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UNIDADE 1 – TEMA 1 – ANTES DE MIM

CAPITULO 4 – O CÉREBRO E A SUA IMPORTÂNCIA NO


COMPORTAMENTO
VIAGEM AO CENTRO DO SISTEMA NERVOSO – NOVA VERSÃO

Funções do sistema nervoso central


O sistema nervoso central é constituído por duas grandes estruturas – o cérebro e a
medula espinal. Quanto ao cérebro, podemos subdividi-lo em duas grandes
subestruturas: o córtex cerebral e as estruturas subcorticais, ou seja, as que estão
situadas abaixo do córtex cerebral.

Breve viagem ao centro do sistema nervoso: o sistema nervoso central (a


importância da espinal medula e das estruturas subcorticais).
Funções das estruturas subcorticais.

O programa exige que se fale das bases biológicas e fisiológicas do comportamento.


Iremos escolher alguns comportamentos e processos mentais para mostrar como são
condicionados pelo sistema nervoso, mais propriamente por algumas estruturas
nervosas.

A caixa acima apresentada mostra algumas funções de algumas estruturas nervosas.

Por distracção pego numa cafeteira com leite a ferver sem qualquer
protecção. Como se forma a sensação de dor? Como reage o organismo a
essa ameaça assegurando a minha integridade física?
Resposta à primeira questão: Os receptores sensoriais da minha mão detectam a
queimadura e enviam uma mensagem aos nervos sensoriais. Estes transportam essa
mensagem à medula espinal. Os nervos sensoriais enviam a mensagem pela medula
espinal em direcção ao cérebro. O tálamo – via de passagem de informação sensorial –
identifica a mensagem e fá-la chegar ao centro cerebral apropriado para a sua
interpretação. Na estrutura cerebral chamada córtex somatossensorial, a mensagem é
conscientemente interpretada como «dor ou queimadura na mão direita». Já deve ter
notado que a sensação de dor leva uns breves segundos a formar - se no cérebro. A
medula espinal realizou aqui uma das suas funções: conduzir informação para o
cérebro. A função condutora também consiste em fazer circular informação do
cérebro para o organismo. Quando uma fractura grave da coluna danifica a espinal
medula podem resultar consequências dramáticas como paralisia e insensibilidade.
Quanto mais próxima do cérebro estiver a área lesionada tanto maior será o número
de nervos espinais que deixarão de comunicar com aquele e, assim, tanto maior será o
grau de paralisia e de insensibilidade. Se a lesão se verificar na parte superior da
medula, a paralisia e a insensibilidade atingirão os braços, o tronco e as pernas; se
danificar a parte inferior, a paralisia atingirá as pernas e muito provavelmente o
paciente perderá o controlo da bexiga e dos intestinos.

Resposta à segunda questão: É importante que a informação de alguma zona do


organismo chegue ao cérebro porque este é a central que processa quase toda a
informação. Contudo, no caso da queimadura com a cafeteira sobreaquecida algo mais
tem de ser feito. A sensação de dor leva quase dois segundos a formar – se no cérebro.
Se fosse ele a resolver este problema, a nossa mão ficaria em muito mau estado.
Temos de reagir rápido, automaticamente. Ora, por si só a medula espinal consegue
isso. Os receptores sensoriais da minha mão detectam a queimadura e enviam uma
mensagem aos nervos sensoriais. Estes transportam essa mensagem à medula espinal.
Aí, um nervo de associação transfere a mensagem dos nervos sensoriais para os nervos
motores, que, por sua vez, a enviam aos músculos da mão, provocando um reflexo de
retirada antes de conscientemente o cérebro registar a sensação da dor. Trata – se de
um acto reflexo que protege a nossa integridade física. A medula espinal tem, ela
própria, a função de coordenar as actividades reflexas ou, mais propriamente falando,
automáticas, involuntárias.

Estar sentado a ler, a escrever ou a ver televisão; realizar acrobacias ou


movimentos harmoniosos e complicados como dançar e patinar são
coisas normais. Mas o que aconteceria se a principal estrutura nervosa
responsável por estes comportamentos se danificasse?
É em virtude do cerebelo que nos é possível manter a posição erecta quando andamos
e mantermo-nos sentados quando lemos um livro ou vemos um jogo de futebol. Se
esta estrutura sofresse uma lesão grave nem conseguiríamos estar sentados. O
cerebelo assegura a manutenção da posição e do equilíbrio do corpo. Mas faz mais:
Assegura a coordenação da actividade motora e a manutenção da harmonia dos
movimentos do nosso corpo. Por exemplo, ao escrever recorrendo ao teclado do
computador, é o cerebelo que torna possível que sucessivamente pressionemos as
teclas correctas. Actos motores complexos como este e nadar, dançar, tocar piano ou
violino, jogar basquetebol, etc., dependem desta estrutura. É o cerebelo que torna
esses movimentos harmoniosos, suaves, coordenados e orientados para um
determinado alvo.

O que tem a fome a ver com o cérebro?


