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A RIQUEZA DAS NAÇÕES DE ADAM SMITH - RESUMO

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Leandro Sarai
Escola da Advocacia Geral da União
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A RIQUEZA DAS NAÇÕES
ADAM SMITH
RESENHA por Leandro Sarai

INTRODUÇÃO E PLANO DA OBRA


O trabalho anual da nação é o fundo original que provê as necessidades e utilidades da
vida durante o ano, embora às vezes a satisfação dessas necessidades e utilidades
também venha do trabalho de nações estrangeiras.

A proporção de atendimento dessas necessidades e utilidades vem de duas


circunstâncias: a) qualidade do trabalho realizado (destreza, engenho, discernimento);
e b) proporção entre o número de trabalhadores empregados num trabalho útil e dos
não empregados em trabalho útil. A primeira circunstância parece ser mais importante.

O Primeiro Livro da obra cuidará das causas desse aperfeiçoamento das forças
produtivas do trabalho e a ordem que rege a distribuição do produto naturalmente
entre as diferentes categorias e condições de homens da sociedade.

O Segundo Livro trata da natureza da reserva de capital, de sua acumulação e das


quantidades de trabalho que ela põe em movimento, de acordo com os diversos modos
de seu emprego. Como a qualidade do trabalho é a circunstância mais importante para
o atendimento das demandas da sociedade e como a proporção de trabalhadores
empregados em trabalhos úteis depende da quantidade da reserva de capital
empregada para colocá-los para trabalhar, isso justifica esse Segundo Livro.

O Terceiro Livro trata da forma como a política de algumas nações privilegiou mais as
atividades das cidades do que as do campo e como ocorreu notadamente na Europa. A
diferença na forma como as atividades são fomentadas implica diferenças na grandeza
de sua produção.

O Quarto Livro explica como as diferentes políticas econômicas influenciaram as teorias


e as nações e os efeitos delas para as nações. Aqui também a principal divisão está entre
o favorecimento das que privilegiam a indústria das cidades em comparação com a
indústria dos campos. As distintas teorias muitas vezes foram influenciadas pelo
interesse ou opinião particular de seus adeptos e não pelo que seria melhor para a
sociedade como um todo.

Esses quatro primeiros livros explicam a natureza dos fundos que suprem o consumo
anual das nações.

O Quinto (e último) Livro trata do rendimento soberano ou da comunidade, estudando


qual parte desse rendimento deve ser custeada por contribuição de toda a sociedade e
qual parte apenas por parte dela. Em segundo lugar, também estuda quais métodos
podem ser usados para fazer a sociedade contribuir para custear as despesas que
recaem sobre toda a sociedade, com as vantagens e desvantagens de cada método. Em
terceiro lugar, trata das razões e causas que fizeram quase todos os governos modernos
a hipotecar parte desses fundos, ou seja, endividar-se e quais foram os efeitos dessas
dívidas sobre a riqueza real, o produto anual da terra e no trabalho da sociedade .

LIVRO I
DAS CAUSAS DO AUMENTO DAS FORÇAS PRODUTIVAS DO TRABALHO E DA ORDEM
SEGUNDO A QUAL SEU PRODUTO É NATURALMENTE DISTRIBUÍDO ENTRE AS DIVERSAS
CATEGORIAS DO POVO

CAPÍTULO 1: DA DIVISÃO DO TRABALHO


A divisão do trabalho causou o aperfeiçoamento das forças produtivas.1
Três circunstâncias causam o aumento da quantidade de trabalho que a divisão do
trabalho propicia: a) aumento da destreza de cada operário; b) economia de tempo ao
não ser necessário cada operário ficar passando de uma atividade para outra; e c)
invenção de máquinas

CAPÍTULO 2: DO PRINCÍPIO QUE DÁ OCASIÃO À DIVISÃO DO TRABALHO


A divisão do trabalho deriva da propensão do homem à troca. Os gênios distintos são
derivados de sua especialização no trabalho e não o contrário.
[Obs. Minha: acredito que a propensão à troca é derivada de uma tendência natural à
otimização.]

CAPÍTULO 3: QUE A DIVISÃO DO TRABALHO É LIMITADA PELA EXTENSÃO DO MERCADO


Nos pequenos vilarejos, todos acabam fazendo tudo, não permitindo a especialização.
Se houver especialização, irá faltar algum produto para si. Mesmo que sobre produto
para ser trocado, poderá não encontrar interessados. Outro fator que favorece os
mercados é a facilidade de transporte, principalmente pelo mar ou rios, na época de
Smith. Somente em cidades grandes é que ocorre maior especialização e mesmo o
surgimento de profissões específicas.

CAPÍTULO 4: DA ORIGEM E DO USO DO DINHEIRO


A partir da divisão do trabalho, pode ocorrer de as trocas serem obstaculizadas pela
ausência de necessidades recíprocas. Daí a utilização de um objeto de interesse comum,
que já foi o boi, o sal entre outros, até que, por suas características, passou-se a utilizar
os metais, pois permitiam fácil transporte, divisão e preservação. A cunhagem poupou
trabalho de pesagem, mas possibilitou ao Estado diminuir a quantidade de metal de
modo a pagar seus débitos com menos metal. Essa vantagem acabava passando para os
que recebiam as moedas e podiam repassá-las. Os nomes das primeiras moedas
acabavam refletindo o peso do metal utilizado. Adam Smith então irá demonstrar as
regras das trocas por dinheiro, distinguindo, para tanto, o valor de uso e o valor de troca
e apontando que normalmente bens com um maior valor de uso tem pouco valor de
troca e vice-versa. A análise dos princípios da troca passa por três partes: a) preço real
das mercadorias; b) partes do preço real; e c) fatores que afetam o preço de mercado
afastando-o do preço natural.

CAPÍTULO 5: DO PREÇO REAL E NOMINAL DAS MERCADORIAS, DE SEU PREÇO EM


TRABALHO E SEU PREÇO EM DINHEIRO

1
Adam Smith aqui explica isso com o famoso exemplo da fabricação do alfinete .
O preço real é a quantidade de trabalho necessário para comprá-las. O preço nominal
é a quantidade de dinheiro cobrada por elas.
Como é difícil medir e comparar mercadorias com base no trabalho, passa-se a comparar
as mercadorias entre si. Depois, passa-se a comparar as mercadorias com base no seu
valor nominal.
O valor varia conforme a dificuldade ou facilidade para sua produção ou obtenção em
determinado tempo e local.
Além disso, o dinheiro varia de valor em razão da variação da quantidade de metal nele
presente, afetando, assim, o preço nominal das mercadorias.
O trabalho é a medida mais universal e constante para medir o valor das mercadorias
em diferentes tempos e lugares. Já o dinheiro é a exata medida apenas em determinado
tempo e lugar.

