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Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

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Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VINGANÇA

NEVE NOS ALPES

Maio 2012

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Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Títulos : 1 - Vingança
2 - Neve nos Alpes

Autor : Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Editor : Bubok Publishing S.L.

© Paula Cristina Simões dos Santos Trigo, 2012

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte


Desta obra pode ser apropriada ou retocada em
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em qualquer forma ou meio, seja electrónico, de
fotocópia, gravação, etc , sem permissão do autor.

© Bubok Publishing S.L.


e-mail autor: pcsstrigo@hotmail.com

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Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Dedicatória:

Ao dedicar um livro a alguém, não o faço só, como uma


homenagem mas também como um carinho especial.
Este meu decimo terceiro romance, é dedicado com toda a
minha amizade, carinhosamente a :

Maria Margarida Veríssimo Serrão

A Paciência, a Dedicação e o Amor que sempre dedicou a


todos, que estudaram em sua casa, fazem dela, um dos seres
humanos, mais especiais que conheci.
Quase todos os meninos e meninas, que moram no Algueirão
Velho conhecem-na por D.GUIDA.
Pessoalmente, foi ela quem me ensinou a escrever, a ler, a
contar, a saber o que era uma Amizade e a dar valor ás coisas
verdadeiramente, importantes da vida.
Obrigado D.Guida
Obrigado Professora
Um beijinho
Paula

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Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VINGANÇA

- Srtª Brand!

Sara Brand parou e virou o rosto jovem e bonito para a dona


da boutique, onde tinha ido comprar algumas gravatas para o
avô.

- Se precisar trocar alguma delas eu farei isso com todo o


prazer.

- Muito obrigada. - Agradeceu Sara, com um sorriso.

Virou-se para sair da loja, mas um homem forte e jovem


barrou-lhe a passagem.

- Desculpe, mas por acaso você é filha de André Brand?-


Perguntou o homem, numa voz profunda e arrastada.

- Não. Sou neta. O senhor é amigo do meu avô?


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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara, levantou o rosto e foi obrigada a admirar os traços


firmes, arrogantes e o físico atlético daquele homem jovem
que a olhava como se a estivesse avaliando.

- Digamos que o conheço. - Ele entreabriu os lábios cheios e


bem feitos, num sorriso cínico, que não lhe chegava aos
olhos negros e Sara sentiu um arrepio na pele.

- Gostaria de visitar o meu avô? Ele não anda muito bem...-


Ela falou com delicadeza, enquanto enfiava uma mão na saia
de pregas.

- Não. Mas gostaria de levá-la a casa. O meu carro está


estacionado logo ali.

Sara tentou pensar em algo rapidamente, para poder recusar


mas o homem segurou-a pelo braço e quase que a arrastou
até ao carro azul-escuro metalizado que estava parado em
frente á porta da boutique. Ele abriu a porta do carro e
ajudou-a a entrar, depois deu a volta, sentou-se ao lado dela
e colocou o carro em andamento.

Sara apertou o embrulho que trazia nas mãos, estava sentada


num carro, ao lado de um homem estranho e desconhecido
de quem, nem sequer o nome sabia, mas que a atraía de um
modo estranho e absurdo.

- Está querendo saber algo? - A voz profunda e arrastada


dele assustaram-na e Sara encostou-se mais á porta do carro.
- Acho que ainda não me apresentei não é? O meu nome é
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Bert Donnelly - Afirmou, como se tivesse lido, o


pensamento dela.

Sara olhou-o rapidamente, para depois observar o caminho


por onde estavam indo.

- Eu moro do outro lado da cidade. - Afirmou tensa


olhando-o de novo.

- Eu sei. - Ele sorriu com cinismo de novo. - Quero apenas


conversar consigo, num lugar mais calmo.

- Nós não temos nada que conversar. Eu não o conheço. -


Sara estava começando a sentir medo daquele homem

- Oh! Temos sim. - Ele parou o carro naquele momento e


virou-se para ela. - Aqui está óptimo.

Sara virou-se para a porta, tentando abri-la mas Bert


estendeu um braço musculoso, impedindo-a de fazer isso.

- Está com medo de mim? - Perguntou com um sorriso


trocista. - Eu estou apenas querendo convidá-la para almoçar
comigo.

- Eu não o conheço e o meu avô está esperando por mim


para o almoço. - Sara, tentou aparentar uma calma que
estava longe de sentir.

- Vamos jantar juntos então? – Bert acendeu um cigarro


lentamente e olhou-a através do fumo azul do cigarro caro.
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- Tenho um compromisso para hoje á noite. Sinto muito.

- Diabos! Você está tornando tudo mais difícil garota. - Os


olhos negros dele apertaram-se como os de um animal
selvagem. - Eu estava apenas querendo facilitar as coisas
para si.

- Eu não estou entendendo. - Ela olhou-o entre


amedrontada e confusa.

- Eu vou explicar. - A voz de Bert tornou-se fria e Sara


estremeceu. - O que você faria se eu lhe dissesse que o seu
avô é um corrupto da pior espécie?

Sara, levou uma mão aos lábios trémulos e os seus olhos


azuis-escuros fixaram-se incrédulos em Bert.

- Isso não é verdade. - Afirmou trémula

- È verdade sim. Ele ludibriou o meu pai e acabou me


prejudicando. A minha vida transformou-se num inferno e o
único culpado disso é o seu avô. Você sabia que ele recebia
dinheiro para alterar testamentos?

- Não é verdade. - Sara, deixou escapar um soluço.

- È verdade sim. - Repetiu ele indiferente ao sofrimento dela.


- O seu avô era advogado de minha mãe e quando ela
morreu, ele alterou o testamento. A minha madrasta

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

confirmou isso para mim. Ela deu-lhe uma quantia em


dinheiro, para que o seu avô modificasse o testamento e ele
fê-lo.

Sara, balouçou, a cabeça e alguns caracóis louros caíram-lhe


no rosto bonito.

- Eu mandei alguém investigar a vida do seu avô e descobri


que o caso da minha mãe não foi o único. Tenho inúmeras
provas que incriminam o seu avô nos últimos anos. Basta
abrir a boca e ele irá passar o resto da vida dele na cadeia.

Ela tapou o rosto com as mãos.

- O que quer de mim? - Perguntou rouca.

- Quero que case comigo.

- Ficou louco! - Ela levantou o rosto e olhou-o incrédula.

- Você escolhe. - Bert colocou o carro em andamento. - Ou


casa comigo e eu esqueço o que o seu avô fez ou vou até á
policia e conto tudo o que sei.

- Você não pode fazer isso. - Sara, apertou as mãos nervosa.


- Isso seria matá-lo. Ele não tem andado muito bem e...

- Basta casar comigo e esqueço todas as fraudes que ele


cometeu.

- Mas isso é uma completa loucura. Eu nem sequer o


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conheço.

- O seu avô colocou uma arma perigosa, contra mim, nas


mãos da minha madrasta e a única forma que eu tenho para
me salvar é casar-me consigo. Dou-lhe três dias Sara, para
pensar em tudo o que eu lhe disse. Se ao fim dos três dias
você não aceitar casar comigo, pode ter a certeza que coloco
o seu avô na cadeia. - Bert parou o carro e olhou para ela. -
Você tem três dias. - Os lábios de Sara tremeram e ele
desviou o olhar do dela. – Acho que é aqui que você mora.

Sara, abriu a porta do carro e saiu. Tudo parecia flutuar á sua


volta e ela apoiou-se pesadamente no carro. No instante
seguinte Bert estava parado ao lado dela.

- Você está bem? - Havia uma nota de preocupação na voz


dele.

- Está fazendo chantagem comigo. - Sara, elevou o rosto


branco para ele.

- Não tenho outra saída. Se casar comigo não lhe vai faltar
nada, inclusive se preferir, vai ser um casamento apenas no
papel. Eu não preciso de si como mulher, preciso apenas de
me casar. - Afirmou rispidamente virando-se e entrando no
carro.

Sara, chegou a casa completamente transtornada. Tinha


apenas a certeza que precisava de descobrir se o que aquele
homem contara sobre o avô era verdade.
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- Sara é você?

- Sou sim avô. - Ela mordeu um lábio. - Já vou aí. Vou


apenas colocar algo na cozinha.

Ela correu para a casa de banho, fechou a porta e olhou-se


no espelho . Estava branca, os olhos vermelhos e inchados.
Rapidamente ela lavou o rosto com agua fria, a cor pareceu
voltar de novo e ela foi ter com o avô, tentando aparentar
uma calma que estava longe de sentir.

Já era bastante tarde, quando Sara conseguiu ficar sozinha, o


encontro com aquele homem estranho e assustador parecia
ter sido apenas um pesadelo que tinha acontecido há muito
tempo atrás e afinal, tinham passado algumas horas apenas.

Sara, vestiu o pijama e deitou-se tentando dormir, mas foi


impossível esquecer aquele homem de olhos negros e depois
de algum tempo deitada ela abriu os olhos e ficou pensando
na escuridão do seu quarto. Precisava de descobrir se era
verdade que o avô alterara algum testamento, e só havia uma
forma de descobrir isso, de ter a certeza que tudo o que
aquele homem falara era verdade. Ela sabia que o avô tinha
um arquivo pessoal sobre os seus clientes, no qual ninguém
tinha autorização de mexer. Se realmente o avô tivesse feito
algo de ilegal isso estaria guardado naquele arquivo, disso ela
tinha a certeza.

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No dia seguinte acordou cedo, vestiu-se e foi espreitar o avô.


André Brand estava dormindo e ela saiu do quarto em
silêncio. Eram seis e meia da manhã e a empregada só
chegava ás oito horas. Respirou fundo e dirigiu-se para a sala
onde ficava o arquivo.

Era uma sala grande e tinha um ambiente pesado devido aos


móveis escuros e austeros. Sara, abriu algumas gavetas e
acabou encontrando a chaves do arquivo. Um pouco
trémula abriu o arquivo e tirou a pasta onde estava escrito o
nome de Donnelly. Com a pasta na mão, sentou-se numa
cadeira e começou a ler todas as notas que o avô escrevera,
sobre o testamento de Hilda Donnelly. Quando terminou,
Sara pousou a cabeça sobre as mãos. Tudo o que aquele
homem dissera era verdade, o avô recebera uma quantia
altíssima de Elizabeth Franc, agora Elizabeth Donnelly para
alterar um parágrafo do testamento, modificando assim a
posse de todos os bens de Hilda Donnelly

A porta da frente abriu-se e Sara apressou-se a arrumar a


pasta e a sair da sala.

- Bom dia.

Sara, fez um esforço enorme para sorrir.

- Bom dia Betty

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- Já tomou o pequeno-almoço?

- Ainda não. Vou sair agora, como algo por aí. - Sara, sentiu
necessidade de ficar sozinha. – Vou encontrar-me com uma
amiga e não devo vir almoçar.

- Está certo Sara. Divirta-se.

Ela pegou no casaco e saiu para a rua. Agora que sabia que
tudo o que aquele homem dissera era verdade estava se
sentindo assustada.

Sara, caminhou rapidamente pela rua até chegar ao parque


cheio de árvores que sempre lhe transmitia uma certa
serenidade que a ajudavam a pensar com mais clareza.

O parque estava vazio e era exactamente disso que ela


precisava. Estava frio e Sara enfiou as mãos no fundo dos
bolsos das calças de ganga e caminhou por um carreirinho
que a levou até perto de um lago, onde ela se sentou.

Durante um momento, ela fechou os olhos e deixou que o


silêncio a envolvesse.

- Está querendo morrer gelada ou ser assaltada?

Aquela voz profunda e arrastada, obrigaram Sara a abrir os


olhos e a encarar Bert Donnelly

- Eu estava apenas, querendo pensar um pouco. -


Respondeu Sara com frieza.
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- Estava querendo pensar em mim?

- Não creio que isso seja da sua conta.

- Mas é. - Ele sorriu com ironia. - Vamos almoçar juntos?

- Não.

- Não ?- Ele tornou a sorrir e os seus olhos brilharam. - Nós


vamos almoçar juntos, seja qual for a sua vontade. E isto
aplica-se em quase todas as situações.

- Está querendo dizer que se eu não concordar em casar


consigo, você...

- Isso não vai acontecer amor. Você vai casar comigo.

- Deu-me três dias para eu pensar. - Sara, começou a tremer.


- Ainda nem sequer passaram dois e...

- Escute Sara. - Bert acendeu um cigarro e aproximou-se


mais fazendo-a estremecer. - Eu não queria falar consigo
aqui. Eu preferia que nos sentássemos á mesa de um
restaurante e falássemos calmamente, mas você sempre me
obriga a falar, onde eu não quero. Eu pensei que lhe podia
dar três dias para você pensar, mas isso é impossível, a cada
minuto que passa a minha vida fica mais complicada. Nós
vamos casar amanhã, ou se possível ainda hoje. - Bert olhou
para Sara que estava tremendo e despiu o casaco. - Você está
tremendo. Vista isto.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não quero. - Ela tentou afastar-se dele mas Bert segurou-a


com força por um braço.

- Faça o que eu estou mandando garota. Não seja teimosa


comigo ou a sua vida vai virar um inferno. - Ele colocou o
casaco nos ombros dela e obrigou-a a caminhar ao seu lado.
- O meu carro está estacionado aqui perto. Vamos até sua
casa. Acho que você vai querer que o seu avô me conheça
antes de casar comigo não é?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

II

Sara, abriu os olhos e olhou para o homem, que estava


sentado ao lado dela dirigindo.

Depois de terem ido até a casa do avô de Sara, Bert levara-a


até um cartório e os dois tinham casado. Tudo acontecera
tão depressa, que ela ainda se sentia completamente perdida.
Ele tomara conta de tudo, seguro e eficiente, como se fosse
dono da vida dela.

Sara tocou na aliança de ouro que estava no seu dedo,


querendo ter a certeza que ela estava realmente ali.

- Pode tirar a aliança agora. - A voz arrastada de Bert, fez


com que ela o olhasse de novo.

- Não posso ficar com ela?

- Se quiser. - Ele encolheu os ombros, como se o assunto


não tivesse o menor interesse. - Só falei, porque você estava
olhando para a aliança, como se ela a estivesse a incomodar

Sara, desviou o olhar para a janela.

- Para onde estamos indo?


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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Bert lançou-lhe um olhar rápido e voltou a fixar os olhos na


estrada.

- Para minha casa, mas receio que ambos vamos passar por
alguns momentos bem desagradáveis.

- Porquê? - Ela voltou a olhá-lo.

- Quando chegarmos, você vai entender, porquê? – Afirmou


secamente

- Porque não posso saber já?

- Eu já lhe disse que era melhor para si, parar de ser teimosa.
- Bert entrou com o carro por um portão largo e parou á
entrada de uma casa enorme. - Outra coisa Sara, você pode
sair, sempre que quiser, mas não tente fugir de mim, porque
no momento em que o fizer, eu apresento queixa do seu avô
á policia, entendeu?

Sara, fez um sinal afirmativo com a cabeça e Bert saiu do


carro e foi-lhe abrir a porta.

- Agora é melhor colocar uma cara mais alegre. Quero que


todos pensem que foi um casamento de amor que nos uniu.

- Acho que nunca conheci alguém tão cínico.

- Foram as trapaças do seu avô que me fizeram assim garota.


Por causa dele eu fui afastado de tudo o que mais adorava na
vida e...
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

A porta da frente da casa abriu-se e Bert parou de falar,


enquanto a sua expressão se transformava num sorriso

- Vamos entrar, amor.

A casa era linda por dentro, embora a sua decoração fosse


um pouco fria.

- Elizabeth está? - Bert estendeu o casaco á empregada que


lhes abrira a porta

- A senhora está na sala com a menina Sílvia e a menina


Jaquelline.

- Óptimo. - Bert sorriu com cinismo e olhou para Sara. -


Elizabeth Franc Donnelly é a minha madrasta e foi a ela que
o seu avô facilitou a vida. Não vai ser um encontro
agradável, mas tenho a certeza que você vai sobreviver.

Os dois caminharam em direcção a uma porta que Bert


abriu fazendo com que Sara entrasse. A sala não era grande,
e estava decorada com muito bom gosto.

A mais velha das três mulheres, levantou-se assim que viu


Bert. Devia ter uns cinquenta e poucos anos, embora
aparentasse parecer mais nova. Tinha um vestido verde
comprido e alguns anéis de diamantes nos dedos longos e
bem tratados.

- Bert, meu filho, onde foi que andou o dia inteiro? - Ela
ignorou Sara completamente.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Por aí.

- A mãe estava a ficar preocupada. Ela sempre se preocupa.


Hás vezes mais do que comigo própria. - Afirmou a moça
alta e morena sorrindo para Sara. - O meu nome é Sílvia e eu
sou meia-irmã desse homem aí. - Ela caminhou em direcção
a Sara.

-O meu nome é Sara.

- Pode dizer o resto Sara. - Havia um ligeiro tom de vitória


na voz de Bert, que fez com que Sara o olhasse.

- Eu...- Sara parou sem saber ao certo o que dizer.

- Nós acabamos de nos casar. - Afirmou Bert pousando um


braço sobre os ombros dela. - O nome dela é Sara Donnelly.

- Não é possível! - O sorriso que havia no rosto de Elizabeth


Franc Donnelly desapareceu.

- Claro que é possível. - Afirmou Bert Donnelly com um


sorriso cruel. - Foi exactamente isso que eu andei fazendo .

Só naquele momento é que a terceira mulher que se


encontrava na sala se levantou do sofá e se aproximou. Era
uma mulher jovem, elegante e sofisticada.

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- Os meus parabéns Bert. - Ela excluiu propositadamente,


Sara do seu olhar. - Elizabeth, está ficando tarde para mim.
Preciso ir agora.

- Claro Jaquelline. - Elizabeth Donnelly levou uma mão á


testa num gesto cansado e Sara sentiu um pouco de pena
daquela mulher.

- Até logo então. - Jaquelline sorriu. - Não precisa de me


acompanhar á porta Elizabeth, eu conheço bem demais o
caminho. Venho ver você, um dia destes Bert.

- Venha sim Jaquelline, será um prazer.

A sala ficou carregada de um silêncio tenso, com a saída de


Jaquelline.

- Bert. - Sílvia aproximou-se do irmão e tentou sorrir. - Será


que posso levar Sara até ao quarto? Ela parece muito
cansada. Cansada demais para suportar uma das vossas
discussões.

- Não Sílvia, você não pode. Sara vai ficar comigo aqui, mas
se quiser, você pode subir, já que mais uma vez você parece
ter fugido do seu marido e abandonado o seu filho.

Os olhos meigos de Sílvia encheram-se de lágrimas.

- As vezes, consegue ser odioso Bert. Não se incomoda de


magoar seja quem for para conseguir o que quer não é?

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Há alturas que parece mesmo, ser filho da minha mãe. - Ela


saiu da sala rapidamente e Sara sentiu uma enorme simpatia
por ela.

- Não quer sentar-se Elizabeth?

- Não. Só quero dizer uma coisa Bert, se pensa que com este
casamento conseguiu alguma coisa, está redondamente
enganado. Na minha casa...

- Está enganada Elizabeth, esta casa agora è “ A minha


casa”.- Bert afirmou devagar e friamente. - Claro que você
pode continuar a morar aqui, mas agora a casa é minha, sem
mais pressões ou chantagens, mas eu a proíbo de voltar a
pisar a Quinta da minha mãe.

- Foi por isso que casou com essa mulher? Para poder ficar
com o que era da sua mãe? - Perguntou Elizabeth,
apontando para Sara com desprezo. - Já pensou que se você
a conseguiu comprar, eu também vou conseguir.

- Eu casei com Sara porque a amo.

- Não acredito numa só palavra sua. - Gritou Elizabeth


descontrolada.

- È melhor acalmar-se Elizabeth - Afirmou Bert com


cinismo. - Eu entendo a sua decepção. Afinal durante alguns
anos, você achou que me podia controlar como fez com o
meu pai, não é? Achou que era dona de tudo e...
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Cale-se. - Os olhos de Elizabeth brilharam selvagens. - Ou


sou até capaz de bater em você.

- È melhor ir deitar-se. Está completamente descontrolada.


Eu e Sara vamos viajar durante algumas semanas, espero que
quando voltar, você esteja melhor.

- Você não pode ir embora assim Bert. - Elizabeth sentou-se


pesadamente sobre uma cadeira.

- Eu vou aonde eu quero e quando eu quero. - Afirmou Bert


calmo e friamente. - Não sou mais uma criança, que possa
sem metido num colégio. Agora eu sou dono de tudo quanto
você conseguiu do meu pai e da minha mãe. As chantagens
acabaram. - Ele segurou Sara pelo cotovelo. - Vamos
embora Sara.

Só quando ultrapassaram o portão é que Sara conseguiu


falar.

- Para onde estamos indo? - A sua voz saiu tão fraca que ela
pensou que Bert não a tivesse ouvido.

- Isso importa?

Sara, levou uma mão á testa, sentindo-a latejar.

- O que vai acontecer agora? Eu preciso de saber, será que


não entende isso?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não vai acontecer nada. Você vai apenas ter de viver


comigo durante algum tempo.

- Durante quanto tempo?

- Durante o tempo que eu achar necessário. Agora é melhor


tentar descansar e dormir um pouco.

- Eu não estou com sono.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

III

Durante as três semanas que se seguiram, eles visitaram


diversas cidades. Sara ficava a maior parte do tempo sozinha,
já que Bert parecia ter negócios em quase todos os locais

- Vamos voltar para casa amanhã. - Afirmou Bert quando


terminou de almoçar.

- Para a sua casa, é o que quer dizer não é? - Perguntou Sara


com amargura.

- Está de mau humor? - Ele levantou-se e sorriu cínico. - Vai


ter tempo de tentar melhorar. Vou sair agora..

Sara cerrou os punhos de raiva, ao ouvir a porta do quarto


do hotel se fechar . Não ia ficar ali fechada e sozinha de
novo, ela levantou-se e saiu do quarto.

O tempo estava fresco e bonito e as horas passaram


depressa sem que Sara se apercebesse disso e quando
finalmente ela resolveu voltar para o hotel já estava
escurecendo.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara, abriu a porta do quarto e encontrou o olhar furioso de


Bert.

- Onde esteve? – Ele apagou o cigarro no cinzeiro com raiva.

- Andando por aí. - Ela virou as costas a Bert, embora


estivesse com medo daquele homem, quase desconhecido.

- O que pensa que está fazendo Sara? - Bert aproximou-se


dela e obrigou-a a olhá-lo. - Não fale comigo assim. Nunca
mais. Eu quero saber onde esteve e é melhor começar a
falar.

Havia tanta raiva na voz de Bert que ela precisou de toda a


sua coragem para não abrir a porta do quarto de novo e fugir
dali.

- Eu estive andando pela cidade. - Os lábios dela tremeram. -


Não sei ao certo até onde fui...

- A que horas você saiu daqui? - A voz dele estava um pouco


mais calma. - É melhor sentar-se Sara. Parece cansada
demais. Já jantou?

Ela passou a mão pela testa.

- Eu estou sem fome.

- Talvez não tenha fome mas mesmo assim vai comer.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Ele pegou no telefone e encomendou dois pratos de carnes


frias.

- Depois de comermos, nós dois, vamos ter uma conversa


seria. - Havia uma ameaça velada naquelas palavras e Sara
precisou controlar-se para não estremecer, nem demonstrar
o medo incontrolável que se apoderara dela.

Eles comeram em silêncio e assim que terminaram, Bert


levantou-se e foi até á janela do quarto.

- A partir de hoje, você vai ter de me dizer aonde vai, sempre


que quiser sair.

Aquilo não era uma sugestão, mas uma ordem e Sara


levantou o olhar indignado para Bert que estava de costas
para ela.

- Isso é um absurdo. Você saiu durante três semanas todos


os dias e nem sequer se dignou a dizer-me a que horas,
voltava, como pode querer agora que eu lhe fique dizendo
para onde vou.

- Sabe que vai fazer tudo o que eu disser, seja absurdo ou


não.

- Está a pensar que eu sou o quê? - Sara estava fora de si.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Você é aquilo que eu quero que seja Sara. - Bert virou-se


para ela e os seus olhos negros brilharam zangados. - Eu a
comprei e você vai fazer aquilo que eu quiser.

- Está louco?

Bert deu alguns passos á frente e agarrou um braço a Sara


com força.

- Não volte a falar comigo assim ou sou capaz de fazer algo


que você não vai esquecer nunca.

Agora a ameaça não era velada mas sim directa.

- Mas você pode falar como quer e o que quer. Está a


magoar-me. - A voz de Sara saiu baixa.

- Estou sim. - Ele apertou o braço dela com mais força. - Eu


faço o que eu quiser com você. É melhor entender isso de
uma vez por todas Sara.

Ela cerrou os dentes com força para não gritar de dor e no


instante seguinte Bert soltou-a e saiu do quarto.

Sara, deixou-se cair numa das camas do quarto, consciente


pela primeira vez que estava completamente nas mãos de um
homem frio e insensível, disposto a tudo para conseguir o
que queria. Ela olhou para o braço que ele agarrara e sentiu
as lágrimas caírem ao ver a enorme mancha roxa que os
dedos dele tinham deixado.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

IV

Estavam andando de carro há quase três horas, Sara sentia-


se esgotada depois de uma noite, quase sem dormir a viagem
de volta a casa de Bert, estava-se tornando numa enorme
tortura.

- Vamos parar daqui a pouco. - A voz de Bert obrigou-a a


olhá-lo.

- Eu não estou cansada. - Ela enfiou as mãos nos bolsos das


calças pretas com dificuldade.

- Então porque suspirou?

Sara abanou a cabeça, estava tão ausente, que nem sequer


tinha dado por ter suspirado.

O carro abrandou e acabou por parar á frente de um


pequeno restaurante. Bert saiu do carro azul e foi a abrir a
porta para Sara.

- Vamos beber alguma coisa fresca. Estou seco depois destas


três horas de viagem.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Ele segurou no braço de Sara e ela gemeu.

- Que foi? - Rapidamente Bert levantou a manga da camisa


de seda que Sara trazia vestida e olhou a mancha roxa que os
dedos dele tinham deixado no braço dela na noite anterior. -
Espero não ter de agir , nunca mais como ontem á noite. -
Ele sorriu cinicamente o que fez com que os olhos de Sara
se enchessem de lágrimas.

- Você não é um homem. È uma besta humana. - Ela estava


tremendo. - Eu não estou com sede e não vou entrar ali.

Ela virou-se para entrar para dentro do carro de novo, mas


foi agarrada pelos ombros e virada de novo para Bert

- Se não quer entrar ali, vai pedir com educação para ficar
dentro do meu carro. - Os olhos dele brilharam e Sara
soluçou. - Peça que eu vou deixar.

Havia uma falsa suavidade na voz dele, Sara mordeu um


lábio e acabou por pedir.

- Por favor deixe-me ficar dentro do seu carro.

Bert caminhou de novo até ao carro, abriu a porta para Sara


e esperou que ela entrasse.

- Não vou demorar.

Ele voltou pouco tempo depois, entrou no carro e atirou


com uma lata de coca-cola para o colo de Sara.
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Beba, está fresca.

