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RiquezadasNacoes AdamSmith Resenha
RiquezadasNacoes AdamSmith Resenha
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Leandro Sarai
Escola da Advocacia Geral da União
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All content following this page was uploaded by Leandro Sarai on 11 February 2022.
O Primeiro Livro da obra cuidará das causas desse aperfeiçoamento das forças
produtivas do trabalho e a ordem que rege a distribuição do produto naturalmente
entre as diferentes categorias e condições de homens da sociedade.
O Terceiro Livro trata da forma como a política de algumas nações privilegiou mais as
atividades das cidades do que as do campo e como ocorreu notadamente na Europa. A
diferença na forma como as atividades são fomentadas implica diferenças na grandeza
de sua produção.
Esses quatro primeiros livros explicam a natureza dos fundos que suprem o consumo
anual das nações.
LIVRO I
DAS CAUSAS DO AUMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS DO TRABALHO E DA ORDEM
SEGUNDO A QUAL SEU PRODUTO É NATURALMENTE DISTRIBUÍDO ENTRE AS DIVERSAS
CATEGORIAS DO POVO
1
Adam Smith aqui explica isso com o famoso exemplo da fabricação do alfinete .
O preço real é a quantidade de trabalho necessário para comprá-las. O preço nominal
é a quantidade de dinheiro cobrada por elas.
Como é difícil medir e comparar mercadorias com base no trabalho, passa-se a comparar
as mercadorias entre si. Depois, passa-se a comparar as mercadorias com base no seu
valor nominal.
O valor varia conforme a dificuldade ou facilidade para sua produção ou obtenção em
determinado tempo e local.
Além disso, o dinheiro varia de valor em razão da variação da quantidade de metal nele
presente, afetando, assim, o preço nominal das mercadorias.
O trabalho é a medida mais universal e constante para medir o valor das mercadorias
em diferentes tempos e lugares. Já o dinheiro é a exata medida apenas em determinado
tempo e lugar.
As cinco circunstâncias, ainda que causem desigualdades nos salários e nos lucros , não
causam nenhuma desigualdade quando se considera o total de vantagens e
desvantagens dos diversos empregos. Essa igualdade ou equilíbrio geral ocorre quando
presentes três circunstâncias: a) empregos já estabelecidos e conhecidos (empregos
novos podem acarretar lucros extraordinários momentâneos até que cheguem
concorrentes); b) estado ordinário ou natural (períodos excepcionais, como guerras,
desastres naturais e epidemias podem afetar o equilíbrio) ; e c) único ou principal
emprego de seus ocupantes (as pessoas que já possuem um emprego para garantir sua
subsistência tendem a aceitar um emprego adicional por preço abaixo do que o normal) .
PARTE 2: DO PRODUTO QUE POR VEZES FORNECE E POR VEZES NÃO FORNECE RENDA
Depois da alimentação, as maiores necessidades são vestuário e habitação. Contudo,
muitas vezes, as terras produzem quantidade de materiais necessários a essas duas
últimas necessidades em quantidade muito maior do que o necessário ou em local
inacessível ou em que o custo de transporte é tão alto que não permite lucro. Nesses
casos, essas terras não irão gerar renda.
As minas mais ricas determinam os preços das demais minas. O preço dos metais é
determinado por sua utilidade, beleza e raridade.
Se a demanda dos metais aumenta sem aumento da oferta, seu preço sobe, de modo
que, com a mesma quantidade de metal, pode-se comprar mais cerais.
Se o fornecimento dos metais aumenta sem aumento da demanda, seu preço cai, de
modo que, com a mesma quantidade de metal, pode-se comprar menos cerais.
Se o fornecimento de metais aumenta na mesma proporção que a demanda, a mesma
quantidade de metal continua podendo comprar a mesma quantidade de cereais.
PRIMEIRA ESPÉCIE
São produtos que a natureza produz apenas em certas quantidades e que são perecíveis
SEGUNDA ESPÉCIE
São produtos que o homem pode multiplicar com sua indústria, mas que são limitados
pelas condições econômicas. E muitos deles, se houver abundância, ficarão baratos
demais a ponto de não compensar os custos de produção. O gado é um exemplo.
Conforme aumenta seu preço, há uma tendência de destinar mais terras para produzir
alimentos para o gado. Mas, ao haver essa mudança na destinação das terras, poderá
haver alteração no preço dos alimentos antes produzidos e torná-los mais atrativos.