CAPÍTULO 6: DAS PARTES COMPONENTES DO PREÇO DAS MERCADORIAS


O valor que os trabalhadores acrescem aos materiais se divide em duas partes, sendo
uma para pagar seus salários e a outra para pagar os lucros do empregador. A parte dos
lucros pelo capital adiantado pelo empregador a título de salário e materiais ou estoque
é regida por princípios diferentes dos aplicados ao salário. Ela é proporcional ao capital
empregado. Há ainda uma terceira parte no preço das mercadorias correspondente à
renda paga ao proprietário da terra e dos recursos naturais. Assim, a mercadoria tem
seu preço dividido em três partes: salário, lucro e renda. Quanto mais manufaturada a
mercadoria, maior a proporção de salário e lucro em comparação com a parte da renda.
O rendimento do capital se chama lucro quando seu dono o emprega e se chama
interesse (juro) ou “uso do dinheiro” quando é empregado por uma outra pessoa.

CAPÍTULO 7: DO PREÇO NATURAL E DO PREÇO DE MERCADO DAS MERCADORIAS


As cotações médias ou ordinárias de salário, lucro e renda são chamadas de cotações
naturais de salários, lucros e rendas de determinado tempo e lugar onde prevalecem.
O preço real de qualquer mercadoria é o preço de mercado, que pode estar abaixo ou
acima do preço natural.
Quando há mais demanda do que oferta, os interessados em adquirir irão competir para
comprar e o preço de mercado subirá acima do preço natural. Quando há mais oferta
do que demanda, há competição entre vendedores para conseguir vender suas
mercadorias, o que acarreta um preço de mercado abaixo do preço natural. Além do
desequilíbrio entre oferta e procura, há intervenções estatais e monopólios, entre
outros fatores, que também afetam o preço de mercado.
O preço natural, assim, é um preço central que tende a atrair o preço de mercado.
O preço natural também pode variar. Nos capítulos seguintes, Adam Smith pretende
explicar as causas dessas variações do preço natural.

CAPÍTULO 8: DOS GANHOS DO TRABALHO


Apesar de ter prometido cuidar do preço natural, ao que parece, Adam Smith trata
apenas do preço de mercado do trabalho.
Segundo ele, são dois fatores principais a influenciar os salários. O primeiro seria o
choque entre oferta e demanda de mão de obra, de modo que, quando a demanda é
maior que a oferta isso tende a fazer subir os salários e na situação contrária os salários
tendem a cair. O outro fator seria o custo de subsistência. Segundo Adam Smith, o
aumento no custo da alimentação, por exemplo, tende a elevar o valor dos salários, uma
vez que, se não ganharem o mínimo para sobreviver, os trabalhadores não terão
incentivo para trabalhar.

CAPÍTULO 9: DOS LUCROS DOS FUNDOS


É muito difícil determinar o que influencia o lucro, pois os fatores ocorrem a todo
momento, inclusive a cada hora, não podendo, assim, haver um padrão ou constância.
É o caso do aumento dos custos, como os salários, a competição, acidentes que causam
prejuízos etc..
Mas há um padrão não do lucro em si, mas em sua relação com os juros. É que, quando
o capital está rendendo mais a tendência é que os juros também sejam mais altos e
vice-versa.
Um grande capital com pequenos lucros geralmente aumenta mais rápido do que um
pequeno capital com grandes lucros.
Ainda quanto à relação entre juro e lucro, se aquele é o pagamento pelo uso do dinheiro,
que normalmente é empregado na indústria, o lucro precisa ser maior para que sobre
algum valor após esse pagamento.
A insegurança quanto ao pagamento do juro, por exemplo por um sistema jurídico que
não garanta os contratos, pode fazer com que bons e maus devedores tenham que pagar
o mesmo juro de falidos, ou seja, um juro alto para compensar o risco. Em qualquer
empréstimo o juro precisa cobrir também os riscos.
Se todo o capital de um país está empregado, a taxa ordinária de lucro líquido diminui
e, com isso, a taxa de mercado usual do juro baixa a ponto de ninguém, exceto os muito
ricos, viverem apenas de juros. Daí que todas as pessoas, exceto os muito ricos,
precisariam aplicar e supervisionar o próprio capital, ou seja, tornar-se
empreendedores.
Altos lucros elevam o preço do trabalho mais do que os altos salários.

CAPÍTULO 10 – DOS SALÁRIOS E DO LUCRO NOS DIFERENTES EMPREGOS DO TRABALHO


E DO CAPITAL
O conjunto de vantagens e desvantagens dos vários empregos de capital e trabalho
devem tender à igualdade em determinado local, pois se não fosse assim, todos
deixariam o que é desvantajoso para migrar para o que é vantajoso. Essa migração,
contudo, exigiria plena liberdade de mercado.
Porém, na Europa, havia muita distinção de local para local no que diz respeito a salários
e lucro, o que se devia a dois fatores: a) crença dos homens de que determinados
empregos são mais vantajosos; b) intervenção estatal que atrapalha aquela liberdade
exigida para o equilíbrio dos empregos.

PARTE 1: DESIGUALDADES ORIUNDAS DA NATUREZA DOS PRÓPRIOS EMPREGOS (DE


CAPITAL E TRABALHO)

São cinco principais circunstâncias que afetam o salário: a) agradabilidade ou não do


emprego; b) nível de dificuldade, inclusive custos, para aprender o emprego; c)
constância ou inconstância do emprego; d) nível de confiança dos que exercem; e)
probabilidade de sucesso.
Em relação ao lucro, dessas cinco circunstâncias, apenas duas são relevante s: a) a
agradabilidade do negócio; e b) o risco do negócio.

As cinco circunstâncias, ainda que causem desigualdades nos salários e nos lucros , não
causam nenhuma desigualdade quando se considera o total de vantagens e
desvantagens dos diversos empregos. Essa igualdade ou equilíbrio geral ocorre quando
presentes três circunstâncias: a) empregos já estabelecidos e conhecidos (empregos
novos podem acarretar lucros extraordinários momentâneos até que cheguem
concorrentes); b) estado ordinário ou natural (períodos excepcionais, como guerras,
desastres naturais e epidemias podem afetar o equilíbrio) ; e c) único ou principal
emprego de seus ocupantes (as pessoas que já possuem um emprego para garantir sua
subsistência tendem a aceitar um emprego adicional por preço abaixo do que o normal) .

PARTE 2: DESIGUALDADES PELA POLÍTICA DA EUROPA

Há três formas que a política interfere na liberdade de mercado:


a) restrição da competição (com concessão de privilégio a algumas corporações de
ofícios para explorar determinado negócio, por exemplo, limitando o número de
aprendizes para cada mestre). É curioso que o homem do campo possui maior poder de
compreensão do que o da cidade, que realiza tarefas simples e repetitivas. Porém, em
razão dos regulamentos, os negócios da cidade são mais vantajosos do que os do campo .
Isso ocorreria porque na cidade haveria mais facilidade para as pessoas se organizarem
em corporações. Se a política não tem como evitar essas organizações, deveria ao
menos não facilitá-las, como ocorre quando obriga o registro público de todos os
negócios, permitindo que os negociantes do mesmo ramo se encontrem facilmente e
façam acordos entre si;

b) a ampliação da competição além do que ocorreria naturalmente: exemplo dessa


situação ocorre quando o Estado, às expensas públicas, forma muitas pessoas para o
exercício da mesma profissão;

c) a obstrução da livre circulação do capital e do trabalho de emprego para emprego e


de lugar para lugar.

