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O TOQUE DO CRIADOR

Liberte Seu Gênio Criativo Para Se Adaptar


À Era Das Mudanças Exponenciais
(2ª Edição, revisada, ampliada, e reescrita, ou seja, é outro livre)

Por
Francisco José Espínola

A Criação de Adão, de Michelângelo, que chamo de "o toque do criador".


Perceba o Criador se esticando todo, empenhado em ter contato com sua obra, e, do outro
lado, o toquinho mixuruca que Adão apresenta
Esta obra não é recomendada para menores de 18, anos ou centímetros.

Revisado pelo melhor do Brasil: Meu amigo Gilson Victor

© Copyright (2022) por Francisco José Espínola – Todos os direitos reservados.


Não é legalmente permitido reproduzir, duplicar ou transmitir nenhuma parte deste
documento em meios eletrônicos ou impressos. A gravação desta publicação é estritamente
proibida. (O editor de texto sugeriu que eu colocasse isso, resolvi deixar. Sei lá, né.)
Este livre é dedicado a

Meu saudoso pai e minha mãe, que criaram


um criador.
Meu filho: Bruno A. Espínola.
Tia Glória e família.
Amigos e seguidores.

E, especialmente, a Alfeu Valença e sua


companheira Celinha, por me demonstrarem
a existência da verdadeira amizade fraterna,
altruísta, eterna, e mais amorosa que muitos
de nossos laços sanguíneos.

A maioria das pessoas que entraram para a história, pessoas que, em


seu curto período de vida, mudaram o curso da civilização, no
tortuoso caminho em que assim tropeça a humanidade, pode ser
dividida em dois grupos: os chefes de Estado, e os grandes criativos.
Sumário
Sumário .................................................................................................................................................. 2
Prefácio ................................................................................................................................................... 4
FIM. ........................................................................................................................................................ 6
PRELIMINARES ................................................................................................................................... 7
Por que esta obra é um presente? ........................................................................... 11
O que é esta obra? .................................................................................................. 15
Por que esta obra é importante para você? ............................................................. 24

....................................................................................................... 30
Como ler este livre ................................................................................................. 48
Por que eu me considero capaz de escrever algo de valor sobre a criatividade ........ 50
O que esperar desta obra ........................................................................................ 56
O que eu espero deste livre .................................................................................... 59
INTRODUÇÃO................................................................................................................................... 60
A Era das Mudanças Exponenciais......................................................................... 84
A comovente história resumida e aproximada (meio chutada) do desenvolvimento tecnológico 89
Prelúdio à criatividade – o que você precisa saber antes de entrar no assunto principal 117
No outono samurais não comem pêssegos ........................................................... 117
Degradando lenta a mente .................................................................................... 129
Nível de criatividade ............................................................................................. 137
Temet nosce ......................................................................................................... 170
Criatividade .......................................................................................................... 178
A cintilante história da paixão ardente entre Org e essa fadinha fogosa ................ 180
Definições para criatividade.................................................................................. 193
Cognição criativa .................................................................................................. 202
Meu humilde método criativo fodástico ............................................................... 217
Modelo Leonardo Darwinci para o Processo Criativo .......................................... 234
Uma mente silenciosa não mente ......................................................................... 247
Sabe o que sabia o maior sábio que já se soube existir um dia? ............................. 265
Intuição ................................................................................................................ 280
Entrando no fluxo ................................................................................................ 286

2
Esse título é uma mentira. .................................................................................... 288
Capítulo 2 COMO VIVER CRIATIVAMENTE ................................................................................ 291
Pense bem enquanto pensa .................................................................................. 292
Pense como uma criança ...................................................................................... 294
Curiosidade .......................................................................................................... 304
Errar é errado....................................................................................................... 312
Sinto muito .......................................................................................................... 316
A verdade verdadeira............................................................................................ 320
Humor é coisa séria .............................................................................................. 324
Mantenha o hábito de não ter hábitos .................................................................. 326
Criando Crianças Criativamente ........................................................................... 328
Capítulo 3 Exemplos criativos em outras áreas do conhecimento........................................................ 338
Criptomoedas....................................................................................................... 340
Diplomacia........................................................................................................... 356
Artes Anais .......................................................................................................... 359
A Grande Busca: existem verdades inquestionáveis? (teaser do próximo livro) ................ 368
Capítulo 4 Agradecimentos ................................................................................................................. 389
Capítulo 5 Sobre o autor ..................................................................................................................... 391
Prefácio ............................................................................................................................................... 407
Apêndice ............................................................................................................................................. 408

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Prefácio

Por Gregório Duvivier

Há uma categoria de escritores que ninguém sabe se existe - e são


meus preferidos. Homero, o autor da Ilíada e da Odisseia, pode nunca ter
vivido, ou podem ter sido vários Homeros, pode ser que vários poetas
tenham assumido esse título. O mesmo acontece com Sócrates, o inventor
da filosofia que pode ter sido apenas um personagem de Platão. Por muito
tempo achei que Francisco fosse um deles. Sua obra parecia perfeita
demais pra ter saído de um cérebro só. Suas fotos, desfocadas, pareciam
geradas por algum algoritmo. Pairava sobre ele uma aura mítica.

Mas ele existe, mora no Brasil e fala português, pra nossa sorte. Ao
contrário de Sócrates e Homero, Francisco José se dedicou ao mais
desprezado dos gêneros literários: o comentário de internet. Não há lugar
mais insalubre que uma caixa de comentários de portal: rivaliza com a
caixa de gordura. E foi desse terreno pantanoso que Francisco conseguiu
fazer nascer piadas já canônicas do século XXI. Sim, Francisco fez história
ao inventar um gênero literário surpreendente na forma, no conteúdo e no
veículo - nunca antes alguém tinha dedicado a extensão do seu talento a
esse terreno baldio.

4
Nesse livro, que ele chama de livre, Francisco nos oferece, de graça,
as minúcias do seu engenho - como um mágico que revela seus truques.
Não espere objetividade, no entanto. Nem tampouco concisão. Aqui vocês
conhecerão o Francisco que eu conheci: anárquico, e imprevisível,
Francisco fala por parábolas - como os gênios costumam fazer. Portanto
não espere soluções fáceis pra criatividade. Não se trata de um mapa de
tesouro, nem de um manual de instruções, mas de um relato de viagem.
Por onde? Por dentro da cabeça de Francisco José. E que cabeça.

5
FIM.
Seguindo os princípios do ser criativo, comecei pelo fim com a
finalidade de já iniciar criando uma forma de permitir a você ter a opção de
não correr o risco de perder seu tempo lendo esta obra, mesmo que, na
minha tão humilde opinião, seja de suprema importância para sua vida:
você nem precisa começar a ler, se não estiver a fim.

Esta obra é sobre criatividade, a começar pelo fim. Então o fim ser
só o início é um dos meios de se atingir este fim, até porque os últimos
serão os primeiros. Espero que este fim justifique os meios.

6
PRELIMINARES

Para satisfazer o leitor, de maneira que ele possa gozar de uma boa
leitura, antes da introdução não posso deixar de fazer as preliminares.
Afinal, o mínimo que se espera de um escritor é que ele seja
habilidoso com a língua.

Criatividade (definição que uso nesta obra):

Processo mental cuja função é produzir uma nova


ideia na consciência, e que exista uma perceção de valor
atribuído a esta ideia.

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Kagazaki Ninja

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Conteúdo do livre O Toque do Criador

 Contextualização do autor em relação ao conhecimento da


criatividade.

 O que é a Era das Mudanças Exponenciais e suas implicações


para nossas vidas.

 Por que a criatividade é a qualidade mais importante nos


tempos atuais.

 Como funciona a criatividade.

 Como desenvolver a criatividade.

 Como viver criativamente.

 A descoberta do Fogo Criativo.

 Exercícios de criatividade.

 Centenas de exemplos de associações criativas.

 Duas ideias de criptomoeda para você ficar bilionário.

 A busca pela Verdade verdadeira.

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Por que esta obra é um presente?

Aconteceu, faz pouco tempo, uma catástrofe financeira comigo, que,


inclusive, me colocou em depressão, e estou em tratamento.

Um presente é um ato de amor. Damos algo que consideramos ter


valor a uma pessoa esperando somente que ela goste, e que ela perceba que
o ato de presentear simboliza o bem que queremos para ela.

A ação de dar um presente em um momento de grande necessidade,


momento em que o normal seria pedir ajuda, sendo este presente os
conhecimentos, experiências e conclusões que acumulei de valor na vida,
que, felizmente, ainda não se perderam, é minha oportunidade de realizar
um gesto de amor que nunca imaginei ser possível.

E mais, sendo presente, possibilito, a quem não tenha recursos, ter


acesso a estas informações que considero importantes.

Este pensamento é fruto do pensamento criativo de que este livro


trata. Usando a criatividade, criei esta estratégia de distribuição, que
entendo ser a mais justa e perfeita que eu poderia pensar. Se eu receber
algo em retribuição, será por amor, e não porque exigi.

O valor só é válido se for fruto do amor semeado.

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Pois bem, este livre é meu presente para você. Espero que encontre nele algo que
toque seu coração, e não faço para receber nada em troca, nem um trocadilho.

Tenho que deixar bastante claro um ponto.

Já me disseram que parece hipocrisia, que eu estou me fingindo de


amoroso para obter compaixão. Não! Presente é de graça.

A gente desconfia mesmo de algo assim hoje em dia. Mas é só


procurar a etiqueta de preço para comprovar.

Inclusive, quanto mais distribuído for este livre, melhor para todo
mundo, também para mim.

Se quiser retribuir, ótimo! Aceito qualquer coisa: compartilhar com


seus amigos, me agradecer, divulgar, um abraço, um beijo, sexo, esfirra,
boneca inflável da She-Ra, incenso, mirra... Ouro seria bem legal, também.
Quem sabe um açaí, guardiã. Um zum de besouro, sei lá. Um ímã. Uma
saborosa massa, também pode ser uma maçã. Ou até me mandar qualquer
quantia que represente o valor que esta obra teve para você.

Meu Pix:

fje.gcomentarios@gmail.com

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Oi! Meu nome é Bruno! Sejam bem-vindos.
Espero que vocês gostem do trabalho do meu papai, que me ama
muito!
14
O que é esta obra?
Não é um livro, e-book, manual, folheto, apostila, conto, coletânea,
peruca, bucêca, trapezista, tramãozista, chapéu, cafebraçou, nada que tenha
um rótulo. Nem poderia ser, já que seu assunto deve ser expresso nele
mesmo. Mas como preciso (na verdade não, só navegar é preciso, eu só
resolvi que seria assim) chamar de algo que não seja “obra”, chamo de
“livre”, semelhante a um livro, mas livre de regras e padrões (com a
exceção do meu querido Padre Fábio de Melo). E as páginas serão
chamadas de imáginas. (Aí também não, né? Já é frescura demais). É...
Está certo. Imaginem que não viram. Vamos virar a página.

Aqui, o valoroso, esplendoroso, caloroso, de bumbum adiposo,


nobre, sensível, inteligente, lindo, gostoso e cheiroso leitor vai encontrar
uma coletânea dos meus conhecimentos que são mais importantes, na
minha avaliação. (Outro jeito de falar que só tem abobrinha). Meus
pensamentos, minha filosofia sobre criatividade, toques para desenvolver
sua criatividade, exemplos de meus comentários, exemplo de uso em
outras áreas do conhecimento, particularidades, enfim, o meu
entendimento atual do mundo (Zero), resultado de muitos anos vividos por
uma mente criativa (bota ânus nisso... Eu sou um verdadeiro vencedor!
Meu prazo de validade foi, por mim, vencido).

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Sem inibições, como me vem no momento (desinibidah). Opero
assim para ser o mais criativo possível (mas falhou pateticamente).

Oriento-me apenas pelo seguinte caminho: que seja percebido nela o


toque do criador.

Vai falar o que agora, ô, gaiato dos parênteses? Alusão a toque retal?
Cresça e apareça, mané. (Mas... Você está nervoso?). Não tô, caralho! Eu
estou tentando escrever uma obra literária.

(Hahaha... Obra literária... Não sabe quanto eu ri aqui. Ainda bem


que você escreveu, certeza, a única piada que presta neste amontoado
de palavras sem nexo que parece que foi escrito por um macaco-prego
bêbado, ao sair da montanha-russa... Está se achando o São Tomé das
Letras. Prezado leitor, não deixe esta ‘obra literária’ de Chernobyl aberta
no seu note, que se passar um gato, ele enterra.)

Olha aqui, Esquízola – vou chamar você assim, porque, obviamente, é


algum distúrbio psicológico, tipo Walter-ego, sei lá –, vamos combinar
que, se não quer ajudar, não atrapalhe. Inclusive, uma gracinha que você
fez comigo lá atrás achei homofóbica. Tudo bem, a gente sabe que,
felizmente, não temos, nem poderíamos ter, um pingo de maldade no
coração. Pois o estado hipercriativo exige uma conexão amorosa com o
mundo, o olhar inocente de uma criança que se deslumbra com a vida que
está conhecendo, sem precisar pensar em amor-próprio ou autoestima.
Pelo contrário, um desapego ao ego, evidente até pelas brincadeiras que ele
faz com ele mesmo.
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Fé demais.

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Então, sei que você não faz por maldade, isso faz parte do arcabouço
sociocultural homofóbico em que você está imerso, e deve ser
desconstruído.

(Kkkk... ‘Arcabouço’! Leitor, ele nunca usou essa palavra na vida!


Não deve nem saber se está falando certo, pelo menos acho que
escreveu certo. Está empenhado em falar difícil porque está no início da
tal ‘obra literária’ e não quer dar vexame. Mas está dando desde as
primeiras palavras. ‘Livre’. Cheguei a sentir um arrepio de vergonha
alheia na hora que ele escreveu isso. Na hora do ‘imáginas’, não
aguentei, tive que intervir. Ei, Só-vícius de Imorais das cagonomatopeias.
Felando Pessoa dos enfermismos. Você é, literalmente, uma figura.
Tenho uma coisa pra você desconstruir aqui: é o concretismo da cabeça
do meu Bilauc. Estou aqui me esforçando em te ajudar a ser menos sem
graça, e está dando certo. Pelo menos eu estou rindo. Tenho zero
absoluto de homofobia, inclusive acho que homofobia é coisa de veado.
Tenho até amigos gays. Acho que todos eles.)

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Ô, pra quê tanta mágoa, Esquizo, estou tentando fazer uma coisa
legal aqui, e você vem fazer gracinha. Ainda diz coisa que ofende as
pessoas. Qual o limite do humor?

(Você é meio limitado, mas a outra metade é apenas sequelada. O


humor que vem do amor não tem limites. Se você sabe que não faz por
maldade, a maldade não vai ser sua. Pode até quase ninguém achar
isso, mas não podemos fazer nada. Você está seguindo seu coração.
Está se fazendo de bobo, conheço muito bem sua laia. Sabe que não
estou ofendendo, estou brincando, porque sei que o leitor sabe que não
é maldade. Não vejo o outro por rótulos, vejo pelo coração. Quando eu
faço uma frase que parece ofensiva, minha intenção é justamente o
contrário. É tirar um pouco este peso que cada um carrega, das
verdadeiras maldades que algumas pessoas insistem em propagar pelo
mundo. O que eu quero na verdade dizer é: ‘Veja como isso não tem
importância’. Não deixe que alguém controle sua felicidade, não dê esse
poder a ninguém.)

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Próprio para bruschetta.

22
Ah, safado, estava fingindo que era hater (determinado tipo de pessoa
que fica espalhando seu ódio na internet, em uma língua diferente) só para
mostrar que o humor feito com amor não deve ser levado como ofensa.
Mas então, podemos voltar ao livre? (Ai, chega dói nos olhos esse ‘livre’.
Mas quem manda nessa bodega é você, infelizmente. Bora.)

Livre, livre, livre, livre.

O que eu tinha que escrever aqui? Ah, o que é esta obra.

Um livre! (Crianção...).

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Por que esta obra é importante para você?

Importante? Ela é apenasmente insuperável obra-prima máxima e


excelente, de transcendência sobre-humana divina e fabulosa;
representação mágica do conhecimento mitológico magistral supremo,
essencial e genial criação sagrada, art nouveau da natureza, pura beleza,
jazz, boa de cama, boa de mesa, boa de banho, não nega fogo, escandalosa,
revolucionária e indispensável.

Apesar disso, ela tem pontos positivos:

Esta obra se dedica ao entendimento e desenvolvimento da qualidade


mais necessária de se entender e desenvolver nos tempos atuais e futuros.

A criatividade. (É mesmo? Sabia não.)

Percebi que muitos ainda não se deram conta deste fato, e ainda
colocam criatividade como algo que, ou se tem, ou não se tem.

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25
Outros colocam sua importância abaixo de muitas outras, como
inteligência, raciocínio, imaginação, memória, conhecimento, sensibilidade,
comunicação, habilidades sociais, postar selfies, dançar tango, cozinhar
pamonha, trocar de biquíni sem parar, tatuar o escudo do Vasco (Gigante
da Colina!) nas nádegas, tricotar sapatinhos para capivaras, colecionar
embalagens de margarina, procurar o Velocino de Ouro, etc.

Mas a verdade que lhes estrago, e você perceberá neste livre, é que
entender e desenvolver a criatividade, e levar uma vida criativa, é a única
forma de sua mente ser capaz de aproveitar, se adaptar e conseguir
acompanhar as mudanças aceleradas, que acontecem num ritmo
exponencial, e mudam completamente o mundo e nosso modo de viver,
um tsunâmi de novidades tecnológicas que transformam o mundo em um
ritmo, ritmo de festa, tornando obsoletos hábitos, produtos, serviços,
gerando um mimimi danado, chatão, aff. E que pode tornar obsoleto até
mesmo você, e eu, somos um, caso sério.

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Este livre foi escrito por um cara simples, modesto, humilde, de
família, ingênuo, inocente, trabalhador, batalhador, bem-dotado, mentiroso
(mentira, eunuco minto), gênio máximo absoluto do universo, iludido,
libertino, que dedicou a vida ao estudo das fronteiras do conhecimento
humano (sinistro). Que, para ser mais criativo, sempre observou a própria
mente para entender e melhorar o método criativo. Que consegue
movimentar um olho sem mexer o outro. Que tem pânico de barata. Que,
por amar tanto a criatividade, entre ter relacionamentos e parar de mentir,
escolheu parar de mentir (lá na frente eu explico o que falar a verdade tem
a ver com poder cerebral).

Também, que percebeu que chegou a hora de transmitir seus


modestos conhecimentos fabulosos, para contribuir, da maneira que
acredita ter bastante valor, para o bem comum, e pelo bem da nação, eu
digo que fico.

As provas disso estão todas nesta obra, onde passo o mais importante
e valioso, de tudo que aprendi em uma vida e está maduro o suficiente
para ser útil à sociedade e, particularmente, a você que está me lendo
agora. Sinta-se abraçado por este amoroso e amigo autor, que agradece sua
atenção.

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Novo Mundo. O que a expressão Novo Mundo
lhe desperta? Ansiedade? Medo, excitação ou
curiosidade? No final do século 15, Colombo
descobriu a América. Que mistérios encerrariam
esse continente inexplorado? Criaturas exóticas,
fontes da juventude, gigantes das colinas, cidades
de ouro? Desfiles de Carnaval? Pastel com caldo
de cana? Mirra? Mundial do Palmeiras? Trata-se
do desconhecido, que se descortinava à frente
dos nossos antepassados.

Aqui do lado você pode ler meu poema


preferido de todos. Quer saber o porquê? Não?
Mas eu digo mesmo assim.

Porque ele expõe uma enorme virtude, que


só os criativos, aqueles dispostos a sair da
(suposta, mas já ultrapassada) segurança do que
já é conhecido, para desbravar um Novo
Mundo, aqueles que vão precisar criar formas de
sobreviver em um continente desconhecido. Só
esses bravos têm a alma que não é pequena, e sim, grande o suficiente para
que:

A curiosidade vença o medo.

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Nessa minha metáfora, o sentimento de encontrar um mundo novo,
desconhecido, cheio de perigos e riquezas que os grandes navegadores não
conheciam, repete-se agora, cada vez mais rapidamente.

FJE

Ainda não está seguro disso? Vou dar um exemplo: há questão de


semanas, quase toda a civilização humana estava cumprindo prisão
domiciliar, pela primeira vez na história. Na rua, microassassinos estavam
prontos para fazer você morrer sem ar, e sozinho. Todos nós perdemos
algum amigo, algum parente, e na maioria dos casos isso poderia ser
evitado. A pessoa que você amava poderia estar aqui com você. Como?

Usando a criatividade para se adaptar a este novo e terrível mundo.

Os criativos se adaptam rapidamente a mudanças radicais como essa,


e apresentam soluções muito mais rapidamente que a maioria que não
percebeu a importância da criatividade. Muitos criativos tentaram ajudar
nesse momento de transição, com suas novas soluções. E se tivesse sido
dada atenção a nossos avisos, duvido que teríamos tantas fatalidades. Bola
pra frente.

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Eu tentei alertar, em 4 de abril de 2020, para uma solução possível e
que diminuiria ou retardaria a contaminação até que fosse disponibilizada
uma vacina. Agora parece óbvio, mas esta ação só começou quando era
tarde demais para muitos.

Imagine a sensação de impotência de quem é capaz de enxergar uma


solução que poderia salvar não uma vida ou dez ou cem, mas centenas de
milhares de seres humanos, que deixaram tanto sofrimento aos entes
queridos.

Em terra de cego quem tem um olho é mentiroso, louco,


ignorante ou quer te enganar. Quem tem dois, então, consegue ver
uma dimensão a mais. Capaz de até ser crucificado. Agora, três já
é demais.

Quem quiser ser criativo vai ter que lidar com o fato de que você vê o
que os outros não veem, e a maioria acredita na maioria.

No passado recente, milhares de gerações se passavam e o mundo


permanecia quase o mesmo. Mas os cabelos, quanta diferença. A seleção
(ôôô, Brasil!) natural adaptava os seres vivos a um mundo quase sempre
igual (a não ser por um ou outro cometa, como o que extinguiu os
dinossauros – felizmente até hoje esse desastre não se réptil). Se você
aprendeu algo importante para sua sobrevivência, guarde na memória, e
não precisa se preocupar caso sua realidade mude.

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Apesar de a nossa adaptação ter sido refinada para um ambiente que
era praticamente o mesmo ambiente em que nossos antepassados viviam,
agora as transformações do mundo ocorrem de forma acelerada.
Felizmente nosso cérebro possui uma função, uma capacidade, uma
ferramenta que podemos usar para diminuir o impacto que as novas
situações, os novos problemas, os novos desafios e as novas tecnologias
possam causar para nosso modo de viver.

Esta função que nos possibilita enfrentar o desconhecido é, adivinhe,


pergunta difícil…

CRIATIVIDADE.

Criatividade é a qualidade mais essencial do agora e do porvir, a


qualidade em que devemos investir todos os nossos esforços para
desenvolver nos tempos atuais. Capacidade ao mesmo tempo temida (ui,
meda!) e divina.

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É uma técnica de acavalamento.

38
Temida porque nossos genes foram selecionados para temer o que
não conhecemos, e, para criar algo que não existe, precisamos enfrentar o
desconhecido, ter a coragem de andar por um novo caminho, o qual
ninguém ainda trilhou. Correr riscos. Desbravar novos continentes.

Divina porque possibilita nossa adaptação a um mundo que se


transforma tão rápido, ao libertar nossa mente dos pensamentos e hábitos
que não se encaixam mais neste novo mundo, permitindo transcender
nossa arrogante e preguiçosa humanidade, e tocar o dedo da mão que nos
estende o Criador, como, no meu entendimento, encontra-se retratado na
pintura criada por Michelângelo no teto da Capela Sistina, a figura que está
na primeira página (mas é tão legal que vou botar ela aqui de novo).

Obra maravilhosa de meu pintor nacional preferido: Meu amigo Eduardo


Lima
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Então, respondendo à pergunta “Por que esta obra é importante pra
você?”:

Não sei, talvez seja importante, talvez não. Espero que sim, até
porque nem dá para trocar por outra.

Porém, é importante para você compreender:


 O real valor da criatividade na Era das Mudanças Exponenciais,
e que ser criativo agora não é só necessário, é nossa única
salvação, que a criatividade tem a ver com a liberdade de
pensamento, tornando a mente mais plástica, mais capaz de se
encaixar em novos modos de viver, libertando-nos da tendência
de seguir sempre os mesmos caminhos, os mesmos hábitos, as
mesmas formas de interagir com o mundo, caminhos que já não
chegam ao lugar que sempre chegaram.

