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FADIMAB

GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA


FUNDAMENTOS METODOLÓGICOS DAS LUTAS

Conceito, Classificação e características gerais das


lutas, artes marciais e esportes de combate.

Henrique Dantas
2022
Esportes de combate, artes marciais, lutas:
terminologias em debate
A palavra “luta” pode ser
apresentada de várias
formas.

Por exemplo, as lutas de


classes sociais, direitos
humanos ou sindicais.
Por outro lado, também,
pode ser empregada para
embates físicos/corporais
entre sujeitos.
Quando a luta está associada a
um conjunto de práticas e
técnicas corporais de
combate, o senso comum
atribui um significado
equivalente ao de
“arte marcial”.
A palavra “arte” indica uma
situação expressiva, inventiva,
imaginária, lúdica e criativa, que
são elementos participantes da
construção de manifestações
antropológicas.
As artes marciais também são
comumente entendidas como
modalidades esportivas de combate.
As lutas, as artes marciais e as
modalidades esportivas de
combate, portanto, são o
resultado e a expressão de um
amplo universo de
manifestações antropológicas.

Trazem consigo diversos


aspectos culturais das mais
diversas etnias e épocas da
existência humana.
Mas será que podemos tratar as terminologias
“Lutas”, “Artes Marciais” e “Esportes de
Combate” como sinônimos?
O termo artes marciais
corresponde a uma atividade
humana relacionada com o
treinamento para guerra.

Arte, apesar de
corriqueiramente ser
relacionado com a atividade
artística, também pode
significar arte de ofício
oriunda do artesanato (e da
formação artesanal) da
Europa medieval.
(RUGIU, 1998)
Considerando que a arte esteja atrelada
à habilidade ou técnica para a realização
de determinado ofício, a interpretação
mais adequada para a avaliação do termo
seria de arte no sentido artesanal e não
artístico, seguido pelo termo marcial,
relativo a Marte, deus romano da guerra.

Portanto, a definição mais simples do


termo seria de treinamento militar para
obtenção de habilidades ou técnicas
para a guerra.
No contexto da estrutura social
atual, tal termo adquiriu
conotações diferentes.

Essas diferentes conotações


são causadas tanto pela forma
coloquial com que é utilizado
por falta de definições
padronizadas quanto pela
espetacularização dada pelo
cinema e outros veículos de
construção do imaginário
social.
Para iniciar a desconstrução do senso comum, e em busca do
entendimento do termo de forma mais precisa, Reid e Croucher
(2010, p.12) indicam que arte marcial:

Trata-se evidentemente de um termo ocidental que deriva do termo latino


do planeta Marte, o deus romano da guerra. Foi escrito pela primeira vez
em língua inglesa no ano de 1357, por Geoffrey Chaucer, que se referiu ao
“tourney marcial” da época medieval. Em 1430, o termo já era usado em
referência ao treinamento para guerra, aos próprios atos de guerra (…).
É possível considerar que o termo
arte marcial na Idade Média se
relacionou ao contexto
sociocultural da época, com
significado de uma arte de ofício.
Também vale a pena ressaltar que,
na Antiguidade, o deus Marte não
era patrono das lutas gregas – que
era o deus Mercúrio – e nem da
estratégia militar – que era a deusa
Minerva.
Marte era o deus da guerra
selvagem e sangrenta, da
carnificina.
Esta informação é um pouco conflitante em
relação ao esperado por dois motivos:
• Na Idade Média, a escolha de Marte e não Mercúrio (Hermes) como
patrono das lutas denota a preocupação em relação à formação
militar em detrimento da ação relacionada a jogos com regras
limitantes, que na modernidade tornou-se esporte;
• Na Antiguidade, Minerva, e não Marte, era a deusa patronesse das
técnicas refinadas e estratégia de guerra, que corresponderia, em
parte, às lutas organizadas tecnicamente, que geraram as
modalidades esportivas da modernidade.
Assim, há o indício de que, ao apropriar-se do nome artes marciais, a
escolha teve aparente conotação machista, relacionada à época em
que se originou, mais do que de uma identificação coerente.
Desta forma podemos entender que “artes marciais” é um termo
usualmente utilizado pela herança histórica do mundo ocidental,
mas passível de discussão e reflexão sobre sua utilização na
sociedade atual, da mesma forma que países orientais fizeram
no decorrer de seu desenvolvimento.
Em relação à identificação da
terminologia artes marciais relacionada à
denominação das lutas orientais, mais
especificamente do Japão, os linguistas Ratti e
Westbrook (2006, p. 24) apontam como
semanticamente equivalente o termo bujutsu,
que significa técnica militar.