CAPÍTULO 11: DA RENDA DA TERRA


A renda da terra normalmente corresponde ao máximo que o rendeiro consegue pagar
sem inviabilizar seu negócio e lhe restar um lucro médio mínimo.
Essa renda é naturalmente um preço de monopólio.
Enquanto salário e lucro altos ou baixos são causas de preços altos ou baixos, as rendas
altas ou baixas são efeito.
Esse Capítulo será dividido em três partes: a) partes da produção da terra que sempre
dão alguma renda; b) partes da produção que ora dão renda e ora não; e c) variações
nos períodos de melhorias que têm lugar nos preços das duas espécies de produto
bruto, comparadas entre si e com produtos manufaturados.

PARTE 1: DO PRODUTO DA TERRA QUE SEMPRE FORNECE RENDA


Os alimentos tendem a garantir o fornecimento de renda. Os mais comuns são os
cereais. Entre eles, arroz, trigo e aveia. Mas também se cultiva açúcar, tabaco e batatas.
Os alimentos que estragam mais fácil podem desestimular o plantio.

PARTE 2: DO PRODUTO QUE POR VEZES FORNECE E POR VEZES NÃO FORNECE RENDA
Depois da alimentação, as maiores necessidades são vestuário e habitação. Contudo,
muitas vezes, as terras produzem quantidade de materiais necessários a essas duas
últimas necessidades em quantidade muito maior do que o necessário ou em local
inacessível ou em que o custo de transporte é tão alto que não permite lucro. Nesses
casos, essas terras não irão gerar renda.
As minas mais ricas determinam os preços das demais minas. O preço dos metais é
determinado por sua utilidade, beleza e raridade.

PARTE 3: DAS VARIAÇÕES NA PROPORÇÃO ENTRE OS VALORES RESPECTIVOS DAQUELA


ESPÉCIE DE PRODUTO QUE SEMPRE DÁ RENDA E DAQUELA QUE ÀS VEZES DÁ E ÀS VEZES
NÃO DÁ RENDA

Se a demanda dos metais aumenta sem aumento da oferta, seu preço sobe, de modo
que, com a mesma quantidade de metal, pode-se comprar mais cerais.
Se o fornecimento dos metais aumenta sem aumento da demanda, seu preço cai, de
modo que, com a mesma quantidade de metal, pode-se comprar menos cerais.
Se o fornecimento de metais aumenta na mesma proporção que a demanda, a mesma
quantidade de metal continua podendo comprar a mesma quantidade de cereais.

DIFERENTES EFEITOS DO PROGRESSO DOS MELHORAMENTOS SOBRE TRÊS DIFERENTES


ESPÉCIES DE PRODUTO BRUTO

Os produtos brutos se dividem em três classes:


a) os que a indústria humana não pode multiplicar – nessa classe de produtos o
progresso da riqueza e dos melhoramentos faz seu preço subir de forma até
extravagante;
b) os que a indústria humana pode multiplicar em proporção à demanda – nessa classe,
o preço pode subir, mas de forma limitada; e
c) produtos cuja indústria é incerta ou limitada – nessa classe há uma tendência natural
de subir o preço, mas o progresso pode fazer cair ou mesmo se manter

PRIMEIRA ESPÉCIE
São produtos que a natureza produz apenas em certas quantidades e que são perecíveis

SEGUNDA ESPÉCIE
São produtos que o homem pode multiplicar com sua indústria, mas que são limitados
pelas condições econômicas. E muitos deles, se houver abundância, ficarão baratos
demais a ponto de não compensar os custos de produção. O gado é um exemplo.
Conforme aumenta seu preço, há uma tendência de destinar mais terras para produzir
alimentos para o gado. Mas, ao haver essa mudança na destinação das terras, poderá
haver alteração no preço dos alimentos antes produzidos e torná-los mais atrativos.
TERCEIRA ESPÉCIE
Exemplos são a lã e o couro. Os fatores que afetam esses bens são afetados pelos
insumos de que dependem, bem como pela produção de outros países e dos
regulamentos impostos à exportação daqueles produtos.
Os produtos das minas também podem ser enquadrados aqui.

EFEITOS DO PROGRESSO DOS APERFEIÇOAMENTOS NO PREÇO REAL DAS


MANUFATURAS

O efeito natural é diminuir o preço real de quase todas as manufaturas. Mesmo que o
valor do trabalho se eleve, a destreza e a maquinaria geram menor necessidade de
trabalho, mais que compensando a elevação do valor do trabalho.
A madeira é uma exceção, pois seu preço real pode subir com o aperfeiçoamento da
terra e mais do que compensará as vantagens da maquinaria, da destreza e da
distribuição do trabalho.

LIVRO II
DA NATUREZA, ACUMULAÇÃO E EMPREGO DO CAPITAL

CAPÍTULO I
DA ACUMULAÇÃO DO CAPITAL, OU DO TRABALHO PRODUTIVO OU IMPRODUTIVO
Trabalho produtivo é o que acresce valor e o improdutivo o que não acresce. O primeiro
seria o trabalho dos empregados na manufatura. O segundo seria o trabalho dos
serviçais, dos servidores públicos, de alguns profissionais liberais, por mais nobre ou útil
que seja o trabalho. O trabalho improdutivo perece no momento que executado.
Onde há emprego de capital para movimentar trabalho produtivo, o povo é mais
industrioso. Onde há renda para prover o povo, este se torna ocioso.
É a parcimônia, e não a indústria, que é causa imediata da acumulação do capital.
“A quantidade de dinheiro, então, que pode ser empregada anualmente em qualquer
país deve ser determinada pelo valor dos bens de consumo anualmente nele
circulados.” (p.197)

LIVRO III
DO DIFERENTE PROGRESSO DA OPULÊNCIA EM DIFERENTES NAÇÕES

CAPÍTULO I
DO PROGRESSO NATURAL DA OPULÊNCIA
A ordem natural do progresso começa com a agricultura, cujo aprimoramento e excesso
de produção leva à formação de cidades e manufaturas, que, por sua vez, levam ao
comércio exterior.
Porém, há situações em que se inverte essa ordem natural.

