Você está na página 1de 48

DIREITO DO

CONSUMIDOR

Exame de Ordem
Damásio Educacional
Sumário

RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO...............................................................................................................................4

1. Fundamentos Constitucionais da Proteção ..............................................................................................................4

2. Princípios Gerais do Direito do Consumidor.............................................................................................................5

2.1. Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor ........................................................................................................5

2.2. Princípio da Transparência ....................................................................................................................................6

3. Características das Normas do CDC ..........................................................................................................................6

4. Elementos da Relação Jurídica de Consumo ............................................................................................................7

4.1 Quem é Consumidor? .............................................................................................................................................7

4.2 Quem é fornecedor?...............................................................................................................................................8

4.3. Produto (art. 3º, §1º, CDC) ....................................................................................................................................9

4.4. Serviço (art. 3º, § 2º, CDC) .....................................................................................................................................9

RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO .........................................................................................11

1. Fundamento genérico (art.6º, VI do CDC) ..............................................................................................................11

2. Elementos da Responsabilidade Civil no CDC.........................................................................................................11

3. Excludentes da Responsabilidade...........................................................................................................................11

4. Modalidades de Responsabilidade no CDC ............................................................................................................12

a) Pelo fato do produto ou serviço............................................................................................................................12

b) Pelo vício do produto ou serviço: ...........................................................................................................................14

4.1 Prazos....................................................................................................................................................................15

5. Peculiaridades da Responsabilidade no CDC ..........................................................................................................15

5.1. Responsabilidade Objetiva ..................................................................................................................................15

5.2. Responsabilidade Solidária ..................................................................................................................................16

PRÁTICAS COMERCIAIS............................................................................................................................................. .18

1. Modalidades ...........................................................................................................................................................18

1.1 Oferta....................................................................................................................................................................18

1.2 Publicidade ...........................................................................................................................................................18

Pág. 2 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
1.3 Prática abusiva ......................................................................................................................................................20

1.4 Cobrança de dívida ...............................................................................................................................................22

1.5 Banco de dados e cadastros de consumidores.....................................................................................................23

Crimes relacionados aos bancos de dados (art. 72 e 73 CDC):...................................................................................25

PROTEÇÃO CONTRATUAL DO CONSUMIDOR .............................................................................................................26

SUPERENDIVIDAMENTO .............................................................................................................................................29

1. O que é superendividamento? ...............................................................................................................................29

A)Superendividado Ativo: ...........................................................................................................................................29

B) Superendividado Passivo:.......................................................................................................................................29

CRIMES NO CDC ..........................................................................................................................................................35

QUESTÕES COMPLEMENTARES ..................................................................................................................................36

PRINCIPAIS TEMAS SOBRE PLANOS DE SAÚDE E TEMAS DE CONSUMO NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ .....................39

1. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor..............................................................................................39

2. Doenças preexistentes............................................................................................................................................39

3. Reajustes.................................................................................................................................................................39

1) Reajuste anual: .......................................................................................................................................................39

2) Reajuste por faixa etária: .......................................................................................................................................40

3) Reajuste por revisão técnica ou semestralidade:...................................................................................................40

4. Recusas proibidas ...................................................................................................................................................40

5. Período de carência ................................................................................................................................................40

6. Autolesão ou tentativa de suicídio .........................................................................................................................40

7. Rescisão imotivada .................................................................................................................................................40

8. Casos de demissão ou morte do beneficiário no plano coletivo ............................................................................41

9. Casos de aposentadoria do beneficiário ................................................................................................................41

10. Questões Genéricas que não se Aplicam aos Planos ...........................................................................................42

NOÇÕES SOBRE PROCESSO COLETIVO .......................................................................................................................45

Pág. 3 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
RELAÇÃO JURÍDICA DE CONSUMO

1. Fundamentos Constitucionais da Proteção

Evolução dos Direitos Fundamentais: o direito do consumidor pode ser alocado na 3ª geração/dimensão
dos Direitos Fundamentais.

Previsão Constitucional: art. 5º, XXXII (Direito Fundamental), CF c/c art. 170 (Princípio da Ordem
Econômica), CF e art. 48 do ADCT (elaboração do CDC). Além disso, o art. 24 da CF/88 dispõe sobre a competência
legislativa sobre o tema.

“Art. 5º, CF. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do
consumidor;”

“Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
(...)
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;”

“Art. 170, CF. A ordem econômica, fundada na valorização do


trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados
os seguintes princípios:
(...)
V - defesa do consumidor;

“Art. 48, ADCT. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias


da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do
consumidor.”

O art. 5º, XXXII da CF dispõe que o Estado promoverá a defesa do Consumidor. Nesse sentido, atendendo
o mandado constitucional foi editado o CDC. A despeito de ter sido editado, trata-se de dever perene do Estado.
O direito do consumidor é uma cláusula pétrea, nos termos do art. 60, § 4º da CF.

Pág. 4 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
O direito do consumidor é um ramo do direito público ou privado? É considerado como ramo do direito privado,
mas por conta do comando constitucional é um direito solidário (Cláudia Lima Marques), já que transcende aos
interesses particulares. Há, inclusive, possibilidade de intervenção estatal à luz do dirigismo contratual. Por fim,
vale ressaltar que modernamente a divisão entre direito público e privado não pode ser entendida a partir de
uma visão estanque.

Código de Defesa do Consumidor: Lei 8.078/1990.

2. Princípios Gerais do Direito do Consumidor

Vários princípios norteiam a relação consumerista, dentre eles podemos destacar:

2.1. Princípio da Vulnerabilidade do Consumidor

É o principal princípio que rege o Direito do Consumidor. Por ele, o consumidor se encontra em uma posição
de desvantagem em relação ao fornecedor. Vale destacar que se trata de uma vulnerabilidade legal e, portanto,
possui presunção absoluta. Vejamos:

“Art. 4º, CDC. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:
I - Reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado
de consumo.
(...)”

Cláudia Lima Marques destaca espécies de vulnerabilidade, as quais são adotadas pelos STJ.

VULNERABILIDADE
Significa ausência de conhecimentos específicos
Vulnerabilidade técnica sobre o produto que o consumidor adquire ou
utiliza.
Consiste na ausência de conhecimento pelo
Vulnerabilidade jurídica consumidor dos direitos e deveres inerentes à
relação de consumo.

Pág. 5 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
É a fragilidade do consumidor diante do
Vulnerabilidade econômica fornecedor que, por sua posição, impõe sua
superioridade a todos que com ele contratem.
O consumidor não possui informações suficientes
Vulnerabilidade informacional para decidir sobre aquisição ou não de produto
ou serviço.

2.2. Princípio da Transparência

Em todas as fases da relação consumerista deve haver transparência, mesmo após a fase contratual.

- Fase pré-contratual
TRANSPARÊNCIA - Fase contratual
- Fase pós-contratual

3. Características das Normas do CDC

O art. 1º do CDC, dispõe:

“O presente código estabelece normas de proteção e defesa do


consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos
arts. 5°, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48
de suas Disposições Transitórias.” (Grifo nosso)

A partir da leitura do art. 1º do CDC é possível extrair diversas características das normas que regem a
relação consumerista:
• Traz normas multidisciplinares: normas de direito material, processual, normas administrativas e previsão
de infrações penais;
• É uma norma principiológica;
• Consagra normas de ordem pública e interesse social (visando promover a igualdade material na defesa
do consumidor). Consequências:
✓ Inderrogabilidade por vontade das partes;
✓ São normas não preclusivas;
✓ Podem ser conhecidas de ofício (com a ressalva da Súmula 381 do STJ);
✓ São normas de aplicabilidade imediata;
✓ Prevalência quando em conflito com outras normas.

“Súmula 381, STJ: Nos contratos bancários, é vedado ao julgador


conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas.”

Pág. 6 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
4. Elementos da Relação Jurídica de Consumo

Elementos subjetivos:
o Consumidor;
o Fornecedor.

Elementos objetivos:
o Produto;
o Serviço.

4.1 Quem é Consumidor?

Conforme disposto no art. 2° do CDC:

“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza


produto ou serviço como destinatário final.
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de
pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações
de consumo.”

Existem quatro tipos de consumidor:

1) Consumidor standard, padrão: é a Pessoa Física ou Jurídica que adquire produto ou serviço como
destinatário final.

Obs.: Qual é a corrente adotada?

o Corrente Maximalista / Objetiva: consumidor é todo aquele destinatário final, isto é, aquele que retira o
produto/serviço da cadeia de consumo. O produto ou serviço pode ser utilizado para consumo próprio ou para a
produção de outros produtos. Crítica: teoria muito abrangente.

o Corrente Finalista / Subjetiva / Pura: consumidor é o destinatário final e econômico do produto/serviço


(não pode usar para fins econômicos). Essa é a teoria adotada pelo CDC.

o Teoria Finalista mitigada ou aprofundada: Para o STJ é necessário analisar o caso concreto, pois ainda
que não seja destinatário econômico a vulnerabilidade deve ser analisada perante o fornecedor. Ex.: Costureira
que adquire uma máquina de costura.

Pág. 7 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
TEORIA FINALISTA TEORIA MAXIMALISTA

Destinação fática E econômica Destinação fática

Conceito econômico Conceito jurídico

2) Consumidor equiparado interveniente / em sentido coletivo: é a coletividade na tutela dos


direitos transindividuais (art. 2º, parágrafo único). Equipara-se ao consumidor a coletividade de pessoas, ainda
que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. Ex.: Medicamento vendido por determinado
laboratório vem causando danos. São consumidores não apenas aqueles que adquiriram o medicamento, mas
também àqueles que estão expostos.

3) Consumidor equiparado bystander: são todas as vítimas do evento - fato do produto ou serviço
(art. 17, CDC). Ex.: Avião cai e atinge diversas casas. São consumidores bystander todas as vítimas que moravam
nas residências atingidas.
Obs.: Vício é uma inadequação interna. Fato é uma exteriorização do vício que atinge a incolumidade física,
psíquica e econômica do consumidor.

4) Consumidor equiparado exposto / potencial / virtual: todas as pessoas expostas às práticas


comerciais (art. 29, CDC), ainda que não seja possível identificá-las. Exemplos: práticas comerciais envolvendo
oferta, publicidade e práticas abusivas.

4.2 Quem é fornecedor?

Pessoa Física / Pessoa Jurídica;


Nacional / Estrangeira;
Pública / Privada;
Entes despersonalizados (ex.: camelô; herança jacente).

“Art. 3°, CDC. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.”

Pág. 8 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Obs.: O Estatuto do Torcedor traz um conceito de fornecedor equiparado:

“Art. 3º, Lei nº 10.671/03. Para todos os efeitos legais, equiparam-


se a fornecedor, nos termos do CDC, a entidade responsável pela
organização da competição, bem como a entidade de prática
desportiva detentora do mando de jogo.”

Classificação dos fornecedores:


▪ Fornecedores reais = Construtor / Produtor / Fabricante;
▪ Fornecedor presumido = Importador;
▪ Fornecedor aparente = Comerciante.

