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Porto
Universidade Zambeze
Faculdade de Ciências Sociais e Humanidades
Curso de Licenciatura em Ciências da Comunicação
Texto de Apoio da Disciplina de Técnicas de Redacção Jornalística
1. A Profissão do Jornalista
Obviamente, os jornalistas também não devem aproveitar-se das suas funções para promover
amigos, perseguir inimigos, pagar favores ou fazer propaganda. Isto não significa que um
jornal não possa veicular opinião. Pelo contrário. Um jornal pode opinar sobre os
acontecimentos, deve abrir as suas páginas às polémicas, em espaços apropriados.
O jornalismo é uma profissão atractiva. Basta pensar-se no elevado número de cursos de
jornalismo e ciências da comunicação que existem em todo o mundo, que atraem milhares de
alunos.
Ser-se um bom jornalista é um desafio. É difícil. A profissão exige elevadas capacidades
profissionais. Exige, por vezes, sacrifícios físicos. Exige elevados conhecimentos e uma boa
cultura geral. Exige atenção à actualidade, domínio dos assuntos e discernimento para
distinguir o essencial do acessório. Exige performance. Exige compromissos éticos e
capacidade de relacionamento inter-pessoal. Exige conhecimentos de direito e deontologia
para se saber até que ponto a actuação de um jornalista pode afectar o seu órgão de
comunicação. Exige capacidade de comunicação na língua materna e em línguas estrangeiras,
Exige contenção para não se usar mal o extraordinário poder de construção da actualidade.
Exige o domínio da informática.
Exige capacidade de obtenção de informação credível, em documentos, junto de fontes de
informação, na Internet.
As qualidades de um bom jornalista não se ficam por aqui. Um bom jornalista deve ser
curioso, persistente, imaginativo e ousado. Deve estar disposto a desafiar estereótipos, expor
mitos e mentiras. Deve lutar para que o jornal cumpra os seus compromissos com o leitor.
Deve ter suficiente auto-estima para evitar promiscuidades indesejáveis com as fontes de
informação. Deve acompanhar o devir do mundo, tal como o seu jornal, para evitar tornar-se
num fóssil. Deve saber que amizade, companheirismo e camaradagem, mesmo com outros
jornalistas, não podem desembocar em deslealdades para com o seu jornal, em falta de
espírito competitivo, em cumplicidades indesejáveis ou corporativismos ancilosados. Deve
ser inteligente, ponderado e criterioso. Deve ter espírito de iniciativa e capacidade de resolver
problemas e de transpor obstáculos.
1.2.Estatuto
A legislação que rege o jornalismo, bem como as regras deontológicas da profissão, fundam-
se no binómio liberdade-responsabilidade. Pressupõe-se que uma pessoa é livre, dentro dos
condicionalismos impostos pela vida em sociedade, e que tem de assumir a responsabilidade
por aquilo que faz dentro dessa esfera de liberdade. No que diz respeito ao jornalismo, a
principal liberdade de que este beneficia é a liberdade de expressão. A liberdade de expressão
compreende a liberdade de receber ou comunicar informações ou ideias, sem ingerência das
autoridades públicas e sem consideração de fronteiras. "Toda a pessoa tem direito à liberdade
de expressão. Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber ou
comunicar informações ou ideias sem que possa haver ingerência das autoridades públicas e
sem consideração de fronteiras".
O direito humano à informação, por seu turno, consiste na liberdade que cada indivíduo tem
de "investigar e receber informações e opiniões e de difundi-las, sem limitação de fronteiras,
por qualquer meio de expressão".
Os direitos dos jornalistas são regulados pela Lei de Imprensa e pelo Estatuto do Jornalista.
Os principais direitos dos jornalistas são os seguintes: • Liberdade de expressão e criação; •
Liberdade de acesso às fontes de informação; • Direito de acesso a locais públicos para
cobertura jornalística; • Direito ao sigilo profissional; • Cláusula de consciência, que dá ao
jornalista a garantia de que não pode ser obrigado a desempenhar tarefas e/ou a subscrever
posições contrárias à sua consciência;
2. A escrita jornalística
2.1. A redacção jornalística deve guiar-se pelos princípios da brevidade e da clareza
"Escrever é cortar palavras". Esta frase condensa muito do que significa escrever com estilo
jornalístico. Usualmente, advérbios de modo e expressões como "por outro lado",
"entretanto", "com efeito", "aliás" e similares são presenças desnecessárias no enunciado
jornalístico.