CAPÍTULO II
COMO O COMÉRCIO DAS CIDADES CONTRIBUIU PARA O MELHORAMENTO DO CAMPO
A contribuição ocorreu de três formas:
a) propiciando mercado para o produto bruto do campo, estimulando o cultivo e seu
aperfeiçoamento;
b) os comerciantes teriam a ambição de se tornarem proprietários e fariam isso com o
lucro. Ao se tornarem proprietários de terras sem cultivo, eles usam seu espírito
empreendedor para aperfeiçoar a produção do campo (diferentemente dos
proprietários tradicionais que tendem a ser tímidos e pródigos) ;
c) o modo de vida da cidade com o comércio e as manufaturas ensejaram a criação da
ordem e do bom governo, a proteção da liberdade e segurança dos indivíduos. Essas
conquistas acabaram transplantadas para o campo.

LIVRO IV – DOS SISTEMAS DE ECONOMIA POLÍTICA

INTRODUÇÃO

Economia Política é o ramo da ciência do estadista ou legislador que tem dois objetivos:
a) proporcionar renda abundante ou subsistência para o povo ou para ele próprio; b)
suprir o Estado ou a comunidade com renda suficiente para os serviços públicos ou, em
suma, enriquecer o povo e o soberano.

Nos diferentes tempos e nações (lugares), surgiram dois sistemas diferentes de


economia política, quanto ao enriquecimento do povo: a) o sistema mercantil, que é o
sistema moderno [naquela época]; e b) a agricultura.

CAPÍTULO 1: DO PRINCÍPIO DO SISTEMA COMERCIAL, OU MERCANTIL


Existe uma crença equivocada de que a riqueza consiste em dinheiro ou, mais
especificamente, em ouro e prata. Essa noção popular decorre do fato de o dinheiro ter
a dupla função de instrumento do comércio e medida de valor.

De fato, o dinheiro, de modo diferente do que os demais bens, é mais conveniente para
ser transportado e guardado e permite sua rápida troca pelos bens de que seu dono
necessita.

O fato é que essa crença levou a economia política dos países a buscar aumentar seu
estoque de metais, inclusive com a proibição da exportação de ouro e prata.

Mas o fato é que o livre comércio sozinho teria o condão de suprir a sociedade com
todos os bens de que necessitaria, incluindo a necessidade de ouro e prata. É que a
quantidade de qualquer mercadoria se regula pela sua demanda efetiva, principalmente
ouro e prata, que podem circular mais facilmente do que bens volumosos.

As restrições ao comércio são inefetivas, pois é difícil fiscalizar.

O dinheiro corre atrás das mercadorias, mas estas nem sempre correm atrás do
dinheiro. O homens não querem o dinheiro pelo dinheiro, mas para poder comprar o
que desejam.

As grandes guerras foram sustentadas não por ouro e prata, mas por mercadorias.
O comércio exterior tem a vantagem de propiciar o atendimento das necessidades e de
enviar para fora as mercadorias excedentes.

A economia política então se firmou sobre dois princípios: restringir importação e


encorajar exportação.

As restrições à exportação são de duas espécies: a) restrição à importação de bens para


consumo interno no próprio país; b) restrição de importação de bens de países com os
quais a balança comercial estivesse desvantajosa.

Essas restrições ocorriam por altas taxas ou por proibições absolutas.

A exportação era encorajada de quatro formas: a) reembolsos; b) prêmios; c) tratados


de comércio vantajosos com Estados estrangeiros; e d) estabelecimento de colônias em
regiões distantes.

As seis formas de atuação do Estado no comércio exterior serão objeto dos próximos
seis capítulos.

CAPÍTULO 2
DAS RESTRIÇÕES SOBRE A IMPORTAÇÃO DE PAÍSES ESTRANGEIROS DOS BENS QUE O
PAÍS PODE PRODUZIR
Essas restrições geram um tipo de monopólio para a indústria nacional.
Se o mercado é deixado livre, naturalmente os indivíduos tenderão a aplicar seu capital
na indústria doméstica, pois preferem ter seu capital sob sua vista.
O indivíduo sabe melhor do que o Estado onde empregar seu capital e, agindo segundo
seu próprio interesse, proporciona um resultado que será o melhor para a sociedade,
pois irá maximizar sua produção.
Se um indivíduo considera mais vantajoso comprar algo do que fazer, isso deve ser
permitido, ainda que o produto seja estrangeiro. Caso contrário, ele terá menos renda,
fazendo acumular menos capital e, por conseguinte, fazendo crescer menos a produção
nacional.
É absurdo forçar a produção nacional quando esta é mais cara do que a aquisição de
produtos estrangeiros.
Haveria dois casos em que poderia ser vantajoso onerar a indústria estrangeira para
encorajamento da nacional: a) quando alguma indústria nacional seja necessária à
defesa do país; e b) quando alguma taxa é imposta no país sobre seu próprio produto.

CAPÍTULO 3: DAS RESTRIÇÕES EXTRAORDINÁRIAS SOBRE A IMPORTAÇÃO DE BENS DE


QUASE TODO TIPO DAQUELES PAÍSES COM QUE A BALANÇA É SUPOSTAMENTE
DESVANTAJOSA

Parte 1: Da Irracionalidade Daquelas Restrições, Mesmo Pelos Princípios Do Sistema


Comercial

As restrições normalmente têm em vista interesses particulares e de curto prazo, mas


que, embora satisfeitos por elas, acabam por gerar mais prejuízos no longo prazo e para
a economia como um todo, seja porque praticamente eliminam o comércio, seja porque
incentivam a clandestinidade, seja porque ensejam retaliações.

A imposição de taxas, por exemplo, encarece as mercadorias em subtraem a renda do


povo. Além disso, podem fazer com que o país tenha que consumir mais renda ou mais
esforço na produção local, quando poderia economizar com a importação, sobrando
dessa forma capital para emprego em atividades para as quais o país seja mais eficiente.
Ainda que em relação a determinado país a balança possa ser desfavorável em relação
a algum produto, a economia deve ser analisada como um todo e em relação a todos os
países.

Parte 2: Da Irracionalidade Daquelas Restrições Extraordinárias Por Outros Princípios


É uma falácia que uma balança desfavorável seja prejudicial. Trata-se de uma crença
pregada por comerciantes interesseiros para preservar o próprio negócio contra a
concorrência externa.
O comércio deveria ser uma relação de amizade e respeito. Mas as nações, por conta de
interesses mesquinhos, tratam o comércio exterior como perigoso e prejudicial.
A riqueza de um país vizinho é tida por um governo como perigosa, pois pode sustentar
um exército forte contra si na guerra. Porém, na paz, é ótimo ter vizinhos ricos, pois têm
um mercado maior para vender nossos produtos e trazer mais renda.
Diferentemente da balança comercial desfavorável, o que pode fazer a riqueza cair é o
consumo maior do que o produto, pois ele faria decair o capital.

CAPÍTULO 4: DO REEMBOLSO DAS TARIFAS ADUANEIRAS

O reembolso das taxas domésticas que é entregue ao comerciante quando exporta suas
mercadorias é razoável, pois acaba por consertar o equilíbrio atrapalhado por essas
mesmas taxas no emprego do capital.

