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Algo Mais - A Revista de Pernambuco - Out23
Algo Mais - A Revista de Pernambuco - Out23
sumário
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na foto ou no número 10.
Impelitatust, iour iodynestep
automaticamente levado
quam nonsequissit utam, que niendam venia dolendae
nusam sim dolorera coratustis eat alia ea se am velitam
nos rempos di rae. Nam qui con reprepe llestia ne sum
Boa Leitura!
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Ed. 240 | Outubro 23
editorial
Cláudia Santos - Editora Geral Nº 240 - Outubro/2023
Diretoria de Inovação Editoria de Arte respectivos autores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da revista.
Mariana de Melo Rivaldo Neto
| Outubro
mariana@algomais.com neto@algomais.com
Ed. 240
Beatriz Braga, Carla Miranda, Cláudia Santos, Dionízio Alves, Fábio Menezes, Fátima Endereço: Rua Barão de Itamaracá, 293 Espinheiro
Guimarães, Francisco Cunha, Gilberto Freyre Neto, Gilliatt Falbo, Henrique Pereira, CEP 52.020-070 Recife PE Brasil
João Rego, José Durval Lins, Mariana de Melo, Marta Lima, Nivaldo Brayner, Rafael Tel. (81) 3134 1740
Dantas, Ricardo de Almeida, Rivaldo Neto, Teresa Ribeiro e Tiago Siqueira www.algomais.com
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30.
MORADIA VULNERÁVEL
Segunda reportagem da série 3 Rios, 3 Comunidades, 3
Desafios mostra a dramática situação das pessoas que residem
perto do Tejipió. Ano passado foi o período mais crítico, em
razão das chuvas que elevaram o rio a um nível nunca visto.
A esperança vem do programa Promorar Recife, iniciativa da
prefeitura.
10.
Evandro Carvalho, professor da FGV Direito Rio,
afirma que o Brasil e, em especial Pernambuco,
ainda não atentaram para as vantagens de estreitar
as relações com a China. Ele destaca que o país
asiático pode contribuir para ampliar a infraestrutura,
principalmente no campo das novas tecnologias.
com a China.
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E vandro Carvalho, professor da FGV Direito Rio, é um conhece-
dor da economia da China e da forma singular e prática como
os chineses realizam os negócios. Ele morou em Xangai de
2013 a 2015, quando atuou como senior scholar da Escola de Fi-
nanças e Economia da Universidade de Xangai. Em seguida, aju-
dou a fundar o Centro para Estudos do BRICS da Universidade de
Fudan, também em Xangai. Atualmente, está em Pequim, onde é
senior visiting da universidade local. Diante de toda essa vivência
na China, ele observa que o Brasil e, em especial, Pernambuco,
estão muito aquém do potencial que poderiam usufruir com as
relações econômicas com o Gigante Asiático.
Nesta entrevista a Cláudia Santos, Evandro Carvalho, que é per-
nambucano e também professor da Faculdade de Direito da Uni-
versidade Federal Fluminense, analisa os motivos que levam bra-
sileiros a não vislumbrarem as oportunidades com investimentos
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Como o Brasil pode se beneficiar das relações econômicas
com a China, que tem investido na infraestrutura dos países?
Os investimentos da China no setor de infraestrutura são volta-
dos para portos, aeroportos ou ferrovias que contribuem para a
importação de produtos chineses. É normal que os bancos chine-
ses invistam onde identifiquem algo que vai favorecer empresas
chinesas naquele país. Muito embora uma boa parte dos investi-
mentos da China tenha sido em eletricidade e, mais recentemen-
te no Brasil, em energia eólica e solar. A China é uma produtora
de equipamentos, como geradores de energia solar. Os investi-
mentos beneficiam o Brasil, mas também a China.
O Brasil precisa identificar a sua prioridade, não só dentro dos
setores em que o País já tem uma presença, como o agronegócio,
exportação de soja, minério, petróleo. Quando se fala dos inves-
timentos chineses em infraestrutura, penso na infraestrutura do
digital, das novas tecnologias, que é um setor que está muito
aquém do potencial que pode ter. O Brasil poderia aproveitar o
superávit que tem com a China de US$ 28 bilhões para fortalecer
outros setores, outras infraestruturas importantes.