 Que o mundo está mudando em um ritmo, ritmo de festa, que


em breve não conseguiremos mais acompanhar, e que nossa
adaptação foi fruto de milhões de anos em um ambiente quase
estático, e, por isso, não estamos suficientemente preparados
para um ambiente que muda de maneira exponencial.

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41
 Que a única qualidade que pode nos ajudar na adaptação ao
desconhecido é a criatividade, e que nenhuma outra que o ser
humano possua é adequada para enfrentar o novo, as novas formas
de viver, as novas ferramentas e os novos problemas que teremos.
Inteligência, conhecimento, curiosidade, otimismo e alegria, são
qualidades que ajudam a ser criativo, mas só elas, sem a
criatividade, nunca conseguirão criar uma solução para um novo
problema. Que camiseta regata é terrivelmente brega, ninguém
gosta de ver sovaco.

 Que o fato de comer toda a comida do prato não ajuda em nada


as crianças africanas que passam fome.

 Que é importante ter a mente aberta a ponto de ser possível


apreciar, em toda sua plenitude, uma letra de música do Djavan
(o jazz poesia), e depois enfrentar o chefão da fase, João Bosco.

 Que o cego sabe a hora de parar de limpar o bumbum porque


ele come milho e lê o papel em braile.

 Que nonsense é chato, mas vou usar muito aqui porque eu


gosto.

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Segundo pesquisa do ITVI (Instituto Tireidocu-mentos Verídicos e
Importantes) realizada em Cancún, sobre o que as pessoas acham que é a
criatividade, qual a definição, qual sua importância, na maioria das vezes,
cada um tinha uma definição diferente. Nesse instante eu percebi o quanto
esta obra era urgente e necessária. O que para mim era algo tão perceptível
e urgente, a maioria das pessoas ainda não teve a chance de ser alertada.
Não entendem bem seu significado e, muitas vezes, acham que se trata de
um dom de algumas pessoas, sendo assim perda de tempo tentar
desenvolver a própria criatividade.

Pare um pouco, reflita, deixe a mente divagar no assunto. E se chegar


à conclusão que realmente faz sentido essa importância, acredito que você
pode ser mais criativo se você focar no desenvolvimento da sua
criatividade. Se entender o quanto você está precisando e o quanto vai
precisar cada vez mais, sua mente vai se reconfigurar para essa nova
diretriz, e o processo de libertação acontecerá.

Neste livre apresento alguns dos meus princípios, e ainda dou


centenas de exemplos de criações minhas que foram selecionadas entre
quase dois mil comentários no Facebook, e alguns dos 22 mil do Twitter.

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E você ainda ganha: duas ideias para ficar bilionário, e, como licor de
cereja do bombom, cenas dos próximos capítulos do meu próximo livro,
A Grande Busca: existem verdades inquestionáveis?. É, caro leitor, este modesto e
humilde autor, além de ser engenheiro, humorista, autor, barbeiro de pêlos
de orelha, piloto de corrida de trens, tirador de caroço de azeitona
(certificado), também é metido a filósofo.

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Como ler este livre

Não tem uma ideia aqui que não tenha sido escrita com amor,
respeito e 1% de safadeza. Meu objetivo não é um discurso vazio, cheio de
frases d’efeito. Tento ser direto, sincero, amoral e leve.

Procurei escrever de maneira o mais criativa possível. Eu acho que


consegui melhorar a leitura ao alternar texto sobre criatividade e exemplos
dos meus comentários criativos. Na minha opinião, assim você se cansa
menos, mantém o ritmo, ritmo de festa, e vai ficando mais claro o que eu
quero comunicar, como funcionam as entranhas escondidas, secretas,
dissimuladas e mitológicas do método criativo.

Observação: você já deve ter lido alguma sequência de palavras que


eu escrevi lá atrás, que começa fazendo sentido e depois vira uma
maluquice completamente sem nexo. Já aviso que abusei deste
procedimento. Trata-se do nonsense. Explicarei mais adiante.

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Por que eu me considero capaz de escrever algo de valor sobre a
criatividade

Na verdade, não me considero nada. Espero que dê certo. O pessoal


costuma dizer que sou bonzinho nessa coisa de ser criativo e tal, mas
alguém precisava escrever sobre isso. Eu espero que ajude, sinceramente.

Como eu amo esta vida ingrata e cruel com todas as minhas forças,
embora só apanhe, sempre prestei uma atenção incomensurável,
estupefaciente, contrainconstitucionalissimamentezante, a esta ingrata fofa.
Há 6 anos acabei estabelecendo um exercício para desenvolver e entender
o que seria a criatividade, e como ela funciona. Entendi que é a qualidade
mais misteriosa que existe. Trazer uma ideia nova e que faça sentido para o
mundo parece ser algo fortuito, que acontece raramente, que alguns tem e
outros não, tão difícil e fora do nosso controle, que deixamos para lá.

Mas tendo a intuição de que a parada estava ficando sinistra, decidi


que iria tentar melhorar e entender a criatividade tendo a mim como base.

Hoje já posso dizer que eu sou o rei da cocada preta, o fodão do


bairro Peixoto da criatividade.

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51
Obviamente é uma brincadeira. É muito importante perceber aqui
que a preocupação com o ego impossibilita o uso pleno das capacidades
cerebrais necessárias à criação. Estou sempre brincando comigo mesmo, e
não me preocupo com a autoestima. É normal que eu receba de outras
pessoas o falso e prejudicial conhecimento de que devemos amar primeiro
a nós mesmos para conseguir amar aos outros. Não temos que amar a nós
mesmos primeiro coisíssima nenhuma. O Amor Real não seleciona. Isso
só traz desvantagens, bloqueios, mimimis, textões, falta de criatividade,
mau humor, remela, ligações de São Paulo que desligam na sua cara, novo
álbum do Los Hermanos, sua fila anda menos que a outra, pega bicho-de-
pé, sequestro-relâmpago, seu porquinho-da-índia começa a falar latim com
voz grossa, barata voadora entra no banheiro quando você está com
diarreia. Só chateação.

Só se preocupa com autoestima quem tem baixa autoestima. Quem


não dá a mínima para a autoestima só tem a ganhar. Muita gente vê as
imagens dos comentários que eu faço como uma egotrip, porque, aos
olhos delas, se elas fizessem isso, seria. Já me disseram: “Você se acha”. Se
eu não me achasse, estaria perdido. Não estou nem aí, manipulo meu print
tão querido e guardo meus comentários, porque senão eles se perdem, e
outras pessoas não teriam a oportunidade de ver e talvez rir. E se fosse
egotrip, não é esse o objetivo, um olhar para si mesmo? Eu, hein!

52
53
Mas esse não é o tema do capítulo. E não precisava ser, de fato.

Por que me considero como alguém capaz de escrever algo de valor


sobre criatividade: eu não me considero capaz,

eu estou escrevendo.
O que pretendo passar com esta obra são informações que serão úteis
para que você tenha uma vida criativa e horas mais leves, com algumas
bobeiras, mas bobeiras legais, como nos exemplos do que quero
demonstrar.

E ainda tem o bônus: duas ideias que dão bilhão!

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55
O que esperar desta obra

O inesperado. Afinal, trata-se de um

Crie-me sem gravidade.

Aqui apresento exemplos e métodos que eu criei e refinei ao máximo


com o objetivo de ajudar o leitor a perder seu tempo.

Aumentar a
Manter a plasticidade conectividade entre os
Desenvolver sua
cerebral aberta para as neurônios, para que as
criatividade.
novas ideias. ideias fiquem mais
conectadas entre si.

Libertar sua mente


para poder pensar o Melhorar sua
Retardar a degradação
novo, não se capacidade de absorver
mental.
prendendo mais ao novas ideias.
que ficou obsoleto.

Achar o Mundial do
Adaptar-se melhor às A Busca pela Palmeiras (brincadeira,
mudanças. Verdadeira Verdade. sou criativo, mas não
faço milagre).

Espere também uma escrita leve, bem-humorada e livre.

Informações muito honestas e sem os exibicionismos rasos que


vemos em algumas publicações. E putaria. Muita.

56
Esta é uma obra escrita com amor e humor, porque

Humor é quase amor.

Mas o principal objetivo é conseguir que, ao final deste livre, você passe a
viver criativamente, tornando sua mente plástica o suficiente para se
adaptar aos novos mundos que virão, criando soluções novas para
problemas novos, libertando seu pensamento para que ele não continue se
apegando a soluções já obsoletas, aproveitando novas oportunidades e
contornando novos desafios. Descrevo mais à frente o que tem a ver ser
criativo com a liberdade de pensamento.

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58
O que eu espero deste livre

Que só seja realmente entendido nas próximas gerações. Isto me


daria alguns anos antes que percebam que perderam um tempo precioso
com ele, quando poderiam estar saltitando por entre girassóis numa tarde
morna de verão, em alguma plantação ao sudoeste da Bratislava, como um
serelepe lepidóptero multicolorido que acabou de se refestelar no néctar
inebriante da flor da Cannabis sativa, espécie vegetal aqui considerada flora
da lei, embora as provas contra ela tenham sido plantadas. Ao ser inter-
regada, permaneceu muda, mesmo levando uma prensa. De verdade,
espero conseguir transmitir a importância real da criatividade nos tempos
atuais, explicar o funcionamento da criatividade, espero despertar e atiçar a
chama criativa que existe em cada um, espero que sintam prazer nesta
leitura, e que esta obra seja digna de ser lida por você. (Responsabilidade,
hein). Espero também que meus filhos não sofram muito bullying por ele,
nem fiquem com vergonha do pai. E na pior das hipóteses, que tenha
algum valor para alguém, em algum bat-dia e bat-lugar.

59
INTRODUÇÃO
Com seu consentimento, agora posso fazer a introdução.

60
simples, muito simples. Mais simples
que andar na corda bamba de lambreta,
fazendo 69 com Maria Antonieta, ou
encontrar ovo no cabelo da cabeça de
um caro alho descoberto no Nepal. De
alto teor de sódio, é comida do capeta.
Quem abusa passa mal. Mais tranquilo que passar uma agulha
pelo buraco do camelo, cantando uma opereta de Vanusa para
sua musa, em Siracusa, com Vampeta no berimbau. Ou calçar o
sapato que um perneta nunca usa em um pé de cacau que
plantei no meu quintal. Mais fácil que catar piolho na Medusa,
fazer bariátrica no Nó Górdio, aprender japonês em baile funk.
Do que Hamlet decidir sério não ser, ou cortar o mal pela raiz
da hipotenusa, enquanto ela mostra as catetas sob a blusa, para
saber com quantas canoas se faz um pau. Mais simples que
batizar um saci em uma catedral, que pegar carona na cauda de
um cometa que, até Lisboa, te conduza, que o Palmeiras ter
Mundial (foi mal, aí já é punk pra casseta; o impossível até se
aceita, ir além é irreal).

Brincadeira. Fácil não é, mas, seguindo algumas instruções


ao pé da letra, como as que eu reuni aqui, você se descobrirá um
61
CRIATIVO. Terá acesso a todas as salas VIP dos cabelereiros de
Caraguatatuba e redondezas, sobremesa grátis em qualquer
pedido acima de 500 reais na maioria dos ônibus municipais e
interestaduais, um pôster do Leonardo Darwinci, e receberá um
diploma e o certificado oficial de pessoa criativa entregues pelo
lendário Robinson Crusoé em pessoa, em cerimônia realizada
toda sexta-feira, na sede internacional da Criativos Reunidos
Inovando para Adaptação à Realidade das Mudanças
Exponenciais com Ideias Originais de Sucesso, a CRIARMEIOS,
que fica em Nanuque, aprazível e cosmopolita metrópole
mineira, famosa no mundo inteiro por sediar, também, a Fábrica
de Portões Automatizados Sésamo Corporation, aqueles que são
ativados ao se proferir a conhecida frase “Para Vigo me Voy”,
mas que alertam automaticamente a polícia local, por fax, caso
algum gatuno ou outro miau elemento tente invadir sussurrando
“Abre-te, Sésamo”. A Interpol já conseguiu capturar pelo menos
uns 40 ladrões, graças a esta tecnologia de porta.

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63
Quando aconteceu esse comentário inesquecível, em 2015,
eu não tinha ideia do caminho cheio de pedras no meio, no qual
começara a Andrade, e Drummonte de Carlos que existiam nos
meus pés. Lembro que estava no meio do abissal e perigoso mar
que espelhava o céu, em uma sonda de perfuração. Eu estava no
fundo do poço. Ficar 14 dias isolado é só para os fortes, e sou
forte como um dente-de-leão no furacão. Resistente como um
algodão-doce num tsunâmi. Como os passos do marido que

64
chega em casa de madrugada, vindo da farra. Como a primeira
casa dos Três Porquinhos. Como uma rubra e cheirosa pétal...
(Chega!). OK. Olhando para o passado, percebo que existe uma
coincidência singular desse caminho com o que acabei
percorrendo nos anos que se seguiram. Mas vamos começar
pelo começo, ao contrário deste livre.

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66
Sempre fui apaixonado por arte e criatividade, mas,
achando que elas não me davam condição para um xaveco, ou,
quem sabe, namoro, casamento no xibiu e no libidinoso, filhos
com nomes criativos (Pivete Sangalo, Edite Piá, Molelke
Maravilha, etc.), chifre com o professor de ioga, divórcio
litigioso, alcoolismo e, finalmente, morte, por ingestão de manga
com leite, acabei calculando mal e segui a carreira de engenheiro,
por influência do meu pai, que foi um engenheiro de alto nível,
conhecido e respeitado pelos iraquianos do signo de Líbria. Meu
ídolo, me fascinava sua energia interior e o dom natural para
liderança. Foi um homem bom.

Acabei descobrindo, com a ajuda da minha querida


psicóloga (veja a seção Agradecimentos), que meu propósito na
vida era me tornar um criador. Desbravar novos mundos,
descobrir novos conhecimentos, obras de arte, posições sexuais
(inventei e patenteei, no Oriente Médio e na Austrália, a posição
‘Piróquio’: você liga o ar-condicionado no máximo para ficar
bem grelado, fica esfregando seu boneco de pau, menor do que
nunca, no ponto G e peitos da moça, enquanto, na sua ilusão,
você está se transformando em um jumento. Ao mesmo tempo,
sussurra para o grelo falante ‘o Palmeiras tem Mundial').

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Ficava fascinado com criações que tivessem aquele toque
mágico que emociona. Como eu me sentia emocionado ao ler
uma música de Djavan, lamber uma escultura de papel machê,
vestir uma fantasia do Clóvis Bornay, assistir ao filme Ghost, além
da vida, passar o papel higiênico e ele sair limpinho, acordar cedo
e lembrar que é sábado, a caixa da loja não perguntar se tem
trocado quando você paga com uma nota de cem, ser atendido
na hora que chega ao médico, e tudo o mais que tenha a ver
com novas formas de pensar.
Seguindo minha intuição, criei um exercício para estimular
e desenvolver a criatividade e o tamanho do pinto (só funcionou
para um deles): comentar notícias bizarras de maneira criativa
nas redes sociais.

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O objetivo era medir a qualidade criativa (Qc) do
comentário (eu que inventei), por meio do retorno em curtidas e
comentários de pessoas, que não me conheciam, e gentilmente
me ofendiam. Esse retorno era parte essencial e inovadora do
exercício de criatividade. Não eram opiniões parciais, porque
vinham de desconhecidos, e a correlação entre quantidade de
curtidas e respostas positivas com a qualidade criativa do
comentário era significativa (O Homem que Qual Cu Lava). Ou
seja, eu sabia, assim, o quanto eu fui criativo ou patético naquele
comentário (até hoje espera o dia de ser criativo).

Dessa forma fui construindo, pouco a pouco, um modelo


mental da resposta do mundo esférico ao meu plano, e
aperfeiçoando o modelo do método criativo de maneira que ele
produzisse ideias que fossem mais bem recebidas, usando meu
modelo de mundo melhorado para intuir o Qc antes de postar,
repetindo o procedimento.

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O retorno recebido, para a inveja do saudoso Tim Maia,
me ajudava a obter o modelo da mente coletiva contemporânea,
e, também, a entender o mecanismo da criação envolvido. A
criação exige liberdade de pensamento porque, só com uma
mente livre dos hábitos correntes encadeados Papaiz Mamãez,
que nos prendem ao modo rotineiro, seguro e eficiente que até
agora percorremos, é que podemos caminhar por trilhas
desconhecidas, olhar de fora o pensamento comum, e perceber
mais rapidamente, e com eficácia, que o caminho habitual
percorrido pela humanidade agora termina no despenhadeiro, e
nós somos os coiotes.

Lembrando que não pode existir completa liberdade.


Beliscar o bumbum do cafetão, por exemplo, não me traz boas
recordações. Precisamos saber como o mundo responde ao
indicarmos um novo caminho. Porque a liberdade de
pensamento tem um risco: perder o contato com o pensamento
comum e sair da casinha, e, o que é pior, no meio de uma
pandemia (lembra do #FiqueEmCasa?), totalmente lóki e down.

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Associações que fiz pensando que eram de alto Qc já
foram medianamente recebidas. Outras que imaginei serem
meio “água de lavar xuxu” viralizaram feito o corona em todo o
Brasil. Cada pessoa tem suas peculiaridades particulares privadas
pornográficas pervertidas pecaminosas patológicas permissivas
psicóticas, mas dá para intuir um modelo médio, e não desandar
a liberdade de pensamento para associações que sejam
consideradas sem sentido pela percepção brasileira atual (Faz
isso direto aqui no livro). “Livre”. Isso eu digo em relação aos
comentários que deixo públicos. Na minha mente, tento ser o
mais livre possível. Mas como vocês nunca saberão! Brincadeira,
minha vida é um livre aberto, na imágina errada (Pode escrever
‘imágina’, ‘livre’, o cabeçalho A4, que não estou nem aí mais.
Problema seu.)

Explico melhor no capítulo sobre meu método criativo.


Fato é que criei este exercício para desenvolver a criatividade, e
comecei a me treinar regularmente.

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Pouco tempo depois, postei o comentário citado
anteriormente, o do “crime sem gravidade”. Fui beber um café
(ou defecar, não lembro), alguns minutos depois voltei para
verificar qual foi o retorno.

Fiquei surpreso. Milhares de curtidas, dezenas de


comentários elogiosos, me chamavam de mito, entre outros
comentários positivos.

Um exercício tão pessoal, que eu havia criado para meu


desenvolvimento, tinha valor social. Empolguei.

Na época, as interações com as notícias tinham na maioria


das vezes uma parcela de ódio, frustração, cargas negativas. E
por incrível que pareça, a norma era valorizar os comentários
mais raivosos. Descarregar a negatividade publicamente era
indicar que pertencia ao grupo da indignação. E aí chega um
anônimo que faz algo diferente do que todos consideravam o
normal. Posta uma associação de ideias tendo ligação com a
manchete, sem julgar, sem maldade, apenas uma associação
criativa entre informações relacionadas.

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E essa associação inusitada gera uma reação de humor.
Nosso cérebro recebe com alegria novas formas de conexão,
novas maneiras de pensar, e o sorriso é uma forma de sinalizar
que ele ficou grato pela nova ligação.

Humoristas que conheço consideram que só existe o


humor que tem um alvo a ser criticado. Acabei por criar, com o
advento da possibilidade de interagir com as notícias, uma nova
forma de humor, baseada apenas na criatividade.

E era disso que a sociedade necessitava naquele meio


depressivo e odioso de comentários negativos.

O que era só um exercício de desenvolvimento da


criatividade, tornou-se o meio que encontrei de contribuir
humildemente para tornar o mundo um pouco melhor que o
paraíso.

Mas com o meu amadurecimento sobre o conhecimento


adquirido em anos de criação, sem falsa moléstia, sinto que
tenho domínio do processo criativo, e o próximo objetivo é ter
domínio do esfíncter. Por fim, e que chegou a hora de passar
adiante este conhecimento, que considero tão importante
quanto uma lingerie sexy é para uma estalactite.
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Voltando ao comentário do crime sem gravidade, a ideia
parece uma metáfora de um trabalho que faço para distribuir
bom humor junto com meu exercício de criatividade.

Muitas vezes carregamos um grande peso


desnecessariamente. Colocamos muita gravidade em muitas
questões que enfrentamos nas nossas vidas. E muitas vezes
também nos lembramos, anos depois, de tudo aquilo que
sofremos, e surge a compreensão de que não era necessário
passar por tanta dor.

Quando eu brinco usando a criatividade com as manchetes


e os assuntos, eu demonstro que, se a gente olhar o tema por um
outro ângulo, outra perspectiva, ele perde um tanto da
capacidade de nos entristecer. Além disso, estimula a criatividade
e a plasticidade cerebral de quem lê.

Criei e adotei o lema “Humor é quase amor”. É assim que eu


tento fazer a diferença na vida das pessoas. Tirando a gravidade
das coisas, podemos levar uma vida leve. Porque a vida já é dura
e sofrida demais para a gente complicar desnecessariamente.

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Curta a vida.

Quando tiver um problema, tente tirar toda a gravidade


que você, querido leitor, concede a ele. Entenda “problema”
como um enigma. Perceba que um pensamento criativo pode ter
o poder de anular esse obstáculo. Eliminando esse peso a gente
tem ideia de como é estar no céu, flutuando como um anjo, e
assassinando astronautas.

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A Era das Mudanças Exponenciais

Nesta parte do livre eu vou mostrar para você como se


dança um baião, e se quiser aprender, favor prestar atenção.
Como a maioria das pessoas não entende a magnitude das
transformações que estão acontecendo cada vez mais rápido, e
como isso afeta nosso modo de vida de uma maneira tão
intensa, e cada vez mais intensa, e é tão tensa, que nos imprensa,
vossa excelência nem pensa na imensa transcendência suspensa
sobre nossas existências na iminência de nos esmagar com toda
a sua potência, e que quem não estiver preparado não vai
conseguir alcançar. Paciência.

Fomos desenhados quando a seleção natural estava


namorando, para um mundo que mudava muito pouco, por
gerações e gerações, e é por isso que ainda não há uma
percepção do real valor da criatividade.

Um homem primitivo só precisava aprender uma vez que


um determinado inseto tinha uma crocância admirável e era
gostoso como um blanquette de veau, caindo bem com um
Romanée-Conti Grand Cru safra 10001945 a.C. E solidificava a
ideia na mente, para que não fosse mais esquecida.

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Mas num mundo que apresenta cada vez mais mudanças
intensas, a única forma que existe para se adaptar ao que é novo
é criando formas de viver que se encaixem nessas novidades,
não como um surfista se encaixa num pombo-correio, mas
como o dinheiro se encaixa na carteira.

De agora em diante, a qualidade de ser criativo será o


diferencial que vai colocar você um passo, ou muitos passos, ou
algo entre um e muitos passos, à frente de quem demorar a
perceber que tudo mudou e continuar agindo da mesma
maneira, pensando da mesma forma, pacumendo o mesmo
pavê.

Foi isso que me motivou a escrever este livre. Eu tenho


que alertar a todos porque muitos ainda não perceberam. Ou
perceberam, mas não deram bola, ou deram bola, mas não
deram gato. Ainda não estão vendo o tsunâmi bojador que se
forma à frente.

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A comovente história resumida e aproximada (meio
chutada) do desenvolvimento tecnológico

É muito importante perceber que a evolução tecnológica


da humanidade segue um ritmo, ritmo de festa exponencial. Isso
acontece simplesmente porque novas tecnologias aceleram o
desenvolvimento de novas tecnologias, que aceleram o
desenvolvimento de novas outras, e assim caminha, digo, corre,
digo, voa, a humanidade.

O ritmo exponencial tem uma particularidade interessante:


no início, tudo muda no mundo de maneira lenta, gerações
passam e pouca coisa muda.

Essa é a chamada planície da exponencial.

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Eis que, de repente, a vida começa a mudar, de uma
maneira cada vez mais evidente. Aquele bonequinho lá está já
entrando na subida da curva. Ele não está percebendo que está
fodido. A curva vai ficando mais íngreme, cada vez mais rápido.
Sua biologia foi adaptada pela seleção natural durante milhões de
anos para um mundo sossegado. Mas agora ele esqueceu o
celular desbloqueado na casa da namorada.

Estamos vivendo a Era das Mudanças Exponenciais.

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Para ficar mais evidente, farei uma linha do tempo bem
resumida, só com os desenvolvimentos tecnológicos mais
relevantes:

Cidade de Roma no ano 1 d.C. Incenso valia ouro e Mirra, nem sei que porra é essa.

Já Era Antiga: ano 1 até +- 1500 d.C.