CAPÍTULO 5 – DOS PRÊMIOS


Os prêmios são aplicados para ajudar a baratear o preço de produtos nacionais vendidos
no exterior, ou seja, servem para ajudar nas exportações.
Mas os prêmios impõem duas taxas sobre o povo: a) o povo é obrigado a contribuir com
o prêmio; b) o alto preço da mercadoria no mercado interno, onde é vendida sem o
prêmio.
O prêmio age diferentemente na economia a depender do produto que incentiva. No
caso do trigo, por ser uma mercadoria que afeta o preço de todas as demais
mercadorias, o prêmio pode não trazer vantagem nenhuma para a economia, salvo para
alguns mercadores, além de trazer inflação. No caso de tecidos, pode beneficiar seus
produtores.

CAPÍTULO 6 – DOS TRATADOS DE COMÉRCIO


Os tratados do comércio, ao beneficiarem determinado país, prejudicam outros países
e o próprio povo da nação, pois os produtos importados com os privilégios desses
tratados não ficam sujeitos à competição ou igualdade de condições de competição de
produtos de outros países.
No caso da Inglaterra alguns tratados parecem ter sido feitos com Portugal para
propiciar um fornecimento de ouro. Esse ouro seria necessário para fazer funcionar
principalmente o comércio exterior.
Nesse capítulo, Adam Smith trata da cunhagem do dinheiro e sobre a taxa de cunhagem
(senhoriagem ou signoraggio) e seus efeitos. Narra também como o negócio da
cunhagem pode ter sido vantajoso para o Banco da Inglaterra e o papel do governo
nisso. Ele também informa que esse assunto deveria constar no Capítulos do Livro 1
sobre a origem e uso do dinheiro. Mas ele tratou aqui porque a lei de encorajamento da
cunhagem teve origem em preconceitos introduzidos pelo sistema mercantil.

CAPÍTULO 7: DAS COLÔNIAS

Parte 1: Dos Motivos Para O Estabelecimento De Novas Colônias

Os motivos que deram origem às colônias gregas e romanas foram diferentes dos que
deram origem às colônias na América e nas Índias.

A Grécia possuía território pequeno e quando a população aumentou foi necessário


buscar outros territórios. As colônias eram consideradas como “filhas” e, como tal,
recebiam ajuda da “mãe”, mas sem que a mãe pretendesse ter autoridade ou jurisdição
sobre as filhas.

Roma inicialmente dividiu as terras das repúblicas por meio de uma lei agrária em certas
proporções entre os cidadãos. Com o tempo, alguns cidadãos acumularam terras e
desarranjaram a organização original. Os cidadãos livres sem terras não tinham como
sobreviver, pois os senhores de terras satisfaziam suas necessidades com os trabalhos
de seus escravos. Os escravos, por sua vez, eram mantidos pelos senhores. Daí que os
homens livres buscavam ajuda dos candidatos nas eleições anuais, que sempre
buscavam aplicar a divisão das terras ou a lei que limitou a quantidade de terra que cada
cidadão poderia possuir. Mas os conflitos sempre acabavam resolvidos com o envio
desses cidadãos para outros territórios, normalmente na Itália. Esses territórios,
contudo, não formavam Estados independentes, ficando sujeitos à cidade -mãe.
Já as colônias nas Américas e nas Índias não tiveram necessidade nenhuma e sua
utilidade não foi tão clara.

Colombo, ao descobrir as Américas, não viu valor nos animais e vegetais e então voltou
seus olhos para as riquezas minerais.

Assim, todo projeto de colonização das Américas teve como principal motivo buscar
ouro e prata.

Parte 2: Causas Da Prosperidade Das Novas Colônias

A descoberta de terras desocupadas ou ocupadas por selvagens permite sua ocupação


por nações civilizadas e o emprego nelas de suas artes e formas de governo. A grande
extensão de terra torna a terra barata. Os proprietários anseiam por ampliar a produção
e, como não têm grandes taxas a pagar, podem pagar salários generosos. Os altos
salários estimulam a população a crescer e mesmo a se tornarem também senhores de
terras.

A liberdade e a qualidade das terras (quantidade, preço e qualidade) parecem ser a


causa da prosperidade das novas colônias.

Parte 3: Das Vantagens Que A Europa Derivou Da Descoberta Da América E Da De Uma


Passagem Às Índias Orientais Pelo Cabo Da Boa Esperança

A Europa como um todo aumentou seus rendimentos e indústria. Mesmo países que
nunca enviaram nada para a América ou dela receberam podem ser beneficiados
indiretamente pelo aumento do mercado e do excesso de produtos propiciados por esse
novo continente.

As vantagens particulares de cada país colonizador são de dois tipos: a) as vantagens


comuns que impérios obtêm das províncias sujeitas a seu domínio (renda e força
militar); e b) vantagens peculiares de províncias peculiares como as americanas
(notadamente pelo comércio exclusivo com tais colônias, servindo a terra mãe de
intermediário de sua produção para outras nações).

Embora o monopólio com as colônias possa trazer algumas vantagens para algumas
pessoas e no curto prazo, o monopólio é algo ruim para a economia como um todo.

O sistema mercantil revelou que seu principal objetivo é enriquecer a nação mais pelo
comércio e manufatura do que pela melhoria e cultivo da terra, mais pela indústria das
cidades que pela do campo.

As normas que prejudicam a economia como um todo precisam ser revogadas aos
poucos para que se busque o equilíbrio natural. Uma revogação brusca causaria muitos
transtornos.

CAPÍTULO 8: CONCLUSÃO DO SISTEMA MERCANTIL

O Estado deveria tratar todo seu povo igualmente. Porém, quando intervém no
comércio, normalmente favorece os manufatureiros em prejuízo dos produtores. É o
caso dos regulamentos que proíbem a exportação de lã.

Com isso, a produção de lã inglesa fica no país, aumentando sua oferta e fazendo seu
preço baixar. Os manufatureiros, então, compram lã barata para fazer seus produtos.

Têm o mesmo objetivo as leis que impedem importação de bens que concorram com
produção dos manufatureiros.

Embora todo interesse do produtor somente merecesse ser atendido na medida em que
promovesse o interesse do consumidor, normalmente as normas promovem o interesse
do produtor em prejuízo do interesse do consumidor. Isso é um contrassenso pois o
consumo é o fim e o propósito de toda produção.
CAPÍTULO 9: DOS SISTEMAS AGRÍCOLAS, OU DAQUELES SISTEMAS DE ECONOMIA
POLÍTICA QUE REPRESENTAM O PRODUTO DA TERRA COMO A ÚNICA OU PRINCIPAL
FONTE DE RENDA E RIQUEZA DE TODO PAÍS

Nesse sistema as ordens de pessoas que contribuem com o produto anual da terra e
trabalho do campo são três: a) proprietários de terra; b) cultivadores, lavradores e
campônios; e c) artífices, manufatureiros e comerciantes (chamada classe estéril ou
improdutiva).

Os proprietários contribuem com despesas para melhoria da terra.

