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Rita Marnoto

Études de Philologie et Littérature Portugaises


1. Cortegiano e cortesão. Baldassarre Castiglione e D. Miguel da Silva
Rita Marnoto

2. Luís de Camões, Comédia Filodemo


Ed. critica a cura di Maurizio Perugi

10. Luís de Camões. Os Lusíadas - Edição crítica da princeps - Volume II


3. La lirica di Camões. 1. Sonetti
Ed. critica a cura di Maurizio Perugi

4 La lirica di Camões. 2. Redondilhas


Ed. critica a cura di Barbara Spaggiari

5. La lirica di Camões. 3. Canzoni


Ed. critica a cura di Maurizio Perugi
Rita Marnoto é Professora 6. La Lirica di Camões. 4. Ottave
da Faculdade de Letras da Ed. critica a cura di Barbara Spaggiari
Universidade de Coimbra,
7. La Lirica di Camões. 5. Elegie
Vice-Directora do Centre Ed. critica a cura di Maurizio Perugi
International d’Études Portugaises
de Genève e membro da Academia 8. La Lirica di Camões. 6. Odi
Ed. critica a cura di Barbara Spaggiari
das Ciências de Lisboa. Em 2007,
foi agraciada com a distinção 9. La Lirica di Camões. 7. Ecloghe
Ordine della Stella della Solidarietà Ed. critica a cura di Maurizio Perugi
Italiana, Grande Ufficiale della 10. Luís de Camões. Os Lusíadas. Ed. crítica da princeps
Repubblica. Dedica-se ao estudo Ed. crítica de Rita Marnoto, 2 vols.
da literatura italiana, da literatura
portuguesa e das suas relações
recíprocas, com destaque para o
classicismo e as vanguardas. No
âmbito dos estudos camonianos,
publicou numerosos trabalhos,
Este livro visa o esclarecimento das questões que se colocam em
torno da edição princeps de Os Lusíadas, inicialmente assinaladas por
Manuel de Faria e Sousa, na primeira metade do século XVII, e nunca
Luís de Camões. Os Lusíadas
alguns dos quais reunidos em
Sete ensaios camonianos (2007),
coordenou o projecto Comentário a
cabalmente explicitadas. A configuração da princeps de Os Lusíadas é
identificada a partir do diálogo estabelecido entre a materialidade do Edição crítica da princeps
texto, à luz da metodologia da bibliografia textual, e a ecdótica. Da
Camões, do qual resultaram quatro
volumes (2012-2016), e publicou
a obra O petrarquismo português do
colação de um significativo conjunto de exemplares datados de 1572,
resulta a edição crítica da princeps do poema historicamente identitário
Volume II
da portugalidade.
Cancioneiro geral a Camões (2015). Edição crítica de Rita Marnoto
Centre International
Capa: gravura do frontispício, Luís de Camões, Os Lusíadas, Lisboa, António Gonçalves, 1572,
edição princeps com o pelicano voltado para a esquerda. 10 ci
ep
d’Études Portugaises
Genève
SUMÁRIO

VOLUME I

I PROBLEMA CRÍTICO
1. Tradição textual de Os Lusíadas 13
2. A tradição manuscrita 14
3. Questões suscitadas pela tradição impressa 17
4. O reconhecimento da diversidade dos exemplares de 1572 20
5. As siglas Ee/S e E/D e outras siglas 24
6. Panorama setecentista 29
7. A edição do Morgado de Mateus e as variantes textuais 30
8. Proliferações oitocentistas 37
9. A materialidade dos exemplares 44
10. As edições de Epifânio da Silva Dias e de José Maria Rodrigues e o
critério de lectio difficilior potior 47
11. Lectio facilior 52
12. Ponto de situação 58
13. O papel 60
14. A tipografia 70
15. Epílogo 77

II A BIBLIOGRAFIA TEXTUAL
1. A bibliografia textual e Os Lusíadas 81
2. Princípios basilares e origens históricas da bibliografia 82
3. Desenvolvimentos da disciplina 89
4. A ideal copy 105
5. Excursus. O modelo descritivo 113

III A EDIÇÃO PRINCEPS DE OS LUSÍADAS


Estudo bibliográfico

- AS DUAS EDIÇÕES
1. Matrizes editoriais e procedimentos de colação 123
2. A escassa qualidade da produção 138
3. Composição e montagem das fôrmas 146
4. Os quatro erros técnicos universais e análise bibliográfica 152
SUMÁRIO

VOLUME I

I PROBLEMA CRÍTICO
1. Tradição textual de Os Lusíadas 13
2. A tradição manuscrita 14
3. Questões suscitadas pela tradição impressa 17
4. O reconhecimento da diversidade dos exemplares de 1572 20
5. As siglas Ee/S e E/D e outras siglas 24
6. Panorama setecentista 29
7. A edição do Morgado de Mateus e as variantes textuais 30
8. Proliferações oitocentistas 37
9. A materialidade dos exemplares 44
10. As edições de Epifânio da Silva Dias e de José Maria Rodrigues e o
critério de lectio difficilior potior 47
11. Lectio facilior 52
12. Ponto de situação 58
13. O papel 60
14. A tipografia 70
15. Epílogo 77

II A BIBLIOGRAFIA TEXTUAL
1. A bibliografia textual e Os Lusíadas 81
2. Princípios basilares e origens históricas da bibliografia 82
3. Desenvolvimentos da disciplina 89
4. A ideal copy 105
5. Excursus. O modelo descritivo 113

III A EDIÇÃO PRINCEPS DE OS LUSÍADAS


Estudo bibliográfico

- AS DUAS EDIÇÕES
1. Matrizes editoriais e procedimentos de colação 123
2. A escassa qualidade da produção 138
3. Composição e montagem das fôrmas 146
4. Os quatro erros técnicos universais e análise bibliográfica 152
5. Outros erros comuns no corpo do texto e análise bibliográfica 196
6. Diferenciação da iconografia e da tipografia do frontispício 216
7. Diferenciação da tipografia e do texto do alvará régio 222
8. Diferenciação da tipografia e do texto da licença da Inquisição 230
9. Diferenciação da tipografia e do texto da primeira página do poema 232
10. Registos de coeficiente 242
11. Cabeça de página
12. Pé de página
268
281
IV
13. Capitulares e ornamento 289
14. Caractéres simples em itálico 293
15. Diferenciação de página com iniciais de estância em itálico 300 EDIÇÃO CRÍTICA DA PRINCEPS DE
16. As ligaduras e a sua incidência distintiva. Ligaduras exclusivas 309
17. As duas edições e a sua autonomia 326 OS LUSÍADAS
18. Excursus. Fontes tipográficas de Os Lusíadas 343

- OS EXEMPLARES
19. A imposição 393
20. Formato e fórmula de colação de Os Lusíadas 398
21. Homogeneidade e heterogeneidade dos exemplares 405
22. Exemplares homogéneos 410
23. Exemplares heterogéneos 454

- DESCRIÇÃO DA IDEAL COPY


24. Edição princeps, Ee/S 503
25. Edição contrafeita, E/D 506
26. Fórmula de colação dos exemplares 509

VOLUME II

IV EDIÇÃO CRÍTICA DA PRINCEPS DE OS LUSÍADAS


Critérios de edição 9
Texto [13]
Aparato positivo 389
Nota 396

V BIBLIOGRAFIA 409
5. Outros erros comuns no corpo do texto e análise bibliográfica 196
6. Diferenciação da iconografia e da tipografia do frontispício 216
7. Diferenciação da tipografia e do texto do alvará régio 222
8. Diferenciação da tipografia e do texto da licença da Inquisição 230
9. Diferenciação da tipografia e do texto da primeira página do poema 232
10. Registos de coeficiente 242
11. Cabeça de página
12. Pé de página
268
281
IV
13. Capitulares e ornamento 289
14. Caractéres simples em itálico 293
15. Diferenciação de página com iniciais de estância em itálico 300 EDIÇÃO CRÍTICA DA PRINCEPS DE
16. As ligaduras e a sua incidência distintiva. Ligaduras exclusivas 309
17. As duas edições e a sua autonomia 326 OS LUSÍADAS
18. Excursus. Fontes tipográficas de Os Lusíadas 343

- OS EXEMPLARES
19. A imposição 393
20. Formato e fórmula de colação de Os Lusíadas 398
21. Homogeneidade e heterogeneidade dos exemplares 405
22. Exemplares homogéneos 410
23. Exemplares heterogéneos 454

- DESCRIÇÃO DA IDEAL COPY


24. Edição princeps, Ee/S 503
25. Edição contrafeita, E/D 506
26. Fórmula de colação dos exemplares 509

VOLUME II

IV EDIÇÃO CRÍTICA DA PRINCEPS DE OS LUSÍADAS


Critérios de edição 9
Texto [13]
Aparato positivo 389
Nota 396

V BIBLIOGRAFIA 409
Critérios de edição

A recensio, a examinatio e a collatio dos especímenes com o registo


Lisboa, António Gonçalves, 1572, atestou definitivamente a relativa
hierarquização, tendo-se concluído com:
— Identificação da edição princeps de Os Lusíadas e dos exemplares
ou partes de exemplares conhecidos que resultaram do relativo
processo de produção editorial.
— Diferenciação da edição princeps de Os Lusíadas e dos exemplares
ou partes de exemplares conhecidos que resultaram desse mesmo
processo de produção editorial, da contrafacção e dos exemplares
ou partes de exemplares conhecidos que resultaram de um outro
processo de produção editorial independente.
A edição crítica da princeps de Os Lusíadas conta com um
testemunho único, que é uma edição atestada por vários especímenes
completos ou partes de especímenes. Para a edição crítica de um
texto com um testemunho único, depurado dos erros de transmissão
ou de replicação, recorre-se ao original identificado. Tratando-se
de uma fonte editorial, será estabelecida a ideal copy do seu texto. Por
conseguinte, foi realizado o cotejo de um conjunto significativo de
exemplares ou partes de exemplares da princeps, a partir do suporte
material que contém o texto. O aparato regista as variantes de estado
tipográfico anteriores ao término do trabalho de edição.
A ideal copy foi editada a partir dos seguintes exemplares ou partes
de exemplares:

9
Critérios de edição

A recensio, a examinatio e a collatio dos especímenes com o registo


Lisboa, António Gonçalves, 1572, atestou definitivamente a relativa
hierarquização, tendo-se concluído com:
— Identificação da edição princeps de Os Lusíadas e dos exemplares
ou partes de exemplares conhecidos que resultaram do relativo
processo de produção editorial.
— Diferenciação da edição princeps de Os Lusíadas e dos exemplares
ou partes de exemplares conhecidos que resultaram desse mesmo
processo de produção editorial, da contrafacção e dos exemplares
ou partes de exemplares conhecidos que resultaram de um outro
processo de produção editorial independente.
A edição crítica da princeps de Os Lusíadas conta com um
testemunho único, que é uma edição atestada por vários especímenes
completos ou partes de especímenes. Para a edição crítica de um
texto com um testemunho único, depurado dos erros de transmissão
ou de replicação, recorre-se ao original identificado. Tratando-se
de uma fonte editorial, será estabelecida a ideal copy do seu texto. Por
conseguinte, foi realizado o cotejo de um conjunto significativo de
exemplares ou partes de exemplares da princeps, a partir do suporte
material que contém o texto. O aparato regista as variantes de estado
tipográfico anteriores ao término do trabalho de edição.
A ideal copy foi editada a partir dos seguintes exemplares ou partes
de exemplares:

9
ACL ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10 BSMS ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

AP ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10 UCoimbra ff. [i-ii]/π2; ff. 1-64/A-H8; ff. 66-186/I2.7 I3.6
I4.5 I8 K-Y8 Z10
BDMII-377 ff. [i-ii]/π2; ff. 1-120/A-P8; ff. 122-186/Q2.7
Q3.6 Q4.5 Q8 R-Y8 Z10 UHarvard-P.5215.72 f. [ii]/π2

BDMII-378 ff. 179-180, 183-184/Z3.8 Z4.7 UHarvard-P.5215.72.7 ff. [ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNE-R.14207 ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNE-R.14208 ff. 105-112/O8; ff. 129-130, 135-136/ R1.8


R2.7

BNN ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam2P ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam3P ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam4P ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam11P ff. 1-176/A-Y8

BritL-C.30e34 ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BritL-G.11286 ff. [i-ii]/π2; ff. 115-118/P3.6 P4.5; ff. 129-130,


135-136/R1.8 R2.7; ff. 153-154, 159-160/V1.8
V2.7; ff. 179-184/Z3.8 Z4.7 Z5.6

10 11
ACL ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10 BSMS ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

AP ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10 UCoimbra ff. [i-ii]/π2; ff. 1-64/A-H8; ff. 66-186/I2.7 I3.6
I4.5 I8 K-Y8 Z10
BDMII-377 ff. [i-ii]/π2; ff. 1-120/A-P8; ff. 122-186/Q2.7
Q3.6 Q4.5 Q8 R-Y8 Z10 UHarvard-P.5215.72 f. [ii]/π2

BDMII-378 ff. 179-180, 183-184/Z3.8 Z4.7 UHarvard-P.5215.72.7 ff. [ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNE-R.14207 ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNE-R.14208 ff. 105-112/O8; ff. 129-130, 135-136/ R1.8


R2.7

BNN ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam2P ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam3P ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam4P ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BNP-Cam11P ff. 1-176/A-Y8

BritL-C.30e34 ff. [i-ii] 186/π2 A-Y8 Z10

BritL-G.11286 ff. [i-ii]/π2; ff. 115-118/P3.6 P4.5; ff. 129-130,


135-136/R1.8 R2.7; ff. 153-154, 159-160/V1.8
V2.7; ff. 179-184/Z3.8 Z4.7 Z5.6

10 11
Texto

[frontispício]

OS / LVSIADAS / de Luis de Ca-/moẽs. / COM PRIVILEGIO


/ REAL. / Impressos em Lisboa, com licença da / sancta Inquisição, e do
Ordina-/rio : em casa de Antonio / Gõçaluez Impressor. / 1572
Texto

[frontispício]

OS / LVSIADAS / de Luis de Ca-/moẽs. / COM PRIVILEGIO


/ REAL. / Impressos em Lisboa, com licença da / sancta Inquisição, e do
Ordina-/rio : em casa de Antonio / Gõçaluez Impressor. / 1572
[f. s. n. r]

EV el Rey faço saber aos que este Aluara virem / que eu ey por bem e
me praz dar licença / a Luis de Camoẽs pera que possa fazer im-/primir
nesta cidade de Lisboa, hũa obra em / Octaua rima chamada Os Lusiadas,
que con-/tem dez cantos perfeitos, na qual por ordem / poetica em versos
se declarão os principaes fei/tos dos Portugueses nas partes da India depois
que se descobrio a / nauegação pera ellas por mãdado del Rey dom Manoel
meu visa/uo que sancta gloria aja, e isto com priuilegio pera que em tem-/
po de dez anos que se começarão do dia que se a dita obra acabar / de
empremir em diãte, se não possa imprimir nẽ vender em meus / reinos e
senhorios nem trazer a elles de fora, nem leuar aas ditas / partes da India pera
se vender sem licẽça do dito Luis de Camoẽs / ou da pessoa que pera isso seu
poder tiuer, sob pena de quẽ o con-/trario fizer pagar cinquoenta cruzados
e perder os volmes que / imprimir, ou vender, a metade pera o dito Luis de
Camões, e a / outra metade pera quem os acusar. E antes de se a dita obra
ven/der lhe sera posto o preço na mesa do despacho dos meus Desem-/
bargadores do paço, o qual se declarará e porá impresso na pri-/meira folha
da dita obra pera ser a todos notorio, e antes de se im/primir sera vista e
examinada na mesa do conselho geral do san-/to officio da Inquisição
pera cõ sua licença se auer de imprimir, e / se o dito Luis de Camões tiuer
acrecentados mais algũs Cantos, / tambem se imprimirão auendo pera
isso licença do santo officio, / como acima he dito. E este meu Aluara se
imprimirà outrosi no / prìncipio da dita obra, o qual ey por bem que valha
e tenha for-/ça e vigor, como se fosse carta feita em meu nome por mim
assi-/nada e passada por minha Chancellaria sem embargo da Orde-/nação
do segundo liuro, tit.xx. que diz que as cousas cujo effeito / ouuer de durar
mais que hum ano passem per cartas, e passando / por aluaras não valhão.
Gaspar de Seixas o fiz em Lisboa, a.xxiiij: / de Setembro, de M.D. LXXI.
Iorge da Costa o fiz escreuer.
[f. s. n. r]

EV el Rey faço saber aos que este Aluara virem / que eu ey por bem e
me praz dar licença / a Luis de Camoẽs pera que possa fazer im-/primir
nesta cidade de Lisboa, hũa obra em / Octaua rima chamada Os Lusiadas,
que con-/tem dez cantos perfeitos, na qual por ordem / poetica em versos
se declarão os principaes fei/tos dos Portugueses nas partes da India depois
que se descobrio a / nauegação pera ellas por mãdado del Rey dom Manoel
meu visa/uo que sancta gloria aja, e isto com priuilegio pera que em tem-/
po de dez anos que se começarão do dia que se a dita obra acabar / de
empremir em diãte, se não possa imprimir nẽ vender em meus / reinos e
senhorios nem trazer a elles de fora, nem leuar aas ditas / partes da India pera
se vender sem licẽça do dito Luis de Camoẽs / ou da pessoa que pera isso seu
poder tiuer, sob pena de quẽ o con-/trario fizer pagar cinquoenta cruzados
e perder os volmes que / imprimir, ou vender, a metade pera o dito Luis de
Camões, e a / outra metade pera quem os acusar. E antes de se a dita obra
ven/der lhe sera posto o preço na mesa do despacho dos meus Desem-/
bargadores do paço, o qual se declarará e porá impresso na pri-/meira folha
da dita obra pera ser a todos notorio, e antes de se im/primir sera vista e
examinada na mesa do conselho geral do san-/to officio da Inquisição
pera cõ sua licença se auer de imprimir, e / se o dito Luis de Camões tiuer
acrecentados mais algũs Cantos, / tambem se imprimirão auendo pera
isso licença do santo officio, / como acima he dito. E este meu Aluara se
imprimirà outrosi no / prìncipio da dita obra, o qual ey por bem que valha
e tenha for-/ça e vigor, como se fosse carta feita em meu nome por mim
assi-/nada e passada por minha Chancellaria sem embargo da Orde-/nação
do segundo liuro, tit.xx. que diz que as cousas cujo effeito / ouuer de durar
mais que hum ano passem per cartas, e passando / por aluaras não valhão.
Gaspar de Seixas o fiz em Lisboa, a.xxiiij: / de Setembro, de M.D. LXXI.
Iorge da Costa o fiz escreuer.
[f. s. n. v] [1r]

VI por mandado da santa e geral inquisição estes dez / Cantos dos Lusiadas OS LVSIADAS / DE LVIS DE / CAMÕES.
de Luis de Camões, dos valero-/sos feitos em armas que os Portugueses fizerão
em Asia e / Europa, e não achey nelles cousa algũa escandalosa, nem /
contraria â fe e bõs custumes, somente me pareceo que era / necessario aduertir
os Lectores que o Autor pera encarecer / a difficuldade da nauegação e entrada
dos Portugueses na / India, vsa de hũa fição dos Deoses dos Gentios. E ainda ☙ Canto primeiro.
que / sancto Augustinho nas suas Retractações se retracte de ter / chamado
nos liuros que compos de Ordine, aas Musas Deo-/sas Toda via como isto he
Poesia e fingimento, e o Au-/tor como poeta, não pretenda mais que ornar o
estilo Poeti-/co não tiuemos por inconueniente yr esta fabula dos Deoses / na
obra, conhecendoa por tal: e ficando sempre salua a ver-/dade de nossa sancta [1] AS armas, e os ba-/rões assinalados,
fe, que todos os Deoses dos Gẽtios sam / Demonios. E por isso me pareceo o Que da Occidental praya Lusi-/tana,
liuro digno de se impri-/mir, e o Autor mostra nelle muito engenho e muita eru/ Por mares nunca de antes na-/uegados,
dição nas sciencias humanas. Em fe do qual assiney aqui. / Frey Bertholameu Passaram, ainda alem da Taprobana,
/ Ferreira. Em perigos, e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana.
E entre gente remota edificarão
Nouo Reino, que tanto sublimarão.

[2] E tambem as memorias gloriosas


Daquelles Reis, que forão dilatando
A Fee, o Imperio, e as terras viciosas
De Affrica, e de Asia, andarão deuastando,
E aquelles que por obras valerosas
Se vão da ley da Morte libertando.
Cantando espalharey por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
A Cessem
[f. s. n. v] [1r]

VI por mandado da santa e geral inquisição estes dez / Cantos dos Lusiadas OS LVSIADAS / DE LVIS DE / CAMÕES.
de Luis de Camões, dos valero-/sos feitos em armas que os Portugueses fizerão
em Asia e / Europa, e não achey nelles cousa algũa escandalosa, nem /
contraria â fe e bõs custumes, somente me pareceo que era / necessario aduertir
os Lectores que o Autor pera encarecer / a difficuldade da nauegação e entrada
dos Portugueses na / India, vsa de hũa fição dos Deoses dos Gentios. E ainda ☙ Canto primeiro.
que / sancto Augustinho nas suas Retractações se retracte de ter / chamado
nos liuros que compos de Ordine, aas Musas Deo-/sas Toda via como isto he
Poesia e fingimento, e o Au-/tor como poeta, não pretenda mais que ornar o
estilo Poeti-/co não tiuemos por inconueniente yr esta fabula dos Deoses / na
obra, conhecendoa por tal: e ficando sempre salua a ver-/dade de nossa sancta [1] AS armas, e os ba-/rões assinalados,
fe, que todos os Deoses dos Gẽtios sam / Demonios. E por isso me pareceo o Que da Occidental praya Lusi-/tana,
liuro digno de se impri-/mir, e o Autor mostra nelle muito engenho e muita eru/ Por mares nunca de antes na-/uegados,
dição nas sciencias humanas. Em fe do qual assiney aqui. / Frey Bertholameu Passaram, ainda alem da Taprobana,
/ Ferreira. Em perigos, e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana.
E entre gente remota edificarão
Nouo Reino, que tanto sublimarão.

[2] E tambem as memorias gloriosas


Daquelles Reis, que forão dilatando
A Fee, o Imperio, e as terras viciosas
De Affrica, e de Asia, andarão deuastando,
E aquelles que por obras valerosas
Se vão da ley da Morte libertando.
Cantando espalharey por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
A Cessem
[1v] [2r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 2.

[3] Cessem do sabio Grego, e do Troyano, [6] E vos ò bem nascida segurança
As nauegações grandes que fizerão: Da Lusitana antigua liberdade,
Callese de Alexandro, e de Trajano, E não menos certissima esperança,
A fama das victorias que tiuerão, De aumento da pequena Christandade:
Que eu canto o peyto illustre Lusitano, Vos o nouo temor da Maura lança,
A quem Neptuno, e Marte obedeçerão: Marauilha fatal da nossa idade:
Cesse tudo o que a Musa antigua canta, Dada ao mundo por Deos q̃ todo o mande,
Que outro valor mais alto se aleuanta. Pera do mundo a Deos dar parte grande.

[4] E vos Tagides minhas, pois criado [7] Vos tenrro, e nouo ramo florecente,
Tendes em my hum nouo engenho ardente, De hũa aruore de Christo mais amada
Se sempre em verso humilde, celebrado Que nenhũa nascida no Occidente,
Foy de my vosso rio alegremente, Cesarea, ou Christianissima chamada:
Daime agora hum som alto, e sublimado, Vedeo no vosso escudo, que presente
Hum estillo grandiloco, e corrente, Vos amostra a victoria ja passada.
Porque de vossas agoas Phebo ordene, Na qual vos deu por armas, e deixou
Que não tenhão enueja aas de Hypocrene. As que elle pera si na Cruz tomou.

[5] Daime hũa furia grande e sonorosa, [8] Vos poderoso Rei, cujo alto Imperio,
E não de agreste a vena, ou frauta ruda: O Sol logo em nascendo ve primeiro:
Mas de tuba canora e belicosa, Veo tambem no meio do Hemispherio,
Que o peito acende, e a cor ao gesto muda: E quando dece o deixa derradeiro.
Daime igoal canto aos feitos da famosa Vos que esperamos jugo e vituperio,
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda: Do torpe Ismaelita caualleiro:
Que se espalhe e se cante no vniuerso, Do Turco Oriental, e do Gentio,
Se tam sublime preço cabe em verso. Que inda bebe o licor do sancto Rio.
E vos A 2 Inclinay
[1v] [2r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 2.

[3] Cessem do sabio Grego, e do Troyano, [6] E vos ò bem nascida segurança
As nauegações grandes que fizerão: Da Lusitana antigua liberdade,
Callese de Alexandro, e de Trajano, E não menos certissima esperança,
A fama das victorias que tiuerão, De aumento da pequena Christandade:
Que eu canto o peyto illustre Lusitano, Vos o nouo temor da Maura lança,
A quem Neptuno, e Marte obedeçerão: Marauilha fatal da nossa idade:
Cesse tudo o que a Musa antigua canta, Dada ao mundo por Deos q̃ todo o mande,
Que outro valor mais alto se aleuanta. Pera do mundo a Deos dar parte grande.

[4] E vos Tagides minhas, pois criado [7] Vos tenrro, e nouo ramo florecente,
Tendes em my hum nouo engenho ardente, De hũa aruore de Christo mais amada
Se sempre em verso humilde, celebrado Que nenhũa nascida no Occidente,
Foy de my vosso rio alegremente, Cesarea, ou Christianissima chamada:
Daime agora hum som alto, e sublimado, Vedeo no vosso escudo, que presente
Hum estillo grandiloco, e corrente, Vos amostra a victoria ja passada.
Porque de vossas agoas Phebo ordene, Na qual vos deu por armas, e deixou
Que não tenhão enueja aas de Hypocrene. As que elle pera si na Cruz tomou.

[5] Daime hũa furia grande e sonorosa, [8] Vos poderoso Rei, cujo alto Imperio,
E não de agreste a vena, ou frauta ruda: O Sol logo em nascendo ve primeiro:
Mas de tuba canora e belicosa, Veo tambem no meio do Hemispherio,
Que o peito acende, e a cor ao gesto muda: E quando dece o deixa derradeiro.
Daime igoal canto aos feitos da famosa Vos que esperamos jugo e vituperio,
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda: Do torpe Ismaelita caualleiro:
Que se espalhe e se cante no vniuerso, Do Turco Oriental, e do Gentio,
Se tam sublime preço cabe em verso. Que inda bebe o licor do sancto Rio.
E vos A 2 Inclinay
[2v] [3r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 3.

[9] Inclinay por hum pouco a magestade, [12] Por estes vos darey hum Nuno fero,
Que nesse tenrro gesto vos contemplo, Que fez ao Rei, e ao Reino tal seruiço,
Que ja se mostra, qual na inteira idade, Hum Egas, e hũ dom Fuas, q̃ de Homero
Quando sobindo yreis ao eterno templo, A Citara parelles so cobiço:
Os olhos da real benignidade Pois polos doze pares daruos quero,
Ponde no chão: vereis hum nouo exemplo, Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço.
De amor, dos patrios feitos valerosos, Douuos tambem aquelle illustre Gama,
Em versos deuulgado numerosos. Que para si de Eneas toma a fama.

[10] Vereis amor da patria, não mouido [13] Pois se a troco de Carlos Rei de França,
De premio vil: mas alto, e quasi eterno Ou de Cesar, quereis igual memoria:
Que nam he premio vil, ser conhecido Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Por hum pregão do ninho meu paterno. Escura faz qualquer estranha gloria:
Ouui vereis o nome engrandecido E aquelle que a seu Reino a segurança
Daquelles de quem sois senhor superno. Deixou, com a grande e prospera victoria.
E julgareis qual he mais excelente, Outro Ioane, inuicto caualleiro,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente: O quarto, e quinto Afonsos, e o terceiro.

[11] Ouui, que não vereis com vãs façanhas [14] Nem deixarão meus versos esquecidos,
Fantasticas, fingidas, mentirosas, Aquelles que nos Reinos la da Aurora,
Louuar os vossos, como nas estranhas Se fizerão por armas tam subidos,
Musas, de engrandecerse desejosas, Vossa bandeira sempre vencedora.
As verdadeiras vossas sam tamanhas, Hum Pacheco fortissimo, e os temidos
Que excedem as sonhadas fabulosas: Almeidas, por quem sempre o Tejo chora.
Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro, Albuquerque terribil, Castro forte,
E Orlando, inda que fora verdadeiro. E outros em quem poder não teue a morte.
Por A 3 E em
[2v] [3r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 3.

[9] Inclinay por hum pouco a magestade, [12] Por estes vos darey hum Nuno fero,
Que nesse tenrro gesto vos contemplo, Que fez ao Rei, e ao Reino tal seruiço,
Que ja se mostra, qual na inteira idade, Hum Egas, e hũ dom Fuas, q̃ de Homero
Quando sobindo yreis ao eterno templo, A Citara parelles so cobiço:
Os olhos da real benignidade Pois polos doze pares daruos quero,
Ponde no chão: vereis hum nouo exemplo, Os doze de Inglaterra, e o seu Magriço.
De amor, dos patrios feitos valerosos, Douuos tambem aquelle illustre Gama,
Em versos deuulgado numerosos. Que para si de Eneas toma a fama.

[10] Vereis amor da patria, não mouido [13] Pois se a troco de Carlos Rei de França,
De premio vil: mas alto, e quasi eterno Ou de Cesar, quereis igual memoria:
Que nam he premio vil, ser conhecido Vede o primeiro Afonso, cuja lança
Por hum pregão do ninho meu paterno. Escura faz qualquer estranha gloria:
Ouui vereis o nome engrandecido E aquelle que a seu Reino a segurança
Daquelles de quem sois senhor superno. Deixou, com a grande e prospera victoria.
E julgareis qual he mais excelente, Outro Ioane, inuicto caualleiro,
Se ser do mundo Rei, se de tal gente: O quarto, e quinto Afonsos, e o terceiro.

[11] Ouui, que não vereis com vãs façanhas [14] Nem deixarão meus versos esquecidos,
Fantasticas, fingidas, mentirosas, Aquelles que nos Reinos la da Aurora,
Louuar os vossos, como nas estranhas Se fizerão por armas tam subidos,
Musas, de engrandecerse desejosas, Vossa bandeira sempre vencedora.
As verdadeiras vossas sam tamanhas, Hum Pacheco fortissimo, e os temidos
Que excedem as sonhadas fabulosas: Almeidas, por quem sempre o Tejo chora.
Que excedem Rodamonte, e o vão Rugeiro, Albuquerque terribil, Castro forte,
E Orlando, inda que fora verdadeiro. E outros em quem poder não teue a morte.
Por A 3 E em
[3v] [4r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 4

[15] E em quanto eu estes canto, e a vos nam posso [18] Mas em quanto este tempo passa lento,
Sublime Rei, que nam me atreuo a tanto, De regerdes os pouos, que o desejão:
Tomay as redeas vos do Reino vosso, Day vos fauor ao nouo atreuimento,
Dareis materia a nunca ouuido canto: Pera que estes meus versos vossos sejão:
Comecem a sentir o peso grosso, E vereis ir cortando o salso argento:
(Que polo mundo todo faça espanto,) Os vossos Argonautas, porque vejão,
De exercitos, e feitos singulares, Que sam vistos de vos no mar yrado,
De Affrica as terras, e do Oriente os mares. E costumaiuos ja a ser inuocado.

[16] Em vos os olhos tem o Mouro frio, [19] Ia no largo Occeano nauegauão,
Em quem vè seu exicio afigurado, As inquietas ondas apartando,
So com vos ver o barbaro Gentio, Os ventos brandamente respirauão,
Mostra o pescoço ao jugo ja inclinado: Das naos as vellas concauas inchando:
Thetis todo o ceruleo senhorio, Da branca escuma, os mares se mostrauão
Tem pera vos por dote aparelhado: Cubertos, onde as proas vão cortando.
Que affeiçoada ao gesto bello, e tenro, As maritimas agoas consagradas,
Deseja de compraruos pera genro. Que do gado de Proteo sam cortadas.

[17] Em vos se vem da Olimpica morada, [20] Quando os Deoses no Olimpo luminoso,
Dos dous auôs, as almas ca famosas, Onde o gouerno está, da humana gente
Hũa na paz Angelica dourada, Se ajuntão em consilio glorioso,
Outra polas batalhas sanguinosas: Sobre as cousas futuras do Oriente:
Em vos esperão, verse renouada Pisando o cristalino Ceo fermoso,
Sua memoria, e obras valerosas: Vem pela via Lactea, juntamente
E la vos tem lugar no fim da idade, Conuocados da parte de Tonante,
No templo da suprema eternidade. Pelo Neto gentil do velho Atlante.
Mas A 4 Deixão
[3v] [4r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 4

[15] E em quanto eu estes canto, e a vos nam posso [18] Mas em quanto este tempo passa lento,
Sublime Rei, que nam me atreuo a tanto, De regerdes os pouos, que o desejão:
Tomay as redeas vos do Reino vosso, Day vos fauor ao nouo atreuimento,
Dareis materia a nunca ouuido canto: Pera que estes meus versos vossos sejão:
Comecem a sentir o peso grosso, E vereis ir cortando o salso argento:
(Que polo mundo todo faça espanto,) Os vossos Argonautas, porque vejão,
De exercitos, e feitos singulares, Que sam vistos de vos no mar yrado,
De Affrica as terras, e do Oriente os mares. E costumaiuos ja a ser inuocado.

[16] Em vos os olhos tem o Mouro frio, [19] Ia no largo Occeano nauegauão,
Em quem vè seu exicio afigurado, As inquietas ondas apartando,
So com vos ver o barbaro Gentio, Os ventos brandamente respirauão,
Mostra o pescoço ao jugo ja inclinado: Das naos as vellas concauas inchando:
Thetis todo o ceruleo senhorio, Da branca escuma, os mares se mostrauão
Tem pera vos por dote aparelhado: Cubertos, onde as proas vão cortando.
Que affeiçoada ao gesto bello, e tenro, As maritimas agoas consagradas,
Deseja de compraruos pera genro. Que do gado de Proteo sam cortadas.

[17] Em vos se vem da Olimpica morada, [20] Quando os Deoses no Olimpo luminoso,
Dos dous auôs, as almas ca famosas, Onde o gouerno está, da humana gente
Hũa na paz Angelica dourada, Se ajuntão em consilio glorioso,
Outra polas batalhas sanguinosas: Sobre as cousas futuras do Oriente:
Em vos esperão, verse renouada Pisando o cristalino Ceo fermoso,
Sua memoria, e obras valerosas: Vem pela via Lactea, juntamente
E la vos tem lugar no fim da idade, Conuocados da parte de Tonante,
No templo da suprema eternidade. Pelo Neto gentil do velho Atlante.
Mas A 4 Deixão
[4v] [5r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 5.

[21] Deixão dos sete Ceos o regimento, [24] Eternos moradores do luzente
Que do poder mais alto lhe foi dado, Estelifero polo e claro assento,
Alto poder, que so co pensamento Se do grande valor da forte gente,
Gouerna o Ceo, a Terra, e o Mar yrado: De Luso, não perdeis o pensamento,
Ali se acharão juntos num momento, Deueis de ter sabido claramente
Os que habitão o Arcturo congelado. Como he dos fados grandes certo intento:
E os que o Austro tem, e as partes onde Que por ella sesqueção os humanos,
A Aurora nasce, e o claro Sol se esconde. De Assirios, Persas, Gregos e Romanos.

[22] Estaua o Padre ali sublime e dino, [25] Ia lhe foy (bem o vistes) concedido
Que vibra os feros rayos de Vulcano, Cum poder tam singelo e tam pequeno
Num assento de estrellas cristalino, Tomar ao Mouro forte e guarnecido,
Com gesto alto, seuero, e soberano, Toda a terra que rega o Tejo ameno:
Do rosto respiraua hum ar diuino, Pois contra o Castelhano tam temido
Que diuino tornàra hum corpo humano: Sempre alcançou fauor do Ceo sereno.
Com hũa coroa, e ceptro rutilante, Assi que sempre em fim com fama e gloria,
De outra pedra mais clara que diamante. Teue os tropheos pendentes da victoria.

[23] Em luzentes assentos, marchetados [26] Deixo Deoses atras a fama antigua,
De ouro, e de perlas, mais abaixo estauão Que co a gente de Romulo alcançarão,
Os outros Deoses todos assentados, Quando com Variato, na inimiga
Como a Razão, e a Ordem concertauão. Guerra Romana tanto se affamarão.
Precedem os antiguos mais honrrados, Tambem deixo a memoria, que os obriga
Mais abaixo os menores se assentauão: A grande nome, quando aleuantarão
Quando Iupiter alto assy dizendo, Hum, por seu capitão, que peregrino
Cum tom de voz começa, graue e horrendo. Fingio na Cerua espirito diuino.
Eternos Agora
[4v] [5r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 5.

[21] Deixão dos sete Ceos o regimento, [24] Eternos moradores do luzente
Que do poder mais alto lhe foi dado, Estelifero polo e claro assento,
Alto poder, que so co pensamento Se do grande valor da forte gente,
Gouerna o Ceo, a Terra, e o Mar yrado: De Luso, não perdeis o pensamento,
Ali se acharão juntos num momento, Deueis de ter sabido claramente
Os que habitão o Arcturo congelado. Como he dos fados grandes certo intento:
E os que o Austro tem, e as partes onde Que por ella sesqueção os humanos,
A Aurora nasce, e o claro Sol se esconde. De Assirios, Persas, Gregos e Romanos.

[22] Estaua o Padre ali sublime e dino, [25] Ia lhe foy (bem o vistes) concedido
Que vibra os feros rayos de Vulcano, Cum poder tam singelo e tam pequeno
Num assento de estrellas cristalino, Tomar ao Mouro forte e guarnecido,
Com gesto alto, seuero, e soberano, Toda a terra que rega o Tejo ameno:
Do rosto respiraua hum ar diuino, Pois contra o Castelhano tam temido
Que diuino tornàra hum corpo humano: Sempre alcançou fauor do Ceo sereno.
Com hũa coroa, e ceptro rutilante, Assi que sempre em fim com fama e gloria,
De outra pedra mais clara que diamante. Teue os tropheos pendentes da victoria.

[23] Em luzentes assentos, marchetados [26] Deixo Deoses atras a fama antigua,
De ouro, e de perlas, mais abaixo estauão Que co a gente de Romulo alcançarão,
Os outros Deoses todos assentados, Quando com Variato, na inimiga
Como a Razão, e a Ordem concertauão. Guerra Romana tanto se affamarão.
Precedem os antiguos mais honrrados, Tambem deixo a memoria, que os obriga
Mais abaixo os menores se assentauão: A grande nome, quando aleuantarão
Quando Iupiter alto assy dizendo, Hum, por seu capitão, que peregrino
Cum tom de voz começa, graue e horrendo. Fingio na Cerua espirito diuino.
Eternos Agora
[5v] [6r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 6.

[27] Agora vedes bem, que cometendo, [30] Estas palauras Iupiter dezia,
O diuidoso mar, num lenho leue Quando os Deoses por ordem respondendo,
Por vias nunca vsadas, não temendo Na sentença hum do outro difiria,
De Affrico e Noto a força a mais satreue: Razões diuersas dando e recebendo.
Que auendo tanto ja que as partes vendo, O padre Baco, ali nam consentia
Onde o dia he comprido, e onde breue. No que Iupiter disse, conhecendo
Inclinão seu proposito, e perfia Que esquecerão seus feitos no Oriente,
A ver os berços, onde nasce o dia Se la passar a Lusitana gente.

[28] Prometido lhe està do fado eterno, [31] Ouuido tinha aos Fados que viria
Cuja alta ley nam pode ser quebrada, Hũa gente fortissimo de Hespanha,
Que tenhão longos tempos o gouerno Pelo mar alto, a qual sojeitaria
Do mar, que vé do Sol a roxa entrada: Da India, tudo quanto Doris banha:
Nas agoas tem passado o duro Inuerno, E com nouas victorias venceria,
A gente vem perdida e trabalhada. A fama antiga, ou sua, ou fosse estranha.
Ia parece bem feito, que lhe seja Altamente lhe doe perder a gloria,
Mostrada a noua terra que deseja. De que Nisa celebra inda a memoria.

[29] E porque, como vistes, tem passados [32] Ve que ja teue o Indo sojugado,
Na viagem, tam asperos perigos, E nunca lhe tirou Fortuna, ou caso,
Tantos Climas e Ceos experimentados, Por vencedor da India ser cantado,
Tanto furor de ventos inimigos De quantos bebem a agoa de Parnaso.
Que sejam, de termino, agasalhados Teme agora que seja sepultado,
Nesta costa Affricana como amigos. Seu tam celebre nome, em negro vaso,
E tendo guarnecida a lassa frota, Dagoa do esquecimento, se la chegão
Tornarão a seguir sua longa rata: Os fortes Portugueses, que nauegão,
Estas Sustentaua
[5v] [6r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 6.

[27] Agora vedes bem, que cometendo, [30] Estas palauras Iupiter dezia,
O diuidoso mar, num lenho leue Quando os Deoses por ordem respondendo,
Por vias nunca vsadas, não temendo Na sentença hum do outro difiria,
De Affrico e Noto a força a mais satreue: Razões diuersas dando e recebendo.
Que auendo tanto ja que as partes vendo, O padre Baco, ali nam consentia
Onde o dia he comprido, e onde breue. No que Iupiter disse, conhecendo
Inclinão seu proposito, e perfia Que esquecerão seus feitos no Oriente,
A ver os berços, onde nasce o dia Se la passar a Lusitana gente.

[28] Prometido lhe està do fado eterno, [31] Ouuido tinha aos Fados que viria
Cuja alta ley nam pode ser quebrada, Hũa gente fortissimo de Hespanha,
Que tenhão longos tempos o gouerno Pelo mar alto, a qual sojeitaria
Do mar, que vé do Sol a roxa entrada: Da India, tudo quanto Doris banha:
Nas agoas tem passado o duro Inuerno, E com nouas victorias venceria,
A gente vem perdida e trabalhada. A fama antiga, ou sua, ou fosse estranha.
Ia parece bem feito, que lhe seja Altamente lhe doe perder a gloria,
Mostrada a noua terra que deseja. De que Nisa celebra inda a memoria.

[29] E porque, como vistes, tem passados [32] Ve que ja teue o Indo sojugado,
Na viagem, tam asperos perigos, E nunca lhe tirou Fortuna, ou caso,
Tantos Climas e Ceos experimentados, Por vencedor da India ser cantado,
Tanto furor de ventos inimigos De quantos bebem a agoa de Parnaso.
Que sejam, de termino, agasalhados Teme agora que seja sepultado,
Nesta costa Affricana como amigos. Seu tam celebre nome, em negro vaso,
E tendo guarnecida a lassa frota, Dagoa do esquecimento, se la chegão
Tornarão a seguir sua longa rata: Os fortes Portugueses, que nauegão,
Estas Sustentaua
[6v] [7r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 7.

[33] Sustentaua contra elle Venus bella [36] Mas Marte que da Deosa sustentaua,
Affeiçoada aa gente Lusitana, Entre todos as partes em porfia,
Por quantas qualidades via nella, Ou porque o amor antiguo o obrigaua,
Da antiga tam amada sua Romana, Ou porque a gente forte o merecia,
Nos fortes corações, na grande estrella, De antre os Deoses em pee se leuantaua,
Que mostràrão na terra Tingitana: Merencorio no gesto parecia:
E na lingoa, na qual, quando imagina, O forte escudo ao collo pendurado,
Com pouca corrupção cre que he a Latina. Deitando pera tràs medonho e irado.

[34] Estas causas mouião Cyterea, [37] A viseira do elmo de Diamante,


E mais, porque das Parcas claro entende Aleuantando hum pouco, muy seguro,
Que ha de ser celebrada a clara Dea, Por dar seu parecer se pos diante
Onde a gente beligera se estende. De Iupiter, armado, forte e duro:
Assi que hum pela infamia que arrecea, E dando hũa pancada penetrante,
E o outro polas honras que pretende, Co conto do bastão, no solio puro:
Debatem, e na perfia permanecem, O ceo tremeo, e Apolo de toruado,
A qualquer seus amigos fauorecem: Hum pouco a luz perdeo, como infiado.

[35] Qual Austro fero, ou Boreas na espessura, [38] E disse assi, ò padre a cujo imperio,
De siluestre aruoredo abastecida, Tudo aquillo obedece, que criaste,
Rompendo os ramos vão da mata escura, Se esta gente que busca outro Emispherio,
Com impito e braueza desmedida. Cuja valia, e obras tanto amaste:
Brama toda montanha, o som murmura, Não queres que padeção vituperio,
Rompense as folhas, ferue a serra erguida. Como ha ja tanto tempo que ordenaste
Tal andaua o tumulto leuantado, Não ouças mais, pois es juyz direito,
Entre os Deoses no Olimpo consagrado. Razões de quem parece que he sospeito:
Mas Que
[6v] [7r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 7.

[33] Sustentaua contra elle Venus bella [36] Mas Marte que da Deosa sustentaua,
Affeiçoada aa gente Lusitana, Entre todos as partes em porfia,
Por quantas qualidades via nella, Ou porque o amor antiguo o obrigaua,
Da antiga tam amada sua Romana, Ou porque a gente forte o merecia,
Nos fortes corações, na grande estrella, De antre os Deoses em pee se leuantaua,
Que mostràrão na terra Tingitana: Merencorio no gesto parecia:
E na lingoa, na qual, quando imagina, O forte escudo ao collo pendurado,
Com pouca corrupção cre que he a Latina. Deitando pera tràs medonho e irado.

[34] Estas causas mouião Cyterea, [37] A viseira do elmo de Diamante,


E mais, porque das Parcas claro entende Aleuantando hum pouco, muy seguro,
Que ha de ser celebrada a clara Dea, Por dar seu parecer se pos diante
Onde a gente beligera se estende. De Iupiter, armado, forte e duro:
Assi que hum pela infamia que arrecea, E dando hũa pancada penetrante,
E o outro polas honras que pretende, Co conto do bastão, no solio puro:
Debatem, e na perfia permanecem, O ceo tremeo, e Apolo de toruado,
A qualquer seus amigos fauorecem: Hum pouco a luz perdeo, como infiado.

[35] Qual Austro fero, ou Boreas na espessura, [38] E disse assi, ò padre a cujo imperio,
De siluestre aruoredo abastecida, Tudo aquillo obedece, que criaste,
Rompendo os ramos vão da mata escura, Se esta gente que busca outro Emispherio,
Com impito e braueza desmedida. Cuja valia, e obras tanto amaste:
Brama toda montanha, o som murmura, Não queres que padeção vituperio,
Rompense as folhas, ferue a serra erguida. Como ha ja tanto tempo que ordenaste
Tal andaua o tumulto leuantado, Não ouças mais, pois es juyz direito,
Entre os Deoses no Olimpo consagrado. Razões de quem parece que he sospeito:
Mas Que
[7v] [8r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 8.

[39] Que se aqui a razão se não mostrasse [42] Em quanto isto se passa, na fermosa
Vencida do temor demasiado, Casa Eterea do Olimpo omnipotente
Bem fora que aqui Baco os sostentasse, Cortaua o mar a gente belicosa:
Pois que de Luso vem, seu tam priuado: Ia la da banda do Austro, e do Oriente,
Mas esta tenção sua, agora passe, Entre a costa Ethiopica, e a famosa
Porque em fim vem de estamago danado. Ilha de sam Lourenço, e o Sol ardente
Que nunca tirarà alhea enueja, Queimaua entam os Deoses, que Tifeô
O bem que outrem mereçe, e o ceo deseja. Co temor grande em pexes conuerteô.

[40] E tu padre de grande fortaleza, [43] Tam brandamente os ventos os leuauão,


Da determinaçam que tẽs tomada, Como quem o ceo tinha por amigo:
Nam tornes por detras pois he fraqueza Sereno o ar, e os tempos se mostrauão
Desistir se da cousa começada. Sem nuuẽs, sem receio de perigo:
Mercurio pois excede em ligeireza O promontorio prasso ja passauão
Ao vento leue, e aa seta bem talhada, Na costa de Ethiopia, nome antiguo.
Lhe va mostrar a terra, onde se informe Quando o mar descobrindo lhe mostraua,
Da India, e onde a gente se reforme. Nouas ilhas que em torno cerca, e laua.

[41] Como isto disse o Padre poderoso, [44] Vasco da gama, o forte Capitão,
A cabeça inclinando, consentio Que a tamanhas empresas se offerece,
No que disse Mauorte valeroso, De soberbo, e de altiuo coração,
E Nectar sobre todos esparzio: A quem fortuna sempre fauorece
Pelo caminho Lacteo glorioso, Pera se aqui deter, não ve razão,
Logo cada hum dos Deoses se partio. Que inhabitada a terra lhe parece:
Fazendo seus reaes acatamentos, Por diante passar determinaua:
Pera os determinados apousentos. Mas nam lhe soccedeo como cuydaua.
Em E eis
[7v] [8r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 8.

[39] Que se aqui a razão se não mostrasse [42] Em quanto isto se passa, na fermosa
Vencida do temor demasiado, Casa Eterea do Olimpo omnipotente
Bem fora que aqui Baco os sostentasse, Cortaua o mar a gente belicosa:
Pois que de Luso vem, seu tam priuado: Ia la da banda do Austro, e do Oriente,
Mas esta tenção sua, agora passe, Entre a costa Ethiopica, e a famosa
Porque em fim vem de estamago danado. Ilha de sam Lourenço, e o Sol ardente
Que nunca tirarà alhea enueja, Queimaua entam os Deoses, que Tifeô
O bem que outrem mereçe, e o ceo deseja. Co temor grande em pexes conuerteô.

[40] E tu padre de grande fortaleza, [43] Tam brandamente os ventos os leuauão,


Da determinaçam que tẽs tomada, Como quem o ceo tinha por amigo:
Nam tornes por detras pois he fraqueza Sereno o ar, e os tempos se mostrauão
Desistir se da cousa começada. Sem nuuẽs, sem receio de perigo:
Mercurio pois excede em ligeireza O promontorio prasso ja passauão
Ao vento leue, e aa seta bem talhada, Na costa de Ethiopia, nome antiguo.
Lhe va mostrar a terra, onde se informe Quando o mar descobrindo lhe mostraua,
Da India, e onde a gente se reforme. Nouas ilhas que em torno cerca, e laua.

[41] Como isto disse o Padre poderoso, [44] Vasco da gama, o forte Capitão,
A cabeça inclinando, consentio Que a tamanhas empresas se offerece,
No que disse Mauorte valeroso, De soberbo, e de altiuo coração,
E Nectar sobre todos esparzio: A quem fortuna sempre fauorece
Pelo caminho Lacteo glorioso, Pera se aqui deter, não ve razão,
Logo cada hum dos Deoses se partio. Que inhabitada a terra lhe parece:
Fazendo seus reaes acatamentos, Por diante passar determinaua:
Pera os determinados apousentos. Mas nam lhe soccedeo como cuydaua.
Em E eis
[8v] [9r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 9.

[45] Eis aparecem logo em companhia, [48] Cos panos, e cos braços açenauão,
Hũs pequenos bateis, que vem daquella Aas gentes Lusitanas, que esperassem:
Que mais chegada à terra parecia, Mas ja as proas ligeiras, se inclinauão,
Cortando o longo mar com larga vella: Pera que junto aas Ilhas amainassem.
A gente se aluoroça, e de alegria A gente, e marinheiros trabalhauão,
Não sabe mais que olhar a causa della. Como se aqui os trabalhos sacabassem:
Que gente sera esta, em si dezião, Tomão vellas, amainase a verga alta,
Que costumes, que ley, que Rei terião? Da ancora o mar ferido, encima salta.

[46] As embarcações erão, na maneira [49] Não erão ancorados, quando a gente
Muy veloces, estreitas, e compridas, Estranha, polas cordas ja subia,
As vellas com que vem erão de esteira, No gesto ledos vem, e humanamente,
Dũas folhas de Palma bem tecidas: O Capitão sublime os recebia.
A gente da cor era verdadeira, As mesas manda por em continente,
Que Phaeton, nas terras acendidas Do licor que Lieo prantado auia:
Ao mundo deu, de ousado, e não prudente, Enchem vasos de vidro, e do que deitão,
O Pado o sabe, e Lampetusa o sente. Os de Phaeton queimados nada engeitão.

[47] De panos de algodão vinhão vestidos, [50] Comendo alegremente perguntauão,


De varias cores, brancos, e listrados, Pela Arabica lingoa, donde vinhão,
Hũs trazem derredor de si cingidos, Quem erão, de que terra, que buscauão,
Outros em modo ayroso sobraçados, Ou que partes do mar corrido tinhão?
Das cintas pera cima vem despidos: Os fortes Lusitanos lhe tornauão,
Por armas tem adagas, e tarçados. As discretas repostas que conuinhão:
Com toucas na cabeça, e nauegando, Os Portugueses somos do Occidente,
Anafis sonorosos vão tocando. Himos buscando as terras do Oriente.
Cos B Do
[8v] [9r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 9.

[45] Eis aparecem logo em companhia, [48] Cos panos, e cos braços açenauão,
Hũs pequenos bateis, que vem daquella Aas gentes Lusitanas, que esperassem:
Que mais chegada à terra parecia, Mas ja as proas ligeiras, se inclinauão,
Cortando o longo mar com larga vella: Pera que junto aas Ilhas amainassem.
A gente se aluoroça, e de alegria A gente, e marinheiros trabalhauão,
Não sabe mais que olhar a causa della. Como se aqui os trabalhos sacabassem:
Que gente sera esta, em si dezião, Tomão vellas, amainase a verga alta,
Que costumes, que ley, que Rei terião? Da ancora o mar ferido, encima salta.

[46] As embarcações erão, na maneira [49] Não erão ancorados, quando a gente
Muy veloces, estreitas, e compridas, Estranha, polas cordas ja subia,
As vellas com que vem erão de esteira, No gesto ledos vem, e humanamente,
Dũas folhas de Palma bem tecidas: O Capitão sublime os recebia.
A gente da cor era verdadeira, As mesas manda por em continente,
Que Phaeton, nas terras acendidas Do licor que Lieo prantado auia:
Ao mundo deu, de ousado, e não prudente, Enchem vasos de vidro, e do que deitão,
O Pado o sabe, e Lampetusa o sente. Os de Phaeton queimados nada engeitão.

[47] De panos de algodão vinhão vestidos, [50] Comendo alegremente perguntauão,


De varias cores, brancos, e listrados, Pela Arabica lingoa, donde vinhão,
Hũs trazem derredor de si cingidos, Quem erão, de que terra, que buscauão,
Outros em modo ayroso sobraçados, Ou que partes do mar corrido tinhão?
Das cintas pera cima vem despidos: Os fortes Lusitanos lhe tornauão,
Por armas tem adagas, e tarçados. As discretas repostas que conuinhão:
Com toucas na cabeça, e nauegando, Os Portugueses somos do Occidente,
Anafis sonorosos vão tocando. Himos buscando as terras do Oriente.
Cos B Do
[9v] [10r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 10

[51] Do mar temos corrido, e nauegado [54] Esta Ilha pequena que habitamos,
Toda a parte do Antartico, e Calisto, He em toda esta terra certa escala,
Toda a costa Affricana rodeado, De todos os que as Ondas nauegamos,
Diuersos Ceos, e Terras temos visto: De Quiloa, de Mombaça, e de Sofala:
Dum Rei potente somos, tam amado, E por ser necessaria, procuramos,
Tam querido de todos, e bem quisto: Como proprios da terra, de habitala.
Que nam no largo Mar, com leda fronte: E porque tudo em fim vos notifique,
Mas no lago entraremos de Acheronte. Chamase a pequena Ilha Moçambique.

[52] E por mandado seu, buscando andamos [55] E ja que de tam longe nauegais,
A terra Oriental, que o Indo rega, Buscando o Indo Idaspe, e terra ardente,
Por elle o Mar remoto nauegamos, Piloto aqui tereis, por quem sejais
Que so dos feos Focas se nauega: Guiados pelas ondas sabiamente.
Mas ja razão parece que saibamos, Tambem sera bemfeito que tenhais,
Se entre vos a verdade não se nega. Da terra algum refresco, e que o Regente
Quem sois, que terra he esta que abitais? Que esta terra gouerna, que vos veja,
Ou se tendes da India algũs sinais? E do mais necessario vos proueja.

[53] Somos, hum dos das Ilhas lhe tornou, [56] Isto dizendo, o Mouro se tornou
Estrangeiros na terra, Lei, e nação A seus bateis com toda a companhia,
Que os proprios, sam aquelles que criou Do Capitão e gente se apartou,
A Natura sem Lei, e sem Razão: Com mostras de deuida cortesia:
Nos temos a Lei certa que insinou, Nisto Febo nas agoas encerrou,
O claro descendente de Abrahão: Co carro de Christal, o claro dia:
Que agora tem do Mundo o senhorio, Dando cargo aa Irmaã que alumiasse,
A mãy Hebrea teue, e o pay Gentio. O largo Mundo, em quanto repousasse.
Esta B 2 A noite
[9v] [10r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 10

[51] Do mar temos corrido, e nauegado [54] Esta Ilha pequena que habitamos,
Toda a parte do Antartico, e Calisto, He em toda esta terra certa escala,
Toda a costa Affricana rodeado, De todos os que as Ondas nauegamos,
Diuersos Ceos, e Terras temos visto: De Quiloa, de Mombaça, e de Sofala:
Dum Rei potente somos, tam amado, E por ser necessaria, procuramos,
Tam querido de todos, e bem quisto: Como proprios da terra, de habitala.
Que nam no largo Mar, com leda fronte: E porque tudo em fim vos notifique,
Mas no lago entraremos de Acheronte. Chamase a pequena Ilha Moçambique.

[52] E por mandado seu, buscando andamos [55] E ja que de tam longe nauegais,
A terra Oriental, que o Indo rega, Buscando o Indo Idaspe, e terra ardente,
Por elle o Mar remoto nauegamos, Piloto aqui tereis, por quem sejais
Que so dos feos Focas se nauega: Guiados pelas ondas sabiamente.
Mas ja razão parece que saibamos, Tambem sera bemfeito que tenhais,
Se entre vos a verdade não se nega. Da terra algum refresco, e que o Regente
Quem sois, que terra he esta que abitais? Que esta terra gouerna, que vos veja,
Ou se tendes da India algũs sinais? E do mais necessario vos proueja.

[53] Somos, hum dos das Ilhas lhe tornou, [56] Isto dizendo, o Mouro se tornou
Estrangeiros na terra, Lei, e nação A seus bateis com toda a companhia,
Que os proprios, sam aquelles que criou Do Capitão e gente se apartou,
A Natura sem Lei, e sem Razão: Com mostras de deuida cortesia:
Nos temos a Lei certa que insinou, Nisto Febo nas agoas encerrou,
O claro descendente de Abrahão: Co carro de Christal, o claro dia:
Que agora tem do Mundo o senhorio, Dando cargo aa Irmaã que alumiasse,
A mãy Hebrea teue, e o pay Gentio. O largo Mundo, em quanto repousasse.
Esta B 2 A noite
[10v] [11r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 11

[57] A noyte se passou na lassa frota, [60] Partia alegremente nauegando,


Com estranha alegria, e não cuydada, A ver as naos ligeiras Lusitanas,
Por acharem da terra tão remota, Com refresco da terra, em si cuidando,
Noua de tanto tempo desejada: Que sam aquellas gentes inhumanas:
Qualquer então consigo cuyda, e nota Que os apousentos Caspios habitando,
Na gente, e na maneira desusada. A conquistar as terras Asianas
E como os que na errada Seita crêrão, Vierão: e por ordem do destino,
Tanto por todo o mundo se estendêrão. O Imperio tomarão a Costantino.

[58] Da Lũa os claros rayos rutilauão, [61] Recebe o Capitão alegremente,


Polas argenteas ondas Neptuninas, O Mouro, e toda sua companhia,
As Estrellas os Ceos acompanhauão. Dalhe de ricas peças hum presente,
Qual campo reuestido de boninas, Que so pera este effeito ja trazia:
Os furiosos ventos repousauão, Dalhe conserua doçe, e dalhe o ardente
Polas couas escuras peregrinas. Não vsado licor que dâ alegria.
Porem da armada a gente vigiaua, Tudo o Mouro contente bem recebe,
Como por longo tempo costumaua. E muito mais contente come, e bebe.

[59] Mas assy como a Aurora marchetada, [62] Està a gente maritima de Luso,
Os fermosos cabellos espalhou, Subida pela exarcia, de admirada,
No Ceo sereno, abrindo a roxa entrada, Notando o estrangeiro modo, e vso,
Ao claro Hiperionio que acordou, E a lingoagem tam barbara e enleada.
Começa a embandeirar se toda a armada, Tambem o Mouro astuto està confuso,
E de todos alegres se adornou: Olhando a cor, o trajo, e a forte armada.
Por receber com festas, e alegria, E perguntando tudo lhe dezia,
O Regedor das Ilhas que partia. Se por ventura vinhão de Turquia.
Partia. B 3 E mais
[10v] [11r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 11

[57] A noyte se passou na lassa frota, [60] Partia alegremente nauegando,


Com estranha alegria, e não cuydada, A ver as naos ligeiras Lusitanas,
Por acharem da terra tão remota, Com refresco da terra, em si cuidando,
Noua de tanto tempo desejada: Que sam aquellas gentes inhumanas:
Qualquer então consigo cuyda, e nota Que os apousentos Caspios habitando,
Na gente, e na maneira desusada. A conquistar as terras Asianas
E como os que na errada Seita crêrão, Vierão: e por ordem do destino,
Tanto por todo o mundo se estendêrão. O Imperio tomarão a Costantino.

[58] Da Lũa os claros rayos rutilauão, [61] Recebe o Capitão alegremente,


Polas argenteas ondas Neptuninas, O Mouro, e toda sua companhia,
As Estrellas os Ceos acompanhauão. Dalhe de ricas peças hum presente,
Qual campo reuestido de boninas, Que so pera este effeito ja trazia:
Os furiosos ventos repousauão, Dalhe conserua doçe, e dalhe o ardente
Polas couas escuras peregrinas. Não vsado licor que dâ alegria.
Porem da armada a gente vigiaua, Tudo o Mouro contente bem recebe,
Como por longo tempo costumaua. E muito mais contente come, e bebe.

[59] Mas assy como a Aurora marchetada, [62] Està a gente maritima de Luso,
Os fermosos cabellos espalhou, Subida pela exarcia, de admirada,
No Ceo sereno, abrindo a roxa entrada, Notando o estrangeiro modo, e vso,
Ao claro Hiperionio que acordou, E a lingoagem tam barbara e enleada.
Começa a embandeirar se toda a armada, Tambem o Mouro astuto està confuso,
E de todos alegres se adornou: Olhando a cor, o trajo, e a forte armada.
Por receber com festas, e alegria, E perguntando tudo lhe dezia,
O Regedor das Ilhas que partia. Se por ventura vinhão de Turquia.
Partia. B 3 E mais
[11v] [12r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 12

[63] E mais lhe diz tambem, que ver deseja [66] Deste Deos homem, alto, e infinito,
Os liuros de sua ley, preceito, ou fê, Os Liuros que tu pedes, nam trazia,
Pera ver se conforme à sua seja, Que bem posso escusar trazer escripto
Ou se sam dos de Christo, como crè: Em papel, o que na alma andar deuia.
E porque tudo note, e tudo veja, Se as armas queres ver, como tẽs dito,
Ao Capitão pedia, que lhe dé, Comprido esse desejo te seria:
Mostra das fortes armas de que vsauão, Como amigo as veras, porque eu me obrigo,
Quando cos inimigos pelejauão. Que nunca as queiras ver como inimigo.

[64] Responde o valeroso Capitão, [67] Isto dizendo, manda os diligentes


Por hum que a lingoa escura bem sabia. Ministros, amostrar as armaduras,
Darte ey Senhor illustre relação Vem arneses, e peitos reluzentes,
De my, da ley, das armas que trazia: Malhas finas, e laminas seguras,
Nem sou da terra, nem da geraçam, Escudos de pinturas differentes,
Das gentes enojosas de Turquia: Pilouros, espingardas de aço puras,
Mas sou da forte Europa belicosa, Arcos, e sagittiferas aljauas,
Busco as terras da India tam famosa? Partasanas agudas, chuças brauas.

[65] A ley tenho daquelle, a cujo imperio [68] As bombas vem de fogo, e juntamente
Obedece o visibil, e inuisibil, As panellas sulfureas, tam danosas,
Aquelle que criou todo o Emispherio, Porem aos de Vulcano nam consente
Tudo o que sente, e todo o insensibil Que dem fogo aas bombardas temerosas:
Que padeceo deshonra, e vituperio, Porque o generoso animo, e valente,
Sofrendo morte injusta, e insufribil: Entre gentes tam poucas, e medrosas,
E que do ceo aa terra em fim deceo, Não mostra quanto pode, e com razão,
Por subir os mortais da terra ao ceo. Que he fraqueza entre ouelhas ser lião.
Deste B 4 Porem
[11v] [12r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 12

[63] E mais lhe diz tambem, que ver deseja [66] Deste Deos homem, alto, e infinito,
Os liuros de sua ley, preceito, ou fê, Os Liuros que tu pedes, nam trazia,
Pera ver se conforme à sua seja, Que bem posso escusar trazer escripto
Ou se sam dos de Christo, como crè: Em papel, o que na alma andar deuia.
E porque tudo note, e tudo veja, Se as armas queres ver, como tẽs dito,
Ao Capitão pedia, que lhe dé, Comprido esse desejo te seria:
Mostra das fortes armas de que vsauão, Como amigo as veras, porque eu me obrigo,
Quando cos inimigos pelejauão. Que nunca as queiras ver como inimigo.

[64] Responde o valeroso Capitão, [67] Isto dizendo, manda os diligentes


Por hum que a lingoa escura bem sabia. Ministros, amostrar as armaduras,
Darte ey Senhor illustre relação Vem arneses, e peitos reluzentes,
De my, da ley, das armas que trazia: Malhas finas, e laminas seguras,
Nem sou da terra, nem da geraçam, Escudos de pinturas differentes,
Das gentes enojosas de Turquia: Pilouros, espingardas de aço puras,
Mas sou da forte Europa belicosa, Arcos, e sagittiferas aljauas,
Busco as terras da India tam famosa? Partasanas agudas, chuças brauas.

[65] A ley tenho daquelle, a cujo imperio [68] As bombas vem de fogo, e juntamente
Obedece o visibil, e inuisibil, As panellas sulfureas, tam danosas,
Aquelle que criou todo o Emispherio, Porem aos de Vulcano nam consente
Tudo o que sente, e todo o insensibil Que dem fogo aas bombardas temerosas:
Que padeceo deshonra, e vituperio, Porque o generoso animo, e valente,
Sofrendo morte injusta, e insufribil: Entre gentes tam poucas, e medrosas,
E que do ceo aa terra em fim deceo, Não mostra quanto pode, e com razão,
Por subir os mortais da terra ao ceo. Que he fraqueza entre ouelhas ser lião.
Deste B 4 Porem
[12v] [13r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 15.

[69] Porem disto que o Mouro aqui notou, [72] Partiose nisto em fim co a companhia,
E de tudo o que vio, com olho atento, Das naos o falso Mouro despedido,
Hum odio certo na alma lhe ficou, Com enganosa e grande cortesia,
Hũa vontade mà de pensamento. Com gesto ledo a todos, e fingido:
Nas mostras, e no gesto o não mostrou: Cortárão os bateis a curta via
Mas com risonho, e ledo fingimento, Das agoas de Neptuno, e recebido
Tratalos brandamente determina, Na terra do obsequente ajuntamento,
Ate que mostrar possa o que imagina. Se foy o Mouro ao cognito apousento:

[70] Pilotos lhe pedia o Capitão, [73] Do claro assento Etereo, o grão Tebano,
Por quem podesse aa India ser leuado, Que da paternal coxa foy nascido
Dizlhe, que o largo premio leuàrão, Olhando o ajuntamento Lusitano,
Do trabalho que nisso for tomado. Ao Mouro ser molesto, e auorrecido:
Prometelhos o Mouro, com tenção No pensamento cuyda hum falso engano
De peito venenoso, e tão danado: Com que seja de todo destruydo.
Que a morte se podesse neste dia, E em quanto isto so na alma imaginaua
Em lugar de Pilotos lhe daria. Consigo estas palauras praticaua.

[71] Tamanho o odio foy, e a mà vontade, [74] Està do fado ja determinado,


Que aos estrangeiros supito tomou, Que tamanhas victorias tam famosas,
Sabendo ser sequaces da verdade, Ajão os Portugueses alcançado,
Que o filho de Dauid nos ensinou, Das Indianas gentes belicosas.
Os segredos daquella Eternidade E eu so filho do Padre sublimado,
A quem juyzo algum não alcançou. Com tantas qualidades generosas:
Que nunca falte hum perfido inimigo, Ey de sofrer que o Fado fauoreça
A aquelles de quem foste tanto amigo? Outrem, por quem meu nome se escureça?
Partiose Ia quiserão
[12v] [13r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 15.

[69] Porem disto que o Mouro aqui notou, [72] Partiose nisto em fim co a companhia,
E de tudo o que vio, com olho atento, Das naos o falso Mouro despedido,
Hum odio certo na alma lhe ficou, Com enganosa e grande cortesia,
Hũa vontade mà de pensamento. Com gesto ledo a todos, e fingido:
Nas mostras, e no gesto o não mostrou: Cortárão os bateis a curta via
Mas com risonho, e ledo fingimento, Das agoas de Neptuno, e recebido
Tratalos brandamente determina, Na terra do obsequente ajuntamento,
Ate que mostrar possa o que imagina. Se foy o Mouro ao cognito apousento:

[70] Pilotos lhe pedia o Capitão, [73] Do claro assento Etereo, o grão Tebano,
Por quem podesse aa India ser leuado, Que da paternal coxa foy nascido
Dizlhe, que o largo premio leuàrão, Olhando o ajuntamento Lusitano,
Do trabalho que nisso for tomado. Ao Mouro ser molesto, e auorrecido:
Prometelhos o Mouro, com tenção No pensamento cuyda hum falso engano
De peito venenoso, e tão danado: Com que seja de todo destruydo.
Que a morte se podesse neste dia, E em quanto isto so na alma imaginaua
Em lugar de Pilotos lhe daria. Consigo estas palauras praticaua.

[71] Tamanho o odio foy, e a mà vontade, [74] Està do fado ja determinado,


Que aos estrangeiros supito tomou, Que tamanhas victorias tam famosas,
Sabendo ser sequaces da verdade, Ajão os Portugueses alcançado,
Que o filho de Dauid nos ensinou, Das Indianas gentes belicosas.
Os segredos daquella Eternidade E eu so filho do Padre sublimado,
A quem juyzo algum não alcançou. Com tantas qualidades generosas:
Que nunca falte hum perfido inimigo, Ey de sofrer que o Fado fauoreça
A aquelles de quem foste tanto amigo? Outrem, por quem meu nome se escureça?
Partiose Ia quiserão
[13v] [14r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 14

[75] Ia quiseram os Deoses que tiuesse, [78] E entrando assy a falarlhe, a tempo e horas,
O filho de Filipo nesta parte, A sua falsidade acomodadas,
Tanto poder, que tudo sometesse Lhe diz como erão gentes roubadouras,
Debaixo do seu jugo, o fero Marte: Estas que ora de nouo sam chegadas:
Mas asse de soffrer que o Fado desse, Que das nações na costa moradoras,
A tam poucos tamanho esforço, e arte Correndo a fama veío, que roubadas,
Queu co gram Macedonio, e Romano, Forão por estes homẽs que passauão,
Demos lugar ao nome Lusitano? Que com pactos de paz sempre ancorauão.

[76] Não sera assy, porque antes que chegado [79] E sabe mais, lhe diz, como entendido
Seja este Capitão, astutamente Tenho destes Christãos sanguinolentos,
Lhe sera tanto engano fabricado, Que quasi todo o mar tem destruido,
Que nunca veja as partes do Oriente: Com roubos, com incendios violentos:
Eu decerey aa terra, e o indignado E trazem ja de longe engano vrdido,
Peito, reuoluerey da Maura gente, Contra nos, e que todos seus intentos
Porque sempre por via yra dereita, Sam pera nos matarem, e roubarem,
Quem do oportuno tempo se aproueita. E molheres e filhos captiuarem.

[77] Isto dizendo yrado, e quasi insano, [80] E tambem sey que tem determinado,
Sobre a terra Affricana descendeo, De vir por agoa a terra muito cedo,
Onde vestindo a forma e gesto humano, O Capitão dos seus acomponhado,
Pera o Prasso sabido se moueo. Que da tençam danada nasce o medo:
E por milhor tecer o astuto engano, Tu deues de yr tambem cos teus armado
No gesto natural se conuerteo, Esperallo em cilada, occulto e quedo:
Dum Mouro, em Moçambique conhecido, Porque saindo a gente descuydada,
Velho, sabio, e co Xeque muy valido. Cairão facilmente na cilada.
E entrando E se inda
[13v] [14r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 14

[75] Ia quiseram os Deoses que tiuesse, [78] E entrando assy a falarlhe, a tempo e horas,
O filho de Filipo nesta parte, A sua falsidade acomodadas,
Tanto poder, que tudo sometesse Lhe diz como erão gentes roubadouras,
Debaixo do seu jugo, o fero Marte: Estas que ora de nouo sam chegadas:
Mas asse de soffrer que o Fado desse, Que das nações na costa moradoras,
A tam poucos tamanho esforço, e arte Correndo a fama veío, que roubadas,
Queu co gram Macedonio, e Romano, Forão por estes homẽs que passauão,
Demos lugar ao nome Lusitano? Que com pactos de paz sempre ancorauão.

[76] Não sera assy, porque antes que chegado [79] E sabe mais, lhe diz, como entendido
Seja este Capitão, astutamente Tenho destes Christãos sanguinolentos,
Lhe sera tanto engano fabricado, Que quasi todo o mar tem destruido,
Que nunca veja as partes do Oriente: Com roubos, com incendios violentos:
Eu decerey aa terra, e o indignado E trazem ja de longe engano vrdido,
Peito, reuoluerey da Maura gente, Contra nos, e que todos seus intentos
Porque sempre por via yra dereita, Sam pera nos matarem, e roubarem,
Quem do oportuno tempo se aproueita. E molheres e filhos captiuarem.

[77] Isto dizendo yrado, e quasi insano, [80] E tambem sey que tem determinado,
Sobre a terra Affricana descendeo, De vir por agoa a terra muito cedo,
Onde vestindo a forma e gesto humano, O Capitão dos seus acomponhado,
Pera o Prasso sabido se moueo. Que da tençam danada nasce o medo:
E por milhor tecer o astuto engano, Tu deues de yr tambem cos teus armado
No gesto natural se conuerteo, Esperallo em cilada, occulto e quedo:
Dum Mouro, em Moçambique conhecido, Porque saindo a gente descuydada,
Velho, sabio, e co Xeque muy valido. Cairão facilmente na cilada.
E entrando E se inda
[14v] [15r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 15.

[81] E se inda não ficarem deste geito, [84] Ia o rayo Apolineo visitaua,
Destruydos, ou mortos totalmente, Os Montes Nabatheos acendido,
Eu tenho imaginada no conceito, Quando Gama cos seus determinaua,
Outra manha e ardil que te contente: De vir por agoa a terra apercebido:
Mandalhe dar Piloto, que de geito A gente nos bateis se concertaua,
Seja astuto no engano, e tam prudente, Como se fosse o engano ja sabido:
Que os leue aonde sejão destruydos, Mas pode sospeitarse facilmente,
Desbaratados mortos, ou perdidos. Que o coração presago nunca mente.

[82] Tanto que estas palauras acabou, [85] E mais tambem mandado tinha a terra,
O Mouro nos tais casos, sabio e velho De antes pelo Piloto necessario:
Os braços pelo collo lhe lançou, E foilhe respondido em som de guerra,
Agradecendo muito o tal conselho: Caso do que cuydaua muy contrario:
E logo nesse instante concertou, Por isto, e porque sabe quanto erra,
Pera a guerra o beligero aparelho: Quem se cre de seu perfido aduersario,
Pera que ao Portugues se lhe tornasse, Apercebido vay como podia,
Em roxo sangue a agoa que buscasse. Em tres bateis somente que trazia:

[83] E busca mais pera o cuydado engano, [86] Mas os Mouros que andauão pela praya,
Mouro que por Piloto aa nao lhe mande, Por lhe defender a agoa desejada,
Sagaz, astuto, e sabio em todo o dano Hum de escudo embarçado, e de azagaya,
De quem fiar se possa hum feito grande, Outro de arco encuruado, e seta eruada:
Diz lhe que acompanhando o Lusitano, Esperão que a guerreira gente saya,
Por tais costas, e mares co elle ande: Outros muytos ja postos em cillada.
Que se daqui escapar, que la diante E porque o caso leue se lhe faça,
Va cair onde nunca se aleuante. Poem hũs poucos diante por negaça.
Ia o Andão
[14v] [15r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 15.

[81] E se inda não ficarem deste geito, [84] Ia o rayo Apolineo visitaua,
Destruydos, ou mortos totalmente, Os Montes Nabatheos acendido,
Eu tenho imaginada no conceito, Quando Gama cos seus determinaua,
Outra manha e ardil que te contente: De vir por agoa a terra apercebido:
Mandalhe dar Piloto, que de geito A gente nos bateis se concertaua,
Seja astuto no engano, e tam prudente, Como se fosse o engano ja sabido:
Que os leue aonde sejão destruydos, Mas pode sospeitarse facilmente,
Desbaratados mortos, ou perdidos. Que o coração presago nunca mente.

[82] Tanto que estas palauras acabou, [85] E mais tambem mandado tinha a terra,
O Mouro nos tais casos, sabio e velho De antes pelo Piloto necessario:
Os braços pelo collo lhe lançou, E foilhe respondido em som de guerra,
Agradecendo muito o tal conselho: Caso do que cuydaua muy contrario:
E logo nesse instante concertou, Por isto, e porque sabe quanto erra,
Pera a guerra o beligero aparelho: Quem se cre de seu perfido aduersario,
Pera que ao Portugues se lhe tornasse, Apercebido vay como podia,
Em roxo sangue a agoa que buscasse. Em tres bateis somente que trazia:

[83] E busca mais pera o cuydado engano, [86] Mas os Mouros que andauão pela praya,
Mouro que por Piloto aa nao lhe mande, Por lhe defender a agoa desejada,
Sagaz, astuto, e sabio em todo o dano Hum de escudo embarçado, e de azagaya,
De quem fiar se possa hum feito grande, Outro de arco encuruado, e seta eruada:
Diz lhe que acompanhando o Lusitano, Esperão que a guerreira gente saya,
Por tais costas, e mares co elle ande: Outros muytos ja postos em cillada.
Que se daqui escapar, que la diante E porque o caso leue se lhe faça,
Va cair onde nunca se aleuante. Poem hũs poucos diante por negaça.
Ia o Andão
[15v] [16r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 16

[87] Andão pela ribeira alua arenosa, [90] Não se contenta a gente Portuguesa:
Os belicosos Mouros acenando, Mas seguindo a victoria estrue, e mata
Com a adarga, e co a astea perigosa, A pouoação sem muro, e sem defesa,
Os fortes Portugueses incitando: Esbombardea, acende, e desbarata.
Nam soffre muito a gente generosa, Da caualgada ao Mouro ja lhe pesa,
Andarlhe os cães os dentes amostrando. Que bem cuidou comprala mais barata:
Qualquer em terra salta, tam ligeiro, Ia blasfema da guerra, e maldizia,
Que nenhum dizer pode que he primeiro. O velho inerte, e a mãy que o filho cria.

[88] Qual no corro sanguino, o ledo amante, [91] Fugindo, a seta o Mouro vay tirando,
Vendo a fermosa dama desejada, Sem força, de couarde, e de apressado,
O Touro busca, e pondo se diante, A pedra, o pao, e o canto arremessando,
Salta, corre, sibila, acena, e brada: Dalhe armas o furor desatinado:
Mas o animal atroçe nesse instante, Ia a Ilha, e todo o mais, desemparando,
Com a fronte cornigera inclinada, Aa terra firme foge amedrontado.
Bramando duro corre, e os olhos cerra, Passa, e corta do mar o estreito braço,
Derriba, fere, e mata e poem por terra. Que a Ilha em torno cerca, em pouco espaço.

[89] Eis nos bateis o fogo se leuanta, [92] Hũs vão nas almádías carregadas,
Na furiosa e dura artilheria, Hum corta o mar a nado diligente,
A plumbea pela mata, o brado espanta: Quem se affoga nas ondas encuruadas,
Ferido o ar retumba, e assouia: Quem bebe o mar, e o deita juntamente:
O coraçam dos Mouros se quebranta, Arrombão as meudas bombardadas
O temor grande o sangue lhe resfria. Os Pangaios sotis da bruta gente.
Ia foge o escondido de medroso, Desta arte o Portugues em fim castiga,
E morre o descuberto auenturoso. A vil malicia, perfida, inimiga.
Não Tornão
[15v] [16r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 16

[87] Andão pela ribeira alua arenosa, [90] Não se contenta a gente Portuguesa:
Os belicosos Mouros acenando, Mas seguindo a victoria estrue, e mata
Com a adarga, e co a astea perigosa, A pouoação sem muro, e sem defesa,
Os fortes Portugueses incitando: Esbombardea, acende, e desbarata.
Nam soffre muito a gente generosa, Da caualgada ao Mouro ja lhe pesa,
Andarlhe os cães os dentes amostrando. Que bem cuidou comprala mais barata:
Qualquer em terra salta, tam ligeiro, Ia blasfema da guerra, e maldizia,
Que nenhum dizer pode que he primeiro. O velho inerte, e a mãy que o filho cria.

[88] Qual no corro sanguino, o ledo amante, [91] Fugindo, a seta o Mouro vay tirando,
Vendo a fermosa dama desejada, Sem força, de couarde, e de apressado,
O Touro busca, e pondo se diante, A pedra, o pao, e o canto arremessando,
Salta, corre, sibila, acena, e brada: Dalhe armas o furor desatinado:
Mas o animal atroçe nesse instante, Ia a Ilha, e todo o mais, desemparando,
Com a fronte cornigera inclinada, Aa terra firme foge amedrontado.
Bramando duro corre, e os olhos cerra, Passa, e corta do mar o estreito braço,
Derriba, fere, e mata e poem por terra. Que a Ilha em torno cerca, em pouco espaço.

[89] Eis nos bateis o fogo se leuanta, [92] Hũs vão nas almádías carregadas,
Na furiosa e dura artilheria, Hum corta o mar a nado diligente,
A plumbea pela mata, o brado espanta: Quem se affoga nas ondas encuruadas,
Ferido o ar retumba, e assouia: Quem bebe o mar, e o deita juntamente:
O coraçam dos Mouros se quebranta, Arrombão as meudas bombardadas
O temor grande o sangue lhe resfria. Os Pangaios sotis da bruta gente.
Ia foge o escondido de medroso, Desta arte o Portugues em fim castiga,
E morre o descuberto auenturoso. A vil malicia, perfida, inimiga.
Não Tornão
[16v] [17r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 17

[93] Tornão victoriosos pera a armada, [96] Desta arte despedida a forte armada,
Co despojo da guerra, e rica presa, As ondas de Anfitrite diuidia,
E vão a seu prazer fazer agoada, Das filhas de Nerêo acompanhada,
Sem achar resistencia, nem defesa Fiel, alegre, e doçe companhia.
Ficaua a Maura gente magoada, O Capitão, que não cahia em nada,
No odio antigo, mais que nunca acesa. Do enganoso ardil que o Mouro vrdia:
E vendo sem vingança tanto dano, Delle muy largamente se informaua,
Somente estriba no segundo engano. Da India toda, e costas que passaua:

[94] Pazes cometer manda arrependido, [97] Mas o Mouro instruido nos enganos,
O Regedor daquella inica terra, Que o maléuolo Baco lhe ensinára
Sem ser dos Lusitanos entendido, De morte, ou captiueiro nouos danos,
Que em figura de paz lhe manda guerra: Antes que aa India chegue lhe prepara,
Porque o Piloto falso prometido, Dando razão dos portos Indianos,
Que toda a mà tenção no peito encerra. Tambem tudo o que pede lhe declara.
Pera os guiar aa morte lhe mandaua, Que auendo por verdade o que dizia,
Como em sinal das pazes que trataua. De nada a forte gente se temia.

[95] O Capitão, que ja lhe entam conuinha, [98] E diz lhe mais co falso pensamento,
Tornar a seu caminho acostumado, Com que Synon os Phrigios enganou,
Que tempo concertado, e ventos tinha, Que perto està hũa Ilha, cujo assento,
Pera yr buscar o Indo desejado. Pouo antigo Christão sempre abitou:
Recebendo o Piloto que lhe vinha, O Capitão que a tudo estaua a tento,
Foy delle alegremente agasalhado: Tanto co estas nouas se alegrou,
E respondendo ao mensageiro, a tento Que com dadiuas grandes lhe rogaua,
Aas vellas manda dar ao largo vento. Que o leue aa terra onde esta gente estaua.
Desta C Ho
[16v] [17r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 17

[93] Tornão victoriosos pera a armada, [96] Desta arte despedida a forte armada,
Co despojo da guerra, e rica presa, As ondas de Anfitrite diuidia,
E vão a seu prazer fazer agoada, Das filhas de Nerêo acompanhada,
Sem achar resistencia, nem defesa Fiel, alegre, e doçe companhia.
Ficaua a Maura gente magoada, O Capitão, que não cahia em nada,
No odio antigo, mais que nunca acesa. Do enganoso ardil que o Mouro vrdia:
E vendo sem vingança tanto dano, Delle muy largamente se informaua,
Somente estriba no segundo engano. Da India toda, e costas que passaua:

[94] Pazes cometer manda arrependido, [97] Mas o Mouro instruido nos enganos,
O Regedor daquella inica terra, Que o maléuolo Baco lhe ensinára
Sem ser dos Lusitanos entendido, De morte, ou captiueiro nouos danos,
Que em figura de paz lhe manda guerra: Antes que aa India chegue lhe prepara,
Porque o Piloto falso prometido, Dando razão dos portos Indianos,
Que toda a mà tenção no peito encerra. Tambem tudo o que pede lhe declara.
Pera os guiar aa morte lhe mandaua, Que auendo por verdade o que dizia,
Como em sinal das pazes que trataua. De nada a forte gente se temia.

[95] O Capitão, que ja lhe entam conuinha, [98] E diz lhe mais co falso pensamento,
Tornar a seu caminho acostumado, Com que Synon os Phrigios enganou,
Que tempo concertado, e ventos tinha, Que perto està hũa Ilha, cujo assento,
Pera yr buscar o Indo desejado. Pouo antigo Christão sempre abitou:
Recebendo o Piloto que lhe vinha, O Capitão que a tudo estaua a tento,
Foy delle alegremente agasalhado: Tanto co estas nouas se alegrou,
E respondendo ao mensageiro, a tento Que com dadiuas grandes lhe rogaua,
Aas vellas manda dar ao largo vento. Que o leue aa terra onde esta gente estaua.
Desta C Ho
[17v] [18r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 18

[99] Ho mesmo o falso Mouro determina, [102] Tambem nestas palauras lhe mentia,
Que o seguro Christão lhe manda e pede, Como por regimento em fim leuaua,
Que a Ilha he possuida da malina Que aqui gente de Christo não auia:
Gente, que segue o torpe Mahamede: Mas a que a Mahamede celebraua.
Aqui o engano e morte lhe imagina, O Capitão que em tudo o mouro cria,
Porque em poder e forças muito excede Virando as vellas, a Ilha demandaua:
Aa Moçambique, esta Ilha que se chama Mas nam querendo a Deosa guardadora,
Quîloa, muy conhecida pola fama. Nam entra pela barra, e surge fora.

[100] Pera là se inclinaua a leda frota: [103] Estaua a Ilha aa terra tam chegada,
Mas a Deosa em Cythere celebrada, Que hum estreito pequeno a diuidia,
Vendo como deixaua a certa rota, Hũa cidade nella situada,
Por yr buscar a morte não cuidada, Que na fronte do mar aparecia,
Não consente que em terra tão remota De nobres edificios fabricada,
Se perca a gente della tanto amada. Como por fora, ao longe descobria,
E com ventos contrairos a desuia, Regida por hum Rei de antigua idade,
Donde o Piloto falso a leua, e guia. Mombaça he o nome da Ilha, e da Cidade.

[101] Mas o maluado Mouro nam podendo, [104] E sendo a ella o Capitão chegado,
Tal determinação leuar auante, Estranhamente ledo, porque espera
Outra maldade inica cometendo, De poder ver o pouo baptizado,
Ainda em seu proposito constante, Como o falso Piloto lhe dissera:
Lhe diz, que pois as agoas discorrendo, Eis vem bateis da terra com recado
Os leuàrão por força por diante, Do Rei, que ja sabia a gente que era,
Que outra Ilha tem perto, cuja gente, Que Baco muito de antes o auisara,
Erão Christãos com Mouros juntamente. Na forma doutro Mouro que tomàra.
Tambem C 2 O recado
[17v] [18r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO PRIMEIRO. 18

[99] Ho mesmo o falso Mouro determina, [102] Tambem nestas palauras lhe mentia,
Que o seguro Christão lhe manda e pede, Como por regimento em fim leuaua,
Que a Ilha he possuida da malina Que aqui gente de Christo não auia:
Gente, que segue o torpe Mahamede: Mas a que a Mahamede celebraua.
Aqui o engano e morte lhe imagina, O Capitão que em tudo o mouro cria,
Porque em poder e forças muito excede Virando as vellas, a Ilha demandaua:
Aa Moçambique, esta Ilha que se chama Mas nam querendo a Deosa guardadora,
Quîloa, muy conhecida pola fama. Nam entra pela barra, e surge fora.

[100] Pera là se inclinaua a leda frota: [103] Estaua a Ilha aa terra tam chegada,
Mas a Deosa em Cythere celebrada, Que hum estreito pequeno a diuidia,
Vendo como deixaua a certa rota, Hũa cidade nella situada,
Por yr buscar a morte não cuidada, Que na fronte do mar aparecia,
Não consente que em terra tão remota De nobres edificios fabricada,
Se perca a gente della tanto amada. Como por fora, ao longe descobria,
E com ventos contrairos a desuia, Regida por hum Rei de antigua idade,
Donde o Piloto falso a leua, e guia. Mombaça he o nome da Ilha, e da Cidade.

[101] Mas o maluado Mouro nam podendo, [104] E sendo a ella o Capitão chegado,
Tal determinação leuar auante, Estranhamente ledo, porque espera
Outra maldade inica cometendo, De poder ver o pouo baptizado,
Ainda em seu proposito constante, Como o falso Piloto lhe dissera:
Lhe diz, que pois as agoas discorrendo, Eis vem bateis da terra com recado
Os leuàrão por força por diante, Do Rei, que ja sabia a gente que era,
Que outra Ilha tem perto, cuja gente, Que Baco muito de antes o auisara,
Erão Christãos com Mouros juntamente. Na forma doutro Mouro que tomàra.
Tambem C 2 O recado
[18v] [19r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 19

[105] O recado que trazem he de amigos:


Mas debaxo o veneno vem cuberto,
Que os pensamentos erão de inimigos,
Segundo foy o engano descuberto.
O grandes e grauissimos perigos, ☙ Canto Segundo.
O caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente poem sua esperança,
Tenha a vida tam pouca segurança.

[106] No mar tanta tormenta, e tanto dano, [1] IA neste tempo o / lucido Planeta,
Tantas vezes a morte apercebida, Que as horas vay do dia distin-/guindo,
Na terra, tanta guerra, tanto engano, Chegaua aa desejada, e lenta Meta,
Tanta necessidade auorrecida: A luz Celeste aas gentes encobrindo:
Onde pode acolherse hum fraco humano, E da casa maritima secreta,
Onde terà segura a curta vida? Lhe estaua o Deos Nocturno a porta abrĩdo:
Que não se arme, e se indigne o Ceo sereno. Quando as infidas gentes se chegárão
Contra hum bicho da terra tam pequeno. Aas naos, que pouco auia que ancorárão.

Fim. [2] Dantre elles hum que traz encomendado,


O mortifero engano, assi dezia:
Capitão valeroso, que cortado
Tens de Neptuno o reyno, e salsa via,
O Rei que manda esta Ilha, aluoraçado
Da vinda tua tem tanta alegria,
Que nam deseja mais que agasalharte,
Verte, e do necessario reformarte.
C 3 E porque
[18v] [19r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 19

[105] O recado que trazem he de amigos:


Mas debaxo o veneno vem cuberto,
Que os pensamentos erão de inimigos,
Segundo foy o engano descuberto.
O grandes e grauissimos perigos, ☙ Canto Segundo.
O caminho de vida nunca certo:
Que aonde a gente poem sua esperança,
Tenha a vida tam pouca segurança.

[106] No mar tanta tormenta, e tanto dano, [1] IA neste tempo o / lucido Planeta,
Tantas vezes a morte apercebida, Que as horas vay do dia distin-/guindo,
Na terra, tanta guerra, tanto engano, Chegaua aa desejada, e lenta Meta,
Tanta necessidade auorrecida: A luz Celeste aas gentes encobrindo:
Onde pode acolherse hum fraco humano, E da casa maritima secreta,
Onde terà segura a curta vida? Lhe estaua o Deos Nocturno a porta abrĩdo:
Que não se arme, e se indigne o Ceo sereno. Quando as infidas gentes se chegárão
Contra hum bicho da terra tam pequeno. Aas naos, que pouco auia que ancorárão.

Fim. [2] Dantre elles hum que traz encomendado,


O mortifero engano, assi dezia:
Capitão valeroso, que cortado
Tens de Neptuno o reyno, e salsa via,
O Rei que manda esta Ilha, aluoraçado
Da vinda tua tem tanta alegria,
Que nam deseja mais que agasalharte,
Verte, e do necessario reformarte.
C 3 E porque
[19v] [20r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 20

[3] E porque està em estremo desejoso [6] Perguntalhe despois, se estão na terra
De te ver, como cousa nomeada, Christãos, como o Piloto lhe dezia,
Te roga que de nada receoso, O mensageiro astuto que não erra,
Entres a barra, tu com toda armada: Lhe diz, que a mais da gẽte em Christo cria:
E porque do caminho trabalhoso, Desta sorte do peito lhe desterra
Traras a gente debil, e cansada, Toda a sospeita, e cauta fantasia:
Diz que na terra podes reformala, Por onde o Capitão seguramente,
Que a natureza obriga a desejala, Se fia da infiel, e falsa gente.

[4] E se buscando vas mercadoria, [7] E de algũs que trazia condenados,


Que produze o aurifero Leuante, Por culpas, e por feitos vergonhosos,
Canella, Crauo, ardente especiaria, Porque podessem ser auenturados,
Ou Droga salutifera, e prestante: Em casos desta sorte duuidosos:
Ou se queres luzente pedraria, Manda dous mais sagazes, ensaiados,
O Rubí fino, o rigido Diamante: Porque notem dos Mouros enganosos,
Daqui leuaras tudo tam sobejo, A Cidade, e poder, e porque vejão,
Com que faças o fim a teu desejo. Os que Christãos, que so tanto ver desejão.

[5] Ao mensageiro o Capitão responde, [8] E por estes ao Rei presentes manda,
As palauras do Rei agradecendo, Porque a boa vontade que mostraua,
E diz, que porque o Sol no mar se esconde, Tenha firme, segura, limpa, e branda,
Não entra pera dentro obedecendo, A qual bem ao contrario em tudo estaua.
Porem que como a luz mostrar por onde Ia a companhia perfida, enefanda
Va sem perigo, a frota não temendo, Das naos se despedia, e o mar cortaua,
Comprirà sem receio seu mandado, Foram com gestos ledos, e fingidos,
Que a mais por tal senhor está obrigado. Os dous da frota em terra recebidos.
Perguntalhe C 4 E despois
[19v] [20r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 20

[3] E porque està em estremo desejoso [6] Perguntalhe despois, se estão na terra
De te ver, como cousa nomeada, Christãos, como o Piloto lhe dezia,
Te roga que de nada receoso, O mensageiro astuto que não erra,
Entres a barra, tu com toda armada: Lhe diz, que a mais da gẽte em Christo cria:
E porque do caminho trabalhoso, Desta sorte do peito lhe desterra
Traras a gente debil, e cansada, Toda a sospeita, e cauta fantasia:
Diz que na terra podes reformala, Por onde o Capitão seguramente,
Que a natureza obriga a desejala, Se fia da infiel, e falsa gente.

[4] E se buscando vas mercadoria, [7] E de algũs que trazia condenados,


Que produze o aurifero Leuante, Por culpas, e por feitos vergonhosos,
Canella, Crauo, ardente especiaria, Porque podessem ser auenturados,
Ou Droga salutifera, e prestante: Em casos desta sorte duuidosos:
Ou se queres luzente pedraria, Manda dous mais sagazes, ensaiados,
O Rubí fino, o rigido Diamante: Porque notem dos Mouros enganosos,
Daqui leuaras tudo tam sobejo, A Cidade, e poder, e porque vejão,
Com que faças o fim a teu desejo. Os que Christãos, que so tanto ver desejão.

[5] Ao mensageiro o Capitão responde, [8] E por estes ao Rei presentes manda,
As palauras do Rei agradecendo, Porque a boa vontade que mostraua,
E diz, que porque o Sol no mar se esconde, Tenha firme, segura, limpa, e branda,
Não entra pera dentro obedecendo, A qual bem ao contrario em tudo estaua.
Porem que como a luz mostrar por onde Ia a companhia perfida, enefanda
Va sem perigo, a frota não temendo, Das naos se despedia, e o mar cortaua,
Comprirà sem receio seu mandado, Foram com gestos ledos, e fingidos,
Que a mais por tal senhor está obrigado. Os dous da frota em terra recebidos.
Perguntalhe C 4 E despois
[20v] [21r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 21

[9] E despois que ao Rei apresentàrão, [12] Aqui os dous companheiros conduzidos,
Co recado os presentes que trazião, Onde com este engano Baco estaua
A Cidade correrão, e notàrão Poem em terra os giolhos, e os sentidos
Muito menos daquillo que querião, Naquelle Deos, que o Mundo gouernaua
Que os Mouros cautelosos se guardàrão Os cheiros excellentes produzidos,
De lhe mostrarem tudo o que pedião. Na Panchaia odorifera queimaua
Que onde reina a malicia, està o receio O Thioneû, e assi por derradeiro
Que a faz imaginar no peito alheio. O falso Deos adora o verdadeiro.

[10] Mas aquelle que sempre a mocidade [13] Aqui forão denoite agasalhados,
Tem no rosto perpetua, e foy nascido Com todo o bom, e honesto tratamento
De duas mãis: que vrdia a falsidade, Os dous Christãos, nam vendo que enganado
Por ver o nauegante destruydo: Os tinha o falso, e sancto fingimento:
Estaua nũa casa da Cidade, Mas assi como os rayos espalhados
Com rosto humano, e habito fingido, Do Sol forão no mundo, e num momento,
Mostrandose Christão, e fabricaua Apareceo no rubido Orizonte,
Hum altar sumptuoso que adoraua. Na moça de Titão a roxa fronte.

[11] Ali tinha em retrato affigurada [14] Tornão da terra os Mouros co recado
Do alto e Sancto spirito a pintura, Do Rei, pera que entrassem, e consigo
A candida Pombinha debuxada, Os dous que o Capitão tinha mandad ,
Sobre a vnica Fenix virgem pura, A quem se o Rei mostrou sincêro amigo:
A companhia sancta està pintada, E sendo o Portugues certificado,
Dos doze tam toruados na figura, De não auer receio de perigo.
Como os que, so das lingoas que cayrão, E que gente de Christo em terra auia,
De fogo, varias lingoas referirão. Dentro no salso rio entrar queria.
Aqui Dizem
[20v] [21r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 21

[9] E despois que ao Rei apresentàrão, [12] Aqui os dous companheiros conduzidos,
Co recado os presentes que trazião, Onde com este engano Baco estaua
A Cidade correrão, e notàrão Poem em terra os giolhos, e os sentidos
Muito menos daquillo que querião, Naquelle Deos, que o Mundo gouernaua
Que os Mouros cautelosos se guardàrão Os cheiros excellentes produzidos,
De lhe mostrarem tudo o que pedião. Na Panchaia odorifera queimaua
Que onde reina a malicia, està o receio O Thioneû, e assi por derradeiro
Que a faz imaginar no peito alheio. O falso Deos adora o verdadeiro.

[10] Mas aquelle que sempre a mocidade [13] Aqui forão denoite agasalhados,
Tem no rosto perpetua, e foy nascido Com todo o bom, e honesto tratamento
De duas mãis: que vrdia a falsidade, Os dous Christãos, nam vendo que enganado
Por ver o nauegante destruydo: Os tinha o falso, e sancto fingimento:
Estaua nũa casa da Cidade, Mas assi como os rayos espalhados
Com rosto humano, e habito fingido, Do Sol forão no mundo, e num momento,
Mostrandose Christão, e fabricaua Apareceo no rubido Orizonte,
Hum altar sumptuoso que adoraua. Na moça de Titão a roxa fronte.

[11] Ali tinha em retrato affigurada [14] Tornão da terra os Mouros co recado
Do alto e Sancto spirito a pintura, Do Rei, pera que entrassem, e consigo
A candida Pombinha debuxada, Os dous que o Capitão tinha mandad ,
Sobre a vnica Fenix virgem pura, A quem se o Rei mostrou sincêro amigo:
A companhia sancta està pintada, E sendo o Portugues certificado,
Dos doze tam toruados na figura, De não auer receio de perigo.
Como os que, so das lingoas que cayrão, E que gente de Christo em terra auia,
De fogo, varias lingoas referirão. Dentro no salso rio entrar queria.
Aqui Dizem
[21v] [22r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 22

[15] Dizem lhe os que mandou, que em terra vîrão, [18] As ancoras tenaces vão leuando,
Sacras aras, e sacerdote sancto, Com a nautica grita costumada,
Que ali se agasalhàrão, e dormirão, Da proa as vellas sos ao vento dando,
Em quanto a luz cubrio o escuro manto: Inclinão pera a barra abalisada:
E que no Rei, e gentes não sentirão Mas a linda Ericina, que guardando
Senão contentamento, e gosto tanto: Andaua sempre a gente assinalada:
Que não podia certo auer sospeita, Vendo a cilada grande, e tam secreta,
Nũa mostra tão clara, e tão perfeita. Voa do Ceo ao Mar como hũa seta.

[16] Co isto o nobre Gama recebia [19] Conuoca as aluas filhas de Nerêo,
Alegremente os Mouros que subião, Com toda a mais cerulea companhia,
Que leuemente hum animo se fia, Que porque no salgado Mar nasceo,
De mostras que tão certas parecião: Das agoas o poder lhe obedecia.
A nao da gente perfida se enchia, E propondo lhe a causa a que deceo,
Deixando a bordo os barcos que trazião: Com todos juntamente se partia:
Alegres vinhão todos, porque crem Pera estoruar que a armada não chegasse
Que a presa desejada certa tem. Aonde pera sempre se acabasse.

[17] Na terra cautamente aparelhauão, [20] Ia na agoa erguendo vão com grande pressa,
Armas, e monições, que como vissem Com as argenteas caudas branca escuma,
Que no Rio os nauios ancorauão, Cloto co peito corta, e atrauessa
Nelles ousadamente se subissem: Com mais furor o Mar do que costuma.
E nesta treição determinauão, Salta Nise, Nerine se arremessa,
Que os de Luso de todo destruissem: Por cima da agoa crespa, em força suma:
E que incautos pagassem deste geito Abrem caminho as ondas encuruadas,
O mal que em Moçambique tinhão feito. De temor das Nereidas apressadas.
As Nos
[21v] [22r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 22

[15] Dizem lhe os que mandou, que em terra vîrão, [18] As ancoras tenaces vão leuando,
Sacras aras, e sacerdote sancto, Com a nautica grita costumada,
Que ali se agasalhàrão, e dormirão, Da proa as vellas sos ao vento dando,
Em quanto a luz cubrio o escuro manto: Inclinão pera a barra abalisada:
E que no Rei, e gentes não sentirão Mas a linda Ericina, que guardando
Senão contentamento, e gosto tanto: Andaua sempre a gente assinalada:
Que não podia certo auer sospeita, Vendo a cilada grande, e tam secreta,
Nũa mostra tão clara, e tão perfeita. Voa do Ceo ao Mar como hũa seta.

[16] Co isto o nobre Gama recebia [19] Conuoca as aluas filhas de Nerêo,
Alegremente os Mouros que subião, Com toda a mais cerulea companhia,
Que leuemente hum animo se fia, Que porque no salgado Mar nasceo,
De mostras que tão certas parecião: Das agoas o poder lhe obedecia.
A nao da gente perfida se enchia, E propondo lhe a causa a que deceo,
Deixando a bordo os barcos que trazião: Com todos juntamente se partia:
Alegres vinhão todos, porque crem Pera estoruar que a armada não chegasse
Que a presa desejada certa tem. Aonde pera sempre se acabasse.

[17] Na terra cautamente aparelhauão, [20] Ia na agoa erguendo vão com grande pressa,
Armas, e monições, que como vissem Com as argenteas caudas branca escuma,
Que no Rio os nauios ancorauão, Cloto co peito corta, e atrauessa
Nelles ousadamente se subissem: Com mais furor o Mar do que costuma.
E nesta treição determinauão, Salta Nise, Nerine se arremessa,
Que os de Luso de todo destruissem: Por cima da agoa crespa, em força suma:
E que incautos pagassem deste geito Abrem caminho as ondas encuruadas,
O mal que em Moçambique tinhão feito. De temor das Nereidas apressadas.
As Nos
[22v] [23r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 23

[21] Nos hombros de hum Tritão com gesto aceso, [24] Torna pera detras a Nao forçada,
Vay a linda Dione furiosa, A pesar dos que leua, que gritando,
Não sente quem a leua o doçe peso, Mareão vellas, ferue a gente yrada,
De soberbo, com carga tam fermosa: O leme a hum bordo, e a outro atrauessando
Ia chegão perto donde o vento teso, O Mestre astuto em vão da popa brada,
Enche as vellas da frota belicosa. Vendo como diante ameaçando
Repartense, e rodeão nesse instante Os estaua hum maritimo penedo,
As naos ligeiras que hião por diante. Que de quebrarlhe a Nao lhe mete medo:

[22] Poem se a Deosa com outras em dereito [25] A celeuma medonha se aleuanta,
Da proa capitaina, e ali fechando, No rudo Marinheiro que trabalha,
O caminho da barra estão de geito, O grande estrondo, a Maura gente espanta,
Que em vão assopra o vento, a vella inchãdo: Como se vissem horrida batalha:
Poem no madeiro duro o brando peito, Nam sabem a razão de furia tanta,
Pera detras a forte nao forçando. Nam sabem nesta pressa quem lhe valha,
Outras em derredor leuandoa estauão, Cuydão que seus enganos sam sabidos,
E da barra inimiga a desuiauão. E que ande ser por isso aqui punidos.

[23] Quaes pera a coua as pròuidas formigas, [26] Eilos subitamente se lançauão,
Leuando o peso grande acomodado, A seus bateis veloces que trazião,
As forças exercitão, de inimigas, Outros encima o mar aleuantauão,
Do inimigo Inuerno congelado: Saltando nagoa a nado se acolhião:
Ali sam seus trabalhos, e fadigas, De hum bordo e doutro subito saltauão,
Ali mostrão vigor nunca esperado. Que o medo os compelia do que vião.
Tais andauão as Nimphas estoruando Que antes querem ao mar auenturarse,
Aa gente Portuguesa o fim nefando. Que nas mãos inimigas entregarse.
Torna Assi
[22v] [23r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 23

[21] Nos hombros de hum Tritão com gesto aceso, [24] Torna pera detras a Nao forçada,
Vay a linda Dione furiosa, A pesar dos que leua, que gritando,
Não sente quem a leua o doçe peso, Mareão vellas, ferue a gente yrada,
De soberbo, com carga tam fermosa: O leme a hum bordo, e a outro atrauessando
Ia chegão perto donde o vento teso, O Mestre astuto em vão da popa brada,
Enche as vellas da frota belicosa. Vendo como diante ameaçando
Repartense, e rodeão nesse instante Os estaua hum maritimo penedo,
As naos ligeiras que hião por diante. Que de quebrarlhe a Nao lhe mete medo:

[22] Poem se a Deosa com outras em dereito [25] A celeuma medonha se aleuanta,
Da proa capitaina, e ali fechando, No rudo Marinheiro que trabalha,
O caminho da barra estão de geito, O grande estrondo, a Maura gente espanta,
Que em vão assopra o vento, a vella inchãdo: Como se vissem horrida batalha:
Poem no madeiro duro o brando peito, Nam sabem a razão de furia tanta,
Pera detras a forte nao forçando. Nam sabem nesta pressa quem lhe valha,
Outras em derredor leuandoa estauão, Cuydão que seus enganos sam sabidos,
E da barra inimiga a desuiauão. E que ande ser por isso aqui punidos.

[23] Quaes pera a coua as pròuidas formigas, [26] Eilos subitamente se lançauão,
Leuando o peso grande acomodado, A seus bateis veloces que trazião,
As forças exercitão, de inimigas, Outros encima o mar aleuantauão,
Do inimigo Inuerno congelado: Saltando nagoa a nado se acolhião:
Ali sam seus trabalhos, e fadigas, De hum bordo e doutro subito saltauão,
Ali mostrão vigor nunca esperado. Que o medo os compelia do que vião.
Tais andauão as Nimphas estoruando Que antes querem ao mar auenturarse,
Aa gente Portuguesa o fim nefando. Que nas mãos inimigas entregarse.
Torna Assi
[23v] [24r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 24

[27] Assi como em seluatica alagoa, [30] O caso grande, estranho, e não cuydado,
As rãs no tempo antigo Lycia gente, O milagre clarissimo, e euidente,
Se sentem por ventura vir pessoa, O descuberto engano inopinado,
Estando fora da agoa incautamente, O perfida inimiga, e falsa gente,
Daqui, e dali saltando, o charco soa, Quem poderà do mal aparelhado
Por fogir do perigo que se sente, Liurarse sem perigo sabiamente.
E acolhendo se ao couto que conhecem, Se la de cima a guarda soberana,
Sos as cabeças na agoa lhe aparecem. Não acudir aa fraca força humana?