 Roma
 Aquedutos
 Grandes cidades se desenvolvendo
 Catapulta que pariu e engenhos mecânicos e borracheiros
 Grandes construções
 Canhão
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 Inquisição

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Em 1.500 anos o mundo mudou lentamente. Às vezes eu
fico imaginando como devia ser morar em Roma, sem xampu
ou papel higiênico, nem paracetamol, chocolate, Sílvio Santos,
bancos 24 horas, pochete, pogobol, tirolesa, tamagóchi, Waldick
Soriano, travesseiro da Nasa, futebol de botão, a nova Tekpix,
esmalte branco, Paolla Oliveira, Mundial do Palmeiras (não
aconteceu nesta época remota) e muitos outros avanços
indispensáveis para se viver bem.

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Já Era da Renascença: de 1400-1700 d.C.

Mapa maluco da época

 Renascença
 Época de intenso desenvolvimento nas artes e ciência (fim
da idade média)
 Grandes navegações
 E pur si muove – a ciência batendo de frente com a religião
 Mundial do Palmeiras (ops, também não foi nessa época)

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Foram-se 300 anos apenas, e, mais uma vez, o mundo
mudou completamente. Parecia que toda a energia criativa da
Idade Média, até então impedida de ser expressa, jorrou como
um maneta solitário ao finalmente alguém lhe dar uma
mãozinha.

Já Era Industrial: de 1700-1900 d.C.

Naquela época tudo era em 50 tons de cinza

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 Revolução Industrial
 Desenvolvimento filosófico
 Motor a vapor
 Locomotivas
 Eletricidade
 Mundial do Palmeiras (nossa, prometi uma segunda edição
revisada e erro de novo. Esqueçam, ainda não foi nessa
época a grande conquista do Verdão)
Agora, em 200 anos, o mundo muda de cara de novo, o
desenvolvimento se acelera muito com o motor a vapor, fábricas
fabricando febrilmente artigos antigos, que antes eram
manufaturados, e por isso, bem menos acessíveis.

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Já Era Moderna: de 1900-1970 d.C.

Quando alguém me liga de São Paulo e desliga sem falar nada

 Antibiótico
 Pílula anticoncepcional
 Luz elétrica
 Televisão
 Bomba atômica
 Telefone
 Ar-condicionado
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 Avião
 Batata frita do McDonald’s (pelos 5 primeiros minutos)
 Homem pisa na lua
 Mundial do Palmeiras (gente, isso é bug do editor, eu não
escrevi isso!)

Prepara-se Jorginho para soltar seu foguete

Inacreditável. Imaginar que, em menos de 70 anos desde


que Santos Dumont criou a primeira máquina voadora mais
pesada que o ar, a humanidade se desenvolveu o suficiente para
mandar seres humanos à Lua! Setenta mas não consegue. Pega
leve aí, desenvolvimento, o tempo voa.

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Já Era da Informática: de 1970-2000 d.C.

 Revolução da informática
 Computador pessoal
 Internet
 Telefone celular
 Doom (joguei muito)
Quanta computaria
 Tênis Rebook e Calça Fiorucci

Joãozinho Trinta. 30 anos. Todo o planeta tem planos de


adquirir um cérebro eletrônico para sua casa. Uma grande rede
conectando cada ser humano. Informação, conhecimento,
culturas, tudo interligado e de fácil acesso.

O matrimônio, que teve seu papel passado, leva um golpe


tamanho família da noiva Era. Não se casa mais com os noivos
padrões, padres e padrinhos da sociedade (desde 110 a.C. já era
fonte de energia negativa, causando faíscas entre os cônjuges,
que acabavam em estado de choque. Isto se não pintasse um
Ricardo Eletro no meio).

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Até que rima, Drummond por baixo e ela por cima.

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“Ah, verdade, mudou tudo. Mas ainda estamos no bonde,
pode continuar.”

OK. Mas se prepare para o que está chegando.

Já Era de agora há pouco: 2000-2020 a.C.

 Smartphone
 Redes sociais
 Computação em nuvem
 Inteligência Artificial
 Nanotecnologia
 Genética
 Spinner
 XVideos
 Mundial do Palmeiras. (acho que tem uma configuração que
eu fiz sem querer que aparece isso, não gente, ainda não
aconteceu este evento tão aguardado)

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Aqui já vejo pessoas inteligentes ficando para trás. Amigos
meus, com curso superior, intelectualmente capacitados,
começam a demonstrar que suas mentes seguem o modelo linear
de desenvolvimento tecnológico. Não aceitam que todo o
conhecimento que acumularam na labuta perdeu a luta contra a
força abrupta de uma mudança filha da Neide (te peguei), e
agora surta porque não mais desfruta relevância absoluta.

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Meus amigos me mandam artigos antigos dizendo que
certo avanço seria impossível, e eu retorno com notícias recentes
de que o avanço já ocorreu, mesmo que pareça incrível.
Infelizmente, a maioria das pessoas não consegue aceitar o
fato que estamos em mudança exponencial.
Veja o histórico aqui atrás. Não podemos negar o tsunâmi
que está vindo.

Desapegue do que está ficando obsoleto e abra a mente


para encarar o inevitável.
Estima-se que mais de 40% da população mundial estará
desempregada no fim da década (segundo pesquisas realizadas
pelo ITVI em Quixeramobim). As profissões serão substituídas
gradativamente pelo avanço da inteligência artificial.
Pelo lado bom, a produtividade será tão grande que
permitirá um salário-mínimo global para que nós,
desempregados, aproveitemos a chance para nos dedicarmos à
única atividade humana que não será substituída pelas máquinas:
a fricção digital dos tecidos exoescrotais.

111
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E o futuro?

Esse é o X da quextão.

As únicas coisas de que podemos ter certeza (tirando


outras que eu descobri) é que teremos que lidar com novidades
disruptivas (aprendi essa palavra com um coach que mudou meu
mindset), e que o Palmeiras não conseguirá o título Mundial.

Um mundo que se desenvolve cada vez mais


aceleradamente exige que mudemos nosso modo de viver para
nos adaptarmos. Mil exemplos de modos de agir já estão há
muito obsoletos. Desde mandar e-mails até comprar a nova
Playboy da Rita Cadillac, passando por usar o bidê, passar óleo
de bronzear, comer frozen yogurt, assistir a uma turminha
barulho aprontando altas confusões hoje na sessão da tarde, e
tomar banho (o quê? Você ainda toma?). Empresas bilionárias
surgem e desaparecem logo depois, como por exemplo a
Napster. A forma de se ouvir música mudou pra cassete.

Lembre-se: hoje já é o passado.

Como nos adaptar a um mundo que muda assim? Quando


a gente pensa que está quase adaptado, o mundo é outro.

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A única forma de acompanhar esse bonde é focando em
desenvolver o quê? Ela mesma, novamente, mais uma vez,
gloriosa, toda plena, retumbante, amada, idolatrada, salve, salve:

A CRIATIVIDADE

Precisamos usar a criatividade para criar soluções para


problemas que não existiam antes, pois não há fórmulas prontas.
Para criar uma nova maneira de viver que acompanhe o ritmo
ritmo de festa, ou chegue pelo menos perto.

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Prelúdio à criatividade – o que você precisa saber antes de
entrar no assunto principal

No outono samurais não comem pêssegos

Ah, o nonsense. Esse tipo de humor tão incompreendido!

Ó amado leitor, que neste exato instante estás arrotando a


coxinha suspeita que compraste sem receita de um padeiro
ambulante, percebeste, senhor (ou senhora, se for) a loucura
constante que está a contaminar este livre importante deste
modesto autor?

Tem tanta abobrinha sem nexo, que parece falta de sexo ou


que saiu da casinha, certamente endoidou (meu caro poeteiro,
já rimaste o bastante. Isto aqui está virando o Inferno de
Dante. Só estás delirante, vou chamar-te um doutor).

OK. Daqui por diante farei o inverso d’antes. Só queria que


o leitor não achasse todo prosa este humilde escritor.

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Este pot-pourri de maluquices impregnadas nesta obra é o
produto de uma livre mente insana, mas não doentia, sim. Mas
também serve como exemplo do efeito que o nonsense causa na
gente, e de sua importância.

Gosto muito do humor sem sentido, muito usado por


exemplo, nos filmes do grupo de comédia britânico Monty
Python. Nesse tipo de humor, o importante é surpreender com
o inusitado.

Nossa mente é ar-condicionada a seguir padrões. A gente


se sente seguro ao seguir, religiosamente, os padrões de
pensamentos, comportamentos e comjanelamentos que a
sociedade exige para considerar uma pessoa sã.

Uso o nonsense, nesta despretensiosa Obra-Prima


Histórica, para exemplificar como a aleatoriedade é relevante
para a liberdade de pensamento.

119
120
Sou formado em Engenharia de Computação (lista de quem
quer saber:), e o tema do meu TCC foi sobre algoritmos
genéticos. O objetivo dos algoritmos genéticos é tentar
reproduzir o procedimento da seleção natural para resolver
problemas. A seleção natural apresenta certas regras para
resolver essa questão, de encontrar um indivíduo mais bem-
adaptado ao mundo, e, assim, mais capaz de propagar seu
código genético, que codifica a informação sobre a forma que o
indivíduo usou para se adaptar melhor.

As regras mais importantes para que se encontre uma


melhor solução entre infinitas possibilidades são:

• A mistura de soluções resultante do sexo (se bem que


sexo, para mim, é um problema sem solução).

• Entender as mutações que as informações sofrem,


inevitavelmente.

Essas duas regras não podem ser separadas. A combinação


de genes que o sexo acarreta, sozinha, acaba gerando uma
população uniforme, com adaptações predeterminadas, que não
evoluirá mais.

121
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As mutações, junto com a combinação semialeatória, são
os Toques do Criador da seleção natural.

A mutação na grande maioria das vezes gera indivíduos


adaptados a menos problemas, e por isso, ela acaba sendo
naturalmente restrita. Nas poucas vezes que ela gera indivíduos
mais capazes de propagar seus genes, ela faz a evolução subir
um degrau que não tem mais volta. Esse sistema aleatório é
muito importante para a criatividade. E vice-versa.

Um dia, quando eu estava quase dormindo, percebi que


palavras e ideias aleatórias surgiam nos meus pensamentos.

Entendo (rá, pensa que entende) um pouco de psicologia,


então primeiro investiguei se não seria meu subconsciente
querendo me mandar uma mensagem.

Quando vi que realmente havia uma aleatoriedade pura,


passei a usar alguns minutos todo dia para desenvolver essa
capacidade.

Entro em estado meditativo, e preparo minha mente para


falar palavras aleatórias.

123
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Sai algo como (exemplo real): sacripanta, morcego,
Penélope, jurássico, chocalho, trigo, florim, Marcelo, quatorze,
vontade, paracetamol, sovaco, ipsilone, etc., sem esforço e sem
pensar, em um fluxo contínuo.

Nem precisava exemplificar, o leitor enjoou de ver que usei


bastante esse mecanismo neste livre.

Sem as gerações aleatórias não pode existir a criatividade.

Tente tirar uns cinco minutos do seu dia para falar em voz
alta palavras sem prestar atenção naquilo que gera a palavra,
apenas observe e vá falando, sem julgamentos, só observando o
que aparece.

Letra benzeno sossegado outra pira porá cachimbo


Namíbia Posêidon feto bolacha chiclete zero messias.

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126
Essa descoberta me foi surpreendente porque sempre achei
que falar uma sequência de ideias completamente desconectadas
fosse algo muito difícil em função das fortes ligações entre ideias
semelhantes. Com o gerador aleatório de ideias, podemos libertar a
mente da força dessas correntes e conceber ideias novas
desconectadas, ou pouco conexas.

Acredito que seja um mecanismo da intuição, que a maioria


das pessoas não acessa. Mas talvez, fazendo o exercício de tentar
diariamente por uns três minutos falar sem pensar no que vai
falar, e observar o que está falando, esse mecanismo pode
chegar ao consciente, e ser ativado quando necessário.

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Degradando lenta a mente

Continuando com meu desinteressante currículo vira-lattes,


cursei a cadeira de Redes Neurais, algoritmos que simulam o
comportamento do cérebro. Isso me ajudou a entender como
nossa mente pode envelhecer, tornando-se antiquada e não se
adequando ao pensamento contemporâneo. Decidi que faria o
possível para escapar dessa armadilha.

O tão prezado leitor já percebeu que, tudo que fazemos


rotineiramente, no início, precisamos prestar atenção para não
errar, mas depois de um certo tempo, nem precisamos pensar no
que estamos fazendo? Um exemplo meu: eu trabalhava no 16º
andar. Depois de alguns meses mudamos para o 13º. Por algum
tempo, sempre que eu entrava no elevador eu apertava o 16.
Minha mente havia sido treinada para isso, e resistia a aprender
o novo comportamento.

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Assim funcionam as redes neurais. Quando algo sai como
esperamos, os neurônios que foram ativados para este resultado
recebem mais conexões, ou mais peso. Fica mais fácil de serem
acionados, não precisamos usar outras funções cerebrais para a
ação de lembrar qual andar eu trabalho agora. E existem mil
exemplos assim. De repente algo muda, mas continuamos
agindo da mesma maneira, no automático, como se não
houvesse ocorrido uma mudança. Lembre-se de que fomos
construídos para sobreviver num mundo estático (eu repito
porque sei que a gente se distrai com as figuras). Quando
solucionamos um enigma, deixamos essa solução bem fixada,
mesmo que o enigma varie e exija outra solução. Porque, num
mundo que muda pouco, uma solução não muda. Então, para
não ter retrabalho, fixamo-la como uma certeza. E não gastamos
mais energia procurando de novo a solução.

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Será que já falei sobre o cérebro ter sido construído para
um mundo quase constante? Acho que falo constantemente:
basta saber onde é perigoso, ou onde tem alguma coisa para
comer, tipo uma larva de mosca das cavernas ao molho de seiva
de sauroingueira, um saboroso australopetisco. Guarde na
memória e não precisa mais mexer.
Mas a aceleração das mudanças que as tecnologias que vão
surgindo e modificando o mundo não são compatíveis com esse
mecanismo cerebral.

Foi realizada uma experiência bastante interessante que tem


a ver com este fato. Colocaram um Grande Mestre de xadrez
para jogar com uma pessoa mediana. Obviamente o GM ganhou
com muita facilidade. Depois, mudaram todas as regras, por
exemplo, mudando o movimento do cavalo, trocando as
posições iniciais das peças. Segundo o ITVI, auditor
independente, o GM perdeu do fulano mediano. Esse
experientíssimo jogador de xadrez não conseguiu se adaptar ao
novo conjunto de regras porque ele estava preso em profundas
valas geradas pelo caminho que ele sempre percorria.

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134
É exatamente isso que eu quero dizer como libertação da
mente. Não quero ficar preso em nenhuma vala. E para isso, eu
uso o princípio socrático do só sei que nada sei, e que os outros
também não sabem.
Para manter a mente ágil, plástica, adaptada ao presente,
precisamos estar sempre procurando novos caminhos, tentando
pensar, julgar, avaliar, observar, entender, sempre por vários
ângulos diferentes, mudando sempre o ponto de vista.

Assim, a mente mantém seu poder criativo.

É imprescindível que a gente não permita que a mente


envelheça, tornando-se algo rígido como meu peru, sem
plasticidade, como a pedra que tinha no meu caminho, cada vez
mais presa a um mundo que já não é mais o mesmo, como meus
cabelos.

E é um enorme desafio impedir que isso aconteça. Esta é a


hora de você lutar, como um dragão ninja guerreiro, para manter
sua mente plástica, fluida, líquida. Porque o líquido se adapta à
forma que o contém. E se liga nesta onda: a forma está
mudando.

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Nível de criatividade

Como medir se uma ideia foi pouco ou muito criativa?

Nossa mente é um amontoado de milhares de ideias e


pensamentos que fomos acumulando na nossa vida. Essas ideias
são ordenadas pela nossa cognição por terem padrões em
comum.

O cérebro funciona, em geral, organizando seu armazenamento


de informações por associações. Por exemplo: quando eu digo
chuva, você recebe a ideia de chuva, e na sua mente aparecem as
ideias relacionadas para chuva, como água, molhado, guarda-
chuva, transtorno, etc. A maioria das pessoas tem as mesmas
ideias relacionadas.

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A medida da criatividade de uma ideia é uma relação feita a
uma ou mais ideias, inversamente proporcional ao número de
pessoas que fizeram a mesma relação. Quanto menor o número
de pessoas que fizeram a relação que você fez, mais criativo
você é. Espero ter sido claro. Vou explicar melhor:
multiplicando pelo quadrado do cateto da hipotenusa, e
dividindo pela integral tripla da derivada da raiz de 3,1416
elevado à raiz de -1 (capital Teresina), você chega no seu
quociente de criatividade, que chamaremos de Qc.

Observação importante: a relação deve ser confirmada por


outras pessoas. Não adianta relacionar chuva com ketchup – se
bem que ketchup é uma espécie de molho, e a chuva molha, mas
aí é apelação. A relação não será confirmada por outros. E ainda
vão olhar você torto. Eu poderia dizer, e direi sem querer
querendo: “Ah, não. Chuva? Era sol o que me faltava”

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Acredito que poucos fariam esta associação entre uma
frase usada em momentos de transtorno, “era só o que me
faltava”, onde a palavra “só” é trocada pela palavra bem se
molhante “sol”, e tudo fica bem encaixado no tema.

Então essa ideia foi mais criativa que a associação entre chuva e
ficar molhado (tem maior Qc). Porque 99,99% das pessoas
(pesquisa feita pelo Instestinuto Tireidocu Mentos Verídicos
Inquestionáveis, com erro percentual de 2%, para cima ou para
baixo), em poucas tentativas de dizer uma ideia relacionada a
chuva, terão associado a frase com a ideia de “estar molhado”,
enquanto a do meu exemplo seria dita por no máximo 0% das
pessoas que não funcionarem igual a este humilde ser que
escreve, segundo pesquisa realizada pelo ITVI, com erro
percentual de 0%, para cima ou para baixo.

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Sobre humor, amor e ódio

Eu sempre tendo a explicar fenômenos biológicos usando a


teoria de Darwin, que demonstra que o indivíduo mais adaptado
ao meio de uma espécie geralmente tem mais chance de passar
seus genes, com a informação que gera uma prole com essa
mesma característica que possibilitou ao antecessor sobreviver
até conseguir procriar. Essa é talvez a segunda mais importante
descoberta da humanidade. (Qual será a primeira?). A descoberta
de Darwin é a fantástica, eletrizante, poderosa, impressionante,
insuperável, transante e eletrizante:

Seleção Natural.

Todos juntos, vamos! Seu gene seguiu, seguiu.

Nova geração.

Durante infinitas centenas de bilhões de anos, a seleção


natural dotou os animais, com seus cérebros simples, de uma
forma de lidar com uma ameaça: o ódio.

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O ódio é como uma bomba burra (talvez por isso se diga
que alguém tomou bomba em alguma matéria escolar). Ele
destrói tudo o que está em volta, cegamente, incluindo parte de
quem odeia. Mas pelo menos destrói ou enfraquece a ameaça. E
isso era só o que se podia fazer ao ter a vida em risco: correr ou
destruir.

Porém, cérebros mais complexos ganhavam bastante


vantagem competitiva, e a seleção natural foi privilegiando
indivíduos com cérebros cada vez mais complexos, até o
surgimento da... ? Dá quem?

Criatividade.

Nasceu finalmente o Pelé da seleção natural.

Cruza pela direita, cruza pela esquerda, cruzamento longo,


qualquer cruzamento que fosse do Rei acertava o “goal”. Não é
um gene, é um verdadeiro gênio!

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Que fique bem claro: não estou nem de longe dizendo pra
reprimir ou eliminar o ódio. Essa emoção está incrustada de
maneira incontrolável em nosso cérebro. É simplesmente
natural que o ódio apareça, e, em mim, aparece muitas vezes.
Inclusive agora recebi uma ligação e desligaram sem falar nada,
pense no ódio que senti. Que as pulgas de mil camelos infestem
o ânus do responsável por essas ligações! Que a Maldição do
Alce Azul de Macaé recaia sobre seus ombros, de maneira que
sua mala seja sempre a última a chegar na esteira do aeroporto!
Perdão, Senhor. Perdi o controle. Ah, achei, estava entre os
assentos do sofá, esse sofado.

Mas eu estou ligado que ele faz mal, e consigo, na maioria


das vezes, não deixar que ele tome o controle de minhas
decisões. Sempre comento minhas experiências pessoais porque,
se eu posso controlar, todo mundo pode. (Olha ele fingindo
modéstia). Não é fingimento! Foi figura de linguagem. (Sei).

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Vejam meus comentários, que representam a expressão do
que penso e sinto. Já devo estar na casa das dezenas de milhares
de comentários. Em nenhum deles podem-se encontrar sinais de
ódio. Zero. Quer dizer, exceto nos comentários sobre Los
Hermanos, porque eu sou humano, afinal de contas, e errar é
Hermano. Brincadeira, galera do Los Hermanos. (sei).

Sentir ódio às vezes é inevitável e não deve ser reprimido,


porque, se reprimido, vai dar um jeito de aparecer de outra
forma.

Porém, podemos usar essa energia destrutiva. Afinal, ela é


uma energia muito intensa. Tente, sempre que possível, observar
o ódio na hora que ele aparecer, e procurar uma maneira criativa
de expressar, ou seja, transformar a bomba burra numa bomba
inteligente. Porque às vezes é realmente necessário destruir,
desconstruir, a fim de erguer algo melhor do que havia.

Mas em geral:

Ódio destrói, criatividade cria.

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Chega de falar sobre ódio. Vamos falar de coisa boa, como
a nova Tecpix com câmera VGA e 32 kb de memória. Eu não
tenho Tecpix, mas tenho pix. (Olha a cara de pau!).

O amor, ah. Sentimento tão nobre e ao mesmo tempo tão


incompreendido! Que mexe com minha cabeça e meu coração.
Que é fonte da transcendência, na criação.

Dizem que, uma vez, Buda foi dar uma palestra numa pequena
cidade da China setentrional da dinastia Doku Shai Shang, a
oeste de Teresópolis, e a leste da região metropolitana de Macaé.
A plateia era composta por mestres, gurus e coachs de toda a
região. Quando Buda apareceu, todos se calaram, ansiosos por
suas palavras, que os orientariam a alcançar a iluminação. Buda
sentou-se, pegou uma flor da decoração e ficou olhando pra ela
sem dizer uma palavra. O tempo passava, e nada de o Buda abrir
a boca, nem pra falar boa noite. Só olhava a flor. Depois de um
tempo, alguém da plateia, que já estava extremamente
incomodada achando que havia perdido um tempo precioso pra
ficar vendo aquele gordinho que nem devia ser iluminado,
começa a gargalhar. Buda olhou, sorriu e disse: ele entendeu.

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Não sei se essa história tem algo a ver, mas achei bonita e resolvi
contar.
Preste atenção na sua mente quando você vê algo ou
alguém que ama, tipo sua mãe, esposa, filho. Aprendi muito
sobre o amor com minha família.

Para mim, existem três conceitos que pensamos ser


diferentes, mas expressam a mesma coisa, quando em estado
puro:

Amor, Atenção e Aceitação.

Veja como é o amor que você tem para a pessoa que você
ama. Você presta mais atenção nela do que na aula de Semiótica
Escatológica dos Visigodos – Módulo 2 –, certamente. Você
gostaria que ela fosse mais forte, ou mais inteligente, mas você a
aceita just the way you are. (Essa eu entendi: justamente ou precisamente
do jeito que ela é. Graças a Barry White. Amém?). O imenso amor que
sinto pelo meu filho é equivalente à enorme atenção que dou a
ele, e é igual à minha grande aceitação dele do jeito que ele é.

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Essa atenção, que vem do amor que temos pela vida, nos
faz perceber detalhes tão pequenos, de nós dois, detalhes sutis,
que são usados pelo criador para trazer ao mundo algo que ainda
não existia. A atenção, o amor e a aceitação são o combustível
da curiosidade.

O amor é o fundamento da criação.

Só o amor constrói.

Criar é construir o novo.

Ser mãe é pegar o metrô, padecer no Paraíso.

Por falta de roupa nova passei o ferro na velha.

O amor pela vida impulsiona você a investigar detalhes


sobre ela que a maioria das pessoas que não amam tanto a vida
não se dispõem a perceber.

Esses detalhes serão usados como blocos para construir


sua criação.

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156
(Mas você disse que amor é aceitação – se nós aceitamos, para que
vamos querer criar algo novo?). OK. Que motivação você teria para
inscrever seu filho na aula de taxidermia básica de suínos e
esquilos?

Aceitar não tem nada a ver com inação. Eu aceito as coisas


como são, mas não deixo de querer o melhor para quem amo.
Aceito que meu filho não tenha ido bem na escola, mas não
deixo de querer que ele tenha sucesso. Trata-se de um querer
diferente, um querer sem apego ao resultado, um querer, mais
que bem querer. Se não der para ele passar direto, nada muda.
Amo cada pedacinho do meu filhote. Just… (White, B.).

