impressionante chamado que ele faz para o povo desistir de suas peregrinações festivas aos três grandes santuários de Betel, de Berseba e de Gilgal.
Como veremos, a mensagem do capítulo
foi construída ao redor desses santuários.
Se quisermos apreciar a força do que
Amós está dizendo, devemos tentar entender o que motivava o povo à jornada (presumivelmente anual) a estes lugares: no caso de Gilgal, uma viagem até Jericó, no extremo sudeste do país,¹ e no caso de Berseba, uma viagem que os levava por mais de oitenta quilômetros ao sul de Judá. O fato desses santuários serem sacralizados por causa de sua associação com Abraão, Isaque e Jacó poderia por si mesmo constituir um motivo para que fossem visitados, em especial no caso desse povo cismático, como o do norte, ansioso por demonstrar a legitimidade de suas reivindicações quanto aos títulos ancestrais. Mas há mais do que isso. Betel. Em Gênesis, Betel está especialmente associada ao patriarca Jacó, o que a faria ter naturalmente muito significado para esse povo que adotara "Israel" como seu nome nacional. Em dois momentos importantes de sua vida, Jacó foi a Betel. Na primeira ocasião (Gn 28:10-22), Jacó foi até lá involuntariamente, como um peregrino sem lar, sem nenhuma certeza do futuro. Foi ali que ele dormiu e sonhou, acordando consciente de que o Senhor está neste lugar (Gn 28:16). Na segunda vez, Jacó foi a Betel, quando vol tava de Padã-Ara (Gn 35:1-15).
Ele se lembrou de sua experiência anterior
e de que ali Deus se lhe revelou (35:7) mas, ali, passou por uma nova experiência (35:15): Deus lhe falou. Betel recebeu este nome por causa da realidade espiritual: Deus estava lá, revelando-se, falando com o seu povo. Mas havia algo mais na experiência de Betel além da visão e da voz de Deus. Na sua primeira visita, Jacó chegou sendo um homem com um passado e partiu sendo um homem com um futuro (28: 13-15); na sua segunda visita, ele chegou como Jacó, mas partiu como Israel (35:10), isto é, com uma nova certeza de que, na realidade, recebera um novo nome de Deus e era, portanto, um novo homem. Em outras palavras, de acordo com estas tradições de Betel, a presença de Deus era ali experimentada no poder renovador e reorientador. Sendo assim, que surpresa e ofensa as seguintes palavras de Amós teriam suscitado!: Buscai-me, e vivei. Porém não busqueis a Betel (5:4, 5). Haria alguma coisa em toda essa síndrome de Betel que inibia os peregrinos, privando- os de experimentar a realidade que Betel supostamente proporcionava, a presença doadora de vida do Senhor. Berseba
Vamos agora examinar o segundo destes
santuários populares,
Berseba. Em Gênesis, Berseba estava
associado a cada um dos membros do grande trio: Abraão, Isaque e Jacó. Abraão fez a sua primeira visita a Berseba (e foi, na verdade, a ocasião em que ela recebeu esse nome, em Gênesis 21:22-33) e foi lá também que, dos lábios de um rei pagão, ouviu as palavras que se transformariam no tema de Berseba: Deus é contigo em tudo o que fazes. Em Gênesis 26:23, Isaque veio a Berseba. É interessante notar, nas histórias de Isaque, que ele meditava muito sobre o que o seu pai lhe na do Senhor que se anunciou como o Deus de Abraão e enunciou transmitira. De qualquer forma, em Berseba ele teve a visão notur- a promessa: Não temas porque eu sou contigo. Anos mais tarde (Gn 46:1-4), Jacó dirigiu-se para o Egito, atendendo ao convite de seu filho José, a quem ele julgava perdido. Viajando na direção do sul, ele chegou a Berseba onde, mais uma vez, sua permanência foi marcada por visões de noite (v. 2) e uma comunicação do Deus de teu pai; não temas... Eu descerei contigo (vs. 3,4). Assim, em Berseba, cada um dos três patriarcas recebeu, por sua vez, a certeza da companhia de Deus com eles: "Eu sou contigo". Com que horror e incredulidade, então, o povo do tempo de Amós ouviu-o dizer:
Não busqueis a Betel... nem passeis a
Berseba (5:5), ampliando depois o pensamento no versículo 14, que diz que o Senhor, o Deus dos Exércitos, estará convosco, como dizeis, em condições totalmente diferentes. É claro que eles reivindicavam a certeza da companhia divina, sem dúvida com base na sua peregrinação a Berseba, mas para Amós não era assim. Tal como Betel, Berseba era o depósito de promessas, mas de uma certa forma não poderia conceder o que expressava, a companhia viva do Senhor. Gilgal Gilgal entrou na história do povo de Deus quando eles invadiram a terra prometida sob a liderança de Josué.