- Obrigada.

Depois de ter bebido a cola, Sara encostou a cabeça no


banco e acabou adormecendo.

- Chegamos. - Bert sacudiu-a suavemente e Sara abriu os


olhos. - Chegamos. Vamos entrar?

- Claro. - Respondeu Sara baixinho, antes de abrir a porta do


carro para sair.

A primeira pessoa que eles encontraram em casa foi Sílvia


que se apressou em vir cumprimentá-los.

- Oi Sara. Tudo bem?

Ela parecia realmente feliz com a chegada deles e pela


primeira vez desde que encontrara Bert, Sara sentiu vontade
de sorrir.

- Tudo bem .

- È com você que não parece estar tudo bem. Largou o seu
marido de novo? - Bert tirou o blusão.

Os olhos meigos de Sílvia tornaram-se tristes e ela afastou-se

- Eu não entendo como pode tratar alguém assim. - Sara,


encarou Bert com desprezo.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Isso é problema meu. - Ele deu de ombros.

- Ela é sua irmã. – Sara, sentia-se revoltada.

- Ela é filha da minha madrasta e abandona o filho sempre


que pode.

- Você a magoa constantemente. Será que não sente nem um


pouco de amor por ela? – Sara não conseguia entender toda
a frieza daquele homem.

- Amor? – Ele riu cinicamente. - Você tem andado a ler


romances demais ultimamente? Sílvia afirmou que amava o
marido quando se casou e o resultado foi este. Ela fica
fugindo dele e abandona o filho para vir para cá.... Amor. -
Ele riu sarcástico. - Você acredita realmente nisso?

- Acho simplesmente que esse sentimento não existe em si.

- Vou sair agora. Tenho um encontro marcado.

- Vai-me deixar aqui sozinha? - Sara, apertou as mãos.

- Tenho a certeza que não se vai perder. Com a língua afiada


que tem... vai sobreviver -Bert virou-se e saiu.

Sara, sentiu uma vontade louca de chorar.

- Sara? – Sílvia estava parada ao lado dela com os olhos


húmidos.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Pensei que tivesse ido embora. - Sara deu-lhe um sorriso


triste.

- Já estou habituada ás agressões de Bert. - Ela segurou Sara


pelo braço. - Venha, vou-lhe mostrar o seu quarto e contar-
lhe algo a respeito daquele bruto arrogante que é o seu
marido. - Ela sorriu. - Você sabia que Bert foi muito
magoado pela minha mãe?

- Isso não é desculpa para ele a magoar a si sempre que


pode.

- Talvez não mas é o que acontece desde que eu casei. Antes


ele era diferente. Eu gosto muito dele e acho que o que a
minha mãe lhe fez foi horrível. Só não entendo porque ele se
tornou assim para mim. Sei que ele era contra o casamento.

Elas subiram as escadas e Sílvia abriu a porta de um quarto


que como todas as salas estava decorado com muito bom
gosto, a cama de latão dourado tinha uma colcha edredão
branca toda bordada que combinava com os cortinados de
renda também brancos.

- Este é o seu quarto e o de Bert. Vamos sentar. - Sílvia


sentou-se sobre a cama e sorriu. Quando o pai de Bert casou
com a minha mãe ele era um garotinho de apenas 9 anos de
idade, eu tinha onze e a minha mãe achou-se incapaz de
tomar conta de duas crianças. Então como ele era rapaz,
colocou-o num colégio interno e afastou-o de tudo quanto

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Bert adorava, a casa da quinta, os cavalos, os amigos.


Quando Bert vinha até aqui nas férias, nos dois passávamos
tempos muito felizes e eu sempre chorava quando ele tinha
de ir embora. Sabe que a minha mãe fez chantagem com
Bert até á poucos dias atrás ameaçando-o de vender a
fazenda que pertencia á mãe dele e que Bert sempre adorou.

-Isso é horrível. - Sara, olhou para Sílvia.

- Ela é horrível para todos. Inclusive eu acho que devo avisá-


la: ela vai ser abominável para si, Sara.

- Obrigada por me avisar.

- Ela é assim mesmo. - Os olhos de Sílvia encheram-se de


lágrimas. - Ela não me deixa entrar nesta casa com o meu
filho.

- Oh Sílvia! – Sara abraçou-a a - Não chore ou sou capaz de


fazer o mesmo.

Sílvia sorriu, com os olhos cheios de lágrimas.

- Eu gosto de si Sara. Vamos descer e tomar alguma coisa


agora.

Eram umas nove horas da noite quando Elizabeth entrou na


sala onde Sílvia e Sara estavam conversando. Ela olhou as
duas com frieza

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Vocês, duas parecem dar-se muito bem. Sílvia nunca soube


escolher as suas companhias. Comigo não vai ser tão fácil,
isso, eu garanto – Ela saiu da sala e Sara sentiu-se
completamente perdida.

- Não fique nervosa Sara, ela é assim mesmo.

- Eu sei mas vai ser difícil adaptar-me.

- Vai conseguir, tenho a certeza.

- Obrigado Sílvia - Sara, suspirou. - Vou-me deitar.

- Claro. Deve estar cansada. Vejo-a amanhã.

Só no dia seguinte é que Sara encontrou Bert. Ele estava


tomando o pequeno-almoço na companhia da madrasta e de
Sílvia, quando ela entrou na sala.

- Espero que não seja seu hábito, levantar-se tão tarde. -


Disse Elizabeth com frieza. - Nós costumamos tomar o
pequeno-almoço bastante cedo.

- Ela estava cansada da viagem mãe. - Sílvia colocou-se ao


lado de Sara.

- È claro que Sílvia tem razão Elizabeth - Bert levantou os


olhos para Sara. – Além disso, esta casa agora pertence a
Sara e isso faz com que ela tome as refeições ás horas que
quiser. - Ele levantou-se e sorriu ao ver que Elizabeth

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

empalidecera ao ouvir as suas palavras. - Não espere por


mim Sara, devo chegar tarde hoje.

Ele saiu deixando a sala mergulhada num silêncio


perturbador

- Nunca pensei ouvir isto de Bert. - Elizabeth parecia


realmente desgostosa.

- Eu não vou nunca ocupar o seu lugar nesta casa. Não


precisa ficar preocupada. - Sara, mordeu um lábio.

- Eu não preciso de favores seus. - Elizabeth levantou-se e


saiu da sala.

- Oh Sara! - Sílvia aproximou-se e sorriu com tristeza. - Eu


não sei o que dizer. Bert está com uma sede de vingança tão
grande que nem sequer vê que a está colocando numa
situação difícil, em relação a Elizabeth

- Acho que é exactamente isso que ele quer.

- Ele a ama Sara... eu o conheço... é visível que ele a ama...

- Bert não sabe o que essa palavra quer dizer. - Sara,


observou a janela á sua frente com uma expressão triste. - A
única coisa que ele consegue sentir é ódio...- Sara escondeu o
rosto nas mãos e deixou que as lágrimas caiassem com força.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

As duas semanas que se seguiram, passaram devagar e


dolorosas para Sara. Sílvia era a única pessoa com quem ela
conseguia falar. Bert costumava chegar muito tarde a casa e
saia muito cedo e Sara sentia-se cada vez mais infeliz.

- Bert.

Era a primeira vez desde á duas semanas que Sara tinha


tomado o pequeno-almoço com Bert e ela chamou-o
quando ele ia a entrar no carro.

- Sim? - Ele olhou-a friamente.

- Eu gostaria de visitar o meu avô

- Eu já estava esperando por este pedido. - Ele suspirou

- O que quer dizer com isso?

- Quero dizer que está proibida de visitar o seu avô.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu sei que você deve de odiá-lo, pelo o que ele ajudou a


fazer consigo. - Sentia-se completamente desesperada. - Mas
por favor deixe-me ir vê-lo. Ele está velho e doente e eu sou
a única pessoa que ele tem na vida. - Sara, juntou as mãos e
Bert pareceu ficar pela primeira vez desde que casara com
ela, um pouco comovido com aquele gesto.

- Não me peça isso Sara. - Ele segurou as mãos dela e falou


num tom terno que Sara desconhecia. - Se quiser sair, saia.
Vá até á cidade, faça compras. Mas o seu avô eu não posso
deixá-la ir visitá-lo. - Ele levou as mãos dela aos lábios numa
atitude terna.

- Por favor. - Sara, elevou o olhar desesperado para ele.

- A resposta continua a ser não e... Sara é melhor que me


obedeça. Eu estou proibindo-a de visitar o seu avô. - A voz
dele tinha voltado ao tom gelado de sempre. - Se por acaso
eu souber que me desobedeceu, eu vou puni-la de uma
forma que você não vai gostar. - Ele entrou no carro e
desapareceu.

Sara ficou parada olhando o carro azul metalizado que se


afastava, querendo odiar Bert mas sem conseguir esquecer o
toque dos lábios dele nas suas mãos e o tom terno que ele
usara pela primeira vez. Com um suspiro ela virou-se e
entrou em casa. Ia a subir para o seu quarto, quando
encontrou Sílvia que trazia uma saia informal vermelha e
parecia feliz com alguma coisa.
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Está aborrecida Sara? - Ela sorriu

- Não, claro que não.

- Vou até á cidade comprar algumas coisas para o meu bebe.


Quer vir comigo? - Sara, olhou para as suas calças de ganga e
Sílvia sorriu. - A sua roupa está óptima. Venha.

As duas foram de carro até á cidade.

- Que idade tem o seu filho Sílvia? - Ela parou olhando para
uma montra cheia de roupa colorida para crianças.

- Tem quatro anos e o nome dele é Bob. Você pode achar


incrível, mas ele é tão parecido com Bert, que quando o
olho, chego a pensar que sou irmã de Bert de verdade. -
Sara, sorriu mas o olhar de Sílvia ficou de novo triste. - Nem
Bert nem Elizabeth o viram nunca. Eu gostaria de mostrá-lo
a você Sara, mas por enquanto não posso o meu marido. -
Sílvia esfregou as mãos nos seus próprios braços. - Ele não
me deixa vê-lo. Ele...- A voz de Sílvia falhou e Sara sentiu os
olhos húmidos ao pensar que alguém podia afastar assim
uma mãe de um filho . – Ele bebe e nesses dias ele coloca-
me para fora de casa e não me deixa nem ver o meu bebe.

- Sílvia.- Sara estava horrorizada. - Você não devia deixar o


bebe sozinho com ele.

- Eu sei, mas... Elizabeth não me deixa entrar em casa com


Bob
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sílvia começou a chorar e Sara abraçou-a tentando consola-


la.

- Não fique assim Sílvia. Nós vamos resolver tudo. Prometo


falar com Bert assim que ele chegar a casa.

- Eu nunca trabalhei Sara. Não posso sustentar o meu filho


sozinha... Bert foi contra o casamento... e Elizabeth não...

- Chega! - Sara, tirou um lenço da mala de couro que trazia


ao ombro e limpou os olhos de Sílvia Nós duas vamos
resolver tudo. Agora vamos comprar essa roupa para o
nosso bebe. O que acha daquele fato de treino amarelo e
azul?

Depois de terem comprado uma quantidade enorme de


roupa para o filhote de Sílvia, as duas foram almoçar num
pequeno restaurante. Com tudo o que Sílvia contara a Sara
sobre a sua vida, ela esquecera os seus próprios problemas e
isso fê-la sentir-se melhor.

Eram umas quatro horas quando as duas regressaram a casa .

- Está havendo uma festa? - Sílvia olhou para a empregada


que lhes abrira a porta, mas foi a voz de Elizabeth que se fez
ouvir.

- Está sim, minha querida, entrem.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Havia uma falsa doçura na voz dela. Sílvia olhou para Sara e
as duas entraram no salão. Era um salão imenso com
mosaicos grenás no chão e uns cortinados dourados e
vistosos.

- Sílvia não preciso de apresentá-la não é? - Elizabeth deu


um sorriso de desdém. - A outra... apresento-lhes a mulher
de Bert.

As seis mulheres que estavam na sala observaram Sara


friamente desde as calças de ganga ao cabelo louro e
despenteado.

- Não entendo o que aconteceu com Bert. Ele sempre teve


um gosto requintado para as mulheres. - Afirmou uma das
mulheres rindo

- Eu também não entendo. - Elizabeth olhou para as calças


de ganga e para a blusa simples que Sara usava. - Com tantas
mulheres bonitas que ele tem á sua volta...

- Ela está com roupas de criança nas mãos... será que está
grávida Elizabeth? Talvez essa fosse a razão para ele casar...-
Afirmou uma outra mulher maldosamente.

Sara, não quis ouvir mais, virou-se e subiu para o quarto.

- Posso entrar?

- Entre Sílvia - Sara virou-se para a porta e sorriu

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu não sei o que dizer. A minha mãe é assim mesmo. Ela


vai tentar humilhá-la o mais que puder...vai fazer de tudo
para tentar fazer com que se vá embora Sara...

- Não precisa preocupar-se comigo.

- Claro que preciso. Passei o tempo todo falando dos meus


problemas e acabei esquecendo que você também tem os
seus...

- Eu adorei o tempo que passamos juntas e estou ansiosa


por conhecer o meu sobrinho Bob.

- Você é um amor, Sara.

Bert chegou a casa algum tempo antes do jantar ser servido.

- Preciso falar consigo Bert - Sara olhou para o homem alto


que estava em pé á sua frente.

- Eu queria tomar um banho rápido antes de jantar. Será que


podemos conversar depois do jantar Sara?

Ele parecia realmente cansado e Sara concordou com um


aceno de cabeça.

O jantar foi silencioso como sempre e assim que terminou


Bert levantou-se e olhou para Sara.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Disse que precisava de falar comigo Sara. Vamos tomar o


café na sala?

Os dois foram até uma sala mais pequena que Sara não
conhecia ainda. Era pequena mas muito acolhedora e Sara
achou-a a mais bonita de todas as salas que já vira na casa.
Ela sentou-se num pequeno sofá macio e olhou á sua volta
admirando os quadros lindos que estavam pendurados nas
paredes.

- Gosta? - Bert tinha acabado de fechar a porta e estava


parado com as mãos nos bolsos olhando - a com suavidade.

- Gosto sim... é linda. - Sara, olhou para ele e sorriu.

- Sabe que é a primeira vez que a vejo sorrir para mim.

Bert sentou-se á frente de Sara.

- Disse que precisava falar comigo.

- È... –Ela desviou o olhar de Bert -È sobre Sílvia...

- Sílvia? Pensei que as duas se entendiam...- Bert acendeu um


cigarro.

- E entendemos. - Sara, respirou fundo. - Ela falou comigo


sobre o marido e o filho e eu prometi-lhe falar consigo. Será
que não podemos trazer o menino para...

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu não quero essa criança aqui. - Afirmou Bert com


frieza... - Sempre fui contra esse casamento

- Como pode falar assim? Aquela criança é...

- Aquela criança, não me é absolutamente nada.... não a


quero aqui e ponto final... - Bert levantou-se e apagou o
cigarro irritado...

- Ele tem apenas quatro anos e...

- Quando eu quiser uma criança nesta casa, ela será minha e


não de Sílvia. Eu não quero essa criança aqui.

- Mas...

- Eu disse não e que vamos parar por aqui...- Havia um tom


ameaçador na sua voz

- Porquê? Porque tenho sempre que acatar as suas ordens? -


Sara levantou-se e encarou Bert com rebeldia.

- Porque nós dois temos um contrato... Já a avisei que não


era bom para si ser teimosa. Que quem manda aqui sou eu...

Bert cerrou os dentes com raiva e agarrou Sara pelos


ombros.

- Eu não quero essa criança dentro da minha casa e acabou


aqui esta conversa, entendeu?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara puxou os ombros para trás com força, tentando soltar-


se das mãos daquele homem, mas no instante seguinte e sem
saber como a boca máscula dele estava pressionando a dela,
forçando-a a entreabrir os lábios. A mente de Sara, ficou
completamente vazia e quando finalmente ele levantou o
rosto e a soltou ela pensou que ia cair.

- Espero que isto lhe sirva de lição Sara, quando eu digo não,
é não mesmo. È melhor que você entenda isso de uma vez
por todas.

Ele saiu da sala batendo com a porta e Sara deixou-se cair no


sofá completamente confusa e assustada. Ela passou uma
mão pelos lábios. Aquele beijo apesar de ter sido dado num
momento de raiva, tinha feito com que Sara sentisse algo
que ela nunca tinha sentido antes por outro homem e isso
assustou-a um pouco.

- Posso? - A voz de Sílvia obrigou-a a parar de pensar


naquele beijo. - Eu bati, mas ninguém respondeu.

- Eu estava pensando. - Sara, tentou sorrir.

- Eu entendo. Vim apenas me despedir. Fred telefonou,


pedindo para eu ir até a casa.

- Que bom. - Sara levantou-se e segurou as mãos dela. - Se


precisar de alguma coisa, basta telefonar Sílvia. Eu... estou
pronta a ajudar no que for preciso.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- È bom saber que posso contar consigo Sara.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VI

As cinco semanas seguintes, foram horríveis para Sara.


Elizabeth tentava humilhá-la sempre que podia. Bert quase
não a olhava e Sílvia tinha desaparecido.

Sara, deu mais uma volta na cama, cada dia que passava,
tinha mais dificuldade em adormecer, ela respirou fundo e
abriu os olhos. O dia estava claro, o telefone tocou naquele
momento e Sara estendeu o braço para o atender.

- Sara? - A voz de Sílvia estava estranha.

- Sim, sou eu. Está tudo bem Sílvia?

- Não, não está. - Sílvia começou a chorar

- Calma Sílvia. - Sara sentou-se na cama. - O que aconteceu?

- Ele bebeu de novo Sara. Preciso que você venha até aqui...

- Claro. Onde você está? – Sara, pegou num papel e numa


caneta e assentou a morada que Sílvia lhe deu.

- È um gabinete de um advogado. Não demore muito por


favor.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara, desligou, vestiu-se rapidamente e saiu do quarto. Uma


empregada veio ao encontro dela.

- Bom dia.

- Bom dia. Será que me pode trazer umas chaves de um dos


carros do senhor Bert?

- Com certeza.

A empregada voltou algum tempo depois, com umas chaves,


dizendo que era do carro mais pequeno e Sara apressou-se a
sair.

Quando entrou na sala do advogado, Sílvia estava sentada


com um garotinho lindo ao colo e Sara sentiu uma enorme
ternura pelos dois.

- Oh Sara! - Sílvia levantou o rosto para ela e os olhos de


Sara encheram-se de lágrimas.

- O que aconteceu consigo? - Ela aproximou-se e tocou na


mancha roxa que havia no rosto de Sílvia.

- Ele bateu na minha mama. - O garotinho levantou os olhos


negros e cheios de lágrimas para Sara e ela pegou nele ao
colo.

- Você é lindo Bob Ela apertou o garotinho com força nos


braços e sorriu para Sílvia. - Vai tudo dar certo.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

A porta do gabinete abriu-se e um homem de meia-idade


olhou para elas.

- Está mais calma agora?

- Estou sim.

- Vamos então conversar - Disse o advogado com


delicadeza. - Sentem-se por favor.

- Já explicou o caso á sua cunhada, Sílvia?

- Não. - Sílvia passou uma mão pelo rosto num movimento


cansado.

- Então, deixe-me explicar. - O advogado Charles Adams,


virou-se para Sara que continuava com o menino ao colo. -
A senhora sabe o que se passa entre Sílvia e o marido não é?
Eu não queria demorar muito, por isso vou directo ao
assunto: O marido de Sílvia está querendo tirar o menino de
perto dela e a única solução para isso não acontecer é a
senhora adoptar a criança. È uma história longa, Sílvia
abandonou o lar por diversas vezes e embora nós
soubéssemos, que era o marido quem a obrigava a fazer isso.
Fred conseguiu arranjar testemunhas contra Sílvia. A solução
é a senhora adoptar o garoto. Já que a mãe de Sílvia se recusa
terminantemente a olhar sequer para o menino. Eu posso
conseguir documentos que provem que Bob foi adoptado á
três ou quatro anos pela senhora, já que ele nasceu antes de
Sílvia ter-se casado.
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara sentiu-se completamente perdida, mas aceitou


imediatamente, apesar da imagem de raiva de Bert, quando á
quase um mês atrás ela lhe falara sobre o sobrinho, ter
passado rapidamente pelos olhos dela.

Quando elas saíram três horas depois do gabinete do


advogado Sara continuava com Bob ao colo.

- Vocês dois vão para casa comigo. Eu falo com Bert assim
que ele chegar. - Sara estava preocupada com a reacção de
Bert mas tentava não demonstrar isso.

- Não Sara, eu sei que da outra vez a conversa com Bert não
foi boa. Eu tenho um pequeno apartamento aqui perto. Nós
ficaremos lá até você falar com Bert, mas tenho a certeza
que não vai conseguir nada.

- Tem a certeza que ficam bem nesse apartamento?

- Tenho. Você pode ir até lá todos os dias enquanto não


conversar com o seu marido. Bert não vai concordar em nos
ter lá.

- Eu vou esperar por ele esta noite e falar-lhe hoje mesmo.


Ela respirou fundo.

- Vamos almoçar juntar, Sara?

- Claro. - Elas tinham chegado ao apartamento e Sílvia abriu


a porta.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu preparo o almoço. - Sílvia sorriu.

Já era noite quando Sara saiu do apartamento.

- Tem a certeza que ficam bem? – Sara, olhou preocupada


para Sílvia.

- Nós ficamos bem. Se precisar algo prometo telefonar. -


Sara, beijou o garotinho que estava dormindo num sofá.

- Até amanhã Sílvia.

Quando chegou a casa, Sara sentiu o coração pular ao ver o


carro de Bert parado junto á porta de casa.

Bert estava na sala sozinho com um copo nas mãos.

- Pensei que não ia voltar para casa hoje. - Afirmou


secamente.

- Eu estive com... Sílvia...

Sara, sabia que precisava de contar tudo para Bert mas estava
com medo da reacção dele.

Bert caminhou para a porta, como se não a tivesse ouvido.

- Vou até ao quarto trocar de roupa para irmos jantar.

- Bert... eu.... eu preciso de falar com você. - Afirmou ela


nervosa.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Parece algo urgente. - Ele olhou-a com frieza.

- È sim. È sobre sua irmã... eu...

- De novo! - Bert falou com violência. - Já lhe disse que não


quero falar sobre isso. Vou subir e mudar de roupa. - Ele
saiu e começou a subir as escadas.

- Não, Bert, espere. - Sara, subiu as escadas atrás dele. - O


marido dela... ele...

- Poupe-me os pormenores, eu não quero saber. - Ele entrou


no quarto, como se o assunto não tivesse o menor interesse
e Sara sentiu-se revoltada perante a frieza dele.

- Ela e Bert vêem morar aqui. - Não era bem aquilo que ela
queria dizer, mas Bert conseguia fazê-la ferver de raiva e
dizer o que não queria.

- O quê? - Os olhos dele brilharam furiosos...

- Por favor ouça-me... pelo menos o bebé...

- Não. Quem vai ouvir é você Sara.

- Não, não vou. - Sara, abanou a cabeça com violência.

Bert agarrou-a pelos ombros e falou entre dentes.

- Eu vou falar e você vai ouvir – me, nem que eu tenha de


amarra-la. Eu não quero essa criança aqui em casa. Entenda

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

isso de uma vez por todas para seu próprio bem. - Ele
sacudiu-a com crueldade e Sara precisou cerrar os dentes
para não deixar escapar um gemido de dor.

- Eu não tenho que entender nada. Aquela criança é filho da


sua irmã, será que isso não lhe diz nada?

- Ela não é minha irmã, coisa nenhuma. È filha da minha


madrasta e isso é tudo. Eu não quero essa criança aqui e
chega. Bert soltou-a.

- E eu vou ter de acatar as suas ordens como sempre não é?


– Sara continuava enfrentando – o

- È sim. - Ele olhou-a violento e ameaçador, mas Sara não


conseguiu parar.

- Desta vez não. Eu vou fazer exactamente o que a minha


consciência mandar e...- Sara falou com uma calma aparente
pois na realidade estava com muito medo daquele homem
selvagem que tinha á sua frente.

- Não, não vai. - Afirmou numa voz baixa e ameaçadora. -


Acho que você ainda não aprendeu a obedecer-me e só
conheço um jeito de fazê-la entender que quem manda aqui
sou eu.

Ele aproximou-se de Sara lentamente, enquanto desabotoava


a camisa. Parecia raivoso e cruel e ela sentiu um arrepio na
pele. Finalmente ele tirou a camisa revelando os
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

ombros largos e o tórax musculoso, bronzeado e cheio de


pelos escuros. Naquele momento ele pareceu-lhe assustador
e ela encolheu-se, tentando escapar ao toque da mão que
Bert estendeu. Os olhos escuros dele apertaram-se como os
de um animal selvagem ao vê-la encolher-se e a mão forte de
Bert agarrou um braço de Sara e puxou-a com força contra
ele.

- Se é violência o que quer, você a terá. - Afirmou ameaçador

A boca dele desceu até aos lábios dela com crueldade,


enquanto as suas mãos passeavam violentas sobre o corpo
frágil dela magoando a , Sara gemeu e ele sorriu.

- Não está gostando? - Perguntou grosseiro.

Um soluço baixinho saiu da garganta dela e a atitude dele


suavizou-se um pouco, embora quando um instante depois,
soltou os lábios dela , ainda houvesse muita dureza no rosto
dele.

Sara, aproveitou esse instante para tentar fugir do quarto,


mas Bert colocou-se entre ela e a porta.

- Por favor. - Os lábios dela estavam trémulos.

- Venha cá. - Ordenou ele com raiva.

- Eu não posso.

Ele aproximou-se dela rapidamente.


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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu já lhe disse que se é força que quer. È isso que vai ter.

Ele pegou em Sara ao colo, atirou-a para cima da cama e


deitou-se sobre ela, prendendo-a com o seu corpo forte.

- Por favor. - Sara, suplicou desesperada.

- Eu não vou parar. - ele afirmou insensível ás suplicas dela.

Tentou beijá-la, mas ela virou o rosto para fugir aos lábios
dele. Os braços musculosos de Bert apertaram o corpo
delicado de Sara, enquanto com uma mão ele puxou o
cabelo dela imobilizando-a. Os lábios dele procuraram os
dela num beijo ardente, violento, cheio de desejo e paixão.
Sara, acabou por parar de lutar, sentindo-se perdida num
turbilhão de sentimentos contraditórios.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VII

Sara, estava deitada, de olhos abertos, ouvindo a respiração


profunda e regular de Bert. Ela respirou fundo, tentando
encontrar uma razão justificativa para ele ter agido daquele
modo. Era verdade que ela o tinha desafiado... desafiado a
sua autoridade, mas será que isso era razão para tudo o que
acontecera?