[28] Assi fogem os Mouros, e o Piloto, [31] Bem nos mostra a diuina prouidencia,
Que ao perigo grande as naos guiâra, Destes portos, a pouca segurança,
Crendo que seu engano estaua noto, Bem claro temos visto na aparencia,
Tambem foge saltando na agoa amara: Que era enganada a nossa confiança
Mas por nam darem no penedo immoto, Mas pois saber humano, nem prudencia
Onde percão a vida doçe, e cara: Enganos tam fingidos nam alcança:
A ancora solta logo a capitaina, O tu guarda diuina, tem cuidado
Qualquer das outras junto della amaina. De quem sem ti nam pôde ser guardado.

[29] Vendo o Gama, atentado a estranheza [32] E se te moue tanto a piedade,


Dos Mouros não cuidada, e juntamente, Desta misera gente peregrina,
O Piloto fugir lhe com presteza, Que so por tua altissima bondade,
Entende o que ordenaua a bruta gente, Da gente a saluas, perfida e malina,
E vendo sem contraste, e sem braueza Nalgum porto seguro de verdade:
Dos ventos, ou das, agoas sem corrente, Conduzirnos ja agora determina,
Que a Nao passar auante não podia, Ou nos amostra a terra que buscamos,
Auendo o por milagre assi dezia. Pois so por teu seruiço nauegamos.
O caso Ouuiolhe
[23v] [24r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 24

[27] Assi como em seluatica alagoa, [30] O caso grande, estranho, e não cuydado,
As rãs no tempo antigo Lycia gente, O milagre clarissimo, e euidente,
Se sentem por ventura vir pessoa, O descuberto engano inopinado,
Estando fora da agoa incautamente, O perfida inimiga, e falsa gente,
Daqui, e dali saltando, o charco soa, Quem poderà do mal aparelhado
Por fogir do perigo que se sente, Liurarse sem perigo sabiamente.
E acolhendo se ao couto que conhecem, Se la de cima a guarda soberana,
Sos as cabeças na agoa lhe aparecem. Não acudir aa fraca força humana?

[28] Assi fogem os Mouros, e o Piloto, [31] Bem nos mostra a diuina prouidencia,
Que ao perigo grande as naos guiâra, Destes portos, a pouca segurança,
Crendo que seu engano estaua noto, Bem claro temos visto na aparencia,
Tambem foge saltando na agoa amara: Que era enganada a nossa confiança
Mas por nam darem no penedo immoto, Mas pois saber humano, nem prudencia
Onde percão a vida doçe, e cara: Enganos tam fingidos nam alcança:
A ancora solta logo a capitaina, O tu guarda diuina, tem cuidado
Qualquer das outras junto della amaina. De quem sem ti nam pôde ser guardado.

[29] Vendo o Gama, atentado a estranheza [32] E se te moue tanto a piedade,


Dos Mouros não cuidada, e juntamente, Desta misera gente peregrina,
O Piloto fugir lhe com presteza, Que so por tua altissima bondade,
Entende o que ordenaua a bruta gente, Da gente a saluas, perfida e malina,
E vendo sem contraste, e sem braueza Nalgum porto seguro de verdade:
Dos ventos, ou das, agoas sem corrente, Conduzirnos ja agora determina,
Que a Nao passar auante não podia, Ou nos amostra a terra que buscamos,
Auendo o por milagre assi dezia. Pois so por teu seruiço nauegamos.
O caso Ouuiolhe
[24v] [25r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 25

[33] Ouuiolhe estas palauras piadosas, [36] Os crespos fios douro se esparzião
A fermosa Dione, e comouida, Pelo colo, que a neue escurecia,
Dantre as Nimphas se vay, que saudosas Andando as lacteas tetas lhe tremião,
Ficarão desta subita partida: Com quem Amor brincaua, e não se via.
Ia penetra as Estrellas luminosas, Da alua petrina flamas lhe saião,
Ia na terceyra Esphera recebida Onde o minino as almas acendia.
Auante passa, e la no sexto Ceo Polas lisas colũnas lhe trepauão,
Pera onde estaua o Padre se moueo. Desejos, que como Era se enrolauão.

[34] E como hia afrontada do caminho [37] Cum delgado cendal as partes cobre,
Tão fermosa no gesto se mostraua, De quem vergonha he natural reparo,
Queas Estrellas, e o Ceo, e o Ar vizinho, Porem nem tudo esconde, nem descobre
E tudo quanto a via namoraua O veo dos roxos lirios pouco auaro:
Dos olhos, onde faz seu filho o ninho Mas pera que o desejo acenda, e dobre,
Hũs espiritos viuos inspiraua, Lhe poem diante aquelle objecto raro.
Com que os Polos gelados acendia, Ia se sentem no Ceo, por toda a parte,
E tornaua do Fogo a esphera fria. Ciumes em Vulcano, Amor em Marte:

[35] E por mais namorar o soberano [38] E mostrando no angelico sembrante,


Padre, de quem foy sempre amada, e cara Co riso hũa tristeza misturada,
Se lhapresenta assi como ao Troyano, Como dama que foi do incauto amante,
Na selua Idea ja se apresentàra: Em brincos amorosos mal tratada,
Se a vira o caçador, que o vulto humano Que se aqueixa, e se ri, num mesmo instãte,
Perdeo, vendo Diana na agoa clara: E se torna entre alegre magoada.
Nunca os famintos galgos o matàrão, Desta arte a Deosa, a quem nenhũa iguala,
Que primeiro desejos o acabárão. Mais mimosa que triste ao Padre fala.
Os crespos D Sempre
[24v] [25r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 25

[33] Ouuiolhe estas palauras piadosas, [36] Os crespos fios douro se esparzião
A fermosa Dione, e comouida, Pelo colo, que a neue escurecia,
Dantre as Nimphas se vay, que saudosas Andando as lacteas tetas lhe tremião,
Ficarão desta subita partida: Com quem Amor brincaua, e não se via.
Ia penetra as Estrellas luminosas, Da alua petrina flamas lhe saião,
Ia na terceyra Esphera recebida Onde o minino as almas acendia.
Auante passa, e la no sexto Ceo Polas lisas colũnas lhe trepauão,
Pera onde estaua o Padre se moueo. Desejos, que como Era se enrolauão.

[34] E como hia afrontada do caminho [37] Cum delgado cendal as partes cobre,
Tão fermosa no gesto se mostraua, De quem vergonha he natural reparo,
Queas Estrellas, e o Ceo, e o Ar vizinho, Porem nem tudo esconde, nem descobre
E tudo quanto a via namoraua O veo dos roxos lirios pouco auaro:
Dos olhos, onde faz seu filho o ninho Mas pera que o desejo acenda, e dobre,
Hũs espiritos viuos inspiraua, Lhe poem diante aquelle objecto raro.
Com que os Polos gelados acendia, Ia se sentem no Ceo, por toda a parte,
E tornaua do Fogo a esphera fria. Ciumes em Vulcano, Amor em Marte:

[35] E por mais namorar o soberano [38] E mostrando no angelico sembrante,


Padre, de quem foy sempre amada, e cara Co riso hũa tristeza misturada,
Se lhapresenta assi como ao Troyano, Como dama que foi do incauto amante,
Na selua Idea ja se apresentàra: Em brincos amorosos mal tratada,
Se a vira o caçador, que o vulto humano Que se aqueixa, e se ri, num mesmo instãte,
Perdeo, vendo Diana na agoa clara: E se torna entre alegre magoada.
Nunca os famintos galgos o matàrão, Desta arte a Deosa, a quem nenhũa iguala,
Que primeiro desejos o acabárão. Mais mimosa que triste ao Padre fala.
Os crespos D Sempre
[25v] [26r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 26

[39] Sempre eu cuidey, ô Padre poderoso, [42] E destas brandas mostras comouido,
Que pera as cousas, que eu do peito amasse Que mouerão de hum Tigre o peito duro,
Te achasse brando, affabil, e amoroso, Co vulto alegre, qual do Ceo subido,
Posto que a algum contrairo lhe pesasse: Torna sereno e claro o ar escuro.
Mas pois que contra my te vejo yroso, As lagrimas lhe alimpa, e acendido
Sem que to merecesse, nem te errasse. Na façe a beija, e abraça o colo puro.
Façase como Baco determina, De modo que dali, se so se achàra,
Assentarey em fim que fuy mofina. Outro nouo Cupido se geràra.

[40] Este pouo que he meu, por quem derramo, [43] E co seu apertando o rosto amado,
As lagrimas que em vão caidas vejo, Que os saluços, e lagrimas aumenta,
Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo, Como minino da ama castigado,
Sendo tu tanto contra meu desejo: Que quem no affaga o choro lhe acrecenta,
Por elle a ti rogando choro, e bramo, Por lhe por em sossego o peito yrado,
E contra minha dita em fim pelejo. Muitos casos futuros lhe apresenta.
Ora pois porque o amo he mal tratado, Dos fados as entranhas reuoluendo,
Quero lhe querer mal, sera guardado. Desta maneira em fim lhe està dizendo.

[41] Mas moura em fim nas mãos das brutas gentes, [44] Fermosa filha minha não temais
Que pois eu fuy: e nisto de mimosa Perigo algum, nos vossos Lusitanos,
O rosto banha, em lagrimas ardentes, Nem que ninguem comigo possa mais,
Como co orualho fica a fresca rosa: Que esses chorosos olhos soberanos:
Calada hum pouco, como se entre os dentes Que eu vos prometo filha que vejais
Lhe impedîra a falla piedosa. Esquecerense Gregos e Romanos.
Torna a seguila, e indo por diante, Pelos illustres feitos que esta gente,
Llhe atalha o poderoso, e grão Tonante. Ha de fazer nas partes do Oriente.
E destas D 2 Que
[25v] [26r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 26

[39] Sempre eu cuidey, ô Padre poderoso, [42] E destas brandas mostras comouido,
Que pera as cousas, que eu do peito amasse Que mouerão de hum Tigre o peito duro,
Te achasse brando, affabil, e amoroso, Co vulto alegre, qual do Ceo subido,
Posto que a algum contrairo lhe pesasse: Torna sereno e claro o ar escuro.
Mas pois que contra my te vejo yroso, As lagrimas lhe alimpa, e acendido
Sem que to merecesse, nem te errasse. Na façe a beija, e abraça o colo puro.
Façase como Baco determina, De modo que dali, se so se achàra,
Assentarey em fim que fuy mofina. Outro nouo Cupido se geràra.

[40] Este pouo que he meu, por quem derramo, [43] E co seu apertando o rosto amado,
As lagrimas que em vão caidas vejo, Que os saluços, e lagrimas aumenta,
Que assaz de mal lhe quero, pois que o amo, Como minino da ama castigado,
Sendo tu tanto contra meu desejo: Que quem no affaga o choro lhe acrecenta,
Por elle a ti rogando choro, e bramo, Por lhe por em sossego o peito yrado,
E contra minha dita em fim pelejo. Muitos casos futuros lhe apresenta.
Ora pois porque o amo he mal tratado, Dos fados as entranhas reuoluendo,
Quero lhe querer mal, sera guardado. Desta maneira em fim lhe està dizendo.

[41] Mas moura em fim nas mãos das brutas gentes, [44] Fermosa filha minha não temais
Que pois eu fuy: e nisto de mimosa Perigo algum, nos vossos Lusitanos,
O rosto banha, em lagrimas ardentes, Nem que ninguem comigo possa mais,
Como co orualho fica a fresca rosa: Que esses chorosos olhos soberanos:
Calada hum pouco, como se entre os dentes Que eu vos prometo filha que vejais
Lhe impedîra a falla piedosa. Esquecerense Gregos e Romanos.
Torna a seguila, e indo por diante, Pelos illustres feitos que esta gente,
Llhe atalha o poderoso, e grão Tonante. Ha de fazer nas partes do Oriente.
E destas D 2 Que
[26v] [27r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 27

[45] Que se o facundo Vlisses escapou, [48] Vereis a terra que a agoa lhe tolhia,
De ser na Ogigia Ilha, eterno escrauo: Que inda ha de ser hum porto muy decente,
E se Antenor os seios penetrou, Em que vão descansar da longa via,
Iliricos, e a fonte de Timauo. As naos que nauegarem do Occidente.
E se o piadoso Eneas nauegou, Toda esta costa em fim, que agora vrdia,
De Scila, e de Caribdis o Mar brauo. O mortifero engano, obediente,
Os vossos môres cousas atentando, Lhe pagarà tributos, conhecendo,
Nouos mundos ao mundo yrão mostrando. Não poder resistir ao Luso horrendo:

[46] Fortalezas, Cidades, e altos muros, [49] E vereis o Mar roxo tam famoso,
Por elles vereis filha edificados: Tornar selhe amarello de infiado:
Os Turcos belacissimos e duros, Vereis de Ormuz o Reino poderoso,
Delles sempre vereis desbaratados. Duas vezes tomado, e sojugado.
Os Reis da India liures, e seguros, Ali vereis o Mouro furioso,
Vereis ao Rei potente sojugados. De suas mesmas setas traspassado.
E por elles de tudo em fim senhores, Que quem vay contra os vossos, claro veja,
Serão dadas na terra leis milhores. Que se resiste, contra si peleja.

[47] Vereis este, que agora presuroso, [50] Vereis a inexpugnabil Dio forte,
Por tantos medos o Indo vay buscando, Que dous cercos terà, dos vossos sendo.
Tremer delle Neptuno de medroso, Ali se mostrarà seu preço, e sorte,
Sem vento suas agoas encrespando. Feitos de armas grandissimos fazendo.
O caso nunca visto, e milagroso Enuejoso vereis o grão Mauorte,
Que trema, e ferua o Mar em calma estãdo? Do peito Lusitano, fero e horrendo.
O gente forte, e de altos pensamentos, Do Mouro ali verão que a voz extrema,
Que tambem della hão medo os Elementos. Do falso Mahamede ao Ceo blasfema.
Vereis D 3 Goa
[26v] [27r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 27

[45] Que se o facundo Vlisses escapou, [48] Vereis a terra que a agoa lhe tolhia,
De ser na Ogigia Ilha, eterno escrauo: Que inda ha de ser hum porto muy decente,
E se Antenor os seios penetrou, Em que vão descansar da longa via,
Iliricos, e a fonte de Timauo. As naos que nauegarem do Occidente.
E se o piadoso Eneas nauegou, Toda esta costa em fim, que agora vrdia,
De Scila, e de Caribdis o Mar brauo. O mortifero engano, obediente,
Os vossos môres cousas atentando, Lhe pagarà tributos, conhecendo,
Nouos mundos ao mundo yrão mostrando. Não poder resistir ao Luso horrendo:

[46] Fortalezas, Cidades, e altos muros, [49] E vereis o Mar roxo tam famoso,
Por elles vereis filha edificados: Tornar selhe amarello de infiado:
Os Turcos belacissimos e duros, Vereis de Ormuz o Reino poderoso,
Delles sempre vereis desbaratados. Duas vezes tomado, e sojugado.
Os Reis da India liures, e seguros, Ali vereis o Mouro furioso,
Vereis ao Rei potente sojugados. De suas mesmas setas traspassado.
E por elles de tudo em fim senhores, Que quem vay contra os vossos, claro veja,
Serão dadas na terra leis milhores. Que se resiste, contra si peleja.

[47] Vereis este, que agora presuroso, [50] Vereis a inexpugnabil Dio forte,
Por tantos medos o Indo vay buscando, Que dous cercos terà, dos vossos sendo.
Tremer delle Neptuno de medroso, Ali se mostrarà seu preço, e sorte,
Sem vento suas agoas encrespando. Feitos de armas grandissimos fazendo.
O caso nunca visto, e milagroso Enuejoso vereis o grão Mauorte,
Que trema, e ferua o Mar em calma estãdo? Do peito Lusitano, fero e horrendo.
O gente forte, e de altos pensamentos, Do Mouro ali verão que a voz extrema,
Que tambem della hão medo os Elementos. Do falso Mahamede ao Ceo blasfema.
Vereis D 3 Goa
[27v] [28r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 28

[51] Goa vereis aos Mouros ser tomada, [54] Como vereis o mar feruendo aceso,
A qual virá despois a ser senhora, Cos incendios dos vossos pelejando,
De todo o Oriente, e sublimada Leuando o Idololatra, e o Mouro preso,
Cos triumphos da gente vencedora. De nações differentes triumphando.
Ali soberba altiua, e exalçada, E sogeita a rica Aurea Chersoneso,
Ao Gentio que os Idolos adora. Ate o longico China nauegando.
Duro freo porà, e a toda a terra, E as Ilhas mais remotas do Oriente,
Que cuidar de fazer aos vossos guerra. Serlhe a todo o Occeano obediente.

[52] Vereis a fortaleza sustentarse, [55] De modo filha minha, que de geito,
De Cananor, com pouca força e gente: Amostrarão esforço mais que humano,
E vereis Calecu desbaratarse, Que nunca se vera tam forte peito,
Cidade populosa, e tam potente. Do Gangetico mar ao Gaditano,
E vereis em Cochim assinalarse, Nem das Boreais ondas, ao Estreito,
Tanto hum peito soberbo, e insolente, Que mostrou o agrauado Lusitano:
Que Cîtara ja mais cantou victoria, Posto que em todo o mundo, de affrontados
Que assi mereça eterno nome, e gloria. Resucitassem todos os passados.

[53] Nunca com Marte, instructo e furioso, [56] Como isto disse, manda o consagrado
Se vio feruer Leucate, quando Augusto Filho de Maia aa terra, porque tenha,
Nas ciuîs Actias guerras animoso, Hum pacifico porto, e sossegado,
O Capitão venceo Romano injusto, Pera onde sem receyo a frota venha:
Que dos pouos de Aurora, e do famoso E pera que em Mombaça, auenturado
Nilo, e do Bactra Scitico, e robusto, O forte Capitão se não detenha,
A victoria trazia, e presa rica, Lhe mãda mais, que em sonhos lhe mostrasse
Preso da Egipcia linda e não pudica. A terra, onde quieto repousasse.
Como D 4 Ia
[27v] [28r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 28

[51] Goa vereis aos Mouros ser tomada, [54] Como vereis o mar feruendo aceso,
A qual virá despois a ser senhora, Cos incendios dos vossos pelejando,
De todo o Oriente, e sublimada Leuando o Idololatra, e o Mouro preso,
Cos triumphos da gente vencedora. De nações differentes triumphando.
Ali soberba altiua, e exalçada, E sogeita a rica Aurea Chersoneso,
Ao Gentio que os Idolos adora. Ate o longico China nauegando.
Duro freo porà, e a toda a terra, E as Ilhas mais remotas do Oriente,
Que cuidar de fazer aos vossos guerra. Serlhe a todo o Occeano obediente.

[52] Vereis a fortaleza sustentarse, [55] De modo filha minha, que de geito,
De Cananor, com pouca força e gente: Amostrarão esforço mais que humano,
E vereis Calecu desbaratarse, Que nunca se vera tam forte peito,
Cidade populosa, e tam potente. Do Gangetico mar ao Gaditano,
E vereis em Cochim assinalarse, Nem das Boreais ondas, ao Estreito,
Tanto hum peito soberbo, e insolente, Que mostrou o agrauado Lusitano:
Que Cîtara ja mais cantou victoria, Posto que em todo o mundo, de affrontados
Que assi mereça eterno nome, e gloria. Resucitassem todos os passados.

[53] Nunca com Marte, instructo e furioso, [56] Como isto disse, manda o consagrado
Se vio feruer Leucate, quando Augusto Filho de Maia aa terra, porque tenha,
Nas ciuîs Actias guerras animoso, Hum pacifico porto, e sossegado,
O Capitão venceo Romano injusto, Pera onde sem receyo a frota venha:
Que dos pouos de Aurora, e do famoso E pera que em Mombaça, auenturado
Nilo, e do Bactra Scitico, e robusto, O forte Capitão se não detenha,
A victoria trazia, e presa rica, Lhe mãda mais, que em sonhos lhe mostrasse
Preso da Egipcia linda e não pudica. A terra, onde quieto repousasse.
Como D 4 Ia
[28v] [29r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 29

[57] Ia pelo ar o Cylenêo voaua, [60] Meyo caminho a noite tinha andado,
Com as asas nos pês aa terra deçe, E as Estrellas no Ceo co a luz alheia,
Sua vara fatal na mão leuaua, Tinhão o largo Mundo alumiado,
Com que os olhos cansados adormece: E so co sono a gente se recreia.
Com esta, as tristes almas reuocaua, O Capitão illustre, ja cansado,
Do Inferno, e o vento lhe obedeçe. De vigiar a noite, que arreceia,
Na cabeça o galêro costumado, Breue repouso antam aos olhos daua,
E desta arte a Melinde foy chegado. A outra gente a quartos vigiaua.

[58] Consigo a Fama leua, porque diga, [61] Quando Mercurio em sonhos lhe apareçe,
Do Lusitano, o preço grande, e raro, Dizendo, fuge, fuge Lusitano,
Que o nome illustre a hũ certo amor obriga, Da cilada que o Rei maluado teçe,
E faz a quem o tem, amado e caro. Por te trazer ao fim, e extremo dano,
Desta arte vay fazendo a gente amiga, Fuge, que o Vento, e o Ceo te fauoreçe,
Co rumor famosissimo, e perclaro. Sereno o tempo tẽs, e o Occeano,
Ia Melinde em desejos arde todo, E outro Rei mais amigo, noutra parte,
De ver da gente forte o gesto, e modo. Onde podes seguro agasalharte.

[59] Dali pera Mombaça logo parte, [62] Não tens aqui se não aparelhado,
Aonde as naos estauão temerosas, O hospicio que o cru Diomedes daua,
Pera que aa gente mande que se aparte, Fazendo ser manjar acostumado,
Da barra imiga, e terras sospeitosas: De cauallos a gente que hospedaua:
Porque muy pouco val esforço, e arte, As aras de Busiris infamado,
Contra infernais vontades enganosas: Onde os hospedes tristes imolaua:
Pouco val coração, astucia, e siso, Teràs certas aqui, se muito esperas,
Se la dos Ceos nam vem celeste auiso. Fuge das gentes perfidas e feras.
Meyo Vaite
[28v] [29r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 29

[57] Ia pelo ar o Cylenêo voaua, [60] Meyo caminho a noite tinha andado,
Com as asas nos pês aa terra deçe, E as Estrellas no Ceo co a luz alheia,
Sua vara fatal na mão leuaua, Tinhão o largo Mundo alumiado,
Com que os olhos cansados adormece: E so co sono a gente se recreia.
Com esta, as tristes almas reuocaua, O Capitão illustre, ja cansado,
Do Inferno, e o vento lhe obedeçe. De vigiar a noite, que arreceia,
Na cabeça o galêro costumado, Breue repouso antam aos olhos daua,
E desta arte a Melinde foy chegado. A outra gente a quartos vigiaua.

[58] Consigo a Fama leua, porque diga, [61] Quando Mercurio em sonhos lhe apareçe,
Do Lusitano, o preço grande, e raro, Dizendo, fuge, fuge Lusitano,
Que o nome illustre a hũ certo amor obriga, Da cilada que o Rei maluado teçe,
E faz a quem o tem, amado e caro. Por te trazer ao fim, e extremo dano,
Desta arte vay fazendo a gente amiga, Fuge, que o Vento, e o Ceo te fauoreçe,
Co rumor famosissimo, e perclaro. Sereno o tempo tẽs, e o Occeano,
Ia Melinde em desejos arde todo, E outro Rei mais amigo, noutra parte,
De ver da gente forte o gesto, e modo. Onde podes seguro agasalharte.

[59] Dali pera Mombaça logo parte, [62] Não tens aqui se não aparelhado,
Aonde as naos estauão temerosas, O hospicio que o cru Diomedes daua,
Pera que aa gente mande que se aparte, Fazendo ser manjar acostumado,
Da barra imiga, e terras sospeitosas: De cauallos a gente que hospedaua:
Porque muy pouco val esforço, e arte, As aras de Busiris infamado,
Contra infernais vontades enganosas: Onde os hospedes tristes imolaua:
Pouco val coração, astucia, e siso, Teràs certas aqui, se muito esperas,
Se la dos Ceos nam vem celeste auiso. Fuge das gentes perfidas e feras.
Meyo Vaite
[29v] [30r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 30

[63] Vaite ao longo da costa discorrendo, [66] Neste tempo, que as ancoras leuauão,
E outra terra acharàs de mais verdade Na sombra escura os Mouros escondidos,
La quasi junto donde o Sol ardendo, Mansamente as amarras lhe cortauão,
Iguala o dia, e noite em quantidade: Por serem, dando aa costa, destruydos:
Ali tua frota alegre recebendo Mas com vista de Linces vigiauão,
Hum Rei, com muitas obras de amizade, Os Portugueses sempre apercebidos.
Gasalhado seguro te daria, Elles como acordados os sentirão,
E pera a India certa e sabia guia. Voando, e não remando lhe fogirão.

[64] Isto Mercurio disse, e o sono leua [67] Mas ja as agudas proas apartando,
Ao Capitão, que com muy grande espanto Hião as vias humidas de argento,
Acorda, e ve ferida a escura treua, Assopralhe galerno o vento, e brando,
De hũa subita luz, e rayo sancto: Com suaue e seguro mouimento,
E vendo claro quanto lhe releua, Nos perigos passados vão falando,
Não se deter na terra iniqua tanto. Que mal se perderão do pensamento,
Com nouo sprito ao Mestre seu mandaua, Os casos grandes, donde em tanto aperto
Que as vellas desse ao vento que assopraua. A vida em saluo escapa por acerto.

[65] Day vellas, disse, day ao largo vento, [68] Tinha hũa volta dado o Sol ardente,
Que o Ceo nos fauoreçe, e Deos o manda, E noutra começaua, quando virão
Que hum mensageiro vi do claro assento Ao longe dous nauios, brandamente
Que so em fauor de nossos passos anda: Cos ventos nauegando, que respirão,
Aleuantase nisto o mouimento, Porque auião de ser da Maura gente,
Dos marinheiros, de hũa e de outra banda, Pera elles arribando, as vellas virão.
Leuão gritando as ancoras acima, Hum de temor do mal que arreceaua,
Mostrando a ruda força, que se estima. Por se saluar a gente aa costa daua.
Neste Não
[29v] [30r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 30

[63] Vaite ao longo da costa discorrendo, [66] Neste tempo, que as ancoras leuauão,
E outra terra acharàs de mais verdade Na sombra escura os Mouros escondidos,
La quasi junto donde o Sol ardendo, Mansamente as amarras lhe cortauão,
Iguala o dia, e noite em quantidade: Por serem, dando aa costa, destruydos:
Ali tua frota alegre recebendo Mas com vista de Linces vigiauão,
Hum Rei, com muitas obras de amizade, Os Portugueses sempre apercebidos.
Gasalhado seguro te daria, Elles como acordados os sentirão,
E pera a India certa e sabia guia. Voando, e não remando lhe fogirão.

[64] Isto Mercurio disse, e o sono leua [67] Mas ja as agudas proas apartando,
Ao Capitão, que com muy grande espanto Hião as vias humidas de argento,
Acorda, e ve ferida a escura treua, Assopralhe galerno o vento, e brando,
De hũa subita luz, e rayo sancto: Com suaue e seguro mouimento,
E vendo claro quanto lhe releua, Nos perigos passados vão falando,
Não se deter na terra iniqua tanto. Que mal se perderão do pensamento,
Com nouo sprito ao Mestre seu mandaua, Os casos grandes, donde em tanto aperto
Que as vellas desse ao vento que assopraua. A vida em saluo escapa por acerto.

[65] Day vellas, disse, day ao largo vento, [68] Tinha hũa volta dado o Sol ardente,
Que o Ceo nos fauoreçe, e Deos o manda, E noutra começaua, quando virão
Que hum mensageiro vi do claro assento Ao longe dous nauios, brandamente
Que so em fauor de nossos passos anda: Cos ventos nauegando, que respirão,
Aleuantase nisto o mouimento, Porque auião de ser da Maura gente,
Dos marinheiros, de hũa e de outra banda, Pera elles arribando, as vellas virão.
Leuão gritando as ancoras acima, Hum de temor do mal que arreceaua,
Mostrando a ruda força, que se estima. Por se saluar a gente aa costa daua.
Neste Não
[30v] [31r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 31

[69] Não he o outro que fica tão manhoso: [72] Era no tempo alegre quando entraua,
Mas nas mãos vay cair do Lusitano, No roubador de Europa a luz Febea,
Sem o rigor de Marte furioso, Quando hum, e o outro corno lhe aquentaua
E sem a furia horrenda de Vulcano, E Flora derramaua o de Amalthea:
Que como fosse debil e medroso, A memoria do dia renouaua,
Da pouca gente o fraco peito humano: O presuroso Sol, que o Ceo rodea.
Não teue resistencia, e se a tiuêra, Em que aquelle, a quem tudo està sogeito,
Mais dãno resistindo recebêra. O sello pos a quanto tinha feito.

[70] E como o Gama muito desejasse, [73] Quando chegaua a frota aaquella parte,
Piloto pera a India que buscaua, Onde o Reino Melinde ja se via,
Cuidou que entre estes Mouros o tomasse: De toldos adornada, e leda de arte
Mas não lhe soccedeo como cuidaua, Que bem mostra estimar o Sancto dia:
Que nenhum delles ha que lhe insinasse Treme a Bandeira, voa o Estandarte,
A que parte dos Ceos a India estaua. A cor porpurea ao longe aparecia.
Porem dizem lhe todos, que tem perto, Soão os atambores e pandeiros,
Melinde onde achàrão Piloto certo. E assi entrauão ledos e guerreiros.

[71] Louuão do Rei os Mouros a bondade, [74] Enche se toda a praya Melindana,
Condiçam liberal, sincero peito, Da gente que vem ver a leda armada,
Magnificencia grande, e humanidade, Gente mais verdadeira, e mais humana
Com partes de grandissimo respeito. Que toda a doutra terra atras deixada.
O Capitão o assella por verdade, Surge diante a frota Lusitana,
Porque ja lho dissera deste geito, Pega no findo a ancora pesada.
O Cylenêo em sonhos, e partia, Mandão fora hum dos Mouros q̃ tomàrão,
Pera onde o sonho, e o Mouro lhe dizia. Por quem sua vinda ao Rei manifestàrão.
Era O Rei
[30v] [31r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 31

[69] Não he o outro que fica tão manhoso: [72] Era no tempo alegre quando entraua,
Mas nas mãos vay cair do Lusitano, No roubador de Europa a luz Febea,
Sem o rigor de Marte furioso, Quando hum, e o outro corno lhe aquentaua
E sem a furia horrenda de Vulcano, E Flora derramaua o de Amalthea:
Que como fosse debil e medroso, A memoria do dia renouaua,
Da pouca gente o fraco peito humano: O presuroso Sol, que o Ceo rodea.
Não teue resistencia, e se a tiuêra, Em que aquelle, a quem tudo està sogeito,
Mais dãno resistindo recebêra. O sello pos a quanto tinha feito.

[70] E como o Gama muito desejasse, [73] Quando chegaua a frota aaquella parte,
Piloto pera a India que buscaua, Onde o Reino Melinde ja se via,
Cuidou que entre estes Mouros o tomasse: De toldos adornada, e leda de arte
Mas não lhe soccedeo como cuidaua, Que bem mostra estimar o Sancto dia:
Que nenhum delles ha que lhe insinasse Treme a Bandeira, voa o Estandarte,
A que parte dos Ceos a India estaua. A cor porpurea ao longe aparecia.
Porem dizem lhe todos, que tem perto, Soão os atambores e pandeiros,
Melinde onde achàrão Piloto certo. E assi entrauão ledos e guerreiros.

[71] Louuão do Rei os Mouros a bondade, [74] Enche se toda a praya Melindana,
Condiçam liberal, sincero peito, Da gente que vem ver a leda armada,
Magnificencia grande, e humanidade, Gente mais verdadeira, e mais humana
Com partes de grandissimo respeito. Que toda a doutra terra atras deixada.
O Capitão o assella por verdade, Surge diante a frota Lusitana,
Porque ja lho dissera deste geito, Pega no findo a ancora pesada.
O Cylenêo em sonhos, e partia, Mandão fora hum dos Mouros q̃ tomàrão,
Pera onde o sonho, e o Mouro lhe dizia. Por quem sua vinda ao Rei manifestàrão.
Era O Rei
[31v] [32r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 32

[75] O Rei que ja sabia da nobreza [78] Manda mais hum na pratica elegante,
que tanto os Portugueses engrandece, Que co Rei nobre as pazes concertasse,
Tomarem o seu porto tanto preza, E que de não sair naquelle instante,
Quanto a gente fortissima merece: De suas naos em terra o desculpasse.
E com verdadeiro animo, e pureza, Partido assi o embaixador prestante,
Que os peitos generosos ennobrece. Como na terra ao Rei se apresentasse:
Lhe manda rogar muyto que saissem, Com estillo que Palas lhe ensinaua,
Pera que de seus Reinos se seruissem: Estas palauras tais fallando oraua.

[76] Sam offerecimentos verdadeiros, [79] Sublime Rei, a quem do Olimpo puro,
E palauras sinceras, não dobradas, Foy da suma Iustiça concedido,
As que o Rei manda aos nobres caualleiros, Refrear o soberbo pouo duro,
Que tanto mar e terras tem passadas: Não menos delle amado, que temido,
Mandalhe mais lanigeros carneiros, Como porto muy forte, e muy seguro,
E galinhas domesticas çeuadas, De todo o Oriente conhecido:
Com as fructas que antam na terra auia, Te vimos a buscar, pera que achemos
E a vontade aa dadiua excedia. Em ti o remedio certo que queremos.

[77] Recebe o Capitão alegremente [80] Não somos roubadores, que passando
O mensageiro ledo, e seu recado, Pelas fracas cidades descuidadas,
E logo manda ao Rei outro presente, A ferro, e a fogo, as gentes vão matando
Que de longe trazia aparelhado: Por roubarlhe as fazendas cubiçadas:
Escarlata purpurea, cor ardente, Mas da soberba Europa nauegando,
O ramoso coral fino, e prezado. Himos buscando as terras apartadas
Que debaxo das agoas mole creçe, Da India grande, e rica, por mandado
E como he fora dellas se endureçe. De hum Rei que temos, alto, e sublimado.
E manda Que
[31v] [32r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 32

[75] O Rei que ja sabia da nobreza [78] Manda mais hum na pratica elegante,
que tanto os Portugueses engrandece, Que co Rei nobre as pazes concertasse,
Tomarem o seu porto tanto preza, E que de não sair naquelle instante,
Quanto a gente fortissima merece: De suas naos em terra o desculpasse.
E com verdadeiro animo, e pureza, Partido assi o embaixador prestante,
Que os peitos generosos ennobrece. Como na terra ao Rei se apresentasse:
Lhe manda rogar muyto que saissem, Com estillo que Palas lhe ensinaua,
Pera que de seus Reinos se seruissem: Estas palauras tais fallando oraua.

[76] Sam offerecimentos verdadeiros, [79] Sublime Rei, a quem do Olimpo puro,
E palauras sinceras, não dobradas, Foy da suma Iustiça concedido,
As que o Rei manda aos nobres caualleiros, Refrear o soberbo pouo duro,
Que tanto mar e terras tem passadas: Não menos delle amado, que temido,
Mandalhe mais lanigeros carneiros, Como porto muy forte, e muy seguro,
E galinhas domesticas çeuadas, De todo o Oriente conhecido:
Com as fructas que antam na terra auia, Te vimos a buscar, pera que achemos
E a vontade aa dadiua excedia. Em ti o remedio certo que queremos.

[77] Recebe o Capitão alegremente [80] Não somos roubadores, que passando
O mensageiro ledo, e seu recado, Pelas fracas cidades descuidadas,
E logo manda ao Rei outro presente, A ferro, e a fogo, as gentes vão matando
Que de longe trazia aparelhado: Por roubarlhe as fazendas cubiçadas:
Escarlata purpurea, cor ardente, Mas da soberba Europa nauegando,
O ramoso coral fino, e prezado. Himos buscando as terras apartadas
Que debaxo das agoas mole creçe, Da India grande, e rica, por mandado
E como he fora dellas se endureçe. De hum Rei que temos, alto, e sublimado.
E manda Que
[32v] [33r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 33.

[81] Que geração tam dura ahi de gente? [84] E porque he de vassalos, o exercicio,
Que barbaro costume, e vsança fea, Que os membros tem regidos da cabeça
Que não vedem os portos, tam somente: Não quereras, pois tẽs de Rei o officio,
Mas inda o hospicio da deserta area? Que ninguem a seu Rei desobedeça:
Que ma tençam? que peito em nos se sente? Mas as merçes, e o grande beneficio,
Que de tam pouca gente se arrecea. Que ora acha em ti, promete que conheça
Que com laços armados tam fingidos, Em tudo aquillo que elle e os seus poderem,
Nos ordenassem vernos destruydos? Em quanto os rios pera o mar correrem.

[82] Mas tu, em quem muy certo confiamos [85] Assi dizia, e todos juntamente,
Acharse mais verdade, ó Rei benigno, Hũs com outros em pratica fallando,
E aquella certa ajuda em ti esperamos, Louuauão muito o estamago da gente,
Que teue o perdido Itaco em Alcino: Que tantos Ceos e mares vai passando,
A teu porto seguros nauegamos, E o Rei illustre, o peito obediente,
Conduzidos do interprete diuino. Dos Portugueses, na alma imaginando.
Que pois a ti nos manda, està muy claro, Tinha por valor grande, e muy subido,
Que es de peito sincêro, humano, e raro. O do Rei que he tam longe obedecido.

[83] E não cuydes, ô Rei, que não saisse, [86] E com risonha vista, e ledo aspeito,
O nosso Capitão esclarecido Responde ao Embaixador, que tanto estima
A verte, ou a seruirte, porque visse Toda a sospeita mà tiray do peito,
Ou sospeitasse em ti peito fingido: Nenhum frio temor em vos se imprima:
Mas saberas que o fez porque comprisse, Que vosso preço, e obras sam de geito,
O regimento em tudo obedecido, Pera vos ter o mundo em muyta estima.
De seu Rei, que lhe manda que nam saia, E quem vos fez mollesto tratamento,
Deixando a frota, em nenhũ porto, ou praia. Não pode ter sobido pensamento.
E porque E De
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OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 33.

[81] Que geração tam dura ahi de gente? [84] E porque he de vassalos, o exercicio,
Que barbaro costume, e vsança fea, Que os membros tem regidos da cabeça
Que não vedem os portos, tam somente: Não quereras, pois tẽs de Rei o officio,
Mas inda o hospicio da deserta area? Que ninguem a seu Rei desobedeça:
Que ma tençam? que peito em nos se sente? Mas as merçes, e o grande beneficio,
Que de tam pouca gente se arrecea. Que ora acha em ti, promete que conheça
Que com laços armados tam fingidos, Em tudo aquillo que elle e os seus poderem,
Nos ordenassem vernos destruydos? Em quanto os rios pera o mar correrem.

[82] Mas tu, em quem muy certo confiamos [85] Assi dizia, e todos juntamente,
Acharse mais verdade, ó Rei benigno, Hũs com outros em pratica fallando,
E aquella certa ajuda em ti esperamos, Louuauão muito o estamago da gente,
Que teue o perdido Itaco em Alcino: Que tantos Ceos e mares vai passando,
A teu porto seguros nauegamos, E o Rei illustre, o peito obediente,
Conduzidos do interprete diuino. Dos Portugueses, na alma imaginando.
Que pois a ti nos manda, està muy claro, Tinha por valor grande, e muy subido,
Que es de peito sincêro, humano, e raro. O do Rei que he tam longe obedecido.

[83] E não cuydes, ô Rei, que não saisse, [86] E com risonha vista, e ledo aspeito,
O nosso Capitão esclarecido Responde ao Embaixador, que tanto estima
A verte, ou a seruirte, porque visse Toda a sospeita mà tiray do peito,
Ou sospeitasse em ti peito fingido: Nenhum frio temor em vos se imprima:
Mas saberas que o fez porque comprisse, Que vosso preço, e obras sam de geito,
O regimento em tudo obedecido, Pera vos ter o mundo em muyta estima.
De seu Rei, que lhe manda que nam saia, E quem vos fez mollesto tratamento,
Deixando a frota, em nenhũ porto, ou praia. Não pode ter sobido pensamento.
E porque E De
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OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 34

[87] De não sair em terra toda a gente, [90] Não faltão ali os rayos de arteficio,
Por obseruar a vsada preminencia, Os tremulos Cometas imitando,
Ainda que me pese estranhamente, Fazem os Bombardeiros seu officio:
Em muito tenho a muita obediencia: O ceo, a terra, e as ondas atroando.
Mas se lho o regimento não consente, Mostrase dos Cyclopas o exercicio,
Nem eu consentirey que a excelencia, Nas bombas que de fogo estão queimando,
De peitos tão leais em si desfaça, Outros com vozes, com que o Ceo ferião,
So porque a meu desejo satisfaça. Instrumentos altissonos tangião.

[88] Porem como a luz crastina chegada, [91] Respondem lhe da terra juntamente,
Ao mundo for, em minhas almàdîas, Co rayo volteando, com zonido,
Eu irey visitar a forte armada, Anda em giros no ar a roda ardente,
Que ver tanto desejo, ha tantos dias. Estoura o po sulfureo escondido:
E se vier do mar desbaratada, A grita se aleuanta ao Ceo, da gente,
Do furioso vento, e longas vias: O Mar se via em fogos acendido:
Aqui tera, de limpos pensamentos E não menos a terra, e assi festeja
Piloto, munições, e mantimentos. Hum ao outro a maneira de peleja.

[89] Isto disse, e nas agoas se escondia, [92] Mas ja o Ceo inquieto reuoluendo,
O filho de Latona, e o mensageiro As gentes incitaua a seu trabalho,
Coa embaixada alegre se partia E ja a mãy de Menon a luz trazendo,
Pera a frota, no seu batel ligeiro: Ao sono longo punha certo atalho:
Enchem se os peitos todos de alegria, Hião se as sombras lentas desfazendo,
Por terem o remedio verdadeiro, Sobre as flores da terra, em frio orualho,
Pera acharem a terra que buscauão, Quando o Rei Milindano se embarcaua
E assi ledos a noite festejauão. A ver a frota que no mar estaua.
Não E 2 Vião se
[33v] [34r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 34

[87] De não sair em terra toda a gente, [90] Não faltão ali os rayos de arteficio,
Por obseruar a vsada preminencia, Os tremulos Cometas imitando,
Ainda que me pese estranhamente, Fazem os Bombardeiros seu officio:
Em muito tenho a muita obediencia: O ceo, a terra, e as ondas atroando.
Mas se lho o regimento não consente, Mostrase dos Cyclopas o exercicio,
Nem eu consentirey que a excelencia, Nas bombas que de fogo estão queimando,
De peitos tão leais em si desfaça, Outros com vozes, com que o Ceo ferião,
So porque a meu desejo satisfaça. Instrumentos altissonos tangião.

[88] Porem como a luz crastina chegada, [91] Respondem lhe da terra juntamente,
Ao mundo for, em minhas almàdîas, Co rayo volteando, com zonido,
Eu irey visitar a forte armada, Anda em giros no ar a roda ardente,
Que ver tanto desejo, ha tantos dias. Estoura o po sulfureo escondido:
E se vier do mar desbaratada, A grita se aleuanta ao Ceo, da gente,
Do furioso vento, e longas vias: O Mar se via em fogos acendido:
Aqui tera, de limpos pensamentos E não menos a terra, e assi festeja
Piloto, munições, e mantimentos. Hum ao outro a maneira de peleja.

[89] Isto disse, e nas agoas se escondia, [92] Mas ja o Ceo inquieto reuoluendo,
O filho de Latona, e o mensageiro As gentes incitaua a seu trabalho,
Coa embaixada alegre se partia E ja a mãy de Menon a luz trazendo,
Pera a frota, no seu batel ligeiro: Ao sono longo punha certo atalho:
Enchem se os peitos todos de alegria, Hião se as sombras lentas desfazendo,
Por terem o remedio verdadeiro, Sobre as flores da terra, em frio orualho,
Pera acharem a terra que buscauão, Quando o Rei Milindano se embarcaua
E assi ledos a noite festejauão. A ver a frota que no mar estaua.
Não E 2 Vião se
[34v] [35r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 35.

[93] Vião se em derredor feruer as prayas [96] Com hum redondo emparo alto de seda,
Da gente, que a ver so concorre leda, Nũa alta e dourada astea enxerido,
Luzem da fina purpura as cabaias, Hum ministro aa solar quentura veda,
Lustrão os panos da tecida seda: Que não offenda e queime o Rei subido:
Em lugar de guerreiras azagaias, Musica traz na proa, estranha e leda,
E do arco, que os cornos arremeda De aspero som, horrissimo ao ouuido:
Da Lũa, trazem ramos de Palmeira, De trombetas arcadas em redondo,
Dos que vencem coroa verdadeira. Que sem concerto fazem rudo estrondo.

[94] Hum batel grande e largo, que toldado [97] Não menos guarnecido o Lusitano,
Vinha de sedas de diuersas cores, Nos seus bateis da frota se partia,
Traz o Rei de Melinde, acompanhado A receber no mar o Melindano,
De nobres de seu Reino, e de senhores: Com lustrosa e honrada companhia:
Vem de ricos vestidos adornado, Vestido o Gama vem ao modo Hispano:
Segundo seus costumes, e primores. Mas Francesa era a roupa que vestia,
Na cabeça hũa fota guarnecida, De cetim da Adriatica Veneza,
De ouro, e de seda, e de algodão tecida. Carmesi, cor que a gente tanto preza.

[95] Cabaya de Damasco rico, e dino, [98] De botões douro as mangas vem tomadas,
Da Tiria cor, entre elles estimada, Onde o Sol reluzindo a vista cega:
Hum colar ao pescoço de ouro fino, As calças soldadescas recamadas,
Onde a materia da obra he superada, Do metal que Fortuna a tantos nega,
Cum resplandor reluze Adamantino, E com pontas do mesmo delicadas,
Na cinta, a rica adaga bem laurada. Os golpes do gibão ajunta, e achega:
Nas alparcas dos pês, em fim de tudo, Ao Italico modo a aurea espada,
Cobrem, ouro e aljofar ao veludo. Pruma na gorra, hum pouco diclinada.
Com E 3 Nos
[34v] [35r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 35.

[93] Vião se em derredor feruer as prayas [96] Com hum redondo emparo alto de seda,
Da gente, que a ver so concorre leda, Nũa alta e dourada astea enxerido,
Luzem da fina purpura as cabaias, Hum ministro aa solar quentura veda,
Lustrão os panos da tecida seda: Que não offenda e queime o Rei subido:
Em lugar de guerreiras azagaias, Musica traz na proa, estranha e leda,
E do arco, que os cornos arremeda De aspero som, horrissimo ao ouuido:
Da Lũa, trazem ramos de Palmeira, De trombetas arcadas em redondo,
Dos que vencem coroa verdadeira. Que sem concerto fazem rudo estrondo.

[94] Hum batel grande e largo, que toldado [97] Não menos guarnecido o Lusitano,
Vinha de sedas de diuersas cores, Nos seus bateis da frota se partia,
Traz o Rei de Melinde, acompanhado A receber no mar o Melindano,
De nobres de seu Reino, e de senhores: Com lustrosa e honrada companhia:
Vem de ricos vestidos adornado, Vestido o Gama vem ao modo Hispano:
Segundo seus costumes, e primores. Mas Francesa era a roupa que vestia,
Na cabeça hũa fota guarnecida, De cetim da Adriatica Veneza,
De ouro, e de seda, e de algodão tecida. Carmesi, cor que a gente tanto preza.

[95] Cabaya de Damasco rico, e dino, [98] De botões douro as mangas vem tomadas,
Da Tiria cor, entre elles estimada, Onde o Sol reluzindo a vista cega:
Hum colar ao pescoço de ouro fino, As calças soldadescas recamadas,
Onde a materia da obra he superada, Do metal que Fortuna a tantos nega,
Cum resplandor reluze Adamantino, E com pontas do mesmo delicadas,
Na cinta, a rica adaga bem laurada. Os golpes do gibão ajunta, e achega:
Nas alparcas dos pês, em fim de tudo, Ao Italico modo a aurea espada,
Cobrem, ouro e aljofar ao veludo. Pruma na gorra, hum pouco diclinada.
Com E 3 Nos
[35v] [36r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 36

[99] Nos de sua companhia se mostraua, [102] E com grandes palauras lhe offereçe,
Da tinta que dà o Mûrice excelente, Tudo o que de seus Reinos lhe comprisse,
A varia cor, que os olhos alegraua, E que se mantimento lhe falleçe,
E a maneira do trajo diferente: Como se proprio fosse lho pedisse:
Tal o fermoso esmalte se notaua, Diz lhe mais, que por fama bem conheçe
Dos vestidos olhados juntamente: A gente Lusitana, sem que a visse.
Qual aparece o arco rutilante, Que ja ouuio dizer, que noutra terra
Da bella Nimpha filha de Thaumante. Com gente de sua ley tiuesse guerra.

[100] Sonorosas trombetas incitauão, [103] E como por toda Affrica se soa,
Os animos alegres resoando, Lhe diz, os grandes feitos que fizerão,
Dos Mouros os bateis o Mar coalhauão, Quando nella ganhàrão a coroa
Os toldos pelas agoas arrojando: Do Reino, onde as Hesperidas viuerão:
As bombardas horrissonas bramando, E com muitas palauras apregoa,
Com as nuuẽs de fumo o Sol tomando, O menos que os de Luso merecerão:
Ameudam se os brados acendidos, E o mais que pela fama o Rei sabia:
Tapão com as mãos os Mouros os ouuidos. Mas desta sorte o Gama respondia.

[101] Ia no batel entrou do Capitão [104] O tu que so tiueste piedade,


O Rei, que nos seus braços o leuaua, Rei benigno, da gente Lusitana,
Elle coa cortesia, que a razão Que com tanta miseria, e aduersidade,
(Por ser Rei) requeria, lhe fallaua. Dos mares experimenta a furia insana.
Cũas mostras de espanto, e admiração, Aquella alta, e diuina eternidade,
O Mouro o gesto, e o modo lhe notaua, Que o Ceo reuolue, e rege a gente humana:
Como quem em muy grande estima tinha, Pois que de ti tais obras reçebemos,
Gente que de tam longe à India vinha. Te pague o que nos outros não podemos.
E com E 4 Tu so
[35v] [36r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 36

[99] Nos de sua companhia se mostraua, [102] E com grandes palauras lhe offereçe,
Da tinta que dà o Mûrice excelente, Tudo o que de seus Reinos lhe comprisse,
A varia cor, que os olhos alegraua, E que se mantimento lhe falleçe,
E a maneira do trajo diferente: Como se proprio fosse lho pedisse:
Tal o fermoso esmalte se notaua, Diz lhe mais, que por fama bem conheçe
Dos vestidos olhados juntamente: A gente Lusitana, sem que a visse.
Qual aparece o arco rutilante, Que ja ouuio dizer, que noutra terra
Da bella Nimpha filha de Thaumante. Com gente de sua ley tiuesse guerra.

[100] Sonorosas trombetas incitauão, [103] E como por toda Affrica se soa,
Os animos alegres resoando, Lhe diz, os grandes feitos que fizerão,
Dos Mouros os bateis o Mar coalhauão, Quando nella ganhàrão a coroa
Os toldos pelas agoas arrojando: Do Reino, onde as Hesperidas viuerão:
As bombardas horrissonas bramando, E com muitas palauras apregoa,
Com as nuuẽs de fumo o Sol tomando, O menos que os de Luso merecerão:
Ameudam se os brados acendidos, E o mais que pela fama o Rei sabia:
Tapão com as mãos os Mouros os ouuidos. Mas desta sorte o Gama respondia.

[101] Ia no batel entrou do Capitão [104] O tu que so tiueste piedade,


O Rei, que nos seus braços o leuaua, Rei benigno, da gente Lusitana,
Elle coa cortesia, que a razão Que com tanta miseria, e aduersidade,
(Por ser Rei) requeria, lhe fallaua. Dos mares experimenta a furia insana.
Cũas mostras de espanto, e admiração, Aquella alta, e diuina eternidade,
O Mouro o gesto, e o modo lhe notaua, Que o Ceo reuolue, e rege a gente humana:
Como quem em muy grande estima tinha, Pois que de ti tais obras reçebemos,
Gente que de tam longe à India vinha. Te pague o que nos outros não podemos.
E com E 4 Tu so
[36v] [37r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 37.

[105] Tu so de todos quantos queima Apolo, [108] Em praticas o Mouro diferentes,


Nos recebes em paz do Mar profundo Se deleitaua, perguntando agora,
Em ti, dos ventos horridos de Eolo, Pelas guerras famosas e excelentes,
Refugio achamos bom, fido, e jocundo: Co pouo àuidas, que a Mafoma adora:
Em quanto apacentar o largo Polo, Agora lhe pergunta pelas gentes
As Estrellas, e o Sol der lume ao Mundo, De toda a Hispheria vltima, onde mora:
Onde quer que eu viuer, com fama e gloria, Agora pelos pouos seus vezinhos,
Viuirão teus louuores em memoria. Agora pelos humidos caminhos.

[106] Isto dizendo, os barcos vão remando, [109] Mas antes valeroso Capitão,
Pera a frota, que o Mouro ver deseja, Nos conta, lhe dezia, diligente,
Vão as naos, hũa e hũa rodeando, Da terra tua o clima, e região
Porque de todas tudo note, e veja: Do Mundo onde morais distintamente,
Mas pera o Ceo Vulcano fuzilando, E assi de vossa antiga geração,
A frota co as bombardas o festeja, E o principio do Reino tam potente:
E as trombetas canoras lhe tangião, Cos successos das guerras do começo,
Cos anafis os Mouros respondião. Que sem sabellas, sey que sam de preço.

[107] Mas despois de ser tudo ja notado, [110] E assi tambem nos conta dos rodeios
Do generoso Mouro, que pasmaua, Longos, em que te traz o Mar yrado,
Ouuindo o instrumento inusitado, Vendo os costumes barbaros alheios,
Que tamanho terror em si mostraua, Que a nossa Affrica ruda tem criado
Mandaua estar quieto, e ancorado, Conta: que agora vem cos aureos freios,
Nagoa o batel ligeiro que as leuaua, Os cauallos que o carro marchetado,
Por fallar de vagar co forte Gama, Do nouo Sol, da fria Aurora trazem,
Nas cousas de que tem noticia, e fama. O Vento dorme, o Mar e as ondas jazem.
Em E não
[36v] [37r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEGVNDO. 37.

[105] Tu so de todos quantos queima Apolo, [108] Em praticas o Mouro diferentes,


Nos recebes em paz do Mar profundo Se deleitaua, perguntando agora,
Em ti, dos ventos horridos de Eolo, Pelas guerras famosas e excelentes,
Refugio achamos bom, fido, e jocundo: Co pouo àuidas, que a Mafoma adora:
Em quanto apacentar o largo Polo, Agora lhe pergunta pelas gentes
As Estrellas, e o Sol der lume ao Mundo, De toda a Hispheria vltima, onde mora:
Onde quer que eu viuer, com fama e gloria, Agora pelos pouos seus vezinhos,
Viuirão teus louuores em memoria. Agora pelos humidos caminhos.

[106] Isto dizendo, os barcos vão remando, [109] Mas antes valeroso Capitão,
Pera a frota, que o Mouro ver deseja, Nos conta, lhe dezia, diligente,
Vão as naos, hũa e hũa rodeando, Da terra tua o clima, e região
Porque de todas tudo note, e veja: Do Mundo onde morais distintamente,
Mas pera o Ceo Vulcano fuzilando, E assi de vossa antiga geração,
A frota co as bombardas o festeja, E o principio do Reino tam potente:
E as trombetas canoras lhe tangião, Cos successos das guerras do começo,
Cos anafis os Mouros respondião. Que sem sabellas, sey que sam de preço.

[107] Mas despois de ser tudo ja notado, [110] E assi tambem nos conta dos rodeios
Do generoso Mouro, que pasmaua, Longos, em que te traz o Mar yrado,
Ouuindo o instrumento inusitado, Vendo os costumes barbaros alheios,
Que tamanho terror em si mostraua, Que a nossa Affrica ruda tem criado
Mandaua estar quieto, e ancorado, Conta: que agora vem cos aureos freios,
Nagoa o batel ligeiro que as leuaua, Os cauallos que o carro marchetado,
Por fallar de vagar co forte Gama, Do nouo Sol, da fria Aurora trazem,
Nas cousas de que tem noticia, e fama. O Vento dorme, o Mar e as ondas jazem.
Em E não
[37v] [38r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 38.

[111] E não menos co tempo se pareçe,


O desejo de ouuirte o que contares,
Que quem ha, que por fama não conheçe
As obras Portuguesas singulares:
Não tanto desuiado resplandeçe, ☙ Canto Terceiro.
De nos o claro Sol, pera julgares.
Que os Melindanos tem tam rudo peito,
Que não estimem muito hum grande feito.

[112] Cometerão soberbos os Gigantes, [1] AGora tu Caliope / me ensina,


Com guerra vão, o olimpo claro, e puro, O que contou ao Rei, o illustre / Gama:
Tentou Peritho, e Theseu, de ignorantes, Inspira immortal canto, e voz diuina,
O Reino de Plutão horrendo e escuro, Neste peito mortal, que tanto te ama.
Se ouue feitos no mundo tam possantes, Assi o claro inuentor da Medicina,
Não menos he trabalho illustre, e duro, De quem Orpheo pariste, o linda Dama:
Quanto foi cometer Inferno, e Ceo, Nunca por Daphne, Clicie, ou Leucothôe
Que outrem cometa a furia de Nereo. Te negue o Amor diuido, como soe.

[113] Queimou o sagrado templo de Diana, [2] Poem tu Nimfa em effeito meu desejo,
Do sutil Tesifonio fabricado, Como mereçe a gente Lusitana,
Horostrato, por ser da gente humana Que veja e saiba o mundo que do Tejo
Conhecido no mundo, e nomeado: O licor de Aganipe corre e mana,
Se tambem com tais obras nos engana, Deixa as flores de Pindo, que ja vejo
O desejo de hum nome auentajado. Banharme Apolo na agoa soberana.
Mais razão ha que queira eterna gloria Senão direy, que tẽs algum receio,
Quem faz obras tam dignas de memoria. Que se escureça o teu querido Orpheio.
Fim. Promptos
[37v] [38r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 38.

[111] E não menos co tempo se pareçe,


O desejo de ouuirte o que contares,
Que quem ha, que por fama não conheçe
As obras Portuguesas singulares:
Não tanto desuiado resplandeçe, ☙ Canto Terceiro.
De nos o claro Sol, pera julgares.
Que os Melindanos tem tam rudo peito,
Que não estimem muito hum grande feito.

[112] Cometerão soberbos os Gigantes, [1] AGora tu Caliope / me ensina,


Com guerra vão, o olimpo claro, e puro, O que contou ao Rei, o illustre / Gama:
Tentou Peritho, e Theseu, de ignorantes, Inspira immortal canto, e voz diuina,
O Reino de Plutão horrendo e escuro, Neste peito mortal, que tanto te ama.
Se ouue feitos no mundo tam possantes, Assi o claro inuentor da Medicina,
Não menos he trabalho illustre, e duro, De quem Orpheo pariste, o linda Dama:
Quanto foi cometer Inferno, e Ceo, Nunca por Daphne, Clicie, ou Leucothôe
Que outrem cometa a furia de Nereo. Te negue o Amor diuido, como soe.

[113] Queimou o sagrado templo de Diana, [2] Poem tu Nimfa em effeito meu desejo,
Do sutil Tesifonio fabricado, Como mereçe a gente Lusitana,
Horostrato, por ser da gente humana Que veja e saiba o mundo que do Tejo
Conhecido no mundo, e nomeado: O licor de Aganipe corre e mana,
Se tambem com tais obras nos engana, Deixa as flores de Pindo, que ja vejo
O desejo de hum nome auentajado. Banharme Apolo na agoa soberana.
Mais razão ha que queira eterna gloria Senão direy, que tẽs algum receio,
Quem faz obras tam dignas de memoria. Que se escureça o teu querido Orpheio.
Fim. Promptos
[38v] [39 r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 39.

[3] Promptos estauão todos escuitando, [6] Entre a Zona que o Cancro senhorea,
O que o sublime Gama contaria Meta Septentrional do Sol luzente,
Quando, despois de hum pouco estar cuidãdo, E aquella, que por fria se arrecea
Aleuantando o rosto, assi dizia: Tanto, como a do meyo por ardente,
Mandas me, o Rei, que conte declarando, Iaz a soberba Europa, a quem rodea,
De minha gente a grão geanalosia: Pela parte do Arcturo, e do Occidente:
Não me manda contar estranha historia: Com suas salsas ondas o Occeano,
Mas mandas me louuar dos meus a gloria. E pela Austral, o Mar Mediterrano.

[4] Que outrem possa louuar esforço alheio, [7] Da parte donde o dia vem nascendo,
Cousa he que se costuma, e se deseja: Com Asia se auizinha: mas o Rio
Mas louuar os meus proprios, arreceio, Que dos montes Rifeios vay correndo,
Que louuor tão sospeito mal me esteja, Na alagoa Meotis, curuo e frio
E pera dizer tudo, temo e creio, As diuide: e o Mar, que fero e horrendo
Que qualquer longo tempo curto seja: Vio dos Gregos o yrado senhorio:
Mas pois o mandas, tudo se te deue, Onde agora de Troia triumfante,
Irey contra o que deuo, e serey breue. Não vê mais que a memoria o nauegante.

[5] Alem disso, o que a tudo em fim me obriga, [8] La onde mais debaxo està do Polo,
He não poder mentir no que disser, Os montes Hyperboreos aparecem,
Porque de feitos tais, por mais que diga, E aquelles onde sempre sopra Eolo,
Mais me ha de ficar inda por dizer: E co nome do sopros, se ennobrecem,
Mas porque nisto a ordem leue e siga, Aqui tam pouca força tem de Apolo,
Segundo o que desejas de saber. Os rayos que no mundo resplandecem.
Primeiro tratarey da larga terra, Que a neue està contino pelos montes,
Despois direy da sanguinosa guerra. Gelado o mar, geladas sempre as fontes.
Entre Aqui
[38v] [39 r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 39.

[3] Promptos estauão todos escuitando, [6] Entre a Zona que o Cancro senhorea,
O que o sublime Gama contaria Meta Septentrional do Sol luzente,
Quando, despois de hum pouco estar cuidãdo, E aquella, que por fria se arrecea
Aleuantando o rosto, assi dizia: Tanto, como a do meyo por ardente,
Mandas me, o Rei, que conte declarando, Iaz a soberba Europa, a quem rodea,
De minha gente a grão geanalosia: Pela parte do Arcturo, e do Occidente:
Não me manda contar estranha historia: Com suas salsas ondas o Occeano,
Mas mandas me louuar dos meus a gloria. E pela Austral, o Mar Mediterrano.

[4] Que outrem possa louuar esforço alheio, [7] Da parte donde o dia vem nascendo,
Cousa he que se costuma, e se deseja: Com Asia se auizinha: mas o Rio
Mas louuar os meus proprios, arreceio, Que dos montes Rifeios vay correndo,
Que louuor tão sospeito mal me esteja, Na alagoa Meotis, curuo e frio
E pera dizer tudo, temo e creio, As diuide: e o Mar, que fero e horrendo
Que qualquer longo tempo curto seja: Vio dos Gregos o yrado senhorio:
Mas pois o mandas, tudo se te deue, Onde agora de Troia triumfante,
Irey contra o que deuo, e serey breue. Não vê mais que a memoria o nauegante.

[5] Alem disso, o que a tudo em fim me obriga, [8] La onde mais debaxo està do Polo,
He não poder mentir no que disser, Os montes Hyperboreos aparecem,
Porque de feitos tais, por mais que diga, E aquelles onde sempre sopra Eolo,
Mais me ha de ficar inda por dizer: E co nome do sopros, se ennobrecem,
Mas porque nisto a ordem leue e siga, Aqui tam pouca força tem de Apolo,
Segundo o que desejas de saber. Os rayos que no mundo resplandecem.
Primeiro tratarey da larga terra, Que a neue està contino pelos montes,
Despois direy da sanguinosa guerra. Gelado o mar, geladas sempre as fontes.
Entre Aqui
[39v] [40r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 40

[9] Aqui dos Cytas, grande quantidade [12] Entre o remoto Istro, e o claro estreito,
Viuem, que antigamente grande guerra Aonde Hele deixou, co nome, a vida,
Tiuerão, sobre a humana antiguidade, Estão os Traces de robusto peito,
Cos que tinhão antão a Egipcia terra: Do fero Marte, patria tam querida,
Mas quem tão fora estaua da verdade, Onde co Hemo, o Rodope sugeito
(Ia que o juyzo humano tanto erra:) Ao Otomano està, que sometida,
Pera que do mais certo se informàra, Bizancio tem a seu seruiço indino,
Ao campo Damasceno o perguntára. Boa injuria do grande Costantino.

[10] Agora nestas partes se nomea, [13] Logo de Macedonia estão as gentes,
A Lapia fria, a inculta Noruega, A quem laua do Axio a agoa fria:
Escandinauia Ilha, que se arrea, E vos tambem, o terras excelentes,
Das victorias que Italia não lhe nega Nos costumes, engenhos, e ousadia,
Aqui, em quanto as agoas não refrea, Que criastes os peitos eloquentes,
O congelado Inuerno, se nauega. E os juizos de alta fantasia:
Hum braço do Sarmatico Occeoano, Com quem tu clara Grecia o Ceo penetras,
Pelo Brusio, Suecio, e frio Dano. E não menos por armas, que por letras.

[11] Entre este Mar, e o Tanais viue estranha [14] Logo os Dalmatas viuem, e no seio,
Gente, Ruthenos, Moscos, e Liuonios, Onde Antenor ja muros leuantou,
Sarmatas outro tempo, e na montanha A soberba Veneza estâ no meio
Hircinia, os Marcomanos sam Polonios Das agoas, que tam baxa começou
Sugeitos ao Imperio de Alemanha, Da terra, hum braço vem ao mar, que cheio
Sam Saxones, Boemios, e Panonios, De esforço, nações varias sogeitou,
E outras varias nações, que o Reno frio Braço forte, de gente sublimada,
Laua, e o Danubio, Amasis, e Albis Rio. Não menos nos engenhos que na espada.
Entre Em torno
[39v] [40r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 40

[9] Aqui dos Cytas, grande quantidade [12] Entre o remoto Istro, e o claro estreito,
Viuem, que antigamente grande guerra Aonde Hele deixou, co nome, a vida,
Tiuerão, sobre a humana antiguidade, Estão os Traces de robusto peito,
Cos que tinhão antão a Egipcia terra: Do fero Marte, patria tam querida,
Mas quem tão fora estaua da verdade, Onde co Hemo, o Rodope sugeito
(Ia que o juyzo humano tanto erra:) Ao Otomano està, que sometida,
Pera que do mais certo se informàra, Bizancio tem a seu seruiço indino,
Ao campo Damasceno o perguntára. Boa injuria do grande Costantino.

[10] Agora nestas partes se nomea, [13] Logo de Macedonia estão as gentes,
A Lapia fria, a inculta Noruega, A quem laua do Axio a agoa fria:
Escandinauia Ilha, que se arrea, E vos tambem, o terras excelentes,
Das victorias que Italia não lhe nega Nos costumes, engenhos, e ousadia,
Aqui, em quanto as agoas não refrea, Que criastes os peitos eloquentes,
O congelado Inuerno, se nauega. E os juizos de alta fantasia:
Hum braço do Sarmatico Occeoano, Com quem tu clara Grecia o Ceo penetras,
Pelo Brusio, Suecio, e frio Dano. E não menos por armas, que por letras.

[11] Entre este Mar, e o Tanais viue estranha [14] Logo os Dalmatas viuem, e no seio,
Gente, Ruthenos, Moscos, e Liuonios, Onde Antenor ja muros leuantou,
Sarmatas outro tempo, e na montanha A soberba Veneza estâ no meio
Hircinia, os Marcomanos sam Polonios Das agoas, que tam baxa começou
Sugeitos ao Imperio de Alemanha, Da terra, hum braço vem ao mar, que cheio
Sam Saxones, Boemios, e Panonios, De esforço, nações varias sogeitou,
E outras varias nações, que o Reno frio Braço forte, de gente sublimada,
Laua, e o Danubio, Amasis, e Albis Rio. Não menos nos engenhos que na espada.
Entre Em torno
[40v] [41r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 41

[15] Em torno o cerca o Reino Neptunino, [18] Com Tingitania entesta, e ali parece
Cos muros naturais, por outra parte, Que quer fechar o mar Mediterrano,
Pelo meyo o diuide o Apinino, Onde o sabido estreito se ennobrece,
Que tam illustre fez o patrio Marte: Co extremo trabalho do Thebano:
Mas despois que o porteiro tem diuino, Com nações differentes se engrandece,
Perdendo o esforço veio, e bellica arte: Cercadas com as ondas do Occeano.
Pobre està ja de antiga potestade, Todas de tal nobreza, e tal valor,
Tanto Deos se contenta de humildade. Que qualquer dellas cuida que he milhor.

[16] Galia ali se verà, que nomeada, [19] Tem o Tarragones, que se fez claro,
Cos Cesareos Triumfos foy no mundo, Sujeitando Partênope inquieta,
Que do Sequàna, e Rôdano he regada, O Nauarro, as Asturias, que reparo
E do Garuna frio, e Reno fundo: Ia forão, contra a gente Mahometa,
Logo os montes da Nimpha sepultada Tem o Galego cauto, e o grande e raro
Pyrene se aleuantão, que segundo Castelhano, a quem fez o seu Planeta,
Antiguidades contão, quando arderão, Restituidor de Espanha, e senhor della,
Rios de ouro, e de prata antão corrèrão. Bethis, Lião, Granada, com Castella.

[17] Eis aqui se descobre a nobre Espanha, [20] Eis aqui quasi cume da cabeça,
Como cabeça ali de Europa toda, De Europa toda, o Reino Lusitano,
Em cujo senhorio e gloria estranha, Onde a Terra se acaba, e o Mar começa,
Muitas voltas tem dado a fatal roda: E onde Febo repousa no Occeano:
Mas nunca poderà, com força, ou manha, Este quis o Ceo justo, que floreça
A fortuna inquieta porlhe noda: Nas armas, contra o torpe Mauritano,
Que lha não tire o esforço e ousadia, Deitando o de si fora, e la na ardente
Dos belicosos peitos, que em si cria. Affrica estar quieto o nam consente.
Com F Esta he
[40v] [41r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 41

[15] Em torno o cerca o Reino Neptunino, [18] Com Tingitania entesta, e ali parece
Cos muros naturais, por outra parte, Que quer fechar o mar Mediterrano,
Pelo meyo o diuide o Apinino, Onde o sabido estreito se ennobrece,
Que tam illustre fez o patrio Marte: Co extremo trabalho do Thebano:
Mas despois que o porteiro tem diuino, Com nações differentes se engrandece,
Perdendo o esforço veio, e bellica arte: Cercadas com as ondas do Occeano.
Pobre està ja de antiga potestade, Todas de tal nobreza, e tal valor,
Tanto Deos se contenta de humildade. Que qualquer dellas cuida que he milhor.

[16] Galia ali se verà, que nomeada, [19] Tem o Tarragones, que se fez claro,
Cos Cesareos Triumfos foy no mundo, Sujeitando Partênope inquieta,
Que do Sequàna, e Rôdano he regada, O Nauarro, as Asturias, que reparo
E do Garuna frio, e Reno fundo: Ia forão, contra a gente Mahometa,
Logo os montes da Nimpha sepultada Tem o Galego cauto, e o grande e raro
Pyrene se aleuantão, que segundo Castelhano, a quem fez o seu Planeta,
Antiguidades contão, quando arderão, Restituidor de Espanha, e senhor della,
Rios de ouro, e de prata antão corrèrão. Bethis, Lião, Granada, com Castella.

[17] Eis aqui se descobre a nobre Espanha, [20] Eis aqui quasi cume da cabeça,
Como cabeça ali de Europa toda, De Europa toda, o Reino Lusitano,
Em cujo senhorio e gloria estranha, Onde a Terra se acaba, e o Mar começa,
Muitas voltas tem dado a fatal roda: E onde Febo repousa no Occeano:
Mas nunca poderà, com força, ou manha, Este quis o Ceo justo, que floreça
A fortuna inquieta porlhe noda: Nas armas, contra o torpe Mauritano,
Que lha não tire o esforço e ousadia, Deitando o de si fora, e la na ardente
Dos belicosos peitos, que em si cria. Affrica estar quieto o nam consente.
Com F Esta he
[41v] [42r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 42

[21] Esta he a ditosa patria minha amada, [24] E com hum amor intrinseco acendidos
Aa qual se o Ceo me da, que eu sem perigo Da Fè, mais que das honras populares,
Torne, com esta empresa ja acabada, Erão de varias terras conduzidos,
Acabese esta luz ali comigo. Deixando a patria amada, e proprios lares
Esta foy Lusitania diriuada, Despois que em feitos altos e subidos.
De Luso, ou Lysa: que de Bacho antigo, Se mostrarão nas armas singulares.
Filhos forão pareçe, ou companheiros, Quis o famoso Affonso, que obras tais,
E nella antam os Incolas primeiros. Leuassem premio digno, e dões igoais.

[22] Desta o Pastor nasceo, que no seu nome [25] Destes Anrique dizem que segundo,
Se ve, que de homem forte os feitos teue, Filho de hum Rei de Vngria exprimentado,
Cuja fama, ninguem virà que dome, Portugal ouue em sorte, que no Mundo
Pois a grande de Roma não se atreue: Entam não era illustre, nem prezado:
Esta, o velho que os filhos proprios come, E pera mais sinal damor profundo,
Por decreto do, Ceo ligeiro, e leue, Quis o Rei Castelhano, que casado,
Veo a fazer no mundo tanta parte, Com Teresa sua filha o Conde fosse,
Criando a Reino illustre, e foi desta arte. E com ella das terras tomou posse.

[23] Hum Rei, por nome Affonso, foy na Espanha, [26] Este despois que contra os descendentes,
Que fez aos Sarracenos tanta guerra, Da escraua Agar, victorias grandes teue,
Que por armas sanguinas, força e manha Ganhando muitas terras adjacentes,
A muitos fez perder a vida, e a terra: Fazendo o que a seu forte peito deue.
Voando deste Rei a fama estranha, Em premio destes feitos excellentes,
Do Herculano Calpe aa Caspia serra, Deulhe o supremo Deos, em tempo breue,
Muitos, pera na guerra esclarecerse, Hum filho, que illustrasse o nome vfano
Vinhão a elle, e aa morte offerecerse. Do belicoso Reino Lusitano.
E com F2 Ia
[41v] [42r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 42

[21] Esta he a ditosa patria minha amada, [24] E com hum amor intrinseco acendidos
Aa qual se o Ceo me da, que eu sem perigo Da Fè, mais que das honras populares,
Torne, com esta empresa ja acabada, Erão de varias terras conduzidos,
Acabese esta luz ali comigo. Deixando a patria amada, e proprios lares
Esta foy Lusitania diriuada, Despois que em feitos altos e subidos.
De Luso, ou Lysa: que de Bacho antigo, Se mostrarão nas armas singulares.
Filhos forão pareçe, ou companheiros, Quis o famoso Affonso, que obras tais,
E nella antam os Incolas primeiros. Leuassem premio digno, e dões igoais.

[22] Desta o Pastor nasceo, que no seu nome [25] Destes Anrique dizem que segundo,
Se ve, que de homem forte os feitos teue, Filho de hum Rei de Vngria exprimentado,
Cuja fama, ninguem virà que dome, Portugal ouue em sorte, que no Mundo
Pois a grande de Roma não se atreue: Entam não era illustre, nem prezado:
Esta, o velho que os filhos proprios come, E pera mais sinal damor profundo,
Por decreto do, Ceo ligeiro, e leue, Quis o Rei Castelhano, que casado,
Veo a fazer no mundo tanta parte, Com Teresa sua filha o Conde fosse,
Criando a Reino illustre, e foi desta arte. E com ella das terras tomou posse.

[23] Hum Rei, por nome Affonso, foy na Espanha, [26] Este despois que contra os descendentes,
Que fez aos Sarracenos tanta guerra, Da escraua Agar, victorias grandes teue,
Que por armas sanguinas, força e manha Ganhando muitas terras adjacentes,
A muitos fez perder a vida, e a terra: Fazendo o que a seu forte peito deue.
Voando deste Rei a fama estranha, Em premio destes feitos excellentes,
Do Herculano Calpe aa Caspia serra, Deulhe o supremo Deos, em tempo breue,
Muitos, pera na guerra esclarecerse, Hum filho, que illustrasse o nome vfano
Vinhão a elle, e aa morte offerecerse. Do belicoso Reino Lusitano.
E com F2 Ia
[42v] [43r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 43

[27] Ia tinha vindo Anrique da conquista, [30] Mas o Principe Affonso, que desta arte
Da cidade Hyerosolima sagrada, Se chamaua, do Auô tomando o nome,
E do Iordão a area tinha vista, Vendose em suas terras não ter parte,
Que vio de Deos a carne em si lauada, Que a mãy com seu marido as mãda e come,
Que não tendo Gotfredo a quem resista, Feruendo lhe no peito o duro Marte,
Depois de ter Iudea sojugada. Imagina consigo como as tome.
Muitos que nestas guerras o ajudárão, Reuoluidas as causas no conceito,
Pera seus senhorios se tornaràrão. Ao proposito firme segue o effeito.

[28] Quando chegado ao fim de sua idade, [31] De Guimarães o campo se tingia,
O forte e famoso Vngaro estremado, Co sangue proprio da intestina guerra,
Forçado da fatal necessidade, Onde a mãy que tam pouco o parecia,
O spirito deu, a quem lho tinha dado: A seu filho negaua o amor, e a terra,
Ficaua o filho em tenra mocidade, Co elle posta em campo ja se via,
Em quem o pay deixaua seu traslado: E não ve a soberba, o muito que erra.
Que do Mundo os mais fortes igualaua, Contra Deos, contra o maternal amor:
Que de tal pay tal filho se esperaua. Mas nella o sensual era maior.

[29] Mas o velho rumor, não sey se errado, [32] O Progne crua, o magica Medea,
Que em tanta antiguidade não ha certeza, Se em vossos proprios filhos vos vingais
Conta que a mãy tomando todo o estado Da maldade dos pais, da culpa alheia,
Do segundo Hymeneo, não se despreza: Olhay que inda Teresa peca mais:
O filho orfão deixaua deserdado, Incontinencia ma, cubiça fea,
Dizendo que nas terras, a grandeza São as causas deste erro principais.
Do senhorio todo, so sua era, Scilla por hũa mata o velho pay,
Porque pera casar seu pay lhas dera. Esta por ambas, contra o filho vay.
Mas F3 Mas
[42v] [43r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 43

[27] Ia tinha vindo Anrique da conquista, [30] Mas o Principe Affonso, que desta arte
Da cidade Hyerosolima sagrada, Se chamaua, do Auô tomando o nome,
E do Iordão a area tinha vista, Vendose em suas terras não ter parte,
Que vio de Deos a carne em si lauada, Que a mãy com seu marido as mãda e come,
Que não tendo Gotfredo a quem resista, Feruendo lhe no peito o duro Marte,
Depois de ter Iudea sojugada. Imagina consigo como as tome.
Muitos que nestas guerras o ajudárão, Reuoluidas as causas no conceito,
Pera seus senhorios se tornaràrão. Ao proposito firme segue o effeito.

[28] Quando chegado ao fim de sua idade, [31] De Guimarães o campo se tingia,
O forte e famoso Vngaro estremado, Co sangue proprio da intestina guerra,
Forçado da fatal necessidade, Onde a mãy que tam pouco o parecia,
O spirito deu, a quem lho tinha dado: A seu filho negaua o amor, e a terra,
Ficaua o filho em tenra mocidade, Co elle posta em campo ja se via,
Em quem o pay deixaua seu traslado: E não ve a soberba, o muito que erra.
Que do Mundo os mais fortes igualaua, Contra Deos, contra o maternal amor:
Que de tal pay tal filho se esperaua. Mas nella o sensual era maior.

[29] Mas o velho rumor, não sey se errado, [32] O Progne crua, o magica Medea,
Que em tanta antiguidade não ha certeza, Se em vossos proprios filhos vos vingais
Conta que a mãy tomando todo o estado Da maldade dos pais, da culpa alheia,
Do segundo Hymeneo, não se despreza: Olhay que inda Teresa peca mais:
O filho orfão deixaua deserdado, Incontinencia ma, cubiça fea,
Dizendo que nas terras, a grandeza São as causas deste erro principais.
Do senhorio todo, so sua era, Scilla por hũa mata o velho pay,
Porque pera casar seu pay lhas dera. Esta por ambas, contra o filho vay.
Mas F3 Mas
[43v] [44r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 44

[33] Mas ja o Principe claro, o vencimento, [36] Mas o leal vassallo conhecendo,
Do padrasto e da inica mãy leuaua, Que seu senhor não tinha resistencia,
Ia lhe obedece a terra num momento, Se vay ao Castelhano, prometendo,
Que primeiro contra elle pelejaua: Que elle faria darlhe obediencia.
Porem vencido de Ira o entendimento, Leuanta o inimigo o cerco horrendo,
A mãy em ferros asperos ataua: Fiado na promessa, e consciencia
Mas de Deos foi vingada em tempo breue, De Egas moniz: mas não consente o peito
Tanta veneração aos pais se deue. Do moço illustre, a outrem ser sogeito.

[34] Eis se ajunta o soberbo Castelhano, [37] Chegado tinha o prazo prometido,
Pera vingar a injuria de Teresa, Em que o Rei Castelhano ja agoardaua,
Contra o tam raro em gente Lusitano, Que o Principe a seu mando sometido,
A quem nenhum trabalho agraua, ou pesa: Lhe desse a obediencia que esperaua.
Em batalha cruel, o peito humano, Vendo Egas, que ficaua fementido,
Ajudado da Angelica defesa. O que delle Castella não cuydaua,
Não so contra tal furia se sustenta: Determina de dar a doçe vida,
Mas o inimigo asperrimo affugenta. A troco da palaura mal comprida.

[35] Não passa muito tempo, quando o forte [38] E com seus filhos e molher se parte,
Principe, em Guimarães està cercado, A aleuantar co elles a fiança,
De infinito poder, que desta sorte, Descalços, e despidos, de tal arte,
Foy refazerse o immigo magoado: Que mais moue a piedade que a vingança.
Mas com se offerecer aa dura morte, Se pretendes Rei alto de vingarte,
O fiel Egas amo, foy liurado. De minha temeraria confiança,
Que de outra arte podêra ser perdido, Dizia, eis aqui venho offerecido,
Segundo estaua mal aperçebido. A te pagar co a vida o prometido.
Mas F4 Ves
[43v] [44r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 44

[33] Mas ja o Principe claro, o vencimento, [36] Mas o leal vassallo conhecendo,
Do padrasto e da inica mãy leuaua, Que seu senhor não tinha resistencia,
Ia lhe obedece a terra num momento, Se vay ao Castelhano, prometendo,
Que primeiro contra elle pelejaua: Que elle faria darlhe obediencia.
Porem vencido de Ira o entendimento, Leuanta o inimigo o cerco horrendo,
A mãy em ferros asperos ataua: Fiado na promessa, e consciencia
Mas de Deos foi vingada em tempo breue, De Egas moniz: mas não consente o peito
Tanta veneração aos pais se deue. Do moço illustre, a outrem ser sogeito.

[34] Eis se ajunta o soberbo Castelhano, [37] Chegado tinha o prazo prometido,
Pera vingar a injuria de Teresa, Em que o Rei Castelhano ja agoardaua,
Contra o tam raro em gente Lusitano, Que o Principe a seu mando sometido,
A quem nenhum trabalho agraua, ou pesa: Lhe desse a obediencia que esperaua.
Em batalha cruel, o peito humano, Vendo Egas, que ficaua fementido,
Ajudado da Angelica defesa. O que delle Castella não cuydaua,
Não so contra tal furia se sustenta: Determina de dar a doçe vida,
Mas o inimigo asperrimo affugenta. A troco da palaura mal comprida.

[35] Não passa muito tempo, quando o forte [38] E com seus filhos e molher se parte,
Principe, em Guimarães està cercado, A aleuantar co elles a fiança,
De infinito poder, que desta sorte, Descalços, e despidos, de tal arte,
Foy refazerse o immigo magoado: Que mais moue a piedade que a vingança.
Mas com se offerecer aa dura morte, Se pretendes Rei alto de vingarte,
O fiel Egas amo, foy liurado. De minha temeraria confiança,
Que de outra arte podêra ser perdido, Dizia, eis aqui venho offerecido,
Segundo estaua mal aperçebido. A te pagar co a vida o prometido.
Mas F4 Ves
[44v] [45r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 45.

[39] Ves aqui trago as vidas inocentes, [42] Mas ja o Principe Affonso aparelhaua,
Dos filhos sem peccado, e da consorte, O Lusitano exercito ditoso,
Se a peitos generosos, e excellentes, Contra o Mouro que as terras habitaua,
Dos fracos satisfaz a fera morte. Dalem do claro Tejo deleitoso:
Ves aqui as mãos, e a lingoa delinquentes, Ia no campo de Ourique se assentaua,
Nellas sos exprimenta, toda sorte O arraial soberbo, e belicoso:
De tormentos, de mortes, pelo estillo Defronte do inimigo Sarraceno,
De Scinis, e do touro de Perillo. Posto que em força, e gente tam pequeno.

[40] Qual diante do algoz o condenado, [43] Em nenhũa outra cousa confiado,
Que ja na vida a morte tem bebido, Senão no summo Deos, que o Ceo regia,
Poem no çepo a garganta: e ja entregado, Que tam pouco era o pouo bautizado,
Espera pelo golpe tam temido: Que pera hum so cem Mouros aueria.
Tal diante do Principe indinado, Iulga qualquer juyzo sossegado,
Egas estaua a tudo offerecido: Por mais temeridade que ousadia,
Mas o Rei vendo a estranha lealdade, Cometer hum tamanho ajuntamento,
Mais pode em fim que a Ira a Piedade. Que pera hum caualleiro ouuesse cento.

[41] O grão fidelidade Portuguesa, [44] Cinco Reis Mouros sam os inimigos,
De vassallo, que a tanto se obrigaua, Dos quaes o principal Ismar se chama,
Que mais o Persa fez naquella empresa, Todos exprimentados nos perigos
Onde rosto e narizes se cortaua, Da guerra, onde se alcança a illustre fama:
Do que ao grande Dario tanto pesa, Seguem guerreiras Damas seus amigos,
Que mil vezes dizendo suspiraua. Imitando a fermosa e forte Dama,
Que mais o seu Zopiro são prezâra, De quem tanto os Troyanos se ajudârão,
Que vinte Babilonias que tomàra E as que o Termodonte ja gostârão.
Mas A matutina
[44v] [45r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 45.

[39] Ves aqui trago as vidas inocentes, [42] Mas ja o Principe Affonso aparelhaua,
Dos filhos sem peccado, e da consorte, O Lusitano exercito ditoso,
Se a peitos generosos, e excellentes, Contra o Mouro que as terras habitaua,
Dos fracos satisfaz a fera morte. Dalem do claro Tejo deleitoso:
Ves aqui as mãos, e a lingoa delinquentes, Ia no campo de Ourique se assentaua,
Nellas sos exprimenta, toda sorte O arraial soberbo, e belicoso:
De tormentos, de mortes, pelo estillo Defronte do inimigo Sarraceno,
De Scinis, e do touro de Perillo. Posto que em força, e gente tam pequeno.

[40] Qual diante do algoz o condenado, [43] Em nenhũa outra cousa confiado,
Que ja na vida a morte tem bebido, Senão no summo Deos, que o Ceo regia,
Poem no çepo a garganta: e ja entregado, Que tam pouco era o pouo bautizado,
Espera pelo golpe tam temido: Que pera hum so cem Mouros aueria.
Tal diante do Principe indinado, Iulga qualquer juyzo sossegado,
Egas estaua a tudo offerecido: Por mais temeridade que ousadia,
Mas o Rei vendo a estranha lealdade, Cometer hum tamanho ajuntamento,
Mais pode em fim que a Ira a Piedade. Que pera hum caualleiro ouuesse cento.

[41] O grão fidelidade Portuguesa, [44] Cinco Reis Mouros sam os inimigos,
De vassallo, que a tanto se obrigaua, Dos quaes o principal Ismar se chama,
Que mais o Persa fez naquella empresa, Todos exprimentados nos perigos
Onde rosto e narizes se cortaua, Da guerra, onde se alcança a illustre fama:
Do que ao grande Dario tanto pesa, Seguem guerreiras Damas seus amigos,
Que mil vezes dizendo suspiraua. Imitando a fermosa e forte Dama,
Que mais o seu Zopiro são prezâra, De quem tanto os Troyanos se ajudârão,
Que vinte Babilonias que tomàra E as que o Termodonte ja gostârão.
Mas A matutina
[45v] [46r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 46

[45] A matutina luz serena, e fria, [48] Tal do Rei nouo, o estamago acendido,
As Estrellas do Pollo ja apartaua, Por Deos e polo pouo juntamente,
Quando na Cruz o Filho de Maria, O barbaro comete apercebido,
Amostrando se a Affonso o animaua: Co animoso exercito rompente:
Elle adorando quem lhe aparecia, Leuantão nisto os perros o alarido
Na Fê todo inflamado assi gritaua: Dos gritos, tocam a arma, ferue a gente,
Aos infieis Senhor, aos infieis, As lanças e arcos tomão, tubas soão,
E não a my que creio o que podeis. Instromentos de guerra tudo atroão.

[46] Com tal milagre, os animos da gente [49] Bem como quando a flama que ateada,
Portuguesa, inflamados leuantauão, Foi nos aridos campos (asoprando
Por seu Rei natural, este excelente O sibilante Boreas) animada
Principe, que do peito tanto amauão: Co vento, o seco mato vay queimando:
E diante do exercito potente, A pastoral companha, que deitada,
Dos imigos, gritando o ceo tocauão: Co doçe sono estaua, despertando,
Dizendo em alta voz, real, real, Ao estridor do fogo que se atea,
Por Affonso alto Rei de Portugal. Recolhe o fato, e foge pera a aldea.

[47] Qoal cos gritos e vozes incitado, [50] Desta arte o Mouro atonito e toruado,
Pola montanha o rabido Moloso, Toma sem tento as armas muy depressa,
Contra o Touro remete, que fiado Não foge: mas espera confiado,
Na força està do corno temeroso: E o ginete belligero arremessa:
Ora pega na orelha, ora no lado, O Portugues o encontra denodado,
Latindo mais ligeiro que forçoso, Pelos peitos as lanças lhe atrauessa.
Ate que em fim rompendolhe a garganta, Hũs caem meios mortos, e outros vão
Do brauo a força horrenda se quebranta. A ajuda conuocando do Alcorão.
Tal Ali
[45v] [46r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 46

[45] A matutina luz serena, e fria, [48] Tal do Rei nouo, o estamago acendido,
As Estrellas do Pollo ja apartaua, Por Deos e polo pouo juntamente,
Quando na Cruz o Filho de Maria, O barbaro comete apercebido,
Amostrando se a Affonso o animaua: Co animoso exercito rompente:
Elle adorando quem lhe aparecia, Leuantão nisto os perros o alarido
Na Fê todo inflamado assi gritaua: Dos gritos, tocam a arma, ferue a gente,
Aos infieis Senhor, aos infieis, As lanças e arcos tomão, tubas soão,
E não a my que creio o que podeis. Instromentos de guerra tudo atroão.

[46] Com tal milagre, os animos da gente [49] Bem como quando a flama que ateada,
Portuguesa, inflamados leuantauão, Foi nos aridos campos (asoprando
Por seu Rei natural, este excelente O sibilante Boreas) animada
Principe, que do peito tanto amauão: Co vento, o seco mato vay queimando:
E diante do exercito potente, A pastoral companha, que deitada,
Dos imigos, gritando o ceo tocauão: Co doçe sono estaua, despertando,
Dizendo em alta voz, real, real, Ao estridor do fogo que se atea,
Por Affonso alto Rei de Portugal. Recolhe o fato, e foge pera a aldea.

[47] Qoal cos gritos e vozes incitado, [50] Desta arte o Mouro atonito e toruado,
Pola montanha o rabido Moloso, Toma sem tento as armas muy depressa,
Contra o Touro remete, que fiado Não foge: mas espera confiado,
Na força està do corno temeroso: E o ginete belligero arremessa:
Ora pega na orelha, ora no lado, O Portugues o encontra denodado,
Latindo mais ligeiro que forçoso, Pelos peitos as lanças lhe atrauessa.
Ate que em fim rompendolhe a garganta, Hũs caem meios mortos, e outros vão
Do brauo a força horrenda se quebranta. A ajuda conuocando do Alcorão.
Tal Ali
[46v] [47r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 47.

[51] Ali se vem encontros temerosos, [54] E nestes cinco escudos pinta os trinta
Pera se desfazer hũa alta serra, Dinheiros, porque Deos fora vendido,
E os animais correndo furiosos, Escreuendo a memoria em varia tinta,
Que Neptuno amostrou ferindo a terra: Daquelle de quem foy fauorecido,
Golpes se dão medonhos, e forçosos, Em cada hum dos cinco, cinco pinta,
Por toda a parte andaua acesa a guerra: Porque assi fica o numero comprido:
Mas o de Luso, arnes, couraça e malha, Contando duas vezes o do meio,
Rompe, corta, desfaz, a bola e talha. Dos cinco azues que em Cruz pintando veio.

[52] Cabeças pelo campo vão saltando, [55] Passado ja algum tempo, que passada
Braços, pernas, sem dono e sem sentido, Era esta grão victoria, o Rei subido
E doutros as entranhas palpitando, A tomar vay Leiria, que tomada
Palida a cor, o gesto amortecido: Fora muy pouco auia, do vencido:
Ia perde o campo o exercito nefando, Com esta a forte Arronches sojugada
Correm rios do sangue desparzido Foy juntamente: e o sempre ennobrecido
Com que tambem do campo a cor se perde Scabelicastro, cujo campo ameno,
Tornado Carmesi de branco e verde. Tu claro Tejo regas tam sereno.

[53] Ia fica vencedor o Lusitano [56] A estas nobres villas sometidas,


Recolhendo os trofeos e presa rica, Ajunta tambem Mafra, em pouco espaço,
Desbaratado e roto o Mauro Hispano, E nas serras da Lua conhecidas,
Tres dias o gram Rei no campo fica: Sojuga a fria Sintra, o duro braço,
Aqui pinta no branco escudo vfano, Sintra onde as Naiades escondidas
Que agora esta victoria certifica: Nas fontes, vão fugindo ao doçe laço:
Cinco escudos azues esclarecidos, Onde Amor as enreda brandamente,
Em sinal destes cinco Reis vencidos. Nas agoas acendendo fogo ardente.
E nestes E tu
[46v] [47r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 47.

[51] Ali se vem encontros temerosos, [54] E nestes cinco escudos pinta os trinta
Pera se desfazer hũa alta serra, Dinheiros, porque Deos fora vendido,
E os animais correndo furiosos, Escreuendo a memoria em varia tinta,
Que Neptuno amostrou ferindo a terra: Daquelle de quem foy fauorecido,
Golpes se dão medonhos, e forçosos, Em cada hum dos cinco, cinco pinta,
Por toda a parte andaua acesa a guerra: Porque assi fica o numero comprido:
Mas o de Luso, arnes, couraça e malha, Contando duas vezes o do meio,
Rompe, corta, desfaz, a bola e talha. Dos cinco azues que em Cruz pintando veio.

[52] Cabeças pelo campo vão saltando, [55] Passado ja algum tempo, que passada
Braços, pernas, sem dono e sem sentido, Era esta grão victoria, o Rei subido
E doutros as entranhas palpitando, A tomar vay Leiria, que tomada
Palida a cor, o gesto amortecido: Fora muy pouco auia, do vencido:
Ia perde o campo o exercito nefando, Com esta a forte Arronches sojugada
Correm rios do sangue desparzido Foy juntamente: e o sempre ennobrecido
Com que tambem do campo a cor se perde Scabelicastro, cujo campo ameno,
Tornado Carmesi de branco e verde. Tu claro Tejo regas tam sereno.

[53] Ia fica vencedor o Lusitano [56] A estas nobres villas sometidas,


Recolhendo os trofeos e presa rica, Ajunta tambem Mafra, em pouco espaço,
Desbaratado e roto o Mauro Hispano, E nas serras da Lua conhecidas,
Tres dias o gram Rei no campo fica: Sojuga a fria Sintra, o duro braço,
Aqui pinta no branco escudo vfano, Sintra onde as Naiades escondidas
Que agora esta victoria certifica: Nas fontes, vão fugindo ao doçe laço:
Cinco escudos azues esclarecidos, Onde Amor as enreda brandamente,
Em sinal destes cinco Reis vencidos. Nas agoas acendendo fogo ardente.
E nestes E tu
[47v] [48r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 48.

[57] E tu nobre Lisboa, que no Mundo, [60] Desta arte em fim tomada se rendeo,
Facilmente das outras es princesa, Aquella que nos tempos ja passados
Que edificada foste do facundo, Aa grande força nunca obedeceo,
Por cujo engano foy Dardania acesa: Dos frios pouos Sciticos ousados:
Tu a quem obedece o Mar profundo, Cujo poder a tanto se estendeo,
Obedeceste aa força Portuguesa. Que o Ibero o vio, e o Tejo amedrontados.
Ajudada tambem da forte armada, E em fim co Betis tanto algum podêrão,
Que das Boreais partes foy mandada. Que aa terra de Vandalia nome dêrão.

[58] La do Germanico Albis, e do Reno, [61] Que cidade tam forte, por ventura
E da fria Bretanha conduzidos, Auera que resista, se Lisboa
A destruir o pouo Sarraceno, Não pode resistir aa força dura
Muitos com tenção sancta erão partidos, Da gente, cuja fama tanto voa.
Entrando a boca ja, do Tejo ameno, Ia lhe obedece toda a Estremadura,
Co arrayal do grande Affonso vnidos. Obidos, Alanquer, por onde soa
Cuja alta fama antão subia aos ceos, O tom das frescas agoas, entre as pedras,
Foy posto cerco aos muros Vlisseos. Que murmurando laua, e Torres vedras.

[59] Cinco vezes a Lũa se escondêra, [62] E vos tambem, o terras transtaganas,
E outras tantas mostrâra cheio o rosto, Affamadas co dom da flaua Ceres,
Quando a Cidade entrada se rendêra, Obedeceis aas forças mais que humanas,
Ao duro cerco, que lhe estaua posto. Entregando lhe os muros, e os poderes.
Foy a batalha tam sanguina e fera, E tu laurador Mouro, que te enganas,
Quanto obrigaua o firme prosuposto: Se sustentar a fertil terra queres.
De vencedores asperos, e ousados, Que Eluas, e Moura, e Serpa conhecidas,
E de vencidos, ja desesperados. E Alcaçare do sal, estão rendidas.
Desta Eis
[47v] [48r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 48.

[57] E tu nobre Lisboa, que no Mundo, [60] Desta arte em fim tomada se rendeo,
Facilmente das outras es princesa, Aquella que nos tempos ja passados
Que edificada foste do facundo, Aa grande força nunca obedeceo,
Por cujo engano foy Dardania acesa: Dos frios pouos Sciticos ousados:
Tu a quem obedece o Mar profundo, Cujo poder a tanto se estendeo,
Obedeceste aa força Portuguesa. Que o Ibero o vio, e o Tejo amedrontados.
Ajudada tambem da forte armada, E em fim co Betis tanto algum podêrão,
Que das Boreais partes foy mandada. Que aa terra de Vandalia nome dêrão.

[58] La do Germanico Albis, e do Reno, [61] Que cidade tam forte, por ventura
E da fria Bretanha conduzidos, Auera que resista, se Lisboa
A destruir o pouo Sarraceno, Não pode resistir aa força dura
Muitos com tenção sancta erão partidos, Da gente, cuja fama tanto voa.
Entrando a boca ja, do Tejo ameno, Ia lhe obedece toda a Estremadura,
Co arrayal do grande Affonso vnidos. Obidos, Alanquer, por onde soa
Cuja alta fama antão subia aos ceos, O tom das frescas agoas, entre as pedras,
Foy posto cerco aos muros Vlisseos. Que murmurando laua, e Torres vedras.

[59] Cinco vezes a Lũa se escondêra, [62] E vos tambem, o terras transtaganas,
E outras tantas mostrâra cheio o rosto, Affamadas co dom da flaua Ceres,
Quando a Cidade entrada se rendêra, Obedeceis aas forças mais que humanas,
Ao duro cerco, que lhe estaua posto. Entregando lhe os muros, e os poderes.
Foy a batalha tam sanguina e fera, E tu laurador Mouro, que te enganas,
Quanto obrigaua o firme prosuposto: Se sustentar a fertil terra queres.
De vencedores asperos, e ousados, Que Eluas, e Moura, e Serpa conhecidas,
E de vencidos, ja desesperados. E Alcaçare do sal, estão rendidas.
Desta Eis
[48v] [49r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 49.

[63] Eis a nobre Cidade, certo assento, [66] O Rei de Badajoz era alto Mouro,
Do rebelde Sertorio antigamente, Com quatro mil cauallos furiosos,
Onde ora as agoas nitidas de argento, Innumeros piões, darmas e de ouro
Vem sustentar de longo a terra, e a gente, Guarnecidos, guerreiros e lustrosos:
Pelos arcos reaes, que cento e cento Mas qual no mes de Maio o brauo Touro
Nos ares se aleuantão nobremente. Cos ciumes da vaca, arreceosos,
Obedeceo, por meio e ousadia Sentindo gente o bruto, e cego amante
De Giraldo, que medos não temia. Saltea o descuidado caminhante.

[64] Ia na cidade Beja vay tomar, [67] Desta arte Affonso subito mostrado,
Vingança de Trancoso destruida, Na gente da, que passa bem segura,
Affonso que não sabe sosegar, Fere, mata, derriba denodado,
Por estender co a fama a curta vida: Foge o Rei Mouro, e so da vida cura,
Não se lhe pode muito sustentar Dum Panico terror todo asombrado,
A Cidade: mas sendo ja rendida, So de seguillo o exercito procura.
Em toda a cousa viua, a gente yrada, Sendo estes que fizerão tanto aballo,
Prouando os fios vay da dura espada. Nomais que so sesenta de cauallo.

[65] Com estas sojugada foy Palmella, [68] Logo segue a victoria sem tardança,
E a piscosa Cizimbra, e juntamente, O grão Rei incansabil, ajuntando
Sendo ajudado mais de sua estrella, Gentes de todo o Reino, cuja vsança
Desbarata hum exercito potente: Era andar sempre terras conquistando,
Sentio o a Villa, e vio o a serra della, Cercar vay Badajoz, e logo alcança
Que a socorrellla vinha deligente. O fim de seu desejo, pelejando
Pela fralda da serra descuydodo, Com tanto esforço e arte, e valentia,
Do temeroso encontro inopinado. Que a fez fazer aas outras companhia.
O Rei G Mas
[48v] [49r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 49.

[63] Eis a nobre Cidade, certo assento, [66] O Rei de Badajoz era alto Mouro,
Do rebelde Sertorio antigamente, Com quatro mil cauallos furiosos,
Onde ora as agoas nitidas de argento, Innumeros piões, darmas e de ouro
Vem sustentar de longo a terra, e a gente, Guarnecidos, guerreiros e lustrosos:
Pelos arcos reaes, que cento e cento Mas qual no mes de Maio o brauo Touro
Nos ares se aleuantão nobremente. Cos ciumes da vaca, arreceosos,
Obedeceo, por meio e ousadia Sentindo gente o bruto, e cego amante
De Giraldo, que medos não temia. Saltea o descuidado caminhante.

[64] Ia na cidade Beja vay tomar, [67] Desta arte Affonso subito mostrado,
Vingança de Trancoso destruida, Na gente da, que passa bem segura,
Affonso que não sabe sosegar, Fere, mata, derriba denodado,
Por estender co a fama a curta vida: Foge o Rei Mouro, e so da vida cura,
Não se lhe pode muito sustentar Dum Panico terror todo asombrado,
A Cidade: mas sendo ja rendida, So de seguillo o exercito procura.
Em toda a cousa viua, a gente yrada, Sendo estes que fizerão tanto aballo,
Prouando os fios vay da dura espada. Nomais que so sesenta de cauallo.

[65] Com estas sojugada foy Palmella, [68] Logo segue a victoria sem tardança,
E a piscosa Cizimbra, e juntamente, O grão Rei incansabil, ajuntando
Sendo ajudado mais de sua estrella, Gentes de todo o Reino, cuja vsança
Desbarata hum exercito potente: Era andar sempre terras conquistando,
Sentio o a Villa, e vio o a serra della, Cercar vay Badajoz, e logo alcança
Que a socorrellla vinha deligente. O fim de seu desejo, pelejando
Pela fralda da serra descuydodo, Com tanto esforço e arte, e valentia,
Do temeroso encontro inopinado. Que a fez fazer aas outras companhia.
O Rei G Mas
[49v] [50r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 50

[69] Mas o alto Deos, que pera longe guarda, [72] Posto que a rica Arabia, e que os feroces
O castigo daquelle que o mereçe, Eniocos, e Colcos, cuja fama
Ou pera que se emmende aas vezes tarda, O Veo dourado estende: e os Capadoçes,
Ou por segredos que homem não conheçe, E Iudea, que hum Deos adora e ama,
Se ate qui sempre o forte Rei resguarda, E que o molles Sofenos, e os Atroces,
Dos perigos a que elle se offereçe. Silicios, com a Armenia, que derrama,
Agora lhe não deixa ter defesa, As agoas dos dous Rios, cuja fonte
Da maldição da mãy que estaua presa. Estâ noutro mais alto e sancto Monte.

[70] Que estando na cidade que cercâra, [73] E posto em fim que desdo mar de Atlante,
Cercado nella foy dos Lioneses, Ate o Scitico Tauro, monte erguido
Porque a conquista della lhe tomâra, Ia vencedor te vissem, não te espante
De Lião sendo, e não dos Portugueses. Se o campo Emathio so te vio vencido,
A pertinacia aqui lhe custa cara, Porque Affonso veras soberbo e ouante,
Assi como acontece muytas vezes, Tudo render, e ser despois rendido.
Que em ferros quebra as pernas, indo aceso Assi o quis o conselho alto celeste,
Aa batalha onde foy vencido e preso. Que vença o sogro a ti, e o genro a este.

[71] O famoso Pompeyo não te pene, [74] Tornado o Rei sublime finalmente,
De teus feitos illustres a ruyna, Do diuino juyzo castigado,
Nem ver que a justa Nemesis ordene, Despois que em Santarem soberbamente,
Ter teu sogro de ti victoria dina, Em vão dos Sarracenos foy cercado.
Posto que o frio Fasis, ou Syene E despois que do martyre Vicente,
Que pera nenhum cabo a sombra inclina: O sanctissimo corpo venerado.
O Bootes gellado, e a linha ardente, Do sacro promontorio conhecido,
Temessem o teu nome geralmente. Aa cidade Vlissea foy trazido.
Posto G 2 Porq̃
[49v] [50r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 50

[69] Mas o alto Deos, que pera longe guarda, [72] Posto que a rica Arabia, e que os feroces
O castigo daquelle que o mereçe, Eniocos, e Colcos, cuja fama
Ou pera que se emmende aas vezes tarda, O Veo dourado estende: e os Capadoçes,
Ou por segredos que homem não conheçe, E Iudea, que hum Deos adora e ama,
Se ate qui sempre o forte Rei resguarda, E que o molles Sofenos, e os Atroces,
Dos perigos a que elle se offereçe. Silicios, com a Armenia, que derrama,
Agora lhe não deixa ter defesa, As agoas dos dous Rios, cuja fonte
Da maldição da mãy que estaua presa. Estâ noutro mais alto e sancto Monte.

[70] Que estando na cidade que cercâra, [73] E posto em fim que desdo mar de Atlante,
Cercado nella foy dos Lioneses, Ate o Scitico Tauro, monte erguido
Porque a conquista della lhe tomâra, Ia vencedor te vissem, não te espante
De Lião sendo, e não dos Portugueses. Se o campo Emathio so te vio vencido,
A pertinacia aqui lhe custa cara, Porque Affonso veras soberbo e ouante,
Assi como acontece muytas vezes, Tudo render, e ser despois rendido.
Que em ferros quebra as pernas, indo aceso Assi o quis o conselho alto celeste,
Aa batalha onde foy vencido e preso. Que vença o sogro a ti, e o genro a este.

[71] O famoso Pompeyo não te pene, [74] Tornado o Rei sublime finalmente,
De teus feitos illustres a ruyna, Do diuino juyzo castigado,
Nem ver que a justa Nemesis ordene, Despois que em Santarem soberbamente,
Ter teu sogro de ti victoria dina, Em vão dos Sarracenos foy cercado.
Posto que o frio Fasis, ou Syene E despois que do martyre Vicente,
Que pera nenhum cabo a sombra inclina: O sanctissimo corpo venerado.
O Bootes gellado, e a linha ardente, Do sacro promontorio conhecido,
Temessem o teu nome geralmente. Aa cidade Vlissea foy trazido.
Posto G 2 Porq̃
[50v] [51r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 51.

