banheiro. Pelo
menos isso daria a Drake alguma privacidade enquanto ele estivesse lá.

— Eu tenho que levar o Treinador Ashford para pegar o carro dele. Há


comida na cozinha, se você quiser.

Drake assentiu e olhou para o chão. Ele finalmente olhou para cima e
encontrou os olhos de Misha.

— Obrigado. — Disse ele, e pela primeira vez, ele parecia que poderia
chorar. Com isso, ele se virou e correu para dentro da casa.

Misha virou-se para Max e depois acenou com a cabeça para o carro.
Max voltou e não pareceu satisfeito quando Misha se dirigiu ao estádio.

222
— Então você é apenas... Então é isso?

Misha não sabia o que dizer.

— Você quer explicar a Drake por que está ficando aqui?

— Ficando aqui. — Max disse e deu uma risada dura. Misha odiava fazer
Max parecer assim. Sua risada era geralmente tão alegre. — Misha, você
percebe que não me perguntou nada sobre como me sinto sobre isso. Não é?
Quero dizer, eu sei que você acha que estou com nojo e que você está me
levando para o meu carro porque você também supõe que eu não quero que
ninguém saiba que eu praticamente moro na sua casa.

A agitação emocional do dia começava a afetar Misha.

— Max...

— Não, Misha. Ouça. Entendo que você é o treinador e tem um jogador


com você. Entendo eu realmente faço. Mas mesmo que Drake não estivesse
aqui, você teria me levado para casa de qualquer maneira. Porque você acha
que eu não quero nada com você depois do que você realmente não me disse.

Eles entraram no estacionamento da arena e Misha pisou no freio com


muita força. Ele finalmente olhou para Max, que estava claramente zangado.
Misha merecia. Ele não sabia o que dizer, e seu silêncio era claramente toda a
resposta que Max precisava.

Max emitiu um som, sacudiu a cabeça e abriu a porta.

— Então sim. Isso me irrita. Mas só para você saber? A razão pela qual
estou bravo agora não é por causa do que você me disse. É porque você

223
honestamente pensou que eu ficaria com nojo. Você quer saber como isso me
fez sentir? Eu estava orgulhoso de você. Ah, e falando nisso? Eu estou
apaixonado por você. Eu estava antes de ouvir essa história e ainda estou. E o
que você fez por Drake foi realmente corajoso, porque eu sei que você pensou
que no segundo em que descobrisse a verdade, eu teria ido embora. A única
coisa que me dá nojo é que você pensou que eu iria menosprezá-lo por isso.

Misha olhou para ele, incapaz de responder. Então Max se inclinou e o


beijou agressivamente, com a mão na parte de trás do pescoço dele para
segurá-lo perto e sua língua invadindo descaradamente a boca de Misha. Ele
esfregou a outra mão no peito de Misha e depois se afastou para recuperar o
fôlego.

— Você sabe o que eu percebi, Misha? Não é meu perdão que você
precisa. É seu. Assim como não sou eu que tenho vergonha do que você fez
para sobreviver e sair da Rússia. E sim você. E até você parar de ficar tão...
Tão enojado de si mesmo, provavelmente é uma coisa boa que o nosso goleiro
esteja morando no andar de cima da sua casa. Oh. Ele vai precisar de uma
cômoda ou algo assim e provavelmente uma cama. Você pode conseguir um
na Amazon. — Max se inclinou e o beijou mais uma vez. Misha o beijou de
volta, lutando contra o desejo de colocar as mãos em Max e puxá-lo para
dentro, arrastá-lo de volta para o carro e levá-lo para casa onde ele pertencia.

— Então agora você sabe. Como realmente me sinto sobre tudo isso.
Tem algo a dizer para mim?

Misha apoiou a testa contra a de Max.

224
— Eu não quero que você saia.

— Bem, eu não quero passar a noite em um estacionamento. — Disse


Max e suspirou. — Eu falo sério, Misha. Não posso ser a razão de você se
sentir mal ou culpado. Não sobre isso e não sobre o acidente. Mas você
precisa acreditar em mim.

Misha assentiu e se afastou. Sua mente ainda estava zumbindo com as


coisas que Max disse a ele. “Eu estou orgulhoso de você” e “eu te amo”. Ele
deveria dizer isso a Max, porque ele amava Max. Mais do que ele amou
alguém e certamente mais do que ele se amava. E Max estava certo. Misha foi
quem não se perdoou pelo acidente de Max. Misha ainda estava com nojo do
que tinha feito. Talvez lá no fundo ele ainda tivesse vergonha de ser gay.

Max não tinha a responsabilidade de consertar nada disso. Era de


Misha.

E o pensamento o assustou muito.

225
Capítulo 13

O problema com sua dramática saída não era que Max não estivesse
orgulhoso de si mesmo por dizer a coisa certa, mas que todas as suas coisas
estavam basicamente na casa de Misha e ele realmente odiava sua cama de
casal estúpida. Também estava frio em seu apartamento, e o calor nunca o
aqueceria como ele estava no Misha.

Misha era como uma fornalha humana. Tudo o que Max tinha em seu
apartamento solitário era sua raiva justa e um par de meias incompatíveis.
Isso não ajudou muito contra lençóis que pareciam gelo, um travesseiro
irregular e uma cama deprimente vazia. E ele pensou que não poderia ficar
muito pior do que aquele sofá em uma cova congelante em Minnesota. Quão
errado ele estava.

Ele quis dizer o que disse a Misha e esperava que isso terminasse.
Porque Max havia perdido Emma, e não doeu tanto quanto deixar Misha no
estacionamento. Mas ele precisava fazer isso. Se eles estavam indo para se
relacionar, Misha tinha que parar de se odiar.

Max estremeceu um pouco e disse a si mesmo, pela milésima vez, que


não deveria entrar no carro e dirigir até a casa de Misha. Ele estava fazendo a
coisa certa e sabia disso. Mas era péssimo, e ele desejou ter se apaixonado por
alguém mais fácil. Ou…. Ok. Não. Mas ele desejou ter pensado em pelo menos

226
ajustar o aquecedor antes de abandonar seu apartamento.

Mas, apesar de sua miséria e dedos congelados, ele sabia que tudo
ficaria bem. Eventualmente.

Porque Max se asseguraria disso. Foi o que ele fez.

Ele tinha uma dúvida incômoda em mente porque Misha não havia dito
que também o amava, mas Max se recusou a pensar nisso. Primeiro, ele o fez
se sentir ridículo, e segundo, ele honestamente acreditava que Misha o amava.
Esse não era o problema. Misha precisava amar a si mesmo.

Max gemeu e puxou o lençol sobre a cabeça. Provavelmente era ridículo


esperar que Misha descobrisse como fazer isso pela manhã.

É claro que, mesmo que ele apagasse milagrosamente todo o seu ódio,
ainda havia Drake morando com Misha. Max não achava que Drake iria
espalhar fofocas maliciosamente ou qualquer coisa, mas como a maioria dos
jogadores de hóquei, ele não era o melhor em relacionamentos interpessoais.
Testemunha Max, dormindo em uma cama fria enquanto o homem que ele
amava sofria de enxaqueca, quando Max sabia que não havia tomado o
remédio. Misha poderia amar Max, mas ele também adorava sofrer.

Isso lembrou Max, e ele estendeu a mão para fora de sua fortaleza
cobertor para pegar seu telefone na cômoda e puxá-lo para debaixo das
cobertas. Ele mandou uma mensagem para Misha tomar seu remédio e não
beber vodka.

Alguns segundos depois, ele mandou uma mensagem, prometa, Misha.

227
Pareceu levar muito tempo, mas finalmente o telefone tocou e eu
prometo Max piscou na tela.

Isso ajudou a aquecer Max o suficiente para adormecer.

Misha pode ter tomado a medicação, mas ele não parecia ter descoberto
o segredo do amor próprio. As semanas seguintes se mostraram infelizes para
todos os envolvidos na organização Spartanburg Spitfires, exceto talvez para
os fãs dando uma virada irônica nos eventos desde o início da temporada. O
time estava vencendo jogos, mas a tensão entre seus treinadores era palpável
e óbvia.

E Max estava claramente sem roupas para vestir, já que suas coisas
estavam na casa de Misha.

Falando em Misha, Max o conhecia bem o suficiente para saber a


miséria quando a viu. Até a sutil versão russa dela.

Max resistiu ao desejo de se bater com um taco de hóquei. Em vez disso,


ele apitou para mudar os exercícios. Eles jogavam no Savannah Renegades
em dois dias, e os Renegades eram um bom time que se baseava
principalmente na defesa. Então, era como assistir os Devils puxarem essa
merda de armadilha de zona neutra dos anos noventas. O que tornava o
hóquei chato de assistir. Mas exigia um certo grau de requinte técnico.
Portanto, Max não podia se revoltar com o namorado, enviar questionários de
autoajuda para Misha on-line e exigir saber as pontuações para ver se ele
ainda podia voltar.

228
A equipe era sólida, eles tinham uma boa ética de trabalho e, quando
não estavam tendo interlúdios dramáticos com jogadores homofóbicos,
exgarotos de aluguel e futuros produtores de pornografia amadora, eles
seriam material dos playoffs. Definitivamente.

Pelo menos toda essa coisa de rentista explicava como Misha era tão boa
em boquetes.

Aparentemente, Drake havia explicado à equipe que estava sendo


perseguido por alguém que ele não estava interessado.

— Não posso dizer que ele é um ex, Treinador Ashford. Você já viu
aquele cara? — E ele estava arrependido por ter feito uma birra. Isso foi
recebido com uma resposta estimulante de — Estamos acostumados a isso. —
A equipe deu a Drake uma brincadeira por fugir, e foi isso.

Quanto ao perseguidor, Max foi ao estacionamento no final da semana e


encontrou Misha enfrentando o mesmo cara no início da temporada o cara
suado e gorduroso aparentemente chamado de Jeff e deixando claro, em
termos inequívocos, que Jeff não estaria incomodando Drake novamente.
Max se aproximou no caso de precisar dar uma mão ou um cotovelo na cabeça
ou algo assim, mas Misha fez o cara recuar contra o lado da arena e em uma
voz baixa e ameaçadora disse:

— E se eu ouvi falar de você aparecendo em qualquer lugar perto de


Isaac novamente, idiota, e eu vou fazer você se arrepender. — Aparentemente,
isso foi suficiente para convencer Jeff de que ele deveria encontrar outra
estrela pornô em potencial para suas produções atrevidas e de baixo

229
orçamento.

Belsey não era tão facilmente influenciado. Levou Max e Misha em seu
escritório por dez minutos, o que foi desagradável, porque Belsey gritou
quando não estava bravo. Mas quando ele terminou, ele apontou para Misha
e disse:

— Devo entender que esse idiota estava ameaçando um dos meus


jogadores porque ele é gay?

— Sim. — Disse Misha, e Max assentiu.

— E você não achou que deveria me dizer.

— Eu tentei. — Disse Misha, sua voz revelando que ele estava chateado,
mesmo que ele ainda tivesse sua frente russa inexpugnável.

— Não, Treinador Samarin. Se você se lembrar, não fez isso. Eu lhe


disse que manteria o filho da puta fora, se tivesse um motivo para acreditar
que ele estava ameaçando a segurança de Drake, e você não me disse o que
era.

— Eu não sabia na época. — Disse Misha.

Belsey bufou.

— Como você teria me dito, mesmo que o fizesse. Veja. Eu sou um


idiota, mas de jeito nenhum um idiota vai ameaçar um dos meus jogadores
porque ele dá para os caras. Ou pega. Não conheço a linguagem.

Oh, graças a Deus pelos pequenos favores.

230
Ele e Misha devem ter parecido duvidosos, porque Belsey olhou para os
dois e então retrucou:

— Como se eu desse a mínima se há caras gays no meu vestiário. Quero


dizer, eu contratei o Treinador Ashford. Não é?

— Espere. O que? — Os olhos de Max se arregalaram.