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Voltando para a historinha do Buda: prestar atenção na
flor, amar a flor como ela é, valia mais que milhares de palavras
para a audiência, pois com isso ele expressava algo que não pode
ser passado por meio de frases. Tome uma rosa, por exemplo.
Para mim a rosa é a maior manifestação de beleza da natureza,
depois dos seios femininos, e muito depois dos meus filhos. E
da Natalie Portman. Uma rosa tem aquele vermelho mágico, um
perfume transcendental, e espinhos. Muitas vezes tiramos os
espinhos da rosa para fazer um buquê. Quando a gente ama a
rosa como ela deve ser amada, não só aceita seus espinhos,
como vê a beleza que existe neles, uma proteção passiva que esta
linda flor tem contra quem a ameaça. Ela diz: “Sim, eu sou linda,
mas se você quiser me machucar, quem se machuca é você”.
Aceitar a rosa com suas pétalas vermelhas, perfume e espinhos é
amar a rainha das flores como ela merece ser amada. Ai,
emocionei agora.

Obs.: filho, amo você, seja como flor.

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Agora, finalmente, falarei sobre o humor, o bom humor, o
sentimento que me tornou conhecido.
Existem vários tipos de humor. Inclusive o mau humor,
aliás. Mas no meu exercício para me tornar mais criativo, com a
mente mais plástica, mais capaz de se adaptar a mudanças, mais
livre, aconteceu este efeito colateral.
O meu humor é o humor da criatividade. E vice-versa.

Meu lema é “humor é quase amor” não só porque as


palavras se parecem, mas também porque eu crio novas
associações de ideias, que ainda não existiam ou que poucos já
haviam percebido. Entendo que isso decorra do amor que tenho
pela vida. Eu aceito o mundo, eu presto atenção a cada detalhe
dele, minha curiosidade não tem preconceitos, minha mente é
livre de certezas incertas, e, na hora de pensar algo que ninguém
pensou antes, eu uso estas conexões entre esses detalhes que
passariam despercebidos – dentre outras técnicas que descrevo
neste livre.

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O sorriso que vem para alguém que lê um comentário
meu é para mim uma espécie de agradecimento por eu ter
chamado a atenção desse indivíduo para uma conexão de ideias
que ele ainda não tinha percebido. É natural que nosso cérebro
considere importantes as associações de ideias, porque quanto
mais associamos ideias na nossa mente, mais controle temos
sobre nosso mundo.

Neste livre tem muitos exemplos das minhas faíscas, e


espero que desperte em você também a chama da criatividade.

Meus comentários são bem recebidos porque eu estimulo as


pessoas a associarem ideias que a princípio pareciam não ter
nada a ver umas com as outras. São estímulos ao aumento das
conexões sinápticas, a plasticidade cerebral. E faço isso sem
atacar ou diminuir ninguém, pois se trata apenas de encontrar
padrões entre ideias afastadas umas das outras, fazendo
associações criativas, sem apresentar opiniões sobre qualquer
assunto.

Faço uso na maioria das vezes de trocadilhos fonéticos,


em que o som da palavra é semelhante a um som com outro

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significado, como em “só o rottweiler”. É como uma rima na
poesia do humor. Esse tipo de trocadilho é acessível a todos;
porém, existem os mais simples, tipo “cãopeão”, que as pessoas
geralmente não gostam porque eles são tão simples que não
acrescentam quase nada na mente do leitor. Já os mais
complexos nessa mesma categoria, que são os que eu procuro
fazer, como o do rottweiler, são associações de ideias que
demandam alto Qc. Percebe-se bem o que eu quero dizer se
compararmos, por exemplo, “só o rottweiler” com “pra ler, tem
que ter alfabetizacão” (sim, sem cedilha mesmo!).

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Os trocadilhos mais simples, e a repetição exagerada de
alguns como o “é pavê ou pacumê”, acabaram passando uma
imagem ruim para os trocadilhos. Surge a figura do tio do pavê,
um solitário e triste quarentão divorciado, barriguinha, meio
calvo, e provavelmente embriagado, que quer chamar a atenção
para sua miséria repetindo trocadilhos conhecidos.

Acho que posso rotular aqueles que buscam associações


criativas complexas de paizões do pavê. Afinal, todo mundo sabe
que pai é quem cria.

Acima desses trocadilhos fonéticos, existem os trocadilhos


de ideias, como o do “crime sem gravidade”. Agora já não é
associação fonética. São mais complexos, difíceis e raros. Tem
os que misturam as duas coisas, e tem os que ainda combinam
palavras em outras línguas. Você vai encontrar de todo tipo nos
exemplos deste livre.

Para mim, o trocadilho é uma espécie de poesia do humor,


uma forma de mudar o ponto de vista, libertar a mente do usual,
tirar o peso de notícias tristes e desenvolver as conexões
neuronais, usando poucas palavras.

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O fundamental é entender como funciona o mecanismo
que conecta ideias bastante diferentes entre si. Ao se conseguir
isso, cria-se uma ligação entre essas ideias, os neurônios se
conectam de uma nova forma. Para uma mente cheia de
estímulos – cada um, um verdadeiro impávido colosso de
conexões –, ao encontrar um novo problema, será mais fácil
usar as conexões para juntar ideias que ainda estavam
desconectadas, o que é bem mais complicado em quem não tem
essa plasticidade. Assim, fica mais provável criar uma solução ou
uma solução nova para o problema. Uma mente plástica é uma
mente muito conectada, que não privilegia ou privilegia pouco
algumas ideias. Comparando com a mente de um fanático, neste,
uma ideia recebe tanto privilégio de conectividade que se torna a
base rígida, mesmo havendo fatos que provam que essa ideia
não está correta, ou, no mínimo, existe a possibilidade de ela
estar errada, o que acontece sempre. Essa base rígida faz com
que o fanático se desligue do mundo são, por se apegar tanto a
uma ideia. Para ele é uma certeza inabalável, e acabará sendo
massacrado pelo rolo Bojador das mudanças exponenciais.

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Temet nosce

Conhece-te a ti mesmo. Uma das máximas mais importantes já


escritas, no Templo de Apolo em Delfos, segundo o escritor
Pausânias, que teria sofrido muito bullying quando cursou a 5ª
série do ensino fundamental grego, país onde beijo grego é
apenas beijo.

Conhecer seus pensamentos, seus medos e coragens, suas


dores e prazeres, suas manhas e aflições, o saber de exatas, e das
emoções. O autoconhecimento é fundamental para o
desenvolvimento da criatividade. Só quando você se conhece é
que a mente pode entrar no estado criativo de silêncio, de
maneira que você possa perceber as conexões entre as ideias
envolvidas no enigma que se apresenta. E elevar ao máximo o
poder cerebral necessário para que o modelo Leonardo
Darwinci de evolução das ideias criativas (tem um capítulo sobre
este modelo mais à frente) possa funcionar.

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O método mais eficiente para você evoluir sempre em seu
autoconhecimento é por meio do exercício diário da meditação.

Sei que alguns têm uma noção um pouco errada do que


seria a meditação, pensam que é algo místico espiritual de
lavagem cerebral, e você acabará sendo molestado por um guru
indiano e sobrevivendo da venda de miçangas e cristais de poder
e cura, florais de Bach, tulipas de Zeca Pagodinho, rosas de
Noel, ou girassegundossóis de Jardinando Reis no canteiro de
Acássia Amareller, e flor-de-lis Regina (segundo o método
zoocrático, semeio na memória seja qual flor o conhecimento –
é assim que a criatividade brota).

E não é nada disso. Cientistas fazem, ciclistas fazem, até


os enxadristas fazem. Meteorologistas fazem, cinegrafistas
fazem, sadomasoquistas fazem, pizzaiologistas fazem,
proctologistas fazem, também os calvinistas fazem, até os
carrapatologistas fazem. Os anarcocapitalistas também fazem, os
paraquedistas fazem, os iabadabadulogistas fazem, os
lojistologistas…

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Todo mundo faz esta caralha. Mas você, prezado leitor,
que neste momento repousa em seu leito com lençóis de cetim,
comendo leitão com alecrim, cobrindo seu peito direito com um
suspeito colete carmim de escoteiro-mirim, você não é todo
mundo. Não aguenta um segundo, tem cansaço profundo, não
está muito a fim. Cansaço profundo é meu ovo trabalhar pra
cacete! Por favor me respeite, ou não respondo por mim (ah.
Desculpe. Hoje estou zen paciência, acabei perdendo a carma e
fiz malcriação, e este comportamento é muito ruim).

Meditar é o caminho para libertar seu gênio criativo, que


realizará seu desejo de dar à luz ideias brilhantes, ao iluminar sua
mente com a chama da criatividade da lâmpada maravilhosa
daquele sujeito chamado Aladim. Só assim você perceberá com
clareza qual é a cor da tez da manhã que se inicia, finalmente, no
alvorecer da criatividade em sua mente, djavaneando o que há de
bom, após mil e uma noites sem fim.

(Letra: Franciscos de Imorais, interpretado por Antônio José Carlos


Jobin).

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É prático, é necessário, é simples, e funciona muito bem
em todos os aspectos de sua vida.

Trata-se de tirar um tempo para observar seus


pensamentos.

Só isso.

Quando você observa seus pensamentos sua mente se


entende melhor, você vai entender melhor os conflitos, o que
dispara suas emoções, o que você não quer ver, enfim, tudo o
que você quer que seja visto.

Cada vez mais e mais você vai organizando as muitas


demandas da mente, desatando os nós, pacificando e silenciando
a mente. Escrevo mais sobre meditação no capítulo Uma mente
silenciosa não mente.

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Criatividade

Chegou a hora que você aguardava mais ansiosamente que


a menstruação que atrasou.

A cena do cria-me.

Precisamos falar sobre ela, a namoradinha do Brasil, a


Belle de Jour, a chama divina da inspiração, o momento mágico
em que recebemos o toque criador.

E criamos.

Assim.

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A cintilante história da paixão ardente entre Org e
essa fadinha fogosa

Org era um hominídeo que habitou uma pequena região


entre a África do Sul e o norte da Noruega, por volta do ano de
7547 a.C. (segundo pesquisa realizada em Ipanema pelo ITVI).

Ele e sua família muito ouriçada haviam chegado recentemente


de uma pequena migração, na qual Org aproveitou milhas
acumuladas em seu cartão de pédrito para viajarem de gavião
GIGante cumbico azul, uma espécie que passarinha um brevê
período na Terra. Seu DNA não decolou, a seleção natural não
teve pena. Mas deixou pistas da sua existência passageira.

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Acomodaram-se às margens de um riacho perto de um
barranco de pedras douradas, e pequenos insetos rubro-negros
venenosos, onde se formava uma cachoeira e um lago, de águas
tão transparentes quanto aquele seu tio que era tia. No fundo do
lago ainda dava pra enxergar os últimos vestígios de Atlântida,
uma antiga civilização que habitou a Terra, mas que se
autodestruiu logo após a invenção de uma terrível e cruel arma: a
famigerada feiquenius.

Na família de Org, todos eram um pouco diferentes dos


demais hominídeos. Passavam sim os dias a brincar com a
natureza, quebrar galhos, degustar insetos, cavar buracos, jogar
fezes uns nos outros, e copular. Mas a principal diversão era
jogar pedras. Jogar pedras era a atividade preferida, afastava os
pedradores, e dava uma chance de escapar dos terríveis tigres de
dente de sabre, a espécie de felino de grandes dentes caninos e
que mais lutou contra os hominídeos pelo prevalecimento no
planeta. Mas ganhamos na garra, não sobrou nenhum gato
listado desse felino, cuja estratégia evolutiva era desenvolver a
ferocidade, a força selvagem da destruição. Perderam, graças ao
caminho evolutivo traçado por seus genes, por não terem ido na
direção contrária ao ódio destrutivo, já que esses gatinhos eram
muito superiores nesse temível aspecto.
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E o oposto de “destruição selvagem e feroz” é… Não vou
dizer, mas começa com “c”.

Acertou quem falou calmante. Chá de calmomila também


serve. Cafuné. Clonazepam. Calor humano. Companheirismo.
Chupada. Cagar no mato. Carteira com centenas de cédulas de
cem contos. Conhecer as cataratas e os catamarãs. O calor das
coxas e das cortesãs.

Era uma noite quente de lua nova, não chovia há mais de


um mês, a savana da antiga Eslovênia tinha perdido seus tons
verde-rosa e os beija-flores sambaram. Uma agradável e morna
brisa em que se percebia uma leve fragrância adocicada de flores
de cerejeira do mato com pequenas notas de alecrim, incenso,
mirra (que porra é essa? Algum palpite?), flor de cacto e
damasco pramim, restando, enfim, no olfato, tabaco que
harmoniza com fusão de noz-moscada, o sebo cítrico do pica e
pau amarelo hepatite do Monteiro Lobato, e, de fato, jasmim.

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Meio adormecido, Org ouviu um barulho e ficou atento.
Soltou um rosnado gutural para que seus filhos, que estavam
trepando, ficarem espertos. Quando seus filhos desceram da
árvore, Org atirou uma pedra. E algo mágico aconteceu: ele viu
algo que nunca tinha visto antes! A pedra bateu em algo e uma
ofuscante faísca pulou como uma estrela decadente, como o
brilho fugaz da paixão nos olhos da mulherídea amada, como
uma fada suicida, desaparecendo em instantes. Org começou a
pular e gritar para assustar aquele novo e possivelmente perigoso
fenômeno desconhecido. Sua família acordou com medo, e
começou uma grande algazarra que assustou os passaurinhos e
outros animais, como preás-tóricos e anta-passados. Como não
percebeu nenhuma ameaça, Org chegou mais perto para ver
onde estava aquela Sininho deprimida. Encontrou só uma
neymaranha, um aracnídeo que se desenvolveu bem desde a
última seleção; antes, a estratégia desta espécie era se fingir de
morta quando algum predador atacava, mas o treinador dessa
seleção quase a mandou para o vestiário.

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Org queria ver aquilo de novo, era bonito, era estranho,
era promissor, apresentava potencial disruptivo e possível
mudança do mindset evolutivo da humanidade.

Aqui entra o desenvolvimento mental que permitiu que o


homem controlasse o fogo. Org lembrava mais ou menos a
sequência de acontecimentos. Sua mente curiosa começou a
conectar ideias. A primeira ideia foi que era uma pedra mágica
que, quando batia em algo, soltava o pó de pirlimpimpim. Org
testou na própria cabeça, mas não deu certo, e sua família riu do
mico que ele pagou. Macaco velho que era, não desistiu. Lição
aprendida, sua mente lembrou que geralmente a mesma coisa
acontece quando fazemos de um mesmo jeito. Org deitou-se e
jogou a pedra na mesma direção. A pedra não bateu na outra, e
nada de essa fada aparecer. Org lembrou-se do barulho, ele já
tinha ouvido, era de pedra batendo em pedra. A lembrança do
som de uma pedra batendo em outra se conectou com a
lembrança do evento e Org, como bom explorador que era,
cabeça aberta, até porque levou uma pedrada na pequena testa
(daí que se originou a palavra ‘testar’), partiu para realizar o
experimento.

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Org então bateu a pedra na outra, e saíram duas faíscas.
Ele e a família passaram a noite toda pulando, gritando e
batendo pedra. Foi assim que o homem descobriu o
Lollapalooza.

Org, infelizmente, morreu alguns meses depois, de


overdose, fumou uma pedra e se lascou.

Mas sua descoberta ficará para a história como a


descoberta mais importante da humanidade, depois do
inseticida, do ar-condicionado, do molho vinagrete, e da cuíca.

Sentir frio não era mais inevitável. Agora os hominídeos


controlavam o surgimento da rave. Assim como ser devorado
por um tigre de dentes de sabre não era inevitável, quando se
tinha uma lança. “Ui, você está me felino” – teria rosnado o
tigrão. A sabredoria venceu a bomba burra do ódio feroz
daquele animal, que ficou triste e teve que comer um prato de
trigo, tirando os hominídeos do cardápio.

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191
A criação de soluções para problemas que antes eram
insolúveis – e contra os quais a única arma era o ódio, partir pra
cima e ver quem sobrevivia e quem era destruído, saindo cheio
de ferimentos, mesmo se sobrevivesse – revelou-se uma
vantagem competitiva tão gigantesca, que a seleção natural
começou a favorecer, acima de qualquer outra qualidade, um
cérebro mais capaz de usar fenômenos e objetos da natureza
como ferramenta.

Antes, a destruição era a única saída. Depois, a criação de


ferramentas e soluções superou em muito o ódio, e tornou esta
bomba burra completamente obsoleta. E até prejudicial para
quem usa. Tente lembrar de alguma situação em que usar o ódio
obteve um retorno melhor do que se não o tivesse usado. Não
fique com ódio de mim. Esta é a verdade.

Este relato é dedicado a Org, o hominídeo cuja chama da


criatividade aqueceu iluminou, e sacudiu o esqueleto da raça
humana.
Obrigado, Org.

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Definições para criatividade

Existem várias definições para a criatividade, como:

“Criatividade é o processo de tornar-se sensível a


problemas, deficiências, lacunas no conhecimento, desarmonia;
identificar a dificuldade, buscar soluções, formulando hipóteses
a respeito das deficiências; testar e retestar essas hipóteses e,
finalmente, comunicar os resultados.” (Torrance).

“Criatividade é a inteligência se divertindo.” (Einstein?).

“A mente criativa brinca com os objetos que ama.” (Jung).

Eu defino criatividade como:

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Por que “sua consciência”?

Você pode ter uma ideia nova para sua mente, mas é bem
provável que alguém na Manchúria, ou em Teresópolis, já a
tenha criado há milhares de anos. No entanto, você não precisa
ser o primeiro para ser criativo. Se não era do seu conhecimento,
você foi criativo. Você usou um fio de cabelo como fio dental?
Parabéns! Você foi criativo. E se você for careca, parabéns em
dobro. E se costuma raspar os pelos púbicos, parabéns treis veis.
Mas muita gente já deve ter pensado nisso lá em Teresópolis.

Uma mente criativa é uma mente livre dos grilhões (hah, palavra
bonita para dar uma valorizada) das certezas. Por mais sabedoria
que ela tenha acumulado, nenhuma a prende. É ver o mundo
com olhos de criança, encantando-se com todos esses mistérios
que vamos pouco a pouco deixando de perceber, na medida em
que os anos vão passando e as ideias vão se enrijecendo,
solidificando, aprisionando, encarcerando, limitando, trancando,
defumando, travesseirodanasarizando, enzogabrielizando, mico-
leão-douradizando.

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Nascemos, e do nada somos jogados num mundo cheio
de regras, leis, sentimentos, alegrias, dificuldades, tragédias,
amores, dores, vapores, lombadas, samambaias, mirras (ainda
não sei que porra é essa), tutores, mantimentos, Biotônicos
Fontouras, Los Hermanos, pudores, ciclovias, artesanato,
genitálias, atores, (lá vem você com o nonsense chato...). OK, e por aí
vai.

Vamos crescendo e aceitando como verdade o que nos


dizem ser verdade, e lutando para sobreviver, sonhando com
uma vida melhor, seguindo cegamente o caminho que a maioria
percorre.

Dia a dia vai se perdendo a curiosidade da infância e temendo os


problemas dos adultos. A alegria de viver é adulterada,
novidades chegam como boletos, cada vez mais e maiores, com
juros altíssimos, mas é difícil e temeroso mudar nosso caminho
aparentemente seguro. Tentamos anestesiar a angústia dessa
prisão com álcool, sexo, rock, drogas lícitas e ilícitas, chocolates,
coristinas, corintianas, carentes Anas com ardentes chanas e
imponentes mamas (volta pra Terra!). Tá. Cada dia mais perto da
morte, procuramos não pensar no fim, desistimos de investigar
os mistérios da vida.
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Pensando em você, a Sésamo Corporation, com sede em
Nanuque e filiais em Frankfurt e Londres (breve, IPO na bolsa
de Nova York, importante cidade estrangeira), lançou um
produto que vai tirar você desse buraco!

O novo método criativo O Toque do Criador.

Com ele você vai perceber a importância de ser criativo,


vai desenvolver a sua criatividade, vai se permitir pensar
livremente, e assim, não vai perder as oportunidades nem vai
estar indefeso diante de novos enigmas que possam prejudicar
sua vida!

Esteja preparado para o que der e vier!

O Toque do Criador.

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suingue de Roraima.

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Cognição criativa

Ou, sendo menos metido a falar difícil:

Adquirindo e armazenando o conhecimento com


foco em facilitar o processo criativo.

Eu gostei muito da série Dr. House, degustei cada capítulo


como quem degusta um sorvete de cajá. Tem um capítulo em
que House está contando a residentes de medicina sobre o caso
de uma pessoa picada por cobra. Se eu não me engano, ele diz
que não deveria ser determinada espécie de cobra, porque senão
o veneno teria agido em três minutos. Um residente se levanta e
diz: “Mas a gente tem que saber até o tempo de ação do veneno
de cada cobra?”. House olha com desprezo: “Se você quiser
salvar uma vida, sim”.

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Não vamos ser tão radicais, não é? Mas é sabido que
quanto mais conhecimento, maior sua criatividade. Por exemplo:

204
Há muitas décadas, em uma aula de ciências, a professora
ensinou que um dos ossos dos nossos antebraços se chamava
rádio. E muito tempo atrás eu ouvi uma música cuja letra era
“ela deu o rádio, e nem me disse nada, ela deu o rádio…”. As ideias,
completamente desconexas umas das outras, se uniram em um
trocadilho que se encaixou perfeitamente com a manchete.

“Quer dizer que para ser criativo vou ter que me lembrar
do nome de cada osso do corpo humano?”

Se quiser escrever um comentário criativo numa


manchete, sim.

Toca aqui, House.

Brincadeira. Eu não lembro nem quando o Palmeiras


ganhou o Mundial, e olha que sou palmeirense. (Shiiiu... Sou
não. É que estou chateando tanto a galera verde que tive que ser
diplomático). (Palmeirenses, não leiam o que eu escrevi entre os
parênteses, a não ser esta solicitação).

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206
Calma, também não é assim. Minha mente lembrou do
nome do osso porque eu armazeno informações que me deixam
curioso. O nome de um osso ser “rádio” é curioso, e minha
mente é um grande armazém de curiosidades que fui
colecionando ao longo da vida. Cada um tem suas curiosidades
particulares, não dá para simplesmente falar: seja mais curioso,
OK? Tipo… Fique em frente ao espelho e diga: eu sou muito
curioso. Eu me amo. Eu sou capaz. Eu poderia limpar as
cavalariças de Áugias. Eu conseguiria tomar porrada do Gandhi.
Eu possuo um mindset disruptivo o suficiente para vender a
diabéticos camisas 100% algodão-doce. Eu não piso em peças
de Lego no escuro, são elas que pisam em mim. Eu sou a cebola
da sua salada de frutas. Eu sou a sopa que caiu na sua mosca.
Quando Deus me desenhou, ele estava sem borracha.

Mas talvez, se eu conseguir descrever o estado mental que


possibilita o armazenamento de informações em minha mente,
organizadas de maneira a facilitar o processo criativo,
dependendo da sua percepção sobre o valor que essa maneira de
organizar a mente agregaria para sua vida, seu cérebro poderá
ser motivado a adotar pouco a pouco o mesmo método.
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Modelo de cognição criativa do modestérrimo autor

Minha mente desde sempre funciona pelo princípio de


Sócrates – só sei que nada sei –, e que o outro também nada
sabe. Sendo mais claro: quando recebo uma informação nova, já
recebo desconfiado de que ela está errada. Pode ser qual for. E
ela nunca chegará a ter o status de certeza na minha mente. Até
ser uma certeza. Falo depois sobre isso.

Como se minha mente fosse um clube bem exclusivo, a


nova ideia é sabatinada arduamente. Quem descobriu, como
descobriu, com quais ideias que já tenho ela tem padrão
semelhante, como seria se ela estivesse errada, como ela pode
ser usada, e o mais importante: tenho interesse nela? Quais
seriam as objeções possíveis? Em geral, tenho mais interesse
quando ela tem algum detalhe inesperado, como o nome do
osso ser “rádio”. Se for algo como perônio, tíbia, fêmur,
Machur, bacia, tanque, trapézio, picadeiro, omoplata,
eteroblonze, só lembro pela associação mesmo, porque eu era
curioso em qualquer assunto de ciências, mas a maioria esqueci.