[75] Porque leuasse auante seu desejo, [78] Entraua com toda esta companhia,
Ao forte filho manda o lasso velho, O Miralmomini em Portugal
Que aas terras se passasse dalentejo, Treze Reis mouros leua de valia,
Com gente, e co beligero aparelho: Entre os quaes tem o ceptro Imperial:
Sancho, desforço e danimo sobejo, E assi fazendo quanto mal podia,
Auante passa, e faz correr vermelho, O que em partes podia fazer mal.
O rio que Seuilha vay regando, Dom Sancho vay cercar em Santarem,
Co sangue mauro, barbaro e nefando. Porem não lhe socede muito bem.

[76] E com esta victoria cobiçoso, [79] Dalhe combates asperos, fazendo
Ia não descansa o moço ate que veja, Ardis de guerra mil, o Mouro yroso,
Outro estrago como este, temeroso Não lhe aproueita ja trabuco horrendo,
No barbaro que tem cercado Beja. Mina secreta, Ariete forçoso:
Não tarda muito o Principe ditoso, Porque o filho de Affonso, não perdendo
Sem ver o fim daquillo que deseja. Nada do esforço, e acordo generoso,
Assi estragado o Mouro, na vingança Tudo prouê com animo e prudencia,
De tantas perdas poem sua esperança. Que em toda a parte ha esforço e resistencia

[77] Ia se ajuntão do monte, a quem Medusa [80] Mas o velho a quem tinhão ja obrigado
O corpo fez perder, que teue o Ceo: Os trabalhosos annos, ao sosego,
Ia vem do promontorio de Ampelusa, Estando na Cidade, cujo prado
E do Tinge que assento foy de Anteo. Enuerdecem as agoas do Mondego:
O morador de Abila não se escusa, Sabendo como o filho està cercado,
Que tambem com suas armas se moueo: Em Santarem, do Mauro pouo cego,
Ao som da Mauritana e ronca tuba, Se parte diligente da Cidade,
Todo o Reino que foy do nobre Iuba. Que não perde a presteza co a idade.
Entraua G 3 E co a
[50v] [51r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 51.

[75] Porque leuasse auante seu desejo, [78] Entraua com toda esta companhia,
Ao forte filho manda o lasso velho, O Miralmomini em Portugal
Que aas terras se passasse dalentejo, Treze Reis mouros leua de valia,
Com gente, e co beligero aparelho: Entre os quaes tem o ceptro Imperial:
Sancho, desforço e danimo sobejo, E assi fazendo quanto mal podia,
Auante passa, e faz correr vermelho, O que em partes podia fazer mal.
O rio que Seuilha vay regando, Dom Sancho vay cercar em Santarem,
Co sangue mauro, barbaro e nefando. Porem não lhe socede muito bem.

[76] E com esta victoria cobiçoso, [79] Dalhe combates asperos, fazendo
Ia não descansa o moço ate que veja, Ardis de guerra mil, o Mouro yroso,
Outro estrago como este, temeroso Não lhe aproueita ja trabuco horrendo,
No barbaro que tem cercado Beja. Mina secreta, Ariete forçoso:
Não tarda muito o Principe ditoso, Porque o filho de Affonso, não perdendo
Sem ver o fim daquillo que deseja. Nada do esforço, e acordo generoso,
Assi estragado o Mouro, na vingança Tudo prouê com animo e prudencia,
De tantas perdas poem sua esperança. Que em toda a parte ha esforço e resistencia

[77] Ia se ajuntão do monte, a quem Medusa [80] Mas o velho a quem tinhão ja obrigado
O corpo fez perder, que teue o Ceo: Os trabalhosos annos, ao sosego,
Ia vem do promontorio de Ampelusa, Estando na Cidade, cujo prado
E do Tinge que assento foy de Anteo. Enuerdecem as agoas do Mondego:
O morador de Abila não se escusa, Sabendo como o filho està cercado,
Que tambem com suas armas se moueo: Em Santarem, do Mauro pouo cego,
Ao som da Mauritana e ronca tuba, Se parte diligente da Cidade,
Todo o Reino que foy do nobre Iuba. Que não perde a presteza co a idade.
Entraua G 3 E co a
[51v] [52r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 52

[81] E co a famosa gente â guerra vsada, [84] Os altos promontorios o chorarão,


vay socorrer o filho, e assi ajuntados, E do rios as agoas saudosas,
A Portuguesa furia costumada, Os semeados campos alagarão,
Em breue os Mouros tem desbaratados: Com lagrimas correndo piadosas:
A campina que toda està qualhada Mas tanto pelo mundo se alargarão,
De marlotas, capuzes variados, Com fama suas obras valerosas,
De cauallos, jaezes, presa rica, Que sempre no seu Reino chamarão,
De seus senhores mortos chea fica. Affonso, Affonso os eccos, mas em vão.

[82] Logo todo o restante se partio [85] Sancho forte mancebo, que ficàra
De Lusitania, postos em fugida, Imitando seu pay na valentia,
O Miralmomini so não fogio, E que em sua vida ja se exprimentâra,
Porque antes de fogir lhe foge a vida, Quando o Betis de sangue se tingia,
A quem lhe esta victoria permitio, E o barbaro poder desbaratâra,
Dão louuores e graças sem medida: Do Ismaelita Rei de Andaluzia.
Que em casos tão estranhos claramente, E mais quando os que Beja em vão cercârão,
Mais peleja o fauor de Deos que a gente. Os golpes de seu braço em si prouârão.

[83] De tamanhas victorias triumfaua, [86] Despois que foy por Rei aleuantado,
O velho Affonso, Principe subido, Auendo poucos annos que reinaua,
Quando quem tudo em fim vencendo andaua, A cidade de Silues tem cercado,
Da larga, e muita idade foi vencido, Cujos campos o barbaro lauraua:
A palida doença lhe tocaua, Foy das valentes gentes ajudado,
Com fria mão o corpo enfraquecido: Da Germanica armada, que passaua.
E pagàrão seus annos deste geito, De armas fortes e gente apercebida,
Aa triste Libitina seu dereito. A recobrar Iudea ja perdida.
Os altos G 4 Passauão
[51v] [52r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 52

[81] E co a famosa gente â guerra vsada, [84] Os altos promontorios o chorarão,


vay socorrer o filho, e assi ajuntados, E do rios as agoas saudosas,
A Portuguesa furia costumada, Os semeados campos alagarão,
Em breue os Mouros tem desbaratados: Com lagrimas correndo piadosas:
A campina que toda està qualhada Mas tanto pelo mundo se alargarão,
De marlotas, capuzes variados, Com fama suas obras valerosas,
De cauallos, jaezes, presa rica, Que sempre no seu Reino chamarão,
De seus senhores mortos chea fica. Affonso, Affonso os eccos, mas em vão.

[82] Logo todo o restante se partio [85] Sancho forte mancebo, que ficàra
De Lusitania, postos em fugida, Imitando seu pay na valentia,
O Miralmomini so não fogio, E que em sua vida ja se exprimentâra,
Porque antes de fogir lhe foge a vida, Quando o Betis de sangue se tingia,
A quem lhe esta victoria permitio, E o barbaro poder desbaratâra,
Dão louuores e graças sem medida: Do Ismaelita Rei de Andaluzia.
Que em casos tão estranhos claramente, E mais quando os que Beja em vão cercârão,
Mais peleja o fauor de Deos que a gente. Os golpes de seu braço em si prouârão.

[83] De tamanhas victorias triumfaua, [86] Despois que foy por Rei aleuantado,
O velho Affonso, Principe subido, Auendo poucos annos que reinaua,
Quando quem tudo em fim vencendo andaua, A cidade de Silues tem cercado,
Da larga, e muita idade foi vencido, Cujos campos o barbaro lauraua:
A palida doença lhe tocaua, Foy das valentes gentes ajudado,
Com fria mão o corpo enfraquecido: Da Germanica armada, que passaua.
E pagàrão seus annos deste geito, De armas fortes e gente apercebida,
Aa triste Libitina seu dereito. A recobrar Iudea ja perdida.
Os altos G 4 Passauão
[52v] [53r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 53.

[87] Passauão a ajudar na sancta empresa, [90] Mas entre tantas palmas salteado
O roxo Federico, que moueo Da temerosa morte, fica erdeiro,
O poderoso exercito, em defesa Hum filho seu de todos estimado,
Da cidade onde Christo padeceo, Que foy segundo Affonso, e Rei terceiro
Quando Guido co a gente em sede acesa, No tempo deste, aos Mauros foi tomado
Ao grande Saladino se rendeo: Alcaçere do sal por derradeiro:
No lugar onde aos Mouros sobejauão, Porque dantes os Mouros o tomarão,
As agoas que os de guido desejauão. Mas agora estruidos o pagarão.

[88] Mas a fermosa armada, que viera [91] Morto despois Affonso lhe sucede
Por contraste de vento, aaquella parte Sancho segundo, manso e descuidado,
Sancho quis ajudar na guerra fera, Que tanto em seus descuidos se desmede,
Ia que em seruiço vay, do sancto Marte Que de outrem quẽ mandaua era mandado,
Assi como a seu pay acontecèra, De gouernar o Reino que outro pede,
Quando tomou Lisboa, da mesma arte, Por causa dos priuados foi priuado,
Do Germano ajudado Silues toma, Porque como por elles se regia,
E o brauo morador destrue e doma. Em todos os seus vicios consentia.

[89] E se tantos tropheos do Mahometa, [92] Não era Sancho não tam desonesto,
Aleuantando vay: tambem do forte Como Nero, que hum moço recebia
Liones, não consente estar quieta Por molher, e despois horrendo incesto,
A terra vsada aos casos de Mauorte: Com a mãy Agripina cometia:
Ate que na ceruiz seu jugo meta Nem tam cruel aas gentes e molesto,
Da soberba Tui, que a mesma sorte, Que a cidade queimasse onde viuia,
Vio ter a muitas villas suas vizinhas, Nem tam mao como foi Helio gabàlo,
Que por armas tu Sancho humildes tinhas. Nem como o mole Rei Sardanapâlo.
Mas Nem
[52v] [53r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 53.

[87] Passauão a ajudar na sancta empresa, [90] Mas entre tantas palmas salteado
O roxo Federico, que moueo Da temerosa morte, fica erdeiro,
O poderoso exercito, em defesa Hum filho seu de todos estimado,
Da cidade onde Christo padeceo, Que foy segundo Affonso, e Rei terceiro
Quando Guido co a gente em sede acesa, No tempo deste, aos Mauros foi tomado
Ao grande Saladino se rendeo: Alcaçere do sal por derradeiro:
No lugar onde aos Mouros sobejauão, Porque dantes os Mouros o tomarão,
As agoas que os de guido desejauão. Mas agora estruidos o pagarão.

[88] Mas a fermosa armada, que viera [91] Morto despois Affonso lhe sucede
Por contraste de vento, aaquella parte Sancho segundo, manso e descuidado,
Sancho quis ajudar na guerra fera, Que tanto em seus descuidos se desmede,
Ia que em seruiço vay, do sancto Marte Que de outrem quẽ mandaua era mandado,
Assi como a seu pay acontecèra, De gouernar o Reino que outro pede,
Quando tomou Lisboa, da mesma arte, Por causa dos priuados foi priuado,
Do Germano ajudado Silues toma, Porque como por elles se regia,
E o brauo morador destrue e doma. Em todos os seus vicios consentia.

[89] E se tantos tropheos do Mahometa, [92] Não era Sancho não tam desonesto,
Aleuantando vay: tambem do forte Como Nero, que hum moço recebia
Liones, não consente estar quieta Por molher, e despois horrendo incesto,
A terra vsada aos casos de Mauorte: Com a mãy Agripina cometia:
Ate que na ceruiz seu jugo meta Nem tam cruel aas gentes e molesto,
Da soberba Tui, que a mesma sorte, Que a cidade queimasse onde viuia,
Vio ter a muitas villas suas vizinhas, Nem tam mao como foi Helio gabàlo,
Que por armas tu Sancho humildes tinhas. Nem como o mole Rei Sardanapâlo.
Mas Nem
[53v] [54r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 54

[93] Nem era o pouo seu tiranizado, [96] Eis despois vem Dinis, que bem pareçe,
Como Sicilia foy de seus tyranos, Do brauo Affonso estirpe nobre e dina,
Nem tinha como Phalaris achado, Com quem a fama grande se escureçe,
Genero de tormentos inhumanos: Da liberalidade Alexandrina.
Mas o Reino de altiuo, e costumado Co este o Reino prospero floreçe,
A senhores em tudo soberanos. (Alcançada ja a paz aurea diuina)
A Rei não obedece, nem consente, Em constituições, leis e costumes,
Que não for mais que todos excellente. Na terra ja tranquila claros lumes.

[94] Por esta causa o Reino gouernou, [97] Fez primeiro em Coimbra exercitarse,
O Conde Bolonhes, despois alçado O valeroso officio de Minerua,
Por Rei, quando da vida se apartou, E de Helicona as Musas fez passarse,
Seu yrmão Sancho, sempre ao ocio dado A pisar de Mondego a fertil erua:
Este que Affonso o brauo se chamou, Quanto pode de Athenas desejarse,
Despois de ter o Reino segurado: Tudo o soberbo Apolo aqui reserua.
Em dilatalo cuida, que em terreno Aqui as capellas da tecidas de ouro,
Não cabe o altiuo peito tam pequeno. Do Bacaro, e do sempre verde louro.

[95] Da terra dos Algarues, que lhe fora [98] Nobres villas de nouo edificou,
Em casamento dada, grande parte, Fortalezas, castellos muy seguros,
Recupêra co braço, e deita fora E quasi o Reino todo reformou,
O Mouro mal querido ja de Marte: Com edificios grandes, e altos muros:
Este de todo fez liure e senhora Mas despois que a dura Atropos cortou,
Lusitania, com força e bellica arte: O fio de seus dias ja maduros:
E acabou de oprimir a nação forte, Ficoulhe o filho pouco obediente,
Na terra que aos de Luso coube em sorte. Quarto Affonso: mas forte e excelẽte.
Eis Este
[53v] [54r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 54

[93] Nem era o pouo seu tiranizado, [96] Eis despois vem Dinis, que bem pareçe,
Como Sicilia foy de seus tyranos, Do brauo Affonso estirpe nobre e dina,
Nem tinha como Phalaris achado, Com quem a fama grande se escureçe,
Genero de tormentos inhumanos: Da liberalidade Alexandrina.
Mas o Reino de altiuo, e costumado Co este o Reino prospero floreçe,
A senhores em tudo soberanos. (Alcançada ja a paz aurea diuina)
A Rei não obedece, nem consente, Em constituições, leis e costumes,
Que não for mais que todos excellente. Na terra ja tranquila claros lumes.

[94] Por esta causa o Reino gouernou, [97] Fez primeiro em Coimbra exercitarse,
O Conde Bolonhes, despois alçado O valeroso officio de Minerua,
Por Rei, quando da vida se apartou, E de Helicona as Musas fez passarse,
Seu yrmão Sancho, sempre ao ocio dado A pisar de Mondego a fertil erua:
Este que Affonso o brauo se chamou, Quanto pode de Athenas desejarse,
Despois de ter o Reino segurado: Tudo o soberbo Apolo aqui reserua.
Em dilatalo cuida, que em terreno Aqui as capellas da tecidas de ouro,
Não cabe o altiuo peito tam pequeno. Do Bacaro, e do sempre verde louro.

[95] Da terra dos Algarues, que lhe fora [98] Nobres villas de nouo edificou,
Em casamento dada, grande parte, Fortalezas, castellos muy seguros,
Recupêra co braço, e deita fora E quasi o Reino todo reformou,
O Mouro mal querido ja de Marte: Com edificios grandes, e altos muros:
Este de todo fez liure e senhora Mas despois que a dura Atropos cortou,
Lusitania, com força e bellica arte: O fio de seus dias ja maduros:
E acabou de oprimir a nação forte, Ficoulhe o filho pouco obediente,
Na terra que aos de Luso coube em sorte. Quarto Affonso: mas forte e excelẽte.
Eis Este
[54v] [55r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 55.

[99] Este sempre as soberbas Castelhanas, [102] Entraua a fermosissima Maria,


Co peito desprezou firme e sereno, Polos paternais paços sublimados,
Porque não he das forças Lusitanas, Lindo o gesto: mas fora de alegria,
Temer poder maior, por mais pequeno E seus olhos em lagrimas banhados,
Mas porem quando as gentes Mauritanas, Os cabellos Angelicos trazia,
A possuir o Esperico terreno, Pelos eburneos hombros espalhados:
Entrarão pelas terras de Castella, Diante do Pay ledo, que a agasalha,
Foy o soberbo Affonso a socorrella. Estas palauras tais chorando espalha.

[100] Nunca com Semirâmis, gente tanta [103] Quantos pouos a terra produzio
Veio ôs campos Ydaspicos enchendo, De Africa toda gente fera e estranha,
Nem Atila, que Italia toda espanta, O grão Rei de Marrocos conduzio
Chamandose de Deos açoute horrendo. Pera vir possuir a nobre Espanha:
Gottica gente trouxe tanta, quanta Poder tamanho junto não se vio,
Do Sarraceno barbaro estupendo, Despois que o salso Mar a terra banha.
Co poder excessiuo de Granada, Trazem ferocidade, e furor tanto,
Foy nos campos Tartesios ajuntada. Que a viuos medo, e a mortos faz espanto.

[101] E vendo o Rei sublime Castelhano, [104] Aquelle que me deste por marido,
A força inexpugnabil, grande e forte, Por defender sua terra amedrontada,
Temendo mais o fim do pouo Hispano, Co pequeno poder, offerecido
Ia perdido hũa vez, que a propria morte Ao duro golpe està, da Maura espada,
Pedindo ajuda ao forte Lusitano, E se não for contigo socorrido,
Lhe mandaua a carissima consorte, Verme as delle e do Reino ser priuada,
Molher de quem a manda, e filha amada Viuua e triste, e posta em vida escura,
Daquelle a cujo Reino foi mandada. Sem marido, sem Reino, e sem ventura.
Entraua Por tanto
[54v] [55r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 55.

[99] Este sempre as soberbas Castelhanas, [102] Entraua a fermosissima Maria,


Co peito desprezou firme e sereno, Polos paternais paços sublimados,
Porque não he das forças Lusitanas, Lindo o gesto: mas fora de alegria,
Temer poder maior, por mais pequeno E seus olhos em lagrimas banhados,
Mas porem quando as gentes Mauritanas, Os cabellos Angelicos trazia,
A possuir o Esperico terreno, Pelos eburneos hombros espalhados:
Entrarão pelas terras de Castella, Diante do Pay ledo, que a agasalha,
Foy o soberbo Affonso a socorrella. Estas palauras tais chorando espalha.

[100] Nunca com Semirâmis, gente tanta [103] Quantos pouos a terra produzio
Veio ôs campos Ydaspicos enchendo, De Africa toda gente fera e estranha,
Nem Atila, que Italia toda espanta, O grão Rei de Marrocos conduzio
Chamandose de Deos açoute horrendo. Pera vir possuir a nobre Espanha:
Gottica gente trouxe tanta, quanta Poder tamanho junto não se vio,
Do Sarraceno barbaro estupendo, Despois que o salso Mar a terra banha.
Co poder excessiuo de Granada, Trazem ferocidade, e furor tanto,
Foy nos campos Tartesios ajuntada. Que a viuos medo, e a mortos faz espanto.

[101] E vendo o Rei sublime Castelhano, [104] Aquelle que me deste por marido,
A força inexpugnabil, grande e forte, Por defender sua terra amedrontada,
Temendo mais o fim do pouo Hispano, Co pequeno poder, offerecido
Ia perdido hũa vez, que a propria morte Ao duro golpe està, da Maura espada,
Pedindo ajuda ao forte Lusitano, E se não for contigo socorrido,
Lhe mandaua a carissima consorte, Verme as delle e do Reino ser priuada,
Molher de quem a manda, e filha amada Viuua e triste, e posta em vida escura,
Daquelle a cujo Reino foi mandada. Sem marido, sem Reino, e sem ventura.
Entraua Por tanto
[55v] [56r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 56

[105] Por tanto, ô Rei, de quem com puro medo, [108] Entre todos no meio se sublima,
O corrente Muluca se congella, Das insignias Reais acompanhado,
Rompe toda a tardança, acude cedo, O valeroso Affonso, que por cima
Aa miseranda gente de Castella. De todos, leua o collo aleuantado,
Se esse gesto que mostras claro e ledo, E somente co gesto esforça e anima,
De pay o verdadeiro amor assella: A qualquer coração amedrontado.
Acude e corre pay, que se não corres, Assi entra nas terras de Castella,
Pode ser que não aches quem socorres. Com a filha gentil Rainha della.

[106] Não de outra sorte a timida Maria [109] Iuntos os dous Affonsos finalmente,
Fallando está, que a triste Venus, quando Nos campos de Tarifa, estão defronte
A Iupiter seu pay fauor pedia, Da grande multidão da cega gente,
Pera Eneas seu filho, nauegando, Pera quem sam pequenos campo e monte.
Que a tanta piedade o comouia, Não ha peito tão alto e tam potente,
Que caido das mãos o rayo infando. Que de desconfiança não se afronte,
Tudo o clemente Padre lhe concede, Em quanto não conheça, e claro veja,
Pesandolhe do pouco que lhe pede. Que co braço dos seus Christo peleja.

[107] Mas ja cos esquadrões da gente armada, [110] Estão de Agar os netos casi rindo,
Os Eborenses campos vão qualhados, Do poder dos Christãos fraco e pequeno,
Lustra co Sol o arnes, a lança, a espada, As terras como suas repartindo,
Vão rinchando os cauallos jaezados: Ante mão, entre o exercito Agareno:
A canora trombeta embandeirada Que com titulo falso possuindo
Os corações aa paz acostumados: Està o famoso nome Sarraceno.
Vay às fulgentes armas incitando Assi tambem com falsa conta e nua,
Polas concauidades retumbando. Aa nobre terra alhea chamão sua.
Entre Qual
[55v] [56r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 56

[105] Por tanto, ô Rei, de quem com puro medo, [108] Entre todos no meio se sublima,
O corrente Muluca se congella, Das insignias Reais acompanhado,
Rompe toda a tardança, acude cedo, O valeroso Affonso, que por cima
Aa miseranda gente de Castella. De todos, leua o collo aleuantado,
Se esse gesto que mostras claro e ledo, E somente co gesto esforça e anima,
De pay o verdadeiro amor assella: A qualquer coração amedrontado.
Acude e corre pay, que se não corres, Assi entra nas terras de Castella,
Pode ser que não aches quem socorres. Com a filha gentil Rainha della.

[106] Não de outra sorte a timida Maria [109] Iuntos os dous Affonsos finalmente,
Fallando está, que a triste Venus, quando Nos campos de Tarifa, estão defronte
A Iupiter seu pay fauor pedia, Da grande multidão da cega gente,
Pera Eneas seu filho, nauegando, Pera quem sam pequenos campo e monte.
Que a tanta piedade o comouia, Não ha peito tão alto e tam potente,
Que caido das mãos o rayo infando. Que de desconfiança não se afronte,
Tudo o clemente Padre lhe concede, Em quanto não conheça, e claro veja,
Pesandolhe do pouco que lhe pede. Que co braço dos seus Christo peleja.

[107] Mas ja cos esquadrões da gente armada, [110] Estão de Agar os netos casi rindo,
Os Eborenses campos vão qualhados, Do poder dos Christãos fraco e pequeno,
Lustra co Sol o arnes, a lança, a espada, As terras como suas repartindo,
Vão rinchando os cauallos jaezados: Ante mão, entre o exercito Agareno:
A canora trombeta embandeirada Que com titulo falso possuindo
Os corações aa paz acostumados: Està o famoso nome Sarraceno.
Vay às fulgentes armas incitando Assi tambem com falsa conta e nua,
Polas concauidades retumbando. Aa nobre terra alhea chamão sua.
Entre Qual
[56v] [57r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 57.

[111] Qual o membrudo e barbaro Gigante, [114] Com esforço tamanho estrue e mata,
Do Rei Saul, com causa tam temido, O Luso ao Granadil, que em pouco espaço,
Vendo o Pastor inerme estar diante, Totalmente o poder lhe desbarata,
So de pedras e esforço apercebido, Sem lhe valer defesa, ou peito de aço:
Com palauras soberbas o arrogante, De alcançar tal victoria tam barata,
Despreza o fraco moço mal vestido: Inda não bem contente o forte braço,
Que rodeando a funda o desengana, Vay ajudar ao brauo Castelhano,
Quanto mais pode a Fê que a força humana. Que pelejando está co Mauritano.

[112] Desta arte o Mouro perfido despreza, [115] Ia se hia o Sol ardente recolhendo,
O poder dos Christãos, e não entende, Pera a casa de Thetis, e inclinado,
Que està ajudado da alta fortaleza, Pera o Ponente o vespero trazendo,
A quem o Inferno horrifico se rende. Estaua o claro dia memorado,
Co ella o Castelhano, e com destreza, Quando o poder do Mauro grande e horẽdo
De Marrocos o Rei comete e offende. Foi pelos fortes Reis desbaratado,
O Portugues que tudo estima em nada, Com tanta mortindade, que a memoria,
Se faz temer ao Reino de Granada. Nunca no mundo vio tam gram victoria.

[113] Eis as lanças e espadas retenião, [116] Não matou a quarta parte o forte Mario,
Por cima dos arneses, brauo estrago, Dos que morrerão neste vencimento,
Chamão (segundo as leis que ali seguião,) Quando as agoas co sangue do aduersario,
Hũs Mafamede, e os outros Sanctiago, Fez beber ao exercito sedento,
Os feridos com grita o Ceo ferião, Nem o Peno asperissimo contrario,
Fazendo de seu sangue bruto lago, Do Romano poder de nascimento:
Onde outros meios mortos se afogauão, Quando tantos matou da illustre Roma,
Quando do ferro as vidas escapauão. Que alqueires tres de aneis dos mortos toma.
Com H E se
[56v] [57r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO 57.

[111] Qual o membrudo e barbaro Gigante, [114] Com esforço tamanho estrue e mata,
Do Rei Saul, com causa tam temido, O Luso ao Granadil, que em pouco espaço,
Vendo o Pastor inerme estar diante, Totalmente o poder lhe desbarata,
So de pedras e esforço apercebido, Sem lhe valer defesa, ou peito de aço:
Com palauras soberbas o arrogante, De alcançar tal victoria tam barata,
Despreza o fraco moço mal vestido: Inda não bem contente o forte braço,
Que rodeando a funda o desengana, Vay ajudar ao brauo Castelhano,
Quanto mais pode a Fê que a força humana. Que pelejando está co Mauritano.

[112] Desta arte o Mouro perfido despreza, [115] Ia se hia o Sol ardente recolhendo,
O poder dos Christãos, e não entende, Pera a casa de Thetis, e inclinado,
Que està ajudado da alta fortaleza, Pera o Ponente o vespero trazendo,
A quem o Inferno horrifico se rende. Estaua o claro dia memorado,
Co ella o Castelhano, e com destreza, Quando o poder do Mauro grande e horẽdo
De Marrocos o Rei comete e offende. Foi pelos fortes Reis desbaratado,
O Portugues que tudo estima em nada, Com tanta mortindade, que a memoria,
Se faz temer ao Reino de Granada. Nunca no mundo vio tam gram victoria.

[113] Eis as lanças e espadas retenião, [116] Não matou a quarta parte o forte Mario,
Por cima dos arneses, brauo estrago, Dos que morrerão neste vencimento,
Chamão (segundo as leis que ali seguião,) Quando as agoas co sangue do aduersario,
Hũs Mafamede, e os outros Sanctiago, Fez beber ao exercito sedento,
Os feridos com grita o Ceo ferião, Nem o Peno asperissimo contrario,
Fazendo de seu sangue bruto lago, Do Romano poder de nascimento:
Onde outros meios mortos se afogauão, Quando tantos matou da illustre Roma,
Quando do ferro as vidas escapauão. Que alqueires tres de aneis dos mortos toma.
Com H E se
[57v] [58r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 58

[117] E se tu tantas almas so podeste, [120] Estauas linda Ines posta em sosego
Mandar ao Reino escuro de Cocito, De teus annos, colhendo doçe fructo,
Quando a sancta Cidade desfizeste Naquelle engano da alma, ledo e cego,
Do pouo pertinaz no antigo rito: Que a fortuna não deixa durar muito,
Permissam e vingança foy celeste, Nos saudosos campos do Mondego,
E não força de braço, o nobre Tito, De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Que assi dos Vates foy profetizado, Aos montes insinando, e âs eruinhas
E despois por IESV certificado. O nome que no peito escripto tinhas.

[118] Passada esta tão prospera victoria, [121] Do teu Principe ali te respondião,
Tornado Affonso aa Lusitana terra, As lembranças que na alma lhe morauão,
A se lograr da paz com tanta gloria, Que sempre ante seus olhos te trazião,
Quanta soube ganhar na dura guerra, Quando dos teus fermosos se apartauão
O caso triste, e dino da memoria, Denoite em doçes sonhos, que mentião,
Que do sepulchro os homẽs desenterra, De dia em pensamentos que voauão.
Aconteceo da misera, e mezquinha E quanto em fim cuidaua, e quanto via,
Que despois de ser morta foy Rainha. Eram tudo memorias de alegria.

[119] Tu so, tu puro Amor com força crua, [122] De outras bellas senhoras, e Princesas,
Que os corações humanos tanto obriga, Os desejados tâlamos engeita,
Deste causa aa molesta morte sua, Que tudo em fim, tu puro amor desprezas,
Como se fora perfida inimiga: Quando hum gesto suaue te sogeita:
Se dizem fero Amor que a sede tua, Vendo estas namoradas estranhezas,
Nem com lagrimas tristes se mitiga: O velho pay sesudo, que respeita
E porque queres aspero e tirano O murmurar do pouo, e a fantasia
Tuas aras banhar em sangue humano. Do filho, que casarse não queria.
Estauas H 2 Tirar
[57v] [58r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 58

[117] E se tu tantas almas so podeste, [120] Estauas linda Ines posta em sosego
Mandar ao Reino escuro de Cocito, De teus annos, colhendo doçe fructo,
Quando a sancta Cidade desfizeste Naquelle engano da alma, ledo e cego,
Do pouo pertinaz no antigo rito: Que a fortuna não deixa durar muito,
Permissam e vingança foy celeste, Nos saudosos campos do Mondego,
E não força de braço, o nobre Tito, De teus fermosos olhos nunca enxuto,
Que assi dos Vates foy profetizado, Aos montes insinando, e âs eruinhas
E despois por IESV certificado. O nome que no peito escripto tinhas.

[118] Passada esta tão prospera victoria, [121] Do teu Principe ali te respondião,
Tornado Affonso aa Lusitana terra, As lembranças que na alma lhe morauão,
A se lograr da paz com tanta gloria, Que sempre ante seus olhos te trazião,
Quanta soube ganhar na dura guerra, Quando dos teus fermosos se apartauão
O caso triste, e dino da memoria, Denoite em doçes sonhos, que mentião,
Que do sepulchro os homẽs desenterra, De dia em pensamentos que voauão.
Aconteceo da misera, e mezquinha E quanto em fim cuidaua, e quanto via,
Que despois de ser morta foy Rainha. Eram tudo memorias de alegria.

[119] Tu so, tu puro Amor com força crua, [122] De outras bellas senhoras, e Princesas,
Que os corações humanos tanto obriga, Os desejados tâlamos engeita,
Deste causa aa molesta morte sua, Que tudo em fim, tu puro amor desprezas,
Como se fora perfida inimiga: Quando hum gesto suaue te sogeita:
Se dizem fero Amor que a sede tua, Vendo estas namoradas estranhezas,
Nem com lagrimas tristes se mitiga: O velho pay sesudo, que respeita
E porque queres aspero e tirano O murmurar do pouo, e a fantasia
Tuas aras banhar em sangue humano. Do filho, que casarse não queria.
Estauas H 2 Tirar
[58v] [59r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 59

[123] Tirar Ines ao mundo determina, [126] Se ja nas brutas feras, cuja mente
Por lhe tirar o filho que tem preso, Natura fez cruel de nascimento,
Crendo co sangue sô da morte indina, E nas aues agrestes, que somente
Matar do firme amor o fogo aceso: Nas rapinas aerias tem o intento,
Que furor consentio, que a espada fina, Com pequenas crianças vio a gente,
Que pode sustentar o grande peso Terem tam piadoso sentimento,
Do furor Mauro, fosse aleuantada, Como co a mãy de Nino ja mostrârão,
Contra hũa fraca dama delicada? E cos yrmãos que Roma edificàrão.

[124] Trazião a os horrificos algozes, [127] O tu que tẽs de humano o gesto e o peito
Ante o Rei, ja mouido a piedade: (Se de humano he, matar hũa donzella
Mas o pouo com falsas, e ferozes Fraca e sem força, so por ter subjeito
Razões, aa morte crua o persuade: O coração, a quem soube vencella)
Ella com tristes e piedosas vozes, A estas criançinhas tem respeito,
Saidas sô da magoa, e saudade Pois o não tẽs aa morte escura della,
Do seu Principe, e filhos que deixaua, Mouate a piedade sua e minha,
Que mais que a propria morte a magoaua. Pois te não moue a culpa que não tinha.

[125] Pera o Ceo cristalino aleuantando, [128] E se vencendo a Maura resistencia,


Com lagrimas os olhos piedosos, A morte sabes dar com fogo e ferro,
Os olhos, porque as mãos lhe estaua atando, Sabe tambem dar vida com clemencia,
Hum dos duros ministros rigurosos. A quem pera perdela não fez erro:
E despois nos mininos atentando, Mas se to assi merece esta inocencia,
Que tam queridos tinha, e tam mimosos, Poem me em perpetuo e misero desterro,
Cuja orfindade como mãy temia, Na Scitia fria, ou la na Lybia ardente,
Pera o auô cruel assi dizia. Onde em lagrimas viua eternamente.
Seja H 3 Poem
[58v] [59r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 59

[123] Tirar Ines ao mundo determina, [126] Se ja nas brutas feras, cuja mente
Por lhe tirar o filho que tem preso, Natura fez cruel de nascimento,
Crendo co sangue sô da morte indina, E nas aues agrestes, que somente
Matar do firme amor o fogo aceso: Nas rapinas aerias tem o intento,
Que furor consentio, que a espada fina, Com pequenas crianças vio a gente,
Que pode sustentar o grande peso Terem tam piadoso sentimento,
Do furor Mauro, fosse aleuantada, Como co a mãy de Nino ja mostrârão,
Contra hũa fraca dama delicada? E cos yrmãos que Roma edificàrão.

[124] Trazião a os horrificos algozes, [127] O tu que tẽs de humano o gesto e o peito
Ante o Rei, ja mouido a piedade: (Se de humano he, matar hũa donzella
Mas o pouo com falsas, e ferozes Fraca e sem força, so por ter subjeito
Razões, aa morte crua o persuade: O coração, a quem soube vencella)
Ella com tristes e piedosas vozes, A estas criançinhas tem respeito,
Saidas sô da magoa, e saudade Pois o não tẽs aa morte escura della,
Do seu Principe, e filhos que deixaua, Mouate a piedade sua e minha,
Que mais que a propria morte a magoaua. Pois te não moue a culpa que não tinha.

[125] Pera o Ceo cristalino aleuantando, [128] E se vencendo a Maura resistencia,


Com lagrimas os olhos piedosos, A morte sabes dar com fogo e ferro,
Os olhos, porque as mãos lhe estaua atando, Sabe tambem dar vida com clemencia,
Hum dos duros ministros rigurosos. A quem pera perdela não fez erro:
E despois nos mininos atentando, Mas se to assi merece esta inocencia,
Que tam queridos tinha, e tam mimosos, Poem me em perpetuo e misero desterro,
Cuja orfindade como mãy temia, Na Scitia fria, ou la na Lybia ardente,
Pera o auô cruel assi dizia. Onde em lagrimas viua eternamente.
Seja H 3 Poem
[59v] [60r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 60.

[129] Poem me onde se vse toda a feridade, [132] Tais contra Inès os brutos matadores,
Entre Liões, e Tigres, e verey No colo de alabastro, que sostinha
Se nelles achar posso a piedade As obras com que amor matou de amores
Que entre peitos humanos não achey: Aquelle que despois a fez Rainha:
Ali co amor intrinseco e vontade, As espadas banhando, e as brancas flores,
Naquelle por quem mouro, criarey Que ella dos olhos seus regadas tinha,
Estas reliquias suas que aqui viste, Se encarniçauão, feruidos e yrosos,
Que refrigerio sejão da mãy triste. No foturo castigo não cuidosos.

[130] Queria perdoarlhe o Rei benigno, [133] Bem podêras, ô Sol, da vista destes
Mouido das palauras que o magoão: Teus rayos apartar aquelle dia,
Mas o pertinaz pouo, e seu destino Como da seua mesa de Tyestes,
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoão, Quando os filhos por mão de Atreu comia.
Arrancão das espadas de aço fino, Vos, ô concauos vales que podestes,
Os que por bom tal feito ali apregoão, A voz extrema ouuir da boca fria,
Contra hũa dama, ô peitos carniceiros O nome do seu Pedro que lhe ouuistes,
Feros vos amostrais, e caualleiros? Por muito grande espaço repetistes.

[131] Qual contra a linda moça Policena, [134] Assi como a bonina que cortada,
Consolação extrema da mãy velha, Antes do tempo foy, candida e bella,
Porque a sombra de Achiles a condena, Sendo das mãos laciuas mal tratada,
Co ferro o duro Pirro se aparelha: Da minina que a trouxe na capella:
Mas ella os olhos com que o ar serena, O cheiro traz perdido, e a cor murchada:
(Bem como paciente, e mansa ouelha) Tal està morta a palida donzella,
Na misera mãy postos, que endoudeçe Secas do rosto as rosas, e perdida
Ao duro sacrificio se offereçe. A branca e viua cor, co a doçe vida.
Tais H 4 As
[59v] [60r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 60.

[129] Poem me onde se vse toda a feridade, [132] Tais contra Inès os brutos matadores,
Entre Liões, e Tigres, e verey No colo de alabastro, que sostinha
Se nelles achar posso a piedade As obras com que amor matou de amores
Que entre peitos humanos não achey: Aquelle que despois a fez Rainha:
Ali co amor intrinseco e vontade, As espadas banhando, e as brancas flores,
Naquelle por quem mouro, criarey Que ella dos olhos seus regadas tinha,
Estas reliquias suas que aqui viste, Se encarniçauão, feruidos e yrosos,
Que refrigerio sejão da mãy triste. No foturo castigo não cuidosos.

[130] Queria perdoarlhe o Rei benigno, [133] Bem podêras, ô Sol, da vista destes
Mouido das palauras que o magoão: Teus rayos apartar aquelle dia,
Mas o pertinaz pouo, e seu destino Como da seua mesa de Tyestes,
(Que desta sorte o quis) lhe não perdoão, Quando os filhos por mão de Atreu comia.
Arrancão das espadas de aço fino, Vos, ô concauos vales que podestes,
Os que por bom tal feito ali apregoão, A voz extrema ouuir da boca fria,
Contra hũa dama, ô peitos carniceiros O nome do seu Pedro que lhe ouuistes,
Feros vos amostrais, e caualleiros? Por muito grande espaço repetistes.

[131] Qual contra a linda moça Policena, [134] Assi como a bonina que cortada,
Consolação extrema da mãy velha, Antes do tempo foy, candida e bella,
Porque a sombra de Achiles a condena, Sendo das mãos laciuas mal tratada,
Co ferro o duro Pirro se aparelha: Da minina que a trouxe na capella:
Mas ella os olhos com que o ar serena, O cheiro traz perdido, e a cor murchada:
(Bem como paciente, e mansa ouelha) Tal està morta a palida donzella,
Na misera mãy postos, que endoudeçe Secas do rosto as rosas, e perdida
Ao duro sacrificio se offereçe. A branca e viua cor, co a doçe vida.
Tais H 4 As
[60v] [61r]
OS LVSIADAS DE. L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 61

[135] As filhas do Mondego, a morte escura [138] Do justo e duro Pedro nasce o brando
Longo tempo chorando memorarão, ⁽Vede da natureza o desconcerto)
E por memoria eterna em fonte pura Remisso, e sem cuidado algum Fernando,
As lagrimas choradas transformarão: Que todo o Reino pos em muito aperto,
O nome lhe poserão, que inda dura, Que vindo o Castelhano deuastando
Dos amores de Ines que ali passarão. As terras sem defesa, esteue perto
Vede que fresca fonte rega as flores, De destruirse o Reino totalmente,
Que lagrimas sam a agoa, e o nome amores. Que hum fraco Rei faz fraca a forte gente.

[136] Não correo muito tempo que a vingança [139] Ou foy castigo claro do peccado,
Não visse Pedro das mortais feridas, De tirar Lianor a seu marido,
Que em tomando do Reino a gouernança, E casar se co ella de enleuado,
A tomou dos fugidos humicidas: Num falso parecer mal entendido:
Do outro Pedro cruissimo os alcança, Ou foy que o coração sogeito, e dado
Que ambos immigos das humanas vidas, Ao vicio vil, de quem se vio rendido,
O concerto fizerão duro e injusto, Molle se fez, e fraco, e bem parece
Que com Lepido, e Antonio fez Augusto. Que hum baxo amor os fortes enfraquece.

[137] Este castigador foy reguroso, [140] Do peccado tiuerão sempre a pena
De latrocinios, mortes e adulterios, Muitos, que Deos o quis, e permitio:
Fazer nos maos cruezas, fero e yroso, Os que forão roubar a bella Elena,
Erão os seus mais certos refrigerios: E com Apio tambem Tarquino o vio:
As cidades guardando justiçoso, Pois por quem Dauid Sancto se condena?
De todos os soberbos vituperios, Ou quem o Tribo illustre destruio
Mais ladrões castigando aa morte deu, De Benjamim? bem claro nolo insina,
Que o vagabundo Alcides, ou Theseu. Por Sarra Faraô, Sychem por Dina.
Do justo E pois
[60v] [61r]
OS LVSIADAS DE. L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 61

[135] As filhas do Mondego, a morte escura [138] Do justo e duro Pedro nasce o brando
Longo tempo chorando memorarão, ⁽Vede da natureza o desconcerto)
E por memoria eterna em fonte pura Remisso, e sem cuidado algum Fernando,
As lagrimas choradas transformarão: Que todo o Reino pos em muito aperto,
O nome lhe poserão, que inda dura, Que vindo o Castelhano deuastando
Dos amores de Ines que ali passarão. As terras sem defesa, esteue perto
Vede que fresca fonte rega as flores, De destruirse o Reino totalmente,
Que lagrimas sam a agoa, e o nome amores. Que hum fraco Rei faz fraca a forte gente.

[136] Não correo muito tempo que a vingança [139] Ou foy castigo claro do peccado,
Não visse Pedro das mortais feridas, De tirar Lianor a seu marido,
Que em tomando do Reino a gouernança, E casar se co ella de enleuado,
A tomou dos fugidos humicidas: Num falso parecer mal entendido:
Do outro Pedro cruissimo os alcança, Ou foy que o coração sogeito, e dado
Que ambos immigos das humanas vidas, Ao vicio vil, de quem se vio rendido,
O concerto fizerão duro e injusto, Molle se fez, e fraco, e bem parece
Que com Lepido, e Antonio fez Augusto. Que hum baxo amor os fortes enfraquece.

[137] Este castigador foy reguroso, [140] Do peccado tiuerão sempre a pena
De latrocinios, mortes e adulterios, Muitos, que Deos o quis, e permitio:
Fazer nos maos cruezas, fero e yroso, Os que forão roubar a bella Elena,
Erão os seus mais certos refrigerios: E com Apio tambem Tarquino o vio:
As cidades guardando justiçoso, Pois por quem Dauid Sancto se condena?
De todos os soberbos vituperios, Ou quem o Tribo illustre destruio
Mais ladrões castigando aa morte deu, De Benjamim? bem claro nolo insina,
Que o vagabundo Alcides, ou Theseu. Por Sarra Faraô, Sychem por Dina.
Do justo E pois
[61v] [62r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 62

[141] E pois se os peitos fortes enfraqueçe,


Hum inconcesso amor desatinado,
Bem no filho de Almena se pareçe,
Quando em Omfale andaua transformado,
De Marco Antonio a fama se escureçe, ☙ Canto Quarto.
Com ser tanto a Cleopatra affeiçoado:
Tu tambem Peno prospero o sentiste,
Despois que hũa moça vil na Apulia viste.

[142] Mas quem pode liurarse por ventura, [1] DEspois de procello/sa tempestade,
Dos laços que amor arma brandamente Nocturna sombra, e sibilante / vento,
Entre as rosas e a neue humana pura, Traz a manhaã serena claridade,
O ouro, e o alabastro transparente Esperança de porto, e saluamento:
Quem de hũa peregrina fermosura Aparta o Sol a negra escuridade,
De hum vulto de Medusa propriamente Remouendo o temor ao pensamento:
Que o coração conuerte que tem preso, Assi no Reino forte aconteceo,
Em pedra não: mas em desejo aceso. Despois que o Rei Fernando falleçeo.

[143] Quem vio hum olhar seguro, hum gesto brando, [2] Porque se muito os nossos desejarão,
Hũa suaue e Angelica excelencia, Quem os danos e offensas va vingando,
Que em si estâ sempre as almas trãformãdo, Naquelles que tãbem se aproueitârão,
Que tiuesse contra ella resistencia: Do descuido remisso de Fernando,
Desculpado por certo estâ Fernando, Despois de pouco tempo o alcançârão,
Pera quem tem de amor experencia: Ioanne sempre illustre aleuantando
Mas antes tendo liure a fantasia, Por Rei, como de Pedro vnico erdeiro
Por muyto mais culpado o julgaria. ⁽Ainda que bastardo) verdadeiro.
Fim. Ser isto
[61v] [62r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 62

[141] E pois se os peitos fortes enfraqueçe,


Hum inconcesso amor desatinado,
Bem no filho de Almena se pareçe,
Quando em Omfale andaua transformado,
De Marco Antonio a fama se escureçe, ☙ Canto Quarto.
Com ser tanto a Cleopatra affeiçoado:
Tu tambem Peno prospero o sentiste,
Despois que hũa moça vil na Apulia viste.

[142] Mas quem pode liurarse por ventura, [1] DEspois de procello/sa tempestade,
Dos laços que amor arma brandamente Nocturna sombra, e sibilante / vento,
Entre as rosas e a neue humana pura, Traz a manhaã serena claridade,
O ouro, e o alabastro transparente Esperança de porto, e saluamento:
Quem de hũa peregrina fermosura Aparta o Sol a negra escuridade,
De hum vulto de Medusa propriamente Remouendo o temor ao pensamento:
Que o coração conuerte que tem preso, Assi no Reino forte aconteceo,
Em pedra não: mas em desejo aceso. Despois que o Rei Fernando falleçeo.

[143] Quem vio hum olhar seguro, hum gesto brando, [2] Porque se muito os nossos desejarão,
Hũa suaue e Angelica excelencia, Quem os danos e offensas va vingando,
Que em si estâ sempre as almas trãformãdo, Naquelles que tãbem se aproueitârão,
Que tiuesse contra ella resistencia: Do descuido remisso de Fernando,
Desculpado por certo estâ Fernando, Despois de pouco tempo o alcançârão,
Pera quem tem de amor experencia: Ioanne sempre illustre aleuantando
Mas antes tendo liure a fantasia, Por Rei, como de Pedro vnico erdeiro
Por muyto mais culpado o julgaria. ⁽Ainda que bastardo) verdadeiro.
Fim. Ser isto
[62v] [63r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 63

[3] Ser isto ordenação dos ceos diuina, [6] Podẽse por em longo esquecimento,
Por sinais muito claros se mostrou As cruezas mortais que Roma vio
Quando em Euora a voz de hũa minina, Feitas do feroz Mario, e do cruento
Ante tempo falando o nomeou: Syla, quando o contrario lhe fogio:
E como cousa em fim que o Ceo destina, Por isso Lianor, que o sentimento
No berço o corpo, e a voz aleuantou, Do morto Conde ao mundo descobrio,
Portugal, Portugal, alçando a mão Faz contra Lusitania vir Castella,
Disse, polo Rei nouo Dom Ioão. Dizendo ser sua filha herdeira della.

[4] Alteradas então do Reino as gentes, [7] Beatriz era a filha, que casada
Co odio que occupado os peitos tinha, Co Castelhano està, que o Reino pede,
Absolutas cruezas, e euidentes Por filha de Fernando reputada,
Faz do pouo o furor por onde vinha, Se a corrompida fama lho concede.
Matando vão amigos e parentes, Com esta voz Castella aleuantada,
Do adultero Conde, e da Rainha, Dizendo que esta filha ao pay sucede:
Com quem sua incontinencia desonesta Suas forças ajunta pera as guerras
Mais (despois de viuua) manifesta. De varias regiões e varias terras.

[5] Mas elle em fim com causa desonrado, [8] Vem de toda a prouincia que de hum Brigo,
Diante della a ferro frio morre, (Se foy) ja teue o nome diriuado
De outros muitos na morte acompanhado Das terras que Fernando, e que Rodrigo
Que tudo o fogo erguido queima e corre: Ganharão do tirano e Mauro estado:
Quem como Astianas precipitado Não estimão das armas o perigo,
(Sem lhe valerem ordẽs) de alta torre Os que cortando vão co duro arado
A quem ordẽs, nem aras, nem respeito, Os campos Lioneses, cuja gente,
Quem nu por ruas e em pedaços feito. Cos Mouros foi nas armas excellente.
Podese Os
[62v] [63r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 63

[3] Ser isto ordenação dos ceos diuina, [6] Podẽse por em longo esquecimento,
Por sinais muito claros se mostrou As cruezas mortais que Roma vio
Quando em Euora a voz de hũa minina, Feitas do feroz Mario, e do cruento
Ante tempo falando o nomeou: Syla, quando o contrario lhe fogio:
E como cousa em fim que o Ceo destina, Por isso Lianor, que o sentimento
No berço o corpo, e a voz aleuantou, Do morto Conde ao mundo descobrio,
Portugal, Portugal, alçando a mão Faz contra Lusitania vir Castella,
Disse, polo Rei nouo Dom Ioão. Dizendo ser sua filha herdeira della.

[4] Alteradas então do Reino as gentes, [7] Beatriz era a filha, que casada
Co odio que occupado os peitos tinha, Co Castelhano està, que o Reino pede,
Absolutas cruezas, e euidentes Por filha de Fernando reputada,
Faz do pouo o furor por onde vinha, Se a corrompida fama lho concede.
Matando vão amigos e parentes, Com esta voz Castella aleuantada,
Do adultero Conde, e da Rainha, Dizendo que esta filha ao pay sucede:
Com quem sua incontinencia desonesta Suas forças ajunta pera as guerras
Mais (despois de viuua) manifesta. De varias regiões e varias terras.

[5] Mas elle em fim com causa desonrado, [8] Vem de toda a prouincia que de hum Brigo,
Diante della a ferro frio morre, (Se foy) ja teue o nome diriuado
De outros muitos na morte acompanhado Das terras que Fernando, e que Rodrigo
Que tudo o fogo erguido queima e corre: Ganharão do tirano e Mauro estado:
Quem como Astianas precipitado Não estimão das armas o perigo,
(Sem lhe valerem ordẽs) de alta torre Os que cortando vão co duro arado
A quem ordẽs, nem aras, nem respeito, Os campos Lioneses, cuja gente,
Quem nu por ruas e em pedaços feito. Cos Mouros foi nas armas excellente.
Podese Os
[63v] [64r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 64

[9] Os Vandalos, na antiga valentia [12] Ioane, a quem do peito o esforço creçe,
Ainda confiados, se ajuntauão Como a Sansam Hebreo da guedelha,
Da cabeça de toda Andaluzia, Posto que tudo pouco lhe pareçe
Que do Goadalquibir as agoas lauão, Cos poucos de seu Reino se aparelha,
A nobre Ilha tambem se apercebia, E não porque conselho lhe faleçe,
Que antigamente os Tirios habitauão: Cos principaes senhores se aconselha:
Trazendo por insignias verdadeiras Mas so por ver das gentes as sentenças,
As Herculeas colunas nas bandeiras. Que sempre ouue entre muitos diferenças.

[10] Tambem vem la do Reino de Toledo, [13] Não falta com razões quem desconcerte,
Cidade nobre e antiga, a quem cercando Da opinião de todos, na vontade,
O Tejo em torno vay suaue e ledo, Em quem o esforço antigo se conuerte,
Que das serras de Conca vem manando: Em desusada e ma deslealdade,
A vos outros tambem não tolhe o medo, Podendo o temor mais, gelado, inerte
O sordidos Galegos, duro bando, Que a propria e natural fidelidade,
Que pera resistirdes, vos armastes, Negão o Rei e a patria, e se conuem
Aaquelles, cujos golpes já prouastes. Negarão (como Pedro) o Deos que tem.

[11] Tambem mouem da guerra as negras furias, [14] Mas nunca foy que este erro se sentisse,
A gente Bizcainha, que careçe No forte dom Nuno aluerez: mas antes
De polidas razões, e que as injurias Posto que em seus Irmãos tão claro o visse,
Muito mal dos estranhos compadeçe: Reprouando as vontades incostantes:
A terra de Guipuscua, e das Asturias A aquellas duuidosas gentes disse,
Que com minas de ferro se ennobreçe, Com palauras mais duras que elegantes,
Armou delle, os soberbos matadores, A mão na espada irado, e não facundo,
Pera ajudar na guerra a seus senhores. Ameaçando a terra, o mar, e o mundo:
Ioane Como
[63v] [64r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 64

[9] Os Vandalos, na antiga valentia [12] Ioane, a quem do peito o esforço creçe,
Ainda confiados, se ajuntauão Como a Sansam Hebreo da guedelha,
Da cabeça de toda Andaluzia, Posto que tudo pouco lhe pareçe
Que do Goadalquibir as agoas lauão, Cos poucos de seu Reino se aparelha,
A nobre Ilha tambem se apercebia, E não porque conselho lhe faleçe,
Que antigamente os Tirios habitauão: Cos principaes senhores se aconselha:
Trazendo por insignias verdadeiras Mas so por ver das gentes as sentenças,
As Herculeas colunas nas bandeiras. Que sempre ouue entre muitos diferenças.

[10] Tambem vem la do Reino de Toledo, [13] Não falta com razões quem desconcerte,
Cidade nobre e antiga, a quem cercando Da opinião de todos, na vontade,
O Tejo em torno vay suaue e ledo, Em quem o esforço antigo se conuerte,
Que das serras de Conca vem manando: Em desusada e ma deslealdade,
A vos outros tambem não tolhe o medo, Podendo o temor mais, gelado, inerte
O sordidos Galegos, duro bando, Que a propria e natural fidelidade,
Que pera resistirdes, vos armastes, Negão o Rei e a patria, e se conuem
Aaquelles, cujos golpes já prouastes. Negarão (como Pedro) o Deos que tem.

[11] Tambem mouem da guerra as negras furias, [14] Mas nunca foy que este erro se sentisse,
A gente Bizcainha, que careçe No forte dom Nuno aluerez: mas antes
De polidas razões, e que as injurias Posto que em seus Irmãos tão claro o visse,
Muito mal dos estranhos compadeçe: Reprouando as vontades incostantes:
A terra de Guipuscua, e das Asturias A aquellas duuidosas gentes disse,
Que com minas de ferro se ennobreçe, Com palauras mais duras que elegantes,
Armou delle, os soberbos matadores, A mão na espada irado, e não facundo,
Pera ajudar na guerra a seus senhores. Ameaçando a terra, o mar, e o mundo:
Ioane Como
[64v] [65r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 65

[15] Como da gente illustre Portuguesa, [18] Rei tendes tal, que se o valor tiuerdes
Ha de auer quem refuse o patrio Marte? Igual ao Rei que agora aleuantastes,
Como, desta prouincia que princesa Desbaratareis tudo o que quiserdes,
Foy das gentes na guerra em toda parte, Quanto mais a quem ja desbaratastes:
Ha de sair quem negue ter defesa, E se com isto em fim vos não mouerdes,
Quem negue a Fe, o amor, o esforço e arte Do penetrante medo que tomastes,
De Portugues, e por nenhum respeito Atay as mãos a vosso vão receio,
O proprio Reino queira ver sogeito? Que eu so resistirey ao jugo alheio.

[16] Como, não sois vos inda os descendentes [19] Eu so com meus vassalos, e com esta,
Daquelles, que debaixo da bandeira, (E dizendo isto arranca mea espada)
Do grande Enriquez, feros e valentes Defenderey da força dura, e infesta
Vencestes esta gente tam guerreira? A terra nunca de outrem sojugada,
Quando tantas bandeiras, tantas gentes Em virtude do Rei, da patria mesta,
Poseram em fugida, de maneira, Da lealdade ja por vos negada,
Que sete illustres Condes lhe trouxerão Vencerey (não so estes aduersarios:)
Presos, afora a presa que tiuerão? Mas quantos a meu Rei forem contrarios.

[17] Com quem forão contino sopeados [20] Bem como entre os mançebos recolhidos,
Estes, de quem o estais agora vos, Em Camisio, reliquias sos de Canas,
Por Dinis e seu filho, sublimados Ia pera se entregar quasi mouidos
Se não cos vossos fortes pais e auôs? A fortuna das forças Affricanas:
Pois se com seus descuidos, ou peccados, Cornelio moço os faz, que compelidos
Fernando em tal fraqueza assi vos pos, Da sua espada jurem, que as Romanas
Torne vos vossas forças o Rei nouo, Armas, nam deixarão em quanto a vida
Se he certo que co Rei se muda o pouo. Os nam deixar, ou nellas for perdida.
Rei I Destarte
[64v] [65r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO TERCEIRO. 65

[15] Como da gente illustre Portuguesa, [18] Rei tendes tal, que se o valor tiuerdes
Ha de auer quem refuse o patrio Marte? Igual ao Rei que agora aleuantastes,
Como, desta prouincia que princesa Desbaratareis tudo o que quiserdes,
Foy das gentes na guerra em toda parte, Quanto mais a quem ja desbaratastes:
Ha de sair quem negue ter defesa, E se com isto em fim vos não mouerdes,
Quem negue a Fe, o amor, o esforço e arte Do penetrante medo que tomastes,
De Portugues, e por nenhum respeito Atay as mãos a vosso vão receio,
O proprio Reino queira ver sogeito? Que eu so resistirey ao jugo alheio.

[16] Como, não sois vos inda os descendentes [19] Eu so com meus vassalos, e com esta,
Daquelles, que debaixo da bandeira, (E dizendo isto arranca mea espada)
Do grande Enriquez, feros e valentes Defenderey da força dura, e infesta
Vencestes esta gente tam guerreira? A terra nunca de outrem sojugada,
Quando tantas bandeiras, tantas gentes Em virtude do Rei, da patria mesta,
Poseram em fugida, de maneira, Da lealdade ja por vos negada,
Que sete illustres Condes lhe trouxerão Vencerey (não so estes aduersarios:)
Presos, afora a presa que tiuerão? Mas quantos a meu Rei forem contrarios.

[17] Com quem forão contino sopeados [20] Bem como entre os mançebos recolhidos,
Estes, de quem o estais agora vos, Em Camisio, reliquias sos de Canas,
Por Dinis e seu filho, sublimados Ia pera se entregar quasi mouidos
Se não cos vossos fortes pais e auôs? A fortuna das forças Affricanas:
Pois se com seus descuidos, ou peccados, Cornelio moço os faz, que compelidos
Fernando em tal fraqueza assi vos pos, Da sua espada jurem, que as Romanas
Torne vos vossas forças o Rei nouo, Armas, nam deixarão em quanto a vida
Se he certo que co Rei se muda o pouo. Os nam deixar, ou nellas for perdida.
Rei I Destarte
[65v] [66r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 66

[21] Destarte a gente força, e esforça Nuno, [24] Dom Nuno Alueres digo, verdadeiro
Que com lhe ouuir as vltimas razões Açoute de soberbos Castelhanos,
Remouem o temor frio importuno, Como ja o fero Huno o foy primeiro
Que gelados lhe tinha os corações: Pera Franceses, pera Italianos,
Nos animais caualgão de Neptuno, Outro tambem famoso caualleiro,
Brandindo, e volteando arremessoẽs, Que a ala dereita tem dos Lusitanos,
Vão correndo e gritando a boca aberta, Apto pera mandalos, e regelos,
Viua o famoso Rei que nos liberta. Men Rodriguez se diz de Vasconcelos.

[22] Das gentes populares, hũs aprouão [25] E da outra ala que a esta corresponde,
A guerra com que a patria se sostinha, Antão vazquez de Almada he Capitão,
Hũs as armas alimpão e renouão, Que despois foy de Abranches nobre Conde,
Que a ferrugem da paz gastadas tinha: Das gentes vay regendo a sestra mão,
Capaçetes estofam, peitos prouão, Logo não retagoarda não se esconde,
Armase cada hum como conuinha. Das quinas e castellos o pendão,
Outros fazem vestidos de mil cores, Com Ioanne Rey forte em toda parte,
Com letras e tenções de seus amores. Que escurecendo o preço vay de Marte.

[23] Com toda esta lustrosa companhia, [26] Estauão pelos muros temerosas,
Ioanne forte sae da fresca Abrantes, E de hum alegre medo quasi frias,
Abrantes, que tambem da fonte fria Rezando as mais, irmãs, damas, e esposas
Do Tejo logra as agoas abundantes: Prometendo jejũs, e romarias:
Os primeiros armigeros regia, Ia chegão as esquadras bellicosas,
Quem pera reger era os muy possantes, Defronte das imigas companhias,
Orientais exercitos, sem conto, Que com grita grandissima os recebem,
Com que passaua Xerxes o Helesponto: E todas grande duuida concebem.
Dom I2 Recebem
[65v] [66r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 66

[21] Destarte a gente força, e esforça Nuno, [24] Dom Nuno Alueres digo, verdadeiro
Que com lhe ouuir as vltimas razões Açoute de soberbos Castelhanos,
Remouem o temor frio importuno, Como ja o fero Huno o foy primeiro
Que gelados lhe tinha os corações: Pera Franceses, pera Italianos,
Nos animais caualgão de Neptuno, Outro tambem famoso caualleiro,
Brandindo, e volteando arremessoẽs, Que a ala dereita tem dos Lusitanos,
Vão correndo e gritando a boca aberta, Apto pera mandalos, e regelos,
Viua o famoso Rei que nos liberta. Men Rodriguez se diz de Vasconcelos.

[22] Das gentes populares, hũs aprouão [25] E da outra ala que a esta corresponde,
A guerra com que a patria se sostinha, Antão vazquez de Almada he Capitão,
Hũs as armas alimpão e renouão, Que despois foy de Abranches nobre Conde,
Que a ferrugem da paz gastadas tinha: Das gentes vay regendo a sestra mão,
Capaçetes estofam, peitos prouão, Logo não retagoarda não se esconde,
Armase cada hum como conuinha. Das quinas e castellos o pendão,
Outros fazem vestidos de mil cores, Com Ioanne Rey forte em toda parte,
Com letras e tenções de seus amores. Que escurecendo o preço vay de Marte.

[23] Com toda esta lustrosa companhia, [26] Estauão pelos muros temerosas,
Ioanne forte sae da fresca Abrantes, E de hum alegre medo quasi frias,
Abrantes, que tambem da fonte fria Rezando as mais, irmãs, damas, e esposas
Do Tejo logra as agoas abundantes: Prometendo jejũs, e romarias:
Os primeiros armigeros regia, Ia chegão as esquadras bellicosas,
Quem pera reger era os muy possantes, Defronte das imigas companhias,
Orientais exercitos, sem conto, Que com grita grandissima os recebem,
Com que passaua Xerxes o Helesponto: E todas grande duuida concebem.
Dom I2 Recebem
[66v] [67r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 67

[27] Respondem as trombetas mensageiras, [30] Começase a trauar a incerta guerra,


Pifaros sibilantes, e atambores, De ambas partes se moue a primeira ala,
Alferezes volteão as bandeiras, Hũs leua a defensam da propria terra,
Que variadas sam de muitas cores: Outros as esperanças de ganhala:
Era no seco tempo, que nas eiras Logo o grande Pereira em quem se encerra
Ceres o fructo deixa aos lauradores, Todo o valor, primeiro se assinala
Entra em Astrea o Sol, no mes de Agosto, Derriba, e encontra, e a terra ẽ fim semea
Baco das vuas tira o doçe mosto. Dos que a tanto desejão, sendo alhea.

[28] Deu sinal a trombeta Castelhana, [31] Ia pelo espesso ar, os estridentes
Horrendo, fero, ingente, e temeroso, Farpões, setas, e varios tiros voão,
Ouuiu o o monte Artabro, e Guadiana, Debaxo dos pês duros dos ardentes
Atras tornou as ondas de medroso: Cauallos, treme a terra, os vales soão:
Ouuio o Douro, e a terra Transtagana, Espedação se as lanças, e as frequentes
Correo ao mar o Tejo duuidoso: Quedas, co as duras armas tudo atroão.
E as mãis que o som terribil escuitârão, Recreçem os immigos sobre a pouca
Aos peitos os filhinhos apertârão. Gente, do fero Nuno que os apouca.

[29] Quantos rostos ali se vem sem cor, [32] Eis ali seus yrmãos contra elle vão,
Que ao coração acode o sangue amigo, (Caso feo e cruel:) mas não se espanta,
Que nos perigos grandes, o temor, Que menos he querer matar o yrmão,
He mayor muitas vezes que o perigo, Quem contra o Rei e a patria se aleuanta:
E se o não he, pareçeo, que o furor Destes arrenegados muitos sam,
De offender, ou vencer o duro immigo, No primeiro esquadrão, que se adianta,
Faz não sentir, que he perda grande e rara Contra yrmãos e parentes (caso estranho)
Dos membros corporais da vida cara. Quaes nas guerras Ciuis de Iulio Magno.
Começase I3 O tu
[66v] [67r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 67

[27] Respondem as trombetas mensageiras, [30] Começase a trauar a incerta guerra,


Pifaros sibilantes, e atambores, De ambas partes se moue a primeira ala,
Alferezes volteão as bandeiras, Hũs leua a defensam da propria terra,
Que variadas sam de muitas cores: Outros as esperanças de ganhala:
Era no seco tempo, que nas eiras Logo o grande Pereira em quem se encerra
Ceres o fructo deixa aos lauradores, Todo o valor, primeiro se assinala
Entra em Astrea o Sol, no mes de Agosto, Derriba, e encontra, e a terra ẽ fim semea
Baco das vuas tira o doçe mosto. Dos que a tanto desejão, sendo alhea.

[28] Deu sinal a trombeta Castelhana, [31] Ia pelo espesso ar, os estridentes
Horrendo, fero, ingente, e temeroso, Farpões, setas, e varios tiros voão,
Ouuiu o o monte Artabro, e Guadiana, Debaxo dos pês duros dos ardentes
Atras tornou as ondas de medroso: Cauallos, treme a terra, os vales soão:
Ouuio o Douro, e a terra Transtagana, Espedação se as lanças, e as frequentes
Correo ao mar o Tejo duuidoso: Quedas, co as duras armas tudo atroão.
E as mãis que o som terribil escuitârão, Recreçem os immigos sobre a pouca
Aos peitos os filhinhos apertârão. Gente, do fero Nuno que os apouca.

[29] Quantos rostos ali se vem sem cor, [32] Eis ali seus yrmãos contra elle vão,
Que ao coração acode o sangue amigo, (Caso feo e cruel:) mas não se espanta,
Que nos perigos grandes, o temor, Que menos he querer matar o yrmão,
He mayor muitas vezes que o perigo, Quem contra o Rei e a patria se aleuanta:
E se o não he, pareçeo, que o furor Destes arrenegados muitos sam,
De offender, ou vencer o duro immigo, No primeiro esquadrão, que se adianta,
Faz não sentir, que he perda grande e rara Contra yrmãos e parentes (caso estranho)
Dos membros corporais da vida cara. Quaes nas guerras Ciuis de Iulio Magno.
Começase I3 O tu
[67v] [68r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 68

[33] O tu Sertorio, o nobre Coriolano [36] Sentio Ioane a afronta que passaua
Catilina, e vos outros dos antigos, Nuno, que como sabio capitão,
Que contra vossas patrias, com profano Tudo corria, e via, e a todos daua
Coração, vos fizestes inimigos: Com presença e palauras coração:
Se lâ no reino escuro de Sumano Qual parida Lioa fera e braua
Receberdes grauissimos castigos Que os filhos que no ninho sôs estão
Dizeilhe que tambem dos Portugueses Sentio, que em quanto pasto lhe buscara,
Algũs tredores ouue algũas vezes. O pastor de Massilia lhos furtara.

[34] Rompem se aqui dos nossos os primeiros, [37] Corre raiuosa, e freme, e com bramidos
Tantos dos inimigos a elles vão: Os montes sete Irmãos atroa e abala,
Esta ali Nuno, qual pellos outeiros Tal Ioane com outros escolhidos
De Ceita estâ o fortissimo lião Dos seus, correndo acode aa primeira ala:
Que cercado se ve dos caualleiros O fortes companheiros, o subidos
Que os campos vão correr de Tutuão, Caualeyros, a quem nenhum se ygoala,
Perseguem no com as lanças, e elle iroso Defendey vossas terras que a esperança
Toruado hũ pouco estâ, mas não medroso. Da liberdade, estâ na vossa lança.

[35] Com torua vista os vê, mas a natura [38] Vedes me aqui, Rey vosso, e companheiro
Ferina, e a yra não lhe compadecem Que entre as lanças e sêtas, e os arneses
Que as costas dê, mas antes na espessura Dos inimigos corro, e vou primeiro
Das lanças se arremessa, que recrecem: Pelejay verdadeiros Portugueses:
Tal està o caualeiro que a verdura Isto disse o magnanimo guerreyro
Tinge co sangue alheyo, ali perecem E sopesando a lança quatro vezes,
Algũs dos seus, que o animo valente Com força tira e deste vnico tiro
Perde a virtude contra tanta gente. Muytos lançarão o vltimo sospiro,
Sentio I4 Porque
[67v] [68r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 68

[33] O tu Sertorio, o nobre Coriolano [36] Sentio Ioane a afronta que passaua
Catilina, e vos outros dos antigos, Nuno, que como sabio capitão,
Que contra vossas patrias, com profano Tudo corria, e via, e a todos daua
Coração, vos fizestes inimigos: Com presença e palauras coração:
Se lâ no reino escuro de Sumano Qual parida Lioa fera e braua
Receberdes grauissimos castigos Que os filhos que no ninho sôs estão
Dizeilhe que tambem dos Portugueses Sentio, que em quanto pasto lhe buscara,
Algũs tredores ouue algũas vezes. O pastor de Massilia lhos furtara.

[34] Rompem se aqui dos nossos os primeiros, [37] Corre raiuosa, e freme, e com bramidos
Tantos dos inimigos a elles vão: Os montes sete Irmãos atroa e abala,
Esta ali Nuno, qual pellos outeiros Tal Ioane com outros escolhidos
De Ceita estâ o fortissimo lião Dos seus, correndo acode aa primeira ala:
Que cercado se ve dos caualleiros O fortes companheiros, o subidos
Que os campos vão correr de Tutuão, Caualeyros, a quem nenhum se ygoala,
Perseguem no com as lanças, e elle iroso Defendey vossas terras que a esperança
Toruado hũ pouco estâ, mas não medroso. Da liberdade, estâ na vossa lança.

[35] Com torua vista os vê, mas a natura [38] Vedes me aqui, Rey vosso, e companheiro
Ferina, e a yra não lhe compadecem Que entre as lanças e sêtas, e os arneses
Que as costas dê, mas antes na espessura Dos inimigos corro, e vou primeiro
Das lanças se arremessa, que recrecem: Pelejay verdadeiros Portugueses:
Tal està o caualeiro que a verdura Isto disse o magnanimo guerreyro
Tinge co sangue alheyo, ali perecem E sopesando a lança quatro vezes,
Algũs dos seus, que o animo valente Com força tira e deste vnico tiro
Perde a virtude contra tanta gente. Muytos lançarão o vltimo sospiro,
Sentio I4 Porque
[68v] [69r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 72

[39] Porque eis os seus acesos nouamente [42] Aqui a fera batalha se encruece
Dhũa nobre vergonha e honroso fogo Com mortes, gritos, sangue e cutiladas
Sobre qual mais com animo valente, A multidão da gente que perece
Perigos vencerâ, do Marcio jogo Tem as flores da propria cor mudadas:
Porfião: tingeo ferro o fogo ardente Ia as costas dão e as vidas: ja falece
Rompem malhas primeiro, e peitos logo O furor, e sobejão as lançadas,
Assi recebem junto e dão feridas Ia de Castella o Rey desbaratado
Como a quem ja não doe perder as vidas. Se vee, e de seu proposito mudado.

[40] A muitos mandão ver o Estigio lago [43] O campo vay deixando ao vencedor
Em cujo corpo a morte, e o ferro entraua: Contente de lhe não deixar a vida
O Mestre morre ali de Sanctiago Seguẽ no os que ficarão, e o temor
Que fortissimamente pelejaua Lhe da não pês, mas asas aa fugida:
Morre tambem, fazendo grande estrago Encobrem no profundo peito a dor
Outro Mestre cruel de Calatraua Da morte, da fazenda despendida,
Os Pereiras tambem arrenegados Da magoa, da desonra, e triste nojo
Morrem, arrenegando o Ceo e os fados. De ver outrem triumphar de seu despojo.

[41] Muitos tambem do vulgo vil sem nome [44] Algũs vão maldizendo e blasfemando
Vão, e tambem dos nobres ao profundo Do primeyro que guerra fez no mundo
Onde o Trifauce Cão perpetua fome Outros a sede dura vão culpando
Tem, das almas que passão deste mundo Do peito cobiçoso e sitibundo:
E porque mais aqui se amanse e dome Que por tomar o alheo, o miserando
A soberba do imigo furibundo, Pouo auentura aas penas do profundo
A sublime bandeira Castelhana Deixando tantas mãis, tantas esposas
Foy derribada os pês da Lusitana. Sem filhos, sem maridos desditosas.
Aqui Ho
[68v] [69r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 72

[39] Porque eis os seus acesos nouamente [42] Aqui a fera batalha se encruece
Dhũa nobre vergonha e honroso fogo Com mortes, gritos, sangue e cutiladas
Sobre qual mais com animo valente, A multidão da gente que perece
Perigos vencerâ, do Marcio jogo Tem as flores da propria cor mudadas:
Porfião: tingeo ferro o fogo ardente Ia as costas dão e as vidas: ja falece
Rompem malhas primeiro, e peitos logo O furor, e sobejão as lançadas,
Assi recebem junto e dão feridas Ia de Castella o Rey desbaratado
Como a quem ja não doe perder as vidas. Se vee, e de seu proposito mudado.

[40] A muitos mandão ver o Estigio lago [43] O campo vay deixando ao vencedor
Em cujo corpo a morte, e o ferro entraua: Contente de lhe não deixar a vida
O Mestre morre ali de Sanctiago Seguẽ no os que ficarão, e o temor
Que fortissimamente pelejaua Lhe da não pês, mas asas aa fugida:
Morre tambem, fazendo grande estrago Encobrem no profundo peito a dor
Outro Mestre cruel de Calatraua Da morte, da fazenda despendida,
Os Pereiras tambem arrenegados Da magoa, da desonra, e triste nojo
Morrem, arrenegando o Ceo e os fados. De ver outrem triumphar de seu despojo.

[41] Muitos tambem do vulgo vil sem nome [44] Algũs vão maldizendo e blasfemando
Vão, e tambem dos nobres ao profundo Do primeyro que guerra fez no mundo
Onde o Trifauce Cão perpetua fome Outros a sede dura vão culpando
Tem, das almas que passão deste mundo Do peito cobiçoso e sitibundo:
E porque mais aqui se amanse e dome Que por tomar o alheo, o miserando
A soberba do imigo furibundo, Pouo auentura aas penas do profundo
A sublime bandeira Castelhana Deixando tantas mãis, tantas esposas
Foy derribada os pês da Lusitana. Sem filhos, sem maridos desditosas.
Aqui Ho
[69v] [70r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 70

[45] O vencedor Ioanne esteue os dias [48] Não sofre o peito forte vsado aa guerra
Costumados no campo, em grande gloria Não ter imigo ja a quem faça dano,
Com offertas despois, e romarias E assi não tendo a quem vencer na terra
As graças deu a quem lhe deu victoria: Vay cometer as ondas do Occeano:
Mas Nuno que não quer por outras vias, Este he o primeiro Rey que se desterra
Entre as gentes deixar de si memoria Da patria, por fazer que o Africano,
Se não por armas sempre soberanas Conheça pollas armas, quanto excede
Pera as terras se passa Trãstaganas. A ley de Christo aa ley de Mafamede.

[46] Ajudao seu destino de maneira [49] Eis mil nadantes aues pello argento
Que fez igoal o effeito ao pensamento, Da furiosa Tetis inquieta,
Porque a terra dos Vandalos fronteira Abrindo as pandas asas vão ao vento
Lhe concede o despojo e o vencimento Pera onde Alcides pos a extrema meta:
Ia de Siuilha a Betica bandeira O monte Abila, e o nobre fundamento
E de varios senhores nũ momento De Ceita toma, e o torpe Mahometa
Se lhe derriba aos pês sem ter defesa Deita fora, e segura toda Espanha
Obrigados da força Portuguesa. Da Iuliana, mâ, e desleal manha.

[47] Destas e outras victorias longamente [50] Não consentio a morte tantos annos
Erão os Castelhanos opprimidos Que de Heroe tão ditoso se lograsse
Quando a paz desejada ja da gente Portugal, mas os coros soberanos
Derão os vencedores aos vencidos: Do ceo supremo, quis que pouoasse:
Despois que quis o Padre omnipotente Mas pera defensam dos Lusitanos
Dar os Reis inimigos por maridos Deixou quem o leuou, quem gouernasse,
Aas duas Illustrissimas Inglesas E aumentasse a terra mais que dantes
Gentis, fermosas, inclitas princesas. Inclita gêração, altos Infantes.
Não Não
[69v] [70r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 70

[45] O vencedor Ioanne esteue os dias [48] Não sofre o peito forte vsado aa guerra
Costumados no campo, em grande gloria Não ter imigo ja a quem faça dano,
Com offertas despois, e romarias E assi não tendo a quem vencer na terra
As graças deu a quem lhe deu victoria: Vay cometer as ondas do Occeano:
Mas Nuno que não quer por outras vias, Este he o primeiro Rey que se desterra
Entre as gentes deixar de si memoria Da patria, por fazer que o Africano,
Se não por armas sempre soberanas Conheça pollas armas, quanto excede
Pera as terras se passa Trãstaganas. A ley de Christo aa ley de Mafamede.

[46] Ajudao seu destino de maneira [49] Eis mil nadantes aues pello argento
Que fez igoal o effeito ao pensamento, Da furiosa Tetis inquieta,
Porque a terra dos Vandalos fronteira Abrindo as pandas asas vão ao vento
Lhe concede o despojo e o vencimento Pera onde Alcides pos a extrema meta:
Ia de Siuilha a Betica bandeira O monte Abila, e o nobre fundamento
E de varios senhores nũ momento De Ceita toma, e o torpe Mahometa
Se lhe derriba aos pês sem ter defesa Deita fora, e segura toda Espanha
Obrigados da força Portuguesa. Da Iuliana, mâ, e desleal manha.

[47] Destas e outras victorias longamente [50] Não consentio a morte tantos annos
Erão os Castelhanos opprimidos Que de Heroe tão ditoso se lograsse
Quando a paz desejada ja da gente Portugal, mas os coros soberanos
Derão os vencedores aos vencidos: Do ceo supremo, quis que pouoasse:
Despois que quis o Padre omnipotente Mas pera defensam dos Lusitanos
Dar os Reis inimigos por maridos Deixou quem o leuou, quem gouernasse,
Aas duas Illustrissimas Inglesas E aumentasse a terra mais que dantes
Gentis, fermosas, inclitas princesas. Inclita gêração, altos Infantes.
Não Não
[70v] [71r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 71

[51] Não foy do Rey Duarte tão ditoso [54] Mas Affonso do Reino vnico herdeiro,
O tempo que ficou na summa alteza, Nome em armas ditoso, em nossa Hesperia,
Que assi vay alternando o tempo iroso Que a soberba do barbaro fronteiro,
O bem co mal, o gosto co a tristeza: Tornou em baxa e humilima miseria,
Quem vio sempre hum estado deleitoso? Fora por certo inuicto caualleiro,
Ou quem vio em fortuna auer firmeza? Se não quisera yr ver a terra Iberia:
Pois inda neste Reino, e neste Rey Mas Affrica dira ser impossibil,
Não vsou ella tanto desta ley. Poder ninguem vencer o Rei terribil.

[52] Vio ser captiuo o sancto irmão Fernando [55] Este pode colher as maçãs de ouro,
Que a tão altas empresas aspiraua Que somente o Terintio colher pode,
Que por saluar o pouo miserando Do jugo que lhe pos o brauo Mouro,
Cercado, ao Sarraceno sentregaua: A ceruiz inda agora nam sacode:
Sô por amor da patria estâ passando Na fronte a palma leua, e o verde louro,
A vida de senhora feyta escraua, Das victorias do barbaro, que acode
Por não se dar por elle ha forte Ceita A defender Alcaçer forte villa,
Mais o pubrico bem que o seu respeita. Tangere populoso, e a dura Arzilla.

[53] Codro porque o inimigo não vencesse, [56] Porem ellas em fim por força entradas,
Deixou antes vencer da morte a vida, Os muros abaxarão de Diamante,
Regulo porque a patria não perdesse, Aas Portuguesas forças costumadas,
Quis mais a liberdade ver perdida: A derribarem quanto achão diante,
Este porque se Espanha não temesse Marauilhas em armas estremadas,
A captiueiro eterno se conuida: E de escriptura dinas elegante,
Codro, nem Curcio, ouuido por espanto Fizerão caualleiros nesta empresa
Nemos Decios leais fizerão tanto. Mais, affinando a fama Portuguesa.
Mas Porem
[70v] [71r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 71

[51] Não foy do Rey Duarte tão ditoso [54] Mas Affonso do Reino vnico herdeiro,
O tempo que ficou na summa alteza, Nome em armas ditoso, em nossa Hesperia,
Que assi vay alternando o tempo iroso Que a soberba do barbaro fronteiro,
O bem co mal, o gosto co a tristeza: Tornou em baxa e humilima miseria,
Quem vio sempre hum estado deleitoso? Fora por certo inuicto caualleiro,
Ou quem vio em fortuna auer firmeza? Se não quisera yr ver a terra Iberia:
Pois inda neste Reino, e neste Rey Mas Affrica dira ser impossibil,
Não vsou ella tanto desta ley. Poder ninguem vencer o Rei terribil.

[52] Vio ser captiuo o sancto irmão Fernando [55] Este pode colher as maçãs de ouro,
Que a tão altas empresas aspiraua Que somente o Terintio colher pode,
Que por saluar o pouo miserando Do jugo que lhe pos o brauo Mouro,
Cercado, ao Sarraceno sentregaua: A ceruiz inda agora nam sacode:
Sô por amor da patria estâ passando Na fronte a palma leua, e o verde louro,
A vida de senhora feyta escraua, Das victorias do barbaro, que acode
Por não se dar por elle ha forte Ceita A defender Alcaçer forte villa,
Mais o pubrico bem que o seu respeita. Tangere populoso, e a dura Arzilla.

[53] Codro porque o inimigo não vencesse, [56] Porem ellas em fim por força entradas,
Deixou antes vencer da morte a vida, Os muros abaxarão de Diamante,
Regulo porque a patria não perdesse, Aas Portuguesas forças costumadas,
Quis mais a liberdade ver perdida: A derribarem quanto achão diante,
Este porque se Espanha não temesse Marauilhas em armas estremadas,
A captiueiro eterno se conuida: E de escriptura dinas elegante,
Codro, nem Curcio, ouuido por espanto Fizerão caualleiros nesta empresa
Nemos Decios leais fizerão tanto. Mais, affinando a fama Portuguesa.
Mas Porem
[71v] [72r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 72

[57] Porem despois tocado de ambição, [60] Porem despois que a escura noite eterna,
E gloria de mandar amara e bella, Affonso apousentou no Ceo sereno,
Vay cometer Fernando de Aragão, O Principe que o Reino então gouerna,
Sobre o potente Reino de Castella, Foy Ioanne segundo, e Rei terzeno:
Ajuntase a inimiga multidão, Este por auer fama sempiterna,
Das soberbas e varias gentes della, Mais do que tentar pode homem terreno
Desde Caliz ao alto Perineo, Tentou, que foy buscar da roxa Aurora
Que tudo ao Rei Fernando obedeceo. Os terminos, que eu vou buscando agora.

[58] Não quis ficar nos Reinos occioso, [61] Manda seus mensageiros que passarão
O mancebo Ioanne, e logo ordena Espanha, França, Italia celebrada,
De ir ajudar o pay ambicioso, E la no illustre porto se embarcârão,
Que então lhe foy ajuda não pequena, Onde ja foy Partenope enterrada,
Saiose em fim do trançe perigoso, Napoles onde os fados se mostrârão,
Com fronte não toruada, mas serena Fazendoa a varias gentes subjugada,
Desbaratado o pay sanguinolento: Pola illustrar no fim de tantos annos,
Mas ficou duuidoso o vencimento. Co senhorio de inclitos Hispanos.

[59] Porque o filho sublime e soberano, [62] Polo mar alto Siculo nauegão,
Gentil, forte, animoso caualleiro, Vão se aas praias de Rodes arenosas,
Nos contrarios fazendo imenso dano, E dali aas ribeiras altas chegão,
Todo hum dia ficou no campo inteiro: Que com morte de Magno sam famosas:
Desta arte foy vencido Octauiano, Vão a Menfis, e aas terras que se regão,
E Antonio vencedor seu companheiro, Das enchentes Niloticas vndosas,
Quando daquelles que Cesar matârão Sobem aa Ethiopia, sobre Egipto,
Nos Philipicos campos se vingârão. Que de Christo la guarda o sancto rito.
Porem Passam
[71v] [72r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 72

[57] Porem despois tocado de ambição, [60] Porem despois que a escura noite eterna,
E gloria de mandar amara e bella, Affonso apousentou no Ceo sereno,
Vay cometer Fernando de Aragão, O Principe que o Reino então gouerna,
Sobre o potente Reino de Castella, Foy Ioanne segundo, e Rei terzeno:
Ajuntase a inimiga multidão, Este por auer fama sempiterna,
Das soberbas e varias gentes della, Mais do que tentar pode homem terreno
Desde Caliz ao alto Perineo, Tentou, que foy buscar da roxa Aurora
Que tudo ao Rei Fernando obedeceo. Os terminos, que eu vou buscando agora.

[58] Não quis ficar nos Reinos occioso, [61] Manda seus mensageiros que passarão
O mancebo Ioanne, e logo ordena Espanha, França, Italia celebrada,
De ir ajudar o pay ambicioso, E la no illustre porto se embarcârão,
Que então lhe foy ajuda não pequena, Onde ja foy Partenope enterrada,
Saiose em fim do trançe perigoso, Napoles onde os fados se mostrârão,
Com fronte não toruada, mas serena Fazendoa a varias gentes subjugada,
Desbaratado o pay sanguinolento: Pola illustrar no fim de tantos annos,
Mas ficou duuidoso o vencimento. Co senhorio de inclitos Hispanos.

[59] Porque o filho sublime e soberano, [62] Polo mar alto Siculo nauegão,
Gentil, forte, animoso caualleiro, Vão se aas praias de Rodes arenosas,
Nos contrarios fazendo imenso dano, E dali aas ribeiras altas chegão,
Todo hum dia ficou no campo inteiro: Que com morte de Magno sam famosas:
Desta arte foy vencido Octauiano, Vão a Menfis, e aas terras que se regão,
E Antonio vencedor seu companheiro, Das enchentes Niloticas vndosas,
Quando daquelles que Cesar matârão Sobem aa Ethiopia, sobre Egipto,
Nos Philipicos campos se vingârão. Que de Christo la guarda o sancto rito.
Porem Passam
[72v] [73r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 73

[63] Passam tambem as ondas Eritreas, [66] Paresce que guardaua o claro Ceo
Que o pouo de Israel sem Nao passou, A Manoel, e seus merecimentos,
Ficão lhe atras as serras Nabateas, Esta empresa tão ardua, que o moueo
Que o filho de Ismael co nome ornou: A subidos e illustres mouimentos:
As costas odoriferas Sabeas, (Manoel, que a Ioane socedeo
Que a mãy do bello Adonis tanto honrou, No reino, e nos altiuos pensamentos)
Cercão, com toda a Arabia descuberta Logo como tomou do reino cargo
Feliz, deixando a Petrea, e a Deserta. Tomou mais a conquista do mar largo.

[64] Entrão no estreito Persico, onde dura [67] O qual, como do nobre pensamento
Da confusa Babel, inda a memoria, Daquella obrigação, que lhe ficâra
Ali co Tigre o Eufrates se mestura, De seus antepassados, (cujo intento,
Que as fontes onde nascem tem por gloria: Foy sempre acrecentar a terra chara)
Dali vão em demanda da agoa pura, Não deixasse de ser hum so momento
Que causa inda sera de larga historia Conquistado: No tempo que a luz clara
Do Indo, pellas ondas do Occeano, Foge, e as estrellas nitidas que saem
Onde nam se atreueo passar Trajano. A repouso conuidão, quando caem.

[65] Virão gentes incognitas, e estranhas [68] Estando ja deitado no aureo leito
Da India, da Carmania, e Gedrosia, Onde ymaginações mais certas sam,
Vendo varios costumes, varias manhas Reuoluendo contino no conceito
Que cada Região produze e cria: De seu officio, e sangue a obrigação,
Mas de vias tão asperas, tamanhas Os olhos lhe occupou o sonno acceito
Tornarse facilmente não podia, Sem lhe desoccupar o coração,
La morrerão em fim, e la ficârão. Porque tanto que lasso se adormece
Que aa desejada patria não tornârão. Morfeo en varias formas lhe aparece.
Parece K Aqui
[72v] [73r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 73

[63] Passam tambem as ondas Eritreas, [66] Paresce que guardaua o claro Ceo
Que o pouo de Israel sem Nao passou, A Manoel, e seus merecimentos,
Ficão lhe atras as serras Nabateas, Esta empresa tão ardua, que o moueo
Que o filho de Ismael co nome ornou: A subidos e illustres mouimentos:
As costas odoriferas Sabeas, (Manoel, que a Ioane socedeo
Que a mãy do bello Adonis tanto honrou, No reino, e nos altiuos pensamentos)
Cercão, com toda a Arabia descuberta Logo como tomou do reino cargo
Feliz, deixando a Petrea, e a Deserta. Tomou mais a conquista do mar largo.

[64] Entrão no estreito Persico, onde dura [67] O qual, como do nobre pensamento
Da confusa Babel, inda a memoria, Daquella obrigação, que lhe ficâra
Ali co Tigre o Eufrates se mestura, De seus antepassados, (cujo intento,
Que as fontes onde nascem tem por gloria: Foy sempre acrecentar a terra chara)
Dali vão em demanda da agoa pura, Não deixasse de ser hum so momento
Que causa inda sera de larga historia Conquistado: No tempo que a luz clara
Do Indo, pellas ondas do Occeano, Foge, e as estrellas nitidas que saem
Onde nam se atreueo passar Trajano. A repouso conuidão, quando caem.

[65] Virão gentes incognitas, e estranhas [68] Estando ja deitado no aureo leito
Da India, da Carmania, e Gedrosia, Onde ymaginações mais certas sam,
Vendo varios costumes, varias manhas Reuoluendo contino no conceito
Que cada Região produze e cria: De seu officio, e sangue a obrigação,
Mas de vias tão asperas, tamanhas Os olhos lhe occupou o sonno acceito
Tornarse facilmente não podia, Sem lhe desoccupar o coração,
La morrerão em fim, e la ficârão. Porque tanto que lasso se adormece
Que aa desejada patria não tornârão. Morfeo en varias formas lhe aparece.
Parece K Aqui
[73v] [74r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 74

[69] Aqui se lhe apresenta que subia [72] Dambos de dous a fronte coroada
Tão alto que tocaua aa prima Esphera, Ramos não conhecidos e eruas tinha,
Donde diante varios mundos via Hum delles a presença traz cansada
Nações de muita gente estranha, e fera: Como quem de mais longe ali caminha,
E laa bem junto donde nace o dia E assi a agoa com impito alterada
Despois que os olhos longos estendera, Parecia que doutra parte vinha,
Vio de antiguos longinquos e altos montes Bem como Alfeo de Arcadia em Syracusa
Nacerem duas claras e altas fontes. Vay buscar os abraços de Aretusa.

[70] Aues agrestes, feras e alimarias [73] Este que era o mais graue na pessoa
Pello monte seluatico habitauão, Destarte pera o Rey de longe brada,
Mil aruores syluestres e eruas varias O tu a cujos reinos e coroa
O passo e o trato aas gentes atalhauão: Grande parte do mundo esta guardada,
Estas duras montanhas aduersarias Nos outros, cuja fama tanto voa
De mais conuersação, por si mostrauão Cuja ceruiz bem nunca foy domada,
Que desque Adão peccou aos nossos annos Te auisamos que he tempo que ja mandes
Não as romperão nunca pês humanos. A receber de nos tributos grandes.

[71] Das agoas se lhe antolha que saião [74] Eu sou o illustre Ganges, que na terra
Parelle os largos passos inclinando, Celeste, tenho o berço verdadeiro,
Dous homẽs, que muy velhos parecião Estoutro he o Indo Rey, que nesta serra
De aspeito, inda que agreste, venerando: Que vês, seu nacimento tem primeiro:
Das pontas dos cabellos lhe saião Custartemos com tudo dura guerra,
Gotas, que o corpo todo vão banhando, Mas insistindo tu por derradeiro,
A cor da pelle baça e denegrida Com não vistas victorias, sem receyo
A barba hirsuta, intonsa, mas comprida. A quantas gentes vês poras o freyo.
Dambos K 2 Não
[73v] [74r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 74

[69] Aqui se lhe apresenta que subia [72] Dambos de dous a fronte coroada
Tão alto que tocaua aa prima Esphera, Ramos não conhecidos e eruas tinha,
Donde diante varios mundos via Hum delles a presença traz cansada
Nações de muita gente estranha, e fera: Como quem de mais longe ali caminha,
E laa bem junto donde nace o dia E assi a agoa com impito alterada
Despois que os olhos longos estendera, Parecia que doutra parte vinha,
Vio de antiguos longinquos e altos montes Bem como Alfeo de Arcadia em Syracusa
Nacerem duas claras e altas fontes. Vay buscar os abraços de Aretusa.

[70] Aues agrestes, feras e alimarias [73] Este que era o mais graue na pessoa
Pello monte seluatico habitauão, Destarte pera o Rey de longe brada,
Mil aruores syluestres e eruas varias O tu a cujos reinos e coroa
O passo e o trato aas gentes atalhauão: Grande parte do mundo esta guardada,
Estas duras montanhas aduersarias Nos outros, cuja fama tanto voa
De mais conuersação, por si mostrauão Cuja ceruiz bem nunca foy domada,
Que desque Adão peccou aos nossos annos Te auisamos que he tempo que ja mandes
Não as romperão nunca pês humanos. A receber de nos tributos grandes.

[71] Das agoas se lhe antolha que saião [74] Eu sou o illustre Ganges, que na terra
Parelle os largos passos inclinando, Celeste, tenho o berço verdadeiro,
Dous homẽs, que muy velhos parecião Estoutro he o Indo Rey, que nesta serra
De aspeito, inda que agreste, venerando: Que vês, seu nacimento tem primeiro:
Das pontas dos cabellos lhe saião Custartemos com tudo dura guerra,
Gotas, que o corpo todo vão banhando, Mas insistindo tu por derradeiro,
A cor da pelle baça e denegrida Com não vistas victorias, sem receyo
A barba hirsuta, intonsa, mas comprida. A quantas gentes vês poras o freyo.
Dambos K 2 Não
[74v] [75r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 75

[75] Não disse mais o rio Illustre e sancto, [78] E com rogo e palauras amorosas
Mas ambos desparecem num momento, Que he hũ mando nos Reis que a mais obriga,
Acorda Emanuel cum nouo espanto Me disse: As cousas arduas e lustrosas
E grande alteração de pensamento: Se alcanção com trabalho e com fadiga:
Estendeo nisto Febo o claro manto Faz as pessoas altas e famosas
Pello escuro Emisperio somnolento: A vida que se perde e que periga,
Veyo a menham no ceo pintando as côres Que quando ao medo infame não se rende
De pudibunda rosa e roxas flores. Então, se menos dura, mais se estende.

[76] Chama o Rei os senhores a conselho [79] Eu vos tenho entre todos escolhido
E propõe lhe as figuras da visam, Para hũa empresa qual a vos se deue,
As palauras lhe diz do sancto velho, Trabalho illustre, duro e esclarescido,
Que a todos forão grande admiração: O que eu sey que por mi vos sera leue:
Determinão o nautico aparelho Não sofri mais, mas logo: O Rey subido,
Pera que com sublime coração Auenturarme a ferro, a fogo, a neue,
Vaa a gente que mandar cortando os mares He tão pouco por vos, que mais me pena
A buscar nouos climas, nouos ares. Ser esta vida cousa tão pequena.

[77] Eu que bem mal cuidaua que em effeito [80] Imaginay tamanhas auenturas
Se posesse o que o peito me pedia, Quaes Euristeo a Alcides inuentaua,
Que sempre grandes cousas deste geito O lião Cleonêo, Arpias duras
Presago o coração me prometia: O porco de Erimanto, a Ydra braua:
Não sey porque razão, porque respeito, Decer em fim aas sombras vans e escuras
Ou porque bom sinal que em mi se via, Onde os campos de Dite a Estige laua,
Me poẽ o inclyto Rei nas mãos a chaue Porque a mayor perigo, a môr affronta
Deste cometimento grande, e graue. Por vos, o Rey, o esprito e carne he prõpta.
E com K 3 Com
[74v] [75r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 75

[75] Não disse mais o rio Illustre e sancto, [78] E com rogo e palauras amorosas
Mas ambos desparecem num momento, Que he hũ mando nos Reis que a mais obriga,
Acorda Emanuel cum nouo espanto Me disse: As cousas arduas e lustrosas
E grande alteração de pensamento: Se alcanção com trabalho e com fadiga:
Estendeo nisto Febo o claro manto Faz as pessoas altas e famosas
Pello escuro Emisperio somnolento: A vida que se perde e que periga,
Veyo a menham no ceo pintando as côres Que quando ao medo infame não se rende
De pudibunda rosa e roxas flores. Então, se menos dura, mais se estende.

[76] Chama o Rei os senhores a conselho [79] Eu vos tenho entre todos escolhido
E propõe lhe as figuras da visam, Para hũa empresa qual a vos se deue,
As palauras lhe diz do sancto velho, Trabalho illustre, duro e esclarescido,
Que a todos forão grande admiração: O que eu sey que por mi vos sera leue:
Determinão o nautico aparelho Não sofri mais, mas logo: O Rey subido,
Pera que com sublime coração Auenturarme a ferro, a fogo, a neue,
Vaa a gente que mandar cortando os mares He tão pouco por vos, que mais me pena
A buscar nouos climas, nouos ares. Ser esta vida cousa tão pequena.

[77] Eu que bem mal cuidaua que em effeito [80] Imaginay tamanhas auenturas
Se posesse o que o peito me pedia, Quaes Euristeo a Alcides inuentaua,
Que sempre grandes cousas deste geito O lião Cleonêo, Arpias duras
Presago o coração me prometia: O porco de Erimanto, a Ydra braua:
Não sey porque razão, porque respeito, Decer em fim aas sombras vans e escuras
Ou porque bom sinal que em mi se via, Onde os campos de Dite a Estige laua,
Me poẽ o inclyto Rei nas mãos a chaue Porque a mayor perigo, a môr affronta
Deste cometimento grande, e graue. Por vos, o Rey, o esprito e carne he prõpta.
E com K 3 Com
[75v] [76r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 76

[81] Com merces sumptuosas me ag ardece [84] E ja no porto da inclita Vlissea


E com razoẽs me louua esta vontade, Cum aluoroço nobre, e cum desejo,
Que a virtude louuada viue e crece, (Onde o licor mestura e branca area
E o louuor altos casos persuade: Co salgado Neptuno o doce Tejo:)
A acompanharme logo se offerece As naos prestes estão, e não refrea
Obrigado damor e damizade, Temor nenhum o iuuenil despejo,
Não menos cobiçoso de honra e fama, Porque a gente maritima e a de Marte
O charo meu Irmão Paulo da Gama. Estão pera seguirme a toda parte.

[82] Mais se me ajunta Nicolao Coelho [85] Pellas prayas vestidos os soldados
De trabalhos muy grande soffredor, De varias cores vem, e varias artes,
Ambos sam de valia e de conselho E não menos de esforço aparelhados
Dexperiencia em armas e furor: Pera buscar do mundo nouas partes:
Ia de manceba gente me aparelho Nas fortes naos os ventos sossegados
Em que crece o desejo do valer, Ondeão os aerios estandartes,
Todos de grande esforço, e assi parece Ellas prometem vendo os mares largos
Quem a tamanhas cousas se offerece. De ser no Olimpo estrellas como a de Argos.

[83] Forão de Emanoel remunerados, [86] Despois de aparelhados desta sorte


Porque com mais amor se apercebessem, De quanto tal viagem pede e manda,
E com palauras altas animados Aparelhamos a alma pera a morte
Pera quantos trabalhos soccedessem: Que sempre aos nautas ante os olhos anda:
Assi forão o Mynias ajuntados Pera o sumo poder que a Etherea corte
Pera que o veo dourado combatessem, Sostenta so coa vista veneranda,
Na Fatidiça nao, que ousou primeira Imploramos fauor que nos guiasse
Tentar o mar Euxinio, auentureira. E que nossos começos aspirasse.
E ja K 4 Parti-
[75v] [76r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 76

[81] Com merces sumptuosas me ag ardece [84] E ja no porto da inclita Vlissea


E com razoẽs me louua esta vontade, Cum aluoroço nobre, e cum desejo,
Que a virtude louuada viue e crece, (Onde o licor mestura e branca area
E o louuor altos casos persuade: Co salgado Neptuno o doce Tejo:)
A acompanharme logo se offerece As naos prestes estão, e não refrea
Obrigado damor e damizade, Temor nenhum o iuuenil despejo,
Não menos cobiçoso de honra e fama, Porque a gente maritima e a de Marte
O charo meu Irmão Paulo da Gama. Estão pera seguirme a toda parte.

[82] Mais se me ajunta Nicolao Coelho [85] Pellas prayas vestidos os soldados
De trabalhos muy grande soffredor, De varias cores vem, e varias artes,
Ambos sam de valia e de conselho E não menos de esforço aparelhados
Dexperiencia em armas e furor: Pera buscar do mundo nouas partes:
Ia de manceba gente me aparelho Nas fortes naos os ventos sossegados
Em que crece o desejo do valer, Ondeão os aerios estandartes,
Todos de grande esforço, e assi parece Ellas prometem vendo os mares largos
Quem a tamanhas cousas se offerece. De ser no Olimpo estrellas como a de Argos.

[83] Forão de Emanoel remunerados, [86] Despois de aparelhados desta sorte


Porque com mais amor se apercebessem, De quanto tal viagem pede e manda,
E com palauras altas animados Aparelhamos a alma pera a morte
Pera quantos trabalhos soccedessem: Que sempre aos nautas ante os olhos anda:
Assi forão o Mynias ajuntados Pera o sumo poder que a Etherea corte
Pera que o veo dourado combatessem, Sostenta so coa vista veneranda,
Na Fatidiça nao, que ousou primeira Imploramos fauor que nos guiasse
Tentar o mar Euxinio, auentureira. E que nossos começos aspirasse.
E ja K 4 Parti-
[76v] [77r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 77

[87] Partimonos assi do sancto templo [90] Qual vay dizendo: O filho a quem eu tinha
Que nas Prais do mar estâ assentado, So pera refrigerio, e doce emparo
Que o nome tem da terra, pera exemplo, Desta cansada ja velhice minha,
Donde Deos foy em carne ao mundo dado: Que em choro acabarâ, penoso e amaro:
Certifico te, o Rey, que se contemplo Porque me deixas, misera e mezquinha?
Como fuy destas prayas apartado, Porque de mi te vas, o filho charo
Cheyo dentro de duuida e receyo A fazer o funereo enterramento
Que apenas nos meus olhos ponho o freyo. Onde sejas de pexes mantimento?

[88] A gente da cidade aquelle dia [91] Qual em cabello: O doce e amado esposo
(Hũs por amigos, outros por parentes, Sem quem não quis amor que viuer possa,
Outros por ver somente) concorria Porque is auenturar ao mar iroso
Saudosos na vista e descontentes: Essa vida que he minha, e não he vossa?
E nos coa virtuosa companhia Como por hum caminho duuidoso
De mil religiosos diligentes, Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Em procissam solene a Deos orando Nosso amor, nosso vão contentamento
Pera os bateis viemos caminhando. Quereis que com as vellas leue o vento.

[89] Em tão longo caminho e duuidoso [92] Nestas e outras palauras que dizião
Por perdidos as gentes nos julgauão, De amor, e de piadosa humanidade,
As molheres cum choro piadoso, Os velhos e os mininos os seguião
Os homẽs com suspiros que arrancauão: Em quem menos esforço poẽ a ydade:
Mãis, Esposas, Irmãs, que o temeroso Os montes de mais perto respondião
Amor mais desconfia, acrecentauão Quasi mouidos de alta piedade,
A desesperação, e frio medo A branca area as lagrimas banhauão
De ja nos não tornar a ver tão cedo. Que em multidão co ellas se ygoalauão.
Qual Nos
[76v] [77r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 77

[87] Partimonos assi do sancto templo [90] Qual vay dizendo: O filho a quem eu tinha
Que nas Prais do mar estâ assentado, So pera refrigerio, e doce emparo
Que o nome tem da terra, pera exemplo, Desta cansada ja velhice minha,
Donde Deos foy em carne ao mundo dado: Que em choro acabarâ, penoso e amaro:
Certifico te, o Rey, que se contemplo Porque me deixas, misera e mezquinha?
Como fuy destas prayas apartado, Porque de mi te vas, o filho charo
Cheyo dentro de duuida e receyo A fazer o funereo enterramento
Que apenas nos meus olhos ponho o freyo. Onde sejas de pexes mantimento?

[88] A gente da cidade aquelle dia [91] Qual em cabello: O doce e amado esposo
(Hũs por amigos, outros por parentes, Sem quem não quis amor que viuer possa,
Outros por ver somente) concorria Porque is auenturar ao mar iroso
Saudosos na vista e descontentes: Essa vida que he minha, e não he vossa?
E nos coa virtuosa companhia Como por hum caminho duuidoso
De mil religiosos diligentes, Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Em procissam solene a Deos orando Nosso amor, nosso vão contentamento
Pera os bateis viemos caminhando. Quereis que com as vellas leue o vento.

[89] Em tão longo caminho e duuidoso [92] Nestas e outras palauras que dizião
Por perdidos as gentes nos julgauão, De amor, e de piadosa humanidade,
As molheres cum choro piadoso, Os velhos e os mininos os seguião
Os homẽs com suspiros que arrancauão: Em quem menos esforço poẽ a ydade:
Mãis, Esposas, Irmãs, que o temeroso Os montes de mais perto respondião
Amor mais desconfia, acrecentauão Quasi mouidos de alta piedade,
A desesperação, e frio medo A branca area as lagrimas banhauão
De ja nos não tornar a ver tão cedo. Que em multidão co ellas se ygoalauão.
Qual Nos
[77v] [78r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 78

[93] Nos outros sem a vista aleuantarmos [96] Dura inquietação dalma e da vida
Nem a Mãy, nem a Esposa, neste estado, Fonte de desemparos e adulterios,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos Sagaz consumidora conhecida
Do preposito firme começado: De fazendas, de reinos, e de imperios:
Determiney de assi nos embarcarmos Chamante illustre, chamante subida,
Sem o despedimento custumado, Sendo dina de infames vituperios,
Que posto que he de amor vsança boa Chamante Fama, e Gloria soberana,
Aquem se aparta, on fica, mais magoa. Nomes com quem se o pouo nescio engana.

[94] Mas hum velho daspeito venerando, [97] A que nouos desastres determinas
Que ficaua nas prayas, entre a gente, De leuar estes reynos e esta gente?
Postos em nos os olhos, meneando Que perigos, que mortes lhe destinas
Tres vezes a cabeça, descontente, Debaixo dalgum nome preminente?
A voz pesada hum pouco aleuantando, Que promessas de reynos, e de minas
Que nos no mar ouuimos claramente, Douro, que lhe faras tão facilmente?
Cum saber so dexperiencias feyto Que famas lhe prometeras, que historias?
Tais palauras tirou do experto peito. Que triumphos, que palmas, que victorias?

[95] O gloria de mandar, o vaã cubiça [98] Mas ô tu geração daquelle insano
Desta vaidade, a quem chamamos Fama, Cujo peccado e desobediencia,
O fraudolento gosto, que se atiça Não somente do reino soberano
Cũa aura popular, que honra se chama: Te pos neste desterro e triste ausencia:
Que castigo tamanho e que justiça Mas inda doutro estado mais que humano
fazes no peito vão que muito te ama, Da quieta e da simpres innocencia,
Que mortes, que perigos, que tormentas Idade douro, tanto te priuou
Que crueldades nelles esprimentas. Que na de ferro e darmas te deitou.
Dura Ia
[77v] [78r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO. 78

[93] Nos outros sem a vista aleuantarmos [96] Dura inquietação dalma e da vida
Nem a Mãy, nem a Esposa, neste estado, Fonte de desemparos e adulterios,
Por nos não magoarmos, ou mudarmos Sagaz consumidora conhecida
Do preposito firme começado: De fazendas, de reinos, e de imperios:
Determiney de assi nos embarcarmos Chamante illustre, chamante subida,
Sem o despedimento custumado, Sendo dina de infames vituperios,
Que posto que he de amor vsança boa Chamante Fama, e Gloria soberana,
Aquem se aparta, on fica, mais magoa. Nomes com quem se o pouo nescio engana.