— Você é gay. Você não é? — Belsey levantou a mão. — Espere. Deixa


pra lá. Não responda. Provavelmente serei processado por perguntar isso a
você.

— Max não é gay. — Disse Misha, e, de repente, teve medo de perder a


calma e dar um chute nos joelhos que Belsey esperava de volta quando eles
foram apresentados pela primeira vez no início da temporada. — Eu sou.

Isso matou muita ira dele, ali mesmo. E, para que Misha não estivesse
sozinho, Max falou:

— Eu sou bi. Bissexual.

— Eu posso ver nosso novo comercial agora. — Belsey começou a


cantarolar a música “It's Raining Men14”, e Max e Misha o encararam com
horror abjeto até Belsey jogar a cabeça para trás e uivou de tanto rir. — Você
deveria ter isso vindo. E, para que conste, sou um idiota e não ganhei meu
dinheiro sendo bom para as pessoas, mas não vou permitir que uma dessas
crianças seja gay espancada pelo meu time. Dê-me o nome dele, e vou
garantir que ele nunca mais receba uma multa. Ou um emprego. E Samarin,

14
https://youtu.be/l5aZJBLAu1E

231
da próxima vez, tente me dizer que essa merda é séria, em vez de apenas me
encarar.

— Eu impliquei. — Misha mordeu.

— Ótimo. Da próxima vez, tente me dizer com palavras simples e


antigas. — Disse Belsey, olhando fixamente para Misha. — Tente pegar
algumas dicas do seu namorado por lá. Geralmente ele não cala a boca. Acho
que é por isso que você enfia as coisas na boca dele.

Misha deu um passo em direção a Belsey, com as mãos cerradas ao lado


do corpo, mas Max reagiu agarrando o braço de Misha e puxando-o à força.
Ele também estava lutando contra uma risada selvagem e histérica porque...
Bem, isso era meio que verdade.

— Como você...

— Vocês dois aparecem juntos para praticar, passam todo o tempo


juntos, vieram juntos à minha festa de Ano Novo e vocês tiveram o Dia de
Ação de Graças na casa dele com seus pais. — Belsey olhou para eles. — Era
para ser um segredo?

O olhar deles deve ter revelado isso, porque Belsey gargalhou como um
corvo.

— Oh meu Deus. Isso é hilário. Espere até eu contar para Anna.

Eles se viraram para ir embora, mas as últimas palavras de Belsey


foram.

— Oh. E assim você não tenta me processar, eu não ligo se vocês estão

232
transando. Estou fodendo uma garota com metade da minha idade e também
não é a primeira nem a última vez. Apenas tente não terminar em um artigo
sobre Deadspin.

— Vamos. — Disse Max, puxando com força o braço de Misha.

Misha precisava sair de lá. Max não tinha ideia do que ele faria com
Belsey, se não o fizesse. E Max continuou lutando contra uma vontade
absurda de rir, imaginando como o cara mais desprezível que ele conhecia
conseguiu possuir e administrar o time mais gay da ECHL.

Eles foram ao escritório de Misha para que ele pudesse se refrescar, e


Max deu um ou dois minutos de silêncio. Então ele disse:

— Não posso decidir se ele não é tão ruim quanto eu pensava que era, ou
se ele é pior.

— Não é por isso que eu coloco meu pau na sua boca. — Disse Misha.

Max bateu a mão na boca para reprimir uma risada. Não deu certo.

— Oh meu Deus. É por isso que você está bravo?

— Ele não deveria dizer essas coisas. — Misha murmurou.

— Não, mas vamos lá. Você tem que ver como isso é engraçado. — Disse
Max, abrindo um sorriso. — Jack Belsey, o homem mais desprezível do
mundo, também não se preocupa com o fato de seus treinadores estarem
dormindo juntos e de que o goleiro é gay?

A expressão de Misha permaneceu dura.

233
— Não é engraçado.

Max sorriu.

— Oh vamos lá. É um pouco engraçado.

Misha arqueou uma sobrancelha justa para ele.

— Como se a briga de banco fosse engraçada?

— Sim. — Disse Max. — Você curtiu isso.

Ele não queria mais dormir em seu apartamento. Ele não queria que
nenhum deles fosse atrevido e infeliz, especialmente porque sabia que ainda
era isso que Misha pensava que merecia. Mas Max acreditava com todas as
fibras de seu ser que Misha precisava trabalhar com toda sua culpa e aversão
interiorizadas. Como Misha poderia fazer isso se Max estava por perto o
tempo todo?

Talvez vocês dois parem de pensar que sabem o que a outra pessoa
precisa.

Max se perguntou o que seus pais fariam nessa situação. Por incrível
que pareça, o conselho de Belsey de “tentar me dizer com palavras simples e
antigas” ecoou em sua cabeça. Pela primeira vez, talvez o idiota estivesse certo
em alguma coisa.

— Misha?

— Sim, Max?

Max alcançou Misha para fechar a porta.

234
— Dormir naquele apartamento é péssimo. Também já usei essa camisa
duas vezes esta semana. — Ele estendeu os braços para mostrar a camisa que
realmente precisava lavar. — Todas as roupas que costumo usar estão na sua
casa. Honestamente, quase tudo que possuo, que não são os móveis, está na
sua casa.

Misha não disse nada, mas observou Max com sua expressão cautelosa
de sempre.

Palavras antigas simples. Direita.

— Não sei o que fazer. Eu não quero que você se odeie, mas, Humm...
Eu também não quero ser infeliz. E eu estou meio que infeliz. Eu não sei sobre
você.

Misha se aproximou, estendeu a mão e passou os dedos sobre o lábio


inferior de Max. Isso fez o pau de Max ficar duro imediatamente, porque ele
estava infeliz e excitado.

— Claro que estou infeliz. Mas você estava certo, Max. Não foi justo da
minha parte pensar que você não me desejaria mais depois de ouvir minha
história. Mas, Max. Eu... — Ele fez uma pausa quando houve uma batida na
porta e deu um passo para trás e se transformou no modo Treinador. — Sim?

Drake levantou a cabeça.

— Acho que preciso de uma carona, já que moro com você agora. — Ele
olhou para Max. — E se o Treinador Ashford quiser ficar, tudo bem. Sou gay,
posso lidar com isso porque vocês estão juntos. E toda a equipe agradeceria se

235
vocês dois fizessem as pazes.

Misha disse algo em russo. Max reconheceu uma das palavras porque a
ouvira no gelo de alguns outros jogadores russos. Então isso provavelmente
significava que era ruim.

— Espere. Por que você acha que estamos juntos? — Max perguntou.
Então ele percebeu o quão inapropriado era perguntar a um de seus jogadores
por que ele achava que Max e o treinador estavam desossando. — Drake, eu e
o Treinador Samarin precisamos de um minuto.

Drake revirou os olhos.

— Espere. É sério? Treinador Ashford, seus pais estavam na casa do


Treinador Samarin no Dia de Ação de Graças. E tem um monte de suas coisas
na casa dele. Como na máquina de lavar.

Misha falou enquanto Max tentava e não conseguia encontrar a coisa


certa a dizer.

— Drake, quando eu quiser falar com você sobre minha vida pessoal, eu
aviso você. Não é agora e não aqui. Espere por mim lá fora.

Porra. A voz de treinador de Misha não estava ajudando o problema de


Max de ser infeliz e excitado.

Drake sorriu. Não era o sorriso irreverente de sempre, mas estava


definitivamente mais perto do que eles tinham visto dele recentemente.

— Certo. Mas sério, por favor, faça as pazes. Todos gostamos mais
quando vocês dois transam regularmente. — Drake levantou as mãos. — E

236
não fique bravo comigo. Eu sou o capitão. É meu trabalho dizer essas coisas.
— Drake balançou as sobrancelhas. — E explique à equipe o que significa
quando digo como envio vocês dois.

— Lado de fora. Ou em cinco minutos, será seu trabalho explicar por


que há um saco de patins. — Ameaçou Misha.

Drake fez uma saudação, pensativamente fechou a porta atrás de si e


desapareceu.

Misha se sentou na beira da mesa, esfregando a ponta do nariz.

— Acho que este não é o melhor lugar para conversar sobre isso.

— Por que não? Parece que toda a equipe já sabe do que estamos
falando. — Disse Max, tentando aliviar o clima. Misha parecia tão...
Derrotado, como se ele já soubesse aonde a conversa estava indo e qual seria
o resultado.

Ocorreu a Max que, com a exceção de sua reintrodução por Jack Belsey,
a única vez que ele e Misha reagiram um ao outro sem antes pensar demais na
morte foi enquanto jogavam hóquei.

— Eu tenho uma ideia. Leve Drake para casa, pegue um equipamento e


me encontre aqui em uma hora.

— Equipamento? — Misha balançou a cabeça. — Eu não estou andando


de patins, Ashford.

— Não estamos andando de patins, Samarin. — Disse Max. — Vamos


jogar hóquei.

237
Enquanto Misha foi levar Drake de volta para casa, Max pulou de jipe e
voltou para seu apartamento onde não pretendia passar mais uma noite se
pudesse evitar e vasculhou as caixas empilhadas em sua sala de estar.

Finalmente, ele encontrou algumas roupas velhas e uma de suas


camisas antigas, jogou tudo em uma bolsa o que, uau. Ele não sentia falta de
carregar essa merda por aí ou como ela cheirava e entalou o calor por um
senso de otimismo. Ele seria miserável o suficiente se ele voltasse para lá. Não
importava o quão frio estava.

A pista estava quieta, o gelo brilhando sob as luzes abafadas enquanto


Max se sentava no banco para amarrar os patins. Misha, que morava mais
perto da pista do que Max, já estava no gelo.

Ele estava vestindo uma camisa também. Uma camisa dos Bruins.

Max olhou para ele, preso entre o ódio perfeitamente racional que um
ex Hab deveria sentir por um exBruin, e a luxúria de quão quente Misha
parecia patinar. Max o via no gelo praticamente todos os dias, mas havia uma
diferença entre o Treinador Samarin em sua roupa preta, com seu apito
prateado e o olhar sempre presente, e Misha, o jogador, usando aquele odiado
raio B, parecendo mais alto e mais amplo no equipamento dele.

Max saiu para encontrá-lo e acenou com a cabeça para a camisa.

— Bruin do caralho. Sua equipe era um bando de bandidos, você sabe.

Misha respondeu, não com palavras, mas fazendo um movimento de


mergulho com as mãos.

238
— Oh, foda-se. — Max riu, fingindo ir para as luvas. Em vez disso, ele
passou um círculo em volta de Misha e parou quando viu a parte de trás do
uniforme Samarin com o número dezesseis. Max esperou para ver se isso lhe
dava algum tipo de calafrio, mas não dava.

— Vamos lá. — Ele disse e largou o disco.

— Eu sou um defensor. — Misha lembrou, enquanto ele caminhava ao


lado de Max. Nenhum dos dois era particularmente rápido, visto que eles
lideravam o condicionamento em vez de fazê-lo, mas não eram ruins para
alguns jogadores aposentados.

O disco dançou no taco de Max enquanto ele patinava.

— Então defenda. Lembre-se também de que não posso ver à minha


esquerda. E se você se desculpar, eu vou te matar.

— Como um Hab. — Misha disse, e Max sentiu uma onda de pura


alegria sem adulteração ao descer o gelo com um antigo Bruin correndo atrás
dele. Ele sempre amou jogos entre Habs15 e Bruins16. Não havia outra
rivalidade como essa em todos os esportes profissionais.

Max era um pouco mais rápido em patins, mas sentiu uma cãibra ao se
aproximar do gol, e Misha apareceu do lado direito, não do lado esquerdo e
roubou agilmente o disco. Ele não começou a descer o gelo, no entanto. Ele
parecia tão animado quanto Max.

— Estranho que passei vinte anos fazendo isso todos os dias.