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Como o Brasil poderia desenvolver a relação econômica
nessas áreas?
No governo passado houve o problema em relação ao 5G da
Huawei, que criou um obstáculo desnecessário ao avanço de uma
agenda que é importante para o Brasil. A Huawei estava aqui des-
de o 2G, 3G, 4G e nunca houve nenhum tipo de suspeita de uso
dessa tecnologia que ela vende para as empresas de telecomuni-
cações do País. Ocorreu o contrário, o governo de Dilma Rousseff
foi espionado pelo Governo Obama. Não existe um fundamento
para o tipo de problema que foi levantado no governo passado
Isso criou um clima de quebra de confiança que atrasou parce-
rias que poderiam ser desenvolvidas não só no 5G, mas na com-
putação em nuvem, na inteligência artificial, no desenvolvimen-
to da economia digital, no uso dessas tecnologias para favorecer
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A China é muito habituada com a gestão de grandes volumes
de pessoas e de problemas. Consegue gerir grandes volumes de
dados, inclusive com a big data e a computação quântica que
ela desenvolveu de maneira extraordinária.
o setor de saúde.
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A China é muito habituada com a gestão de grandes volumes
de pessoas e de problemas. Consegue gerir grandes volumes de
dados, inclusive com a big data e a computação quântica que ela
desenvolveu de maneira extraordinária. Isso tudo ela usa na ges-
tão e na governança do país. Como aproveitar essas experiências
que a China tem e que o Brasil também tenta fazer da melhor for-
ma possível? Isso envolve o setor espacial, aéreo, de segurança.
Vez ou outra a gente vê notícia de alguns prefeitos de grandes
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No passado quando se falava em
petróleo no Brasil, a quantida-
de de gente que dizia que
o País não tinha petróleo
era alta, depois, falava-
-se dos custos e, no
entanto, hoje o País
está autossuficien-
te. Na China, a es-
trutura de ferrovias
foi um componen-
te essencial para o
desenvolvimento do
país. Tudo isso per-
mite ter esses supera-
plicativos de entrega e
impulsionar toda uma área
tecnológica por trás, reduzir
custos, integrar o país. No Brasil, a
distribuição da população não tem uma
política pública por detrás que pense num processo indutor de
crescimento de determinadas regiões ou cidades, em função de
uma estratégia de desenvolvimento que passa, por exemplo, por
trens. E o Brasil é um país de território imenso como a China.
A China teria todo o interesse em discutir com o Brasil projetos
nessa área. Claro que isso envolve uma série de atores, interesses
múltiplos que não avançam nessa agenda. Por exemplo, ficou de
fora da visita de Lula à China uma parceria substantiva na área digi-
tal. A infraestrutura é chave para tudo. Quando se pensa em cons-
truir uma escola na China, o "x" da questão não é só a escola, é a
infraestrutura ao redor dela que vai permitir que os pais levem a
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O senhor não acha que uma diferença crucial é o fato de
a China ser conhecida por priorizar o planejamento, algo
que tem sido ausente no Brasil?
Sim, a estrutura do sistema favorece e não apenas porque eles
são autoritários. Essa explicação escuto muito, mas acho-a muito
rasa. Muitos países têm características autocráticas e, no entanto,
não funcionam. Como há democracias que funcionam e outras,
não. Aqui os projetos nunca são de longo prazo porque os polí-
ticos estão a cada dois anos preocupados com a eleição, por isso
querem resultados rápidos e visíveis para a população.
A gente é ruim de planejamento. Já participei de alguns gover-
nos estaduais ou municipais, em que o governante vai apresentar
um projeto para investidor chinês e, no fundo, ele apresenta um
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diálogo com a China, de maneira frequente para identificar aque-
las oportunidades que atendam os interesses dos dois lados. Por
exemplo, eu até ajudei numa aproximação do Porto Digital com
a então cônsul de Recife (ela já voltou para a China). Houve uma
reunião. Mas, depois, que eu saiba, não houve desdobramentos.