Os lavradores e cultivadores contribuem com despesas primitivas e despesas anuais.


Aquelas são os instrumentos, sementes e manutenção dos trabalhadores até que haja
retorno da terra, normalmente durante o primeiro ano de ocupação da terra. As
despesas anuais são as mesmas despesas depois desse período.

Essas três despesas, a do proprietário e as duas dos trabalhadores, são chamadas


despesas básicas e são consideradas despesas produtivas. Todas as outras despesas e
pessoas são consideradas estéreis e improdutivas.

Essa visão da manufatura e do comércio como sendo improdutivos é mais presente


entre os franceses seguidores de Quesnay, que favoreceram a atividade agrícola. Adam
Smith não concorda muito com ela.

Como os egípcios tinham aversão supersticiosa ao mar, com a religião não permitindo
cozinhar sobre a água, isso os impediu de explorar o mar. Daí que dependiam de outras
nações para trazer e levar produtos.

Para Adam Smith, os sistemas que buscam proteger ou privilegiar a agricultura em


detrimento da indústria e do comércio acabam por prejudicar a agricultura.

Em suma, o governo deve deixar o mercado livre, sempre que seus agentes estejam
respeitando as leis da justiça. O governante, num sistema de liberdade natural,
somente deve ter três tarefas: a) proteger a sociedade da violência e invasão de outras
sociedades; b) proteger, tanto quanto possível, os membros da sociedade de injustiça
por parte de outros membros, ou seja, administrar a justiça; e c) erigir e manter certas
obras públicas e instituições públicas que nunca seriam do interesse de nenhum
indivíduo, porque o lucro nunca pagaria a despesa, mas que compensam a sociedade
como um todo.

Para essas tarefas é necessária renda pública. As despesas para essas tarefas serão
tratadas no livro seguinte em três capítulos: primeiro: a) despesas necessárias do
governo ou da comunidade; b) despesas que devem ser custeadas por toda a sociedade;
e c) despesas que devem ser custeadas por parte da sociedade; segundo: diferentes
métodos para a sociedade contribuir para custear as despesas; terceiro: razões e causas
que fazem os governos hipotecar parte da renda ou contrair dívida.
LIVRO V: DA RENDA DO SOBERANO OU COMUNIDADE

PARTE I: DA DESPESA DA DEFESA

CAPÍTULO 1: DAS DESPESAS DO SOBERANO OU COMUNIDADE

As despesas de defesa são diversas conforme o modo de vida ou grau de civilização da


sociedade.

Os caçadores primitivos praticamente não geravam despesas de defesa, pois suas


atividades cotidianas já eram treinamento para guerra e seu modo de vida não mudava
na guerra e na paz. Seu grupo normalmente não poderia ser muito grande.

Os pastores, por sua vez, como os tártaros e árabes, podiam formar um grupo maior e
também não geravam despesa ao soberano. Seu modo de vida não muda na paz e na
guerra. Na guerra, levam consigo seu rebanho, que lhes propicia seu sustento.

Num grau mais avançado da sociedade, como os agricultores, a dureza do trabalho


diário também os prepara para a guerra. Porém, para irem à guerra, precisam deixar
alguém cuidando dos campos. Sua ausência pode acarretar perda de renda e, por isso,
é necessário que o governo lhes forneça um sustento e, assim, há uma despesa pública
nesse caso.

Num estado ainda mais adiantado são duas as causas que contribuem para tornar
impossível a manutenção dos soldados por conta própria. A primeira é que sua renda
nesse estado da sociedade decorre do progresso das manufaturas, de modo que, ao
irem à guerra, perdem totalmente sua renda. A segunda é que, com o aperfeiçoamento
da arte da guerra, torna-se necessário manter soldados mesmo em tempos de paz, que
precisam, dessa forma, de uma fonte de renda, até para que possam se especializar no
ofício da guerra.

Quanto mais avançada a sociedade, menor é o número de membros dela que pode ir à
guerra sem arruinar a sociedade.

Quando o Estado prospera, as pessoas tendem a exercer mais as atividades que tragam
maior renda, negligenciando as atividades militares.

Daí, ou o Estado obriga as pessoas a se exercitarem, criando uma milícia, ou cria um


corpo destinado principalmente ao ofício militar, um exército regular.

O avanço da sociedade torna necessária a manutenção de um exército regular, que é


cada vez mais dispendioso.

A invenção das armas de fogo contribuiu para aumentar esse custo.

PARTE 2 DA DESPESA DA JUSTIÇA


Os ricos são avarentos e ambiciosos enquanto os pobres são avessos ao trabalho e
buscam satisfação no curto prazo.

Grande propriedade gera desigualdade. Para uns poucos ricos há muitos pobres.
Quando há grandes propriedades, de valor superior a dois ou três dias de trabalho, é
necessário o estabelecimento de um governo civil para impedir a violência.

O governo civil pressupõe certa subordinação. São quatro as causas que introduzem
essa subordinação.
A primeira é a superioridade das qualificações pessoais. A segunda é superioridade de
idade. A terceira é a superioridade de riqueza. A quarta é a superioridade de nascimento.

Conforme o grau de avanço da sociedade o governo civil se faz mais necessário. Na


sociedade de pastores o governo civil já aparece e se mostra como uma instituição de
defesa dos ricos contra os pobres.

O governo civil, em vez de trazer despesas, era fonte de renda ao soberano, que recebia
para administrar a justiça.

O fato de a justiça ser paga pode influenciar indevidamente a decisão. Por isso,
posteriormente, estipulou-se uma remuneração fixa para os magistrados. Mas a forma
como regulada essa remuneração sempre influenciou o trabalho da Justiça. Por
exemplo, quando se estipulou um pagamento por página escrita, os agentes
encarregados da Justiça conseguiam multiplicar o tamanho do texto escrito para
aumentar seus rendimentos.

PARTE 3: DA DESPESA DAS OBRAS PÚBLICAS E INSTITUIÇÕES PÚBLICAS

Além da defesa e da justiça, também são necessárias despesas para facilitar o comércio
e para promover a instrução do povo.

ARTIGO I: DAS OBRAS E INSTITUIÇÕES PÚBLICAS PARA FACILITAR O COMÉRCIO DA


SOCIEDADE

Entram aqui estradas, portos etc.. As despesas dessas instituições e obras públicas
podem ser custeadas por pequenas taxas de quem as utiliza, sem necessidade de onerar
toda a sociedade.

É melhor que as despesas públicas para esses benefícios públicos sejam administrados
localmente, pois os eventuais abusos são mais facilmente corrigidos do que se
administrados por um grande império.

DAS OBRAS PÚBLICAS E INSTITUIÇÕES QUE SÃO NECESSÁRIAS PARA FACILITAR


DETERMINADOS RAMOS DO COMÉRCIO
Exemplo de obras públicas são os fortes mantidos em países e strangeiros para proteger
as mercadorias.

