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A INTERVENÇÃO DA ARTETERAPIA
NO RESGATE DO FEMININO ESSENCIAL
Joinville - SC
11
2007
ALESSANDRA NOVELETTO TRAPP
A INTERVENÇÃO DA ARTETERAPIA
NO RESGATE DO FEMININO ESSENCIAL
Joinville, SC
2007
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Alquimy Art
A INTERVENÇÃO DA ARTETERAPIA
NO RESGATE DO FEMININO ESSENCIAL
__________________________________________________________
Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, , Orientador
__________________________________________________________
Profa. Dra. Cristina Dias Allessandrini, Coordenadora da Especialização
__________________________________________________________
Prof. Esp. Danielle Bittencourt de Souza, Convidado
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Agradecimentos
caminhada, mesmo por vezes não entendo muito bem os motivos de minhas
escolhas.
e a amizade.
não seria completo, não só o acadêmico, mas sobretudo o pessoal, aprendi e curti
estimula e impulsiona a darmos saltos qualitativos na nossa vida, que soube acolher
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arteterapeutas.
resgate não só de mim mesma, mas tornando-me uma profissional mais integrada
Encontrarte.
RESUMO
ABSTRACT
This research studies the feminine Psychology through the archetypes of Goddess-
Mother and others Goddess, rooted in Jung‟s concepts. It considers the concepts as
„anima‟ and „animus‟ in the theoretical basis as well as further on the approach and
practice. It reflects upon female understandings under the patriarch influence still in
effect nowadays and how the rescue and the valorization of this principle occur. It is
reported an art therapeutic intervention in a project called Encontrarte, with a group
of women (5 groups with women ranging from 21 to 67 years old). It analyzes
through different activities as: clay, drawing, stories and characters, the
comprehension level of this feminine principle. The final results point to the lack of
understanding and the integration of this principle in the day by day of these
individuals. It concludes that the contact with Art Therapy is an important help to find
again the very female nature in the process of individuation of the women.
SUMÁRIO
RESUMO........................................................................................................................ 07
ABSTRACT.................................................................................................................... 08
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................... 10
2. JUNG, ANIMA E ANIMUS.......................................................................................... 15
3. O SAGRADO FEMININO – A DEUSA....................................................................... 20
3.1 OS PRINCIPAIS TIPOS DE DEUSAS................................................................. 26
3.2 O FEMININO NA NOSSA ÉPOCA...................................................................... 27
4. DESCRIÇÃO DE PESQUISA.................................................................................... 29
4.1 ESTUDO DE CASO............................................................................................ 32
4.2 RESULTADOS – NIVEIS DE RELAÇAO............................................................ 36
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 38
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.............................................................................. 40
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1 - INTRODUÇÃO
clara e segura o que fazer da sua vida profissional. E, que você faça principalmente
a escolha certa. Certa para os outros, conforme a expectativa deles, de forma sutil,
uma bifurcação, não sabendo qual caminho seguir; após uma experiência com o
mundo das artes, especificamente o teatro, meu modo de pensar e agir havia
imediato, mas, comecei a me interessar e estar motivada pelo curso no terceiro ano
ocupacional.
Logo após ter concluído o curso, iniciei no mesmo mês minha vida
Algo se perdeu, decodificou, hibernou, talvez tenha sido o modo como tudo
conflitantes.
motivação para fazer o diferente, o que torna a experiência mais rica, com mais
procuro uma via unificadora entre mente (intelectual) e coração (intuição), algo que
gere um processo criador mais pleno, mais consciente, com significados mais
entre carreira, filhos, casa, estudos, etc. Iniciou-se um dialogo e uma reflexão
jornadas duplas de trabalho, suas emoções, seu crescimento, suas mágoas, enfim
sobre a vida das mulheres dos seus trinta e poucos anos, nos dias atuais.
Acredito que esta escolha é uma demanda de ordem pessoal, que é para mim
Do “princípio feminino”, surge então uma estreita relação com o ser intuitivo e
no estado de ser que não exige nenhum movimento a mais do que os necessários
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para ativar os próprios poderes em que se acredita. O feminino permitiria então que
integrando a força criadora, que gera, que nutre, que acolhe a vida.