Obs.: Conforme entendimento do STJ, as pessoas jurídicas sem fins lucrativos, inclusive aquelas que possuem
certificação de filantrópicas, podem ser abrigadas pelo conceito de fornecedores, caso forneçam no mercado,
com certa habitualidade e especialidade, produto ou serviço, mediante remuneração.

NÃO É APLICÁVEL O CDC (STJ):


• Serviços advocatícios;
• Contratos de crédito educativo;
• Relação condominial;
• Locação predial urbana;
• Previdência privada complementar fechada (Súmula 563, STJ).

4.3. Produto (art. 3º, §1º, CDC)

Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial.

Os produtos podem ser:


a) Duráveis: são aqueles que não se extinguem pelo simples uso (nesse caso o prazo de decadência da
garantia legal por vícios é de 90 dias).

b) Não duráveis: são aqueles que se extinguem ou vão se extinguindo com o uso.

4.4. Serviço (art. 3º, § 2º, CDC)

Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo mediante remuneração, inclusive as de


natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

A principal característica do serviço é a remuneração. Ela pode ser direta ou indireta.

Pág. 9 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Direta: há a identificação de uma contraprestação pecuniária do consumidor diretamente ao fornecedor.

Indireta: o fornecedor adquire uma remuneração indireta do consumidor. Ex.: Programa de milhas obtidas do
cartão de crédito.

Vale ressaltar! o STJ admite a remuneração indireta.

Súmulas sobre a aplicabilidade do CDC:

“Súmula 297, STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras.”

“Súmula 608, STJ: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos


contratos de plano de saúde, salvo os administrados por entidades
de autogestão.”

“Súmula 563, STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


entidades abertas de previdência complementar, não incidindo nos
contratos previdenciários celebrados com entidades fechadas.”

“Súmula 602, STJ: O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos


empreendimentos habitacionais promovidos pelas sociedades
cooperativas.”

Princípios da Política Nacional das Relações de Consumo (art. 4º):

Os princípios representam a “alma” do CDC.

Destacam-se os seguintes princípios:


• Princípio da vulnerabilidade do consumidor;
• Princípio da prevenção e tratamento do superendividamento;
• Princípio da Coibição e proteção de abusos;
• Educação e informação de fornecedores e consumidores, quanto aos seus direitos e deveres;
• Fomento à educação financeira do consumidor;
• Princípio da Boa-fé objetiva (regra de conduta ética-jurídico).

Instrumentos da Política Nacional das Relações de Consumo (art. 5º):

Os instrumentos representam o “corpo” do CDC.

• Criação de promotorias especializadas;

Pág. 10 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
• Delegacias especializadas;
• Assistência Jurídica integral e gratuita;
• Criação de juizados especiais e varas especializadas.

RESPONSABILIDADE CIVIL NAS RELAÇÕES DE CONSUMO

1. Fundamento genérico (art.6º, VI do CDC)

“Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor:


(...)
VI - A efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais,
individuais, coletivos e difusos;”

Direito básico à efetiva prevenção e reparação integral de danos.


Danos materiais / patrimoniais – danos emergentes ou lucros cessantes.
Dano moral, individual, coletivo ou difuso (dano moral social).
Dano estético.
Dano em razão da perda do tempo (Teoria do desvio produtivo).

2. Elementos da Responsabilidade Civil no CDC

Conduta: responsabilidade objetiva (não analisa dolo/culpa).

Resultado: os danos podem ser materiais (danos emergentes e lucros cessantes) ou morais.

Nexo de causalidade.

3. Excludentes da Responsabilidade

Fornecedor comprova que não colocou o produto no mercado;


Que embora tenha colocado o produto não tem defeito;
Culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Caso fortuito ou força maior (entendimento doutrinário): apenas fortuito externo afasta a
responsabilidade.

Obs.1: No contrato de transporte não é possível alegar culpa de terceiro.

Obs.2: Culpa concorrente: segundo o STJ não afasta a responsabilidade, podendo, contudo, ensejar a diminuição
equitativa da indenização.

Pág. 11 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
4. Modalidades de Responsabilidade no CDC

a) Pelo fato do produto ou serviço:

• Pelo fato do produto: exteriorização do vício. Falha de segurança que acarreta um acidente de consumo.
A responsabilidade é objetiva e solidária entre os fornecedores reais e presumidos.

Atenção: A responsabilidade do fornecedor aparente (comerciante) está condicionada às circunstâncias do art.


13 do CDC:
▪ Quando o fornecedor real (Construtor, Produtor ou Fabricante) ou presumidor não puder ser identificado;
▪ Não for clara a identificação dos demais fornecedores;
▪ Falta de conservação de produtos perecíveis.

• Pelo fato do serviço: exteriorização do vício. Falha de segurança que acarreta um acidente de consumo.
A responsabilidade é objetiva e solidária entre todos os fornecedores.

Obs.: Serviços prestados por profissionais liberais: responsabilidade subjetiva e, em regra, obrigação de
meio. Exceção: cirurgião plástico possui obrigação de resultado, caso em que, embora a responsabilidade se
mantenha subjetiva haverá uma presunção de culpa com a consequente inversão do ônus da prova.

Atenção!
A queda de passageiro em via férrea de metrô, por decorrência de mal súbito, não enseja o dever de
reparar os danos mesmo que a concessionária não adote tecnologia moderna (portas de plataforma)
Ementa Oficial
RECURSO ESPECIAL. RESPONSABILIDADE CIVIL. OMISSÃO. INEXISTÊNCIA. MORTE EM ESTAÇÃO DE
METRÔ DECORRENTE DE MAL SÚBITO. ACIDENTE EM RELAÇÃO DE CONSUMO TAMBÉM A ENVOLVER SERVIÇO
PÚBLICO. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA, FUNDADA NA TEORIA DO RISCO ADMINISTRATIVO, A
PRESCINDIR DA DEMONSTRAÇÃO DE CULPA DO FORNECEDOR DE SERVIÇOS. CONSTATAÇÃO DO NEXO DE
CAUSALIDADE. NECESSIDADE. ENTENDIMENTO DE HAVER DEVER ESPECÍFICO DE PREVENIR ACIDENTES POR
TODOS OS MEIOS QUE POSSA CONCEBER O CONHECIMENTO HUMANO. DESARRAZOABILIDADE. SERVIÇO
DEFEITUOSO: AQUELE QUE NÃO FORNECE A SEGURANÇA QUE O CONSUMIDOR PODE ESPERAR,
CONSIDERANDO-SE OS RISCOS INERENTES E A ÉPOCA EM QUE FOI PRESTADO. INTERVENÇÃO JUDICIAL
AFETANDO POLÍTICAS PÚBLICAS. INADEQUAÇÃO COM REPERCUSSÕES SOCIAIS IMPREVISÍVEIS.
1. A responsabilidade civil objetiva, fundada na teoria do risco, foi desenvolvida a partir da constatação
de que a responsabilidade civil fundada na culpa e na ilicitude do ato, por vezes, gerava iniquidades,
mostrando-se insuficiente para propiciar a reparação de prejuízos verificados e demonstrar que o agente
responsável pela atividade foi o causador do dano. A teoria induz que aqueles que desenvolvem atividades

Pág. 12 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
potencialmente perigosas devem acautelar-se para que elas não venham a causar danos a outrem, porquanto,
se ocorrerem, não poderão escusar-se do dever indenizatório, argumentando a inexistência de culpa.
2. Nas relações de consumo que envolvam serviço público, o art. 37, § 6º, da Constituição Federal prevê
a responsabilidade civil do Estado e das concessionárias de serviço público, sob a modalidade do risco
administrativo. Malgrado se trate de responsabilidade civil objetiva, apenas pela teoria do risco integral -
adotada no ordenamento jurídico brasileiro em casos excepcionais, como na responsabilidade civil
acidentária ou infortunística, coberta pelo seguro social; no seguro obrigatório para os proprietários de
veículos automotores (DPVAT); e no dano nuclear -, não há necessidade de exame da relação de causa e efeito
entre o dano e a conduta/atividade omissiva ou comissiva daquele tido por causador.
3. O fato de o acidente estar abrangido pela responsabilidade objetiva não elimina a necessidade de
demonstrar a presença do dano e do nexo causal entre o dano e a qualidade de agente público do autor do
dano ou a conexão com a prestação do serviço público. Nessa linha de intelecção, quanto ao nexo causal,
embora existam inúmeras teorias, a da causalidade adequada é a que se revela a mais adequada para justificar
o nexo de causalidade no plano jurídico.
Isso tanto pelo exame do direito positivo quanto pela concepção de que a causalidade adequada
constitui o retrato mais próximo do modelo nomológico científico da explicação causal, pugnando que só há
uma relação de causalidade apropriada entre fato e dano quando o ato praticado pelo agente for de molde a
provocar o dano sofrido pela vítima, segundo o curso normal das coisas e a experiência comum da vida.
4. No caso, à luz da própria causa de pedir da demanda, é incontroverso que o fatídico acidente
decorreu de caso fortuito (mal súbito, convulsão por epilepsia), consubstanciando fortuito externo, que,
segundo o curso normal das coisas, não se tinha como antever, prevenindo que a passageira caísse justamente
na linha férrea do metrô, pouco antes do alinhamento da composição à estação, onde a ausência de
funcionário, aludida na exordial, não teria o condão de evitar o acidente, por não ser factível que estivesse ao
lado de cada um dos passageiros, ainda mais de passageira jovem, que, em linha de princípio, não precisaria
de nenhum auxílio específico para ingressar na composição do metrô.
5. A conduta da ré não é causa específica e determinante para o evento danoso, pois a queda de
passageira na linha férrea decorrente exclusivamente de mal súbito, por fatores não ligados à própria
organização do serviço (v.g. tropeço em razão de o piso estar molhado ou escorregadio, tumulto por
desorganização no embarque e desembarque da composição), é fortuito externo, isto é, risco que não está
abrangido na esfera imputável objetivamente à concessionária de serviço público.
6. Não é compatível com o CDC o entendimento de que há um "dever específico de prevenir o evento
letal por todos os meios de que possa conceber o conhecimento humano e de que esteja à sua altura fazê-lo
e desde que ainda não seja caso de impossibilidade material". Isso porque o art. 14 do CDC estabelece, no §
1°, que "o serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar,
levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais [...] II - o resultado e os riscos que
razoavelmente dele se esperam; III - a época em que foi fornecido", e, no § 2º, que "o serviço não é
considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas". O defeito previsto nesse artigo não pode dizer
respeito a um risco de gerar danos inerente ao serviço, presente na generalidade dos transportes públicos
que utilizam do mesmo modal, mas a algo que escapa do razoável, discrepante do padrão de outros serviços
congêneres.