15
Canadiens de Montréal é um clube de hóquei no gelo, cuja franquia está sediada em Montreal, cidade da província de Quebec, no Canadá.
Disputa a Divisão do Atlântico da Conferência Leste da National Hockey League.
16
O Boston Bruins é um time de hóquei no gelo que disputa a NHL, sediado em Boston, Massachusetts. Fundado em 1924, foi o primeiro time dos
Estados Unidos a se unir à NHL, bem como o primeiro a vencer a Copa Stanley, em 1928.

239
— Eu sei certo? Isso me faz sentir um pouco mal com esses patins.

— Não eu. — Disse Misha. — Eu fiz o suficiente deles também.

— Bruin... — Max bufou. — Parece que até seus treinadores eram


bandidos.

— Principalmente foi quando eu era mais jovem. Na Rússia. — O passo


de pernas longas de Misha era difícil de acompanhar, mas Max podia sentir a
queimação nos pulmões e a fadiga em seus músculos cederem quando seu
corpo se aqueceu com a atividade familiar.

— Por que você queria ser um defensor? Além do fato de você ter um
metro e noventa todos os membros, quero dizer. — Max correu e tentou
roubar o disco. Misha deu a ele um olhar ofendido e o colocou no bastão, mas
depois o enviou de volta para Max com um passe de pires.

Max concentrou-se e enviou um tapa direto no gelo. O disco atingiu a


parte de trás da rede, mas a luz do gol não estava conectada, então não havia
luzes ou sons piscando. Ainda assim, era sempre gratificante, mesmo que não
contasse. Max jogou os braços para cima em vitória.

Misha patinou para frente e pegou o disco da rede.

— Meu pai intimidou todos que ele conhecia. Gostei da ideia de


defender alguma coisa. Protegendo. Não podia fazer isso em casa, mas podia
no gelo.

Isso fez Max querer andar ate ele e derrubar Misha no gelo e beijá-lo.
Em vez disso, ele bateu nele com o ombro.

240
— Eu queria marcar gols e ser um herói.

Misha sorriu para ele carinhosamente.

— Você deve ter ficado desapontado por acabar sendo um Hab.

Max riu e bateu nele com um pouco mais de força.

— E você teve que defender o maior bando de bandidos do hóquei.

Misha sorriu, mostrando os dentes e roubou o disco.

Max correu atrás dele, rindo, mas não havia como ele alcançar. Misha
tinha anos de carreira profissional em seu currículo, em comparação com a
breve passagem de Max pelas grandes seleções, e ele facilmente mandou o
disco para o fundo da rede. Não doeu que ele tivesse mil pés de altura e se
exercitasse religiosamente.

— Eu realmente não estava tentando pará-lo. — Max ofegou.

— Você é um perdedor dolorido. — Disse Misha, e não havia nada em


sua voz, além de calor, carinho e provocações. Era estranho que o único lugar
em que deviam ser os mais desconfortáveis, o único que deveria sobrecarregar
os dois com lembranças do acidente, fosse o único lugar em que tudo
terminou.

É assim que você ganha jogos. É como Misha disse no começo do ano.
O passado não importa, ou o futuro. Não pense no próximo jogo, nem no
próximo período. Basta pensar na foto que você vai tirar, e isso é tudo.

O passado acabou e era hora de seguir em frente.

241
Misha passou o disco para ele, e eles passaram alguns momentos em
companhia fácil, não patinando tanto quanto descendo o gelo como uma
unidade. Como um time. Pena que eles nunca tenham jogado juntos. Mas eles
estavam lá por uma razão e, por mais divertido que fosse, havia coisas que
precisavam ser ditas.

Max atirou o disco em direção à rede novamente para lhe dar um


momento para pensar enquanto tentava recuperá-lo.

— Ainda não vejo por que você está tão enojado de si mesmo, mas não
de Drake, que fez a mesma coisa. E quero dizer, sua vida estava em perigo,
Misha. — Ele finalmente entendeu o que Misha quis dizer quando disse a Max
que seu pai era açougueiro.

— Eu fugi, Max. — Disse Misha. Eu deixei minhas irmãs. Minha mãe.


Com ele. E nunca tentei descobrir se estavam bem. Acabei de sair.

Max enviou o disco para ele com um passe fácil.

— Você acha que eles queriam que você ficasse lá e fosse morto por ser
gay?

— Não. Minha mãe teria me dado o dinheiro para sair se pudesse. Às


vezes acho que ela sabia o que eu estava fazendo para ganhar. — Misha pegou
o disco no bastão e o mandou de volta. Ele teve um tiro bom e forte - firme e
regular. — Um dia meu pai vai morrer. E então talvez eu possa procurá-la. E
as minhas irmãs.

Max ficou triste com a necessidade disso. Mas como ele bem sabia, a

242
vida nem sempre era justa, e às vezes você perdia coisas que não queria
perder.

E, às vezes, você tinha que se agarrar às coisas e nunca deixá-las ir.

— Veja. Eu te amo. E acho que talvez seja bom para você. Você ri às
vezes quando estou por perto. Não sou perfeito, mas depois do acidente
percebi que, se algum dia eu seria feliz novamente, teria que aprender a
aceitá-lo e ir além. E você sabe o que me ajudou a fazer isso? Minha família,
que me trouxe para casa e me ajudou a pagar as contas que de repente não
pude pagar. Meus amigos, que me disseram que não era estúpido querer
treinar e me ajudaram a começar. Então talvez você não precise que eu lhe dê
espaço. Ou talvez esteja apenas dizendo isso porque não quero dar a você.
Não sei. Mas eu sei que meu apartamento está frio pra caralho como...
Sibéria? O North Pole? Qualquer um deles é mais frio.

— No seu aniversário, eu estou lhe comprando um atlas. — Disse Misha


e patinou para ele. Ele colocou uma mão enluvada no ombro de Max. — Não
sei se me amo, Max. Mas sei que te amo e que você fala sério quando diz que
me ama. Talvez eu possa me ver como aquele homem, aquele que você ama,
em vez do que eu sempre vejo quando olho no espelho.

Max olhou para ele.

— Uau, Misha. Essa foi a coisa mais brega e romântica que alguém já me
disse. — Mas Max tinha certeza de que seu sorriso era tão brilhante quanto
qualquer luz em qualquer objetivo que ele já tivesse marcado. — Mas vá em
frente e continue pensando que eu sou incrível.

243
Misha se inclinou para beijá-lo um pouco sem jeito, considerando a
diferença de altura, o gelo e o fato de ambos estarem usando patins.

— Venha para casa, Max. — Disse Misha. — E tire suas roupas da


lavadora.

Max bateu Misha com o ombro e desceu o gelo com o disco. Misha
manteve-se cuidadosamente ao lado onde a visão periférica de Max não
estava danificada.

Assim como a última vez que eles estiveram juntos no gelo, algo
terminou. Mas havia algo melhor lá para tomar o seu lugar.

244
Capítulo 14

Misha ficou do lado da pista e observou sua equipe enquanto eles se


moviam suavemente através dos exercícios do dia. Max ficou perto, fazendo
anotações e ocasionalmente dando um tapinha nas costas ocasionalmente.

Os Spitfires estavam ganhando jogos, o que era uma coisa boa, porque
significava que não havia novo comercial definido como “t's Raining Men”.
Nenhum deles iria passar por Belsey.

Jakob visitou a casa de Misha e fez um pedido de desculpas a Drake por


seus comentários homofóbicos. Max espiou da cozinha sem nenhum remorso
e alegremente repetiu a conversa mais tarde para Misha. A equipe estava se
dando bem tanto no gelo quanto fora dele, e isso era tudo o que importava.

Misha não tinha tanta certeza de que ele estava avançando na


insistência de Max de que ele “se ama.” Misha entendeu a teoria, mas achou
que era um tipo de conceito de autoajuda muito americano que ele não era
capaz de dominar completamente. Mas ele passava as noites de quarta-feira
na pista com seu novo hóspede. E nessas noites, Drake era Isaac e Misha era
Misha em vez de Treinador. No começo, eles simplesmente jogavam hóquei e
não falavam muito. Misha achou agradável jogar com um goleiro tão
talentoso e foi difícil marcar com ele. Quando ele estava relaxado, Drake era
um obstáculo formidável, apesar de não ter a largura dos ombros e pernas

245
longas que alguns dos outros membros da liga tinham. Ele era gracioso e
confiante e sorriu mais do que fez uma careta, mas foi só no começo da
primavera que ele começou a conversar.

No começo, não era muita coisa, apenas algumas informações aqui ou


ali sobre sua vida, sua família e como ele foi expulso de casa aos dezessete
anos e teve que desistir de seu lugar em um time de hóquei em
desenvolvimento porque ele não podia pagar por isso.

Ele era de Memphis e morava em Columbia, Carolina do Sul, quando


soube dos testes dos Spitfires. Ao contrário da LNH ou da LAH, não havia
nenhum requisito preliminar para a ECHL, e as equipes poderiam ter testes
abertos para suas listas. Drake só trocou sexo por dinheiro durante o verão,
quando não tinha o subsídio de moradia da ECHL para pagar aluguel, e o fez
na Columbia, onde achava que ninguém jamais o reconheceria.

— Você ficará comigo e com o Treinador Ashford neste verão e na


próxima temporada. — Disse Misha. — Economize seu subsídio de moradia.
Tenha uma conta poupança. Não guarde seu dinheiro em uma jarra no seu
armário.

— O meu está em uma caixa na minha gaveta de roupas íntimas, mas


tudo bem. — Drake tentou uma vez trazer a questão do dinheiro, e Misha o
fechou dizendo que ele jogava hóquei profissional por vinte anos e mal
gastava algum dinheiro, porque, como Treinador Ashford sempre dizia, Misha
tinha dificuldade em se divertir.

As histórias de Drake tornaram-se gradualmente mais sombrias,

246
subjacentes à dura realidade de viver nas ruas, e Misha se viu compartilhando
suas próprias memórias com alguém pela primeira vez.

Até Max não sabia dos detalhes que Misha compartilhou com Drake,
que era algo que Drake entendia.

— Treinador Ashford sempre acha que as pessoas são boas. Como se ele
pensasse que todo mundo tem um bom coração, boas intenções ou qualquer
outra coisa. — A voz de Drake ficou plana. — Não sei se estou feliz por haver
pessoas que pensam que isso é verdade, ou chateadas por saber que é uma
mentira.

A história de Drake não era nem de longe tão horrível quanto a de


Misha, mas Misha estava começando a entender que ele nunca se permitia
aproveitar a vida que quase morrera tentando ter.

E se alguma coisa o ajudou a se curar, era ser amado por Max Ashford e
sabendo que ele provavelmente salvou Isaac Drake de acabar como ele. Drake
estava rachado nas bordas, mas ainda não tão quebrado que não podia ser
consertado.

No caminho de casa para o jogo de hóquei noturno de quarta-feira,


Misha aproveitou os últimos momentos em que eles eram simplesmente
Misha e Isaac para fazer uma pergunta.

— Era realmente tão óbvio... Sobre mim e Max?

Drake riu. Seus pés estavam apoiados no painel e os braços frouxamente


em volta dos joelhos. Antes de sair do carro, ele sempre usava uma toalha

247
sobressalente para limpar as pegadas do estofamento.

— Eu estava pensando se você me perguntaria sobre isso. O engraçado é


que nem eu percebi. Gaydar falhou?

Drake às vezes falava em gírias que Misha não conseguia entender. Ele
aprendeu a arquivar as expressões para mais tarde e perguntar a Max sobre
elas, mesmo se o seu “O que é um gato, Max?” Max caiu na gargalhada de tal
formaque Drake desceu para ter certeza de que estavam bem.

— Foi Murphy. — Disse Drake, sorrindo. — Elefoi do tipo, espera. Eles


estão fazendo isso. Certo? E, obviamente, todo mundo olha para mim como se
eu fosse o especialista. O que, como a maioria dos caras é heterossexual, acho
que sou. — Ele fez uma pausa. — Quero dizer, alguns deles são curiosos o
suficiente quando estão bêbados para dar uns amassos em uma festa,
especialmente se houver garotas por lá. Mas mesmo assim.