Animus.
principais deusas gregas. Continua com a importante reflexão sobre a mulher nos
De uma maneira breve será descrito conceitos dos quais são de fundamental
importância para que se possa chegar com clareza aos arquétipos que trata dos
Calvin S. Hall (1993, p. 32) aponta que Jung, chama de arquétipos “traços
humanidade”.
experiências reais. É nessa camada que todos os seres humanos são iguais. A
o caso do inconsciente pessoal, porém seu conteúdo precisa das experiências reais
atenção. São os arquétipos de persona, anima, animus, sombra e o eu, dos quais
com os outros”.
O nome vem da antiga máscara usada no teatro grego para representar esse
ou aquele papel numa peça e tem, para Jung, o mesmo sentido, ou seja, é a
comunicação com o seu mundo externo, com a sociedade onde vive e de acordo
com os papéis dele exigidos. O objetivo principal é o de ser aceito pelo grupo social
Para Calvin S. Hall (1993, p. 37) enfatiza que como qualquer outro
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possível. Assim, espera-se de um médico que se comporte como tal, que atenda o
paciente e que o cure dos males que o atingem. De um bombeiro, que seja solícito e
Calvin S. Hall (1993, p. 37) atenta para o papel da persona, por exemplo, um
médico não pode ser um médico o tempo todo. Em casa é o pai, o marido, o filho e
assim outras máscaras ele estará utilizando. Aqueles que são possuídos por sua
projeção de Animus é feita pelo pai. Por isso, é tão importante para o
criança.
Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de Animus através das
mulher.
mulher que ele tem internalizada. É fato que a pessoa que recebe a projeção é
do objeto externo. Geralmente o que se ouve é que a pessoa amada deixou de ser
aquela por quem ele se apaixonou, quando na verdade ela nunca foi, só serviu como
Fadimam e Frager (2004, p. 103) lembram que Jung chamou este arquétipo
de “imagem da alma”, por sua capacidade de nos colocar em contato com nossas
amamentamos, que gostamos, toda a paixão, desejo e sexualidade, tudo que nos
femininas, indo parar no outro lado do pêndulo, negando ou omitindo toda esta força
contida.
altamente sofisticada que simplesmente não é expressa nos termos das abstrações
narrativas dramáticas.
Foi nos impingida uma distinção arbitrária entre a linguagem dura da ciência
humanidade em que a Grande Mãe era adorada, os seres humanos viviam em maior
conhecida com Inana (e na Assíria como Istar), ela era adorada como a própria fonte
de vida. Ela era o poder manifesto em toda a fertilidade e em todas as suas formas –
terra. Mas o jovem deus era apenas agente da renovação, sendo a própria Deusa
Para entendermos corretamente quem é esta divindade, tem que se voltar até
poder que conspirou para que o Universo fosse criado era feminino. Como só as
mulheres têm o poder de dar vida aos outros seres, nossos ancestrais começaram a
Buscar essa sintonia com a mãe Terra poderia ser uma forma
importante de harmonia em nossa sociedade, que não valoriza o
feminino, no qual as mulheres, para tornarem-se respeitadas,
procuram assumir posturas masculinas nos campos profissional,
cultural e social. Ao adquirir qualidades masculinas, como
autoritarismo, a mulher pode perder seu poder de acolhimento, de
ternura, de sentir prazer.
criação e assim o Universo era identificado como uma Grande Deusa, criadora de
eram muito difundidos. Nas culturas primitivas a mulher era tida como a única fonte
de vida, tanto que os lugares onde ocorriam os partos eram considerados sagrados
a Grande Mãe Terra (a Deusa) se tornou o centro de culto das tribos primitivas. As
mulheres eram consideradas responsáveis pela fartura das colheitas, pois eram elas
regeneração.
ou a primeira civilização da Europa. Datando de pelo menos 5000 anos atrás (talvez
até 25000 anos) antes do aparecimento das religiões centradas na figura masculina,
a velha Europa foi uma cultura “matrifocal”, sedentária, pacata, amante da arte, uma
A partir de uma certa época, a Europa passou por uma série de invasões do
uma profunda segurança entre Mãe e seu Filho Amante. Relíquias arqueológicas
dos cultos matriarcais, que remontam a milhares de anos até o período Neolítico,
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que os junguianos criticam como sendo o modo pelo qual a civilização ocidental
arquétipo da Mãe.
de falência espiritual em toda a parte, nas artes, na literatura, na política, nas igrejas.
cultura.