Ser breve representa uma mais-valia para o enunciado jornalístico. Deve evitar-se a
prolixidade. Não se pode cair na irrelevância informativa. Devem evitar-se orações e
parágrafos longos e confusos. Pelo contrário, devem preferir-se frases curtas, escritas na
ordem directa (sujeito - predicado - complemento). O enunciado jornalístico deve, ainda, ser
vivo e possuir um sentido humano da realidade. Na sua construção, deve empregar-se um
vocabulário simples (mas não simplório) e verbos fortes, escritos na voz activa e, se possível,
no presente do indicativo. Cada frase não deve conter mais do que dois conceitos;
preferencialmente deve conter apenas um. Idealmente, os parágrafos não devem ter mais de
30 palavras (200 caracteres), no máximo 35; as frases não devem possuir mais de 17
palavras, no máximo 20. Mesmo que estes sejam limites difíceis de cumprir, o jornalista deve
tê-los em mente quando redige. Não são números aleatórios. Pesquisas sobre a velocidade de
leitura demonstraram que quanto mais palavras as frases têm mais difícil se torna a sua
apreensão e retenção. As frases começam a tornar-se cada vez mais difíceis de reter e
compreender de imediato quando ultrapassam as 18 palavras de duas ou três sílabas. Os
parágrafos tornam-se menos atraentes quando ultrapassam 27 palavras de duas ou três
sílabas. As palavras com mais de três sílabas tornam-se mais difíceis de reter e compreender
de imediato do que as palavras curtas.
2.2.Fontes e dados
Toda e qualquer entidade que possua dados susceptíveis de ser usados pelo jornalista no seu
exercício profissional podem ser consideradas uma fonte de informação.
Quanto ao tipo: humanas (as fontes humanas devem ser escolhidas pela sua qualificação
para falar sobre algum assunto, pela sua competência e credibilidade, pela oportunidade e
A fonte tem direito a ser correctamente referenciada. Existem vários níveis de identificação
das fontes, de acordo com os compromissos assumidos pelo jornalista:
1. On the record (atribuição directa, para publicação) – A fonte é identificada e tudo
o que ela profere pode ser objecto de enunciação jornalística. É a regra comum e
aquela que deve ser usada quando a fonte não pede confidencialidade.
2. On Background/not for attribution (atribuição com reserva) - A fonte não é
totalmente identificada, embora sejam dadas algumas pistas superficiais sobre os
meios em que ela se movimenta (exemplo: "fonte próxima do presidente da
República", "um vereador", "um dos participantes na reunião", etc.). As informações
que uma fonte on background fornece podem ser objecto de enunciação jornalística.
3. On deep background (atribuição com reserva total) – Não só a fonte não é
identificada como também não pode ser referido o meio em que ela se movimenta,
embora as informações fornecidas pela fonte possam ser difundidas. (exemplos:
"fonte bem colocada", "fonte bem informada", "fonte autorizada", etc.). Também é
possível usar outras soluções enunciativas (exemplos: "sabe-se", "segundo julgamos
saber", etc.). Uma outra forma de atribuição com reserva total é citar sem identificar
qualquer fonte, directa ou indirectamente (exemplo: "A taxa de IVA aplicada aos bens
essenciais vai ser reduzida pelo Governo, mas ainda não estão definidos os novos
valores").
4. Off the record (confidência total) - A fonte não pode ser identificada e a informação
que ela fornece não pode ser divulgada. Contudo, esta informação auxilia,
frequentemente, o trabalho do jornalista. Quando é solicitado a manter o off the
record, o jornalista pode tentar obter, junto de outra fonte, a confirmação ou
desmentido da informação original. Quando a informação originalmente obtida em off
the record é, posteriormente, confirmada por outra fonte, on the record, on
background ou on deep background, essa informação pode ser difundida.
Excepções à identificação das fontes
O jornalista não deve revelar, mesmo em juízo, as suas fontes confidenciais de informação,
nem desrespeitar os compromissos assumidos, excepto se o tentarem usar para canalizar
informações falsas. (Código Deontológico Português, no artigo 6)
Explicar sempre por que é que a fonte quer manter o anonimato, de forma que seja
claramente justificável para o leitor;
Tentar confirmar as informações de uma fonte anónima junto de outras fontes, mesmo
que seja necessário manter todas elas no anonimato;
Para aumentar o grau de certeza do enunciado, um jornalista deve procurar contactar
várias fontes a propósito da mesma informação, nomeadamente quando o assunto é
problemático;
Quando a informação põe em causa alguém ou alguma instituição, deve
obrigatoriamente ouvir-se esse alguém ou essa instituição;
O jornalista deve evitar a difusão de informação quando funciona simultaneamente
como jornalista e fonte interessada. Eticamente, é mais correcto pedir a um
companheiro para fazer o trabalho.