Pág. 13 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
7. Como máxima de experiência, não é a regra que trens de metrôs, inclusive em países com altíssimo
nível de desenvolvimento econômico e social, tenham as denominadas "portas de plataforma" (Platform
Screen Doors - PSD), sendo certo que, na presente data, existe projeto (política pública) para que, no decorrer
dos próximos anos, haja a sua implantação na maior parte das estações de metrô da capital paulista. Portanto,
seria contraproducente e prejudicial ao consumidor punir o fornecedor de serviços que busca aprimorar a
segurança, uma vez que o acórdão recorrido, em suma, aponta que o fato de haver algumas estações com
implantação da tecnologia mais moderna significa que existe o dever de já tê-la implantado em todas - sem
se ater a questões de oportunidade, de conveniência e de possível desequilíbrio econômico-financeiro do
serviço público delegado, ocasionador de abrupto e relevante reajuste da tarifa do serviço público.
8. No julgamento da ADI n. 4.923, o relator, Ministro Luiz Fux, salientou que não se pode perder de mira
que intervenções judiciais incisivas - ainda que inegavelmente bem-intencionadas - sobre marcos regulatórios
específicos, de setores técnicos e especializados, podem ter repercussões sistêmicas deletérias para valores
constitucionais em jogo, repercussões essas imprevisíveis no interior do processo judicial, marcado por nítidas
limitações de tempo e de informação (ADI n. 4.923, relator Ministro Luiz Fux, Tribunal Pleno, julgado em
8/11/2017, processo eletrônico DJe-064 divulgado em 4/4/2018, publicado em 5/4/2018).
9. Recurso especial da ré provido, e recurso da litisdenunciada parcialmente provido para,
restabelecendo o decidido na sentença, julgar improcedente o pedido formulado na inicial.
(REsp n. 1.936.743/SP, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 14/6/2022,
DJe de 8/9/2022.)
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A queda de passageiro em via férrea de metrô, por decorrência de
mal súbito, não enseja o dever de reparar os danos mesmo que a concessionária não adote tecnologia
moderna (portas de plataforma). Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/34ff028fc02b773b8885b59aee142e60
>. Acesso em: 30/03/2023

b) Pelo vício do produto ou serviço:

Inadequação interna. Há uma falha na quantidade ou qualidade que torne o produto/serviço impróprio ou
lhe diminua o valor. Abrange todas as categorias de fornecedor (real, presumido e aparente).

Obs.: Existe uma única peculiaridade em relação ao vício do serviço, já que o fornecedor, em regra, possui
prazo de 30 dias para sanar o vício (esse prazo pode ser diminuído em até 7 dias e aumentado até 180 dias desde
que previsto expressamente no contrato e em cláusula separada). Após, nasce para o consumidor o direito de
optar por uma das seguintes alternativas:
▪ Abatimento;
▪ Rescisão;
▪ Prestação equivalente.

Obs.: O consumidor terá direito de exigir o cumprimento da prestação sem a necessidade de aguardar o
prazo de 30 dias em duas hipóteses:

Pág. 14 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
▪ Serviços essenciais;
▪ Vício insanável.

De olho na jurisprudência:

As indenizações por danos morais decorrentes de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional não
estão submetidas à tarifação prevista na Convenção de Montreal, devendo-se observar, nesses casos, a
efetiva reparação do consumidor preceituada pelo CDC. STJ. 3ª Turma. REsp 1.842.066-RS, Rel. Min. Moura
Ribeiro, julgado em 09/06/2020 (Info 673).

Resumindo: A indenização decorrente de extravio de bagagem e de atraso de voo internacional está sujeito à
tarifação prevista na Convenção de Montreal?
• Em caso de danos materiais: SIM.
• Em caso de danos morais: NÃO.

4.1 Prazos

1) Prescricional → 5 anos → Fato do produto/Serviço.


Obs.: Início da contagem do prazo PRESCRICIONAL: conhecimento do dano ou autoria (Teoria da actio
nata).

2) Decadencial → Vício do produto/Serviço.


▪ 30 dias para bens não duráveis.
▪ 90 dias para bens duráveis.

Obs.1: Início da contagem do prazo DECADENCIAL:


▪ Vício aparente e de fácil constatação = entrega do produto ou serviço;
▪ Vício oculto = no momento em que for constato pelo consumidor.

Obs.2: O que obsta o prazo decadencial?


▪ Reclamação formulada pelo consumidor ao fornecedor até resposta negativa;
▪ Abertura de IC até sua conclusão.

5. Peculiaridades da Responsabilidade no CDC

5.1. Responsabilidade Objetiva

O fornecedor responde independentemente de dolo ou culpa.

Exceção: Profissionais liberais possuem responsabilidade subjetiva.

Pág. 15 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
“Art. 14, § 4°, CDC. A responsabilidade pessoal dos profissionais
liberais será apurada mediante a verificação de culpa.”

5.2. Responsabilidade Solidária

Se houver mais de um prestador, mais de um fabricante, ou mais de um causador do dano, qualquer um


deles pode ser obrigado ao pagamento integral da indenização.

Obs.: Art.13, parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de
regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.

O CDC permite que o fornecedor réu ofereça chamamento ao processo de sua seguradora.

Obs.: Cláusula de Decaimento ou Perdimento: vedação.


São cláusulas que preveem a perda total das prestações pagas.
Ex.: Deixar de pagar algumas parcelas. Não pode perder o bem e o valor integral das parcelas pagas.

“Art. 53, CDC. Nos contratos de compra e venda de móveis ou


imóveis mediante pagamento em prestações, bem como nas
alienações fiduciárias em garantia, consideram-se nulas de pleno
direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das prestações
pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento,
pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.”

Desconsideração da pessoa jurídica (art.28 do CDC):

A Pessoa Jurídica é uma ficção jurídica e possui autonomia em relação aos seus sócios.
A “disregard doctrine” é uma influência do direito norte-americano.
Para a Desconsideração da Personalidade Jurídica do CDC basta que a insolvência seja uma barreira para o
ressarcimento do consumidor. Adota-se a Teoria menor.
No CC/02 adota-se a teoria maior, exigindo-se abuso da personalidade jurídica caracterizada pelo desvio
de finalidade ou confusão patrimonial.

Vejamos o art. 28 do CDC:

Pág. 16 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
“Art. 28, CDC. O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica
da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso
de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou
violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração
também será efetivada quando houver falência, estado de
insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica
provocados por má administração.
§ 1° (Vetado).
§ 2° As sociedades integrantes dos grupos societários e as sociedades
controladas, são subsidiariamente responsáveis pelas obrigações
decorrentes deste código.
§ 3° As sociedades consorciadas são solidariamente responsáveis
pelas obrigações decorrentes deste código.
§ 4° As sociedades coligadas só responderão por culpa.
§ 5° Também poderá ser desconsiderada a pessoa jurídica sempre
que sua personalidade for, de alguma forma, obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores.”

Pág. 17 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
PRÁTICAS COMERCIAIS

1. Modalidades

1) Oferta;
2) Publicidade;
3) Práticas abusivas;
4) Cobrança de dívidas;
5) Banco de dados.

1.1 Oferta

É qualquer técnica utilizada pelo fornecedor para aproximar seus produtos e serviços ao consumidor.

A oferta vincula o fornecedor e integra o contrato (Princípio da vinculação da oferta).

Obs.1: É possível retratação da oferta? Segundo o CC/2002, observados alguns requisitos, sim. Contudo, no
CDC isso é incompatível com suas normas.

Obs.2: Responsabilidade solidária pela oferta → Aplica-se a teoria da aparência, respondendo o fornecedor
por seus prepostos.

Consequências do descumprimento da oferta (3 alternativas ao consumidor):


o Cumprimento forçado da obrigação
o Rescisão do contrato com perdas e danos
o Aceitar produto equivalente

Obs.: Erro grosseiro: Fornecedor não está obrigado a cumprir a oferta.

1.2 Publicidade

É uma oferta qualificada. A doutrina distingue propaganda de publicidade. Enquanto a propaganda tem
como objetivo a difusão de ideias, a publicidade pode ser entendida como oferta qualificada com viés comercial
e persuasivo.

Princípio da Identificação:

Pág. 18 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
“Art. 36, CDC. A publicidade deve ser veiculada de tal forma que o
consumidor, fácil e imediatamente, a identifique como tal.”

Princípio da Transparência da Fundamentação Publicitária:

“Art. 36, Parágrafo único, CDC. O fornecedor, na publicidade de seus


produtos ou serviços, manterá, em seu poder, para informação dos
legítimos interessados, os dados fáticos, técnicos e científicos que
dão sustentação à mensagem.”

Princípio da Veracidade ou não enganosidade:

“Art. 37, CDC. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.


§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa,
ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir
em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer
outros dados sobre produtos e serviços.”

Princípio da não abusividade:

Significa que é ilícita a publicidade que de alguma forma ofende os valores protegidos pela ordem
constitucional.

“Art. 37, § 2°, CDC. É abusiva, dentre outras a publicidade


discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência,
explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de
julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais,
ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.
§ 3° Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por
omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto
ou serviço.”

Ônus da prova:

Pág. 19 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
“Art. 38, CDC. O ônus da prova da veracidade e correção da
informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina.”

Observação: Cigarro, bebida alcóolica, medicamentos, agrotóxicos: estão sujeitos à publicidade restritiva por
força de comando constitucional.

Art. 220, § 4º da CF/88: “A propaganda comercial de tabaco, bebidas


alcoólicas, agrotóxicos, medicamentos e terapias estará sujeita a
restrições legais, nos termos do inciso II do parágrafo anterior, e
conterá, sempre que necessário, advertência sobre os malefícios
decorrentes de seu uso”.

1.3 Prática abusiva

Configuram condutas antiéticas praticadas no mercado de consumo. O CDC apresenta um rol


exemplificativo. Vejamos alguns exemplos:
o Venda casada (inciso I: condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro
produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos);
o Envio de cartão de crédito sem anuência do consumidor (Inciso III: enviar ou entregar ao consumidor, sem
solicitação prévia, qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço);
o Executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor (inciso
VI: executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e autorização expressa do consumidor, ressalvadas
as decorrentes de práticas anteriores entre as partes);
o Colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou serviço em desacordo com as normas expedidas
pelos órgãos oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem, pela Associação Brasileira de Normas
Técnicas ou outra entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial (Conmetro) (inciso VIII);
o Permitir o ingresso em estabelecimentos comerciais ou de serviços de um número maior de consumidores
que o fixado pela autoridade administrativa como máximo (inciso XIV).