— Então Murphy foi como, 'Vocês não percebem que eles estão sempre
aparecendo juntos e saindo ao mesmo tempo?‟ — Drake sorriu. — Mas...
Todos pensamos que o Treinador Ashford era gay. — Mesmo nos limites
seguros dos jogos de quarta-feira e nos passeios de carro que faziam parte
disso, Drake nunca se referiu a Max por outra coisa que não o Treinador
Ashford. — Mas ninguém acreditou que você fosse. O que é idiota, porque eu
chupei muito pau e realmente não há como você saber quem está envolvido.
Mas quero dizer, Treinador Ashford sempre foi… Ele assiste muito a você. E
sorri. — Drake fez uma careta. — É meio nojento e piegas.

Misha ficou horrorizado ao sentir seu rosto corar.

248
— Max sorri muito. Sim.

— É estranho. Eu pensei que ele estava apenas tentando fazer todo


mundo gostar dele, mas então eu percebi que ele era assim. E todo mundo faz
como ele. — Drake assegurou. — Mas é difícil acreditar no Treinador
Ashford... Tipo, ele é gostoso e um cara legal? E bissexual? Então, um maldito
unicórnio, então.

Misha piscou. A gíria de Drake, combinada com aquela do sul,


ocasionalmente o tornava difícil de entender.

— A... Você disse unicórnio?

Drake assentiu.

— Sim. Tipo, bissexuais gostosos devem ser um mito. Como unicórnios.


Mas realmente não acho que o Treinador Ashford... Quero dizer, aposto que
ele é mais gay do que pensa que é.

A conversa provavelmente deveria parar, mas Misha estava...Talvez não


fascinado, mas algo próximo disso.

— Você acha que Treinador Ashford não é realmente bissexual?

— Não. Eu só…. Ok. Então, eu não estou dizendo que não há caras
bissexuais. Deus não. Lembra do jogo que tivemos em Bakersfield há algumas
semanas? Conheço alguns dos caras desse time e saímos depois do jogo.
Enfim, eu estava tentando explicar tudo isso, mas acho que não estava
fazendo um trabalho muito bom e fiz parecer que eu disse que não havia
bissexuais. E um dos caras, a noiva dele estava lá e, tipo, gritou comigo por

249
dez minutos e ligou para o namorado do goleiro do Jacksonville Sea Storm
para me dar uma palestra sobre apagamento bissexual? Eu não sei. Foi
estranho. Mas só estou dizendo que às vezes as pessoas pensam que ser gay
significa que você nunca achará as garotas atraentes. E isso não é verdade. Eu
acho que as garotas são atraentes às vezes. Tipo, tudo bem. Aquela garota em
Bakersfield acho que o nome dela era Zoe ela era totalmente gostosa. Eu
apenas pensei que o noivo dela era muito mais quente.

A diferença entre Misha e Drake, Misha percebeu, era que Drake fora
estigmatizado por ser gay, renegado e expulso por causa disso, mas ele nunca
o internalizou e pensou que sua atração por homens era algo para se
envergonhar.

Max também não chegou a pensar nisso. Apesar de ser “novo em ser bi”,
como ele gostava de dizer, Max não tinha um sentimento interno de culpa ou
vergonha. E por mais desconfortável que fosse admitir, Misha teve que
admitir que sim.

É verdade que Max e Drake não moravam em um país onde ser gay era
ilegal, mas Misha também não. Não mais. E isso significava que já fazia muito
tempo que ele deixou de ter vergonha. Talvez por isso Max tenha sugerido que
Misha e Drake participassem dessas sessões de hóquei na quarta-feira à noite.
Max era mais esperto do que qualquer um especialmente Belsey lhe dava
crédito.

Misha estacionou o carro na garagem atrás do jipe de Max e desligou o


motor. Ele pensou cuidadosamente em como expressar o que queria dizer.

250
— Eu quero que você saiba que isso foi... Bom para mim. Ouvir você
falar do jeito que você fala.

— Sobre como eu acho que seu namorado é gostoso?

Misha sorriu brevemente com isso.

— Num sentido. Sim. Você fala de ser gay como é... — Ele acenou com a
mão. — Não sei bem como dizê-lo.

— Como se eu fosse um cara normal de vinte e poucos anos falando


sobre sexo? — Drake deu o tipo de suspiro preferido pelos adolescentes
cansados. — Ele é normal, Misha. Essa e a coisa. Quando meus pais me
expulsaram, disseram que eu poderia ficar em casa se eu fosse a algum campo
intensivo para se “livrar-se do gay” ou algo assim. — Drake revirou os olhos.
— Eu considerei isso, mas apenas porque pensei que talvez houvesse um
monte de gays fofos e reprimidos lá. Então percebi que ir para lá seria como
admitir que pensei que estava errado. Quero dizer, não estou dizendo que isso
seja verdade para as outras pessoas lá, já que não fui, então nunca as conheci.
Mas eu não deixaria ninguém tirar isso de mim.

Misha pensou sobre isso.

— Rezei para que isso desaparecesse. Para qualquer santo que possa
ouvir, é o que eu pedi. E pensei que quando não responderam não
responderam.

— Talvez a resposta deles tenha sido que não havia nada que você
precisasse se livrar. — Drake colocou uma mão muito cuidadosa no ombro de

251
Misha, que era a primeira vez que Misha pensava que Drake o havia tocado. —
Desde que estamos compartilhando merda, eu queria te agradecer. Por ter
vindo me encontrar quando fugi. — Ele abaixou a cabeça e sua voz estava
pesada e sufocada pelas lágrimas. — Isso nunca... Meus pais me deixaram ir, e
não posso lhe dizer o que significa para mim que você não o fez. Então,
obrigada.

Misha cuidadosamente colocou a mão no ombro de Drake e apertou.


Então ele deixou cair sem comentar. Ele não era tão bom com palavras
quanto Max, mas, neste caso, ele não achava que havia algo que precisava ser
dito.

Mais tarde, Misha observou Max percorrer sua rotina habitual antes de
dormir, o que equivalia a conectar alguns aparelhos nos carregadores e
garantir que ele tivesse algo para vestir no dia seguinte. Misha costumava ler,
mas, em vez disso, ele observava descaradamente Max, que tirava a cueca
boxer. Ele pegou Misha olhando e deu a ele aquele sorriso brincalhão e
irônico que Misha gostava tanto.

— O que?

Misha falou antes que ele pudesse mudar de ideia.

— Você me lembra muito o primeiro homem que eu beijei. Um garoto,


sério. Nós tínhamos apenas quinze anos.

— Eu lembro de um garoto de quinze anos? — Max deu a ele um olhar


ofendido. — Alguém ia transar hoje à noite, mas agora não vai. Eww. E aqui,
você nem jogaria o jogo 'quem gosta de outras equipes'.

252
— É um abuso de autoridade, e você não queria brincar de quem era
gostoso. Acredito que suas palavras exatas foram; Quem você tomaria banho
depois de um jogo...

— Misha, você precisa relaxar e viver um pouco. Olhe para outros caras
gostosos. Só não chupe nenhum deles no chuveiro que não seja eu. — Max
corou dessa maneira, onde apenas as pontas das orelhas ficaram vermelhas.
— Estávamos conversando sobre você e o primeiro garoto que você beijou e
como eu o lembrei dele e como eu estava errado em pensar que isso soava
assustador, mesmo que totalmente.

— Ele tinha olhos bonitos. Gosto de você. Expressivo. E maçãs do rosto.


Muito boas maçãs do rosto. Mas ele era muito alegre. Como você é. Até
sobre... Sobre essa coisa que fazemos.

— Treinado hóquei?

— Fodendo. — Misha esclareceu.

— Quem não gosta de foder?

Apenas eu, aparentemente.

— Max, venha aqui. — Disse Misha, exasperado e divertido, e Max


caminhou até a cama, subiu em cima dele e o montou. Misha pegou o rosto de
Max entre as mãos antes que ele pudesse se inclinar e beijá-lo. — Eu não
gostava. Não por muito tempo. Desde o garoto com as belas maçãs do rosto.
Mas eu estou agora.

— Droga, certo. — Murmurou Max, contorcendo-se no colo, mas seu

253
sorriso afastou toda a escuridão da mente de Misha e limpou as nuvens de
trovoadas de suas memórias até que nada restasse além da luz do sol. — Eu
sou um prêmio, Samarin.

— Você é alguma coisa. — Misha concordou e beijou Max para impedir


que ele dissesse mais alguma coisa. — Max?

— Sim?

Misha o mordeu gentilmente na boca.

— Foda-me.

Max ficou parado no colo.

— Realmente?

— Sim. Se você quiser. — Misha se afastou um pouco para olhá-lo. Max


costumava ficar muito feliz por baixo, e se não estava com disposição, havia
outras coisas. Ele estava sempre com vontade de ser tocado, no entanto, e ele
gostava disso mais do que qualquer pessoa com quem Misha já esteve. Fale
sobre alegria.

Ele colocou o rosto entre o pescoço e o ombro de Max.

— Quando eu... Eu só deixei se fossepor muito... Dinheiro. — Ele


esclareceu. Misha concentrou-se em quão bom Max se sentia em seu perfume
e manteve as nuvens acumuladas de suas memórias afastadas.

— Oh! — Max disse calmamente, passando a mão nas costas de Misha.


— Bem, eu meio que estou sem dinheiro, mas eu vou fazer ovospara você de
manhã. Algumas torradas.

254
— Você queima a torrada. Toda vez.

— Eu ainda acho que sua torradeira está quebrada.

— Se você não tentar fazer a torrada, escovar os dentes e fazer dez coisas
ao mesmo tempo.

— Misha... — Disse Max, e Misha nunca se cansaria de ouvir a maneira


como Max dizia seu nome. — Quer fazer isso? Tipo, quer mesmo? Ou é outra
daquelas coisas em que você está tentando amar? Porque isso é legal e tudo
mais, e eu realmente quero transar com você, mas só o faço se você quiser.

— Max. — Misha interrompeu, e ele também nunca se cansaria de


dizer o nome de Max. Ele colocou um dedo sobre a boca de Max, que estava
um pouco inchada por causa de todos os beijos e mordidas. — Quero isso. Eu
quero você. Quero sentir você dentro de mim e quero ver como isso faz você
se sentir.

Max respirou fundo e beijou o pescoço de Misha.

— Oh. Ok. As coisas que faço por você.

Em todas as vezes que Misha deixou alguém transar com ele, era rápido,
furtivo e não havia como contornar isso, era vergonhoso. E ele não gostou. Ele
se lembrava vividamente de agarrar o colchão sujo e manchado embaixo dele,
cheirando urina de gato e desejando ter algo para torcer em suas mãos
enquanto o homem suava e bombeava em suas costas.

Mas houve um momento, logo após ele chegar à América, em que as


noites solitárias e as fantasias de como as coisas podiam ter sido cresceram

255
muito insistentes, e Misha procurou alguém para fazê-lo se sentir bem. E
tinha sido bom. O homem com quem ele esteve Misha não se lembrava mais
de seu nome tinha tomado seu tempo e fez Misha tremer e gemer, de bruços
em uma cama com lençóis limpos que cheiravam a nada além de amaciante
de roupas.

Ele gostou, e é claro que é por isso que ele nunca pediu depois disso. Ele
raramente transava com outros homens, porque isso também fazia parte das
atividades vergonhosas escondidas em salas escuras e becos.

Max, por ser Max, era desajeitado, excitado e carinhosamente


conversador enquanto transava com Misha. Parava de vez em quando para
beijar Misha no pescoço ou esfregar as mãos no corpo de Misha e lamber suas
tatuagens. E Misha estava de costas, não o estômago com o rosto enterrado
no colchão. E assistir Max era tão bom quanto ele pensava que seria. Mas
quando Max beijou entre suas coxas e suavemente enfiou a língua em seu
ânus, Misha não conseguiu parar a súbita torrente de palavras que se
espalharam quando seus quadris se contraíram de prazer.