TERCEIRA ESPÉCIE
Exemplos são a lã e o couro. Os fatores que afetam esses bens são afetados pelos
insumos de que dependem, bem como pela produção de outros países e dos
regulamentos impostos à exportação daqueles produtos.
Os produtos das minas também podem ser enquadrados aqui.
O efeito natural é diminuir o preço real de quase todas as manufaturas. Mesmo que o
valor do trabalho se eleve, a destreza e a maquinaria geram menor necessidade de
trabalho, mais que compensando a elevação do valor do trabalho.
A madeira é uma exceção, pois seu preço real pode subir com o aperfeiçoamento da
terra e mais do que compensará as vantagens da maquinaria, da destreza e da
distribuição do trabalho.
LIVRO II
DA NATUREZA, ACUMULAÇÃO E EMPREGO DO CAPITAL
CAPÍTULO I
DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL, OU DO TRABALHO PRODUTIVO OU IMPRODUTIVO
Trabalho produtivo é o que acresce valor e o improdutivo o que não acresce. O primeiro
seria o trabalho dos empregados na manufatura. O segundo seria o trabalho dos
serviçais, dos servidores públicos, de alguns profissionais liberais, por mais nobre ou útil
que seja o trabalho. O trabalho improdutivo perece no momento que executado.
Onde há emprego de capital para movimentar trabalho produtivo, o povo é mais
industrioso. Onde há renda para prover o povo, este se torna ocioso.
É a parcimônia, e não a indústria, que é causa imediata da acumulação do capital.
“A quantidade de dinheiro, então, que pode ser empregada anualmente em qualquer
país deve ser determinada pelo valor dos bens de consumo anualmente nele
circulados.” (p.197)
LIVRO III
DO DIFERENTE PROGRESSO DA OPULÊNCIA EM DIFERENTES NAÇÕES
CAPÍTULO I
DO PROGRESSO NATURAL DA OPULÊNCIA
A ordem natural do progresso começa com a agricultura, cujo aprimoramento e excesso
de produção leva à formação de cidades e manufaturas, que, por sua vez, levam ao
comércio exterior.
Porém, há situações em que se inverte essa ordem natural.
CAPÍTULO II
COMO O COMÉRCIO DAS CIDADES CONTRIBUIU PARA O MELHORAMENTO DO CAMPO
A contribuição ocorreu de três formas:
a) propiciando mercado para o produto bruto do campo, estimulando o cultivo e seu
aperfeiçoamento;
b) os comerciantes teriam a ambição de se tornarem proprietários e fariam isso com o
lucro. Ao se tornarem proprietários de terras sem cultivo, eles usam seu espírito
empreendedor para aperfeiçoar a produção do campo (diferentemente dos
proprietários tradicionais que tendem a ser tímidos e pródigos) ;
c) o modo de vida da cidade com o comércio e as manufaturas ensejaram a criação da
ordem e do bom governo, a proteção da liberdade e segurança dos indivíduos. Essas
conquistas acabaram transplantadas para o campo.
INTRODUÇÃO
Economia Política é o ramo da ciência do estadista ou legislador que tem dois objetivos:
a) proporcionar renda abundante ou subsistência para o povo ou para ele próprio; b)
suprir o Estado ou a comunidade com renda suficiente para os serviços públicos ou, em
suma, enriquecer o povo e o soberano.
De fato, o dinheiro, de modo diferente do que os demais bens, é mais conveniente para
ser transportado e guardado e permite sua rápida troca pelos bens de que seu dono
necessita.
O fato é que essa crença levou a economia política dos países a buscar aumentar seu
estoque de metais, inclusive com a proibição da exportação de ouro e prata.
Mas o fato é que o livre comércio sozinho teria o condão de suprir a sociedade com
todos os bens de que necessitaria, incluindo a necessidade de ouro e prata. É que a
quantidade de qualquer mercadoria se regula pela sua demanda efetiva, principalmente
ouro e prata, que podem circular mais facilmente do que bens volumosos.
O dinheiro corre atrás das mercadorias, mas estas nem sempre correm atrás do
dinheiro. O homens não querem o dinheiro pelo dinheiro, mas para poder comprar o
que desejam.