[94] Mas hum velho daspeito venerando, [97] A que nouos desastres determinas
Que ficaua nas prayas, entre a gente, De leuar estes reynos e esta gente?
Postos em nos os olhos, meneando Que perigos, que mortes lhe destinas
Tres vezes a cabeça, descontente, Debaixo dalgum nome preminente?
A voz pesada hum pouco aleuantando, Que promessas de reynos, e de minas
Que nos no mar ouuimos claramente, Douro, que lhe faras tão facilmente?
Cum saber so dexperiencias feyto Que famas lhe prometeras, que historias?
Tais palauras tirou do experto peito. Que triumphos, que palmas, que victorias?

[95] O gloria de mandar, o vaã cubiça [98] Mas ô tu geração daquelle insano
Desta vaidade, a quem chamamos Fama, Cujo peccado e desobediencia,
O fraudolento gosto, que se atiça Não somente do reino soberano
Cũa aura popular, que honra se chama: Te pos neste desterro e triste ausencia:
Que castigo tamanho e que justiça Mas inda doutro estado mais que humano
fazes no peito vão que muito te ama, Da quieta e da simpres innocencia,
Que mortes, que perigos, que tormentas Idade douro, tanto te priuou
Que crueldades nelles esprimentas. Que na de ferro e darmas te deitou.
Dura Ia
[78v] [79r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 79

[99] Ia que nesta gostosa vaidade [102] O maldito o primeiro que no mundo
Tanto enleuas a leue fantasia, Nas ondas vella pôs en seco lenho,
Ia que aa bruta crueza e feridade Dino da eterna pena do profundo
Poseste nome esforço e valentia, Se he justa a justa ley que sigo e tenho:
Ia que prezas em tanta quantidade Nunca juyzo algum alto e profundo,
O desprezo da vida, que deuia Nem cythara sonora, ou viuo engenho,
De ser sempre estimada, pois que ja Te dê por isso fama, nem memoria,
Temeo tanto perdella quem a dâ. Mas comtigo se acabe o nome e gloria.

[100] Não tens junto com tigo o Ismaelita [103] Trouxe o filho de Iapeto do Ceo
Com quem sempre teras guerras sobejas? O fogo que ajuntou ao peito humano,
Não segue elle do Arabio a ley maldita, Fogo que o mundo em armas accendeo
Se tu polla de Christo so pellejas? Em mortes, em desonras (grande engano)
Não tem cidades mil, terra infinita, Quanto milhor nos fora Prometeo,
Se terras e riqueza mais desejas? E quanto pera o mundo menos dano,
Não he elle por armas esforçado Que a tua estatua Illustre não tiuera
Se queres por victorias ser louuado? Fogo de altos desejos, que a mouera.

[101] Deixas criar aas portas o inimigo [104] Não cometera o moço miserando
Por yres buscar outro de tão longe, O carro alto do pay, nem o âr vazio
Por quem se despouoe o reino antigo O grande Achitector co filho, dando
Se enfraqueça e se vaa deitando a longe: Hum, nome ao mar, e o outro, fama ao rio:
Buscas o incerto e incognito perigo Nenhum cometimento alto e nefando
Porque a fama te exalte e te lisonge, Por fogo, ferro, agoa, calma e frio,
Chamando te senhor com larga copia Deixa intentado a humana geração:
Da India, Persia, Arabia, e de Ethiopia. Misera sorte, estranha Condição.
O maldito FIM.
[78v] [79r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVARTO 79

[99] Ia que nesta gostosa vaidade [102] O maldito o primeiro que no mundo
Tanto enleuas a leue fantasia, Nas ondas vella pôs en seco lenho,
Ia que aa bruta crueza e feridade Dino da eterna pena do profundo
Poseste nome esforço e valentia, Se he justa a justa ley que sigo e tenho:
Ia que prezas em tanta quantidade Nunca juyzo algum alto e profundo,
O desprezo da vida, que deuia Nem cythara sonora, ou viuo engenho,
De ser sempre estimada, pois que ja Te dê por isso fama, nem memoria,
Temeo tanto perdella quem a dâ. Mas comtigo se acabe o nome e gloria.

[100] Não tens junto com tigo o Ismaelita [103] Trouxe o filho de Iapeto do Ceo
Com quem sempre teras guerras sobejas? O fogo que ajuntou ao peito humano,
Não segue elle do Arabio a ley maldita, Fogo que o mundo em armas accendeo
Se tu polla de Christo so pellejas? Em mortes, em desonras (grande engano)
Não tem cidades mil, terra infinita, Quanto milhor nos fora Prometeo,
Se terras e riqueza mais desejas? E quanto pera o mundo menos dano,
Não he elle por armas esforçado Que a tua estatua Illustre não tiuera
Se queres por victorias ser louuado? Fogo de altos desejos, que a mouera.

[101] Deixas criar aas portas o inimigo [104] Não cometera o moço miserando
Por yres buscar outro de tão longe, O carro alto do pay, nem o âr vazio
Por quem se despouoe o reino antigo O grande Achitector co filho, dando
Se enfraqueça e se vaa deitando a longe: Hum, nome ao mar, e o outro, fama ao rio:
Buscas o incerto e incognito perigo Nenhum cometimento alto e nefando
Porque a fama te exalte e te lisonge, Por fogo, ferro, agoa, calma e frio,
Chamando te senhor com larga copia Deixa intentado a humana geração:
Da India, Persia, Arabia, e de Ethiopia. Misera sorte, estranha Condição.
O maldito FIM.
[79v] [80r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 80.

[3] Ia a vista pouco e pouco se desterra


Daquelles patrios montes que ficauão,
Ficaua o charo Tejo, e a fresca serra
De Sintra, e nella os olhos se alongauão:
☙ Canto Quinto. Ficauanos tambem na amada terra
O coração, que as magoas lâ diyxauão,
E ja despois que toda se escondeo
Não vimos mais em fim que mar e ceo.

[1] EStas sentenças tais / o velho honrado [4] Assi fomos abrindo aquelles mares
Vociferando estaua, quando a-/brimos Que geração algũa não abrio,
As asas ao sereno e sossegado As nouas Ilhas vendo, e os nouos ares,
Vento, e do porto amado nos partimos: Que o generoso Enrique descobrio:
E como he ja no mar custume vsado De Mauritania os montes e lugares
A vella desfraldando o ceo ferimos, Terra que Anteo num tempo possuyo,
Dizendo Boa viagem, logo o vento Deyxando aa mão ezquerda, que aa dereita
Nos troncos fez o vsado mouimento. Não ha certeza doutra, mas sospeita.

[2] Entruaa neste tempo o eterno lume, [5] Passamos a grande Ilha da madeira
No animal Nemeyo truculento, Que do muito aruoredo assi se chama,
E o mundo que com tempo se consume Das que nos pouoamos, a primeira,
Na seista idade andaua enfermo e lento: Mais celebre por nome, que por fama:
Nella ve, como tinha por costume Mas nem por ser do mundo a derradeira
Cursos do Sol quatorze vezes cento, Se lhe auentajão quantas Venus ama,
Com mais nouenta e sete, em que corria Antes sendo esta sua se esquecera
quando no mar a armada se estendia. De Cypro, Gnido, Pafos, e Cythêra.
Iaa Deixamos
[79v] [80r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 80.

[3] Ia a vista pouco e pouco se desterra


Daquelles patrios montes que ficauão,
Ficaua o charo Tejo, e a fresca serra
De Sintra, e nella os olhos se alongauão:
☙ Canto Quinto. Ficauanos tambem na amada terra
O coração, que as magoas lâ diyxauão,
E ja despois que toda se escondeo
Não vimos mais em fim que mar e ceo.

[1] EStas sentenças tais / o velho honrado [4] Assi fomos abrindo aquelles mares
Vociferando estaua, quando a-/brimos Que geração algũa não abrio,
As asas ao sereno e sossegado As nouas Ilhas vendo, e os nouos ares,
Vento, e do porto amado nos partimos: Que o generoso Enrique descobrio:
E como he ja no mar custume vsado De Mauritania os montes e lugares
A vella desfraldando o ceo ferimos, Terra que Anteo num tempo possuyo,
Dizendo Boa viagem, logo o vento Deyxando aa mão ezquerda, que aa dereita
Nos troncos fez o vsado mouimento. Não ha certeza doutra, mas sospeita.

[2] Entruaa neste tempo o eterno lume, [5] Passamos a grande Ilha da madeira
No animal Nemeyo truculento, Que do muito aruoredo assi se chama,
E o mundo que com tempo se consume Das que nos pouoamos, a primeira,
Na seista idade andaua enfermo e lento: Mais celebre por nome, que por fama:
Nella ve, como tinha por costume Mas nem por ser do mundo a derradeira
Cursos do Sol quatorze vezes cento, Se lhe auentajão quantas Venus ama,
Com mais nouenta e sete, em que corria Antes sendo esta sua se esquecera
quando no mar a armada se estendia. De Cypro, Gnido, Pafos, e Cythêra.
Iaa Deixamos
[80v] [81r]
OS LVSIADAS DE. L. DE CA. CANTO QVINTO. 81.

[6] Deixamos de Massilia a esteril costa [9] A aquella ilha aportamos, que tomou
Onde seu gado os Azenegues pastão, O nome do guerreiro Sanctiago,
Gente que as frescas agoas nunca gosta Sancto que os Espanhoes tanto ajudou
Nem as eruas do campo bem lhe abastão: A fazerem nos Mouros brauo estrago:
A terra a nenhum fruto em fim desposta, Daqui tanto que Boreas nos ventou
Onde as aues no ventre o ferro gastão, Tornamos a cortar o immenso lago,
Padecendo de tudo extrema inopia Do salgado Occeano, e assi deixamos
Que aparta a Barbarîa de Etiopia. A terra onde o refresco doce achamos.

[7] Passamos o lemite aonde chega [10] Por aqui rodeando a larga parte
O Sol, que pera o Norte os carros guia, De Africa, que ficaua ao Oriente,
Onde jazem os pouos, a quem nega A prouincia Ialofo, que reparte
O filho de Climêne a cor do dia: Por diuersas naçoẽs a negra gente:
Aqui gentes estranhas laua e rega A muy grande Mandinga, por cuja arte,
Do negro Sanagâ a corrente fria, Logramos o metal rico e luzente,
Onde o Cabo Arsinario o nome perde Que do curuo Gambea as agoas bebe
Chamando se dos nossos Cabo verde. As quaes o largo Atlantico recebe.

[8] Passadas tendo ja as Canareas ilhas [11] As Dorcadas passamos, pouoadas


Que tiuerão por nome Fortunadas, Das Irmaãs, que outrotempo ali viuião,
Entramos nauegando pollas filhas Que de vista total sendo priuadas
Do velho Hesperio, Hesperidas chamadas: Todas tres dhum so olho se seruião:
Terras por onde nouas marauilhas Tu so, tu cujas tranças encrespadas
Andarão vendo jaa nossas armadas, Neptuno la nas agoas acendião,
Ali tomamos porto com bom vento Tornada ja de todas a mais fea
Por tomarmos da terra mantimento. De biuoras encheste a ardente area.
A aquella L Sempre
[80v] [81r]
OS LVSIADAS DE. L. DE CA. CANTO QVINTO. 81.

[6] Deixamos de Massilia a esteril costa [9] A aquella ilha aportamos, que tomou
Onde seu gado os Azenegues pastão, O nome do guerreiro Sanctiago,
Gente que as frescas agoas nunca gosta Sancto que os Espanhoes tanto ajudou
Nem as eruas do campo bem lhe abastão: A fazerem nos Mouros brauo estrago:
A terra a nenhum fruto em fim desposta, Daqui tanto que Boreas nos ventou
Onde as aues no ventre o ferro gastão, Tornamos a cortar o immenso lago,
Padecendo de tudo extrema inopia Do salgado Occeano, e assi deixamos
Que aparta a Barbarîa de Etiopia. A terra onde o refresco doce achamos.

[7] Passamos o lemite aonde chega [10] Por aqui rodeando a larga parte
O Sol, que pera o Norte os carros guia, De Africa, que ficaua ao Oriente,
Onde jazem os pouos, a quem nega A prouincia Ialofo, que reparte
O filho de Climêne a cor do dia: Por diuersas naçoẽs a negra gente:
Aqui gentes estranhas laua e rega A muy grande Mandinga, por cuja arte,
Do negro Sanagâ a corrente fria, Logramos o metal rico e luzente,
Onde o Cabo Arsinario o nome perde Que do curuo Gambea as agoas bebe
Chamando se dos nossos Cabo verde. As quaes o largo Atlantico recebe.

[8] Passadas tendo ja as Canareas ilhas [11] As Dorcadas passamos, pouoadas


Que tiuerão por nome Fortunadas, Das Irmaãs, que outrotempo ali viuião,
Entramos nauegando pollas filhas Que de vista total sendo priuadas
Do velho Hesperio, Hesperidas chamadas: Todas tres dhum so olho se seruião:
Terras por onde nouas marauilhas Tu so, tu cujas tranças encrespadas
Andarão vendo jaa nossas armadas, Neptuno la nas agoas acendião,
Ali tomamos porto com bom vento Tornada ja de todas a mais fea
Por tomarmos da terra mantimento. De biuoras encheste a ardente area.
A aquella L Sempre
[81v] [82r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 82

[12] Sempre em fim pera o Austro a aguda proa [15] Assi passando aquellas regioẽs
No grandissimo golfaõ nos metemos, Por onde duas vezes passa Apolo,
Deixando a serra asperrima Lyoa Dous inuernos fazendo e dous veroẽs
Co Cabo a quem das Palmas nome demos: Em quanto corre dhum ao outro Polo:
O grande rio, onde batendo soa Por calmas, por tormentas e opressoẽs
O mar nas prayas notas, que ali temos, Quesempre faz no mar o yrado Eolo,
Ficou, co a Ilha illustre que tomou Vimos as Vrsas a pesar de Iuno
O nome dhum que o lado a Deos tocou. Banharemse nas agoas de Neptuno.

[13] Ali o muy grande reyno estâ de Congo [16] Contarte longamente as perigosas
Por nos ja conuertido â fee de Christo, Cousas do mar, que os homẽs não entendem,
Por onde o Zaire passa claro e longo Subitas trouoadas temerosas,
Rio pellos antigos nuca visto: Relampados que o ar em fogo acendem:
Por este largo mar em fim me alongo Negros chuueiros, noites tenebrosas,
Do conhecido pollo de Calisto, Bramidos de trouoẽs que o mundo fendem,
Tendo o termino ardente ja passado Não menos he trabalho, que grande erro
Onde o meyo do mundo he limitado. Ainda que tiuesse a voz de ferro.

[14] Ia descuberto tinhamos diante [17] Os casos vi que os rudos marinheiros


La no nouo Hemisperio noua estrella, Que tem por mestra a longa experiencia,
Não vista deoutra gente, que ignorante Contão por certos sempre e verdadeiros
Algũs tempos esteue incerta della: Iulgando as cousas so polla aparencia:
Vimos a parte menos rutilante E que os que tem juizos mais inteiros
E por falta destrellas menos bella, Que so por puro engenho e por ciencia,
Do Polo fixo, onde inda se não sabe Vem do mundo, os segredos escondidos
Que outra terra comece, ou mar acabe. Iulgão por falsos, ou mal entendidos.
Assi L 2 Vi
[81v] [82r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 82

[12] Sempre em fim pera o Austro a aguda proa [15] Assi passando aquellas regioẽs
No grandissimo golfaõ nos metemos, Por onde duas vezes passa Apolo,
Deixando a serra asperrima Lyoa Dous inuernos fazendo e dous veroẽs
Co Cabo a quem das Palmas nome demos: Em quanto corre dhum ao outro Polo:
O grande rio, onde batendo soa Por calmas, por tormentas e opressoẽs
O mar nas prayas notas, que ali temos, Quesempre faz no mar o yrado Eolo,
Ficou, co a Ilha illustre que tomou Vimos as Vrsas a pesar de Iuno
O nome dhum que o lado a Deos tocou. Banharemse nas agoas de Neptuno.

[13] Ali o muy grande reyno estâ de Congo [16] Contarte longamente as perigosas
Por nos ja conuertido â fee de Christo, Cousas do mar, que os homẽs não entendem,
Por onde o Zaire passa claro e longo Subitas trouoadas temerosas,
Rio pellos antigos nuca visto: Relampados que o ar em fogo acendem:
Por este largo mar em fim me alongo Negros chuueiros, noites tenebrosas,
Do conhecido pollo de Calisto, Bramidos de trouoẽs que o mundo fendem,
Tendo o termino ardente ja passado Não menos he trabalho, que grande erro
Onde o meyo do mundo he limitado. Ainda que tiuesse a voz de ferro.

[14] Ia descuberto tinhamos diante [17] Os casos vi que os rudos marinheiros


La no nouo Hemisperio noua estrella, Que tem por mestra a longa experiencia,
Não vista deoutra gente, que ignorante Contão por certos sempre e verdadeiros
Algũs tempos esteue incerta della: Iulgando as cousas so polla aparencia:
Vimos a parte menos rutilante E que os que tem juizos mais inteiros
E por falta destrellas menos bella, Que so por puro engenho e por ciencia,
Do Polo fixo, onde inda se não sabe Vem do mundo, os segredos escondidos
Que outra terra comece, ou mar acabe. Iulgão por falsos, ou mal entendidos.
Assi L 2 Vi
[82v] [83r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 83

[18] Vi claramente visto o lume viuo [21] Qual roxa Sanguesuga se veria
Que a maritima gente tem por santo, Nos beiços da alimaria (que imprudente,
Em tempo de tormenta e vento esquiuo Bebendo a recolheo na fonte fria)
De tempestade escura e triste pranto: Fartar co sangue alheyo a sede ardente:
Não menos foy a todos eccessiuo Chupando mais e mais se engrossa e cria,
Milagre, e cousa certo de alto espanto, Ali se enche e se alarga grandemente,
Ver as nuuẽs do mar com largo cano Tal a grande coluna, enchendo aumenta
Soruer as altas agoas do Occeano. A si, e a nuuem negra que sustenta.

[19] Eu o vi certamente (e não presumo [22] Mas despois que de todo se fartou
Que a vista me enganaua) leuantar se, O pê que tem no mar a si recolhe,
No ar hum vaporzinho e sutil fumo E pello ceo chouendo em fim voou
E do vento trazido, rodearse: Porque coa agoa a jacente agoa molhe:
De aqui leuado hum cano ao Polo sumo Aas ondas torna as ondas que tomou:
Se via, tão delgado que enxergarse Mas o sabor do sal lhe tira, e tolhe,
Dos olhos facilmente não podia, Vejão agora os sabios na escriptura
Da materia das nuuẽs parecia. Que segredos sam estes de Natura.

[20] Hia se pouco e pouco acrecentando [23] Se os antigos Philosophos, que andarão
E mais que hum largo masto se engrossaua, Tantas terras, por ver segredos dellas,
Aqui se estreita, aqui se alarga, quando As marauilhas que eu passei, passarão
Os golpes grandes de agoa em si chupaua: A tão diuersos ventos dando as vellas:
Estauase co as ondas ondeando, Que grandes escripturas que deixarão
Encima delle hũa nuuem se espessaua, Que influição de sinos e de estrellas,
Fazendose mayor, mais carregada Que estranhezas, que grandes qualidades,
Co cargo grande dagoa em si tomada. E tudo sem mentir, puras verdades.
Qual L 3 Mas
[82v] [83r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 83

[18] Vi claramente visto o lume viuo [21] Qual roxa Sanguesuga se veria
Que a maritima gente tem por santo, Nos beiços da alimaria (que imprudente,
Em tempo de tormenta e vento esquiuo Bebendo a recolheo na fonte fria)
De tempestade escura e triste pranto: Fartar co sangue alheyo a sede ardente:
Não menos foy a todos eccessiuo Chupando mais e mais se engrossa e cria,
Milagre, e cousa certo de alto espanto, Ali se enche e se alarga grandemente,
Ver as nuuẽs do mar com largo cano Tal a grande coluna, enchendo aumenta
Soruer as altas agoas do Occeano. A si, e a nuuem negra que sustenta.

[19] Eu o vi certamente (e não presumo [22] Mas despois que de todo se fartou
Que a vista me enganaua) leuantar se, O pê que tem no mar a si recolhe,
No ar hum vaporzinho e sutil fumo E pello ceo chouendo em fim voou
E do vento trazido, rodearse: Porque coa agoa a jacente agoa molhe:
De aqui leuado hum cano ao Polo sumo Aas ondas torna as ondas que tomou:
Se via, tão delgado que enxergarse Mas o sabor do sal lhe tira, e tolhe,
Dos olhos facilmente não podia, Vejão agora os sabios na escriptura
Da materia das nuuẽs parecia. Que segredos sam estes de Natura.

[20] Hia se pouco e pouco acrecentando [23] Se os antigos Philosophos, que andarão
E mais que hum largo masto se engrossaua, Tantas terras, por ver segredos dellas,
Aqui se estreita, aqui se alarga, quando As marauilhas que eu passei, passarão
Os golpes grandes de agoa em si chupaua: A tão diuersos ventos dando as vellas:
Estauase co as ondas ondeando, Que grandes escripturas que deixarão
Encima delle hũa nuuem se espessaua, Que influição de sinos e de estrellas,
Fazendose mayor, mais carregada Que estranhezas, que grandes qualidades,
Co cargo grande dagoa em si tomada. E tudo sem mentir, puras verdades.
Qual L 3 Mas
[83v] [84r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 84.

[24] Mas ja o Planeta qne no ceo primeiro [27] Achamos ter de todo ja passado
Habita, cinco vezes apressada, Do Semicapro pexe a grande meta,
Agora meyo rosto, agora inteiro Estando entre elle e o circulo gelado
Mostrara, em quãto o mar cortaua a armada: Austral, parte do mundo mais secreta:
Quando da Eterea gauea hum marinheiro Eis de meus companheiros rodeado
Prompto coa vista, terra, terra, brada, Vejo hum estranho vir de pelle preta,
Salta no bordo aluoroçada a gente Que tomarão per força, em quanto apanha
Cos olhos no Orizonte do Oriente. De mel os doces fauos na montanha.

[25] A maneira de nuuẽs se começão [28] Toruado vem na vista, como aquelle
A descubrir os montes que enxergamos, Que não se vira nunca em tal estremo,
As ancoras pesadas se adereção, Nem elle entende a nos, nem nos a elle,
As vellas ja chegados amainamos: Seluagem mais que o bruto Polifemo:
E pera que mais certas se conheção Começolhe a mostrar da rica pelle
As partes tão remotas onde estamos, De Colcos o gentil metal supremo,
Pello nouo instrumento do Astrolabio A prata fina, a quente especiaria:
Inuenção de sutil juizo e sabio. A nada disto o bruto se mouia.

[26] Desembarcamos logo na espaçosa [29] Mando mostrarlhe peças mais somenos
Parte, por onde a gente se espalhou, Contas de Christalino transparente,
De ver cousas estranhas desejosa Alguns soantes cascaueis pequenos,
Da terra que outro pouo não pisou: Hum barrete vermelho, cor contente:
Porem eu cos pilotos na arenosa Vi logo por sinais e por acenos
Praya, por vermos em que parte estou, Que com isto se alegra grandemente,
Me detenho, em tomar do sol a altura Mando o soltar com tudo, e assi caminha
E compassar a vniuersal pintura. Pera a pouoação, que perto tinha.
Achamos L 4 Mas
[83v] [84r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 84.

[24] Mas ja o Planeta qne no ceo primeiro [27] Achamos ter de todo ja passado
Habita, cinco vezes apressada, Do Semicapro pexe a grande meta,
Agora meyo rosto, agora inteiro Estando entre elle e o circulo gelado
Mostrara, em quãto o mar cortaua a armada: Austral, parte do mundo mais secreta:
Quando da Eterea gauea hum marinheiro Eis de meus companheiros rodeado
Prompto coa vista, terra, terra, brada, Vejo hum estranho vir de pelle preta,
Salta no bordo aluoroçada a gente Que tomarão per força, em quanto apanha
Cos olhos no Orizonte do Oriente. De mel os doces fauos na montanha.

[25] A maneira de nuuẽs se começão [28] Toruado vem na vista, como aquelle
A descubrir os montes que enxergamos, Que não se vira nunca em tal estremo,
As ancoras pesadas se adereção, Nem elle entende a nos, nem nos a elle,
As vellas ja chegados amainamos: Seluagem mais que o bruto Polifemo:
E pera que mais certas se conheção Começolhe a mostrar da rica pelle
As partes tão remotas onde estamos, De Colcos o gentil metal supremo,
Pello nouo instrumento do Astrolabio A prata fina, a quente especiaria:
Inuenção de sutil juizo e sabio. A nada disto o bruto se mouia.

[26] Desembarcamos logo na espaçosa [29] Mando mostrarlhe peças mais somenos
Parte, por onde a gente se espalhou, Contas de Christalino transparente,
De ver cousas estranhas desejosa Alguns soantes cascaueis pequenos,
Da terra que outro pouo não pisou: Hum barrete vermelho, cor contente:
Porem eu cos pilotos na arenosa Vi logo por sinais e por acenos
Praya, por vermos em que parte estou, Que com isto se alegra grandemente,
Me detenho, em tomar do sol a altura Mando o soltar com tudo, e assi caminha
E compassar a vniuersal pintura. Pera a pouoação, que perto tinha.
Achamos L 4 Mas
[84v] [85r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 85.

[30] Mas logo ao outro dia seus parceiros [33] Da espessa nuuem sêtas e pedradas
Todos nús, e da cor da escura treua, Chouem sobre nos outros sem medida,
Decendo pellos asperos outeiros E não forão ao vento em vão deitadas
As peças vem buscar que estoutro leua: Que esta perna trouxe eu dali ferida:
Domesticos ja tanto e companheiros Mas nos como pessoas magoadas
Se nos mostrão, que fazem que se atreua, A reposta lhe demos tão tecida,
Fernão Velloso a yr ver da terra o trato Que em mais que nos barretes se sospeita
E partirse co elles pello mato. Que a cor vermelha leuão desta feita.

[31] He Velloso no braço confiado [34] E sendo ja Velloso em saluamento


E de arrogante cre que vay seguro, Logo nos recolhemos pera a armada,
Mas, sendo hum grande espaço ja passado, Vendo a malicia fea e rudo intento
Em que algum bom sinal saber procuro: Da gente bestial, bruta e maluada:
Estando, a vista alçada, co cuidado De quem nenhum milhor conhecimento
No auentureyro, eis pello monte duro Podemos ter da India desejada,
Aparece, e segundo ao mar caminha Que estarmos inda muyto longe della
Mais apressado do que fora vinha. E assi torney a dar ao vento a vella.

[32] O batel de Coelho foy de pressa [35] Disse então a Velloso hum companheiro
Pollo tomar, mas antes que chegasse, (Começando se todos a sorrir)
Hum Etiope ousado se arremessa Oula Velloso amigo, aquelle outeiro
A elle, porque não se lhe escapasse: He milhor de decer que de subir:
Outro e outro lhe saem: vesse em pressa Si he, responde o ousado auentureiro
Velloso, sem que alguem lhe ali ajudasse, Mas quando eu pera ca vi tantos vir,
Acudo eu logo, e em quanto o remo aperto Daquelles caẽs, de pressa hum pouco vim
Se mostra hum bando negro descuberto. Por me lembrar que estaueis ca sem mim.
Da Contou
[84v] [85r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 85.

[30] Mas logo ao outro dia seus parceiros [33] Da espessa nuuem sêtas e pedradas
Todos nús, e da cor da escura treua, Chouem sobre nos outros sem medida,
Decendo pellos asperos outeiros E não forão ao vento em vão deitadas
As peças vem buscar que estoutro leua: Que esta perna trouxe eu dali ferida:
Domesticos ja tanto e companheiros Mas nos como pessoas magoadas
Se nos mostrão, que fazem que se atreua, A reposta lhe demos tão tecida,
Fernão Velloso a yr ver da terra o trato Que em mais que nos barretes se sospeita
E partirse co elles pello mato. Que a cor vermelha leuão desta feita.

[31] He Velloso no braço confiado [34] E sendo ja Velloso em saluamento


E de arrogante cre que vay seguro, Logo nos recolhemos pera a armada,
Mas, sendo hum grande espaço ja passado, Vendo a malicia fea e rudo intento
Em que algum bom sinal saber procuro: Da gente bestial, bruta e maluada:
Estando, a vista alçada, co cuidado De quem nenhum milhor conhecimento
No auentureyro, eis pello monte duro Podemos ter da India desejada,
Aparece, e segundo ao mar caminha Que estarmos inda muyto longe della
Mais apressado do que fora vinha. E assi torney a dar ao vento a vella.

[32] O batel de Coelho foy de pressa [35] Disse então a Velloso hum companheiro
Pollo tomar, mas antes que chegasse, (Começando se todos a sorrir)
Hum Etiope ousado se arremessa Oula Velloso amigo, aquelle outeiro
A elle, porque não se lhe escapasse: He milhor de decer que de subir:
Outro e outro lhe saem: vesse em pressa Si he, responde o ousado auentureiro
Velloso, sem que alguem lhe ali ajudasse, Mas quando eu pera ca vi tantos vir,
Acudo eu logo, e em quanto o remo aperto Daquelles caẽs, de pressa hum pouco vim
Se mostra hum bando negro descuberto. Por me lembrar que estaueis ca sem mim.
Da Contou
[85v] [86r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 86

[36] Contou então que tanto que passarão [39] Não acabaua, quando hũa figura
Aquelle monte, os negros de quem fallo, Se nos mostra no ar, robusta e valida,
Auante mais passar o não deixarão, De disforme e grandissima estatura,
Querendo, se não torna, ali matallo: O rosto carregado, a barba esqualida:
E tornando se, logo se emboscarão Os olhos encouados, e a postura
Porque saindo nos pera tomallo, Medonha e maa, e a cor terrena e palida,
Nos podessem mandar ao reino escuro Cheos de terra e crespos os cabellos,
Por nos roubarem mais a seu seguro. A boca negra, os dentes amarellos.

[37] Porem ja cinco Soes erão passados [40] Tão grande era de membros, que bem posso
Que dali nos partiramos, cortando Certificarte, que este era o segundo
Os mares nunca doutrem nauegados, De Rodes estranhissimo Colosso,
Prosperamente os ventos assoprando: Que hum dos sete milagres foy do mundo:
Quando hũa noite estando descuidados Cum tom de voz nos falla horrendo e grosso
Na cortadora proa vigiando, Que pareceo sair do mar profundo,
Hũa nuuem que os ares escurece Arrepião se as carnes e o cabello
Sobre nossas cabeças aparece. A mi, e a todos, soo de ouuillo e vello.

[38] Tão temerosa vinha e carregada, [41] E disse: O gente ousada mais que quantas
Que pos nos coraçoẽs hum grande medo, No mundo cometerão grandes cousas,
Bramindo o negro mar, de longe brada Tu que por guerras cruas, taes e tantas
Como se desse em vão nalgum rochedo: E por trabalhos vãos nunca repousas:
O potestade, disse, sublimada Pois os vedados terminos quebrantas
Que ameaço diuino, ou que segredo, E nauegar meus longos mares ousas,
Este clima, e este mar nos apresenta, Que eu tãto tempo ha ja que guardo, e tenho
Que mòr cousa parece que tormenta? Nunca arados destranho, ou proprio lenho.
Não Pois
[85v] [86r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 86

[36] Contou então que tanto que passarão [39] Não acabaua, quando hũa figura
Aquelle monte, os negros de quem fallo, Se nos mostra no ar, robusta e valida,
Auante mais passar o não deixarão, De disforme e grandissima estatura,
Querendo, se não torna, ali matallo: O rosto carregado, a barba esqualida:
E tornando se, logo se emboscarão Os olhos encouados, e a postura
Porque saindo nos pera tomallo, Medonha e maa, e a cor terrena e palida,
Nos podessem mandar ao reino escuro Cheos de terra e crespos os cabellos,
Por nos roubarem mais a seu seguro. A boca negra, os dentes amarellos.

[37] Porem ja cinco Soes erão passados [40] Tão grande era de membros, que bem posso
Que dali nos partiramos, cortando Certificarte, que este era o segundo
Os mares nunca doutrem nauegados, De Rodes estranhissimo Colosso,
Prosperamente os ventos assoprando: Que hum dos sete milagres foy do mundo:
Quando hũa noite estando descuidados Cum tom de voz nos falla horrendo e grosso
Na cortadora proa vigiando, Que pareceo sair do mar profundo,
Hũa nuuem que os ares escurece Arrepião se as carnes e o cabello
Sobre nossas cabeças aparece. A mi, e a todos, soo de ouuillo e vello.

[38] Tão temerosa vinha e carregada, [41] E disse: O gente ousada mais que quantas
Que pos nos coraçoẽs hum grande medo, No mundo cometerão grandes cousas,
Bramindo o negro mar, de longe brada Tu que por guerras cruas, taes e tantas
Como se desse em vão nalgum rochedo: E por trabalhos vãos nunca repousas:
O potestade, disse, sublimada Pois os vedados terminos quebrantas
Que ameaço diuino, ou que segredo, E nauegar meus longos mares ousas,
Este clima, e este mar nos apresenta, Que eu tãto tempo ha ja que guardo, e tenho
Que mòr cousa parece que tormenta? Nunca arados destranho, ou proprio lenho.
Não Pois
[86v] [87r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO 87

[42] Pois vens ver os segredos escondidos [45] E do primeiro Illustre, que a ventura
Da natureza, e do humido elemento, Com fama alta fizer tocar os Ceos,
A nenhum grande humano concedidos Serey eterna e noua sepoltura
De nobre, ou de immortal merecimento: Por juizos incognitos de Deos:
Ouue os danos de mi, que apercebidos Aqui porà da Turca armada dura
Estão, a teu sobejo atreuimento, Os soberbos e prosperos tropheos,
Por todo o largo mar e polla terra Comigo de seus danos o ameaça
Que inda has de sojugar com dura guerra. A destruida Quiloa com Mombaça.

[43] Sabe que quantas naos esta viagem [46] Outro tambem virâ de honrada fama
Que tu fazes, fizerem de atreuidas Liberal, caualeiro, enamorado,
Inimiga terão esta paragem E consigo trarâ a fermosa dama
Com ventos e tormentas desmedidas: Que Amor por gram merce lhe terâ dado:
E da primeira armada que passagem Triste ventura, e negro fado os chama
Fizer por estas ondas insuffridas, Neste terreno meu, que duro e yrado,
Eu farey dimprouiso tal castigo Os deixarâ dhum crú naufragio viuos
Que seja môr o dano que o perigo. Pera verem trabalhos eccessiuos.

[44] Aqui espero tomar se não me engano [47] Verão morrer com fome os filhos charos
De quem me descobrio suma vingança, Em tanto amor gêrados e nacidos,
E não se acabarâ so nisto o dano Verão os Cafres asperos e auaros
De vossa pertinace confiança: Tirar aa linda dama seus vestidos.
Antes em vossas naos vereys cada anno Os cristalinos membros e perclaros
Se he verdade o que meu juyzo alcança, Aa calma, ao frio, ao ar verão despidos,
Naufragios, perdiçoẽs de toda sorte, Despois de ter pisada longamente
Que o menor mal de todos seja a morte. Cos delicados pês a area ardente.
E do E verão
[86v] [87r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO 87

[42] Pois vens ver os segredos escondidos [45] E do primeiro Illustre, que a ventura
Da natureza, e do humido elemento, Com fama alta fizer tocar os Ceos,
A nenhum grande humano concedidos Serey eterna e noua sepoltura
De nobre, ou de immortal merecimento: Por juizos incognitos de Deos:
Ouue os danos de mi, que apercebidos Aqui porà da Turca armada dura
Estão, a teu sobejo atreuimento, Os soberbos e prosperos tropheos,
Por todo o largo mar e polla terra Comigo de seus danos o ameaça
Que inda has de sojugar com dura guerra. A destruida Quiloa com Mombaça.

[43] Sabe que quantas naos esta viagem [46] Outro tambem virâ de honrada fama
Que tu fazes, fizerem de atreuidas Liberal, caualeiro, enamorado,
Inimiga terão esta paragem E consigo trarâ a fermosa dama
Com ventos e tormentas desmedidas: Que Amor por gram merce lhe terâ dado:
E da primeira armada que passagem Triste ventura, e negro fado os chama
Fizer por estas ondas insuffridas, Neste terreno meu, que duro e yrado,
Eu farey dimprouiso tal castigo Os deixarâ dhum crú naufragio viuos
Que seja môr o dano que o perigo. Pera verem trabalhos eccessiuos.

[44] Aqui espero tomar se não me engano [47] Verão morrer com fome os filhos charos
De quem me descobrio suma vingança, Em tanto amor gêrados e nacidos,
E não se acabarâ so nisto o dano Verão os Cafres asperos e auaros
De vossa pertinace confiança: Tirar aa linda dama seus vestidos.
Antes em vossas naos vereys cada anno Os cristalinos membros e perclaros
Se he verdade o que meu juyzo alcança, Aa calma, ao frio, ao ar verão despidos,
Naufragios, perdiçoẽs de toda sorte, Despois de ter pisada longamente
Que o menor mal de todos seja a morte. Cos delicados pês a area ardente.
E do E verão
[87v] [88r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 88.

[48] E verão mais os olhos que escaparem [51] Fuy dos filhos asperrimos da terra
De tanto mal, de tanta desuentura, Qual Encelado, Egeo, e o Centimano,
Os dous amantes miseros ficarem Chameime Adamastor, e fuy na guerra
Na feruida e implacabil espessura: Contra o que vibra os rayos de Vulcano:
Ali despois que as pedras abrandarem Não que posesse serra sobre serra
Com lagrimas de dôr, de magoa pura, Mas conquistando as ondas do Occeano,
Abraçados as almas soltaram Fuy capitão domar, por onde andaua
Da fermosa e miserrima prisam. A armada de Neptuno, que eu buscaua.

[49] Mais hia por diante o monstro horrendo [52] Amores da alta esposa de Peleo
Dizendo nossos fados, quando alçado Me fizerão tomar tamanha empresa,
Lhe disse eu: Quem es tu? que esse estupendo Todas as Deosas desprezey do ceo
Corpo, certo me tem marauilhado. So por amar das agoas a Princesa:
A boca e os olhos negros retorcendo, Hum dia a vi coas filhas de Nereo
E dando hum espantoso e grande brado, Sayr nua na praya, e logo presa,
Me respondeo, com voz pesada e amara A vontade sinti, de tal maneira
Como quem da pregunta lhe pesara. Que inda não sinto cousa que mais queira.

[50] Eu sou aquelle occulto e grande Cabo [53] Como fosse impossibil alcançalla
A quem chamais vos outros Tormentorio, Polla grandeza fea de meu gesto,
Que nunca a Ptolomeu, Pomponio, Estrabo, Determiney por armas de tomalla
Plinio, e quantos passarão fuy notorio: E a Doris este caso manifesto:
Aqui toda a Africana costa acabo De medo a Deosa então por mi lhe falla:
Neste meu nunca visto Promontorio, Mas ella cum fermoso riso honesto,
Que pera o Polo Antartico se estende Respondeo: Qual sera o amor bastante
A quem vossa ousadia tanto offende. De Nimpha que sustente o dhum Gigante.
Fuy Com
[87v] [88r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 88.

[48] E verão mais os olhos que escaparem [51] Fuy dos filhos asperrimos da terra
De tanto mal, de tanta desuentura, Qual Encelado, Egeo, e o Centimano,
Os dous amantes miseros ficarem Chameime Adamastor, e fuy na guerra
Na feruida e implacabil espessura: Contra o que vibra os rayos de Vulcano:
Ali despois que as pedras abrandarem Não que posesse serra sobre serra
Com lagrimas de dôr, de magoa pura, Mas conquistando as ondas do Occeano,
Abraçados as almas soltaram Fuy capitão domar, por onde andaua
Da fermosa e miserrima prisam. A armada de Neptuno, que eu buscaua.

[49] Mais hia por diante o monstro horrendo [52] Amores da alta esposa de Peleo
Dizendo nossos fados, quando alçado Me fizerão tomar tamanha empresa,
Lhe disse eu: Quem es tu? que esse estupendo Todas as Deosas desprezey do ceo
Corpo, certo me tem marauilhado. So por amar das agoas a Princesa:
A boca e os olhos negros retorcendo, Hum dia a vi coas filhas de Nereo
E dando hum espantoso e grande brado, Sayr nua na praya, e logo presa,
Me respondeo, com voz pesada e amara A vontade sinti, de tal maneira
Como quem da pregunta lhe pesara. Que inda não sinto cousa que mais queira.

[50] Eu sou aquelle occulto e grande Cabo [53] Como fosse impossibil alcançalla
A quem chamais vos outros Tormentorio, Polla grandeza fea de meu gesto,
Que nunca a Ptolomeu, Pomponio, Estrabo, Determiney por armas de tomalla
Plinio, e quantos passarão fuy notorio: E a Doris este caso manifesto:
Aqui toda a Africana costa acabo De medo a Deosa então por mi lhe falla:
Neste meu nunca visto Promontorio, Mas ella cum fermoso riso honesto,
Que pera o Polo Antartico se estende Respondeo: Qual sera o amor bastante
A quem vossa ousadia tanto offende. De Nimpha que sustente o dhum Gigante.
Fuy Com
[88v] [89r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 89

[54] Com tudo por liurarmos o Occeano [57] O Nimpha a mais fermosa do Oceano
De tanta guerra, eu buscarey maneira, Ia que minha presença não te agrada,
Com que com minha honra escuse o dano. Que te custaua terme neste engano,
Tal resposta me torna a mensageira: Ou fosse monte, nuuem, sonho, ou nada:
Eu que cair não pude neste engano, Daqui me parto irado, e quasi insano
(Que he grande dos amantes a cigueira) Da magoa e da desonra ali passada,
Encherãome com grandes abondanças A buscar outro mundo, onde não visse
O peito de desejos e esperanças. Quem de meu pranto, e de meu mal se risse.

[55] Ia nescio, ja da guerra desistindo [58] Erão ja neste tempo meus Irmãos
Hũa noite de Doris prometida, Vencidos e em miseria estrema postos,
Me aparece de longe o gesto lindo E por mais segurarse os Deoses vãos
Da branca Thetis vnica despida: Algũs a varios montes sottopostos:
Como doudo corri de longe, abrindo E como contra o Ceo não valem mãos,
Os braços, pera aquella que era vida Eu que chorando andaua meus desgostos,
Deste corpo, e começo os olhos bellos Comecey a sentir do fado imigo
A lhe beijar, as faces e os cabellos. Por meus atreuimentos o castigo.

[56] O que não sey de nojo como o conte [59] Conuerteseme a carne em terra dura,
Que crendo ter nos braços quem amaua, Em penedos os ossos se fizerão,
Abraçado me achey cum duro monte Estes membros que ves e esta figura
De aspero mato, e de espessura braua: Por estas longas agoas se estenderão:
Estando cum penedo fronte a fronte Em fim minha grandissima estatura
Queu pollo rosto angelico apertaua, Neste remoto cabo conuerterão
Não fiquey homem não, mas mudo e quedo Os Deoses, e por mais dobradas magoas
E junto dhum penedo outro penedo Me anda Thetis cercando destas agoas.
O nimpha M Assi
[88v] [89r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 89

[54] Com tudo por liurarmos o Occeano [57] O Nimpha a mais fermosa do Oceano
De tanta guerra, eu buscarey maneira, Ia que minha presença não te agrada,
Com que com minha honra escuse o dano. Que te custaua terme neste engano,
Tal resposta me torna a mensageira: Ou fosse monte, nuuem, sonho, ou nada:
Eu que cair não pude neste engano, Daqui me parto irado, e quasi insano
(Que he grande dos amantes a cigueira) Da magoa e da desonra ali passada,
Encherãome com grandes abondanças A buscar outro mundo, onde não visse
O peito de desejos e esperanças. Quem de meu pranto, e de meu mal se risse.

[55] Ia nescio, ja da guerra desistindo [58] Erão ja neste tempo meus Irmãos
Hũa noite de Doris prometida, Vencidos e em miseria estrema postos,
Me aparece de longe o gesto lindo E por mais segurarse os Deoses vãos
Da branca Thetis vnica despida: Algũs a varios montes sottopostos:
Como doudo corri de longe, abrindo E como contra o Ceo não valem mãos,
Os braços, pera aquella que era vida Eu que chorando andaua meus desgostos,
Deste corpo, e começo os olhos bellos Comecey a sentir do fado imigo
A lhe beijar, as faces e os cabellos. Por meus atreuimentos o castigo.

[56] O que não sey de nojo como o conte [59] Conuerteseme a carne em terra dura,
Que crendo ter nos braços quem amaua, Em penedos os ossos se fizerão,
Abraçado me achey cum duro monte Estes membros que ves e esta figura
De aspero mato, e de espessura braua: Por estas longas agoas se estenderão:
Estando cum penedo fronte a fronte Em fim minha grandissima estatura
Queu pollo rosto angelico apertaua, Neste remoto cabo conuerterão
Não fiquey homem não, mas mudo e quedo Os Deoses, e por mais dobradas magoas
E junto dhum penedo outro penedo Me anda Thetis cercando destas agoas.
O nimpha M Assi
[89v] [90r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 90

[60] Assi contaua e cum medonho choro [63] As molheres queimadas vem encima
Subito dante os olhos se apartou, Dos vagarosos bois, ali sentadas
Desfez se a nuuem negra, e cum sonoro Animais que elles tem em mais estima
Bramido, muito longe o mar soou: Que todo o outro gado das manadas:
Eu, leuantando as mãos ao sancto coro Cantigas pastoris, ou prosa, ou rima,
Dos Anjos, que tão longe nos guiou, Na sua lingua cantão concertadas,
A Deos pedi que remouesse os duros Co doce som das rusticas auenas
Casos, que Adamastor contou futuros. Imitando de Titiro as Camenas.

[61] Ia Phlegon, e Pyrois vinhão tirando [64] Estes como na vista prazenteiros
Cos outros dous o carro radiante, Fossem, humanamente nos tratarão,
Quando a terra alta se nos foy mostrando Trazendonos galinhas e carneiros
Em que foy conuertido o grão gigante: A troco doutras peças que leuarão:
Ao longo desta costa, começando Mas como nunca em fim meus companheiros
Ia de cortar as ondas do Leuante, Palaura sua algũa lhe alcançarão
Por ella abaixo hum pouco nauegamos Que desse algun sinal do que buscamos:
Onde segunda vez terra tomamos. As vellas dando, as ancoras leuamos.

[62] A gente que esta terra possuya [65] Ia aqui tinhamos dado hum gram rodeyo
Posto que todos Etiopes erão, Aa costa negra de Africa, e tornaua
Mais humana no trato parecia A proa a demandar o ardente meyo
Que os outros, que tão mal nos receberão: Do Ceo, e o polo Antartico ficaua:
Com bailos e com festas de alegria Aquelle ilheo deixamos, onde veyo
Pella praya arenosa a nos vierão, Outra armada primeira, que buscaua
As molheres consigo e o manso gado O tormentorio Cabo, e descuberto,
Que apacentauão, gordo e bem criado. Naquelle ilheo fez seu limite certo.
As M 2 Daqui
[89v] [90r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 90

[60] Assi contaua e cum medonho choro [63] As molheres queimadas vem encima
Subito dante os olhos se apartou, Dos vagarosos bois, ali sentadas
Desfez se a nuuem negra, e cum sonoro Animais que elles tem em mais estima
Bramido, muito longe o mar soou: Que todo o outro gado das manadas:
Eu, leuantando as mãos ao sancto coro Cantigas pastoris, ou prosa, ou rima,
Dos Anjos, que tão longe nos guiou, Na sua lingua cantão concertadas,
A Deos pedi que remouesse os duros Co doce som das rusticas auenas
Casos, que Adamastor contou futuros. Imitando de Titiro as Camenas.

[61] Ia Phlegon, e Pyrois vinhão tirando [64] Estes como na vista prazenteiros
Cos outros dous o carro radiante, Fossem, humanamente nos tratarão,
Quando a terra alta se nos foy mostrando Trazendonos galinhas e carneiros
Em que foy conuertido o grão gigante: A troco doutras peças que leuarão:
Ao longo desta costa, começando Mas como nunca em fim meus companheiros
Ia de cortar as ondas do Leuante, Palaura sua algũa lhe alcançarão
Por ella abaixo hum pouco nauegamos Que desse algun sinal do que buscamos:
Onde segunda vez terra tomamos. As vellas dando, as ancoras leuamos.

[62] A gente que esta terra possuya [65] Ia aqui tinhamos dado hum gram rodeyo
Posto que todos Etiopes erão, Aa costa negra de Africa, e tornaua
Mais humana no trato parecia A proa a demandar o ardente meyo
Que os outros, que tão mal nos receberão: Do Ceo, e o polo Antartico ficaua:
Com bailos e com festas de alegria Aquelle ilheo deixamos, onde veyo
Pella praya arenosa a nos vierão, Outra armada primeira, que buscaua
As molheres consigo e o manso gado O tormentorio Cabo, e descuberto,
Que apacentauão, gordo e bem criado. Naquelle ilheo fez seu limite certo.
As M 2 Daqui
[90v] [91r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 91.

[66] Daqui fomos cortando muitos dias [69] Desta gente refresco algum tomamos,
Entre tormentas tristes e bonanças, E do rio fresca agoa, mas com tudo
No largo mar fazendo nouas vias Nenhum sinal aqui da India achamos
So conduzidos de arduas esperanças: No pouo com nos outros casi mudo:
Co mar hum tempo andamos em porfias Ora vê Rey quamanha terra andamos
Que como tudo nelle sam mudanças, Sem sair nunca deste pouo rudo,
Corrente nelle achamos tão possante Sem vermos nunca noua, nem sinal,
Que passar não deixaua por diante. Da desejada parte Oriental.

[67] Era mayor a força em demasia [70] Ora imagina agora quam coitados
Segundo pera tras nos obrigaua, Andariamos todos, quam perdidos,
Do mar, que cantro nos ali corria De fomes, de tormentas quebrantados
Que por nos a do vento que assopraua: Por climas e por mares não sabidos:
Injuriado Noto da porfia E do esperar comprido tão cansados
Em que co mar (parece) tanto estaua Quanto a desesperar ja compellidos,
Os assopros esforça iradamente Por ceos não naturais, de qualidade
Com que nos fez vencer a grão corrente. Inimiga de nossa humanidade.

[68] Trazia o Sol o dia celebrado [71] Corrupto ja e danado o mantimento


Em que tres Reis das partes do Oriente, Danoso e mão ao fraco corpo humano,
Forão buscar hum Rey de pouco nado E alem disso nenhum contentamento
No qual Rey outros tres ha juntamente: Que sequer da esperança fosse engano:
Neste dia outro porto foy tomado Cres tu que se este nosso ajuntamento
Por nos, da mesma ja contada gente, De soldados, não fora Lusitano,
Num largo rio, ao qual o nome demos Que durara elle tanto obediente
Do dia em que por elle nos metemos. Por ventura a seu Rey e a seu regente?
Desta M 3 Cres
[90v] [91r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 91.

[66] Daqui fomos cortando muitos dias [69] Desta gente refresco algum tomamos,
Entre tormentas tristes e bonanças, E do rio fresca agoa, mas com tudo
No largo mar fazendo nouas vias Nenhum sinal aqui da India achamos
So conduzidos de arduas esperanças: No pouo com nos outros casi mudo:
Co mar hum tempo andamos em porfias Ora vê Rey quamanha terra andamos
Que como tudo nelle sam mudanças, Sem sair nunca deste pouo rudo,
Corrente nelle achamos tão possante Sem vermos nunca noua, nem sinal,
Que passar não deixaua por diante. Da desejada parte Oriental.

[67] Era mayor a força em demasia [70] Ora imagina agora quam coitados
Segundo pera tras nos obrigaua, Andariamos todos, quam perdidos,
Do mar, que cantro nos ali corria De fomes, de tormentas quebrantados
Que por nos a do vento que assopraua: Por climas e por mares não sabidos:
Injuriado Noto da porfia E do esperar comprido tão cansados
Em que co mar (parece) tanto estaua Quanto a desesperar ja compellidos,
Os assopros esforça iradamente Por ceos não naturais, de qualidade
Com que nos fez vencer a grão corrente. Inimiga de nossa humanidade.

[68] Trazia o Sol o dia celebrado [71] Corrupto ja e danado o mantimento


Em que tres Reis das partes do Oriente, Danoso e mão ao fraco corpo humano,
Forão buscar hum Rey de pouco nado E alem disso nenhum contentamento
No qual Rey outros tres ha juntamente: Que sequer da esperança fosse engano:
Neste dia outro porto foy tomado Cres tu que se este nosso ajuntamento
Por nos, da mesma ja contada gente, De soldados, não fora Lusitano,
Num largo rio, ao qual o nome demos Que durara elle tanto obediente
Do dia em que por elle nos metemos. Por ventura a seu Rey e a seu regente?
Desta M 3 Cres
[91v] [92r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 92

[72] Cres tu que ja não forão leuantados [75] E foy, que estando ja da costa perto
Contra seu capitão se os resistira, Onde as prayas e valles bem se vião,
Fazendo se Piratas, obrigados Num rio, que ali sae ao mar aberto
De desesperação, de fome, de ira? Bateis aa vela entrauão e sayão:
Grandemente, porcerto estão prouados Alegria muy grande foy porcerto
Pois que nenhum trabalho grande os tira Acharmos ja pessoas que sabião
Daquella Portuguesa alta eccellencia Nauegar, porque entrellas esperamos
De lealdade firme, e obediencia. De achar nouas algũas, como achamos.

[73] Deixando o porto em fim do doce rio [76] Ethiopes sam todos, mas parece
E tornando a cortar a agoa salgada, Que com gente milhor comunicauão,
Fizemos desta costa algum desuio Palaura algũa Arabia se conhece
Deitando pera o pego toda a armada: Entre a lingoagem sua que falauão.
Porque ventando Noto manso e frio E com pano delgado que se tece
Nã nos apanhasse a agoa da enseada, De algodão, as cabeças apertauãa,
Que a costa faz ali daquella banda Com otro que de tinta azul se tinge
Donde a rica Sofala o ouro manda. Cadahum as vergonhosas partes cinge.

[74] Esta passada, logo o leue leme [77] Pella Arabica lingoa que mal falão,
Encomendado ao sacro Nicolao, E que Fernão martinz muy bem entende
Pera onde o mar na costa brada e geme Dizem, que por nos, que em grãdeza ygoalão
A proa inclina dhũa e doutra nao. As nossas, o seu mar se corta e fende.
Quando indo o coração que espera e teme Mas que la donde sae o Sol, se abalão
E que tanto fiou dhum fraco pao, Pera onde a costa ao Sul se alarga, e estende,
Do que esperaua ja desesperado E do Sul pera o Sol, terra onde auia
Foy dhũa nouidade aluoroçado. Gente assi como nos da cor do dia.
E foy M 4 Muy
[91v] [92r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 92

[72] Cres tu que ja não forão leuantados [75] E foy, que estando ja da costa perto
Contra seu capitão se os resistira, Onde as prayas e valles bem se vião,
Fazendo se Piratas, obrigados Num rio, que ali sae ao mar aberto
De desesperação, de fome, de ira? Bateis aa vela entrauão e sayão:
Grandemente, porcerto estão prouados Alegria muy grande foy porcerto
Pois que nenhum trabalho grande os tira Acharmos ja pessoas que sabião
Daquella Portuguesa alta eccellencia Nauegar, porque entrellas esperamos
De lealdade firme, e obediencia. De achar nouas algũas, como achamos.

[73] Deixando o porto em fim do doce rio [76] Ethiopes sam todos, mas parece
E tornando a cortar a agoa salgada, Que com gente milhor comunicauão,
Fizemos desta costa algum desuio Palaura algũa Arabia se conhece
Deitando pera o pego toda a armada: Entre a lingoagem sua que falauão.
Porque ventando Noto manso e frio E com pano delgado que se tece
Nã nos apanhasse a agoa da enseada, De algodão, as cabeças apertauãa,
Que a costa faz ali daquella banda Com otro que de tinta azul se tinge
Donde a rica Sofala o ouro manda. Cadahum as vergonhosas partes cinge.

[74] Esta passada, logo o leue leme [77] Pella Arabica lingoa que mal falão,
Encomendado ao sacro Nicolao, E que Fernão martinz muy bem entende
Pera onde o mar na costa brada e geme Dizem, que por nos, que em grãdeza ygoalão
A proa inclina dhũa e doutra nao. As nossas, o seu mar se corta e fende.
Quando indo o coração que espera e teme Mas que la donde sae o Sol, se abalão
E que tanto fiou dhum fraco pao, Pera onde a costa ao Sul se alarga, e estende,
Do que esperaua ja desesperado E do Sul pera o Sol, terra onde auia
Foy dhũa nouidade aluoroçado. Gente assi como nos da cor do dia.
E foy M 4 Muy
[92v] [93r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 93

[78] Muy grandemente aqui nos alegramos [81] E foy que de doença crua e feya
Coa gente, e com as nouas muito mais. A mais que eu nunca vi, desempararão
Pellos sinais que neste rio achamos Muitos a vida, e em terra estranha e alheia
O nome lhe ficou dos bons sinais: Os ossos pera sempre sepultarão:
Hum padrão nesta terra aleuantamos Quem auerâ que sem o ver o creya
Que pera asinalar lugares tais Que tão disformemente ali lhe incharão,
Trazia alguns, o nome tem do bello As gingiuas na boca, que crecia
Guiador de Tobias a Gabello. A carne, e juntamente apodrecia.

[79] Aqui de limos, cascas e dostrinhos, [82] Apodrecia cum fetido e bruto
Nojosa criação das agoas fundas, Cheiro, que o âr vizinho inficionaua,
Alimpamos as naos, que dos caminos Não tinhamos ali medico astuto,
Longos do mar, vem sordidas e immundas: Sururgião sutil menos se achaua:
Dos ospedes que tinhamos vizinhos Mas qualquer neste officio pouco instructo
Com mostras apraziueis e jocundas, Pella carne ja podre assi cortaua,
Ouuemos sempre o vsado mantimento Como se fora morta, e bem conuinha
Limpos de todo o falso pensamento. Pois que morto ficaua quem a tinha.

[80] Mas não foy, da esperança grande e immensa [83] Em fim que nesta incognita espessura
Que nesta terra ouuemos, limpa e pura Deixamos pera sempre os companheiros,
A alegria: mas logo a recompensa Que em tal caminho e em tanta desuentura
A Ramnusia com noua desuentura: Forão sempre com nosco auentureiros:
Assi no ceo sereno se dispensa, Quam facil he ao corpo a sepultura
Coesta condição pesada e dura Quaesquer ondas do mar, quaesquer outeiros,
Nacemos, o pesar terâ firmeza, Estranhos, assimesmo como aos nossos,
Mas o bem logo muda a natureza. Receberão de todo o illustre os ossos.
E foy Assi
[92v] [93r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 93

[78] Muy grandemente aqui nos alegramos [81] E foy que de doença crua e feya
Coa gente, e com as nouas muito mais. A mais que eu nunca vi, desempararão
Pellos sinais que neste rio achamos Muitos a vida, e em terra estranha e alheia
O nome lhe ficou dos bons sinais: Os ossos pera sempre sepultarão:
Hum padrão nesta terra aleuantamos Quem auerâ que sem o ver o creya
Que pera asinalar lugares tais Que tão disformemente ali lhe incharão,
Trazia alguns, o nome tem do bello As gingiuas na boca, que crecia
Guiador de Tobias a Gabello. A carne, e juntamente apodrecia.

[79] Aqui de limos, cascas e dostrinhos, [82] Apodrecia cum fetido e bruto
Nojosa criação das agoas fundas, Cheiro, que o âr vizinho inficionaua,
Alimpamos as naos, que dos caminos Não tinhamos ali medico astuto,
Longos do mar, vem sordidas e immundas: Sururgião sutil menos se achaua:
Dos ospedes que tinhamos vizinhos Mas qualquer neste officio pouco instructo
Com mostras apraziueis e jocundas, Pella carne ja podre assi cortaua,
Ouuemos sempre o vsado mantimento Como se fora morta, e bem conuinha
Limpos de todo o falso pensamento. Pois que morto ficaua quem a tinha.

[80] Mas não foy, da esperança grande e immensa [83] Em fim que nesta incognita espessura
Que nesta terra ouuemos, limpa e pura Deixamos pera sempre os companheiros,
A alegria: mas logo a recompensa Que em tal caminho e em tanta desuentura
A Ramnusia com noua desuentura: Forão sempre com nosco auentureiros:
Assi no ceo sereno se dispensa, Quam facil he ao corpo a sepultura
Coesta condição pesada e dura Quaesquer ondas do mar, quaesquer outeiros,
Nacemos, o pesar terâ firmeza, Estranhos, assimesmo como aos nossos,
Mas o bem logo muda a natureza. Receberão de todo o illustre os ossos.
E foy Assi
[93v] [94r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 94

[84] Assi que deste porto nos partimos [87] Esse que bebeo tanto da agoa Aonia
Com mayor esperança e mòr tristeza, Sobre quem tem contenda peregrina,
E pella costa abaixo o mar abrimos Entre si, Rodes, Smirna, e Colofonia,
Buscando algum sinal de mais firmeza: Atenas, Yos, Argo, e Salamina:
Na duraMoçambique em fim surgimos, E soutro que esclarece toda Ausonia,
De cuja falsidade e mâ vileza A cuja voz altisona e diuina
Ia seras sabedor, e dos enganos Ouuindo, o patrio Mincio se adormece,
Dos pouos de Mombaça pouco humanos. Mas o Tibre co som se ensoberuece.

[85] Ate que aqui no teu seguro porto, [88] Cantem, louuem, e escreuão sempre estremos
Cuja brandura e doce tratamento, Desses seus Semideoses, e encareção,
Darâ saude a hum viuo, e vida a hũ morto, Fingindo Magas Circes, Polifemos,
Nos trouxe a piedade do alto assento: Syrenas que co canto os adormeção:
Aqui repousou, aqui doce conforto, Dem lhe mais nauegar â vella e remos
Noua quietação do pensamento Os Cicones, e a terra onde se esquecem
Nos deste, e vês aqui se atente ouuiste, Os companheiros em gostando o Loto,
Te contey tudo quanto me pediste. Dem lhe perder nas agoas o Piloto.

[86] Iulgas agora Rey se ouue no mundo [89] Ventos soltos lhe finjão e imaginem
Gentes que tais caminhos cometessem? Dos odres, e Calipsos namoradas,
Crês tu que tanto Eneas e o facundo Harpias, que o manjar lhe contaminem
Vlisses, pello mundo se estendessem? Decer aas sombras nuas ja passadas:
Ousou algum a ver do mar profundo Que por muito e por muito que se afinem
Por mais versos que delle se escreuessem, Nestas Fabulas vaãs tambem sonhadas,
Do que eu vi, a poder desforço e de arte, A verdade que eu conto nua e pura
E do que inda ei de ver, a oitaua parte? Vence toda grandiloca escriptura.
Esse Da
[93v] [94r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 94

[84] Assi que deste porto nos partimos [87] Esse que bebeo tanto da agoa Aonia
Com mayor esperança e mòr tristeza, Sobre quem tem contenda peregrina,
E pella costa abaixo o mar abrimos Entre si, Rodes, Smirna, e Colofonia,
Buscando algum sinal de mais firmeza: Atenas, Yos, Argo, e Salamina:
Na duraMoçambique em fim surgimos, E soutro que esclarece toda Ausonia,
De cuja falsidade e mâ vileza A cuja voz altisona e diuina
Ia seras sabedor, e dos enganos Ouuindo, o patrio Mincio se adormece,
Dos pouos de Mombaça pouco humanos. Mas o Tibre co som se ensoberuece.

[85] Ate que aqui no teu seguro porto, [88] Cantem, louuem, e escreuão sempre estremos
Cuja brandura e doce tratamento, Desses seus Semideoses, e encareção,
Darâ saude a hum viuo, e vida a hũ morto, Fingindo Magas Circes, Polifemos,
Nos trouxe a piedade do alto assento: Syrenas que co canto os adormeção:
Aqui repousou, aqui doce conforto, Dem lhe mais nauegar â vella e remos
Noua quietação do pensamento Os Cicones, e a terra onde se esquecem
Nos deste, e vês aqui se atente ouuiste, Os companheiros em gostando o Loto,
Te contey tudo quanto me pediste. Dem lhe perder nas agoas o Piloto.

[86] Iulgas agora Rey se ouue no mundo [89] Ventos soltos lhe finjão e imaginem
Gentes que tais caminhos cometessem? Dos odres, e Calipsos namoradas,
Crês tu que tanto Eneas e o facundo Harpias, que o manjar lhe contaminem
Vlisses, pello mundo se estendessem? Decer aas sombras nuas ja passadas:
Ousou algum a ver do mar profundo Que por muito e por muito que se afinem
Por mais versos que delle se escreuessem, Nestas Fabulas vaãs tambem sonhadas,
Do que eu vi, a poder desforço e de arte, A verdade que eu conto nua e pura
E do que inda ei de ver, a oitaua parte? Vence toda grandiloca escriptura.
Esse Da
[94v] [95r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 95

[90] Da boca do facundo capitão [93] Não tinha em tanto os feitos gloriosos
Pendendo estauão todos embibidos, De Achiles, Alexandro na pelleja,
Quando deu fim aa longa narração Quanto de quem o canta, os numerosos
Dos altos feitos grandes e subidos: Versos, isso so louua, isso deseja:
Louua o Rey o sublime coração Os tropheos de Melciades famosos
Dos Reis em tantas guerras conhecidos, Temistocles despertão so de enueja,
Da gente louua a antiga fortaleza, E diz, que nada tanto o deleitaua
A lealdade danimo e nobreza. Como a vez que seus feitos celebraua.

[91] Vay recontando o pouo que se admira [94] Trabalha por mostrar Vasco da Gama
O caso cada qual que mais notou, Que essas nauegaçoẽs que o mundo canta,
Nenhum delles da gente os olhos tira Não merecem tamanha gloria e fama:
Que tão longos caminhos rodeou: Como a sua, que o ceo e a terra espanta:
Mas ja o mancebo Delio as redeas vira Si mas aquelle Heroe que estima e ama
Que o irmão de Lampecia mal guiou, Com doẽs, merces, fauores, e honra tanta
Por vir a descansar nos Thetios braços A lira Mantuana faz que soe
E el Rey se vay do mar aos nobres paços. Eneas, e a Romana gloria voe.

[92] Quam doce he o louuor e a justa gloria [95] Dâ a terra Lusitana Scipioẽs
Dos proprios feitos, quando sam soados, Cesares, Alexandros, e da Augustos,
Qualquer nobre trabalha que em memoria Mas não lhe dâ com tudo aquelles doẽs
Vença, ou ygoale os grandes ja passados: Cuja falta os faz duros e robustos
As enuejas da illustre e alhea historia Octauio, entre as mayores opressoẽs
Fazem mil vezes feitos sublimados, Compunha versos doutos e venustos,
Quem valerosas obras exercita Não dirâ Fuluia certo que he mentira
Louuor alheo muito o esperta e incita. Quando a deixaua Antonio por Glafira.
Não Vay
[94v] [95r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 95

[90] Da boca do facundo capitão [93] Não tinha em tanto os feitos gloriosos
Pendendo estauão todos embibidos, De Achiles, Alexandro na pelleja,
Quando deu fim aa longa narração Quanto de quem o canta, os numerosos
Dos altos feitos grandes e subidos: Versos, isso so louua, isso deseja:
Louua o Rey o sublime coração Os tropheos de Melciades famosos
Dos Reis em tantas guerras conhecidos, Temistocles despertão so de enueja,
Da gente louua a antiga fortaleza, E diz, que nada tanto o deleitaua
A lealdade danimo e nobreza. Como a vez que seus feitos celebraua.

[91] Vay recontando o pouo que se admira [94] Trabalha por mostrar Vasco da Gama
O caso cada qual que mais notou, Que essas nauegaçoẽs que o mundo canta,
Nenhum delles da gente os olhos tira Não merecem tamanha gloria e fama:
Que tão longos caminhos rodeou: Como a sua, que o ceo e a terra espanta:
Mas ja o mancebo Delio as redeas vira Si mas aquelle Heroe que estima e ama
Que o irmão de Lampecia mal guiou, Com doẽs, merces, fauores, e honra tanta
Por vir a descansar nos Thetios braços A lira Mantuana faz que soe
E el Rey se vay do mar aos nobres paços. Eneas, e a Romana gloria voe.

[92] Quam doce he o louuor e a justa gloria [95] Dâ a terra Lusitana Scipioẽs
Dos proprios feitos, quando sam soados, Cesares, Alexandros, e da Augustos,
Qualquer nobre trabalha que em memoria Mas não lhe dâ com tudo aquelles doẽs
Vença, ou ygoale os grandes ja passados: Cuja falta os faz duros e robustos
As enuejas da illustre e alhea historia Octauio, entre as mayores opressoẽs
Fazem mil vezes feitos sublimados, Compunha versos doutos e venustos,
Quem valerosas obras exercita Não dirâ Fuluia certo que he mentira
Louuor alheo muito o esperta e incita. Quando a deixaua Antonio por Glafira.
Não Vay
[95v] [96r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 96

[96] Vay Cesar sojugando toda França [99] Aas Musas agardeça o nosso Gama
E as armas não lhe empedem a sciencia, O muito amor da patria, que as obriga
Mas nũa mão a pena, e noutra a lança A dar aos seus na lira nome e fama
Igoalaua de Cicero a eloquencia: De toda a illustre e bellica fadiga:
O que de Scipião se sabe e alcança Que elle, nem quem na estirpe seu se chama,
He nas comedias grande experiencia, Caliope não tem por tão amiga,
Lia Alexandro a Homero de maneira Nem as filhas do Tejo, que deixassem
Que sempre se lhe sabe aa cabeceira. As tellas douro fino, e que o cantassem.

[97] Em fim não ouue forte capitão [100] Porque o amor fraterno e puro gosto
Que não fosse tambem douto e sciente, De dar a todo o Lusitano feito
Da Lacia, Grega, ou Barbara nação Seu louuor, he somente o prosuposto
Se não da Portuguesa tão somente: Das Tagides gentis, e seu respeito:
Sem vergonha o não digo, que a rezão Porem não deixe em fim de ter desposto
Dalgum não ser por versos excelente, Ninguem a grandes obras sempre o peito,
He não se ver prezado o verso e rima, Que por esta, ou por outra qualquer via
Porque quem não sabe arte não na estima. Não perdera seu preço e sua valia.

[98] Por isso e não por falta de Natura FIM.


Não ha tambem Virgilios nem Homeros,
Nem auerâ se este costume dura
Pios Eneas, nem Achiles feros:
Mas o pior de tudo he que a ventura
Tão asperos os fez, e tão Austeros,
Tão rudos, e de ingenho tão remisso
Que a muitos lhe dâ pouco, ou nada disso.
Aas
[95v] [96r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 96

[96] Vay Cesar sojugando toda França [99] Aas Musas agardeça o nosso Gama
E as armas não lhe empedem a sciencia, O muito amor da patria, que as obriga
Mas nũa mão a pena, e noutra a lança A dar aos seus na lira nome e fama
Igoalaua de Cicero a eloquencia: De toda a illustre e bellica fadiga:
O que de Scipião se sabe e alcança Que elle, nem quem na estirpe seu se chama,
He nas comedias grande experiencia, Caliope não tem por tão amiga,
Lia Alexandro a Homero de maneira Nem as filhas do Tejo, que deixassem
Que sempre se lhe sabe aa cabeceira. As tellas douro fino, e que o cantassem.

[97] Em fim não ouue forte capitão [100] Porque o amor fraterno e puro gosto
Que não fosse tambem douto e sciente, De dar a todo o Lusitano feito
Da Lacia, Grega, ou Barbara nação Seu louuor, he somente o prosuposto
Se não da Portuguesa tão somente: Das Tagides gentis, e seu respeito:
Sem vergonha o não digo, que a rezão Porem não deixe em fim de ter desposto
Dalgum não ser por versos excelente, Ninguem a grandes obras sempre o peito,
He não se ver prezado o verso e rima, Que por esta, ou por outra qualquer via
Porque quem não sabe arte não na estima. Não perdera seu preço e sua valia.

[98] Por isso e não por falta de Natura FIM.


Não ha tambem Virgilios nem Homeros,
Nem auerâ se este costume dura
Pios Eneas, nem Achiles feros:
Mas o pior de tudo he que a ventura
Tão asperos os fez, e tão Austeros,
Tão rudos, e de ingenho tão remisso
Que a muitos lhe dâ pouco, ou nada disso.
Aas
[96v] [97r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 97

[3] Mas vendo o Capitão que se detinha


Ia mais do que deuia, e o fresco vento
O conuida que parta e tome asinha,
Os Pilotos da terra e mantimento,
☙ Canto Seisto. Não se quer mais deter, que ainda tinha
Muito pera cortar do salso argento,
Ia do Pagão benigno se despede
Que a todos amizade longa pede.

[1] NAM sabia em que / modo festejasse [4] Pedelhe mais, que aquelle porto seja
O Rey Pagão os fortes nauegan/tes, Sempre com suas Frotas visitado,
Pera que as amizades alcançasse Que nenhum outro bem mayor deseja
Do Rey Christão, das gentes tão possantes: Que dar a tais baroẽs seu reino e estado:
Pesalhe que tão longe o apousentasse E que em quanto seu corpo o sprito reja
Das Europeas terras abundantes, Estarâ de contino aparelhado,
A ventura, que namno fez vizinho A pôr a vida e reino totalmente
Donde Hercules ao mar abrio o caminho. Por tão bom Rey, por tão sublime gente.

[2] Com jogos, danças, e outras alegrias [5] Outras palauras tais lhe respondia
A segundo a policia Melindana, O Capitão, e logo as vellas dando,
Com vsadas e ledas pescarias Pera as terras da Aurora se partia,
Com que a Lageia Antonio alegra e engana: Que tanto tempo ha ja que vay buscando:
Este famoso Rey todos os dias No Piloto que leua não auia
Festeja a companhia Lusitana, Falsidade, mas antes vay mostrando
Com banquetes, manjares desusados A nauegação certa, e assi caminha
Com frutas, aues, carnes, e pescados. Ia mais seguro do que dantes vinha.
Mas N As
[96v] [97r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 97

[3] Mas vendo o Capitão que se detinha


Ia mais do que deuia, e o fresco vento
O conuida que parta e tome asinha,
Os Pilotos da terra e mantimento,
☙ Canto Seisto. Não se quer mais deter, que ainda tinha
Muito pera cortar do salso argento,
Ia do Pagão benigno se despede
Que a todos amizade longa pede.

[1] NAM sabia em que / modo festejasse [4] Pedelhe mais, que aquelle porto seja
O Rey Pagão os fortes nauegan/tes, Sempre com suas Frotas visitado,
Pera que as amizades alcançasse Que nenhum outro bem mayor deseja
Do Rey Christão, das gentes tão possantes: Que dar a tais baroẽs seu reino e estado:
Pesalhe que tão longe o apousentasse E que em quanto seu corpo o sprito reja
Das Europeas terras abundantes, Estarâ de contino aparelhado,
A ventura, que namno fez vizinho A pôr a vida e reino totalmente
Donde Hercules ao mar abrio o caminho. Por tão bom Rey, por tão sublime gente.

[2] Com jogos, danças, e outras alegrias [5] Outras palauras tais lhe respondia
A segundo a policia Melindana, O Capitão, e logo as vellas dando,
Com vsadas e ledas pescarias Pera as terras da Aurora se partia,
Com que a Lageia Antonio alegra e engana: Que tanto tempo ha ja que vay buscando:
Este famoso Rey todos os dias No Piloto que leua não auia
Festeja a companhia Lusitana, Falsidade, mas antes vay mostrando
Com banquetes, manjares desusados A nauegação certa, e assi caminha
Com frutas, aues, carnes, e pescados. Ia mais seguro do que dantes vinha.
Mas N As
[97v] [98r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 98

[6] As ondas nauegauão do Oriente [9] Descobre o fundo nunca descuberto


Ia nos mares da India, e enxergauão As areas ali de prata fina,
Os talamos do Sol, que nace ardente, Torres altas se vem no campo aberto
Ia quasi seus desejos se acabauão: Da transparente massa cristalina,
Mas o mao de Tioneo, que na alma sente Quanto se chegão mais os olhos perto,
As venturas, que então se aparelhauão Tanto menos a vista determina
Aa gente Lusitana dellas dina, Se he cristal o que vê, se diamante,
Arde, morre, blasfema e desatina. Que assi se mostra claro e radiante.

[7] Via estar todo o Ceo determinado [10] As portas douro fino, e marchetadas
De fazer de Lisboa noua Roma, Do rico aljofar que nas conchas nace,
Não no pode estoruar, que destinado De esculptura fermosa estão lauradas,
Estâ doutro poder que tudo doma, Na qual do irado Baco a vista pace:
Do Olimpo dece em fim desesperado, E vê primeiro em cores variadas
Nouo remedio em terra busca, e toma, Do velho Chaos a tão confusa face,
Entra no humido reino, e vaise aa corte Vem se os quatro elementos trasladados
Daquelle, a quem o mar cayo em sorte. Em diuersos officios occupados.

[8] No mais interno fundo das profundas [11] Ali sublime o Fogo estaua encima,
Cauernas altas, onde o mar se esconde, Que em nenhũa materia se sustinha,
La donde as ondas saem furibundas, Daqui as cousas viuas sempre anima,
Quando aas iras do vento o mar responde, Despois que Prometeo furtado o tinha:
Neptuno mora, e morão as jocundas Logo a pos elle leue se sublima
Nereidas, e outros Deoses do mar, onde O inuisibil Ar, que mais asinha
As agoas campo deixão aas cidades, Tomou lugar, e nem por quente, ou frio,
Que habitão estas humidas deidades. Algum deixa no mundo estar vazio.
Dscobre N 2 Estaua
[97v] [98r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 98

[6] As ondas nauegauão do Oriente [9] Descobre o fundo nunca descuberto


Ia nos mares da India, e enxergauão As areas ali de prata fina,
Os talamos do Sol, que nace ardente, Torres altas se vem no campo aberto
Ia quasi seus desejos se acabauão: Da transparente massa cristalina,
Mas o mao de Tioneo, que na alma sente Quanto se chegão mais os olhos perto,
As venturas, que então se aparelhauão Tanto menos a vista determina
Aa gente Lusitana dellas dina, Se he cristal o que vê, se diamante,
Arde, morre, blasfema e desatina. Que assi se mostra claro e radiante.

[7] Via estar todo o Ceo determinado [10] As portas douro fino, e marchetadas
De fazer de Lisboa noua Roma, Do rico aljofar que nas conchas nace,
Não no pode estoruar, que destinado De esculptura fermosa estão lauradas,
Estâ doutro poder que tudo doma, Na qual do irado Baco a vista pace:
Do Olimpo dece em fim desesperado, E vê primeiro em cores variadas
Nouo remedio em terra busca, e toma, Do velho Chaos a tão confusa face,
Entra no humido reino, e vaise aa corte Vem se os quatro elementos trasladados
Daquelle, a quem o mar cayo em sorte. Em diuersos officios occupados.

[8] No mais interno fundo das profundas [11] Ali sublime o Fogo estaua encima,
Cauernas altas, onde o mar se esconde, Que em nenhũa materia se sustinha,
La donde as ondas saem furibundas, Daqui as cousas viuas sempre anima,
Quando aas iras do vento o mar responde, Despois que Prometeo furtado o tinha:
Neptuno mora, e morão as jocundas Logo a pos elle leue se sublima
Nereidas, e outros Deoses do mar, onde O inuisibil Ar, que mais asinha
As agoas campo deixão aas cidades, Tomou lugar, e nem por quente, ou frio,
Que habitão estas humidas deidades. Algum deixa no mundo estar vazio.
Dscobre N 2 Estaua
[98v] [99r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 99

[12] Estaua a terra em montes reuestida [15] O Neptuno, lhe disse, não te espantes
De verdes eruas e aruores floridas, De Baco nos teus reinos receberes,
Dando pasto diuerso e dando vida Porque tambem cos grandes e possantes
Aas alimarias nella produzidas: Mostra a Fortuna injusta seus poderes:
A clara forma ali estaua esculpida Manda chamar os Deoses do mar, antes
Das agoas entre a terra desparzidas, Que fale mais, se ouuirme o mais quiseres,
De pescados criando varios modos, Verão da desuentura grandes modos,
Com seu humor mantendo os corpos todos. Oução todo s o mal que toca a todos.

[13] Noutra parte esculpida estaua a guerra [16] Iulgando ja Neptuno que seria
Que tiuerão os Deoses cos Gigantes, Estranho caso aquelle, logo manda
Esta Tifeo debaixo da alta serra Tritão, que chame os Deoses da agoa fria,
De Etna, que as flamas lança crepitantes: Que o mar habitão dhũa e doutro banda,
Esculpido se vê ferindo a terra Tritão, que de ser filho se gloria
Neptuno, quando as gentes ignorantes. Do Rey, e de Salacia veneranda,
Delle o cauallo ouuerão, e a primeira Era mancebo grande, negro e feyo
De Minerua pacifica Ouliueira. Trombeta de seu pay, e seu Correyo.

[14] Pouca tardança faz Lyeo irado [17] Os cabellos da barba, e os que decem
Na vista destas cousas, mas entrando Da cabeça nos ombros, todos erão,
Nos paços de Neptuno, que auisado Hũs limos prenhes dagoa, e bem parecem
Da vinda sua, o estaua ja aguardando: Que nunca brando pentem conhecerão:
Aas portas o recebe, acompanhado Nas pontas pendurados não falecem
Das Nimphas, que se estão marauilhando, Os negros Misilhoẽs, que ali se gerão,
De ver que cometendo tal caminho, Na cabeça por gorra tinha posta
Entre no reino dagoa o Rey do vinho. Hũa muy grande casca de Lagosta.
O Neptuno N 3 O corpo
[98v] [99r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 99

[12] Estaua a terra em montes reuestida [15] O Neptuno, lhe disse, não te espantes
De verdes eruas e aruores floridas, De Baco nos teus reinos receberes,
Dando pasto diuerso e dando vida Porque tambem cos grandes e possantes
Aas alimarias nella produzidas: Mostra a Fortuna injusta seus poderes:
A clara forma ali estaua esculpida Manda chamar os Deoses do mar, antes
Das agoas entre a terra desparzidas, Que fale mais, se ouuirme o mais quiseres,
De pescados criando varios modos, Verão da desuentura grandes modos,
Com seu humor mantendo os corpos todos. Oução todo s o mal que toca a todos.

[13] Noutra parte esculpida estaua a guerra [16] Iulgando ja Neptuno que seria
Que tiuerão os Deoses cos Gigantes, Estranho caso aquelle, logo manda
Esta Tifeo debaixo da alta serra Tritão, que chame os Deoses da agoa fria,
De Etna, que as flamas lança crepitantes: Que o mar habitão dhũa e doutro banda,
Esculpido se vê ferindo a terra Tritão, que de ser filho se gloria
Neptuno, quando as gentes ignorantes. Do Rey, e de Salacia veneranda,
Delle o cauallo ouuerão, e a primeira Era mancebo grande, negro e feyo
De Minerua pacifica Ouliueira. Trombeta de seu pay, e seu Correyo.

[14] Pouca tardança faz Lyeo irado [17] Os cabellos da barba, e os que decem
Na vista destas cousas, mas entrando Da cabeça nos ombros, todos erão,
Nos paços de Neptuno, que auisado Hũs limos prenhes dagoa, e bem parecem
Da vinda sua, o estaua ja aguardando: Que nunca brando pentem conhecerão:
Aas portas o recebe, acompanhado Nas pontas pendurados não falecem
Das Nimphas, que se estão marauilhando, Os negros Misilhoẽs, que ali se gerão,
De ver que cometendo tal caminho, Na cabeça por gorra tinha posta
Entre no reino dagoa o Rey do vinho. Hũa muy grande casca de Lagosta.
O Neptuno N 3 O corpo
[99 v] [100r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 100

[18] O corpo nú, e os membros genitais [21] Vinha por outra parte a linda esposa
Por não ter ao nadar impedimento, De Neptuno, de Celo e Vesta filha,
Mas porem de pequenos animais Graue, e leda no gesto, e tão fermosa
Do mar, todos cubertos cento e cento: Que se amansaua o mar de marauilha:
Camaroẽs, e Cangrejos, e outros mais Vestida hũa camisa preciosa
Que recebem de Phebe crecimento, Trazia de delgada beatilha,
Ostras, e Camaroẽs do musco çujos, Que o corpo cristalino dexa verse,
As costas coa casca os Caramujos. Que tanto bem não he pera esconderse.

[19] Na mão a grande Concha retorcida [22] Anfitrite fermosa como as flores,
Que trazia, com força ja tocaua, Neste caso não quis que falecesse,
A voz grande canora foy ouuida O Delfim traz consigo, que aos amores
Por todo o mar, que longe retumbaua: Do Rey lhe aconselhou que obedecesse:
Ia toda a companhia apercebida Cos olhos que de tudo sam senhores
Dos Deoses, pera os paços caminhaua Qualquer parecera que o Sol vencesse,
Do Deos, que fez os muros de Dardania, Ambas vem pella mão, ygoal partido
Destroidos despois da Grega insania. Pois ambas sam esposas dhum marido.

[20] Vinha o padre Oceano acompanhado [23] Aquella que das furias de Atamante
Dos filhos e das filhas que gerara, Fugindo, veyo a ter diuino estado,
Vem Nereo, que com Doris foy casado, Consigo traz o filho, bello Infante,
Que todo o mar de Nimphas pouoara: No numero dos Deoses relatado:
O Propheta Proteo, deixando o gado Pella praya brincando vem diante
Maritimo pacer pella agoa amara, Com as lindas conchinhas, que o salgado
Ali veyo tambem, mas ja sabia Mar sempre cria, e aas vezes pella area
O que o padre Lyeo no mar queria. No colo o toma a bella Panopea.
Vinha N4 Eo
[99 v] [100r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 100

[18] O corpo nú, e os membros genitais [21] Vinha por outra parte a linda esposa
Por não ter ao nadar impedimento, De Neptuno, de Celo e Vesta filha,
Mas porem de pequenos animais Graue, e leda no gesto, e tão fermosa
Do mar, todos cubertos cento e cento: Que se amansaua o mar de marauilha:
Camaroẽs, e Cangrejos, e outros mais Vestida hũa camisa preciosa
Que recebem de Phebe crecimento, Trazia de delgada beatilha,
Ostras, e Camaroẽs do musco çujos, Que o corpo cristalino dexa verse,
As costas coa casca os Caramujos. Que tanto bem não he pera esconderse.

[19] Na mão a grande Concha retorcida [22] Anfitrite fermosa como as flores,
Que trazia, com força ja tocaua, Neste caso não quis que falecesse,
A voz grande canora foy ouuida O Delfim traz consigo, que aos amores
Por todo o mar, que longe retumbaua: Do Rey lhe aconselhou que obedecesse:
Ia toda a companhia apercebida Cos olhos que de tudo sam senhores
Dos Deoses, pera os paços caminhaua Qualquer parecera que o Sol vencesse,
Do Deos, que fez os muros de Dardania, Ambas vem pella mão, ygoal partido
Destroidos despois da Grega insania. Pois ambas sam esposas dhum marido.

[20] Vinha o padre Oceano acompanhado [23] Aquella que das furias de Atamante
Dos filhos e das filhas que gerara, Fugindo, veyo a ter diuino estado,
Vem Nereo, que com Doris foy casado, Consigo traz o filho, bello Infante,
Que todo o mar de Nimphas pouoara: No numero dos Deoses relatado:
O Propheta Proteo, deixando o gado Pella praya brincando vem diante
Maritimo pacer pella agoa amara, Com as lindas conchinhas, que o salgado
Ali veyo tambem, mas ja sabia Mar sempre cria, e aas vezes pella area
O que o padre Lyeo no mar queria. No colo o toma a bella Panopea.
Vinha N4 Eo
[100v] [101r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 101

[24] E o Deos que foy num tempo corpo humano, [27] Princepe que de juro senhoreas
E por virtude da erua poderosa Dhum Polo, ao outro Polo o mar irado,
Foy conuertido em pexe, e deste dano Tu que as gentes da terra toda enfreas,
Lhe resultou deidade gloriosa, Que não passem o termo limitado:
Inda vinha chorando o feio engano, E tu padre Oceano, que rodeas
Que Circes tinha vsado coa fermosa O mundo vniuersal, e o tens cercado:
Scylla, que elle ama, desta sendo amado E com justo decreto assi permites,
Que a mais obriga amor mal empregado. Que dentro viuão so de seus limites.

[25] Ia finalmente todos assentados [28] E vos Deoses do mar, que não soffreis
Na grande sala nobre e diuinal, Injuria algũa em vosso reino grande,
As Deosas em riquissimos estrados, Que com castigo ygoal vos não vingueis,
Os Deoses em cadeiras de cristal: De quemquer que por elle corra, e ande:
Forão todos do Padre agasalhados, Que descuido foy este em que viueis?
Que co Thebano tinha assento ygoal: Quem pode ser que tanto vos abrande,
De fumos enche a casa a rica massa Os peitos, con razão endurecidos
Que no mar nace, e Arabia em cheiro passa. Contra os humanos fracos e atreuidos?

[26] Estando sossegado ja o tumulto [29] Vistes que com grandissima ousadia
Dos Deoses, e de seus recebimentos, Forão ja cometer o Ceo supremo,
Começa a descubrir do peito occulto, Vistes aquella insana fantasia
A causa o Tyoneo de seus tormentos: De tentarem o mar com vella e remo:
Hum pouco carregando se no vulto, Vistes, e ainda vemos cada dia,
Dando mostra de grandes sentimentos, Soberbas e insolencias tais, que temo
So por dar aos de Luso triste morte Que do mar e do Ceo em poucos anos,
Co ferro alheyo, fala desta sorte: Venhão Deoses a ser, e nos humanos.
Princepe Vedes
[100v] [101r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 101

[24] E o Deos que foy num tempo corpo humano, [27] Princepe que de juro senhoreas
E por virtude da erua poderosa Dhum Polo, ao outro Polo o mar irado,
Foy conuertido em pexe, e deste dano Tu que as gentes da terra toda enfreas,
Lhe resultou deidade gloriosa, Que não passem o termo limitado:
Inda vinha chorando o feio engano, E tu padre Oceano, que rodeas
Que Circes tinha vsado coa fermosa O mundo vniuersal, e o tens cercado:
Scylla, que elle ama, desta sendo amado E com justo decreto assi permites,
Que a mais obriga amor mal empregado. Que dentro viuão so de seus limites.

[25] Ia finalmente todos assentados [28] E vos Deoses do mar, que não soffreis
Na grande sala nobre e diuinal, Injuria algũa em vosso reino grande,
As Deosas em riquissimos estrados, Que com castigo ygoal vos não vingueis,
Os Deoses em cadeiras de cristal: De quemquer que por elle corra, e ande:
Forão todos do Padre agasalhados, Que descuido foy este em que viueis?
Que co Thebano tinha assento ygoal: Quem pode ser que tanto vos abrande,
De fumos enche a casa a rica massa Os peitos, con razão endurecidos
Que no mar nace, e Arabia em cheiro passa. Contra os humanos fracos e atreuidos?

[26] Estando sossegado ja o tumulto [29] Vistes que com grandissima ousadia
Dos Deoses, e de seus recebimentos, Forão ja cometer o Ceo supremo,
Começa a descubrir do peito occulto, Vistes aquella insana fantasia
A causa o Tyoneo de seus tormentos: De tentarem o mar com vella e remo:
Hum pouco carregando se no vulto, Vistes, e ainda vemos cada dia,
Dando mostra de grandes sentimentos, Soberbas e insolencias tais, que temo
So por dar aos de Luso triste morte Que do mar e do Ceo em poucos anos,
Co ferro alheyo, fala desta sorte: Venhão Deoses a ser, e nos humanos.
Princepe Vedes
[101v] [102r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 102

[30] Vedes agora a fraca geração [33] Que o gran Senhor e fados que destinão,
Que dhum vassallo meu o nome toma, Como lhe bem parece, o baxo mundo,
Com soberbo, e altiuo coração, Famas mores que nunca determinão
A vos, e a mi, e o mundo todo doma: De dar a estes baroẽs no mar profundo:
Vedes o vosso mar cortando vão, Aqui vereis o Deoses como insinão
Mais do que fez a gente alta de Roma, O mal tambem a Deoses: que a segundo
Vedes o vosso reino deuassando Se ve, ninguem ja tem menos valia
Os vossos estatutos vão quebrando. Que quem com mais razão valer deuia.

[31] Eu vi que contra os Mynias, que primeiro [34] E por isso do Olimpo ja fugi,
No vosso reino este caminho abrirão, Buscando algum remedio a meus pesares,
Boreas injuriado, e o companheiro Por ver o preço, que no Ceo perdi,
Aquilo, e os outros todos resistirão: Se por dita acharey nos vossos mares:
Pois se do ajuntamento auentureiro Mais quis dizer, e não passou daqui,
Os ventos esta injuria assi sentirão, Porque as lagrimas ja correndo a pares
Vos a quem mais compete esta vingança, Lhe saltarão dos olhos, com que logo
Que esperais, porque a pondes em tardança? Se acendem as Deidades dagoa em fogo.

[32] E não consinto Deoses que cuideis [35] A Ira com que subito alterado
Que por amor de vos do ceo deci, O coração dos Deoses foy num ponto,
Nem da magoa da injuria que sofreis, Não soffreo mais conselho bem cuidado,
Mas da que seme faz tambem a mi: Nem dilação, nem outro algum desconto:
Que aquellas grandes honras, que sabeis Ao grande Eolo mandão ja recado
Que no mundo ganhey, quando venci Da parte de Neptuno, que sem conto
As terras Indianas do Oriente, Solte as furias dos ventos repugnantes,
Todas vejo abatidas desta gente. Que não aja no mar mais nauegantes.
Que Bem
[101v] [102r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 102

[30] Vedes agora a fraca geração [33] Que o gran Senhor e fados que destinão,
Que dhum vassallo meu o nome toma, Como lhe bem parece, o baxo mundo,
Com soberbo, e altiuo coração, Famas mores que nunca determinão
A vos, e a mi, e o mundo todo doma: De dar a estes baroẽs no mar profundo:
Vedes o vosso mar cortando vão, Aqui vereis o Deoses como insinão
Mais do que fez a gente alta de Roma, O mal tambem a Deoses: que a segundo
Vedes o vosso reino deuassando Se ve, ninguem ja tem menos valia
Os vossos estatutos vão quebrando. Que quem com mais razão valer deuia.

[31] Eu vi que contra os Mynias, que primeiro [34] E por isso do Olimpo ja fugi,
No vosso reino este caminho abrirão, Buscando algum remedio a meus pesares,
Boreas injuriado, e o companheiro Por ver o preço, que no Ceo perdi,
Aquilo, e os outros todos resistirão: Se por dita acharey nos vossos mares:
Pois se do ajuntamento auentureiro Mais quis dizer, e não passou daqui,
Os ventos esta injuria assi sentirão, Porque as lagrimas ja correndo a pares
Vos a quem mais compete esta vingança, Lhe saltarão dos olhos, com que logo
Que esperais, porque a pondes em tardança? Se acendem as Deidades dagoa em fogo.

[32] E não consinto Deoses que cuideis [35] A Ira com que subito alterado
Que por amor de vos do ceo deci, O coração dos Deoses foy num ponto,
Nem da magoa da injuria que sofreis, Não soffreo mais conselho bem cuidado,
Mas da que seme faz tambem a mi: Nem dilação, nem outro algum desconto:
Que aquellas grandes honras, que sabeis Ao grande Eolo mandão ja recado
Que no mundo ganhey, quando venci Da parte de Neptuno, que sem conto
As terras Indianas do Oriente, Solte as furias dos ventos repugnantes,
Todas vejo abatidas desta gente. Que não aja no mar mais nauegantes.
Que Bem
[102v] [103r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 103

[36] Bem quisera primeiro ali Protheo [39] Vencidos vem do sono, e mal despertos
Dizer neste negocio o que sentia, Bocijando a miudo se encostauão,
E segundo o que a todos pareceo, Pellas antenas, todos mal cubertos,
Era algũa profunda prophecia: Contra os agudos ares que assoprauão:
Porem tanto o tumulto se moueo Os olhos contra seu querer abertos
Subito na diuina companhia, Mas estregando os membros estirauão,
Que Thetis indinada lhe bradou, Remedios contra o sonno buscar querem,
Neptuno sabe bem o que mandou. Historias contão, casos mil referem.

[37] Ia la o soberbo Hypotades soltaua [40] Com que milhor podemos, hum dizia,
Do carcere fechado os furiosos Este tempo passar, que he tão pesado,
Ventos, que com palauras animaua, Se não com algum conto de alegria
Contra os varoẽs audaces e animosos: Com que nos deixe o sono carregado?
Subito o ceo sereno se obumbraua, Responde Lionardo, que trazia
Que os ventos mais que nunca impetuosos Pensamentos de firme namorado,
Começão nouas forças a yr tomando, Que contos poderemos ter milhores
Torres, montes e casas derribando. Pera passar o tempo, que de amores?

[38] Em quanto este conselho se fazia [41] Não he, disse Veloso, cousa justa
No fundo aquoso, a leda lassa Frota Tratar branduras em tanta aspereza,
Com vento sossegado proseguia Que o trabalho do mar, que tanto custa,
Pello tranquilo mar, a longa rota: Não soffre amores, nem delicadeza:
Era no tempo quando a luz do dia Antes de guerra feruida e robusta
Do Eoo Emisperio estâ remota, A nossa historia seja, pois dureza
Os do quarto da prima se deitauão Nossa vida ha de ser, segundo entendo
Pera o segundo os outros despertauão. Que o trabalho por vir mo esta dizendo.
Vencidos Consente
[102v] [103r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO QVINTO. 103

[36] Bem quisera primeiro ali Protheo [39] Vencidos vem do sono, e mal despertos
Dizer neste negocio o que sentia, Bocijando a miudo se encostauão,
E segundo o que a todos pareceo, Pellas antenas, todos mal cubertos,
Era algũa profunda prophecia: Contra os agudos ares que assoprauão:
Porem tanto o tumulto se moueo Os olhos contra seu querer abertos
Subito na diuina companhia, Mas estregando os membros estirauão,
Que Thetis indinada lhe bradou, Remedios contra o sonno buscar querem,
Neptuno sabe bem o que mandou. Historias contão, casos mil referem.

[37] Ia la o soberbo Hypotades soltaua [40] Com que milhor podemos, hum dizia,
Do carcere fechado os furiosos Este tempo passar, que he tão pesado,
Ventos, que com palauras animaua, Se não com algum conto de alegria
Contra os varoẽs audaces e animosos: Com que nos deixe o sono carregado?
Subito o ceo sereno se obumbraua, Responde Lionardo, que trazia
Que os ventos mais que nunca impetuosos Pensamentos de firme namorado,
Começão nouas forças a yr tomando, Que contos poderemos ter milhores
Torres, montes e casas derribando. Pera passar o tempo, que de amores?

[38] Em quanto este conselho se fazia [41] Não he, disse Veloso, cousa justa
No fundo aquoso, a leda lassa Frota Tratar branduras em tanta aspereza,
Com vento sossegado proseguia Que o trabalho do mar, que tanto custa,
Pello tranquilo mar, a longa rota: Não soffre amores, nem delicadeza:
Era no tempo quando a luz do dia Antes de guerra feruida e robusta
Do Eoo Emisperio estâ remota, A nossa historia seja, pois dureza
Os do quarto da prima se deitauão Nossa vida ha de ser, segundo entendo
Pera o segundo os outros despertauão. Que o trabalho por vir mo esta dizendo.
Vencidos Consente
[103v] [104r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 104

[42] Consentem nisto todos, e encomendão [45] E que se ouuer alguem com lança e espada
A Veloso que conte isto que aproua, Que queira sustentar a parte sua,
Contarei disse, sem que me reprendão Que elles em campo raso, ou estacada,
De contar cousa fabulosa, ou noua: Lhe darão fea infamia, ou morte crua:
E porque os que me ouuirem daqui aprendão A femenil fraqueza pouco vsada
A fazer feitos grandes de alta proua, Ou nunca a oprobrios tais, vendo se nua
Dos nacidos direy na nossa terra, De forças naturais conuenientes,
E estes sejão os doze de Inglaterra. Socorro pede a amigos e parentes.

[43] No tempo que do reino a redea leue [46] Mas como fossem grandes e possantes
Ioão filho de Pedro moderaua, No reino os inimigos, não se atreuem
Despois que sossegado e liure o teue Nem parentes, nem feruidos amantes
Do vizinho poder que o molestaua: A sustentar as damas, como deuem:
La na grande Inglaterra, que da neue Com lagrimas fermosas e bastantes
Boreal sempre abunda, semeaua A fazer que em socorro os Deoses leuem
A fera Erinis dura e mâ cizania De todo o Ceo, por rostos de alabastro
Que lustre fosse a nossa Lusitania. Se vão todas ao duque de Alencastro.

[44] Entre as damas gentis da corte Inglesa, [47] Era este Ingres potente, e militara
E nobres cortesaõs, a caso hum dia Cos Portugueses ja contra Castella,
Se leuantou discordia em ira acesa, Onde as forças magnanimas prouara
Ou foy opinião, ou foy porfia: Dos companheiros, e benigna estrella:
Os Cortesãos a quem tam pouco pesa Não menos nesta terra esprimentara
Soltar palauras graues de ousadia Namorados affeitos, quando nella
Dizem que prouarão, que honras e famas A filha vio, que tanto o peito doma
Em tais damas não ha, pera ser damas. Do forte Rey, que por molher a toma.
E que Este
[103v] [104r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 104

[42] Consentem nisto todos, e encomendão [45] E que se ouuer alguem com lança e espada
A Veloso que conte isto que aproua, Que queira sustentar a parte sua,
Contarei disse, sem que me reprendão Que elles em campo raso, ou estacada,
De contar cousa fabulosa, ou noua: Lhe darão fea infamia, ou morte crua:
E porque os que me ouuirem daqui aprendão A femenil fraqueza pouco vsada
A fazer feitos grandes de alta proua, Ou nunca a oprobrios tais, vendo se nua
Dos nacidos direy na nossa terra, De forças naturais conuenientes,
E estes sejão os doze de Inglaterra. Socorro pede a amigos e parentes.

[43] No tempo que do reino a redea leue [46] Mas como fossem grandes e possantes
Ioão filho de Pedro moderaua, No reino os inimigos, não se atreuem
Despois que sossegado e liure o teue Nem parentes, nem feruidos amantes
Do vizinho poder que o molestaua: A sustentar as damas, como deuem:
La na grande Inglaterra, que da neue Com lagrimas fermosas e bastantes
Boreal sempre abunda, semeaua A fazer que em socorro os Deoses leuem
A fera Erinis dura e mâ cizania De todo o Ceo, por rostos de alabastro
Que lustre fosse a nossa Lusitania. Se vão todas ao duque de Alencastro.

[44] Entre as damas gentis da corte Inglesa, [47] Era este Ingres potente, e militara
E nobres cortesaõs, a caso hum dia Cos Portugueses ja contra Castella,
Se leuantou discordia em ira acesa, Onde as forças magnanimas prouara
Ou foy opinião, ou foy porfia: Dos companheiros, e benigna estrella:
Os Cortesãos a quem tam pouco pesa Não menos nesta terra esprimentara
Soltar palauras graues de ousadia Namorados affeitos, quando nella
Dizem que prouarão, que honras e famas A filha vio, que tanto o peito doma
Em tais damas não ha, pera ser damas. Do forte Rey, que por molher a toma.
E que Este
[104v] [105r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 105

[48] Este que socorrer lhe não queria, [51] Ia chega a Portugal o mensageiro,
Por não causar discordias intestinas Toda a corte aluoroça a nouidade,
Lhe diz, quando o direito pretendia Quisera o Rey sublime ser primeiro,
Do reino la das terras Iberinas, Mas não lho soffre a Regia Magestade:
Nos Lusitanos vi tanta ousadia, Qualquer dos cortesaõs auentureiro
Tanto primor, e partes tão diuinas, Deseja ser, com feruida vontade,
Que elles sos poderião, se não erro E so fica por bemauenturado,
Sustentar vossa parte a fogo e ferro. Quem ja vem pello Duque nomeado.

[49] E se agrauadas damas sois seruidas, [52] La na leal cidade, donde teue
Por vos lhe mandarei embaixadores, Origem (como he fama) o nome eterno
Que por cartas discretas e polidas, De Portugal, armar madeiro leue
De vosso agrauo os fação sabedores: Manda o que tem o leme do gouerno:
Tambem por vossa parte encarecidas Apercebem se os doze em tempo breue
Com palauras dafagos e damores, Darmas, e roupas de vso mais moderno,
Lhe sejão vossas lagrimas, que eu creyo De elmos, cimeras, letras, e primores
Que ali terees socorro e forte esteyo. Caualos, e Concertos de mil cores.

[50] Destarte as aconselha o Duque experto, [53] Ia do seu Rey tomado tem licença
E logo lhe nomea doze fortes, Pera partir do Douro celebrado,
E porque cada dama hum tenha certo, Aqueles, que escolhidos por sentença
Lhe manda que sobrelles lancem sortes, Forão do Duque Ingles esprimentado:
Que ellas so doze sam: e descuberto Não ha na companhia differença
Qual a qual tem caido das consortes, De caualeiro, destro, ou esforçado:
Cadhũa escreue ao seu por varios modos, Mas hum so, que Magriço se dizia,
E todas a seu Rey, e o Duque a todos. Destarte fala aa forte companhia,
Ia O Fortissimos
[104v] [105r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 105

[48] Este que socorrer lhe não queria, [51] Ia chega a Portugal o mensageiro,
Por não causar discordias intestinas Toda a corte aluoroça a nouidade,
Lhe diz, quando o direito pretendia Quisera o Rey sublime ser primeiro,
Do reino la das terras Iberinas, Mas não lho soffre a Regia Magestade:
Nos Lusitanos vi tanta ousadia, Qualquer dos cortesaõs auentureiro
Tanto primor, e partes tão diuinas, Deseja ser, com feruida vontade,
Que elles sos poderião, se não erro E so fica por bemauenturado,
Sustentar vossa parte a fogo e ferro. Quem ja vem pello Duque nomeado.

[49] E se agrauadas damas sois seruidas, [52] La na leal cidade, donde teue
Por vos lhe mandarei embaixadores, Origem (como he fama) o nome eterno
Que por cartas discretas e polidas, De Portugal, armar madeiro leue
De vosso agrauo os fação sabedores: Manda o que tem o leme do gouerno:
Tambem por vossa parte encarecidas Apercebem se os doze em tempo breue
Com palauras dafagos e damores, Darmas, e roupas de vso mais moderno,
Lhe sejão vossas lagrimas, que eu creyo De elmos, cimeras, letras, e primores
Que ali terees socorro e forte esteyo. Caualos, e Concertos de mil cores.

[50] Destarte as aconselha o Duque experto, [53] Ia do seu Rey tomado tem licença
E logo lhe nomea doze fortes, Pera partir do Douro celebrado,
E porque cada dama hum tenha certo, Aqueles, que escolhidos por sentença
Lhe manda que sobrelles lancem sortes, Forão do Duque Ingles esprimentado:
Que ellas so doze sam: e descuberto Não ha na companhia differença
Qual a qual tem caido das consortes, De caualeiro, destro, ou esforçado:
Cadhũa escreue ao seu por varios modos, Mas hum so, que Magriço se dizia,
E todas a seu Rey, e o Duque a todos. Destarte fala aa forte companhia,
Ia O Fortissimos
[105v] [106r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 106

[54] Fortissimos consocios, eu desejo [57] Ali chegado, ou fosse caso, ou manha,
A muito ja de andar terras estranhas, Sem passar se deteue muitos dias,
Por ver mais agoas, que as do Douro e Tejo, Mas dos onze a illustrissima companha
Varias gentes, e leis, e varias manhas: Cortão do mar do Norte as ondas frias:
Agora que aparelho certo vejo, Chegados de Inglaterra aa costa estranha,
(Pois que do mundo as cousas sam tamanhas) Pera Londres ja fazem todos vias,
Quero se me deixais, ir sò por terra, Do Duque sam com festa agasalhados,
Porque eu serey conuosco em Inglaterra. E das damas seruidos, e amimados.

[55] E quando caso for, que eu impedido [58] Chegasse o prazo, e dia asinalado,
Por quem das cousas he vltima linha, De entrar em campo ja cos doze Ingleses,
Não for com vosco ao prazo instituido, Que pello Rey ja tinhão segurado,
Pouca falta vos faz a falta minha: Armanse delmos, greuas, e de arneses:
Todos por mi fareis o que he diuido: Ia as damas tem por si fulgente e armado
Mas se a verdade o sprito me adiuinha, O Mauorte feroz dos Portugueses,
Rios, montes, fortuna, ou sua enueja, Vestem se ellas de cores e de sedas
Não farão que eu com vosco la não seja. De ouro, e de joyas mil, ricas, e ledas.