Ela olhou as manchas vermelhas que os dedos dele tinham


deixado no seu corpo dolorido e sentiu vontade de chorar.
Não sabia como podia sentir algo por aquele homem, que
não tinha a menor consideração por ela. Amor? Aquela
palavra formou-se na mente dela, sem que Sara entendesse
bem porquê. Os lábios magoados dela tremeram. Ele fizera
tudo para a humilhar. Não tinha havido um único gesto de
amor ou de gentileza, apesar dele ter-se apercebido que era o
primeiro homem da vida dela. Tudo tinha sido movido pelo
desejo e pela raiva, apenas com o intuito de a fazer entender
que era ele quem mandava ali. Sara, soluçou alto e isso fez
com que Bert acordasse.

57
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Sara...

Ela estremeceu ao ouvi-lo, chama-la e antes que Bert tivesse


tido tempo para a segurar Sara saiu da cama e correu a
fechar-se na casa de banho. Bert disse algo em voz baixa e
logo a seguir a porta do quarto bateu com força.

Sara respirou fundo, tentando controlar os soluços e as


lágrimas, apesar de tudo quanto acontecera, ela ainda
conseguia encontrar atenuantes para o comportamento dele.
Bert fora afastado de tudo quanto gostava quando era
pequeno e isso transformara-o num homem frio e cruel.

Eram quase duas horas da tarde quando Sara finalmente


adquiriu coragem para sair do quarto.

Ia a entrar na sala, quando uma das empregadas se dirigiu a


ela.

- Boa tarde senhora.

- Boa tarde.

- O senhor Donnelly, pediu que a avisasse, que ele vai ficar


fora algum tempo.

- Obrigada.

- Quer que lhe sirva o almoço agora?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não, não. Eu vou dar uma volta por aí. - Sara dirigiu-se
para a porta, não estava com fome e sentia uma necessidade
urgente de estar com alguém para quem ela fosse
importante.

Quando chegou ao apartamento de Sílvia, Bob estava


brincando e correu para ela assim que a viu.

- Oi Ti.

- Oi boneco. - Sara, pegou nele ao colo e sorriu para Sílvia


Está tudo bem com vocês?

- Está sim. – Sílvia sorriu. - Bob ia dormir um pouco agora.

- Eu vou deitá-lo. - Sara, sorriu para o garoto. - Onde quer


dormir?

- No quarto. - Ele apertou o nariz de Sara e riu.

Algum tempo depois Sara foi encontrar Sílvia sentada no


sofá.

- Há alguma coisa preocupando você?

- Há sim. - Sílvia suspirou. - Fred está apertando o círculo. –


O advogado dele telefonou-me hoje, dizendo que Fred
entrou com um processo contra mim. Ele não vai desistir
enquanto não me tirar o meu filho.

59
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não precisa preocupar-se com isso. Bob está adoptado.


Esqueceu?

- Os papéis só vão ficar prontos daqui a alguns dias. Sabe o


que Fred me disse antes de eu sair de casa?

Sara, fez que não com a cabeça.

- Que ia tirar o bebe de mim, nem que fosse para o colocar


num colégio interno para eu não o poder ver nunca mais.

- Tudo vai dar certo. - Sara, tentou animá-la. - Não vai ser
preciso nem você própria ir a julgamento.

- Espero que esteja certa.

- Claro que estou. Daqui a uns dias eu própria vou buscar os


papéis ao advogado. Não se preocupe mais com isso.

Quando Sara chegou a casa já era bastante tarde e como


estava muito cansada, ela subiu directamente para o seu
quarto e deitou-se, mas o que acontecera naquela cama na
noite anterior estava muito vivo dentro dela e horas depois
Sara ainda não conseguira adormecer. Com um suspiro
cansado, ela lembrou-se que vira um frasco de calmantes na
casa de banho, num movimento rápido, levantou-se e foi
tomar um comprimido, aquela parecia se a única maneira de
conseguir adormecer e esquecer.

60
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Durante as cinco semanas seguintes, Sara optou por tomar


um calmante todos os dias e as suas noites tornaram-se
menos difíceis de passar. Bert não voltara ainda para casa e
Elizabeth evitava permanecer nos lugares em que Sara se
encontrava.

Naquela manha Sara levantou-se cedo e quando chegou á


sala onde costumava tomar o pequeno-almoço, encontrou
Elizabeth.

- Bom dia.

A madrasta de Bert levantou os olhos para ela mas não se


dignou a cumprimenta - la .

- Por acaso pode dizer-me onde posso encontrar a minha


filha?

- Sílvia está bem mas...

- Eu sei que ela está escondida, lutando para ficar com


aquela criança horrível...

- Aquela criança horrível, como a senhora diz, é seu neto,


será que esqueceu isso? – Sara, levantou-se indignada. - Eu
vou-me embora ou vou acabar ficando louca nesta casa.

- Isso é óptimo, se quiser posso pagar-lhe uma passagem


para bem longe daqui.

- Tem a certeza que pode pagar essa passagem Elizabeth?


61
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

A voz irónica de Bert obrigou as duas a olharem em direcção


á porta da sala.

- Acho que se está esquecendo, que o único dinheiro que


tem sou eu quem lho dou.

- Ainda não Bert. - Elizabeth sorriu maliciosa. - O


testamento diz que tudo será seu, se você viver durante um
ano com a sua mulher. E nada garante que isso vá acontecer.

- Não esqueça Elizabeth, que foi você quem me ensinou os


truques sujos, pode estar certa que tudo será meu.

Sara, não aguentou ficar ali ouvindo aquela discussão,


levantou-se rapidamente da mesa e saiu.

Ia a entrar no carro quando se sentiu segura por um braço.

- Quero falar consigo Sara. - A voz de Bert estava calma e


ele falou com alguma suavidade.

Ela levantou o olhar para ele mas baixou-o de novo.

- Nós não temos nada que conversar eu...

-Temos sim. Não podemos fingir que não aconteceu nada e


você sabe disso. - Ele apoiou as mãos nos ombros frágeis
dela e fê-la olhá-lo. - Vá buscar alguma roupa mais quente.
Vamos dar uma volta de carro por aí.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu preferia...

- Sara, eu estou cansado, passei estas semanas todas


trabalhando demais e descansando muito pouco. Não
discuta comigo. Vá buscar uma roupa mais quente, ou
vamos assim mesmo como estamos.

Sara olhou-o, ele parecia realmente cansado, ela achou


melhor obedecer-lhe. Subiu até ao quarto, pegou num casaco
e voltou a descer.

Bert estava sentado no banco do seu carro azul-escuro


metalizado, com os braços sobre o volante e a cabeça
apoiada numa posição de cansaço e Sara sentiu uma onda de
ternura apoderar-se dela. Ele levantou a cabeça naquele
momento como se pressentisse a presença dela e saiu do
carro para lhe abrir a porta.

- Vamos fazer uma trégua durante este passeio. - Ele ligou o


motor do carro, mas não o colocou em andamento. - Estas
semanas que estive fora, foram um inferno para mim e não
me parece que tenham sido muito melhores para si. - Ele
passou um dedo pelas olheiras fundas que haviam ao redor
dos olhos de Sara. - Vamos tentar entendermos durante
algumas horas, certo?

Sara, concordou com um aceno de cabeça e Bert colocou o


carro em andamento.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Depois de terem andado durante algum tempo de carro, Bert


arrumou o automóvel numa rua estreita e os dois saíram,
andando devagar, observando as lojas e as pessoas que
passavam apressadas, alguém esbarrou em Sara, fazendo
com que ela se apoiasse em Bert. Ele colocou um braço á
roda da cintura dela e continuaram andando assim até á hora
do almoço.

- Não esta com fome Sara? – Bert apertou o braço na cintura


dela e sorriu com suavidade.

- Um pouco.

- Vamos almoçar então.

Tinham terminado de almoçar, quando uma mulher alta


parou olhando para Bert.

- Nunca pensei encontra-lo aqui, Bert. Está com medo que


os seus amigos vejam a sua mulher? Não precisa de a
esconder, afinal se não fosse o modo abominável como ela
se veste, até que era uma garota agradável...

Sara, não aguentou ficar ali sentada a ouvir aquela mulher,


ela levantou-se e saiu do restaurante.

- Sara. - Bert segurou-a por um braço. - Ficou louca saindo


do restaurante daquele jeito?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- E queria que eu fizesse o quê? Que ficasse lá sentada


ouvindo aquela mulher?

- E porque não? Meu Deus! Se você se veste assim é porque


quer. Você tem dinheiro suficiente para vestir exactamente o
que quiser, e bem melhor do que o faz.

Sara, sentiu-se humilhada ao ouvir Bert, ele estava de acordo


com aquela mulher. Sentiu vontade de o agredir fisicamente.

- Se você prefere pessoas vestidas de maneira diferente da


minha. Pode voltar de novo para o restaurante. Eu casei
consigo porque fui obrigada. Pode ter a certeza que o
desprezo tanto, quanto você despreza o meu modo de vestir.

Antes que Bert tivesse tido tempo de dizer algo, Sara entrou
num táxi e desapareceu.

Quinze minutos depois Sara estava batendo á porta do


apartamento de Sílvia.

- Sara? O que aconteceu? - Sílvia olhou-a preocupada,


enquanto a levava até ao sofá e a fazia sentar. - Vou buscar
um copo de água.

Sara, bebeu a agua devagar e sorriu para Sílvia.

- Obrigada Sílvia.

- O que aconteceu?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu não sei o que está acontecendo comigo. Estou ficando


supersensível. - Sara, passou uma mão pela testa. - Eu estava
almoçando com o seu irmão, quando apareceu uma mulher,
que falou algo desagradável sobre a minha roupa e eu...- Sara
parou pensando em como a manhã tinha sido tão boa, a
mão de Bert na cintura dela. - Bob ainda está dormindo? -
Ela tentou mudar de assunto.

- Está sim. - Sílvia sorriu. - O advogado telefonou dizendo


que os papéis da adopção estão prontos.

- Ainda bem. Quando Bob acordar vamos até lá buscar os


papéis. Depois preciso voltar para casa. - Sara, estremeceu ao
pensar em Bert. – Agora que Bert voltou, não vou poder vir
todos os dias.

- Eu entendo Sara

Depois de terem ido ao advogado buscar os papéis, Sara foi


colocar Sílvia e Bob a casa.

- Se precisar de alguma coisa, telefone para mim Sílvia Disse


enquanto abraçava o garotinho.

- Claro, não fique preocupada, qualquer coisa eu ligo,


dizendo que sou uma amiga sua.

- Até breve então.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Sara. - Sílvia chamou-a a - Por favor não conte a ninguém


lá de casa que eu estou aqui.

- Eu não vou dizer nada. - Ela sorriu. - Prometo.

O táxi deixou-a á porta de casa.

Ia a subir as escadas para ir até ao quarto, quando Bert


colocou o corpo á frente dela impedindo-a de passar.

- Foi a primeira e a ultima vez que me deixou plantado na


estrada. O que andou fazendo até esta hora? - Perguntou
arrogante.

- Fiquei andando pela cidade. - Sara, não soube, onde foi


buscar a força para lhe responder.

- Será que foi comprar alguma roupa decente para usar logo
á noite na festa que Elizabeth vai dar? - Perguntou irónico.

- Eu não sabia que ia haver uma festa. - As mãos de Sara


tremeram e ela enfiou-as nos bolsos da saia, sentindo-se
humilhada com a insinuação dele, sobre a sua roupa.

- Agora já sabe. - Afirmou ele com frieza afastando-se.

Os olhos de Sara encheram-se de lágrimas, enquanto ela ia


subindo as escadas. Apesar de toda a frieza com que Bert a
tratava, ela não conseguia odiá-lo e era isso que a magoava
mais que tudo. Ele a humilhava, a maltratava e ela sempre
arranjava alguma justificação para as atitudes dele, afinal
67
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

como ele tinha dito, tinha sido o avô dela, quem o ajudara a
tornar-se assim. Sara atirou-se em cima da cama e ficou
chorando.

Eram seis horas, quando ela se resolveu vestir para a festa.


Escolheu um vestido preto, justo e comprido, que fazia
realçar a elegância do seu corpo frágil. Colocou uma corrente
de ouro fina no pescoço, um dos últimos presentes do avô e
maquilhou-se o melhor que sabia. Tudo o que queria era
mostrar ás pessoas que estariam na festa que se sabia vestir,
tão bem quanto qualquer outra pessoa. Sara olhou-se no
espelho e sorriu, não, não era nada daquilo que ela queria. O
que ela queria mesmo, era mostrar a Bert, que não era
inferior a nenhuma mulher.

Estava a calçar os sapatos, quando Bert entrou no quarto.


Ele também estava elegante num smoking preto e os seus
olhos negros observaram Sara com atenção, mas ele não
disse uma única palavra de elogio.

- Isto é para você usar hoje. - Afirmou frio e arrogante,


atirando um colar, uma pulseira e um par de brincos para
cima da cama e saindo.

Sara, não olhou sequer para as jóias, tinha vontade de rasgar


o vestido preto que tinha vestido em tiras e aparecer assim
na festa. Ela foi até á janela, abriu-a e respirou fundo várias
vezes. Os carros dos convidados estavam começando a
chegar. Ela fechou a janela, colocou um par de brincos que
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combinavam com a corrente de ouro e saiu do quarto,
enquanto olhava para as jóias que Bert lhe trouxera.

Sara, principiou a descer as escadas e várias pessoas a


olharam. Havia um grupo de homens, parados perto da
porta, entre os quais se encontrava Bert, que se viraram
olhando-a com admiração.

- Amor, venha até aqui. Quero apresentar-lhe alguns amigos.


- Bert deu uns passos á frente e segurou numa das mãos
dela, ajudando-a a descer.

Sara aproximou-se e reparou que a própria Elizabeth parecia


um pouco admirada.

- Meus amigos, apresento-lhes a minha mulher. - Bert sorriu,


mas a sua mão apertou o braço de Sara, com mais força do
que a necessária, quando ele reparou que ela não colocara as
jóias como ele mandara.

- Agora entendo, porque se casou Bert. Não é todos os dias


que encontramos uma mulher assim. - Afirmou um homem
alto, louro e atraente. - O meu nome è Adam Ross.

- Muito prazer. - Sara, sorriu, embora não tivesse


simpatizado muito com ele.

- Vamos para a sala. - Elizabeth aproximou-se

Todos se viraram para a sala, mas Bert segurou Sara por um


braço e obrigou-a a parar.

- Porque não colocou as jóias que lhe dei ?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Deu? - Sara, elevou o olhar para ele com altivez.

Bert fechou os olhos por um momento.

- Sara, não queira entrar em guerra comigo.

- Eu...

- Não diga nada, não agora.

Aquilo era uma ameaça e ela sabia disso.

Havia uma enorme quantidade de pessoas dentro da sala e


Sara reconheceu alguma delas da festa que Elizabeth fizera
quando Sílvia ainda estava em casa. Bert continuava ao lado
dela e isso dava-lhe uma certa segurança.

- Bert, venha comigo. - Elizabeth aproximou-se e segurou-o


por um braço. - Jaquelline está querendo apresentá-lo a
alguém.

Sara estava olhando á sua volta, quando uma mulher mais ou


menos da idade de Elizabeth se aproximou sorrindo.

- Então foi você que conseguiu agarrar Bert - Afirmou com


hostilidade.

- Eu me casei com Bert sim. - Sara, olhou para a frente,


querendo achar Bert e naquele momento a mulher despejou
um copo de licor de coco sobre o vestido preto de Sara.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Oh! Desculpe. - Pediu com um sorriso malicioso.

Sara, mordeu um lábio, a mulher tinha feito aquilo de


propósito.

- Não tem importância.

Algumas pessoas aproximaram – se para ver o que tinha


acontecido, entre elas Elizabeth, Jaquelline e Bert.

- Não sei como isto sucedeu. Sinto muito minha querida.

A mulher continuava a desculpar-se, mas Sara captou o olhar


que ela trocara com Elizabeth.

- Não se preocupe. - Sara, bebeu o uísque todo que estava


no seu copo e entregou-o a Bert com um sorriso. - Você se
incomoda se eu for mudar de roupa?

- Claro que não Sara, pode ir. - Bert sorriu e Sara subiu as
escadas sentindo-se animada sem saber porquê.

Se o que Elizabeth queria era humilha-la de novo, ela não ia


deixar que isso acontecesse.

Sara, abriu o roupeiro e olhou a sua roupa, de repente


escolheu um vestido dourado escuro, comprido e vestiu - o.
Era um vestido sofisticado, com uma racha ousada de um
dos lados, que ela nunca vestira antes. Sara olhou-se no
espelho e sorriu, o vestido deixava os seus ombros e pescoço
nu e dava-lhe um ar sofisticado e desinibido, ela carregou um
71
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

pouco mais na maquilhagem e saiu do quarto, sentindo-se


leve.

Elizabeth foi a primeira a vê-la, ela estava rindo com


Jaquelline e com a mulher que entornara o licor no vestido
de Sara, mas parou quando a viu. Bert que estava no outro
extremo da sala, também olhou e os seus olhos negros
pareceram brilhar um pouco mais do que o normal, mas ele
não se aproximou de Sara e ela sentiu-se magoada com
aquela falta de interesse dele, havia uma pequena mesa com
alguns copos de uísque e Sara agarrou num e bebeu-o todo
de uma só vez. A sala pareceu ondular um pouco á sua
frente e ela sorriu sentindo-se feliz, se Bert não queria
aproveitar, pior para ele. Haviam algumas pessoas dançando
na sala e quando Adam Ross a convidou para dançar ela
aceitou, embora não simpatizasse nem um pouco com
aquele homem e quando ele lhe segredou algo ao ouvido, ela
riu de um modo exagerado. Quando a música terminou, Sara
foi de novo até perto da mesa onde estava o uísque e pegou
num outro copo.

- O que esta tentando mostrar Sara? - Bert segurou-a por um


braço.

- Estou-me divertindo. - Ela riu. - Foi você quem me


apresentou aos seus amigos, lembra?

- Não me provoque ou vai arrepender-se.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu não o estou a provocar. Estou apenas me divertindo.


Isso, eu posso, fazer não é?

- Você está querendo mostrar uma sofisticação que não tem.


- Ele apertou o braço dela com mais força.

- E quem disse que não tenho? - Ela olhou á volta, viu


Jaquelline e Elizabeth olharem e passou uma mão pela
camisa de Bert. - Dance comigo Bert. - Pediu suavemente.

- Acho que você bebeu demais. - Bert riu, mas abraçou-a e


começou a dançar com ela.

- Eu também acho. - Sara riu, acomodando-se o melhor


possível nos braços dele, sentindo que era exactamente ali
que queria estar.

Na verdade ela bebera, tentando esquecer a sua própria vida


e isso parecia ter acontecido.

Elizabeth parecia furiosa, Sara estendeu os braços e passou-


os pelo pescoço de Bert, elevando o olhar para ele.

- Sara, não provoque o que não vai conseguir controlar.

- Quem disse que não vou conseguir? - Ela riu entreabrindo


os lábios provocantemente para Bert que a apertou com
mais força contra ele.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não vou deixar você beber mais. - Sussurrou Bert no


ouvido dela sorrindo.

A música terminou e Bert colocou um braço sobre os


ombros dela

- Não fuja de perto de mim.

- Sou eu quem precisa de pedir isso a você. - Sara, riu.

- Bert. - Elizabeth segurou o braço dele de novo. - Jaquelline


está querendo falar com você por causa da fazenda.

- Agora? - Bert pareceu um pouco aborrecido

- È agora. Ela precisa voltar cedo para casa hoje. Vamos


Bert, Sara não vai fugir se você a deixar um pouco sozinha.
Aliás parecia estar-se a divertir com Adam.

- Chega Elizabeth, estou farto das suas insinuações e fique


longe de Sara enquanto eu não estiver aqui. - Os maxilares
de Bert estavam tensos e Elizabeth afastou-se

- Eu não vou demorar Sara. O problema da fazendo é muito


importante para mim

- Não fique preocupado Bert, eu entendo. - Sara, sorriu e ele


afastou-se

- Bert deve de estar completamente louco para a deixar aqui


sozinha. - Adam Ross estava parado á frente dela. - Será que
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

me arranja um copo de agua, Sara?

- Claro. - Ela olhou á sua volta, tentando encontrar um


empregado mas não viu nenhum

- Eu vou buscar.

Sara, caminhou até á cozinha, mas parou incrédula em frente


a uma porta entreaberta ao ver Jaquelline sentada ao lado de
Bert, passando uma mão pelo cabelo rebelde dele.

- Você não precisava casar com ela, querido.

- Eu sei que não. - O rosto de Bert não era visível, pois a sala
tinha apenas um candeeiro aceso. - Mas foi mais seguro...

Sara virou-se para sair dali mas embateu contra Adam Ross.

- Calma Sara. - Ela estava tremendo. - Você não sabia que


aqueles dois tinham uma ligação muito forte um com o
outro antes de vocês se casarem?

Sara empurrou-o e subiu as escadas até ao quarto correndo.


A alegria tinha desaparecido como por encanto, tal como
tinha chegado. Ela despiu o vestido, vestiu umas calças de
ganga e uma camisola e saiu do quarto. Precisava apanhar ar
fresco para poder pensar um pouco.

Ia a sair para a rua pela porta dos fundos quando Bert a viu.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Sara. - Ele chamou-a mas Sara abriu a porta e correu para


fora. - Sara, espere. Bert correu atrás dela e agarrou-a por
um braço.

- Solte-me - Ela puxou o braço mas não conseguiu soltar-se.

- Pare Sara, ou vai magoar-se. O que esta acontecendo? -


Bert segurou-a pelos dois pulsos e obrigou-a a olhá-lo. -
Fale.

- Sabe que se esqueceu de fechar a porta da sala quando


estava a falar com Jaquelline?

- E daí? Eu não disse nada que alguém não pudesse ouvir.

- Você devia ter contado que havia uma outra mulher na sua
vida

- Eu não devia ter contado nada. Você casou comigo para


salvar o seu avô da prisão e nada mais. - Afirmou ele com
firmeza

- E você Bert? Porque casou comigo? - Sara, sentia-se


humilhada.

- Isso não lhe diz respeito. Agora vamos parar por aqui.
Você vai subir para o quarto e esperar por mim lá, entendeu?
- Ele empurrou-a até a casa. - Pode subir Sara, eu não vou
demorar.
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara entrou no quarto e sentou-se no chão, encolhida num


canto, sentindo-se mais infeliz que nunca. Bert entrou no
quarto algum tempo depois, despiu o casaco e a camisa e
olhou para ela.

- Venha até aqui. - Ordenou e estendeu os braços para ela. -


Quer que eu a obrigue? - Perguntou impaciente de novo ao
ver que ela não fazia o menor movimento.

- Por favor. - Sara, levantou-se assustada.

- A minha paciência está diminuindo - Ele sacudiu a cabeça,


indiferente ao que ela estava sentindo. - Primeiro você me
deixa sozinho no restaurante, depois apanha um táxi e me
deixa plantado no meio da rua e agora isto. Preciso ensinar
você. Venha até aqui Sara.

- Eu odeio você. - Murmurou desesperada. - Porque não vai


ter com Jaquelline e me deixa em paz?

- Agora chega. - Os olhos negros dele estreitaram-se. -


Venha até aqui. Prometo que será diferente. - Afirmou
cinicamente. - Mas aposto que não vai gostar. Talvez depois
você vá entender o que é o verdadeiro ódio.

Sara estremeceu, quando Bert se aproximou e lhe tirou a


roupa com suavidade, depois ele tocou o corpo dela de um
modo quente, acariciando-a com sensualidade. Ela tentou
manter-se indiferente a tudo o que estava acontecendo mas
foi incapaz de lutar contra os seus próprios instintos.
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sentia algo muito profundo por aquele homem, apesar do


modo brutal com que ele a tratava .Se ele a tivesse tocado
com violência, ela ter-se ia mantido indiferente mas a
delicadeza com que ele a tocava, com as mãos e com os
lábios, destruiu completamente as defesas, já fracas de Sara.
Com um gemido, ela esqueceu tudo o que se passara e
colocou os braços á roda do pescoço forte de Bert,
puxando-o para mais perto. O desejo que ela estava sentindo
era tão grande que ela gemeu o nome dele, desejando
loucamente que ele a possuísse, mas no mesmo instante ele
afastou-a de si, olhando-a com crueldade.

- Isto foi apenas uma lição. Quem sabe, talvez agora eu


possa ir ter com Jaquelline.

Mais uma vez Sara tinha sido humilhada cruelmente por


aquele homem. As lágrimas inundaram os olhos dela
enquanto Bert se levantava da cama e vestia as calças e a
camisa.

- Durma bem Sara. - Ele olhou-a e saiu do quarto.

Sara levantou-se da cama e foi tomar um duche. Nunca se


sentira tão mal em toda a sua vida. Ela apagou a luz,
aproximou-se da janela e ficou ali até o dia começar a nascer.

Eram oito horas da manhã, quando Sara saiu do quarto e foi


até á sala, onde a empregada estava preparando a mesa para
o pequeno-almoço.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Bom dia. - Sara, passou uma mão pela testa num gesto
cansado.

- Bom dia. - A empregada sorriu amavelmente. - Está tudo


bem com a senhora?

- Estou-me sentindo apenas um pouco enjoada. - Sara


sentou-se pesadamente numa cadeira, pensando que isso era
natural, depois do modo desprezível com que Bert a tratara.
- Será que me podia trazer um copo de leite?

- Claro.

Mas assim que viu o copo de leite, sentiu uma ânsia de


vomitar tão grande que precisou levantar-se e correr para a
casa de banho.

Meia hora depois, quando saiu da casa de banho, Sara estava


completamente branca. A empregada estava parada ao lado
da porta, olhando-a preocupada.

- A senhora está branca, quer que ajude a subir até ao seu


quarto?

- Por favor.

Ela deitou-se, os seus olhos encheram-se de lágrimas ao


pensar no que acontecera na noite anterior, mas Sara sentia-
se tão cansada que adormeceu quase imediatamente.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Quando acordou olhou para o relógio e ficou espantada ao


ver que eram quase seis horas da tarde. Devagar levantou-se
e saiu do quarto

Ia a passar pela porta da sala quando esta se abriu e


Elizabeth a viu.

- Sara, gostaria que conhecesse uma amiga minha.

Sara, respirou fundo, adivinhando que o que ia acontecer,


não ia ser nada agradável, mas virou-se e acompanhou
Elizabeth.

Bert estava sentado num sofá rindo, enquanto Jaquelline e


uma outra mulher ruiva o olhavam.

- Clara. - Elizabeth olhou para a mulher ruiva que Sara não


conhecia.- Esta é a mulher de Bert.

- Meu Deus Bert! O que viu nela?

- O que não devia ter visto em nenhuma de vocês. - Sara


sentiu-se humilhada demais para ficar calada.

A mulher ruiva levantou-se furiosa e sem que Sara pudesse


fazer um único gesto, a mulher levantou a mão e esbofeteou
a . Vagamente Sara apercebeu-se que Bert se levantou mas
não viu mais nada, pois apressou-se a sair da sala.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Ia a subir as escadas para o quarto, quando desfaleceu e caiu.

- Senhora? – A empregada estava parada junto dela.

- Eu caí ? - Ela foi abrindo os olhos devagar.

- A senhora desmaiou. Vou ajudá-la a subir e chamar o


senhor Donnelly.