As grandes guerras foram sustentadas não por ouro e prata, mas por mercadorias.
O comércio exterior tem a vantagem de propiciar o atendimento das necessidades e de
enviar para fora as mercadorias excedentes.
As seis formas de atuação do Estado no comércio exterior serão objeto dos próximos
seis capítulos.
CAPÍTULO 2
DAS RESTRIÇÕES SOBRE A IMPORTAÇÃO DE PAÍSES ESTRANGEIROS DOS BENS QUE O
PAÍS PODE PRODUZIR
Essas restrições geram um tipo de monopólio para a indústria nacional.
Se o mercado é deixado livre, naturalmente os indivíduos tenderão a aplicar seu capital
na indústria doméstica, pois preferem ter seu capital sob sua vista.
O indivíduo sabe melhor do que o Estado onde empregar seu capital e, agindo segundo
seu próprio interesse, proporciona um resultado que será o melhor para a sociedade,
pois irá maximizar sua produção.
Se um indivíduo considera mais vantajoso comprar algo do que fazer, isso deve ser
permitido, ainda que o produto seja estrangeiro. Caso contrário, ele terá menos renda,
fazendo acumular menos capital e, por conseguinte, fazendo crescer menos a produção
nacional.
É absurdo forçar a produção nacional quando esta é mais cara do que a aquisição de
produtos estrangeiros.
Haveria dois casos em que poderia ser vantajoso onerar a indústria estrangeira para
encorajamento da nacional: a) quando alguma indústria nacional seja necessária à
defesa do país; e b) quando alguma taxa é imposta no país sobre seu próprio produto.
O reembolso das taxas domésticas que é entregue ao comerciante quando exporta suas
mercadorias é razoável, pois acaba por consertar o equilíbrio atrapalhado por essas
mesmas taxas no emprego do capital.
Os motivos que deram origem às colônias gregas e romanas foram diferentes dos que
deram origem às colônias na América e nas Índias.
Roma inicialmente dividiu as terras das repúblicas por meio de uma lei agrária em certas
proporções entre os cidadãos. Com o tempo, alguns cidadãos acumularam terras e
desarranjaram a organização original. Os cidadãos livres sem terras não tinham como
sobreviver, pois os senhores de terras satisfaziam suas necessidades com os trabalhos
de seus escravos. Os escravos, por sua vez, eram mantidos pelos senhores. Daí que os
homens livres buscavam ajuda dos candidatos nas eleições anuais, que sempre
buscavam aplicar a divisão das terras ou a lei que limitou a quantidade de terra que cada
cidadão poderia possuir. Mas os conflitos sempre acabavam resolvidos com o envio
desses cidadãos para outros territórios, normalmente na Itália. Esses territórios,
contudo, não formavam Estados independentes, ficando sujeitos à cidade -mãe.
Já as colônias nas Américas e nas Índias não tiveram necessidade nenhuma e sua
utilidade não foi tão clara.
Colombo, ao descobrir as Américas, não viu valor nos animais e vegetais e então voltou
seus olhos para as riquezas minerais.
Assim, todo projeto de colonização das Américas teve como principal motivo buscar
ouro e prata.
A Europa como um todo aumentou seus rendimentos e indústria. Mesmo países que
nunca enviaram nada para a América ou dela receberam podem ser beneficiados
indiretamente pelo aumento do mercado e do excesso de produtos propiciados por esse
novo continente.
Embora o monopólio com as colônias possa trazer algumas vantagens para algumas
pessoas e no curto prazo, o monopólio é algo ruim para a economia como um todo.
O sistema mercantil revelou que seu principal objetivo é enriquecer a nação mais pelo
comércio e manufatura do que pela melhoria e cultivo da terra, mais pela indústria das
cidades que pela do campo.
As normas que prejudicam a economia como um todo precisam ser revogadas aos
poucos para que se busque o equilíbrio natural. Uma revogação brusca causaria muitos
transtornos.
O Estado deveria tratar todo seu povo igualmente. Porém, quando intervém no
comércio, normalmente favorece os manufatureiros em prejuízo dos produtores. É o
caso dos regulamentos que proíbem a exportação de lã.
Com isso, a produção de lã inglesa fica no país, aumentando sua oferta e fazendo seu
preço baixar. Os manufatureiros, então, compram lã barata para fazer seus produtos.