[56] Assi diz, e abraçados os amigos, [59] Mas aquella, a quem fora em sorte dado
E tomada licença, em fim se parte, Magriço, que não vinha, com tristeza
Passa Lião, Castella vendo antigos Se veste, por não ter quem nomeado
Lugares, que ganhara o patrio Marte: Seja seu caualeiro, nesta empresa:
Nauarra, cos altissimos perigos Bem que os onze apregoão, que acabado
Do Perineo, que Espanha e Galia parte: Sera o negocio assi na corte Inglesa,
Vistas em fim de França as cousas grandes, Que as damas vencedoras se conheção
No grande emperio foy parar de Frandes. Posto que dous e tres dos seus falleção.
Ali O 2 Ia
[105v] [106r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 106

[54] Fortissimos consocios, eu desejo [57] Ali chegado, ou fosse caso, ou manha,
A muito ja de andar terras estranhas, Sem passar se deteue muitos dias,
Por ver mais agoas, que as do Douro e Tejo, Mas dos onze a illustrissima companha
Varias gentes, e leis, e varias manhas: Cortão do mar do Norte as ondas frias:
Agora que aparelho certo vejo, Chegados de Inglaterra aa costa estranha,
(Pois que do mundo as cousas sam tamanhas) Pera Londres ja fazem todos vias,
Quero se me deixais, ir sò por terra, Do Duque sam com festa agasalhados,
Porque eu serey conuosco em Inglaterra. E das damas seruidos, e amimados.

[55] E quando caso for, que eu impedido [58] Chegasse o prazo, e dia asinalado,
Por quem das cousas he vltima linha, De entrar em campo ja cos doze Ingleses,
Não for com vosco ao prazo instituido, Que pello Rey ja tinhão segurado,
Pouca falta vos faz a falta minha: Armanse delmos, greuas, e de arneses:
Todos por mi fareis o que he diuido: Ia as damas tem por si fulgente e armado
Mas se a verdade o sprito me adiuinha, O Mauorte feroz dos Portugueses,
Rios, montes, fortuna, ou sua enueja, Vestem se ellas de cores e de sedas
Não farão que eu com vosco la não seja. De ouro, e de joyas mil, ricas, e ledas.

[56] Assi diz, e abraçados os amigos, [59] Mas aquella, a quem fora em sorte dado
E tomada licença, em fim se parte, Magriço, que não vinha, com tristeza
Passa Lião, Castella vendo antigos Se veste, por não ter quem nomeado
Lugares, que ganhara o patrio Marte: Seja seu caualeiro, nesta empresa:
Nauarra, cos altissimos perigos Bem que os onze apregoão, que acabado
Do Perineo, que Espanha e Galia parte: Sera o negocio assi na corte Inglesa,
Vistas em fim de França as cousas grandes, Que as damas vencedoras se conheção
No grande emperio foy parar de Frandes. Posto que dous e tres dos seus falleção.
Ali O 2 Ia
[106v] [107r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 107

[60] Ia num sublime e pubrico theatro [63] A dama como ouuiu, que este era aquelle,
Se assenta o Rey Ingles com toda a corte, Que vinha a defender seu nome, e fama,
Estauão tres e tres, e quatro e quatro, Se alegra, e veste ali do animal de Hele,
Bem como a cada qual coubera em sorte: Que a gente bruta mais que vertude ama:
Não sam vistos do Sol do Tejo ao Batro, Ia dão sinal, e o som da tuba impelle
De força, esforço, e danimo mais forte, Os belicosos animos, que inflama,
Outros doze sayr como os Ingleses Picão desporas, largão redeas logo
No campo, contra os onze Portugueses. Abaxão lanças, fere a terra fogo.

[61] Mastigão os caualos escumando [64] Dos caualos o estrepito parece


Os aureos freos, com feroz sembrante, Que faz, que o chão debaixo todo treme,
Estaua o Sol nas armas rutilando, O coração no peito, que estremece
Como em cristal, ou rigido diamante: De quem os olha, se aluoroça, e teme:
Mas enxergase num e noutro bando Qual do caualo voa, que não dece,
Partido desigoal e dissonante Qual co caualo em terra dando, geme,
Dos onze contra os doze: quando a gente Qual vermelhas as armas faz de brancas,
Começa a aluoroçar se geralmente. Qual cos penachos do elmo açouta as ancas.

[62] Virão todos o rosto aonde auia [65] Algum dali tomou perpetuo sono,
A causa principal do reboliço, E fez da vida ao fim breue interualo,
Eis entra hum caualeiro, que trazia Correndo algum cauallo vay sem dono,
Armas, caualo, ao bellico seruiço. E noutra parte o dono sem caualo:
Ao Rey e aas damas fala, e logo se hia Cae a soberba Inglesa de seu trono,
Pera os onze, que este era o gram Magriço, Que dous ou tres ja fora vão do valo,
Abraça os companheiros como amigos, Os que de espada vem fazer batalha,
A quem não falta certo nos perigos. Mais achão ja que arnes, escudo, e malha.
A dama O 3 Gastar
[106v] [107r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 107

[60] Ia num sublime e pubrico theatro [63] A dama como ouuiu, que este era aquelle,
Se assenta o Rey Ingles com toda a corte, Que vinha a defender seu nome, e fama,
Estauão tres e tres, e quatro e quatro, Se alegra, e veste ali do animal de Hele,
Bem como a cada qual coubera em sorte: Que a gente bruta mais que vertude ama:
Não sam vistos do Sol do Tejo ao Batro, Ia dão sinal, e o som da tuba impelle
De força, esforço, e danimo mais forte, Os belicosos animos, que inflama,
Outros doze sayr como os Ingleses Picão desporas, largão redeas logo
No campo, contra os onze Portugueses. Abaxão lanças, fere a terra fogo.

[61] Mastigão os caualos escumando [64] Dos caualos o estrepito parece


Os aureos freos, com feroz sembrante, Que faz, que o chão debaixo todo treme,
Estaua o Sol nas armas rutilando, O coração no peito, que estremece
Como em cristal, ou rigido diamante: De quem os olha, se aluoroça, e teme:
Mas enxergase num e noutro bando Qual do caualo voa, que não dece,
Partido desigoal e dissonante Qual co caualo em terra dando, geme,
Dos onze contra os doze: quando a gente Qual vermelhas as armas faz de brancas,
Começa a aluoroçar se geralmente. Qual cos penachos do elmo açouta as ancas.

[62] Virão todos o rosto aonde auia [65] Algum dali tomou perpetuo sono,
A causa principal do reboliço, E fez da vida ao fim breue interualo,
Eis entra hum caualeiro, que trazia Correndo algum cauallo vay sem dono,
Armas, caualo, ao bellico seruiço. E noutra parte o dono sem caualo:
Ao Rey e aas damas fala, e logo se hia Cae a soberba Inglesa de seu trono,
Pera os onze, que este era o gram Magriço, Que dous ou tres ja fora vão do valo,
Abraça os companheiros como amigos, Os que de espada vem fazer batalha,
A quem não falta certo nos perigos. Mais achão ja que arnes, escudo, e malha.
A dama O 3 Gastar
[107v] [108r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 108

[66] Gastar palauras em contar estremos [69] Outro tambem dos doze em Alemanha
De golpes feros, cruas estocadas, Se lança, e teue hum fero desafio
He desses gastadores, que sabemos Cum Germano enganoso, que com manha
Maos do tempo, com fabulas sonhadas: Não diuida o quis pòr no estremo fio:
Basta por fim do caso, que entendemos Contando assi Veloso, ja a companha
Que com finezas altas e affamadas, Lhe pede, que não faça tal desuio
Cos nossos fica a palma da victoria, Do caso de Magriço, e vencimento
E as damas vencedoras, e com gloria. Nem deixe o de Alemanha em esquecimento.

[67] Recolhe o Duque os doze vencedores [70] Mas neste passo assi promptos estando,
Nos seus paços, com festas e alegria, Eis o mestre, que olhando os ares anda,
Cozinheiros occupa, e caçadores O apito toca, acordão despertando
Das damas a fermosa companhia, Os marinheiros dhũa e doutra banda:
Que querem dar aos seus libertadores E porque o vento vinha refrescando,
Banquetes mil, cada hora, e cada dia, Os traquetes das gaueas tomar manda,
Em quanto se detem em Inglaterra, Alerta, disse, estay, que o vento crece
Ate tornar aa doce e chara terra. Daquella nuuem negra que aparece.

[68] Mas dizem que com tudo o gram Magriço [71] Não erão os traquetes bem tomados,
Desejoso de ver as cousas grandes, Quando dà a grande e subita procella,
La se deixou ficar, onde hum seruiço Amaina, disse o mestre a grandes brados
Notauel aa condessa fez de Frandes: Amaina, disse, amaina a grande vella,
E como quem não era ja nouiço Não esperão os ventos indinados
Em todo trance, onde tuMarte mandes, Que amainassem, mas juntos dando nella,
Hum Frances mata em campo, que o destino Em pedaços a fazem, cum ruido
La teue de Torcato e de Coruino. Que o mundo pareceo ser destruydo.
Outro O 4 O ceo
[107v] [108r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 108

[66] Gastar palauras em contar estremos [69] Outro tambem dos doze em Alemanha
De golpes feros, cruas estocadas, Se lança, e teue hum fero desafio
He desses gastadores, que sabemos Cum Germano enganoso, que com manha
Maos do tempo, com fabulas sonhadas: Não diuida o quis pòr no estremo fio:
Basta por fim do caso, que entendemos Contando assi Veloso, ja a companha
Que com finezas altas e affamadas, Lhe pede, que não faça tal desuio
Cos nossos fica a palma da victoria, Do caso de Magriço, e vencimento
E as damas vencedoras, e com gloria. Nem deixe o de Alemanha em esquecimento.

[67] Recolhe o Duque os doze vencedores [70] Mas neste passo assi promptos estando,
Nos seus paços, com festas e alegria, Eis o mestre, que olhando os ares anda,
Cozinheiros occupa, e caçadores O apito toca, acordão despertando
Das damas a fermosa companhia, Os marinheiros dhũa e doutra banda:
Que querem dar aos seus libertadores E porque o vento vinha refrescando,
Banquetes mil, cada hora, e cada dia, Os traquetes das gaueas tomar manda,
Em quanto se detem em Inglaterra, Alerta, disse, estay, que o vento crece
Ate tornar aa doce e chara terra. Daquella nuuem negra que aparece.

[68] Mas dizem que com tudo o gram Magriço [71] Não erão os traquetes bem tomados,
Desejoso de ver as cousas grandes, Quando dà a grande e subita procella,
La se deixou ficar, onde hum seruiço Amaina, disse o mestre a grandes brados
Notauel aa condessa fez de Frandes: Amaina, disse, amaina a grande vella,
E como quem não era ja nouiço Não esperão os ventos indinados
Em todo trance, onde tuMarte mandes, Que amainassem, mas juntos dando nella,
Hum Frances mata em campo, que o destino Em pedaços a fazem, cum ruido
La teue de Torcato e de Coruino. Que o mundo pareceo ser destruydo.
Outro O 4 O ceo
[108v] [109r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 109

[72] Oceo fere com gritos nisto a gente, [75] A nao grande, em que vay Paulo da Gama,
Cum subito temor, e desacordo, Quebrado leua o masto pello meyo,
Que no romper da vela a Nao pendente Quasi toda alagada: a gente chama
Toma gram suma dagoa pello bordo, Aquelle que a saluar o mundo veyo:
Alija, disse o mestre, rijamente, Não menos gritos vãos ao ar derrama
Alija tudo ao mar, não falte acordo, Toda a Nao de Coelho, com receyo,
Vão outros dar a bomba não cessando, Com quanto teue o mestre tanto tento
Aa bomba que nos imos alagando. Que primeiro amainou que desse o vento.

[73] Correm logo os soldados animosos [76] Agora sobre as nuuens os subião
A dar aa bomba, e tanto que chegarão, As ondas de Neptuno furibundo,
Os balanços, que os mares temerosos Agora a ver parece que decião
Derão aa Nao, num bordo os derribarão: As intimas entranhas do profundo:
Tres marinheiros duros, e forçosos, Noto, Austro, Boreas, Aquilo querião
A menear o leme não bastarão, Arruinar a machina do mundo,
Talhas lhe punhão dhũa e doutra parte A noite negra e feya se alumia,
Se aproueitar dos homens força e arte. Cos rayos, em que o Polo todo ardia.

[74] Os ventos erão tais, que não poderão [77] As Alcioneas aues triste canto
Mostrar mais força dimpeto cruel, Iunto da costa braua leuantarão,
Se pera derribar então vierão Lembrando se de seu passado pranto,
A fortissima Torre de Babel: Que as furiosas agoas lhe causarão:
Nos altissimos mares, que crecerão, Os Delfins namorados entre tanto
A pequena grandura dhum batel, La nas couas maritimas entrarão,
Mostra a possante nao, que moue espanto Fugindo aa tempestade, e ventos duros
Vendo que se sostem nas ondas tanto. Que nem no fundo os deixa estar seguros
A nao Nunca
[108v] [109r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 109

[72] Oceo fere com gritos nisto a gente, [75] A nao grande, em que vay Paulo da Gama,
Cum subito temor, e desacordo, Quebrado leua o masto pello meyo,
Que no romper da vela a Nao pendente Quasi toda alagada: a gente chama
Toma gram suma dagoa pello bordo, Aquelle que a saluar o mundo veyo:
Alija, disse o mestre, rijamente, Não menos gritos vãos ao ar derrama
Alija tudo ao mar, não falte acordo, Toda a Nao de Coelho, com receyo,
Vão outros dar a bomba não cessando, Com quanto teue o mestre tanto tento
Aa bomba que nos imos alagando. Que primeiro amainou que desse o vento.

[73] Correm logo os soldados animosos [76] Agora sobre as nuuens os subião
A dar aa bomba, e tanto que chegarão, As ondas de Neptuno furibundo,
Os balanços, que os mares temerosos Agora a ver parece que decião
Derão aa Nao, num bordo os derribarão: As intimas entranhas do profundo:
Tres marinheiros duros, e forçosos, Noto, Austro, Boreas, Aquilo querião
A menear o leme não bastarão, Arruinar a machina do mundo,
Talhas lhe punhão dhũa e doutra parte A noite negra e feya se alumia,
Se aproueitar dos homens força e arte. Cos rayos, em que o Polo todo ardia.

[74] Os ventos erão tais, que não poderão [77] As Alcioneas aues triste canto
Mostrar mais força dimpeto cruel, Iunto da costa braua leuantarão,
Se pera derribar então vierão Lembrando se de seu passado pranto,
A fortissima Torre de Babel: Que as furiosas agoas lhe causarão:
Nos altissimos mares, que crecerão, Os Delfins namorados entre tanto
A pequena grandura dhum batel, La nas couas maritimas entrarão,
Mostra a possante nao, que moue espanto Fugindo aa tempestade, e ventos duros
Vendo que se sostem nas ondas tanto. Que nem no fundo os deixa estar seguros
A nao Nunca
[109v] [110r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 106

[78] Nunca tam viuos rayos fabricou [81] Diuina guarda, angelica, celeste,
Contra a fera soberba dos Gigantes, Que os ceos, o mar e terra senhoreas,
O gram ferreiro sordido, que obrou Tu que a todo Israel refugio deste
Do enteado as armas radiantes: Por metade das agoas Eritreas:
Nem tanto o gram Tonante arremessou Tu que liuraste Paulo e defendeste
Relampados ao mundo fulminantes, Das Syrtes arenosas e ondas feas,
No gram diluuio, donde sos viuerão E guardaste cos filhos o segundo
Os dous que em gente as pedras conuerterão. Pouoador do alagado e vacuo mundo.

[79] Quantos montes então, que derribarão [82] Se tenho nouos medos perigosos
As ondas que batião denodadas, Doutra Scylla e Caribdis ja passados,
Quantas aruores velhas arrancarão Outras Syrtes, e baxos arenosos,
Do vento brauo as furias indinadas: Outros Acroceraunios infamados,
As forçosas raizes não cuidarão No fim de tantos casos trabalhosos,
Que nunca pera o ceo fossem viradas, Por que somos de ti desemparados,
Nem as fundas arêas que podessem Se este nosso trabalho não te offende,
Tanto os mares que encima as reuoluessem. Mas antes teu seruiço so pretende?

[80] Vendo Vasco da Gama que tam perto [83] O ditosos aquelles que puderão
Do fim de seu desejo se perdia, Entre as agudas lanças Affricanas
Vendo ora o mar ate o inferno aberto, Morrer, em quanto fortes sostiuerão
Ora com noua furia ao ceo subia, A sancta Fe, nas terras Mauritanas:
Confuso de temor, da vida incerto, De quem feitos illustres se souberão,
Onde nenhum remedio lhe valia, De quem ficão memorias soberanas,
Chama aquelle remedio sancto e forte De quem se ganha a vida com perdella,
Que o impossibil pode, desta sorte. Doce fazendo a morte as honras della.
Diuina Assi
[109v] [110r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 106

[78] Nunca tam viuos rayos fabricou [81] Diuina guarda, angelica, celeste,
Contra a fera soberba dos Gigantes, Que os ceos, o mar e terra senhoreas,
O gram ferreiro sordido, que obrou Tu que a todo Israel refugio deste
Do enteado as armas radiantes: Por metade das agoas Eritreas:
Nem tanto o gram Tonante arremessou Tu que liuraste Paulo e defendeste
Relampados ao mundo fulminantes, Das Syrtes arenosas e ondas feas,
No gram diluuio, donde sos viuerão E guardaste cos filhos o segundo
Os dous que em gente as pedras conuerterão. Pouoador do alagado e vacuo mundo.

[79] Quantos montes então, que derribarão [82] Se tenho nouos medos perigosos
As ondas que batião denodadas, Doutra Scylla e Caribdis ja passados,
Quantas aruores velhas arrancarão Outras Syrtes, e baxos arenosos,
Do vento brauo as furias indinadas: Outros Acroceraunios infamados,
As forçosas raizes não cuidarão No fim de tantos casos trabalhosos,
Que nunca pera o ceo fossem viradas, Por que somos de ti desemparados,
Nem as fundas arêas que podessem Se este nosso trabalho não te offende,
Tanto os mares que encima as reuoluessem. Mas antes teu seruiço so pretende?

[80] Vendo Vasco da Gama que tam perto [83] O ditosos aquelles que puderão
Do fim de seu desejo se perdia, Entre as agudas lanças Affricanas
Vendo ora o mar ate o inferno aberto, Morrer, em quanto fortes sostiuerão
Ora com noua furia ao ceo subia, A sancta Fe, nas terras Mauritanas:
Confuso de temor, da vida incerto, De quem feitos illustres se souberão,
Onde nenhum remedio lhe valia, De quem ficão memorias soberanas,
Chama aquelle remedio sancto e forte De quem se ganha a vida com perdella,
Que o impossibil pode, desta sorte. Doce fazendo a morte as honras della.
Diuina Assi
[110v] [111r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 111

[84] Assi dizendo os ventos que lutauão, [87] Grinaldas manda por de varias cores
Como touros indomitos bramando, Sobre cabellos louros a porfia,
Mais e mais a tormenta acrecentauão, Quem não dirâ, que nacem roxas flores
Pella miuda enxarcia assuuiando: Sobre ouro natural, que amor infia:
Relampados medonhos não cessauão, Abrandar determina por amores
Feros trouoẽs que vem representando Dos ventos a nojosa companhia,
Cair o ceo dos exos sobre a terra, Mostrandolhe as amadas Nimphas bellas,
Consigo os elementos terem guerra. Que mais fermosas vinhão que as estrellas.

[85] Mas ja a amorosa strela scintilaua [88] Assi foy, porque tanto que chegarão
Diante do Sol claro, no Orizonte A vista dellas, logo lhe falecem
Mensageira do dia, e visitaua As forças com que dantes pellejarão,
A terra, e o largo mar, com leda fronte: E ja como rendidos lhe obedecem.
A deosa que nos ceos a gouernaua, Os pês e mãos, parece, que lhe atarão
De quem foge o ensifero Orionte, Os cabellos que os rayos escurecem,
Tanto que o mar, e a chara armada vira, A Boreas, que do peito mais queria,
Tocada junto foy de medo, e de ira. Assi disse a bellissima Oritia.

[86] Estas obras de Baco sam por certo, [89] Não creas, fero Boreas, que te creyo
Disse, mas não serâ, que auante leue Que me tiueste nunca amor constante,
Tão danada tenção, que descuberto Que brandura he de amor mais certo arreyo,
Me sera sempre o mal a que se atreue, E não conuem furor a firme amante:
Isto dizendo, dece ao mar aberto, Se ja não poẽs a tanta insania freyo,
No caminho gastando espaço breue, Não esperes de mi daqui em diante,
Em quanto manda as nimphas amorosas Que possa mais amarte, mas temerte,
Grinaldas nas cabeças por de rosas. Que amor contigo, em medo se conuerte.
Grinaldas Assi
[110v] [111r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 111

[84] Assi dizendo os ventos que lutauão, [87] Grinaldas manda por de varias cores
Como touros indomitos bramando, Sobre cabellos louros a porfia,
Mais e mais a tormenta acrecentauão, Quem não dirâ, que nacem roxas flores
Pella miuda enxarcia assuuiando: Sobre ouro natural, que amor infia:
Relampados medonhos não cessauão, Abrandar determina por amores
Feros trouoẽs que vem representando Dos ventos a nojosa companhia,
Cair o ceo dos exos sobre a terra, Mostrandolhe as amadas Nimphas bellas,
Consigo os elementos terem guerra. Que mais fermosas vinhão que as estrellas.

[85] Mas ja a amorosa strela scintilaua [88] Assi foy, porque tanto que chegarão
Diante do Sol claro, no Orizonte A vista dellas, logo lhe falecem
Mensageira do dia, e visitaua As forças com que dantes pellejarão,
A terra, e o largo mar, com leda fronte: E ja como rendidos lhe obedecem.
A deosa que nos ceos a gouernaua, Os pês e mãos, parece, que lhe atarão
De quem foge o ensifero Orionte, Os cabellos que os rayos escurecem,
Tanto que o mar, e a chara armada vira, A Boreas, que do peito mais queria,
Tocada junto foy de medo, e de ira. Assi disse a bellissima Oritia.

[86] Estas obras de Baco sam por certo, [89] Não creas, fero Boreas, que te creyo
Disse, mas não serâ, que auante leue Que me tiueste nunca amor constante,
Tão danada tenção, que descuberto Que brandura he de amor mais certo arreyo,
Me sera sempre o mal a que se atreue, E não conuem furor a firme amante:
Isto dizendo, dece ao mar aberto, Se ja não poẽs a tanta insania freyo,
No caminho gastando espaço breue, Não esperes de mi daqui em diante,
Em quanto manda as nimphas amorosas Que possa mais amarte, mas temerte,
Grinaldas nas cabeças por de rosas. Que amor contigo, em medo se conuerte.
Grinaldas Assi
[111v] [112r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 112

[90] Assi mesmo a fermosa Galatea [93] Esta he por certo a terra que buscais
Dizia ao fero Noto, que bem sabe Da verdadeira India, que aparece:
Que dias ha que em vella se recrea, E se do mundo mais não desejais,
E bem crê que com elle tudo acabe, Vosso trabalho longo aqui fenece:
Não sabe o brauo tanto bem se o crea, Soffrer aqui não pode o Gama mais,
Que o coração no peito lhe não cabe, De ledo em ver que a terra se conhece,
De contente de ver que a dama o manda, Os geolhos no chão, as mãos ao ceo
Pouco cuida que faz se logo abranda. A merce grande a Deos agardeceo.

[91] Desta maneira as outras amansauão [94] As graças a Deos daua, e razão tinha
Subitamente os outros amadores, Que não somente a terra lhe mostraua,
E logo aa linda Venus se entregauão, Que com tanto temor buscando vinha
Amansadas as iras e os furores, Por quem tanto trabalho esprimentaua,
Ella lhe prometeo vendo que amauão Mas via se liurado tão asinha
Sempiterno fauor em seus amores, Da morte, que no mar lhe aparelhaua
Nas bellas mãos tomandolhe omenagem O vento duro, feruido, e medonho,
De lhe serem leais esta viagem. Como quem despertou de horrendo sonho.

[92] Ia a menham clara daua nos outeiros, [95] Por meyo destes horridos perigos
Por onde o Ganges murmurando soa, Destes trabalhos graues e temores,
Quando da celsa gauea os marinheiros Alcanção os que sam de fama amigos
Enxergarão terra alta pella proa, As honras immortais, e graos mayores:
Ia fora de tormenta, e dos primeiros Não encostados sempre nos antigos
Mares, o temor vão do peito voa, Troncos nobres de seus antecessores,
Disse alegre o Piloto Melindano, Não nos leitos dourados, entre os finos
Terra he de Calecu, se não me engano. Animais de Moscouia Zebellinos.
Esta Não
[111v] [112r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEXTO. 112

[90] Assi mesmo a fermosa Galatea [93] Esta he por certo a terra que buscais
Dizia ao fero Noto, que bem sabe Da verdadeira India, que aparece:
Que dias ha que em vella se recrea, E se do mundo mais não desejais,
E bem crê que com elle tudo acabe, Vosso trabalho longo aqui fenece:
Não sabe o brauo tanto bem se o crea, Soffrer aqui não pode o Gama mais,
Que o coração no peito lhe não cabe, De ledo em ver que a terra se conhece,
De contente de ver que a dama o manda, Os geolhos no chão, as mãos ao ceo
Pouco cuida que faz se logo abranda. A merce grande a Deos agardeceo.

[91] Desta maneira as outras amansauão [94] As graças a Deos daua, e razão tinha
Subitamente os outros amadores, Que não somente a terra lhe mostraua,
E logo aa linda Venus se entregauão, Que com tanto temor buscando vinha
Amansadas as iras e os furores, Por quem tanto trabalho esprimentaua,
Ella lhe prometeo vendo que amauão Mas via se liurado tão asinha
Sempiterno fauor em seus amores, Da morte, que no mar lhe aparelhaua
Nas bellas mãos tomandolhe omenagem O vento duro, feruido, e medonho,
De lhe serem leais esta viagem. Como quem despertou de horrendo sonho.

[92] Ia a menham clara daua nos outeiros, [95] Por meyo destes horridos perigos
Por onde o Ganges murmurando soa, Destes trabalhos graues e temores,
Quando da celsa gauea os marinheiros Alcanção os que sam de fama amigos
Enxergarão terra alta pella proa, As honras immortais, e graos mayores:
Ia fora de tormenta, e dos primeiros Não encostados sempre nos antigos
Mares, o temor vão do peito voa, Troncos nobres de seus antecessores,
Disse alegre o Piloto Melindano, Não nos leitos dourados, entre os finos
Terra he de Calecu, se não me engano. Animais de Moscouia Zebellinos.
Esta Não
[112v] [113r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 113

[96] Não cos manjares nouos e exquisitos, [99] Destarte se esclarece o entendimento,
Não cos passeos molles e ouciosos, Que experiencias fazem repousado,
Não cos varios deleites e infinitos E fica vendo, como de alto assento,
Que afeminão os peitos generosos: O baxo tracto humano embaraçado,
Não cos nunca vencidos apetitos Este onde tiuer força o regimento
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos, Direito, e nam de affeitos occupado,
Que não soffre a nenhum que o passo mude Subirà (como deue) a illustre mando,
Pera algũa obra heroica de virtude. Contra vontade sua, e não rogando.

[97] Mas com buscar co seu forçoso braço FIM.


As honras, que elle chame proprias suas,
Vigiando, e vestindo o forjado aço
Soffrendo tempestades e ondas cruas:
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regioẽs de abrigo nuas,
Engulindo o corrupto mantimento
Temperado com hum arduo sofrimento. ☙ Canto Septimo.

[98] E com forçar o rosto que se enfia, [1] IA se viã chegados / junto aa terra,
A parecer seguro, ledo, inteiro, Que desejada ja de tantos fora,
Pera o pilouro ardente, que assouia Que entre as correntes Indicas se / encerra,
E leua a perna, ou braço ao companheiro: E o Ganges, que no çeo terreno mora:
Destarte o peito hum calo honroso cria Ora sus gente forte que na guerra
Desprezador das honras, e dinheiro, Quereis leuar a palma vencedora,
Das honras, e dinheiro, que a ventura Ia sois chegados, ja tendes diante
Forjou, e não vertude justa, e dura. A terra de riquezas abundante.
Destarte P A vos
[112v] [113r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 113

[96] Não cos manjares nouos e exquisitos, [99] Destarte se esclarece o entendimento,
Não cos passeos molles e ouciosos, Que experiencias fazem repousado,
Não cos varios deleites e infinitos E fica vendo, como de alto assento,
Que afeminão os peitos generosos: O baxo tracto humano embaraçado,
Não cos nunca vencidos apetitos Este onde tiuer força o regimento
Que a Fortuna tem sempre tão mimosos, Direito, e nam de affeitos occupado,
Que não soffre a nenhum que o passo mude Subirà (como deue) a illustre mando,
Pera algũa obra heroica de virtude. Contra vontade sua, e não rogando.

[97] Mas com buscar co seu forçoso braço FIM.


As honras, que elle chame proprias suas,
Vigiando, e vestindo o forjado aço
Soffrendo tempestades e ondas cruas:
Vencendo os torpes frios no regaço
Do Sul, e regioẽs de abrigo nuas,
Engulindo o corrupto mantimento
Temperado com hum arduo sofrimento. ☙ Canto Septimo.

[98] E com forçar o rosto que se enfia, [1] IA se viã chegados / junto aa terra,
A parecer seguro, ledo, inteiro, Que desejada ja de tantos fora,
Pera o pilouro ardente, que assouia Que entre as correntes Indicas se / encerra,
E leua a perna, ou braço ao companheiro: E o Ganges, que no çeo terreno mora:
Destarte o peito hum calo honroso cria Ora sus gente forte que na guerra
Desprezador das honras, e dinheiro, Quereis leuar a palma vencedora,
Das honras, e dinheiro, que a ventura Ia sois chegados, ja tendes diante
Forjou, e não vertude justa, e dura. A terra de riquezas abundante.
Destarte P A vos
[113v] [114r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 114

[2] A vos, ô geraçam de Luso digo, [5] Vedelo duro Ingles, que se nomea
Que tam pequena parte sois no mundo: Rei da velha e sanctissima cidade,
Não digo inda no mundo, mas no amigo Que o torpe Ismaelita senhorea,
Curral de quem gouerna o çeo rotundo: (Quem vio honra tam longe da verdade)
Vos, a quem não somente algum perigo Entre as Boreais neues se recrea,
Estorua conquistar o pouo inmundo: Noua maneira faz de Christandade,
Mas nem cobiça, ou pouca obediencia Pera os de Christo tem a espada nua,
Da Madre, que nos çeos estâ em essencia. Nam por tomar a terra que era sua.

[3] Vos Portugueses poucos, quanto fortes, [6] Guardalhe por entanto hum falso Rei,
Que o fraco poder vosso não pesais, A cidade Hierosolima terreste,
Vos que aa custa de vossas varias mortes Em quanto elle não guarda a sancta lei,
A lei da vida eterna dilatais: Da cidade Hierosolima celeste:
Assi do çeo deitadas sam as sortes, Pois de ti Gallo indigno que direy?
Que vos por muito poucos que sejais, Que o nome Christianissimo quiseste,
Muito façais na sancta Christandade: Nam pera defendelo, nem guardalo,
Que tanto, ô Christo exaltas a humildade. Mas pera ser contra elle, e derribalo.

[4] Vedelos Alemães, soberbo gado, [7] Achas que tẽs direito em senhorios
Que por tam largos campos se apacenta, De Christãos, sendo o teu tam largo e tãto,
Do successor de Pedro rebelado, E nam contra o Cynifio e Nilo rios
Nouo pastor, e noua ceita inuenta: Inimigos do antigo nome sancto,
Vedelo em feas guerras occupado, Ali se ande prouar da espada os fios,
Que inda co cego error se nam contenta, Em quem quer reprouar da Ygreja o canto,
Não contra o superbissimo Otomano: De Carlos, de Luis, o nome e a terra
Mas por sair do jugo soberano. Erdaste, e as causas nam da justa guerra?
Vedelo P2 Poisq̃
[113v] [114r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 114

[2] A vos, ô geraçam de Luso digo, [5] Vedelo duro Ingles, que se nomea
Que tam pequena parte sois no mundo: Rei da velha e sanctissima cidade,
Não digo inda no mundo, mas no amigo Que o torpe Ismaelita senhorea,
Curral de quem gouerna o çeo rotundo: (Quem vio honra tam longe da verdade)
Vos, a quem não somente algum perigo Entre as Boreais neues se recrea,
Estorua conquistar o pouo inmundo: Noua maneira faz de Christandade,
Mas nem cobiça, ou pouca obediencia Pera os de Christo tem a espada nua,
Da Madre, que nos çeos estâ em essencia. Nam por tomar a terra que era sua.

[3] Vos Portugueses poucos, quanto fortes, [6] Guardalhe por entanto hum falso Rei,
Que o fraco poder vosso não pesais, A cidade Hierosolima terreste,
Vos que aa custa de vossas varias mortes Em quanto elle não guarda a sancta lei,
A lei da vida eterna dilatais: Da cidade Hierosolima celeste:
Assi do çeo deitadas sam as sortes, Pois de ti Gallo indigno que direy?
Que vos por muito poucos que sejais, Que o nome Christianissimo quiseste,
Muito façais na sancta Christandade: Nam pera defendelo, nem guardalo,
Que tanto, ô Christo exaltas a humildade. Mas pera ser contra elle, e derribalo.

[4] Vedelos Alemães, soberbo gado, [7] Achas que tẽs direito em senhorios
Que por tam largos campos se apacenta, De Christãos, sendo o teu tam largo e tãto,
Do successor de Pedro rebelado, E nam contra o Cynifio e Nilo rios
Nouo pastor, e noua ceita inuenta: Inimigos do antigo nome sancto,
Vedelo em feas guerras occupado, Ali se ande prouar da espada os fios,
Que inda co cego error se nam contenta, Em quem quer reprouar da Ygreja o canto,
Não contra o superbissimo Otomano: De Carlos, de Luis, o nome e a terra
Mas por sair do jugo soberano. Erdaste, e as causas nam da justa guerra?
Vedelo P2 Poisq̃
[114v] [115r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 115

[8] Pois que direy daquelles que em delicias, [11] Se cobiça de grandes senhorios
Que o vil ocio no mundo traz consigo, Vos faz yr conquistar terras alheas,
Gastão as vidas, logrão as diuicias, Nam vedes que Pactolo e Hermo rios,
Esquecidos de seu valor antigo: Ambos voluem auriferas areas,
Nascem da tyrania inimicicias, Em Lidia, Assiria laurão de ouro os fios,
Que o pouo forte tem de si inimigo, Affrica esconde em si luzentes veas,
Contigo Italia fallo, ja sumersa Mouauos ja se quer riqueza tanta,
Em vicios mil, e de ti mesma aduersa. Pois mouer vos não pode a casa Sancta.

[9] O miseros Christãos, pola ventura [12] Aquellas inuenções feras e nouas,
Sois os dentes de Cadmo desparzidos, De instrumentos mortais da artelharia,
Que hũs aos outros se dão aa morte dura, Ia deuem de fazer as duras prouas,
Sendo todos de hum ventre produzidos? Nos muros de Bizancio, e de Turquia:
Nam vedes a diuina sepultura Fazei que torne la aas siluestres couas,
Possuida de cães, que sempre vnidos Dos Caspios montes, e da Citia fria,
Vos vem tomar a vossa antiga terra, A Turca geração, que multiplica
Fazendo se famosos pela guerra? Na policia da vossa Europa rica.

[10] Vedes que tem por vso e por decreto, [13] Gregos, Traces, Armenios, Georgianos
Do qual sam tão inteiros obseruantes, Bradando vos estão, que o pouo bruto
Ajuntarem o exercito inquieto, Lhe obriga os caros filhos aos profanos
Contra os pouos, que sam de Christo amantes. Preceptos do alcorão (duro tributo)
Entre vos nunca deixa a fera Aleto Em castigar os feitos inhumanos
De samear cizanias repugnantes, Vos gloriay de peito forte, e astuto,
Olhay sestais seguros de perigos, E não queirais louuores arrogantes,
Que elles e vos, sois vossos inimigos. De serdes contra os vossos muy possantes.
Se cobiça P3 Mas
[114v] [115r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 115

[8] Pois que direy daquelles que em delicias, [11] Se cobiça de grandes senhorios
Que o vil ocio no mundo traz consigo, Vos faz yr conquistar terras alheas,
Gastão as vidas, logrão as diuicias, Nam vedes que Pactolo e Hermo rios,
Esquecidos de seu valor antigo: Ambos voluem auriferas areas,
Nascem da tyrania inimicicias, Em Lidia, Assiria laurão de ouro os fios,
Que o pouo forte tem de si inimigo, Affrica esconde em si luzentes veas,
Contigo Italia fallo, ja sumersa Mouauos ja se quer riqueza tanta,
Em vicios mil, e de ti mesma aduersa. Pois mouer vos não pode a casa Sancta.

[9] O miseros Christãos, pola ventura [12] Aquellas inuenções feras e nouas,
Sois os dentes de Cadmo desparzidos, De instrumentos mortais da artelharia,
Que hũs aos outros se dão aa morte dura, Ia deuem de fazer as duras prouas,
Sendo todos de hum ventre produzidos? Nos muros de Bizancio, e de Turquia:
Nam vedes a diuina sepultura Fazei que torne la aas siluestres couas,
Possuida de cães, que sempre vnidos Dos Caspios montes, e da Citia fria,
Vos vem tomar a vossa antiga terra, A Turca geração, que multiplica
Fazendo se famosos pela guerra? Na policia da vossa Europa rica.

[10] Vedes que tem por vso e por decreto, [13] Gregos, Traces, Armenios, Georgianos
Do qual sam tão inteiros obseruantes, Bradando vos estão, que o pouo bruto
Ajuntarem o exercito inquieto, Lhe obriga os caros filhos aos profanos
Contra os pouos, que sam de Christo amantes. Preceptos do alcorão (duro tributo)
Entre vos nunca deixa a fera Aleto Em castigar os feitos inhumanos
De samear cizanias repugnantes, Vos gloriay de peito forte, e astuto,
Olhay sestais seguros de perigos, E não queirais louuores arrogantes,
Que elles e vos, sois vossos inimigos. De serdes contra os vossos muy possantes.
Se cobiça P3 Mas
[115v] [116r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 116

[14] Mas em tanto que cegos, e sedentos [17] Alem do Indo jaz, e âquem do Gange,
Andais de vosso sangue, o gente insana, Hum terreno muy grande, e assaz famoso,
Não faltarão Christãos atreuimentos, Que pela parte Austral o mar abrange,
Nesta pequena casa Lusitana E pera o Norte o Emodio cauernoso.
De Affrica tem maritimos assentos, Iugo de Reis diuersos o constrange
He na Asia mais que todas soberana, A varias leis: algũs o vicioso
Na quarta parte noua os campos ara, Mahoma, algũs os Idolos adorão,
E se mais mundo ouuera la chegâra. Algũs os animais, que entre elles morão.

[15] E vejamos em tanto que aconteçe [18] La bem no grande monte, que cortando
Aaquelles tam famosos nauegantes, Tam larga terra, toda Asia discorre,
Despois que a branda Venus enfraqueçe Que nomes tam diuersos vai tomando,
O furor vão dos ventos repugnantes: Segundo as regiões por onde corre,
Despois que a larga terra lhe apareçe, As fontes saem, donde vem manando
Fim de suas perfias tam constantes, Os rios, cuja gram corrente morre
Onde vẽ samear de Christo a ley, No mar Indico, e cercão todo o peso
E dar nouo costume, e nouo Rei. Do terreno, fazendo o Chersoneso.

[16] Tanto que aa noua terra se chegârão, [19] Entre hum e o outro rio, em grande espaço
Leues embarcações de pescadores Say da larga terra hũa longa ponta
Acharão, que o caminho lhe mostrârão Quasi piramidal, que no regaço
De Calecu onde eram moradores: Do mar com Ceilão insula confronta,
Pera la logo as proas se inclinarão, E junto donde nasce o largo braço
Porque esta era a cidade das milhores Gangetico, o rumor antigo conta.
Do Malabar milhor, onde viuia Que os vizinhos da terra moradores
O Rei que a terra toda possuia. Do cheiro se mantem das finas flores.
Alem P4 Mas
[115v] [116r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 116

[14] Mas em tanto que cegos, e sedentos [17] Alem do Indo jaz, e âquem do Gange,
Andais de vosso sangue, o gente insana, Hum terreno muy grande, e assaz famoso,
Não faltarão Christãos atreuimentos, Que pela parte Austral o mar abrange,
Nesta pequena casa Lusitana E pera o Norte o Emodio cauernoso.
De Affrica tem maritimos assentos, Iugo de Reis diuersos o constrange
He na Asia mais que todas soberana, A varias leis: algũs o vicioso
Na quarta parte noua os campos ara, Mahoma, algũs os Idolos adorão,
E se mais mundo ouuera la chegâra. Algũs os animais, que entre elles morão.

[15] E vejamos em tanto que aconteçe [18] La bem no grande monte, que cortando
Aaquelles tam famosos nauegantes, Tam larga terra, toda Asia discorre,
Despois que a branda Venus enfraqueçe Que nomes tam diuersos vai tomando,
O furor vão dos ventos repugnantes: Segundo as regiões por onde corre,
Despois que a larga terra lhe apareçe, As fontes saem, donde vem manando
Fim de suas perfias tam constantes, Os rios, cuja gram corrente morre
Onde vẽ samear de Christo a ley, No mar Indico, e cercão todo o peso
E dar nouo costume, e nouo Rei. Do terreno, fazendo o Chersoneso.

[16] Tanto que aa noua terra se chegârão, [19] Entre hum e o outro rio, em grande espaço
Leues embarcações de pescadores Say da larga terra hũa longa ponta
Acharão, que o caminho lhe mostrârão Quasi piramidal, que no regaço
De Calecu onde eram moradores: Do mar com Ceilão insula confronta,
Pera la logo as proas se inclinarão, E junto donde nasce o largo braço
Porque esta era a cidade das milhores Gangetico, o rumor antigo conta.
Do Malabar milhor, onde viuia Que os vizinhos da terra moradores
O Rei que a terra toda possuia. Do cheiro se mantem das finas flores.
Alem P4 Mas
[116v] [117r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 117

[20] Mas agora de nomes, e de vsança, [23] Chegada a frota ao rico senhorio,
Nouos e varios sam os habitantes: Hum Portugues mandado logo parte,
Os Delijs, os Patanes, que em possança A fazer sabedor o Rei gentio
De terra, e gente, sam mais abundantes, Da vinda sua a tam remota parte:
Decanis, Oriâs, que a esperança Entrando o mensageiro pelo Rio,
Tem de sua saluação nas resonantes Que ali nas ondas entra, a não vista arte
Agoas do Gange, e a terra de Bengala A cor, o gesto estranho, o trajo nouo
Fertil de sorte que outra não lhe igoala. Fez concorrer a vello todo o pouo.

[21] O Reino de Cambaia bellicoso [24] Entre a gente que a vello concorria,
(Dizem que foy de Poro Rei potente) Se chega hum Mahometa, que nascido
O Reino de Narsinga poderoso, Fora na região da Berberia,
Mais de ouro e pedras, que de forte gente: La onde fora Anteo obedecido:
Aqui se enxerga la do mar vndoso Ou pela vezinhança ja teria
Hum monte alto, que corre longamente, O Reino Lusitano conhecido,
Seruindo ao Malabar de forte muro, Ou foy ja assinalado de seu ferro,
Com que do Canarâ viue seguro. Fortuna o trouxe a tam longo desterro.

[22] Da terra os naturais lhe chamão Gate, [25] Em vendo o mensageiro com jocundo
Do pê do qual pequena quantidade Rosto, como quem sabe a lingoa Hispana
Se estende hũa fralda estreita, que combate Lhe disse, quem te trouxe a estoutro mundo,
Do mar a natural ferocidade: Tam longe da tua patria Lusitana?
Aqui de outras cidades sem debate, Abrindo lhe responde o mar profundo,
Calecu tem a illustre dignidade, Por onde nunca veio gente humana,
De cabeça de Imperio rica, e bella, Vimos buscar do Indo a grão corrente,
Samorim se intitula o senhor della. Por onde a Lei diuina se acrecente.
Chegada Espantado
[116v] [117r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 117

[20] Mas agora de nomes, e de vsança, [23] Chegada a frota ao rico senhorio,
Nouos e varios sam os habitantes: Hum Portugues mandado logo parte,
Os Delijs, os Patanes, que em possança A fazer sabedor o Rei gentio
De terra, e gente, sam mais abundantes, Da vinda sua a tam remota parte:
Decanis, Oriâs, que a esperança Entrando o mensageiro pelo Rio,
Tem de sua saluação nas resonantes Que ali nas ondas entra, a não vista arte
Agoas do Gange, e a terra de Bengala A cor, o gesto estranho, o trajo nouo
Fertil de sorte que outra não lhe igoala. Fez concorrer a vello todo o pouo.

[21] O Reino de Cambaia bellicoso [24] Entre a gente que a vello concorria,
(Dizem que foy de Poro Rei potente) Se chega hum Mahometa, que nascido
O Reino de Narsinga poderoso, Fora na região da Berberia,
Mais de ouro e pedras, que de forte gente: La onde fora Anteo obedecido:
Aqui se enxerga la do mar vndoso Ou pela vezinhança ja teria
Hum monte alto, que corre longamente, O Reino Lusitano conhecido,
Seruindo ao Malabar de forte muro, Ou foy ja assinalado de seu ferro,
Com que do Canarâ viue seguro. Fortuna o trouxe a tam longo desterro.

[22] Da terra os naturais lhe chamão Gate, [25] Em vendo o mensageiro com jocundo
Do pê do qual pequena quantidade Rosto, como quem sabe a lingoa Hispana
Se estende hũa fralda estreita, que combate Lhe disse, quem te trouxe a estoutro mundo,
Do mar a natural ferocidade: Tam longe da tua patria Lusitana?
Aqui de outras cidades sem debate, Abrindo lhe responde o mar profundo,
Calecu tem a illustre dignidade, Por onde nunca veio gente humana,
De cabeça de Imperio rica, e bella, Vimos buscar do Indo a grão corrente,
Samorim se intitula o senhor della. Por onde a Lei diuina se acrecente.
Chegada Espantado
[117v] [118r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 118

[26] Espantado ficou da gram viajem, [29] O Capitão o abraça em cabo ledo,
O mouro qne Monçaide se chamaua, Ouuindo clara a lingoa de Castella,
Ouuindo as opressoẽs que na passajem Iunto de si o assenta, e prompto e quedo
Do mar, o Lusitano lhe contaua, Pela terra pergunta, e cousas della:
Mas vendo em fim, que a força da mensajem Qual se ajuntaua em Rodope o aruoredo,
So pera o Rei da terra releuaua, So por ouuir o amante da donzella
Lhe diz que estaua fora da cidade. Euridiçe, tocando a lira de ouro,
Mas de caminho pouca quantidade. Tal a gente se ajunta a ouuir o Mouro.

[27] E que em tanto que a noua lhe chegasse [30] Elle começa, o gente que a natura
De sua estranha vinda, se queria Vizinha fez de meu paterno ninho,
Na sua pobre casa repousasse, Que destino tam grande, ou que ventura
E do manjar da terra comeria: Vos trouxe a cometerdes tal caminho:
E despois que se hum pouco recreasse, Nam he sem causa não occulta, e escura
Coelle pera a armada tornaria, Vir do longinco Tejo, e ignoto Minho,
Que alegria não pode ser tamanha, Por mares nunca doutro lenho arados,
Que achar gente vezinha em terra estranha. A Reinos tam remotos e apartados.

[28] O Portugues aceita de vontade [31] Deos por certo vos traz, porque pretende
O que o ledo Monçaide lhe offerece Algum seruiço seu por vos obrado:
Como se longa fora ja a amizade, Por isso so vos guia, e vos defende
Coelle come e bebe, e lhe obedeçe: Dos imigos do mar, do vento yrado:
Ambos se tornão logo da cidade, Sabey que estais na India, onde se estende
Pera a frota, que o Mouro bem conheçe, Diuerso pouo, rico e prosperado,
Sobem aa Capitaina, e toda a gente De ouro luzente, e fina pedraria,
Monçaide recebeo benignamente. Cheiro suaue, ardente especiaria.
O capitão Esta
[117v] [118r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 118

[26] Espantado ficou da gram viajem, [29] O Capitão o abraça em cabo ledo,
O mouro qne Monçaide se chamaua, Ouuindo clara a lingoa de Castella,
Ouuindo as opressoẽs que na passajem Iunto de si o assenta, e prompto e quedo
Do mar, o Lusitano lhe contaua, Pela terra pergunta, e cousas della:
Mas vendo em fim, que a força da mensajem Qual se ajuntaua em Rodope o aruoredo,
So pera o Rei da terra releuaua, So por ouuir o amante da donzella
Lhe diz que estaua fora da cidade. Euridiçe, tocando a lira de ouro,
Mas de caminho pouca quantidade. Tal a gente se ajunta a ouuir o Mouro.

[27] E que em tanto que a noua lhe chegasse [30] Elle começa, o gente que a natura
De sua estranha vinda, se queria Vizinha fez de meu paterno ninho,
Na sua pobre casa repousasse, Que destino tam grande, ou que ventura
E do manjar da terra comeria: Vos trouxe a cometerdes tal caminho:
E despois que se hum pouco recreasse, Nam he sem causa não occulta, e escura
Coelle pera a armada tornaria, Vir do longinco Tejo, e ignoto Minho,
Que alegria não pode ser tamanha, Por mares nunca doutro lenho arados,
Que achar gente vezinha em terra estranha. A Reinos tam remotos e apartados.

[28] O Portugues aceita de vontade [31] Deos por certo vos traz, porque pretende
O que o ledo Monçaide lhe offerece Algum seruiço seu por vos obrado:
Como se longa fora ja a amizade, Por isso so vos guia, e vos defende
Coelle come e bebe, e lhe obedeçe: Dos imigos do mar, do vento yrado:
Ambos se tornão logo da cidade, Sabey que estais na India, onde se estende
Pera a frota, que o Mouro bem conheçe, Diuerso pouo, rico e prosperado,
Sobem aa Capitaina, e toda a gente De ouro luzente, e fina pedraria,
Monçaide recebeo benignamente. Cheiro suaue, ardente especiaria.
O capitão Esta
[118v] [119r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 119

[32] Esta prouincia, cujo porto agora [35] A hum Cochim, e a outro Cananor,
Tomado tendes, Malabar se chama, A qual Chale, a qual a ilha da pimenta,
Do culto antigo os Ydolos adora, A qual Coulão, a qual dâ Cranganor
Que ca por estas partes se derrama: E os mais, a quem o mais serue e contenta
De diuersos Reis he, mas dum so fora Hum so moço, a quem tinha muito amor,
Noutro tempo, segundo a antiga fama, Despois que tudo deu, se lhe apresenta,
Saramâ Perimal foy derradeiro Pera este Calecu somente fica,
Rei, que este Reino teue vnido e inteiro. Cidade ja por tracto nobre e rica.

[33] Porem como a esta terra entam viessem, [36] Esta lhe dâ co titulo excellente
De la do seyo Arabico outras gentes, De Emperador, que sobre os outros mande,
Que o culto Mahometico trouxessem, Isto feito se parte diligente,
No qual me instituirão meus parentes, Pera onde em sancta vida acabe, e ande,
Succedeo que pregando conuertessem E daqui fica o nome de potente
O Perimal, de sabios e elloquentes, Camorî, mais que todos digno, e grande
Fazem lhe a ley tomar com feruor tanto, Ao moço e descendentes, donde vem
Que prosupos de nella morrer sancto. Este, que agora o Imperio manda e tem.

[34] Naos arma, e nellas mete curioso [37] A ley da gente toda rica e pobre,
Mercadoria que offereça rica, De fabulas composta se imagina:
Pera yr nellas a ser religioso, Andão nus, e somente hum pano cobre
Onde o propheta jaz, que a ley pubrica: As partes, que a cubrir natura insina:
Antes que parta, o Reino poderoso Dous modos ha de gente, porque a nobre
Cos seus reparte, porque não lhe fica Naires chamados sam, e a menos digna
Erdeiro proprio, faz os mais aceitos, Poleâs tem por nome, a quem obriga
Ricos de pobres, liures de sojeitos. A ley não mesturar a casta antiga.
A hum Porque
[118v] [119r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 119

[32] Esta prouincia, cujo porto agora [35] A hum Cochim, e a outro Cananor,
Tomado tendes, Malabar se chama, A qual Chale, a qual a ilha da pimenta,
Do culto antigo os Ydolos adora, A qual Coulão, a qual dâ Cranganor
Que ca por estas partes se derrama: E os mais, a quem o mais serue e contenta
De diuersos Reis he, mas dum so fora Hum so moço, a quem tinha muito amor,
Noutro tempo, segundo a antiga fama, Despois que tudo deu, se lhe apresenta,
Saramâ Perimal foy derradeiro Pera este Calecu somente fica,
Rei, que este Reino teue vnido e inteiro. Cidade ja por tracto nobre e rica.

[33] Porem como a esta terra entam viessem, [36] Esta lhe dâ co titulo excellente
De la do seyo Arabico outras gentes, De Emperador, que sobre os outros mande,
Que o culto Mahometico trouxessem, Isto feito se parte diligente,
No qual me instituirão meus parentes, Pera onde em sancta vida acabe, e ande,
Succedeo que pregando conuertessem E daqui fica o nome de potente
O Perimal, de sabios e elloquentes, Camorî, mais que todos digno, e grande
Fazem lhe a ley tomar com feruor tanto, Ao moço e descendentes, donde vem
Que prosupos de nella morrer sancto. Este, que agora o Imperio manda e tem.

[34] Naos arma, e nellas mete curioso [37] A ley da gente toda rica e pobre,
Mercadoria que offereça rica, De fabulas composta se imagina:
Pera yr nellas a ser religioso, Andão nus, e somente hum pano cobre
Onde o propheta jaz, que a ley pubrica: As partes, que a cubrir natura insina:
Antes que parta, o Reino poderoso Dous modos ha de gente, porque a nobre
Cos seus reparte, porque não lhe fica Naires chamados sam, e a menos digna
Erdeiro proprio, faz os mais aceitos, Poleâs tem por nome, a quem obriga
Ricos de pobres, liures de sojeitos. A ley não mesturar a casta antiga.
A hum Porque
[119v] [120r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 102

[38] Porque os q̃ vsaram sempre hum mesmo officio, [41] Gerais sam as molheres: mas somente
De outro nam podẽ receber consorte, Pera os da geração de seus maridos:
Nem os filhos teram outro exercicio, Ditosa condiçam, ditosa gente,
Senão o de seus passados ate morte, Que nam sam de ciumes offendidos.
Pera os Naires he certo grande viçio Estes e outros costumes variamente
Destes serem tocados de tal sorte, Sam pelos Malabares admitidos,
Que quando algum se toca por ventura, A terra he grossa em trato, em tudo aquilo
Com ceremonias mil se alimpa e apura. Que as ondas podem dar da China ao Nilo.

[39] Desta sorte o Iudaico pouo antigo [42] Assi contaua o Mouro: mas vagando
Nam tocaua na gente de Samaria, Andaua a fama ja pela cidade,
Mais estranhezas inda das que digo Da vinda desta gente estranha, quando
Nesta terra vereis de vsança varia, O Rei saber mandaua da verdade,
Os Naires sos sam dados ao perigo Ia vinham pelas ruas caminhando,
Das armas, sos defendem da contraria Rodeados de todo sexo, e idade,
Banda o seu Rei, trazendo sempre vsada Os principaes que o Rei buscar mandâra,
Na ezquerda a adarga, e na dereita a espada: O Capitão da armada que chegâra.

[40] Bramenes sam os seus religiosos, [43] Mas elle, que do Rei ja tem licença
Nome antigo, e de grande preminencia, Pera desembarcar, acompanhado
Obseruão os preceitos tam famosos Dos nobres Portugueses sem detença
Dhum, que primeiro pos nome aa ciencia: Parte de ricos panos adornado:
Nam matão cousa viua, e temerosos Das cores a fermosa diferença
Das carnes tem grandissima abstinencia, A vista alegra ao pouo aluoroçado,
Somente no venereo ajuntamento O remo compassado fere frio
Tem mais licença, e menos regimento. Agora o mar, despois o fresco rio.
Gerais Na
[119v] [120r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 102

[38] Porque os q̃ vsaram sempre hum mesmo officio, [41] Gerais sam as molheres: mas somente
De outro nam podẽ receber consorte, Pera os da geração de seus maridos:
Nem os filhos teram outro exercicio, Ditosa condiçam, ditosa gente,
Senão o de seus passados ate morte, Que nam sam de ciumes offendidos.
Pera os Naires he certo grande viçio Estes e outros costumes variamente
Destes serem tocados de tal sorte, Sam pelos Malabares admitidos,
Que quando algum se toca por ventura, A terra he grossa em trato, em tudo aquilo
Com ceremonias mil se alimpa e apura. Que as ondas podem dar da China ao Nilo.

[39] Desta sorte o Iudaico pouo antigo [42] Assi contaua o Mouro: mas vagando
Nam tocaua na gente de Samaria, Andaua a fama ja pela cidade,
Mais estranhezas inda das que digo Da vinda desta gente estranha, quando
Nesta terra vereis de vsança varia, O Rei saber mandaua da verdade,
Os Naires sos sam dados ao perigo Ia vinham pelas ruas caminhando,
Das armas, sos defendem da contraria Rodeados de todo sexo, e idade,
Banda o seu Rei, trazendo sempre vsada Os principaes que o Rei buscar mandâra,
Na ezquerda a adarga, e na dereita a espada: O Capitão da armada que chegâra.

[40] Bramenes sam os seus religiosos, [43] Mas elle, que do Rei ja tem licença
Nome antigo, e de grande preminencia, Pera desembarcar, acompanhado
Obseruão os preceitos tam famosos Dos nobres Portugueses sem detença
Dhum, que primeiro pos nome aa ciencia: Parte de ricos panos adornado:
Nam matão cousa viua, e temerosos Das cores a fermosa diferença
Das carnes tem grandissima abstinencia, A vista alegra ao pouo aluoroçado,
Somente no venereo ajuntamento O remo compassado fere frio
Tem mais licença, e menos regimento. Agora o mar, despois o fresco rio.
Gerais Na
[120v] [121r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 121

[44] Na praia hum regedor do Reino estaua, [47] Ali estam das deidades as figuras
Que na sua lingoa Catual se chama, Esculpidas em pao, e em pedra fria,
Rodeado de Naires, que esperaua Varios degestos, varios de pinturas,
Com desusada festa o nobre Gama: A segundo o Demonio lhe fingia.
Ia na terra nos braços o leuaua, Vem se as abominaueis esculturas,
E num portatil leito hũa rica cama Qual a Chimêra em membros se varia,
Lhe offereçe em que va, costume vsado, Os Christãos olhos a ver Deos vsados
Que nos hombros dos homẽs he leuado. Em forma humana estam marauilhados.

[45] Desta arte o Malabar, destarte o Luso, [48] Hum na cabeça cornos esculpidos,
Caminhão la pera onde o Rei o espera: Qual Iupiter Amon em Lybia estaua,
Os outros Portugueses vão ao vso Outro num corpo rostos tinha vnidos,
Que infantaria segne esquadra fera: Bem como o antigo Iano se pintaua:
O pouo que concorre vay confuso Outro com muitos braços diuididos
De ver a gente estranha, e bem quisera A Briareo pareçe que imitaua:
Perguntar: mas no tempo ja passado Outro fronte Canina tem de fora,
Na Torre de Babel lhe foi vedado. Qual AnubisMenfitico se adora.

[46] O Gama, e o Catual hião fallando [49] Aqui feita do barbaro gentio
Nas cousas que lhe o tempo offerecia, A supersticiosa adoração,
Monçaide entrelles vay interpretando Direitos vão sem outro algum desuio,
As palauras que de ambos entendia: Pera onde estaua o Rei do pouo vão:
Assi pela cidade caminhando, Engrossando se vay da gente o fio,
Onde hũa rica fabrica se erguia Cos que vem ver o estranho Capitão,
De hum sumptuoso templo ja chegauão, Estão pelos telhados e janellas
Pelas portas do qual juntos entrauão. Velhos e moços, donas e donzellas.
Ali Q Ia
[120v] [121r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 121

[44] Na praia hum regedor do Reino estaua, [47] Ali estam das deidades as figuras
Que na sua lingoa Catual se chama, Esculpidas em pao, e em pedra fria,
Rodeado de Naires, que esperaua Varios degestos, varios de pinturas,
Com desusada festa o nobre Gama: A segundo o Demonio lhe fingia.
Ia na terra nos braços o leuaua, Vem se as abominaueis esculturas,
E num portatil leito hũa rica cama Qual a Chimêra em membros se varia,
Lhe offereçe em que va, costume vsado, Os Christãos olhos a ver Deos vsados
Que nos hombros dos homẽs he leuado. Em forma humana estam marauilhados.

[45] Desta arte o Malabar, destarte o Luso, [48] Hum na cabeça cornos esculpidos,
Caminhão la pera onde o Rei o espera: Qual Iupiter Amon em Lybia estaua,
Os outros Portugueses vão ao vso Outro num corpo rostos tinha vnidos,
Que infantaria segne esquadra fera: Bem como o antigo Iano se pintaua:
O pouo que concorre vay confuso Outro com muitos braços diuididos
De ver a gente estranha, e bem quisera A Briareo pareçe que imitaua:
Perguntar: mas no tempo ja passado Outro fronte Canina tem de fora,
Na Torre de Babel lhe foi vedado. Qual AnubisMenfitico se adora.

[46] O Gama, e o Catual hião fallando [49] Aqui feita do barbaro gentio
Nas cousas que lhe o tempo offerecia, A supersticiosa adoração,
Monçaide entrelles vay interpretando Direitos vão sem outro algum desuio,
As palauras que de ambos entendia: Pera onde estaua o Rei do pouo vão:
Assi pela cidade caminhando, Engrossando se vay da gente o fio,
Onde hũa rica fabrica se erguia Cos que vem ver o estranho Capitão,
De hum sumptuoso templo ja chegauão, Estão pelos telhados e janellas
Pelas portas do qual juntos entrauão. Velhos e moços, donas e donzellas.
Ali Q Ia
[121v] [122r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 122

[50] Ia chegão perto, e não passos lentos, [53] Mais auante bebendo seca o rio,
Dos jardins odoriferos fermosos, Mui grande multidão da Assiria gente,
Que em si escondem os regios apousentos, Sujeita a feminino senhorio,
Altos de torres não, mas sumptuosos, De hũa tam bella, como incontinente:
Edificão se os nobres seus assentos, Ali tem junto ao lado nunca frio,
Por entre os aruoredos deleitosos, Esculpido o feroz ginete ardente,
Assi viuem os Reis daquella gente, Com quem teria o filho competencia,
No campo e na cidade juntamente. Amor nefando, bruta incontinencia.

[51] Pelos portais da cerca a sutileza [54] Daqui mais apartadas tremolauão
Se enxerga da Dedalea facultade, As bandeiras de Grecia gloriosas,
Em figuras mostrando por nobreza Terceira Monarchia, e sojugauão,
Da India a mais remota antiguidade: Ate as agoas Gangeticas vndosas:
Affiguradas vão com tal viueza Dum capitão mancebo se guiauão
As historias daquella antiga idade, De palmas rodeado valerosas,
Que quem dellas tiuer noticia inteira, Que ja não de Filipo, mas sem falta
Pela sombra conheçe a verdadeira. De progenie de Iupiter se exalta.

[52] Estaua hum grande exercito que pisa [55] Os Portugueses vendo estas memorias,
A terra Oriental, que o Idaspe laua, Dizia o Catual ao Capitão,
Rege o hum capitam de fronte lisa, Tempo cedo virà que outras victorias,
Que com frondentes Tirsos pelejaua, Estas que agora olhais abaterão:
Por elle edificada estaua Nisa Aqui se escreuerão nouas historias,
Nas ribeiras do rio, que manaua, Por gentes estrangeiras que virão
Tão proprio, que se ali estiuer Semelle, Que os nossos sabios magos o alcançârão,
Dirâ por certo, que he seu filho aquelle. Quando o tempo futuro especulârão.
Mais Q 2 E dizlhe
[121v] [122r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 122

[50] Ia chegão perto, e não passos lentos, [53] Mais auante bebendo seca o rio,
Dos jardins odoriferos fermosos, Mui grande multidão da Assiria gente,
Que em si escondem os regios apousentos, Sujeita a feminino senhorio,
Altos de torres não, mas sumptuosos, De hũa tam bella, como incontinente:
Edificão se os nobres seus assentos, Ali tem junto ao lado nunca frio,
Por entre os aruoredos deleitosos, Esculpido o feroz ginete ardente,
Assi viuem os Reis daquella gente, Com quem teria o filho competencia,
No campo e na cidade juntamente. Amor nefando, bruta incontinencia.

[51] Pelos portais da cerca a sutileza [54] Daqui mais apartadas tremolauão
Se enxerga da Dedalea facultade, As bandeiras de Grecia gloriosas,
Em figuras mostrando por nobreza Terceira Monarchia, e sojugauão,
Da India a mais remota antiguidade: Ate as agoas Gangeticas vndosas:
Affiguradas vão com tal viueza Dum capitão mancebo se guiauão
As historias daquella antiga idade, De palmas rodeado valerosas,
Que quem dellas tiuer noticia inteira, Que ja não de Filipo, mas sem falta
Pela sombra conheçe a verdadeira. De progenie de Iupiter se exalta.

[52] Estaua hum grande exercito que pisa [55] Os Portugueses vendo estas memorias,
A terra Oriental, que o Idaspe laua, Dizia o Catual ao Capitão,
Rege o hum capitam de fronte lisa, Tempo cedo virà que outras victorias,
Que com frondentes Tirsos pelejaua, Estas que agora olhais abaterão:
Por elle edificada estaua Nisa Aqui se escreuerão nouas historias,
Nas ribeiras do rio, que manaua, Por gentes estrangeiras que virão
Tão proprio, que se ali estiuer Semelle, Que os nossos sabios magos o alcançârão,
Dirâ por certo, que he seu filho aquelle. Quando o tempo futuro especulârão.
Mais Q 2 E dizlhe
[122v] [123r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 123

[56] E dizlhe mais a magica sciencia, [59] Sentado o Gama junto ao rico leito,
Que pera se euitar força tamanha, Os seus mais afastados, prompto em vista
Não valerâ dos homẽs resistencia, Estaua o Samori no trajo e geito
Que contra o Ceo não val da gente manha: Da gente, nunca de antes delle vista:
Mas tambem diz que a bellica excellencia Lançando a graue voz do sabio peito,
Nas armas, e na paz, da gente estranha Que grande authoridade logo aquista
Sera tal, que sera no mundo ouuido Na opinião do Rei, e do pouo todo
O vencedor, por gloria do vencido. O Capitão lhe falla deste modo.

[57] Assi fallando entrauão ja na sala, [60] Hum grande Rei, de la das partes, onde
Onde aquelle potente Emperador O ceo volubil com perpetua roda
Nũa camilha jaz, que nam se igoala Da terra a luz solar coa terra esconde,
De outra algũa no preço e no lauor: Tingindo a que deixou de escura noda,
No recostado gesto se assinala Ouuindo do rumor que la responde
Hum venerando e prospero senhor, O eco, como em ti da India toda
Hum pano de ouro cinge, e na cabeça O principado estâ, e a magestade,
De preciosas gemas se adereça. Vinculo quer contigo de amizade.

[58] Bem junto delle hum velho reuerente, [61] E por longos rodeos a ti manda,
Cos giolhos no chão, de quando em quando Por te fazer saber que tudo aquillo
Lhe daua a verde folha da erua ardente Que sobre o mar, que sobre as terras anda
Que a seu costume estaua ruminando: De riquezas, de lâ do Tejo ao Nilo:
Hum Bramene, pessoa preminente, E desda fria plaga de Gelanda,
Pera o Gama vem com passo brando, Ate bem donde o Sol nam muda o estilo
Pera que ao grande Principe o apresente, Nos dias, sobre a gente de Ethiopia,
Que diante lhe acena que se assente. Tudo tem no seu Reino em grande copia.
Sentado Q 3 E se
[122v] [123r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 123

[56] E dizlhe mais a magica sciencia, [59] Sentado o Gama junto ao rico leito,
Que pera se euitar força tamanha, Os seus mais afastados, prompto em vista
Não valerâ dos homẽs resistencia, Estaua o Samori no trajo e geito
Que contra o Ceo não val da gente manha: Da gente, nunca de antes delle vista:
Mas tambem diz que a bellica excellencia Lançando a graue voz do sabio peito,
Nas armas, e na paz, da gente estranha Que grande authoridade logo aquista
Sera tal, que sera no mundo ouuido Na opinião do Rei, e do pouo todo
O vencedor, por gloria do vencido. O Capitão lhe falla deste modo.

[57] Assi fallando entrauão ja na sala, [60] Hum grande Rei, de la das partes, onde
Onde aquelle potente Emperador O ceo volubil com perpetua roda
Nũa camilha jaz, que nam se igoala Da terra a luz solar coa terra esconde,
De outra algũa no preço e no lauor: Tingindo a que deixou de escura noda,
No recostado gesto se assinala Ouuindo do rumor que la responde
Hum venerando e prospero senhor, O eco, como em ti da India toda
Hum pano de ouro cinge, e na cabeça O principado estâ, e a magestade,
De preciosas gemas se adereça. Vinculo quer contigo de amizade.

[58] Bem junto delle hum velho reuerente, [61] E por longos rodeos a ti manda,
Cos giolhos no chão, de quando em quando Por te fazer saber que tudo aquillo
Lhe daua a verde folha da erua ardente Que sobre o mar, que sobre as terras anda
Que a seu costume estaua ruminando: De riquezas, de lâ do Tejo ao Nilo:
Hum Bramene, pessoa preminente, E desda fria plaga de Gelanda,
Pera o Gama vem com passo brando, Ate bem donde o Sol nam muda o estilo
Pera que ao grande Principe o apresente, Nos dias, sobre a gente de Ethiopia,
Que diante lhe acena que se assente. Tudo tem no seu Reino em grande copia.
Sentado Q 3 E se
[123v] [124r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO 124

[62] E se queres com pactos, e lianças [65] E que em tanto podia do trabalho
De paz, e de amizade sacra, e nua, Passado yr repousar, e em tempo breue
Comerçio consentir das abundanças Daria a seu despacho hum justo talho,
Das fazendas da terra sua, e tua, Com que a seu Rei reposta alegre leue:
Porque creção as rendas, e abastanças, Ia nisto punha a noite o vsado atalho
Por quem a gente mais trabalha e sua, Aas humanas canseiras, porque ceue
De vossos Reinos, sera certamente De doçe sono os membros trabalhados,
De ti proueito, e delle gloria ingente. Os olhos ocupando ao ocio dados.

[63] E sendo assi que o nô desta amizade, [66] Agasalhados foram juntamente,
Entre vos firmemente permaneça, O Gama, e Portugueses no apousento
Estara prompto a toda aduersidade, Do nobre Regedor da Indica gente,
Que por guerra a teu Reino se offereça: Com festas e geral contentamento:
Com gente, armas, e naos de qualidade O Catual no cargo diligente
Que por yrmão te tenha, e te conheça, De seu Rei, tinha ja por regimento
E da vontade em ti sobristo posta Saber da gente estranha donde vinha
Me des a my certissima reposta. Que costumes, que lei, que terra tinha.

[64] Tal embaxada daua o Capitão, [67] Tanto que os igneos carros do fermoso
A quem o Rei gentio respondia, Mancebo Delio vio, que a luz renoua,
Que em ver embaxadores de nação Manda chamar Monçaide, desejoso
Tam remota, gram gloria recebia: De poderse informar da gente noua:
Mas neste caso a vltima tençam Ia lhe pergunta prompto e curioso,
Com os de seu conselho tomaria, Se tem noticia inteira, e certa proua,
Informando se certo de quem era Dos estranhos quem sam, que ouuido tinha
O Rei, e a gente, e terra que dissera. Que he gente de sua patria muy vizinha.
E que Q 4 Que
[123v] [124r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO 124

[62] E se queres com pactos, e lianças [65] E que em tanto podia do trabalho
De paz, e de amizade sacra, e nua, Passado yr repousar, e em tempo breue
Comerçio consentir das abundanças Daria a seu despacho hum justo talho,
Das fazendas da terra sua, e tua, Com que a seu Rei reposta alegre leue:
Porque creção as rendas, e abastanças, Ia nisto punha a noite o vsado atalho
Por quem a gente mais trabalha e sua, Aas humanas canseiras, porque ceue
De vossos Reinos, sera certamente De doçe sono os membros trabalhados,
De ti proueito, e delle gloria ingente. Os olhos ocupando ao ocio dados.

[63] E sendo assi que o nô desta amizade, [66] Agasalhados foram juntamente,
Entre vos firmemente permaneça, O Gama, e Portugueses no apousento
Estara prompto a toda aduersidade, Do nobre Regedor da Indica gente,
Que por guerra a teu Reino se offereça: Com festas e geral contentamento:
Com gente, armas, e naos de qualidade O Catual no cargo diligente
Que por yrmão te tenha, e te conheça, De seu Rei, tinha ja por regimento
E da vontade em ti sobristo posta Saber da gente estranha donde vinha
Me des a my certissima reposta. Que costumes, que lei, que terra tinha.

[64] Tal embaxada daua o Capitão, [67] Tanto que os igneos carros do fermoso
A quem o Rei gentio respondia, Mancebo Delio vio, que a luz renoua,
Que em ver embaxadores de nação Manda chamar Monçaide, desejoso
Tam remota, gram gloria recebia: De poderse informar da gente noua:
Mas neste caso a vltima tençam Ia lhe pergunta prompto e curioso,
Com os de seu conselho tomaria, Se tem noticia inteira, e certa proua,
Informando se certo de quem era Dos estranhos quem sam, que ouuido tinha
O Rei, e a gente, e terra que dissera. Que he gente de sua patria muy vizinha.
E que Q 4 Que
[124v] [125r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 125

[68] Que particularmente ali lhe desse [71] Nam menos tem mostrado esforço, e manha,
Informação muy larga, pois fazia Em quaesquer outras guerras que acõteção,
Nisso seruiço ao Rei, porque soubesse Ou das gentes beligeras de Espanha,
O que neste negocio se faria: Ou la dalgũs que do Pirene deção.
Monçaide torna, posto que eu quisesse Assi que nunca em fim com lança estranha
Dizerte disto mais nam saberia, Se tem, que por vencidos se conheção,
Somente sey que he gente la de Hespanha Nem se sabe inda não, te afirmo e assello
Onde o meu ninho, e o Sol no mar se banha. Pera estes Anibais nenhum Marcello.

[69] Tem a ley dum Propheta, que gerado [72] E sesta informação nam for inteira
Foi sem fazer na carne detrimento Tanto quanto conuem, delles pretende
Da mãy, tal que por bafo estâ aprouado Informarte, que he gente verdadeira,
Do Deos, que tem do mundo o regimento: A quem mais falsidade enoja e offende:
O que entre meus antigos he vulgado Vay verlhe a frota, as armas, e a maneira
Delles, he que o valor sanguinolento Do fundido metal, que tudo rende,
Das armas, no seu braço resplandeçe, E folgaras de veres a policia
O que em nossos passados se pareçe. Portuguesa na paz, e na milicia.

[70] Porque elles com virtude sobre humana, [73] Ia com desejos o Idolatra ardia,
Os deitarão dos campos abundosos De ver isto, que o Mouro lhe contaua,
Do rico Tejo, e fresca Goadiana, Manda esquipar bateis, que yr ver queria
Com feitos memoraueis, e famosos: Os lenhos em que o Gama nauegaua.
E não contentes inda, e na Affricana Ambos partem da praia, a quem seguia
Parte, cortando os mares procelosos A Naira geraçam, que o mar coalhaua,
Nos não querem deixar viuer seguros, Aa Capitaina sobem forte e bella,
Tomando nos cidades, e altos muros. Onde Paulo os recebe a bordo della.
Não Purpureos
[124v] [125r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 125

[68] Que particularmente ali lhe desse [71] Nam menos tem mostrado esforço, e manha,
Informação muy larga, pois fazia Em quaesquer outras guerras que acõteção,
Nisso seruiço ao Rei, porque soubesse Ou das gentes beligeras de Espanha,
O que neste negocio se faria: Ou la dalgũs que do Pirene deção.
Monçaide torna, posto que eu quisesse Assi que nunca em fim com lança estranha
Dizerte disto mais nam saberia, Se tem, que por vencidos se conheção,
Somente sey que he gente la de Hespanha Nem se sabe inda não, te afirmo e assello
Onde o meu ninho, e o Sol no mar se banha. Pera estes Anibais nenhum Marcello.

[69] Tem a ley dum Propheta, que gerado [72] E sesta informação nam for inteira
Foi sem fazer na carne detrimento Tanto quanto conuem, delles pretende
Da mãy, tal que por bafo estâ aprouado Informarte, que he gente verdadeira,
Do Deos, que tem do mundo o regimento: A quem mais falsidade enoja e offende:
O que entre meus antigos he vulgado Vay verlhe a frota, as armas, e a maneira
Delles, he que o valor sanguinolento Do fundido metal, que tudo rende,
Das armas, no seu braço resplandeçe, E folgaras de veres a policia
O que em nossos passados se pareçe. Portuguesa na paz, e na milicia.

[70] Porque elles com virtude sobre humana, [73] Ia com desejos o Idolatra ardia,
Os deitarão dos campos abundosos De ver isto, que o Mouro lhe contaua,
Do rico Tejo, e fresca Goadiana, Manda esquipar bateis, que yr ver queria
Com feitos memoraueis, e famosos: Os lenhos em que o Gama nauegaua.
E não contentes inda, e na Affricana Ambos partem da praia, a quem seguia
Parte, cortando os mares procelosos A Naira geraçam, que o mar coalhaua,
Nos não querem deixar viuer seguros, Aa Capitaina sobem forte e bella,
Tomando nos cidades, e altos muros. Onde Paulo os recebe a bordo della.
Não Purpureos
[125v] [126r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 126

[74] Purpureos sam os toldos, e as bandeiras [77] Alçase em pê, co elle os Gamas junto
Do rico fio sam, que o bicho gera, Coelho de outra parte, e o Mauritano
Nellas estam pintadas as guerreiras Os olhos poem no bellico trasunto
Obras, que o forte braço ja fizera: De hum velho branco, aspeito venerando,
Batalhas tem campais auentureiras, Cujo nome nam pode ser defuncto
Desafios crueis, pintura fera, Em quanto ouuer no mundo trato humano,
Que tanto que ao Gentio se apresenta, No trajo a Grega vsança estâ perfeita,
A tento nella os olhos apacenta. Hum ramo por insignia na dereita.

[75] Pelo que ve pergunta: mas o Gama [78] Hum ramo na mão tinha: mas o cego
Lhe pedia primeiro que se assente, Eu que cometo insano, e temerario,
E que aquelle deleite que tanto ama Sem vos Nimphas do Tejo, e do Mondego,
A ceita Epicurea, esperimente: Por caminho tam arduo, longo, e vario:
Dos espumantes vasos se derrama Vosso fauor inuoco, que nauego
O licor, que Noe mostrâra aa gente: Por alto mar, com vento tam contrario,
Mas comer o Gentio nam pretende, Que se nam me ajudais, ei grande medo,
Que a ceita que seguia lho defende. Que o meu fraco batel se alague cedo.

[76] A trombeta que em paz no pensamento, [79] Olhay que ha tanto tempo, que cantando
Imagem faz de guerra, rompe os ares, O vosso Tejo, e os vossos Lusitanos,
Co fogo o diabolico instrumento, A fortuna me traz peregrinando,
Se faz ouuir no fundo la dos mares: Nouos trabalhos vendo, e nouos danos:
Tudo o Gentio nota: mas o intento Agora o mar, agora esprimentando
Mostraua sempre ternos singulares Os perigos Mauorcios inhumanos,
Feitos dos homẽs, que em retrato breue Qual Canace que â morte se condena,
A muda poesia ali descreue. Nũa mão sempre a espada, e noutra a pena.
Alçase Agora
[125v] [126r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 126

[74] Purpureos sam os toldos, e as bandeiras [77] Alçase em pê, co elle os Gamas junto
Do rico fio sam, que o bicho gera, Coelho de outra parte, e o Mauritano
Nellas estam pintadas as guerreiras Os olhos poem no bellico trasunto
Obras, que o forte braço ja fizera: De hum velho branco, aspeito venerando,
Batalhas tem campais auentureiras, Cujo nome nam pode ser defuncto
Desafios crueis, pintura fera, Em quanto ouuer no mundo trato humano,
Que tanto que ao Gentio se apresenta, No trajo a Grega vsança estâ perfeita,
A tento nella os olhos apacenta. Hum ramo por insignia na dereita.

[75] Pelo que ve pergunta: mas o Gama [78] Hum ramo na mão tinha: mas o cego
Lhe pedia primeiro que se assente, Eu que cometo insano, e temerario,
E que aquelle deleite que tanto ama Sem vos Nimphas do Tejo, e do Mondego,
A ceita Epicurea, esperimente: Por caminho tam arduo, longo, e vario:
Dos espumantes vasos se derrama Vosso fauor inuoco, que nauego
O licor, que Noe mostrâra aa gente: Por alto mar, com vento tam contrario,
Mas comer o Gentio nam pretende, Que se nam me ajudais, ei grande medo,
Que a ceita que seguia lho defende. Que o meu fraco batel se alague cedo.

[76] A trombeta que em paz no pensamento, [79] Olhay que ha tanto tempo, que cantando
Imagem faz de guerra, rompe os ares, O vosso Tejo, e os vossos Lusitanos,
Co fogo o diabolico instrumento, A fortuna me traz peregrinando,
Se faz ouuir no fundo la dos mares: Nouos trabalhos vendo, e nouos danos:
Tudo o Gentio nota: mas o intento Agora o mar, agora esprimentando
Mostraua sempre ternos singulares Os perigos Mauorcios inhumanos,
Feitos dos homẽs, que em retrato breue Qual Canace que â morte se condena,
A muda poesia ali descreue. Nũa mão sempre a espada, e noutra a pena.
Alçase Agora
[126v] [127r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 127

[80] Agora com pobreza auorrecida, [83] Pois logo em tantos males he forçado,
Por hospicios alheios degradado, Que so vosso fauor me não falleça,
Agora da esperança ja adquirida, Principalmente aqui, que sou chegado
De nouo mais que nunca derribado: Onde feitos diuersos engrandeça:
Agora aas costas escapando a vida, Daimo vos sos, que eu tenho ja jurado
Que dum fio pendia tam delgado, Que não no empregue em quem o não mereça
Que não menos milagre foi saluarse, Nem por lisonja louue algum subido,
Que pera o Rei Iudaico acrecentarse. Sob pena de não ser agradecido.

[81] E ainda Nimphas minhas não bastaua, [84] Nem creais Nimphas nam que fama desse
Que tamanhas miserias me cercassem: A quem ao bem comum, e do seu Rei
Senão que aquelles que eu cantando andaua, Anteposer seu proprio interesse:
Tal premio de meus versos me tornassem Imigo da diuina e humana ley,
A troco dos descansos que esperaua, Nenhum ambicioso, que quisesse
Das capellas de louro que me honrassem, Subir a grandes cargos, cantarey,
Trabalhos nunca vsados me inuentârão, So por poder com torpes exercicios
Com que em tam duro estado me deitârão. Vsar mais largamente de seus vicios.

[82] Vede Nimphas que engenhos de senhores [85] Nenhum que vse de seu poder bastante
O vosso Tejo cria valerosos, Pera seruir a seu desejo feio,
Que assi sabem prezarcom tais fauores E que por comprazer ao vulgo errante
A quem os faz cantando gloriosos: Se muda em mais figuras que Proteio,
Que exemplos a futuros escriptores, Nem Camenas tambem cuideis que cante
Pera espertar engenhos curiosos, Quem com habito honesto e graue veio,
Pera porem as cousas em memoria, Por contentar o Rei no officio nouo,
Que merecerem ter eterna gloria. A despir e roubar o pobre pouo.
Pois Nem
[126v] [127r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO SEPTIMO. 127

[80] Agora com pobreza auorrecida, [83] Pois logo em tantos males he forçado,
Por hospicios alheios degradado, Que so vosso fauor me não falleça,
Agora da esperança ja adquirida, Principalmente aqui, que sou chegado
De nouo mais que nunca derribado: Onde feitos diuersos engrandeça:
Agora aas costas escapando a vida, Daimo vos sos, que eu tenho ja jurado
Que dum fio pendia tam delgado, Que não no empregue em quem o não mereça
Que não menos milagre foi saluarse, Nem por lisonja louue algum subido,
Que pera o Rei Iudaico acrecentarse. Sob pena de não ser agradecido.

[81] E ainda Nimphas minhas não bastaua, [84] Nem creais Nimphas nam que fama desse
Que tamanhas miserias me cercassem: A quem ao bem comum, e do seu Rei
Senão que aquelles que eu cantando andaua, Anteposer seu proprio interesse:
Tal premio de meus versos me tornassem Imigo da diuina e humana ley,
A troco dos descansos que esperaua, Nenhum ambicioso, que quisesse
Das capellas de louro que me honrassem, Subir a grandes cargos, cantarey,
Trabalhos nunca vsados me inuentârão, So por poder com torpes exercicios
Com que em tam duro estado me deitârão. Vsar mais largamente de seus vicios.

[82] Vede Nimphas que engenhos de senhores [85] Nenhum que vse de seu poder bastante
O vosso Tejo cria valerosos, Pera seruir a seu desejo feio,
Que assi sabem prezarcom tais fauores E que por comprazer ao vulgo errante
A quem os faz cantando gloriosos: Se muda em mais figuras que Proteio,
Que exemplos a futuros escriptores, Nem Camenas tambem cuideis que cante
Pera espertar engenhos curiosos, Quem com habito honesto e graue veio,
Pera porem as cousas em memoria, Por contentar o Rei no officio nouo,
Que merecerem ter eterna gloria. A despir e roubar o pobre pouo.
Pois Nem
[127v] [128r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 128

[86] Nem quem acha que he justo e que he dereito


Guardase a ley do Rei seueramente,
E não acha que he justo e bom respeito,
Que se pague o suor da seruil gente.
Nem quem sempre com pouco experto peito ☙ Canto Octauo.
Razões aprende, e cuida que he prudente,
Pera taxar com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios, que nam passa.

[87] Aquelles sos direy que auenturârão [1] NA primeira figura / se detinha
Por seu Deos, por seu Rei, a amada vida O Catual, que vira estar pinta-/da.
Onde perdendoa, em fama a dilatârão, Que por diuisa hum ramo na mão tinha,
Tambem de suas obras merecida. A barba branca, longa, e penteada:
Apolo, e as Musas que me acompanharão, Quem era, e porque causa lhe conuinha
Me dobraram a furia concedida A diuisa que tem na mão tomada,
Em quanto eu tomo alento descansado, Paulo responde, cuja voz discreta
Por tornar ao trabalho mais folgado. O Mauritano sabio lhe interpreta.

FIM. [2] Estas figuras todas que aparecem,


Brauos em vista, e feros nos aspeitos,
Mais brauos, e mais feros se conhecem
Pela fama, nas obras, e nos feitos
Antigos sam, mas inda resplandecem
Co nome, entre os engenhos mais perfeitos,
Este que ves he Luso, donde a fama
O nosso Reino Lusitania chama.
Foi
[127v] [128r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 128

[86] Nem quem acha que he justo e que he dereito


Guardase a ley do Rei seueramente,
E não acha que he justo e bom respeito,
Que se pague o suor da seruil gente.
Nem quem sempre com pouco experto peito ☙ Canto Octauo.
Razões aprende, e cuida que he prudente,
Pera taxar com mão rapace e escassa,
Os trabalhos alheios, que nam passa.

[87] Aquelles sos direy que auenturârão [1] NA primeira figura / se detinha
Por seu Deos, por seu Rei, a amada vida O Catual, que vira estar pinta-/da.
Onde perdendoa, em fama a dilatârão, Que por diuisa hum ramo na mão tinha,
Tambem de suas obras merecida. A barba branca, longa, e penteada:
Apolo, e as Musas que me acompanharão, Quem era, e porque causa lhe conuinha
Me dobraram a furia concedida A diuisa que tem na mão tomada,
Em quanto eu tomo alento descansado, Paulo responde, cuja voz discreta
Por tornar ao trabalho mais folgado. O Mauritano sabio lhe interpreta.

FIM. [2] Estas figuras todas que aparecem,


Brauos em vista, e feros nos aspeitos,
Mais brauos, e mais feros se conhecem
Pela fama, nas obras, e nos feitos
Antigos sam, mas inda resplandecem
Co nome, entre os engenhos mais perfeitos,
Este que ves he Luso, donde a fama
O nosso Reino Lusitania chama.
Foi
[128v] [129r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 129

[3] Foy filho e companheiro do Thebano, [6] Assi o Gentio diz, responde o Gama,
Que tam diuersas partes conquistou Este que ves pastor ja foi de gado,
Parece vindo ter ao ninho Hispano, Viriato sabemos que se chama,
Seguindo as armas que contino vsou, Destro na lança mais que no cajado:
Do Douro, Guadiana o campo vfano, Injuriada tem de Roma a fama,
Ia dito Elisio, tanto o contentou Vencedor inuencibil afamado,
Que ali quis dar, aos ja cansados ossos Nam tem coelle não, nem ter puderão
Eterna sepultura, e nome aos nossos. O primor que com Pirro ja tiuerão.

[4] O ramo que lhe ves pera diuisa, [7] Com força não: com manha vergonhosa,
O verde Tyrso foi de Baco vsado, A vida lhe tirarão que os espanta,
O qual aa nossa idade amostra e auisa Que o grande aperto em gente, inda q̃ honrosa
Que foi seu companheiro e filho amado: Aas vezes leis magnanimas quebranta:
Ves outro, que do Tejo a terra pisa, Outro estâ aqui que contra a patria yrosa
Despois de ter tam longo mar arado, Degradado com nosco se aleuanta,
Onde muros perpetuos edefica, Escolheo bem com quem se aleuantasse
E templo a Palas, que em memoria fica Pera que eternamente se illustrasse.

[5] Vlisses he o que faz a sancta casa [8] Vês com nosco tambem vence as bandeiras
Aa Deosa, que lhe dâ lingoa facunda, Dessas aues de Iupiter validas,
Que se lâ na Asia Troia insigne abrasa, Que ja naquelle tempo as mais guerreiras
Ca na Europa Lisboa ingente funda: Gentes de nos souberam ser vencidas:
Quem sera estoutro ca que o campo arrasa Olha tam sotis artes e maneiras,
De mortos, com presença furibunda? Pera adquerir os pouos tam fingidas
Grandes batalhas tem desbaratadas, A fatidica Cerua que o auisa,
Que as Agueas nas bandeiras tem pintadas. Elle he Sertorio, e ella a sua diuisa.
R Olha
[128v] [129r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 129

[3] Foy filho e companheiro do Thebano, [6] Assi o Gentio diz, responde o Gama,
Que tam diuersas partes conquistou Este que ves pastor ja foi de gado,
Parece vindo ter ao ninho Hispano, Viriato sabemos que se chama,
Seguindo as armas que contino vsou, Destro na lança mais que no cajado:
Do Douro, Guadiana o campo vfano, Injuriada tem de Roma a fama,
Ia dito Elisio, tanto o contentou Vencedor inuencibil afamado,
Que ali quis dar, aos ja cansados ossos Nam tem coelle não, nem ter puderão
Eterna sepultura, e nome aos nossos. O primor que com Pirro ja tiuerão.

[4] O ramo que lhe ves pera diuisa, [7] Com força não: com manha vergonhosa,
O verde Tyrso foi de Baco vsado, A vida lhe tirarão que os espanta,
O qual aa nossa idade amostra e auisa Que o grande aperto em gente, inda q̃ honrosa
Que foi seu companheiro e filho amado: Aas vezes leis magnanimas quebranta:
Ves outro, que do Tejo a terra pisa, Outro estâ aqui que contra a patria yrosa
Despois de ter tam longo mar arado, Degradado com nosco se aleuanta,
Onde muros perpetuos edefica, Escolheo bem com quem se aleuantasse
E templo a Palas, que em memoria fica Pera que eternamente se illustrasse.

[5] Vlisses he o que faz a sancta casa [8] Vês com nosco tambem vence as bandeiras
Aa Deosa, que lhe dâ lingoa facunda, Dessas aues de Iupiter validas,
Que se lâ na Asia Troia insigne abrasa, Que ja naquelle tempo as mais guerreiras
Ca na Europa Lisboa ingente funda: Gentes de nos souberam ser vencidas:
Quem sera estoutro ca que o campo arrasa Olha tam sotis artes e maneiras,
De mortos, com presença furibunda? Pera adquerir os pouos tam fingidas
Grandes batalhas tem desbaratadas, A fatidica Cerua que o auisa,
Que as Agueas nas bandeiras tem pintadas. Elle he Sertorio, e ella a sua diuisa.
R Olha
[129v] [130r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 130

[9] Olha estoutra bandeira e ve pintado, [12] Se Cesar, se Alexandre Rei tiuerão,
O gram progenitor dos Reis primeiros, Tam pequeno poder, tam pouca gente,
Nos Vngaro o fazemos, porem nado Contra tantos immigos quantos erão,
Crem ser em Lotharingia os estrangeiros: Os que desbarataua este excellente,
Despois de ter cos Mouros superado Nam creas que seus nomes se estenderão
Galegos, e Leoneses caualleiros, Com glorias imortais tam largamente:
Aa casa Sancta passa o sancto Enrique, Mas deixa os feitos seus inexplicaueis,
Porque o tronco dos Reis se sanctifique. Ve que os de seus vassalos sam notaueis.

[10] Quem he me dize estoutro que me espanta, [13] Este que ves olhar com gesto yrado,
Pergunta o Malabar marauilhado, Pera o rompido Alumno mal sofrido,
Que tantos esquadrões, que gente tanta, Dizendo lhe que o exercito espalhado,
Com tam pouca, tem roto e destroçado: Recolha, e torne ao campo defendido:
Tantos muros asperrimos quebranta, Torna o moço do velho acompanhado,
Tantas batalhas da nunca cansado, Que vencedor o torna de vencido,
Tantas coroas tem por tantas partes, Egas moniz se chama o forte velho
A seus pês derribadas, e estandartes? Pera leais vassalos claro espelho.

[11] Este he o primeiro Afonso, disse o Gama, [14] Vello ca vai cos filhos a entregarse,
Que todo Portugal aos Mouros toma, A corda ao colo, nu de seda e pano,
Por quem no Estigio lago jura a fama, Porque nam quis o moço sogeitarse,
De mais não celebrar nenhum de Roma: Como elle prometera ao Castelhano:
Este he aquelle zeloso a quem Deos ama, Fez com siso e promessas leuantarse
Com cujo braço o Mouro imigo doma, O cerco que ja estaua soberano,
Pera quem de seu Reino abaxa os muros, Os filhos e molher obriga aa pena,
Nada deixando ja pera os futuros. Pera que o senhor salue, a si condena.
Se R 2 Nam
[129v] [130r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 130

[9] Olha estoutra bandeira e ve pintado, [12] Se Cesar, se Alexandre Rei tiuerão,
O gram progenitor dos Reis primeiros, Tam pequeno poder, tam pouca gente,
Nos Vngaro o fazemos, porem nado Contra tantos immigos quantos erão,
Crem ser em Lotharingia os estrangeiros: Os que desbarataua este excellente,
Despois de ter cos Mouros superado Nam creas que seus nomes se estenderão
Galegos, e Leoneses caualleiros, Com glorias imortais tam largamente:
Aa casa Sancta passa o sancto Enrique, Mas deixa os feitos seus inexplicaueis,
Porque o tronco dos Reis se sanctifique. Ve que os de seus vassalos sam notaueis.

[10] Quem he me dize estoutro que me espanta, [13] Este que ves olhar com gesto yrado,
Pergunta o Malabar marauilhado, Pera o rompido Alumno mal sofrido,
Que tantos esquadrões, que gente tanta, Dizendo lhe que o exercito espalhado,
Com tam pouca, tem roto e destroçado: Recolha, e torne ao campo defendido:
Tantos muros asperrimos quebranta, Torna o moço do velho acompanhado,
Tantas batalhas da nunca cansado, Que vencedor o torna de vencido,
Tantas coroas tem por tantas partes, Egas moniz se chama o forte velho
A seus pês derribadas, e estandartes? Pera leais vassalos claro espelho.

[11] Este he o primeiro Afonso, disse o Gama, [14] Vello ca vai cos filhos a entregarse,
Que todo Portugal aos Mouros toma, A corda ao colo, nu de seda e pano,
Por quem no Estigio lago jura a fama, Porque nam quis o moço sogeitarse,
De mais não celebrar nenhum de Roma: Como elle prometera ao Castelhano:
Este he aquelle zeloso a quem Deos ama, Fez com siso e promessas leuantarse
Com cujo braço o Mouro imigo doma, O cerco que ja estaua soberano,
Pera quem de seu Reino abaxa os muros, Os filhos e molher obriga aa pena,
Nada deixando ja pera os futuros. Pera que o senhor salue, a si condena.
Se R 2 Nam
[130v] [131r]
CANTO OCTAVO. 130 CANTO OCTAVO. 131

[15] Nam fez o Consul tanto que cercado [18] Nam ves hum ajuntamento de estrangeiro
Foi nas forcas Caudinas de ignorante Trajo, sair da grande armada noua,
Quando a passar por baxo foi forçado Que ajuda a combater o Rei primeiro
Do Samnitico jugo triumphante: Lisboa, de si dando sancta proua:
Este pelo seu pouo injuriado, Olha Enrique famoso caualleiro,
Assi se entrega so firme e constante, A Palma que lhe nasce junto aa coua,
Estoutro assi, e os filhos naturais, Por elles mostra Deos milagre visto,
E a consorte sem culpa, que doe mais. Germanos sam os Martyrrs de Christo.

[16] Ves este que saindo da cilada, [19] Hum Sacerdote vê brandindo a espada,
Dâ sobre o Rei que cerca a villa forte, Contra Arronches que toma, por vingança
Ia o Rei tem preso, e a villa descercada De Leiria, que de antes foi tomada,
Illustre feito digno de Mauorte, Por quem por Maphamede enresta a lança:
Velo ca vay pintado nesta armada He Teotonio Prior: mas vê cercada
No mar tambem aos Mouros dando a morte, Sanctarem, e veras a segurança
Tomando lhe as galês, leuando a gloria, Da figura nos muros, que primeira
Da primeira maritima victoria. Subindo ergueo das Quinas a bandeira:

[17] E dom Fuas Roupinho que na terra, [20] Vello ca donde Sancho desbarata
E no mar resplandece juntamente, Os Mouros de Vandalia em fera guerra,
Co fogo que acendeo junto da serra Os imigos rompendo, o Alferez mata,
De Abila, nas gales da Maura gente E Hispalico pendão derriba em terra,
Olha como então justa e sancta guerra Mem Moniz he, que em si o valor retrata,
De acabar pelejando està contente: Que o sepulchro do pay cos ossos cerra,
Das mãos dos Mouros entra a felice alma Digno destas bandeiras, pois sem falta
Triunfando nos ceos com justa Palma. A contraria derriba, e a sua exalta.
Não R 3 Olha
[130v] [131r]
CANTO OCTAVO. 130 CANTO OCTAVO. 131

[15] Nam fez o Consul tanto que cercado [18] Nam ves hum ajuntamento de estrangeiro
Foi nas forcas Caudinas de ignorante Trajo, sair da grande armada noua,
Quando a passar por baxo foi forçado Que ajuda a combater o Rei primeiro
Do Samnitico jugo triumphante: Lisboa, de si dando sancta proua:
Este pelo seu pouo injuriado, Olha Enrique famoso caualleiro,
Assi se entrega so firme e constante, A Palma que lhe nasce junto aa coua,
Estoutro assi, e os filhos naturais, Por elles mostra Deos milagre visto,
E a consorte sem culpa, que doe mais. Germanos sam os Martyrrs de Christo.

[16] Ves este que saindo da cilada, [19] Hum Sacerdote vê brandindo a espada,
Dâ sobre o Rei que cerca a villa forte, Contra Arronches que toma, por vingança
Ia o Rei tem preso, e a villa descercada De Leiria, que de antes foi tomada,
Illustre feito digno de Mauorte, Por quem por Maphamede enresta a lança:
Velo ca vay pintado nesta armada He Teotonio Prior: mas vê cercada
No mar tambem aos Mouros dando a morte, Sanctarem, e veras a segurança
Tomando lhe as galês, leuando a gloria, Da figura nos muros, que primeira
Da primeira maritima victoria. Subindo ergueo das Quinas a bandeira:

[17] E dom Fuas Roupinho que na terra, [20] Vello ca donde Sancho desbarata
E no mar resplandece juntamente, Os Mouros de Vandalia em fera guerra,
Co fogo que acendeo junto da serra Os imigos rompendo, o Alferez mata,
De Abila, nas gales da Maura gente E Hispalico pendão derriba em terra,
Olha como então justa e sancta guerra Mem Moniz he, que em si o valor retrata,
De acabar pelejando està contente: Que o sepulchro do pay cos ossos cerra,
Das mãos dos Mouros entra a felice alma Digno destas bandeiras, pois sem falta
Triunfando nos ceos com justa Palma. A contraria derriba, e a sua exalta.
Não R 3 Olha
[131v] [132r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 132

[21] Olha aquelle que deçe pela lança, [24] Vês vão os Reis de Cordoua e Seuilha,
Com as duas cabeças dos vigias, Rotos, cos outros dous, e não de espaço,
Onde a çilada esconde, com que alcança Rotos mas antes mortos, marauilha
A cidade por manhas e ousadias: Feita de Deos, que não de humano braço:
Ella por armas toma a semelhança Vês ja a villa de Alcaçare se humilha,
Do caualleiro, que as cabeças frias Sem lhe valer defesa, ou muro de aço,
Na mão leuaua, feito nunca feito, A dom Matheus o Bispo de Lisboa,
Giraldo sem pauor he o forte peito. Que a coroa de palma ali coroa.

[22] Nam vês hum Castelhano, que agrauado, [25] Olha hum Mestre que deçe de Castella,
De Affonso nono Rei, pelo odio antigo Portugues de nação, como conquista
Dos de Lara, cos Mouros he deitado, A terra dos Algarues, e ja nella
De Portugal fazendose inimigo? Nam acha que por armas lhe resista,
Abrantes villa toma acompanhado Com manha, esforço, e com benigna estrella
Dos duros infieis que traz consigo: Villas, castellos toma a escalla vista:
Mas vê que hum Portugues com pouca gente Ves Tauila tomada aos moradores,
O desbarata e o prende ousadamente. Em vingança dos sete caçadores.

[23] Martim Lopez se chama o caualleiro, [26] Vês com belica astucia ao Mouro ganha
Que destes leuar pode a palma, e o louro: Silues, que elle ganhou com força ingente,
Mas olha hum Ecclesiastico guerreiro, He dom Paio Correa, cuja manha
Que em lança de aço torna o Bago de ouro: E grande esforço faz enueja aa gente:
Vêllo entre os duuidosos tam inteiro, Mas não passes os tres q̃ ẽ Frãça e Espanha
Em não negar batalha ao brauo Mouro, Se fazem conhecer perpetuamente,
Olha o sinal no çeo que lhe apareçe, Em desafios, justas e torneos,
Com que nos poucos seus o esforço creçe. Nellas deixando publicos trofeos.
Vês R 4 Vellos
[131v] [132r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 132

[21] Olha aquelle que deçe pela lança, [24] Vês vão os Reis de Cordoua e Seuilha,
Com as duas cabeças dos vigias, Rotos, cos outros dous, e não de espaço,
Onde a çilada esconde, com que alcança Rotos mas antes mortos, marauilha
A cidade por manhas e ousadias: Feita de Deos, que não de humano braço:
Ella por armas toma a semelhança Vês ja a villa de Alcaçare se humilha,
Do caualleiro, que as cabeças frias Sem lhe valer defesa, ou muro de aço,
Na mão leuaua, feito nunca feito, A dom Matheus o Bispo de Lisboa,
Giraldo sem pauor he o forte peito. Que a coroa de palma ali coroa.

[22] Nam vês hum Castelhano, que agrauado, [25] Olha hum Mestre que deçe de Castella,
De Affonso nono Rei, pelo odio antigo Portugues de nação, como conquista
Dos de Lara, cos Mouros he deitado, A terra dos Algarues, e ja nella
De Portugal fazendose inimigo? Nam acha que por armas lhe resista,
Abrantes villa toma acompanhado Com manha, esforço, e com benigna estrella
Dos duros infieis que traz consigo: Villas, castellos toma a escalla vista:
Mas vê que hum Portugues com pouca gente Ves Tauila tomada aos moradores,
O desbarata e o prende ousadamente. Em vingança dos sete caçadores.

[23] Martim Lopez se chama o caualleiro, [26] Vês com belica astucia ao Mouro ganha
Que destes leuar pode a palma, e o louro: Silues, que elle ganhou com força ingente,
Mas olha hum Ecclesiastico guerreiro, He dom Paio Correa, cuja manha
Que em lança de aço torna o Bago de ouro: E grande esforço faz enueja aa gente:
Vêllo entre os duuidosos tam inteiro, Mas não passes os tres q̃ ẽ Frãça e Espanha
Em não negar batalha ao brauo Mouro, Se fazem conhecer perpetuamente,
Olha o sinal no çeo que lhe apareçe, Em desafios, justas e torneos,
Com que nos poucos seus o esforço creçe. Nellas deixando publicos trofeos.
Vês R 4 Vellos
[132v] [133r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 133

[27] Vellos co nome vem de auentureiros, [30] Mas não ves quasi ja desbaratado,
A Castella, onde o preço sos leuârão O poder Lusitano, pela ausencia
Dos jogos de Belona verdadeiros, Do Capitão deuoto, que apartado
Que com dano de algũs se exercitârão, Orando inuoca a suma e trina essencia:
Vê mortos os soberbos caualleiros, Vello com pressa ja dos seus achado,
Que o principal dos tres desafiarão, Que lhe dizem que falta resistencia
Que Gonçalo Ribeiro se nomea, Contra poder tamanho, e que viesse,
Que pode não temer a ley Letea. Porque consigo esforço aos fracos desse.

[28] Atenta num que a fama tanto estende, [31] Mas olha com que sancta confiança,
Que de nenhum passado se contenta, Que inda não era tempo respondia,
Que a patria que de hum fraco fio pende Como quem tinha em Deos a segurança
Sobre seus duros hombros a sustenta, Da victoria, que logo lhe daria:
Não no ves tinto de yra, que reprende Assi Pompilio, ouuindo que a possança
A vil desconfiança inerte e lenta Dos imigos a terra lhe corria,
Do pouo, e faz que tome o doçe freyo, A quem lhe a dura noua estaua dando,
De Rei seu natural, e nam de alheyo. Pois eu, responde, estou sacrificando.

[29] Olha por seu conselho e ousadia, [32] Se quem com tanto esforço em Deos se atreue,
De Deos guiada so, e de sancta Estrella Ouuir quiseres como se nomea,
So pode o que impossibil parecia, Portugues Cipião chamar se deue:
Vencer o pouo ingente de Castella: Mas mais de dom Nuno Aluarez se arrea,
Ves por industria, esforço, e valentia Ditosa patria que tal filho teue:
Outro estrago e victoria clara e bella Mas antes pai, que em quanto o Sol rodea
Na gente, assi feroz como infinita, Este globo de Ceres e Neptuno,
Que entre o Tarteso, e Goadiana habita. Sempre suspirarâ por tal aluno.
Mas Na
[132v] [133r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 133

[27] Vellos co nome vem de auentureiros, [30] Mas não ves quasi ja desbaratado,
A Castella, onde o preço sos leuârão O poder Lusitano, pela ausencia
Dos jogos de Belona verdadeiros, Do Capitão deuoto, que apartado
Que com dano de algũs se exercitârão, Orando inuoca a suma e trina essencia:
Vê mortos os soberbos caualleiros, Vello com pressa ja dos seus achado,
Que o principal dos tres desafiarão, Que lhe dizem que falta resistencia
Que Gonçalo Ribeiro se nomea, Contra poder tamanho, e que viesse,
Que pode não temer a ley Letea. Porque consigo esforço aos fracos desse.

[28] Atenta num que a fama tanto estende, [31] Mas olha com que sancta confiança,
Que de nenhum passado se contenta, Que inda não era tempo respondia,
Que a patria que de hum fraco fio pende Como quem tinha em Deos a segurança
Sobre seus duros hombros a sustenta, Da victoria, que logo lhe daria:
Não no ves tinto de yra, que reprende Assi Pompilio, ouuindo que a possança
A vil desconfiança inerte e lenta Dos imigos a terra lhe corria,
Do pouo, e faz que tome o doçe freyo, A quem lhe a dura noua estaua dando,
De Rei seu natural, e nam de alheyo. Pois eu, responde, estou sacrificando.

[29] Olha por seu conselho e ousadia, [32] Se quem com tanto esforço em Deos se atreue,
De Deos guiada so, e de sancta Estrella Ouuir quiseres como se nomea,
So pode o que impossibil parecia, Portugues Cipião chamar se deue:
Vencer o pouo ingente de Castella: Mas mais de dom Nuno Aluarez se arrea,
Ves por industria, esforço, e valentia Ditosa patria que tal filho teue:
Outro estrago e victoria clara e bella Mas antes pai, que em quanto o Sol rodea
Na gente, assi feroz como infinita, Este globo de Ceres e Neptuno,
Que entre o Tarteso, e Goadiana habita. Sempre suspirarâ por tal aluno.
Mas Na
[133v] [134r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 134

[33] Na mesma guerra vê que presas ganha, [36] Sabese antigamente que trezentos
Estoutro Capitão de pouca gente, Ia contra mil Romanos pelejarão,
Comendadores vence, e o gado apanha, No tempo que os virîs atreuimentos
Que leuauão roubado ousadamente: De Viriato tanto se illustrarão,
Outra vez vê que a lança em sangue banha E delles alcançando vencimentos
Destes, so por liurar com amor ardente Memoraueis, de erança nos deixarão,
O preso amigo, preso por leal, Que os muitos por ser poucos nam temamos
Pero Rodriguez he do Landroal. O que despois mil vezes amostramos.