No Brasil há grande desconhecimento da realidade chinesa e
uma visão estereotipada do país. Ainda escuto de pessoas, que
até fazem parte da elite econômica brasileira, dizendo que a Chi-
na é um país sujo. Mas você vai nas grandes cidades chinesas e
vê que são muito mais limpas e ordenadas que as nossas, muito
mais seguras inclusive. Tem aquela história de que a China só co-
pia, não é criativa. Pelo amor de Deus, isso é passado! Hoje a Chi-
na já é tendência em vários assuntos, a gente vê a força do TikTok,
dos superaplicativos.
E para piorar, passamos por um certo resgate de uma menta-
lidade da Guerra Fria. Vimos Trump com aquela história do vírus
chinês, achei aquilo de uma covardia brutal porque estigmati-
za uma população. O próprio ex-presidente Jair Bolsonaro criou
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Voltando para a realidade nacional. China e Brasil já rea-
lizaram transações em yuan e em real. Quais as consequên-
cias disso?
Isso é uma tendência, não vou dizer global, mas está se espa-
lhando muito, de se utilizar a moeda nacional para essas trocas
comerciais entre países que têm uma relação comercial intensa,
que é o caso do Brasil e da China. A China é o maior parceiro co-
mercial do Brasil desde 2009, então faz sentido. Naturalmente,
isso se insere dentro da política externa chinesa de internaciona-
lização do yuan. Ela tem interesse no fortalecimento da moeda
chinesa, que inclusive — isso foi uma conquista do atual presi-
dente chinês — já integra o cesto de moedas do FMI. Mas está
longe de ser uma ameaça à dominância do dólar.
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O mundo vive vários conflitos. Como o senhor analisa a
postura do Brasil diante deles?
Nesse contexto atual de acirramento das relações EUA e China
e, ao mesmo tempo, do ocidente com alguns países não ociden-
tais, é muito importante que o Brasil se mantenha numa posição
de país confiável para estabelecer diálogos com todos os lados.
Não que seja indiferente aos problemas que esses países enfren-
tam nas relações difíceis entre eles, mas numa posição de estar
disposto a contribuir para reatar as relações ou fortalecer as pon-
tes entre eles.
Quando o Brasil assume um lado, ele queima a possibilidade
de manter o diálogo com o outro lado. Uma coisa que apren-
di estudando a China: o ocidente tem uma lógica alternativa de
mundo ou você é isso ou é aquilo, é o bem contra o mal. Eu es-
tava vendo a entrevista com o embaixador palestino e o repórter
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Porque essa visão atomiza a discussão e a
pauta do dia é condenar o Hamas que, por
mais que tenha feito uma atitude con-
denável, isso não resolve o problema
da complexidade. É como a ques-
tão da invasão da Rússia à Ucrânia,
não se justifica a invasão, mas se
explica. Vamos debater o porquê
disso, que está relacionado com
os acordos que foram feitos lá
atrás? A OTAN deixou de fazer ou
não esses acordos? Temos que ter
uma discussão mais complexa.
A China tem uma lógica aditiva, vemos
isso até na filosofia do yin e yang, a pessoa não
é totalmente boa, nem totalmente má, as coisas não são totalmente
ruins ou totalmente boas, nem tudo está perdido, sempre pode haver
uma saída. O Brasil na relação internacional com esses países tem que
caminhar com a sabedoria de rejeitar a lógica alternativa que o ociden-
te sempre tenta impor. É democracia versus autocracia. Essa discussão
tem um grande ponto de hipocrisia. Numa linha entre uma democracia
plena e uma ditadura radical, EUA e China não estão nas extremidades
opostas e, às vezes, dependendo do assunto, até se tocam.
Não estamos em guerra. Rússia e Ucrânia estão, há o envolvimen-
to da Europa, dos EUA e pode até se agravar agora com o conflito
entre Israel e palestinos. Poderá haver alguma reação de alguns
países árabes, o cenário não é bom. O Brasil tem que ter muita cau-
tela, ser um vetor de paz e diálogo, mas sem parecer que quer ser
o bom moço. Não é isso. Temos que condenar o que é condenável,
mas também não fazer isso de maneira hipócrita e colocar seus
interesses à frente. A China é um país de uma complexidade extraor-
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dinária, com uma cultura muito rica. O chinês é muito prático para as
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coisas da vida. Acho que muita coisa se poderia aprender com eles.