Dominar a língua escrita passa por um estudo aturado. Passa também pela prática. É preciso
escrever, escrever muito. E passa também pela leitura. É muito estranho, por exemplo, que
um aluno de jornalismo não leia quotidianamente um ou mais jornais de informação geral.
Como podem os alunos querer saber, conhecer, dominar a actualidade, o jornalismo e as
técnicas jornalísticas dos meios impressos se não lêem jornais?
Escrever sobre o que se sabe e contar bem o que há para contar representam, em última
análise, os principais ingredientes da enunciação jornalística. Mas pode ser-se criativo, pode
contar-se bem o que há para contar, respeitando-se as regras que fazem do texto jornalístico
um texto informativo capaz de chegar a um grande número de pessoas.
primeiro-ministro a falar numa conferência de imprensa a que o jornalista assiste são fontes
primárias. O livro que cita o livro, o político que revela ao jornalista aquilo que outro político
lhe disse, são fontes secundárias. O jornalista deve procurar, sempre que possível, privilegiar
as fontes primárias, pois normalmente são mais fidedignas.
Qualidades de uma boa fonte
Uma fonte pode ter uma ou várias qualidades que fazem dela uma boa fonte. A
representatividade, a credibilidade e a autoridade são algumas delas. (SOUSA: 2001,
p.71)
- A representatividade de uma fonte prende-se com o número de pessoas que ela
legitimamente representa. Uma fonte que só se represente a si mesma poderá não ser tão boa
quanto uma fonte que represente várias pessoas, mas isto depende, obviamente, de quem é a
fonte. De qualquer maneira, o princípio é o de que quanto mais pessoas uma fonte representar
maior acesso deve ter aos órgãos de informação. O Presidente da República, por exemplo,
representa todos os moçambicanos e foi democraticamente eleito. É, portanto, uma fonte
representativa. Um deputado, um autarca, o presidente de uma associação eleito
democraticamente, o líder de uma campanha cívica, todos eles são fontes representativas.
- A credibilidade e a autoridade de uma fonte andam lado a lado. O primeiro-ministro tem
autoridade sobre o seu Governo, portanto é uma fonte credível sobre as mudanças no
Governo. A senhora que lança e lidera uma campanha contra o aborto é uma fonte com
autoridade e, portanto, credível. A testemunha que presenciou o acidente tem autoridade no
que respeita àquilo que viu (ainda que se tenha enganado). Portanto, à partida, tem
credibilidade.
O facto de uma fonte ser credível não implica, logicamente, que se aceite sem verificação e
contrastação aquilo que a fonte diz. A contrastação de fontes, quando estão em jogo posições
contrárias ou contraditórias, é essencial para o balanço da peça.
- O estatuto sócio-profissional de uma fonte pode ser importante para a qualificar como uma
boa fonte, como no caso do advogado perito em direitos fiscais que ajuda o jornalista a
elaborar uma peça sobre como pagar menos impostos (jornalismo de serviços).
- Os especialistas numa determinada temática são fontes importantes para se abordar essa
temática. O especialista será tanto melhor fonte quanto mais consiga descodificar em termos
simples a informação técnica e quanto mais capacidade de previsão tiver. (SOUSA: 2001,
p.72)
A agenda do jornalista
O desenvolvimento bem-sucedido de uma carreira jornalística depende em grande medida
dos contactos que o jornalista possua. Um jornalista sem contactos dificilmente conseguirá
cimentar uma boa carreira e obter sucesso e reconhecimento profissional. Por isso, a agenda
do jornalista, seja ela electrónica ou de papel, é de crucial importância. Nela, o jornalista deve
anotar nomes, endereços, números de telefone e telemóvel, endereços electrónicos, endereços
das páginas pessoais, dados de interesse sobre cada fonte, etc. Dentre estes dados, os mais
importantes talvez sejam os números de telefone e telemóvel. O telemóvel talvez seja mesmo
o mais usado instrumento de contacto de um jornalista com as suas fontes regulares de
informação: é fácil, é rápido, é conveniente, é pessoal e facilmente transportável. Os
contactos mais sensíveis de um jornalista não devem ser colocados na agenda. Antes devem
ser memorizados ou então guardados em lugar seguro. A colocação de uma cópia da agenda
em lugar seguro também é vital, quer porque a agenda pode perder-se, quer porque pode ser
apreendida. Se o jornalista perder a sua agenda, deve informar as suas fontes, pois os
contactos podem cair nas mãos erradas.
ou para novas abordagens das histórias que já circulam. Em função da sua área de
especialidade, o jornalista deve seleccionar vários órgãos jornalísticos para acompanhar.