[34] Olha este desleal o como paga [37] Olha ca dous Infantes Pedro e Henrique,
O perjurio que fez e vil engano, Progenie generosa de Ioane,
Gil Fernandez he de Eluas quem o estraga, Aquelle faz que fama illustre fique
E faz vir a passar o vltimo dano: Delle em Germania, com que a morte engane:
De Xerez rouba o campo, e quasi alaga Este, que ella nos mares o pubrique,
Co sangue de seus donos Castelhano: Por seu descobridor, e desengane
Mas olha Rui Pireira que co rosto De Ceita a Maura tumida vaidade,
Faz escudo aas gales, diante posto. Primeiro entrando as portas da cidade.

[35] Olha que dezesete Lusitanos, [38] Vês o Conde dom Pedro que sustenta
Neste outeiro subidos se defendem, Dous cercos contra toda a Barbaria,
Fortes de quatrocentos Castelhanos, Vês outro Conde està que representa
Que em derredor pelos tomar se estendem, Em terra Marte, em forças e ousadia,
Porem logo sentiram com seus danos, De poder defender se nam contenta
Que nam so se defendem, mas offendem, Alcaçere da ingente companhia:
Digno feito de ser no mundo eterno, Mas do seu Rei defende a cara vida,
Grande no tempo antigo e no moderno. Pondo por muro a sua, ali perdida.
Sabese Outros
[133v] [134r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 134

[33] Na mesma guerra vê que presas ganha, [36] Sabese antigamente que trezentos
Estoutro Capitão de pouca gente, Ia contra mil Romanos pelejarão,
Comendadores vence, e o gado apanha, No tempo que os virîs atreuimentos
Que leuauão roubado ousadamente: De Viriato tanto se illustrarão,
Outra vez vê que a lança em sangue banha E delles alcançando vencimentos
Destes, so por liurar com amor ardente Memoraueis, de erança nos deixarão,
O preso amigo, preso por leal, Que os muitos por ser poucos nam temamos
Pero Rodriguez he do Landroal. O que despois mil vezes amostramos.

[34] Olha este desleal o como paga [37] Olha ca dous Infantes Pedro e Henrique,
O perjurio que fez e vil engano, Progenie generosa de Ioane,
Gil Fernandez he de Eluas quem o estraga, Aquelle faz que fama illustre fique
E faz vir a passar o vltimo dano: Delle em Germania, com que a morte engane:
De Xerez rouba o campo, e quasi alaga Este, que ella nos mares o pubrique,
Co sangue de seus donos Castelhano: Por seu descobridor, e desengane
Mas olha Rui Pireira que co rosto De Ceita a Maura tumida vaidade,
Faz escudo aas gales, diante posto. Primeiro entrando as portas da cidade.

[35] Olha que dezesete Lusitanos, [38] Vês o Conde dom Pedro que sustenta
Neste outeiro subidos se defendem, Dous cercos contra toda a Barbaria,
Fortes de quatrocentos Castelhanos, Vês outro Conde està que representa
Que em derredor pelos tomar se estendem, Em terra Marte, em forças e ousadia,
Porem logo sentiram com seus danos, De poder defender se nam contenta
Que nam so se defendem, mas offendem, Alcaçere da ingente companhia:
Digno feito de ser no mundo eterno, Mas do seu Rei defende a cara vida,
Grande no tempo antigo e no moderno. Pondo por muro a sua, ali perdida.
Sabese Outros
[134v] [135r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 135

[39] Outros muitos verias que os pintores [42] Não nego que â com tudo descendentes
Aqui tambem por certo pintarião: Do generoso tronco, e casa rica
Mas faltalhe pinçel, faltão lhe cores, Que com custumes altos e excellentes
Honra, premio, fauor que as artes crião, Sustentão a nobreza que lhe fica:
Culpa dos viciosos successores, E se ha luz dos antigos seus parentes
Que degenerão certo, e se desuião Nelles mais o valor não clarifica,
Do lustre, e do valor dos seus passados, Nam falta ao menos, nem se faz escura:
Em gostos e vaidades atolados. Mas destes acha poucos a pintura.

[40] Aquelles pais illustres que ja derão [43] Assi estâ declarando os grandes feitos,
Principio aa geraçam que delles pende, O Gama que ali mostra a varia tinta,
Pela virtude muyto antão fizerão, Que a douta mão tam claros, tam perfeitos
E por deixar a casa que descende, Do singular artifice ali pinta:
Cegos, que dos trabalhos que tiuerão, Os olhos tinha promptos e dereitos,
Se alta fama e rumor delles se estende, O Catual na historia bem distinta,
Escuros deixão sempre seus menores, Mil vezes perguntaua, e mil ouuia,
Com lhe deixar descansos corrutores. As gostosas batalhas que ali via.

[41] Outros tambem ha grandes e abastados, [44] Mas ja a luz se mostraua duuidosa,
Sem nenhum tronco illustre donde venhão, Porque a alampada grande se escondia
Culpa de Reis, que aas vezes a priuados Debaxo do Orizonte e luminosa
Dão mais que a mil, q̃ esforço e saber tenhã Leuaua aos Antipodas o dia,
Estes os seus nam querem ver pintados, Quando o Gentio, e a gente generosa,
Crendo que cores vãs lhe não conuenhão, Dos Naires, da nao forte se partia
E como a seu contrairo natural, A buscar o repouso que descansa,
Aa pintura que falla querem mal. Os lassos animais, na noite mansa.
Não Entre
[134v] [135r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 135

[39] Outros muitos verias que os pintores [42] Não nego que â com tudo descendentes
Aqui tambem por certo pintarião: Do generoso tronco, e casa rica
Mas faltalhe pinçel, faltão lhe cores, Que com custumes altos e excellentes
Honra, premio, fauor que as artes crião, Sustentão a nobreza que lhe fica:
Culpa dos viciosos successores, E se ha luz dos antigos seus parentes
Que degenerão certo, e se desuião Nelles mais o valor não clarifica,
Do lustre, e do valor dos seus passados, Nam falta ao menos, nem se faz escura:
Em gostos e vaidades atolados. Mas destes acha poucos a pintura.

[40] Aquelles pais illustres que ja derão [43] Assi estâ declarando os grandes feitos,
Principio aa geraçam que delles pende, O Gama que ali mostra a varia tinta,
Pela virtude muyto antão fizerão, Que a douta mão tam claros, tam perfeitos
E por deixar a casa que descende, Do singular artifice ali pinta:
Cegos, que dos trabalhos que tiuerão, Os olhos tinha promptos e dereitos,
Se alta fama e rumor delles se estende, O Catual na historia bem distinta,
Escuros deixão sempre seus menores, Mil vezes perguntaua, e mil ouuia,
Com lhe deixar descansos corrutores. As gostosas batalhas que ali via.

[41] Outros tambem ha grandes e abastados, [44] Mas ja a luz se mostraua duuidosa,
Sem nenhum tronco illustre donde venhão, Porque a alampada grande se escondia
Culpa de Reis, que aas vezes a priuados Debaxo do Orizonte e luminosa
Dão mais que a mil, q̃ esforço e saber tenhã Leuaua aos Antipodas o dia,
Estes os seus nam querem ver pintados, Quando o Gentio, e a gente generosa,
Crendo que cores vãs lhe não conuenhão, Dos Naires, da nao forte se partia
E como a seu contrairo natural, A buscar o repouso que descansa,
Aa pintura que falla querem mal. Os lassos animais, na noite mansa.
Não Entre
[135v] [136r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 136

[45] Entre tanto os Aruspices famosos [48] E diz lhe assi, guardaiuos gente minha,
Na falsa opinião, que em sacrificios Do mal que se aparelha pelo imigo
Anteuem sempre os casos duuidosos, Que pelas agoas humidas caminha,
Por sinais diabolicos, e indicios Antes que esteis mais perto do perigo:
Mandados do Rei proprio, estudiosos Isto dizendo acorda o Mouro asinha,
Exercitauão a arte e seus officios, Espantado do sonho: mas consigo
Sobre esta vinda desta gente estranha, Cuida que não he mais que sonho vsado
Que aas suas terras vem da ignota Espanha. Torna a dormir quieto e sosegado.

[46] Sinal lhe mostra o Demo verdadeiro, [49] Torna Bacho dizendo, nam conheces
De como a noua gente lhe seria O gram legislador que a teus passados
Iugo perpetuo, eterno catiueiro, Tem mostrado o preceito a que obedeces
Destruiçam de gente, e de valia: Sem o qual foreis muitos baptizados?
Vaise espantado o atonito agoureiro Eu parti rudo vello, e tu adormeces?
Dizer ao Rei (segundo o que entendia) Pois saberas que aquelles que chegados
Os sinais temerosos que alcançâra De nouo sam, seram muy grande dano
Nas entranhas das victimas que oulhara: Da lei que eu dei ao nescio pouo humano:

[47] A isto mais se ajunta que hum deuoto [50] Em quanto he fraca a força desta gente,
Sacerdote da ley de Maphamede, Ordena como em tudo se resista,
Dos odios concebidos nam remoto, Porque quando o Sol sae facilmente
Contra a diuina Fe, que tudo excede, Se pode nelle por a aguda vista:
Em forma do Propheta falso e noto, Porem despois que sobe claro e ardente,
Que do filho da escraua Agar procede, Se agudeza dos olhos o conquista,
Baco odioso em sonhos lhe aparece, Tam cega fica, quanto ficareis
Que de seus odios inda se nam deçe. Se raizes criar lhe nam tolheis.
E diz Isto dito
[135v] [136r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 136

[45] Entre tanto os Aruspices famosos [48] E diz lhe assi, guardaiuos gente minha,
Na falsa opinião, que em sacrificios Do mal que se aparelha pelo imigo
Anteuem sempre os casos duuidosos, Que pelas agoas humidas caminha,
Por sinais diabolicos, e indicios Antes que esteis mais perto do perigo:
Mandados do Rei proprio, estudiosos Isto dizendo acorda o Mouro asinha,
Exercitauão a arte e seus officios, Espantado do sonho: mas consigo
Sobre esta vinda desta gente estranha, Cuida que não he mais que sonho vsado
Que aas suas terras vem da ignota Espanha. Torna a dormir quieto e sosegado.

[46] Sinal lhe mostra o Demo verdadeiro, [49] Torna Bacho dizendo, nam conheces
De como a noua gente lhe seria O gram legislador que a teus passados
Iugo perpetuo, eterno catiueiro, Tem mostrado o preceito a que obedeces
Destruiçam de gente, e de valia: Sem o qual foreis muitos baptizados?
Vaise espantado o atonito agoureiro Eu parti rudo vello, e tu adormeces?
Dizer ao Rei (segundo o que entendia) Pois saberas que aquelles que chegados
Os sinais temerosos que alcançâra De nouo sam, seram muy grande dano
Nas entranhas das victimas que oulhara: Da lei que eu dei ao nescio pouo humano:

[47] A isto mais se ajunta que hum deuoto [50] Em quanto he fraca a força desta gente,
Sacerdote da ley de Maphamede, Ordena como em tudo se resista,
Dos odios concebidos nam remoto, Porque quando o Sol sae facilmente
Contra a diuina Fe, que tudo excede, Se pode nelle por a aguda vista:
Em forma do Propheta falso e noto, Porem despois que sobe claro e ardente,
Que do filho da escraua Agar procede, Se agudeza dos olhos o conquista,
Baco odioso em sonhos lhe aparece, Tam cega fica, quanto ficareis
Que de seus odios inda se nam deçe. Se raizes criar lhe nam tolheis.
E diz Isto dito
[136v] [137r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 137

[51] Isto dito, elle e o sono se despede, [54] O quanto deue o Rei que bem gouerna,
Tremendo fica o atonito Agareno De olhar que os conselheiros, ou priuados,
Salta da cama, lume aos seruos pede De consciencia, e de virtude interna,
Laurando nelle o feruido veneno: E de sincero amor sejam dotados:
Tanto que a noua luz que ao Sol precede Porque como estè posto na superna
Mostrara rosto Angelico e sereno, Cadeira, pode mal dos apartados
Conuoca os principais da torpe ceita, Negocios, ter noticia mais inteira,
Aos quais do que sonhou dâ conta estreita. Do que lhe der a lingoa conselheira.

[52] Diuersos pareceres e contrarios [55] Nem tam pouco direy que tome tanto
Ali se dão segundo o que entendião, Em grosso, a consciencia limpa e certa
Astutas traições, enganos varios, Que se enleue num pobre e humilde manto,
Perfidias inuentauam e tecião: Onde ambição a caso ande encuberta,
Mas deixando conselhos temerarios, E quando hũ bom em tudo he justo e sancto
Destruiçam da gente pretendião, E em negocios do mundo pouco acerta,
Por manhas mais sotis e ardis milhores, Que mal coelles poderâ ter conta,
Com peitas adquerindo os regedores, A quieta inocencia, em so Deos pronta.

[53] Com peitas, ouro, e dadiuas secretas [56] Mas aquelles auaros Catuais,
Concilião da terra os principais, Que o Gentilico pouo gouernauão,
E com razões notaueis e discretas Induzidos das gentes infernais,
Mostram ser perdiçam dos naturais, O Portugues despacho dilatauão:
Dizendo que sam gentes inquietas, Mas o Gama, que não pretende mais,
Que os mares discorrendo Occidentais, De tudo quanto os Mouros ordenauão,
Viuem so de piraticas rapinas, Que leuar a seu Rei hum sinal certo
Sem Rei, sem leis humanas ou diuinas. Do mundo, que deixa descuberto.
O quanto S Nisto
[136v] [137r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 137

[51] Isto dito, elle e o sono se despede, [54] O quanto deue o Rei que bem gouerna,
Tremendo fica o atonito Agareno De olhar que os conselheiros, ou priuados,
Salta da cama, lume aos seruos pede De consciencia, e de virtude interna,
Laurando nelle o feruido veneno: E de sincero amor sejam dotados:
Tanto que a noua luz que ao Sol precede Porque como estè posto na superna
Mostrara rosto Angelico e sereno, Cadeira, pode mal dos apartados
Conuoca os principais da torpe ceita, Negocios, ter noticia mais inteira,
Aos quais do que sonhou dâ conta estreita. Do que lhe der a lingoa conselheira.

[52] Diuersos pareceres e contrarios [55] Nem tam pouco direy que tome tanto
Ali se dão segundo o que entendião, Em grosso, a consciencia limpa e certa
Astutas traições, enganos varios, Que se enleue num pobre e humilde manto,
Perfidias inuentauam e tecião: Onde ambição a caso ande encuberta,
Mas deixando conselhos temerarios, E quando hũ bom em tudo he justo e sancto
Destruiçam da gente pretendião, E em negocios do mundo pouco acerta,
Por manhas mais sotis e ardis milhores, Que mal coelles poderâ ter conta,
Com peitas adquerindo os regedores, A quieta inocencia, em so Deos pronta.

[53] Com peitas, ouro, e dadiuas secretas [56] Mas aquelles auaros Catuais,
Concilião da terra os principais, Que o Gentilico pouo gouernauão,
E com razões notaueis e discretas Induzidos das gentes infernais,
Mostram ser perdiçam dos naturais, O Portugues despacho dilatauão:
Dizendo que sam gentes inquietas, Mas o Gama, que não pretende mais,
Que os mares discorrendo Occidentais, De tudo quanto os Mouros ordenauão,
Viuem so de piraticas rapinas, Que leuar a seu Rei hum sinal certo
Sem Rei, sem leis humanas ou diuinas. Do mundo, que deixa descuberto.
O quanto S Nisto
[137v] [138r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 138

[57] Nisto trabalha so, quem bem sabia [60] Sobre isto nos conselhos que tomaua,
Que despois que leuasse esta certeza, Achaua muy contrarios pareceres,
Armas, e naos, e gentes mandaria Que naquelles, com quem se aconselhaua,
Manoel, que exercita a summa alteza, Executa o dinheiro seus poderes:
Com que a seu jugo e ley someteria O grande Capitão chamar mandaua,
Das terras, e do mar a redondeza, A quem chegado disse, se quiseres
Que elle não era mais que hum diligente Confessarme a verdade limpa, e nua,
Descobridor das terras do Oriente. Perdão alcançaras da culpa tua.

[58] Fallar ao Rei Gentio determina, [61] Eu sou bem informado, que a embaxada
Porque com seu despacho se tornasse, Que de teu Rei me deste, que he fingida:
Que ja sentia em tudo da malina Porque nem tu tẽs Rei, nem patria amada,
Gente impedirse quanto desejasse: Mas vagabundo vas passando a vida:
O Rei que da noticia falsa, e indina Que quem da Hisperia vltima alongada
Nam era despantar se sespantasse, Rei, ou senhor de insania desmedida,
Que tam credulo era em seus agouros, Ha de vir cometer com naos, e frotas
E mais sendo affirmados pelos Mouros. Tam incertas viagẽs, e remotas?

[59] Este temor lhe esfria o baixo peito: [62] E se de grandes Reinos poderosos,
Por outra parte a força da cobiça, O teu Rei tem a regia majestade,
A quem por natureza estâ sugeito, Que presentes me trazes valerosos,
Hum desejo immortal lhe acende, e atiça: Sinais de tua incognita verdade:
Que bem vê que grandissimo proueito Com peças e dões altos sumptuosos
Farâ, se com verdade, e com justiça Se lia dos Reis altos a amizade:
O contrato fizer por longos annos, Que sinal nem penhor não he bastante,
Que lhe comete o Rei dos Lusitanos. As palauras dum vago nauegante.
Sobre S2 Se
[137v] [138r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 138

[57] Nisto trabalha so, quem bem sabia [60] Sobre isto nos conselhos que tomaua,
Que despois que leuasse esta certeza, Achaua muy contrarios pareceres,
Armas, e naos, e gentes mandaria Que naquelles, com quem se aconselhaua,
Manoel, que exercita a summa alteza, Executa o dinheiro seus poderes:
Com que a seu jugo e ley someteria O grande Capitão chamar mandaua,
Das terras, e do mar a redondeza, A quem chegado disse, se quiseres
Que elle não era mais que hum diligente Confessarme a verdade limpa, e nua,
Descobridor das terras do Oriente. Perdão alcançaras da culpa tua.

[58] Fallar ao Rei Gentio determina, [61] Eu sou bem informado, que a embaxada
Porque com seu despacho se tornasse, Que de teu Rei me deste, que he fingida:
Que ja sentia em tudo da malina Porque nem tu tẽs Rei, nem patria amada,
Gente impedirse quanto desejasse: Mas vagabundo vas passando a vida:
O Rei que da noticia falsa, e indina Que quem da Hisperia vltima alongada
Nam era despantar se sespantasse, Rei, ou senhor de insania desmedida,
Que tam credulo era em seus agouros, Ha de vir cometer com naos, e frotas
E mais sendo affirmados pelos Mouros. Tam incertas viagẽs, e remotas?

[59] Este temor lhe esfria o baixo peito: [62] E se de grandes Reinos poderosos,
Por outra parte a força da cobiça, O teu Rei tem a regia majestade,
A quem por natureza estâ sugeito, Que presentes me trazes valerosos,
Hum desejo immortal lhe acende, e atiça: Sinais de tua incognita verdade:
Que bem vê que grandissimo proueito Com peças e dões altos sumptuosos
Farâ, se com verdade, e com justiça Se lia dos Reis altos a amizade:
O contrato fizer por longos annos, Que sinal nem penhor não he bastante,
Que lhe comete o Rei dos Lusitanos. As palauras dum vago nauegante.
Sobre S2 Se
[138v] [139r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 139

[63] Se por ventura vindes desterrados, [66] Mas porque nenhum grande bem se alcança
Como ja foram homẽs dalta sorte, Sem grandes opressões, e em todo o feyto
Em meu Reino sereis agasalhados, Segue o temor os passos da esperança,
Que toda a terra he patria pera o forte: Que em suor viue sempre de seu peyto,
Ou se piratas sois ao mar vsados, Me mostras tu tão pouca confiança
Dizeimo sem temor de infamia, ou morte: Desta minha verdade: sem respeyto
Que por se sustentar em toda idade, Das razões em contrario que acharias
Tudo faz a vital necessidade. Senão cresses a quem não crer deuias.

[64] Isto assi dito, o Gama que ja tinha [67] Porque se eu de rapinas so viuesse
Suspeitas das insidias que ordenaua Vndiuago, ou da patria desterrado,
O Mahometico odio, donde vinha Como cres que tão longe me viesse,
Aquillo que tam mal o Rei cuidaua: Buscar assento incognito e apartado?
Cũa alta confiança, que conuinha, Porque esperanças, ou porque interesse,
Com que seguro credito alcançaua, Viria esprimentando o mar yrado,
Que Venus Acidalia lhe influia, Os Antarticos frios, e os ardores
Tais palauras do sabio peito abria. Que sofrem do Carneyro os moradores?

[65] Se os antigos delitos, que a malicia [68] Se com grandes presentes dalta estima
Humana cometeo na prisca idade, O credito me pedes do que digo,
Nam causaram, que o vaso da niquicia, Eu não vim mais q̃ a achar o estranho Clima
Açoute tão cruel da Christandade, Onde a natura pos teu Reyno antigo:
Viera por perpetua inimicicia Mas se a Fortuna tanto me sublima,
Na geraçam de Adão, co a falsidade Que eu torne à minha patria, e Reino amigo
O poderoso Rei da torpe seita, Então verâs o dom soberbo e rico
Nam conceberas tu tam mâ sospeita. Com que minha tornada certifico.
Mas S3 Se te
[138v] [139r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 139

[63] Se por ventura vindes desterrados, [66] Mas porque nenhum grande bem se alcança
Como ja foram homẽs dalta sorte, Sem grandes opressões, e em todo o feyto
Em meu Reino sereis agasalhados, Segue o temor os passos da esperança,
Que toda a terra he patria pera o forte: Que em suor viue sempre de seu peyto,
Ou se piratas sois ao mar vsados, Me mostras tu tão pouca confiança
Dizeimo sem temor de infamia, ou morte: Desta minha verdade: sem respeyto
Que por se sustentar em toda idade, Das razões em contrario que acharias
Tudo faz a vital necessidade. Senão cresses a quem não crer deuias.

[64] Isto assi dito, o Gama que ja tinha [67] Porque se eu de rapinas so viuesse
Suspeitas das insidias que ordenaua Vndiuago, ou da patria desterrado,
O Mahometico odio, donde vinha Como cres que tão longe me viesse,
Aquillo que tam mal o Rei cuidaua: Buscar assento incognito e apartado?
Cũa alta confiança, que conuinha, Porque esperanças, ou porque interesse,
Com que seguro credito alcançaua, Viria esprimentando o mar yrado,
Que Venus Acidalia lhe influia, Os Antarticos frios, e os ardores
Tais palauras do sabio peito abria. Que sofrem do Carneyro os moradores?

[65] Se os antigos delitos, que a malicia [68] Se com grandes presentes dalta estima
Humana cometeo na prisca idade, O credito me pedes do que digo,
Nam causaram, que o vaso da niquicia, Eu não vim mais q̃ a achar o estranho Clima
Açoute tão cruel da Christandade, Onde a natura pos teu Reyno antigo:
Viera por perpetua inimicicia Mas se a Fortuna tanto me sublima,
Na geraçam de Adão, co a falsidade Que eu torne à minha patria, e Reino amigo
O poderoso Rei da torpe seita, Então verâs o dom soberbo e rico
Nam conceberas tu tam mâ sospeita. Com que minha tornada certifico.
Mas S3 Se te
[139v] [140r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 140

[69] Se te pareçe inopinado feito, [72] Crescendo cos successos bons primeyros
Que Rei da vltima Hisperia ati me mande, No peyto as ousadias, descobrirão
O coraçam sublime, o regio peito, Pouco e pouco caminhos estrangeyros,
Nenhum caso possibil tem por grande. Que hũs succedendo aos outros proseguirão:
Bem pareçe que o nobre e gram conceito De Affrica os moradores derradeyros
Do Lusitano espirito demande Austrais, que nunca as sete flammas virão,
Maior credito, e fe de mais alteza, Forão vistos de nos, atras deyxando
Que crea delle tanta fortaleza. Quantos estão os Tropicos queymando.

[70] Sabe que ha muitos annos, que os antigos [73] Assi com firme peyto, e com tamanho
Reis nossos firmemente propuserão Proposito vencemos à Fortuna,
De vencer os trabalhos, e perigos, Ate que nos no teu terreno estranho
Que sempre âs grandes cousas se opuserão Viemos pôr a vltima coluna:
E descobrindo os mares inimigos Rompendo a força do liquido Estanho
Do quieto descanso, pretenderão Da tempestade horrifica, e importuna
De saber que fim tinhão, e onde estauão Ati chegamos, de quem so queremos
As derradeiras praias que lauauão. sinal, que ao nosso Rey de ti leuemos.

[71] Conceito digno foi do ramo claro [74] Esta he a verdade Rey, que não faria
Do venturoso Rei, que arou primeiro Por tão incerto bem, tão fraco premio
O mar, por yr deitar do ninho caro Qual, não sendo isto assi, esperar podia,
O morador de Abila derradeiro: Tão longo tão fingido, e vão proemio:
Este por sua industria, e engenho raro, Mas antes descansar me deyxaria
Num madeiro ajuntando outro madeiro, No nunca descansado e fero gremio
Descobrir pode a parte, que faz clara Da madre Thetis, qual pirata inico
De Argos, da Ydra a luz, da Lebre, e da Ara. Dos trabalhos alheyos feyto rico.
Crecendo S4 Assi que
[139v] [140r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 140

[69] Se te pareçe inopinado feito, [72] Crescendo cos successos bons primeyros
Que Rei da vltima Hisperia ati me mande, No peyto as ousadias, descobrirão
O coraçam sublime, o regio peito, Pouco e pouco caminhos estrangeyros,
Nenhum caso possibil tem por grande. Que hũs succedendo aos outros proseguirão:
Bem pareçe que o nobre e gram conceito De Affrica os moradores derradeyros
Do Lusitano espirito demande Austrais, que nunca as sete flammas virão,
Maior credito, e fe de mais alteza, Forão vistos de nos, atras deyxando
Que crea delle tanta fortaleza. Quantos estão os Tropicos queymando.

[70] Sabe que ha muitos annos, que os antigos [73] Assi com firme peyto, e com tamanho
Reis nossos firmemente propuserão Proposito vencemos à Fortuna,
De vencer os trabalhos, e perigos, Ate que nos no teu terreno estranho
Que sempre âs grandes cousas se opuserão Viemos pôr a vltima coluna:
E descobrindo os mares inimigos Rompendo a força do liquido Estanho
Do quieto descanso, pretenderão Da tempestade horrifica, e importuna
De saber que fim tinhão, e onde estauão Ati chegamos, de quem so queremos
As derradeiras praias que lauauão. sinal, que ao nosso Rey de ti leuemos.

[71] Conceito digno foi do ramo claro [74] Esta he a verdade Rey, que não faria
Do venturoso Rei, que arou primeiro Por tão incerto bem, tão fraco premio
O mar, por yr deitar do ninho caro Qual, não sendo isto assi, esperar podia,
O morador de Abila derradeiro: Tão longo tão fingido, e vão proemio:
Este por sua industria, e engenho raro, Mas antes descansar me deyxaria
Num madeiro ajuntando outro madeiro, No nunca descansado e fero gremio
Descobrir pode a parte, que faz clara Da madre Thetis, qual pirata inico
De Argos, da Ydra a luz, da Lebre, e da Ara. Dos trabalhos alheyos feyto rico.
Crecendo S4 Assi que
[140v] [141r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 141

[75] Assi que ô Rei, se minha grão verdade [78] Que mande da fazenda enfim lhe manda,
Tẽs por qual he, sincera, e não dobrada, Que nos Reynos Gangeticos faleça,
Ajuntame ao despacho breuidade, Salgũa traz idonea la da banda
Não me impidas o gosto da tornada: Donde a terra se acaba, e o mar começa.
E se inda te parece falsidade, Iâ da Real presença veneranda
Cuyda bem na razão que esta prouada, Se parte o Capitão, pera onde peça
Que com claro juyzo pode verse, Ao Catual, que delle tinha cargo
Que facil he a verdade dentenderse. Embarcação, que a sua esta de largo.

[76] A tento estaua o Rey na segurança, [79] Embarcação que o leue aas naos lhe pede:
Com que prouaua o Gama o que dezia, Mas o mao Regedor, que nouos laços
Concebe delle certa confiança, Lhe machinaua, nada lhe concede,
Credito firme, em quanto proferia, Interpondo tardanças e embaraços:
Pondera, das palauras ha abastança, Coelle parte ao caes, porque o arrede
Iulga na autoridade grão valia, Longe quanto poder dos regios paços,
Começa de julgar por enganados Onde, sem que seu Rei tenha noticia,
Os Catuais currutos, mal julgados. Faça o que lhe insinar sua malicia.

[77] Iuntamente a cobiça do proueyto, [80] La bem longe lhe diz, que lhe daria
Que espera do contrato Lusitano, Embarcaçam bastante, em que partisse,
O faz obedecer, e ter respeyto, Ou que pera a luz crastina do dia
Co Capitão, e não co Mauro engano: Futuro, sua partida diffirisse:
Enfim ao Gama manda, que direyto Ia com tantas tardanças entendia
Aas naos se vâ, e seguro dalgum dano O Gama, que o Gentio consentisse
Possa a terra mandar qualquer fazenda, Na ma tençam dos Mouros, torpe e fera,
Que pela especiaria troque, e venda. O que delle ate li nam entendêra:
Que Era
[140v] [141r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 141

[75] Assi que ô Rei, se minha grão verdade [78] Que mande da fazenda enfim lhe manda,
Tẽs por qual he, sincera, e não dobrada, Que nos Reynos Gangeticos faleça,
Ajuntame ao despacho breuidade, Salgũa traz idonea la da banda
Não me impidas o gosto da tornada: Donde a terra se acaba, e o mar começa.
E se inda te parece falsidade, Iâ da Real presença veneranda
Cuyda bem na razão que esta prouada, Se parte o Capitão, pera onde peça
Que com claro juyzo pode verse, Ao Catual, que delle tinha cargo
Que facil he a verdade dentenderse. Embarcação, que a sua esta de largo.

[76] A tento estaua o Rey na segurança, [79] Embarcação que o leue aas naos lhe pede:
Com que prouaua o Gama o que dezia, Mas o mao Regedor, que nouos laços
Concebe delle certa confiança, Lhe machinaua, nada lhe concede,
Credito firme, em quanto proferia, Interpondo tardanças e embaraços:
Pondera, das palauras ha abastança, Coelle parte ao caes, porque o arrede
Iulga na autoridade grão valia, Longe quanto poder dos regios paços,
Começa de julgar por enganados Onde, sem que seu Rei tenha noticia,
Os Catuais currutos, mal julgados. Faça o que lhe insinar sua malicia.

[77] Iuntamente a cobiça do proueyto, [80] La bem longe lhe diz, que lhe daria
Que espera do contrato Lusitano, Embarcaçam bastante, em que partisse,
O faz obedecer, e ter respeyto, Ou que pera a luz crastina do dia
Co Capitão, e não co Mauro engano: Futuro, sua partida diffirisse:
Enfim ao Gama manda, que direyto Ia com tantas tardanças entendia
Aas naos se vâ, e seguro dalgum dano O Gama, que o Gentio consentisse
Possa a terra mandar qualquer fazenda, Na ma tençam dos Mouros, torpe e fera,
Que pela especiaria troque, e venda. O que delle ate li nam entendêra:
Que Era
[141v] [142r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 142

[81] Era este Catual, hum dos que estauão [84] Que nenhum torne aa patria so pretende
Corrutos pela Maumetana gente, O conselho infernal dos Maumetanos,
O principal por quem se gouernauão Porque nam saiba nunca onde se estende
As cidades do Samorim potente: A terra Eoa o Rei dos Lusitanos:
Delle somente os Mouros esperauão Não parte o Gama em fim, que lho defende
Efeyto a seus enganos torpemente, O Regedor dos barbaros profanos,
Elle, que no concerto vil conspira Nem sem licença sua yrse podia,
De suas esperanças nam delira. Que as almâdias todas lhe tolhia.

[82] O Gama com instancia lhe requere [85] Aos brados e razões do Capitão,
Que o mande por nas naos, e não lhe val, Responde o Idolatra, que mandasse
E que assi lho mandàra, lhe refere, Chegar aa terra as naos, que longe estão,
O nobre successor de Perimal: Porque milhor dali fosse, e tornasse:
Porque razão lhe empede e lhe difere Sinal he de inimigo, e de ladrão,
A fazenda trazer de Portugal, Que la tam longe a frota se alargasse,
Pois aquillo que os Reis ja tem mandado Lhe diz, porque do certo e fido amigo
Nam pode ser por outrem derrogado? He nam temer do seu nenhum perigo.

[83] Pouco obedece o Catual corruto [86] Nestas palauras o discreto Gama
A tais palauras, antes reuoluendo Enxerga bem, que as naos deseja perto
Na fantasia algum sutil, e astuto O Catual, porque com ferro, e flama
Engano diabolico, e estupendo, Lhas assalte, por odio descuberto:
Ou como banhar possa o ferro bruto Em varios pensamentos se derrama:
No sangue auorrecido, estaua vendo, Fantasiando estâ remedio certo,
Ou como as naos em fogo lhe abrasasse, Que desse a quanto mal se lhe ordenaua,
Porque nenhũa aa patria mais tornasse. Tudo temia, tudo em fim cuidaua.
Que Qual
[141v] [142r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 142

[81] Era este Catual, hum dos que estauão [84] Que nenhum torne aa patria so pretende
Corrutos pela Maumetana gente, O conselho infernal dos Maumetanos,
O principal por quem se gouernauão Porque nam saiba nunca onde se estende
As cidades do Samorim potente: A terra Eoa o Rei dos Lusitanos:
Delle somente os Mouros esperauão Não parte o Gama em fim, que lho defende
Efeyto a seus enganos torpemente, O Regedor dos barbaros profanos,
Elle, que no concerto vil conspira Nem sem licença sua yrse podia,
De suas esperanças nam delira. Que as almâdias todas lhe tolhia.

[82] O Gama com instancia lhe requere [85] Aos brados e razões do Capitão,
Que o mande por nas naos, e não lhe val, Responde o Idolatra, que mandasse
E que assi lho mandàra, lhe refere, Chegar aa terra as naos, que longe estão,
O nobre successor de Perimal: Porque milhor dali fosse, e tornasse:
Porque razão lhe empede e lhe difere Sinal he de inimigo, e de ladrão,
A fazenda trazer de Portugal, Que la tam longe a frota se alargasse,
Pois aquillo que os Reis ja tem mandado Lhe diz, porque do certo e fido amigo
Nam pode ser por outrem derrogado? He nam temer do seu nenhum perigo.

[83] Pouco obedece o Catual corruto [86] Nestas palauras o discreto Gama
A tais palauras, antes reuoluendo Enxerga bem, que as naos deseja perto
Na fantasia algum sutil, e astuto O Catual, porque com ferro, e flama
Engano diabolico, e estupendo, Lhas assalte, por odio descuberto:
Ou como banhar possa o ferro bruto Em varios pensamentos se derrama:
No sangue auorrecido, estaua vendo, Fantasiando estâ remedio certo,
Ou como as naos em fogo lhe abrasasse, Que desse a quanto mal se lhe ordenaua,
Porque nenhũa aa patria mais tornasse. Tudo temia, tudo em fim cuidaua.
Que Qual
[142v] [143r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 143

[87] Qual o reflexo lume do polido [90] Insiste o Malabar em telo preso,
Espelho de aço, ou de cristal fermoso, Senão manda chegar a terra a armada,
Que do rayo solar sendo ferido, Elle constante, e de yra nobre aceso,
Vai ferir noutra parte luminoso, Os ameaços seus nam teme nada:
E sendo da ouciosa mão mouido Que antes quer sobre si tomar o peso,
Pela casa do moço curioso, De quanto mal a vil malicia ousada
Anda pelas paredes, e telhado, Lhe andar armando, que por em ventura
Tremulo, aqui e ali, e dessossegado. A frota de seu Rei, que tem segura.

[88] Tal o vago juyzo fluctuaua [91] Aquella noite esteue ali detido,
Do Gama preso, quando lhe lembrara E parte do outro dia, quando ordena
Coelho, se por caso o esperaua De se tornar ao Rei: mas impedido
Na praia cos bateis, como ordenara: Foi da guarda que tinha não pequena:
Logo secretamente lhe mandaua, Comete lhe o Gentio outro partido,
Que se tornasse aa frota, que deixâra, Temendo de seu Rei castigo, ou pena,
Nam fosse salteado dos enganos, Se sabe esta malicia, a qual asinha
Que esperaua, dos feros Maumetanos. Saberâ, se mais tempo ali o detinha.

[89] Tal ha de ser, quem quer co dom de Marte [92] Diz lhe que mande vir toda a fazenda
Imitar os illustres, e igoalalos. Vendibil, que trazia, pera a terra,
Voar co pensamento a toda parte, Pera que de vagar se troque, e venda,
Adiuinhar pirigos, e euitallos: Que quem nam quer comercio, busca guerra:
Com militar engenho, e sutil arte Posto que os maos prepositos entenda
Entender os imigos, e enganalos, O Gama, que o danado peito encerra,
Crer tudo em fim, que nunca louuarey Consente, porque sabe por verdade,
O Capitão que diga, não cuidey. Que compra co a fazenda a liberdade.
Insiste Concertãse
[142v] [143r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 143

[87] Qual o reflexo lume do polido [90] Insiste o Malabar em telo preso,
Espelho de aço, ou de cristal fermoso, Senão manda chegar a terra a armada,
Que do rayo solar sendo ferido, Elle constante, e de yra nobre aceso,
Vai ferir noutra parte luminoso, Os ameaços seus nam teme nada:
E sendo da ouciosa mão mouido Que antes quer sobre si tomar o peso,
Pela casa do moço curioso, De quanto mal a vil malicia ousada
Anda pelas paredes, e telhado, Lhe andar armando, que por em ventura
Tremulo, aqui e ali, e dessossegado. A frota de seu Rei, que tem segura.

[88] Tal o vago juyzo fluctuaua [91] Aquella noite esteue ali detido,
Do Gama preso, quando lhe lembrara E parte do outro dia, quando ordena
Coelho, se por caso o esperaua De se tornar ao Rei: mas impedido
Na praia cos bateis, como ordenara: Foi da guarda que tinha não pequena:
Logo secretamente lhe mandaua, Comete lhe o Gentio outro partido,
Que se tornasse aa frota, que deixâra, Temendo de seu Rei castigo, ou pena,
Nam fosse salteado dos enganos, Se sabe esta malicia, a qual asinha
Que esperaua, dos feros Maumetanos. Saberâ, se mais tempo ali o detinha.

[89] Tal ha de ser, quem quer co dom de Marte [92] Diz lhe que mande vir toda a fazenda
Imitar os illustres, e igoalalos. Vendibil, que trazia, pera a terra,
Voar co pensamento a toda parte, Pera que de vagar se troque, e venda,
Adiuinhar pirigos, e euitallos: Que quem nam quer comercio, busca guerra:
Com militar engenho, e sutil arte Posto que os maos prepositos entenda
Entender os imigos, e enganalos, O Gama, que o danado peito encerra,
Crer tudo em fim, que nunca louuarey Consente, porque sabe por verdade,
O Capitão que diga, não cuidey. Que compra co a fazenda a liberdade.
Insiste Concertãse
[143v] [144r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 144

[93] Concertã se que o negro mande dar, [96] Nas naos estar se deyxa vagaroso,
Embarcações idoneas com que venha, Atê ver o que o tempo lhe descobre,
Que os seus bateis não quer auenturar, Que não se fia jà do cobiçoso
Onde lhos tome o imigo, ou lhos detenha: Regedor corrompido, e pouco nobre.
Partem as almàdias a buscar Veja agora o juyzo curioso
Mercadoria Hispana, que conuenha, Quanto no rico, assi como no pobre
Escreue a seu yrmão, que lhe mandasse Pode o vil interesse e sede imiga
A fazenda, com que se resgatasse. Do dinheyro, que a tudo nos obriga.

[94] Vem a fazenda a terra, aonde logo [97] A Polidoro mata o Rey Treicio,
A agasalhou o infame Catual: Sô por ficar senhor do grão tesouro:
Coella ficam Aluaro e Diogo, Entra, pelo fortissimo edificio,
Que a podessem vender pelo que val, Com a filha de Acriso a chuua douro:
Se mais que obrigação, que mando e rogo Pode tanto em Tarpeia auaro vicio,
No peito vil o premio pode, e val, Que a troco do metal luzente, e louro,
Bem o mostra o Gentio a quem o entenda, Entrega aos inimigos a alta torre,
Pois o Gama soltou pela fazenda. Do qual quasi afogada empago morre.

[95] Por ella o solta, crendo que ali tinha [98] Este rende munidas fortalezas,
Penhor bastante, donde recebesse Faz tredoros, e falsos os amigos,
Interesse maior do que lhe vinha, Este a mais nobres faz fazer vilezas,
Se o Capitão mais tempo detiuesse: E entrega Capitães aos inimigos:
Elle vendo que ja lhe nam conuinha Este corrompe virginais purezas,
Tornar a terra, porque nam podesse Sem temer de honra, ou fama algũs perigos,
Ser mais retido, sendo aas naos chegado Este depraua as vezes âs ciencias,
Nellas estar se deixa descansado. Os juyzos cegando, e as consciencias.
Nas Este
[143v] [144r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 144

[93] Concertã se que o negro mande dar, [96] Nas naos estar se deyxa vagaroso,
Embarcações idoneas com que venha, Atê ver o que o tempo lhe descobre,
Que os seus bateis não quer auenturar, Que não se fia jà do cobiçoso
Onde lhos tome o imigo, ou lhos detenha: Regedor corrompido, e pouco nobre.
Partem as almàdias a buscar Veja agora o juyzo curioso
Mercadoria Hispana, que conuenha, Quanto no rico, assi como no pobre
Escreue a seu yrmão, que lhe mandasse Pode o vil interesse e sede imiga
A fazenda, com que se resgatasse. Do dinheyro, que a tudo nos obriga.

[94] Vem a fazenda a terra, aonde logo [97] A Polidoro mata o Rey Treicio,
A agasalhou o infame Catual: Sô por ficar senhor do grão tesouro:
Coella ficam Aluaro e Diogo, Entra, pelo fortissimo edificio,
Que a podessem vender pelo que val, Com a filha de Acriso a chuua douro:
Se mais que obrigação, que mando e rogo Pode tanto em Tarpeia auaro vicio,
No peito vil o premio pode, e val, Que a troco do metal luzente, e louro,
Bem o mostra o Gentio a quem o entenda, Entrega aos inimigos a alta torre,
Pois o Gama soltou pela fazenda. Do qual quasi afogada empago morre.

[95] Por ella o solta, crendo que ali tinha [98] Este rende munidas fortalezas,
Penhor bastante, donde recebesse Faz tredoros, e falsos os amigos,
Interesse maior do que lhe vinha, Este a mais nobres faz fazer vilezas,
Se o Capitão mais tempo detiuesse: E entrega Capitães aos inimigos:
Elle vendo que ja lhe nam conuinha Este corrompe virginais purezas,
Tornar a terra, porque nam podesse Sem temer de honra, ou fama algũs perigos,
Ser mais retido, sendo aas naos chegado Este depraua as vezes âs ciencias,
Nellas estar se deixa descansado. Os juyzos cegando, e as consciencias.
Nas Este
[144v] [145r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 145

[99] Este interpreta mais que sutilmente [2] La no seio Eritreo, onde fundada
Os textos. este faz e desfaz leis: Arsinoe foi do Egipcio Ptholomeo,
Este causa os perjurios entre a gente: Do nome da irmã sua assi chamada,
E mil vezes tirânos torna os Reis. Que despois em Suez se conuerteo,
Ate os que so a Deos omnipotente Não longe, o porto jaz da nomeada
Se dedicão, mil vezes ouuireis, Cidade Meca, que se engrandeceo
Que corrompe este encantador, e illude: Com a superstiçam falsa, e profana,
Mas não sem cor com tudo de virtude. Da relegiosa agoa Maumetana.

FIM. [3] Gidâ se chama o porto, aonde o trato


De todo o roxo mar mais florecia,
De que tinha proueito grande, e grato
O Soldão que esse Reino possuia:
Daqui aos Malabares, por contrato
Dos infieis, fermosa companhia
De grandes naos, pelo Indico Oceano,
☙ Canto Nono. Especiaria vem buscar cada anno.

[1] TIuerão longamen-/te na cidade [4] Por estas naos os Mouros esperauão,
Sem vender se a fazenda os do-/us feitores, Que como fossem grandes e possantes
Que os infieis por manha, e falsidade Aquellas, que o comerçio lhe tomauão,
Fazem, que nam lha comprem mercadores, Com flamas abrasassem crepitantes:
Que todo seu proposito, e vontade Neste socorro tanto confiauão,
Era, deter ali os descubridores Que ja nam querem mais dos nauegantes,
Da India, tanto tempo que viessem Se nam que tanto tempo ali tardassem,
De Meca as naos, que as suas desfizessem. Que da famosa Meca as naos chegassem.
La no T Mas
[144v] [145r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 145

[99] Este interpreta mais que sutilmente [2] La no seio Eritreo, onde fundada
Os textos. este faz e desfaz leis: Arsinoe foi do Egipcio Ptholomeo,
Este causa os perjurios entre a gente: Do nome da irmã sua assi chamada,
E mil vezes tirânos torna os Reis. Que despois em Suez se conuerteo,
Ate os que so a Deos omnipotente Não longe, o porto jaz da nomeada
Se dedicão, mil vezes ouuireis, Cidade Meca, que se engrandeceo
Que corrompe este encantador, e illude: Com a superstiçam falsa, e profana,
Mas não sem cor com tudo de virtude. Da relegiosa agoa Maumetana.

FIM. [3] Gidâ se chama o porto, aonde o trato


De todo o roxo mar mais florecia,
De que tinha proueito grande, e grato
O Soldão que esse Reino possuia:
Daqui aos Malabares, por contrato
Dos infieis, fermosa companhia
De grandes naos, pelo Indico Oceano,
☙ Canto Nono. Especiaria vem buscar cada anno.

[1] TIuerão longamen-/te na cidade [4] Por estas naos os Mouros esperauão,
Sem vender se a fazenda os do-/us feitores, Que como fossem grandes e possantes
Que os infieis por manha, e falsidade Aquellas, que o comerçio lhe tomauão,
Fazem, que nam lha comprem mercadores, Com flamas abrasassem crepitantes:
Que todo seu proposito, e vontade Neste socorro tanto confiauão,
Era, deter ali os descubridores Que ja nam querem mais dos nauegantes,
Da India, tanto tempo que viessem Se nam que tanto tempo ali tardassem,
De Meca as naos, que as suas desfizessem. Que da famosa Meca as naos chegassem.
La no T Mas
[145v] [146r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 146

[5] Mas o Gouernador dos ceos, e gentes, [8] O Gama que tambem consideraua
Que pera quanto tem determinado, O tempo, que pera a partida o chama,
De longe os meios dâ conuenientes, E que despacho ja não esperaua
Por onde vem a effeito o fim fadado, Milhor do Rei, que os Maumetanos ama:
Influio piadosos accidentes Aos feitores, que em terra estão, mandaua
De affeiçam em Monçaide, que guardado Que se tornem aas naos: e porque a fama
Estaua pera dar ao Gama auiso, Desta subita vinda os não impida,
E merecer por isso o Paraiso. Lhe manda que a fizessem escondida.

[6] Este de quem se os Mouros não guardauão, [9] Porem não tardou muito, que voando
Por ser Mouro como elles, antes era Hum rumor nam soasse com verdade,
Participante em quanto machinauão, Que forão presos os feitores, quando
A tençam lhe descobre torpe, e fera: Foram sentidos virse da cidade:
Muitas vezes as naos que longe estauão Esta fama as orelhas penetrando
Visita, e com piedade considera Do sabio capitão, com breuidade
O dano, sem razão, que se lhe ordena, Faz represaria nũs, que aas naos vierão,
Pela maligna gente Sarracena. A vender pedraria que trouxerão.

[7] Informa o cauto Gama das armadas, [10] Eram estes antigos mercadores
Que de Arabica Meca vem cadano, Ricos em Calecu, e conhecidos
Que agora sam dos seus tam desejadas, Da falta delles, logo entre os milhores
Pera ser instrumento deste dano: Sentido foi, que estão no mar retidos:
Diz lhe que vem de gente carregadas, Mas ja nas naos os bõs trabalhadores,
E dos trouões horrendos de Vulcano, Voluem o cabrestante, e repartidos
E que pode ser dellas opremido, Pelo trabalho, hũs puxão pela amarra,
Segundo estaua mal apercebido. Outros quebrão co peito duro a barra.
O Gama T 2 Outros
[145v] [146r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 146

[5] Mas o Gouernador dos ceos, e gentes, [8] O Gama que tambem consideraua
Que pera quanto tem determinado, O tempo, que pera a partida o chama,
De longe os meios dâ conuenientes, E que despacho ja não esperaua
Por onde vem a effeito o fim fadado, Milhor do Rei, que os Maumetanos ama:
Influio piadosos accidentes Aos feitores, que em terra estão, mandaua
De affeiçam em Monçaide, que guardado Que se tornem aas naos: e porque a fama
Estaua pera dar ao Gama auiso, Desta subita vinda os não impida,
E merecer por isso o Paraiso. Lhe manda que a fizessem escondida.

[6] Este de quem se os Mouros não guardauão, [9] Porem não tardou muito, que voando
Por ser Mouro como elles, antes era Hum rumor nam soasse com verdade,
Participante em quanto machinauão, Que forão presos os feitores, quando
A tençam lhe descobre torpe, e fera: Foram sentidos virse da cidade:
Muitas vezes as naos que longe estauão Esta fama as orelhas penetrando
Visita, e com piedade considera Do sabio capitão, com breuidade
O dano, sem razão, que se lhe ordena, Faz represaria nũs, que aas naos vierão,
Pela maligna gente Sarracena. A vender pedraria que trouxerão.

[7] Informa o cauto Gama das armadas, [10] Eram estes antigos mercadores
Que de Arabica Meca vem cadano, Ricos em Calecu, e conhecidos
Que agora sam dos seus tam desejadas, Da falta delles, logo entre os milhores
Pera ser instrumento deste dano: Sentido foi, que estão no mar retidos:
Diz lhe que vem de gente carregadas, Mas ja nas naos os bõs trabalhadores,
E dos trouões horrendos de Vulcano, Voluem o cabrestante, e repartidos
E que pode ser dellas opremido, Pelo trabalho, hũs puxão pela amarra,
Segundo estaua mal apercebido. Outros quebrão co peito duro a barra.
O Gama T 2 Outros
[146v] [147r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 147

[11] Outros pendem da verga, e ja desatão [14] Leua algũs Malabares, que tomou
A vella, que com grita se soltaua, Per força, dos que o Samorim mandâra,
Quando com maior grita ao Rei relatão Quando os presos feitores lhe tornou:
A pressa, com que a armada se leuaua: Leua pimenta ardente que compràra:
As molheres e filhos, que se matão A seca flor de Banda não ficou,
Daquelles que vão presos, onde estaua A Noz, e o negro crauo, que faz clara
O Samorim, se aqueixão que perdidos A noua ilha Maluco, coa canella,
Hũs tem os pais, as outras os maridos. Com que Ceilão he rica illustre e bella.

[12] Manda logo os feitores Lusitanos [15] Isto tudo lhe ouuera a deligencia
Com toda sua fazenda liuremente, De Monçaide fiel, que tambem leua,
Apesar dos imigos Maumetanos, Que inspirado de Angelica influencia,
Porque lhe torne a sua presa gente: Quer no liuro de Christo que se escreua,
Desculpas manda o Rei de seus enganos, O ditoso Affricano, que a clemencia
Recebe o Capitão de melhormente Diuina assi tirou descura treua,
Os presos, que as desculpas, e tornando E tam longe da patria achou maneira,
Algũs negros, se parte as vellas dando. Pera subir aa patria verdadeira.

[13] Partese costa abaxo, porque entende [16] Apartadas assi da ardente costa,
Que em vão co Rei gentio trabalhaua, As venturosas naos, leuando a proa
Em querer delle paz, a qual pretende Pera onde a natureza tinha posta
Por firmar o comercio que trataua: A Meta Austrina da esperança boa,
Mas como aquella terra que se estende Leuando alegres nouas e reposta,
Pela Aurora, sabida ja deixaua, Da parte Oriental pera Lisboa,
Com estas nouas torna aa patria cara, Outra vez cometendo os duros medos
Certos sinais leuando do que achara. Do mar incerto, temidos e ledos.
Leua T 3 O prazer
[146v] [147r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 147

[11] Outros pendem da verga, e ja desatão [14] Leua algũs Malabares, que tomou
A vella, que com grita se soltaua, Per força, dos que o Samorim mandâra,
Quando com maior grita ao Rei relatão Quando os presos feitores lhe tornou:
A pressa, com que a armada se leuaua: Leua pimenta ardente que compràra:
As molheres e filhos, que se matão A seca flor de Banda não ficou,
Daquelles que vão presos, onde estaua A Noz, e o negro crauo, que faz clara
O Samorim, se aqueixão que perdidos A noua ilha Maluco, coa canella,
Hũs tem os pais, as outras os maridos. Com que Ceilão he rica illustre e bella.

[12] Manda logo os feitores Lusitanos [15] Isto tudo lhe ouuera a deligencia
Com toda sua fazenda liuremente, De Monçaide fiel, que tambem leua,
Apesar dos imigos Maumetanos, Que inspirado de Angelica influencia,
Porque lhe torne a sua presa gente: Quer no liuro de Christo que se escreua,
Desculpas manda o Rei de seus enganos, O ditoso Affricano, que a clemencia
Recebe o Capitão de melhormente Diuina assi tirou descura treua,
Os presos, que as desculpas, e tornando E tam longe da patria achou maneira,
Algũs negros, se parte as vellas dando. Pera subir aa patria verdadeira.

[13] Partese costa abaxo, porque entende [16] Apartadas assi da ardente costa,
Que em vão co Rei gentio trabalhaua, As venturosas naos, leuando a proa
Em querer delle paz, a qual pretende Pera onde a natureza tinha posta
Por firmar o comercio que trataua: A Meta Austrina da esperança boa,
Mas como aquella terra que se estende Leuando alegres nouas e reposta,
Pela Aurora, sabida ja deixaua, Da parte Oriental pera Lisboa,
Com estas nouas torna aa patria cara, Outra vez cometendo os duros medos
Certos sinais leuando do que achara. Do mar incerto, temidos e ledos.
Leua T 3 O prazer
[147v] [148r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 148

[17] O prazer de chegar aa patria cara, [20] Algum repouso em fim, com que podesse
A seus penates caros e parentes, Refucilar a lassa humanidade
Pera contar a peregrina, e rara Dos nauegantes seus, como interesse
Nauegaçam, os varios çeos, e gentes, Do trabalho, que incurta a breue idade:
Vir a lograr o premio, que ganhàra Parecelhe razão que conta desse
Por tão longos trabalhos, e accidentes, A seu filho, por cuja potestade
Cada hum, tem por gosto tam perfeito, Os Deoses faz decer ao vil terreno,
Que o coração para elle he vaso estreito. E os humanos subir ao ceo sereno.

[18] Porem a Deosa Cipria, que ordenada [21] Isto bem reuoluido, determina
Era pera fauor dos Lusitanos De terlhe aparelhada la no meio
Do Padre eterno, e por bom genio dada Das agoas, algũa insula diuina,
Que sempre os guia ja de longos annos: Ornada desmaltado e verde arreio:
A gloria por trabalhos alcançada, Que muitas tem no reino, que confina
Satisfação de bem sofridos danos, Da primeira co terreno seio,
Lhe andaua ja ordenando, e pretendia Afora as que possue soberanas,
Dar lhe nos mares tristes alegria. Pera dentro das portas Herculanas.

[19] Despois de ter hum pouco reuoluido [22] Ali quer que as aquaticas donzellas,
Na mente, o largo mar que nauegârão, Esperem os fortissimos barões,
Os trabalhos, que pelo Deos nascido, Todas as que tem titolo de bellas,
Nas Amphioneas Thebas, se causarão, Gloria dos olhos, dor dos corações,
Ia trazia de longe no sentido, Com danças, e coreas, porque nellas
Pera premio de quanto mal passarão, Influirâ secretas affeições,
Buscarlhe algum deleite, algum descanso Pera com mais vontade trabalharem
No Reino de cristal liquido, e manso. De contentar a quem se affeiçoarem.
Algum T 4 Tal
[147v] [148r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 148

[17] O prazer de chegar aa patria cara, [20] Algum repouso em fim, com que podesse
A seus penates caros e parentes, Refucilar a lassa humanidade
Pera contar a peregrina, e rara Dos nauegantes seus, como interesse
Nauegaçam, os varios çeos, e gentes, Do trabalho, que incurta a breue idade:
Vir a lograr o premio, que ganhàra Parecelhe razão que conta desse
Por tão longos trabalhos, e accidentes, A seu filho, por cuja potestade
Cada hum, tem por gosto tam perfeito, Os Deoses faz decer ao vil terreno,
Que o coração para elle he vaso estreito. E os humanos subir ao ceo sereno.

[18] Porem a Deosa Cipria, que ordenada [21] Isto bem reuoluido, determina
Era pera fauor dos Lusitanos De terlhe aparelhada la no meio
Do Padre eterno, e por bom genio dada Das agoas, algũa insula diuina,
Que sempre os guia ja de longos annos: Ornada desmaltado e verde arreio:
A gloria por trabalhos alcançada, Que muitas tem no reino, que confina
Satisfação de bem sofridos danos, Da primeira co terreno seio,
Lhe andaua ja ordenando, e pretendia Afora as que possue soberanas,
Dar lhe nos mares tristes alegria. Pera dentro das portas Herculanas.

[19] Despois de ter hum pouco reuoluido [22] Ali quer que as aquaticas donzellas,
Na mente, o largo mar que nauegârão, Esperem os fortissimos barões,
Os trabalhos, que pelo Deos nascido, Todas as que tem titolo de bellas,
Nas Amphioneas Thebas, se causarão, Gloria dos olhos, dor dos corações,
Ia trazia de longe no sentido, Com danças, e coreas, porque nellas
Pera premio de quanto mal passarão, Influirâ secretas affeições,
Buscarlhe algum deleite, algum descanso Pera com mais vontade trabalharem
No Reino de cristal liquido, e manso. De contentar a quem se affeiçoarem.
Algum T 4 Tal
[fl. 148v] [149r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 149

[23] Tal manha buscou ja, pera que aquelle [26] Via Acteon na caça, tam austero,
Que de Achises pario, bem recebido De cego na alegria bruta, insana,
Fosse no campo que a bouina pelle Que por seguir hum feo animal fero,
Tomou de espaço, por sutil partido: Foge da gente, e bella forma humana:
Seu filho vai buscar, porque so nelle E por castigo quer doçe, e seuero,
Tem todo seu poder, fero Cupido, Mostra lhe a fermosura de Diana,
Que assi como naquella empresa antiga E guarde se nam seja inda comido
A ajudou ja, nestoutra a ajude e siga. Desses cães que agora ama, e consumido.

[24] No carro ajunta as aues, que na vida [27] E vè do mundo todo os principais,
Vão da morte as exequias celebrando, Que nenhum no bem pubrico imagina,
E aquellas em que ja foi conuertida Vê nelles, que não tem amor a mais
Peristera, as boninas apanhando: Que a si somente, e a quem Philaucia insina
Em derredor da Deosa ja partida, Vê que esses que frequentão os reais
No ar lasciuos beijos se vão dando, Paços, por verdadeira e saã doctrina
Ella por onde passa o ar, e o vento Vendem adulação, que mal consente
Sereno faz, com brando mouimento. Mondarse o nouo trigo florecente.

[25] Ia sobre os Idalios montes pende, [28] Vê que aquelles que deuem aa pobreza
Onde o filho frecheiro estaua então, Amor diuino, e ao pouo charidade,
Ajuntando outros muitos, que pretende Amão somente mandos, e riqueza,
Fazer hũa famosa expedição Simulãdo justiça, e integridade:
Contra o mundo reuelde, porque emende Da fea tyrania, e de aspereza
Erros grandes, que ha dias nelle estão, Fazem direito, e vaã seueridade:
Amando cousas que nos forão dadas, Leis em fauor do Rei se estabelecem,
Nam pera ser amadas, mas vsadas. As em fauor do pouo so perecem.
Via Ve em
[fl. 148v] [149r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 149

[23] Tal manha buscou ja, pera que aquelle [26] Via Acteon na caça, tam austero,
Que de Achises pario, bem recebido De cego na alegria bruta, insana,
Fosse no campo que a bouina pelle Que por seguir hum feo animal fero,
Tomou de espaço, por sutil partido: Foge da gente, e bella forma humana:
Seu filho vai buscar, porque so nelle E por castigo quer doçe, e seuero,
Tem todo seu poder, fero Cupido, Mostra lhe a fermosura de Diana,
Que assi como naquella empresa antiga E guarde se nam seja inda comido
A ajudou ja, nestoutra a ajude e siga. Desses cães que agora ama, e consumido.

[24] No carro ajunta as aues, que na vida [27] E vè do mundo todo os principais,
Vão da morte as exequias celebrando, Que nenhum no bem pubrico imagina,
E aquellas em que ja foi conuertida Vê nelles, que não tem amor a mais
Peristera, as boninas apanhando: Que a si somente, e a quem Philaucia insina
Em derredor da Deosa ja partida, Vê que esses que frequentão os reais
No ar lasciuos beijos se vão dando, Paços, por verdadeira e saã doctrina
Ella por onde passa o ar, e o vento Vendem adulação, que mal consente
Sereno faz, com brando mouimento. Mondarse o nouo trigo florecente.

[25] Ia sobre os Idalios montes pende, [28] Vê que aquelles que deuem aa pobreza
Onde o filho frecheiro estaua então, Amor diuino, e ao pouo charidade,
Ajuntando outros muitos, que pretende Amão somente mandos, e riqueza,
Fazer hũa famosa expedição Simulãdo justiça, e integridade:
Contra o mundo reuelde, porque emende Da fea tyrania, e de aspereza
Erros grandes, que ha dias nelle estão, Fazem direito, e vaã seueridade:
Amando cousas que nos forão dadas, Leis em fauor do Rei se estabelecem,
Nam pera ser amadas, mas vsadas. As em fauor do pouo so perecem.
Via Ve em
[149v] [150r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 150

[29] Vê em fim que ninguem ama o que deue, [32] Algũs exercitando a mão andauão,
Se não o que somente mal deseja, Nos duros corações da plebe ruda,
Não quer que tanto tempo se releue, Crebros sospiros pelo ar soauão,
O castigo que duro, e justo seja: Dos que feridos vão, da seta aguda,
Seus ministros ajunta, porque leue Fermosas Nimphas sam, as que curauão
Exercitos conformes aa peleja, As chagas recebidas, cuja ajuda
Que espera ter coa mal regida gente, Não somente dâ vida aos mal feridos:
Que lhe não for agora obediente. Mas poem em vida os inda não nascidos.

[30] Muitos destes mininos voadores, [33] Fermosas sam algũas, e outras feas,
Estão em varias obras trabalhando, Segundo a qualidade for das chagas,
Hũs amolando ferros passadores, Que o veneno espalhado pelas veas,
Outros asteas de setas delgaçando, Curão no aas vezes asperas triagas
Trabalhando cantando estão de amores, Algũs ficão ligados em cadeas,
Varios casos em verso modulando, Por palauras sutis de sabias Magas,
Melodia sonora, e concertada, Isto acontece aas vezes quando as setas
Suaue a letra, angelica a soada. Acertão de leuar eruas secretas.

[31] Nas fragoas immortais, onde forjauão, [34] Destes tiros assi desordenados,
Pera as setas as pontas penetrantes, Que estes moços mal destros vão tirando,
Por lenha, corações ardendo estauão, Nascem amores mil desconcertados,
Viuas entranhas inda palpitantes: Entre o pouo ferido miserando,
As agoas onde os ferros temperauão, E tambem nos heroes de altos estados,
Lagrimas sam de miseros amantes, Exemplos mil se vem de amor nefando,
A viua flama, o nunca morto lume, Qual o das moças, Bibli, e Cynirea
Desejo he so que queima, e não consume. Hum mancebo de Assiria, hum de Iudea.
Algũs E vos
[149v] [150r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 150

[29] Vê em fim que ninguem ama o que deue, [32] Algũs exercitando a mão andauão,
Se não o que somente mal deseja, Nos duros corações da plebe ruda,
Não quer que tanto tempo se releue, Crebros sospiros pelo ar soauão,
O castigo que duro, e justo seja: Dos que feridos vão, da seta aguda,
Seus ministros ajunta, porque leue Fermosas Nimphas sam, as que curauão
Exercitos conformes aa peleja, As chagas recebidas, cuja ajuda
Que espera ter coa mal regida gente, Não somente dâ vida aos mal feridos:
Que lhe não for agora obediente. Mas poem em vida os inda não nascidos.

[30] Muitos destes mininos voadores, [33] Fermosas sam algũas, e outras feas,
Estão em varias obras trabalhando, Segundo a qualidade for das chagas,
Hũs amolando ferros passadores, Que o veneno espalhado pelas veas,
Outros asteas de setas delgaçando, Curão no aas vezes asperas triagas
Trabalhando cantando estão de amores, Algũs ficão ligados em cadeas,
Varios casos em verso modulando, Por palauras sutis de sabias Magas,
Melodia sonora, e concertada, Isto acontece aas vezes quando as setas
Suaue a letra, angelica a soada. Acertão de leuar eruas secretas.

[31] Nas fragoas immortais, onde forjauão, [34] Destes tiros assi desordenados,
Pera as setas as pontas penetrantes, Que estes moços mal destros vão tirando,
Por lenha, corações ardendo estauão, Nascem amores mil desconcertados,
Viuas entranhas inda palpitantes: Entre o pouo ferido miserando,
As agoas onde os ferros temperauão, E tambem nos heroes de altos estados,
Lagrimas sam de miseros amantes, Exemplos mil se vem de amor nefando,
A viua flama, o nunca morto lume, Qual o das moças, Bibli, e Cynirea
Desejo he so que queima, e não consume. Hum mancebo de Assiria, hum de Iudea.
Algũs E vos
[150v] [151r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 151

[35] E vos ô poderosos por pastoras [38] Bem ves as Lusitanicas fadigas,
Muytas vezes ferido o peyto vedes, Que eu ja de muito longe fauoreço,
E por bayxos, e rudos vos senhoras Porque das Parcas sey minhas amigas,
Tambem vos tomão nas Vulcanias redes, Que me ande venerar e ter em preço,
Hũs esperando andais nocturnas horas, E porque tanto imitão as antigas
Outros subis telhados e paredes, Obras de meus Romanos, me offereço
Mas eu creyo que deste amor indino, A lhe dar tanta ajuda em quanto posso,
He mais culpa a da mãy, que a do minino. A quanto se estender o poder nosso.

[36] Mas ja no verde prado o carro leue, [39] E porque das insidias do odioso
Punhão os brancos Cisnes mansamente, Baco foram na India molestados,
E Dione, que as rosas entre a neue E das injurias sos do mar vndoso,
No rosto traz, decia diligente: Poderão mais ser mortos, que cansados:
O frecheiro, que contra o çeo se atreue, No mesmo mar, que sempre temeroso
A recebella vem, ledo, e contente, Lhe foi, quero que sejão repousados,
Vem todos os cupidos seruidores, Tomando aquelle premio, e doçe gloria
Beijar a mão aa Deosa dos amores. Do trabalho que faz clara a memoria.

[37] Ella porque não gaste o tempo em vão, [40] E pera isso queria que feridas
Nos braços tendo o filho, confiada As filhas de Nereo, no ponto fundo,
Lhe diz, amado filho, em cuja mão Da mor dos Lusitanos encendidas,
Toda minha potencia està fundada: Que vem de descobrir o nouo mundo,
Filho em quem minhas forças sempre estão, Todas nũa ilha juntas e subidas,
Tu que as armas Tifeas tẽs em nada, Ilha que nas entranhas do profundo
A socorrer me a tua potestade, Oceano, terei aparelhada,
Me traz especial necessidade. De dões de Flora, e Zefiro adornada.
Bem Ali
[150v] [151r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 151

[35] E vos ô poderosos por pastoras [38] Bem ves as Lusitanicas fadigas,
Muytas vezes ferido o peyto vedes, Que eu ja de muito longe fauoreço,
E por bayxos, e rudos vos senhoras Porque das Parcas sey minhas amigas,
Tambem vos tomão nas Vulcanias redes, Que me ande venerar e ter em preço,
Hũs esperando andais nocturnas horas, E porque tanto imitão as antigas
Outros subis telhados e paredes, Obras de meus Romanos, me offereço
Mas eu creyo que deste amor indino, A lhe dar tanta ajuda em quanto posso,
He mais culpa a da mãy, que a do minino. A quanto se estender o poder nosso.

[36] Mas ja no verde prado o carro leue, [39] E porque das insidias do odioso
Punhão os brancos Cisnes mansamente, Baco foram na India molestados,
E Dione, que as rosas entre a neue E das injurias sos do mar vndoso,
No rosto traz, decia diligente: Poderão mais ser mortos, que cansados:
O frecheiro, que contra o çeo se atreue, No mesmo mar, que sempre temeroso
A recebella vem, ledo, e contente, Lhe foi, quero que sejão repousados,
Vem todos os cupidos seruidores, Tomando aquelle premio, e doçe gloria
Beijar a mão aa Deosa dos amores. Do trabalho que faz clara a memoria.

[37] Ella porque não gaste o tempo em vão, [40] E pera isso queria que feridas
Nos braços tendo o filho, confiada As filhas de Nereo, no ponto fundo,
Lhe diz, amado filho, em cuja mão Da mor dos Lusitanos encendidas,
Toda minha potencia està fundada: Que vem de descobrir o nouo mundo,
Filho em quem minhas forças sempre estão, Todas nũa ilha juntas e subidas,
Tu que as armas Tifeas tẽs em nada, Ilha que nas entranhas do profundo
A socorrer me a tua potestade, Oceano, terei aparelhada,
Me traz especial necessidade. De dões de Flora, e Zefiro adornada.
Bem Ali
[151v] [152r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 152

[41] Ali com mil refrescos, e manjares, [44] Mas diz Cupido, que era necessaria
Com vinhos odoriferos, e rosas, Hũa famosa, e celebre terceyra,
Em cristalinos paços singulares, Que posto que mil vezes lhe he contraria,
Fermosos leitos, e ellas mais fermosas: Outras muytas ha tem por companheyra:
Em fim com mil deleites não vulgares, A Deosa Gigantea temeraria,
Os esperem as Nimphas amorosas, Iactante, mintirosa, e verdadeyra,
Damor feridas, pera lhe entregarem Que com cem olhos ve, e por onde voa
Quanto dellas os olhos cobiçarem. O que vè com mil bocas apregoa.

[42] Quero que aja no reino Neptunino [45] Vão a buscar, e mandam a diante,
Onde eu nasci, progenie forte e bella, Que celebrando va com tuba clara,
E tome exemplo o mundo vil, malino, Os louuores da gente nauegante,
Que contra tua potencia se reuela, Mais do que nunca os doutrem celebrara:
Porque entendão que muro Adamantino, Ia murmurando a fama penetrante
Nem triste hypocresia val contra ella. Pelas fundas cauernas se espalhàra,
Mal auerâ na terra quem se guarde, Fala verdade, a vida por verdade,
Se teu fogo imortal nas agoas arde. Que junto a Deosa traz Credulidade.

[43] Assi Venus propos, e o filho inico [46] O louuor grande, o rumor excellente
Pera lhe obedecer ja se apercebe, No coração dos Deoses, que indinados
Manda trazer o arco eburneo rico, Forão por Baco contra a illustre gente,
Onde as setas de ponta de ouro embebe: Mudando os fez hum pouco afeyçoados:
Com gesto ledo a Cipria, e impudico, O peyto feminil, que leuemente
Dentro no carro o filho seu recebe, Muda quaesquer propositos tomados,
Ha redea larga aas aues, cujo canto Ia julga por mao zelo, e por crueza
Ha Phaetontea morte chorou tanto. Desejar mal a tanta fortaleza.
Mas Despede
[151v] [152r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 152

[41] Ali com mil refrescos, e manjares, [44] Mas diz Cupido, que era necessaria
Com vinhos odoriferos, e rosas, Hũa famosa, e celebre terceyra,
Em cristalinos paços singulares, Que posto que mil vezes lhe he contraria,
Fermosos leitos, e ellas mais fermosas: Outras muytas ha tem por companheyra:
Em fim com mil deleites não vulgares, A Deosa Gigantea temeraria,
Os esperem as Nimphas amorosas, Iactante, mintirosa, e verdadeyra,
Damor feridas, pera lhe entregarem Que com cem olhos ve, e por onde voa
Quanto dellas os olhos cobiçarem. O que vè com mil bocas apregoa.

[42] Quero que aja no reino Neptunino [45] Vão a buscar, e mandam a diante,
Onde eu nasci, progenie forte e bella, Que celebrando va com tuba clara,
E tome exemplo o mundo vil, malino, Os louuores da gente nauegante,
Que contra tua potencia se reuela, Mais do que nunca os doutrem celebrara:
Porque entendão que muro Adamantino, Ia murmurando a fama penetrante
Nem triste hypocresia val contra ella. Pelas fundas cauernas se espalhàra,
Mal auerâ na terra quem se guarde, Fala verdade, a vida por verdade,
Se teu fogo imortal nas agoas arde. Que junto a Deosa traz Credulidade.

[43] Assi Venus propos, e o filho inico [46] O louuor grande, o rumor excellente
Pera lhe obedecer ja se apercebe, No coração dos Deoses, que indinados
Manda trazer o arco eburneo rico, Forão por Baco contra a illustre gente,
Onde as setas de ponta de ouro embebe: Mudando os fez hum pouco afeyçoados:
Com gesto ledo a Cipria, e impudico, O peyto feminil, que leuemente
Dentro no carro o filho seu recebe, Muda quaesquer propositos tomados,
Ha redea larga aas aues, cujo canto Ia julga por mao zelo, e por crueza
Ha Phaetontea morte chorou tanto. Desejar mal a tanta fortaleza.
Mas Despede
[152v] [153r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 153

[47] Despede nisto o fero moço as setas [50] Ia todo o bello coro se aparelha
Hũa apos outra, geme o mar cos tiros, Das Nereidas, e junto caminhaua
Dereitas pelas ondas inquietas, Em coreas gentis, vsança velha,
Algũas vão, e algũas fazem giros: Pera a ilha, a que Venus as guiaua:
Caem as Nimphas, lançam das secretas Ali a fermosa Deosa lhe aconselha
Entranhas ardentissimos sospiros, O que ella fez mil vezes, quando amaua,
Cae qualquer, sem ver o vulto que ama, Ellas que vão do doçe amor vencidas,
Que tanto como a vista pode a fama. Estão a seu conselho offerecidas.

[48] Os cornos ajuntou da eburnea Lũa, [51] Cortando vão as naos a larga via
Com força o moço indomito excessiua, Do mar ingente, pera a patria amada,
Que Thetis quer ferir mais que nenhũa, Desejando prouerse de agoa fria,
Porque mais que nenhũa lhe era esquiua: Pera a grande viajem prolongada:
Ia não fica na aljaua seta algũa, Quando juntas com subita alegria,
Nem nos equoreos campos Nimpha viua, Ouuerão vista da ilha namorada,
E se feridas inda estão viuendo, Rompendo pelo çeo a mãi fermosa
Sera pera sentir que vão morrendo. De Menonio, suaue e deleitosa.

[49] Day lugar altas e ceruleas ondas, [52] De longe a Ilha virão fresca, e bella,
Que vedes Venus traz a medicina, Que Venus pelas ondas lha leuaua,
Mostrando as brancas vellas, e redondas, (Bem como o vento leua branca vella)
Que vem por cima da agoa Neptunina: Pera onde a forte armada se enxergaua,
Pera que tu reciproco respondas Que porque não passassem, sem que nella
Ardente Amor aa flama feminina, Tomassem perto, como desejaua,
He forçado que a pudicicia honesta Pera onde as naos nauegão a mouia
Faça quanto lhe Venus amoesta. A Accidalia, que tudo em fim podia.
Ia V Mas
[152v] [153r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 153

[47] Despede nisto o fero moço as setas [50] Ia todo o bello coro se aparelha
Hũa apos outra, geme o mar cos tiros, Das Nereidas, e junto caminhaua
Dereitas pelas ondas inquietas, Em coreas gentis, vsança velha,
Algũas vão, e algũas fazem giros: Pera a ilha, a que Venus as guiaua:
Caem as Nimphas, lançam das secretas Ali a fermosa Deosa lhe aconselha
Entranhas ardentissimos sospiros, O que ella fez mil vezes, quando amaua,
Cae qualquer, sem ver o vulto que ama, Ellas que vão do doçe amor vencidas,
Que tanto como a vista pode a fama. Estão a seu conselho offerecidas.

[48] Os cornos ajuntou da eburnea Lũa, [51] Cortando vão as naos a larga via
Com força o moço indomito excessiua, Do mar ingente, pera a patria amada,
Que Thetis quer ferir mais que nenhũa, Desejando prouerse de agoa fria,
Porque mais que nenhũa lhe era esquiua: Pera a grande viajem prolongada:
Ia não fica na aljaua seta algũa, Quando juntas com subita alegria,
Nem nos equoreos campos Nimpha viua, Ouuerão vista da ilha namorada,
E se feridas inda estão viuendo, Rompendo pelo çeo a mãi fermosa
Sera pera sentir que vão morrendo. De Menonio, suaue e deleitosa.

[49] Day lugar altas e ceruleas ondas, [52] De longe a Ilha virão fresca, e bella,
Que vedes Venus traz a medicina, Que Venus pelas ondas lha leuaua,
Mostrando as brancas vellas, e redondas, (Bem como o vento leua branca vella)
Que vem por cima da agoa Neptunina: Pera onde a forte armada se enxergaua,
Pera que tu reciproco respondas Que porque não passassem, sem que nella
Ardente Amor aa flama feminina, Tomassem perto, como desejaua,
He forçado que a pudicicia honesta Pera onde as naos nauegão a mouia
Faça quanto lhe Venus amoesta. A Accidalia, que tudo em fim podia.
Ia V Mas
[153v] [154r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 149

[53] Mas firme a fez e imobil, como vio [56] Mil aruores estão ao çeo subindo,
Que era dos Nautas vista, e demandada, Com pomos odoriferos e bellos,
Qual ficou Delos, tanto que pario A Larangeira tem no fruito lindo
Latona Phebo, e a Deosa aa caça vsada: A cor, que tinha Daphne nos cabellos:
Pera la logo a proa o mar abrio, Encostase no chão, que està caindo
Onde a costa fazia hũa enseada A Cidreira cos pesos amarellos,
Curua, e quieta, cuja branca area Os fermosos limoẽs ali cheirando
Pintou de ruiuas conchas Cyterea. Estam virgineas tetas imitando.

[54] Tres fermosos outeiros se mostrauão, [57] As aruores agrestes, que os outeiros
Erguidos com soberba graciosa, Tem com frondente coma emnobrecidos
Que de gramineo esmalte se adornauão, Alemos sam de Alcides, e os Loureiros
Na fermosa ilha alegre, e deleitosa: Do louro Deos amados, e queridos:
Claras fontes e limpidas manauão Mirtos de Cyterea, cos Pinheiros
Do cume, que a verdura tem viçosa, De Cybele por outro amor vencidos,
Por entre pedras aluas se diriua, Estâ apontando o agudo Cipariso
A sonorosa Limpha fugitiua. Pera onde he posto o Etereo paraiso.

[55] Num valle ameno, que os outeiros fende, [58] Os dões que dâ Pomona, ali natura
Vinhão as claras agoas ajuntarse, Produze diferentes nos sabores,
Onde hũa mesa fazem, que se estende Sem ter necessidade de cultura,
Tam bella, quanto pode imaginarse: Que sem ella se dão muito milhores.
Aruoredo gentil sobre ella pende, As Cereijas porpureas na pintura,
Como que prompto estâ pera afeitarse, As Amoras, que o nome tem de amores,
Vendose no cristal resplandecente, O pomo, que da patria Persia veio,
Que em si o estâ pintando propriamente. Milhor tornado no terreno alheio.
Mil V 2 Abre
[153v] [154r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 149

[53] Mas firme a fez e imobil, como vio [56] Mil aruores estão ao çeo subindo,
Que era dos Nautas vista, e demandada, Com pomos odoriferos e bellos,
Qual ficou Delos, tanto que pario A Larangeira tem no fruito lindo
Latona Phebo, e a Deosa aa caça vsada: A cor, que tinha Daphne nos cabellos:
Pera la logo a proa o mar abrio, Encostase no chão, que està caindo
Onde a costa fazia hũa enseada A Cidreira cos pesos amarellos,
Curua, e quieta, cuja branca area Os fermosos limoẽs ali cheirando
Pintou de ruiuas conchas Cyterea. Estam virgineas tetas imitando.

[54] Tres fermosos outeiros se mostrauão, [57] As aruores agrestes, que os outeiros
Erguidos com soberba graciosa, Tem com frondente coma emnobrecidos
Que de gramineo esmalte se adornauão, Alemos sam de Alcides, e os Loureiros
Na fermosa ilha alegre, e deleitosa: Do louro Deos amados, e queridos:
Claras fontes e limpidas manauão Mirtos de Cyterea, cos Pinheiros
Do cume, que a verdura tem viçosa, De Cybele por outro amor vencidos,
Por entre pedras aluas se diriua, Estâ apontando o agudo Cipariso
A sonorosa Limpha fugitiua. Pera onde he posto o Etereo paraiso.

[55] Num valle ameno, que os outeiros fende, [58] Os dões que dâ Pomona, ali natura
Vinhão as claras agoas ajuntarse, Produze diferentes nos sabores,
Onde hũa mesa fazem, que se estende Sem ter necessidade de cultura,
Tam bella, quanto pode imaginarse: Que sem ella se dão muito milhores.
Aruoredo gentil sobre ella pende, As Cereijas porpureas na pintura,
Como que prompto estâ pera afeitarse, As Amoras, que o nome tem de amores,
Vendose no cristal resplandecente, O pomo, que da patria Persia veio,
Que em si o estâ pintando propriamente. Milhor tornado no terreno alheio.
Mil V 2 Abre
[154v] [155r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 155

[59] Abre a Romã, mostrando a rubicunda [62] A candida Cecêm das Matutinas
Cor, com que tu Rubi teu preço perdes: Lagrimas ruciada, e a Manjarona,
Entre os braços do Vlmeiro estâ a jocunda Vense as letras nas flores Hyacintinas,
Vide, cũs cachos roxos, e outros verdes: Vam queridas do filho de Latona:
E vos se na vossa aruore fecunda Bem se enxerga nos pomos e boninas,
Peras pyramidais viuer quiserdes, Que competia Cloris com Pomona:
Entregaiuos ao dano, que cos bicos, Pois se as aues no ar cantando voão,
Em vos fazem os passaros inicos. Alegres animais o chão pouoão.

[60] Pois a tapeçaria bella e fina, [63] A longo da agoa o niueo Cisne canta,
Com que se cobre a rustico terreno, Responde lhe do ramo Philomela,
Faz ser a de Achemenia menos dina: Da sombra de seus cornos nam se espanta
Mas o sombrio valle mais ameno: Acteon nagoa cristalina e bella:
Ali a cabeça o flor Cyfisia inclina, Aqui a fugace Lebre se leuanta
Sobollo tanque lucido e sereno, Da espessa mata, ou temida Gazella,
Floreçe o filho e neto de Cyniras, Ali no bico traz ao caro ninho,
Por quem tu Deosa Paphia inda suspiras. O mantimento ô leue passarinho.

[61] Pera julgar dificil cousa fora, [64] Nesta frescura tal desembarcauão
No çeo vendo, e na terra as mesmas cores, Ia das naos os segundos Argonautas,
Se daua aas flores cor a bella Aurora, Onde pela floresta se deixauão
Ou se lha dam a ella as bellas flores: Andar as bellas Deosas como incautas,
Pintando estaua ali Zefiro, e Flora Algũas doçes Cytaras tocauão,
As violas da cor dos amadores, Algũas arpas, e sonoras frautas,
O Lirio roxo, a fresca Rosa bella, Outras cos arcos de ouro se fingião
Qual reluze nas faces da donzella. Seguir os animais, que nam seguião.
A can- V 3 Assi
[154v] [155r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 155

[59] Abre a Romã, mostrando a rubicunda [62] A candida Cecêm das Matutinas
Cor, com que tu Rubi teu preço perdes: Lagrimas ruciada, e a Manjarona,
Entre os braços do Vlmeiro estâ a jocunda Vense as letras nas flores Hyacintinas,
Vide, cũs cachos roxos, e outros verdes: Vam queridas do filho de Latona:
E vos se na vossa aruore fecunda Bem se enxerga nos pomos e boninas,
Peras pyramidais viuer quiserdes, Que competia Cloris com Pomona:
Entregaiuos ao dano, que cos bicos, Pois se as aues no ar cantando voão,
Em vos fazem os passaros inicos. Alegres animais o chão pouoão.

[60] Pois a tapeçaria bella e fina, [63] A longo da agoa o niueo Cisne canta,
Com que se cobre a rustico terreno, Responde lhe do ramo Philomela,
Faz ser a de Achemenia menos dina: Da sombra de seus cornos nam se espanta
Mas o sombrio valle mais ameno: Acteon nagoa cristalina e bella:
Ali a cabeça o flor Cyfisia inclina, Aqui a fugace Lebre se leuanta
Sobollo tanque lucido e sereno, Da espessa mata, ou temida Gazella,
Floreçe o filho e neto de Cyniras, Ali no bico traz ao caro ninho,
Por quem tu Deosa Paphia inda suspiras. O mantimento ô leue passarinho.

[61] Pera julgar dificil cousa fora, [64] Nesta frescura tal desembarcauão
No çeo vendo, e na terra as mesmas cores, Ia das naos os segundos Argonautas,
Se daua aas flores cor a bella Aurora, Onde pela floresta se deixauão
Ou se lha dam a ella as bellas flores: Andar as bellas Deosas como incautas,
Pintando estaua ali Zefiro, e Flora Algũas doçes Cytaras tocauão,
As violas da cor dos amadores, Algũas arpas, e sonoras frautas,
O Lirio roxo, a fresca Rosa bella, Outras cos arcos de ouro se fingião
Qual reluze nas faces da donzella. Seguir os animais, que nam seguião.
A can- V 3 Assi
[155v] [156r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 156

[65] Assi lho aconselhàra a mestra experta, [68] Começão de enxergar subitamente
Que andassem pelos campos espalhadas, Por entre verdes ramos varias cores,
Que vista dos barões a presa incerta, Cores de quem a vista julga, e sente,
Se fizessem primeyro desejadas Que não erão das rosas, ou das flores,
Algũas, que na forma descuberta Mas da lam fina, e seda diferente
Do bello corpo estauão confiadas, Que mais incîta a força dos amores,
Posta a artificiosa fermosura, De que se vestem as humanas rosas,
nuas lauarse deyxão na agoa pura. Fazendose por arte mais fermosas.

[66] Mas os fortes mancebos, que na praya [69] Da Veloso espantado hum grande grito,
Punhão os pes de terra cubiçosos, Senhores caça estranha disse he esta,
Que não ha nenhum delles, que não saya Se inda durão o Gentio antigo rito,
De acharem caça agreste desejosos: A Deosas he sagrada esta floresta:
Não cuydão que sem laço, ou redes caya Mais descobrimos do que humano esprito
Caça naquelles montes deleytosos Desejou nunca, e bem se manifesta
Tão suaue, domestica, e benina, Que sam grandes as cousas, e excellentes
Qual ferida lha tinha ja Ericina. Que o mundo encobre aos homẽs imprudẽtes.

[67] Algũs que em espingardas, e nas bestas [70] Sigamos estas Deosas, e vejamos,
Pera ferir os Ceruos se fiauão, Se fantasticas sam, se verdadeiras,
Pelos sombrios matos, e florestas Isto dito velloces mais que Gamos,
Determinadamente se lançauão: Selançam a correr pelas ribeiras:
Outros nas sombras, que de as altas sestas Fugindo as Nimphas vão por entre os ramos,
Defendem a verdura, passeauão Mas mais industriosas que ligeiras,
Ao longo da agoa, que suaue, e queda Pouco e pouco surrindo, e gritos dando,
Por aluas pedras corre aa praya leda. Se deixão yr dos Galgos alcançando.
Começão V 4 De
[155v] [156r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 156

[65] Assi lho aconselhàra a mestra experta, [68] Começão de enxergar subitamente
Que andassem pelos campos espalhadas, Por entre verdes ramos varias cores,
Que vista dos barões a presa incerta, Cores de quem a vista julga, e sente,
Se fizessem primeyro desejadas Que não erão das rosas, ou das flores,
Algũas, que na forma descuberta Mas da lam fina, e seda diferente
Do bello corpo estauão confiadas, Que mais incîta a força dos amores,
Posta a artificiosa fermosura, De que se vestem as humanas rosas,
nuas lauarse deyxão na agoa pura. Fazendose por arte mais fermosas.

[66] Mas os fortes mancebos, que na praya [69] Da Veloso espantado hum grande grito,
Punhão os pes de terra cubiçosos, Senhores caça estranha disse he esta,
Que não ha nenhum delles, que não saya Se inda durão o Gentio antigo rito,
De acharem caça agreste desejosos: A Deosas he sagrada esta floresta:
Não cuydão que sem laço, ou redes caya Mais descobrimos do que humano esprito
Caça naquelles montes deleytosos Desejou nunca, e bem se manifesta
Tão suaue, domestica, e benina, Que sam grandes as cousas, e excellentes
Qual ferida lha tinha ja Ericina. Que o mundo encobre aos homẽs imprudẽtes.

[67] Algũs que em espingardas, e nas bestas [70] Sigamos estas Deosas, e vejamos,
Pera ferir os Ceruos se fiauão, Se fantasticas sam, se verdadeiras,
Pelos sombrios matos, e florestas Isto dito velloces mais que Gamos,
Determinadamente se lançauão: Selançam a correr pelas ribeiras:
Outros nas sombras, que de as altas sestas Fugindo as Nimphas vão por entre os ramos,
Defendem a verdura, passeauão Mas mais industriosas que ligeiras,
Ao longo da agoa, que suaue, e queda Pouco e pouco surrindo, e gritos dando,
Por aluas pedras corre aa praya leda. Se deixão yr dos Galgos alcançando.
Começão V 4 De
[156v] [157r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 157

[71] De hũa os cabellos de ouro o vento leua [74] Qual cão de caçador sagaz, e ardido,
Correndo, e da outra as fraldas delicadas, Vsado a tomar na agoa a aue ferida,
Acendese o desejo que se ceua Vendo rosto o ferreo cano erguido,
Nas aluas carnes subito mostradas, Pera a Garcenha, ou Pata conhecida,
Hũa de industria cae, e ja releua Antes que soe o estouro, mal sofrido
Com mostras mais masias, que indinadas, Salta nagoa, e da presa nam duuîda,
Que sobre ella empecendo tambem caia Nadando vay e latindo, assi o mancebo
Quem a seguio pela arenosa praia. Remete ha que nam era yrmaã de Phebo.

[72] Outros por outra parte vão topar, [75] Lionardo soldado bem desposto,
Com as Deosas despidas, que se lauão, Manhoso, caualleiro, e namorado,
Ellas começam subito a gritar, A quem amor não dera hum so desgosto,
Como que assalto tal nam esperauão, Mas sempre fora delle mal tratado:
Hũas fingindo menos estimar E tinha ja por firme prosuposto
A vergonha, que a força, se lançauão Ser com amores mal afortunado,
Nuas por entre o mato, aos olhos dando Porem não que perdesse a esperança,
O que aas mãos cobiçosas vão negando. De inda poder seu fado ter mudança.

[73] Outra como acudindo mais de pressa, [76] Quis aqui sua ventura, que corria
Aa vergonha da Deosa caçadora, Apos Efire, exemplo de belleza,
Esconde o corpo nagoa, outra se apressa Que mais caro que as outras dar queria,
Por tomar os vestidos, que tem fora: O que deu pera darse a natureza,
Tal dos mançebos ha, que se arremessa Ia cansado correndo lhe dizia.
Vestido assi e calçado (que co a mora O fermosura indigna de aspereza,
Desse despir, ha medo que inda tarde) Pois desta vida te concedo a palma,
A matar na agoa o fogo que nelle arde. Espera hum corpo de quem leuas a alma.
Qual Todos
[156v] [157r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO 157

[71] De hũa os cabellos de ouro o vento leua [74] Qual cão de caçador sagaz, e ardido,
Correndo, e da outra as fraldas delicadas, Vsado a tomar na agoa a aue ferida,
Acendese o desejo que se ceua Vendo rosto o ferreo cano erguido,
Nas aluas carnes subito mostradas, Pera a Garcenha, ou Pata conhecida,
Hũa de industria cae, e ja releua Antes que soe o estouro, mal sofrido
Com mostras mais masias, que indinadas, Salta nagoa, e da presa nam duuîda,
Que sobre ella empecendo tambem caia Nadando vay e latindo, assi o mancebo
Quem a seguio pela arenosa praia. Remete ha que nam era yrmaã de Phebo.

[72] Outros por outra parte vão topar, [75] Lionardo soldado bem desposto,
Com as Deosas despidas, que se lauão, Manhoso, caualleiro, e namorado,
Ellas começam subito a gritar, A quem amor não dera hum so desgosto,
Como que assalto tal nam esperauão, Mas sempre fora delle mal tratado:
Hũas fingindo menos estimar E tinha ja por firme prosuposto
A vergonha, que a força, se lançauão Ser com amores mal afortunado,
Nuas por entre o mato, aos olhos dando Porem não que perdesse a esperança,
O que aas mãos cobiçosas vão negando. De inda poder seu fado ter mudança.

[73] Outra como acudindo mais de pressa, [76] Quis aqui sua ventura, que corria
Aa vergonha da Deosa caçadora, Apos Efire, exemplo de belleza,
Esconde o corpo nagoa, outra se apressa Que mais caro que as outras dar queria,
Por tomar os vestidos, que tem fora: O que deu pera darse a natureza,
Tal dos mançebos ha, que se arremessa Ia cansado correndo lhe dizia.
Vestido assi e calçado (que co a mora O fermosura indigna de aspereza,
Desse despir, ha medo que inda tarde) Pois desta vida te concedo a palma,
A matar na agoa o fogo que nelle arde. Espera hum corpo de quem leuas a alma.
Qual Todos
[157v] [158r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 158

[77] Todas de correr cansam, Nimpha pura, [80] Põeste da parte da desdita minha?
Rendendo se aa vontade do inimigo, Fraqueza he dar ajuda ao mais potente:
Tu so de my so foges na espessura? Leuas me hum coração, que liure tinha?
Quem te disse que eu era o que te sigo? Solta mo, e corroras mais leuemente.
Se to tem dito ja aquella ventura, Não te carrega essa alma tam mezquinha,
Que em toda a parte sempre anda comigo, Que nesses fios de ouro reluzente
O nam na creas, porque eu quando a cria, Atada leuas? ou despois de presa
Mil vezes cada hora me mentia. Lhe mudaste a ventura, e menos pesa?

[78] Nam canses, que me cansas: e se queres [81] Nesta esperança so te vou seguindo,
Fugirme, porque nam possa tocarte, Que ou tu nam sofrerâs o peso della,
Minha ventura he tal, que inda que esperes Ou na virtude de teu gesto lindo,
Ella farâ que nam possa alcançarte: Lhe mudarâs a triste e dura estrella.
Espera, quero ver, se tu quiseres, E se se lhe mudar, nam vas fugindo,
Que sutil modo busca de escaparte, Que Amor te ferirà, gentil donzella,
E notarâs no fim deste successo, E tu me esperarâs, se Amor te fere,
Tra la spica e la man, qual muro he messo. E se me esperas, não ha mais que espere.

[79] O não me fujas, assi nunca o breue [82] Ia nam fugia a bella Nimpha, tanto
Tempo fuja de tua fermosura, Por se dar cara ao triste que a seguia,
Que so com refrear o passo leue, Como por yr ouuindo o doçe canto,
Vencerâs da fortuna a força dura: As namoradas magoas que dizia:
Que Emperador, que exercito se atreue. Voluendo o rosto ja sereno e sancto,
A quebrantar a furia da ventura, Toda banhada em riso, e alegria,
Que em quanto desejey me vai seguindo, Cair se deixa aos pês do vencedor,
O que tu so faras nam me fugindo? Que todo se desfaz em puro amor.
Pois O que
[157v] [158r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 158

[77] Todas de correr cansam, Nimpha pura, [80] Põeste da parte da desdita minha?
Rendendo se aa vontade do inimigo, Fraqueza he dar ajuda ao mais potente:
Tu so de my so foges na espessura? Leuas me hum coração, que liure tinha?
Quem te disse que eu era o que te sigo? Solta mo, e corroras mais leuemente.
Se to tem dito ja aquella ventura, Não te carrega essa alma tam mezquinha,
Que em toda a parte sempre anda comigo, Que nesses fios de ouro reluzente
O nam na creas, porque eu quando a cria, Atada leuas? ou despois de presa
Mil vezes cada hora me mentia. Lhe mudaste a ventura, e menos pesa?

[78] Nam canses, que me cansas: e se queres [81] Nesta esperança so te vou seguindo,
Fugirme, porque nam possa tocarte, Que ou tu nam sofrerâs o peso della,
Minha ventura he tal, que inda que esperes Ou na virtude de teu gesto lindo,
Ella farâ que nam possa alcançarte: Lhe mudarâs a triste e dura estrella.
Espera, quero ver, se tu quiseres, E se se lhe mudar, nam vas fugindo,
Que sutil modo busca de escaparte, Que Amor te ferirà, gentil donzella,
E notarâs no fim deste successo, E tu me esperarâs, se Amor te fere,
Tra la spica e la man, qual muro he messo. E se me esperas, não ha mais que espere.

[79] O não me fujas, assi nunca o breue [82] Ia nam fugia a bella Nimpha, tanto
Tempo fuja de tua fermosura, Por se dar cara ao triste que a seguia,
Que so com refrear o passo leue, Como por yr ouuindo o doçe canto,
Vencerâs da fortuna a força dura: As namoradas magoas que dizia:
Que Emperador, que exercito se atreue. Voluendo o rosto ja sereno e sancto,
A quebrantar a furia da ventura, Toda banhada em riso, e alegria,
Que em quanto desejey me vai seguindo, Cair se deixa aos pês do vencedor,
O que tu so faras nam me fugindo? Que todo se desfaz em puro amor.
Pois O que
[158v] [159r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 159

[83] O que famintos beijos na floresta, [86] Que despois de lhe ter dito quem era,
E que mimoso choro que soaua, Cum alto exordio de alta graça ornado,
Que afagos tam suaues, que yra honesta Dando lhe a entender, que ali viera
Que em risinhos alegres se tornaua: Por alta influiçam do imobil fado,
O que mais passam na menhã, e na sesta Pera lhe descobrir da vnida esphera,
Que Venus com prazeres inflamaua, Da terra immensa, e mar não nauegado
Milhor he esprimentalo que julgalo, Os segredos, por alta prophecia,
Mas julgue o quem nam pode esprimentalo. O que esta sua naçam so merecia.

[84] Desta arte em fim conformes ja as fermosas [87] Tomando o pela mão a leua, e guia
Nimphas, cos seus amados nauegantes, Pera o cume dum monte alto, e diuino,
Os ornão de capellas deleitosas, No qual hũa rica fabrica se erguia
De louro, e de ouro, e flores abundantes: De cristal toda, e de ouro puro, e fino:
As mãos aluas lhe dauão como esposas A maior parte aqui passam do dia
Com palauras formais, e estipulantes, Em doçes jogos, e em prazer contino,
Se prometem eterna companhia Ella nos paços logra seus amores,
Em vida e morte, de honra e alegria. As outras pelas sombras entre as flores.

[85] Hũa dellas maior, a quem se humilha [88] Assi a fermosa, e a forte companhia,
Todo o coro das Nimphas, e obedece, O dia quasi todo estão passando,
Que dizem ser de Celo e Vesta filha, Nũa alma, doçe, incognita alegria,
O que no gesto bello se parece, O trabalhos tam longos compensando:
Enchendo a terra, e o mar de marauilha, Porque dos feitos grandes, da ousadia
O Capitão illustre que o mereçe, Forte e famosa, o mundo estâ guardando
Recebe ali com pompa honesta, e rêgia, O premio la no fim bem merecido,
Mostrando se senhora grande, e egregia. Com fama grande, e nome alto e subido.
Que Que
[158v] [159r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO NONO. 159

[83] O que famintos beijos na floresta, [86] Que despois de lhe ter dito quem era,
E que mimoso choro que soaua, Cum alto exordio de alta graça ornado,
Que afagos tam suaues, que yra honesta Dando lhe a entender, que ali viera
Que em risinhos alegres se tornaua: Por alta influiçam do imobil fado,
O que mais passam na menhã, e na sesta Pera lhe descobrir da vnida esphera,
Que Venus com prazeres inflamaua, Da terra immensa, e mar não nauegado
Milhor he esprimentalo que julgalo, Os segredos, por alta prophecia,
Mas julgue o quem nam pode esprimentalo. O que esta sua naçam so merecia.

[84] Desta arte em fim conformes ja as fermosas [87] Tomando o pela mão a leua, e guia
Nimphas, cos seus amados nauegantes, Pera o cume dum monte alto, e diuino,
Os ornão de capellas deleitosas, No qual hũa rica fabrica se erguia
De louro, e de ouro, e flores abundantes: De cristal toda, e de ouro puro, e fino:
As mãos aluas lhe dauão como esposas A maior parte aqui passam do dia
Com palauras formais, e estipulantes, Em doçes jogos, e em prazer contino,
Se prometem eterna companhia Ella nos paços logra seus amores,
Em vida e morte, de honra e alegria. As outras pelas sombras entre as flores.

[85] Hũa dellas maior, a quem se humilha [88] Assi a fermosa, e a forte companhia,
Todo o coro das Nimphas, e obedece, O dia quasi todo estão passando,
Que dizem ser de Celo e Vesta filha, Nũa alma, doçe, incognita alegria,
O que no gesto bello se parece, O trabalhos tam longos compensando:
Enchendo a terra, e o mar de marauilha, Porque dos feitos grandes, da ousadia
O Capitão illustre que o mereçe, Forte e famosa, o mundo estâ guardando
Recebe ali com pompa honesta, e rêgia, O premio la no fim bem merecido,
Mostrando se senhora grande, e egregia. Com fama grande, e nome alto e subido.
Que Que
[159v] [160r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 160

[89] Que as Nimphas do Occeano tam fermosas, [92] Mas a fama, trombeta de obras tais,
Thetis e a Ilha angelica pintada, Lhe deu no mundo nomes tam estranhos
Outra cousa nam he, que as deleitosas De Deoses, Semideoses immortais
Honras, que a vida fazem sublimada: Indigetes, Eroicos, e de Magnos
Aquellas preminencias gloriosas, Por isso, o vos que as famas estimais,
Os triumphos, a fronte coroada Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
De Palma, e Louro, a gloria e marauilha Despertai ja do sono do ocio ignauo,
Estes sam os deleites desta Ilha. Que o animo de liure faz escrauo.

[90] Que as immortalidades que fingia [93] E ponde na cobiça hum freio duro,
A antiguidade, que os illustres ama, E na ambiçam tambem, que indignamente
La no estellante Olimpo a quem subia, Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Sobre as asas inclitas da fama, Vicio da tirania infame, e vrgente:
Por obras valerosas, que fazia, Porque essas honras vaãs, esse ouro puro
Pelo trabalho immenso, que se chama Verdadeiro valor nam dão aa gente,
Caminho da virtude alto e fragoso: Milhor he merecellos, sem os ter
Mas no fim doçe, alegre, e deleitoso. Que possuilos sem os mereçer.

[91] Nam erão senão premios, que reparte [94] Ou day na paz as leis iguais, constantes,
Por feitos imortais e soberanos, Que aos grandes não dem o dos pequenos,
O mundo, cos varões, que esforço e arte Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Diuinos os fizerão, sendo humanos: Contra a ley dos imigos Sarracenos,
Que Iupiter, Mercurio, Phebo, e Marte Fareis os Reinos grandes, e possantes
Eneas, e Quirino, e os dous Thebanos E todos tereis mais, e nenhum menos
Ceres, Palas, e Iuno, com Diana Possuireis riquezas merecidas,
Todos forão de fraca carne humana. Com as honras, que illustrão tanto as vidas.
Mas E fareis
[159v] [160r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO OCTAVO. 160

[89] Que as Nimphas do Occeano tam fermosas, [92] Mas a fama, trombeta de obras tais,
Thetis e a Ilha angelica pintada, Lhe deu no mundo nomes tam estranhos
Outra cousa nam he, que as deleitosas De Deoses, Semideoses immortais
Honras, que a vida fazem sublimada: Indigetes, Eroicos, e de Magnos
Aquellas preminencias gloriosas, Por isso, o vos que as famas estimais,
Os triumphos, a fronte coroada Se quiserdes no mundo ser tamanhos,
De Palma, e Louro, a gloria e marauilha Despertai ja do sono do ocio ignauo,
Estes sam os deleites desta Ilha. Que o animo de liure faz escrauo.

[90] Que as immortalidades que fingia [93] E ponde na cobiça hum freio duro,
A antiguidade, que os illustres ama, E na ambiçam tambem, que indignamente
La no estellante Olimpo a quem subia, Tomais mil vezes, e no torpe e escuro
Sobre as asas inclitas da fama, Vicio da tirania infame, e vrgente:
Por obras valerosas, que fazia, Porque essas honras vaãs, esse ouro puro
Pelo trabalho immenso, que se chama Verdadeiro valor nam dão aa gente,
Caminho da virtude alto e fragoso: Milhor he merecellos, sem os ter
Mas no fim doçe, alegre, e deleitoso. Que possuilos sem os mereçer.

[91] Nam erão senão premios, que reparte [94] Ou day na paz as leis iguais, constantes,
Por feitos imortais e soberanos, Que aos grandes não dem o dos pequenos,
O mundo, cos varões, que esforço e arte Ou vos vesti nas armas rutilantes,
Diuinos os fizerão, sendo humanos: Contra a ley dos imigos Sarracenos,
Que Iupiter, Mercurio, Phebo, e Marte Fareis os Reinos grandes, e possantes
Eneas, e Quirino, e os dous Thebanos E todos tereis mais, e nenhum menos
Ceres, Palas, e Iuno, com Diana Possuireis riquezas merecidas,
Todos forão de fraca carne humana. Com as honras, que illustrão tanto as vidas.
Mas E fareis
[160v] [161r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 161

[95] E fareis claro o Rei, que tanto amais, [2] Quando as fermosas Ninfas cos amantes
Agora cos conselhos bem cuidados, Pella mão ja conformes e contentes,
Agora co as espadas, que immortais Subião pera os paços radiantes,
Vos farão, como os vossos ja passados: E de metais ornados reluzentes:
Impossibilidades não façais, Mandados da Rainha, que abundantes
Que quem quis sempre pode: e numerados Mesas, daltos manjares, excelentes,
Sereis entre os Heroes esclarecidos, Lhe tinha aparelhados, que a fraqueza
E nesta ilha de Venus recebidos. Restaurem da cansada natureza.

FIM. [3] Ali em cadeiras ricas cristalinas,


Se assentão, dous e dous, amante e dama,
Noutras aa cabeceira douro finas,
Està coa bella Deosa o claro Gama:
De ygoarias suaues e diuinas
A quem não chega a Egipcia antiga fama,
Se acumulão os pratos de fuluo ouro,
☙ Canto Decimo / e vltimo. Trazidos la do Atlantico tesouro.

[1] MAs ja o claro ama-/dor da Larissea [4] Os vinhos odoriferos, que acima
Adultera, inclinaua os animais, Estão não so do Italico Falerno,
La pera o grande lago, que rodea Mas da Ambrosia, que Ioue tanto estima,
Temistitão, nos fins Occidentais: Com todo o ajuntamento sempiterno:
O grande ardor do Sol Fauonio enfrea, Nos vasos, onde em vão trabalha a lima
Co sopro, que nos tanques naturais Crespas escumas erguem, que no interno
Encrespa a agoa serena, e despertaua Coração mouem subita alegria,
Os Lirios, e Iazmins que a calma agraua. Saltando coa mistura dagoa fria.
Quando X Mil
[160v] [161r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 161

[95] E fareis claro o Rei, que tanto amais, [2] Quando as fermosas Ninfas cos amantes
Agora cos conselhos bem cuidados, Pella mão ja conformes e contentes,
Agora co as espadas, que immortais Subião pera os paços radiantes,
Vos farão, como os vossos ja passados: E de metais ornados reluzentes:
Impossibilidades não façais, Mandados da Rainha, que abundantes
Que quem quis sempre pode: e numerados Mesas, daltos manjares, excelentes,
Sereis entre os Heroes esclarecidos, Lhe tinha aparelhados, que a fraqueza
E nesta ilha de Venus recebidos. Restaurem da cansada natureza.

FIM. [3] Ali em cadeiras ricas cristalinas,


Se assentão, dous e dous, amante e dama,
Noutras aa cabeceira douro finas,
Està coa bella Deosa o claro Gama:
De ygoarias suaues e diuinas
A quem não chega a Egipcia antiga fama,
Se acumulão os pratos de fuluo ouro,
☙ Canto Decimo / e vltimo. Trazidos la do Atlantico tesouro.