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A primeira coisa que nota-se é que, como qualquer pessoa que foi
encarcerada, exilada e caluniada, as deusas, ao serem restauradas
na consciência como princípios psicoespirituais, frequentemente
parecem fracas, confusas, magoadas e feridas. Esses ferimentos se
devem ao tratamento áspero e cruel que receberam nas mãos da
repressão patriarcal: Afrodite envergonha-se de sua sexualidade;
Atena questiona sua capacidade de pensar; Hera duvida do seu
próprio poder; Deméter desconfia de sua fertilidade; Perséfone nega
suas visões; Ártemis não sabe interpretar sua sabedoria corporal
instintiva. Isso e muito mais, é o legado do exílio psíquico do
feminino. (WOOLGER, 1989, p. 21)
forças masculinas na cultura ocidental. Não importa se essas chagas surgiram pela
primeira vez com a hegemonia guerreira dos gregos antigos, com o imperialismo dos
cristianismo.
As chagas das deusas não são novas, surgiram a quase três mil anos, no
controle das culturas matriarcais mais antigas. Quando se examina as origens das
chagas de cada uma das deusas conforme é revelado em suas biografias míticas na
Grécia antiga constatamos exatamente os mesmos conflitos por trás das atitudes,
deusas que parecem ser mais ativos na vida das mulheres modernas e na
sociedade contemporânea.
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Para Jennifer e Roger Woolger (1989) enfatiza que não apenas uma, mas
conseguido, o caminho está aberto e a cada dia vai se conquistando mais espaço.
Hoje, o desabrochar da mulher passa por uma etapa que se pode chamar de
Cada vez mais, as mulheres irão dar a luz a elas mesmas em consciência.
poderes.
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coração.
Betty Friedan citada por Colasanti (1981, p. 194) diz: ”Lutamos pela igualdade
ser feminino.
4- DESCRIÇÃO DA PESQUISA
Público, uma entidade sem fins lucrativos, filantrópica, de utilidade pública, lançada
em 2005.
chamada “Encontrarte”. Foram atendidos cinco grupos com 10 (dez) mulheres cada,
sem restrição de idade, atendendo uma diversidade de faixas etárias, que variavam
entre 21 a 67 anos. A oficina acontecia uma vez por semana, com 1h30mim de
duração, por um período de dois meses cada grupo, que se apresentaram de uma
mães e avós.
na qual está inserida, desde o papel inicial de submissão onde o ponto de referência
era o outro e não ela própria, exercendo muito bem o papel de mãe acolhedora,
rainha do lar e boa esposa até o papel da busca de conhecer qual é o seu
verdadeiro referencial, quais são seus gostos, escolhas, etc. Enfim, o resgate de sua
autonomia.
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princípio feminino.
profundo, o Self.
A expressão artística é, por si, um caminho para a expressão daquilo que não
está consciente, mas que faz parte de nós. Ela é um excelente meio para o
linguagem e avaliação.
mundo externo. Nesse primeiro contato, o indivíduo se abre para a experiência que
tomada consciente.
Ao final de cada oficina, foram feitos registros em relatórios, dos quais serão
A participante “D” ,uma mulher dos seus 60 anos, chegou para as oficinas do
anos, atualmente sem um companheiro fixo, mora sozinha, tem dois filhos (uma filha
técnica utilizada foi a de recorte e colagem, onde selecionou e colou gravuras que
condiziam com o que estava aparentando (figuras: mulher bonita, bem arrumada,
segura, casa decorada e com plantas, não havendo figuras de outras pessoas que
Mas, parece que algo foi despertado, algo que ainda não estava consciente,
que não havia sido percebido, e que foi emergindo de forma significativa no decorrer
nas falas no momento da apresentação dos cartazes, por ter falado demais. Por
algum motivo, parecia envergonhada pela sua atitude anterior, e neste dia manteve-
que não era afetuosa e demonstrava desprezo por ela, chamando-a de “feinha” junto
namorar, a mãe comentava para tratar muito bem o seu futuro esposo, pois este era
muito bonito para ela, e que não poderia discordar dele, para não incomodá-lo, pois
Toda essa atitude ostensiva e desqualificadora por parte da mãe, fez com que
Segundo Clarissa P. Estes (1999, p. 56) “A psique de uma mulher pode ter
por não lhe ter sido permitida uma vida mais ampla a céu aberto”.