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Sempre ia tão a fundo, escrutinando as informações recebidas na
aula, que me cansava logo. Acabava pensando que não tinha a
facilidade que eu via nos outros alunos para assistir a aula. Mas a
verdade é que eu não conseguia simplesmente jogar uma
informação para dentro sem analisar bem. A nova ideia tinha
que ser armazenada de maneira que se conectasse ao maior
número possível de ideias semelhantes, que já haviam passado
pelo interrogatório.
Em poucas palavras, tinha que fazer sentido no espaço
VIP do meu cérebro.
O osso rádio, por exemplo. Comecei a pensar o motivo do
nome. Será que tem algo a ver com radiação? Ou com
radiofrequência? Teria o nome do osso aparecido primeiro que o
dos outros sentidos da palavra? Se sim, por que botar o nome de
um osso igual à palavra que nomeia uma forma de transmitir
informações por radiofrequência?
E a aula seguindo… Olha, vou lhe contar. Para mim,
receber informações era osso. Eram só perguntas que me
deixavam curioso e sem resposta, mas eu armazenava. A aula
acabava e eu estava viajando num rádio implantado no meu
braço – os alto-falantes devem ficar abafados, tenho que colocar
o volume no máximo... Senão não osso.

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E acabou que fiz o certo. Agora, quando aparece uma
nova ideia, percebo facilmente várias ideias relacionadas a ela.
Como aquela notícia do implante de pênis no braço. Silenciei a
mente, pensei nas informações da notícia – braço, por exemplo.
O que se liga a braço? Várias ideias vieram à minha atenção, e
dentre elas, o curioso nome do osso. Então pensei: será que tem
algo relacionando pênis e rádio? Pênis, relação sexual, dar, ela
deu o rádio. Opa, tem bagulho bom aí, João de Santo Cristo.
Então, como criar um comentário interessante com esta ideia?
Pênis, relação sexual... Como a namorada dele deve estar lidando
com isso? É engraçada a situação bizarra de uma moça tendo
relações sexuais no braço do fulano. Pronto. Heureca! A
namorada ficou feliz, deu no rádio.

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Em resumo, no que eu chamo de cognição criativa, a
forma de receber novas ideias é: sendo bastante curioso e
tentando entender a fundo o conceito – como foi imaginado,
não descartando nenhuma ideia por julgar incompatível com seu
pensamento, nunca tomando nenhuma como certeza, e
encontrando o lugar onde elas ficam mais conectadas a ideias
semelhantes, e também às ideias opostas, armazenando-a lá
junto das suas irmãs.

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Meu humilde método criativo fodástico

Atenção! Badalem seus tambores, rufem seus sinos


pequeninos, sinos de Belém do Pará, encomendem seus
incensos, mirras e bonecas da She-Ra, deem uma pausada na
reprodução, prendam suas frangas, despertem no ponto,
regurgitem suas moscas, encontrem seus lugares ao voltar do
mar, segurem seus tapetes e relaxem as perucas.

Acomodem-se fora da zona de conforto, pois chegou a


grande hora que todos estavam aguardando ansiosamente,
tcham tcham tcham tchaaaam (ninguém nem está lendo mais neste
ponto...)!

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Esse belíssimo e profissional fluxograma, disruptivo e
modificador de mindset, que eu fiz nas coaches, explica cada
etapa do processo. Tanto trabalho para fazer, e saiu essa derrota.
Também, estou fazendo tudo sozinho, poxa. Tenho filho para
cuidar, contas para pagar, séries para maratonar. Não é assim,
também. Derramei a Coca, o chão ficou todo pregando, encheu
de formiga. Meu sistema está nervoso, o Rivotril acabou e não
tem quem me venda receita. Preciso de um tempo para mim,
sabe? Olhar o mar, sei lá, chorar, sorrir, andar de mãos dadas,
receber um abraço de uma árvore... Aliás, por que é a gente que

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tem que abraçar uma árvore? Por que nunca, nem uma única
vez, elas cedrão ao trabalho de quebrar nosso galho? É muita
cara de pau, não é? Ficam lá, plantadas, mudas, esperando,
achando que devemos beijar seus pés... eu vou é seguir tocando
em frente a elas meu toquinho só pra dar o tronco.
Como um velho abacateiro que tomou Viagra Desabrocha
um dia, pera, manga-espada
Uvou
Frutificou
Florescer castanhas e dar pecãs
Desfrutar damascos e as romãs

Ah, vão para casa do carvalho, essa humilharalção em serrou


aqui.

Acho que esqueci o que ia escrever. TDAH típico. Tentar Dar


Atenção é Horrível. Acho que estava falando do meu método
criativo.

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Quando eu vejo uma notícia bizarra como esta – bandido
COME DEDO de policial –, e o jornal ainda ajuda a iniciar a
brincadeira, “faminto por fuga”, vejo minha atenção se voltar
para as ideias envolvidas no título.

É importante perceber que, sendo a manchete uma


associação de ideias incomuns, um bandido que tem a ideia
louca de arrancar o dedo de um policial e engolir já liga o boiler
da atenção criativa, e a mente se prepara para entrar em
ebulição. Estou diante de uma associação inédita aos caminhos
habituais e chatos do dia a dia. Então já sei que, ao ir por essa
nova trilha, entrarei em um território inexplorado, de
possibilidades ainda desconhecidas, onde poderei garimpar
alguma pepita-leão-dourada, que identificarei por meio do
refletir dela, quando iluminada pelo brilho do fogo da paixão, do
ser que é luz, é raio, estrela e luar, em uma manhã de sol (de tez
branca), ouro, mirra ou incenso.

O parlamento mental entra em alerta máximo quando eu


transmito a novidade: “Olha uma manchete maluca, vai render
associações novas e complexas! Grande oportunidade de ver o
que conseguimos conectar, saindo da rotina do mesmo de
sempre!”

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E o parlamento sempre se une quando tem chance de
desenvolver a mente e parir ideias novas. O partido do ego sai
de fininho porque todos já sabem que eles consomem muito
combustível mental com suas vaidades, e nesta hora ninguém
mais percebe que ele existe. Mas os lugares não ficam vagos,
entram mais componentes do partido contrário, com poderes
um tanto quanto misteriosos, o partido da União. Essa força
prolífica é responsável por decretar estado de fluxo.

No estado de fluxo, todas as funções do cérebro, menos as que


tomam conta da infraestrutura (como por exemplo, o plano
digestão, que está trabalhando de má vontade numa coxinha
com catupiri bem lubrificada – droga, você me fez ficar com
fome, e a geladeira está mais vazia que camisinha de eunuco –
sai dos meus parênteses!), se unem com o mesmo foco.
Todos num “é só criação”, pra frente, brain skills
(capacidades cerebrais, em outra língua), salve a seleção. Vai acontecer
uma espécie de seleção natural na mente, só que, forte, em vez
de organismos, a adaptação ocorrerá com ideias. No próximo
capítulo eu descrevo melhor esta minha teoria, que denominei
de “Modelo Leonardo Darwinci para o Processo Criativo”.

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No meu caso, a avaliação da qualidade criativa da ideia é
verificada pelo modelo mental que fiz de o quanto a ideia é
adequada. No final do processo eu apresento a ideia para o
modelo que tenho em virtude da avaliação externa. Ou seja,
entre outras coisas, esse modelo vai rejeitar ideias que possam,
de alguma forma, sugerir uma interpretação que dê chance para
os lacradores e haters (gente que, ao invés de valorizar e se

inspirar no sucesso dos outros para progredir, tenta desmerecer


o outro para se sentir um pouco menos fracassado).

Inclusive, comigo, eles têm um certo padrão, de me acusar de


falta de empatia quando faço comentário criativo em notícia
triste. E é justamente o contrário. Como me senti triste com a
notícia, e imagino que muitos também vão se sentir, por empatia
eu tento aliviar o peso da notícia (lembra do crime sem
gravidade?) para quem ler. Existe também uma ideia muito
comum, que, se as pessoas não ficarem tristes, elas não vão
mudar o que está errado. Mais uma vez, é o oposto. Tristeza é
quase uma depressão. Quando estamos tristes, às vezes, não
queremos nem sair da cama.

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227
A energia da mudança vem da força da alegria.

Se o comentário que criei passar por esse meu modelo


mental de avaliação da resposta, eu posto.

Passado algum tempo, eu volto para observar o retorno que


recebi, provocado pela postagem.

Analiso as curtidas, reações e comentários. O ego não faz parte


dessa avaliação, ou então eu teria tendência a rejeitar as críticas.
No entanto, sustento que qualquer opinião é importante.

Aliás, o ego, ou autoimagem, serve pra modelar a resposta do


mundo às ações dessa própria autoimagem, mas o ego acaba
deixando de ser uma ferramenta do enigmático todo, e o entende
como separado. Daí, ele começa a priorizar o uso da energia
cerebral para seu consumo. Mas não vou entrar nessa seara
agora. Só quero mostrar que, se eu colocasse o eu no meio do
processo de feedback, o eu iria simplesmente descartar
comentários negativos para o eu (sei, essa do eu). A criatividade
requer uma mente que não rejeite informações, como o ego, que
está preocupado com ele, e não com o criar.

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229
O próximo passo é comparar a resposta do mundo para a minha
ação, com aquilo que pensei que seria a resposta dele, segundo
meu modelo da avaliação externa. É um trabalho contínuo de
aperfeiçoamento do modelo externo, que também está sempre
se modificando. Uso as diferenças para ajustar melhor, tanto
meu modelo de avaliação do Qc das ideias, quanto o modelo de
avaliação externa. Mas minha avaliação não é orientada para
melhorar a resposta externa; ela tenta entender que meu modelo
externo avaliou, por exemplo, uma ideia como tendo um Qc
médio, porque meu modelo avaliou como alto Qc, e a resposta
das pessoas indicou um Qc baixo.

O meu modelo para avaliar o quanto uma ideia é criativa vai se


orientar a avaliação pelo meu conhecimento, sensibilidade e
intuição. Não vou deixar de classificar uma ideia com Qc alto
pensando só na resposta externa. Depois de avaliada, segundo o
meu entendimento, é que o modelo da resposta externa vai
filtrar as ideias que, segundo esse segundo modelo, podem dar
brecha a uma resposta externa negativa.

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231
A resposta externa é a parte mais importante do sistema.
Porque, como a criatividade tem a ver com liberdade de
pensamento, pode acontecer de o criativo se desprender do
mundo externo, eliminando o modelo da resposta externa,
criando ideias que, para ele, têm alto Qc, mas para o
pensamento contemporâneo coletivo é algo sem sentido. Às
vezes o hipercriativo fica tão apaixonado pelo seu caminho que
não mais se preocupa com a resposta externa, porque ele
simplesmente se entregou de uma maneira tão intensa, que
eliminou o filtro do modelo externo, pensando que deve dedicar
toda a sua mente ao próprio modelo do que é uma ideia criativa.
Como por exemplo o Van Gogh, pelo que tenho ouvido dele
(brinqs).

Eu mesmo dei umas encoxadas no limite de quase não


considerar a resposta externa, nesta modesta obra que o leitor
está a ler (já disse pra você que ninguém conseguiu aguentar ler até aqui,
iludido). Mas... Lembra do Bojador? Tudo vale a pena se a alma
não é pequena como seu pinto. Olha aí eu sarrando o limite ao
vivo.

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Modelo Leonardo Darwinci para o Processo Criativo

Uma montagem magnífica e profissional do que seria este ser divino que é a
combinação de Darwin com Leonardo da Vinci – adquira já sua camiseta
da seleção natural estampada com este mestre da criação em 4K, malha
100% linho fio grosso, por apenas 99 euros, promoção de fim de stuck.

234
Proponho, neste capítulo, um modelo para o processo criativo
muito semelhante à teoria de Darwin para a seleção natural,
como sendo um processo que ocorre naturalmente, que
desenvolve um conjunto de informações capaz de construir um
ser vivo, de modo que esse ser esteja adaptado ao meio,
suficientemente, a ponto de ser capaz de transmitir esse
conjunto de informações ao longo de gerações. Por sua vez, esse
conjunto é modificado a cada geração, por meio de um processo
de combinação das informações com as de outro indivíduo, que
tenha tido a mesma capacidade de sobreviver pelo tempo
necessário para que pudesse realizar o processo de combinação
de informações. E a nova receita de construção pode, ou não,
ser modificada pelo processo aleatório de mutação.
Rapaz, parecia que essa explicação não ia acabar nunca…
Se não entendeu não perca tempo, devo ter errado alguma coisa.

Em resumo: a seleção natural mistura informações dos


indivíduos mais adaptados, para, com a ajuda da sorte que a
mutação pode providenciar, construir um indivíduo ainda mais
adaptado.

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Por que Leonardo Darwinci?

Leonardo da Vinci é considerado pelas pesquisas realizadas


pelo ITVI em Teresópolis a pessoa mais criativa que já pisou no
Planeta Terra, sem incluir apenas a Barra da Tijuca, no Rio de
Janeiro. Ele inventou geringonças, geringtigres, geringleopardos,
e foi habilidoso em um número excepcional de diferentes
campos do conhecimento humano, da criação do berimbau até a
calcinha asa-delta, passando por abridores de lata (isso muito
antes de a lata ser inventada), soda limonada, samba enredo,
caleidoscópio, sorriso de desdém, e o chapéu de cangaceiro
usado por Virgulino Hifenreira da Interrogassilva, mais
conhecido como Travessão.

237
238
E Darwin? Darwin, porque permitia um bom trocadilho
com o nome de Leonardo: Leonardo Darwinci. Não ficou
bacana?

Ah, e porque foi ele quem descobriu o sistema da evolução


pela seleção natural, a descoberta mais importante de todas as
descobertas descobridas pelo ser humano, com exceção à lei de
propagação de derrubamento nas fileiras de dominós, e do
método prático de desentupimento de privadas usando uma
bola de plástico (essa foi o autor quem descobriu, patente
pendente: você bota uma bola de plástico grande o suficiente
para ser maior que o diâmetro da privada, pega a vazão vezes a
velocidade da luz ao quadrado, multiplica pela massa do tolete,
divide pela energia da dor de barriga, sessenta em cima e dá a
descarga. Recebi crititicas entusiasmadas ao apresentar a
descoberta para cientistas da Universidade de Chicago).

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O processo criativo funciona (Malbert Aistein, o correto é escrever
‘funcionaria’) assim:

Em uma mente silenciosa, o enigma, que nos foi proposto para


ser solucionado de maneira criativa, é decomposto em suas
ideias-núcleo.

Essas ideias núcleo são chamadas de memes, correlatos aos


genes. Isso mesmo, meme não é a imagem engraçada que você
recebe. Quer dizer, até é, mas o conceito de meme apareceu
muito antes que a Nazaré Confusa.

241
242
O Espaço Leonardo Darwinciano (ELD) da mente, que permite
a combinação e manipulação de memes, é populado com ideias
já existentes em nosso armazém cognitivo. Essas ideias são
escolhidas por terem conexão com os memes do enigma.

Com base nessa “população”, acontece um processo seletivo


dessas ideias. Elas são combinadas entre si, formando um novo
meme. O modelo de avaliação da qualidade criativa de uma ideia
(Qc) vai selecionando aquelas que aparentam ser promissoras.

O ELD é reiniciado com as combinações mais promissoras, e


uma nova rodada de população com novos memes do armazém
cognitivo são ativados pelas combinações obtidas na rodada
anterior.
Repete-se o procedimento de combinação e seleção.

Lembrando que o mecanismo de ideias aleatórias não funciona


bem quando o que se quer é encontrar conexões de ideias. Ele
seria mais usado quando se prioriza a novidade que veio dar na
praia, quando o máximo do paradoxo se mostra desigual, em um
Novo Mundo onde nada mais é igual. Ôôô, ôôô. De um lado o
habitual, de outro exponencial, ôôô, ôôô. U huhuhu u u u a-
háááááá (é isso aí que eu tenho que aguentar, querido leitor).

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ALGUNS TOQUES PARA DESENVOLVER A
CRIATIVIDADE

Agora é a hora que a cobra vai fumar, a jiripoca vai piar, a


onça já bebeu água, o mafagafo teve 5 mafagafinhos, o sabiá
sabia assobiar, o rato está roendo a roupa do rei de Roma, e a
arainha Elizabeth subiu pelas paredes, veio a chuva forte, mas
ela é imortal.

Eu vim para fazer um livramento. Vim para criar um


criador. Um criador que não é malcriado. Vou efetuar um mito
morfose, e uma borboleta que sonha ser humana acordará para
sendo um ser humano sonhando ser borboleta. Ou vice-versa.

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Uma mente silenciosa não mente

Não se pode ser criativo sem ouvir a própria mente, dar


atenção a ela.

Esse é o princípio da meditação. Muitos seguem rituais que


facilitam o meditar, sentando-se de frente à parede para os
estímulos externos não prejudicarem a sensibilidade de dar
atenção aos pensamentos que surgem.

Já falei da meditação, mas nunca vou falar tanto quanto a


importância dela que nossa vida merece.

Meditar é simplesmente observar nossos pensamentos.


Não precisamos (embora ajude) sentar-se de algum jeito
especial, recitar um mantra, respirar desta ou daquela maneira,
ativar os chacras ou botar a kundalini para dançar sertanejo (isso
já não sei se ajuda, vou tentar e depois eu falo).

Não ajudou, minha kundalini pulou que nem cavalo


chacro.

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Um querido amigo, psiquiatra e escritor, dr. Celso, num grupo
que criei sobre espiritualidade uns 20 anos atrás, escreveu sobre
a meditação da higienização do ânus após o nº 2 – como limpar
o bumbum com consciência total. Seria uma “merditação
bundista”, tao vez.
O que ele queria dizer é justamente o que eu escrevi:
meditar é observar nossos pensamentos. Podemos fazer a
qualquer momento. É de extrema importância para o
autoconhecimento, principalmente para entender que nossa
mente é um grande e barulhento parlamento, com diversas
entidades exigindo nossa ação em prol de seus interesses, muitas
vezes conflitantes.

249
250
Por exemplo: o partido do peido exige que você solte seus
gases imediatamente porque a cólica está forte. Já o partido do
sexo exige que você aguente o flato mais um pouco para não dar
vexame e acabar com o clima romântico, já que sua namorada
está num momento, bem... Tenho que usar um eufemismo:
abocanhando a gabiroba. Não sei se me fiz entender. (Já
aconteceu o inverso comigo. Aliás, os cachinhos do meu cabelo
encaracolado chegaram a balançar, e obviamente, como um
lorde da nobrisa deve se comportar numa hora dessas, mantive
o gás, impávido, colosso, em teu futuro espelha essa grandeza. E
agora, foi expirado pela boca. Mas eu não deveria expor
pubicamente este flato).

Onde eu estava mesmo? Me perdi. Coisa de mente livre. É


que ass vezes me perco nas lembranças dos ânus dourados de
minha linda juventude, página de um livre bom. Lambo-te, não
espero, gás e calor, farejo grande fedor. Claro que você peidou.

251
252
Ah, o livre. Percebendo seus pensamentos, você vai se
conhecendo melhor, ou voltando à analorgia do parlamento,
você age como um verdadeiro democrata, dando atenção (amor,
aceitação) para a demanda emergencial do partido da coceira no
saco, explicando como se fosse um diplomata, que nesse
momento esteja conversando com a futura sogra). Ou, ainda,
como o Barrão no Rio, Branco como a tez da manhã,
negociando com o partido do cagaço, para que eles se acalmem
e ajam normalmente.

Enfim, entenda a si próprio.

Com o tempo, os partidos vão se acalmando e se entendendo,


prontos para deixar de lado suas diferenças e agir lado a lado
para juntar esforços em prol de um mesmo objetivo.
Quanto mais você se conhece, menos os partidos da sua
mente precisam gritar para chamar sua atenção, e assim a mente
entra num estado de silêncio, que é a hiperconcentração, e você
tem uma grande parte do seu cérebro a sua disposição.

253
254
Lembrando que um mais um é sempre mais que dois,
queremos que o partido do peido trabalhe junto com o do sexo,
ou, pelo menos, que ele fique em silêncio por alguns instantes
para não atrapalhar o trabalho dos outros. Ou até que você solte
o pum, mas sem barulho para ninguém perceber quem foi.
Hum... Melhor não, você vai usar grande porcentagem do
cérebro para controlar o esfíncter anal em busca desse silêncio.
Libere seu peido como você liberta sua mente. Como o
digníssimo Lema da Emcufedência: Libertas que Cheirar
Podrem. Bem, criar é muito mais nobre do que esse gás não
nobre. (O partido da vergonha alheia se tremendo todo enquanto você
escreve esses disparates). E pum é uma palavra que significa
trocadilho em uma língua estrangeira, então, aí é que eu vou
peidar mesmo. E não se preocupe se sair um peido molhado.
Foi só uma Frei Ada sem gravidade.

Às vezes só conseguimos achar uma solução na cagada.

Então, para criar necessitamos silenciar esse parlamento, essa


feira livre barulhenta que é nosso cérebro. Precisamos que todos
os diferentes partidos, as diferentes necessidades e estímulos se
unam para encontrar uma nova forma de agir, diante de um
novo problema que se apresente.
Use toda a carga do seu cérebro. Não cargue para ele.
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256
Essa condição acontece com muito mais facilidade se você sente
um interesse genuíno em lidar com o enigma. As pessoas usam a
palavra “problema”, ou uma menos negativa, “desafio”. Mas
mesmo usando “desafio”, percebo que tem um componente
estragado em seu significado, pois remete à satisfação do ego, o
que faz com que você use parte de sua energia preocupado com
a imagem que você tem de si caso você não vença o “desafio”
que você lança para o parlamento estudar. Esse interesse vem de
alguma emergência, ou do fato de ser algum assunto pelo qual
você sente curiosidade, alegria e paixão. Um assunto que você
ama. No meu caso é, por exemplo, a criatividade. O parlamento
recebe o enigma com tanta satisfação que esquece de suas
demandas, e assim a gente usa uma porcentagem bem mais alta
do poder do cérebro para efetuar o que eu sinto como uma ação
que, para mim, é divina: a criação.

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258
Então você pode entender o sentido do título deste livre.
O Toque do Criador me lembra a pintura de Michelângelo, onde o
Criador se esforça para tocar o dedo do mal dot Adão. O amor
que existe pelo assunto do enigma faz com que você se esqueça
de si, e algumas capacidades de sua mente que, nem você, nem
ninguém percebem existir, são acionadas. Portas escondidas se
abrem, e de repente... Você transcende. Neste instante sagrado
nasce o novo.

O parlamento todo se levanta para aplaudir sua criação. Os


membros do partido do peido e os do sexo se abraçam, em
prantos. O pessoal da coceira no saco e os da vergonha alheia
saem correndo pelados pelas ruas gritando “heureca!”. O partido
do ego (que tem a maior bancada e o líder do parlamento) tenta
convencer a todos de que sua liderança foi vital para o
nascimento da ideia, mesmo não estando presente aos trabalhos.
Inclusive, sua ausência é que permitiu a transcendência.
Você não acredita que tenha conseguido pensar naquilo. E
mais, você acha até que não veio de você. Falo por experiência
própria, que vivi milhares de vezes. Vejo um comentário antigo
meu que havia esquecido e acho graça como se não fosse meu,
admirado por pensar em como eu consegui ter aquela
percepção.
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260
Sinais desse toque criativo podem ser encontrados
(obviamente guardadas as devidas proporções) em todas as
obras de arte que a gente admira e não concebe como um ser
humano, gente como a gente, tenha realizado aquilo na Terra.
Está nas pinturas, esculturas, ciências, arquitetura, engenharia,
literatura (Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, me
fascina), em todos os assuntos que o ser humano se debruçou
podem ser percebidas as criações onde o toque do criador está
presente.

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Por exemplo: La Pietà, também de Michelângelo; a Torre
de Gustave Eiffel; o 14 Bis, de Santos Dumont; a penicilina, de
Fleming; Réquiem, de Mozart; Dom Quixote, de Cervantes; o
primeiro gol de Pelé contra a Suécia em 58; o segundo gol de
Pelé contra a Suécia em 58; o filme Blade Runner; a série Battlestar
Galactica; a pipoca de micro-ondas; a voz do Bob Esponja; o
sapatênis; a piscina de bolinhas; a caneta-relógio; a raquete
elétrica; a língua de sogra; peruca; catuaba; jogo de tarô; confete;
boneco de ventríloquo; espanador; peteca; touro mecânico... E
muitas outras obras de arte que abrem nossa mente para uma
nova forma de ver o mundo, expandindo nossa consciência.
Lembrando que ainda há muita coisa a ser criada, e dessas,
muitas ficarão para a história por manifestarem a transcendência
que só o toque do criador torna possível.
Só que como vimos, a criação necessita de muito poder
cerebral para surgir. Porque criar é seguir um caminho que não
conhecemos, então, temos que sair da vala que criamos por
sempre seguir pelo mesmo caminho, e, dependendo da
profundidade da vala, teremos que gastar uma energia ca valar
para sair dela. Mas vale a pena. Avalie com carinho. Mesmo que
você não concorde, o Bojador vai passar por cima, e isto é
inevitável. Vale avaliar bem.