De olho na jurisprudência:

A empresa aérea que disponibilizar a opção de resgate de passagens aéreas com pontos pela internet
é obrigada a assegurar que o cancelamento ou reembolso destas seja solicitado pelo mesmo meio
Ementa Oficial
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. PROGRAMA DE FIDELIDADE. LATAM. AQUISIÇÃO DE
PASSAGEM AÉREA. RELAÇÃO DE CONSUMO. IMPOSSIBILIDADE DE CANCELAMENTO DE PASSAGENS PELA
INTERNET. MEDIDA DISPONIBILIZADA PELA EMPRESA APENAS NOS CASOS DE AQUISIÇÃO/RESGATE DE
PASSAGENS. PRÁTICA ABUSIVA. ART. 39, INCISO V, DO CDC. ÔNUS EXCESSIVO. MEDIDA QUE TRANSCENDE A

Pág. 20 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
ESFERA DA LIVRE ATUAÇÃO DAS PRÁTICAS NEGOCIAIS E AS REGRAS DE MERCADO. INTERVENÇÃO JUDICIAL
ADEQUADA. RECURSO ESPECIAL NÃO PROVIDO.
1. Os programas de fidelidade, embora não sejam ofertados de maneira onerosa, proporcionam grande
lucratividade às empresas aéreas, tendo em vista a adesão de um grande número de pessoas, as quais são
atraídas pela diversidade dos benefícios que lhes são oferecidos.
Relação de consumo configurada, portanto, nos termos dos arts. 2º e 3º do CDC.
2. O fato de a empresa aérea não disponibilizar a opção de cancelamento de passagem por meio da
plataforma digital da empresa (internet) configura prática abusiva, na forma do art. 39, inciso V, do CDC,
especialmente quando a ferramenta é disponibilizada ao consumidor no caso de aquisição/resgate de
passagens.
3. A conduta, além de ser desprovida de fundamento técnico ou econômico, evidencia a imposição de
ônus excessivo ao consumidor, considerando a necessidade de seu deslocamento às lojas físicas da empresa
(apenas aquelas localizadas nos aeroportos) ou a utilização do call center, medidas indiscutivelmente menos
efetivas quando comparadas ao meio eletrônico.
4. Nesse passo, configurada a prática de conduta lesiva ao consumidor, não há falar em ingerência
desmotivada na atividade empresarial.
5. Recurso especial não provido.
(REsp n. 1.966.032/DF, relator Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 16/8/2022,
DJe de 9/9/2022.)
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. A empresa aérea que disponibilizar a opção de resgate de
passagens aéreas com pontos pela internet é obrigada a assegurar que o cancelamento ou reembolso destas
seja solicitado pelo mesmo meio. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/63e8e3643e7f7198858eef325b0600f
9>. Acesso em: 30/03/2023

Atenção!
Não é prática abusiva a conduta do hotel que estipule o horário do check-in às 15h e do check-out às
12h
Ementa Oficial
RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E CONSUMIDOR. AÇÃO COLETIVA.
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE HOTELARIA. PERÍODO DA DIÁRIA (24 HORAS).
LEI 11.771/08 E DECRETO 3.781/10. PRETENSÃO DE REDUÇÃO DO VALOR DA DIÁRIA EM FACE DE
ALEGADA REDUÇÃO DO PERÍODO DE ESTADIA ANTE A NECESSIDADE DE ORGANIZAÇÃO E LIMPEZA DAS
UNIDADES HABITACIONAIS ENTRE A SAÍDA DE UM HÓSPEDE E A ENTRADA DE OUTRO.
1. Polêmica em torno da legalidade da cobrança de uma diária completa de 24 horas em hotéis que
adotam a prática de check-in às 15:00h e de check-out às 12:00h do dia de término da hospedagem.
2. Controvérsia em torno da correta interpretação do disposto no art. 25 da Lei 11.771/08 e no art. 23
do Decreto 7.381/10.
3. Ausência de razoabilidade na interpretação literal desses enunciados normativos para se fixar o
dever do fornecedor do serviço de hospedagem de reduzir o valor da diária proporcionalmente ao número

Pág. 21 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
de horas necessárias para a organização e limpeza das unidades habitacionais antes da entrada de novo
cliente.
4. Constitui fato incontroverso a veiculação pela empresa demandada de forma clara ao mercado
consumidor de informação acerca do horário do check-in (15:00hs) e do check-out (12:00hs) para seus
hóspedes, como, aliás, o fazem a generalidade dos prestadores de serviço de hotelaria.
5. Natural a previsão pelo estabelecimento hoteleiro, para permitir a organização de sua atividade e
prestação de serviços com a qualidade esperada pelo mercado consumidor, de um período entre o check-out
do anterior ocupante da unidade habitacional e o check-in do próximo hóspede, inexistindo ilegalidade ou
abusividade a ser objeto de controle pelo Poder Judiciário.
6. A prática comercial do horário de check-in não constitui propriamente um termo inicial do contrato
de hospedagem, mas uma prévia advertência de que o quarto poderá não estar disponível ao hóspede antes
de determinado horário.
7. A fixação de horários diversos de check-in (15:00hs) e check-out (12:00hs) atende a interesses
legítimos do consumidor e do prestador dos serviços de hospedagem, espelhando antiga prática amplamente
aceita dentro e fora do Brasil.
8. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
(REsp 1717111/SP, Rel. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, TERCEIRA TURMA, julgado em
12/03/2019, DJe 15/03/2019)
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Não é prática abusiva a conduta do hotel que estipule o horário do
check-in às 15h e do check-out às 12h. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/288cd2567953f06e460a33951f55daa
f>. Acesso em: 30/03/2023

1.4 Cobrança de dívida

É vedado o emprego de métodos vexatórios.

Obs.: O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição (devolução) do indébito, por valor
igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Atenção: O STJ entende que na relação consumerista o requisito subjetivo (dolo/culpa) é irrelevante, não se
exigindo má-fé. Logo, basta a cobrança indevida (a despeito do CDC falar em “engano justificável”).

“Art. 42, CDC. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente


não será exposto a ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de
constrangimento ou ameaça.
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem
direito à repetição do indébito, por valor igual ao dobro do que

Pág. 22 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável.”

De olho na jurisprudência:

Em caso de cobrança judicial indevida, é possível aplicar a sanção prevista no art. 940 do Código Civil
mesmo sendo uma relação de consumo. O art. 940 do CC e o art. 42 do CDC incidem em hipóteses diferentes,
tutelando, cada um deles, uma situação específica envolvendo a cobrança de dívidas pelos credores. Mesmo
diante de uma relação de consumo, se inexistentes os pressupostos de aplicação do art. 42, parágrafo único,
do CDC, deve ser aplicado o sistema geral do Código Civil, no que couber. O art. 940 do CC é norma
complementar ao art. 42, parágrafo único, do CDC e, no caso, sua aplicação está alinhada ao cumprimento do
mandamento constitucional de proteção do consumidor. STJ. 3ª Turma. REsp 1.645.589-MS, Rel. Min. Ricardo
Villas Bôas Cueva, julgado em 04/02/2020 (Info 664).

1.5 Banco de dados e cadastros de consumidores

Existem três cadastros:

✓ Cadastro de reclamações contra fornecedores:

“Art. 44, CDC - Os órgãos públicos de defesa do consumidor


manterão cadastros atualizados de reclamações fundamentadas
contra fornecedores de produtos e serviços, devendo divulgá-lo
pública e anualmente. A divulgação indicará se a reclamação foi
atendida ou não pelo fornecedor.”

✓ Cadastro Positivo (Lei nº 12.414/11):


São cadastros que possuem informações sobre o adimplemento de pessoas naturais ou de pessoas jurídicas
para formação de histórico de crédito. Desde 2019 não é exigido autorização do consumidor (ele deve ser
informado), embora posteriormente possa pedir o cancelamento.

Prazo máximo de armazenamento da informação: 15 anos.

Atenção: Cadastro positivo não se confunde com escore de crédito. O escore não configura banco de dados e é
mero método estatístico para aferir o risco.

✓ Cadastro de proteção ao crédito (cadastro negativo):


Ex.: SPC/Serasa.

Os cadastros são considerados entidades públicas. Logo, cabe Habeas Data;

Pág. 23 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Exige prévia comunicação pelo órgão mantenedor do cadastro ao consumidor antes da negativação
(Súmula 359, STJ).

Não precisa de AR (Súmula 404, STJ);


Se o débito prescrever o nome do consumidor deve ser retirado do cadastro;
Prazo máximo no cadastro: 5 anos (Súmula 323, STJ);
A quem compete a exclusão do nome do consumidor do cadastro? Credor.

De olho na jurisprudência:

Configura dano moral in re ipsa a ausência de comunicação acerca da disponibilização/comercialização de


informações pessoais em bancos de dados do consumidor
Ementa Oficial
RECURSO ESPECIAL. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚM. 283/STF. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO DE DANO
MORAL. BANCO DE DADOS. COMPARTILHAMENTO DE INFORMAÇÕES PESSOAIS. DEVER DE INFORMAÇÃO.
VIOLAÇÃO. DANO MORAL IN RE IPSA. JULGAMENTO: CPC/15.
1. Ação de compensação de dano moral ajuizada em 10/05/2013, da qual foi extraído o presente recurso
especial, interposto em 29/04/2016 e atribuído ao gabinete em 31/01/2017.
2. O propósito recursal é dizer sobre: (i) a ocorrência de inovação recursal nas razões da apelação interposta
pelo recorrido; (ii) a caracterização do dano moral em decorrência da disponibilização/comercialização de dados
pessoais do recorrido em banco de dados mantido pela recorrente. 3. A existência de fundamento não
impugnado - quando suficiente para a manutenção das conclusões do acórdão recorrido - impede a apreciação
do recurso especial (súm. 283/STF).
4. A hipótese dos autos é distinta daquela tratada no julgamento do REsp 1.419.697/RS (julgado em 12/11/2014,
pela sistemática dos recursos repetitivos, DJe de 17/11/2014), em que a Segunda Seção decidiu que, no sistema
credit scoring, não se pode exigir o prévio e expresso consentimento do consumidor avaliado, pois não constitui
um cadastro ou banco de dados, mas um modelo estatístico.
5. A gestão do banco de dados impõe a estrita observância das exigências contidas nas respectivas normas de
regência - CDC e Lei 12.414/2011 - dentre as quais se destaca o dever de informação, que tem como uma de
suas vertentes o dever de comunicar por escrito ao consumidor a abertura de cadastro, ficha, registro e dados
pessoais e de consumo, quando não solicitada por ele.
6. O consumidor tem o direito de tomar conhecimento de que informações a seu respeito estão sendo
arquivadas/comercializadas por terceiro, sem a sua autorização, porque desse direito decorrem outros dois que
lhe são assegurados pelo ordenamento jurídico: o direito de acesso aos dados armazenados e o direito à
retificação das informações incorretas.
7. A inobservância dos deveres associados ao tratamento (que inclui a coleta, o armazenamento e a transferência
a terceiros) dos dados do consumidor - dentre os quais se inclui o dever de informar - faz nascer para este a
pretensão de indenização pelos danos causados e a de fazer cessar, imediatamente, a ofensa aos direitos da
personalidade.

Pág. 24 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
8. Em se tratando de compartilhamento das informações do consumidor pelos bancos de dados, prática essa
autorizada pela Lei 12.414/2011 em seus arts. 4º, III, e 9º, deve ser observado o disposto no art.
5º, V, da Lei 12.414/2011, o qual prevê o direito do cadastrado ser informado previamente sobre a identidade
do gestor e sobre o armazenamento e o objetivo do tratamento dos dados pessoais 9. O fato, por si só, de se
tratarem de dados usualmente fornecidos pelos próprios consumidores quando da realização de qualquer
compra no comércio, não afasta a responsabilidade do gestor do banco de dados, na medida em que, quando o
consumidor o faz não está, implícita e automaticamente, autorizando o comerciante a divulgá-los no mercado;
está apenas cumprindo as condições necessárias à concretização do respectivo negócio jurídico entabulado
apenas entre as duas partes, confiando ao fornecedor a proteção de suas informações pessoais. 10.
Do mesmo modo, o fato de alguém publicar em rede social uma informação de caráter pessoal não implica o
consentimento, aos usuários que acessam o conteúdo, de utilização de seus dados para qualquer outra
finalidade, ainda mais com fins lucrativos.
11. Hipótese em que se configura o dano moral in re ipsa.
12. Em virtude do exame do mérito, por meio do qual foram rejeitadas as teses sustentadas pela recorrente, fica
prejudicada a análise da divergência jurisprudencial.
13. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.
(REsp 1758799/MG, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 12/11/2019, DJe
19/11/2019)
CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Configura dano moral in re ipsa a ausência de comunicação acerca da
disponibilização/comercialização de informações pessoais em bancos de dados do consumidor. Buscador Dizer
o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/d9e74f47610385b11e295eec4c58d473>.
Acesso em: 30/03/2023

Crimes relacionados aos bancos de dados (art. 72 e 73 CDC):

“Art. 72. Impedir ou dificultar o acesso do consumidor às


informações que sobre ele constem em cadastros, banco de dados,
fichas e registros:
Pena: Detenção de seis meses a um ano ou multa.”