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SHOWS E DEBATES SOBRE MEIO
AMBIENTE NO CAPIBARIBE
FESTIVAL
A segunda edição do Ca-
pibaribe Festival terá
noite de abertura no
dia 28, no Polo Cul-
tural da Avenida Rio
Branco (Bairro do
Recife), e traz na pro-
gramação Flaira Fer-
ro e as Bandas Laba-
redas, Forró na Caixa e
Barro e Bule. O evento
segue até 4 de novem-
bro, com programação de
shows que começa às 15h,
alternando com bandas e DJs.
Com a temática Vida na Água da
Nascente à Foz, o evento une cultura e meio ambiente para pro-
mover o debate e ações que reabilitem, protejam e ocupem as
águas do Capibaribe. Este ano, o evento tem a expectativa de ge-
rar 150 empregos diretos, realizar o plantio de 200 mudas, além
de recolher uma tonelada de lixo das margens do Capibaribe cir-
cundante à sua foz.
Nos dias 30 e 31 de outubro, o Capibaribe Festival irá reunir
sociedade civil, profissionais, pesquisadores e ativistas ambien-
tais de várias partes do Brasil para debater a gestão e preserva-
ção da água na Conferência Água+. Serão discutidos os Obje-
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ESPECIAL
Rafael Dantas
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paredes. Todos os cômodos da sua casa têm janela voltada para obser-
var o nível das águas que, por muitos anos, invadiram sua residência.
Com muita luta, ela conseguiu com aterramento subir em um metro
o primeiro piso da moradia. “Pensei que iria ter sossego. Amenizou um
bocado. Foi muito sacrifício. Refiz a casa umas duas vezes”
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Mesmo tendo uma casa muito elevada e adaptada, com sofá,
cama, guarda-roupas, raque, construídos de alvenaria e cerâmi-
ca, a força das águas levou Carla e sua família a deixarem o lar às
pressas mais uma vez. As intensas tempestades do ano passado
foram as piores dos seus quase 30 anos em Coqueiral, a comuni-
dade mais afetada.
“Tem um nível da ponte que quando a água atinge eu já saio.
Deixo todas as coisas aí e vou para casa da minha cunhada. Fica
uma agonia porque ficam os animais e a vida da gente aqui. Mas
a minha vida e a da minha família estão em primeiro lugar. Pra
gente vale mais isso. Aqui está a história e a vida da gente”, conta
a moradora. Ao atravessar a ponte e seguir a sua rota de fuga, a
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Quando a água
chegou aqui, foi
muito rápido. Todo
mundo se apavo-
rou e quis somen-
te sair de casa. O
bombeiro disse que
não poderia entrar
nessa rua por cau-
sa das ondas for-
madas pelo rio que
eram perigosas.
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Fabiana Chagas
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A primeira enchente que ela lem-
bra no bairro faz pouco mais de 20
anos, mas não passou perto da sua Apesar do descar-
casa. Porém, os problemas das cheias te irregular de lixo
começaram a se aproximar cada vez no Tejipió perma-
mais, até se tornarem recorrentes. Ela necer como um
conta que se não tivesse casa própria, problema, há um
já teria deixado o local pelo trauma processo de transi-
da enchente de 2022. ção para um com-
“Ano passado, quando a água portamento dos
chegou aqui, sabíamos que ao re- moradores mais
dor estava uma situação de guerra. responsável sobre
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A Bacia do Tejipió
é muito complexa.
Nós temos ali ocu-
pações irregulares e
distritos industriais
nas margens desse
rio. São dois tipos de
ocupações distintas
que ocasionam uma
série de consequên-
cias ambientais.