bu=militar; jutsu=técnica

O importante é ressaltar que os mesmos


autores afirmam que bujutsu parece estar
particularmente relacionado à natureza técnica
e à funcionalidade estratégica destas artes.
Os autores ressaltam que:
(…) o Bujutsu, queremos destacar,
está especialmente relacionado com
os aspectos práticos, técnicos e
estratégicos das artes indicadas
com ideograma da técnica. Quando
estas especializações (modalidades)
são entendidas como disciplinas
com uma finalidade ou propósito de
uma natureza mais educativa ou
ética, a “técnica” converte-se em
“caminho” (do), que significa a
“senda” em direção a uma realização
mais espiritual do que puramente
prática.
O professor Manoel José Gomes Tubino, renomado pesquisador
e gestor brasileiro, já se preocupava com a contemporaneidade
do termo e apresentava argumentação que coaduna com o que
tem sido observado.
Ele afirmava que as artes marciais “atualmente, têm um largo
emprego como defesa pessoal, esporte, meio para aptidão física e
saúde, meio de educação etc.”

(TUBINO, TUBINO e GARRIDO, 2007)


Outros autores, como Mocarzel e Murad
(2012), refletem que tal atitude não influencia o
respeito às modalidades:

É de se ressaltar, ponderando as premissas


anteriores, que hoje muitas “artes marciais” são um
conjunto de ferramentas socioeducativas que
contribuem para o desenvolvimento físico e na
estruturação do comportamento e do caráter de
seus praticantes, independentemente do local e/ou
cultura, respeitando preceitos ético-filosóficos
durante sua prática.
Tubino (2010 p.45) apresenta e define que “esportes das artes
marciais são aqueles derivados das artes militares ou marciais da Ásia
(exemplos: jiu-jitsu, judô, karatê etc.).
Assim, o vínculo da atividade com a modernidade por meio do esporte
é enaltecido.
Em estudos variados, outros autores acadêmicos apresentam este
olhar esportivo sobre as ditas artes marciais.
Franchini e Del Vecchio (2011)

Apresentam um estudo sobre modalidades esportivas de combate,


diferenciando de lutas e artes marciais, por conterem características
esportivas como:
• Quantificação;
• Superação;
• Burocratização e institucionalização via federações/organizações;
• Secularização;
• Especialização e;
• Racionalização.
Ferreira, Lise e Capraro (2016)
apresentam que:

(…) as artes marciais tradicionais, em especial aquelas de


origem oriental (Índia, Japão, China, Tailândia etc.) possuíam
tanto na sua etimologia quanto em sua prática um caráter
beligerante ou religioso, no qual a intenção era matar ou
inutilizar seu adversário (inimigo), afastando-se assim da
lógica esportiva moderna.
Neste sentido, consideram-se esporte de combate o judô, o
jiu-jitsu, o karatê, o taekwondo e o kung- fu, entre outros.
Tais práticas há muito tempo perderam seu caráter marcial
(alusivo à guerra e à morte) e se esportivizaram a partir de um
processo de ocidentalização, cujas principais adaptações foram:
as regulamentações escritas, o controle dos níveis de contato
e violência permitidos em tais disputas e as condições de
igualdade entre os oponentes (divisão por categorias de peso,
faixas, sexo etc.), entre outras.
As artes marciais devem ser
entendidas por atividades de
formação militar e devem ser
enquadradas no âmbito das
competências (legislativas,
profissionais e cíveis) a que se
destinam.