“Art. 73. Deixar de corrigir imediatamente informação sobre


consumidor constante de cadastro, banco de dados, fichas ou
registros que sabe ou deveria saber ser inexata:
Pena: Detenção de um a seis meses ou multa.”

Pág. 25 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
PROTEÇÃO CONTRATUAL DO CONSUMIDOR

Fundamento legal: arts. 6º, V e 46 do Código de Defesa do Consumidor.

O CDC possibilita a modificação do contrato quando há cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais (cláusulas injustas desde o seu começo) ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que
tornaram o contrato excessivamente oneroso (cláusulas que se tornaram injustas em razão de fatos
supervenientes).
O Código de Defesa do Consumidor não adotou a teoria da imprevisão ou da onerosidade excessiva,
adotando a teoria da base objetiva, que prescinde a previsibilidade de fato que determine oneração excessiva de
um dos contratantes. Parte-se da premissa de que a celebração de um contrato ocorre mediante consideração de
determinadas circunstâncias que se modificadas no curso da relação contratual, determinam, por sua vez,
consequências diversas daquelas inicialmente estabelecidas com repercussão direta no equilíbrio das obrigações
pactuadas. Em poucas palavras o fato não precisa ser imprevisível para garantia da proteção.
O artigo 46 do Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, estipula que o contrato não irá vincular a
parte contratante se não for dado prévio conhecimento de seu conteúdo, ou ainda que seja dado o prévio
conhecimento, a sua redação for feita com meios a dificultar a compreensão do seu amplo sentido bem como o
seu alcance (princípio da transparência contratual).
Súmula 402 do STJ, o contrato de seguro por danos pessoais compreende os danos morais, salvo cláusula
expressa de exclusão.

O artigo 47 do Código de Defesa do Consumidor prevê o Princípio da Interpretação Mais Favorável ao


Consumidor, ou seja, a interpretação das cláusulas contratuais deve ser interpretada sempre em favor do
consumidor.

O artigo 48 do Código de Defesa do Consumidor, a seu turno, prevê o Princípio da Vinculação Pré-
Contratual, ou seja, as declarações de vontade feitas por escrito (ofertas, propostas, recibos, orçamentos)
vinculam o fornecedor, ensejando na sua execução.

Os artigos 48 e 84 do Código de Defesa do Consumidor consagram o Princípio da Preservação dos Negócios


Jurídicos, segundo o qual se pode determinar qualquer providência a fim de que seja assegurado o resultado
prático equivalente ao adimplemento da obrigação de fazer, razão pela qual a solução de extinção do contrato e
a sua conversão em perdas e danos, devem ser tratado como última opção, sendo as hipóteses do artigo 35 do
Código de Defesa do Consumidor, pois busca o cumprimento equivalente.

Obs.: Quando o fornecedor se recusar, sob a alegação de falta de estoque não comunicada antes do pagamento,
o consumidor poderá se valer das hipóteses previstas no artigo 35 do Código de Defesa do Consumidor.

Pág. 26 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Segundo o princípio do pacta sunt servanda, o contrato faz lei entre as partes, buscando impedir a
desistência do contrato de forma unilateral. Contudo, tal regra não é absoluta, admitindo exceções.

Vejamos:

Conforme disposto no art. 49 do CDC, o consumidor pode desistir do contrato sem motivo, dentro do prazo
de reflexão de 7 dias, a contar da sua assinatura ou do recebimento do produto, desde que o contrato tenha sido
celebrado fora do estabelecimento comercial (Direito de arrependimento).

Atenção: Nem mesmo as despesas postais para a devolução do produto serão arcadas pelo fornecedor (tais
despesas são inerentes aos riscos do negócio).

Vale ressaltar que o direito de arrependimento não poderá ser exercido em duas situações:
• Produto danificado ou desgastado pelo consumidor no prazo de reflexão;
• Produto por encomenda ou personalizado.

O artigo 50 do Código de Defesa do Consumidor, que trata da garantia contratual ou convencional


(garantia de fábrica), difere da garantia legal (que é inafastável até mesmo por disposição contratual), tendo em
vista que não é obrigatória, se tratando de uma faculdade daquele fornecedor, desde que respeitado as seguintes
regras:
o É complementar à garantia legal, sendo que a garantia contratual deve ser somada a garantia legal, não
podendo ter seu prazo suprimido sob tal alegação;
o Deve ser escrita com especificação clara de sua cobertura, a forma e o lugar em que poderão ser exercidas,
assim como eventual ônus por parte do consumidor.

O artigo 51 do Código de Defesa do Consumidor, traz o rol exemplificativo das cláusulas abusivas e as
declarando nulas de pleno direito.

Atenção: a declaração de uma cláusula abusiva não invalida o contrato, salvo quando a sua ausência, apesar dos
esforços de integração, decorrer ônus excessivo a qualquer das partes.

DEFESA DO CONSUMIDOR NOS CONTRATOS DE OUTORGA DE CRÉDITO, OU SEJA, QUE GEREM DÉBITOS
AO CONSUMIDOR, VISA A REDUÇÃO DO SUPERENDIVIDAMENTO.

O artigo 52 do Código de Defesa do Consumidor, prevê quais são as informações obrigatórias a serem
previstas em um contrato de crédito; o valor máximo da multa por atraso (dois por cento do valor da infração) e
o direito que o consumidor tem para a liquidação total ou parcial antecipada, mediante redução proporcional dos
juros e demais acréscimos.

Pág. 27 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Atenção: Súmula 381 do STJ: Nos contratos bancários é vedado ao julgador conhecer, de ofício, a abusividade das
cláusulas.

O artigo 54-B do Código de Defesa do Consumidor elenca informações indispensáveis, fora as previstas no
artigo 52, que devem constar nos contratos e demais instrumentos que ofertem crédito e na venda a prazo.

O artigo 53 do Código de Defesa do Consumidor proíbe, nos contratos de compra e venda de móveis ou
imóveis, mediante pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantias, as cláusulas de
perdimento ou decaimento.

O artigo 54 do Código de Defesa do Consumidor trata dos requisitos para os contratos de adesão. Por
contrato de adesão entende-se aquele elaborado pelo contratante e que não há possibilidade de discussão
substancial das cláusulas.

Obs.: O contrato de adesão admite cláusula resolutória, ou seja, em caso de inadimplência pode haver a resolução
do contrato ou a purga da mora, a escolha do consumidor.

Pág. 28 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
SUPERENDIVIDAMENTO

1. O que é superendividamento?

Ocorre o superendividamento quando o consumidor, pessoa física, que está de boa-fé não consegue pagar
a totalidade de suas dívidas de consumo (exigíveis e vincendas) sem comprometer o seu mínimo existencial.

A) Superendividado Ativo:
Pode ser definido como aquele que se endivida voluntariamente. Sendo:
• Ativo consciente: entendido como aquele que, de má-fé, contrai dívidas sabendo que não poderá pagá-
las. Há a intenção de fraudar credores. O Superendividamento ativo consciente não é protegido pelo CDC, já que
é exigido boa-fé.
• Ativo inconsciente: entendido como aquele que agiu de forma impulsiva e sem má-fé, deixando de
fiscalizar seus gastos.

B) Superendividado Passivo:
O superendividado passivo é aquele que se endivida em razão de fatores externos, como desemprego; redução
do salário; ampliação da família; doença etc. É protegido pelo CDC.

Vejamos as disposições normativas sobre o tema:

“Art. 4º, CDC. A Política Nacional das Relações de Consumo tem por
objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus
interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem
como a transparência e harmonia das relações de consumo,
atendidos os seguintes princípios:
(...)
IX - fomento de ações direcionadas à educação financeira e
ambiental dos consumidores;
X - prevenção e tratamento do superendividamento como forma de
evitar a exclusão social.” (grifo nosso)

“Art. 5º Para a execução da Política Nacional das Relações de


Consumo, contará o poder público com os seguintes instrumentos,
entre outros:
(...)

Pág. 29 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
VI - instituição de mecanismos de prevenção e tratamento
extrajudicial e judicial do superendividamento e de proteção do
consumidor pessoa natural;
VII - instituição de núcleos de conciliação e mediação de conflitos
oriundos de superendividamento.” (grifo nosso)

“Art. 6º, CDC. São direitos básicos do consumidor:


(...)
XI - a garantia de práticas de crédito responsável, de educação
financeira e de prevenção e tratamento de situações de
superendividamento, preservado o mínimo existencial, nos termos
da regulamentação, por meio da revisão e da repactuação da dívida,
entre outras medidas;
XII - a preservação do mínimo existencial, nos termos da
regulamentação, na repactuação de dívidas e na concessão de
crédito;
XIII - a informação acerca dos preços dos produtos por unidade de
medida, tal como por quilo, por litro, por metro ou por outra
unidade, conforme o caso.” (grifo nosso)

“Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
XVII - condicionem ou limitem de qualquer forma o acesso aos órgãos
do Poder Judiciário;
XVIII - estabeleçam prazos de carência em caso de impontualidade
das prestações mensais ou impeçam o restabelecimento integral dos
direitos do consumidor e de seus meios de pagamento a partir da
purgação da mora ou do acordo com os credores;” (grifo nosso)

A Lei nº 14.181/2021 também acrescentou o Capítulo VI-A ao CDC tratando dos seguintes temas:
✓ Prevenção do superendividamento da pessoa natural;
✓ Crédito responsável e
✓ Educação financeira do consumidor.

Fase conciliatória [processo de repactuação de dívidas]:


A requerimento do consumidor superendividado pessoa natural, o juiz poderá instaurar processo de
repactuação de dívidas, com vistas à realização de audiência conciliatória, presidida por ele ou por conciliador
credenciado no juízo, com a presença de todos os credores de dívidas previstas no art. 54-A do CDC, na qual o
consumidor apresentará proposta de plano de pagamento com prazo máximo de 5 (cinco) anos, preservados o

Pág. 30 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
mínimo existencial, nos termos da regulamentação, e as garantias e as formas de pagamento originalmente
pactuadas.
E se os credores não comparecerem? Suspensão da exigibilidade da dívida + interrupção dos juros de mora
+ sujeição ao plano apresentado pelo consumidor.