Foi o local do seu primeiro acampamento
(Js 4:19) e o lugar onde eles levantaram um monumento comemorativo de doze pedras em homenagem à milagrosa travessia do Jordão quando puderam colocar os pés em Canaã (Js 4:20).
Foi em Gilgal que eles foram constituídos
como o povo da aliança através da circuncisão e da páscoa (Js 5:2-12); foi ali também que experimentaram as primícias da posse da terra quando o maná cessou e eles comeram das novidades da terra de Canaã (Js 5:12).
De Gilgal, seu quartel-general, Josué
investiu para o oeste, sul e norte, nas guerras da conquista (Js 9:6; 10:6, 7, 9, 15, 43; 14: 6), e foi em Gilgal que Saul, o primeiro rei, foi confirmado no seu reino (1 8m 11:14, 15), um fato que tornava o santuário ainda mais atraente para as das tribos do norte com sua especial lealdade (cf.2 Sm 28-10 etc) à casa de Saul. Está claro, então, que Gilgal era o santuário que proclamava a herança e a posse da terra prometida de acordo com a vontade de Deus.
Então, mais uma vez, podemos apreciar
inaceitável horror nas mentes dos ouvintes de Amos diante das palavras que diziam que Gilgal certamente ser levada cativa e que es desterrarei, para além de Damasco (5:27). Gilgal, como os outros santuários, fazia uma promessa que não podia ser cumprida; falava de uma herança, mas não podia tornar a herança em posse; antes, o contrário, pois, apesar da muita veneração de santuário, o exilio seria a sua experiência, e pela mesma mão divina que lhes concede a terra . Pregando no funeral
Os cinco primeiros versículos de Amós 5
consistem de lamentação (vs. 1, 2), de aplicação (v. 3, a "morte" de Israel será por meio de dizimação militar) e de explanação (vs. 4, 5): tudo aconteceu por que eles confiaram que os santuários cumpririam as suas promessas e isto não ocorreu, como já vimos. Nessa busca dos santuários, o Senhor, propriamente dito, acabou sendo deixado de fora.
Examinando a mensagem dos santuários,
podemos entender a mensagem do canto fúnebre.
Ela fala de morte onde deveria haver vida:
estendida está na sua terra, não há quem a levante (v. 2a). Eis a deficiência de Betel: ser a casa de Deus, o local da promessa, "Deus está neste lugar" como o doador da esperança e da nova vida, aquele que pode tornar realidade o nome "Israel".
Segundo o canto fúnebre fala de abandono
onde deveria haver companheirismo:
Caiu a virgem de Israel, nunca mais
tornada a morte como uma virgem que nunca conheceu as alegrias do com promessa de Berseba, "Deus está contigo". Israel foi levada para hora da necessidade.
Terceiro, o canto fúnebre fala de expropria
panheirismo conjugal e que, mesmo em seu estado de virgindade, não conseguia encontrar ninguém que se compadecesse dela nação onde deveria haver herança:
Caiu... estendida na sua terra,
Não quem a levante, o fracasso da promessa de Gilgal, o povo gritaram em triunfo a derrota dos inimigos. de Deus derrotado, morto, onde no auge de Gilgal de Josué eles Certamente foi um sermão severo que Amós pregou no funeral, mas ele não estava errado.
"Como um povo, ele diz, não poderiam
mais ser restaurados; e não foram" (Pusey).
Os últimos vinte anos do reino de Israel
foram de ruína da política doméstica, um golpe político após o outro, até que, em 722 a.C., Sargão II da Assíria acabou com o reino de Israel para sempre, deportando o remanescente que sobreviveu ao cerco e à matança, e povoando a terra com uma população estrangeira. É neste cenário de realismo, o realismo do cumprimento histórico, que lemos as palavras de Amós. Ele não estava errado em sua previsão, nem estava errado na sua análise de causa e efeito. Os acontecimentos compro- varam as palavras, de modo que podemos dizer, como no caso de Moisés, o qual recebeu palavras vivas para no-las transmitir (At 7:38).
Confirmemos a nossa vocação e eleição
Não podemos errar na suposição de que, afinal de contas, a maioria daqueles que afluíam a Betel, Berseba e Gilgal pensavam que eram legítimos participantes das promessas de Deus. Amós e a história se uniram para proclamar que a maioria estava errada. No desenrolar dos amargos acontecimentos, eles descobriram que uma coisa é conhecer a promessa, mas uma outra totalmente dife "Saul". Pusey sugere que seria como "se um homem vivo... pudesse ver o seu próprio funeral, e ouvir a respeito de si mesmo as palavras à terra o que é da terra'...". Mays observa acertamente que a escolha desta métrica "dá testemunho da tristeza do próprio profeta diante do que as suas pa lavras estão predizendo". 1