Têm o mesmo objetivo as leis que impedem importação de bens que concorram com
produção dos manufatureiros.
Embora todo interesse do produtor somente merecesse ser atendido na medida em que
promovesse o interesse do consumidor, normalmente as normas promovem o interesse
do produtor em prejuízo do interesse do consumidor. Isso é um contrassenso pois o
consumo é o fim e o propósito de toda produção.
CAPÍTULO 9: DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS, OU DAQUELES SISTEMAS DE ECONOMIA
POLÍTICA QUE REPRESENTAM O PRODUTO DA TERRA COMO A ÚNICA OU PRINCIPAL
FONTE DE RENDA E RIQUEZA DE TODO PAÍS
Nesse sistema as ordens de pessoas que contribuem com o produto anual da terra e
trabalho do campo são três: a) proprietários de terra; b) cultivadores, lavradores e
campônios; e c) artífices, manufatureiros e comerciantes (chamada classe estéril ou
improdutiva).
Como os egípcios tinham aversão supersticiosa ao mar, com a religião não permitindo
cozinhar sobre a água, isso os impediu de explorar o mar. Daí que dependiam de outras
nações para trazer e levar produtos.
Em suma, o governo deve deixar o mercado livre, sempre que seus agentes estejam
respeitando as leis da justiça. O governante, num sistema de liberdade natural,
somente deve ter três tarefas: a) proteger a sociedade da violência e invasão de outras
sociedades; b) proteger, tanto quanto possível, os membros da sociedade de injustiça
por parte de outros membros, ou seja, administrar a justiça; e c) erigir e manter certas
obras públicas e instituições públicas que nunca seriam do interesse de nenhum
indivíduo, porque o lucro nunca pagaria a despesa, mas que compensam a sociedade
como um todo.
Para essas tarefas é necessária renda pública. As despesas para essas tarefas serão
tratadas no livro seguinte em três capítulos: primeiro: a) despesas necessárias do
governo ou da comunidade; b) despesas que devem ser custeadas por toda a sociedade;
e c) despesas que devem ser custeadas por parte da sociedade; segundo: diferentes
métodos para a sociedade contribuir para custear as despesas; terceiro: razões e causas
que fazem os governos hipotecar parte da renda ou contrair dívida.
LIVRO V: DA RENDA DO SOBERANO OU COMUNIDADE
Os pastores, por sua vez, como os tártaros e árabes, podiam formar um grupo maior e
também não geravam despesa ao soberano. Seu modo de vida não muda na paz e na
guerra. Na guerra, levam consigo seu rebanho, que lhes propicia seu sustento.
Num estado ainda mais adiantado são duas as causas que contribuem para tornar
impossível a manutenção dos soldados por conta própria. A primeira é que sua renda
nesse estado da sociedade decorre do progresso das manufaturas, de modo que, ao
irem à guerra, perdem totalmente sua renda. A segunda é que, com o aperfeiçoamento
da arte da guerra, torna-se necessário manter soldados mesmo em tempos de paz, que
precisam, dessa forma, de uma fonte de renda, até para que possam se especializar no
ofício da guerra.
Quanto mais avançada a sociedade, menor é o número de membros dela que pode ir à
guerra sem arruinar a sociedade.
Quando o Estado prospera, as pessoas tendem a exercer mais as atividades que tragam
maior renda, negligenciando as atividades militares.
Grande propriedade gera desigualdade. Para uns poucos ricos há muitos pobres.
Quando há grandes propriedades, de valor superior a dois ou três dias de trabalho, é
necessário o estabelecimento de um governo civil para impedir a violência.
O governo civil pressupõe certa subordinação. São quatro as causas que introduzem
essa subordinação.
A primeira é a superioridade das qualificações pessoais. A segunda é superioridade de
idade. A terceira é a superioridade de riqueza. A quarta é a superioridade de nascimento.
O governo civil, em vez de trazer despesas, era fonte de renda ao soberano, que recebia
para administrar a justiça.
O fato de a justiça ser paga pode influenciar indevidamente a decisão. Por isso,
posteriormente, estipulou-se uma remuneração fixa para os magistrados. Mas a forma
como regulada essa remuneração sempre influenciou o trabalho da Justiça. Por
exemplo, quando se estipulou um pagamento por página escrita, os agentes
encarregados da Justiça conseguiam multiplicar o tamanho do texto escrito para
aumentar seus rendimentos.