— Há. — Max parou para sorrir para ele. — Vi isso na internet. Eu


esperava que você gostasse. Quero dizer, parecia estranho no começo, e os
caras do pornô sempre gostam de tudo, então eu não tinha certeza. Mas eu
olhei em alguns sites. — Ele se moveu de novo, a língua tremulando nas
bordas, e Misha colocou uma mão no cabelo de Max e agarrou
desesperadamente a roupa de cama embaixo dele com a outra.

A língua de Max pressionou dentro e o fodeu, e foi possivelmente a

256
melhor coisa que Misha já sentiu. Ninguém nunca tinha feito isso antes.
Apenas Max. E esse pensamento por si só era quase o suficiente para fazê-lo
gozar. Ele teria tentado dizer isso, mas as palavras seriam distorcidas e russas
e não faria nenhum sentido, mesmo que Max fosse um falante nativo.

— Você deveria relaxar enquanto eu faço isso. — Disse Max, e as


palavras penetraram no cérebro enevoado de Misha, o suficiente para que ele
abandonasse o aperto no edredom e segurasse seu pau na mão. — Apenas seja
mais legal com seu pau do que com meu cabelo. Tenho planos para isso mais
tarde. Seu pau, quero dizer. Você pode puxar meu cabelo com a força que
quiser.

Ele tentou suavizar seu aperto, mas Max voltou a foder com ele, e Misha
se acariciou tão rapidamente que ele poderia ter ficado envergonhado se não
fosse tão bom era. Quando ele conseguiu abrir os olhos, foi para ver Max
ajoelhado entre as pernas, deslizando o pau com camisinha e assistindo
Misha com óbvio prazer.

— Você estava alto. Você nunca é tão barulhento. — Max sorriu para ele
presunçosamente. — Você pode ser o treinador e o melhor em boquetes, mas
eu ganho em rimming.

A respiração de Misha se igualou.

— Eu acho... Talvez... Eu ganhei. — Ele ofegou. Então ele se mexeu para


que suas pernas se abrissem mais quando Max esfregou os dedos cobertos de
lubrificante sobre o seu ânus e deslizou para dentro para abri-lo.

257
Max se apoiou em cima dele e hesitou um pouco enquanto pressionava
a ponta de seu pênis contra Misha.

— Você vai me dizer para parar se doer. Ok? — Antes que Misha pudesse
dizer alguma coisa, Max bufou e revirou os olhos. — Espere um minuto. Com
quem estou brincando? É você. Claro que você não vai.

Misha tentou encará-lo e, em seguida, optou por sua voz de treinador ou


sua melhor aproximação já que ele sabia que sempre deixava Max quente
quando o usava na cama.

— Foda-me, Max. Eu quero muito.

— Jesus, Misha. — Max gemeu e empurrou os quadris para á frente. Ele


foi cauteloso como primeiro, mas Misha estava relaxado e aberto, e ele deixou
de ser tão cuidadoso quando ficou claro que Misha estava gostando.

Drake deve ter tido um sexto sentido sinistro sobre quando Max e Misha
foram para a cama e podem ser um pouco barulhentos, porque era
geralmente nessa hora da noite que um baixo e rítmico vinha batendo pelas
paredes enquanto havia alguma batida acontecendo lá embaixo no quarto
principal. Nem Misha nem Max pediram, e o som se tornou tão familiar que
dificilmente era perceptível.

Mas isso significava que Misha não precisava se preocupar com o som
de seus gemidos, embora ele honestamente não se importasse. Porque Max o
fodeu com uma determinação obstinada que era a coisa mais sexy que Misha
já tinha visto. Foi o suficiente para abalar todo o equilíbrio de Misha e deixá-
lo agitado e ofegante.

258
— Deus, isso é tão bom. — Max ofegou, a cabeça jogada para trás,
mostrando os músculos do pescoço e os machucados de Misha, os beijos
desesperados anteriores de Misha deixaram em sua pele. — Oh, é bom
quando você se move como...Ah... Foda-se...

Isso não era vergonhoso, não era culpado e não era sombrio ou de
alguma forma um castigo. Mas não era um prazer vazio como os homens que
Misha pagou também. Foi alegre e foi bom. Era tão bom que Misha sabia que
ele nunca mais teria problemas com isso, e o pensamento era tão
surpreendentemente libertador que era quase tão bom quanto seu orgasmo
anterior. Quase.

Misha alcançou atrás dele para agarrar a cabeceira da cama e se esforçar


mais para encontrar as investidas de Max. Ele começou a falar em russo. Max
metade caiu em cima dele e o fodeu com entusiasmo sem graça até que ele
gozou com um gemido abafado e uma mordida aguda no ombro de Misha.

Mais tarde, quando eles estavam limpos e na cama, a música de baixo


de Drake era atenuada um pouco.

— Ele deve achar que estamos velhos demais para passar tanto tempo.
— Max olhou para Misha e disse: — Você nunca me disse o que disse no
telefone para mim. Naquela noite, quando eu estava com meus pais. Mas
parecia a mesma coisa que você disse agora. Foi isso?

Misha assentiu.

— O que foi isso? — Max ergueu as sobrancelhas. — Puta merda, Misha.


Está a corando?

259
— Foi... Ah. Tentei pensar em algo que sabia bem. Sim? De cor mesmo.

— Foi parte dessa literatura, seja qual for, que Belsey odeia?

— Não. — Prometeu Misha. — Não foi.

— Então o que foi?

Misha pigarreou e começou a cantar as palavras que ele dissera, que


pertenciam ao hino nacional soviético.

Max ouviu por alguns segundos e depois fez uma careta.

— Você recitou a música de A caçada ao outubro vermelho? Eu nem


sabia que você era o dono desse filme.

Misha riu e não parou, mesmo quando Max o bateu com um travesseiro
e o chamou de comunista.

Na verdade, isso apenas o fez rir mais, rolar em cima de Max com um.
“Vamos ver isso, camarada, e ver quanto tempo levou para Drake aumentar
sua música.”

260
Capítulo 15

O último jogo do ano para o Spartanburg Spitfires foi o terceiro e último


jogo da temporada contra o Sea Storm de Jacksonville.

O Storm já era um ponto de partida para um playoff e, contra todas as


probabilidades, o pequeno time que não podia no início da temporada
precisava de apenas mais um ponto para se juntar a eles.

Um ponto. Eles tinham que vencer o Sea Storm no tempo regulamentar


ou, pelo menos, empatar e ir aos pênalti. De qualquer maneira, para que os
Spitfires jogassem hóquei na pós-temporada, algo que nunca haviam feito e
ninguém pensava que jamais fariam, tinham que vencer os atuais campeões
da Copa.

Em Jacksonville.

Em um sábado.

Max não tinha certeza do que esperava de sua equipe, exceto


nervosismo. E havia muitas porque, apesar de terem apresentado uma boa
exibição durante seu último encontro com o Storm em Spartanburg, ainda
não haviam conseguido encontrar uma maneira de vencer contra eles. Por
melhor que Drake estivesse no gol, Riley Hunter era muito melhor. Tão
produtivo quanto o artilheiro do Spitfires, Drew Crowder, era, o Bennett
Halley do Storm foi apenas um pouco mais.

261
Max não queria que sua equipe pensasse que não tinham chance,
porque isso estava apenas pedindo que não houvesse uma repetição do oito a
zero. Então, ele e Misha os enfrentariam com força e garantiram que a equipe
soubesse que não esperavam nada menos que uma vitória. Max foi capaz de
manter o moral de seus jogadores, mantendo os padrões exigentes que Misha
estava estabelecendo para eles no gelo. Sua combinação de estilos de
treinamento funcionou bem em conjunto, e Max estava determinado que sua
equipe vencesse o jogo. Não porque entrar nos playoffs seria uma grande
conquista para o time que terminou em último no campeonato na temporada
anterior e mesmo que fosse. Não era sobre o passado. Era sobre o futuro e a
promessa que Max podia ver na equipe, e ele queria que seus jogadores
compartilhassem essa visão e a vissem da forma mais clara possível.

Por isso, ele prometeu à equipe que, não apenas a recompensa por
vencer o jogo seria uma viagem aos playoffs e provar a todos que estavam
errados, mas Misha usaria o anel da Copa Stanley durante a corrida nos
playoffs. Disputar essa promessa de Misha tinha sido quase tão
intransponível quanto colocar os Spitfires na disputa dos playoffs em
primeiro lugar, porque Misha nunca havia colocado a coisa. Mas Max tinha
uma arma secreta em seu arsenal, e ele sabia exatamente o que fazer para
fazer Misha concordar com qualquer coisa. Foi assim que Max conseguiu que
Misha lhe mostrasse o maldito anel em primeiro lugar, já que ele o mantinha
escondido no fundo do armário, no cofre que continha o passaporte.

Misha fez o discurso antes do jogo em Jacksonville, o que ele nunca


havia feito antes do jogo em Toledo que se transformou em uma briga de

262
banco um fato que ele mencionou quando se dirigiu aos Spitfires antes que
pegassem o gelo para a queda do disco.

— Em Toledo, vi uma equipe se reunir no gelo. Agora eu preciso que


você faça isso de novo. Há um jogo que deve ser vencido, e nós o venceremos.
Há muito que deixamos o passado para trás. Agora vamos mostrar a todos
como eles realmente estavam errados sobre nós.

A equipe aplaudiu, e eles pareciam focados e prontos para jogar


enquanto se dirigiam para o banco. Drake ergueu o taco de goleiro para seus
companheiros de equipe enquanto ele patinava para tomar sua posição, e Max
ficou ao lado de Misha e desejou que ele tivesse toda aquela coisa de fachada
calma.

Ele não o fez. Mas, para seu alívio, o treinador do Sea Storm também
não estava. Ele estava gritando com seu time tanto quanto Max estava
gritando com o dele, e não havia motivo real, já que o Storm já estava indo
para os playoffs e era basicamente um jogo sem sentido para eles.

Mas as equipes que pensaram que havia um jogo sem sentido não
chegaram ao campeonato, e o Storm jogou com o maior ardor de sempre. E
mesmo sendo tão estressante quanto qualquer outro jogo que Max já treinou,
ele ficou satisfeito com isso. Ele queria vencer, mas queria vencer contra o
time de topo da liga, jogando o seu melhor, não o seu passável adequado.

E a equipe dele... Bem, os Spitfires apareceram com uma base de fãs


pequena e respeitável e uma atitude infernal. Eles estavam dando tudo de si, e
Max teria orgulho deles, mesmo que perdessem. Eles se comunicavam no

263
gelo, estavam concentrados, realizavam as peças que haviam praticado e
funcionavam como um time. Um esquadrão. Um que não estava pegando
fogo.

Havia algo a ser dito para uma equipe que não tinha nada a perder e
tudo a ganhar. Eles estavam jogando por suas vidas contra um oponente que
não tinha nem tanto em jogo. E isso ficou evidente na maneira como os
Spitfires jogaram, e nas decisões mais arriscadas que Misha tomou durante o
jogo e na maneira como seu foco era tão nítido no gelo que Max ficou
surpreso por não derreter.

Ele sabia que os caras estavam chateados quando o primeiro período


terminou empatado em nada e o segundo terminou com uma vantagem doSea
Storm. Eles tiveram apenas vinte minutos para não apenas marcar um gol no
aparentemente irreconhecível Riley Hunter, mas dois. E embora
tecnicamente um empate lhes desse o ponto necessário para garantir uma
vaga nos playoffs, Max sabia que sua equipe precisava da vitória mais do que
de uma viagem aos playoffs.

Este jogo foi o verdadeiro teste da temporada deles. O time jovem deles
poderia se unir e matar o gigante?

Agora minha vida é uma ESPN trinta por trinta especial.

Max suou de terno e tentou não olhar enquanto o relógio contava os


minutos. Eles não poderiam perder por um objetivo. De jeito nenhum.