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longo período de 30 anos, dos quais não soube o que era ter vontade própria, uma
relação totalmente castradora. Relata que quando se separou não sabia escolher
algo, qualquer coisa, não identificava o que gostava ou o que queria. Na mandala
sofreram. Ferimentos que lhe foram infligidos durante a longa história da batalha
estava marcada com muitas “chagas”. Mas certamente nesses encontros estava por
cansaço e a sua face estava constantemente ruborizada, parecia estar com algo
preso ou como uma panela de pressão preste a explodir. Nesse percurso havia
p.18) lembra:
a água, fazendo o efeito marmorizado. O trabalho foi realizado com uma bacia para
cada duas participantes. O que ocorre, é que no seu papel predomina de forma
significativa a cor vermelha, ela refaz o processo com mais três pedaços de
que tentou misturar as cores, mexer na água, mas sempre que passava, estava ali
novamente à cor vermelha. Perguntou-se para ela, o que essa cor lhe remetia?
Então, houve uma catarse, ela começou a chorar compulsivamente, relatando que
conseguia ver.
traz como um dos significados para a palavra sangue: O sangue é considerado por
Após, relatou que a sua mãe havia falecido há dois meses, e que lembrava
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muito dela, que a relação delas sempre foi de muita hostilidade, e que ultimamente
pensava muito nisso, no quanto a sua mãe tinha lhe feito mal, sentia-se ainda com
medo, como se a mãe ainda tivesse algum poder sobre ela. Terminado o encontro
conversamos com ela para nos certificarmos que estava melhor e que poderia ir
sua filha, relatava que tinha dificuldade de dar afeto aos filhos, de modo particular,
com a filha a dificuldade era maior. Falou em determinado encontro que não
acreditava no amor de filha para mãe, acreditava que isso não existia. Uma outra
participante compartilhou do amor que sentia pela mãe, do imenso carinho que elas
tinham uma com a outra. A participante “D” ficou então em estado de reflexão.
mostrou ainda “digerindo” tudo o que veio à tona, de modo tão rápido e revelador.
vivenciado, enfim explorado de modo tão inteiro aspectos do feminino que para ela
dos sujeitos no decorrer da Oficina Criativa, criada por Cristina Dias Allessandrini,
Coordenado.
Interpessoal Respeitoso, flexível, objetivo, Mantém resultado do inicio.
cooperativo,mente aberta,
Interdependente, criativo,
Receptivo.
Relação com a tarefa Curioso, disciplinado, presente, tranqüilo, Curioso, indisciplinado (d) -
construtivo, articulador,autônomo,auto- pertubado, presente,tranqüilo e
regulador intranqüilo,construtivo e não
construtivo, articulador, autônomo
e não autônomo, auto-regulador
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
essencial.
É importante que ela se aproprie de sua verdadeira natureza, que saiba o que
aconteceu com ela, quais são seus sonhos, seus desejos na vida, para que se
conheça e reconheça.
transformação, são orientados por símbolos. Sendo que estes emanam do self,
mais pleno. E na vida, o self, através de seus símbolos, precisa ser reconhecido,
compreendido e respeitado.
terra e de seus ciclos. Perdeu-se a ligação interior com aquele poder que era outrora
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COLASANTI, Marina. Mulher daqui pra frente. 6 ed. Rio de Janeiro: Nórdica, 1981.
ESTÉS, C.P. Mulheres que correm com os lobos: mitos e histórias do arquétipo
da mulher selvagem.12ª Ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.
.
OSTROWER, F. Criatividade e processos de criação. 19. ed. Petrópolis: Vozes,
2005.
SILVEIRA, Nise da. Jung vida e obra. 20 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2006.