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Sabe o que sabia o maior sábio que já se soube existir
um dia?

Alerta: este capítulo, embora de suma importância, pode produzir uma certa sensação desagradável.
Sabendo disso, perdoe-me desde já. Não posso deixar essa informação de fora.)

Sócrates

“Sonhei que era uma borboleta, e quando acordei, vi que era um homem.
Agora não sei se sou um homem que sonhou ser borboleta, ou se sou uma
borboleta que sonhou ser um homem.” (Chuang Tzu)

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“Só sei que nada sei”, disse o ateniense Sócrates – o
homem mais sábio da História – por volta de quatro séculos
antes do nascimento de Jesus.

Sócrates só sabia que nada sabia, por isso, ele tinha que
chutar. Acabou chutando tão bem que fez sucesso na Copa de
82.

Perceba que Sócrates foi bastante coerente. Ao dizer que


ele sabia que nada sabia, então, algo ele sabia: que nada sabia.
Daí se segue que ele estava errado ao dizer que sabia que nada
sabia. E a conclusão é que ele realmente não sabia de nada.
Espero ter sido claro, porque reli e não entendi nada.

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Só sei que nadar sei.
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O que tem a ver “saber que nada sabe” com a criatividade?
Sejamos sinceros: temos várias certezas em nosso dia a dia.
Temos certeza de que a Terra gira em torno do Sol, certeza de
que vamos morrer, certeza de que o Palmeiras não tem Mundial.
E se alguém disser que alguma dessas informações pode não ser
uma certeza absoluta, com absoluta certeza acharemos que o
coitado é ruim da cabeça. Como você está me achando neste
momento. A-Ha, te peguei.

As certezas nos atraem porque nos dão alívio, nos dão


segurança, e nos ajudam a tomar decisões. Com menos esforço.
E se eu dissesse que não existe nenhuma certeza?
Certamente seria tomado como louco. Inclusive, a sociedade
meio que nos obriga a ter determinadas certezas.

Meu amigo querido, o psiquiatra e escritor dr. Luiz Alberto


Py, uma vez me disse que na experiência dele com doentes
mentais percebeu uma característica em comum entre eles. Eles
tinham certezas incontestáveis. Lembra quando falei de
fanáticos?

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271
As certezas, apesar de aliviarem nossa insegurança em
relação ao mundo, limitam nosso pensamento. Todos tinham
certeza de que o Sol girava em torno da Terra até alguém se
permitir a pensar que poderia ser o contrário. E por pensar
diferente quase morreu. Mas agora todos podemos dizer com
certeza que a Terra gira em torno do Sol. Só que não. Nosso
planeta azul gira em torno do baricentro (centro de massa) do
sistema Sol-Terra. Só que não. Aí entra também a influência
gravitacional dos outros planetas, etc.

Bem, 1+1=2, não é? Depende. O músico genial Beto


Guedes escreveu que um mais um é sempre mais que dois, referindo-
se à sinergia entre as pessoas. Um coelho mais uma coelha “dá”
vários coelhinhos. Existem outros sistemas matemáticos
possíveis, mas convencionamos que usaríamos esse, que
aprendemos na escola. E o que é “um”? Tem que investigar
profundamente o conceito, daí. Aprendemos sobre redes
neurais, funcionamento da mente, seleção natural). Tudo isso
investigando o conceito do um, o conceito de unidade. Esse é o
tipo de questionamento que me parece muito óbvio, e é
justamente o oposto do que a maioria entende. A maioria tem
certeza de que óbvio é não questionar o que significa uma
unidade.
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273
Durante minha vida, como nunca me permiti, ou pelo menos
tentei não cair nas valas das certezas, eu buscava sempre pelo
limite máximo a que o ser humano foi, em qualquer questão.
Essa forma de absorver as informações e organizá-las no
cérebro eu chamo de cognição criativa. Tem um capítulo aqui
em algum lugar que explica melhor. Ah, está lá atrás.

O filme Matrix passa a mensagem de que tudo pode ser


uma simulação, e há argumentos, que ainda não foram
refutados, de que a chance de estarmos vivendo numa simulação
é quase 100%. Sendo assim, tudo isso aqui seria irreal, uma
espécie de sonho.

Quando a certeza chega ao seu nível extremo, vira


fanatismo. Segundo Nietzsche, o fanatismo é a força de vontade
dos fracos.

“As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as


mentiras.” (Friedrich Nietzsche)

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As certezas são as prisões da mente. Alguém que queira libertar
a mente deve se libertar de toda e qualquer certeza, mesmo que
isso possa nos aterrorizar. Se quiser ser um guerreiro para
conseguir sobreviver ao Cabo do Bojador passando você, livre
sua mente das certezas. Use o conceito de probabilidade. É
provável que a Terra gire em torno do Sol. Ou não.

Para ser rigoroso, entendo que só há Quatro Certezas


Inquestionáveis. Uma delas é que o Palmeiras não tem Mundial.
As outras ficam para meu próximo livro: A Grande Busca: existem
verdades inquestionáveis?. Deixei um teaser dele mais à frente.

Sem liberdade de pensamento, a criatividade não pode


existir

“Ah, mas que vamos morrer é nossa única certeza.”

Talvez não. Mais à frente eu explico.

Fique atento a suas emoções ao ler este capítulo. Se ele


tiver despertado alguma sensação desagradável, são as certezas
querendo impedir a libertação da sua mente.

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A morte perde carona.

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(Quase) Tudo é incerto. Aprenda a aceitar a incerteza como
sendo o grande presente da vida, a liberdade da mente.
FJE

“A arte do guerreiro consiste em equilibrar o terror de ser


um homem com a maravilha de ser um homem.” (Carlos

Castañeda).

Fala sério, é muita sabedoria, não é? Embora eu saiba que


nada sei... Mas pensando bem, não estou certo disso.

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Intuição

O cérebro humano ainda é a ferramenta mais poderosa da


Terra para resolver problemas em geral, depois do uísque, do
chinelo, do divórcio e da boneca inflável da She-Ra (não entre
em uma furada. Só use as bonecas originais da Sésamo
Corporation, as únicas que já vêm com teta solar de fábrica.
Garantidas por um ano contra defeitos de fornicação, as nossas
bonecas vão encher sua bola).

Todo mundo já ouviu dizer que não usamos nem 10% do


cérebro. Apesar de ser clichê, existem uns 10% de verdade nesse
fato (e aquele 1% safado), segundo pesquisas do ITVI, realizadas
em Itanhaém (SP).

Não tem como saber quantos por cento do cérebro


utilizamos, o que dá para saber é que existe muito poder cerebral
que ainda não aprendemos a usar, ou esquecemos como se usa,
ou nem sabemos que existe. Por exemplo, o gerador de ideias
aleatórias que só fui descobrir faz pouco tempo (descobri mês
passado que posso criar sem esforço uma série de palavras que
não estão relacionadas umas com as outras, adorei meu
brinquedo novo, e usei muito aqui).

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281
Assim como eu descobri essa nova funcionalidade, todos
nós temos capacidades desconhecidas. A maioria acaba
escondida na nossa misteriosa intuição.

A intuição é um exemplo de poder cerebral de extrema


importância, que na maioria das vezes não utilizamos, porque
temos mais segurança em tomar decisões que possamos explicar.

A intuição chega sem dar explicações, vem como um


sentimento, uma sensação de que a decisão correta seria, por
exemplo, cursar alguma carreira que tenha a ver com a arte. Aí
vem a lógica e dá inúmeras razões para você fazer Engenharia de
Computação (de quem será que estou falando?).

Um dos benefícios da meditação é poder observar a


intuição mais claramente, e respeitar sua voz. Você teve a
intuição de que não deveria comer certa comida? Não coma,
mesmo que seu raciocínio diga que você vai ter que pagar pelo
prato que pediu e então você tem que comer aquilo.

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Mas cuidado. Muitas vezes a voz do subconsciente se mistura
com os conselhos úteis da intuição. É importante saber de onde
vem este sentimento que quer influenciar na decisão que você
está tomando. Não que o subconsciente sempre esteja errado,
mas este é um conjunto de sentimentos reprimidos que estão
reprimidos por algum motivo, e às vezes eles tentam sair dessa
repressão sabotando você para chamar sua atenção (falou
Siguimundo Freud).

Enfim, “conhece-te a ti mesmo” (já falou 3x dessa porra...) é o


grande conhecimento que você deve seguir. Tente lidar com
aquilo que você reprime. Eu sei que é difícil, também tive
minhas questões, mas com o passar do tempo, usando o
amor/atenção, posso acreditar que já não tenha sobrado mais
nenhum sentimento ou ideia que eu precise reprimir por não
aguentar trazer para o consciente. E uma consequência disso é
que não tenho mais pesadelos há muitos anos, e nunca lembro
dos meus sonhos, se é que eu ainda os tenho. Meus pesadelos
agora só aparecem quando eu acordo.
Saiba ouvir a voz da intuição. Eu senti na pele as terríveis
consequências de não ter seguido os conselhos dela.

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Entrando no fluxo

O fluxo é um conceito relacionado ao trabalho conjunto de


todas as entidades mentais que compõem essa grande feira livre
que é nosso cérebro.

Todos sabem o que é o fluxo, mas nem todos perceberam


como ele é importante para uma vida não só criativa como
também uma vida feliz.

O fluxo é um estado parecido com um transe, em que


estamos tão embevecidos com o que estamos fazendo, que
esquecemos do resto do mundo, até de nós mesmos, como se
estivesse em transa, digo, transe. E lembre-se do preservativo:
no fluxo você se preserva ativo em alguma coisa que lhe dá
tanto prazer em fazer, que todos os partidos do parlamento da
sua mente trabalham juntos; até o partido do peido fica
silencioso (mas fedido, dependendo do seu regime, e se o podrer
emanar do ovo).

Para entrar no fluxo, vá exercitando a observação de seus


pensamentos (ai, cacete) e tente sentir as atividades que você gosta
tanto de fazer que se esquece de você. Essa é a maneira de se
entrar no fluxo para uma vida mais criativa e mais bem vivida.

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Esse título é uma mentira.

É o famoso paradoxo do mentiroso, em que, se o título


for verdade, ele é uma mentira. Se for falso, é verdade. Um loop
infinito de contradições, contrassubtrações, contrafilés,
contratos, com maltratos, uma tortura lógica à mente.

Nossa mente não funciona bem quando mente, esta é a


verdade, certamente.

“Tu estás a dar lições de moral, ora, pois.”

Não, Manuel, o que falo é pura verdade, a moralidade não


mora em mim, ela se mudou sem demora após acabar nosso
namoro, e agora um champanhe estoura toda vez que
comemora sua nova vida mais bem-humorada, e ainda diz que
eu sou o imoral da história, enquanto faz uma viagem circum-
navegatória, aquela simplória mimada...

Na verdade, para obtermos poder cerebral suficiente para


a criação, ajuda muito quando minimimizamos a quantidade de
mentiras que precisamos sustentar no dia a dia.

A criatividade necessita que você use o cérebro de verdade.

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Não digo as mentiras que têm perna curta como meu
pinto. Ou seja, quando eu brinco dizendo que meu pau é
pequeno, não é algo que eu tenha que manter, com cuidado, na
memória. Não preciso lembrar de ter mencionado, no livre, que
sou maldotado, ao ir à praia, por exemplo, pois, na praia, corro o
sério risco de alguém ver meu gigante por imprópria natureza,
belo e forte, impávido colosso, na Praia do Futuro, sua grandeza
espelhada pelo elefantinho de sensacional volume transbordante,
acachapante e mesmerizante, protuberante e saliente, em minha
depravada sunga asa-delta vermelha indecente, e me acuse ser
um mentiroso de perna curta e penislongo, um grande picareta,
só mente.

Mas se eu, por acazuzar uma importante mentira, sim, será


a que não me interessa, não me interessaaa alocar uma parte da
minha energia cerebral sustentando a fome do verme da
inverdade, quando eu quero ver-me criativo.

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Capítulo 2 COMO VIVER CRIATIVAMENTE

Aqui vão meus toques, papo reto, para desenvolver um


modo de vida criativo.

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Pense bem enquanto pensa

O hábito mais importante a se manter por toda a vida é


observar nossos pensamentos, ou seja, meditar (cara, chega! Não
tem nada pra dizer e fica se repetindo!). Não é isso, Esquízola. Meditar
é uma das atividades mais essenciais para o ser humano, e
também, uma das maiores contribuições que posso dar ao leitor.

Medite sempre, meditar não tem segredo, é fácil, é


importante.

Preste atenção a seus pensamentos, fique curioso sobre


eles, quem são, onde vivem, o que comem.

Dê atenção ao parlamento de sua mente. Assim, quando


você precisar, eles vão trabalhar juntos com o mesmo objetivo.

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293
Pense como uma criança

Para se tornar um mestre da criação você


precisa se manter um crianção.

Enquanto somos crianças, nossa mente é curiosa, brinca


com o mundo, não perde energia pensando nela mesma, não
tem valas em seus caminhos porque ainda não percorreu
nenhum. A criança é pura alegria de viver. Pura curiosidade,
investigação, isenta de certezas.

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A criatividade é um dom, sim, mas um dom diferente, um
dom democrático, igualitário, um dom que todas as crianças já
nascem com ele. Mas vão perdendo com o tempo.

Como Einstein disse: “Criatividade é a inteligência se


divertindo" (há controvérsias se Betinho disse mesmo isso, mestre
Confúsio. Você estava lá? É ótima, mas tem cara de fake news.)

Criatividade é criar a atividade, de celebração e descoberta


da vida, onde a rotina, medo, depressão, dão lugar ao
deslumbramento com a maravilha da existência, a curiosidade e
a necessidade de se libertar das ideias conhecidas, ideias essas
que, em troca da ilusão de segurança, aprisionam sua mente em
um caminho que cada dia se torna mais difícil de desviar. São as
valas que criamos, por sempre pensar as mesmas ideias, ouvir os
mesmos clichês, os mesmos pavês, os mesmos pacumês.

Os dias vão passando, decepções, frustrações, traumas,


dores, vão se acumulando. As necessidades de proteção contra
essas dores pouco a pouco vão minando seu encanto e
curiosidade com o desconhecido.

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297
Podemos reacender o brilho criativo em nossas almas?
Infelizmente a sua oportunidade já passou.

Brincadeira, para acordar você. Podemos retornar a esse


estado de alta criatividade, e o curioso é que para fazer isso não
precisamos acrescentar nada à nossa mente, mas sim,
desmontar. Desmontar tudo o que construímos que esteja
fundamentado em nossas certezas, para deixar as ideias
desprendidas dessa conexão tão forte.

O difícil é lidar com as mudanças. Mudanças são sempre


ameaçadoras para o ser humano, está nos nossos genes.
Gastamos muita energia para tornar nosso mundinho
relativamente sob controle e menos assustador, não queremos
que algo mude e voltemos à estaca zero. Vamos formando as
valas de tanto andar no mesmo caminho, que parece seguro e
estável. Porém, estabilidade não é mais opção. O Bojador já nos
atropelou.

Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente,


mas o que melhor se adapta a mudanças.
Darwin

298
299
O bom humor, a alegria, o desapego ao ego, fazem parte de
ser um bom crianção. A humildade verdadeira – aquela que vem
da percepção de que na verdade nada sabemos.

Mas muitos ficam apegados demais à imagem que estão


passando, censurando essa criança que foram, por achar que
assim as pessoas vão confiar mais neles:

“O que estão pensando de mim? Vão deixar de me levar a


sério se eu brincar com as pessoas, se eu demonstrar alegria, se
eu agir de maneira irreverente? Tenho uma imagem a zelar, sou
respeitado, contido.”

Cada um escolhe seu caminho. Mas vai ser difícil ser


criativo, e até mesmo feliz, se tiver que usar uma grande parte do
cérebro para impedir sua vontade de ser feliz, leve, solto, livre
para brincar, testar, descobrir. Livre para brincar com você
mesmo (livre de você. Seria muito bom) – A-Ha! Livre, livre, livre!

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Alegria é nossa energia

Às vezes percebo na sociedade um modo de pensar muito


estranho. Como eu comentei lá atrás, várias pessoas acham que
o que é ruim, o que não está certo, o que não presta, só será
mudado se a gente ficar triste ou sofrer. Milhares de vezes, as
pessoas que pensam assim vieram criticar meus comentários,
afirmando que não era hora para fazer humor, era hora para

A vida é curta. Curta a vida.

ficar triste ou sofrer. Essa visão vem de um estilo de criação em


que éramos castigados quando fazíamos algo errado. É a
mudança pelo trauma da dor. Animais eram treinados a
chicotadas; seres humanos, a tapas, chineladas, multas, etc. Hoje
sabemos que o método da recompensa funciona muito mais que
a chicotada no treinamento de animais. A mudança pode vir pela
tristeza e pela dor. Porém, é muito mais fácil que ela venha por
meio da alegria e do amor pela vida. Quando ficamos tristes não
temos forças para mudar o que deve ser mudado.

302
Se percebemos algo errado no mundo, devemos mudar
com alegria. Não deixe que a tristeza mande em você.

A alegria é a energia da mudança.

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Curiosidade

Mantenha a curiosidade sempre que se sentir ansioso ou


com receio de alguma mudança na sua vida. Tente transformar
esses sentimentos em curiosidade: “o que me espera agora, o
que vai acontecer? O que posso descobrir aqui?”.

“Será que estou deixando de perceber alguma coisa?”

A curiosidade é um dos componentes da tríade amor-


atenção-aceitação.

Você pode perceber isso quando um enigma se apresenta


em um assunto que você adora ou em outro que lhe desagrada.

No primeiro a gente se anima para entender o que está


acontecendo, mente aberta a todos os detalhes envolvidos. Não
está preocupado se vai solucionar ou não. Você reconhece a
oportunidade de ampliar seus conhecimentos no assunto. Não
passa na sua cabeça a autopunição por errar, mas sim, a
curiosidade sobre o porquê de não ter obtido a resposta que
esperava.

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305
No segundo, você sente que está perdendo seu tempo
quando poderia estar entrando no fluxo com algum assunto que
você ama. Você se força, tenta convencer o parlamento de que
precisa resolver o problema, mesmo não tendo a ver com seu
propósito. Eu me lembro da tortura de aulas em que eu não
tinha o menor interesse; entramos em uma distorção temporal,
segundos demoram minutos, e minutos, horas. O fogo do
inferno me queimava quando eu tentava prestar atenção nas
orações subordinadas substantivas indiretas adjuntas
comutativas no futuro do pretérito muito-mais-que-imperfeito –
uma verdadeira Tecpix gramatical –, na bacia hidrográfica do
Vale do Bruce Lee, no general Deodoro da Fonseca em suas
guerras, nas capitanias hereditárias do Tratado de Tordesilhas
afetando a produção de goiabada com queijo da região centro-
sul da Serra do Tabagismo Ecumênico de Arquimedes.

306
307
Quanto tempo de vida perdido nos dias mais claros da
minha vida. Ainda que até mesmo o conhecimento inútil um dia
seja útil, quanta coisa deixei de realizar por conta do medieval
sistema de ensino.

Meu querido leitor ou leitora, ou mamãe, se ela for a única


a chegar até aqui (rá, nem ela), o sistema nos obriga a sermos
torturados com assuntos que não nos interessa, na escola ou no
trabalho.

Liberte-se, revolucione, todos juntos, vamos, pra frente,


Brasil, é que se anda. Cada um tem um propósito. Finalmente
entendi o meu – antes tarde do que eunuco. Não podemos
deixar o sistema roubar um pedaço da vida das crianças e dos
crianções. Chega a ser maldoso.

308
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Voltando ao assunto, falei isso aí porque temos que
perceber que vamos ser mais ou menos criativos conforme o
enigma tenha mais ou menos a ver conosco, uma vez que nossa
curiosidade é difícil de ser controlada. Mas tem uma possível
solução. Podemos tentar ver onde podemos perceber uma
semelhança entre aquele assunto e os assuntos que nos
motivam. Após minha formação, linguística, história,
metabolismo mitocondrial dos mesopotâmios, observação de
esquilos e sapateado para valsas passaram a me fascinar. Irônico.
Trágico. Dramático. Polêmico. Pois é. Força, guerreiro. Levante,
que você tem muito caminho pra ser recuperado.

310
311
Errar é errado

Nossa autoimagem, nosso ego, o que pensamos de nós


mesmos, muitas vezes fica na nossa frente como o reflexo de
um espelho, nos impedindo de seguir adiante.

Por isso chamamos de “erro” quando não atingimos


nossos objetivos.

Na criatividade, a bancada do ego tem que sair da frente,


para conseguirmos tocar o criador.

Na atividade de criação não pode existir esse conceito de


erro. Quando se está no fluxo, essa afirmação é percebida
claramente. A qualidade negativa que encontramos nesta
palavra, “erro”, é só uma maneira de o ego punir a si próprio.

É um passo que você deu, um conhecimento que você


acumulou, é a resposta do universo a sua ação. Simplesmente
ouça o que o universo disse e continue sua caminhada.

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Meu exercício de criatividade, de comentar as notícias, foi
criado pensando nas respostas que eu receberia de
desconhecidos em relação ao que eu escrevia. Se alguém
criticava algo que postei, eu não pensava em acerto ou erro,
simplesmente analisava a crítica para extrair dela um
conhecimento maior sobre minha interação com o mundo.
Geralmente esse alguém era só um chato.

Não existe erro, existe aprendizagem.

314
315
Sinto muito

O crianção que você será, ou já é, e será ainda mais, é


muito curioso. Ele presta muita atenção (amor) ao que sente.

Quando ouve música, ele ouve com vontade; quando vai


comer, presta bastante atenção ao sabor, um ato de bom gosto.
Quando toca, percebe com tato essa sensação, e não suja o
banheiro. Veja bem: veja bem. Sinta o perfume das coisas. Viva
como nunca!

Estamos imersos num universo pleno de sabores, aromas,


ruídos, imagens e toques.

Mas as valas, ou vales, que vamos criando ao seguir sempre


os mesmos caminhos vão impedindo nossa percepção do que há
fora do caminho habitual.

316
317
Perceba o que não percebia, e entenda por que não
percebia.

Sinta o mundo como uma criança, sem filtros.

Abra sua mente, como diziam os Mamonas. Aliás, eles são


exemplos de hipercriatividade. As letras de suas músicas têm
aquele toque de aleatoriedade que de vez em quando tento
passar neste texto. Que eu adoro, porque dá um sopro de
liberdade e meio que dá exemplo de como sair da vala.

318

Meu filho Bruno é uma simpatia


319
A verdade verdadeira

Perceba tudo que você acha que é verdade, que tem


certeza, que não abre mão de pensar de forma diferente, e
questione: “tudo bem, tenho certeza de que é assim, mas e se for
diferente?”.

Einstein não tinha muito apreço pela física quântica, mas


nem por isso a negava, chegou até a ganhar um Nobel em um
assunto relacionado com essa teoria.

Imagine uma mente livre o suficiente para, mesmo não


concordando com uma ideia, chegar a ganhar um prêmio Nobel
nesse campo da física.

Sócrates, sei que já elogiei demais lá atrás, mas tenho que


expressar sempre que puder a contribuição dele, a chave da
libertação da mente que permite a criatividade acontecer:
“Só sei que nada sei.”

320
321
Veja que as crianças nascem sem certezas na mente, e olhe
ao redor quantas pessoas têm certezas diferentes das suas.

Dê uma chance para a possibilidade de algo não ser da


forma como você acha. Isso deixa você ansioso? Irritado? Muito
normal. Não precisa fazer isso se não quiser, obviamente.

Mas quero deixar essa semente aqui, porque renunciar a


olhar para outro lado impede que você perceba novos caminhos.

322
323
Humor é coisa séria
Seja um crianção. Brinque como uma criança. Transborde
de alegria, dance na rua se quiser, faça piada boba, trocadilho
ruim.

Esqueça da sua imagem, do seu ego. Viver bem é muito


mais importante que sua autoimagem. Tire seu reflexo de sua
frente, convença-o a viver cada momento com a maior paixão
possível.

324
325
Mantenha o hábito de não ter hábitos

Fuja da rotina sempre que puder.

Escute novas músicas, de outros países e culturas.

Gosto muito de jazz e instrumental, porque são mais livres,


embora mantenham um padrão ao fundo – metáfora da
criatividade, que é a mente livre sem perder o caminho de volta.

Mude sempre a maneira de se vestir, use meias diferentes,


abrace o que não é o normal. A criatividade é trazer para sua
mente algo diferente. Diferente é bom, diferentemente do igual.