- Não. Eu estou bem agora. Vamos deixar isto apenas entre


nós duas.

- Acho que devíamos contar ao senhor Donnelly.

- Por favor. - Sara olhou-a como se a sua vida dependesse do


silêncio dela e a empregada acabou por concordar.

Depois de ajudar Sara a deitar-se a empregada, foi fechar as


janelas.

Ela estava deitada há algum tempo, quando Bert entrou e se


aproximou da cama.

- Está abatida. - Ele acendeu o candeeiro da mesa-de-


cabeceira.

- Não é nada. - Sara, fechou os olhos para não o ver. O tom


suave da voz dele fazia com que ela sentisse vontade de estar
nos braços dele.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Precisava de responder daquela maneira, só por causa de


um comentário de mau gosto?

Ela abriu os olhos para responder mas parou ao ver que ele
estava tirando os sapatos e a camisa.

- O que está fazendo? - Sara tentou levantar-se mas Bert


impediu-a a

- Vou dormir consigo, mas não fique assustada. O que


aconteceu ontem, não vai acontecer mais. - Ele prometeu,
mas isso não a acalmou.

- Eu não quero dormir consigo. - Ela tentou afasta-lo

- Não quer? - Bert riu malicioso e no instante seguinte


beijou-a demoradamente, fazendo com que a resistência dela
desaparecesse...- vai querer.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VIII

Sara, caminhou até á janela do quarto e ficou vendo as


estrelas.

Tinham passado uma semana desde a noite da festa e ela


ainda não tinha conseguido esquecer a humilhação que ele a
tinha feito passar, apesar de Bert ter começado a dormir com
ela todas as noites.

- Venha para a cama Sara.

- Não. - Respondeu sabendo que era exactamente isso que


queria. Nos braços dele esquecia completamente tudo,
excepto que Bert estava com ela.

- Porquê? Não gosta de fazer amor comigo?

- Você não sabe o que é o amor. Desejo e sexo, isso são as


únicas coisas que você sabe dar a uma mulher. - Afirmou
apesar de saber que iria acabar nos braços dele.

- Não lhe chega? - Perguntou cinicamente.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não, para mim não chega.

- Mas é isso que tem. Sou um amante experiente. Nunca


ninguém se queixou antes. Agora vamos parar de conversar
e venha para a cama.

Sara não se moveu.

- Você gosta quando eu fico violento não é? - Bert levantou-


se e aproximou-se de Sara que estremeceu.

- Não tente arranjar desculpas para o seu comportamento.

As mãos dele seguraram-na pelos ombros e viraram-na para


ele.

- Eu não preciso de desculpas para me comportar do jeito


que quero. Mas vou ser delicado com você. - Bert baixou-se
até os seus lábios tocarem os dela e Sara sentiu que estava de
novo perdendo o controle sobre si mesma.

- Não. - Sara, falou baixinho e tentou escapar da boca dele


mas Bert não deixou, pegou-a no colo com suavidade,
colocou-a sobre cama e beijou-a profundamente, deixando-a
excitada.

O corpo dele pressionando o dela provocou uma corrente


de prazer nela tão grande que mesmo contra sua vontade ela
se entregou a ele perdidamente.

84
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara levantou-se, vestiu-se e foi obrigada a deitar-se de novo


sobre a cama ao sentir uma onda de enjoo. Desde a noite da
festa que ela se sentia agoniada todas as manhãs e isso estava
a deixá-la alarmada. A agonia passou e ela desceu. Bert tinha
dito que ia ficar fora todo o dia e Sara resolveu ir até a casa
de Sílvia.

- Oh Sara! - Sílvia tinha demorado um pouco a abrir a porta.


- Ainda bem que veio.

Ela parecia desesperada e Bob correu para o colo de Sara


choramingando.

- O que aconteceu?

- Foi Fred. O julgamento foi anulado como o advogado


esperava, depois de se saber que Bob estava adoptado por si
, mas Fred contratou alguém para saber do nosso paradeiro
e afirmou que não vai deixar-me em paz enquanto não tirar
o garoto de mim. - Sílvia soluçou. - Ele é capaz de tudo.

- Vamos com calma Sílvia. - Sara, tentou analisar o problema


objectivamente. - Vocês dois neste momento estão
legalmente seguros

- A primeira vez que ele me bateu, passei três dias internada


num hospital. - Afirmou Sílvia baixinho.

- Meu Deus! - Sara ficou chocada. - Devia ter apresentado


queixa dele na polícia.
85
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Ele ameaçou matar Bob se eu abrisse a boca.

- Você contou isso a Bert ou á sua mãe? - Sara estava


horrorizada com a situação.

- Você já os conhece agora. - Disse Sílvia com tristeza. -


Acha que alguém consegue contar algo a eles? Os dois foram
contra o casamento.

- Temos de admitir que eles tiveram razão. - Sara, sorriu


tentando desdramatizar a situação.

- È –Sílvia tentou sorrir também

- Mas agora precisamos arranjar uma solução para o


problema. Já falou com o seu advogado?

- Já. Ele aconselhou-me e sair do país durante algum tempo.


Tenho uma tia no Brasil e ele acha que eu devia ir uns
tempos para lá.

- E porque não faz isso?

- E Bob? Ele não pode viajar agora.

- Tinha esquecido. - Sara, passou uma mão pela nuca. -


Podíamos arranjar alguém que tomasse conta dele até eu o
poder levar para casa.

- Claro. - Sílvia levantou-se animada. - Conheço uma pessoa


óptima. Ela cuidou de Bob quando ele nasceu e ele a adora
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Depois de terem falado com a senhora e de esta ter aceite


ficar com o garoto. Sara convidou Sílvia para ir almoçar a
um restaurante e depois voltaram para casa . As duas fizeram
as malas e quando Sara olhou para o relógio sorriu.

As horas passam depressa. Preciso ir embora.

- Claro. - Sílvia abraçou-a a – Obrigado por tudo Sara. Por


favor não esqueça de mandar noticia suas e de Bob.

- Prometo. - Ela riu. - Uma carta em cada dois dias. E não


fique preocupada irei ver Bob todos os dias. Espero que faça
boa viagem Sílvia.

- Obrigada.

Sara desceu as escadas, pensando na responsabilidade moral


que agora tinha para com Bob. Ia a atravessar a estrada,
quando sentiu tudo rodar á sua volta. Fechou os olhos com
força durante um instante, abriu a porta do carro
rapidamente e deixou-se cair no banco completamente sem
sentidos. Quando abriu os olhos de novo, tudo parecia
amarelo e brilhante á sua frente, mas pouco a pouco, tudo
voltou ao normal e Sara voltou para casa.

O desmaio, foi suficiente para marcar uma consulta para o


seu médico para o dia seguinte. O médico achou melhor que
ela tirasse algumas análises e mandou Sara voltar três dias
depois.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Ela ia visitar Bob todos os dias e levava-o a passear, mas


naquele dia foi-lhe impossível, já que tinha de ir buscar o
resultado das analises e levá-las ao médico.

- Bom dia. - Sara, sorriu.

- Bom dia. - A recepcionista do laboratório sorriu também. -


Senhora Donnelly, não é?

- È sim.

- Acho melhor dar-lhe os parabéns. - Sara olhou-a confusa e


ela sorriu. - Não sabia que estava grávida?

Sara, sentiu-se completamente perdida.

- Não. - Sara, sorriu. - Eu não imaginava! - Claro, ela pensou


nas agonias que sentia todas as manhãs e nos desmaios. - Sò
podia ser...

A recepcionista sorriu para ela e Sara entrou no gabinete


médico que confirmou a gravidez.

- Um mês e alguns dias Sara... Está feliz?

- Claro. - Sara, sorriu.

- Bom. - O médico abriu a agenda. - Vamos marcar uma


outra consulta para daqui a dois meses certo?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Certo doutor e obrigada.

Sara, saiu do consultório confusa e assustada. A única coisa


que o seu cérebro lhe ditava, era que não devia contar nada a
Bert. Devia fugir daquele homem frio e cruel, que sem saber
porquê ela começara a amar, mas havia o avô. Os olhos de
Sara encheram-se de lágrimas e apesar da proibição de Bert,
ela guiou até a casa do avô e bateu á porta.

- Sara! - Betty abraçou-a a - Não devia ter vindo .

- Porquê? - Sara, quis sorrir, mas os seus olhos encheram-se


de lágrimas.

- Não sabe? - Betty limpou as lágrimas que caíam pelo rosto


de Sara. - O seu marido não lhe disse? O seu avô não está
bem e não quer que o veja assim.

- Tem a certeza Betty? – Sara sentiu-se mais sozinha que


nunca.

- Você sabe como ele é não? Está mais magra Sara. Tem
andado a comer mal?

- Eu estou bem. - Sara respirou fundo e lembrou-se do bebe


que estava crescendo dentro de si. - Preciso ir Betty. Cuide
bem dele.

- Claro, minha filha.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara enfiou-se no carro e viajou sem destino durante algum


tempo

Eram umas dez horas quando ela chegou a casa e subiu


directamente para o quarto, sentindo-se exausta. Ouviu o
chuveiro a correr e respirou fundo, ao pensar que Bert iria
querer saber por onde ela andara. Sara foi até á janela e
abriu-a. Custasse o que custasse, ela não ia dizer nada sobre
o bebe a ele. Ela respirou profundamente o ar fresco da
noite.

- Já chegou?

Sara estava esperando pelas perguntas, mas não por aquela


violência que viu nos olhos dele.

- Já sim

Bert parou a alguns metros dela, o corpo tenso, as mãos


fechadas e os maxilares apertados, sinais evidentes de toda a
violência que ele tinha acumulado.

- Essa é a sua resposta? Já sim - Ele imitou-a e Sara


estremeceu assustada.

Bert parecia furioso e Sara lembrou-se da visita que tinha


feito ao avô, era impossível que ele soubesse.

Ela levantou os olhos para ele que pareceu ter lido o que ela
estava pensando.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu a proibi Sara. - Ele falou entre dentes como se tivesse


adivinhando tudo o que Sara estava pensando, os olhos dele
apertados e brilhantes. - Eu a proibi, mas você não podia,
obedecer não é?

- Como soube? - A voz dela saiu fraca e rouca.

Ele pareceu nem ter ouvido a pergunta.

- Tenho vontade de...- Ele não terminou a frase e deu um


passo á frente

Sara lembrou-se do bebe que tinha dentro de si e logo a


seguir a imagem de Sílvia apareceu-lhe á frente, preferia
magoar-se a ela própria do que deixar Bert fazê-lo.

- Eu vou ensiná-la Sara. Vou domesticar você nem que seja a


ultima coisa que faço na vida. - Ele avançou como um
animal selvagem mas parou ao ver a mão de Sara no
parapeito da janela aberta.

- Se você não parar Bert, eu pulo lá para baixo. - Ela estava


completamente desesperada e com muito medo dele.

Tinha sido um dia cheio de surpresas infelizes e a sua vida


estava transformada num inferno. A única coisa boa que
parecia, existir no mundo era aquele bebe crescendo dentro
dela.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não diga loucuras e saia daí. - Bert estendeu a mão para a


ajudar a sair dali, mas Sara encostou-se mais á janela

- Eu estou falando serio Bert. - Ela falou num tom de voz


cansado. – Se você se aproximar eu salto lá para baixo.

-Eu sei que você está falando serio, mas está sendo tola. - A
fúria de Bert parecia ter desaparecido completamente. - O
que você quer para sair daí.

Os olhos de Sara encheram-se de lágrimas, ela não sabia o


que queria para sair dali, estava apenas com medo, Sara
soluçou alto e imediatamente os braços de Bert se fecharam
em torno dela e a afastaram da janela aberta.

- Sua tola! - Bert a censurou de um modo quase carinhoso,


mas logo a seguir Sara sentiu a pressão selvagem dos lábios
dele forçando os dela.

Em silêncio ele a empurrou rudemente para a cama.


Assustada Sara tentou sair dali mas ele deitou-se sobre ela
impedindo-a de se mover e beijou-a com violência. A
respiração dele estava ofegante e ela estremeceu, embora o
medo tivesse ido embora

Ele levantou os olhos e olhou-a

- Já parou de resistir? Se queria apenas um pouco de


violência não precisava ameaçar atirar-se da janela.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Solte-me. - Sara empurrou-o com força e bateu com o


punho cerrado no peito dele que riu.

- Não. Ainda não. Preciso castigar você pelo susto. - Bert


baixou o rosto e mordeu-a com força num ombro.

A agressão fê-la luta desesperadamente, para se soltar dele,


mas Bert manteve-a presa á cama, segurando a cabeça dela
com as duas mãos, o seu corpo musculoso pressionando o
de Sara impedindo-a que qualquer fuga. Ele voltou a beija-la
selvagem e violento mas cheio de paixão e ela perdeu
completamente o controle e entregou-se aquele homem.

Sara, abriu os olhos, a respiração morna de Bert aquecia o


ombro dela, enquanto um braço musculoso estava passado
pela sua cintura. Lágrimas quentes inundaram os seus olhos
ao pensar no bebe que estava crescendo dentro dela, sentiu-
se carente e solitária e passou os dedos suavemente pelo
braço forte de Bert, enquanto virava um pouco a cabeça para
observar o rosto daquele homem insensível, que raramente
tinha um gesto amigável para ela.

- Porque está chorando?

Bert estava olhando para ela, os seus olhos negros pareciam


não ter aquela frieza habitual e por um instante Sara sentiu
vontade de contar a ele tudo o que estava sentindo.

- Não me diga que ficou zangada por causa disto ?- A ironia


estava de novo presente na voz dele e no olhar, quando os
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

seus dedos tocaram no ombro dorido que ele mordera e


Sara sentiu uma raiva imensa tomar conta de si, com um
movimento brusco, ela afastou o braço dele e levantou-se.

- Sara, espere. - A ironia tinha desaparecido da voz de Bert e


ele sentou-se na cama.

- Não. Eu não quero ouvir mais nada. Você é insensível e


frio e eu não vou ficar aqui ouvindo a amargura que
Elizabeth colocou dentro de si, mesmo que o meu avô
tivesse ajudado a criar o monstro cínico que você é hoje. Eu
não vou ficar aqui ouvindo as suas ironias brutais. - Ela
levou uma mãos aos cabelos que lhe caiam no rosto bonito e
puxou-os para trás num movimento nervoso. - Porque não
vai ter com Jaquelline, já que ela parece ser a única que
consegue dominar o homem frio que você é?

Um soluço profundo obrigou-a a parar de falar, Bert


levantou-se tentando segura-la mas ela foi mais ágil e
conseguiu entrar na casa de banho e fechar a porta á chave.
Os soluços dela abafaram a voz de Bert e ele acabou por se
afastar e sair do quarto.

Sara ficou durante muito tempo fechada, depois vestiu-se,


pegou nas chaves do carro e saiu.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

IX

Bob abraçou Sara sorrindo como sempre.


- Está tudo bem com ele? - Sara olhou para a senhora que
tomava conta do garoto, percebendo que ela lhe queria dizer
algo.

- Está sim, mas estou com um problema difícil . Entre estava


esperando por si.

Sara, entrou e sentou-se num sofá com Bob ao colo.

- Aconteceu alguma coisa?

- È a minha filha. Ela arranjou um emprego e quer que eu vá


para casa dela tomar conta da minha neta. Ela mora um
pouco longe daqui e se eu levar o menino comigo a senhora
não vai poder visitá-lo todos os dias como costuma fazer.

- Entendo – Sara, respirou fundo.

Tinha passado três semanas desde que ela mandara Bert ir


ter com Jaquelline e ele não dera mais notícias desde esse
dia. Elizabeth falara que ele estava fora do pais, tratando de

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

negócios e iria demorar no mínimo um mês para voltar. - Eu


vou levar Bob comigo.

Sara, ajudou a fazer a mala de Bob e colocou-a no carro.

- Onde vamos ti? - Bob olhou para ela com os olhinhos


negros brilhando de felicidade. - Vou morar com a ti?

Sara, sorriu enquanto o ajudava a sentar no carro.

- Vamos ver. - Ela suspirou, pensando que se não fosse o


avô, poderiam fugir para algum lugar bem longe.

Os seus pensamentos correram para Bert e de repente Sara


percebeu que se ele soubesse que ela estava esperando um
filho dele era capaz de querer roubar o bebe dela, ou de se
desfazer dele. Quase em pânico com os seus próprios
pensamentos, resolveu esquecer o seu bebe e dedicar-se por
inteiro ao problema de Bob.

Elizabeth parou ao ver Sara a entrar em casa trazendo Bob


pela mão.

- O que pensa que está fazendo?

- Aquilo que já devia ter feito há muito tempo atrás. - Sara


sentia-se forte sem saber porquê.

- Não quero essa criança aqui.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Esta criança é seu neto e ele vai ficar aqui sim. Esta casa
pertence-me também. - Sara, olhou para a empregada e
entregou-lhe Bob. - Dê-lhe um banho rápido por favor e
leve-o para o meu quarto.

- Sim senhora. - A empregada olhou de Elizabeth para Sara.


- Está um telegrama naquela mesa para a senhora.

- Obrigada. - Sara caminhou decidida até á mesa onde estava


o telegrama ignorando completamente Elizabeth e abriu - o

Os seus olhos azuis encheram-se de lágrimas ao ler o


telegrama onde Betty, a empregada do avô lhe dizia que o
velho senhor tinha falecido e o enterro já tinha sido feito
sem que Sara o soubesse pois essa tinha sido a última
vontade dele. Betty dizia no fim que o velho senhor tinha
deixado alguns bens para Sara e que esta devia consultar o
advogado que tinha ficado com o antigo escritório do avô.

Sara, subiu as escadas sem pronunciar uma única palavra.

Meia hora depois ela desceu as escadas, com duas malas na


mão e Bob a seu lado.

- Fique aqui um bocadinho Bob. - Sara, sorriu para o garoto


e foi até á sala onde se ouvia a voz de Elizabeth.

Ela entrou e encontrou Elizabeth e Adam Ross.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Gostaria de lhe dizer algo em particular.

- Não tenho segredos para com Adam. - Elizabeth olhou-a


com frieza.

- Nunca conheci alguém tão frio a ponto de nem pelo neto


conseguir sentir algum amor. Aposto que seria mais fácil
coloca-lo num colégio e esquecer-se dele lá, como fez com
Bert. Eu não vou deixar que isso aconteça nunca com Bob.
Ele é uma criança doce demais para o deixar crescer
amargurado como você conseguiu fazer com Bert. Sabia que
o marido da sua filha a espancou várias vezes, algumas das
quais a sua filha precisou ficar internada num hospital?

- Ela nunca me contou que...- Elizabeth pareceu ficar um


pouco transtornada.

- E alguma vez lhe deu oportunidade para ela contar?


Alguma vez tentou ajudá-la ou entendê-la? Não e sabe
porquê? Porque estava demasiado entretida em desviar os
bens de Bert para si... para os seus esquemas diabólicos. -
Sara fez uma pausa para respirar fundo .- Eu vou embora
agora. Vou sair da sua vida e da vida de Bert para sempre e
levar Bob comigo.

- Mas não pode eu...- Elizabeth parecia realmente


preocupada e olhou para Adam como se precisasse da ajuda
dele .- Bert vai...

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Posso sim. Eu amo Bert mas acho que ele ama outra
pessoa, se é que ele sabe o que é o amor... e eu... preciso ir
embora

- O que vou dizer a ele? Ele vai pensar que fui eu quem...

- Diga-lhe apenas que o meu avô morreu e eu estou livre


finalmente. - As lágrimas estavam caindo de novo pelo rosto
de Sara.

- Mas não pode abandoná-lo assim, acabou de dizer que o


ama.

- Ele está-me destruindo. Se fosse só a mim... eu poderia


deixar que ele me destruísse completamente, mas agora não
sou só eu que existo.

- Adam, faça alguma coisa. - Elizabeth olhou para o homem


que estava sentado calmamente no sofá, mas Sara
abandonou a sala.

- Não era exactamente isto que queria Elizabeth?

O táxi estava parado á porta, o motorista pegou nas malas de


Sara e ela ajudou Bob a entrar.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara e Bob ficaram durante um mês e meio em casa de Betty


que os acolheu com muito carinho. O avô de Sara deixara
rendimentos suficientes para que tanto a neta como Betty
vivessem desafogadamente, mas Sara sentia –se vazia,
indiferente a tudo o que estava acontecendo á sua volta, era
como se na vida nada mais lhe despertasse interesse.

As noites eram mais difíceis de passar e ela ficava-se virando


de um lado para o outro da cama, sem conseguir adormecer.
A figura de Bert parecia persegui-la e era impossível esquecê-
lo. Ele a tratara de um modo brutal mas Sara sentia-se
apoiada sempre que ele estava por perto. E eram
inesquecível as noites que passara com ele e as poucas vezes
que ele a tratara com carinho.

O médico de Sara aconselhou-a a sair da cidade e a ir morar


para o campo, pelo menos enquanto o bebe não nascesse.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Essa ideia fez com que Bob se sentisse muito animado e isso
contagiou Sara, que acabou comprando uma pequena quinta,
simples e cheia de árvores. Contratou uma empregada para ir
duas vezes por semana fazer limpeza e eles mudaram-se.

A casa era baixinha toda pintada de branco, tinha um


pequeno pátio cheio de flores, uma área de árvores de frutos
e uma outra área enorme que parecia um bosque.

Bob estava feliz e isso era visível no brilho dos olhinhos


dele.

Sara sentia-se bem ali também, alimentava-se melhor e


adormecia com mais facilidade. Todos os dias ela e Bob,
davam longos passeios pelo bosque que havia perto da casa.
Havia um pequeno rio perto e os dois algumas vezes
dedicavam-se á pesca. Iam todos os meses á cidade, quando
Sara ia ao médico e aproveitavam para fazer as compras do
mês.

Sílvia escrevia com frequência, contando tudo o que se


passava com ela e Sara lia as cartas sempre em voz alta para
Bob ouvir.

O tempo no campo parecia passar mais devagar mas Sara


sentiu-se atordoada quando se apercebeu que faltava pouco
mais de dois meses para o seu filho nascer. Sempre que iam
á cidade ela e Bob compravam algumas roupas para o bebe,

101
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

mas agora que ele estava prestes a nascer, parecia que tinham
muito pouca roupa para ele vestir.

O tempo também se modificou e o que era florido e quente


á algum tempo atrás estava a transformado em folhas caídas
e no ventinho fresco que soprava anunciando o tempo de
chuva.

Sara continuava pensando em Bert, mas ali a recordação


parecia mais suave e distante. Ela não tornara a ter noticias
dele e ao mesmo tempo que sentia necessidade de saber se
ele estava bem, se estava vivendo com Jaquelline ou se
pensava nela, sentia também um certo conforto por não
saber absolutamente nada, embora ás vezes á noite, quando
estava sozinha no quarto os seus olhos se enchessem de
lágrimas, quando pensava em Bert e em tudo o que
acontecera entre os dois.

Algumas vezes ele tratara-a com ternura e Sara quase que


acreditava que ele estava gostando um pouco dela, mas logo
a seguir com uma simples palavra ou um simples gesto, ele
destruía completamente as ilusões dela. Sara ao contrario, o
amor por Bert parecia ter crescido aos poucos e quanto mais
longe e mais tempo afastada, mais aquele sentimento parecia
aumentar.

“ Espero que Bob se ande a portar bem”.- Sara olhou


sorrindo para o garoto que estava deitado ao lado dela nas
ervas, com a cabeça no colo dela, mas nãos parou de ler a
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

carta de Sílvia “ Diga a ele que estou louca de saudades e que


vou voltar mais cedo do que ele pensa. Bert esteve aqui no
Brasil comigo e prometeu ajudar-me. - Sara, parou de ler a
carta abruptamente. Desde que saíra de casa de Bert que
tentava esquecer aquele nome embora isso parecesse
impossível, e agora ver o nome dele ali naquela carta. Sara
lembrou-se do sorriso dele e das poucas vezes que sentira a
ternura dele...

- O que foi ti? - Bob estava olhando para ela. - Não vai ler
mais?

- Vou, vou sim. - Sara fez um esforço enorme para


continuar, mas perante a insistência de Bob ela continuou
lendo a carta de Sílvia “Bert pediu desculpa por não me ter
ouvido e insistiu para saber algo sobre o seu paradeiro, mas
como lhe tinha prometido, Sara, nada lhe disse, mas acho
sinceramente que ele vai descobrir o seu esconderijo
rapidamente. - Sara, estremeceu, ele tinha ido ao Brasil
apenas para saber dela... Devia estar louco de raiva...

- Vamos voltar para casa. Se a ti tem frio o bebe também vai


ter. - Bob Levantou-se e sorriu. - Ele vai crescer mais aqui
dentro?

Sara levantou-se com dificuldade e riu quando ele tocou


carinhosamente a barriga dela.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Acho que ele ainda vai crescer mais um pouquinho sim.


Sara, aproveitou para arrumar a carta e não ler mais nada
sobre Bert os dois foram andando devagar em direcção a
casa.

- Quem é Bert ti? - Bob parou e encarou Sara com


ansiedade.

Sara, respirou fundo antes de responder.

- Bert é o seu tio. - Ela acariciou o rosto do menino.

- Ele é seu marido?

- È sim. - Sara, tocou na aliança de ouro que estava no seu


dedo.

- Como ele é? - Bob estava curioso

- Ele é alto e forte. Tem o cabelo preto muito parecido com


o seu e...

- Ele não gosta de nós?

- Claro que gosta. - Sara, não sabia ao certo porque tinha


dito aquilo.

- Se ele conhecesse Fred, ele não ia deixar que ele batesse na


minha mãe. - Afirmou ele decidido e Sara sorriu, quando
Bob adoptava alguém era definitivo.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Vamos tratar do nosso jantar.

Na manhã seguinte o céu estava muito carregado e abafado,


apesar de não estar calor e Sara resolveu ir com Bob apanhar
alguma lenha para a lareira antes que começasse a chover.

- Porque não vamos morar com o tio Bert?

Sara, suspirou, pensou que o menino fosse esquecer Bert,


mas era impossível que isso acontecesse com Bob

- Porque ele passa muito tempo viajando.

- Mesmo assim, ele podia vir ficar connosco quando não está
viajando. - Bob apanhou um raminho e juntou - o aos outros
que trazia debaixo do braço. Quando fossemos ao médico
podíamos ir buscá-lo... ou podíamos telefonar para ele e ...

Sara, passou uma mão pelos cabelos num gesto nervoso.

- Porquê? Já não gosta de estar comigo? Bob?

O garoto largou a lenha que tinha apanhado no chão e


correu a abraçar Sara com as lágrimas nos olhos.

- Gosto sim Ti... Gosto muito muito ... Mas ás vezes tenho
medo

Sara, sorriu e abraçou-o também.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Foi por isso que ontem á noite eu encontrei um menino a


mais na minha cama não é ?- Ela brincou com o garoto.

- Foi sim.

O céu estava escurecendo mais e eles voltaram para casa.