Além da defesa e da justiça, também são necessárias despesas para facilitar o comércio
e para promover a instrução do povo.
Entram aqui estradas, portos etc.. As despesas dessas instituições e obras públicas
podem ser custeadas por pequenas taxas de quem as utiliza, sem necessidade de onerar
toda a sociedade.
É melhor que as despesas públicas para esses benefícios públicos sejam administrados
localmente, pois os eventuais abusos são mais facilmente corrigidos do que se
administrados por um grande império.
Como instituições, são citadas as companhias, que podiam ser de capital conjunto,
regulamentadas ou de capital privado. Cada uma possuía algum problema.
Alguns ramos do comércio, por serem rotineiros e passíveis de ser reduzidos a regras
estritas, poderiam ser facilmente conduzidos por companhias de capital conjunto:
bancos, seguros, canais e fornecimento de água.
O que justificaria o emprego de capitais públicos seria a utilidade geral do negócio para
a sociedade e a quantidade de capital exigida ser maior do que um sujeito privado
poderia obter.
CONCLUSÃO
Despesas para educação devem ser custeadas por todos, pois beneficiam todos. M as,
talvez, houvesse vantagem em ser custeadas pelos que recebem a educação.
Instituições e obras públicas benéficas a toda a sociedade pode m ser custeadas por
todos, mas apenas naquela parte subsidiária, quando os imediatamente beneficiados
não puderem arcar com tudo.
Não é recomendável depender a renda do Estado apenas do capital, pois este é instável
e seu emprego arriscado. Na época, a maioria dos grandes Estados derivava sua principal
fonte de renda das terras públicas.
Mas deveriam pertencer à Coroa apenas terras para prazer, como parques, jardins,
passeios públicos etc., que são lugares que apenas dão despesas. É que os particulares
tornariam as terras mais produtivas.
Fato é que nem capital nem as terras são suficientes para derivar a renda necessária
para manter a despesa de um grande Estado civilizado, sendo necessário recorrer a taxas
do povo.
As taxas sobre os particulares recaem sobre seus rendimentos, que são oriund os da
terra, do capital ou do trabalho, ou seja, rendas, lucros e salários, respectivamente.
Também há taxas que incidem sobre todos os rendimentos indistintamente.
ARTIGO I
TAXAS SOBRE A RENDA. TAXAS SOBRE A RENDA DA TERRA
Há regiões que taxam menos as terras da igreja e outras que taxam mais. As que taxam
mais acreditam que a igreja não contribui com a produção do país e por isso precisam
contribuir mais por meio das taxas.
Há regiões que taxam mais as terras dos ricos e menos as dos pobres e há regiões que
fazem exatamente o inverso.
Quanto maior o Estado, mais perigoso é cobrar taxas em produtos, pois estes tendem a
ser mal cuidados pelos coletores e por isso não chegar íntegros ao tesouro.
A renda do terreno é mais alta perto da cidade do que no campo longe dela.
Os ricos devem contribuir para as despesas públicas em proporção à sua renda e com
um adicional além dessa proporção.
O aluguel das casas se diferencia da renda das terras, pois as terras são artigos
produtivos e as casas não são.
ARTIGO II
TAXAS SOBRE O LUCRO, OU SOBRE A RENDA ORIUNDA DO CAPITAL
A renda do lucro se divide em duas partes: a que paga juros e que pertence ao dono do
capital e a que está além do valor desses juros. Essa segunda parte representa uma
pequena compensação pelo risco de empregar capital.
Fiscalizar o valor real do capital causaria um vexame insuportável. Daí que a taxação do
capital tende a ser menos severa que a da terra. Em muitos lugares, os próprios cidadãos
declaram seu patrimônio para fins de taxação. Mas há lugares, como em Hamburgo,
onde isso não seria possível, pois os comerciantes temeriam expor a situação ruim de
seus negócios e arriscar perder o crédito.
[Obs. Minha: mesmo hoje as pessoas podem ter constrangimento de e xpor sua renda
ou patrimônio, por medo da segurança ou por receio da reação dos demais membros
da sociedade]
Em muitos lugares as taxas sobre o capital recaem apenas sobre os juros do capital e
não sobre o próprio capital, de modo que este não é alterado.