326
327
Criando Crianças Criativamente
Filhos, bênçãos da vida do Criador, nossos maiores Mestres do
Amor Absoluto e da Paciência Absoluta!

De todos os presentes que a vida nos dá, o maior é a


oportunidade de apresentar nossos filhos ao mundo, criar,
cuidar, amar, e fazer com que eles se apaixonem pela vida. E
deixar neste planeta alguém que será mais feliz do que fomos.
Eu digo “eu te amo” para meu filho muitas vezes por dia, não
para que ele saiba que é amado – isso ele já sabe. Mas para que
ele veja como sou feliz por poder amá-lo. Filho, te amo,
agradeço muito por isso.
Então o prezado leitor vai ser o anfitrião de um novo ser
humaninho neste mundo? Que responsabilidade!
É a maior felicidade da vida: o amor puro e cristalino, delicado e
poderoso, terrível e maravilhoso, que existe entre pais e filhos.
Infelizmente, os bebês vêm sem manual de instruções, mas nós
sabemos que se viessem a gente não iria ler mesmo.

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Criar os filhos não é, exatamente, uma ciência exata. Mas é uma
sabedoria inata, que, desde antiga data, há no gene do primata.
Geralmente, quando tomo decisões sobre como cuidar de meu
filho, eu sempre penso primeiro em como a natureza, por
intermédio da seleção natural, pode ter nos desenvolvido.
Tento imaginar como os índios fazem no cuidado com suas
crianças. Eu não sei, porque não tenho informação sobre eles,
mas pensar assim ativa em mim o instinto pré-histórico
instituído pela seleção natural em nossa genética, e pela intuição
sou instruído com a melhor maneira de criar esse pedacinho de
mim, evitando lambanças patéticas ou mal-entendidos nos meus
deveres com este tão indefeso ser, que tenho o dever, honra e
extremo prazer (não fui ensinado, a seleção natural me deu esta
vantagem) em cuidar com cuidado, amor e coragem, da minha
linhagem, até não mais precisar.

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Por exemplo: os índios colocam o bebê em um quarto
separado? Posso não conhecer bem os hábitos desses nobres
povos, mas não me parece sensato achar que essa prática ocorra.
Imagine passar a madrugada índio e víndio até o quarto do bebê,
que atribulação do cacique.
“Ah, mas assim a gente perde a privacidade. Como nós vamos
transar se tiver um bebê no nosso quarto?”
Que maldade, que nunca alguém alertou você do que estou
dizendo, certeza verdadeira, preceito perverso: você não se
casou para continuar fazendo safadeza, guerreiro. Ou guerreira.
É conceito diverso, desde a Antiguidade.
Para adaptar o hábito natural de o bebê estar junto aos pais,
coloquei o berço encostado ao lado da nossa cama. Retirei a
parede da gaiola que fica direcionada para a cama, assim ele não
cairia para nenhum lado e a mãe o teria do lado o tempo todo.
Quando Bruno começava a querer chorar, a mãe nem precisava
acordar totalmente, virava de lado e dava de mamar.
Resultado da solução criativa: noites de sono mesmo com bebê
recém-nascido.

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Outras dicas da intuição: leite materno deve ser oferecido por
mais tempo, o tanto quanto for possível. No meu caso tivemos
sorte, e Bruno pôde ser amamentado até incríveis três anos e
meio. O mamalandrinho só saiu porque realmente a mãe
(realmente se esforçou muito para ser uma boa mãe e teve
sucesso) não aguentava mais aquele fofo mosquitão. Resultado:
Bruno ficou muito poucas vezes doente, e todas as vezes que
ficou foi por muito pouco tempo, tanto que a gente nem tinha
termômetro em casa. Não tem alergia (não existia obsessão por
limpeza, tipo: Bruno deixou cair uma comida na calçada do
centro da cidade, pegou e continuou comendo. E foi tudo bem).
Outra coisa: cuidamos do Bruno com calma e serenidade.
Quando acontecia um acidente (pode ir se preparando, serão
muitos), não entrávamos em desespero. Agir assim fez com que
ele confiasse muito nos nossos cuidados. Já vi pais se
desesperando com quedas muito mais inofensivas que as do
meu filho. O filho fica aterrorizado quando isso acontece. Ele
pensa: os adultos que cuidam de mim não se garantem. Não
posso me sentir seguro com eles. Comigo o resultado foi bom
para ele e ruim para mim; ele confia tanto em mim, que se
jogava de cima de um brinquedo e eu que me virasse pra pegar.

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Hoje em dia ele tem o maior respeito por tudo que eu falo. Ele
sabe que é mais importante para mim do que eu mesmo. Ajuda
também o fato de eu só falar a verdade para ele, seja o que for.
E gostei tanto disso, que estendi para tudo em minha vida.
Sempre tenham cuidado com o que vão me perguntar.
Aproveitando que estou metendo o nariz em tudo, proponho a
cada novo pai uma meditação bem rápida, que acredito que
ajude a aumentar o amor no mundo significativamente, melhora
a vida da família e resultará em novos seres humanos mais
felizes.

Só aos pais, porque as mamães já fazem muito mais

Os 5 minutos paternura: os pais reservam 5 minutos todos os


dias para olhar nos olhos do bebê. Só isso? Só.
Depois me digam se algo aconteceu.

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Capítulo 3 Exemplos criativos em outras áreas do
conhecimento

Neste capítulo vou mudar o foco do humor dos


comentários criativos para outras áreas do conhecimento.

Pretendo, com isso, demonstrar que, embora tenha


passado anos exercitando a criatividade pelo método de
comentar notícias de maneira criativa, a criatividade não se limita
sua especialidade a apenas um contexto. No meu caso, ela me
permitiu ser usada em campos de conhecimento completamente
diferentes uns dos outros, como por exemplo, poesia, esquete
para teatro, blockchain, filosofia, física, literatura (eu já não disse
que isso aqui não é literatura?)... (E não disse também que nada
sabia? Deixe-me continuar em paz?) (OK! Vai, tigrão!), então,
futurologia, pedagogia, psicologia, mamografia, quiromancia,
tantranaorgia, parapsicologiconomia, sorvetologia, esquizofrenia,
kombiologia, aleatoriogia, australopitecologia, batmologia,
palmeirasnãotemmundialogia, fazendo-se necessário apenas que
seja importante para mim, ou faça parte dos assuntos que me
despertam curiosidade.

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Criptomoedas

Comecei a me interessar por cripto em fevereiro do ano


passado.

Como arrisquei todo meu futuro financeiro nisso


(infelizmente acabei perdendo tudo, mas é uma longa história),
passava todo meu tempo livre estudando o assunto.

Buscando acionar a hipercriatividade, criei algumas ideias,


validadas por quem entende do assunto (no caso, o CEO de
uma criptomoeda com mais de 200 milhões de dólares de
marketcap).

As duas mais interessantes vou deixar aqui. Não fui adiante


porque não tenho nada de vocação para empreender, meme
dedico totalmente à criação.

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ARTCOIN

Quando cheguei a um certo ponto do entendimento de


como as criptos funcionavam, comecei a investigar o fato de o
bitcoin não estar lastreado em nenhuma forma de valor, assim
como o dólar estava no início lastreado em ouro, e agora, na
autoridade estadunidense.

O que acabei percebendo é que bitcoin era simplesmente a


maior pirâmide financeira da história.

Embora seja manipulada (não posso falar sobre isso, fica só


entre nós), na teoria ela é movida apenas por um movimento de
ganância. As pessoas olham o retrospecto, gente que ganhou
milhões com a absurda valorização, e seguem os analistas, que
estão sempre vendendo o sonho de que ela vai se valorizar
milhares de vezes, usando argumentos totalmente enganosos,
como “é uma maneira de se proteger da inflação”, por exemplo.

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Muita gente cai nisso. No entanto, é obvio que uma
inflação de 10% ao ano, comparada com a variação
enlouquecida da moeda, não é nada, já que ela pode variar esses
10% pra cima ou para baixo num único dia.

O motivo único de se comprar bitcoin é a esperança de


vender a alguém por um valor maior. Daí, chega ao limite e os
últimos ficam com o mico, exatamente como numa pirâmide.

Daí comecei a pensar em uma criptomoeda que fosse


lastreada em algum valor.

Nesse ponto começa o método hipercriativo.

Qual seria o valor? O que é valor? Esta não é uma pergunta que
as pessoas geralmente fazem. Mesmo porque não precisamos ir
a fundo no conceito filosófico de “valor”. Podemos viver nossa
vida, nosso cotidiano, normalmente, sem pensar nisso. Mas a
curiosidade do hipercriativo quer conhecer tudo, e mergulha no
conceito de valor.
Por exemplo, o valor do incenso e da mirra. A mirra eu não
sei nem que porra é essa. O incenso é baratinho.

E o ouro? Esse metal por milhares de anos teve valor para


os seres humanos.
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Por que a civilização dá tanto valor a ele? Só pode ser
porque é raro… E bonito! Não perde o brilho, não solta as tiras,
vale mais do que dinheiro, mata lombriga, faz cafuné, toca um
pagodinho no churrasco, leva o rottweiler pra passear e cata o
cocô pra deixar na porta do vizinho chato, faz boquete, e
comenta futebol.

Achei importante a conclusão de que o valor do ouro vem


de uma questão estética. Porque, se eu pensasse em um valor
que fosse menos fruto de uma vaidade, ou seja, de certa forma
frágil, eu acharia mais lógico lastrear uma nova criptomoeda em
um valor mais importante que o ouro, o que deixaria o bitcoin
muito desinteressante em relação à nova cripto.

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Automaticamente entra em cena o método Leonardo
Darwinci, para pensar num valor menos vulgar, pra não dizer
idiota (já disse).

O criador deu seu toque. O que sempre terá valor para a


humanidade? Pois bem:

A arte clássica, que resistiu ao tempo.

Pensei logo em Monet, que vem para monetizar.

Resolvido o problema, com o uso da criatividade. Com lastro


numa obra de arte, os investidores teriam a certeza de que não
iriam perder tudo.
Quando contei a ideia para o tal CEO, especialista em
cripto, lógico, ele disse que passou a noite pensando, e que é
uma ideia que funciona.

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Mas disse também para eu ser rápido, porque é uma ideia
tão simples, que a qualquer momento alguém também a teria.

Isso me fez pensar na mágica que é a mente livre na criação.


Milhares de pessoas criando moedas, e eu, um não especialista,
penso numa ideia simples, poucos meses depois de ser
apresentado ao assunto, mas que ninguém teve, mesmo sendo
simples.
Enquanto todos olham para o mesmo lado, o criativo
consegue olhar para todos os lados, e assim eu vi algo simples,
funcional, fácil de implementar e, de certa forma, até nobre. Pois
seu valor vem da arte, não de um metal amarelo (idiota, mas
bonito, que nem eu).

Pronto. Por favor, alguém fique bilionário.

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Token de celebridades e fãs

Agora a ideia é lançar uma série de tokens em uma espécie


de rede social, que fomentariam uma relação entre as
celebridades e seus fãs.

Seria mais ou menos como uma série de tokens formando


círculos concêntricos de hierarquia em torno de uma celebridade
token.

Por exemplo, no meio ficaria o token da celebridade,


digamos, este modestíssimo e humildíssimo autor.

O círculo de maior hierarquia estaria ligado ao meu e teria


algum tipo de vantagem em relação aos de menor hierarquia.

Por exemplo: a maior hierarquia teria direito à compra


antecipada do meu livro O Token do... Não, pera... O Toque do
Criador, edição personalizada, além de acesso direto a mim, um
pack de pezinho tamanho 44 (sou muito sem vergonha),
oportunidade de me pagar uma janta, uma camiseta do
Palmeiras autografada, três vales-abraço, uma sopa de letrinhas
só com as letras do meu nome, um cone de trânsito sarrado por
mim, dois alecrins e uma boia de pneu.

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A hierarquia seguinte teria mais tokens, mas com menos
privilégios, tipo, apenas um alecrim, um pack de cotovelo,
acesso a mim apenas por uma de minhas secretárias peitudas.
E assim vai. Vai, empreendedor. Essa dica é quente.

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Diplomacia

Poucos sabem, mas fui o primeiro a reconhecer a vitória


do presidente eleito dos EUA. Conto esse acontecimento
empolgante aqui:

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Acabo de receber uma ligação (a cobrar) do presidente
eleito. Devo dizer que foi um gesto humilde e cordial que
denota grandeza de alma. Perguntou como estava o clima em
Buenos Aires, e disse que Pelé é melhor que Maradona.
Combinamos um encontro mais formol, até pela nossa idade

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Artes Anais

Marchinhas fúnebres para o Carnaval 2021:

A epidemia atravessou o mar


E há Corona passare-ela
Fez um desembarque triunfante
E o Brasil todo ferra

Eu vim descendo a serra


Com pneumonia para me tratar
O mundo inteiro espera
Algum dia um leito vagar

Alalaô
Ô ô ô, ô ô ô
Contaminô
Ô ô ô, ô ô ô
Fui passear na Praia da Joaquina

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Peguei coronavírus mesmo usando cloroquina

Ó jardineira, por que estás tão triste


Mas o que foi que aconteceu
Foi a Camélia, que saiu de casa
Pegou covid e depois morreu

Vem, jardineira
Vem, meu amor
Não fique triste, seu palpite ela seguiu
Você é terraplanista
Acredita em fake news

Mamãe, eu quero
Mamãe, eu quero
Mamãe, eu quero mais ar
Mãe, me prometa
Mãe, me prometa
Mãe, me prometa: se eu morrer, não vá chorar

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Dorme, filhinho do meu coração
Leva minha alma com você nesse caixão
Sem você não aguento, nem uma semana
Como vou viver, com essa vida desumana

Criei essas paródias de maneira que houvesse um


contraste entre o início alegre e engraçado, e o fim pesado e
doloroso. Esse método, no meu entendimento, provoca uma
percepção da mensagem final de uma maneira mais intensa.

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Sinal Vermelho (esquete)

Sinal de trânsito, muito calor, poluição, barulho. Mãe pede


esmola para um casal de motoristas.
Mãe:
– Moço, meu filho tá doente. Uma esmolinha, pelo amor
de Deus!
O casal nem abre o vidro do carro. Revoltado, o motorista
diz:
Homem:
– Essas coisas me dão nojo. Olha só: usando o filho para
ganhar um trocado, num calor desses, no meio desta fumaça,
por isso que o coitado deve estar doente. Se estiver mesmo...
Mulher:
– Alguém devia fazer alguma coisa, sei lá, essa mulher não
merece ser mãe, deviam tirar a pobre criança dela... Triste isso,
viver num país onde as autoridades não fazem nada em um caso
deste tipo. Se ninguém desse nada pra essa corja, a gente não ia
ver mais isso, uma criança sofrendo nesse sol infernal...
Homem:
– A minha vontade é de dar uma porrada na cara dessa
desgraçada de merda. Isso é tortura com o próprio filho!

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Mulher:
– Olha, não vou dar nada, não. E vê se para de usar este
bebê para tirar dinheiro dos outros. Não tá vendo que está
fazendo mal a esta criança? Porra, se eu te vir de novo por aqui
eu chamo o juizado de menores. Te manda, bruxa!
O carro arranca, a mãe fica paralisada e murmura:
– Deus te abençoe...
Ela suspira, olha para o filho, seus olhos se enchem de
vida e alegria. Logo essa energia muda. Ela fala cansada:
Mãe:
– Tenho ódio dessas pessoas, ódio! Pessoas que passam
por aqui em seus carros com ar refrigerado, envolvidos com
seus probleminhas, trancados e isolados da imundície das ruas,
bem vestidos, bem alimentados, com uma casa esperando, com
lençóis limpos. Ah, lençóis limpos e perfumados, branquinhos
como aquela nuvem lá no céu, filho, lá longe da gente... Mas
meu ódio desaparece como se o asfalto fervente o evaporasse. E
não sobra mais nada. Só um peso lá no fundo da minha alma,
como que arrastando ela para o fundo escuro da terra... Então
eu te olho e você me puxa pra cima como um anjo de asas me
carregando pro céu. Meu filho, filhinho querido da mãe. Não se

363
preocupe, lindinho. Hoje eu vou conseguir dinheiro pra gente
comprar seus remédios, dormir num hotel, comer um bife,
fortalecer meu leite. Sua mãe vai dar um jeitinho, não se
preocupe... Hum... Que cheirinho é esse...? Vou comprar
também uma fralda descartável limpinha pra você. Não este
trapo imundo. Você vai ver!
Começa a trocar a fralda do bebê por outro pano.
– Ah, como eu te amo, meu filhotinho! Como pode existir
algo mais forte que o amor da mãe pelo filho? Lembra quando
seu coraçãozinho começou a bater aqui na minha barriga? E
você? Você ouvia o meu, filhinho? Ele bateu tanto quando
soube que você ia vir, bateu até mais forte do que o seu pai
batendo em mim. Deus o tenha... É, lindo, nunca tive nada na
minha vida, e Deus me deu você! Tomei um susto quando te vi.
Mas quando eu te peguei em meus braços, eu senti como se eu
tivesse comido um doce, um brigadeiro daqueles bem gostosos,
que tem um caramelo que gruda nos dentes!
Ela ri.
– Aí você começou a mamar no meu peito. Doía. Mas foi
estranho. Soube naquele instante que minha vida era sua, meu
filho. Você indefeso como eu, nós só tínhamos um ao outro,
largados neste mundo esturricado, queimado pelo diabo!

364
A mãe volta para o sinal.
Mãe:
– Uma esmolinha pelo amor de deus, para eu comprar
remédio pro meu filho!
A moça passa pela fresta da janela 1 real, a mãe pega e
volta para a calçada. E ri.
Mãe:
– Viu, filho, viu aquela moça? Ela acha que fez a boa ação
dela, agora a consciência dela tá limpinha, agora ela se considera
uma pessoa boa, que merece tudo de bom, vai direitinho pro
paraíso, sem escalas e em ônibus executivo! Agora ela vai poder
encher a boca pra falar, se for vítima de alguma violência: “Que
injustiça! Por que isso foi acontecer com uma pessoa boa como
eu, que procura sempre ajudar os pobres?”. Ela vai chegar pro
namoradinho e dizer: “Hoje eu ajudei uma mãe a comprar
remédio pro filho doente no sinal. O namorado vai responder:
“Que belo gesto, fulaninha! Você é tão prestativa! Realmente
uma alma muito pura! É por isso que eu te amo, meu
chuchuzinho!”. E eu também te amo, meu totosinho! Eu só
queria que ela perguntasse seu nome... Ah, meu filho querido, já
estou até te vendo no futuro, se formando doutor, alto e forte
como um touro, jogando aquele chapéu quadrado pra cima, que

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alegria! Você vai seguir um rumo diferente, se Deus quiser, meu
fofo! Vai poder acordar de manhã cedo em sua casinha, tomar
um café da manhã com pão fresco e leite quente com café. E
frutas! Muitas frutas de todas as cores, uma mesa cheia de frutas!
É... Acho que estou com fome! E você... Não quer mamar?
Não? Você não dá trabalho mesmo, minha joia. Sabia que você
é minha joia preciosa? Daquelas bem caras... Não tem nenhuma
pessoa no mundo mais rica do que eu, porque eu tenho a joia
mais valiosa do mundo, sabia?
Breve pausa.
Mãe:
– Que soninho gostoso, não é? Isso me lembra, hoje eu
tive um sonho, nem te contei! Foi um sonho daqueles bonitos,
daqueles que a gente quando acorda fica triste e quer voltar a
dormir para sonhar de novo de onde parou... No sonho a gente
estava no céu, no portão para entrar, aí, chegou a Virgem Maria
para nos receber... Ela olhou nos meus olhos, lá dentro. Sabe,
filho, nunca vi olhos tão doces, tão cheios de compaixão! Dava
uma calma, uma paz... De repente parecia que era eu que estava
olhando pelos olhos da Virgem! Uma coisa tão estranha, eu via
eu e você no meu colo. Me deu uma pena! A gente... Tão

366
magrinhos, sujos, malvestidos, naquele lugar tão lindo, não sei,
só sei dizer
que não combinava...
Breve pausa.
– Deu vontade de perguntar pra Virgem se tinha entrada
pelos fundos para o céu!
Outra pausa.
– A sensação passou e eu tava de novo olhando a Virgem.
Caiu uma lágrima cristalina dos olhos dela! Puxa, eu pensei, a
Virgem sofre. Como pode ela sofrer se ela está no céu? Então
ela fez um sinal e vieram dois querubins. Eles te pegaram com
carinho e levaram para tomar um banho bem gostoso. Como eu
fiquei feliz te vendo sorrindo e brincando com os anjinhos... Ah,
que pena. Não durou muito minha felicidade. Infelizmente eu
acordei neste mundo cão, para mais um dia duro e doloroso.
Mas com você ao meu lado tudo fica mais fácil, não é, filhinho?
Não quer mesmo mamar? Ah, filho. Fique tranquilo, meu
pequeno. Tudo vai melhorar, vou comprar seu remédio.
A mãe dá um longo suspiro. Algo a incomoda.
– E este mau cheiro, que não passa...

367
A Grande Busca: existem verdades inquestionáveis? (teaser
do próximo livro)

Esta parte do livre é diferente de todo o resto. Coloco-a


como exemplo do poder da mente livre e criativa, que questiona
qualquer conhecimento. É uma leitura bem densa e pesada, e
coloquei perto do fim para não incomodar. Recomendo que só
seja lida se houver forte curiosidade em relação ao tema da
Verdade, e mente aberta para lidar com a possibilidade de serem
verdadeiras certas conclusões inteiramente novas e muito
distantes do que se sabe e se aceita hoje em dia. A propósito,
meu próximo livro abordará esse assunto com a profundidade
que ele merece.

368
Meu caro leitor ou leitora. Devo fazer um mea-culpa aqui.

Tanto enfatizei que não existem verdades inquestionáveis,


que só sei que nada sei, e que as verdades são doenças mentais,
que, para não cometer nenhum tipo de engano e levar os leitores
ao erro, mergulhei profundamente na busca da Grande Verdade,

A Verdade Absoluta e impossível de ser falsa em


quaisquer circunstâncias.

Neste profundo mergulho que dei, infelizmente, e, ao


mesmo tempo, felizmente, encontrei algo.

Infelizmente, porque sempre achei que uma mente 100%


livre necessitava da total inexistência de Grandes Verdades
(passo a chamar de GV).

Felizmente, porque encontrei uma base sólida para usar


como pedra fundamental para apoiar a estrutura de
conhecimentos que fui adquirindo durante décadas de muita
curiosidade e amor pela vida.

Então, em um dos intervalos da trabalhosa e gratificante


feitura desta minha modesta expressão de gratidão por tudo que
eu recebi de presente da existência, e que se manifesta neste

369
livro, surgiu do nada, da intuição, do Toque do Criador, como
um sussurro em meu ouvido:

“Você está consciente agora.”

Eu estou consciente agora. Isso é obvio. É tão óbvio que


só pode ser uma GV.

Será?

Existe alguma possibilidade, mesmo que infinitesimal,


acima de 0%, de essa constatação não ser verdade?

Pensei. Muito. Não há nenhum caso possível de esse fato


ser falso. Toda vez que eu tentar perceber não estar consciente,
é necessário que eu esteja consciente para tentar perceber.

Mas, que curioso! A GV era tão simples, e eu nunca a havia


percebido, em tantos anos de busca!

Obviamente, essa GV só vale para mim. Não posso ter


absoluta certeza de que outra pessoa está consciente.

O prezado leitor pode se ofender quando eu escrevo que


não posso ter certeza da consciência dele neste instante; mas não
se ofenda, querido amigo ou amiga, pois você pode dizer
exatamente a mesma coisa em relação a mim.

370
Você tem certeza absoluta de estar consciente agora, mas
não pode ter certeza absoluta de que eu estou consciente agora.
Posso estar dormindo, anestesiado, posso ser uma simulação, ou
mesmo já ter falecido, quando você estiver lendo estas humildes
palavras.

Algumas pessoas, a quem apresentei esta descoberta,


argumentam: você está repetindo o que há muito se sabe, desde
que Descartes escreveu o famoso Cogito ergo sum (penso, então,
sou; existo).

Não, não é isso. Como Bertrand Russel argumentou,


Descartes, na verdade, só poderia dizer que existe pensamento.
Não que seria um “eu” de Descartes, que estaria pensando.

E eu digo, não poderíamos estar conscientes sem nada


pensar? O que seria o pensamento no conceito de Descartes?

O que percebi foi algo mais profundo.

Existe Consciência.

É tão óbvio, não é? Como uma verdade absoluta deve ser.