E se os credores comparecerem, mas não aceitarem? A requerimento do consumidor, será instaurado um


procedimento específico de repactuação de dívida.

Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que decorrentes de relações de consumo:


• Oriundas de contratos celebrados dolosamente sem o propósito de realizar pagamento;
• Dívidas provenientes de contratos de crédito com garantia real;
• De financiamentos imobiliários e de
• Crédito rural.

Compete concorrente e facultativamente aos órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional de Defesa
do Consumidor (como o PROCON) a fase conciliatória e preventiva do processo de repactuação de dívidas.

O pedido do consumidor do processo de repactuação de dívidas não importará em declaração de


insolvência civil e poderá ser repetido somente após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contados da liquidação
das obrigações previstas no plano de pagamento homologado, sem prejuízo de eventual repactuação.

Judicial [processo por superendividamento]:


Se não houver êxito na conciliação em relação a quaisquer credores, o juiz, a pedido do consumidor,
instaurará processo por superendividamento para revisão e integração dos contratos e repactuação das dívidas
remanescentes mediante plano judicial compulsório e procederá à citação de todos os credores cujos créditos
não tenham integrado o acordo porventura celebrado. Vide 104-B, CDC.

“Art. 104-A. A requerimento do consumidor superendividado


pessoa natural, o juiz poderá instaurar processo de repactuação de
dívidas, com vistas à realização de audiência conciliatória, presidida
por ele ou por conciliador credenciado no juízo, com a presença de
todos os credores de dívidas previstas no art. 54-A deste Código, na
qual o consumidor apresentará proposta de plano de pagamento
com prazo máximo de 5 (cinco) anos, preservados o mínimo
existencial, nos termos da regulamentação, e as garantias e as
formas de pagamento originalmente pactuadas. (Incluído pela
Lei nº 14.181, de 2021)
§ 1º Excluem-se do processo de repactuação as dívidas, ainda que
decorrentes de relações de consumo, oriundas de contratos
celebrados dolosamente sem o propósito de realizar pagamento,

Pág. 31 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
bem como as dívidas provenientes de contratos de crédito com
garantia real, de financiamentos imobiliários e de crédito rural.
(Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 2º O não comparecimento injustificado de qualquer credor, ou de
seu procurador com poderes especiais e plenos para transigir, à
audiência de conciliação de que trata o caput deste artigo acarretará
a suspensão da exigibilidade do débito e a interrupção dos encargos
da mora, bem como a sujeição compulsória ao plano de pagamento
da dívida se o montante devido ao credor ausente for certo e
conhecido pelo consumidor, devendo o pagamento a esse credor ser
estipulado para ocorrer apenas após o pagamento aos credores
presentes à audiência conciliatória. (Incluído pela Lei nº 14.181,
de 2021)
§ 3º No caso de conciliação, com qualquer credor, a sentença judicial
que homologar o acordo descreverá o plano de pagamento da dívida
e terá eficácia de título executivo e força de coisa julgada. (Incluído
pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 4º Constarão do plano de pagamento referido no § 3º deste artigo:
(Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
I - medidas de dilação dos prazos de pagamento e de redução dos
encargos da dívida ou da remuneração do fornecedor, entre outras
destinadas a facilitar o pagamento da dívida; (Incluído pela Lei nº
14.181, de 2021)
II - referência à suspensão ou à extinção das ações judiciais em
curso; (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
III - data a partir da qual será providenciada a exclusão do
consumidor de bancos de dados e de cadastros de inadimplentes;
(Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
IV - condicionamento de seus efeitos à abstenção, pelo consumidor,
de condutas que importem no agravamento de sua situação de
superendividamento. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 5º O pedido do consumidor a que se refere o caput deste artigo
não importará em declaração de insolvência civil e poderá ser
repetido somente após decorrido o prazo de 2 (dois) anos, contado
da liquidação das obrigações previstas no plano de pagamento
homologado, sem prejuízo de eventual repactuação. (Incluído
pela Lei nº 14.181, de 2021)” (grifo nosso)

Pág. 32 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
“Art. 104-B, § 1º Serão considerados no processo por
superendividamento, se for o caso, os documentos e as informações
prestadas em audiência.
§ 2º No prazo de 15 (quinze) dias, os credores citados juntarão
documentos e as razões da negativa de aceder ao plano voluntário
ou de renegociar.
§ 3º O juiz poderá nomear administrador, desde que isso não onere
as partes, o qual, no prazo de até 30 (trinta) dias, após cumpridas as
diligências eventualmente necessárias, apresentará plano de
pagamento que contemple medidas de temporização ou de
atenuação dos encargos.
§ 4º O plano judicial compulsório assegurará aos credores, no
mínimo, o valor do principal devido, corrigido monetariamente por
índices oficiais de preço, e preverá a liquidação total da dívida, após
a quitação do plano de pagamento consensual previsto no art. 104-
A deste Código, em, no máximo, 5 (cinco) anos, sendo que a primeira
parcela será devida no prazo máximo de 180 (cento e oitenta) dias,
contado de sua homologação judicial, e o restante do saldo será
devido em parcelas mensais iguais e sucessivas.” (grifo nosso)

“Art. 104-C. Compete concorrente e facultativamente aos órgãos


públicos integrantes do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor
a fase conciliatória e preventiva do processo de repactuação de
dívidas, nos moldes do art. 104-A deste Código, no que couber, com
possibilidade de o processo ser regulado por convênios específicos
celebrados entre os referidos órgãos e as instituições credoras ou
suas associações. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 1º Em caso de conciliação administrativa para prevenir o
superendividamento do consumidor pessoa natural, os órgãos
públicos poderão promover, nas reclamações individuais, audiência
global de conciliação com todos os credores e, em todos os casos,
facilitar a elaboração de plano de pagamento, preservado o mínimo
existencial, nos termos da regulamentação, sob a supervisão desses
órgãos, sem prejuízo das demais atividades de reeducação financeira
cabíveis. (Incluído pela Lei nº 14.181, de 2021)
§ 2º O acordo firmado perante os órgãos públicos de defesa do
consumidor, em caso de superendividamento do consumidor pessoa
natural, incluirá a data a partir da qual será providenciada a
exclusão do consumidor de bancos de dados e de cadastros de
inadimplentes, bem como o condicionamento de seus efeitos à

Pág. 33 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
abstenção, pelo consumidor, de condutas que importem no
agravamento de sua situação de superendividamento,
especialmente a de contrair novas dívidas. (Incluído pela Lei nº
14.181, de 2021)” (grifo nosso)

Pág. 34 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
CRIMES NO CDC

Os delitos específicos do CDC são crimes de perigo, ou seja, independem da efetiva ocorrência de dano para
sua consumação.

Prevê Crimes culposos;


São crimes punidos com detenção e multa/ ou multa;
Todos os crimes são de Ação penal pública incondicionada;
No CDC não tem atenuantes, aumento de pena e qualificadoras, só traz agravantes;

Os crimes do CDC são:


• Todos de Menor Potencial Ofensivo, portanto, têm pena máxima de 2 anos;
• Regidos pela Lei 9.099 e de competência do JEC;
• Passíveis de suspensão condicional do processo (pena mínima inferior a 1 ano);
• De ação penal pública incondicionada;
• Afiançáveis pelo delegado.

“Art. 77, CDC. A pena pecuniária prevista nesta Seção será fixada em
dias-multa, correspondente ao mínimo e ao máximo de dias de
duração da pena privativa da liberdade cominada ao crime. Na
individualização desta multa, o juiz observará o disposto no art. 60,
§1° do Código Penal.” (grifo nosso)

Lembrar!
Deixar de entregar termo de garantia ao consumidor é crime contra as relações de consumo.
Deixar de entregar nota fiscal é crime tributário.

Pág. 35 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
QUESTÕES COMPLEMENTARES

Jurisprudência em Teses, Edição 181 - 4) “A propositura de múltiplas ações civis públicas, em diversas
comarcas, com a finalidade de reduzir o valor das mensalidades na rede privada de ensino, em decorrência dos
atos oficiais de autoridades públicas em combate a pandemia da covid-19, implica a prevenção do juízo em que
fora proposta a primeira ação, nos termos do art. 2º, parágrafo único, da Lei 7.347/95”. Julgados: CC 175936/MA,
Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 25/08/2021, DJe 31/08/2021.

“A lanchonete responde pela reparação de danos sofridos pelo consumidor que foi vítima de crime
ocorrido no drive-thru do estabelecimento comercial. A lanchonete, ao disponibilizar o serviço de drive-thru em
troca dos benefícios financeiros indiretos decorrentes desse acréscimo de conforto aos consumidores, assumiu o
dever implícito de lealdade e segurança. A empresa, ao oferecer essa modalidade de compra, aumentou os seus
ganhos, mas, por outro lado, chamou para si o ônus de fornecer a segurança legitimamente esperada em razão
dessa nova atividade”. STJ. 4ª Turma. REsp 1450434-SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 18/09/2018
(Info 637).

Jurisprudência em Teses, Edição 161, 3) “Aplica-se o prazo prescricional do art. 27 do CDC [5 anos] às ações
de repetição de indébito por descontos indevidos decorrentes de defeito na prestação do serviço bancário.
Julgados: AgInt no AREsp 1720909/MS, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em 26/10/2020,
DJe 24/11/2020;

“A vedação à denunciação da lide prevista no art. 88 do CDC não se restringe à responsabilidade de


comerciante por fato do produto (art. 13 do CDC), sendo APLICÁVEL também nas demais hipóteses de
responsabilidade civil por acidentes de consumo (arts. 12 e 14 do CDC)”. STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp
694980/MS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 22/09/2015.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor, a responsabilidade dos fornecedores pelos danos ao
consumidor decorrentes de vícios do produto é extracontratual (porque decorre da lei - CDC), objetiva e solidária.

CDC, art. 82. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são legitimados concorrentemente:
I – o Ministério Público;
II – a união, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;
III – as entidades e órgãos da administração pública, direta ou indireta, ainda que sem personalidade
jurídica, especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código;
IV – as associações legalmente constituídas há pelo menos 1 (um) ano e que incluam entre seus fins
institucionais a defesa dos interesses e direitos protegidos por este Código, dispensada a autorização assemblear.
PORÉM, se a questão mencionar “de acordo com o entendimento jurisprudencial” devemos incluir no rol
de legitimados a DEFENSORIA.

Pág. 36 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
É legítima a recusa da operadora de plano de saúde em custear medicamento importado, não
nacionalizado, sem o devido registro pela ANVISA, em atenção ao disposto no art. 10, V, da Lei nº 9.656/98, sob
pena de afronta aos arts. 66 da Lei nº 6.360/76 e 10, V, da Lei nº 6.437/76 (REsp 1712163/SP, Rel. Ministro
MOURA RIBEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 08/11/2018, DJe 26/11/2018)

Necessária a realização da distinção (distinguishing) entre o entendimento firmado no precedente


vinculante e a hipótese concreta dos autos, na qual o medicamento (Thiotepa/Tepadina) prescrito à beneficiária
do plano de saúde, embora se trate de fármaco importado ainda não registrado pela ANVISA, teve a sua
importação excepcionalmente autorizada pela referida Agência Nacional, sendo, pois, de cobertura obrigatória
pela operadora de plano de saúde. (REsp n. 1.923.107/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, DJe
de 16/8/2021.)