Deyglis Fragoso
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RIO LIMPO, CIDADE SAUDÁVEL
Apesar do descarte irregular de lixo no Tejipió permanecer como
um problema, tanto os moradores como o especialista já identifi-
cam que há uma mudança do comportamento da população. O
processo de conscientização começou com os vizinhos imediatos
ao rio (que sempre sofreram na pele com as cheias) e com as orga-
nizações comunitárias que atuam na região. Porém, como as en-
chentes hoje atingem um contingente muito maior de moradores,
seja pelas campanhas educacionais ou pela dor da perda de seus
bens, há um processo de transição para um comportamento mais
responsável sobre o destino dos resíduos sólidos.
Diante das inundações de Coqueiral e dos bairros vizinhos, um
dos locais de recepção para as famílias desabrigadas é o Instituto
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Coletamos as pro-
postas que as pes-
soas tinham em
relação ao Tejipió.
Tudo foi compila-
do. Anexamos um
abaixo-assinado
com quase 14 mil
assinaturas e proto-
colamos nas prefei-
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turas do Recife
e Jaboatão.
Géssica Dias
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tamos pleiteando investimentos em saneamento ambiental e o
alargamento do rio para ter a vazão que necessita. Mas, esse alar-
gamento vai ser provocativo de algumas remoções, mas a gente
solicita também que não tire esse sujeito do seu território, para
que eles mantenham a sociabilidade. Além disso, estamos plei-
teando a implantação de equipamentos de lazer nas margens do
rio para evitar ocupações dessas margens e proporcionar lazer à
população local. Queremos que as comunidades afetadas parti-
cipem ativamente do processo e que o uso desses recursos seja
transparente e eficaz”, afirma Géssica.
Além dessa atuação, o Instituto Solidare tem uma atuação reco-
nhecida na região com o acolhimento de famílias desabrigadas nos
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O ProMorar tem
o objetivo de ofe-
OPORTUNIDADE PARA MUDANÇA recer soluções
DO CENÁRIO de moradia para
Junto com a catástrofe do ano a população e
passado, nasceu dentro do poder tem atuação na
público o ProMorar Recife (Pro- região do Rio Te-
grama de Requalificação e Resi- jipió. Na primeira
liência Urbana em Áreas de Vul- etapa foram rea-
nerabilidade Socioambiental). A lizadas reuniões
iniciativa da Prefeitura do Recife, para apresenta-
onde está o maior percurso do ção do programa
Rio Tejipió, não é exclusiva para a às comunidades.
região, mas deve destinar a maior
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Mesmo sem o estudo concluído, a
secretária indicou algumas dire-
trizes. Uma delas é atuar no ter-
ritório de forma a promover a
menor quantidade possível
de reassentamentos das
famílias. “É um problema
complexo e a comuni-
dade sabe. A população
está consciente de que
haverá reassentamentos,
mas estamos pensando
em novas soluções, não
apenas a construção de no-
vas unidades habitacionais ou
de indenização”, disse Beatriz.
Uma solução mencionada pela se-
cretária é a compra assistida, em que o mora-
dor poderá identificar uma outra casa sendo vendida na comunidade,
em um local onde não alaga. O poder municipal avalia, adquire a casa
e inscreve no nome do morador que precisa ser reassentado. A outra
alternativa sendo construída é o reassentamento por permuta. Nesse
modelo, os moradores que precisam ser reassentados, mas não preten-
dem sair, poderiam trocar de imóvel com outra família que deseja se
mudar do bairro. Dessa forma seriam atendidos os dois interesses.
Um estudo antigo da região, por exemplo, indicava a necessida-
de de reassentamento de seis mil famílias. Mas a previsão é de des-
locar um quantitativo bem menor de pessoas. “Reassentar seis mil
pessoas não é viável socialmente. O objetivo foi reduzir ao máximo
a quantidade de reassentamentos. No momento que a prefeitura
apresentar o projeto, as pessoas precisam ter a certeza e a com-
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Uma das reclamações dos mo- Especialistas aler-
radores, a ausência de sirenes de tam que a quan-
emergência, por exemplo, que in- tidade de chuvas
dicassem o momento de deixar as que caiu no Recife
casas em situações de elevação do em 2022, nenhu-
rio, está previsto no projeto, dentro ma cidade no
do componente de fortalecimen- mundo estaria
to institucional. O ProMorar deve apta a conseguir
ter como um dos seus resultados escoar. Daí, a ne-
a construção de um sistema de cessidade de ter
monitoramento de riscos da cida- sistema de moni-
de. “Alagamentos não vão parar de toramento de ris-
ocorrer, mas em menor quantida- cos e traçar rotas
de. Os especialistas falaram que a de fuga.