Mas tem grandes implicações, quando percebemos que é


uma verdade absoluta.

371
Esta é a primeira das três Verdades Fundamentais e
Absolutas que descobri e serão apresentadas em meu próximo
livro.

Cheguei a elas a partir da GV “eu estou consciente agora”.

Fui puxando o fio e me aprofundando nesta GV, e foi


surgindo um mundo novo e incrível de percepções e insights
sobre a existência, o universo, o conhecimento científico e a
filosofia.

Por exemplo:

Vamos analisar mais profundamente a GV “eu estou


consciente agora”.

A consciência só existe no agora. Eu não estou consciente


no passado nem no futuro. O passado é meu agora, antes de
meu agora. O futuro é meu agora, depois de agora.

Nenhum dos dois é uma GV, pois o passado só existe na


memória, e o futuro só existe como possibilidade.

O que existe, inquestionavelmente, é minha consciência


AGORA.

Porém, Bertrand alertou para o fato de que a consciência


não pertence a um eu. A consciência pertencer a algo ou alguém
372
não é uma GV. Pode ser que ela exista independentemente do
eu.

Não deixa de ser uma GV o “eu estou consciente agora”,


porque o “eu” é necessário para diferenciar o “eu” de outra
pessoa. Mas não é uma Verdade Fundamental.

É melhor simplificar para “existe consciência agora”.

E quanto ao agora, que limita a consciência ao momento


presente em “existe consciência agora”?

A (minha, ou sua) consciência só é GV no momento


presente. Eu não posso estar consciente no passado ou no
futuro, porque é ela que define o agora da gente.

Mas olha só, que estranho: para mim ou para o prezado


leitor, o agora é um contínuo sem início nem fim.

Quando fiz cirurgia da vesícula, recebi a anestesia e tentei


prestar atenção na transição entre o estar consciente e o não
estar consciente.

O anestesista disse para eu contar de 10 até 1, e eu: “10, 9,


8...” – alguém estava me cutucando, era a cirurgiã. Eu já estava
no quarto do hospital depois de duas horas de uma cirurgia
difícil. Percebi claramente o agora contínuo que existe, sem que

373
eu me recorde de algum início. E cujo fim é impossível, porque,
para ser percebido como o fim da consciência, a consciência
teria que estar consciente de não estar mais consciente. Uma vez
que percebo a consciência, ou seja, a consciência se percebe, a
consciência se percebe se percebendo, e esta recursividade, por
ser infinita, não tem início nem fim.

Por incrível que pareça, uma semana depois comprei o


livro O Universo Autoconsciente, de Amit Goswami, e conheci uma
representação da eternidade que apresentava grande semelhança
com minha visão dos espelhos voltados um para o outro – uma
representação tão antiga, que foi retratada na tumba de
Tutancâmon, sendo, até hoje, repassada por sociedades secretas,
cuja tradição perdura por séculos:

374
O uróboro

Uróboro: a serpente que engole o próprio rabo.


Entalhada na tumba de Tutancâmon.

375
O uróboro, fora dos círculos herméticos, não é bem
compreendido. Seu significado varia de autor para autor.

Alguns o compreendem como símbolo da eternidade,


outros, do cosmos.

Para mim, ele é o símbolo do todo, ou, de tudo que existe,


ou, da Consciência.

A Consciência é a cobra mordendo o próprio rabo, é o


espelho que reflete a si.

Então vamos recapitular:

“Você está consciente agora”. Como é impossível você se


deparar com esse enunciado e ele ser falso, ele é uma verdade
absoluta. Para você nunca será falso, em qualquer hipótese que
seja.

Como é sempre verdade, podemos formular como “você


está consciente”.

Como ela é mais do que o aquilo que você considera como


sendo você, pois existe a consciência de você e de tudo, ficamos
com:

Verdade Fundamental e Absoluta 1:

Existe Consciência.
376
Como este livro não pretende ir fundo nesse tema, todas as
explicações e deduções vou deixar para fazer em meu próximo
livro, mas já vou adiantar aqui as três verdades que descobri:

377
378
(Este sistema é completo, e também consistente, mas não
contradiz os teoremas de Gödel, pois, na verdade, são sistemas
de hierarquia entrelaçada. Consciência existe porque a
Autoconsciência divide a Consciência nela, e em tudo que não é
ela; e o que não é a Consciência é a Consciência sem
Autoconsciência.)

Essas três Verdades Fundamentais e Absolutas fornecem


uma base 100% sólida para apoiar o conhecimento científico
humano, que está hoje em dia baseado na diferença entre
observador e observado.

Por estar então apoiado em uma base falsa, o


conhecimento científico produz uma série de paradoxos, que
são solucionados por meio dessa troca de base para o referencial
da consciência.

Assim, precisamos trocar o observador e o observado pelo


observando.

Daqui para a frente, os pesquisadores que trabalharem


nessa nova base vão se sobressair em relação aos que estão na
base antiga, efetuando descobertas incríveis e que vão
revolucionar a forma como entendemos o universo.

379
Desse modo, acontecerá uma espécie de seleção natural
dos cientistas e a nova base se firmará como o melhor apoio e
ponto de partida para a humanidade avançar muito além do que
podemos imaginar.

A seguir, mostro um pequeno exemplo de como a base


fundamental da consciência pode nos trazer um novo
entendimento sobre mecânica quântica.

Obs: os resultados dos experimentos quânticos - já aceitos


pela comunidade científica - “escolha antecipada” e “borracha
quântica” dão suporte para a teoria das Verdades Fundamentais
e Absolutas proposta nesta obra.

380
Paradoxo do gato de Schroedinger observado por
dois observadores à mesma distância da caixa, e
distantes entre si
Quando eu estudava a mecânica quântica, me fascinava o
comportamento estranho das partículas subatômicas, que
exibiam um comportamento de onda antes de serem
observadas, e depois, um comportamento de partícula.

O experimento do gato de Schroedinger é uma maneira de


trazer ao macroscópio o que acontece no mundo subatômico.

Suponhamos que exista um gato dentro de uma caixa que


não permite a passagem de nenhuma informação ao mundo
exterior, e, junto com o gato, um aparelho que efetua a medição
de um evento quântico cuja previsão é impossível. E
dependendo do resultado dessa medição, uma ampola de
veneno pode ser quebrada e o gato morrerá.

Então existe uma probabilidade de o gato estar morto, e


outra de ele estar vivo.

O entendimento físico é que existem duas ondas de


probabilidade que definem se o gato está morto ou vivo.

381
Quando a caixa se abrir e um observador vir o estado do gato,
essa definição ocorrerá.

Segundo os físicos, a onda probabilística vai se “colapsar”


em um gato morto ou vivo.

Nunca me desceu bem essa história de colapso de onda,


então foquei nesse experimento do gato. O que eu poderia ver
de novidade se eu focasse na consciência ao realizar o
experimento?

Resolvi investigar o que aconteceria se a caixa que contém


o gato fosse aberta para dois observadores à mesma distância da
caixa, e distantes entre si. Quem vai colapsar a onda? Os dois ao
mesmo tempo. Será?

382
Imaginei esta configuração:

Ao abrir a caixa, a informação sobre o estado do gato


chega, ao mesmo tempo, para mim, e para o ET que está a um
ano luz de distância da minha pessoa.
DEZ ANOS LUZ DEZ ANOS LUZ

Então os dois veem ao mesmo tempo, digamos, o gato


vivo, correto?

Vamos ver no referêncial da Consciência “do Francisco”


(vou parar de usar aspas que o leitor já entendeu que a
Consciência não pertence à representação que existe nela, que é
a pessoa que conhecemos como Francisco. A Consciência é o
DEZ ANOS LUZ
observador e o observado).

Hipótese:lta tecnologia do
Ilustrações do querido Hélio Júnior – link para contato nos agradecimentos.

Primeiro, vamos imaginar o seguinte cenário:

Existe uma caixa do experimento de Schroedinger no


planeta do ET, a que nenhum dos ETs tem acesso em tempo

383
algum. Apenas eu, daqui da Terra, consigo ver, em meu
monitor, a imagem dela, que demorou dez anos para chegar até
mim. A caixa que eu vejo está no passado daquele planeta, os
ETs estariam vivendo o agora dez anos depois daquilo que estou
vendo.

Imaginemos, também, que além de uma ampola de veneno


que seria liberada por um evento quântico imprevisível, esse
evento abriria, caso ocorresse, uma ampola com um vírus mortal
que iria dizimar a população do planeta, dez anos depois que ele
fosse liberado.

384
Então, veja só: a minha observação do estado vital do gato
efetua o colapso da função de onda probabilística, não só em
um gato vivo ou morto, como também no destino da população
inteira do planeta dez anos depois!

Só quando eu observo o gato morto, no meu tempo


presente – estou observando, aquilo está em meu agora – a
destruição total da civilização extraterrestre se define.

Isso quer dizer que:

O evento que vejo ter acontecido dez anos no passado do


meu momento presente é, também, o momento presente da
civilização extraterrestre. Eles não estão vivendo o futuro dez
anos após aquilo que estou vendo. Eles estão vivendo aquilo que
estou vendo, pois estão deslocados dez anos no meu futuro.

O que observo agora, no universo em que o Francisco é o


observando (e o leitor, da mesma maneira, em seu universo), é o
agora em todo o universo. Como o que eu observo determina o
colapso da função de onda probabilística no meu tempo
presente de tudo que eu observo no planeta a dez anos luz de
mim, seus habitantes não podem estar vivendo um futuro que
eu não observo. Esse futuro existe apenas como onda
probabilística.

385
Esta conclusão é inédita, prezado leitor. E revolucionária.
Muda toda a física como conhecemos e explica os paradoxos da
mecânica quântica.

Este é o poder que vem com o uso da base certa para o


conhecimento científico.

Quem estiver com a mente preparada para receber uma


ideia tão além do senso comum, porém claramente verdadeira,
terá grande vantagem sobre aqueles que a negarem e tentarem
obstruí-la – sem sucesso, digamos de passagem – pois é a
verdade que nos vai levar a descobertas fantásticas sobre a
natureza do universo.

E em relação ao experimento que propus, do gato de


Schroedinger visto por dois observadores, todos à mesma
distância entre si?

Imagine que eu e o ET temos 30 anos de idade.

Quando eu vejo o estado do gato no meu monitor, estou


observando o ET em seu tempo presente, mas com 20 anos de
idade. Os dez anos de acontecimentos que faltam para o ET
chegar a 30 existem, para mim, apenas como ondas
probabilísticas.

386
Porém, também estou vendo o estado vital do gato em
meu presente. Isso significa que, quando a informação chega até
a mim, o evento quântico que estou observando deixa de ser
uma onda probabilística e se torna definido para todo o universo
em que o Francisco é o observando, ao mesmo tempo. Assim
como o ET de 20 anos.

Quanto mais longe da gente, mais deslocado no futuro do


nosso agora está o tempo presente de um observando.

Se houvesse um observando infinitamente longe de você,


ele estaria observando o fim do universo. Ele estaria vendo uma
imagem no monitor a qual levou um tempo infinito para chegar
até ele, então, você está no início do universo. Mas para ele,
você também está no fim do universo. Se houvesse um
observando infinitamente distante de você, você estaria ao
mesmo tempo no fim e no início do universo, e ele também.

De fato, há um observando infinitamente longe de você,


no início e no fim do universo.

É você.

387
Qualquer evento quântico que ocorre, em qualquer lugar
do universo, é definido agora, pois o observando não tem
presente nem futuro. Só o eterno agora.

Não se trata de nenhum tipo de crença, muito pelo


contrário. As Verdades Fundamentais Absolutas são as únicas
certezas que podemos ter, muito mais que qualquer outro
conhecimento científico. A Consciência existe antes de qualquer
pensamento, raciocínio, lógica, consideração, avaliação, cálculo.

Só existe o eterno agora e o infinito aqui, a qualquer tempo


e em qualquer lugar do universo; universo que é a Consciência,
com seu par idêntico, a Autoconsciência, neste maravilhoso e
misterioso mundo que, sem nenhum motivo ou explicação,

388
Capítulo 4 Agradecimentos

Obrigado, Gilson Victor. Ser seu amigo é uma honra que


não mereço. Se não fosse você com sua ajuda fraterna na hora
que mais necessitei, escolhendo os prints, e realizando esta
revisão tão competente e minuciosa, que agora tenho receio de
escrever qualquer coisa, este Livre não seria o espelho do meu
sonho. Essa catástrofe me trouxe muita coisa boa, entre elas,
conhecer as massas... desculpe, conhecer quem é
verdadeiramente meu melhor amigo.

https://www.instagram.com/gilsonvictor_oficial/

Obrigado, meu filho Bruno. Por me ensinar tanto sobre o


amor.

Obrigado Helio Júnior, pela cortesia das ilustrações.

https://www.instagram.com/helio.gjunior/

E um obrigado especial ao meu anjo da guarda, minha


psicóloga Andrine Mignoso, que operou o milagre da cura que
me permitiu me reconstruir melhor que antes. Em duas sessões.
https://www.instagram.com/andrinemignosopsi/

389
390
Capítulo 5 Sobre o autor
Este cara sou eu.

Nasci na cidade de Belém da Judeia, agora chamada de Aracaju,


no ano VXI do calendário Toscano, no dia 1º de narço. Foi num
humilde estábulo, nome pré-aracajuado que se dava a
maternidade, e recebi de presente, de três gays gagos, ouro,
incenso e mirra. Ouro, tudo bem; mas incenso e mirra? Nem sei
que porra é essa mirra. Podiam ter dado a nova Tecpix.
Beberam todo o refri, e vocês sabem como é difícil encontrar
guaraná em Belém na noite de Natal.

Na minha infância, tive algumas dificuldades que me


fizeram buscar desesperadamente o entendimento do mundo,
pois assim eu conseguiria me proteger melhor. Juntando com
uma curiosidade natural e amor (atenção) pela vida, entender o
universo sempre foi meu norte.

391
392
Por causa da profissão do meu pai, domador de camelos e
engenheiro de petróleo, tive a oportunidade de morar no Iraque,
dos 7 aos 10 anos de idade. O Iraque, na época, era um país
muito fechado, e sua cultura milenar não havia sido modificada
por outras culturas de países dominantes. Como eu ainda estava
na fase de construção das bases mentais onde se apoiariam meus
futuros conhecimentos, por estar com 7 anos, absorvi aquela
cultura como o arroz absorve o caldo do feijão, que vai por
cima, percebendo que existem várias maneiras de se entender o
mundo, de entender as pessoas. Além disso, como diversão para
crianças, só havia um desenho animado de três em três dias,
importado da URSS, sobre uma criança que usava a criatividade
para ajudar o pai em sua fazenda.

Mas minha escola, que era para os brasileiros residentes,


tinha uma biblioteca. Então minha única diversão era ler. E eu
gostava.

Infelizmente, ao voltar para o Brasil, fui vítima de bullying


por não ter os mesmos interesses que tem uma criança comum.
Inclusive me chamavam de “estranho”. Eu devia ter feito
doutorado.

393
394
O que é estranho causa receio. Assim, eu era excluído das
atividades sociais. Eu não entendia o que eu tinha de errado e
sofria por isso. Mas assim tive mais tempo e incentivo para
entender o mundo.

Comecei a ler todos os clássicos da literatura, sentia


urgência em desenvolver minha mente, que já estava além da
média da minha idade (não é de se estranhar). Um fogo de
curiosidade me movia. Não aceitava viver num mundo tão cheio
de mistérios.

Mais tarde cheguei até a desconfiar que meu QI também


pudesse ser acima da média (autoestima é tudo), então, fiz o teste
da Mensa, a sociedade internacional para pessoas de alto QI, e
acabou que obtive o resultado máximo na minha faixa de idade.
Toma, Esquizo (metido).

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396
Passei um tempo nessa sociedade. E foi muito importante,
porque fiz amigos inteligentíssimos de outras áreas do
conhecimento, de mestre em artes marciais a hipnotizador.
Porém, percebi que a maioria que estava lá não parecia possuir o
que hoje eu entendo como inteligência. Isso me fez entender
que o teste selecionava as pessoas capazes de perceber padrões
em formas simples. Mas... E quanto a compreender padrões em
ideias complexas, como na arte, nas relações humanas, no
comportamento da sociedade, em todo ramo de conhecimento?
As poucas amizades que preservei do meu período lá têm essas
características, mas a maioria não.

A chama que me consumia pela busca de entender o


mundo percebeu que, por ter feito engenharia, desenvolvi
apenas minhas funções cerebrais referentes aos mecanismos da
natureza. De repente, história, arte, linguagem, espiritualismo,
metafísica, e tudo que não é exato, eram meus interesses.

Mas o assunto criatividade não era meu foco. Eu queria


entender o mundo, não pensava em criar, nem mesmo me
achava capaz disso. Mas havia algo embrionário, se
desenvolvendo.

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398
Um dia me recomendaram um grupo no Facebook voltado
para publicitários e profissionais do marketing, e que funcionava
como um jogo. Eles postavam uma imagem fora do comum, e
nos comentários, os jogadores postavam um título para ela. O
título mais curtido seria o vencedor e o ganhador teria seu nome
postado sobre a foto com o título dele. Era um jogo de
criatividade. Eu genuinamente achava que não tinha como
competir com profissionais do ramo, mas era divertido, e
comecei a participar.

Exemplo:

Este foi um dos que consegui mandar o título mais criativo.


A imagem é engraçada, quem escreveu parece ter se dirigido aos
cães, o que não faz sentido.
399
400
Usando o que ainda era uma semente do meu método
criativo, me ocorreu uma ideia que, apesar de fazer todo sentido
como título, não era nada trivial encontrar o padrão complexo

que as relacionava.

A complexidade está em perceber que ao se pronunciar


“rottweiler” a pronúncia fica muito semelhante a “rot vai ler”.

Foi então que percebi que relacionar ideias muito


diferentes encontrando um padrão aparentemente desconexo
que as une diz muito mais sobre inteligência que um teste de QI.

Para minha surpresa, comecei a ganhar com meus títulos


em várias postagens, passando a me ver como pessoa criativa, e
o significado e importância dessa qualidade.
401
402
Minha paixão pela criatividade estava tão grande, que me
motivou a criar, intuitivamente, um exercício para desenvolver
meu lado criativo.

Em vez de apenas criar títulos, passei a fazer comentários


criativos em notícias. O grande diferencial desse exercício é que
eu recebia feedback de desconhecidos, ou seja, neutro. Assim fui
modelando meu processo criativo pela resposta que o senso
comum me dava.

Minha experiência com meditação, que é um exercício de


observação dos próprios pensamentos (para de repetir isso,
caramba), me ajudava a estudar a minha própria mente para
entender o processo criativo que levava à criação de uma nova
ideia – ideia que era validada pela aceitação do mundo exterior.

Finalmente cheguei a um ponto em que consigo expressar


como funciona o meu processo criativo, de modo a motivar
você a desenvolver sua criatividade e estar pronto para a maioria
das novidades que estão chegando com força.

403
404
De tanto criar comentários que as pessoas também tinham
como interessantes, vi que comecei a ser percebido como
detentor de uma capacidade criativa acima do normal. Acabei
até concedendo entrevistas para vários meios de comunicação
conhecidos em virtude dessa repercussão.

Tenho uma obra de milhares de comentários criativos, os


melhores (mais de 600) estarão aqui, selecionados por um
auditor independente (valeu, Gilson), para que você perceba,
enquanto lê, o uso do meu método criativo.

E o nível de criatividade que proponho de se atingir não se


restringe a comentários e trocadilhos. O processo funciona em
qualquer campo do conhecimento.

Sendo reconhecido como muito criativo por alguns


mentirosos, tendo uma vasta obra criativa publicada e
disseminada nas redes sociais, uma base de conhecimentos
ampla e diversificada, e dominando esse processo criativo,
acreditei que era chegada a hora de passar para o máximo de
pessoas possível o método que uso, e a importância vital que
tem ser criativo neste momento em que vivemos.

405
406
Prefácio

Parabéns, você chegou ao início (ninguém, absolutamente


ninguém chegou aqui, ô, sem noção! Toma jeito, procura uma ocupação
decente.). Vamos ver então. Querido leitor, ou leitora, vamos
mostrar que o Esquízola está errado? Se você chegou até aqui,
me ajude a mostrar que esse meu parêntese está errado! Quando
puder, me faça o favor de ir a alguma rede social, no meu perfil,
e comentar, no último post que eu tiver feito, a frase código:
“Viva Robinson Crusoé!”. Ficarei muito grato!

Bem, este é o início do seu próprio livre, da sua jornada


para além do Bojador, para descobrir o seu Novo Mundo e se
adaptar a ele com a ajuda da criatividade.

Com amor e humor,

Francisco.

407
Apêndice

Pelo menos esta obra ainda tem apêndice.

408
Na noite do meu aniversário ouvi a voz de Mefisto, no
escuro.

"Então percebes a morte, e a cada ano que passa, mais


distantes teus sonhos, nenhum deles vingou.

Lembras quando, jovem forte, previas o uso da graça que


recebeste de graça, para ter dinheiro, e amor?

Hoje é teu dia de sorte. Neste próximo ano só terás alegria.


Na minha companhia, saberás o teu Norte. Um ano de euforia,
tudo que já desejaste.

Em troca, não quero aborrecer-te, peço só ninharia. No


próximo ano, neste mesmo dia, quero que venhas ao meu forte
para, em minha moradia, descobrires quem é teu benfeitor ."

Parecia um bom acordo. O diabo não é tão feio quanto se


pinta, afinal.

No ano passado ganhei mais dinheiro que meu pai em toda


sua vida.

Perto do meu aniversário foi ficando ruim, fui perdendo


muito, todo dia, não dormia, não comia, até chegar o momento
em que tive que desistir, porque senão eu morria, e meu filho
precisa de mim.

409
Aconteceu alguma coisa que não me lembro.

Eu estava no inferno, no meio das chamas, agonizando de dor, bem


perto do centro, o lugar que o diabo habitava.

Completamente só, ardendo em sofrimento, queria encontrar esse ser


maligno e perguntar “Por quê?”.

Fui em direção ao centro e, por entre as labaredas, vi aquele olhar que


era puro ódio e desprezo, me encarando.

Continuei em direção a ele e percebi que ele também se dirigia a mim.


Isso me deu a esperança de que ele me dissesse qualquer coisa que fosse que
eu precisava entender.

Então, cheguei frente a frente com o Senhor de Todo Mal, no centro


do inferno.

Pois bem, no centro do inferno, no lugar mais terrível e temido do


universo, só existe um grande espelho. E na minha frente o diabo, que era
apenas meu reflexo.

Aí eu entendi. E da minha boca (e da dele) saíram as únicas


palavras que eu, Francisco José Espínola, poderia dizer, depois de todo o
meu mundo ser destruído:

“Então você é o diabo.


410
Pensei que era mais feio, mas você até que é bonitão, hein? E esses
olhos verdes, lente ou natural? Seu filho teve a quem puxar, aliás, por que
você não vai dar um abraço nele e sai da minha frente? Quero ver o que tem
depois desse espelho. E aproveita pra usar seus poderes diabólicos pra
ganhar dinheiro e botar um ar-condicionado aqui, que este lugar é mais
quente que o centro do Rio no verão.”

Parece que, depois disso, eu saí da minha frente.

Para ir além do Bojador eu tinha que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que

Espelhou

O céu.

411
Não criei essa história, ela apenas apareceu na minha
mente, no pior momento da catástrofe que passei.

Por meio dela, e com a ajuda da terapia que fiz, entendi o


que sobra em mim quando tudo está perdido.

Meu propósito, o fogo eterno que me motiva, é o amor


criativo.

Me reconstruí amparado nessa fonte de energia


indestrutível.

Passei por um processo de metamorfose mental muito


semelhante ao da lagarta, que se digere quase por completo para
que, depois, o que sobrou - aquilo que não pode ser destruído -
reconstrua o novo ser.

Que não necessita mais rastejar, pois é capaz de voar para o


céu.

E aqui está finalizada minha realização.

(Meu pau na sua mão.)

Puta que te pariu, Esquizo.

(não fale assim de nossa mãe!).

412
Vou fazer uma lobotomia e arrancar você do meu cérebro.
No lugar vou encher de mirra, seja lá o que for essa porra, deve
ser melhor que você!

(Cuidado, se você errar vai acabar vendo uma tez da manhã vermelha
viu? Dá aqui um abraço.)

Vá abraçar uma árvore, sequelado.

(Ah, vai. Dá um abraço, eu sei que você quer.)

Não. Se você quiser, me abrace.

(Hahaha, seu emburradinho lindo!)

Sai daqui.

(Não saio.)

Sai sim.

(Não saio. Dá um abraço?)

Não quero.

(Quer sim.)

Livre!

(Livre!)

...

413

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