O plano de saúde coletivo pode ser rescindido ou suspenso imotivadamente (independentemente da


existência de fraude ou inadimplência), após a vigência do período de doze meses e mediante prévia notificação
do usuário com antecedência mínima de sessenta dias (artigo 17 da Resolução Normativa ANS 195/2009). Nada
obstante, no caso de usuário em estado de saúde grave, independentemente do regime de contratação do plano
de saúde (coletivo ou individual), deve-se aguardar a conclusão do tratamento médico garantidor da
sobrevivência e/ou incolumidade física para se pôr fim à avença. (AgInt no AREsp n. 1.433.637/SP, relator
Ministro Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe de 23/5/2019.)

Não é abusiva a negativa de custeio, pela operadora do plano de saúde, do tratamento de fertilização in
vitro, quando não houver previsão contratual expressa. O art. 10, III, da Lei nº 9.656/98 estabelece que a
“inseminação artificial” não é um procedimento de cobertura obrigatória pelos planos de saúde. [...] . STJ. 3ª
Turma. REsp 1794629/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 18/02/2020.
STJ. 4ª Turma. REsp 1823077-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 20/02/2020 (Info 666).

Com a Lei 14.454/2022, o rol da ANS passou a ser exemplificativo, ou seja, os planos continuam obrigados
a custear tratamentos e procedimentos que não estejam na lista da ANS.

Pressupostos da responsabilidade civil do fornecedor pelo fato do produto = Conduta + Nexo + Dano +
Elemento especial (DEFEITO). O defeito é pressuposto especial à responsabilidade civil do fornecedor pelo fato
do produto.

Boletim nº 25 da Jurisprudência em Teses do STJ: Tese 13. Ajuizada ação coletiva atinente
a macrolide geradora de processos multitudinários, suspendem-se as ações individuais, de ofício e
independentemente do consentimento do autor da respectiva lide individual, no aguardo do julgamento da ação
coletiva.

Informativo 722 – STJ - O Ministério Público não possui legitimidade para promover a execução coletiva do
art. 98 do Código de Defesa do Consumidor por ausência de interesse público ou social a justificar sua atuação.

Pág. 37 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Os direitos individuais homogêneos podem ser executados de 3 formas: execução individual, coletiva (do
art. 98 – que inclui o mp) ou residual (fluid recovery – art. 100).

Porém, embora o art. 98 do CDC faça referência aos legitimados elencados no art. 82 do CDC, cumpre
observar que, na fase de execução da sentença coletiva, a cognição judicial se limita à função de identificar o
beneficiário do direito reconhecido na sentença (cui debeatur) e a extensão individual desse direito (quantum
debeatur), pois, nessa fase processual, a controvérsia acerca do núcleo de homogeneidade do direito já se
encontra superada.
Essa particularidade da fase de execução constitui óbice à atuação do Ministério Público na promoção da
execução coletiva, pois o interesse social, que justificaria a atuação do parquet, à luz do art. 129, inciso III, da
Constituição Federal, está vinculado ao núcleo de homogeneidade do direito, sobre o qual não se controverte na
fase de execução.
LOGO, nessa linha de entendimento, impõe-se declarar a ilegitimidade ativa do Ministério Público para o
pedido de cumprimento da sentença coletiva, sem prejuízo da legitimidade para a execução residual prevista no
art. 100 do CDC.

A ação civil pública foi criada pela lei nº 6.938/81 (Política Nacional do Meio-ambiente), regulamentada
pela lei nº 7.347/85 (LACP), consolidada pela Constituição Federal (art. 129, III) e potencializada pelo Código de
Defesa do Consumidor.

“O superendividamento pode ser definido como impossibilidade global do devedor-pessoa física,


consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo (excluídas as dívidas
com o Fisco, oriundas de delitos e alimentos) em um tempo razoável com sua capacidade atual de rendas e
patrimônio.” (MARQUES, Claudia Lima; BENJAMIN, Antonio Herman V.; MIRAGEM, Bruno. Comentários ao Código
de Defesa do Consumidor. 3ª ed. São Paulo: RT, 2010, p. 1.051).

Pág. 38 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
PRINCIPAIS TEMAS SOBRE PLANOS DE SAÚDE E TEMAS DE CONSUMO NA JURISPRUDÊNCIA DO STJ

1. Aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor

O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos planos comerciais, que podem ser de vários tipos:
A. Individuais e familiares;
B. Coletivos: podem ser por adesão (sindicato ou entidade de classe - OAB/CAASP, por exemplo) ou
empresariais.

De acordo com a Súmula 308 do STJ, aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos contratos de plano
de saúde, salvo os administrados por entidades de autogestão.

O que é Autogestão? É a modalidade na qual é classificada uma operadora de planos privados de assistência
à saúde que presta o serviço a um grupo fechado de pessoas, que obrigatoriamente devam pertencer à mesma
classe profissional ou terem vínculo com a empresa instituidora e/ou patrocinadora e/ou mantenedora da
operadora de planos de assistência à saúde.

2. Doenças preexistentes

A lei nº 9.656/98 dispõe sobre planos e seguros privados de assistência à saúde. Em seu artigo 11 estabelece
que é vedada a exclusão de cobertura às doenças e lesões preexistentes à data de contratação dos produtos de
que tratam o inciso I e o § 1o do art. 1° desta Lei após vinte e quatro meses de vigência do aludido instrumento
contratual, cabendo à respectiva operadora o ônus da prova e da demonstração do conhecimento prévio do
consumidor ou beneficiário.

O STJ, através da Súmula 609, por sua vez, aponta que a recusa de cobertura securitária, sob a alegação de
doença preexistente, é ilícita se não houve a exigência de exames médicos prévios à contratação ou a
demonstração de má-fé do segurado.

3. Reajustes

1) Reajuste anual:
A. Planos individuais / familiares: a ANS determina o percentual máximo de reajuste anual dos planos
individuais/familiares (em 2022 foi de 15,50% - o mais alto até agora).
B. Planos coletivos: as cláusulas de reajuste dos planos coletivos com 30 ou mais beneficiários são
estipuladas por livre negociação entre a pessoa jurídica contratante e a operadora ou administradora de
benefícios contratada. A justificativa do percentual proposto deve ser fundamentada pela operadora e seus
cálculos disponibilizados para conferência pelas pessoas jurídicas contratantes. Dessa forma, a participação do
contratante é fundamental no ato da negociação do reajuste, pois ele pode solicitar e ter acesso a informações
sobre receitas e despesas de seus beneficiários, conseguindo melhores condições de negociar os valores.

Pág. 39 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
O STJ admite esse livre reajuste, desde que não haja abusividade.

2) Reajuste por faixa etária:


A lei 9.656/98, em seu artigo 15, assim dispõe: a variação das contraprestações pecuniárias estabelecidas
nos contratos de produtos de que tratam o inciso I e o § 1° do art. 1º desta Lei, em razão da idade do consumidor,
somente poderá ocorrer caso estejam previstas no contrato inicial as faixas etárias e os percentuais de reajustes
incidentes em cada uma delas, conforme normas expedidas pela ANS, ressalvado o disposto no art. 35-E.

O STJ assim definiu: "O reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou familiar (também se aplica
aos coletivos por analogia) fundado na mudança de faixa etária do beneficiário é válido desde que (i) haja previsão
contratual, (ii) sejam observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais reguladores e (iii) não sejam
aplicados percentuais desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base atuarial idônea, onerem
excessivamente o consumidor ou discriminem o idoso".

3) Reajuste por revisão técnica ou semestralidade:


Teve a sua aplicabilidade suspensa pela ANS, não sendo, por enquanto, aplicada.

4. Recusas proibidas

O Artigo 14 da Lei 9.656/98 assim dispõe: Em razão da idade do consumidor, ou da condição de pessoa
portadora de deficiência, ninguém pode ser impedido de participar de planos privados de assistência à saúde.
(Redação dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001) (Vide Lei nº 12.764, de 2012)

5. Período de carência

Artigo 12 da Lei 9.656/98: São facultadas a oferta, a contratação e a vigência dos produtos (...), segundo as
seguintes exigências mínimas:
V- Quando fixar períodos de carência:
a) prazo máximo de trezentos dias para partos a termo;
b) prazo máximo de cento e oitenta dias para os demais casos;
c) prazo máximo de vinte e quatro horas para a cobertura dos casos de urgência e emergência;

6. Autolesão ou tentativa de suicídio

Artigo 10-C da Lei 9.656/98: Os produtos de que tratam o inciso I do caput e o § 1º do art. 1º desta Lei
deverão incluir cobertura de atendimento à violência autoprovocada e às tentativas de suicídio.

7. Rescisão imotivada

Pág. 40 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
O artigo 13 da Lei 9.656/98, assim dispõe: (...) Parágrafo único. Os produtos de que trata o caput,
contratados individualmente, terão vigência mínima de um ano, sendo vedadas:
(...)
II - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, salvo por fraude ou não-pagamento da mensalidade
por período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze meses de vigência do contrato, desde
que o consumidor seja comprovadamente notificado até o quinquagésimo dia de inadimplência; e
III - a suspensão ou a rescisão unilateral do contrato, em qualquer hipótese, durante a ocorrência de
internação do titular (também se aplica aos coletivos com menos de 30 beneficiários).

O contrato coletivo (empresarial ou por adesão) pode ser rescindido unilateral e imotivadamente, desde
que:
I. haja cláusula expressa;
II. contrato em vigência por período de pelo menos 12 meses;
III. notificação com antecedência mínima de 60 dias.

Em qualquer caso, é proibida a rescisão se o segurado está internado ou em estado de saúde grave,
enquanto durar o tratamento.

8. Casos de demissão ou morte do beneficiário no plano coletivo

De acordo com o artigo 30 da Lei 9.656/98: Se contribuir (não pode ser pago integralmente pela empresa)
(...) em decorrência de vínculo empregatício, no caso de rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem
justa causa (ou no caso de morte), é assegurado o direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas
condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho (o STJ entende
que deve ser nas mesmas condições que a empresa está fornecendo, se houve mudança, a mudança também
será aplicada ao demitido ou falecido), desde que assuma o seu pagamento integral (para os casos em que a
empresa pagava algum percentual).

O segurado poderá permanecer com o plano por pelo menos um terço do tempo de permanência do plano,
sendo garantido o mínimo de 6 meses e um máximo de 24 meses.

Também vale para o grupo familiar inscrito quando da vigência do contrato de trabalho.

O direito será perdido se for admitido em nova empresa.

9. Casos de aposentadoria do beneficiário

O Artigo 31 da Lei 9.656/98 assim dispõe: Desde que contribuir (...) em decorrência de vínculo empregatício,
pelo prazo mínimo de dez anos, é assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas mesmas condições

Pág. 41 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu
pagamento integral.

Se o período de contribuição for menor terá direito de manutenção como beneficiário a razão de um ano
para cada ano de contribuição, desde que assuma o pagamento integral do mesmo.