Foi quando a tarde já começava a desaparecer, dando lugar á


noite que a tempestade desabou. A chuva caía forte e a
trovoada fazia com que os vidros da janela estremecessem.
Bob estava com uma mão agarrada á camisola de Sara,
enquanto ela tentava arrumar a louça do jantar, tentando
aparentar uma calma que não estava sentindo.

- Vamos sentar um pouco aqui. Quer que eu lhe conte uma


história? - Ela tentava distrair o menino.

- Não. Eu estou com um pouquinho de medo.

Sara sentou-se num banquinho e segurou as mãos dele.

- Não precisa de ter medo. È apenas uma trovoada como


tantas outras. - No entanto Sara sentiu um arrepio na
espinha ao ver um relâmpago enorme que iluminou a
cozinha. - O bebe está com medo.

Bob sorriu e colocou um ouvido na barriga de Sara.

- Estou sentindo ele chutar, ti.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Alguém bateu á porta naquele instante e Sara tentou


levantar-se o mais depressa que pode, pois a chuva caia com
força.

Bert estava parado á frente dela completamente encharcado,


com um olhar feroz, parecia mais magro e mais velho. Os
olhos dele percorreram Sara de cima a baixo até se deterem
sobre a barriga dela e o seu olhar suavizou-se um pouco.

Sara sentiu as forças fugirem-lhe e apressou-se a sentar-se


num banco. Bert fechou a porta com força e caminhou até
perto dela.

- Você está bem? - Perguntou com violência contida,


fazendo Sara lembrar-se da primeira vez que se tinham
encontrado.

Bob olhou para o homem grande que entrara na cozinha e


correu para o lado da tia, fazendo uma careta de choro.

- Ti?

- Eu estou bem. - Ela acariciou a cabeça do pequeno garoto


que a abraçou. - Este é o seu tio Bert. - Sara, passou uma
mão pelos cabelos despenteados de Bob tão parecidos com
os de Bert.

O garotinho limpou os olhos molhados e olhou para Bert


com um olhar quase risonho.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Tio Bert?

Bert desviou o olhar para o menino, que soltou Sara e correu


a abraça-lo.

- Estou com medo da tempestade e a ti também. Ainda bem


que o senhor veio. Só o bebe, não tem medo. Eu estive
escutando mas ele apenas chuta.

Bert ficou um instante quieto, olhando para o menino


abraçado ás suas pernas, depois baixou-se até ficar á altura
dele e acariciou-lhe suavemente os cabelos.

- Não precisa mais de ter medo. - Afirmou docemente mas


os seus olhos estavam pousados em Sara. - Vou coloca - lo
na cama. São horas de ir dormir.

- Está bem. - Bob sorriu, segurou a mão de Bert. - Venha


sentir o bebe chutar primeiro tio.

Com ingenuidade o garoto levou a mão do tio á barriga de


Sara que estremeceu ao sentir a mão de Bert, suavemente
pousada na sua barriga, ela ficou tensa e o bebe chutou a
com força em sinal de protesto.

- Viu tio? Será que ele também está com medo da


tempestade?

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Talvez. - Bert não tirava os olhos de cima de Sara o que a


fazia sentir-se um pouco incomodada. - Não há uma sala
mais quente nesta casa?

- Há sim tio. Nós apanhamos lenha hoje e temos a lareira


acesa lá dentro. - Bob estava radiante, tudo o que queria era
impressionar o tio.

- Então vá na frente, enquanto eu ajudo a sua tia.

Bob apressou-se a obedecer e desapareceu rapidamente.

- Porque foi que fugiu de casa? – Bert encarou-a


severamente enquanto se aproximava de Sara. - Você sabia
que estava grávida quando fugiu?

- Sabia sim. - Sara levantou o rosto para ele, tentando


aparentar uma calma fria que estava longe de sentir. - Acho
que isso me ajudou a tomar a decisão de sair da sua casa.

- Ia esconder o meu filho de mim? - Era visível que Bert


estava controlando a violência que estava sentindo, mas no
fundo havia uma certa amargura, naquela pergunta, só que
Sara estava nervosa demais para notar isso.

- Esta criança que vai nascer é meu filho. - Ela encarou-o


com dureza. - È meu filho apenas.

- O que está dizendo? - Bert fechou os punhos com força


tentando controlar a cólera que estava sentindo.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sara levantou-se enfrentando-o

- Você não sabe o que é o amor. Você...

- Cale-se. Eu estou a tentar controlar-me o melhor que


posso, não me provoque por favor Sara. - Afirmou entre
dentes, enquanto a segurava por um braço, ajudando-a a
andar em direcção á sala.

Ela estremeceu ao sentir o contacto dos dedos longos e


poderosos dele no seu braço nu.

- Não precisa de ter medo de mim. - Ele respirou fundo


como se estivesse há muito tempo retendo a respiração. -
Vou apenas levá-la para uma sala mais quente. Esta cozinha
está gelada. Não a vou maltratar no seu estado...

Ele ajudou-a a ir até á sala, fê-la sentar no sofá á frente da


lareira e olhou para o sobrinho.

- Despeça-se da sua tia, que eu vou levá-lo até ao seu quarto


e deitá-lo.

Como era seu hábito Bob abraçou a tia com cuidado e


passou uma mãozinha sobre a barriga dela.

- Tio Bert está cá, não fiques mais com medo. Até amanhã
bebe.

- Até logo garoto. - Sara, sorriu com ternura, beijando a testa


do menino.
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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Vamos? - Bert pegou no sobrinho ao colo. - Volto já. Qual


é o seu quarto?

Bob apontou para uma porta e deitou a cabecinha no


ombro do tio.

- Porque anda sempre viajando tio? Eu tinha....

Depois de deitar o garotinho, Bert voltou para a sala, mexeu


um pouco na lareira, ateando o fogo e encarou Sara de
frente.

- Ele é sempre assim? - Perguntou apontando com a cabeça


para o quarto do sobrinho.

- È um menino muito carinhoso comigo.

- Está querendo dizer com isso que eu não sou? - Ele


abanou a cabeça como se não fosse aquilo que queria dizer. -
Porque não me contou que estava grávida?

- Porque tive medo... – Ela falou baixinho.- Porque achei


que não estava interessando .- Ela pousou os olhos na
lareira, sentindo que se ficasse olhando para ele por mais
tempo ia acabar pedindo a Bert que a abraçasse com força.

- Já lhe pedi que não me provocasse. - Bert atirou o cigarro


na lareira com violência e encarou-a zangado.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu não o estou a provocar. Estou apenas sendo sincera.


Não pensei que você estivesse interessado. Alem disso...- Ela
calou-se e desviou o olhar do dele novamente .

- Além disso? – Ele forçou-a a continuar. - Continue, por


favor.

- Tive medo daquilo que você podia fazer ou dizer. -


Concluiu em voz baixa.

Bert olhou-a enrugando a testa.

- O que você pensou que eu podia fazer? - Ele aproximou-se


mais de Sara.

- Não sei. - Ela tentou levantar-se mas Bert colocou as mãos


sobre o sofá impedindo-a de se levantar.

- Seja sincera Sara. O que foi que pensou que eu podia fazer?
- Perguntou num tom suave.

- Deixe - me levantar por favor .- Suplicou ela baixando o


rosto para que ele não visse as lágrimas que estavam saltando
nos seus olhos.

- Deixo, mas responda á minha pergunta. - Bert pegou no


queixo dela, num jeito quase terno que só fez com que as
lágrimas escorregassem com mais força pela face dela. - Não
chore... por favor.

- Pensei que você podia querer... podia querer...


112
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Roubá-lo de si. - Concluiu ele baixinho num tom quase


doloroso. – Ou talvez ate fazer algo bem pior...Diabos! Eu
portei-me como um animal consigo...

Bert obrigou-a a ficar de pé em frente dele.

- Eu não vou roubar o seu bebe de si nunca e muito menos


fazer algo de ruim, a ele ou a si. Desde que você fugiu de
casa que eu tenho vivido num inferno. Não vou dizer mais
nada.

-Você parece muito cansada Sara e não quero que suceda


nada de mal consigo ou com o bebe. - Ele olhou com
carinho para a barriga dela e ao levantar o rosto para Sara os
seus olhos brilharam de um modo quente. - Posso dormir
aqui na sala?

- Pode. Vou buscar uma toalha para você se limpar, depois


trago um cobertor e uma almofada. - Ela virou-se, queria
afastar-se dele o mais depressa possível, pois as suas defesas,
estavam a fraquejar rapidamente e ela ia acabar confessando
o quanto necessitava dele, mas Bert segurou – a por um
braço.

- Não. Quero apenas um cobertor e eu mesmo vou buscar.

- Estão no meu quarto. - Ela andou devagar até ao quarto,


abriu uma gaveta, tirou um cobertor e uma toalha.

113
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Bert pegou neles, deu um passo á frente para sair mas parou,
virou-se de novo para Sara, esticou um braço e os seus
dedos tocaram na barriga dela com delicadeza e ternura.

- Está tudo bem com vocês dois? – Os olhos dele estavam


húmidos e ela sentiu vontade de chorar

- Está tudo bem sim. - Sem conseguir suportar por mais


tempo, Sara tapou o rosto com as mãos e chorou alto.

Bert largou a toalha e o cobertor no chão e abraçou – a .

- Não chore amor. Eu prometo não magoá-la, nunca mais.


Se quiser posso ir embora agora mesmo, mas não chore por
favor. Eu não mereço essas lágrimas.

Ele levou-a até á cama fazendo-a sentar e baixou-se para


ficar á altura dela.

- Quer que eu vá embora Sara?

- Não. - Sara, sabia que se naquele momento o mandasse


embora, ele iria e não era isso que ele queria.

Ele estava diferente suave e carinhoso e isso era o que ela


mais necessitava naquele momento

- Então deite e durma. - Ele tirou os sapatos dela. - Amanhã


vai estar mais descansada e vai sentir-se melhor e poderemos
114
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

conversar com calma. - Ele levantou-se e parou sem


conseguir, desviar o olhar dos lábios dela. - Até amanhã.

Bert afastou-se rapidamente e saiu do quarto.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

XI

Sara, deu mais uma volta na cama e acabou por se sentar.


Não ia conseguir dormir, enquanto não tivesse a certeza que
Bert estava bem. A trovoada continuava forte, mas mesmo
assim ela levantou-se e saiu do quarto.

Bert estava sentado no chão á frente da lareira , o seu olhar


parecia triste e distante, enquanto Bob dormia no sofá.

Sara, aproximou-se devagar, ia descalça, mas mesmo assim


Bert pareceu pressenti-la, ele levantou o rosto e sorriu.

- Também está com medo da trovoada? – Bert levantou-se e


abriu os braços para ela.

- Não sei, não consigo adormecer. - Ela aproximou-se e


aninhou-se nos braços dele, deitando a cabeça no peito de
Bert, sentindo-se segura e feliz

- Talvez se eu dissesse o que queria quando você me abriu a


porta se sinta melhor. - Ele beijou o cabelo dela com ternura.
- Eu amo você Sara. Não sei se você, me pode perdoar todo
o mal que lhe fiz... Mas eu a amo e sem a sua presença a
minha vida não é nada.
116
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Oh Bert! – Sara, pensou que estava sonhando.

- Deixe-me terminar amor. Eu adorava a minha mãe e tudo


o que ela tinha: A fazenda, as animais a liberdade que eu
vivia ali. Então de repente tudo se transformou e eu fui
obrigado a ir viver para um colégio rígido, onde era obrigado
a fazer tudo o que eu mais detestava. Nessa altura prometi a
mim mesmo, vingar-me de tudo e de todos e assim que tive
idade, saí do colégio e tentei de tudo, para saber como é que
todos os bens da minha mãe, tinham passado para as mãos
de Elizabeth. Aí descobri tudo o que o seu avô fizera e
pensei que só havia uma solução. Vingar-me dele e de
Elizabeth através de si . Casando-me consigo, eu vingava-me
do seu avô e de Elizabeth que estava a fazer chantagem
comigo, para que eu casasse com Jaquelline, por causa da
fazenda que ela tem, quase pegada á da minha mãe. Você era
a parte inocente que eu precisava de sacrificar, mas quando a
vi... eu... eu me apaixonei. Eu era cruel, porque não queria
pensar no que lhe estava fazendo. No primeiro dia em que
dormimos juntos, eu me odiei por tê-la obrigado a dormir
comigo. Depois naquela manhã quando eu voltei, pensei que
estávamos a entender-nos, então no restaurante aquela
mulher apareceu e você pensou que eu concordava com ela...
À noite na festa, pensei que finalmente estava conseguindo,
aproximar-me de si, então surgiu, todo aquele problema e o
orgulho não me deixou dizer o que eu estava conversando
com Jaquelline naquela noite, o que eu fiz a seguir não tem
desculpa, nenhum homem tem o direito de
117
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

fazer o que eu fiz com uma mulher .- Ele estava visivelmente


arrependido. - Quero que você saiba, que Jaquelline tinha
bebido demais naquela noite e o que você ouviu não quis
dizer nada. Eu casei consigo Sara para escapar de Jaquelline,
se a quisesse a ela tinha sido fácil. Quanto á minha irmã...-
Era a primeira vez que Sara o ouvia chamar Sílvia de irmã .-
Eu sempre soube que aquele homem com quem ia casar era
um... – ele falou um palavrão – Desculpe... eu sempre fui
contra esse maldito casamento... e sou um cabeça dura
também, nunca deixei que Sílvia me contasse nada sobre o
que acontecia com ele... se soubesse que ele a maltratava
daquele jeito eu... eu teria deixado que ela e Bob viessem
para minha casa, mas eu estava demasiado absorvido com a
minha vingança. Nunca vou poder diferenciar Bob do nosso
filho Sara e...

Sara, colocou os dedos sobre os lábios dele.

- Ele é nosso filho... eu o adoptei para que Fred não o


roubasse da sua irmã – Ela falou baixinho e ele sorriu
beijando-lhe os dedos

- É louca?.... Naquele dia quando Clara bateu em si. Senti


vontade de matar aquela mulher. Em vez disso subi ao
quarto e disse-lhe algumas loucuras. Depois tentei mostrar-
lhe com o meu corpo o quanto necessitava de si, mas você
era inocente demais para me entender. Eu me apaixonei por
si, no momento em que a vi pela primeira vez. Você estava

118
VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

assustada quando entrou no meu carro pela primeira vez,


mas mesmo assim, aparentou uma calma que eu sabia que
estava longe de sentir. Naquele momento pensei em
esquecer tudo e tentar conquistá-la aos poucos, mas não
tinha tempo para isso. Elizabeth estava – me colocando
contra a parede, ameaçando-me, que se eu não me casasse
com Jaquelline venderia a fazenda da minha mãe e eu
precisei agir com rapidez. Mais tarde o seu avô contactou
comigo, dizendo que tinha pouco tempo de vida e que não
queria que você o visse doente. Aí precisei de novo de
mostrar a minha força, era o único meio que eu tinha ao
meu alcance, para a manter afastada do seu avô, lembra
quando me pediu para visitar o seu avô, você parecia tão
frágil, que por um momento eu tive a pontos de contar-lhe
tudo. Mas não podia esquecer o seu avô, naquela altura eu já
tinha esquecido a minha vingança, eu falei com o seu avô e
tentei até fazê-lo mudar de ideias, mas ele também não era
um homem fácil e obrigou-me a prometer-lhe que você não
iria lá Você entende?

- Eu amo você. - Sara, não conseguiu guardar aquele segredo


por mais tempo.

- È impossível. - Bert afastou-a um pouco de si, para poder


olhar nos olhos dela. – Eu me comportei como um animal.
Nunca lhe dei um pouco de carinho ou compreensão.

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VINGANÇA de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Mas eu amo você mesmo assim. - Sara, soluçou alto. - Amo


muito.

- Oh Céus! Posso beijá-la?

Sara, levantou o rosto para Bert e ele beijou-a


apaixonadamente.

- Eu vou fazê-la feliz Sara. Prometo

FIM

Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

NEVE NOS ALPES

Apesar de ser princípio de Setembro, o tempo estava fresco.


Eram sete horas da manhã, o sol brilhava e o céu estava
totalmente azul, se não fosse aquele vento...

Sony caminhava devagar, como sempre, por entre as pessoas


apressadas, calças de ganga, camisola azul, blusão castanho-
escuro e ténis. O cabelo semi longo escuro e despenteado
voava ao sabor do vento. Sony olhou para a aliança de ouro
que trazia na sua mão esquerda, era estranho, mas ela não se
sentia casada. Alberto tinha se tornado num outro homem
depois de casado. Sony sorriu de si própria, talvez ela tivesse
sido a culpada dele se ter tornado assim... ela não se
incomodava muito com a sua aparência, era até natural que o
marido tivesse perdido um pouco, daquela atracão que
existia entre homem e mulher, embora ela sempre tivesse
sido assim, Sony suspirou... não era só a atracão que tinha

121
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

desaparecido... o amor também estava ausente as datas


importantes tinham caído simplesmente no esquecimento...
A data do casamento... do primeiro encontro... e
ultimamente até a data dos anos dela. O que contava agora
era o dia do futebol com os amigos. Os dias da natação... o
dia... Sony sorriu de novo com tristeza, a culpada tinha sido
ela própria, era a casa, os pássaros, os cães, o gato persa, o
marido, a roupa para lavar, o trabalho... e tempo para ela
própria nunca havia e o resultado estava á vista.

Sony virou para uma rua solitária e parou enrugando a testa.


À sua frente estava uma carrinha de vidros escuros e
fumados, matricula estrangeira, com uma das portas abertas,
três homens de fatos escuros e mascaras na cara, seguravam
um quarto homem e enfiavam-no dentro do veiculo, por
baixo das porta s abertas viam-se mais dois homens caídos
no chão e algum sangue. Um dos homens de cara tapada,
levantou o olhar e fixou-o directamente nela.

Sony teve a certeza que estava vendo algo que não devia, o
homem que a vira, disse algo em espanhol para dentro da
carrinha, tentando não aparentar o medo que estava
sentindo, Sony virou-se para fugir dali, ouviu o som do
motor da carrinha fazendo marcha atrás e tentou correr, mas
no mesmo instante sentiu algo frio encostado ás suas costas.

- Se gritar eu a mato. - O sotaque espanhol estava lá e as suas


palavras não deixavam Sony articular um ai que fosse.

122
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

O homem ficou á sua frente e tirou a mascara do rosto


olhando-a serio e frio, fazendo Sony estremecer.

- Não faça nenhum movimento brusco e não tente fugir,


porque eu a mato na hora.

- Como se eu fosse um touro na arena...

Sony sorriu com tristeza e caminhou ao lado dele.

- Exactamente, como se fosse um touro na arena. - O olhar


dele brilhou ligeiramente. - Mas eu luto por uma causa justa.

- E isso dá-lhe o direito de matar quem quer. - Ela olhou-o


altiva antes de entrar na carrinha, naquele momento ouviu-se
um som de passos ali perto e o homem escondeu a arama no
bolso e abraçou Sony.

- Eu ainda não matei ninguém. - Ele afirmou, e logo depois


os seus lábios taparam os dela, violentos e opressivos.

Sony sentiu as forças faltarem-lhe e logo a seguir ele pegou


nela ao colo, sentou-a delicadamente no banco da carrinha,
entrou e fechou as portas.

- Nunca foi beijada por um homem de verdade? - Ele


agarrou a mão dela e olhou a aliança.

- Por um homem já. - Sony tentou normalizar a respiração. -


Mas recuso-me a pensar que a sua raça seja humana, eu não
o considero um homem. - Ela estava tremendo dos pés á
123
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

cabeça, o seu coração batia tão rápido que parecia querer


saltar-lhe pela garganta.

Sony pensou que ele ia tirar a pistola do bolso e mata-la, mas


ele depois de a olhar muito serio, riu.

- Está aí, tremendo, assustada mas mesmo assim fica aí,


cuspindo sentenças.

Sony engoliu em seco.

- Vai chorar?

Ela levantou o rosto assustado mas altivo para ele.

- Os touros de morte não choram.

Durante alguns segundos ele ficou a olha-la em silêncio.

- Você consegue passar lá para trás?

Sony fez que sim com a cabeça, olhou para os três homens
que estavam na carrinha no banco de trás e que mantinham
as mascaras nos rostos e passou para a parte de trás da
carrinha.

- E pode parar de tremer que eu não vou mata-la . - O


homem que a colocara dentro da carrinha vinha atrás dela,
amarrou-lhe as mãos e os pés e sorriu enquanto baixava a
cabeça e depositava um beijo nos lábios dela. - Está
confortável?
124
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony apertou os lábios fazendo um derradeiro esforço, para


que as lágrimas não caíssem e fez que sim com a cabeça. Ele
voltou a sorrir, fez um carinho no cabelo dela e respirou
fundo.

- Como é o seu nome?

- Sony.

Ele levantou-se, pulou facilmente os dois bancos e foi


sentar-se lá á frente.

Sony olhou para o homem que estava ao seu lado e que


tinha sido forçado, como ela a entrar na carrinha. Ele parecia
estar inconsciente e ela ficou a olhá-lo. Era um homem de
feições bonitas, a barba por fazer de dois dias, os lábios
cheios e bem delineados... Aquele rosto era-lhe vagamente
familiar. Ele abriu os olhos negros e brilhantes e durante um
instante, os dois ficaram a olhar-se, ouviu-se no rádio uns
acordes de viola e Sony sorriu suavemente.

- Jonhy Caia è isso não é?

Ele era um cantor espanhol, que estava nos tops mundiais de


quase todos os países da Europa.

- Sou eu sim.

- Calados. - Um dos homens que ia no banco do meio pulou


até eles.

125
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Deixem a moça sair, ela não tem nada a haver com a vossa
guerra de independência., provavelmente nem sabe onde fica
o Pais Basco.

- Cala-te. Ela viu o que não devia. - O homem de escuro e


rosto tapado chutou-o.

Sony sentiu uma raiva tão grande que mesmo com os pés
atados, atacou o homem de escuro fazendo-o cair. Ele foi
rápido a levantar-se o seu olhar gelado fixo no dela, um frio
estranho percorreu Sony, o homem levantou um pé mas no
instante seguinte Jonhy empurrou-a e foi ele quem recebeu o
pontapé no estômago.

- O que está acontecendo aí atrás? - O homem que beijara


Sony veio de novo cá a atrás.

Ele falou algo rápido em espanhol com o homem de rosto


tapado que riu com desdém, enquanto voltava para a frente.

- Não abuse garota.

Aquilo era um aviso, os olhos de Sony encheram-se de


lágrimas, durante uns breves segundos o olhar dele foi de
conforto, depois ele virou-se e foi para a frente para perto
dos outros.

- Não fique assim. - Jonhy sorriu para ela. - Vai sofrer ainda
mais se continuar com esse seu comportamento. Nós fomos
raptados por um grupo de criminosos. - As lágrimas
126
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

escorreram com mais força dos olhos dela e uma onda de


ternura passou pelos olhos negros de Jonhy - Venha cá - Ele
abriu os braços e aproximou-se um pouco mais dela e Sony
enterrou o rosto no peito largo e forte dele. - Não se
desespere assim. Precisa aprender a ter calma e a ser
paciente, só assim poderemos ter alguma hipótese de
sobreviver a isto.

Sony ficou ali sossegada, enroscada nele, sentindo-se


impotente e assustada perante o que estava acontecendo, aos
poucos as lágrimas pararam de cair e ela adormeceu ao som
suave do bater do coração de Jonhy.

127
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

II
Sony abriu os olhos devagar, não sabia quanto tempo tinha
passado a dormir, mas pela cor do sol, já devia passar do
meio dia, ela olhou para o homem que estava ao seu lado, ele
parecia estar dormindo e Sony deixou-se ficar ali, enroscada
naquele homem que ela conhecia apenas da televisão. Afinal
qualquer outra mulher ia ficar delirante por estar nos braços
de um dos maiores cantores românticos da actualidade.

Ela perdeu completamente a noção do tempo e de tudo o


resto. Era como se aquilo fosse uma daquelas histórias que
ela escrevia, quando se sentia infeliz e sozinha.

O homem que a beijara aproximou-se.

- Não tem fome?

Sony encolheu os ombros

- O seu amigo já comeu alguma coisa mas você estava a


dormir tão bem, que eu não quis acorda-la.

Sony sentiu as lágrimas escorrerem de novo pelo seu rosto.

- Não se desespere sem necessidade garota. Posso contar-lhe


um segredo? - Ele passou um dedo pelo rosto dela
limpando-lhe as lágrimas. - Os touros de morte são sempre
corajosos e nem sempre, morrem. Dê uma dentada - Ele
levou-lhe uma sandes á boca e Sony trincou-a
128
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Posso saber o seu nome? - Sony olhou-o.

- Mário.

Sony sorriu e ele ficou a olhá-la.

- Posso saber o porquê desse sorriso?

- A minha irmã namorou um homem com esse nome, que


dizem ter morrido em Espanha. Pertencia á...

- ETA. - Mário olhou-a. - Você acredita no destino? - O


olhar dele tornou-se um pouco sonhador. - Quer dizer que
você era a tal diabinha com olhos de anjos de quem ele
sempre falava. - Ele sorriu mas Sony ficou seria.

- Você o conhece?

- Conheci. - Ele fez que sim com a cabeça. - Eu o vi morrer.

Sony ficou toda arrepiada e ele sorriu de novo.

- A morte a assusta?

- Ele não morreu. - Sony olhou-o desesperada. - Eu sei que


ele não morreu.

Mário suspirou tentando dar-lhe um pouco mais da sandes,


mas Sony sentia uma revolta tão grande dentro de si, Mário
era o único nome que lhe dava alguma esperança na situação
em que se encontrava

129
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Coma mais um pouco. - Ele insistiu sem compreender o


que ela estava sentindo e apesar das mãos dela estarem
atadas, Sony deu-lhe um safanão fazendo a sandes voar.

- Ele não morreu. Eu sei que ele está vivo. Deixe-me, eu não
quero comer mais nada. Eu não quero nada.

Mário e Jonhy que tinha acordado ficaram a olhá-la um


pouco espantados com aquela onda de violência, mas Sony
não se satisfez com aquela onda de violência e antes que
qualquer um deles a conseguisse deter, ela a mandou uma
cabeçada na porta da carrinha com toda a força, ferindo-se.

- Eu sei. Ele não morreu!

Mário puxou-a para longe da porta.

- Ficou doida? - Ele passou dois dedos pela cabeça dela e


mostrou o sangue. - Quer-se matar para depois colocar a
culpa em nos?

- Não. Quero morrer para não deixar que vocês me matem. -


Ela falou em voz baixa e desmaiou.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

III

Sony abriu os olhos, estava deitada com a cabeça no colo de


Jonhy, enquanto Mário estava tratando do corte que ela
tinha feito.

- Faça mais uma estupidez destas e juro que vai gritar para
que eu a mate.

Sony levantou a cabeça e abraçou-a chorando.

- Eu não acredito que exista alguém assim. - Mário olhou


incrédulo para Jonhy e abraçou-a. - Esta garota não existe -
Ele sorriu. - Fique com ela Jonhy. Vou ver se encontro algo
para a adormecer. Ela não está bem.