Como instituições, são citadas as companhias, que podiam ser de capital conjunto,
regulamentadas ou de capital privado. Cada uma possuía algum problema.

Alguns ramos do comércio, por serem rotineiros e passíveis de ser reduzidos a regras
estritas, poderiam ser facilmente conduzidos por companhias de capital conjunto:
bancos, seguros, canais e fornecimento de água.

O que justificaria o emprego de capitais públicos seria a utilidade geral do negócio para
a sociedade e a quantidade de capital exigida ser maior do que um sujeito privado
poderia obter.

PARTE 4: DA DESPESA DE SUSTENTAR A DIGNIDADE DO SOBERANO

A prodigalidade do soberano é proporcional à opulência e progresso da sociedade.


Parece se esperar que a dignidade do soberano seja a maior do que a de todos os
membros da sociedade, exigindo assim uma despesa para mantê-la.

CONCLUSÃO

As despesas de sustento e defesa da sociedade podem ser custeadas pela contribuição


de toda a sociedade. As da justiça, contudo, seriam melhor custeadas por contribuição
dos envolvidos no processo, seja porque são eles que dão causa ao processo, seja
porque são os mais beneficiados pela decisão judicial. Talvez apenas a justiça criminal
deva ser custeada por toda sociedade, pois o criminoso não teria patrimônio para pagar.

As despesas locais devem ser custeadas pela renda local.

Despesas de estradas e comunicações devem ser custeadas por todos.

Despesas para educação devem ser custeadas por todos, pois beneficiam todos. M as,
talvez, houvesse vantagem em ser custeadas pelos que recebem a educação.

Instituições e obras públicas benéficas a toda a sociedade pode m ser custeadas por
todos, mas apenas naquela parte subsidiária, quando os imediatamente beneficiados
não puderem arcar com tudo.

A seguir, serão estudas as fontes de renda pública

CAPÍTULO 2: DAS FONTES DA RENDA GERAL OU PÚBLICA DA SOCIEDADE

São duas as fontes: fundo particular do soberano ou comunidade; e renda do povo

PARTE 1 DOS FUNDOS OU FONTES DE RENDA QUE PODEM PERTENCER


PARTICULARMENTE AO SOBERANO OU À COMUNIDADE
Consistem em capital ou terra. Se o soberano emprega esses recursos, obtém lucro. Se
empresta, obtém juro. A atividade de um soberano é incompatível com o exercício do
comércio.

Não é recomendável depender a renda do Estado apenas do capital, pois este é instável
e seu emprego arriscado. Na época, a maioria dos grandes Estados derivava sua principal
fonte de renda das terras públicas.

Mas deveriam pertencer à Coroa apenas terras para prazer, como parques, jardins,
passeios públicos etc., que são lugares que apenas dão despesas. É que os particulares
tornariam as terras mais produtivas.

Fato é que nem capital nem as terras são suficientes para derivar a renda necessária
para manter a despesa de um grande Estado civilizado, sendo necessário recorrer a taxas
do povo.

PARTE 2: DAS TAXAS

As taxas sobre os particulares recaem sobre seus rendimentos, que são oriund os da
terra, do capital ou do trabalho, ou seja, rendas, lucros e salários, respectivamente.
Também há taxas que incidem sobre todos os rendimentos indistintamente.

Há quatro máximas sobre as taxas em geral:


I – a contribuição de cada súdito deve ser proporcional a sua capacidade, ou seja, aos
seus rendimentos protegidos pelo Estado.
II – deve haver clareza, simplicidade e certeza, ou seja, segurança, quanto aos valores e
datas de pagamento das taxas, para evitar arbitrariedades dos coletores.
III –as taxas devem ter a arrecadação mais conveniente possível para os contribuintes
no tempo e modo de pagamento.
IV – a arrecadação deve ser eficiente ao máximo, fazendo com que o valor que vá para
o tesouro corresponda o máximo possível ao que foi tirado do povo. É que todo recurso
além disso, por exemplo as despesas de arrecadação, prejudicam o povo sem trazer
benefício ao tesouro.

ARTIGO I
TAXAS SOBRE A RENDA. TAXAS SOBRE A RENDA DA TERRA

Há regiões que taxam menos as terras da igreja e outras que taxam mais. As que taxam
mais acreditam que a igreja não contribui com a produção do país e por isso precisam
contribuir mais por meio das taxas.

Há regiões que taxam mais as terras dos ricos e menos as dos pobres e há regiões que
fazem exatamente o inverso.

TAXAS QUE SÃO PROPORCIONADAS NÃO À RENDA, MAS AO PRODUTO DA TERRA


Taxas sobre produto são taxas sobre renda.

Essa taxa pode contribuir ou prejudicar o aperfeiçoamento da terra.

Em alguns lugares é cobrada em dinheiro e em outros é cobrada em produtos.

Quanto maior o Estado, mais perigoso é cobrar taxas em produtos, pois estes tendem a
ser mal cuidados pelos coletores e por isso não chegar íntegros ao tesouro.

TAXAS SOBRE A RENDA DAS CASAS

Dividem-se em renda do edifício e renda do terreno.

A do edifício é o interesse ou lucro do capital investido na construção da casa. Essa renda


é regulada pelo juro ordinário do dinheiro.

O que supera esse lucro ordinário vai para a renda do terreno.

A renda do terreno é mais alta perto da cidade do que no campo longe dela.

Os ricos devem contribuir para as despesas públicas em proporção à sua renda e com
um adicional além dessa proporção.

O aluguel das casas se diferencia da renda das terras, pois as terras são artigos
produtivos e as casas não são.

Na Inglaterra, as taxas sobre as casas eram cobradas segundo o número de janelas, de


modo a que o inspetor não precisasse entrar nas casas. Mas essa taxa acabava por vezes
onerando os mais pobres.

ARTIGO II
TAXAS SOBRE O LUCRO, OU SOBRE A RENDA ORIUNDA DO CAPITAL

A renda do lucro se divide em duas partes: a que paga juros e que pertence ao dono do
capital e a que está além do valor desses juros. Essa segunda parte representa uma
pequena compensação pelo risco de empregar capital.

Há duas circunstâncias que tornam o juros do dinheiro menos adequados à taxação


direta do que a renda da terra. Primeiro, a dificuldade de saber com exatidão a
quantidade de capital de alguém, enquanto é fácil saber a quantidade de terra, sem
contar a constante variação do valor do capital. Segundo, a terra não pode ser removida,
ao passo que o capital pode, de modo que, ao ser taxado, pode abandonar o país.

Fiscalizar o valor real do capital causaria um vexame insuportável. Daí que a taxação do
capital tende a ser menos severa que a da terra. Em muitos lugares, os próprios cidadãos
declaram seu patrimônio para fins de taxação. Mas há lugares, como em Hamburgo,
onde isso não seria possível, pois os comerciantes temeriam expor a situação ruim de
seus negócios e arriscar perder o crédito.