[1] MAs ja o claro ama-/dor da Larissea [4] Os vinhos odoriferos, que acima
Adultera, inclinaua os animais, Estão não so do Italico Falerno,
La pera o grande lago, que rodea Mas da Ambrosia, que Ioue tanto estima,
Temistitão, nos fins Occidentais: Com todo o ajuntamento sempiterno:
O grande ardor do Sol Fauonio enfrea, Nos vasos, onde em vão trabalha a lima
Co sopro, que nos tanques naturais Crespas escumas erguem, que no interno
Encrespa a agoa serena, e despertaua Coração mouem subita alegria,
Os Lirios, e Iazmins que a calma agraua. Saltando coa mistura dagoa fria.
Quando X Mil
[161v] [162r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 162

[5] Mil praticas alegres se tocauão, [8] Materia he de Coturno, e não de Soco
Rîsos doces, sutis, e argutos ditos, A que a Nimpha aprendeo no immenso lago:
Que entre hũ e outro mãjar se aleuantauão, Qual Yopas não soube, ou Demodoco,
Despertando os alegres apetitos: Entre os Pheaces hum, outro em Carthago.
Musicos instrumentos não faltauão, Aqui minha Caliope te inuoco
Quais no profundo reyno, os nus espritos Neste trabalho extremo, porque em pago,
Fizerão descansar da eterna pena, Me tornes, do q̃ escreuo, e em vão pretendo,
Cũa voz dhũa angelica Syrena. O gosto de escreuer, que vou perdendo.

[6] Cantaua a bella Ninfa, e cos acentos [9] Vão os annos decendo, e ja do Estio
Que pellos altos paços vão soando, Ha pouco que passar ate o Otono,
Em consonancia ygoal, os instromentos A fortuna me faz o engenho frio,
Suaues vem a hum tempo conformando: Do qual ja não me jacto, nem me abono:
Hum subito silencio enfrea os ventos, Os desgostos me vão leuando ao rio
E faz hir docemente murmurando Do negro esquecimento, e eterno sono,
As agoas, e nas casas naturais Mas tu me dâ que cumpra, ò grão Rainha
Adormecer os brutos animais. Das Musas, cô que quero aa nação minha.

[7] Com doce voz estâ subindo ao ceo [10] Cantaua a bella Deosa, que virião
Altos varões, que estão por vir ao mundo, Do Tejo, pello mar que o Gama abrîra,
Cujas claras Ideas vio Protheo, Armadas que as ribeiras vencerião,
Num globo vão, diafano, rotundo, Por onde o Oceano Indico suspira:
Que Iupiter em dom lho concedeo E que os Gentios Reis, que não darião
Em sonhos, e despois no reino fundo A ceruiz sua ao jugo, o ferro e yra
Vaticinando o disse, e na memoria Prouarião do braço duro e forte,
Recolheo logo a Ninfa a clara historia. Ate renderse a elle, ou logo aa morte.
Materia X 2 Cantaua
[161v] [162r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 162

[5] Mil praticas alegres se tocauão, [8] Materia he de Coturno, e não de Soco
Rîsos doces, sutis, e argutos ditos, A que a Nimpha aprendeo no immenso lago:
Que entre hũ e outro mãjar se aleuantauão, Qual Yopas não soube, ou Demodoco,
Despertando os alegres apetitos: Entre os Pheaces hum, outro em Carthago.
Musicos instrumentos não faltauão, Aqui minha Caliope te inuoco
Quais no profundo reyno, os nus espritos Neste trabalho extremo, porque em pago,
Fizerão descansar da eterna pena, Me tornes, do q̃ escreuo, e em vão pretendo,
Cũa voz dhũa angelica Syrena. O gosto de escreuer, que vou perdendo.

[6] Cantaua a bella Ninfa, e cos acentos [9] Vão os annos decendo, e ja do Estio
Que pellos altos paços vão soando, Ha pouco que passar ate o Otono,
Em consonancia ygoal, os instromentos A fortuna me faz o engenho frio,
Suaues vem a hum tempo conformando: Do qual ja não me jacto, nem me abono:
Hum subito silencio enfrea os ventos, Os desgostos me vão leuando ao rio
E faz hir docemente murmurando Do negro esquecimento, e eterno sono,
As agoas, e nas casas naturais Mas tu me dâ que cumpra, ò grão Rainha
Adormecer os brutos animais. Das Musas, cô que quero aa nação minha.

[7] Com doce voz estâ subindo ao ceo [10] Cantaua a bella Deosa, que virião
Altos varões, que estão por vir ao mundo, Do Tejo, pello mar que o Gama abrîra,
Cujas claras Ideas vio Protheo, Armadas que as ribeiras vencerião,
Num globo vão, diafano, rotundo, Por onde o Oceano Indico suspira:
Que Iupiter em dom lho concedeo E que os Gentios Reis, que não darião
Em sonhos, e despois no reino fundo A ceruiz sua ao jugo, o ferro e yra
Vaticinando o disse, e na memoria Prouarião do braço duro e forte,
Recolheo logo a Ninfa a clara historia. Ate renderse a elle, ou logo aa morte.
Materia X 2 Cantaua
[162v] [163r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 163

[11] Cantaua dhum que tem nos Malabares [14] Chamarâ o Samorim mais gente noua:
Do sumo sacerdocio a dignidade, Virão Reis Bipur, e de Tânôr,
Que so por não quebrar cos singulares Das serras de Narsinga, que alta proua
Baroẽs, os nos que dera damizade, Estarão prometendo a seu senhor:
Sofrerâ suas cidades e lugares, Faràque todo o Naire em fim se moua,
Com ferro, incendios, ira e crueldade Que entre Calicû jaz, e Cananor,
Ver destruir do Samorim potente: Dambas as leis immigas, pera a guerra,
Que tais odios terâ coa noua gente. Mouros por mar, Gentios polla terra.

[12] E canta como la se embarcaria [15] E todos outra vez desbaratando,


Em Bellem o remedio deste dano, Por terra, e mar, o grão Pacheco ousado,
Sem saber o que em si ao mar traria A grande multidão que yrâ matando,
O grão Pacheco, Achiles Lusitano: A todo o Malabar terâ admirado:
O peso sentirão, quando entraria, Cometerâ outra vez não dilatando
O curuo lenho, e o feruido Oceano, O Gentio os combates apressado,
Quando mais nugoa os troncos, que gemerem, Injuriando os seus, fazendo votos
Contra sua natureza se meterem. Em vão aos Deoses vãos, surdos, e immotos

[13] Mas ja chegado aos fins Orientais, [16] Ia não defenderâ somente os passos,
E deixado em ajuda do gentio Mas queimar lhe ha lugares, templos, casas:
Rey de Cochim, com poucos naturais, Aceso de yra o Cão, não vendo lassos
Nos braços do salgado e curuo rio, Aquelles que as cidades fazem rasas:
Desbaratarâ os Naires infernais Farà que os seus de vida pouco escassos,
No passo Cambalão, tornando frio Cometão o Pacheco que tem asas
Despanto o ardor immenso do Oriente Por dous passos num tempo, mas voando
Que verâ tanto obrar tão pouca gente. Dhum noutro, tudo yrâ desbaratando.
Chamarâ X 3 Virâ
[162v] [163r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 163

[11] Cantaua dhum que tem nos Malabares [14] Chamarâ o Samorim mais gente noua:
Do sumo sacerdocio a dignidade, Virão Reis Bipur, e de Tânôr,
Que so por não quebrar cos singulares Das serras de Narsinga, que alta proua
Baroẽs, os nos que dera damizade, Estarão prometendo a seu senhor:
Sofrerâ suas cidades e lugares, Faràque todo o Naire em fim se moua,
Com ferro, incendios, ira e crueldade Que entre Calicû jaz, e Cananor,
Ver destruir do Samorim potente: Dambas as leis immigas, pera a guerra,
Que tais odios terâ coa noua gente. Mouros por mar, Gentios polla terra.

[12] E canta como la se embarcaria [15] E todos outra vez desbaratando,


Em Bellem o remedio deste dano, Por terra, e mar, o grão Pacheco ousado,
Sem saber o que em si ao mar traria A grande multidão que yrâ matando,
O grão Pacheco, Achiles Lusitano: A todo o Malabar terâ admirado:
O peso sentirão, quando entraria, Cometerâ outra vez não dilatando
O curuo lenho, e o feruido Oceano, O Gentio os combates apressado,
Quando mais nugoa os troncos, que gemerem, Injuriando os seus, fazendo votos
Contra sua natureza se meterem. Em vão aos Deoses vãos, surdos, e immotos

[13] Mas ja chegado aos fins Orientais, [16] Ia não defenderâ somente os passos,
E deixado em ajuda do gentio Mas queimar lhe ha lugares, templos, casas:
Rey de Cochim, com poucos naturais, Aceso de yra o Cão, não vendo lassos
Nos braços do salgado e curuo rio, Aquelles que as cidades fazem rasas:
Desbaratarâ os Naires infernais Farà que os seus de vida pouco escassos,
No passo Cambalão, tornando frio Cometão o Pacheco que tem asas
Despanto o ardor immenso do Oriente Por dous passos num tempo, mas voando
Que verâ tanto obrar tão pouca gente. Dhum noutro, tudo yrâ desbaratando.
Chamarâ X 3 Virâ
[163v] [164r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 164

[17] Virâ ali o Samorim, porque em pessoa [20] Porque tantas batalhas sostentadas
Veja a batalha, e os seus esforce, e anime, Com muito pouco mais de cem soldados,
Mas hum tiro, que com zonido voa, Com tantas manhas, e artes inuentadas
De sangue o tingirâ no andor sublime: Tantos Cães não imbelles profligados:
Ia não verâ remedio, ou manha boa, Ou parecerão fabulas sonhadas,
Nem força, que o Pacheco muito estime, Ou que os celestes Coros inuocados
Inuentara traiçoẽs, e vãos venenos, Decerão a ajudallo, e lhe darão
Mas sempre (o ceo querendo) farâ menos. Esforço, força, ardil, e coração.

[18] Que tornarâ a vez septima, cantaua, [21] Aquelle que nos Campos Maratonios
Pellejar co inuicto e forte Luso, O grão poder de Dario estrue, e rende,
A quem nenhum trabalho pesa, e agraua, Ou quem com quatro mil Lacedemonios
Mas com tudo este so o farâ confuso: O passo de Termopilas defende,
Trarâ pera a batalha horrenda, e braua, Nem o mancebo Cocles dos Ausonios,
Machinas de madeiros fora de vso, Que com todo o poder Tusco contende
Pera lhe abalroar as Carauellas, Em defensa da ponte, ou Quinto Fabio
Que ateli vão lhe fora cometellas. Foy como este na guerra forte e sabio.

[19] Pella agoa leuarâ serras de fogo [22] Mas neste passo a Nimpha o som canoro
Pera abrasarlhe quanta armada tenha, Abaxando, fez ronco, e entristecido,
Mas a militar arte, e engenho, logo Cantando em baxa voz enuolta em choro
Farâ ser vaã a braueza com que venha: O grande esforço mal agardecido:
Nenhum claro barão no Martio jogo, O Belisario, disse, que no coro
Que nas asas da fama se sostenha, Das Musas seras sempre engrandecido,
Chega a este, que a palma a todos toma, Se em ti viste abatido o brauo Marte,
E perdoeme a illustre Grecia, ou Roma. Aqui tens com quem podes consolarte.
Porque X 4 Aquî
[163v] [164r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 164

[17] Virâ ali o Samorim, porque em pessoa [20] Porque tantas batalhas sostentadas
Veja a batalha, e os seus esforce, e anime, Com muito pouco mais de cem soldados,
Mas hum tiro, que com zonido voa, Com tantas manhas, e artes inuentadas
De sangue o tingirâ no andor sublime: Tantos Cães não imbelles profligados:
Ia não verâ remedio, ou manha boa, Ou parecerão fabulas sonhadas,
Nem força, que o Pacheco muito estime, Ou que os celestes Coros inuocados
Inuentara traiçoẽs, e vãos venenos, Decerão a ajudallo, e lhe darão
Mas sempre (o ceo querendo) farâ menos. Esforço, força, ardil, e coração.

[18] Que tornarâ a vez septima, cantaua, [21] Aquelle que nos Campos Maratonios
Pellejar co inuicto e forte Luso, O grão poder de Dario estrue, e rende,
A quem nenhum trabalho pesa, e agraua, Ou quem com quatro mil Lacedemonios
Mas com tudo este so o farâ confuso: O passo de Termopilas defende,
Trarâ pera a batalha horrenda, e braua, Nem o mancebo Cocles dos Ausonios,
Machinas de madeiros fora de vso, Que com todo o poder Tusco contende
Pera lhe abalroar as Carauellas, Em defensa da ponte, ou Quinto Fabio
Que ateli vão lhe fora cometellas. Foy como este na guerra forte e sabio.

[19] Pella agoa leuarâ serras de fogo [22] Mas neste passo a Nimpha o som canoro
Pera abrasarlhe quanta armada tenha, Abaxando, fez ronco, e entristecido,
Mas a militar arte, e engenho, logo Cantando em baxa voz enuolta em choro
Farâ ser vaã a braueza com que venha: O grande esforço mal agardecido:
Nenhum claro barão no Martio jogo, O Belisario, disse, que no coro
Que nas asas da fama se sostenha, Das Musas seras sempre engrandecido,
Chega a este, que a palma a todos toma, Se em ti viste abatido o brauo Marte,
E perdoeme a illustre Grecia, ou Roma. Aqui tens com quem podes consolarte.
Porque X 4 Aquî
[164v] [165r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 165

[23] Aqui tens companheiro assi nos feitos [26] Mas eis outro, cantaua, intitulado
Como no galardão injusto e duro, Vem com nome real, e traz consigo
Em ti e nelle veremos altos peitos, O filho, que no mar serâ illustrado
A baxo estado vir humilde, e escuro: Tanto como qualquer Romano antigo:
Morrer nos hospitais em pobres leitos, Ambos darão com braço forte, armado,
Os que ao Rey, e aa ley seruem de muro, A Quiloa fertil aspero castigo,
Isto fazem os Reis, cuja vontade Fazendo nella Rey leal, e humano,
Manda mais que a justiça e que a verdade. Deitado fora o perfido Tirano.

[24] Isto fazem os Reis, quando embebidos [27] Tambem farão Mombaça, que se arrea
Nũa aparencia branda que os contenta, De casas sumptuosas, e edificios,
Dão os premios de Aiace merecidos, Co ferro, e fogo seu, queimada, e fea,
Aa lingoa vaã de Vlisses fraudulenta: Em pago dos passados maleficios:
Mas vingome que os bens mal repartidos Despois na costa da India, andando chea
Por quem so doces sombras apresenta, De lenhos inimigos, e arteficios,
Se não os dão a sabios caualeiros, Contra os Lusos: com vellas, e com remos
Dãos os logo a auarentos lisongeiros. O mancebo Lourenço farà estremos.

[25] Mas tu de quem ficou tão mal pagado [28] Das grandes naos, do Samorim potente,
Hum tal vassalo, o Rey so nisto inico, Que encherão todo o mar, coa ferrea pela,
Se não es pera darlhe honroso estado, Que sae com trouão do cobre ardente,
He elle pera darte hum reino rico: Farà pedaços leme, masto, vela,
Em quanto for o mundo rodeado Despois lançando arpeos ousadamente
Dos Apolineos rayos, eu te fico Na capitaina immiga: dentro nela
Que elle seja entre a gente illustre e claro Saltando, a farâ so com lança e espada
E tu nisto culpado por auaro. De quatrocentos Mouros despejada.
Mas Mas
[164v] [165r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 165

[23] Aqui tens companheiro assi nos feitos [26] Mas eis outro, cantaua, intitulado
Como no galardão injusto e duro, Vem com nome real, e traz consigo
Em ti e nelle veremos altos peitos, O filho, que no mar serâ illustrado
A baxo estado vir humilde, e escuro: Tanto como qualquer Romano antigo:
Morrer nos hospitais em pobres leitos, Ambos darão com braço forte, armado,
Os que ao Rey, e aa ley seruem de muro, A Quiloa fertil aspero castigo,
Isto fazem os Reis, cuja vontade Fazendo nella Rey leal, e humano,
Manda mais que a justiça e que a verdade. Deitado fora o perfido Tirano.

[24] Isto fazem os Reis, quando embebidos [27] Tambem farão Mombaça, que se arrea
Nũa aparencia branda que os contenta, De casas sumptuosas, e edificios,
Dão os premios de Aiace merecidos, Co ferro, e fogo seu, queimada, e fea,
Aa lingoa vaã de Vlisses fraudulenta: Em pago dos passados maleficios:
Mas vingome que os bens mal repartidos Despois na costa da India, andando chea
Por quem so doces sombras apresenta, De lenhos inimigos, e arteficios,
Se não os dão a sabios caualeiros, Contra os Lusos: com vellas, e com remos
Dãos os logo a auarentos lisongeiros. O mancebo Lourenço farà estremos.

[25] Mas tu de quem ficou tão mal pagado [28] Das grandes naos, do Samorim potente,
Hum tal vassalo, o Rey so nisto inico, Que encherão todo o mar, coa ferrea pela,
Se não es pera darlhe honroso estado, Que sae com trouão do cobre ardente,
He elle pera darte hum reino rico: Farà pedaços leme, masto, vela,
Em quanto for o mundo rodeado Despois lançando arpeos ousadamente
Dos Apolineos rayos, eu te fico Na capitaina immiga: dentro nela
Que elle seja entre a gente illustre e claro Saltando, a farâ so com lança e espada
E tu nisto culpado por auaro. De quatrocentos Mouros despejada.
Mas Mas
[165v] [166r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 166

[29] Mas de Deos a escondida prouidencia, [32] Vâyte alma em paz da guerra turbulenta,
Que ella so sabe o bem de que se serue, Na qual tu mereceste paz serena,
O porâ onde esforço, nem prudencia Que o corpo que em pedaços se apresenta,
Poderâ auer, que a vida lhe reserue: Quem o gerou vingança ja lhe ordena:
Em Chaul, onde em sangue e resistencia Que eu ouço retumbar a grão tormenta,
O mar todo com fogo e ferro ferue, Que vem ja dar a dura, e eterna pena,
Lhe farão, que com vida se não saya De Esperas, Basiliscos, e Trabucos,
As armadas de Egipto e de Cambaya. A Cambaicos crueis, e Mamelucos.

[30] Ali o poder de muitos inimigos [33] Eis vem o pay com animo estupendo,
Que o grande esforço, so com força rende, Trazendo furia e magoa por antolhos,
Os ventos que faltârão, e os perigos Com que o paterno amor lhe estâ mouendo
Domar, que sobejârão, tudo o ofende: Fogo no coração, agoa nos olhos:
Aqui resurjão todos os antigos, A nobre yra lhe vinha prometendo,
A ver o nobre ardor, que aqui se aprende, Que o sangue farâ dar pellos giolhos
Outro Sceua verão, que espedaçado Nas inimigas naos sentilo ha o Nilo,
Não sabe ser rendido, nem domado. Podélo ha o Indo ver, e o Gange ouuilo.

[31] Com toda hũa coxa fora, que em pedaços [34] Qual o Touro cioso, que se ensaya
Lhe leua hum cego tiro, que passàra, Pera a crua pelleja, os cornos tenta
Se serue inda dos animosos braços, No tronco dhum Carualho, ou alta Faya
E do grão coração, que lhe ficâra: E o âr ferindo, as forças esprimenta:
Ate que outro pilouro quebra os laços, Tal, antes que no seyo de Cambaya
Com que co alma o corpo se liâra, Entre Francisco irado na opulenta
Ella solta voou da prisam fora, Cidade de Dabul, a espada afia,
Onde subito se acha vencedora. Abaxandolhe a tumida ousadia.
Vayte E logo
[165v] [166r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 166

[29] Mas de Deos a escondida prouidencia, [32] Vâyte alma em paz da guerra turbulenta,
Que ella so sabe o bem de que se serue, Na qual tu mereceste paz serena,
O porâ onde esforço, nem prudencia Que o corpo que em pedaços se apresenta,
Poderâ auer, que a vida lhe reserue: Quem o gerou vingança ja lhe ordena:
Em Chaul, onde em sangue e resistencia Que eu ouço retumbar a grão tormenta,
O mar todo com fogo e ferro ferue, Que vem ja dar a dura, e eterna pena,
Lhe farão, que com vida se não saya De Esperas, Basiliscos, e Trabucos,
As armadas de Egipto e de Cambaya. A Cambaicos crueis, e Mamelucos.

[30] Ali o poder de muitos inimigos [33] Eis vem o pay com animo estupendo,
Que o grande esforço, so com força rende, Trazendo furia e magoa por antolhos,
Os ventos que faltârão, e os perigos Com que o paterno amor lhe estâ mouendo
Domar, que sobejârão, tudo o ofende: Fogo no coração, agoa nos olhos:
Aqui resurjão todos os antigos, A nobre yra lhe vinha prometendo,
A ver o nobre ardor, que aqui se aprende, Que o sangue farâ dar pellos giolhos
Outro Sceua verão, que espedaçado Nas inimigas naos sentilo ha o Nilo,
Não sabe ser rendido, nem domado. Podélo ha o Indo ver, e o Gange ouuilo.

[31] Com toda hũa coxa fora, que em pedaços [34] Qual o Touro cioso, que se ensaya
Lhe leua hum cego tiro, que passàra, Pera a crua pelleja, os cornos tenta
Se serue inda dos animosos braços, No tronco dhum Carualho, ou alta Faya
E do grão coração, que lhe ficâra: E o âr ferindo, as forças esprimenta:
Ate que outro pilouro quebra os laços, Tal, antes que no seyo de Cambaya
Com que co alma o corpo se liâra, Entre Francisco irado na opulenta
Ella solta voou da prisam fora, Cidade de Dabul, a espada afia,
Onde subito se acha vencedora. Abaxandolhe a tumida ousadia.
Vayte E logo
[166v] [167r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 167

[35] E logo entrando fero na enseada [38] Ali Cafres seluagens poderão,
De Dio, illustre em cercos e batalhas, O que destros immigos não podêrão,
Farâ espalhar a fraca e grande armada, E rudos paos tostados sos farão,
De Calecu, que remos tem por malhas: O que arcos e pelouros não fizerão,
A de Melique Yaz acautelada, Occultos os juizos de Deos sam,
Cos pelouros que tu Vulcano espalhas, As gentes vaãs que não nos entenderão,
Farâ yr ver o frio e fundo assento, Chamãolhe fado mao, fortuna escura,
Secreto leito do humido elemento. Sendo so prouidencia de Deos pura.

[36] Mas a de Mir Hocem, que abalroando [39] Mas ô que luz tamanha, que abrir sinto,
A furia esperarâ dos vingadores, Dizia a Ninfa, e a voz aleuantaua,
Verâ braços e pernas yr nadando, La no mar de Melinde em sangue tinto
Sem corpos, pello mar, de seus senhores, Das cidades de Lamo, de Oja, e Braua:
Rayos de fogo yrão representando, Pello Cunha tambem, que nunca extinto
No cego ardor, os brauos domadores, Serâ seu nome, em todo o mar que laua
Quanto ali sentirão olhos, e ouuidos, As ilhas do Austro, e praias, que se chamão
E fumo, ferro, flamas e alaridos. De sam Lourẽço, e em todo o Sul se afamão.

[37] Mas ah, que desta prospera vitoria, [40] Esta luz he do fogo, e das luzentes
Com que despois virâ ao patrio Tejo, Armas, com que Albuquerque yra amãsando
Quasi lhe roubarâ a famosa gloria De Ormuz os Parseos, por seu mal valentes,
Hum successo que triste e negro vejo, Que refusam o jugo honroso e brando.
O Cabo Tormentorio, que a memoria Ali verão as setas estridentes
Cos ossos guardarâ não terâ pejo Reciprocarse, a ponta no ar virando,
De tirar deste mundo aquelle esprito, Contra quem as tirou, que Deos peleja
Que não tirarão toda a India, e Egito. Por quem estende a fe da madre Igreja.
Ali Ali
[166v] [167r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 167

[35] E logo entrando fero na enseada [38] Ali Cafres seluagens poderão,
De Dio, illustre em cercos e batalhas, O que destros immigos não podêrão,
Farâ espalhar a fraca e grande armada, E rudos paos tostados sos farão,
De Calecu, que remos tem por malhas: O que arcos e pelouros não fizerão,
A de Melique Yaz acautelada, Occultos os juizos de Deos sam,
Cos pelouros que tu Vulcano espalhas, As gentes vaãs que não nos entenderão,
Farâ yr ver o frio e fundo assento, Chamãolhe fado mao, fortuna escura,
Secreto leito do humido elemento. Sendo so prouidencia de Deos pura.

[36] Mas a de Mir Hocem, que abalroando [39] Mas ô que luz tamanha, que abrir sinto,
A furia esperarâ dos vingadores, Dizia a Ninfa, e a voz aleuantaua,
Verâ braços e pernas yr nadando, La no mar de Melinde em sangue tinto
Sem corpos, pello mar, de seus senhores, Das cidades de Lamo, de Oja, e Braua:
Rayos de fogo yrão representando, Pello Cunha tambem, que nunca extinto
No cego ardor, os brauos domadores, Serâ seu nome, em todo o mar que laua
Quanto ali sentirão olhos, e ouuidos, As ilhas do Austro, e praias, que se chamão
E fumo, ferro, flamas e alaridos. De sam Lourẽço, e em todo o Sul se afamão.

[37] Mas ah, que desta prospera vitoria, [40] Esta luz he do fogo, e das luzentes
Com que despois virâ ao patrio Tejo, Armas, com que Albuquerque yra amãsando
Quasi lhe roubarâ a famosa gloria De Ormuz os Parseos, por seu mal valentes,
Hum successo que triste e negro vejo, Que refusam o jugo honroso e brando.
O Cabo Tormentorio, que a memoria Ali verão as setas estridentes
Cos ossos guardarâ não terâ pejo Reciprocarse, a ponta no ar virando,
De tirar deste mundo aquelle esprito, Contra quem as tirou, que Deos peleja
Que não tirarão toda a India, e Egito. Por quem estende a fe da madre Igreja.
Ali Ali
[167v] [168r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 168

[41] Ali do sal os montes não defendem [44] Nem tu menos fugir poderas deste,
De corrupção os corpos no combate, Posto que rica, e posto que assentada
Que mortos pella praya, e mar se estendem La no gremio da Aurora, onde naceste,
De Gerum, de Mazcate, e Calayate: Opulenta Malaca nomeada:
Ate que a força so de braço aprendem As setas venenosas que fizeste,
A abaxar a ceruiz, onde se lhe ate Os Crises com que ja te vejo armada,
Obrigação de dar o reyno inico Malaios namorados, Iaos valentes
Das perlas de Barem tributo rico. Todos faras ao Luso obedientes.

[42] Que gloriosas palmas tecer vejo, [45] Mais estanças cantâra esta Syrena
Com que victoria a fronte lhe coroa, Em louuor do illustrissimo Albuquerque,
Quando sem sombra vaã de medo, ou pejo Mas alembroulhe hũa yra que o condena,
Toma a ilha illustrissima de Goa: Posto que a fama sua o mundo cerque:
Despois, obedecendo ao duro ensejo O grande capitão, que o fado ordena
A deixa, e ocasião espera boa, Que com trabalhos gloria eterna merque,
Com que a torne a tomar, que esforço e arte Mais ha de ser hum brando companheiro
Vencerão a fortuna, e o proprio Marte. Pera os seus, que juiz cruel e inteiro.

[43] Eis ja sobrella torna e vây rompendo [46] Mas em tempo que fomes, e asperezas
Por muros, fogo, lanças, e pilouros, Doenças, frechas, e trouoẽs ardentes,
Abrindo cõ a espada o espesso, e horrendo A sazão, e o lugar fazem cruezas
Esquadrão de Gentios, e de Mouros: Nos soldados a todo obedientes:
Irão soldados inclitos fazendo Parece de seluaticas brutezas,
Mais que Liões famelicos, e Touros, De peitos inhumanos e insolentes,
Na luz que sempre celebrada e dina Dar extremo suplicio pella culpa
Sera da Egipcia sancta Caterina. Que a fraca humanidade e Amor desculpa.
Nem Não
[167v] [168r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 168

[41] Ali do sal os montes não defendem [44] Nem tu menos fugir poderas deste,
De corrupção os corpos no combate, Posto que rica, e posto que assentada
Que mortos pella praya, e mar se estendem La no gremio da Aurora, onde naceste,
De Gerum, de Mazcate, e Calayate: Opulenta Malaca nomeada:
Ate que a força so de braço aprendem As setas venenosas que fizeste,
A abaxar a ceruiz, onde se lhe ate Os Crises com que ja te vejo armada,
Obrigação de dar o reyno inico Malaios namorados, Iaos valentes
Das perlas de Barem tributo rico. Todos faras ao Luso obedientes.

[42] Que gloriosas palmas tecer vejo, [45] Mais estanças cantâra esta Syrena
Com que victoria a fronte lhe coroa, Em louuor do illustrissimo Albuquerque,
Quando sem sombra vaã de medo, ou pejo Mas alembroulhe hũa yra que o condena,
Toma a ilha illustrissima de Goa: Posto que a fama sua o mundo cerque:
Despois, obedecendo ao duro ensejo O grande capitão, que o fado ordena
A deixa, e ocasião espera boa, Que com trabalhos gloria eterna merque,
Com que a torne a tomar, que esforço e arte Mais ha de ser hum brando companheiro
Vencerão a fortuna, e o proprio Marte. Pera os seus, que juiz cruel e inteiro.

[43] Eis ja sobrella torna e vây rompendo [46] Mas em tempo que fomes, e asperezas
Por muros, fogo, lanças, e pilouros, Doenças, frechas, e trouoẽs ardentes,
Abrindo cõ a espada o espesso, e horrendo A sazão, e o lugar fazem cruezas
Esquadrão de Gentios, e de Mouros: Nos soldados a todo obedientes:
Irão soldados inclitos fazendo Parece de seluaticas brutezas,
Mais que Liões famelicos, e Touros, De peitos inhumanos e insolentes,
Na luz que sempre celebrada e dina Dar extremo suplicio pella culpa
Sera da Egipcia sancta Caterina. Que a fraca humanidade e Amor desculpa.
Nem Não
[168v] [169r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 169

[47] Não serâ a culpa abominoso incesto, [50] Mas proseguindo a Nimpha o longo canto,
Nem violento estupro em virgem pura, De Soarez cantaua, que as bandeiras
Nem menos adulterio desonesto, Faria tremolar, e por espanto,
Mas cũa escraua vil lasciua e escura: Pellas roxas Arabicas ribeiras:
Se o peito ou de cioso, ou de modesto, Medina abominabil teme tanto,
Ou de vsado a crueza fera e dura, Quanto Meca, e Gidâ, coas derradeiras
Cos seus hũa ira insana não refrea, Prayas de Abasia: Barborâ se teme,
Põe na fama alua noda negra e fea. Do mal de que o Emporio Zeila geme.

[48] Vio Alexandre Apeles namorado [51] A nobre ilha tambem de Taprobana,
Da sua Campaspe, e deulha alegremente, Ia pello nome antigo tão famosa,
Não sendo seu soldado esprimentado, Quanto agora soberba, e soberana,
Nem vendose num cerco duro e vrgente: Pella Cortiça calida, cheirosa,
Sentio Ciro que andaua ja abrasado Della darâ tributo aa Lusitana
Araspas, de Pantea em fogo ardente, Bandeira, quando excelsa, e gloriosa
Que elle tomara em guarda, e prometia Vencendo se erguerâ na torre erguida,
Que nenhum mao desejo o venceria. Em Columbo, dos proprios tam temida.

[49] Mas vendo o Illustre Persa, que vencido [52] Tambem Sequeira as ondas Eritreas
Fora de amor, que em fim não tem defensa, Diuidindo, abrirâ nouo caminho,
Leuemente o perdoa, e foy seruido Pera ti grande Imperio que te arreas
Delle num caso grande em recompensa. De seres de Candace, e Sabâ ninho:
Per força de Iudita foy marido Maçuà com Cisternas de agoa cheas
O ferreo Balduuino, mas dispensa Verâ, e o porto Arquico ali vizinho,
Carlos pay della, posto em cousas grandes, E farà descobir remotas ilhas,
Que viua, e pouoador seja de Frandes. Que dão ao mundo nouas marauilhas.
Mas Y Virâ
[168v] [169r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 169

[47] Não serâ a culpa abominoso incesto, [50] Mas proseguindo a Nimpha o longo canto,
Nem violento estupro em virgem pura, De Soarez cantaua, que as bandeiras
Nem menos adulterio desonesto, Faria tremolar, e por espanto,
Mas cũa escraua vil lasciua e escura: Pellas roxas Arabicas ribeiras:
Se o peito ou de cioso, ou de modesto, Medina abominabil teme tanto,
Ou de vsado a crueza fera e dura, Quanto Meca, e Gidâ, coas derradeiras
Cos seus hũa ira insana não refrea, Prayas de Abasia: Barborâ se teme,
Põe na fama alua noda negra e fea. Do mal de que o Emporio Zeila geme.

[48] Vio Alexandre Apeles namorado [51] A nobre ilha tambem de Taprobana,
Da sua Campaspe, e deulha alegremente, Ia pello nome antigo tão famosa,
Não sendo seu soldado esprimentado, Quanto agora soberba, e soberana,
Nem vendose num cerco duro e vrgente: Pella Cortiça calida, cheirosa,
Sentio Ciro que andaua ja abrasado Della darâ tributo aa Lusitana
Araspas, de Pantea em fogo ardente, Bandeira, quando excelsa, e gloriosa
Que elle tomara em guarda, e prometia Vencendo se erguerâ na torre erguida,
Que nenhum mao desejo o venceria. Em Columbo, dos proprios tam temida.

[49] Mas vendo o Illustre Persa, que vencido [52] Tambem Sequeira as ondas Eritreas
Fora de amor, que em fim não tem defensa, Diuidindo, abrirâ nouo caminho,
Leuemente o perdoa, e foy seruido Pera ti grande Imperio que te arreas
Delle num caso grande em recompensa. De seres de Candace, e Sabâ ninho:
Per força de Iudita foy marido Maçuà com Cisternas de agoa cheas
O ferreo Balduuino, mas dispensa Verâ, e o porto Arquico ali vizinho,
Carlos pay della, posto em cousas grandes, E farà descobir remotas ilhas,
Que viua, e pouoador seja de Frandes. Que dão ao mundo nouas marauilhas.
Mas Y Virâ
[169v] [170r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 170

[53] Virâ despois Meneses, cujo ferro [56] Mas despois que as estrellas o chamarem,
Mais na Africa, que câ terâ prouado: Socederâs ô forte Mazcarenhas,
Castigarâ de Ormuz Soberba o erro, E se injustos o mando te tomarem,
Com lhe fazer tributo dar dobrado: Prometote que fama eterna tenhas:
Tambem tu Gama, em pago do desterro Pera teus inimigos confessarem
Em que estâs, e serâs inda tornado, Teu valor alto, o fado quer que venhas
Cos titolos de Conde, e dhonras nobres, A mandar, mais de palmas coroado,
Virâs mandar a terra que descobres. Que de fortuna justa acompanhado.

[54] Mas aquella fatal necessidade, [57] No reino de Bintão, que tantos danos
De quem ninguem se exime dos humanos, Terâ a Malaca muito tempo feitos,
Illustrado coa Regia dignidade, Num so dia as injurias de mil anos
Te tirarâ do mundo e seus enganos: Vingarâs, co valor de illustres peitos,
Outro Meneses logo, cuja ydade Trabalhos e perigos inhumanos,
He mayor na prudencia, que nos anos, Abrolhos ferreos mil, passos estreitos,
Gouernarâ, e farâ o ditoso Henrique, Tranqueiras, Baluartes, lanças, Setas,
Que perpetua memoria delle fique. Tudo fico que rompas e sometas.

[55] Não vencerâ somente os Malabares, [58] Mas na India cubiça e ambição,
Destruindo Panane, com Coulete, Que claramente poem aberto o rosto
Cometendo as Bombardas, que nos ares Contra Deos, e Iustiça, te farão
Se vingão so do peito que as comete: Vituperio nenhum, mas so desgosto:
Mas com virtudes certo singulares, Quem faz injuria vil, e sem rezão
Vence os immigos dalma todos sete, Com forças e poder, em que estâ posto,
De cubiça triumpha, e incontinencia, Não vence, que a vitoria verdadeira,
Que em tal idade he suma de excellencia. He saber ter justiça nua, e inteira.
Mas Y 2 Mas
[169v] [170r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 170

[53] Virâ despois Meneses, cujo ferro [56] Mas despois que as estrellas o chamarem,
Mais na Africa, que câ terâ prouado: Socederâs ô forte Mazcarenhas,
Castigarâ de Ormuz Soberba o erro, E se injustos o mando te tomarem,
Com lhe fazer tributo dar dobrado: Prometote que fama eterna tenhas:
Tambem tu Gama, em pago do desterro Pera teus inimigos confessarem
Em que estâs, e serâs inda tornado, Teu valor alto, o fado quer que venhas
Cos titolos de Conde, e dhonras nobres, A mandar, mais de palmas coroado,
Virâs mandar a terra que descobres. Que de fortuna justa acompanhado.

[54] Mas aquella fatal necessidade, [57] No reino de Bintão, que tantos danos
De quem ninguem se exime dos humanos, Terâ a Malaca muito tempo feitos,
Illustrado coa Regia dignidade, Num so dia as injurias de mil anos
Te tirarâ do mundo e seus enganos: Vingarâs, co valor de illustres peitos,
Outro Meneses logo, cuja ydade Trabalhos e perigos inhumanos,
He mayor na prudencia, que nos anos, Abrolhos ferreos mil, passos estreitos,
Gouernarâ, e farâ o ditoso Henrique, Tranqueiras, Baluartes, lanças, Setas,
Que perpetua memoria delle fique. Tudo fico que rompas e sometas.

[55] Não vencerâ somente os Malabares, [58] Mas na India cubiça e ambição,
Destruindo Panane, com Coulete, Que claramente poem aberto o rosto
Cometendo as Bombardas, que nos ares Contra Deos, e Iustiça, te farão
Se vingão so do peito que as comete: Vituperio nenhum, mas so desgosto:
Mas com virtudes certo singulares, Quem faz injuria vil, e sem rezão
Vence os immigos dalma todos sete, Com forças e poder, em que estâ posto,
De cubiça triumpha, e incontinencia, Não vence, que a vitoria verdadeira,
Que em tal idade he suma de excellencia. He saber ter justiça nua, e inteira.
Mas Y 2 Mas
[170v] [171r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 171

[59] Mas com tudo não nego que Sampayo [62] Tras este vem Noronha, cujo Auspicio
Serâ no esforço illustre, e asinalado, De Dio os Rumes feros afugenta,
Mostrando se no mar hum fero rayo, Dio que o peito e bellico exercicio
Que de inimigos mil verâ qualhado: De Antonio da silueira bem sustenta:
Em Bacanôr farâ cruel ensayo Farâ em Noronha a morte o vsado officio,
No Malabar, pera que amedrontado Quando hum teu ramo, ô Gama, se esprimẽta
Despois a ser vencido delle venha No gouerno do Imperio, cujo zelo
Cutiâle, com quanta armada tenha. Com medo o roxo mar farâ amarelo,

[60] E não menos de Dio a fera frota [63] Das mãos do teu Esteuão vem tomar
Que Chaul temerâ de grande e ousada, As redeas hum, que ja sera illustrado
Farâ coa vista so perdida e rota, No Brasil, com vencer e castigar
Por Heitor da Silueira, e destroçada: O Pirata Frances ao mar vsado:
Por Heitor Portugues, de quem se nota, Despois Capitão mor do Indico mar,
Que na Costa Cambaica sempre armada, O muro de Dâmão soberbo e armado,
Serâ aos Guzarates tanto dano, Escala, e primeiro entra a porta aberta
Quanto ja foy aos Gregos o Troyano. Que fogo e frechas mil terão cuberta.

[61] A Sampayo feroz socederà [64] A este o Rey Cambaico soberbissimo


Cunha, que longo tempo tem o leme, Fortaleza darà na rica Dio,
De Chale as torres altas erguerâ, Porque contra o Mogor poderosissimo
Em quanto Dio illustre delle treme, Lhe ajude a defender o senhorio:
O forte Baçaîm se lhe darâ, Despois yrà com peito esforçadissimo
Não sem sangue porem, que nelle geme A tolher que não passe o Rey Gentio
Melique, porque a força so de espada De Calecu, que assi com quantos veyo
A tranqueira soberba ve tomada. O farâ retirar de sangue cheyo.
Tras Y 3 Destroirâ
[170v] [171r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 171

[59] Mas com tudo não nego que Sampayo [62] Tras este vem Noronha, cujo Auspicio
Serâ no esforço illustre, e asinalado, De Dio os Rumes feros afugenta,
Mostrando se no mar hum fero rayo, Dio que o peito e bellico exercicio
Que de inimigos mil verâ qualhado: De Antonio da silueira bem sustenta:
Em Bacanôr farâ cruel ensayo Farâ em Noronha a morte o vsado officio,
No Malabar, pera que amedrontado Quando hum teu ramo, ô Gama, se esprimẽta
Despois a ser vencido delle venha No gouerno do Imperio, cujo zelo
Cutiâle, com quanta armada tenha. Com medo o roxo mar farâ amarelo,

[60] E não menos de Dio a fera frota [63] Das mãos do teu Esteuão vem tomar
Que Chaul temerâ de grande e ousada, As redeas hum, que ja sera illustrado
Farâ coa vista so perdida e rota, No Brasil, com vencer e castigar
Por Heitor da Silueira, e destroçada: O Pirata Frances ao mar vsado:
Por Heitor Portugues, de quem se nota, Despois Capitão mor do Indico mar,
Que na Costa Cambaica sempre armada, O muro de Dâmão soberbo e armado,
Serâ aos Guzarates tanto dano, Escala, e primeiro entra a porta aberta
Quanto ja foy aos Gregos o Troyano. Que fogo e frechas mil terão cuberta.

[61] A Sampayo feroz socederà [64] A este o Rey Cambaico soberbissimo


Cunha, que longo tempo tem o leme, Fortaleza darà na rica Dio,
De Chale as torres altas erguerâ, Porque contra o Mogor poderosissimo
Em quanto Dio illustre delle treme, Lhe ajude a defender o senhorio:
O forte Baçaîm se lhe darâ, Despois yrà com peito esforçadissimo
Não sem sangue porem, que nelle geme A tolher que não passe o Rey Gentio
Melique, porque a força so de espada De Calecu, que assi com quantos veyo
A tranqueira soberba ve tomada. O farâ retirar de sangue cheyo.
Tras Y 3 Destroirâ
[171v] [172r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 172

[65] Destroirâ a cidade Repelim, [68] Persas feroces, Abassis e Rumes


Pondo o seu Rey com muitos em fugida: Que trazido de Roma o nome tem,
E despois junto ao Cabo Comorim Varios de gestos, varios de custumes
Hũa façanha faz esclarecida, Que mil naçoẽs ao cerco feras vem
A frota principal do Samorim, Farão dos ceos ao mundo vãos queixumes
Que destroir o mundo não duuida, Porque hũs poucos a terra lhe detem,
Vencerâ co furor do ferro e fogo, Em sangue Portugues juram descridos
Em si verâ Beadâla o Marcio jogo. De banhar os bigodes retorcidos.

[66] Tendo assi limpa a India dos immigos, [69] Basiliscos medonhos e Liões,
Virâ despois com cetro a gouernala, Trabucos feros, minas encubertas,
Sem que ache resistencia, nem perigos, Sustenta Mazcarenhas cos barões,
Que todos tremem delle, e nenhum fala: Que tam ledos as mortes tem por certas:
So quis prouar os asperos castigos Ate que nas mayores opressoẽs
Baticalâ, que virâ ja Beadala, Castro libertador, fazendo offertas
De sangue e corpos mortos ficou chea, Das vidas de seus filhos, quer que fiquem
E de fogo e trouoẽs desfeita e fea. Com fama eterna, e a Deos se sacrifiquem.

[67] Este sera Martinho, que de Marte [70] Fernando hum delles, ramo da alta pranta,
O nome tem coas obras diriuado, Onde o violento fogo com ruido,
Tanto em armas illustre em toda parte, Em pedaços os muros no ar leuanta,
Quanto em conselho sabio e bem cuidado: Serâ ali arrebatado, e ao ceo subido:
Socederlhe ha ali Castro, que o estandarte Aluaro quando o inuerno o mundo espanta,
Portugues terâ sempre leuantado, E tem o caminho humido impedido,
Conforme successor ao succedido Abrindoo, vence as ondas, e os perigos,
Que hum ergue Dio, outro o defende erguido. Os ventos, e despois os inimigos.
Persas Y 4 Eis
[171v] [172r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 172

[65] Destroirâ a cidade Repelim, [68] Persas feroces, Abassis e Rumes


Pondo o seu Rey com muitos em fugida: Que trazido de Roma o nome tem,
E despois junto ao Cabo Comorim Varios de gestos, varios de custumes
Hũa façanha faz esclarecida, Que mil naçoẽs ao cerco feras vem
A frota principal do Samorim, Farão dos ceos ao mundo vãos queixumes
Que destroir o mundo não duuida, Porque hũs poucos a terra lhe detem,
Vencerâ co furor do ferro e fogo, Em sangue Portugues juram descridos
Em si verâ Beadâla o Marcio jogo. De banhar os bigodes retorcidos.

[66] Tendo assi limpa a India dos immigos, [69] Basiliscos medonhos e Liões,
Virâ despois com cetro a gouernala, Trabucos feros, minas encubertas,
Sem que ache resistencia, nem perigos, Sustenta Mazcarenhas cos barões,
Que todos tremem delle, e nenhum fala: Que tam ledos as mortes tem por certas:
So quis prouar os asperos castigos Ate que nas mayores opressoẽs
Baticalâ, que virâ ja Beadala, Castro libertador, fazendo offertas
De sangue e corpos mortos ficou chea, Das vidas de seus filhos, quer que fiquem
E de fogo e trouoẽs desfeita e fea. Com fama eterna, e a Deos se sacrifiquem.

[67] Este sera Martinho, que de Marte [70] Fernando hum delles, ramo da alta pranta,
O nome tem coas obras diriuado, Onde o violento fogo com ruido,
Tanto em armas illustre em toda parte, Em pedaços os muros no ar leuanta,
Quanto em conselho sabio e bem cuidado: Serâ ali arrebatado, e ao ceo subido:
Socederlhe ha ali Castro, que o estandarte Aluaro quando o inuerno o mundo espanta,
Portugues terâ sempre leuantado, E tem o caminho humido impedido,
Conforme successor ao succedido Abrindoo, vence as ondas, e os perigos,
Que hum ergue Dio, outro o defende erguido. Os ventos, e despois os inimigos.
Persas Y 4 Eis
[172v] [173r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 173

[71] Eis vem despois, o pay, que as ondas corta [74] Assi cantaua a Nimpha e as outras todas
Co restante da gente Lusitana Com sonoroso aplauso vozes dauão,
E com força e saber, que mais importa, Com que festejão as alegres vodas,
Batalha dá felice e soberana: Que com tanto prazer se celebrauão:
Hũs paredes subindo escusam porta, Por mais que da Fortuna andem as rodas
Outros a abrem, na fera esquadra insana, Nũa consona voz todas soauão,
Feitos farão tão dinos de memoria, Não vos hão de faltar, gente famosa,
Que não caibão em vêrso, ou larga historia. Honra, valor, e fama gloriosa.

[72] Este despois em campo se apresenta [75] Despois que a corporal necessidade
Vencedor forte e intrepido, ao possante Se satisfez do mantimento nobre,
Rey de Cambaya, e a vista lhe amedrenta E na armonia e doce suauidade,
Da fera multidão pradrupedante: Virão os altos feitos, que descobre,
Não menos suas terras mal sustenta Thetis de graça ornada, e grauidade,
O Hydalcham do braço triumphante Pera que com mais alta gloria dobre,
Que castigando vay Dâbul na costa As festas deste alegre e claro dia,
Nem lhe escapou Pondâ no sertão posta. Pera o felice Gama assi dizia.

[73] Estes e outros Baroẽs por varias partes, [76] Faz te merce barão a Sapiencia
Dinos todos de fama e marauilha, Suprema, de cos olhos corporais
Fazendose na terra brauos Martes, Veres, o que não pode a vã ciencia
Virão lograr os gostos desta Ilha: Dos errados e miseros mortais:
Varrendo triumphantes estandartes Sigueme firme, e forte, com prudencia
Pellas ondas, que corta a aguda quilha, Por este monte espesso, tu cos mais.
E acharão estas Nimphas e estas mesas, Assi lhe diz, e o guia por hum mato
Que glorias e hõras sam de arduas empresas Arduo, difficil, duro a humano trato.
Assi Não
[172v] [173r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 173

[71] Eis vem despois, o pay, que as ondas corta [74] Assi cantaua a Nimpha e as outras todas
Co restante da gente Lusitana Com sonoroso aplauso vozes dauão,
E com força e saber, que mais importa, Com que festejão as alegres vodas,
Batalha dá felice e soberana: Que com tanto prazer se celebrauão:
Hũs paredes subindo escusam porta, Por mais que da Fortuna andem as rodas
Outros a abrem, na fera esquadra insana, Nũa consona voz todas soauão,
Feitos farão tão dinos de memoria, Não vos hão de faltar, gente famosa,
Que não caibão em vêrso, ou larga historia. Honra, valor, e fama gloriosa.

[72] Este despois em campo se apresenta [75] Despois que a corporal necessidade
Vencedor forte e intrepido, ao possante Se satisfez do mantimento nobre,
Rey de Cambaya, e a vista lhe amedrenta E na armonia e doce suauidade,
Da fera multidão pradrupedante: Virão os altos feitos, que descobre,
Não menos suas terras mal sustenta Thetis de graça ornada, e grauidade,
O Hydalcham do braço triumphante Pera que com mais alta gloria dobre,
Que castigando vay Dâbul na costa As festas deste alegre e claro dia,
Nem lhe escapou Pondâ no sertão posta. Pera o felice Gama assi dizia.

[73] Estes e outros Baroẽs por varias partes, [76] Faz te merce barão a Sapiencia
Dinos todos de fama e marauilha, Suprema, de cos olhos corporais
Fazendose na terra brauos Martes, Veres, o que não pode a vã ciencia
Virão lograr os gostos desta Ilha: Dos errados e miseros mortais:
Varrendo triumphantes estandartes Sigueme firme, e forte, com prudencia
Pellas ondas, que corta a aguda quilha, Por este monte espesso, tu cos mais.
E acharão estas Nimphas e estas mesas, Assi lhe diz, e o guia por hum mato
Que glorias e hõras sam de arduas empresas Arduo, difficil, duro a humano trato.
Assi Não
[173v] [174r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 174

[77] Não andão muito que no erguido cume [80] Ves aqui a grande machina do mundo,
Se acharão, onde hum campo se esmaltaua, Eterea, e elemental, que fabricada
De Esmeraldas, Rubis, tais que presume Assi foy do saber alto, e profundo,
A vista, que diuino chão pisaua: Que he sem principio, e meta limitada,
Aqui hum globo vem no ar, que o lume Quem cerca em derredor este rotundo
Clarissimo por elle penetraua, Globo, e sua superficia tão limada,
De modo que o seu centro esta euidente, He Deos, mas o q̃ he Deos ninguẽ o entende,
Como a sua superficia, claramente. Que a tanto o engenho humano não se estẽde.

[78] Qual a materia seja não se enxerga, [81] Este orbe que primeiro vay cercando
Mas enxergasse bem que estâ composto Os outros mais pequenos, que em si tem,
De varios orbes, que a diuina verga Que estâ com luz tão clara radiando,
Compos, e hum centro a todos so tem posto: Que a vista cega, e a mente vil tambem,
Voluendo, ora se abaxe, agora se erga, Empireo se nomea, onde logrando
Nũca sergue, ou se abaxa, e hũ mesmo rosto Puras almas estão de aquelle bem,
Por toda a parte tem, e em toda a parte Tamanho, que elle so se entende e alcança,
Começa e acaba, em fim por diuina arte. De quem não ha no mundo semelhança.

[79] Vniforme, perfeito, em si sostido, [82] Aqui so verdadeiros gloriosos


Qual em fim o Archetipo, que o criou: Diuos estão, porque eu, Saturno e Iano,
Vendo o Gama este globo, comouido Iupiter, Iuno, fomos fabulosos
De espanto e de desejo ali ficou, Fingidos de mortal e cego engano:
Dizlhe a Deosa, O trasunto reduzido So pera fazer versos deleitosos
Em pequeno volume aqui te dou, Seruimos, e se mais o trato humano
Do mundo aos olhos teus, pera que vejas Nos pode dar, he so que o nome nosso
Por onde vas, e yrâs, e o que desejas. Nestas estrellas pos o engenho vosso.
Ves E tambem
[173v] [174r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 174

[77] Não andão muito que no erguido cume [80] Ves aqui a grande machina do mundo,
Se acharão, onde hum campo se esmaltaua, Eterea, e elemental, que fabricada
De Esmeraldas, Rubis, tais que presume Assi foy do saber alto, e profundo,
A vista, que diuino chão pisaua: Que he sem principio, e meta limitada,
Aqui hum globo vem no ar, que o lume Quem cerca em derredor este rotundo
Clarissimo por elle penetraua, Globo, e sua superficia tão limada,
De modo que o seu centro esta euidente, He Deos, mas o q̃ he Deos ninguẽ o entende,
Como a sua superficia, claramente. Que a tanto o engenho humano não se estẽde.

[78] Qual a materia seja não se enxerga, [81] Este orbe que primeiro vay cercando
Mas enxergasse bem que estâ composto Os outros mais pequenos, que em si tem,
De varios orbes, que a diuina verga Que estâ com luz tão clara radiando,
Compos, e hum centro a todos so tem posto: Que a vista cega, e a mente vil tambem,
Voluendo, ora se abaxe, agora se erga, Empireo se nomea, onde logrando
Nũca sergue, ou se abaxa, e hũ mesmo rosto Puras almas estão de aquelle bem,
Por toda a parte tem, e em toda a parte Tamanho, que elle so se entende e alcança,
Começa e acaba, em fim por diuina arte. De quem não ha no mundo semelhança.

[79] Vniforme, perfeito, em si sostido, [82] Aqui so verdadeiros gloriosos


Qual em fim o Archetipo, que o criou: Diuos estão, porque eu, Saturno e Iano,
Vendo o Gama este globo, comouido Iupiter, Iuno, fomos fabulosos
De espanto e de desejo ali ficou, Fingidos de mortal e cego engano:
Dizlhe a Deosa, O trasunto reduzido So pera fazer versos deleitosos
Em pequeno volume aqui te dou, Seruimos, e se mais o trato humano
Do mundo aos olhos teus, pera que vejas Nos pode dar, he so que o nome nosso
Por onde vas, e yrâs, e o que desejas. Nestas estrellas pos o engenho vosso.
Ves E tambem
[174v] [175r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 175

[83] E tambem porque a santa prouidencia, [86] Com este rapto, e grande mouimento,
Que em Iupiter aqui se representa, Vão todos os que dentro tem no seyo,
Por espiritos mil, que tem prudencia, Por obra deste, o Sol andando atento
Gouerna o mundo todo, que sustenta: O dia e noite faz, com curso alheyo:
Insinalo a prophetica sciencia, Debaxo deste leue anda outro lento,
Em muitos dos exemplos, que apresenta, Tam lento, e sojugado a duro freyo,
Os que sam bõs, guiando fauorecem, Que em quanto Phebo, de luz nunca escasso,
Os maos, em quanto podem, nos ompecem. Dozentos cursos faz, dâ elle hum passo.

[84] Quer logo aqui a pintura que varîa, [87] Olha estoutro debaxo, que esmaltado
Agora deleitando, ora insinando, De corpos lisos anda, e radiantes,
Darlhe nomes, que a antiga Poesia Que tambem nelle tem curso ordenado,
A seus Deoses ja dera, fabulando: E nos seus axes correm scintilantes:
Que os Anjos de celeste companhia Bem ves como se veste, e faz ornado
Deoses o sacro verso estâ chamando, Co largo cinto douro, que estellantes
Nem nega que esse nome preminente, Animais doze traz afigurados,
Tambem aos maos se dà, mas falsamente. Aposentos de Phebo limitados.

[85] Em fim que o sumo Deos, que por segundas [88] Olha por outras partes a pintura,
Causas obra no mundo, tudo manda: Que as estrellas fulgentes vão fazendo.
E tornando a contarte das profundas Olha a carreta, atenta a Cinosura,
Obras da mão diuina veneranda, Andromeda, e seu pay, e o drago horrẽdo:
Debaxo deste circulo onde as mundas Vê de Cassiopea a fermosura,
Almas diuinas gozão, que não anda, E do Orionte o gesto turbulento,
Outro corre tam leue e tam ligeiro, Olha o Cisne morrendo que sospira,
Que não se enxerga, he o Mobile primeiro. A Lebre, e os Cães, a Nao, e a doce Lira.
Com Debaxo
[174v] [175r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 175

[83] E tambem porque a santa prouidencia, [86] Com este rapto, e grande mouimento,
Que em Iupiter aqui se representa, Vão todos os que dentro tem no seyo,
Por espiritos mil, que tem prudencia, Por obra deste, o Sol andando atento
Gouerna o mundo todo, que sustenta: O dia e noite faz, com curso alheyo:
Insinalo a prophetica sciencia, Debaxo deste leue anda outro lento,
Em muitos dos exemplos, que apresenta, Tam lento, e sojugado a duro freyo,
Os que sam bõs, guiando fauorecem, Que em quanto Phebo, de luz nunca escasso,
Os maos, em quanto podem, nos ompecem. Dozentos cursos faz, dâ elle hum passo.

[84] Quer logo aqui a pintura que varîa, [87] Olha estoutro debaxo, que esmaltado
Agora deleitando, ora insinando, De corpos lisos anda, e radiantes,
Darlhe nomes, que a antiga Poesia Que tambem nelle tem curso ordenado,
A seus Deoses ja dera, fabulando: E nos seus axes correm scintilantes:
Que os Anjos de celeste companhia Bem ves como se veste, e faz ornado
Deoses o sacro verso estâ chamando, Co largo cinto douro, que estellantes
Nem nega que esse nome preminente, Animais doze traz afigurados,
Tambem aos maos se dà, mas falsamente. Aposentos de Phebo limitados.

[85] Em fim que o sumo Deos, que por segundas [88] Olha por outras partes a pintura,
Causas obra no mundo, tudo manda: Que as estrellas fulgentes vão fazendo.
E tornando a contarte das profundas Olha a carreta, atenta a Cinosura,
Obras da mão diuina veneranda, Andromeda, e seu pay, e o drago horrẽdo:
Debaxo deste circulo onde as mundas Vê de Cassiopea a fermosura,
Almas diuinas gozão, que não anda, E do Orionte o gesto turbulento,
Outro corre tam leue e tam ligeiro, Olha o Cisne morrendo que sospira,
Que não se enxerga, he o Mobile primeiro. A Lebre, e os Cães, a Nao, e a doce Lira.
Com Debaxo
[175v] [176r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 176

[89] Debaxo deste grande firmamento, [92] Ves Europa Christaã mais alta e clara
Ves o ceo de Saturno Deos antigo, Que as outras em policia, e fortaleza:
Iupîter logo faz o mouimento, Ves Africa dos bens do mundo auara,
E Marte abaxo bellico inimigo, Inculta, e toda chea de bruteza,
O claro olho do ceo no quarto assento, Co Cabo que ate qui se vos negâra,
E Venus, que os amores traz consigo, Que assentou pera o Austro a natureza:
Mercurio de eloquencia soberana, Olha essa terra toda, que se habita
Com tres rostos debaxo vay Diana. Dessa gente sem ley, quasi infinita.

[90] Em todos estes orbes, differente [93] Vé do Benomotapa o grande imperio,


Curso veras, nũs graue, e noutros leue: De seluatica gente, negra e nua:
Ora fogem do centro longamente, Onde Gonçalo morte e vituperio
Ora da terra estão caminho breue, Padecerâ, polla fe sancta sua:
Bem como quis o padre omnipotente Nace por aste incognito Hemisperio
Que o fogo fez, e o ar, o vento, e neue, O metâl, por que mais a gente sua,
Os quaes veras que jazem mais a dentro, Ve que do lago, donde se derrama
E tem co mar a terra por seu centro. O Nilo, tambem vindo estâ Cuama.

[91] Neste centro pousada dos humanos, [94] Olha as casas dos negros, como estão
Que não somente ousados se contentão Sem portas, confiados em seus ninhos
De soffrerem da terra firme os danos Na justiça real, e defensam,
Mas inda o mar instabil esprimentão, E na fidelidade dos vizinhos:
Verâs as varias partes, que os insanos Olha delles a bruta multidão
Mares diuidem, onde se apousentão Qual bando espesso e negro de Estorninhos,
Varias nações, que mandão varios Reis, Combaterà em Sofala a fortaleza,
Varios costumes seus, e varias leis. Que defenderâ Nhaya com destreza.
Ves Olha
[175v] [176r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 176

[89] Debaxo deste grande firmamento, [92] Ves Europa Christaã mais alta e clara
Ves o ceo de Saturno Deos antigo, Que as outras em policia, e fortaleza:
Iupîter logo faz o mouimento, Ves Africa dos bens do mundo auara,
E Marte abaxo bellico inimigo, Inculta, e toda chea de bruteza,
O claro olho do ceo no quarto assento, Co Cabo que ate qui se vos negâra,
E Venus, que os amores traz consigo, Que assentou pera o Austro a natureza:
Mercurio de eloquencia soberana, Olha essa terra toda, que se habita
Com tres rostos debaxo vay Diana. Dessa gente sem ley, quasi infinita.

[90] Em todos estes orbes, differente [93] Vé do Benomotapa o grande imperio,


Curso veras, nũs graue, e noutros leue: De seluatica gente, negra e nua:
Ora fogem do centro longamente, Onde Gonçalo morte e vituperio
Ora da terra estão caminho breue, Padecerâ, polla fe sancta sua:
Bem como quis o padre omnipotente Nace por aste incognito Hemisperio
Que o fogo fez, e o ar, o vento, e neue, O metâl, por que mais a gente sua,
Os quaes veras que jazem mais a dentro, Ve que do lago, donde se derrama
E tem co mar a terra por seu centro. O Nilo, tambem vindo estâ Cuama.

[91] Neste centro pousada dos humanos, [94] Olha as casas dos negros, como estão
Que não somente ousados se contentão Sem portas, confiados em seus ninhos
De soffrerem da terra firme os danos Na justiça real, e defensam,
Mas inda o mar instabil esprimentão, E na fidelidade dos vizinhos:
Verâs as varias partes, que os insanos Olha delles a bruta multidão
Mares diuidem, onde se apousentão Qual bando espesso e negro de Estorninhos,
Varias nações, que mandão varios Reis, Combaterà em Sofala a fortaleza,
Varios costumes seus, e varias leis. Que defenderâ Nhaya com destreza.
Ves Olha
[176v] [177r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 177

[95] Olha la as alagoas, donde o Nilo [98] Ves o extremo Suez, que antigamente
Nace, que não souberão os antigos, Dizem que foy dos Heroas a cidade,
velo rega, gerando o Crocodilo, Outros dizem qne Arsinoe, e ao presente
Os pouos Abassis de Christo amigos, Tem das frotas do Egipto a potestade:
Olha como sem muros (nouo estilo) Olha as agoas, nas quaes abrio patente
Se defendem milhor dos inimigos, Estrada o gram Mouses na antiga ydade
Ve Meroe, que ilha foy de antiga fama Asia começa aqui, que se apresenta
Que ora dos naturais Nobâ se chama. Em terrás grande, em reinos opulenta.

[96] Nesta remota terra, hum filho teu [99] Olha o monte Sinay, que se ennobrece
Nas armas coutra os Turcos serâ claro, Co sepulchro de sancta Caterina,
Ha de ser dom Christouão o nome seu, Olha Toro, e Gidâ, que lhe falece
Mas contra o fim fatal não ha reparo: Agoa das fontes doce, e cristalina:
Ve ca a Costa do mar, onde te deu Olha as portas do estreito, que fenece
Melinde hospicio gasalhoso e caro No reyno da seca Adem, que confina
O Rapto rio nota, que o romance Com a serra Darzira, pedra viua,
Da terra chama Obî, entra em Quilmance. Onde chuua dos Ceos se não deriua.

[97] O Cabo ve ja Aromâta chamado, [100] Olha as Arabias tres, que tanta terra
E agora Goardafû dos moradores, Tomão, todas da gente vaga, e baça,
Onde começa a boca do afamado Donde vem os caualos pera a guerra
Mar roxo, que do fundo toma as cores Ligeiros, e feroces, de alta raça:
Este como limite esta lançado Olha a costa que corrre ate que cerra
Que diuide Asia de Africa, e as milhores Outro estreito de Persia, e faz a traça
Pouoaçoẽs, que a parte Africa tem O Cabo, que co nome se apellida,
Maçuâ sam, Arquico, e Suamquem. Da cidade Fartaque ali sabida,
Ves Z Olha
[176v] [177r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 177

[95] Olha la as alagoas, donde o Nilo [98] Ves o extremo Suez, que antigamente
Nace, que não souberão os antigos, Dizem que foy dos Heroas a cidade,
velo rega, gerando o Crocodilo, Outros dizem qne Arsinoe, e ao presente
Os pouos Abassis de Christo amigos, Tem das frotas do Egipto a potestade:
Olha como sem muros (nouo estilo) Olha as agoas, nas quaes abrio patente
Se defendem milhor dos inimigos, Estrada o gram Mouses na antiga ydade
Ve Meroe, que ilha foy de antiga fama Asia começa aqui, que se apresenta
Que ora dos naturais Nobâ se chama. Em terrás grande, em reinos opulenta.

[96] Nesta remota terra, hum filho teu [99] Olha o monte Sinay, que se ennobrece
Nas armas coutra os Turcos serâ claro, Co sepulchro de sancta Caterina,
Ha de ser dom Christouão o nome seu, Olha Toro, e Gidâ, que lhe falece
Mas contra o fim fatal não ha reparo: Agoa das fontes doce, e cristalina:
Ve ca a Costa do mar, onde te deu Olha as portas do estreito, que fenece
Melinde hospicio gasalhoso e caro No reyno da seca Adem, que confina
O Rapto rio nota, que o romance Com a serra Darzira, pedra viua,
Da terra chama Obî, entra em Quilmance. Onde chuua dos Ceos se não deriua.

[97] O Cabo ve ja Aromâta chamado, [100] Olha as Arabias tres, que tanta terra
E agora Goardafû dos moradores, Tomão, todas da gente vaga, e baça,
Onde começa a boca do afamado Donde vem os caualos pera a guerra
Mar roxo, que do fundo toma as cores Ligeiros, e feroces, de alta raça:
Este como limite esta lançado Olha a costa que corrre ate que cerra
Que diuide Asia de Africa, e as milhores Outro estreito de Persia, e faz a traça
Pouoaçoẽs, que a parte Africa tem O Cabo, que co nome se apellida,
Maçuâ sam, Arquico, e Suamquem. Da cidade Fartaque ali sabida,
Ves Z Olha
[177v] [178r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 178

[101] Olha Dofar insigne, porque manda [104] Aqui de dom Felipe de Meneses
O mais cheiroso encenço pera as aras: Se mostrarâ a virtude em armas clara,
Mas atenta ja ca destroutra banda Quando com muito poucos Portugueses
De Roçalgate, e prayas sempre auaras, Os muitos Parseos vencerâ de Lara:
Começa o reyno Ormuz, que todo se anda Virão prouar os golpes e reueses
Pellas ribeiras, que inda serão claras De dom Pedro de Sousa, que prouâra
Quando as gales do Turco, e fera armada Ia seu braço em Ampaza, que deixada
Virem de Castel branco nua a espada. Terâ por terra a força so de espada.

[102] Olha o Cabo Asaboro, que chamado [105] Mas deixemos o estreito, e o conhecido
Agora he Moçandão dos nauegantes. Cabo de Iasque dito ja Carpella,
Por aqui entra o lago, que he fechado Com todo o seu terreno mal querido
De Arabia, e Persias terras abundantes. Da natura, e dos dões vsados della,
Atenta a ilha Barem, que o fundo ornado Carmania teue ja por apelido:
Tem das suas perlas ricas, e imitantes Mas ves o fermoso Indo, que daquella
Aa cor da Aurora: e ve na agoa salgada Altura nace junto aa qual tambem
Ter o Tigris e Eufrates hũa entrada. Doutra altura correndo o Gange vem.

[103] Olha da grande Persia o imperio nobre [106] Olha a terra de Vlcinde fertilissima,
Sempre posto no campo, e nos caualos, E de Iaquete a intima enseada,
Que se injuria de vsar fundido cobre, Do mar a enchente subita grandissima,
E de não ter das armas sempre os calos: E a vazante que foge apressurada:
Mas ve a ilha Gerum, como descobre A terra de cambaya ve rîquissima,
O que fazem do tempo os interualos, Onde do mar o seo faz entrada,
Que da cidade Armuza, que ali esteue Cidades outras mil, que vou passando,
Ella o nome despois, e a gloria teue. A vosoutros aqui se estão guardando.
Aqui Z 2 Ves
[177v] [178r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 178

[101] Olha Dofar insigne, porque manda [104] Aqui de dom Felipe de Meneses
O mais cheiroso encenço pera as aras: Se mostrarâ a virtude em armas clara,
Mas atenta ja ca destroutra banda Quando com muito poucos Portugueses
De Roçalgate, e prayas sempre auaras, Os muitos Parseos vencerâ de Lara:
Começa o reyno Ormuz, que todo se anda Virão prouar os golpes e reueses
Pellas ribeiras, que inda serão claras De dom Pedro de Sousa, que prouâra
Quando as gales do Turco, e fera armada Ia seu braço em Ampaza, que deixada
Virem de Castel branco nua a espada. Terâ por terra a força so de espada.

[102] Olha o Cabo Asaboro, que chamado [105] Mas deixemos o estreito, e o conhecido
Agora he Moçandão dos nauegantes. Cabo de Iasque dito ja Carpella,
Por aqui entra o lago, que he fechado Com todo o seu terreno mal querido
De Arabia, e Persias terras abundantes. Da natura, e dos dões vsados della,
Atenta a ilha Barem, que o fundo ornado Carmania teue ja por apelido:
Tem das suas perlas ricas, e imitantes Mas ves o fermoso Indo, que daquella
Aa cor da Aurora: e ve na agoa salgada Altura nace junto aa qual tambem
Ter o Tigris e Eufrates hũa entrada. Doutra altura correndo o Gange vem.

[103] Olha da grande Persia o imperio nobre [106] Olha a terra de Vlcinde fertilissima,
Sempre posto no campo, e nos caualos, E de Iaquete a intima enseada,
Que se injuria de vsar fundido cobre, Do mar a enchente subita grandissima,
E de não ter das armas sempre os calos: E a vazante que foge apressurada:
Mas ve a ilha Gerum, como descobre A terra de cambaya ve rîquissima,
O que fazem do tempo os interualos, Onde do mar o seo faz entrada,
Que da cidade Armuza, que ali esteue Cidades outras mil, que vou passando,
Ella o nome despois, e a gloria teue. A vosoutros aqui se estão guardando.
Aqui Z 2 Ves
[178v] [179r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 179

[107] Ves corre a costa cèlebre Indiana [110] Chegado aqui prègando, e junto dando
Pera o Sul, ate o Cabo Comori A doentes saude, a mortos vida
Ia chamado Cori, que Taprobana A caso traz hum dia o mar vagando,
(Que ora he Ceilão) de fronte tem de si: Hum lenho de grandeza desmedida:
Por este mar a gente Lusitana Deseja o Rey, que andaua edificando,
Qua com armas virâ despois de ti, Fazer delle madeira, e não duuida
Terâ vitorias terras, e cidades Poder tiralo a terra compossantes
Nas quaes ham de viuer muitas ydades, Forças dhomẽs, de engenhos de Aliphantes.

[108] As prouincias, que entre hum e o outro rio [111] Era tão gránde o peso do madeiro
Ves com varias nações, sam infinitas: Que so pera abalarse, nada abasta,
Hum reyno Mahometa, outro Gentio, Mas o nuncio de Christo verdadeiro,
A quem tem o Demonio leis escriptas: Menos trabalho em tal negocio gasta:
Olha que de Narsinga o senhorio Ata o cordão que traz por derradeiro
Tem as reliquias sanctas e benditas, No tronco, e facilmente o leua e arrasta
Do corpo de Thome, barão sagrado, Pera onde faça hum sumptuoso templo,
Qut a Iesu Christo teue a mão no lado. Que ficasse aos futuros por exemplo.

[109] Aqui a cidade foy, que se chamaua [112] Sabia bem que se com fe formada
Meliapor, fermosa, grande, e rica: Mandar a hum monte surdo, que se moua,
Os Idolos antigos adoraua: Que obedecerà logo aa voz sagrada,
Como inda agora faz a gente inica: Que assi lho insinou Christo, e elle o proua:
Longe do mar naquelle tempo estaua: A gente ficon disto aluoroçada,
Quando a fe, que no mundo se pubrica, Os Bramenes o tem por cousa noua,
Thom e vinha prègando, e ja passàra Vendo os milagres, vendo a santidade,
Prouincias mil do mundo, que insinàra. Hão medo de perder autoridade.
Chegado Z 3 Sam
[178v] [179r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 179

[107] Ves corre a costa cèlebre Indiana [110] Chegado aqui prègando, e junto dando
Pera o Sul, ate o Cabo Comori A doentes saude, a mortos vida
Ia chamado Cori, que Taprobana A caso traz hum dia o mar vagando,
(Que ora he Ceilão) de fronte tem de si: Hum lenho de grandeza desmedida:
Por este mar a gente Lusitana Deseja o Rey, que andaua edificando,
Qua com armas virâ despois de ti, Fazer delle madeira, e não duuida
Terâ vitorias terras, e cidades Poder tiralo a terra compossantes
Nas quaes ham de viuer muitas ydades, Forças dhomẽs, de engenhos de Aliphantes.

[108] As prouincias, que entre hum e o outro rio [111] Era tão gránde o peso do madeiro
Ves com varias nações, sam infinitas: Que so pera abalarse, nada abasta,
Hum reyno Mahometa, outro Gentio, Mas o nuncio de Christo verdadeiro,
A quem tem o Demonio leis escriptas: Menos trabalho em tal negocio gasta:
Olha que de Narsinga o senhorio Ata o cordão que traz por derradeiro
Tem as reliquias sanctas e benditas, No tronco, e facilmente o leua e arrasta
Do corpo de Thome, barão sagrado, Pera onde faça hum sumptuoso templo,
Qut a Iesu Christo teue a mão no lado. Que ficasse aos futuros por exemplo.

[109] Aqui a cidade foy, que se chamaua [112] Sabia bem que se com fe formada
Meliapor, fermosa, grande, e rica: Mandar a hum monte surdo, que se moua,
Os Idolos antigos adoraua: Que obedecerà logo aa voz sagrada,
Como inda agora faz a gente inica: Que assi lho insinou Christo, e elle o proua:
Longe do mar naquelle tempo estaua: A gente ficon disto aluoroçada,
Quando a fe, que no mundo se pubrica, Os Bramenes o tem por cousa noua,
Thom e vinha prègando, e ja passàra Vendo os milagres, vendo a santidade,
Prouincias mil do mundo, que insinàra. Hão medo de perder autoridade.
Chegado Z 3 Sam
[179v] [180r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 180

[113] Sam estes sacerdotes dos Gentios, [116] Este milagre fez tamanho espanto,
Em quem mais penetrado tinha enueja, Que o Rey se banha logo na ago santa,
Buscão maneiras mil, buscão desuios E muitos apos elle, hum beija o manto
Com que Thome não se ouça, ou morto seja: Outro louuor do Deos de Thome canta:
O principal, que ao peito traz os fios, Os Bramenes se encherão de odio tanto,
Hum caso horrendo faz, que o mundo veja, Com seu veneno os morde enueja tanta,
Que inimiga não ha tão dura, e fera, Que persuadindo a isso o pouo rudo,
Como a virtude falsa da sincera. Determinão matalo em fim de tudo.

[114] Hum filho proprio mata, e logo acusa [117] Hum dia que prègando ao pouo estaua,
De homecidio Thome, que era innocente Fingirão entre a gente hum arroido,
Dâ falsas testemunhas, como se vsa Ia Christo neste tempo lhe ordenaua,
Condenarã no a morte breuemente: Que padecendo fosse ao Ceo subido:
O Santo que não vè milhor escusa, A multidão das pedras, que voaua,
Que apellar pera o Padre omnipotente, No Santo dâ ja a tudo offerecido,
Quer diante do Rey, e dos senhores, Hum dos maos por fartarse mais de pressa,
Que se faça hum milagre dos mayores. Com crua lança o peito lhe atrauessa.

[115] O corpo morto manda ser trazido [118] Chorarão te Thome, o Gange e o Indo,
Que resucite, e seja perguntado, Choroute toda a terra que pisaste,
Quem foy seu matador, e serâ crido Mais te chorão as almas, que vestindo
Por testemunho o seu mais aprouado: Se yão da sancta Fe, que lhe insinaste:
Viram todos o moço viuo erguido Mas os Anjos do ceo cantando, e rindo,
Em nome de Iesu crucificado, Te recebem na gloria que ganhaste,
Dâ graças a Thome, que lhe deu vida Pedimos te, que a Deos ajuda peças,
E descobre seu pay ser homicida. Com que os teus Lusitanos fauoreças.
Este Z 4 E vos
[179v] [180r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 180

[113] Sam estes sacerdotes dos Gentios, [116] Este milagre fez tamanho espanto,
Em quem mais penetrado tinha enueja, Que o Rey se banha logo na ago santa,
Buscão maneiras mil, buscão desuios E muitos apos elle, hum beija o manto
Com que Thome não se ouça, ou morto seja: Outro louuor do Deos de Thome canta:
O principal, que ao peito traz os fios, Os Bramenes se encherão de odio tanto,
Hum caso horrendo faz, que o mundo veja, Com seu veneno os morde enueja tanta,
Que inimiga não ha tão dura, e fera, Que persuadindo a isso o pouo rudo,
Como a virtude falsa da sincera. Determinão matalo em fim de tudo.

[114] Hum filho proprio mata, e logo acusa [117] Hum dia que prègando ao pouo estaua,
De homecidio Thome, que era innocente Fingirão entre a gente hum arroido,
Dâ falsas testemunhas, como se vsa Ia Christo neste tempo lhe ordenaua,
Condenarã no a morte breuemente: Que padecendo fosse ao Ceo subido:
O Santo que não vè milhor escusa, A multidão das pedras, que voaua,
Que apellar pera o Padre omnipotente, No Santo dâ ja a tudo offerecido,
Quer diante do Rey, e dos senhores, Hum dos maos por fartarse mais de pressa,
Que se faça hum milagre dos mayores. Com crua lança o peito lhe atrauessa.

[115] O corpo morto manda ser trazido [118] Chorarão te Thome, o Gange e o Indo,
Que resucite, e seja perguntado, Choroute toda a terra que pisaste,
Quem foy seu matador, e serâ crido Mais te chorão as almas, que vestindo
Por testemunho o seu mais aprouado: Se yão da sancta Fe, que lhe insinaste:
Viram todos o moço viuo erguido Mas os Anjos do ceo cantando, e rindo,
Em nome de Iesu crucificado, Te recebem na gloria que ganhaste,
Dâ graças a Thome, que lhe deu vida Pedimos te, que a Deos ajuda peças,
E descobre seu pay ser homicida. Com que os teus Lusitanos fauoreças.
Este Z 4 E vos
[180v] [181r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 181

[119] E vosoutros que os nomes vsurpais [122] Olha o reyno Arracão, olha o assento
De mandados de Deos, como Thome, De Pegu, que ja mõstros pouoarão,
Dizey se sois mandados, como estais Mõstros filhos do feo ajuntamento
Sem yrdes a prègar a sancta fe? Dhũa molher e hum cão, que sos se acharão:
Olhay que se sois Sal, e vos danais Aqui soante Arame no instromento
na patria, onde Propheta ninguem he, Da geração custumão, o que vsarão
Com que se salgarão em nossos dias Por manha da Raynha, que inuentando
(Infieis deixo) tantas Heresias? Tal vso, deitou fora o error nefando.

[120] Mas passo esta materia perigosa, [123] Olha Tauay cidade, onde começa
E tornemos aa costa debuxada, De Sião largo o imperio tão comprido,
Ia com esta cidade tão famosa, Tenassarî, Quedâ, que he so cabeça
Se faz curua a Gangetica enseada, Das que Pimenta ali tem produzido:
Corre Narsinga rica, e poderosa, Mais auante fareis que se conheça
Corre Orixa de roupas abastada, Malaca, por Emperio ennobrecido,
No fundo da enseada o illustre rio Onde toda a prouincia do mar grande,
Ganges vem ao salgado senhorio. Suas mercadorias ricas mande.

[121] Ganges, no qual os seus habitadores [124] Dizem que desta terra coas possantes
Morrem banhados, tendo por certeza, Ondas o mar entrando diuidio,
Que inda que sejão grandes peccadores, A nobre Ilha Samatra, que ja dantes
Esta agoa sancta os laua, e da pureza: Iuntas ambas a gente antiga vio:
Ve Chatigão cidade das milhores Chersoneso foy dita, e das prestantes
De Bengala prouincia, que se preza Veas douro, que a terra produzio,
De abundante, mas olha que estâ posta Aurea por epitheto lhe ajuntarão,
Pera o Austro daqui virada a costa. Alguns que fosse Ophir ymaginarão.
Olha Z 5 Mas
[180v] [181r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 181

[119] E vosoutros que os nomes vsurpais [122] Olha o reyno Arracão, olha o assento
De mandados de Deos, como Thome, De Pegu, que ja mõstros pouoarão,
Dizey se sois mandados, como estais Mõstros filhos do feo ajuntamento
Sem yrdes a prègar a sancta fe? Dhũa molher e hum cão, que sos se acharão:
Olhay que se sois Sal, e vos danais Aqui soante Arame no instromento
na patria, onde Propheta ninguem he, Da geração custumão, o que vsarão
Com que se salgarão em nossos dias Por manha da Raynha, que inuentando
(Infieis deixo) tantas Heresias? Tal vso, deitou fora o error nefando.

[120] Mas passo esta materia perigosa, [123] Olha Tauay cidade, onde começa
E tornemos aa costa debuxada, De Sião largo o imperio tão comprido,
Ia com esta cidade tão famosa, Tenassarî, Quedâ, que he so cabeça
Se faz curua a Gangetica enseada, Das que Pimenta ali tem produzido:
Corre Narsinga rica, e poderosa, Mais auante fareis que se conheça
Corre Orixa de roupas abastada, Malaca, por Emperio ennobrecido,
No fundo da enseada o illustre rio Onde toda a prouincia do mar grande,
Ganges vem ao salgado senhorio. Suas mercadorias ricas mande.

[121] Ganges, no qual os seus habitadores [124] Dizem que desta terra coas possantes
Morrem banhados, tendo por certeza, Ondas o mar entrando diuidio,
Que inda que sejão grandes peccadores, A nobre Ilha Samatra, que ja dantes
Esta agoa sancta os laua, e da pureza: Iuntas ambas a gente antiga vio:
Ve Chatigão cidade das milhores Chersoneso foy dita, e das prestantes
De Bengala prouincia, que se preza Veas douro, que a terra produzio,
De abundante, mas olha que estâ posta Aurea por epitheto lhe ajuntarão,
Pera o Austro daqui virada a costa. Alguns que fosse Ophir ymaginarão.
Olha Z 5 Mas
[181v] [182r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 182

[125] Mas na ponta da terra Cingapura [128] Este receberâ placido e brando,
Veras, onde o caminho aas naos se estreita, No seu regaço os Cantos, que molhados
Daqui tornando a Costa aa Cynosura Vem do naufragio triste, e miserando,
Se encurua, e pera a Aurora se endereita: Dos procelosos baxos escapados:
Ves Pam, Patane, reinos, e a longura Das fomes, dos perigos grandes, quando
De Syão que estes e outros mais sugeita Serâ o injusto mando executado
Olha o rio Menão, que se derrama Naquelle, cuja Lira sonorosa,
Do grande lago que Chiamay se chama. Será mais affamada que ditosa.

[126] Ves neste grão terreno os differentes [129] Ves corre a costa que Champà se chama,
Nomes de mil nações nunca sabidas, Cuja mata he do pao cheiroso ornada,
Os Laos em terra e numero potentes, Ves Cauchichina estâ de escura fama,
Auâs, Bramàs, por serras tão compridas: E de Ainão ve a incognita enseada,
Ve nos remotos montes outras gentes Aqui o soberbo imperio, que se afama
Que Gueos se chamão de seluages vidas, Com terras, e riqueza não cuidada,
Humana carne comem, mas a sua Da China corre, e ocupa o senhorio
Pintão com ferro ardente, vsança crua: Desdo Tropico ardente ao Cinto frio.

[127] Ves passa por Camboja Mecom Rio, [130] Olha o muro, e edificio nunca crido,
Que capitão das agoas se interpreta, Que entre hum imperio e o outro se edifica,
Tantas recebe doutro so no estio, Certissimo sinal, e conhecido,
Que alaga os campos largos, e inquieta, Da potencia real, soberba, e rica:
Tem as enchentes quaes o Nilo frio, Estes o Rey que tem não foy nacido
A gente delle crè como indiscreta, Princepe, nem dos pais aos filhos fica
Que pena e gloria tem despois de morte Mas elegem aquelle que he famoso
Os brutos animais de toda sorte. Por caualeiro sabio e virtuoso.
Este Inda
[181v] [182r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 182

[125] Mas na ponta da terra Cingapura [128] Este receberâ placido e brando,
Veras, onde o caminho aas naos se estreita, No seu regaço os Cantos, que molhados
Daqui tornando a Costa aa Cynosura Vem do naufragio triste, e miserando,
Se encurua, e pera a Aurora se endereita: Dos procelosos baxos escapados:
Ves Pam, Patane, reinos, e a longura Das fomes, dos perigos grandes, quando
De Syão que estes e outros mais sugeita Serâ o injusto mando executado
Olha o rio Menão, que se derrama Naquelle, cuja Lira sonorosa,
Do grande lago que Chiamay se chama. Será mais affamada que ditosa.

[126] Ves neste grão terreno os differentes [129] Ves corre a costa que Champà se chama,
Nomes de mil nações nunca sabidas, Cuja mata he do pao cheiroso ornada,
Os Laos em terra e numero potentes, Ves Cauchichina estâ de escura fama,
Auâs, Bramàs, por serras tão compridas: E de Ainão ve a incognita enseada,
Ve nos remotos montes outras gentes Aqui o soberbo imperio, que se afama
Que Gueos se chamão de seluages vidas, Com terras, e riqueza não cuidada,
Humana carne comem, mas a sua Da China corre, e ocupa o senhorio
Pintão com ferro ardente, vsança crua: Desdo Tropico ardente ao Cinto frio.

[127] Ves passa por Camboja Mecom Rio, [130] Olha o muro, e edificio nunca crido,
Que capitão das agoas se interpreta, Que entre hum imperio e o outro se edifica,
Tantas recebe doutro so no estio, Certissimo sinal, e conhecido,
Que alaga os campos largos, e inquieta, Da potencia real, soberba, e rica:
Tem as enchentes quaes o Nilo frio, Estes o Rey que tem não foy nacido
A gente delle crè como indiscreta, Princepe, nem dos pais aos filhos fica
Que pena e gloria tem despois de morte Mas elegem aquelle que he famoso
Os brutos animais de toda sorte. Por caualeiro sabio e virtuoso.
Este Inda
[182v] [183r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 183

[131] Inda outra muita terra se te esconde, [134] Ali tambem Timor, que o lenho manda
Ate que venha o tempo de mostrar se, Sàndalo salutifero, e cheiroso,
Mas não deixes no mar as Ilhas, onde Olha a Sunda tão larga, que hũa banda
A natureza quis mais affamarse: Esconde pera o Sul difficultoso:
Esta mea escondida que responde A gente do Sertão, que as terras anda,
De longe aa China donde vem buscarse, Hum rio diz que tem miraculoso,
He Iapão, onde nace a prata fina, Que por onde elle so sem outro vae,
Que illustrada serà coa Ley diuina. Conuerte em pedra o pao que nelle cae:

[132] Olha ca pellos mares do Oriente [135] Ve naquella que o tempo tornou Ilha,
As infinitas Ilhas espalhadas Que tambem flamas tremulas vapôra,
Ve Tidore, e Tarnate, co feruente A fonte que oleo mana, e a marauilha
Cume, que lança as flamas ondeadas: Do cheiroso licor, que o tronco chora,
As aruores verâs do Crauo ardente, Cheiroso mais que quanto estila a filha
Co sangue Portugues inda compradas, De Cyniras, na Arabia onde ella mora,
Aqui ha as aureas aues, que não decem E ve que tendo quanto as outras tem,
Nunca a terra, e so mortas aparecem. Branda seda e fino ouro dà tambem.

[133] Olha de Banda as Ilhas, que se esmaltão [136] Olha em Ceilão, que o monte se aleuanta
Da varia cor, que pinta o roxo fruto, Tanto, que as nuuẽs passa, ou a vista engana,
As aues variadas, que ali saltão, Os naturaes o tem por cousa sancta,
Da verde Noz tomando seu tributo: Polla pedra onde estâ a pègada humana:
Olha tambem Bornèo, onde não faltão Nas ilhas de Maldiua nace a pranta
Lagrimas, no licor qualhado, e enxuto, No profundo das agoas soberana,
Das aruores, que Cânfora he chamado, Cujo pomo contra o veneno vrgente
Com que da Ilha o nome he celebrado. He tido por Antidoto excelente.
Ali Verâs
[182v] [183r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 183

[131] Inda outra muita terra se te esconde, [134] Ali tambem Timor, que o lenho manda
Ate que venha o tempo de mostrar se, Sàndalo salutifero, e cheiroso,
Mas não deixes no mar as Ilhas, onde Olha a Sunda tão larga, que hũa banda
A natureza quis mais affamarse: Esconde pera o Sul difficultoso:
Esta mea escondida que responde A gente do Sertão, que as terras anda,
De longe aa China donde vem buscarse, Hum rio diz que tem miraculoso,
He Iapão, onde nace a prata fina, Que por onde elle so sem outro vae,
Que illustrada serà coa Ley diuina. Conuerte em pedra o pao que nelle cae:

[132] Olha ca pellos mares do Oriente [135] Ve naquella que o tempo tornou Ilha,
As infinitas Ilhas espalhadas Que tambem flamas tremulas vapôra,
Ve Tidore, e Tarnate, co feruente A fonte que oleo mana, e a marauilha
Cume, que lança as flamas ondeadas: Do cheiroso licor, que o tronco chora,
As aruores verâs do Crauo ardente, Cheiroso mais que quanto estila a filha
Co sangue Portugues inda compradas, De Cyniras, na Arabia onde ella mora,
Aqui ha as aureas aues, que não decem E ve que tendo quanto as outras tem,
Nunca a terra, e so mortas aparecem. Branda seda e fino ouro dà tambem.

[133] Olha de Banda as Ilhas, que se esmaltão [136] Olha em Ceilão, que o monte se aleuanta
Da varia cor, que pinta o roxo fruto, Tanto, que as nuuẽs passa, ou a vista engana,
As aues variadas, que ali saltão, Os naturaes o tem por cousa sancta,
Da verde Noz tomando seu tributo: Polla pedra onde estâ a pègada humana:
Olha tambem Bornèo, onde não faltão Nas ilhas de Maldiua nace a pranta
Lagrimas, no licor qualhado, e enxuto, No profundo das agoas soberana,
Das aruores, que Cânfora he chamado, Cujo pomo contra o veneno vrgente
Com que da Ilha o nome he celebrado. He tido por Antidoto excelente.
Ali Verâs
[183v] [184r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 184

[137] Verâs de fronte estar do roxo estreito [140] Mas ca onde mais se alarga, ali tereis
Socotorâ co amaro Aloe famosa, Parte tambem co pao vermelho nota,
Outras ilhas no mar tambem sogeito De Sancta Cruz o nome lhe poreis,
A vos, na costa de Affrica arenosa, Descobrila ha a primeira vossa frota:
Onde sae do cheiro mais perfeito Ao longo desta costa que tereis
A massa ao mundo occulta, e preciosa, Yrâ buscando a parte mais remota
De sam Lourenço ve a Ilha afamada, O Magalhães, no feito com verdade
Que Madagascar he dalguũs chamada. Portugues, porem não na lealdade.

[138] Eis aqui as nouas partes do Oriente, [141] Desque passar a via mais que mea,
Que vosoutros agora ao mundo dais, Que ao Antartico polo vay da linha,
Abrindo a porta ao vasto mar patente, Dhũa estatura quasi Gigantea
Que com tão forte peito nauegais: Homẽs verâ, da terra ali vizinha:
Mas he tambem razão, que no Ponente E mais auante o estreito, que se arrea
Dhum Lusitano hum feito inda vejais, Co nome delle agora, o qual caminha
Que de seu Rey mostrando se agrauado Pera outro mar, e terra que fica onde
Caminho ha de fazer nunca cuidado. Com suas frias asas o Austro a esconde.

[139] Vedes a grande terra que contina [142] Ate qui, Portugueses, concedido
Vay de Calisto ao seu contrario polo, Vos he saberdes os futuros feitos,
Que soberba a farâ a luzente mina Que pello mar, que ja deixais sabido,
Do metal, que a cor tem do louro Apolo, Virão fazer barões de fortes peitos:
Castella vossa amiga serà dina Agora, pois que tendes aprendido
De lançarlhe o colar ao rudo colo, Trabalhos, que vos fação ser aceitos
Varias prouincias tem de varias gentes Aas eternas esposas, e fermosas,
Em ritos e custumes differentes. Que coroas vos tecem gloriosas.
Mas Podeis
[183v] [184r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 184

[137] Verâs de fronte estar do roxo estreito [140] Mas ca onde mais se alarga, ali tereis
Socotorâ co amaro Aloe famosa, Parte tambem co pao vermelho nota,
Outras ilhas no mar tambem sogeito De Sancta Cruz o nome lhe poreis,
A vos, na costa de Affrica arenosa, Descobrila ha a primeira vossa frota:
Onde sae do cheiro mais perfeito Ao longo desta costa que tereis
A massa ao mundo occulta, e preciosa, Yrâ buscando a parte mais remota
De sam Lourenço ve a Ilha afamada, O Magalhães, no feito com verdade
Que Madagascar he dalguũs chamada. Portugues, porem não na lealdade.

[138] Eis aqui as nouas partes do Oriente, [141] Desque passar a via mais que mea,
Que vosoutros agora ao mundo dais, Que ao Antartico polo vay da linha,
Abrindo a porta ao vasto mar patente, Dhũa estatura quasi Gigantea
Que com tão forte peito nauegais: Homẽs verâ, da terra ali vizinha:
Mas he tambem razão, que no Ponente E mais auante o estreito, que se arrea
Dhum Lusitano hum feito inda vejais, Co nome delle agora, o qual caminha
Que de seu Rey mostrando se agrauado Pera outro mar, e terra que fica onde
Caminho ha de fazer nunca cuidado. Com suas frias asas o Austro a esconde.

[139] Vedes a grande terra que contina [142] Ate qui, Portugueses, concedido
Vay de Calisto ao seu contrario polo, Vos he saberdes os futuros feitos,
Que soberba a farâ a luzente mina Que pello mar, que ja deixais sabido,
Do metal, que a cor tem do louro Apolo, Virão fazer barões de fortes peitos:
Castella vossa amiga serà dina Agora, pois que tendes aprendido
De lançarlhe o colar ao rudo colo, Trabalhos, que vos fação ser aceitos
Varias prouincias tem de varias gentes Aas eternas esposas, e fermosas,
Em ritos e custumes differentes. Que coroas vos tecem gloriosas.
Mas Podeis
[184v] [185r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 185

[143] Podeis vos embarcar, que tendes vento [146] E não sey porque influxo de destino
E mar tranquilo pera a patria amada: Não tem hum ledo orgulho, e geral gosto,
Assi lhe disse, e logo mouimento Que os animos leuanta de contino,
Fazem da Ilha alegre, e namorada: A ter pera trabalhos ledo o rosto:
Leuão refresco, e nobre mantimento, Por isso vos ò Rey, que por diuino
Leuão a companhia desejada, Conselho estais no regio solio posto,
Das Nimphas que ham de ter eternamente, Olhay que sois (e vede as outras gentes)
Por mais tempo que o Sol o mundo aquente. Senhor so de vassallos excellentes.

[144] Assi forão cortando o mar sereno, [147] Olhay que ledos vão, por varias vias,
Com vento sempre manso, e nunca yrado, Quaes rompentes liões, e brauos touros,
Ate que ouuerão vista do terreno Dando os corpos a fomes, e vigias,
Em que nacerão, sempre desejado: A ferro, a fogo, a setas, e pilouros:
Entrarão pella foz do Tejo ameno, A quentes regiões, a plagas frias,
E a sua patria, e Rey temido e amado, A golpes de Idolatras, e de Mouros,
O premio e gloria dão, porque mandou A perigos incognitos domundo,
E com titolos nouos se illustrou. A naufragios, a pexes, ao profnndo:

[145] No mais Musa, no mais, que a Lira tenho [148] Por vos seruir a tudo aparelhados,
Destemperada, e a voz enrouquecida, De vos tam longe sempre obedientes,
E não do canto, mas de ver que venho A quaesquer vossos asperos mandados,
Cantar a gente surda, e endurecida: Sem dar reposta promptos e contentes,
O fauor com que mais se acende o engenho, So com saber que sam de vos olhados,
Não no dâ a patria não, que esta metida, Demonios infernais, negros e ardentes,
No gosto da cubiça, e na rudeza Cometerão conuosco, e não duuido
Dhũa austèra, apagada, e vil tristeza. Que vencedor vos fação, não vencido.
E não Fauoreceyos
[184v] [185r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 185

[143] Podeis vos embarcar, que tendes vento [146] E não sey porque influxo de destino
E mar tranquilo pera a patria amada: Não tem hum ledo orgulho, e geral gosto,
Assi lhe disse, e logo mouimento Que os animos leuanta de contino,
Fazem da Ilha alegre, e namorada: A ter pera trabalhos ledo o rosto:
Leuão refresco, e nobre mantimento, Por isso vos ò Rey, que por diuino
Leuão a companhia desejada, Conselho estais no regio solio posto,
Das Nimphas que ham de ter eternamente, Olhay que sois (e vede as outras gentes)
Por mais tempo que o Sol o mundo aquente. Senhor so de vassallos excellentes.

[144] Assi forão cortando o mar sereno, [147] Olhay que ledos vão, por varias vias,
Com vento sempre manso, e nunca yrado, Quaes rompentes liões, e brauos touros,
Ate que ouuerão vista do terreno Dando os corpos a fomes, e vigias,
Em que nacerão, sempre desejado: A ferro, a fogo, a setas, e pilouros:
Entrarão pella foz do Tejo ameno, A quentes regiões, a plagas frias,
E a sua patria, e Rey temido e amado, A golpes de Idolatras, e de Mouros,
O premio e gloria dão, porque mandou A perigos incognitos domundo,
E com titolos nouos se illustrou. A naufragios, a pexes, ao profnndo:

[145] No mais Musa, no mais, que a Lira tenho [148] Por vos seruir a tudo aparelhados,
Destemperada, e a voz enrouquecida, De vos tam longe sempre obedientes,
E não do canto, mas de ver que venho A quaesquer vossos asperos mandados,
Cantar a gente surda, e endurecida: Sem dar reposta promptos e contentes,
O fauor com que mais se acende o engenho, So com saber que sam de vos olhados,
Não no dâ a patria não, que esta metida, Demonios infernais, negros e ardentes,
No gosto da cubiça, e na rudeza Cometerão conuosco, e não duuido
Dhũa austèra, apagada, e vil tristeza. Que vencedor vos fação, não vencido.
E não Fauoreceyos
[185v] [186r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 186

[149] Fauoreceyos logo, e alegrayos [152] Fazey senhor que nunca os admirados
Com a presença, e leda humanidade, Alemães, Galos, Italos, e Ingleses
De rigurosas leis desaliuayos, Possam dizer que sam pera mandados,
Que assi se abre o caminho aa sanctidade: Mais que pera mandar os Portugueses:
Os mais esprimentados leuantayos, Tomay conselho so desprimentados,
Se com a esperiencia tem bondade, Que virão largos anos, largos meses,
Pera vosso conselho, pois que sabem Que posto que em cientes muito cabe,
O como, o quando, e onde as cousas cabem. Mais em particular o experto sabe.

[150] Todos fauorecei em seus officios, [153] De Phormião Philosopho elegante


Segundo tem das vidas o talento, Vereis como Anibal escarnecia,
Tenhão Religiosos exercicios Quando das artes bellicas diante
De rogarem por vosso regimento, Delle com larga voz trataua e lia:
Com jejuns, disciplina, pellos vicios A disciplina militar prestante
Comuns, toda ambição terão por vento, Não se aprende senhor na fantasia
Que o bom Religioso verdadeiro, Sonhando, imaginando, ou estudando,
Gloria vaã não pretende nem dinheiro. Se não vendo, tratando, e pelejando.

[151] Os Caualeiros tende em muita estima, [154] Mas eu que falo humilde, baxo, e rudo
Pois com seu sangue intrepido e feruente, De vos não conhecido, nem sonhado?
Estendem não somente a ley de cima, Da boca dos pequenos sey com tudo,
Mas inda vosso imperio preeminente: Que o louuor sae as vezes acabado,
Pois aquelles que a tão remoto clima Nem me falta na vida honesto estudo
Vos vão seruir com passo diligente, Com longa esperiencia misturado,
Dous inimigos vencem, hũs os viuos, Nem engenho, que aqui vereis prefente,
(E o que he mais) os trabalhos excessiuos. Cousas que juntas se achão raramente.
Fazey Pera
[185v] [186r]
OS LVSIADAS DE L. DE CA. CANTO DECIMO. 186

[149] Fauoreceyos logo, e alegrayos [152] Fazey senhor que nunca os admirados
Com a presença, e leda humanidade, Alemães, Galos, Italos, e Ingleses
De rigurosas leis desaliuayos, Possam dizer que sam pera mandados,
Que assi se abre o caminho aa sanctidade: Mais que pera mandar os Portugueses:
Os mais esprimentados leuantayos, Tomay conselho so desprimentados,
Se com a esperiencia tem bondade, Que virão largos anos, largos meses,
Pera vosso conselho, pois que sabem Que posto que em cientes muito cabe,
O como, o quando, e onde as cousas cabem. Mais em particular o experto sabe.

[150] Todos fauorecei em seus officios, [153] De Phormião Philosopho elegante


Segundo tem das vidas o talento, Vereis como Anibal escarnecia,
Tenhão Religiosos exercicios Quando das artes bellicas diante
De rogarem por vosso regimento, Delle com larga voz trataua e lia:
Com jejuns, disciplina, pellos vicios A disciplina militar prestante
Comuns, toda ambição terão por vento, Não se aprende senhor na fantasia
Que o bom Religioso verdadeiro, Sonhando, imaginando, ou estudando,
Gloria vaã não pretende nem dinheiro. Se não vendo, tratando, e pelejando.

[151] Os Caualeiros tende em muita estima, [154] Mas eu que falo humilde, baxo, e rudo
Pois com seu sangue intrepido e feruente, De vos não conhecido, nem sonhado?
Estendem não somente a ley de cima, Da boca dos pequenos sey com tudo,
Mas inda vosso imperio preeminente: Que o louuor sae as vezes acabado,
Pois aquelles que a tão remoto clima Nem me falta na vida honesto estudo
Vos vão seruir com passo diligente, Com longa esperiencia misturado,
Dous inimigos vencem, hũs os viuos, Nem engenho, que aqui vereis prefente,
(E o que he mais) os trabalhos excessiuos. Cousas que juntas se achão raramente.
Fazey Pera
[186v] Aparato positivo
OS LVSIADAS DE L. DE CA.

[155] Pera seruiruos braço aas armas feito, 2. 39. 6, D1v/f. 25v que to AP BDMII-377 BNE-R.14207
Pera cantaruos mente aas Musas dada, BNN BNP‑Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
So me falece ser a vos aceito, BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | quanto ACL
De quem virtude deue ser prezada:
Se me isto o ceo concede, e o vosso peito 3. 1. 7, E6r/f. 38r Leucothôe - Último tipo mal metido e/ou
Dina empresa tomar de ser cantada, mal tintado, legível em ACL AP BNE-R.14207 BNP-Cam2P
Como a presaga mente vaticina, BNP‑Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7
Olhando a vossa inclinação diuina.
3. 55. 7, F7r/f. 47r Escalabisco BNN BNP-Cam4P - Resultado
[156] Ou fazendo que mais que a de Medusa, de uma colagem cartácea com a palavra Escalabisco impressa que
A vista vossa tema o monte Atlante, recobre Scabelicastro.
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante, 3. 71. 7, G1v/f. 49v Bootes ACL AP BDMII-377 BNP‑Cam2P BNP-
A minha ja estimada e leda musa, Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | Beotes BNE-R.14207
Fico, que em todo o mundo de vos cante, BNN BNP-Cam4P BNP‑Cam11P UHarvard-P.5215.72.7.
De sorte que Alexandro em vos se veja,
Sem aa dita de Achiles ter enueja. 3. 73. 2, G2r/f. 50r Scitico ACL AP BDMII-377 BNP-Cam2P
BNP-Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7 | Scitco
FIM. BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P UCoimbra -
Segunda emenda introduzida na fôrma interna da folha exterior.
Verifica-se correspondência serial em todos os exemplares, à
excepção de UCoimbra e UHarvard-P.5215.72.7 (infra).

4. 39. 5, I4v/f. 68v sangue BNN - Resultado de uma colagem


cartácea com a palavra sangue impressa que recobre fogo.

4. 48. 6, I6r/f. 70r Africano BNN BNP-Cam4P | Afrinano ACL

389
[186v] Aparato positivo
OS LVSIADAS DE L. DE CA.

[155] Pera seruiruos braço aas armas feito, 2. 39. 6, D1v/f. 25v que to AP BDMII-377 BNE-R.14207
Pera cantaruos mente aas Musas dada, BNN BNP‑Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
So me falece ser a vos aceito, BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | quanto ACL
De quem virtude deue ser prezada:
Se me isto o ceo concede, e o vosso peito 3. 1. 7, E6r/f. 38r Leucothôe - Último tipo mal metido e/ou
Dina empresa tomar de ser cantada, mal tintado, legível em ACL AP BNE-R.14207 BNP-Cam2P
Como a presaga mente vaticina, BNP‑Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7
Olhando a vossa inclinação diuina.
3. 55. 7, F7r/f. 47r Escalabisco BNN BNP-Cam4P - Resultado
[156] Ou fazendo que mais que a de Medusa, de uma colagem cartácea com a palavra Escalabisco impressa que
A vista vossa tema o monte Atlante, recobre Scabelicastro.
Ou rompendo nos campos de Ampelusa
Os muros de Marrocos e Trudante, 3. 71. 7, G1v/f. 49v Bootes ACL AP BDMII-377 BNP‑Cam2P BNP-
A minha ja estimada e leda musa, Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | Beotes BNE-R.14207
Fico, que em todo o mundo de vos cante, BNN BNP-Cam4P BNP‑Cam11P UHarvard-P.5215.72.7.
De sorte que Alexandro em vos se veja,
Sem aa dita de Achiles ter enueja. 3. 73. 2, G2r/f. 50r Scitico ACL AP BDMII-377 BNP-Cam2P
BNP-Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7 | Scitco
FIM. BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P UCoimbra -
Segunda emenda introduzida na fôrma interna da folha exterior.
Verifica-se correspondência serial em todos os exemplares, à
excepção de UCoimbra e UHarvard-P.5215.72.7 (infra).

4. 39. 5, I4v/f. 68v sangue BNN - Resultado de uma colagem


cartácea com a palavra sangue impressa que recobre fogo.

4. 48. 6, I6r/f. 70r Africano BNN BNP-Cam4P | Afrinano ACL

389
AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam2P BNP‑Cam3P BNP‑ 5. 30. 1, L4v/f. 84v parceiros - Variantes de espaçamento entre os
Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 tipos, resultantes da montagem deficiente da fôrma.

4. 71. 2, K1v/f. 73v Parelle BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P 5. 53. 1, L8r/f. 88r impossibil ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P
BritL-C.30e34 BSMS | Por elle ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
BNP-Cam3P BNP-Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | impossiuel AP BNE-R.14207
- Considerando que K1v e K8r foram ambas batidas pela fôrma - Terceira emenda introduzida na fôrma interna da folha exterior
interna da folha exterior (infra), e tendo sido introduzida, em K8r, a (infra).
emenda Guido > Gnido, a lógica da produção serial atesta o sentido da
correcção introduzida em K1v: Parelle > Por elle. A variante Parelle é 5. 77. 3, M4r/f. 92r ygoalão ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
mais moderna, ao passo que a variante Por elle é mais conservadora. BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | ygoal BNN
Na princeps, a forma para é utilizada antes de pronome pessoal, por BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7
vezes com contracção, e de artigo indefinido: parelles 1. 12. 4, f. 3r; - Tipos sob pressão do esqueleto da fôrma, mal metidos ou
para si 1. 12. 8, f. 3r; Para hũa 4. 79. 2, f. 75r; para elle 9. 17. 8, f. 147v mal tintados.
(Dias 1916 Lusíadas: 2. 336).
5. 77. 6, M4r/f. 92r estende, ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
5. 5. 8, K8r/f. 80r Gnido BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | este BNN BNP-
BritL-C.30e34 BSMS | Guido ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7 - Tipos
BNP-Cam3P BNP-Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 - sob pressão do esqueleto da fôrma, mal metidos ou mal tintados.
Tipo trocado, muito provavelmente por empastelamento.
5. 95. 3, M7r/f. 95r aquelles - Variantes de espaçamento entre os
5. 12. 5, L1v/f. 81v O grande ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P tipos, resultantes da montagem deficiente da fôrma.
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Co grande AP BNE-R.14207 6. 40. 7, N7r/f. 103r poderemos ACL AP BSMS | paderemos
BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P
5. 17. 7, L2r/f. 82r Vem do mundo ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 UCoimbra
BNP‑Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7
BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Vendo
mundo AP BNE-R.14207 7. 26. 2, P5v/f.117v que ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BritL-G.11286 BSMS UCoimbra

390 391
AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam2P BNP‑Cam3P BNP‑ 5. 30. 1, L4v/f. 84v parceiros - Variantes de espaçamento entre os
Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 tipos, resultantes da montagem deficiente da fôrma.