Drew Miller encontrou o fundo da rede em cerca de seis minutos, dando


um impulso repentino aos Spitfires cansados. Com o jogo empatado e apenas

264
três minutos restantes no período, Misha e Max conversaram brevemente
sobre sua estratégia.

Eles poderiam fazer a coisa segura e confiar fortemente em sua defesa


para manter o jogo empatado, enviando-os para o tempo extras e os playoffs.
Manter o Sea Storm longe de marcar seria suficiente para ganhar um ponto
na classificação.

Ou eles poderiam mudar, dar tudo o que tinham ofensivamente, colocar


a maior parte da responsabilidade em Drake para impedir que o Storm
pontuasse, e torcer para que o ataque deles pudesse colocar um atrás de
Hunter e terminar o jogo com uma vitória Spitfires regulamentar. Foi uma
jogada mais arriscada que poderia custar-lhes o jogo, os playoffs e a
temporada deles.

O Storm esperaria que os Spitfires jogassem pelo seguro, especialmente


considerando o que estava em jogo.

— Se há uma coisa em que somos bons, não está fazendo o que alguém
espera. — Disse Max. Ele bateu na prancheta e trocou um olhar com Misha.

— Basta marcar um gol. — Disse Drake, enfiando a máscara no rosto. —


Eu vou segurar a linha. Foda-se uma gravata. Viemos aqui para vencer.

Os Spitfires conseguiram animar, e Misha deu um breve aceno de


cabeça, e foi isso. Drake voltou para o vinco, os Spitfires levaram ao gelo e os
últimos três minutos do jogo começaram.

Max não achou que ele respirou o tempo todo. Bennett Halley lançou

265
um tiro alto do lado da luva em Drake, que Drake pegou na luva e bateu no
gelo com tanta atitude que Max teria rido se isso quase não o fizesse
desmaiar. Ele e Misha assistiram a equipe lutar por posse de disco e seguir em
direção à zona do Sea Storm. Eles deram tudo o que tinham e fizeram
algumas fotos de má escolha enquanto estavam nisso.

— Eles vão me mandar para um túmulo cedo. — Max murmurou e


enfiou as mãos nos bolsos. — Devemos puxar Drake? — Isso daria aos
Spitfires seis skatistas em vez de cinco, e o Storm definitivamente não
esperaria que eles fizessem isso. Mas deixaria a rede dos Spitfires vazia e, com
noventa segundos de hóquei para jogar, isso poderia ser um desastre.

Misha realmente parecia que ele estava considerando, mas acabou não
sendo necessário. Faltando 14 minutos para o final do jogo, Etienne marcou
conseguiu um belo chute no canto, pois Hunter estava meio segundo atrasado
demais para parar, e o Spitfires subiu por 2-1.

Nos últimos setenta e cinco segundos, a multidão em Jacksonville se


levantou quando o Storm puxou o goleiro e enviou seis patinadores em
direção ao gol dos Spitfires. Mas os Spitfires não deixariam Drake levar o peso
de um ataque ofensivo sustentado do Storm, e para um homem, eles se
jogaram na frente dos tiros para bloqueá-los, mantendo-se apertados ao redor
do goleiro para que nada pudesse passar.

A campainha soou para terminar o jogo, e uma multidão que acabara de


assistir a um jogo infernal de hóquei aplaudiu de pé. Quando o Sea Storm
patinou para levar suas varas para seus fãs na tradicional saudação de

266
agradecimento, o Capitão Halley indicou que os Spitfires deveriam se juntar a
eles no gelo central. Isso fez Max sorrir, e ele e Misha aplaudiram junto com a
multidão. De todos os jogos que ele já havia vencido em toda a sua carreira
das ligas menores aos playoffs da Copa Stanley, esse era de longe o favorito
dele.

A equipe estava fora de si no vestiário, gritando e gritando e sorrindo


tão largamente que era difícil lembrar os rostos sombrios olhando para Max
depois dos cinco primeiros jogos da temporada. Max abriu a boca para dizer
algo, mas tudo o que conseguiu foi.

— Porra, maldito A, meninos. Maldito A.

Por mais absurdo que fosse, toda a equipe aplaudiu de qualquer


maneira.

Misha fez aquela coisa em que ele ergueu a mão e o vestiário ficou em
silêncio imediatamente, embora provavelmente tenha ajudado Drake a dar
duas pancadas na cabeça com o bastão de goleiro e dizer a todos para.

— Cale a boca. Treinador Samarin está falando, porra.

— Estou muito orgulhoso de todos vocês. Spitfires de fato. — Misha


agraciou a equipe inteira com um de seus raros sorrisos que mostravam
dentes. — Sejam um vencedor gracioso e deixem o time perdedor comprar
bebidas para vocês. Sim?

Houve um aplauso retumbante, e então Max e Misha saíram para a


noite quente de primavera para pegar o ônibus de volta para o hotel ao lado

267
da Interestadual. Não havia nada para olhar, mas pelo menos havia um bar do
outro lado da rua.

Max e Misha fizeram o seu caminho depois que Misha empurrou Max
contra a porta no segundo em que entraram no quarto e o foderam com tanta
força que Max sabia que ele teria hematomas nos quadris.

— Tudo bem. Bem. Talvez foder um Bruin tenha vantagens. — Max


ofegou, as pernas tremendo tanto com o orgasmo que ele precisou esperar um
minuto antes de se afastar da porta.

— Não é um Bruin. — Misha corrigiu. — Um Spitfires.

Eles encontram sua equipe, bem como alguns caras do Storm, no bar do
outro lado da rua. Chamava-se Bombers, e o especial deles parecia ser
nuggets de frango escaldantes, Bud Light e minipretzels com molho de
“queijo”. As citações sugeriam que era tudo menos um produto lácteo, mas
Max encomendou alguns de qualquer maneira porque estava morrendo de
fome.

Max instalou-se no estande e mal estremeceu quando se sentou. Na


maioria das vezes, ele ignorou o sorriso satisfeito que Misha provavelmente
pensou que ninguém poderia ver. Momentos depois, o treinador do Storm
juntou-se a eles, vestido com roupas menos formais, mas de alguma forma
ainda parecia bravo, embora ele estivesse sorrindo.

— Foda-se, idiotas. — O cara estendeu a mão. — Cole Spencer. Melhor


maneira de irritar nossos fãs no último jogo da temporada, idiotas.

268
Max e Misha apertaram a mão dele com uma risada e brindaram suas
garrafas de cerveja em um brinde silencioso.

— Vocês devem ser novos. No ano passado, lembro que o treinador


estava sentado no banco com os fones de ouvido e os olhos fechados durante
todo o jogo. Acho que seu goleiro estava chamando jogadas da rede.

Drake, que estava do outro lado do bar, encostado casualmente a uma


mesa de bilhar, conversava com Riley Hunter e um garoto desordeiro que
parecia um boxeador ou um cantor de punk rock coberto de tatuagens. Drake
sorriu e bebeu sua garrafa de cerveja tão sugestivamente que era quase
cômico.

— Esse é o seu goleiro? — Treinador Spencer perguntou, apontando


com sua garrafa de cerveja para Drake. — Ele é bom. O meu vai para a LAH se
vencermos a Copa novamente. Eu apenas sei disso. Passou quatro anos
treinando aquele garoto para ser ótimo, e agora ele vai jogar pelo Crunch em
Syracuse. E levar meu coordenador de extensão com ele, o filho da puta.
Spencer acenou com a mão e gritou. — Kennedy. Não quebre nada. Não
pagamos o suficiente para consertá-lo.

— Eu não vou, Treinador.

— Ele ainda me chama assim, apesar de executar o programa de


extensão e não jogar mais para mim. — Disse Spencer, mas havia um olhar
carinhoso no rosto do homem rude. — De qualquer forma, você
provavelmente já ouviu falar, mas os Ice Dogs receberam suas bundas pelos
Ravens, então é provavelmente com quem você vai enfrentar. Eu odeio o

269
treinador dos Ravens, então se você pudesse vencê-los, todos nós gostaríamos
disso. — Spencer recostou-se na cadeira e gritou: — Halley! Você está
mandando mensagens para sua namorada quando deveria estar festejando?
Droga. Aquele garoto ganhará a Copa Stanley e a levará para um maldito
escritório enquanto a namorada faz contas nela.

Halley, aquele que gostava de bibliotecas e matemáticas, apenas ignorou


seu treinador e ergueu uma cerveja na mão esquerda sem desviar o olhar do
telefone.

— Você poderia dizer para ela vir aqui em cima. — Murmurou Spencer.
— Ela não mora tão longe. Filhos do caralho e seus malditos telefones
celulares. Nos meus dias você queria ver sua namorada? Você jogou merda na
janela dela ou a fez mentir para os pais. Becker! Não coloque outro dólar
naquela máquina de loteria. Qual é o seu problema? — Spencer deu um
suspiro, levantou-se e ofereceu a mão. Vou mandar uma rodada. Bom jogo.
Talvez a gente se veja nas finais da conferência.

Max e Misha apertaram sua mão novamente e, alguns minutos depois, o


barman entregou duas cervejas em sua mesa. A eles juntaram-se Drake, que
usava um jeans que parecia que ele havia comprado em um brechó, uma
camiseta preta muito justa, cabelos azuis esticados em pontas de gel e...

— Você está usando delineador? — Max perguntou, inclinando-se para


um olhar mais atento. Com certeza, havia manchas escuras artisticamente
aplicadas sob os olhos de Drake. Com o piercing nos lábios e o cabelo, na
verdade parecia bem legal e embora Max absolutamente não admitisse isso

270
para ninguém, exceto talvez Misha... Mais tarde... Se ele estivesse bêbado e
estava muito quente.

— Isso é um problema? Ou você acha que, só porque Drake joga hóquei,


você precisa reforçar os padrões tradicionais de masculinidade. Hã? — O
garoto de cabeça raspada e tatuagens fixou os olhos castanhos estreitos em
Max.

— Sim, Treinador. — Drake demorou, toda atitude e desafio por


absolutamente nenhuma razão. A menos que ele estivesse tentando se exibir e
ser convidado para um trio, já que Max supunha que o coordenador de
divulgação do Storm era o namorado de Hunter. — Eu posso ser homem e
ainda usar delineador.

— Claro. — Max disse e deu de ombros. Ele olhou para Kennedy, com a
carranca e o problema de atitude, depois olhou para Hunter. De perto, ele era
tão alto quanto Misha e todas as pernas. — Bom jogo. Você é um maldito
obstáculo. — Ele estendeu a mão. — Max Ashford.

— Riley Hunter. — Ele deu a Max um aperto de mão firme e bom e


virou-se para Misha. — Você é Misha Samarin.

— Sim. — Disse Misha, seu rosto Misha perfeitamente no lugar,


cauteloso e remoto enquanto esperava que as pessoas o desapontassem
inevitavelmente.

Riley pigarreou.

— Então você estava... Você jogou para os Devils. Lembro-me, porque

271
sou um grande fã dos Devils. Mesmo nos anos em que não venceram
nenhuma Copa e todos pensaram que eram chatos.

— Armadilha da zona neutra do caralho. — Max murmurou. Por alguma


razão, Max havia esquecido completamente que Misha havia jogado em
outros times que não os Bruins.

— Eu fiz. Sim. — Disse Misha, ainda parecendo cauteloso.

— Você se importa…? — Riley pegou uma caneta e entregou uma


comanda dos Bombers. — Desculpa. É que eu sempre fui fã dos Devils a vida
toda e... Você sabe. Você ganhou uma Copa Stanley. Mesmo que fosse com os
Bruins e não com os Devils.

— Suave, namorado. — Disse o garoto punk. Mas ele estava sorrindo. —


Suave. Foi exatamente como você planejou.

— Cale a boca, Ethan. — Disse Riley. — Não escute ele. Ele é fã dos
Rangers.

Max teria dito alguma coisa, mas não conseguiu. Ele estava muito
divertido assistindo a uma Misha muito desconfortável e que odeia atenção
assinar um autógrafo. Misha devolveu a caneta. Com mais de seu sotaque
aparecendo do que o normal, ele disse:

— Tendência impressionante de gols.