A fome é um impulso biológico e a comida é o diverso conjunto de substâncias que
satisfazem ou reduzem esse impulso ou necessidade. Mas o que causa esse impulso,
isto é, o que acontece no corpo que nos faça sentir fome e o que provoca a sensação
de saciedade? Diríamos que a fome é provocada por um estômago vazio e a saciedade
por um estômago cheio. É verdade que a sensação de fome e as contracções do
estômago são fenómenos associados, mas essas contracções não causam a fome.
Sabemo-lo porque os investigadores descobriram que pessoas a quem fora retirado o
estômago continuavam a experimentar a sensação de fome. Afastado o “mito do
estômago”, teorias mais credíveis sobre o processo biológico da fome foram
elaboradas. Essas teorias salientaram o papel regulador do sistema nervoso central.
Mediante a experimentação laboratorial com animais, os investigadores descobriram
duas áreas do hipotálamo que afectam o impulso da fome. O hipotálamo lateral é uma
área do encéfalo que excita o impulso da fome. Se for, em certas condições, activado
fará com que o organismo embora cheio continue a procurar comida. Uma lesão nessa
zona implica que se deixe de sentir a necessidade de comer correndo-se o risco de
morrer de fome. O hipotálamo ventromedial é outra área que se julga funcionar como
centro da saciedade e inibidor da motivação alimentar. Se for removido ou lesionado
acontece o fenómeno da hiperfagia – come-se desmesuradamente e o peso aumenta
para o triplo.

O hipotálamo é igualmente o lugar dos «centros de prazer» do cérebro – áreas do


hipotálamo que, quando estimuladas, são muito gratificantes. O mínimo que se pode
dizer do hipotálamo é que sem ele não poderíamos nem quereríamos viver. Sendo o
centro regulador de grande parte das nossas necessidades vitais, não admira que
seja denominado o «guardião do corpo».

Será possível esquecer acontecimentos posteriores a uma grave lesão


cerebral mas não os acontecimentos anteriores a essa lesão?
A resposta é sim. Um famoso paciente denominado pelos médicos H.M. sofria de
graves ataques de epilepsia. Teve de sofrer uma intervenção cirúrgica radical. Foi
removida pelos cirurgiões a zona cerebral que causava os ataques epilépticos, no caso,
dois terços do hipocampo em ambos os hemisférios cerebrais. Foi em 1953 e H.M.
tinha 27 anos. Depois da cirurgia continuou a ser a pessoa inteligente que era e
permaneceu emocionalmente estável. Após a neurocirurgia, H.M. apresentou um
quadro de amnésia anterógrada (não era capaz de formar novas memórias) e de
amnésia retrógrada temporalmente graduada (não se lembrava de nada do que
ocorrera imediatamente antes da cirurgia, mas à medida que se retrocedia no
tempo até 2-3 anos, lembrava-se cada vez mais do seu passado; em relação ao
período anterior a 2-3 anos antes da cirurgia, lembrava-se do seu passado como
qualquer pessoa normal). Os tecidos cerebrais removidos continham boa parte de
uma área responsável pela formação de novas memórias. H.M. ainda está vivo mas
não conseguiu até à data um único facto ou acontecimento que viveu depois da
operação. Poderia dizer – se que continua viver em 1954 e que tem 27 anos. E
contudo, aprendeu a jogar ténis e playstation. Só que não se lembra de ter aprendido
nem de ter jogado… O caso H.M. chamou a atenção para o facto de que o hipocampo
está envolvido na formação de novas memórias. Outros pacientes com lesões
semelhantes às de H.M. mostraram o mesmo tipo de amnésia. O hipocampo é a
estrutura envolvida na formação de memórias de factos, informações e experiências
pessoais. Mas só é necessário durante um certo tempo depois de termos aprendido
algo. Uma vez formadas as memórias são armazenadas em certas áreas do córtex e
podem ser relembradas independentemente do hipocampo.

Para comunicar não basta falar. É preciso também que compreendamos


o que os outros nos dizem. O que tem o cérebro a ver com isto?
Sabemos que as duas áreas mais importantes ligadas à linguagem estão situadas no
hemisfério esquerdo. As duas áreas do córtex cerebral responsáveis, respectivamente, pela
produção do discurso oral (fala) e pela compreensão do discurso oral são as áreas de Broca e
de Wernicke.