4. 71. 2, K1v/f. 73v Parelle BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P 5. 53. 1, L8r/f. 88r impossibil ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P
BritL-C.30e34 BSMS | Por elle ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
BNP-Cam3P BNP-Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | impossiuel AP BNE-R.14207
- Considerando que K1v e K8r foram ambas batidas pela fôrma - Terceira emenda introduzida na fôrma interna da folha exterior
interna da folha exterior (infra), e tendo sido introduzida, em K8r, a (infra).
emenda Guido > Gnido, a lógica da produção serial atesta o sentido da
correcção introduzida em K1v: Parelle > Por elle. A variante Parelle é 5. 77. 3, M4r/f. 92r ygoalão ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
mais moderna, ao passo que a variante Por elle é mais conservadora. BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | ygoal BNN
Na princeps, a forma para é utilizada antes de pronome pessoal, por BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7
vezes com contracção, e de artigo indefinido: parelles 1. 12. 4, f. 3r; - Tipos sob pressão do esqueleto da fôrma, mal metidos ou
para si 1. 12. 8, f. 3r; Para hũa 4. 79. 2, f. 75r; para elle 9. 17. 8, f. 147v mal tintados.
(Dias 1916 Lusíadas: 2. 336).
5. 77. 6, M4r/f. 92r estende, ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
5. 5. 8, K8r/f. 80r Gnido BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | este BNN BNP-
BritL-C.30e34 BSMS | Guido ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7 - Tipos
BNP-Cam3P BNP-Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 - sob pressão do esqueleto da fôrma, mal metidos ou mal tintados.
Tipo trocado, muito provavelmente por empastelamento.
5. 95. 3, M7r/f. 95r aquelles - Variantes de espaçamento entre os
5. 12. 5, L1v/f. 81v O grande ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P tipos, resultantes da montagem deficiente da fôrma.
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Co grande AP BNE-R.14207 6. 40. 7, N7r/f. 103r poderemos ACL AP BSMS | paderemos
BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P
5. 17. 7, L2r/f. 82r Vem do mundo ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 UCoimbra
BNP‑Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7
BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Vendo
mundo AP BNE-R.14207 7. 26. 2, P5v/f.117v que ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BritL-G.11286 BSMS UCoimbra

390 391
UHarvard-P.5215.72.7 | qne BNN BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP- BNP-Cam11P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Cam11P - Tipo trocado, muito provavelmente por empastelamento.
10. 3. 1, X1r/f. 161r cadeiras ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
7. 82. 3, Q6v/f. 126v prezar AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7 | cvdeiras BNN
BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7 BNP‑Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
| prezas ACL BNP-Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra - UCoimbra
Substituição do tipo s pelo tipo r gera afogamento por falta de espaço.
10. 40. 2, X7r/f. 167r amãsando ACL AP BDMII-377
8. 2. 8, Q8r/f.128r Lusitania BDMII-377 BNN BNP‑Cam3P BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 UCoimbra BSMS UHarvard-P.5215.72.7 | amãsand BNP-Cam2P
UHarvard-P.5215.72.7 | Lusitana ACL AP BNE-R.14207 BNP‑Cam3P UCoimbra - Tipo sob pressão do esqueleto da fôrma,
BNP‑Cam2P BSMS mal metido ou mal tintado.

8. 33. 4, R5v/f. 133v leuauão ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 10. 59. 8, Y2v/f. 170v Cutiâle AP BDMII-377 BNE-R.14207
BritL-C.30e34 UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | leuão BNN BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BSMS | Cutîale ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL‑C.30e34
9. 17. 7, T3v/f. 147v tam ACL BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | 10. 72. 4, Y4v/f. 172v quadrupedante BNN BNP-Cam4P -
tom AP BDMII-377 BNE-R.14207 UHarvard-P.5215.72.7 Resultado de uma colagem cartácea com os caractéres qua impressos,
que recobre a primeira sílaba da palavra pradrupedante.
Foliação, V2r/f. 154r - 149 [145/9], com sobreimpressão do
algarismo 9 ao algarismo 5 AP BDMII-377 BNE-R.14207 10. 73. 5, Y4v/f. 172v Varrendo ACL BDMII-377 BNE-R.14207
BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
BritL-G.11286 BSMS UCoimbra | 145 ACL BNN BNP-Cam4P C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Barrendo AP
[riscado, leitura à transparência] | UHarvard-P.5215.72.7 ilegível,
com emenda ms. 10. 73. 8, Y4v/f. 172v hõras ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN
BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
9. 74. 1, V5r/f. 157r cão ACL BNP-Cam2P BritL-C.30e34 | tão C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | honras AP
AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P BNP-Cam4P

392 393
UHarvard-P.5215.72.7 | qne BNN BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP- BNP-Cam11P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Cam11P - Tipo trocado, muito provavelmente por empastelamento.
10. 3. 1, X1r/f. 161r cadeiras ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
7. 82. 3, Q6v/f. 126v prezar AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7 | cvdeiras BNN
BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P UHarvard-P.5215.72.7 BNP‑Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
| prezas ACL BNP-Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra - UCoimbra
Substituição do tipo s pelo tipo r gera afogamento por falta de espaço.
10. 40. 2, X7r/f. 167r amãsando ACL AP BDMII-377
8. 2. 8, Q8r/f.128r Lusitania BDMII-377 BNN BNP‑Cam3P BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 UCoimbra BSMS UHarvard-P.5215.72.7 | amãsand BNP-Cam2P
UHarvard-P.5215.72.7 | Lusitana ACL AP BNE-R.14207 BNP‑Cam3P UCoimbra - Tipo sob pressão do esqueleto da fôrma,
BNP‑Cam2P BSMS mal metido ou mal tintado.

8. 33. 4, R5v/f. 133v leuauão ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 10. 59. 8, Y2v/f. 170v Cutiâle AP BDMII-377 BNE-R.14207
BritL-C.30e34 UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | leuão BNN BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BSMS | Cutîale ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL‑C.30e34
9. 17. 7, T3v/f. 147v tam ACL BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra | 10. 72. 4, Y4v/f. 172v quadrupedante BNN BNP-Cam4P -
tom AP BDMII-377 BNE-R.14207 UHarvard-P.5215.72.7 Resultado de uma colagem cartácea com os caractéres qua impressos,
que recobre a primeira sílaba da palavra pradrupedante.
Foliação, V2r/f. 154r - 149 [145/9], com sobreimpressão do
algarismo 9 ao algarismo 5 AP BDMII-377 BNE-R.14207 10. 73. 5, Y4v/f. 172v Varrendo ACL BDMII-377 BNE-R.14207
BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
BritL-G.11286 BSMS UCoimbra | 145 ACL BNN BNP-Cam4P C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Barrendo AP
[riscado, leitura à transparência] | UHarvard-P.5215.72.7 ilegível,
com emenda ms. 10. 73. 8, Y4v/f. 172v hõras ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN
BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
9. 74. 1, V5r/f. 157r cão ACL BNP-Cam2P BritL-C.30e34 | tão C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | honras AP
AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P BNP-Cam4P

392 393
10. 73. 8, Y4v/f. 172v de arduas ACL BDMII-377 BNE-R.14207 10. 95. 3, Y8v/f. 176v Crocodilo AP BDMII-377 BNE-R.14207
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | darduas | Cocodrilo ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
AP - Substituição da contracção darduas por de arduas requer a grafia BritL‑C.30e34 - Considerando que Y2v Y7r Y8v foram batidas
õ, por falta de espaço. pela fôrma externa da folha exterior (infra), e tendo sido introduzidas
as emendas Y2v Cutîale > Cutiâle Y7r sojuzgado > sojugado | o outro
10. 76. 3, Y5r/f. 173r vã ACL BDMII-377 BNE-R.14207 > estoutro | Oriente > Orionte Y8v Goarda fu > Goardafû | Arquiro >
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P Arquico | Cuam quem > Suamquem, a lógica da produção serial atesta
BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | vaã AP o sentido da correcção introduzida em Y8v: Cocodrilo > Crocodilo.

10. 83. 7, Y6v/f. 174v guiando ACL BDMII-377 BNE-R.14207 10. 97. 2, Y8v/f. 176v Goardafû AP BDMII-377 BNE-R.14207
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | quando | Goarda fu ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
AP - Quinta emenda introduzida na fôrma externa da folha BritL‑C.30e34
interior (infra).
10. 97. 8, Y8v/f. 176v Arquico AP BDMII-377 BNE-R.14207
10. 86. 6, Y7r/f. 175r sojugado AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | sojuzgado | Arquiro ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34 - BritL‑C.30e34
Remoção do tipo z leva à diminuição do comprimento do verso.
10. 97. 8, Y8v/f. 176v Suamquem AP BDMII-377 BNE-R.14207
10. 87. 1, Y7r/f. 175r estoutro AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | o outro | Cuam quem ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34 BritL-C.30e34 - Oitava emenda introduzida na fôrma externa da
folha exterior (infra).
10. 88. 6, Y7r/f. 175r Orionte AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN
BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Oriente 10. 148. 3, Z9r/f. 185r quaesquer ACL AP BNE-R.14207 BNN
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34 BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BritL-C.30e34 BSMS
- Terceira variante de estado tipográfico numa página em que se UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | quaesqner BDMII-377 - Tipo
verifica uma anomalia de rima, horrẽdo:turbulento (10. 88. 4:6). trocado, muito provavelmente por empastelamento.

394 395
10. 73. 8, Y4v/f. 172v de arduas ACL BDMII-377 BNE-R.14207 10. 95. 3, Y8v/f. 176v Crocodilo AP BDMII-377 BNE-R.14207
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | darduas | Cocodrilo ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
AP - Substituição da contracção darduas por de arduas requer a grafia BritL‑C.30e34 - Considerando que Y2v Y7r Y8v foram batidas
õ, por falta de espaço. pela fôrma externa da folha exterior (infra), e tendo sido introduzidas
as emendas Y2v Cutîale > Cutiâle Y7r sojuzgado > sojugado | o outro
10. 76. 3, Y5r/f. 173r vã ACL BDMII-377 BNE-R.14207 > estoutro | Oriente > Orionte Y8v Goarda fu > Goardafû | Arquiro >
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P Arquico | Cuam quem > Suamquem, a lógica da produção serial atesta
BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | vaã AP o sentido da correcção introduzida em Y8v: Cocodrilo > Crocodilo.

10. 83. 7, Y6v/f. 174v guiando ACL BDMII-377 BNE-R.14207 10. 97. 2, Y8v/f. 176v Goardafû AP BDMII-377 BNE-R.14207
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | quando | Goarda fu ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
AP - Quinta emenda introduzida na fôrma externa da folha BritL‑C.30e34
interior (infra).
10. 97. 8, Y8v/f. 176v Arquico AP BDMII-377 BNE-R.14207
10. 86. 6, Y7r/f. 175r sojugado AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | sojuzgado | Arquiro ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34 - BritL‑C.30e34
Remoção do tipo z leva à diminuição do comprimento do verso.
10. 97. 8, Y8v/f. 176v Suamquem AP BDMII-377 BNE-R.14207
10. 87. 1, Y7r/f. 175r estoutro AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNN BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | o outro | Cuam quem ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34 BritL-C.30e34 - Oitava emenda introduzida na fôrma externa da
folha exterior (infra).
10. 88. 6, Y7r/f. 175r Orionte AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN
BNP-Cam3P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | Oriente 10. 148. 3, Z9r/f. 185r quaesquer ACL AP BNE-R.14207 BNN
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL‑C.30e34 BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BritL-C.30e34 BSMS
- Terceira variante de estado tipográfico numa página em que se UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 | quaesqner BDMII-377 - Tipo
verifica uma anomalia de rima, horrẽdo:turbulento (10. 88. 4:6). trocado, muito provavelmente por empastelamento.

394 395
Nota Z9r/f. 185r Fôrma externa da folha exterior (fascículo com
cinco folhas conjuntas)

As variantes de estado tipográfico presentes nos 17 exemplares 2. Emendas introduzidas em mais do que uma página da mesma
ou partes de exemplares objecto de cotejo devem-se, como face da fôrma. Encontram-se em:
habitualmente acontece, quer a erros mecânicos ocorridos ao longo
do processo de impressão, quer à introdução de emendas pelo G1v/f. 49v Fôrma interna da folha exterior
tipógrafo. As variantes envolvem 24 páginas (ao que se acrescenta G2r/f. 50r Fôrma interna da folha exterior
a foliação de V2r/f. 154r, que poderia ter implicado ou não uma
paragem da prensa; supra iii. ii). K1v/f. 73v Fôrma interna da folha exterior
A análise orgânica das correcções, em função da folha de caderno K8r/f. 80r Fôrma interna da folha exterior
e da face da fôrma onde se registam, permite obter informação mais
detalhada acerca do processo de produção. L1v/f. 81v Fôrma interna da folha exterior
Nesse sentido, divido as emendas em dois grupos, tomando como L2r/f. 82r Fôrma interna da folha exterior
parâmetro o posicionamento da folha de fascículo na face da fôrma L8r/f. 88r Fôrma interna da folha exterior
implicada. Assim:
Y2v/f. 170v Fôrma externa da folha exterior
1. Emendas introduzidas numa única página de uma mesma face Y7r/f. 175r Fôrma externa da folha exterior
da fôrma. Encontram-se em: Y8v/f. 176v Fôrma externa da folha exterior

D1v/f. 25v Fôrma interna da folha exterior Y4v/f. 172v Fôrma externa da folha interior
I6r/f. 70r Fôrma interna da folha interior Y5r/f. 173r Fôrma externa da folha interior
N7r/f. 103r Fôrma externa da folha exterior Y6v/f. 174v Fôrma externa da folha interior
P5v/f.117v Fôrma interna da folha interior
Q6v/f. 126v Fôrma externa da folha interior A introdução de emendas em páginas dispostas na mesma face
Q8r/f. 128r Fôrma interna da folha exterior de uma mesma fôrma articula-se com a geometria da imposição
R5v/f. 133v Fôrma interna da folha interior e corrobora um princípio de economia organizativa do trabalho
T3v/f. 147v Fôrma interna da folha interior tipográfico. Com uma única paragem da prensa, puderam ser
V5r/f. 157r Fôrma externa da folha interior simultaneamente introduzidas várias correcções. Assim aconteceu
X1r/f. 161r Fôrma externa da folha exterior com fôrmas dos cadernos G K L Y (duas fôrmas).

396 397
Nota Z9r/f. 185r Fôrma externa da folha exterior (fascículo com
cinco folhas conjuntas)

As variantes de estado tipográfico presentes nos 17 exemplares 2. Emendas introduzidas em mais do que uma página da mesma
ou partes de exemplares objecto de cotejo devem-se, como face da fôrma. Encontram-se em:
habitualmente acontece, quer a erros mecânicos ocorridos ao longo
do processo de impressão, quer à introdução de emendas pelo G1v/f. 49v Fôrma interna da folha exterior
tipógrafo. As variantes envolvem 24 páginas (ao que se acrescenta G2r/f. 50r Fôrma interna da folha exterior
a foliação de V2r/f. 154r, que poderia ter implicado ou não uma
paragem da prensa; supra iii. ii). K1v/f. 73v Fôrma interna da folha exterior
A análise orgânica das correcções, em função da folha de caderno K8r/f. 80r Fôrma interna da folha exterior
e da face da fôrma onde se registam, permite obter informação mais
detalhada acerca do processo de produção. L1v/f. 81v Fôrma interna da folha exterior
Nesse sentido, divido as emendas em dois grupos, tomando como L2r/f. 82r Fôrma interna da folha exterior
parâmetro o posicionamento da folha de fascículo na face da fôrma L8r/f. 88r Fôrma interna da folha exterior
implicada. Assim:
Y2v/f. 170v Fôrma externa da folha exterior
1. Emendas introduzidas numa única página de uma mesma face Y7r/f. 175r Fôrma externa da folha exterior
da fôrma. Encontram-se em: Y8v/f. 176v Fôrma externa da folha exterior

D1v/f. 25v Fôrma interna da folha exterior Y4v/f. 172v Fôrma externa da folha interior
I6r/f. 70r Fôrma interna da folha interior Y5r/f. 173r Fôrma externa da folha interior
N7r/f. 103r Fôrma externa da folha exterior Y6v/f. 174v Fôrma externa da folha interior
P5v/f.117v Fôrma interna da folha interior
Q6v/f. 126v Fôrma externa da folha interior A introdução de emendas em páginas dispostas na mesma face
Q8r/f. 128r Fôrma interna da folha exterior de uma mesma fôrma articula-se com a geometria da imposição
R5v/f. 133v Fôrma interna da folha interior e corrobora um princípio de economia organizativa do trabalho
T3v/f. 147v Fôrma interna da folha interior tipográfico. Com uma única paragem da prensa, puderam ser
V5r/f. 157r Fôrma externa da folha interior simultaneamente introduzidas várias correcções. Assim aconteceu
X1r/f. 161r Fôrma externa da folha exterior com fôrmas dos cadernos G K L Y (duas fôrmas).

396 397
As variantes de estado tipográfico relativas às correcções de uma UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
mesma face da fôrma organizam-se com perfeita coerência textual Vendo mundo AP BNE-R.14207
e técnica, na decorrência da geometria da imposição. Verificam-se
dois conjuntos seriais de variantes, que correspondem a duas fases da impossibil ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P
produção tipográfica. Para uma mesma face da fôrma, os exemplares BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra
que contêm o mesmo estado de todas as variantes equivalem-se. UHarvard-P.5215.72.7
Um conjunto fixo de especímenes apresenta as mesmas variantes impossiuel AP BNE-R.14207
por fôrma. Assim:

Caderno Y | Fôrma externa da folha exterior


Caderno K | Fôrma interna da folha exterior
Cutiâle AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
Parelle BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P BritL-C.30e34 BSMS BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Por elle ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP- Cutîale ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 C.30e34

Gnido BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P BritL-C.30e34 BSMS sojugado AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
Guido ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP- BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 sojuzgado ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
C.30e34

Caderno L | Fôrma interna da folha exterior estoutro AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
O grande ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P o outro ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra C.30e34
UHarvard-P.5215.72.7
Co grande AP BNE-R.14207 Orionte AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Vem do mundo ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P BNP- Oriente ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS C.30e34

398 399
As variantes de estado tipográfico relativas às correcções de uma UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
mesma face da fôrma organizam-se com perfeita coerência textual Vendo mundo AP BNE-R.14207
e técnica, na decorrência da geometria da imposição. Verificam-se
dois conjuntos seriais de variantes, que correspondem a duas fases da impossibil ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P
produção tipográfica. Para uma mesma face da fôrma, os exemplares BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra
que contêm o mesmo estado de todas as variantes equivalem-se. UHarvard-P.5215.72.7
Um conjunto fixo de especímenes apresenta as mesmas variantes impossiuel AP BNE-R.14207
por fôrma. Assim:

Caderno Y | Fôrma externa da folha exterior


Caderno K | Fôrma interna da folha exterior
Cutiâle AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
Parelle BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P BritL-C.30e34 BSMS BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Por elle ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP- Cutîale ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 C.30e34

Gnido BNN BNP-Cam2P BNP-Cam4P BritL-C.30e34 BSMS sojugado AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
Guido ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP- BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Cam11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 sojuzgado ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
C.30e34

Caderno L | Fôrma interna da folha exterior estoutro AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
O grande ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P o outro ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra C.30e34
UHarvard-P.5215.72.7
Co grande AP BNE-R.14207 Orionte AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Vem do mundo ACL BDMII-377 BNN BNP-Cam2P BNP- Oriente ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-
Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS C.30e34

398 399
Crocodilo AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 honras AP
Cocodrilo ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL‑C.30e34 de arduas ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
Goardafû AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 darduas AP
Goarda fu ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL-C.30e34 vã ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P
BNP‑Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
Arquico AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 vaã AP
Arquiro ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL‑C.30e34 guiando ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
Suamquem AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 quando AP
Cuam quem ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL-C.30e34 Referência à parte merece a fôrma interna da folha exterior do
caderno G.

Caderno Y | Fôrma externa da folha interior Bootes ACL AP BDMII-377 BNP-Cam2P BNP-Cam3P
BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra
Varrendo ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P Beotes BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7
UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Barrendo AP Scitico ACL AP BDMII-377 BNP-Cam2P BNP-Cam3P
BritL‑C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7
hõras ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P Scitco BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra

400 401
Crocodilo AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 honras AP
Cocodrilo ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL‑C.30e34 de arduas ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
Goardafû AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 darduas AP
Goarda fu ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL-C.30e34 vã ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P
BNP‑Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
Arquico AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 vaã AP
Arquiro ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL‑C.30e34 guiando ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS
Suamquem AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 quando AP
Cuam quem ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BritL-C.30e34 Referência à parte merece a fôrma interna da folha exterior do
caderno G.

Caderno Y | Fôrma externa da folha interior Bootes ACL AP BDMII-377 BNP-Cam2P BNP-Cam3P
BritL‑C.30e34 BSMS UCoimbra
Varrendo ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P Beotes BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7
UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
Barrendo AP Scitico ACL AP BDMII-377 BNP-Cam2P BNP-Cam3P
BritL‑C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7
hõras ACL BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P Scitco BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P
BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra

400 401
No seio de um conjunto substancial de exemplares que documenta prensa para introdução de emendas em cerca de 17% das fôrmas
a lógica serial das emendas, dois apresentam uma configuração a montadas.
latere, UCoimbra e UHarvard-P.5215.72.7 (supra iii. 23, UCoimbra, Uma paragem da prensa era uma operação laboriosa e que requeria
UHarvard-P.5215.72.7). A explicação reside na muito provável tempo, pelo que irremediavelmente gerava atrasos no trabalho de
ausência de uma ligação material entre as páginas G1v e G2r desses impressão. Ora, tendo sido a laboração suspensa, poderiam ter sido
especímenes, relativamente à fase de produção. De acordo com a inseridas outras emendas na mesma fôrma, a fim de melhorar o
geometria da imposição, essas páginas integram-se na mesma face texto do poema. Não há sinais, porém, de que a oportunidade
da mesma fôrma, sendo por isso batidas sobre a mesma folha de tivesse sido sistematicamente aproveitada para esse fim.
impressão. Contudo, terá sido efectuada uma interpolação. Indicia-o Considerando a fase do processo de impressão em que um lapso
a observação do papel dessas folhas de caderno, na medida em que foi identificado e corrigido, perante os dados cotejados, há três
as suas características materiais acusam diferenças incompatíveis situações a considerar para uma mesma emenda.
com a uniformidade própria de uma folha de impressão. A fim de
completar os exemplares, ter-se-á recorrido a folhas que, embora 1. O número de folhas em que o lapso não foi corrigido é muito
igualmente pertencentes à princeps, se integram num estado de inferior ao número de folhas em que o foi. A sua identificação ocorreu,
produção tipográfica distinto. pois, imediatamente, motivo pelo qual os lapsos se encontram num
Passando ao modo como se procedeu à introdução de emendas, número contido de exemplares cotejados. Assinalem-se:
feito o cômputo geral, realizaram-se 16 paragens da prensa, para — quanto 2. 39. 6, D1v/f. 25v - ACL
fôrmas dos cadernos D G I K L N P Q (duas vezes) R T V X Y — Co grande 5. 12. 5, L1v/f. 81v; Vem do mundo 5. 17. 7, L2r/f.
(duas vezes) Z. Há a salvaguardar a hipótese de que tivessem sido 82r; impossibil 5. 53. 1, L8r/f. 88r - AP BNE-R.14207
introduzidas outras emendas em exemplares irremediavelmente — Barrendo 10. 73. 5, Y4v/f. 172v; honras 10. 73. 8, Y4v/f. 172v;
perdidos, ou de que novas emendas venham a ser identificadas darduas 10. 73. 8, Y4v/f. 172v; vaã 10. 76. 3, Y5r/f. 173r; quando 10.
através do cotejo de outros especímenes. 83. 7, Y6v/f. 174v - AP
A obra possui, no seu todo, 188 folhas, o que requereu a montagem
de 88 fôrmas singulares para os cadernos de A a Y, quatro fôrmas 2. A proporção entre o número de folhas em que o lapso não
singulares para o caderno Z, restando a impressão de mais uma foi corrigido e o número de folhas em que o foi é semelhante. Por
folha conjunta, e havendo ainda a adicionar a impressão do duerno exemplo:
inicial. Essas duas folhas conjuntas, ou seja, a folha do caderno Z e — leuão BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P
a do duerno inicial, poderiam ter sido impressas num mesmo par BNP‑Cam11P BSMS | leuauão ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
de fôrmas, mas não há indícios de que assim se tivesse procedido. BritL-C.30e34 UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 - 8. 33. 4,
De qualquer modo, daqui resulta ter sido operada uma paragem da R5v/f. 133v

402 403
No seio de um conjunto substancial de exemplares que documenta prensa para introdução de emendas em cerca de 17% das fôrmas
a lógica serial das emendas, dois apresentam uma configuração a montadas.
latere, UCoimbra e UHarvard-P.5215.72.7 (supra iii. 23, UCoimbra, Uma paragem da prensa era uma operação laboriosa e que requeria
UHarvard-P.5215.72.7). A explicação reside na muito provável tempo, pelo que irremediavelmente gerava atrasos no trabalho de
ausência de uma ligação material entre as páginas G1v e G2r desses impressão. Ora, tendo sido a laboração suspensa, poderiam ter sido
especímenes, relativamente à fase de produção. De acordo com a inseridas outras emendas na mesma fôrma, a fim de melhorar o
geometria da imposição, essas páginas integram-se na mesma face texto do poema. Não há sinais, porém, de que a oportunidade
da mesma fôrma, sendo por isso batidas sobre a mesma folha de tivesse sido sistematicamente aproveitada para esse fim.
impressão. Contudo, terá sido efectuada uma interpolação. Indicia-o Considerando a fase do processo de impressão em que um lapso
a observação do papel dessas folhas de caderno, na medida em que foi identificado e corrigido, perante os dados cotejados, há três
as suas características materiais acusam diferenças incompatíveis situações a considerar para uma mesma emenda.
com a uniformidade própria de uma folha de impressão. A fim de
completar os exemplares, ter-se-á recorrido a folhas que, embora 1. O número de folhas em que o lapso não foi corrigido é muito
igualmente pertencentes à princeps, se integram num estado de inferior ao número de folhas em que o foi. A sua identificação ocorreu,
produção tipográfica distinto. pois, imediatamente, motivo pelo qual os lapsos se encontram num
Passando ao modo como se procedeu à introdução de emendas, número contido de exemplares cotejados. Assinalem-se:
feito o cômputo geral, realizaram-se 16 paragens da prensa, para — quanto 2. 39. 6, D1v/f. 25v - ACL
fôrmas dos cadernos D G I K L N P Q (duas vezes) R T V X Y — Co grande 5. 12. 5, L1v/f. 81v; Vem do mundo 5. 17. 7, L2r/f.
(duas vezes) Z. Há a salvaguardar a hipótese de que tivessem sido 82r; impossibil 5. 53. 1, L8r/f. 88r - AP BNE-R.14207
introduzidas outras emendas em exemplares irremediavelmente — Barrendo 10. 73. 5, Y4v/f. 172v; honras 10. 73. 8, Y4v/f. 172v;
perdidos, ou de que novas emendas venham a ser identificadas darduas 10. 73. 8, Y4v/f. 172v; vaã 10. 76. 3, Y5r/f. 173r; quando 10.
através do cotejo de outros especímenes. 83. 7, Y6v/f. 174v - AP
A obra possui, no seu todo, 188 folhas, o que requereu a montagem
de 88 fôrmas singulares para os cadernos de A a Y, quatro fôrmas 2. A proporção entre o número de folhas em que o lapso não
singulares para o caderno Z, restando a impressão de mais uma foi corrigido e o número de folhas em que o foi é semelhante. Por
folha conjunta, e havendo ainda a adicionar a impressão do duerno exemplo:
inicial. Essas duas folhas conjuntas, ou seja, a folha do caderno Z e — leuão BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P
a do duerno inicial, poderiam ter sido impressas num mesmo par BNP‑Cam11P BSMS | leuauão ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207
de fôrmas, mas não há indícios de que assim se tivesse procedido. BritL-C.30e34 UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7 - 8. 33. 4,
De qualquer modo, daqui resulta ter sido operada uma paragem da R5v/f. 133v

402 403
— cvdeiras BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P variantes de estado tipográfico, com identificação da fôrma que
BNP‑Cam11P UCoimbra | cadeiras ACL AP BDMII-377 bateu as páginas implicadas, permite estabelecê-lo com rigor.
BNE-R.14207 BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7 - 10. Das folhas com variantes da princeps de Os Lusíadas, o poema
3. 1, X1r/f. 161r do vate que é celebrado no dia de Portugal e das Comunidades,
António Gonçalves começou por imprimir as seguintes:
3. O número de folhas em que o lapso foi corrigido é muito
inferior ao número de folhas em que o não foi. Quando o erro foi Caderno D - Fôrma interna da folha exterior
emendado, já a impressão se encontraria numa fase avançada. O D1v D2r D7v D8r
número de exemplares em que a correcção foi introduzida na folha, ACL
em proporção, afigura-se reduzido:
— Africano 4. 48. 6, I6r/f. 70r - BNN BNP-Cam4P Caderno G - Fôrma interna da folha exterior
— poderemos 6. 40. 7, N7r/f. 103r - ACL AP BSMS G1v G2r G7v G8r
— cão 9. 74. 1, V5r/f. 157r - ACL BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P
O não aproveitamento das paragens da prensa para o
aperfeiçoamento do texto e a recognição tardia de lapsos, com as Caderno I - Fôrma interna da folha interior
flutuações de procedimento que lhe andam associadas, atestam a I3v I4r I5v I6r
falta de método no trabalho de impressão. ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam2P BNP‑Cam3P
Além disso, considere-se que, segundo Gaskell, cerca de 3% da BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
quantidade do papel reservado para uma obra era de desperdício,
sendo despendido em provas da prensa, folhas com erros inutilizadas, Caderno K- Fôrma interna da folha exterior
etc. (Gaskell 1995: 124). O aproveitamento, na princeps de Os K1v K2r K7v K8r
Lusíadas, de tantas folhas com emendas por corrigir indicia que essa ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP‑Cam
margem de manobra seria bastante contida, o que levou à utilização 11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
de folhas nas quais foram identificados erros.
Por conseguinte, a desorganização da revisão e a escassez dos Caderno L - Fôrma interna da folha exterior
recursos materiais investidos convive com o rigor com que um L1v L2r L7v L8r
outro plano da produção foi programado, a imposição. AP BNE-R.14207
Finalmente, e para terminar, hierarquizam-se, em termos
relativos, as folhas de impressão que primeiro saíram da prensa, em Caderno N Fôrma externa da folha exterior
função dos exemplares a que actualmente pertencem. O cotejo das N1r N2v N7r N8v

404 405
— cvdeiras BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P variantes de estado tipográfico, com identificação da fôrma que
BNP‑Cam11P UCoimbra | cadeiras ACL AP BDMII-377 bateu as páginas implicadas, permite estabelecê-lo com rigor.
BNE-R.14207 BritL-C.30e34 BSMS UHarvard-P.5215.72.7 - 10. Das folhas com variantes da princeps de Os Lusíadas, o poema
3. 1, X1r/f. 161r do vate que é celebrado no dia de Portugal e das Comunidades,
António Gonçalves começou por imprimir as seguintes:
3. O número de folhas em que o lapso foi corrigido é muito
inferior ao número de folhas em que o não foi. Quando o erro foi Caderno D - Fôrma interna da folha exterior
emendado, já a impressão se encontraria numa fase avançada. O D1v D2r D7v D8r
número de exemplares em que a correcção foi introduzida na folha, ACL
em proporção, afigura-se reduzido:
— Africano 4. 48. 6, I6r/f. 70r - BNN BNP-Cam4P Caderno G - Fôrma interna da folha exterior
— poderemos 6. 40. 7, N7r/f. 103r - ACL AP BSMS G1v G2r G7v G8r
— cão 9. 74. 1, V5r/f. 157r - ACL BNP-Cam2P BritL-C.30e34 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam4P BNP-Cam11P
O não aproveitamento das paragens da prensa para o
aperfeiçoamento do texto e a recognição tardia de lapsos, com as Caderno I - Fôrma interna da folha interior
flutuações de procedimento que lhe andam associadas, atestam a I3v I4r I5v I6r
falta de método no trabalho de impressão. ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam2P BNP‑Cam3P
Além disso, considere-se que, segundo Gaskell, cerca de 3% da BNP-Cam11P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
quantidade do papel reservado para uma obra era de desperdício,
sendo despendido em provas da prensa, folhas com erros inutilizadas, Caderno K- Fôrma interna da folha exterior
etc. (Gaskell 1995: 124). O aproveitamento, na princeps de Os K1v K2r K7v K8r
Lusíadas, de tantas folhas com emendas por corrigir indicia que essa ACL AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNP-Cam3P BNP‑Cam
margem de manobra seria bastante contida, o que levou à utilização 11P UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7
de folhas nas quais foram identificados erros.
Por conseguinte, a desorganização da revisão e a escassez dos Caderno L - Fôrma interna da folha exterior
recursos materiais investidos convive com o rigor com que um L1v L2r L7v L8r
outro plano da produção foi programado, a imposição. AP BNE-R.14207
Finalmente, e para terminar, hierarquizam-se, em termos
relativos, as folhas de impressão que primeiro saíram da prensa, em Caderno N Fôrma externa da folha exterior
função dos exemplares a que actualmente pertencem. O cotejo das N1r N2v N7r N8v

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BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P BNP‑Cam3P Caderno X Fôrma externa da folha exterior
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 UCoimbra X1r X2v X7r X8v
UHarvard-P.5215.72.7 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
UCoimbra
Caderno P Fôrma interna da folha interior
P3v P4r P5v P6r Caderno Y Fôrma externa da folha exterior
BNN BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P Y1r Y2v Y7r Y8v
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34
Caderno Q Fôrma externa da folha interior
Q3r Q4v Q5r Q6v Caderno Y Fôrma externa da folha interior
ACL BNP-Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra Y3r Y4v Y5r Y6v
AP
Caderno Q Fôrma interna da folha exterior
Q1v Q2r Q7v Q8r Caderno Z Fôrma externa da folha exterior
ACL AP BNE-R.14207 BNP-Cam2P BSMS Z1r Z2v Z9r Z10v
BDMII-377
Caderno R Fôrma interna da folha interior
R3v R4r R5v R6r
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP‑Cam
11P BSMS

Caderno T Fôrma interna da folha interior


T3v T4r T5v T6r
AP BDMII-377 BNE-R.14207 UHarvard-P.5215.72.7

Caderno V Fôrma externa da folha interior


V3r V4v V5r V6v
AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P BNP‑Cam
4P BNP-Cam11P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7

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BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam2P BNP‑Cam3P Caderno X Fôrma externa da folha exterior
BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34 UCoimbra X1r X2v X7r X8v
UHarvard-P.5215.72.7 BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P
UCoimbra
Caderno P Fôrma interna da folha interior
P3v P4r P5v P6r Caderno Y Fôrma externa da folha exterior
BNN BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP-Cam11P Y1r Y2v Y7r Y8v
ACL BNP-Cam2P BNP-Cam4P BNP-Cam11P BritL-C.30e34
Caderno Q Fôrma externa da folha interior
Q3r Q4v Q5r Q6v Caderno Y Fôrma externa da folha interior
ACL BNP-Cam3P BritL-C.30e34 BSMS UCoimbra Y3r Y4v Y5r Y6v
AP
Caderno Q Fôrma interna da folha exterior
Q1v Q2r Q7v Q8r Caderno Z Fôrma externa da folha exterior
ACL AP BNE-R.14207 BNP-Cam2P BSMS Z1r Z2v Z9r Z10v
BDMII-377
Caderno R Fôrma interna da folha interior
R3v R4r R5v R6r
BNN BNP-Cam2P BNP-Cam3P BNP-Cam4P BNP‑Cam
11P BSMS

Caderno T Fôrma interna da folha interior


T3v T4r T5v T6r
AP BDMII-377 BNE-R.14207 UHarvard-P.5215.72.7

Caderno V Fôrma externa da folha interior


V3r V4v V5r V6v
AP BDMII-377 BNE-R.14207 BNN BNP-Cam3P BNP‑Cam
4P BNP-Cam11P BSMS UCoimbra UHarvard-P.5215.72.7

406 407
V

BIBLIOGRAFIA

408
V

BIBLIOGRAFIA

408
1. Siglas e modalidades de acesso aos exemplares de: OS /
LVSIADAS / de Luis de Ca-/moẽs. / COM PRIVILEGIO /
REAL. / Impressos em Lisboa, com licença da / sancta Inquisição, e do
Ordina-/rio : em casa de Antonio / Gõçaluez Impressor. / 1572.

ACL = Academia das Ciências de Lisboa, Cofre 1-27


De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

AP = Biblioteca do Ateneu Comercial do Porto


De visu; fac-símile AP 2009 Lusíadas.

BBBosch = Brasilien Bibliothek der Robert Bosch, Stuttgart


Cópia digital Jackson 2003 (falta).

BDMII-377 = Biblioteca D. Manuel II do Paço Ducal de Vila


Viçosa, Fundação da Casa de Bragança, 377-C.
De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens,
irregularidades, falta).

BDMII-378 = Biblioteca D. Manuel II do Paço Ducal de Vila


Viçosa, Fundação da Casa de Bragança, 378-C.
De visu; fac-símile Comissão da Academia das Ciências de Lisboa
1982 Lusíadas; cópia digital, Jackson 2003 (irregularidades, faltas).

BNE-R.14207 = Biblioteca Nacional de España, R 14207


De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

BNE-R.14208 = Biblioteca Nacional de España, R 14208


De visu; cópia digital Jackson 2003; em linha (repetição de imagens,
irregularidades, faltas): Biblioteca Digital Hispánica, com a cota R.14207.

411
1. Siglas e modalidades de acesso aos exemplares de: OS /
LVSIADAS / de Luis de Ca-/moẽs. / COM PRIVILEGIO /
REAL. / Impressos em Lisboa, com licença da / sancta Inquisição, e do
Ordina-/rio : em casa de Antonio / Gõçaluez Impressor. / 1572.

ACL = Academia das Ciências de Lisboa, Cofre 1-27


De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

AP = Biblioteca do Ateneu Comercial do Porto


De visu; fac-símile AP 2009 Lusíadas.

BBBosch = Brasilien Bibliothek der Robert Bosch, Stuttgart


Cópia digital Jackson 2003 (falta).

BDMII-377 = Biblioteca D. Manuel II do Paço Ducal de Vila


Viçosa, Fundação da Casa de Bragança, 377-C.
De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens,
irregularidades, falta).

BDMII-378 = Biblioteca D. Manuel II do Paço Ducal de Vila


Viçosa, Fundação da Casa de Bragança, 378-C.
De visu; fac-símile Comissão da Academia das Ciências de Lisboa
1982 Lusíadas; cópia digital, Jackson 2003 (irregularidades, faltas).

BNE-R.14207 = Biblioteca Nacional de España, R 14207


De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

BNE-R.14208 = Biblioteca Nacional de España, R 14208


De visu; cópia digital Jackson 2003; em linha (repetição de imagens,
irregularidades, faltas): Biblioteca Digital Hispánica, com a cota R.14207.

411
BNF-R.P.Yg.38 = Bibliothèque Nationale de France, Réserve BNRJ-C.2.29A = Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Cofre
P. Yg 38 2.29A (ex. 2, registo 633.602)
Em linha: Gallica. Cópia digital Jackson 2003 (irregularidades, faltas); em linha:
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
BNF-R.Yg.74 = Bibliothèque Nationale de France, Réserve Yg 74
Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens, faltas). Bodmer-Ee/S = Fondation Bodmer, Genève, Portug. Litt. T.
IV (Ee/S)
BNN = Biblioteca Nazionale di Napoli Vittorio Emanuele III, Cópia digital, acesso de visu não autorizado.
S. Q. XXIV G 31
De visu; cópia digital Jackson 2003 (faltas). Bodmer-E/D = Fondation Bodmer, Genève, Portug. Litt. T.
IV (E/D)
BNP-Cam1P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 1 P. Cópia digital, acesso de visu não autorizado.
De visu; cópia digital Jackson 2003 (incompleta); em linha:
Biblioteca Nacional Digital. BritL-C.30e34 = British Library, C.30.E.34
De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens,
BNP-Cam2P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 2 P. irregularidades, faltas).
De visu; cópia digital Jackson 2003 (faltas).
BritL-G.11285 = British Library, G.11285
BNP-Cam3P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 3 P. De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).
De visu; fac-símile Comissão da Academia das Ciências de Lisboa
1982 Lusíadas; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens); BritL-G.11286 = British Library, G.11286
em linha: Biblioteca Nacional Digital. De visu; cópia digital Jackson 2003 (faltas).

BNP-Cam4P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 4 P. BSMS = Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães,
De visu; cópia digital Jackson 2003 (irregularidades). N.º 05 Quota: CF-2
De visu; fac-símile Silva 2004 Lusíadas; em linha: Sociedade
BNP-Cam11P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 11 P. Martins Sarmento.
De visu.

412 413
BNF-R.P.Yg.38 = Bibliothèque Nationale de France, Réserve BNRJ-C.2.29A = Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, Cofre
P. Yg 38 2.29A (ex. 2, registo 633.602)
Em linha: Gallica. Cópia digital Jackson 2003 (irregularidades, faltas); em linha:
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
BNF-R.Yg.74 = Bibliothèque Nationale de France, Réserve Yg 74
Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens, faltas). Bodmer-Ee/S = Fondation Bodmer, Genève, Portug. Litt. T.
IV (Ee/S)
BNN = Biblioteca Nazionale di Napoli Vittorio Emanuele III, Cópia digital, acesso de visu não autorizado.
S. Q. XXIV G 31
De visu; cópia digital Jackson 2003 (faltas). Bodmer-E/D = Fondation Bodmer, Genève, Portug. Litt. T.
IV (E/D)
BNP-Cam1P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 1 P. Cópia digital, acesso de visu não autorizado.
De visu; cópia digital Jackson 2003 (incompleta); em linha:
Biblioteca Nacional Digital. BritL-C.30e34 = British Library, C.30.E.34
De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens,
BNP-Cam2P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 2 P. irregularidades, faltas).
De visu; cópia digital Jackson 2003 (faltas).
BritL-G.11285 = British Library, G.11285
BNP-Cam3P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 3 P. De visu; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).
De visu; fac-símile Comissão da Academia das Ciências de Lisboa
1982 Lusíadas; cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens); BritL-G.11286 = British Library, G.11286
em linha: Biblioteca Nacional Digital. De visu; cópia digital Jackson 2003 (faltas).

BNP-Cam4P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 4 P. BSMS = Biblioteca da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães,
De visu; cópia digital Jackson 2003 (irregularidades). N.º 05 Quota: CF-2
De visu; fac-símile Silva 2004 Lusíadas; em linha: Sociedade
BNP-Cam11P = Biblioteca Nacional de Portugal, Cam. 11 P. Martins Sarmento.
De visu.

412 413
Buoncristiano-Ee/S = Biblioteca Antonio Buoncristiano, São UCoimbra = Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra,
Paulo (ex-José Mindlin) Cofre n.º 2 (antiga cota RB-32-4)
Cópia digital Jackson 2003 (irregularidades). De visu; reprodução UCoimbra 2004 Lusíadas; fac-símile
UCoimbra 2013 Lusíadas; cópia digital Jackson 2003 (irregularidades,
Buoncristiano-E/D = Biblioteca Antonio Buoncristiano, São faltas); em linha: Alma Mater.
Paulo (ex-José Mindlin)
Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens, UHarvard-P.5215.72 = Houghton Library, Harvard University,
irregularidades, faltas). Port 5215.72*
De visu; Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).
CJCanto = Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta
Delgada, Colecção José do Canto, Cofre 32 Res/JC103 UHarvard-P.5215.72.3 = Houghton Library, Harvard University,
De visu. Port 5215.72.3*
Cópia digital Jackson 2003 (PORT 5218.72.3) (repetição de
DA = Diocese do Algarve, Faro imagens).
De visu.
UHarvard-P.5215.72.5 = Houghton Library, Harvard University,
HSA = Hispanic Society of America, New York Port 5215.72.5*
Cópia digital Jackson 2003 (irregularidade). Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

IHGB = Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de UHarvard-P.5215.72.7 = Houghton Library, Harvard University,
Janeiro, ARM.OR Port 5215.72.7*
Fac-símile Azevedo Filho 2006 Lusíadas. De visu; Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

RGPL = Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro UOx.Bodl-AeP.1572.1 = Bodleian Library, University of
Cópia digital Jackson 2003 (irregularidade). Oxford, Antiq.e.P.1572.1
Cópia digital Jackson 2003.
UBrown = John Carter Brown Library, Brown University,
Providence, C572 C185oe UOx.Wad-A7.24 = Wadham College, University of Oxford,
Cópia digital, Jackson 2003; em linha: Brown Digital Repository. A7.24
De visu.

414 415
Buoncristiano-Ee/S = Biblioteca Antonio Buoncristiano, São UCoimbra = Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra,
Paulo (ex-José Mindlin) Cofre n.º 2 (antiga cota RB-32-4)
Cópia digital Jackson 2003 (irregularidades). De visu; reprodução UCoimbra 2004 Lusíadas; fac-símile
UCoimbra 2013 Lusíadas; cópia digital Jackson 2003 (irregularidades,
Buoncristiano-E/D = Biblioteca Antonio Buoncristiano, São faltas); em linha: Alma Mater.
Paulo (ex-José Mindlin)
Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens, UHarvard-P.5215.72 = Houghton Library, Harvard University,
irregularidades, faltas). Port 5215.72*
De visu; Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).
CJCanto = Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta
Delgada, Colecção José do Canto, Cofre 32 Res/JC103 UHarvard-P.5215.72.3 = Houghton Library, Harvard University,
De visu. Port 5215.72.3*
Cópia digital Jackson 2003 (PORT 5218.72.3) (repetição de
DA = Diocese do Algarve, Faro imagens).
De visu.
UHarvard-P.5215.72.5 = Houghton Library, Harvard University,
HSA = Hispanic Society of America, New York Port 5215.72.5*
Cópia digital Jackson 2003 (irregularidade). Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

IHGB = Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de UHarvard-P.5215.72.7 = Houghton Library, Harvard University,
Janeiro, ARM.OR Port 5215.72.7*
Fac-símile Azevedo Filho 2006 Lusíadas. De visu; Cópia digital Jackson 2003 (repetição de imagens).

RGPL = Real Gabinete Português de Leitura, Rio de Janeiro UOx.Bodl-AeP.1572.1 = Bodleian Library, University of
Cópia digital Jackson 2003 (irregularidade). Oxford, Antiq.e.P.1572.1
Cópia digital Jackson 2003.
UBrown = John Carter Brown Library, Brown University,
Providence, C572 C185oe UOx.Wad-A7.24 = Wadham College, University of Oxford,
Cópia digital, Jackson 2003; em linha: Brown Digital Repository. A7.24
De visu.

414 415
UTexas = Harry Ransom Center Book Collection, University Azevedo Filho 2006 Lusíadas = 2006. Os Lusíadas. Ed. Leodegário
of Texas, Austin, PQ 9198 A2 1572b de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Francisco Alves [facs. de IHGB].
Cópia digital, Jackson 2003 (repetição de imagens,
irregularidades, faltas). Bicker & Marnoto 2016 Lusíadas = 2016. Os Lusíadas. Ed. João
Bicker & Rita Marnoto. Coimbra: Almedina.
UYale = Beinecke Rare Book & Manuscript Library, Yale
University, 2008303. Botelho 1817 Lusíadas = 1817. Os Lusíadas. Poema épico. Ed. José
Em linha: Digital Collections. Maria de Sousa Botelho, morgado de Mateus. Paris: Firmin Didot.

Este elenco não tem por objectivo uma listagem exaustiva dos Botelho 1819 Lusíadas = 1819. Os Lusíadas. Poema épico. Ed. José
exemplares conhecidos nem das mediações deles existentes. Maria de Sousa Botelho, morgado de Mateus. Paris: Firmino Didot.

Braga 1880 Lusíadas = 1880. Os Lusíadas. Ed. Teófilo Braga.


2. Obras de Luís de Camões Porto: Empresa Portuguesa.

A grafia da informação bibliográfica relativa a obras posteriores a Braga 1881 Lusíadas = 1881. Os Lusíadas. Ed. Teófilo Braga. 2
1800 é uniformizada. vols. Lisboa: Pereira e Amorim.

Amorim 1889 Lusíadas = 1889. Os Lusíadas. Ed. Francisco Gomes Braga 1898 Lusíadas = [1898?]. Os Lusíadas. Ed. Teófilo Braga.
de Amorim. 2 ts. Lisboa: Imprensa Nacional. Lisboa: [ Joaquim Eusébio dos Santos] [facs. de exemplar não
identificado].
AP 2009 Lusíadas = 2009. Os Lusíadas. Lisboa: Fundação Ricardo
do Espírito Santo Silva [facs. de AP]. Caldera 1580 Lusiadas = 1580. Los Lusiadas. Trad. Benito Caldera.
Alcalá de Henares: Juan Gracián.
Aquino 1779-1780 Obras = 1779-1780. Obras. Ed. Tomás José de
Aquino. 4 ts. Lisboa: Oficina Luisiana. Camões 1887 Inês de Castro = 1887. Episódio de D. Inês de Castro.
Excerto dos Lusíadas. Comentário Joaquim Eusébio dos Santos.
Aquino 1782-1783 Obras = 1782-[1783], 2.ª ed. Obras. Ed. Tomás Lisboa: Adolfo, Modesto e C.ª, Imprensa Nacional, Joaquim
José de Aquino. 4 ts., 5 vols. Lisboa: Oficina Simão Tadeu Ferreira . Eusébio dos Santos [facs.].

416 417
UTexas = Harry Ransom Center Book Collection, University Azevedo Filho 2006 Lusíadas = 2006. Os Lusíadas. Ed. Leodegário
of Texas, Austin, PQ 9198 A2 1572b de Azevedo Filho. Rio de Janeiro: Francisco Alves [facs. de IHGB].
Cópia digital, Jackson 2003 (repetição de imagens,
irregularidades, faltas). Bicker & Marnoto 2016 Lusíadas = 2016. Os Lusíadas. Ed. João
Bicker & Rita Marnoto. Coimbra: Almedina.
UYale = Beinecke Rare Book & Manuscript Library, Yale
University, 2008303. Botelho 1817 Lusíadas = 1817. Os Lusíadas. Poema épico. Ed. José
Em linha: Digital Collections. Maria de Sousa Botelho, morgado de Mateus. Paris: Firmin Didot.

Este elenco não tem por objectivo uma listagem exaustiva dos Botelho 1819 Lusíadas = 1819. Os Lusíadas. Poema épico. Ed. José
exemplares conhecidos nem das mediações deles existentes. Maria de Sousa Botelho, morgado de Mateus. Paris: Firmino Didot.

Braga 1880 Lusíadas = 1880. Os Lusíadas. Ed. Teófilo Braga.


2. Obras de Luís de Camões Porto: Empresa Portuguesa.

A grafia da informação bibliográfica relativa a obras posteriores a Braga 1881 Lusíadas = 1881. Os Lusíadas. Ed. Teófilo Braga. 2
1800 é uniformizada. vols. Lisboa: Pereira e Amorim.

Amorim 1889 Lusíadas = 1889. Os Lusíadas. Ed. Francisco Gomes Braga 1898 Lusíadas = [1898?]. Os Lusíadas. Ed. Teófilo Braga.
de Amorim. 2 ts. Lisboa: Imprensa Nacional. Lisboa: [ Joaquim Eusébio dos Santos] [facs. de exemplar não
identificado].
AP 2009 Lusíadas = 2009. Os Lusíadas. Lisboa: Fundação Ricardo
do Espírito Santo Silva [facs. de AP]. Caldera 1580 Lusiadas = 1580. Los Lusiadas. Trad. Benito Caldera.
Alcalá de Henares: Juan Gracián.
Aquino 1779-1780 Obras = 1779-1780. Obras. Ed. Tomás José de
Aquino. 4 ts. Lisboa: Oficina Luisiana. Camões 1887 Inês de Castro = 1887. Episódio de D. Inês de Castro.
Excerto dos Lusíadas. Comentário Joaquim Eusébio dos Santos.
Aquino 1782-1783 Obras = 1782-[1783], 2.ª ed. Obras. Ed. Tomás Lisboa: Adolfo, Modesto e C.ª, Imprensa Nacional, Joaquim
José de Aquino. 4 ts., 5 vols. Lisboa: Oficina Simão Tadeu Ferreira . Eusébio dos Santos [facs.].

416 417
Camões 1887 Primeira poesia impressa = [1887]. A primeira poesia Craesbeck 1631 Lusíadas = 1631. Lusíadas. Lisboa: Pedro Craesbeck.
impressa no livro do Doutor Garcia d’Orta intitulado Colóquios dos simples
e drogas. Com um estudo pelo Dr. Teófilo Braga. Lisboa: Eusébio Dias 1910 Lusíadas = 1910. Os Lusíadas. Ed. Augusto Epifânio da
dos Santos, Oficinas de Adolfo e Modesto [facs.]. Silva Dias. 2 vols. Porto: Magalhães e Moniz.

Camões 1894 Tercetos = [1894]. Tercetos de Luís de Camões impressos Dias 1916 Lusíadas = 1916. Os Lusíadas. Ed. Augusto Epifânio
pela primeira vez, em 1576, na História da Província de Santa Cruz, da Silva Dias. 2 vols. Lisboa: Companhia Portuguesa Editora [2.ª
de Pero de Magalhães Gândavo. Fac-símile foto-litográfico precedido ed. melhorada; reed. facs. 1972. (Rio de Janeiro): Ministério da
dum estudo pelo Dr. Teófilo Braga. Lisboa: José Eusébio dos Santos. Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais].

Carvalho 1843 Lusíadas = 1843. Os Lusíadas. Ed. Francisco Freire Feio & Monteiro 1834 Obras = 1834. Obras completas. Ed. J. V.
de Carvalho. Lisboa: Rollandiana. Barreto Feio & J. G. Monteiro. 3 vols. Hamburgo: Langhoff.

Cidade 1939 Lusíadas = 1939. Os Lusíadas. [Ed. Hernâni Cidade]. Garcés 1591 Lusiadas = 1591. Los Lusiadas. Trad. Enrique Garcés.
Porto: Lello & Irmão [facs. de exemplar não identificado]. Madrid: Guillermo Drouy.

Cidade 1956 Obras = 1956. Obras completas. Ed. Hernâni Cidade. Gómez de Tapia 1580 Lusiada = 1580. La Lusiada. Trad. Luys
5 vols. Lisboa: Sá da Costa [1.ª ed. 1946]. Gomez de Tapia. Salamanca: Juan Perier.

Cidade 1960 Lusíadas = 1960. Os Lusíadas. Pref. Hernâni Jackson 2003 = 2003. Camões and the first edition of The Lusiadas.
Cidade. Estudo Eleutério Cerdeira. Ilustr. Joaquim Lopes. Barcelos: Ed. K. David Jackson. Dartmouth: Center for Portuguese Studies
Companhia Editora do Minho. and Culture, University of Massachusetts Dartmouth [CD-ROM].

Comissão da Academia das Ciências de Lisboa 1982 Lusíadas = Juromenha 1860-1870 Obras = 1860-1870. Obras. Precedidas de
1982. Os Lusíadas. Reprodução paralela das duas edições de 1572. Ed. um ensaio biográfico […]. Ed. visconde de Juromenha [ João António
Comissão da Academia das Ciências de Lisboa para a Edição Crítica de Lemos Pereira de Lacerda]. 6 vols. Lisboa: Imprensa Nacional
d’«Os Lusíadas». Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa [outra [vol. 7, inc., 1924].
ed., Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda; facs. de BNP-
Cam3P e BDMII-378]. Leipzig 1873 Lusíadas = 1873. Os Lusíadas. Leipzig: F. A.
Brockhaus.

418 419
Camões 1887 Primeira poesia impressa = [1887]. A primeira poesia Craesbeck 1631 Lusíadas = 1631. Lusíadas. Lisboa: Pedro Craesbeck.
impressa no livro do Doutor Garcia d’Orta intitulado Colóquios dos simples
e drogas. Com um estudo pelo Dr. Teófilo Braga. Lisboa: Eusébio Dias 1910 Lusíadas = 1910. Os Lusíadas. Ed. Augusto Epifânio da
dos Santos, Oficinas de Adolfo e Modesto [facs.]. Silva Dias. 2 vols. Porto: Magalhães e Moniz.

Camões 1894 Tercetos = [1894]. Tercetos de Luís de Camões impressos Dias 1916 Lusíadas = 1916. Os Lusíadas. Ed. Augusto Epifânio
pela primeira vez, em 1576, na História da Província de Santa Cruz, da Silva Dias. 2 vols. Lisboa: Companhia Portuguesa Editora [2.ª
de Pero de Magalhães Gândavo. Fac-símile foto-litográfico precedido ed. melhorada; reed. facs. 1972. (Rio de Janeiro): Ministério da
dum estudo pelo Dr. Teófilo Braga. Lisboa: José Eusébio dos Santos. Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Culturais].

Carvalho 1843 Lusíadas = 1843. Os Lusíadas. Ed. Francisco Freire Feio & Monteiro 1834 Obras = 1834. Obras completas. Ed. J. V.
de Carvalho. Lisboa: Rollandiana. Barreto Feio & J. G. Monteiro. 3 vols. Hamburgo: Langhoff.

Cidade 1939 Lusíadas = 1939. Os Lusíadas. [Ed. Hernâni Cidade]. Garcés 1591 Lusiadas = 1591. Los Lusiadas. Trad. Enrique Garcés.
Porto: Lello & Irmão [facs. de exemplar não identificado]. Madrid: Guillermo Drouy.

Cidade 1956 Obras = 1956. Obras completas. Ed. Hernâni Cidade. Gómez de Tapia 1580 Lusiada = 1580. La Lusiada. Trad. Luys
5 vols. Lisboa: Sá da Costa [1.ª ed. 1946]. Gomez de Tapia. Salamanca: Juan Perier.

Cidade 1960 Lusíadas = 1960. Os Lusíadas. Pref. Hernâni Jackson 2003 = 2003. Camões and the first edition of The Lusiadas.
Cidade. Estudo Eleutério Cerdeira. Ilustr. Joaquim Lopes. Barcelos: Ed. K. David Jackson. Dartmouth: Center for Portuguese Studies
Companhia Editora do Minho. and Culture, University of Massachusetts Dartmouth [CD-ROM].

Comissão da Academia das Ciências de Lisboa 1982 Lusíadas = Juromenha 1860-1870 Obras = 1860-1870. Obras. Precedidas de
1982. Os Lusíadas. Reprodução paralela das duas edições de 1572. Ed. um ensaio biográfico […]. Ed. visconde de Juromenha [ João António
Comissão da Academia das Ciências de Lisboa para a Edição Crítica de Lemos Pereira de Lacerda]. 6 vols. Lisboa: Imprensa Nacional
d’«Os Lusíadas». Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa [outra [vol. 7, inc., 1924].
ed., Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda; facs. de BNP-
Cam3P e BDMII-378]. Leipzig 1873 Lusíadas = 1873. Os Lusíadas. Leipzig: F. A.
Brockhaus.

418 419
Macedo & Earle 2019 Luís de Camões = 2019. Luís de Camões. A Ramos 2020 Lusíadas = 2020. Os Lusíadas. Ed. Emanuel Paulo
global poet for today. Ed. Helder Macedo & Thomas Earle. Lisboa: Ramos. Porto: Porto Editora [1.ª ed. 1953?].
Lisbon Poets.
Reinhardstöttner 1874 Lusíadas = 1874. Os Lusíadas. Ed. Carl von
Marnoto 2021 Lusíadas = 2021. Os Lusíadas. Ed. Rita Marnoto. Reinhardstöttner. Strassburg: Karl J. Trübner, London: Trübner.
[Porto]: Universidade do Minho, Kalandraka [ed. ilustrada].
Remédios 1900 Lusíadas = 1990. Os Lusíadas. Edição para as
Marnoto & Gigliucci 2022 Lusiadi = 2022. I Lusiadi. Ed. Rita escolas. Ed. Mendes dos Remédios. Coimbra: França Amado.
Marnoto & Roberto Gigliucci. Milano: Bompiani, Firenze: Giunti
[Classici della Letteratura Europea]. Rodrigues 1921 Lusíadas = 1921. Os Lusíadas. Ed. José Maria
Rodrigues. Lisboa: Biblioteca Nacional [facs. de BNP-Cam3P].
Monteiro 1880 Lusíadas = 1880. Os Lusíadas. Ed. José Gomes
Monteiro. Estudo José da Silva Mendes Leal. Porto: Biel. Rodrigues 1928 Lusíadas = 1928. Os Lusíadas. Iniciativa Afonso
Lopes Vieira. Ed. José Maria Rodrigues. Pref. Carolina Michaëlis.
Perugi 2018 Filodemo = 2018. Comédia Filodemo. Ed. critica Lisboa: Imprensa Nacional [vv. reeds.; 2005. Lisboa: Imprensa
Maurizio Perugi. Genève: Centre International d’Études Nacional].
Portugaises de Genève.
Saraiva 2014 Lusíadas = 2014. Os Lusíadas. Ed. António José
Perugi 2020 Sonetti = 2020. Sonetti. Ed. critica Maurizio Perugi. Saraiva. Porto: Figueirinhas [1.ª ed. 1979].
Genève: Centre International d’Études Portugaises de Genève.
Silva 2004 Lusíadas = 2004. Os Lusíadas. Ed. Vítor Aguiar e
Perugi 2021 Canzoni = 2021. Canzoni. Ed. critica Maurizio Silva. Braga: Universidade do Minho [facs. de BSMS].
Perugi. Genève: Centre International d’Études Portugaises de
Genève. Sousa 1639 Lusiadas = 1639. Lusiadas […]. Ed. Manuel de Faria e
Sousa. 2 vols., 4 ts. Madrid: Juan Sanchez, a costa de Pedro Coello
Pimpão 2003 Lusíadas = 2003. Os Lusíadas. Ed. Álvaro Júlio [reed. facs. 1972. Pref. Jorge de Sena. Lisboa: Imprensa Nacional-​
da Costa Pimpão. Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros, -Casa da Moeda].
Instituto Camões [1.ª ed. 1972].
Sousa 1685-1689 Rimas = 1685-1689. Rimas varias […]. Ed.
Manuel de Faria e Sousa. 2 vols., 5 ts. Lisboa: Imprenta de Theotonio

420 421
Macedo & Earle 2019 Luís de Camões = 2019. Luís de Camões. A Ramos 2020 Lusíadas = 2020. Os Lusíadas. Ed. Emanuel Paulo
global poet for today. Ed. Helder Macedo & Thomas Earle. Lisboa: Ramos. Porto: Porto Editora [1.ª ed. 1953?].
Lisbon Poets.
Reinhardstöttner 1874 Lusíadas = 1874. Os Lusíadas. Ed. Carl von
Marnoto 2021 Lusíadas = 2021. Os Lusíadas. Ed. Rita Marnoto. Reinhardstöttner. Strassburg: Karl J. Trübner, London: Trübner.
[Porto]: Universidade do Minho, Kalandraka [ed. ilustrada].
Remédios 1900 Lusíadas = 1990. Os Lusíadas. Edição para as
Marnoto & Gigliucci 2022 Lusiadi = 2022. I Lusiadi. Ed. Rita escolas. Ed. Mendes dos Remédios. Coimbra: França Amado.
Marnoto & Roberto Gigliucci. Milano: Bompiani, Firenze: Giunti
[Classici della Letteratura Europea]. Rodrigues 1921 Lusíadas = 1921. Os Lusíadas. Ed. José Maria
Rodrigues. Lisboa: Biblioteca Nacional [facs. de BNP-Cam3P].
Monteiro 1880 Lusíadas = 1880. Os Lusíadas. Ed. José Gomes
Monteiro. Estudo José da Silva Mendes Leal. Porto: Biel. Rodrigues 1928 Lusíadas = 1928. Os Lusíadas. Iniciativa Afonso
Lopes Vieira. Ed. José Maria Rodrigues. Pref. Carolina Michaëlis.
Perugi 2018 Filodemo = 2018. Comédia Filodemo. Ed. critica Lisboa: Imprensa Nacional [vv. reeds.; 2005. Lisboa: Imprensa
Maurizio Perugi. Genève: Centre International d’Études Nacional].
Portugaises de Genève.
Saraiva 2014 Lusíadas = 2014. Os Lusíadas. Ed. António José
Perugi 2020 Sonetti = 2020. Sonetti. Ed. critica Maurizio Perugi. Saraiva. Porto: Figueirinhas [1.ª ed. 1979].
Genève: Centre International d’Études Portugaises de Genève.
Silva 2004 Lusíadas = 2004. Os Lusíadas. Ed. Vítor Aguiar e
Perugi 2021 Canzoni = 2021. Canzoni. Ed. critica Maurizio Silva. Braga: Universidade do Minho [facs. de BSMS].
Perugi. Genève: Centre International d’Études Portugaises de
Genève. Sousa 1639 Lusiadas = 1639. Lusiadas […]. Ed. Manuel de Faria e
Sousa. 2 vols., 4 ts. Madrid: Juan Sanchez, a costa de Pedro Coello
Pimpão 2003 Lusíadas = 2003. Os Lusíadas. Ed. Álvaro Júlio [reed. facs. 1972. Pref. Jorge de Sena. Lisboa: Imprensa Nacional-​
da Costa Pimpão. Lisboa: Ministério dos Negócios Estrangeiros, -Casa da Moeda].
Instituto Camões [1.ª ed. 1972].
Sousa 1685-1689 Rimas = 1685-1689. Rimas varias […]. Ed.
Manuel de Faria e Sousa. 2 vols., 5 ts. Lisboa: Imprenta de Theotonio

420 421
Damaso de Mello Impressor de la Casa Real [reed. facs. 1972. Pref. 3. Estudos críticos, outras obras literárias, fontes
Jorge de Sena. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda].
Adamson, John. 1836. Memoirs of the life and writings of Luis de
Spaggiari 2021 Redondilhas = 2021. Redondilhas. Ed. critica Camoens. 2 vols. London: Longman.
Barbara Spaggiari. Genève: Centre International d’Études
Portugaises de Genève. Agamben, Giorgio. 2010. Che cos’è il contemporaneo?.
Roma: Nottetempo.
Storck 1883 Lusiaden = 1883. Die Lusiaden. Ed. Trad. Wilhelm
Storck. Paderborn: Ferdinand Schöningh. Agudo, Francisco Dias. 1972. A edição d’Os Lusíadas de 1572.
Garcia de Orta. Revista da Junta das Missões Geográficas e de Investigações
Vasconcelos 1905-1908 Lusíadas = 1905-1908. Os Lusíadas. Ed. do Ultramar, n. s., 1-9.
Carolina Michaëlis de Vasconcelos. 4 ts. Estrasburgo: J. H. Ed. Heitz
(Heitz & Mundel), Paris: Haar & Steinert, New York: Lemcke & Albuquerque, Alexandre. 1921. As duas edições dos Lusíadas de
Buechner. 1572. Rio de Janeiro: Papelaria Ribeiro.

UCoimbra 2004 Lusíadas = [d. l. 2004]. Os Lusíadas. Pref. José Aldo Manuzio. Il Rinascimento di Venezia. 2016. Padova: Marsilio.
Hermano Saraiva, Aníbal Pinto de Castro & K. David Jackson.
Dir. Álvaro Pimenta. Coord. Roseta da Fonseca Soares G. Barão & Almeida, Justino Mendes de. 1996. Estudos de história da cultura
Maria João Monteiro Ambrósio. Nota bibliográfica A. E. Maia do portuguesa. Lisboa: Academia Portuguesa da História, Universidade
Amaral. Lisboa: ACD Editores [reprodução com aumento de escala Autónoma de Lisboa.
de UCoimbra].
Amaral, António Caetano do, Mateus Valente do Couto
UCoimbra 2013 Lusíadas = 2013. Os Lusíadas. S. l.: A Bela e o & Sebastião Francisco de Mendo Trigoso. 1818. Relatório da
Monstro [facs. de UCoimbra]. Comissão nomeada pela Academia Real das Ciências de Lisboa para
lhe dar conta da nova edição dos Lusíadas impressa em Paris no ano
Para outras eds. ver Canto 1899; Martins 1972; Bernardes 2015. de 1817. História e Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa,
t. 5, xc-xcix.

Amaral, A. E. Maia do. [d. l. 2004]. Nota bibliográfica. Luís de


Camões. Os Lusíadas. Pref. José Hermano Saraiva, Aníbal Pinto de

422 423
Damaso de Mello Impressor de la Casa Real [reed. facs. 1972. Pref. 3. Estudos críticos, outras obras literárias, fontes
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Camões. Os Lusíadas. Pref. José Hermano Saraiva, Aníbal Pinto de

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ACD Editores, xi-xiii.
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Amorim, Francisco Gomes de. 1881-1884. Garrett. Memórias Borges. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, Braga: Barbosa e Xavier.
biográficas. 3 vols. Lisboa: Imprensa Nacional.
Bechara, Evanildo. 1972. Contribuição para um estudo da
Anastácio, Vanda. 1998. Visões de glória (uma introdução à poesia linguagem camoniana. Littera, 2, 60-66.
de Pêro de Andrade Caminha). 2 vols. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, JNIC. Bernardes, José Augusto Cardoso. Coord. 2015. A biblioteca
camoniana de D. Manuel II. 2 vols. S. l.: Imprensa da Universidade
Anselmo, António Joaquim. 1926. Bibliografia das obras impressas em de Coimbra, Fundação da Casa de Bragança.
Portugal no século xvi. Lisboa: Biblioteca Nacional [reed. facs. 1977].
Bibliografia camoniana servindo de catálogo oficial da Exposição
Anselmo, Artur. 1981a. Origens da imprensa em Portugal. Lisboa: Camoniana do Centenário coordenada pela Comissão Literária das Festas.
Imprensa Nacional-Casa da Moeda. [1880]. Porto: Palácio de Cristal.

Anselmo, Artur. 1981b. Camões e a censura literária inquisitorial. Biblioteca Digital da Biblioteca Nacional de Lisboa.
Arquivos do Centro Cultural Português, 16, 513-567. http://bndigital.bnportugal.gov.pt/indices/

Anselmo, Artur. 1991. História da edição em Portugal das origens até Biblioteca Palha 1881 = Biblioteca camoniana. Anuário da Sociedade
1536. Porto: Lello & Irmão. Nacional Camoniana, 1, 143-175.

Anselmo, Artur. 1997. Estudos de história do livro. Lisboa: Bibliotheca Grenvilliana 1842 = Bibliotheca Grenvilliana or bibliographical
Guimarães. notices of rare and curious books forming part of the library of the Right Hon.
Thomas Grenville. Vol. 1. 1842. Ed. John Thomas Payne & Henry
Anselmo, Artur. 2002. Livros e mentalidades. Lisboa: Guimarães. Foss. London: William Nicol, Shakespeare, Pall Mall.

Anselmo, Artur. 2015. História do livro e filologia. Lisboa: Guimarães. Bibliotheca Heberiana 1835 = Bibliotheca Heberiana. Catalogue of the
library of the late Richard Heber, Esq. part the sixth, removed from Pimlico

424 425
Castro & K. David Jackson. Dir. Álvaro Pimenta. Coord. Roseta da Arquivo da Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta
Fonseca Soares G. Barão & Maria João Monteiro Ambrósio. Lisboa: Delgada. Arquivo Teófilo Braga. Fundo José do Canto.
ACD Editores, xi-xiii.
Askins, Arthur Lee-Francis. Ed. 1979. The Cancioneiro de Cristóvão
Amorim, Francisco Gomes de. 1881-1884. Garrett. Memórias Borges. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian, Braga: Barbosa e Xavier.
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Bechara, Evanildo. 1972. Contribuição para um estudo da
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Anselmo, António Joaquim. 1926. Bibliografia das obras impressas em de Coimbra, Fundação da Casa de Bragança.
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Bibliografia camoniana servindo de catálogo oficial da Exposição
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1536. Porto: Lello & Irmão. Nacional Camoniana, 1, 143-175.

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Guimarães. notices of rare and curious books forming part of the library of the Right Hon.
Thomas Grenville. Vol. 1. 1842. Ed. John Thomas Payne & Henry
Anselmo, Artur. 2002. Livros e mentalidades. Lisboa: Guimarães. Foss. London: William Nicol, Shakespeare, Pall Mall.

Anselmo, Artur. 2015. História do livro e filologia. Lisboa: Guimarães. Bibliotheca Heberiana 1835 = Bibliotheca Heberiana. Catalogue of the
library of the late Richard Heber, Esq. part the sixth, removed from Pimlico

424 425
and Oxford, which will be sold by auction, by Mr. Evans, at his house, Brandão, Fiama Hasse Pais. 2007, 2.ª ed. O labirinto camoniano e
no. 93, Pall Mall, on Monday, March 23, and nineteen following days, outros labirintos. Lisboa: Teorema.
Sundays excepted. 1835. S. l.: S. ed.
Brandão, Mário. Ed. 1943. O processo da Inquisição de Diogo de
Bibliotheca Lusitana 1836 = Bibliotheca Lusitana. Or catalogue of Teive. Coimbra [Sep. Notícias Cronológicas da Universidade de Coimbra,
books and tracts relative to the history, literature, and poetry, of Portugal, de Francisco Leitão Ferreira, vol. 4].
forming part of the Library of John Adamson […]. 1836. Newcastle on
Tyne: Printed by T. and J. Hodgson. British Library.
https://www.bl.uk/catalogues-and-collections
Bismut, Roger. 1973. La critique textuelle des Lusiades. Actas
da I Reunião Internacional de Camonistas (59-93). Lisboa: Comissão British Museum. A short guide to that portion of the library of printed
Executiva do IV Centenário de «Os Lusíadas». books now open to the public. 1851. London: The Trustees, George
Woodfall and Son.
Book-prices current 1896 = Book-prices current. Record of the prices at
which books have been sold at auction, from December, 1894, to November, Brito, [José Joaquim] Gomes de. 1911. Notícia de livreiros e impressores
1895. Vol. IX. 1896. London: Elliot Stock, 62. Paternoster Row, E.C. de Lisboa na 2.ª metade do século xvI. Lisboa: Libânio da Silva.

Botelho, José Maria de Sousa, morgado de Mateus. S. d. [1818?]. Brito, [ José Joaquim] Gomes de. 1916, 1917, 1919, 1920. Revista
Suplemento da nota primeira da advertência. S. l.: S. ed. [10 pp. (415- Lusitana. Estudos camonianos I. Os dois exemplares dos autos e
-424), ex. das provas tipográficas pertencente à Casa de Mateus; comédias de António Prestes, Luís de Camões e outros, 1916, 19,
reed. Luís de Camões. 1819. Os Lusíadas. Ed. José Maria de Sousa 227-232; Estudos camonianos II. As duas portadas dos Lusíadas de
Botelho, morgado de Mateus. Paris: Firmino Didot: 377-388]. 1572, 1917, 20, 81-106; Estudos camonianos III. As duas portadas
dos Lusíadas de 1572, 1919, 22, 91-98; Estudos camonianos IV. As
[Botelho], José Maria de Sousa, morgado de Mateus. 1819. Carta duas portadas dos Lusíadas de 1572, 1920, 23, 144-151.
[…] à Academia Real das Ciências. História e Memórias da Academia
Real das Ciências de Lisboa, t. 6, 1, cviii-cxx. Brunet, Jacques-Charles. 1842, 4. éd. rev. Manuel du libraire et de
l’amateur de livres. Tome premier. Paris: Chez Silvestre.
Braga, Teófilo. 1911. Camões. A obra lírica e épica. Porto: Lello e Irmão.
Cancioneiro de Luis Franco Correa. 1972. Lisboa: Comissão
Executiva do IV Centenário da Publicação de «Os Lusíadas».

426 427
and Oxford, which will be sold by auction, by Mr. Evans, at his house, Brandão, Fiama Hasse Pais. 2007, 2.ª ed. O labirinto camoniano e
no. 93, Pall Mall, on Monday, March 23, and nineteen following days, outros labirintos. Lisboa: Teorema.
Sundays excepted. 1835. S. l.: S. ed.
Brandão, Mário. Ed. 1943. O processo da Inquisição de Diogo de
Bibliotheca Lusitana 1836 = Bibliotheca Lusitana. Or catalogue of Teive. Coimbra [Sep. Notícias Cronológicas da Universidade de Coimbra,
books and tracts relative to the history, literature, and poetry, of Portugal, de Francisco Leitão Ferreira, vol. 4].
forming part of the Library of John Adamson […]. 1836. Newcastle on
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da I Reunião Internacional de Camonistas (59-93). Lisboa: Comissão British Museum. A short guide to that portion of the library of printed
Executiva do IV Centenário de «Os Lusíadas». books now open to the public. 1851. London: The Trustees, George
Woodfall and Son.
Book-prices current 1896 = Book-prices current. Record of the prices at
which books have been sold at auction, from December, 1894, to November, Brito, [José Joaquim] Gomes de. 1911. Notícia de livreiros e impressores
1895. Vol. IX. 1896. London: Elliot Stock, 62. Paternoster Row, E.C. de Lisboa na 2.ª metade do século xvI. Lisboa: Libânio da Silva.

Botelho, José Maria de Sousa, morgado de Mateus. S. d. [1818?]. Brito, [ José Joaquim] Gomes de. 1916, 1917, 1919, 1920. Revista
Suplemento da nota primeira da advertência. S. l.: S. ed. [10 pp. (415- Lusitana. Estudos camonianos I. Os dois exemplares dos autos e
-424), ex. das provas tipográficas pertencente à Casa de Mateus; comédias de António Prestes, Luís de Camões e outros, 1916, 19,
reed. Luís de Camões. 1819. Os Lusíadas. Ed. José Maria de Sousa 227-232; Estudos camonianos II. As duas portadas dos Lusíadas de
Botelho, morgado de Mateus. Paris: Firmino Didot: 377-388]. 1572, 1917, 20, 81-106; Estudos camonianos III. As duas portadas
dos Lusíadas de 1572, 1919, 22, 91-98; Estudos camonianos IV. As
[Botelho], José Maria de Sousa, morgado de Mateus. 1819. Carta duas portadas dos Lusíadas de 1572, 1920, 23, 144-151.
[…] à Academia Real das Ciências. História e Memórias da Academia
Real das Ciências de Lisboa, t. 6, 1, cviii-cxx. Brunet, Jacques-Charles. 1842, 4. éd. rev. Manuel du libraire et de
l’amateur de livres. Tome premier. Paris: Chez Silvestre.
Braga, Teófilo. 1911. Camões. A obra lírica e épica. Porto: Lello e Irmão.
Cancioneiro de Luis Franco Correa. 1972. Lisboa: Comissão
Executiva do IV Centenário da Publicação de «Os Lusíadas».

426 427
Canto, José do. 1895. Colecção camoniana. Lisboa: Imprensa de Figueiredo Castelo Branco. Lisboa, Biblioteca Nacional de
Nacional [reed. facs. 1972]. Portugal, cod 11590.

Carvalho, Augusto da Silva. 1934. Garcia d’Orta. Revista da Catálogo da exposição camoneana 1880 = 1880. Catálogo da exposição
Universidade de Coimbra, 13, 61-146. camoneana realizada pela Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro a 10 de
Junho de 1880 por ocasião do centenário de Camões. Rio de Janeiro:
Carvalho, José Gonçalves Herculano de. 1984. Contribuição de Tipografia Nacional.
Os Lusíadas para a renovação da língua portuguesa [1980]. Id. Estudos
linguísticos. Vol. 3. 2.ª ed. (77-123). Coimbra: Coimbra Editora. Catálogo Deslandes 1932 = 1932. Catálogo da magnífica e valiosa
livraria, antiga e moderna que pertenceu ao muito ilustrado director da
Carvalho, José Rodrigo Carneiro da Costa. 2000. Aprendiz Imprensa Nacional de Lisboa Conselheiro Venâncio Augusto Deslandes.
de selvagem. O Brasil na obra de Francisco Gomes de Amorim. Porto: Edições originais. Livros ilustrados. Livros estrangeiros. Org. José dos
Campo das Letras. Santos. Lisboa: Tipografia da Sociedade de Papelaria La.

Castelo Branco, Camilo. 1882. Narcóticos. 2 vols. Porto: Livraria Catálogo Fernando Palha 1896 = 1896. Catalogue de la bibliothèque de
de Clavel. M. Fernando Palha. 4 vols. Lisbonne: Imprimerie Libânio da Silva.

Catálogo Ávila Perez 1939-1940 = Catálogo da importante e Catálogo Gomes de Amorim 1892 = Catálogo dos livros que pertenceram
preciosíssima biblioteca que pertenceu ao ilustre bibliófilo Victor Marat a Francisco Gomes de Amorim e que serão vendidos em leilão. 1892.
d’Ávila Perez. 1939-1940. Org. Arnaldo Henriques de Oliveira. 6 Lisboa: Tipografia e Estereotipia Moderna.
vols. Porto: Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria.
Catálogo João Vieira Pinto 1885 = Catálogo da livraria que foi do falecido
Catálogo Conde do Ameal 1924 = 1924. Catálogo da notável e preciosa Dr. João Vieira Pinto e que tem de ser vendida em leilão no dia 1 de Agosto
livraria que foi do ilustre bibliófilo conimbricense Conde do Ameal ( João de 1855 e seguintes, às 5 horas da tarde. 1885. Porto: Typ. Occidental.
Correia Aires de Campos). Redigido por José dos Santos (na parte dos
livros impressos) com uma intr. pelo erudito escritor Sr. Gustavo de Catálogo Joaquim Pereira da Costa 1873 = Catálogo dos livros antigos,
Matos Sequeira. Porto: Tip. da Sociedade de Papelaria, Lda. raros e clássicos que compõem a magnífica e mui conhecida livraria do falecido
Ex.mo Joaquim Pereira da Costa hoje pertencente a seu filho o Ex.mo Sr.
Catálogo D. Francisco Manuel 1852 = 1852. [Catálogo da Livraria Visconde de Pereira e que por intervenção do agente Casimiro C. da Cunha
de D. Francisco de Melo Manuel da Câmara]. Ms. José Barbosa Canais hão-de ser vendidos em leilão. 1873. 3 vols. Lisboa: Imprensa Nacional.

428 429
Canto, José do. 1895. Colecção camoniana. Lisboa: Imprensa de Figueiredo Castelo Branco. Lisboa, Biblioteca Nacional de
Nacional [reed. facs. 1972]. Portugal, cod 11590.

Carvalho, Augusto da Silva. 1934. Garcia d’Orta. Revista da Catálogo da exposição camoneana 1880 = 1880. Catálogo da exposição
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Junho de 1880 por ocasião do centenário de Camões. Rio de Janeiro:
Carvalho, José Gonçalves Herculano de. 1984. Contribuição de Tipografia Nacional.
Os Lusíadas para a renovação da língua portuguesa [1980]. Id. Estudos
linguísticos. Vol. 3. 2.ª ed. (77-123). Coimbra: Coimbra Editora. Catálogo Deslandes 1932 = 1932. Catálogo da magnífica e valiosa
livraria, antiga e moderna que pertenceu ao muito ilustrado director da
Carvalho, José Rodrigo Carneiro da Costa. 2000. Aprendiz Imprensa Nacional de Lisboa Conselheiro Venâncio Augusto Deslandes.
de selvagem. O Brasil na obra de Francisco Gomes de Amorim. Porto: Edições originais. Livros ilustrados. Livros estrangeiros. Org. José dos
Campo das Letras. Santos. Lisboa: Tipografia da Sociedade de Papelaria La.

Castelo Branco, Camilo. 1882. Narcóticos. 2 vols. Porto: Livraria Catálogo Fernando Palha 1896 = 1896. Catalogue de la bibliothèque de
de Clavel. M. Fernando Palha. 4 vols. Lisbonne: Imprimerie Libânio da Silva.

Catálogo Ávila Perez 1939-1940 = Catálogo da importante e Catálogo Gomes de Amorim 1892 = Catálogo dos livros que pertenceram
preciosíssima biblioteca que pertenceu ao ilustre bibliófilo Victor Marat a Francisco Gomes de Amorim e que serão vendidos em leilão. 1892.
d’Ávila Perez. 1939-1940. Org. Arnaldo Henriques de Oliveira. 6 Lisboa: Tipografia e Estereotipia Moderna.
vols. Porto: Oficinas Gráficas da Sociedade de Papelaria.
Catálogo João Vieira Pinto 1885 = Catálogo da livraria que foi do falecido
Catálogo Conde do Ameal 1924 = 1924. Catálogo da notável e preciosa Dr. João Vieira Pinto e que tem de ser vendida em leilão no dia 1 de Agosto
livraria que foi do ilustre bibliófilo conimbricense Conde do Ameal ( João de 1855 e seguintes, às 5 horas da tarde. 1885. Porto: Typ. Occidental.
Correia Aires de Campos). Redigido por José dos Santos (na parte dos
livros impressos) com uma intr. pelo erudito escritor Sr. Gustavo de Catálogo Joaquim Pereira da Costa 1873 = Catálogo dos livros antigos,
Matos Sequeira. Porto: Tip. da Sociedade de Papelaria, Lda. raros e clássicos que compõem a magnífica e mui conhecida livraria do falecido
Ex.mo Joaquim Pereira da Costa hoje pertencente a seu filho o Ex.mo Sr.
Catálogo D. Francisco Manuel 1852 = 1852. [Catálogo da Livraria Visconde de Pereira e que por intervenção do agente Casimiro C. da Cunha
de D. Francisco de Melo Manuel da Câmara]. Ms. José Barbosa Canais hão-de ser vendidos em leilão. 1873. 3 vols. Lisboa: Imprensa Nacional.

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Catálogo Maggs Bros 1928 = A selection of books manuscripts engravings Coutinho, [Bernardo] Xavier. 1980. A edição princeps de Os
and autograph letters remarkable for their interest and rarity being the five Lusíadas. Subsídios para a sua crítica textual. Bracara Augusta, t. 34,
hundredth catalogue issued by Maggs Bros. Booksellers. 1928. London: fasc. 77 (90 [89]), 129-373.
Maggs Bros.
Coutinho, [Bernardo] Xavier. 1981. A edição princeps de Os
Catálogo Minhava 1885 = Catálogo da biblioteca do falecido conselheiro Lusíadas. Um problema complexo e difícil (ou insolúvel?). Muito
João Félix Alves de Minhava. N.º 1 (Camoniana). 1885. Lisboa: Tip. provavelmente houve 3 edições princeps e não apenas 2, com a data
Universal. (simulada) de 1572. Arquivos do Centro Cultural Português, 16, 571-720.

Catálogo Norton 1860 = Catálogo da livraria do falecido conselheiro Coutinho, [Bernardo] Xavier. 1987. Nova hipótese de solução
Tomás Norton. 1860. Porto: Tip. Sebastião José Pereira. para o problema da edição princeps de Os Lusíadas — não houve duas
mas quatro edições datadas de 1572. Actas da iii Reunião Internacional
Cátedra, Pedro M. & Víctor Infantes. Ed. 1983. Los pliegos sueltos de Camonistas. Coimbra: Universidade de Coimbra [Revista da
de Thomas Croft (siglo xvi). 2 vols. Valencia: Albatros Ediciones. Universidade de Coimbra, 33, 1986], 221-240.

Cerdeira, Eleutério. 1946. Duas grandes fraudes camonianas. Cunha, António Geraldo da. 1980, 2.ª ed. Índice analítico do
Documentadas com ilustrações. Barcelos: Companhia Editora do vocabulário de Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Presença, Instituto
Minho. Nacional do Livro [1.ª ed. 1966].

Chartier, Roger. [1996]. L’Europe et le livre. Réseaux et pratiques du Curto, Diogo Ramada. 2007. Cultura escrita (séculos xv a xviii).
négoce de librairie. xvie-xix e siècles. Sous la dir. de Frédéric Barbier et Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.
al. [Paris]: Klincksieck.
D. Maria de Portugal princesa de Parma (1565-1577) e o seu tempo. As
Clarke, John & José Baptista de Sousa. 2017. Lord Holland’s relações culturais entre Portugal e Itália na segunda metade de Quinhentos.
Portuguese library. Revista de Estudos Anglo-Portugueses, 26, 93-105. 1999. Porto, CIHE, ICP.

Compendio historico do estado da Universidade de Coimbra no tempo Dallasta, Federica. 2010. Eredità di carta. Biblioteche private e
da invasão dos denominados jesuitas e dos estragos feitos nas ciências e nos circolazione libraria nella Parma farnesiana (1545-1731). Pref. Giorgio
professores, e directores que a regiam […]. 1771. Lisboa: Regia Officina Montecchi. Milano: Franco Angelli.
Typographica.

430 431
Catálogo Maggs Bros 1928 = A selection of books manuscripts engravings Coutinho, [Bernardo] Xavier. 1980. A edição princeps de Os
and autograph letters remarkable for their interest and rarity being the five Lusíadas. Subsídios para a sua crítica textual. Bracara Augusta, t. 34,
hundredth catalogue issued by Maggs Bros. Booksellers. 1928. London: fasc. 77 (90 [89]), 129-373.
Maggs Bros.
Coutinho, [Bernardo] Xavier. 1981. A edição princeps de Os
Catálogo Minhava 1885 = Catálogo da biblioteca do falecido conselheiro Lusíadas. Um problema complexo e difícil (ou insolúvel?). Muito
João Félix Alves de Minhava. N.º 1 (Camoniana). 1885. Lisboa: Tip. provavelmente houve 3 edições princeps e não apenas 2, com a data
Universal. (simulada) de 1572. Arquivos do Centro Cultural Português, 16, 571-720.

Catálogo Norton 1860 = Catálogo da livraria do falecido conselheiro Coutinho, [Bernardo] Xavier. 1987. Nova hipótese de solução
Tomás Norton. 1860. Porto: Tip. Sebastião José Pereira. para o problema da edição princeps de Os Lusíadas — não houve duas
mas quatro edições datadas de 1572. Actas da iii Reunião Internacional
Cátedra, Pedro M. & Víctor Infantes. Ed. 1983. Los pliegos sueltos de Camonistas. Coimbra: Universidade de Coimbra [Revista da
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Documentadas com ilustrações. Barcelos: Companhia Editora do vocabulário de Os Lusíadas. Rio de Janeiro: Presença, Instituto
Minho. Nacional do Livro [1.ª ed. 1966].

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D. Maria de Portugal princesa de Parma (1565-1577) e o seu tempo. As
Clarke, John & José Baptista de Sousa. 2017. Lord Holland’s relações culturais entre Portugal e Itália na segunda metade de Quinhentos.
Portuguese library. Revista de Estudos Anglo-Portugueses, 26, 93-105. 1999. Porto, CIHE, ICP.

Compendio historico do estado da Universidade de Coimbra no tempo Dallasta, Federica. 2010. Eredità di carta. Biblioteche private e
da invasão dos denominados jesuitas e dos estragos feitos nas ciências e nos circolazione libraria nella Parma farnesiana (1545-1731). Pref. Giorgio
professores, e directores que a regiam […]. 1771. Lisboa: Regia Officina Montecchi. Milano: Franco Angelli.
Typographica.

430 431
Debenedetti, Santorre & Cesare Segre. Ed. 1960. Ludovico Elia, Hamilton. 1981. Normas para uma edição crítica de Os Lusíadas.
Ariosto. L’Orlando Furioso, secondo l’edizione del 1532, con le varianti Rio de Janeiro: Real Gabinete Português de Leitura.
delle edizioni del 1516 e del 1521. Bologna: Commissione per i Testi
di Lingua. Estudos camonianos. Reedição de ensaios, de autores brasileiros já
falecidos, sobre a vida e obra de Luís de Camões por iniciativa da Comissão
Deslandes, Venâncio Augusto. Ed. 1888. Documentos para a Especial designada para o fim de preparar e organizar as comemorações do
história da tipografia portuguesa nos séculos xvi e xvii. Lisboa: Imprensa iv centenário da publicação d’Os Lusíadas. 1974. Vol. 1. Rio de Janeiro:
Nacional [reed. facs. 1988. Intr. Artur Anselmo. Lisboa: Imprensa Ministério da Educação e Cultura, Departamento de Assuntos
Nacional-Casa da Moeda]. Culturais.

Dicionário de historiadores portugueses. Lisboa: Academia das Europe informed. An exhibition of early books which acquainted Europe
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York: Macmillan and Co. London: Smith, Elder, & Co. Em linha. Exposição. Coleção Barbosa Machado. 1967. Rio de Janeiro:
Biblioteca Nacional, Divisão de Publicações.
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Italiana. Em linha. Faria, Francisco Leite de. 1978. Livros impressos em Portugal
no século xvi existentes na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
Eco, Umberto. 1980. La struttura assente. Milano: Bompiani [1.ª Boletim da Biblioteca da Universidade de Coimbra, 34, 2, 141-225.
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Faria, Francisco Leite de. 1993. Exemplares das cinco edições de
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[1.ª ed. 1990]. História, 34, 446-494.

Edit16. Censimento nazionale delle edizioni italiane del xvi secolo. Faria, Manuel Severim de. 1624. Vida de Luis de Camões. Id.
Istituto Centrale per il Catalogo Unico delle Biblioteche Italiane e Discursos varios politicos (ff. 88r-135v). Évora: M. Carvalho [reed.
per le Informazioni Bibliografiche. Istituto Centrale per il Catalogo facs. 1999. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda].
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432 433
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[reed. facs. 1981. Ed. Maria Leonor Carvalhão Buescu. Lisboa:
Ferreira, Antero & António Amaro das Neves. 2010. Estratégias Biblioteca Nacional].
matrimoniais em Guimarães (séculos xviii e xix): uma abordagem
diferencial. In Carlota Santos (Ed.). Família, espaço e património (63- Gândavo, Pero de Magalhães. 1576. Historia da prouincia de sãcta
-74). Porto: CITCEM. Cruz a que vulgarmẽte chamamos Brasil. Lisboa: Antonio Gonçalves.

Ferro, Manuel. 2014-2015. Desprezadas e omitidas: as estâncias [Gândavo, Pero de Magalhães]. 1922. The Histories of Brazil by Pero
excluídas nas edições d’Os Lusíadas. Estudos Portugueses, 10, 13-60 de Magalhaes now translated into English for the first time and annotated
[Pernambuco]. by John B. Stetson Jr., with a fac-simile of the Portuguese original 1576. 2
vols. New York: The Cortes Society.
Ferroni, Giulio. 2009. Ariosto. Roma: Salerno.
Garcia, Maria Madalena A. de Moura Machado & Lígia de
Fonseca, Fernando Taveira da. 2001. A Imprensa da Universidade Azevedo Martins. 1996. Inventário do Arquivo Histórico da Biblioteca
no período de 1537 a 1772. In Fernando Taveira da Fonseca, Nacional (1796-1950). Lisboa: Biblioteca Nacional.
José Antunes, Irene Vaquinhas, Isabel Nobre Vargues, Luís Reis
Torgal & Fernando J. Regateiro. Imprensa da Universidade de Garone Gravier, Marina. 2011. De Flandes a la Nueva España.
Coimbra. Uma história dentro da história (7-54). Coimbra: Imprensa Derroteros de la tipografía antuerpiana en las imprentas de México.
da Universidade. Bibliographica Americana, 7, 45-63.

Fraticelli, Barbara & Aurelio Vargas Díaz-Toledo. 2022. Camões Gonçalves, Francisco Rebelo. 2002. Obra completa. Vol. 3. Lisboa:
en el 450 aniversario de los Lusíadas. Toledo: Junta de Comunidades Fundação Calouste Gulbenkian.
de Castilla-La Mancha.
Gonçalves, Paula. 2003. Bibliografia da história do livro em
Gallut, Anne. 1970. Le Morgado de Mateus éditeur des Lusíadas. Portugal. Séculos xv a xix. Coord. Diogo Ramada Curto. Lisboa:
Paris: Klincksieck, Lisboa: Bertrand [2015. O Morgado de Mateus Biblioteca Nacional.
editor de Os Lusíadas. Trad. Maria Carlos Loureiro. Lisboa: Alêtheia].
Griffin, Clive. 1991. Los Cromberger. La historia de una imprenta del
siglo xvi en Sevilla y Méjico. Madrid: Ediciones de Cultura Hispánica.

434 435
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434 435
Hernández Royo, Pura. 1994. La imprenta valenciana de la familia Lima, Matias. 1956. Encadernadores portugueses. Porto: ed. autor.
Mey-Huete en el siglo xvi. Producción y tipografía. Universitat de
València, Tese de doutoramento. Lisboa, João Luís. 2014. Uma, duas, quantas edições? Os
argumentos sobre a contrafacção de Os Lusíadas no século xvi.
Hue, Sheila Moura. 2003. Os Lusíadas de 1572. O eloquente Cultura. Revista de História e Teoria das Ideias, 33, 97-108.
silêncio de um paratexto. Revista Camoniana, 3.ª s., 13, 115–134.
Lobo, Francisco Alexandre. 1819. Elogio histórico do Ex.mo
Jackson, Kenneth David. 1991. A contribuição dos exemplares e rev.mo Bispo Inquisidor Geral, D. José Maria de Melo. História
mais raros de Os Lusíadas, 1572. In Estudos portugueses. Homenagem a e Memórias da Academia Real das Ciências de Lisboa, t. 6, parte 1,
Luciana Stegagno Picchio (589-601). Lisboa: Difel. liii-cvii.

Jackson, Kenneth David. 2005. Uma edição facsimilada d’Os Mablin, [ J. B.]. 1826. Lettre à l’Académie Royale des Sciences de
Lusíadas, 1572. O caso das páginas trocadas. In Miguel Gonçalves, Lisbonne sur le texte des Lusiades. Paris, Strasbourg, Londres: Treuttel
Augusto Soares da Silva, Jorge Coutinho & José Cândido de Oliveira et Würtz.
Martins (Ed.), Gramática e Humanismo. Colóquio de homenagem a
Amadeu Torres (2. 409-418). Braga: Alêtheia. Macedo, Helder. 2007. Introducción. Luís de Camões. Los
Lusíadas. Poesías. Prosas. Coord. Elena Losada Soler. Madrid: Espasa
Kant, Immanuel. 2018, 9.ª ed. Crítica da razão pura. Trad. Manuela Calpe, Córdoba: Almuzara, xi-lxxiv.
Pinto dos Santos, Alexandre Fradique Morujão. Intr., notas Alexandre
Fradique Morujão. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. Machado, Diogo Barbosa. 1741-[1759]. Bibliotheca lusitana
histórica, crítica e cronológica na qual se comprehende a noticia dos authores
Lane, John A. 2004. Early type specimens in the Plantin-Moretus portuguezes […]. 4 vols. Lisboa Occidental: António Isidoro da
Museum. Annotated descriptions of the specimens to ca. 1850 (mostly from Fonseca [ed. CD-ROM 2004. Lisboa: Comissão Nacional para
the Low Countries and France) with preliminary notes on the typefoundries as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, Biblioteca
and printing offices. Pref. Hendrik D. L. Vervliet. Delaware: Oak Nacional].
Knoll Press; London: British Library.
Machado, Diogo Barbosa. [post 1767]. Cathalogo dos livros da
Liechtenstein, Marie Henriette Norberte. 1875. Holland House. livraria Diogo Barbosa Machado distribuídos por matérias e escrito por sua
London: Macmillan and Co. própria mão. Rio de Janeiro: Biblioteca Nacional, ms. 15,1,002.

436 437
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histórica, crítica e cronológica na qual se comprehende a noticia dos authores
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436 437
Malpique, [Manuel da] Cruz. 1965-1967. Francisco Gomes de Marnoto, Rita. 2021b. O cão sagaz de Os Lusíadas, 9. 74. 1.
Amorim. Notas para um estudo. Póvoa do Varzim. Boletim Cultural, Colóquio. Letras, 206, 186-191.
1965, 4, 2, 245-260; 1967, 6, 1, 17-47; 1967, 6, 2, 236-281.
Marnoto, Rita. 2021c. Entre Península Ibérica e Península Italiana.
Mariz, Pedro de. 1613. Ao estudioso da lição poética. In Luís Sobre um topónimo de Os Lusíadas. In Soledad Pérez‑Abadín Barro,
de Camões. Os Lusíadas. Comentados pelo Licenciado Manoel Rita Marnoto, David González Ramírez & Martha Blanco González
Correia. Lisboa: Por Pedro Crasbeeck [reed. facs. 1980. Lisboa: (Coord.), Entre Italia, Portugal y España. Ensayos de recepción literaria
Imprensa Nacional-Casa da Moeda]. (367-381). Santiago de Compostela: USC Editora.

Marnoto, Rita. 1996. A Arcadia de Sannazaro e o bucolismo. Marnoto, Rita. 2022a. As duas edições de Os Lusíadas. Fact check.
Coimbra: FLUC, Minerva. Colóquio. Letras, 208, 79-90.

Marnoto, Rita. 2011. Plutarco: o regresso a terras itálicas. In Marnoto, Rita. 2022b-05-22. Identificata la prima edizione dei
Joaquim Pinheiro et al. Caminhos de Plutarco na Europa, 2.ª ed. rev. Lusiadi. I Lusiadi. Avventure di mare e di torchi. Il Sole 24 Ore
aum. (51-98). Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos. Domenica, 1-2.

Marnoto, Rita. 2015. O poema de Camões entre Europa e Marnoto, Rita. 2022c. Colagens e emendas de dois exemplares de
Oceano. Studi (e Testi) Italiani. Semestrale del Dipartimento di Italianistica Os Lusíadas. In Arnaldo Espírito Santo et al. (ed.), «Optimo magistro
e Spettacolo, 34, 123-132 [Ed. Roberto Gigliucci, Epica e Oceano]. sodalium et amicorum munus». Homenagem a Aires A. Nascimento pelo
seu 80.º aniversário (615-624). Lisboa: Centro de Estudos Clássicos.
Marnoto, Rita. 2017. Cortegiano e cortesão. Baldassarre Castiglione
e D. Miguel da Silva. Préf. Maurizio Perugi. Genève: Centre Marnoto, Rita. 2022d. Dante in Portogallo, uno sguardo etereo.
International d’Études Portugaises de Genève. In Massimo Bacigalupo & Francesco De Nicola (Ed.), Dante nel
mondo (192-208). Genova: Accademia Ligure di Scienze e Lettere.
Marnoto, Rita. 2021a. Qual é a edição princeps de Os Lusíadas.
Um ponto final. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 41, 1332, 8-9. / A Marnoto, Rita, & Maurizio Perugi. 2018. Para a edição crítica
proposito della editio princeps dei Lusiadi: un punto finale. Insula da poesia lírica de Camões. Entrevista a Maurizio Perugi. Colóquio.
Europea. Trad. Beatrice Smali. Em linha. Letras, 197, 52-60.

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Marnoto, Rita. 2011. Plutarco: o regresso a terras itálicas. In Marnoto, Rita. 2022b-05-22. Identificata la prima edizione dei
Joaquim Pinheiro et al. Caminhos de Plutarco na Europa, 2.ª ed. rev. Lusiadi. I Lusiadi. Avventure di mare e di torchi. Il Sole 24 Ore
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Oceano. Studi (e Testi) Italiani. Semestrale del Dipartimento di Italianistica Os Lusíadas. In Arnaldo Espírito Santo et al. (ed.), «Optimo magistro
e Spettacolo, 34, 123-132 [Ed. Roberto Gigliucci, Epica e Oceano]. sodalium et amicorum munus». Homenagem a Aires A. Nascimento pelo
seu 80.º aniversário (615-624). Lisboa: Centro de Estudos Clássicos.
Marnoto, Rita. 2017. Cortegiano e cortesão. Baldassarre Castiglione
e D. Miguel da Silva. Préf. Maurizio Perugi. Genève: Centre Marnoto, Rita. 2022d. Dante in Portogallo, uno sguardo etereo.
International d’Études Portugaises de Genève. In Massimo Bacigalupo & Francesco De Nicola (Ed.), Dante nel
mondo (192-208). Genova: Accademia Ligure di Scienze e Lettere.
Marnoto, Rita. 2021a. Qual é a edição princeps de Os Lusíadas.
Um ponto final. Jornal de Letras, Artes e Ideias, 41, 1332, 8-9. / A Marnoto, Rita, & Maurizio Perugi. 2018. Para a edição crítica
proposito della editio princeps dei Lusiadi: un punto finale. Insula da poesia lírica de Camões. Entrevista a Maurizio Perugi. Colóquio.
Europea. Trad. Beatrice Smali. Em linha. Letras, 197, 52-60.

438 439
Martins, José V. de Pina. Ed. 1972. Os Lusíadas. 1572-1972. Murphy, Franklin D. Ed. 1998. Aldus Manutius and Renaissance
Catálogo da Exposição Bibliográfica, Iconográfica e Medalhística de Camões. culture. Firenze: Leo S. Olschki.
Biblioteca Nacional de Lisboa. 2 vols. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa
da Moeda. No primeiro centenário de el-rei D. Manuel II (1889-1932). 1991.
Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa.
Martins, Maria Teresa Esteves Payan. 2012. Livros clandestinos e
contrafacções em Portugal no século xviii. Lisboa: Colibri. Noronha, José Feliciano de Castilho Barreto e. 1880-1881.
Memória sobre o exemplar dos Lusíadas da biblioteca particular de
Matos, Manuel Cadafaz de. 1991-1992. A tipografia quinhentista Sua Majestade o Imperador do Brasil. Anais da Biblioteca Nacional do
de expressão cultural portuguesa no Oriente (Índia, China e Japão). Rio de Janeiro, 8, 9-38.
Humanitas, 43-44, 153-171.
Noronha, Tito de. 1874. A imprensa portuguesa durante o século xvi.
Melo, [Arnaldo Faria de] Ataíde e. 1923-1924. As portadas dos Porto: Imprensa Portuguesa.
Lusíadas. Anais das Bibliotecas e Arquivos, 2.ª s.; 1923, vol. 4, n.º 16,
249-250; 1924, vol. 5, n.os 19-20, 156-158. Noronha, Tito de. 1880. A primeira edição dos Lusíadas. Porto,
Braga: Ernesto Chardon.
Melo, [Arnaldo Faria de] Ataíde e. 1926. O papel como elemento de
identificação. Lisboa: Biblioteca Nacional. Norton, Frederick Johan. 1978. A descriptive catalogue of printing
in Spain and Portugal. 1501-1520. Cambridge, London, New York,
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440 441
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Rita Marnoto
Études de Philologie et Littérature Portugaises
1. Cortegiano e cortesão. Baldassarre Castiglione e D. Miguel da Silva
Rita Marnoto

2. Luís de Camões, Comédia Filodemo


Ed. critica a cura di Maurizio Perugi

10. Luís de Camões. Os Lusíadas - Edição crítica da princeps - Volume II


3. La lirica di Camões. 1. Sonetti
Ed. critica a cura di Maurizio Perugi

4 La lirica di Camões. 2. Redondilhas


Ed. critica a cura di Barbara Spaggiari

5. La lirica di Camões. 3. Canzoni


Ed. critica a cura di Maurizio Perugi
Rita Marnoto é Professora 6. La Lirica di Camões. 4. Ottave
da Faculdade de Letras da Ed. critica a cura di Barbara Spaggiari
Universidade de Coimbra,
7. La Lirica di Camões. 5. Elegie
Vice-Directora do Centre Ed. critica a cura di Maurizio Perugi
International d’Études Portugaises
de Genève e membro da Academia 8. La Lirica di Camões. 6. Odi
Ed. critica a cura di Barbara Spaggiari
das Ciências de Lisboa. Em 2007,
foi agraciada com a distinção 9. La Lirica di Camões. 7. Ecloghe
Ordine della Stella della Solidarietà Ed. critica a cura di Maurizio Perugi
Italiana, Grande Ufficiale della 10. Luís de Camões. Os Lusíadas. Ed. crítica da princeps
Repubblica. Dedica-se ao estudo Ed. crítica de Rita Marnoto, 2 vols.
da literatura italiana, da literatura
portuguesa e das suas relações
recíprocas, com destaque para o
classicismo e as vanguardas. No
âmbito dos estudos camonianos,
publicou numerosos trabalhos,
Este livro visa o esclarecimento das questões que se colocam em
torno da edição princeps de Os Lusíadas, inicialmente assinaladas por
Manuel de Faria e Sousa, na primeira metade do século XVII, e nunca
Luís de Camões. Os Lusíadas
alguns dos quais reunidos em
Sete ensaios camonianos (2007),
coordenou o projecto Comentário a
cabalmente explicitadas. A configuração da princeps de Os Lusíadas é
identificada a partir do diálogo estabelecido entre a materialidade do Edição crítica da princeps
texto, à luz da metodologia da bibliografia textual, e a ecdótica. Da
Camões, do qual resultaram quatro
volumes (2012-2016), e publicou
a obra O petrarquismo português do
colação de um significativo conjunto de exemplares datados de 1572,
resulta a edição crítica da princeps do poema historicamente identitário
Volume II
da portugalidade.
Cancioneiro geral a Camões (2015). Edição crítica de Rita Marnoto
Centre International
Capa: gravura do frontispício, Luís de Camões, Os Lusíadas, Lisboa, António Gonçalves, 1572,
edição princeps com o pelicano voltado para a esquerda. 10 ci
ep
d’Études Portugaises
Genève

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