Riley sorriu.

— Obrigado. — Disse ele. — Não é impressionante o suficiente hoje à


noite. — Havia um brilho em seus olhos escuros que mostrava o quanto o

272
garoto odiava perder, apesar de seu comportamento amigável. Max pensou à
toa que ele também ficaria bem em delineador.

— Você não pode vencer todos, — disse Drake. Então ele usou a boca
para fazer algo na garrafa de cerveja que fez Max revirar os olhos e Misha
sufocar o que Max tinha certeza de que era uma risada. — Vamos lá pessoal. A
próxima rodada é por minha conta.

Max esperou até que o trio estivesse em segurança no bar. Então ele se
inclinou sobre a mesa e disse:

— Então, você chuparia Riley Hunter no chuveiro? Você faria, né? Eu


acho que você estava totalmente checando a bunda dele.

— Shhh... — Disse Misha. — Eu assinei um autógrafo para ele, Max. Um


autógrafo.

Max tomou um gole de cerveja e sorriu.

— Gostaria de saber como ficaria com delineador.

— Você provavelmente furaria os olhos. — Disse Misha.

Max não respondeu, mas ele pegou a ideia de Drake e bebeu o mais
sugestivamente possível de sua garrafa de cerveja. Quando um olhar furtivo
mostrou que ninguém estava prestando atenção neles, ele passou a língua
pelo topo.

Misha terminou sua cerveja em um longo gole.

— Vamos sair daqui.

273
Capítulo 16

Os oponentes do playoff dos Spitfires no primeiro turno eram de fato os


Asheville Ravens, e enquanto toda a equipe, funcionários e investidores
ficaram muito felizes com a improvável inclusão dos Spitfires nos playoffs,
ninguém, nem mesmo o time, a equipe e os investidores esperavam que eles
vencessem.

Max sabia que era um tiro no escuro, e não era porque eles não eram
talentosos. Era porque eles não tinham nenhuma experiência nos playoffs
como equipe, e enquanto ele insistia que a atitude no vestiário era de
confiança o que era mais fácil graças à vitória em Jacksonville, ele sabia que
as expectativas para os Spitfires não eram tão alto.

Belsey deixou claro que eles precisavam vencer um jogo dos playoffs, de
preferência dois, um em casa e outro fora. Seria um grande negócio quando se
trata de vender patrocínios e ingressos para a temporada. Max e Misha
tinham prometido bônus que não se importavam e atualizações pelas
instalações que possuíam se conseguissem uma vitória em casa e fora.

Por mais irritados e empolgados que os Spitfires estivessem, ainda havia


muito trabalho se preparando para os playoffs. Os treinos eram longos e
cansativos e eles tinham ferimentos para enfrentar e fitas de jogo para
repassar enquanto tentavam conhecer o Asheville Ravens. Eles jogaram com

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os Ravens no início da temporada, antes dos Spitfires começarem a se
conectar como um time, e perderam as duas vezes. Eles venceram o último
jogo de sua série da temporada regular em Spartanburg, mas os Ravens
tinham um recorde quase impecável em casa e, por serem as principais e
teriam vantagem no gelo em casa para os playoffs.

Eles também tinham um goleiro lendário, Denis St. Savoy, como


treinador. E seu filho, Laurent St. Savoy, estavana rede pelos Ravens. Os
Ravens jogaram um jogo tão sombrio quanto seu nome, aparentemente
motivado por uma fome de carniça mais do que qualquer coisa. Eles jogaram
golpes sujos e foram chamados para mergulhar o que era chamado de
“embelezamento” nas regras oficiais, mais de uma vez, embora
definitivamente não tão frequentemente quanto deveriam. St. Savoy era um
homem intimidador, e estava claro que ele usou seu sucesso passado para
ameaçar sua equipe e embora Max não pudesse provar isso, os oficiais do
gelo. A revisão das fitas dos jogos mostrou muitos objetivos, permitindo que
Max e Misha pensassem que não deveriam contar.

Eles eram conhecidos como um time alegre que não dava socos quando
falava besteira, e Drake disse a eles que muitos de seus jogadores fizeram
questão de andar de patins e chamá-lo de algum tipo de insulto gay no gelo.

— O mínimo que St. Savoy poderia fazer é ensiná-los insultos melhores.


— Disse ele com desdém. — Metade do tempo eles nem parecem querer dizer
isso. Eu estava vendo um cara que toca lá no ano passado. Xavier Matthews?
Mas ele está tão no armário que nem foi engraçado. E eu pensei que era

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apenas por causa da família dele, já que ele é de Asheville, mas acho que a
maior parte foi que o treinador dele é um valentão.

As fitas do jogo diziam a mesma coisa, e Max esperava que seu time não
perdesse a paciência e sofresse muitos pênaltis, já que a maioria dos gols dos
Ravens vinha no jogo de força. Max tentou incutir em sua equipe a
importância de não se deixar levar por esse tipo de tática, então ele fez Drake
gritar com eles durante os treinos no treino. Isso durou mais ou menos uma
semana, até que Misha o interrompeu quando parecia que Drake acabaria
pulando no estacionamento em seus companheiros de equipe.

Apesar de todos os seus intensos preparativos, os Spitfires perderam


para os Ravens em um jogo surpreendentemente mais equilibrado do que se
esperava. O placar final foi de apenas três a dois a favor dos Ravens, e o
próximo jogo seguiu o exemplo. Os Ravens venceram na prorrogação com um
gol que foi claramente o resultado da interferência do goleiro que foi
desnecessária, deliberadamente ou não. O treinador dos Ravens era tão
repugnante como sempre, e sua equipe era falsa e desagradável. Para o bem
ou para o mal, os Spitfires definitivamente se consideravam um arquirrival.

Os Spitfires encontraram seu ânimo umedecido quando retornaram a


Spartanburg por dois jogos a zero na série, mas Max sabia que sua equipe
tinha neles para conseguir uma vitória. Eles chegaram perto no jogo três, mas
os ânimos aumentaram, e os Spitfires se viram tomando muitas penalidades
como resultado do jogo agressivo dos Ravens. As jogadas de força resultantes
fizeram com que os Ravens saíssem com a vitória por três a um.

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A menos que os Spitfires vencessem o jogo quatro, eles se veriam
varridos pelo gelo caseiro.

Max sabia muito bem que vencer uma varredura em quatro jogos era
incrivelmente difícil, principalmente fora. Mas os Ravens tiveram arrogância
para começar o jogo, e quando viram o treinador dos Ravens brandindo uma
vassoura atrás do banco, isso foi suficiente para recuperar os Spitfires. Após o
terceiro jogo, Max lembrou a sua equipe que eles não deveriam se envolver
em atividades extracurriculares que levassem a jogadas fortes e disse a eles
para se manterem tranquilos.

— Lembra dos exercícios onde Drake gritou com você? É assim mesmo.

— Sim. Mas Drake é um idiota de uma maneira divertida. Esses caras


são simplesmente estúpidos. — Rosnou Hux, que já tinha duas penalidades
por conduta imprópria no jogo e, se o brilho em seus olhos quando viu a
vassoura fosse alguma indicação, já estava planejando um terceiro.

A coisa da vassoura era realmente horrível, e até Max se viu olhando


para o banco preto e azul dos Ravens. Tinha um laço vermelho, o que
aparentemente significava que o treinador dos Ravens pretendia fazer um
presente depois que vencessem. Elegante.

Acabou sendo desnecessário, porque os Spitfires jogaram com uma


intensidade que impressionou tanto Max quanto Misha. Eles venceram o seu
primeiro jogo de playoff na frente de uma multidão respeitável e feliz, por
quatro a dois.

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Os Ravens estavam menos convencidos quando os Spitfires os
enfrentaram no jogo cinco em Asheville, mas isso não impediu que os
Spitfires vencessem como Max sabia que eles poderiam. Aconteceu em uma
emocionante prorrogação de duas horas extras, e o ônibus de volta para
Spartanburg exibia muitos gritos felizes e garrafas de bebida passavam. Max
fingiu não ver. Eles fizeram o que deveriam fazer venceram um jogo em casa e
fora, mas Max sabia que seu time estava empolgado, e a possibilidade de
ganhar a série era tentadora.

Como foi o pensamento de dizer a Denis St. Savoy onde ele poderia
enfiar a porra de sua vassoura.

Naquela noite, Misha deu à equipe ordens estritas para manter a


comemoração sob controle, porque eles tinham apenas um dia de descanso
antes de enfrentarem os Ravens novamente. Ele e Misha tiveram sua própria
festa em casa, e com Drake fora com o resto da equipe, eles tiveram na
cozinha, na sala e, finalmente, no quarto.

Misha pode ter coisa russa reduzida a um T, mas vencer o deixou quente
e agressivo, o que fez Max determinado a vencer todos os jogos pelo resto da
eternidade.

O sexto jogo começou igualmente equilibrado. Os Ravens se


comportaram na maior parte e os Spitfires jogaram hóquei bom e sólido. Eles
estavam empatados entrando no primeiro intervalo e até à frente por um gol
entrando no segundo. Mas quando o Ravens marcou duas vezes, no início do
terceiro, o resto do jogo foi para o inferno logo depois disso. A pressão

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claramente atingiu os Spitfires, e eles não estavam aguentando nada. Quando
o placar ficou em cinco e dois a favor dos Ravens, as coisas ficaram feias.

Os Ravens também favoreceram a comemoração excessiva de gols, e


quando um dos Ravens decidiu pulverizar o goleiro com o excesso de gelo do
seu skate conhecido como “nevando o goleiro” depois que ele marcou um gol,
era o máximo que os Spitfires podiam toma. Segundos depois que o disco caiu
no gelo após o gol, a briga começou. Não era fácil para o banco, mas Max
meio que desejou que fosse, porque, ao contrário do jogo em Toledo, ele não
se importaria de pular e socar o treinador do time adversário em seu rosto
feio e com o nariz pontudo.

— Aqui está o próximo comercial da Belsey. — Disse Max, tentando


manter o prazer fora de sua voz e falhando completamente enquanto
observava sua equipe derrotar os Ravens. — Bata-me com seu melhor tiro.

Misha cruzou os braços sobre o peito e pareceu não se impressionar. Ele


voltou sua atenção para o gelo. Mas o canto de sua boca levantou-se um pouco
e ele disse:

— Fogo! — Max conteve uma risada enquanto os oficiais tentavam


terminar a luta.

Houve um rugido da multidão, e Max observou surpreso o goleiro dos


Ravens, Laurent St. Savoy, patinar para fora do vinco e seguir em direção a
Drake. Drake não estava lutando, embora estivesse gritando encorajamentos
e agitando sua bengala em solidariedade, mas St. Savoy patinou até ele e deu
um empurrão para trás um sinal claro de que vamos lutar.

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Drake obviamente não iria recuar, então tirou a máscara, jogou-a para o
lado com luvas e levantou os punhos na posição de lutador. A multidão rugiu
em aprovação. St. Savoy tirou a máscara do rosto, mas não a tirou. Mesmo à
distância, Max podia dizer que ele era cerca de mil vezes mais atraente que o
pai. Ele também não tirou as luvas antes de estender a mão e empurrou Drake
com força suficiente para mandá-lo de costas no gelo. A multidão ficou
furiosa, e Max também.

Não ficou tão furioso quando viu o que aconteceu a seguir, no entanto.
St. Savoy zombou de Drake, disse algo que Max não conseguia ouvir direito e
então oh, inferno, não. Laurent St. Savoy não apenas derrubou Drake e cuspiu
nele. O que diabos havia de errado com aquele garoto?

— Ele acabou de... Misha. — Chocado, Max observou Misha abrir o


portão e marchar no gelo, em direção ao banco dos Ravens. Quando ele
chegou lá, ele começou a gesticular para o gelo e dizer algo para St. Savoy,
senior.