A área de Broca, descoberta em 1861 pelo neurocirurgião francês a que deve o nome, situa-
se na zona inferior do córtex pré-frontal do hemisfério cerebral esquerdo; a área de
Wernicke, descoberta em 1871, situa-se no lobo temporal do hemisfério cerebral esquerdo.
Lesões nestas áreas provocam desordens e perturbações da linguagem conhecidas pelo nome
de afasias. Uma lesão na área de Broca provoca um tipo de afasia que, dependendo da
gravidade do dano, pode implicar perda quase completa da capacidade de falar (no estudo
original efectuado por Broca, o doente somente sabia dizer a palavra «tan» e, com este
«nome», passou à posteridade) ou a produção de discurso muito lento e esforçado com
articulação muito pobre das palavras, frases incompletas e muito difíceis de entender (Ex.:
Sim… Benfica… segunda-feira, … quarta-feira… Sporting… jogo… e … bilhetes). Uma lesão na
área de Wernicke provoca um diferente tipo de afasia. A capacidade de falar permanece
intacta, verifica-se a construção de frases completas, mas que não fazem qualquer sentido.
Assim, se pedirmos a um doente com uma lesão nessa área para nos descrever uma situação
em que dois miúdos roubam bolos nas costas da proprietária da pastelaria, aquele poderá
produzir um discurso do género: «A mãe está fora de casa a trabalhar o seu trabalho para se
sentir melhor, mas quando olha os dois rapazes olham no outro lado. Para a próxima a mãe
vai trabalhar». A área de Wernicke parece ser especialmente importante para compreender
o que os outros nos dizem; a área de Broca é especialmente importante para a nossa
capacidade de falar. Uma lesão na área de Broca afecta o discurso, a produção sequenciada
da linguagem oral, ao passo que uma lesão na área de Wernicke deixa o discurso intacto, mas
impede a compreensão da linguagem falada.

O córtex cerebral

O córtex cerebral é a parte mais exterior que cobre toda a superfície do cérebro,
encobrindo a quase totalidade das estruturas subcorticais. O cérebro humano está
dividido em dois hemisférios (hemisférios cerebrais) ligados entre si por um espesso feixe
de fibras nervosas denominado corpo caloso. Em cada hemisfério cerebral, o córtex
cerebral encontra-se dividido em 4 lobos: frontal, temporal, parietal e occipital.

1. O lobo occipital, responsável pela visão.

2. O lobo temporal, responsável pela audição.


3. O lobo parietal, responsável pelas sensações do corpo.

4. O lobo frontal, responsável pelos movimentos.

Note-se que a linguagem falada tem a sua origem na área de Wernicke. É aqui que as frases
com sentido são produzidas. Elaborada uma frase com sentido, esta é transferida para a área
de Broca. Esta tem a função de programar os músculos da face, da língua e da laringe, para
tornar audível a frase formada na área de Wernicke, ou seja, efectua a passagem da frase
pensada à frase falada.

Uma pessoa organizada, responsável, educada pode transformar – se


em virtude de uma grave lesão cerebral numa pessoa desorganizada,
irresponsável, mal-educada e que não controla as suas emoções?
Sim. O famoso caso de Phineas Gage é ilustrativo. Atingido numa brutal explosão por
uma grossa barra de ferro que danificou grande extensão dos lobos pré-frontais, Gage
recuperou miraculosamente em termos físicos mas nunca mais foi o mesmo quanto
ao modo de ser. A sua personalidade alterou-se radicalmente.

Uma pessoa totalmente diferente do que era antes do acidente. Tornou-se


extravagante e anti-social, praguejador e mentiroso, com péssimas maneiras, e já não
conseguia manter um trabalho por muito tempo ou planear o futuro. "Gage já não
era Gage", disseram os seus amigos. A sua reputação de competência foi desfeita
pelas sequelas do bizarro acidente de que foi vítima. Tomar decisões, planear e
antecipar o futuro, exercer funções de chefia, capacidades que lhe eram
reconhecidas, foram dramaticamente afectadas, perdendo empregos atrás de
empregos. O caso de Phineas Gage chamou a atenção para uma zona do córtex
chamada córtex pré – frontal.

O córtex pré-frontal, assim chamado porque se situa na parte anterior dos lobos
frontais, ocupa uma grande extensão destes. De extrema importância por ser
responsável pela integração e coordenação de muitas estruturas corticais e
subcorticais (tálamo, hipotálamo, por exemplo), dos comportamentos emocionais e
intelectuais, o córtex pré-frontal é, por isso mesmo, o núcleo da nossa personalidade.
A ele devemos capacidades como:

– O pensamento abstracto, a linguagem e o processamento de lembranças.

– A imaginação criadora.

– A consciência reflexiva.

– A planificação antecipada de acções e a modificação do curso de uma acção, prevendo e


antecipando os seus resultados ou consequências.

– A capacidade de sentir emoções.

– A capacidade de tomar decisões.

– A manutenção de constância em termos de personalidade.

É a ele que recorremos para resolver um complicado problema matemático, para


planear uma viagem, para criar uma obra artística. Sem ele não teríamos doutrinas
científicas, morais, religiosas, jurídicas ou inventos tecnológicos, produções artísticas
e literárias. Mas isto ainda não esgota a riqueza invulgar do córtex pré-frontal. Ele é o
nosso centro emocional, o centro das decisões sem as quais a vida seria um impasse.

Ver o vídeo Entendendo o funcionamento do cérebro humano

Http://br.youtube.com/watch?v=2_Ov6WFZTUA&feature=related da série Cosmos de


Carl Sagan.

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