quantidade de chuvas que tive-
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Sobre as tecnologias sociais, ele elenca técnicas de coleta e ar-
mazenamento de águas das chuvas, como com cisternas, que
poderiam ser instaladas nas residências dos morros e ser, inclusi-
ve, usadas pelas famílias. Um conjunto de milhares de residências
equipadas teriam um impacto relevante, na análise do especialista.
Além disso, Deyglis destaca a necessidade de refletir sobre a
macroestrutura da cidade. “Não adianta cuidar do Beberibe e não
cuidar do Tejipió ou do Capibaribe. As bacias que compõem a re-
gião metropolitana precisam ser vistas da mesma forma e com o
mesmo grau de urgência para que as intervenções possam surtir
efeito para o estuário, que seria o deslocamento de todo esse vo-
lume de água para o oceano”.
Muitas outras propostas e preocupações estão nas falas de
quem conhece o cotidiano do rio. Além da escuta dos especialis-
tas, o acompanhamento e a participação intensiva da sociedade,
que é a protagonista do território, são ingredientes fundamentais
para não se repetirem frustrações de outros grandes investimen-
tos do passado. Todos os lados estão cientes disso. Enquanto as
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CHUPA, HAVARD!
A
vida, minha cara Maria Ribeiro, é como uma trama bem urdi-
da por um escritor habilidoso, cheia de reviravoltas inespe-
radas e coincidências que desafiam a lógica. Após matricu-
lar-me no curso de escrita criativa da Cesar School, aqui no nosso
país Pernambuco, terra onde seu amigo Xico Sá gostaria de ter
nascido, o universo decidiu brincar comigo. Se não é brincadeira
do cosmos, deve ser alguma promoção do tipo “pague um e leve
dois”, ou “comece a pagar somente no ano que vem”. Só que no
caso do Cesar, parece que a promo está mais para “matricule-se e
ganhe encontros inusitados com escritores famosos”. Pernambu-
co não brinca em serviço, minha querida. E o Cesar é Pernambu-
co, só que com wi-fi na classe executiva, entende?
Poucos dias depois de efetuar minha matrícula, em um aero-
porto qualquer de Portugal, no último domingo, enquanto eu
aguardava meu voo, vi-me diante de um encontro com outro ami-
go seu, o baixinho gigante, Gregório Duvivier. Ostentava aquela
barba que praticamente escondia o sorriso do biquinho amarelo
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que não queria ser incomodado. Mas eu tinha uma arma infalí-
vel nas mãos que fez desaparecer instantaneamente o efeito da
Ritalina que claramente tentava acalmar aquele TDH ambulante:
o livro de crônicas escrito por vocês três, que li durante toda mi-
nha viagem. Coincidência que nada, Maria! É a experiência que
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o Cesar proporciona aos seus alunos, minha linda! Sapequei o
livro desmilinguido da minha bolsa tiracolo e joguei na caixa dos
peitos do safado: me dá um autógrafo aí, misera! Foi aí que Greg
se sentiu no direito de puxar assunto comigo, esforçando-se para
ser íntimo. Fui compreensivo e paciente com a emoção do seu
amigo, Maria. Deve ser foda estar diante de um estudante de es-
crita criativa da Cesar School.
Olha Maria, vou te dizer uma coisa, no ritmo que o Cesar vai,
devo me encontrar nos próximos dias com Hemingway nas ruas
de Paris da década de 20 ou talvez com Jorge Amado no Rio Ver-
melho. Chupa, Harvard!
Mas o que eu desejaria mesmo, Maria, era que o Cesar propor-
cionasse meu encontro com você, minha deusa cronista. Nada
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