St. Savoy, Senior riu. A expressão de Misha era estrondosa, mas antes
que qualquer coisa pudesse acontecer, os bandeirantes terminaram de
separar as equipes no gelo e patinaram para puxar Misha para longe. Ele
provavelmente estava meio segundo longe de fazer o nariz St. Savoy,parecer
ainda mais feio. Max gostaria de ver isso.

Misha se enrijeceu e sacudiu as mãos restritivas dos bandeirantes, mas


ele se virou e marchou como um general de guerra em direção ao túnel sem
olhar para trás.

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A multidão aplaudiu quando o treinador dos Spitfires foi expulso do
jogo, e os jogadores fizeram o mesmo e bateram furiosamente com os tacos no
gelo enquanto Misha passava por eles.

Enquanto as penalidades estavam sendo avaliadas, Max se dirigiu à sua


equipe.

— Veja. Eu sei que você está com raiva. Eu também. Mas não estamos
jogando no nível deles. Estamos jogando para o nosso. Vá lá e termine este
jogo e dê aos seus fãs algo para torcer.

— Aquele filho da puta... Quero dizer, aquele idiota chamou Drake de


bicha e cuspiu nele. — Murphy rosnou. Eu estava lá fora. Eu ouvi.

A raiva cortou Max, mas ele a comprimiu com esforço. Ele não era legal
com Misha, mas suas emoções afetariam o time, e Max tinha que ter certeza
de que eram os certos.

— Então nós o pegamos onde dói. Alguém marca aquele idiota, e vamos
chamá-lo de bom.

— Eu. — Disse Jakob Wawrzyniak, se aproximando. — Vou marcar gol.


Para Drake.

E ele fez. Dois segundos depois que ele atingiu o gelo. Foi um gol que os
Spitfires comemoraram com alegria, e Max ficou satisfeito ao ver o goleiro dos
Ravens chutar o gelo em frustração.

Do outro lado do gelo, Drake levantou os braços e aplaudiu junto com


sua equipe.

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Não fez o Spitfires vencer, mas não importava. Quando o jogo terminou,
os Ravens tentaram comemorar, mas os Spitfires os ignoraram, foram para o
centro do gelo e ergueram as varas enquanto seus fãs não muito, mas mais do
que o esperado e aplaudiam.

Os Ravens ainda não haviam terminado de ser idiotas. Eles não


apareceram na linha tradicional de cumprimento após jogo. Talvez isso fosse
uma coisa boa, porque Max tinha dúvidas de que Laurent St. Savoy
conseguisse sair vivo dali.

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Capítulo 17

Misha levou alguns momentos para se recompor no vestiário. Ele não


conseguia se lembrar de um momento em sua vida em que se sentia tão
perigosamente perto de perder a paciência. Mas tinha sido bom se levantar e
ficar com raiva. Lutar. E ele gostou da multidão torcendo por ele quando
desceu o túnel depois de ser expulso.

Ninguém aplaudiu quando ele deixou o jogo após o golpe em Max. E


Misha não estava com raiva, mesmo que ele finalmente entendesse que
deveria. Misha nunca lutou contra sua suspensão, e foi injusto. Misha merecia
jogar a final com os Bruins, e ele não jogou. Nada mudaria isso. Acidentes
foram acidentes. Cair fazia parte do jogo. O que importava era como você
voltava.

Misha não tinha voltado. Misha o deixou derrotá-lo, e esse foi o


verdadeiro motivo pelo qual ele nunca se sentiu um campeão. Não teve nada a
ver com Max. Ele usara Max como desculpa porque estava com medo.

Ele podia ouvir os sons da música da arena quando o jogo recomeçou.


Não havia muito tempo no relógio, e ele confiava que Max poderia manter a
equipe sob controle pelo restante do jogo.

Misha olhou para o anel na mão dele. Era berrante, e ele não queria usá-
lo. Mas Max insistiu, e Misha gostava de ceder a Max. Ele gostava

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especialmente de Max comendo-o suficiente para fazer exatamente o que Max
pediu dele. Então ele usou. Era um peso estranho na mão dele.

Quando ele confrontou St. Savoy atrás do banco, o outro homem viu o
anel e disse que ele não o merecia.

— Você não ganhou nada. — Ele zombou.

Houve um tempo, não muito tempo antes, em que Misha teria


acreditado nele. Mas ele não fez. Não mais. Ele não queria ser um campeão
como Denis St. Savoy, que achava que bastava vencer, não importava o quê.
Ele queria ser um campeão como Max Ashford, que achava que sempre havia
um motivo para continuar jogando.

— Esse será o destaque principal.

Belsey. Seria bom demais, pensou Misha, ironicamente, esperar que ele
permanecesse imperturbável até o fim do jogo.

— Tenho certeza que você pensará em uma música apropriada.

Belsey encostou-se à porta, seus olhos astutos. Misha o viu olhando seu
anel. Ele se perguntou se Belsey estava com ciúmes. O pensamento o fez
inclinar a mão levemente para capturar a luz e brilhar ainda mais. Max diria
que era muito Bruin da parte dele. Misha concordaria.

— Eu sei que você pensa que sou um idiota, Samarin. E eu sou. Mas não
tanto que não vou dizer que fez um bom trabalho este ano, porque você e
Ashford são uma boa equipe. E talvez eu te contratei para publicidade, mas
imaginei que, se isso o irritasse, você me provaria errado. E se não, talvez

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funcione. Ele encolheu os ombros. — As melhores soluções são sempre
aquelas em que eu ganho no final.

— Você acha que vencemos? — Misha perguntou. — É uma pergunta


séria, Jack.

Misha nunca tinha usado o primeiro nome de Belsey, e havia um


vislumbre de surpresa no rosto de Belsey ao ouvi-lo.

— As vendas de ingressos estão em alta. Não somos o pior time da liga.


Temos mais patrocinadores. E fizemos os playoffs. Como diabos você
chamaria isso? — Belsey revirou os olhos. — Veja. Eu quero ganhar a Copa
Kelly. Certo. Mas você não passa de jogar na pequena Ligade Hockey até os
Bruins. Certo? Há um monte de merda no meio. Não ganhei todo o meu
dinheiro com números de loteria. Isso leva algum tempo.

Misha não conseguia acreditar que ele estava sendo ensinado por Jack
Belsey, de todas as pessoas, sobre paciência e perseverança. Mas ele não
podia dizer que estava errado exceto no hóquei da pequena liga, que ele tinha
certeza de que não existia.

— Suponho que sim.

— Sim. E foi por isso que assinei um contrato inicial de três anos.
Consegui o que queria deste ano. Mais do que, na verdade. Então, eu vou lhe
dar meu cartão de crédito e você pode entregá-lo ao barman em Sidelines e
dizer que a celebração da equipe é por minha conta. E tem que ser à margem,
porque eu os quero como patrocinadores no próximo ano. Entendeu?

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— Sim. — Disse Misha. Ele fez uma pausa. — O que você fez antes de
possuir um time de hóquei? Você diz o tempo todo que não era um bom
homem que ganhava dinheiro, mas como conseguiu?

— Hum? Oh. Investimento bancário. É por isso que sou um idiota e uma
pessoa do povo, Samarin. Sou bom em correr riscos com o dinheiro de outras
pessoas. — Ele encolheu os ombros. — Mas eu era muito bom nisso. Então,
hora de outra coisa. Eu pensei que isso seria um desafio. E o time foi barato
pra caralho.

Misha olhou para ele, estranhamente tentado a dar a Jack Belsey seu
anel da Copa Stanley. Aqui também estava um homem que não deixava que a
adversidade o impedisse do que ele queria mesmo que ele fosse um pouco
insignificante com moral questionável. Ainda é um homem melhor do que
Denis St. Savoy. Mas Misha estava começando a gostar do peso do anel em
seu dedo, então talvez ele o mantivesse.

— Então, de qualquer maneira... Bom trabalho. E diga ao Treinador


Ashford. Fale sobre alguém que não gosta de mim. — Belsey sorriu. — Ele
gosta de você, no entanto. Não vi isso chegando, mas ei. Diga a ele que
também farei o contrato dele por três anos. Na verdade, ele não é um mau
treinador. Tem um talento especial para isso. Enfim, estamos bem aqui?

— Sim. — Disse Misha, porque parecia a única resposta possível.

Belsey entregou seu cartão de crédito e assobiou no anel de Misha.

— Estava imaginando onde você guardou isso, já que eu nunca vi você

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usá-lo antes. Ei. Se você precisar do nome de um lugar para limpar esse bebê,
me avise. Eu tenho um lugar que faz todo o meu.

Misha agradeceu e colocou o cartão na carteira. Quando Belsey saiu,


assobiando desafinado, ele ouviu o som de uma campainha sinalizando o fim
do jogo e, com ele, o fim da temporada dos Spitfires.

Quando o time entrou no vestiário, ficou claramente desapontado com a


perda e com a forma como o jogo terminou. Misha observou Max soprar o
apito algumas vezes para chamar sua atenção.

— Vocês devem ter orgulho de si mesmos. — Disse ele. — Cada um de


vocês. O que você realizou este ano está muito além das expectativas de
qualquer pessoa e elas devem ter vergonha de duvidar de você. Eles não farão
isso de novo. Eles vão esperar ainda mais de você na próxima temporada. Eu
também e Treinador Samarin. E eu sei, sem dúvida, que vocês vão nos dar. —
Max sorriu. — Assim como você deu aos Ravens.

A comemoração ficou animada.

Isaac Drake levantou-se para falar depois de Max e renunciou ao seu


goleiro por silêncio.

— Obrigado por marcar esse último gol. — Disse Drake, sorrindo para
Jakob. — Isso foi brilhante. E obrigado, pessoal. Trouxemos este ano e mal
posso esperar para ver o que faremos no próximo ano. O que vai ganhar a
maldita Copa Kelly, porque esse time é incrível e estou honrado em ser o
capitão. Por falar em copa...Disse Drake com um sorriso sombrio. — Eu não
sei de vocês, mas de repente sou o maior fã doSea Storm Jacksonville no

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mundo, e mal posso esperar para vê-los enviar aqueles idiotas de volta a
Asheville em lágrimas.

Isso também ficou animado. Mesmo para Misha.

Estava na hora de Misha dizer alguma coisa.

— Eu não deveria ter perdido a paciência. — Disse ele e depois levantou


a mão. As luzes brilhavam no anel em seu dedo quando ele girou a palma da
mão e mostrou à equipe. — Eu nunca usei isso porque achava que não
merecia. Não joguei nos jogos que minha equipe venceu na Copa Stanley. Mas
todos vocês me ensinaram que ser campeão não é ganhar. É sobre como você
joga o jogo. — Seus olhos caíram brevemente nos de Max. — É sobre como
você se levanta e continua tocando mesmo depois de cair. É sobre segurar um
ao outro em vez de derrubar um ao outro. Minha equipe fica junto. Minha
equipe não cai sem luta. E meu time não precisou vencer esse jogo, ou um
troféu, para me mostrar que eles são campeões. Minha equipe é a
Spartanburg Spitfires, e tenho orgulho de me chamar de um de vocês.

Misha não ficou tão emocionado, mas havia vários jogadores com olhos
suspeitosamente brilhantes que estavam fungando. Isso foi ainda melhor.
Misha notou que até Max piscou no teto algumas vezes.

— Agora. — Disse Misha, puxando o cartão de Belsey do bolso. — Nós


celebramos. E as bebidas estão em Belsey.

Com uma última e retumbante alegria, os Spitfires foram limpar seus


armários.

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Do outro lado da sala, Misha encontrou os olhos de Max. Ele olhou
brevemente para a porta do seu escritório. Max sorriu para ele. Ele recebeu
claramente a mensagem de que talvez precisassem ter uma última reunião de
Treinador de final de ano, antes de despojar Belsey de parte de seu dinheiro
no bar com a equipe.

Podemos muito bem terminar a temporada com uma nota alta. Pela
primeira vez, pensou Misha, ser otimista não era tão ruim.

Fim

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