Trabalha em economia? Deve ler vários jornais e revistas de economia, as publicações das
associações empresariais e comerciais, as publicações dos sindicatos, etc. Um mandamento
importante é não se limitar ao "grande jornalismo".
Arquivos
Os jornais devem ter centros de documentação com arquivos (recortes, documentação, livros,
arquivos digitais, etc.) organizados tematicamente. Esses arquivos podem ser consultados
pelo jornalista. O jornalista também deve possuir o seu arquivo particular, guardando e
organizando as peças que já produziu e a documentação, livros e peças jornalísticas que
encontra e que avalie como sendo susceptíveis de vir a interessar no futuro. O facto de "vir no
jornal" não é sinónimo de verdade, como o jornalista deve saber. Portanto, mesmo as
informações recolhidas noutro órgão de comunicação social devem, em princípio, e por
princípio, ser verificadas.
Entrada e lead adquirem relevância por serem pontos por onde se principia a leitura da peça
jornalística propriamente dita. Isto é, do título o leitor passa, naturalmente, àquilo que vem a
seguir.
E aquilo que vem a seguir pode ser uma entrada e/ou um lead. Geralmente é uma entrada
numa reportagem, numa entrevista ou num artigo. Provavelmente será um lead numa notícia
de pequena ou média dimensão. Crónicas e editoriais raramente têm entradas, mas
normalmente o seu primeiro parágrafo funciona como um lead, ou seja, como um parágrafo-
guia, razão pela qual esta denominação pode ser aplicável ao primeiro parágrafo de crónicas e
editoriais.
3.2.Lead
Lead em inglês significa guiar, conduzir, levar, indicar o caminho, orientar, ir à frente, ir na
primeira posição, ir em primeiro lugar, sugerir, indicar, etc. Portanto, o lead é o parágrafo que
lidera e orienta, o parágrafo que sugere e indica. Isto significa que o lead é, em primeiro
lugar, o parágrafo que introduz o tema da peça e, em segundo lugar, o parágrafo que dá o
tom ao resto da peça, principalmente quando não existe entrada.
O lead de impacto deve conter o núcleo duro da informação. Geralmente, a informação mais
importante coincide quase sempre com a resposta às questões a que, segundo a retórica do
jornalismo, se deve responder na notícia: "Quem?", "O Quê?", "Quando?", "Onde? Como?"
e "Porquê?".
3.3.Pirâmide invertida
A pirâmide invertida é, provavelmente, o modelo mais conhecido e talvez ainda o mais
comum de redacção de notícias, particularmente de notícias breves, mas também é um
modelo usado em reportagens, particularmente em reportagens de pequena extensão, tal
como em pequenas entrevistas redigidas em "discurso indirecto".
Quando se escreve uma notícia com base no modelo da pirâmide invertida, o núcleo duro da
informação deve figurar no lead. Os restantes parágrafos seguem-se ao lead, sendo
hierarquicamente ordenados por ordem decrescente de importância e interesse. Ou seja, o
lead deve conter a informação mais importante e interessante. O segundo parágrafo conterá
informação um pouco menos interessante e importante do que o lead e assim sucessivamente.
Existe uma segunda vantagem na construção por blocos. Um leitor pode abandonar a
leitura de uma peça num determinado parágrafo sem ficar com ideias pendentes.
5. A legenda
As legendas são pequeníssimos textos, normalmente apenas uma frase, colocados na base
inferior da fotografia; à qual fazem referência, ilustrando, explicando ou simplesmente
chamando a atenção para os aspectos mais interessantes da imagem. O carácter da legenda é
eminentemente informativo, ou deverá conter traços disso. Ela comenta e contextualiza
determinado objecto gráfico, fornecendo precisões que, por vezes, é impossível à imagem
comunicar por si só.