Mário colocou-a perto de Jonhy e este passou os braços á


roda dela, já que continuava com os pulsos atados e ficou ali
mimando-a suavemente, tentando acalma-la.

Mário voltou algum tempo depois da frente da carrinha com


um comprimido e uma garrafa de água.

- Tome isto.

Sony tomou o comprimido e olhou para ele.

- Está zangado comigo?

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Claro. Eu tentei, ao máximo magoa-la o mínimo possível e


você...

- Desculpe...- Sony segurou a mão dele e levou-a aos lábios

- Fique quietinha e descanse.

- Eu só vou descansar, quando me disser que não está mais


zangado comigo.

- Eu não estou mais zangado. - Ele fechou uma mão e bateu


suavemente no queixo dela. - Descanse.

Sony fechou os olhos e acomodou-se melhor mais uma vez


nos braços de Jonhy

- Não me deixe, por favor...- Ela fez um carinho no braço


dele.

- Não, não deixo.

Sony acordou sentindo a boca seca, ela esticou os braços e


tocou em Jonhy.

- Alô ...- Ela sorriu para ele.

- Alô. Você está bem? - Ele tirou o cabelo dos olhos dela

- Estou. Tenho sede.

O sol estava começando a nascer de novo.


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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Tem água aqui. - Jonhy apontou para uma garrafa. -


Consegue beber?

Sony levou a garrafa á boca e bebeu tudo.

- Era leite? - Ela fez uma careta.

- Você precisa de se alimentar. - Jonhy sorriu.

- Estamos parados?

- Estamos. - Jonhy olhou-a tentando mostrar uma calma que


era apenas aparente.

- Está com medo?

- Claro. - Jonhy sorriu. - Toda agente sente medo.

- Mário não vai deixar que matem a gente. - Sony olhou para
Jonhy. - Pois não?

- Pois eu a mato agora mesmo e a corto ás posto. - Um dos


homens vestidos de escuro aproximou-se deles. - Se não
calar essa sua boca.

Sony olhou-o assustada e encostou-se em Jonhy tremendo.


A porta da frente foi aberta e Mário entrou com mais dois
homens.
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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Está tudo bem aí atrás?

- Está sim - O homem afastou-se deles.

- Acordou finalmente? - Mário sorriu para ela mas enrugou a


testa ao ver que ela estava a tremer. - Você está bem?

- Eu quero que me prometa á frente de todos que se tiverem


de nos matar, vai ser você a fazê-lo e não um desses aí. -
Havia de novo um certo desespero na voz dela.

- Eu já vou aí falar consigo. - Mário fez uma cara feia para


ela, entrou na carrinha e esta começou a andar.

Logo depois Mário aproximou-se deles.

- Que conversa é essa? _ Ele puxou o cabelo dela


suavemente para o lado para verificar se a ferida na cabeça
dela ainda estava sangrando. - Que conversa é essa de a ter
de matar?

- Aquele ali. - Sony apontou para o homem. - Disse que me


ia matar e cortar ás postas. - Ela mordeu o lábio

- Isso não vai acontecer. Nós só raptamos Jonhy para


recebermos o dinheiro do resgate. Não queremos matar
134
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

ninguém a não ser que sejamos obrigados a isso. Você será


solta quando soltarmos Jonhy.

- Está bem, mas se precisar de me matar, prometa que é


você a fazê-lo. - Sony segurou nas mãos dele e abraçou-o.

- Prometo que não vou deixar que nenhum mal lhe aconteça.
Ninguém enquanto eu for vivo, vai tocar num só fio do seu
cabelo e se for preciso. - Ele fez uma pausa e falou baixinho.
- Eu darei minha vida por si sua tonta.

Ele soltou-a e voltou de novo para frente.

Sany olhou o relógio preocupada.

- Está preocupada com o seu marido? - Jonhy esfregou o


queixo nas costas dela.

- Não. Estou preocupada com o meu gato e o meu cão. O


meu marido provavelmente só vai dar por minha falta mais
logo, quando reparar que o almoço dele não está no sítio do
costume.

- Não têm filhos?

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não.

- Estão casados há muito tempo?

- Quatro anos. - Sony encostou a cabeça em Jonhy.- Acho


que ele vai até ficar feliz por eu desaparecer.

- Não seja doida. Não existem duas meninas como você no


mundo. O seu marido é um sortudo.

- Porquê? Acha por acaso que eu sou uma pessoa


interessante? - Ela esticou-se para ele a ver melhor.

- Acho. - Jonhy sorriu suavemente. - Eu a acho atraente.

- Assim? - Sony olhou-o mostrando os ténis e o blusão largo.

- Sim. Assim. Você é uma garota invulgar. Uma pessoa por


quem a gente sente uma ternura, sente uma vontade de
proteger...

- Não é isso. Você...

- Fisicamente, eu a acho atraente sim. - Jonhy sorriu. - Você


é aquilo que nos vemos, não uma produção, cheia de
retoques e truques...
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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony parou de falar, acomodou-se melhor, tirou um papel e


uma caneta do bolso do blusão e principiou a escrever. A
escrita era algo que a acalmava, escrever contos,
autotransportar-se para uma ilusão. Jonhy adormeceu e ela
continuou a escrever. Mário olhou-a duas ou três vezes, as
Sony nem dava por isso. Só quando os papéis chegaram ao
fim, é que ela levantou os olhos. Mário estava bem atrás dela
e ofereceu-lhe mais algumas folhas brancas com um sorriso.

- Obrigada.

Sony manteve-se a escrever até anoitecer e ela não conseguia


mais ver o que escrevia e só naquele instante é que ela
reparou que já era noite. Jonhy continuava a dormir.

- A que horas vão dar pela sua falta? - A voz de Mário bem
atrás dela fizeram-na pular de susto. - Assustei-a?

- Você fez isso de propósito - Ela encostou a cabeça no


ombro dele. - Acho que já devem ter dado...

- Desde ontem á noite? - Ele segurou a mão dela e observou


a aliança demoradamente.

137
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Não... Provavelmente desde hoje á hora do almoço.

- Porquê? - O seu marido não dorme consigo? - Ele foi


irónico.

Sony corou ligeiramente e afastou-se um pouco.

- Dorme, mas acho que ele não vai dar pela minha falta...

- Há quantos anos está casada?

- Quatro anos.

- Céus! E ele já não dá pela sua falta na cama? - Ele olhou-a


incrédulo. - Com que raio de homem você se casou garota?
Ele é de borracha ou é só insensível?

Sony afastou-se ainda mais dele e olhou-o ressentida.

- O meu cão e a minha gata já deram pela minha falta desde


ontem. - Ela falou aquilo como se os animais fossem gente e
ele riu.

- Ah sim! Claro. Já estou a imaginar o seu cão e a sua gata a


entrarem numa esquadra e... - Ele parou ao ver que ela
estava prestes a chorar. - Não precisa de chorar.
138
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu não vou chorar. - Ela olhou-o orgulhosamente

- Tem a certeza?

Sony baixou os olhos e encostou a cabeça em Jonhy,


sentindo-se muito sozinha. Mário seguro-a por um braço e
puxou-a para mais perto de si.

- Deixe-o dormir, ele vai precisar.

Sony olhou-o magoada e ele baixou o rosto e beijou-a.

- Deixe-me.

- Não fale assim comigo.

- Eu falo como eu...

Ela não acabou a frase. Mário agarrou o rosto dela á força e


beijou-a violentamente. Sony soluçou alto e ele deixou a
boca dela e olhou-a

- Não se esqueça “ senorita” que você não passa de um


animal a abater e quero pouco barulho. - A voz dele estava
gelada e ele levantou-se e foi de novo para a frente.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony encostou-se num canto da carrinha e ficou lá a chorar


sozinha em silêncio.

O tempo principiou a arrefecer. Um dos homens vestidos de


preto atirou um cobertor para ela que estava batendo os
dentes mas Sony tapou Jonhy com muito carinho e voltou
para o seu canto. O homem olhou de novo para ela e disse
algo a Mário que a olhou rindo. Sony fechou os olhos,
sentia-se infeliz sozinha e assustada. Um cobertor foi
colocado á volta dela e Mário deu-lhe um abraço.

- Não fique assim garota.

- Eu vou fugir assim que puder.

- E eu a mato sua idiota. - Ele abanou-a com violência.

- Policia. - Um dos homens lá á frente falou alto.

- Venha. - Mário ficou tenso e fez com que Sony passasse


para um banco, tirou a pistola que trazia nas costas. - Sente-
se e não ouse dizer um ai sequer. Tire o blusão e a camisa
depressa

140
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Os dois homens de escuro passaram para trás da carrinha e


esconderam-se com Jonhy

Sony tirou o blusão apenas

-A camisa também. - Mário olhou-a.

- Não.

- Não? - Ele aproximou-se e com um puxão apenas, fez os


botões da camisa azul dela voarem. - Essa palavra não existe
para mim. Entenda isso.

Ele empurrou-a, fazendo-a sentar-se no banco, desapertou a


camisa dele, sentou-se ao lado dela e passou um cobertor
por cima dos dois. Depois enfiou a mão com a pistola entre
a cintura dela e as calças e Sony estremeceu ao sentir o frio
da arma no seu corpo.

- Nem um aí, entendeu? - Ele olhou-a bem serio.

Sony tremia incontrolavelmente, ele a beijou insinuante,


enquanto a abraçava.

141
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

A carrinha parou, um dos guardas ficou a examinar os


documentos do veículo, enquanto o outro abria a porta de
trás, a mão que Mário tinha segurando a arma acariciou
suavemente o ventre dela e os olhos dele brilharam. O
policial olhou-os e fechou a porta sorrindo.

A carrinha arrancou, mas Mário não saiu dali, ele continuou


beijando Sony, a arma foi retirada mas a mão dele
permaneceu ali, acariciando suavemente o ventre dela.

- Você tem a pele mais macia que eu conheço.

Os dois homens de escuro voltaram para afrente e um deles


riu ao ouvi-lo dizer aquilo.

- E olhe que a experiencia dele é longa. A polícia já foi


embora.

- Eu sei. Mas preciso fazer as pazes com esta garota. - Mário


sorriu depois disse algo em espanhol para o homem
fazendo-o rir e olhou malicioso para ela. - Está confortável?

Sony estava tremendo e ele passou uma mão pelo corpo dela
insinuante.

142
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Está tremendo assim só de medo? Ele apertou-a contra o


seu corpo. - Eu podia mostrar-lhe como são os homens de
verdade.

Sony levantou o olhar desesperado para ele e Mário sacudiu


a cabeça.
- Você leva o seu casamento muito a sério?
- Levo sim. - A voz dela estava rouca. - Eu estou com medo.
- Eu sei amor. - Ele abraçou-a com força e beijou-a no
pescoço. - Mas sou só eu quem está aqui.
- Mas você ficou diferente de repente. - Ela queixou-se e
enroscou-se nele.
- Eu fiquei com ciúmes desse seu marido de borracha. - Ele
segurou o rosto dela. - Você usa sempre roupa interior de
seda?
Sony corou e ele riu.

- Se você fosse minha mulher eu não ia deixá-la dormir


descansar nunca. - Mário voltou a passar a mão sobre o
corpo dela, devagar sensualmente, despertando emoções há
muito esquecidas, os olhos dela brilharam. - Você tem um
corpo lindo, não o devia esconder com essas roupas largas. -
A boca dele apoderou-se dos lábios dela.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony deixou escapar um gemido rouco e Mário sorriu. Os


seus lábios desceram devagar pelo pescoço dela - Eu gostaria
de possui-la agora mesmo. - A voz dele estava rouca. - Eu
estou a sentir um desejo louco por si.

Mário afastou-se de repente, a respiração dele estava alterada


e os seus olhos brilhavam de desejo.

- Vá lá para trás. - Ele pegou no blusão dela e entregou-lho. -


Vista isto e vá.
Sony vestiu o blusão e apressou-se a ir ter com Jonhy, que
abriu os braços para ela que se aninhou neles chorando.
Algum tempo depois um dos homens veio-lhes trazer comer
e logo a seguir a carrinha parou e Mário aproximou-se.
- A partir daqui, vamos ter de ir a pé. - Ele cortou as cordas
dos pés de Jonhy. - Não tentem fugir, porque se não
morressem de um tiro iam morrer gelados. - Ele olhou-a
sério – Isto aplica-se a si também. - Ele fez um carinho
numa das pernas dela – Confiem um pouco em mim. - Disse
baixinho olhando-os sério Se quiser Sony, pode desatar a
corda das mãos dele.
Ela desatou a corda das mãos de Jonhy enquanto Mário saia
para lhes abrir a porta de trás da carrinha.
Estavam nas montanhas e havia muita neve. Os olhos de
Sony brilharam deslumbrados.

144
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Nunca vi tanta neve assim.


- Isto é os Alpes. Você conhece alguma coisa de Espanha? -
Jonhy sorriu
- Conheço Badajoz, Huelva, Cadiz, Gibralta.
- Isso é Espanha... Isto é o País Basco. - Um dos homens
olhou com orgulho á sua volta, enquanto colocava uma
mochila ás costas.
- Vamos andar, daqui a pouco é noite e precisamos parar. -
Mário apertou suavemente o ombro de Sony que o olhou
zangada.
- Ainda está zangada comigo? - Ele sorriu
- Estão a dar a noticia do rapto de Jonhy.- Um dos homens
falou para Mário. - Mas ninguém participou o
desaparecimento dela, não deve haver muita gente a
importar-se.
Sony estremeceu e olhou á sua volta.
- Não faça isso. Eles matam-na. - Jonhy segurou-a pelo
pulso, mas Sony soltou-se dele.
Tudo o que ela ouvia dentro de si era aquela frase” Não deve
haver muita gente a importar-se” Eles iam mata-la de
qualquer jeito. Ela deu apenas dois passos de corrida, porque
logo a seguir alguém a rasteirou e ela caiu desamparada em
cima da neve. Logo a seguir ela foi levantada por um braço e
levou uns safanões.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Eu a avisei - A voz de Mário era gelada e ele a sacudiu de


novo até as lágrimas escorregarem pelo rosto dela. - Assim
você vai-se magoar. - Ele empurrou-a á sua frente furioso.
Jonhy amparou-a para que ela não caísse de novo e olhou
para Mário como que pedindo desculpas por ela.
- Mantenha-a longe de mim e tente fazer com que ela se
comporte direito.
Mário passou por eles como se fosse um animal selvagem e
Sony limpou o rosto com as mãos e todos principiaram a
andar. Um dos homens vestidos de escuro aproximou-se
dela e entregou-lhe um lenço.
- Obrigada.
- Se você fugisse aqui não ia durar mais do que algumas
horas. O meu nome é Júlio
Sony limpou os olhos e entregou o lenço de novo a ele.
Mário ficou para trás, aproximou-se de Sony e colocou-lhe
um frasco de creme nas mãos
- Passe um pouco disso na cara e entregue a Jonhy para que
ele faça o mesmo.
A voz dele mantinha-se gelada mas o seu olhar desmentia
essa frieza. Sony passou o creme no rosto, depois
aproximou-se de Jonhy e passou um pouco de creme no
rosto dele também.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Mário estendeu a mão para ela lhe entregar o creme e


naquele momento Sony tropeçou e caiu. Ele ficou parado a
olhá-la com um ligeiro sorriso.
- Magoou-se?
- Não. - Ela estava zangada mas mesmo assim Mário pegou-
a pelo braço ajudando-a a levantar-se e Sony gemeu
baixinho.
- Que foi? - Mário levantou o blusão dela e olhou - a sério. -
Você deixou-me doido. - Ele passou dois dedos suavemente
pelo braço negro dos abanões que ele lhe tinha dado quando
ela tentara fugir. - Eu não lhe disse para não fugir?
- Qualquer prisioneiro tem o direito de tentar fugir.
- Não seja tola. Eu só posso protegê-la se souber onde você
está. Fique onde eu a possa ver. - Mário baixou o rosto e
beijou-a. - Fique junto de Jonhy.
O sol já estava começando a desaparecer, quando eles
avistaram uma gruta e se dirigiram para lá. Jonhy sentou-se
numa pedra mal entrou e Sony segurou nas mãos dele
preocupada.
- Você está bem?
- Estou. Não fique assim preocupada. Estou cansado de
andar, só isso.
Mário deixou que todos passassem por ele para depois se
aproximar deles

147
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Jonhy?
- Estou bem, apenas um pouco cansado.
- De certeza?
- Sim.
Ele passou uma mão pela cabeça de Sony, que estava
segurando as mãos de Jonhy com um sorriso terno e
afastou-se. Júlio trouxe comida a Jonhy e Sony e logo depois
Jonhy deitou-se a descansar mas ela estava tensa demais para
se deitar e Júlio prontificou-se a ir dar uma volta pela gruta
com ela.
- È bonito aqui. - Sony sorriu olhando para uma lagoa de
águas transparentes que se via um pouco mais á frente
- Nos sempre utilizamos estas grutas para nos escondermos.
- Estamos indo para onde?
- Para uma aldeia clandestina onde se escondem os tipos
mais perigosos da ETA
Sony olhou-o assustada.
- Acha que eles nos vão matar?...ou ou torturar?
- Eu não quero mentir-lhe.- Júlio fez uma careta e olhou-a. -
Se vocês forem entregues á ETA militar... Vai ser difícil
mantê-la viva... Principalmente a si que...

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Que não sou ninguém...- Sony colocou uma mão na agua


da lagoa e sorriu com alguma tristeza. - Esta água está
morna.
- O sol bate ai durante todo o dia. - Júlio sorriu.
- Se eu lhe pedisse uma faca ou uma pistola... você...
- Não. Eu não faria isso. - Júlio olhou-a
- E se eu lhe pedisse para me matar agora. - Sony estava
tremendo.
- Porque diabos quer morrer antes de tempo? - Mário
apareceu por trás dela e Sony quase caiu dentro da lagoa.
- Não sei se é da morte que ela tem medo Mário .- Júlio
sorriu - acho que ela tem medo é de sofrer.
- Você está com medo de ser torturada? È isso? - Mário
olhou-a a com atenção.
- Estou. Acham que sou cobarde?
Eles riram.
- O que eu acho é que você é doida. - Júlio olhou-a sorrindo.
- Acha que as pessoas podem ser catalogadas assim? Tenho
medo de ser torturada...sou cobarde.
- Tente não pensar muito nisso. Tudo o que nós queremos é
dinheiro. - Mário foi até á água.
- Ninguém vai pagar nada por mim.

149
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Se nos a deixássemos fugir agora, sozinha, você ia? - Ele


olhou-a sério.
- E Jonhy?
- Mande-a dormir Mário. - Júlio riu.
- Vá Sony. Vá ter com Jonhy, para descansar. Amanhã cedo
vamos ter de partir de novo e o terreno é bem mais
acidentado e difícil do que o de hoje.
- Até amanhã então.
Sony regressou sozinha até onde Jonhy estava, ela deitou-se
ao lado dele tapou-se com o cobertor mas não conseguiu
adormecer.
Mário aproximou-se algum tempo depois e baixou-se ao
lado dela, aconchegou-lhe o cobertor enquanto lhe dava um
sorriso carinhoso.
- Não consegue dormir?
- Não. - Sony suspirou.
- Está com frio?
- Não.
- Então dispa o blusão, vai ficar mais confortável. - Ele
ajudou-a a despir o blusão. - Agora descontraía-se e conte
carneirinhos. - Ele baixou-se mais um pouco e depositou um
beijo suave nos lábios dela.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Beijá-la está se tornando num habito. - Ele sorriu. - Durma


sossegada amor.
- Mário ?- Sony colocou um braço de fora e segurou-o por
uma perna para que ele não se afastasse.
- Sim?- Ele baixou-se de novo.
- Não vai dormir?
- Vou, mais tarde. Agora é a minha vez de ficar de guarda. -
Ele passou os dedos pelo cabelo dela. - Quando for dormir
deito-me ao seu lado. Quer?
- Promete?
- Prometo amor. Agora tenho de ir.
Ele afastou-se e Sony curiosamente, conseguiu relaxar um
pouco e adormecer. Ela sentiu quando ele se deitou e
aninhou-se nos seus braços fortes, colocou um dedo na boca
e adormeceu de novo.

151
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

IV

Sony abriu os olhos e o rosto sorridente de Mário e Jonhy.


- Você dorme com o dedo na boca?
Ela corou, tirou o dedo da boca e tentou afastar-se mas
Mário não deixou
- Feche os olhos de novo. - Ele mandou e Sony obedeceu. -
Agora abra-os devagar e diga: Bom dia!
- Bom dia. - Ela obedeceu e sorriu. - E a doida sou eu.
Sony levantou-se de um pulo e só quando viu todos a
olharem para ela é que se deu conta que só tinha a roupa
interior vestida. Ela ficou vermelha que nem um pimentão e
todos riram, Mário levantou-se, colocou um cobertor á
frente dela e com um olhar malicioso entregou-lhe as calças
e o blusão que ela vestiu rapidamente.
Eles saíram mal acabaram de comer e continuaram a
caminhar pela neve. Sony ia a conversar com Jonhy quando
reparou que Júlio parecia cansado, ela avançou até perto
dele.
- Deixe-me levar a sua mochila um pouco. È só
mantimentos não é?
- È sim. - Júlio respirou fundo
- Está doente? - Sony colocou a mochila dele ás costas.
152
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Estive com uma pneumonia á pouco tempo. Você costuma


andar muito a pé?
- Mais ou menos. - Sony sorriu. - Mas eu tenho um bom
cabedal, embora não pareça.
Júlio riu
- Preciso voltar para o pé de Jonhy . Ele precisa de apoio,
não está habituado a andar a pé.
Sony voltou para perto de Jonhy, mas de repente parou, ao
longe estava um animal olhando-a.
- Meu Deus! Um lobo! - Jonhy olhou horrorizado para o
animal.
- È um Hasky!
Sony caminhou devagar em direcção ao animal, Baixou-se e
chamou-o suavemente. O animal grande, peludo preto e
branco e com um olhar azul transparente aproximou-se.
Alô. - Sony estendeu o braço para ele que lambeu a mão
dela e se aproximou rodeando-a. - Quem és tu? - Sony estava
radiante, por ter um cão perto dela e como se ele
compreendesse isso lambeu-lhe o rosto fazendo-a rir.
Estavam todos parados olhando para eles quando Mário
chamou o animal.
- BB! - Ele levantou as orelhas e correu para ele aos pulos.
- È um hasky não é? - Sony aproximou-se.

153
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- È o cão de Mário. Ninguém consegue aproximar-se dele. -


Júlio estava olhando confuso para ela. - Ele vem para as
montanhas sempre que Mário não pode o podem levar. -
Não percebo como é que ele a deixou aproximar-se.
- Eu tenho costela de cão. - Sony sorriu.
- Acho que ele está a ficar mole. - Um dos homens de escuro
aproximou-se do hasky, mas recuou imediatamente quando
este lhe mostrou os dentes pontiagudos.
- Mole? - Mário riu. - Sony venha cá mas com cuidado.
Sony aproximou-se de novo do hasky e este tornou a lambê-
la e a deixar que ela o afagasse.
- O nome dela é BB e não tenho explicação para a atitude
dela para consigo a não ser amor á primeira vista que foi o
que aconteceu comigo. - Mário sorriu .- Agora vamos andar
mais um pouco, para depois comermos. Jonhy está bem?
- Cansado mas bem.
Eles voltaram a andar mais um pouco, até encontrarem o
que parecia uma cabana, onde eles entraram para descansar.
Júlio ajudou Sony a tirar a mochila enquanto BB ficava
parada olhando para eles.
- Eu sei. - Júlio sorriu. - Ela é tua amiga. Eu não lhe vou
tocar. - Jonhy sentou-se no chão perto dela e o Hasky
mostrou-lhe os dentes.
- Calma, eu afasto-me.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony foi sentar-se no chão num cantinho e BB deitou-se a


seu lado, a sua enorme cabeça colocada sobre os joelhos
dela, os seus olhos azuis cravados no rosto de Sony.
- Está com frio? - Mário estendeu-lhe um prato com comida
e uma caneca com água.
- Estou bem .- Ela sorriu.
- Mentirosa! - Ele estendeu-lhe um cobertor. - Assim que
chegarmos á cidade arranjo-lhe roupas mais quentes. - Ele
fez uma festa na cabeça de BB e olhou de novo para Sony. -
Obrigado por ter ajudado Júlio, ele é um bom rapaz.
Duas horas depois eles voltaram para a neve. O terreno
começou a ficar mais acidentado e Jonhy principiou em ter
mais dificuldade em avançar. Sony tentava dividir a sua
atenção entre Jonhy e Júlio. Mário e os outros dois
espanhóis pareciam preocupados com a situação.
- Você este bem mesmo? - Mário aproximou-se de Sony e
tirou uma madeixa de cabelo da cara dela para a podre olhar
nos olhos.
- Eu estou bem. Jonhy e Júlio estão cansados demais. - Ela
olhou-o preocupada.
- Ali mais á frente existe uma gruta e nos vamos parar lá para
descansar. O problema é que estamos quase sem comida. -
Ele respirou fundo.
- Nós vamos conseguir. - Ela sorriu e apertou a mão dele.

155
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Aquela nova gruta, era mais escura e bem maior do que a


outra e Sony sentiu-se incomodada por estar ali. Ela sentou-
se encolhida num canto, havia um silêncio constrangedor,
BB deitou-se junto dela. Mário estendeu -lhe um prato com
alguma comida mas ela tirou apenas uma pequena
quantidade.
- Estou sem fome. Obrigado.
- Esta comida pertence-lhe. - Ele olhou-a. Você está bem
mesmo?
- Estou bem sim. Eu...- Sony olhou-o e parou.
- Sim? - Mário segurou o prato dela e BB levantou-se e
afastou-se um pouco. - Sim amor, diga. - Mário baixou-se
para ficar á altura dela.
- Eu...- Sony desviou o olhar .- Eu acho que estou
precisando mais de um abraço do que de comer.
Mário sorriu, colocou o prato no chão e abraçou -a com
força.
- Espero que me desculpe por fazê-la passar por isto. - Ele
sussurrou ao ouvido dela. - Preciso ir agora...
O ambiente estava muito pesado dentro da gruta. Sony
sentia-se cansada, ela mordiscou uma bolacha que tinha na
mão e deu o resto a BB. Mário viu e sorriu, depois passou
perto das duas, dez uma festa em cada uma delas e saiu.

156
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony acordou tremendo, BB estava em pé lambendo o rosto


dela que a abraçou com força. Mário estava dormindo perto
mas ela não quis acordá-lo. Júlio aproximou-se preocupado.
- Que foi?
- Nada. Eu estava sonhando com coisas horríveis. - Ela
levantou-se - Posso ir até lá fora?
- Está muito frio mas se quer ir...Sony estava-se sentindo
presa ali e respirava com dificuldade.
- Esta gruta faz-me sentir...
- Você é muito sensível. - Júlio sorriu de novo. - Há alguns,
muitos anos atrás, aconteceu algo terrível aqui dentro, mas
eu não lhe vou contar. Já está nervosa demais.
- Eu não estou nervosa. - Sony passou uma mão pelos olhos,
sentindo que estava prestes a chorar. - Eu estou com
saudades do meu cão e do meu gato, dos maus pais...
BB aproximou-se dela e Sony baixou-se e abraçou-a
- E do seu marido de borracha?
A voz de Mário atrás dela fê-la pular de susto.
- Pare de dizer isso e de me assustar.
- Porquê? - Havia um certo desafio naquela pergunta. - Não
gosta de ouvir as verdades?
- Eu gostaria de poder...- Ela cerrou os punhos.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Gostaria de bater em mim? È isso?