As taxas nunca devem recair sobre os comerciantes, quando estes têm lucro razoável, e
sim sobre os consumidores. Quando a taxa não é proporcional ao ofício do negociante,
acaba prejudicando os pequenos negociantes.
ARTIGO III
TAXAS SOBRE OS SALÁRIOS
Os salários são regulados pela demanda de trabalho e pelo preço médio dos
mantimentos ou subsistência dos trabalhadores.
A taxação do salário faz com que o valor do salário tenha que subir para permitir ao
trabalhador manter a renda mínima necessária para seus mantimentos. O percentual de
subida do salário acaba sendo maior do que o percentual da taxa. Assim, se precisa de
100 para subsistência e é cobrada uma taxa de 10%, sobra-lhe apenas 90. Para que sobre
100, o salário precisará ser igual a 100 = x – (10/100 * x), ou seja, precisará receber um
salário de 111,11.
As taxas dos funcionários públicos podem ser populares (aceitos pela sociedade), pois
os funcionários públicos normalmente recebem mais do que os trabalhadores da
iniciativa privada.
ARTIGO IV
TAXAS QUE SE PRETENDE QUE RECAIAM INDIFERENTEMENTE SOBRE CADA TIPO DE
RENDIMENTO
São de dois tipos: as taxas por capitação e as taxas sobre mercadorias de consumo.
Por outro lado, se se tenta torná-las certas, elas se tornam desiguais. A desigualdade
somente poderá ser suportada se a taxa for leve.
Nas classes inferiores acabam recaindo sobre os salários, com todos seus
inconvenientes.
A tributação das necessárias traz efeitos nefastos, principalmente para os mais pobres.
As taxas alfandegárias são mais antigas do que as taxas sobre mercadorias. Elas se
chamam customs por se referirem a costumes antigos.
Taxas que foram impostas sobre produtos estrangeiros para evitar a concorrência
acabaram por proibir importações e estimular o contrabando. Estímulos à exportação,
por sua vez, acarretam fraudes para ganhar indevidamente os benefícios (simula uma
exportação, mas faz depois a mercadoria entrar no mercado novamente de forma
clandestina).
Altas taxas por vezes acarretam arrecadação menor, seja por fazer diminuir o consumo,
seja por estimular contrabando.
CAPÍTULO 3
DOS DÉBITOS PÚBLICOS
Uma grande renda em qualquer época consiste no comando de uma grande quantidade
de necessidades da vida, normalmente envolvendo as pessoas necessárias para tanto.
Nos tempos de violência, as pessoas procuravam acumular bens que poderiam carregar
em caso de fuga. Também era comum o achado de tesouro, o que demonstra a cultura
de esconder a riqueza. Grande parte da renda do Estado vinha do achado destes
tesouros.
Nos governos da época de Adam Smith, quase todos os governos estavam em dívida.
Num estado rude da sociedade, as pessoas escondem a riqueza por medo e o Estado
tem dificuldade de obter empréstimo, o que o força a economizar.
As pessoas com recursos até têm interesse em emprestar para o Estado, quando isso
lhes garante aumento de capital e renda. Daí que por vezes esse método de o Estado
obter recursos acaba sendo preferido à tributação, que é odioso entre o povo.
A crença de que o pagamento da dívida pública não prejudica o país, pois apenas faria a
renda trocar de mãos dentro do país, não é correta, pois pode haver credores
estrangeiros.
Além disso, os credores públicos têm interesse apenas em receber seus pagamentos,
não se preocupando com a qualidade das terras ou dos empregos de capital que
fornecerão os recursos para propiciar os pagamentos.
Uma possível fonte de renda para a Grã-Bretanha poderia ser obtida nas colônias, não
tanto aumentando as taxas, mas evitando desvios das taxas já cobradas.
Uma última alternativa seria a redução das despesas.
As colônias têm custado muito ao império, principalmente nas guerras para defendê-
las, embora elas não forneçam um retorno que compense essas despesas.
OBSERVAÇÃO PESSOAL
Não me pareceu na obra que Adam Smith fosse um crítico do Estado, mas apenas um
crítico do abuso estatal.
Além disso, em toda a obra, há uma preocupação com a melhoria da condição do povo,
ou seja, principalmente dos mais desfavorecidos.