Apesar de seu uso pelo senso


comum, não se deve
confundir com a atividade que
de fato emergiu durante a
sociedade contemporânea,
que a vincula ao esporte.
Assim, do ponto de vista da
atualidade, esportes de combate e
modalidades de combate são
termos mais adequados para definir
os esportes derivados de artes
marciais sem causar confusões
anacrônicas e sociogeográficas.

A insistência na utilização de termos


inadequados por sua usualidade
tradicional não permite perceber
equívocos em sua criação, nem na
interpretação de seus conceitos,
tornando-o autoexplicativo.
Características Fundamentais e Classificação
Esportes de combate

Podem ser definidos como práticas


corporais com características de
enfrentamento físico direto entre
pessoas por meio de regras
claramente estipuladas, com
importância histórica e social com
objetivos na oposição de técnicas
em que o foco está no corpo da
outra pessoa, a partir de ações de
caráter simultâneo e imprevisível.
Características
Fundamentais
1. Enfrentamento físico;
2. Regras ;
3. Oposição entre indivíduos;
4. Objetivo centrado no corpo da
outra pessoa;
5. Ações de caráter simultâneo;
6. Imprevisibilidade.
Enfrentamento físico

As lutas exigem certo nível


de enfrentamento e
contato entre pessoas que
podem variar de acordo
com a modalidade.
Existem regras muito bem organizadas para cada
modalidade para que possamos realizar as
Regras diferentes práticas de luta mantendo a segurança
de todos.
Oposição entre
indivíduos
As pessoas se enfrentam em caráter de
oposição uma à outra, por meio de
objetivos que variam de acordo com a
modalidade.
Ex: No tae kwon do busca-se atingir
parte do corpo do oponente para
pontuar.
No jiu jitsu pode-se aplicar um golpe de
estrangulamento no pescoço para
finalizar a luta, e conforme a luta
inúmeras outras possibilidades existem.
Ações de caráter
simultâneo

Nas lutas, ambos os


indivíduos que estão se
enfrentando realizam ações
tanto de defesa quanto de
ataque de forma simultânea,
não há diferenciação no
espaço e tempo dessas ações.
Imprevisibilidade
Nas lutas não é possível estabelecer como irão ocorrer todas as ações com certeza
absoluta.
A qualquer momento do combate é possível ser surpreendido com alguma ação
como um chute, um soco, ou uma queda, por exemplo.
Ainda é possível que a luta se encerre antes do tempo máximo permitido, seja por
meio de um ippon no judô, uma finalização no jiu-jitsu, por exemplo, independente
do placar apresentado.
Classificação
Existem uma grande quantidade de lutas
no mundo, o que torna muito difícil o
processo de ensino, estudo ou
classificação de todas.
Sendo assim, existem algumas
possibilidades de classificação que nos
ajudam a estudá-las.
Vamos conhecer a classificação das lutas
a partir das diferentes distâncias possíveis
na realização das ações: curta, média,
longa e mista.
Curta distância
Nas práticas de curta distância, os golpes, as técnicas e táticas a serem empregadas exigem
maior proximidade entre os envolvidos. A ação fundamental realizada é a de agarre e
suas derivações (torções, chaves, imobilizações, projeções, etc.). São exemplos: judô,
jiu-jitsu, sumô, luta olímpica (Wrestling), entre outras.
Média distância
Referem -se às modalidades que exigem uma maior distância entre os envolvidos em comparação
com as lutas de curta distância. As ações que predominam são de toque, seja com socos ou chutes.
Alguns exemplos: caratê, kung fu, boxe, muay thai, savate, krav maga, kickboxing, entre outras.
Longa Distância
Como o próprio nome indica, estas lutas exigem maior distância ainda entre os envolvidos. Para isso
é necessário haver algum tipo de implemento no desenvolvimento das ações, como uma espada,
por exemplo. São exemplos: esgrima, kendo, algumas ações do kung fu, entre outras.
Distância mista
As lutas de distância mista, misturam
duas ou mais distâncias, como curta e
média, por exemplo.
O MMA é o melhor exemplo, pois agrega
tanto ações de curta distância como
agarres, finalizações e quedas, quanto de
média distância, tais como socos, chutes
e joelhadas.
Como classificariam de acordo com a
distância e o tipo de técnica:

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