10. Questões Genéricas que não se Aplicam aos Planos

A. A embriaguez do segurado não exime a seguradora do pagamento da indenização prevista em contrato


de seguro de vida (Súmula 620 STJ);

B. A indenização securitária é devida quando ausente a comunicação prévia do segurado acerca do atraso
no pagamento do prêmio, por constituir requisito essencial para a suspensão ou resolução do contrato de seguro
(Súmula 616 STJ);

C. O suicídio não é coberto nos dois primeiros anos de vigência do contrato de seguro de vida, ressalvado
o direito do beneficiário à devolução do montante da reserva técnica formada (Súmula 610 STJ);

De olho na jurisprudência:
Julgado 1:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. HOME CARE. INTERNAÇÃO
DOMICILIAR SUBSTITUTIVA DA INTERNAÇÃO HOSPITALAR. INSUMOS NECESSÁRIOS AO TRATAMENTO DE
SAÚDE. COBERTURA OBRIGATÓRIA. CUSTO DO ATENDIMENTO DOMICILIAR LIMITADO AO CUSTO DIÁRIO EM
HOSPITAL.
1. Ação de obrigação de fazer ajuizada em 23/01/2020, da qual foi extraído o presente recurso especial,
interposto em 25/04/2022 e concluso ao gabinete em 10/08/2022.
2. O propósito recursal é decidir sobre a obrigação de a operadora do plano de saúde custear os insumos
necessários ao tratamento médico da usuária, na modalidade de home care (internação domiciliar).
3. Nos termos da jurisprudência desta Corte, é abusiva a cláusula contratual que veda a internação
domiciliar (home care) como alternativa à internação hospitalar. Precedentes.
4. A cobertura de internação domiciliar, em substituição à internação hospitalar, deve abranger os
insumos necessários para garantir a efetiva assistência médica ao beneficiário; ou seja, aqueles insumos a que
ele faria jus acaso estivesse internado no hospital, sob pena de desvirtuamento da finalidade do atendimento
em domicílio, de comprometimento de seus benefícios, e da sua subutilização enquanto tratamento de saúde
substitutivo à permanência em hospital.
5. O atendimento domiciliar deficiente levará, ao fim e ao cabo, a novas internações hospitalares, as
quais obrigarão a operadora, inevitavelmente, ao custeio integral de todos os procedimentos e eventos delas
decorrentes.

Pág. 42 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
6. Hipótese em que deve a recorrida custear os insumos indispensáveis ao tratamento de saúde da
recorrente - idosa, acometida de tetraplegia, apresentando grave quadro clínico, com dependência de
tratamento domiciliar especializado - na modalidade de home care, conforme a prescrição feita pelo médico
assistente, limitado o custo do atendimento domiciliar por dia ao custo diário em hospital.
7. Recurso especial conhecido e provido.
(REsp n. 2.017.759/MS, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em 14/2/2023, DJe de
16/2/2023.)

Julgado 2:

O art. 13, parágrafo único, II, da Lei nº 9.656/98, que veda a resilição unilateral dos contratos de plano
de saúde, não se aplica às modalidades coletivas, tendo incidência apenas nas espécies individuais ou
familiares. No entanto, no caso de planos coletivos empresariais com menos de trinta usuários, em vista da
vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não se admite a simples
rescisão unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo necessidade de motivação idônea. STJ. 4ª
Turma. REsp 1.776.047-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 23/04/2019 (Info 646).

Julgado 3:

A operadora de plano de saúde não pode negar o fornecimento de tratamento prescrito pelo médico sob
o pretexto de que a sua utilização em favor do paciente está fora das indicações descritas na bula/manual
registrado na ANVISA (uso off-label). STJ. 3ª Turma. REsp 1.721.705-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em
28/08/2018 (Info 632).

Julgado 4:

REGRA: em regra, os planos de saúde não são obrigados a fornecer medicamentos para tratamento
domiciliar. EXCEÇÕES: Os planos de saúde são obrigados a fornecer: a) os antineoplásicos orais (e
correlacionados); b) a medicação assistida (home care); e c) outros fármacos incluídos pela ANS (Agência
Nacional de Saúde Suplementar) no rol de fornecimento obrigatório. STJ. 3ª Turma. REsp 1.692.938/SP, Rel.
Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/04/2021 (Info 694).

A demora para a autorização da cirurgia indicada como urgente pela equipe médica do hospital próprio
ou credenciado, sem justificativa plausível, caracteriza defeito na prestação do serviço da operadora do plano
de saúde, resultando na sua responsabilização. A operadora de plano de saúde tem responsabilidade solidária
por defeito na prestação de serviço médico, quando o presta por meio de hospital próprio e médicos
contratados, ou por meio de médicos e hospitais credenciados. STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.414.776-SP,
Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 11/02/2020 (Info 666).

Pág. 43 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Fonte: https://dizerodireitodotnet.files.wordpress.com/2023/01/revisao-mpam.pdf. Acessado em:
27/03/2023.

Pág. 44 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
NOÇÕES SOBRE PROCESSO COLETIVO

O CDC trouxe diversos direitos e garantias aos consumidores. Objetivando a efetivação desses direitos e
garantias, trouxe os meios de defesa do consumidor em juízo, tanto de forma coletiva quanto de forma individual.

Direitos Difusos, Coletivos em sentido estrito e individuais homogêneos

O CDC conceituou os direitos coletivos em sentido amplo, conforme esquema a seguir:

DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS (COLETIVOS EM SENTIDO AMPLO)


Direitos Coletivos em sentido estrito Direitos essencialmente coletivos
Direitos Difusos Direitos essencialmente coletivos
Direitos Individuais Homogêneos Direitos acidentalmente coletivos

Nesse sentido:

“Art. 81, CDC. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e


das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título
coletivo.
Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:
I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias
de fato;
II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos
deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja
titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com
a parte contrária por uma relação jurídica base;
III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim
entendidos os decorrentes de origem comum.” (grifo nosso)

Legitimados Concorrentes

O CDC trouxe um rol de legitimados para a tutela coletiva. Vejamos:

“Art. 82, CDC. Para os fins do art. 81, parágrafo único, são
legitimados concorrentemente:
I - o Ministério Público,
II - a União, os Estados, os Municípios e o Distrito Federal;

Pág. 45 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
III - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta ou
indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente
destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos por este
código;
IV - as associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e
que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses e
direitos protegidos por este código, dispensada a autorização
assemblear.”

Obs.: Apesar do CDC não mencionar a Defensoria Pública no rol de legitimados, em razão da vigência de um
microssistema de tutela coletiva, é aplicável a Lei de Ação Civil Pública. A LACP prevê expressamente a
legitimidade da Defensoria.

Tutela específica:
Conforme previsto no art. 84 do CDC, na ação que tiver por objeto o cumprimento da obrigação de fazer
ou não fazer, o juiz concederá a tutela específica da obrigação. Não sendo possível, determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.

Vale ressaltar que a conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas optar
o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático correspondente.

Destaque-se que o juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação, fixando prazo razoável
para o cumprimento do preceito.

Além disso, para a tutela específica ou para a obtenção do resultado prático equivalente, poderá o juiz
determinar as medidas necessárias, tais como busca e apreensão, remoção de coisas e pessoas, desfazimento de
obra, impedimento de atividade nociva, além de requisição de força policial.

Custas, emolumentos e honorários:

Na esteira do art. 87 do CDC, nas ações coletivas de que trata o código não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem condenação da associação autora, salvo
comprovada má-fé, em honorários de advogados, custas e despesas processuais.

Somente em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura
da ação serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas, sem prejuízo da
responsabilidade por perdas e danos.

Pág. 46 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
Coisa Julgada:

Além da legitimidade, a coisa julgada é marcante e peculiar no processo coletivo. Vejamos:

“Art. 103, CDC. Nas ações coletivas de que trata este código, a
sentença fará coisa julgada:
I - erga omnes, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá
intentar outra ação, com idêntico fundamento valendo-se de nova
prova, na hipótese do inciso I do parágrafo único do art. 81;
II - ultra partes, mas limitadamente ao grupo, categoria ou classe,
salvo improcedência por insuficiência de provas, nos termos do
inciso anterior, quando se tratar da hipótese prevista no inciso II do
parágrafo único do art. 81;
III - erga omnes, apenas no caso de procedência do pedido, para
beneficiar todas as vítimas e seus sucessores, na hipótese do inciso
III do parágrafo único do art. 81.”

Tabela comparativa: Coisa Julgada no processo coletivo

Direitos Coletivos em sentido Direitos Individuais


Direitos Difusos
estrito Homogêneos
Eficácia subjetiva = erga Eficácia subjetiva = ultra partes Eficácia subjetiva = erga omnes
omnes
Modo de produção da CJ = Modo de produção da CJ = Modo de produção da CJ = pro et
secundum eventum secundum eventum probationis contra [pouco importa se a sentença
probationis [a sentença de [a sentença de improcedência é de procedência ou improcedência
improcedência por por insuficiência de provas ou o motivo da improcedência, se por
insuficiência de provas permite novo ajuizamento, pretensão infundada ou falta de
permite novo ajuizamento, porque não forma Coisa julgada provas. sempre forma Coisa Julgada
porque não forma Coisa material]. material. É a regra no CPC (art. 487)]
julgada material].
Logo =
Logo = Logo = Sentença procedência: CJ material,
Sentença procedência: CJ Sentença procedência: CJ não pode propor novamente.
material, não pode propor material, não pode propor Sentença extinção processo sem
novamente. novamente. resolução do mérito: não faz CJ
Sentença extinção processo Sentença extinção processo sem material, pode propor de novo.
sem resolução do mérito: não resolução do mérito: não faz CJ
material, pode propor de novo.

Pág. 47 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional
faz CJ material, pode propor *Sentença improcedência por Sentença improcedência por
de novo. pretensão infundada: CJ pretensão infundada: CJ material,
Sentença improcedência por material, não pode propor de não pode propor de novo.
pretensão infundada: CJ novo. Sentença de improcedência por
material, não pode propor de Sentença de improcedência por insuficiência de provas: CJ material,
novo. insuficiência de provas: CJ não pode propor de novo.
Sentença de improcedência formal. Pode propor de novo +
por insuficiência de provas: CJ novas provas.
formal. Pode propor de novo +
novas provas.
Extensão ao plano Extensão ao plano Extensão ao plano individual =
individual = secundum individual = secundum eventum secundum eventum litis [produzida
eventum litis [produzida litis [produzida quando a quando a demanda for julgada
quando a demanda for julgada demanda for julgada procedente. Se a ação for julgada
procedente. Se a ação for procedente. Se a ação for improcedente, ela poderá ser
julgada improcedente, ela julgada improcedente, ela reproposta, pois a decisão ali
poderá ser reproposta, pois a poderá ser reproposta, pois a proferida não produzirá coisa julgada
decisão ali proferida não decisão ali proferida não material]
produzirá coisa julgada produzirá coisa julgada material]
material]

Secundum eventum litis


= segundo resultado da
demanda
Fonte: Dizer o Direito. CAVALCANTE, Márcio André Lopes (adaptado)

Pág. 48 de 48
Exame de Ordem
Damásio Educacional

Você também pode gostar