- Gostaria de ter uma faca para o matar.
Mário deitou a mão ás calças, tirou um canivete de ponta e
mola, abriu-o e atirou-o para perto dela.
- Aí está. Apanhe-o e mate-me.
Júlio e BB estavam parados olhando para aquele quase duelo
entre eles. Sony olhou para Mário, as lágrimas já estavam
escorrendo pelo seu rosto, baixou-se, apanhou o canivete e
olhou de novo para aquele homem forte e atraente, devagar
ela foi virando o canivete para ela própria, sem que Mário
nem Júlio percebessem. BB no entanto estava mais atenta,
ela pulou tirando o canivete as mãos dela e foi entregá-lo a
Mário.
- O que é que você ia fazer sua doida? - Ele avançou para
Sony e segurou o braço dela que estava sangrando
ligeiramente. - Sua idiota... sua...
- Essa garota não está bem Mário.
Sony estava branca, o seu olhar desesperado, as suas mãos
húmidas, ela sentiu-se enjoada e saiu para fora da gruta
tapando o rosto com as mãos.
Mário apanhou um pouco de neve.
- Tire as suas mãos daí. - Ele colocou as duas mãos com
neve no rosto dela e ficou a olhá-la muito sério. - Passou?
- Passou sim. - Ela estava trémula.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

- Que mania você tem de ficar agressiva comigo. Eu só lhe


quero bem, entenda isso. - Ela apanhou mais um pouco de
neve e colocou no corte que ela tinha no braço.
- E sou só eu? - Sony baixou o rosto e apoiou-o no ombro
forte dele.
- Eu estou nervoso e preocupado. - Mário deitou a neve fora
e abraçou-a
- Estamos todos. - Júlio aproximou-se.
- Vão dormir vocês dois. Amanhã chegamos e não vai ser
fácil para ninguém.
- È - Mário respirou fundo. - Vá-se deitar Sony, eu já vou.
- Boa noite então. - Sony tocou na mão de Júlio e afastou-se
com BB atrás dela.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Eles já estavam andando há algum tempo quando de repente


depararam com uma aldeia. Mário aproximou-se de Sony e
de Jonhy.
- Mantenham-se juntos e não respondem a nenhuma
provocação, mesmo que seja da minha parte certo? - Ele
estava tenso e afastou-se sem esperar pela resposta.
Entraram na aldeia que estava cheia de gente, quase todos
armados e com caras hostis. Um homem vestido de tropa
alto de olhar frio aproximou-se.
- Estes são para nós? Carne para canhão!
- Não, não são. - Um dos homens que vinha na frente sorriu.
- São nossos apenas valem dinheiro.
-Aquela cadela odeia-me. - Ela deu o braço a Mário.
-Acha que ela não tem razão para isso BeIl?
-Vamos comer alguma coisa. - Ela fingiu não ouvi-lo.
-Primeiro tenho de colocar aqueles dois, algum lugar seguro.
-A casinha está vazia. - Ela riu.
-Eu não os quero lá.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Uma moça grávida aproximou-se sorrindo e abraçou Júlio.


Olá. - Ela sorriu para Mário e olhou com alguma pena para
Jonhy e Sony.- Eles parecem mortos de cansaço. - Estão
precisando de alguma coisa?
-Uma roupa mais quente e alguma comida Maria. - Mário
sorriu com ternura para ela. - A sua Barriga cresce de dia
para dia.
Um dos homens que viera com eles na carrinha chamou
Mário á parte e ele afastou-se um pouco.
-Vamos - Ele voltou para junto de Jonhy de novo.- Já
arranjei sítio para ficarem.
-Obrigada pela força e pela ajuda Julio sorriu para Sony.
Iam a começar a andar quando BelI colocou a bota á frente
de Sony fazendo-a cair, ouviu-se um riso geral. BB virou-se
agressiva para a mulher e ela parou tirando uma faca de
cintura.
O som seco de um tiro bem perto de Sony fê-la estremecer,
a faca que BeIl tinha na mão voou e o riso geral parou.
-Um dia ainda mato essa vira latas.
-E és morta na hora.- Mário guardou o revolver e empurrou
Jonhy á sua frente como se não visse Sony caída no chão.
Ela levantou-se devagar, tinha os joelhos a sangrar e estava
coxa, mas mesmo assim acompanhou-os. BB recuou sempre
com os olhos postos naquela mulher e acompanhou Sony.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Mário abriu a porta de uma pequena casa, fez Jonhy e Sony


entrarem entrou a seguir e BB entrou atrás.
-Céus! - Ele respirou fundo como se estivesse a ponto de
explodir. - Está muito magoada? - Ele puxou uma cadeira
para ela se sentar .-Desculpe ter empurrado você Jonhy mas
a situação estava a aquecer demais.
Mário baixou-se para ficar á altura de Sony, tirou uma faca e
rosnou baixinho para ele.
-Eu sei . Eu também e amo mas ela ainda não é nossa.-
Mário falou baixinho enquanto afagava a cabeça do enorme
animal acalmando-o
Depois segurou as calças dela com cuidado e com a faca
abriu-as um pouco mais na altura dos joelhos.- Precisamos
de desinfectar isto. Magoou o pé também.
-É raspado apenas. - Sony tentou sorrir.
Mário segurou o rosto dela com as duas mãos e beijou-a
sofregamente.
-Você portou-se bem Sony. Nunca mas nunca enquanto
estiver aqui vá atrás das provocações deles e isto aplica-se a
você também Jonhy. A parte da ETA militar está desejosa de
vos matar aos dois.
Alguém bateu na porta e Mário pegou numa corda e foi até á
porta.
-Entre Maria. Preciso de mais uma coisa algo para
desinfectar os joelhos a esta garota aqui.
162
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-O que aconteceu ? .- Júlio olhou para os joelhos de Sony.


-Bell a rasteirou.
- Essa mulher é uma cobra assassina. Maria Fique aqui. Eu
vou buscar algo para desinfectar isso.
Os dias ali passavam devagar e iguais. Jonhy tentava compor
algumas canções e Sony passava horas escrevendo e
dormindo. BB não a deixava um só momento. Mário contara
para eles que BB queria mesmo dizer Brigitte Bardou e que
ele a salvara um dia e que por causa disso o animal o
adoptara, Aquele amor por Sony não tinha uma explicação
lógica. Mário visitava-a todos os dias mas nunca se
demorava, naquela manha ele estava tenso e pouco falador.
BB também pareceu notar isso e quando ele foi embora quis
ir com ele.
-Não BB. Fica. - Mário foi duro.
-Mário? - Sony aproximou-se dele.
-Estou com pressa.
-Por favor. - Ela colocou uma mão sobre o braço dele.
-Não me toque. - O olhar dele brilhou.
-Está zangado comigo? - Sony olhou-o sem entender.
-Zangado? - Ele quase cuspiu a palavra.
Violento, a porta foi fechada e ele avançou para Sony que
recuou instintivamente, Mário segurou-a pelos braços e
abraçou-a com força.
163
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Tudo o que eu quero é tirá-la daqui com o mínimo de


marcas. -Ele sussurrou no ouvido dela. - Todos os dias é
uma luta. Eu estou a ser pressionado para...- Ele parou e
beijou-a apaixonadamente.
Naquele momento alguém bateu á porta e Júlio entrou com
um ar carregado.
-Mário a situação piorou é melhor vir. - Ele olhou
preocupado para Sony e Jonhy.
-Vou já. - Mário soltou-a. - Aconteça o que acontecer amor,
não esqueça que eu estou do seu lado. BB fica.
Ele saiu com Júlio e Sony olhou preocupada para Jonhy.
-Acho que está acontecendo alguma coisa grave. Sony
deitou-se com BB e ficou esperando.
A porta foi aberta e Mário entrou com Júlio que trazia um
gravador e uma câmara de vídeo na mão. O olhar dele estava
estranho e a voz diferente.
-Jonhy, vá até ao quarto e fique lá por favor. Oiça o que
ouvir. Fique lá.
-Mário.- Sony olhou-o e ele passou uma mão pelo cabelo
num gesto nervoso ignorando-a completamente.
-Júlio, ponha BB na rua.
-Mário, eu estou a ficar com medo. - Ela segurou o braço
dele desesperado.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Ainda bem garota. Fique com bastante medo, que vai ser
óptimo. - Ele evitou olhar para ela.
-Ligue o gravador e a câmara Júlio e vá lá para dentro ter
com Jonhy.
-É melhor eu ficar, eu... - Júlio também estava nervoso -
Júlio por favor, não piore as coisas.
Júlio suspirou e obedeceu, colocou o gravador no chão e a
câmara sobre a mesa e foi fechar-se no quarto com Jonhy.
Ao passar por Sony ele olhou-a e pressionou o braço dela,
depois entrou no quarto e fechou a porta.
Mário parou perto da câmara de vídeo e encarou Sony, os
olhos brilhando selvagens.
-Eu quero que você se solte, que confie em mim, mas ao
mesmo tempo que pense que eu sou um monstro qualquer
entendeu? -Sony olhou-o sem entender nada. - E grite Sony,
grite bastante. -Ele fez uma pausa. - Que Deus me ajude.
Mário ligou a câmara de vídeo, despiu a camisa e agarrando
Sony pelos braços fê-la deitar no sofá e beijou-a selvagem,
violento.
Ela estava completamente baralhada com o que estava
acontecendo. Os seus sentimentos estavam misturados
confusos. Sem querer, ela correspondeu ao beijo dele de
uma forma doce e carinhosa. - Mário levantou a cabeça disse
um palavrão em Espanhol e voltou a apoderar-se da boca
dela, dessa vez o beijo foi muito mais violento, ele mordeu-
lhe um lábio e um ombro fazendo-a gemer de dor.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Grite amor, por favor grite. - Ele sussurrou baixinho no


ouvido dela.
A camisa e as calças de Sony foram rasgadas com violência e
ela entrou em pânico e debateu-se violentamente.
Sony perdeu completamente a noção de tudo o que estava
acontecendo: gritou debateu-se e quando voltou a perceber
onde estava. Mário estava abraçando-a com força,
sussurrando palavras ternas no seu ouvido tentando sossegá-
la. Havia roupas rasgadas por tudo quanto era sitio e Jonhy e
Júlio estavam parados á porta da sala. Sony tremia encostada
ao peito de Mário. Ela levantou os olhos para ele.
-Mário? Você está bem?
-Eu estou bem sim. Preocupe-se consigo eu a magoei muito?
-Não. - Sony sorriu e soluçou ao mesmo tempo.
-Céus! Mário. Você a violou? - Jonhy olhava horrorizado a
sala.
- Não. Mas é como se o tivesse feito!
- Não, não é. - Sony levantou o rosto e beijou-o
-Você desculpa o que eu fiz? Ele olhou-a e fez uma careta.
Deus! Eu não posso nem olhar para si. - Ele fechou os
olhos. Júlio abra a porta por favor ou BB vai rebentar com
ela. Júlio abriu a porta e BB entrou e pulou sobre a cama.
Sony abraçou-o

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Eu tenho tantas saudades do meu cão e da minha gata.


Mário levantou-se da cama e vestiu-se
- Para todos vocês ela foi violada, entenderam? - Ele falou
sério e frio.
-Pobrezinha. - Ela aproximou-se da cama.
-Eu estou bem. Não se preocupe.
-Como foi que ele teve coragem de... de
-Não fique assim - Sony tentou sorrir para ela.
-Mário é a melhor pessoa do mundo. Eles queriam matá-la a
si e a Jonhy.
-É visível que existe dois tipos de pessoas aqui,
completamente diferente uns dos outros. Eu não entendo.
- Nós todos somos bascos e hás vezes escondemos
alguns elementos da ETA militar, só que de repente algo se
passou e eles mudaram-se definitivamente para aqui.
De repente ouviu-se uma rajada de metralhadora, as duas
olharam-se assustadas, Jonhy veio Ter com elas, BB
levantou-se e ladrou, Sony vestiu-se rapidamente e foi até á
porta, abriu-a e fechou-a rápida, olhando assustada para
Maria.
-A polícia está aqui. - Sony estava tremendo - Fique calma
Maria, nós vamos ajudá-la a tirá-la daqui.
-Como pode pensar assim. Só de ver o que eles lhe fizeram

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-O que aconteceu aqui foi para salvar a minha vida. - Sony


segurou Maria. - Eu vou tira-la daqui, Maria. Escute, há
algum lugar para onde possa ir?
-Há os Alpes franceses, mas a pé não chegaríamos lá e eu
não vou sem o Júlio - Maria estava tremendo.
-Por favor fique calma, Jonhy fique com ela por favor.
-Onde vai? - Maria olhou-a assustada.
-Venho já.
Sony saiu para a rua a confusão era imensa, havia um jipe da
polícia parado ali perto e ela sorriu ao ver a chave na ignição.
-Sony, sabe onde está Maria? - Júlio estava pálido.
-Sei. Venha. - - Sony colocou o jipe a trabalhar, BB e Júlio
saltaram lá para dentro e ela guiou até á porta de casa, saltou
do jipe e bateu á porta. - Vamos sair daqui - Ela ajudou
Maria a entrar que respirou de alivio ao ver o marido dentro
do jipe.
-Eu fico Sony.- Jonhy sorriu. - Você é a mulher mais...
mais...
-Você também.- Sony colocou-se nas pontas dos pés e
depositou um beijo nele. - Se vir o Mário. - As lágrimas
estavam escorrendo dos olhos dela. - Diga-lhe que... que o
amo.
Ela entrou no jipe e guiou em silêncio até apanhar a estrada.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-É longe?
-Não. - Júlio suspirou é já ali mas a fronteira vamos ter de
atravessá-la a pé.
-Maria está bem?
-Estou sim.
Eles estacionaram o jipe num local escondido e Sony foi
com eles até ao que eles chamavam de fronteiras.
-Aqui ficam bem? - Sony olhou-os com alguma tristeza.
-O que vai fazer agora? - Júlio segurou a mão dela.
-Vou até á aldeia de novo procurá-lo.
-Não faça isso ele vai
-Eu vou fazer Júlio . Diga você o que disser eu vou fazer.
Tudo de bom para vocês. - Ela deu um abraço a Júlio e
Maria e voltou para o jipe com BB.
Sony parou antes de entrar na aldeia, respirou
profundamente e só depois entrou. Havia muita confusão,
gente ferida, gente presa, gente a ajudar os feridos. BB
mantinha-se junto dela embora fosse visível que ela também
estava nervosa e tentava descobrir alguém. Um policial
aproximou-se de Sony.
-Você é a moça que foi raptada em Lisboa?
-Sou sim. - Sony mal olhou para o polícia.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Esse cão é seu?


-É sim.
-Venha, já temos Jonhy Caim connosco.
-Eu não posso ir já.
-Porquê?
- Preciso de encontrar alguém...
BB ladrou e Sony viu Mário, ele estava perto de um policia,
ela olhou para onde ele estava olhando e viu aquela mulher a
quem ele chamara de Bell agarrada por um policial, de
repente algo brilhou numa das mãos dela e Sony viu uma
faca, ela olhou furiosa para Mário e sem pensar duas vezes
Sony soltou-se do policia e correu para Mário. A faca
apanhou-a nas costas quando ela ia a chegar junto dele.
Mário apanhou-a quando ela já ia a cair.
-Eu o amo. - Ela sorriu e desmaiou nos braços dele.
Sony abriu os olhos devagarinho, tentou mexer o corpo e
sentiu uma dor enorme no ombro, as lembranças chegaram
devagar.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VI

- Mário.?
-Ele foi a casa descansar um pouco agora que você já fora de
perigo. Passou três dias e três noites sem dormir e quase sem
Comer aqui consigo - A enfermeira aconchegou-lhe o
lençol. -Logo, logo ele vai voltar de novo.
Sony fechou os olhos, não conseguia entender como é que
ele tinha escapado da polícia.
-Que susto nos pregou garota. - Jonhy estava parado perto
da cama com enorme ramo de rosas vermelhas nas mãos.
-Já está aqui de novo. - A enfermeira sorriu. - Esta garota
precisa de descansar - Ela piscou um olho para Sony - Eu
não disse que ele ia voltar logo?
Sony sorriu, mas o seu pensamento não estava ali. A
enfermeira julgava que Jonhy fosse Mário, por isso dissera,
que ele tinha estado ali com ela. Naturalmente Mário deveria
estar preso. Aquela ideia deixou-a de tal maneira
transtornada que ela parou completamente de ouvir Jonhy.
-Eu quero sair daqui.
Jonhy e a enfermeira olharam-na.
-Você não pode. - Jonhy sentou-se na beira da cama e tentou
segurar nas mãos dela.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Posso sim. Eu vou sair daqui. - Sony tremia dos pés á


cabeça.
-Não fique nervosa desse jeito. A hemorragia pode voltar de
novo. - A enfermeira tentou acalma-la.
-Você sabe a morada dele? .- Sony fixou o seu olhar em
Jonhy.
-A morada de quem? - Jonhy olhou-a confuso.
-Ora! você sabe muito bem de quem. - Ela falou agressiva
-Do Mário?
-Claro.
-Sei, mas ele vai chegar daqui a pouco. - Jonhy tirou um
papel do bolso. - Tenho até o telefone, mas fique calma.
Sony tirou-lhe o papel da mão e levantou-se da cama. O
chão ondulou á sua frente e Sony deixou-se cair na cama de
novo. Talvez fosse mais fácil sair daquele hospital de uma
forma mais inteligente. Sony respirou fundo.
-Desculpem. - Ela mostrou uma calma que estava longe de
sentir. - Acho que estou cansada.
Jonhy sorriu para ela
-Se ficar aí bem quietinha e adormecer, quando voltar a abrir
os olhos vai ver que Mário já vai estar aqui. Ele foi a casa
apenas descansar um pouco. Passou aqui três dias e três
noites.

172
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Pensei que tinha sido você. - Ela olhou-o desconfiada


-Eu também.
- Vou dormir.
Jonhy despediu-se e saiu. Sony fechou os olhos mas o plano
para sair dali estava completo na mente dela.
Pacientemente ela esperou pela hora da visita e quando
todos estavam distraídos, Sony vestiu-se com algum custo e
saiu do hospital misturada com as outras pessoas. Ela
apanhou o primeiro táxi que encontrou e deu a morada de
Mário.
O prédio onde Mário morava, ficava numa zona calma e
cheia de árvores, os prédios não eram muito altos e eram
pintados de cores suaves.
Sony subiu até ao andar que tinha no papel, sentia-se fraca e
nervosa. Uma ansiedade fora do normal apoderou-se dela
quando tocou na campainha da porta e ela encostou-se á
parede quando a porta foi aberta. Uma moça elegante
enrolada numa toalha olhou-a
- Si.. ?
- O Mário...ele...
A moça fez um sorriso sofisticado e puxou o cabelo
comprido e molhado para trás.
- Quem é?

173
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Aquela voz máscula fez Sony quase perder os sentidos e ela


apoiou com força as costas na parede, sentiu um líquido
escorrer pelas suas costas mas ignorou isso. A figura forte de
Mário apareceu á frente dela. Ele estava em tronco nu e
descalço, o cabelo molhado.
-Não é possível! Sony!.- Ele olhou-a incrédulo.
-Desculpe eu não devia ter vindo. - Sony sentiu-se
constrangida, afinal ela era uma mulher casada e Mário
também não parecia ser um homem livre.
Sony sentiu-se corar, como era possível Ter-se apaixonado
assim... Eles tinham passado apenas algum tempo juntos,
numa situação invulgar.
-Sony! - Ele largou a toalha no chão, o olhar super
preocupado. -Como foi que conseguiu sair do hospital?
-Eu fugi. - Sony viu tudo mudar de cor, a figura de Mário foi
desaparecendo e mais uma vez ela caiu sem sentidos nos
braços dele.
Sony abriu os olhos e encontrou o olhar sorridente do
médico.
-Resolveu voltar para nós?
-Eu quero sair daqui. Quero voltar para o meu pais. - Ela
fechou os olhos e voltou a abri-los.
-Assim que poder viajar.
-Não. Ela passou a língua, pelos lábios secos. - Quero ir já.

174
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Você não está em condições de sair daqui.


- Eu quero sair. - Ela queria colocar a máxima distancia entre
ela e aquele homem por quem se apaixonara.
-Arranjem um helicóptero, afinal eu fui raptada, devo ter
alguns direitos não?
-Claro mas é para seu bem. Você foi ferida gravemente, e a
hemorragia de ontem. O seu pulmão não foi perfurado por
milímetros, eu não posso dar ordem para viajar nessas
condições.
-Eu, exijo sair daqui. Eu assino um termo de
responsabilidade, qualquer coisa, mas quero voltar para o
meu país. - Ela teimou perturbada demais para Ter
consciência do que podia acontecer com ela própria. - E não
quero mais visitas aqui.
Em dois dias Sony tinha assinado um termo de
responsabilidade e um helicóptero, tinha-a levado para um
hospital em Lisboa.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VII

Durante os três meses que ela permaneceu no hospital,


Alberto, o marido tinha -a visitado apenas uma vez mas isso
tornara-se até um alivio para Sony que depois de se Ter
recuperado da facada que recebera nas costas, tinha
apanhado uma depressão de a deixara completamente de
rastos.
Sony abanou a cabeça querendo que as recordações
dolorosas desaparecessem. Ela estava sentada ao volante de
um jipe que comprara. Um pequeno café apareceu numa das
curvas da estrada e ela parou o veículo, pegou na máquina
fotográfica e saiu, tentando esticar as pernas. Estava guiando
há horas. O calor ali era quase insuportável. Sony sentou-se
numa mesa, pediu um café e uma garrafa de água e estendeu
o mapa sobre a mesa.
Depois de tudo o que acontecera, Sony optara por uma vida
completamente radicalmente diferente, ou talvez tivesse sido
a sua própria vida que optara por mudar. Ela sorriu mas
havia muita tristeza no seu olhar.
Na sua ausência, Alberto colocara uma outra mulher no
lugar dela, livrara-se de todos os animais, que Sony adorava,
vendera a casa, pedira o divorcio e depois dos papeis
assinados por ela desaparecera, assim como todos os
pertences dele e dela própria e isso fez Sony ver o quanto ela
era sozinha, na sua vida não havia ninguém, a preocupar-se a
gostar verdadeiramente dela. Então Sony, tinha-se despedido

176
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

do emprego estável que tinha e resolvera fazer aquilo que


nunca tinha fizera na sua vida, pensar naquilo que gostava de
fazer. Tomara coragem, tinha ido até uma editora mostrara
os seus contos e acabara por editá-los e obter algum
dinheiro, comprar uma boa maquina fotográfica e arranjara
um contrato para fotografar, então alguém lhe encomendara
uma fotos da Aldeia nos Alpes onde ela ficara presa. Sony
fechou os olhos com força e tapou o rosto com as mãos, a
figura máscula e terna de Mário deixavam-lhe uma sensação
de falta muito grande. Uma sensação quase insuportável.
Mário estava gravado no coração dela como a cicatriz que a
faca lhe fizera nas costas. Ela sabia quem mesmo em Lisboa
ele a tentara visitar várias vezes mas ela nunca o deixara
entrar. Aquela mulher na casa dele...
Ela fechou o mapa bruscamente. Voltar á aldeia Basca...
Sony levantou-se, deixou algumas moedas na mesa e saiu.
Tudo o que ela tinha de seu, estava naquele jipe. Ela levou a
mão á cicatriz que tinha nas costas um pouco abaixo do
ombro e que lhe estava doendo e o nome de Mário saiu dos
seus lábios baixinho, aquela dor jamais a deixaria esquecê-lo.
Sony perdeu a noção das horas, e só quando a temperatura
começou a descer, é que ela se apercebeu que já estava nos
Alpes.
As primeiras casas da pequena aldeia Basca já se viam ao
longe e ela parou o jipe de desceu, Havia bastante mais gelo
do que á três meses atrás e a aldeia parecia deserta. Sony
tirou a maquina do jipe e caminhou até é entrada da aldeia,
onde parou, ao longe ouviu-se o ladrar de um cão e a
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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

lembrança de BB e Mário apareceu á sua frente, tão nítida


como se ele estivesse ali, os olhos dela encheram-se de
lágrimas e Sony voltou para o jipe sem conseguir entrar na
aldeia. Ela pousou os braços sobre o volante e ficou lá
chorando até adormecer.
Quando acordou o sol já começava a pôr-se e o frio era
tremendo e Sony lembrou-se do bebe de Maria e Júlio que já
devia Ter nascido, ela colocou o jipe a trabalhar levou-o até
onde podia, estacionou-o, vestiu uma camisola de lã quente,
colocou uma mochila ao ombro e dirigiu-se para a aldeia
francesa, entrou no primeiro café que encontrou, comeu um
pastel e quando ia a perguntar por Maria e Júlio olhou para a
porta e sorriu ao ver
BB, parada lá, por um instante pensou que Mário ia entrar
pelo café a dentro, mas isso não aconteceu.
Em francês o empregado do café contou para ela que aquela
hasky passeava muitas vezes sozinha por ali, que devia
pertencer a algum basco espanhol, que á três meses atrás
numa pequena aldeia ali perto tinha sido preso depois de um
rapto que tinha acontecido a Jonhy Caim . Sony ficou ali
ouvindo a história, ficou a saber que no interior da ETA
estavam infiltrados vários polícias, que tinham morrido
algumas pessoas e que uma enorme quantidade de outros
estariam ainda presos ou fugidos.
Devagar e sem eles se apercebessem BB entrou no café e foi
sentar-se ao lado de Sony que se baixou e a abraçou,
enquanto os seus olhos se enchiam de lágrimas de novo. O
empregado olhou-a um pouco confuso enquanto Sony