[Obs. Minha: mesmo hoje as pessoas podem ter constrangimento de e xpor sua renda
ou patrimônio, por medo da segurança ou por receio da reação dos demais membros
da sociedade]

Em muitos lugares as taxas sobre o capital recaem apenas sobre os juros do capital e
não sobre o próprio capital, de modo que este não é alterado.

TAXAS SOBRE O LUCRO DE EMPREGOS PARTICULARES

Em alguns países as taxas recaem sobre ramos particulares do comércio ou sobre a


agricultura.

As taxas nunca devem recair sobre os comerciantes, quando estes têm lucro razoável, e
sim sobre os consumidores. Quando a taxa não é proporcional ao ofício do negociante,
acaba prejudicando os pequenos negociantes.

ARTIGO III
TAXAS SOBRE OS SALÁRIOS

Os salários são regulados pela demanda de trabalho e pelo preço médio dos
mantimentos ou subsistência dos trabalhadores.

A taxação do salário faz com que o valor do salário tenha que subir para permitir ao
trabalhador manter a renda mínima necessária para seus mantimentos. O percentual de
subida do salário acaba sendo maior do que o percentual da taxa. Assim, se precisa de
100 para subsistência e é cobrada uma taxa de 10%, sobra-lhe apenas 90. Para que sobre
100, o salário precisará ser igual a 100 = x – (10/100 * x), ou seja, precisará receber um
salário de 111,11.

A taxa sobre salários pode acarretar diminuição no emprego de trabalhadores e na


produção anual da terra. No final essa taxa é paga por proprietários e consumidores.

As taxas dos funcionários públicos podem ser populares (aceitos pela sociedade), pois
os funcionários públicos normalmente recebem mais do que os trabalhadores da
iniciativa privada.

ARTIGO IV
TAXAS QUE SE PRETENDE QUE RECAIAM INDIFERENTEMENTE SOBRE CADA TIPO DE
RENDIMENTO

São de dois tipos: as taxas por capitação e as taxas sobre mercadorias de consumo.

TAXAS POR CAPITAÇÃO


Se se tenta tornar essas taxas proporcionais à fortuna ou renda do contribuinte, elas
podem se tornam arbitrárias, caso não haja o acompanhamento da constante variação
da renda e da fortuna.

Por outro lado, se se tenta torná-las certas, elas se tornam desiguais. A desigualdade
somente poderá ser suportada se a taxa for leve.

Nas classes inferiores acabam recaindo sobre os salários, com todos seus
inconvenientes.

TAXAS SOBRE MERCADORIAS DE CONSUMO

As mercadorias se dividem entre necessárias e de luxo.

A tributação das necessárias traz efeitos nefastos, principalmente para os mais pobres.

As de luxo podem ser tributadas sem prejudicar a economia.

As taxas sobre mercadorias podem ser cobradas do vendedor ou do comprador. Para


bens duráveis é melhor tributar o vendedor. Para os bens consumíveis é melhor tributar
o comprador.

As taxas alfandegárias são mais antigas do que as taxas sobre mercadorias. Elas se
chamam customs por se referirem a costumes antigos.

Taxas que foram impostas sobre produtos estrangeiros para evitar a concorrência
acabaram por proibir importações e estimular o contrabando. Estímulos à exportação,
por sua vez, acarretam fraudes para ganhar indevidamente os benefícios (simula uma
exportação, mas faz depois a mercadoria entrar no mercado novamente de forma
clandestina).

Altas taxas por vezes acarretam arrecadação menor, seja por fazer diminuir o consumo,
seja por estimular contrabando.

A soma do consumo da classe inferior do povo é superior do que a soma do consumo da


classe superior tanto em quantidade quanto em valor. Mas a taxa não deve visar apenas
onde está o maior consumo e sim onde estão as despesas de luxo e não as necessárias.

As taxas de pedágio funcionam como uma alfândega interna e obstrui o comércio


interior do país, principalmente quando o valor do pedágio não leva em conta o valor da
despesa, mas o valor do peso ou volume da mercadoria.

CAPÍTULO 3
DOS DÉBITOS PÚBLICOS

Uma grande renda em qualquer época consiste no comando de uma grande quantidade
de necessidades da vida, normalmente envolvendo as pessoas necessárias para tanto.
Nos tempos de violência, as pessoas procuravam acumular bens que poderiam carregar
em caso de fuga. Também era comum o achado de tesouro, o que demonstra a cultura
de esconder a riqueza. Grande parte da renda do Estado vinha do achado destes
tesouros.

Nos governos da época de Adam Smith, quase todos os governos estavam em dívida.

A falta de parcimônia na paz faz contrair dívida na guerra.

Quanto maior o número de comerciantes de um país, maior o número de súditos


dispostos a conceder crédito.

O comércio e a manufatura só florescem onde há regular administração da justiça,


proteção da propriedade, fé nos contratos e no uso da autoridade estatal para fazer
pagar as dívidas.

Num estado rude da sociedade, as pessoas escondem a riqueza por medo e o Estado
tem dificuldade de obter empréstimo, o que o força a economizar.

A preocupação é sempre aliviar a necessidade do momento, deixando para a


posteridade a questão da liberação da renda pública. Essa ideia fez com que a dívida
fosse aumentando cada vez mais até o ponto de o Estado ser capaz de pagar apenas os
juros.

As pessoas com recursos até têm interesse em emprestar para o Estado, quando isso
lhes garante aumento de capital e renda. Daí que por vezes esse método de o Estado
obter recursos acaba sendo preferido à tributação, que é odioso entre o povo.

Há dois métodos de emprestar: por antecipação e por fundos perpétuos.

A crença de que o pagamento da dívida pública não prejudica o país, pois apenas faria a
renda trocar de mãos dentro do país, não é correta, pois pode haver credores
estrangeiros.

Além disso, os credores públicos têm interesse apenas em receber seus pagamentos,
não se preocupando com a qualidade das terras ou dos empregos de capital que
fornecerão os recursos para propiciar os pagamentos.

Estados endividados sempre acabam recorrendo a expedientes para adulterar o valor


da moeda, de modo a pagar a mesma dívida com menos moeda do que seria necessária.
É o que ocorre, por exemplo, com a inflação. Usa-se a mesma quantia nominal de
moeda, mas como a moeda vale menos, a dívida acaba sendo paga de certa forma com
um valor menor do que deveria.

Uma possível fonte de renda para a Grã-Bretanha poderia ser obtida nas colônias, não
tanto aumentando as taxas, mas evitando desvios das taxas já cobradas.
Uma última alternativa seria a redução das despesas.

As colônias têm custado muito ao império, principalmente nas guerras para defendê-
las, embora elas não forneçam um retorno que compense essas despesas.

OBSERVAÇÃO PESSOAL

Não me pareceu na obra que Adam Smith fosse um crítico do Estado, mas apenas um
crítico do abuso estatal.
Além disso, em toda a obra, há uma preocupação com a melhoria da condição do povo,
ou seja, principalmente dos mais desfavorecidos.

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