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

levava a mão á cicatriz nas suas costas e que recomeçara a


doer-lhe.
-Esse animal nunca entrou aqui dentro. Quem lhe costuma
dar de comer é um casal que tem um bebe pequenino. Eles
são os únicos que conseguem, porque ela não deixa que
ninguém se aproxime.
Sony saiu do café acompanhada de BB, tinha a certeza que o
casal de quem o empregado do café falara era Maria e Júlio.
Receosa Sony bateu á porta de uma pequena casa, BB estava
parada ao lado dela, afinal Júlio tinha ajudado a rapta-la e
podia haver mais gente que a conhecesse.
A porta foi aberta e ela levou a mão á boca para abafar a
exclamação. Mário estava parado á entrada da porta tão
confuso quanto ela.
-Céus ! - Os olhos dele brilharam, mas antes que tivesse
tempo para fazer ou dizer mais alguma coisa, Sony largou
tudo o que trazia nas mãos e fugiu dali correndo.
Mário ia a sair de casa para a agarrar mas Julio segurou-o
-O casaco, está frio demais para ir assim.
Ele vestiu o casaco e correu atrás dela, mas o tempo que
perdeu a vestir o casaco deu tempo a Sony para chegar ao
jipe e antes que Mário conseguisse para-la, ela pegou uma
estrada para a montanha.
Estava escurecendo e Sony não sabia para onde ia, de
repente o jipe principiou a falar e parou. O desespero dela
179
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

aumentou e sem pensar Sony saiu do jipe e correu até ficar


exausta e perdida.
Os frios ali eram intenso e a dor nas suas costas também. A
noite estava a cair rapidamente, ao fim de cinco minutos
parada para descansa, ela começou a sentir as mãos e os pés
congelados e ela principiou a caminhar de novo.
Estava perdida, cheia de frio, assustada e com um medo
terrível de voltar a ter Mário perto dela. Sony colocou um pé
em falso e caiu. As lágrimas estavam de novo escorrendo
pelo rosto dela e Sony achou que não valia a pena levantar-se
mas no instante seguinte sentiu um calor bem perto da sua
cabeça, levantou o rosto e recebeu uma lambidela de BB.
Logo a seguir duas mãos fortes levantaram-na da neve e
sacudiram-na com violência.
-Sua idiota. - A voz máscula de Mário estava áspera, violenta
agressiva.
Sony estava pálida os seus dentes batiam com força e ela
tremia tanto que mal conseguia manter-se de pé.
O olhar de Mário suavizou-se um pouco ao olhá-la e ele
parou de sacudi-la.
-Sua grandessíssima idiota Ele falou suavemente e abraçou-a
com força. - Agora não a vamos deixar ir nunca mais BB.
Vamos rapta-la para sempre.
BB ladrou alto e ele sorriu.
-Venha, vamos voltar para o carro ou vamos morrer os dois
aqui congelados. Você consegue andar?
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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony fez que sim com um gesto de cabeça mas a verdade é


que não conseguiu dar um só passo e Mário com um suspiro
pegou nela ao colo.
-Você está bem mais magra do que a ultima vez que a vi. Há
quanto tempo saiu do hospital?
Sony não respondeu em vez disso, escondeu o rosto no
peito dele.
-Eu devia matá-la. - Ele beijou-a nos cabelos. - Devia
tortura-la até você gritar para eu parar sua doida.
Ele abriu a porta de um jipe escuro, mandou BB entrar para
trás e colocou Sony no banco da frente com toda a
delicadeza.
-Não ouse sair daí Ele parou um instante depois com um
gemido beijou-a apaixonadamente nos lábios. - O que
aconteceu com o seu jipe? - Mário tirou o cabelo do rosto
dela carinhosamente Perdeu a língua? - Ele sorriu enquanto
dava a volta ao jipe e entrava. Em silêncio ele guiou até ao
jipe dela e parou -Quer tirar alguma coisa de dentro dele?
-Não. - A voz de Sony mal se ouvia.
-Dê-me as chaves. - Mário pegou a chave da mão dela.
Ele trancou o jipe e voltou para dentro.
-Amanhã vimos buscá-lo
Sony estava massajando a sua cicatriz e Mário suspirou
abraçando-a

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Dói muito?
-Um... Um... pouco - A voz dela continuava muito tremula e
rouca
Mário falou algo num espanhol difícil de entender, largou-a e
colocou o jipe de novo em andamento. Algum tempo depois
eles estavam parando em frente da casa.
-Maria e Júlio querem que você conheça o bebe deles. Você
incomoda-se de os ver?
-Não. Eu... eu...
-Amor, pare de gaguejar e de tremer por favor ou Maria vai
pensar que a violei de novo.
-Você não me violou, porque insiste nisso? - Sony olhou-o,
ela estava chorando mas nem se dava conta. - Você salvou-
nos,
-Eu a magoei demais. - Ele olhou-a com tristeza.
-Não havia outro jeito. - Sony tocou-o num braço e ficou
toda arrepiada. - Você salvou a minha vida.
-Então sou dono dela. - Ele sorriu, pegou nas mãos dela e
levou-as aos lábios beijando-as. - Você foi quem salvou a
minha vida. -Ele olhou-a muito sério. - Salvou a minha e ia
perdendo a sua. Vamos entrar. Não tem frio?
-Tenho.., muito...
-Quer que a leve ao colo de novo?

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Não. Acho que não.- Ela sorriu e saiu do jipe.


Agora que Mário estava ali perto dela, Sony sentia-se
completa, mas a figura daquela mulher sofisticada na casa
dele, fê-la voltar de novo á realidade. Ela não sabia nada
sobre Mário, absolutamente nada a não ser que o amava
muito.
Júlio abriu a porta mal eles bateram e abraçou Sony,
puxando-a para dentro de casa.
-Você é tonta garota, com o frio que faz por aí, vai fugir
assim? - Ele sorriu enquanto puxava Mário para dentro.
-BB,.. - Mário começou.
-Deixe-a entrar, ela só não vive cá dentro porque é orgulhosa
demais para entrar
Maria apareceu logo a seguir com duas canecas fumegantes.
-Bebam. E chã vai aquece-los Ela abraçou Sony e as duas
deixaram que as lágrimas caíssem. Elas tinham vivido muito
pouco tempo juntas, mas as emoções que tinham passado
juntas tinham sido tão fortes que a amizade que tinha sido
formada entre as duas era muito forte.
-Eu nunca vou agradecer-lhe o suficiente por nós ter salvo
Maria soluçou.
-Por favor...- Sony estava emocionada demais e procurou
apoio em Mário que a abraçou e a levou até perto da lareira.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Parem vocês duas deviam estar felizes por tudo ter acabado
bem e podermos estar aqui os cinco,... Seis reunidos. - Júlio
abraçou Maria. - E agora que já estão aqui os dois podíamos
fazer já aquele convite Ele sorriu enquanto olhava para a
mulher.
-Vou buscá-la. - Maria limpou as lágrimas e sorriu para ele.
Ela voltou pouco depois, trazendo um bebe lindo ao colo e
colocou-o nos braços de Sony.
-É lindo e é tão pequenino. - Ela olhou para Mário que
sorriu enquanto fazia um carinho no bebe.
-Nós queria mos que vocês dois fossem os padrinhos de
baptizado dela. - Júlio pousou um braço sobre os ombros de
Maria. - E o nome dela vai se Sony
BB pulou para cima do sofá e foi cheirar o bebe.
-Eu não sei se serei uma boa madrinha para
-É a melhor madrinha. O baptizado vai ser daqui a mês e
meio e vão ser vocês dois. - Maria sorriu
Eles ficaram conversando sobre a bebe durante algum
tempo até que Sony se levantou
-Preciso ir arrumar um quarto numa pensão qualquer por aí.
Maria olhou-a como se ela estivesse dizendo um disparate
enorme.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Vai dormir aqui, a casa é pequena mas vai dormir aqui. O


Mário dorme aqui na sala e você pode dormir no quarto da
sua afilhada.
Sony mal deitou a cabeça na almofada adormeceu e só
acordou quando a filha de Maria resolveu chorar um pouco.
Devagar Sony levantou-se e foi pegar nela. Maria apareceu
quase imediatamente, deu-lhe de mamar e entregou-a de
novo a Sony.
-Precisa de dar umas voltinhas com ela agora para
adormecer, depois pode colocá-la de novo na cama que ela
vai dormir até amanhã de manhã.
Sony passeou com ela durante algum tempo mas o quarto
era pequeno e ela abriu a porta e foi até á sala.
Mário estava sentado em frente da lareira em tronco nu e
sorriu ao vê-las entrar.
-Sente-se aqui. Está tão quentinho.
Sony obedeceu e a bebe fechou os olhos e ficou bem
quietinha.
-Deite-a aí no sofá e venha até aqui. Preciso conversar
consigo garota.
Como Sony não se mexeu, Mário levantou-se pegou no bebe
e deitou-o no sofá depois voltou para junto de Sony
enquanto BB se deitava perto da filha de Maria.
Mário passou um braço pelos ombros de Sony e fê-la
encostar a cabeça no ombro dele.
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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Sabe o que é que o seu jipe tem?


-Acho que é falta de gasóleo - Ela encolheu os ombros e ele
riu.
-Você tem medo de mim? - A pergunta foi feita num tom
sério.
-Não. - Sony levantou a cabeça do ombro dele e olhou-o
Porque havia de ter medo de si? Por você ser da ETA e
andar fugido á policia?
Pelos olhos dele passou uma onda de divertimento.
-Eu não sou da ETA, nem ando fugido á polícia.
-Não?
-Não, mas não quero falar sobre isso agora. - Ele voltou a
fazê-la posar a cabeça no ombro dele. - Quero saber porque
fugiu de mim se não foi por medo.
-Eu...- Sony não sabia por onde começar. - Eu não o
esperava encontrar aqui.
-Precisamos de começar pelo princípio Sony. Você ainda se
lembra do que me disse á alguns meses atrás, quando se
colocou no caminho daquela faca e caiu nos meus braços? -
Ele respirou fundo e moveu-se incomodado como se aquela
recordação o deixasse ainda nervoso. - Ainda sinto arrepios
só de pensar naquela imagem. - A voz dele estava
ligeiramente tremula Eu nunca pensei que você fosse voltar
de novo á aldeia. Tinha a certeza que você ia ajudar Maria e
Júlio a sair dali, foi por isso que deixei aquele veículo da
186
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

polícia ali com as chaves na ignição. Você era a única pessoa


em quem eu tinha plena confiança naquele momento, você é
uma mulher de carácter, sincera e com um coração de ouro.
- Ele sorriu.- Júlio fazia parte da ETA e eu não podia pedir á
polícia que não o prendesse, porque ele tinha-me ajudado e
era meu amigo. Mas ao contrário do que eu pensava você
voltou Ele apertou o braço á roda dos ombros dela. - Você
voltou para me salvar porque aquela faca ia acabar comigo.
Eu fiquei doido quando você caiu nos meus braços. A faca
espetada nas suas costas, encharcada em sangue, inanimada.
Se não me tivessem agarrado eu teria morto aquela mulher...-
Ele respirou fundo.- Mas você lembra-se do que me disse.
Claro que ela se lembrava., mas também se lembrava que ele
não era um homem livre, aquela mulher na casa dele... era
mais fácil se ele pensasse que ela tinha dito aquilo
inconscientemente
-Não. - A palavra saiu depressa demais.
-Não? - Ele afastou-a se si e olhou-a - Mentirosa. Jonhy
falou comigo no hospital, eu estava desesperado e ele disse-
me que você lhe tinha dado um recado para mim...
Sony tentou sair dali mas ele não deixou.
-Eu não vou deixar você fugir de novo garota. Eu sei que me
amava na altura e agora?
-Eu não era uma pessoa livre. - Sony falou baixo. - E você
também não.
-Ah! O seu marido de borracha. - Ele foi sarcástico.

187
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-E você? - Sony sentiu uma raiva enorme dentro de si.


-Eu o quê ? - Ele segurava o braço dela para não a deixar sair
dali.
-Já esqueceu que eu fui a sua casa? Que vi a sua mulher
também?
-A minha... - Mário balouçou a cabeça como se não
entendesse. -Sim. Claro... Você está fugindo de mim, porque
eu sou...- Ele sorriu ligeiramente e isso deixou Sony com
mais raiva ainda .- Comprometido ... Casado.... Você é
louca...fugir do hospital assim para ir a minha casa.- Ele
suspirou .- Não podia esperar que eu fosse Ter consigo? Eu
e Jonhy passamos três dias e três noites á cabeceira da sua
cama
Sony sentiu uma dor na cicatriz das suas costas e fez uma
careta.
-Estou a magoa-la? - Ele soltou o braço dela e olhou-a
preocupado. - Desculpe, mas fique aqui quieta. Precisamos
de esclarecer tudo isto.
-Eu não quero esclarecer nada. Você não é livre e eu.,.- Ela
fez uma pausa o que ia dizer era outra mentira .- Eu também
não.
- Tudo o que eu quero saber. - Ele segurou o rosto dela com
as duas mãos e olhou-a sério. - E se você me ama? - Ele
parou, as lágrimas estavam de novo escorrendo pelo rosto
triste dela. - Pare de chorar amor. - Ele fechou os olhos. - Só
conheço um jeito de Ter a certeza se você ainda me ama. -

188
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Mário falou baixinho e no instante seguinte os lábios dele


tocaram os dela de um modo carinhoso.
Sony não tinha como fugir, o beijo tornou-se mais
apaixonado e ela correspondeu plenamente.
-Negue que me ama, agora ? .- Ele afastou-a um pouco sem
a soltar.
-Não posso . - Sony encostou o rosto no peito dele. - Não
posso negar mas também não posso dizer que o que o amo.
- Ela levantou o rosto para ele. - Não devo.
-Porque eu sou casado e você também, é isso?
-É.
-Vamos esquecer isso agora. - Ele voltou a beijá-la, devagar
fez com que ela se deitasse no tapete e foi desabotoando os
botões do pijama de seda que ela trazia vestido
-Ninguém pode ser feliz fazendo a infelicidade de alguém. -
Sony segurou as mãos dele.
-Você é complicada. - Ele beijou - a nos lábios .- Você acha
que está a causar infelicidade a quem?
-Á sua mulher. - Ela olhou-o com uma tristeza tão grande
que ele fechou os olhos.
-Escute...
Naquele instante a bebe de Maria recomeçou a chorar e
Sony precisou de se levantar.

189
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Espere. - Mário levantou-se também e apertou os botões do


pijama dela.
Sony pegou na bebe ao colo embalando-a e logo depois
Maria veio ter com ela e foram para o quarto.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

VIII

O sol mal tinha nascido, quando Sony se levantou, ela


vestiu-se rapidamente, precisava de fugir de Mário. Sabia que
não ia conseguir apenas dizer adeus e partir.
Devagar ela saiu do quarto mas ao chegar á sala deu de caras
com Mário já pronto para sair.
-Está pronta para irmos buscar o seu jipe? - Ele olhou-a com
um sorriso malandro nos lábios,
-Estou. - Sony respirou fundo.
-Então vamos, podemos tomar o pequeno-almoço por aí.
Júlio parou á porta da sala com um sorriso trocista.
-Não precisam mesmo de ajuda, Mário? Os dois sempre
podemos raptá-la de novo.
-Não, desta vez eu aguento-me sozinho. - Mário riu.
-Está bom. Espero vocês dois daqui a mês e meio, certo?
-Certo.
Maria chegou e abraçou Mário e Sony.
-Nunca me vou cansar de lhes agradecer. Aos dois.
Mário saiu para a rua com Sony ao lado, estava muito frio e
ela apertou a camisola de lã contra si.
191
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Ia a fugir de novo não é? - Ele sorriu enquanto punha um


braço sobre os ombros dela e olhava para BB .- Você
suportaria viver com um cão em sua casa?
-Claro, eu...- Sony parou, a voz ficou presa na garganta ao
lembrar dos seus animais, que o seu ex marido tinha feito
desaparecer.
-Ficou triste porquê?
-Nada.
Ela não queria dizer-lhe que o marido a tinha deixado, que
ela estava divorciada e mais sozinha que nunca.
-Vamos comer alguma coisa - Ele puxou-a até ao café e
entrou.
Eles tomaram o pequeno-almoço quase em silêncio e só
depois foram até ao jipe de Sony. Mário tirou uma
embalagem do seu jipe e colocou no depósito do dela.
-È gasóleo. - Ele sorriu mas Sony estava tensa.
Ela sabia que assim que entrasse no jipe, ia fugir dele de
novo.
Mário colocou o jipe a trabalhar e sorriu.
-Está novo. - Ele voltou a sorrir.
-Pode abraçar-me? - A voz de Sony estava rouca e o sorriso
desapareceu do rosto dele quando a abraçou.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Você é uma tonta sabia? - Ele beijou-a muito suavemente


nos lábios depois foi até ao jipe dela, desligou-o e pegou no
seu telemóvel.
-Júlio? O jipe está a trabalhar. A chave fica na roda de trás.
Um abraço. - Ele desligou e chamou Sony.
-Ajude-me a colocar as suas coisas no meu jipe.
-Como? - Sony enrugou a testa.
-Pensou que ia deixá-la guiar o jipe sozinho? Eu sei que você
quer fugir de mim, mas eu já lhe disse que não a vou deixar,
entende? Nunca mais.- Ele aproximou-se sem a tocar.
Sony olhou á sua volta, ela estava tremendo mas não era de
frio.
-Nem pense nisso. - Ele percebeu o olhar dela. - BB.- Mário
chamou a cachorra que se aproximou olhando-o Não deixes
que ela saia daí.
Ele afastou-se para ir buscar as malas que estavam no jipe
dela. Sony deu um passo á frente e BB mostrou-lhe os
dentes.
-Não pode fazer isto comigo. - Ela olhou para Mário
zangada e ele riu.
-Não? - Ele colocou as malas dela no seu jipe .- Não é uma
palavra que não existe para mim. Eu já lhe disse isso. Venha.
-Ele segurou o braço dela e fez uma festa a BB.- Linda
menina.

193
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

Sony entrou no jipe completamente desorientada, sem saber


o que havia de fazer para conseguir fugir dele.
-Pare de tremer garota. Você veio até aqui só para rever
Maria e Júlio?
-Não. Eu vim tirar umas fotos á aldeia Basca?
-Porquê?
-Uma revista encomendou-me.
-Você é fotografa? Ele olhou-a
-Mais ou menos Ela estava confusa
-Isso não é resposta. - Ele calou-se até chegar á aldeia onde
estacionou o jipe - Vamos lá tirar essas fotos então Ele saiu
do jipe e pegou na maquina fotográfica dela.
Sony saiu mas parou á entrada da aldeia.
-Não vive aí ninguém?
-Não. A aldeia está sobre vigilância da polícia. Venha. - Ele
puxou-a pela mão mas ela ficou parada.
-Você é policia? - Ela enrugou a testa e lembrou-se da
conversa do empregado do café.
-Claro que sou policia, sua idiota.
-Você sabia que a aldeia ia ...

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Não. Não sabia. - Ele olhou-a sério e respirou fundo. - Mas


a situação aqui estava a fugir do meu controle. - Ele abanou
a cabeça. - Não posso falar sobre o que aconteceu aqui, é
segredo profissional. - Agora você vem ou preciso pegar-lhe
ao colo? Ele olhou-a sério e Sony avançou devagar.
Ela parou no local onde vira Mário no dia em que a policia
tomara a aldeia de assalto e estremeceu.
-Eu voltaria a fazer tudo de novo. - Disse baixinho.
-Eu sei. - Ele falou suavemente e beijou-a na orelha.
Ela tirou uma série de fotos e quando finalmente colocou a
máquina ao ombro dando por finalizado o seu trabalho,
Mário respirou fundo e sorriu.
-Estava a começar a pensar que você não ia acabar nunca.
-Vamos embora.- Ela também sorriu
-Vamos mas preciso ir ali.- Ele puxou-a pelo braço
suavemente. Venha.
Ele chegou á casa onde Jonhy e ela tinham estado presos,
tirou uma chave do bolso e abriu a porta.
-Esta casa pertenceu aos meus avós. - Ele olhou-a, fê-la
entrar dentro de casa, fechou a porta e colocou a chave de
novo no bolso.
-O que vai fazer?
-Acender a lareira, esta casa está gelada.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Acender a lareira para quê?


-Quer parar de fazer perguntas e de me ajudar a trazer lenha
para a lareira, por favor.
-Eu quero ir embora daqui.
-Mas não vai. - Ele olhou-a zangado. - Tem de aprender que
não pode fazer tudo o que quer. - Ele ignorou-a
completamente.
Foi buscar lenha acendeu a lareira e quando a casa começou
a ficar mais quentinha, despiu o blusão e puxou o sofá para
mais perto da lareira.
-Venha para aqui e pare de me olhar com essa cara. - Ele foi
até onde Sony estava encolhida e ele fê-la ir até ao sofá
Você lembra-se do que aconteceu neste sofá?
-Você salvou a minha vida.
-A sua e a de Jonhy, mas não é sobre isso que eu quero falar.
Aliás eu não quero falar consigo, porque você complica
tudo. Mário deu-lhe um beijo e depois outro e outro até
Sony esquecer tudo e o abraçar. Devagar e delicadamente ele
deitou-a no sofá e foi tirando a roupa dela.
-Eu quis fazer isto, quando o meu olhar encontrou o seu em
Lisboa. Eu precisei trazê-la comigo, porque eles queriam
matá-la naquele momento. Eu a amo Sony, eu a quero para o
resto da minha vida, para sempre. Quando você me proibiu
de vê-la no hospital eu pensei que não ia aguentar. Eu quase

196
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

que rebentei com o hospital quando vi aquele termo de


responsabilidade assinado por si, eu...- Ele baloiçou a cabeça.
-Fui até Lisboa para a ver mas não consegui visitá-la. Você
quase me enlouqueceu garota. - Ele fez um carinho nela. -
Você tem a pele mais macia que eu conheço. - A boca dele
passeou pelo corpo dela e Sony estremeceu.
-Eu também o amo mas nos não podemos...- Ela fechou os
olhos.
-Podemos sim.
-A sua...
-Eu não tenho mulher nenhuma. - Ele segurou o rosto dela e
fê-la olhá-lo. - Aquela garota que você viu na minha casa era
a minha irmã sua idiota.
Sony ficou super atrapalhada e ele riu.
-Eu não estou dizendo que sou um santo. Eu já tive um
monte de mulheres por aí. Mas nunca quis tanto uma mulher
como quero você amor.
-Pare. Você está-me confundido.
-Não, não estou. Você é que confundiu tudo, você é
complicada e eu não quero mais falar consigo, quero apenas
ama-la.- A voz dele estava ligeiramente rouca.
-Mas não vê que eu preciso de entender tudo primeiro.
-Pensei que você já tivesse entendido. - Ele sorriu e beijou-a
- O que é que falta ainda? - Ele perguntou paciente como se

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

ela fosse uma criança .- Ah! O seu marido de borracha. Você


o ama? - Ele ficou sério.
-Eu...
-A resposta é sim ou não.
-Não eu...
-Então cale-se .- Ele beijou-a com um sorriso.
As suas mãos passearam com paixão pelo corpo, dela.
- Eu a amo tanto. - A voz dele, estava rouca e a respiração
alterada. - Você não me quer?
-Quero. Quero muito mas...
-Você sente que está a trair o seu marido? - Ele parou e
olhou-a sério.
-Não eu - Ela estava tão confusa que enterrou a cabeça no
peito dele e chorou com força
-Pare amor .- Ele fez-lhe uma carinho no cabelo .- Não
chore por favor.
Aos poucos ela foi parando, afinal ele não tinha uma outra
mulher e ela só o tinha a ele, devagar ela foi passando a mão
pelo peito dele numa carícia sensual e Mário segurou a mão
dela e beijou-o
-Se continuar a fazer-me carícias dessas eu não vou aguentar
ficar aqui assim ao seu lado apenas. Eu a desejo.

198
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Eu também. - Ela falou baixinho envergonhada com ela


própria.
-O que foi que disse? - Ele afastou-se um pouco para olhá-la.
-Você também o quê?
Sony corou e tentou esconder o rosto de novo mas ele não
deixou.
-Você também o quê, Sony? Eu também o... desejo.
- Céus! Você sabe o que está a dizer?
-Eu o amo. Eu...
Ela não pode dizer mais nada porque ele a beijou
apaixonadamente.
-Não tenha medo não vou magoá-la como da outra vez.
Prometo. - A voz dele estava rouca. - Eu a amo, céus!
Como eu a amo.
As mãos de Mário deslizaram pelo corpo dela delicadamente
mas com uma paixão intensa, cada beijo que ele lhe dava
arrancava gemidos de prazer dos lábios perfeitos dela.
-Está cansada amor? - Ele fê-la encostar a cabeça no peito
dele e Sony ficou ali até adormecer ao som das batidas um
pouco aceleradas do coração de Mário.
Ela abriu os olhos devagar e assustou-se ao ver que estava ali
sozinha.

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NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Mário? - Ela chamou-o suavemente.


-Sim. - Ele aproximou-se
-Porque saiu daqui? Já não me ama mais?
-Você é uma tonta mesmo. Ouviu bem aquilo que disse? -
Ele aproximou-se do sofá baixou-se e olhou-a bem nos
olhos. - Eu a amo e vou ama-la sempre... Muito.
-Porque saiu daqui então?
-Porque se ficasse não ia parar de fazer amor consigo garota.
-Ele beijou-a é isso que quer?
-É.- Ela sorriu e tapou a cabeça com o cobertor.
-Sua desavergonhada. - Ele sorriu enquanto lhe tirava o
cobertor do rosto. - Pode ficar vermelha á vontade á minha
frente. - Ele voltou a beijá-la, depois levou uma mão ao
bolso, tirou uma caixinha e abriu-a - Gosta?
Sony ficou a olhar para o anel de ouro com um pequeno
diamante brilhando em cima.
-É para...
-O que é que acha sua tonta? - Ele sorriu enquanto tirava o
anel e o colocava no dedo dela.
-Eu quero dizer-lhe uma coisa. - Ela mordeu o lábio
nervoso.
-Não gosta? - Ele olhou-a

200
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Claro que gosto, não é isso. É que eu... o meu marido...


-Não quero falar sobre o seu marido agora. Amanhã nós
falamos sobre ele. Mas não se preocupe nós vamos resolver
isso juntos.
-Não. Eu preciso... Eu não sou mais casada.
-Não? - Ele sentou-se na cama e olhou-a sem entender.
-Não. Ele colocou uma outra mulher no meu lugar e pediu o
divórcio.
-Sua diabinha .- Mário abraçou-o - Porque não disse logo.
-Quando vi a sua irmã com o cabelo molhado e você
também eu pensei... - Ela baixou o olhar e ele riu.
-Que nós dois tínhamos acabado de sair da banheira. Se
houvesse gás eu a levaria para a banheira agora. - Ele falou
malicioso e fez um carinho nela por baixo da manta que a
estava tapando. - Pare por favor.
Mário parou e olhou-a
-O meu casamento era a única coisa que podia fazê-lo parar
e além disso, você ontem também não disse que ela era sua
irmã
-Eu o amo muito.
-Eu acredito .

201
NEVE NOS ALPES de Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

-Tenho até uma prova. - Ela mostrou a cicatriz que tinha nas
costas e ele beijou-a. - Não se incomoda por Ter uma
mulher com uma cicatriz destas?
-Se quer saber a verdade eu a acho até sexy. - Ele sorriu. -
Quer casar comigo amor?
-Quero. - Ela sorriu
-Eu já lhe disse que não a vou deixar dormir descansada
nunca e que a BB vai Ter de ir viver connosco? Ainda quer
casar comigo?
-Quero sim. - Sony sorriu - E podemos Ter também um
gato e um papagaio?
-Eu posso até comprar um jardim zoológico para você se
isso a fizer feliz amor. - Ele sorriu e beijou-a
apaixonadamente. Venha cá. Quero fazer amor consigo de
novo.

FIM

Paula Cristina Simões dos Santos Trigo

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