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Sanções Criminais

em Face do Perito

Considerações Iniciais

• Laudos periciais traduzem exercício de função pública, a qual


resulta submissão aos princípios constitucionais que presidem a
Administração Pública.

• Sempre que houver função pública em jogo, os princípios da


legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência,
entram em cena.

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• Os(as) peritos(as) judiciais assumem voluntariamente elevados
deveres públicos, assimilando os rigores de uma relação de sujeição
especial mantida com o Estado.

• São auxiliares de encargo judicial e sempre são pessoas físicas. Daí


por que o fato de um perito ser um profissional que, mesmo não
integrando os quadros do Judiciário, não se exime das elevadas
obrigações públicas, inclusive da obediência ao dever de probidade
administrativa que emerge tanto da Carta Magna (art.37, par.4o),
quanto da legislação infraconstitucional (Lei 8.429/92).

• A tutela da probidade encontra respaldo constitucional direto


no art.37, parágrafo 4º, da Magna Carta, alcançando,
inegavelmente, os(as) peritos(as).

• O laudo pericial envolve a obediência a regras jurídicas


elementares ligadas à interdição à arbitrariedade dos
funcionários públicos, motivação e transparência.

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• Tais normas repercutem nos deveres positivos e negativos dos
peritos. Trata-se de exigir desses profissionais certos deveres
públicos, marcadamente aqueles relacionados à probidade
administrativa, requisito geral de toda e qualquer função
pública.

• Os(as) peritos(as) , enquanto auxiliares do Judiciário, possuem


responsabilidades por seus erros, equívocos ou transgressões,
intencionais ou não. Cuida-se de agentes públicos para fins de
responsabilidade, podendo incorrer, inclusive, no cometimento
de crimes privativos de funcionários públicos.

• Laudos são impugnados diariamente, assim como são


desconsiderados. Nem por isso, obviamente, haverá
responsabilidade pessoal dos peritos.

• As condutas dos (as) peritos (as) podem oscilar, sutilmente,


entre categorias como a culpa, a culpa grave, o erro grosseiro,
ou o dolo administrativo, nas suas variadas modalidades; por
isso, vê-se claramente a complexidade dos conteúdos
potenciais do conceito de perito inidôneo, que perpassa regras,
princípios e valores diversos na legislação especializada do
Código Processual Civil.

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• Um laudo ilícito, confeccionado com desvio de poder, sem
suporte em regras técnicas e racionais, pode refletir o
enriquecimento sem justa causa de alguém, em desfavor do
outro.

• Tanto o perito quanto o juiz responsável pela homologação


originária do laudo revestido de sinais de improbidade,
podem ser chamados à responsabilidade pelos canais
competentes.

• Juízes que apreciam causas de enorme vulto econômico, com


auxiliares peritos na confecção de laudos técnicos, reclamam
uma incidência mais detalhada de monitoramento
correcional. Isso, porque tais autoridades tornam-se mais
vulneráveis e expostas às influências ostensivas ou sutis de
segmentos poderosos.

• As áreas relativas a falências, cível, direito econômico, direito


tributário, entre outras muitas, podem merecer uma atenção
especial, devido ao considerável interesses econômicos ou
políticos em jogo.

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• O(a) Perito(a) é considerado funcionário público
transitório.

• Juízes e peritos(as), como os demais agentes públicos


brasileiros, estão submetidos ao princípio
constitucional da responsabilidade.

CÓDIGO PENAL

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Funcionário público:

• Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos


penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração,
exerce cargo, emprego ou função pública.

Falso testemunho ou falsa perícia:

• Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade


como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em
processo judicial ou administrativo, inquérito policial, ou em
juízo arbitral: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. (Redação
dada pela Lei nº 12.850, de 2013) (Vigência)

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§ 1º As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o crime é
praticado mediante suborno ou se cometido com o fim de obter
prova destinada a produzir efeito em processo penal, ou em
processo civil em que for parte entidade da administração pública
direta ou indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de
28.8.2001)

§ 2º O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no processo


em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou declara a verdade.
(Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

• Art. 343. Dar, oferecer ou prometer dinheiro ou qualquer outra


vantagem a testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete, para fazer afirmação falsa, negar ou calar a verdade
em depoimento, perícia, cálculos, tradução ou
interpretação: (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Pena - reclusão, de três a quatro anos, e multa. (Redação dada


pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

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Parágrafo único. As penas aumentam-se de um sexto a um
terço, se o crime é cometido com o fim de obter prova destinada
a produzir efeito em processo penal ou em processo civil em
que for parte entidade da administração pública direta ou
indireta. (Redação dada pela Lei nº 10.268, de 28.8.2001)

Falsidade Ideológica:

• Art. 299 - Omitir, em documento público ou particular,


declaração que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer
inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com
o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é
público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é
particular.

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Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e
comete o crime prevalecendo-se do cargo, ou se a
falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil,
aumenta-se a pena de sexta parte.

Uso de documento falso:

• Art. 304 - Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou


alterados, a que se referem os arts. 297 a 302:

Pena - a cominada à falsificação ou à alteração

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Falsidade de atestado médico:

• Art. 302 - Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado


falso:

Pena - detenção, de um mês a um ano.

Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro,


aplica-se também multa.

Falsificação de documento público:

• Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público,


ou alterar documento público verdadeiro:

Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.

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§ 1º Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

§ 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o


emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou
transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os
livros mercantis e o testamento particular.

§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz


inserir: (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000) (...)

III – em documento contábil ou em qualquer outro documento


relacionado com as obrigações da empresa perante a previdência
social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter
constado. (Incluído pela Lei nº 9.983, de 2000)

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Exploração de prestígio:

• Art. 357 - Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra


utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do
Ministério Público, funcionário de justiça, perito, tradutor,
intérprete ou testemunha:

Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.

Parágrafo único. As penas aumentam-se de um terço, se o agente


alega ou insinua que o dinheiro ou utilidade também se destina a
qualquer das pessoas referidas neste artigo.

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DECRETO-LEI Nº 3.689, DE 3 DE OUTUBRO DE 1941.
CÓDIGO DE PROCESSO PENAL

Dos peritos e intérpretes:

• Art. 275. O perito, ainda quando não oficial, estará sujeito à


disciplina judiciária.

• Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

• Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar


o encargo, sob pena de multa (...), salvo escusa atendível.

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Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa
causa, provada imediatamente:

a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;

b) não comparecer no dia e local designados para o exame;

c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja


feita, nos prazos estabelecidos.

• Art. 278. No caso de não-comparecimento do perito, sem justa


causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.

• Art. 279. Não poderão ser peritos:

I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada


nos incisos I e IV do art. 69 do Código Penal;
II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado
anteriormente sobre o objeto da perícia;
III - os analfabetos e os menores de 21 anos.

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• Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for
aplicável, o disposto sobre suspeição dos juízes.

Sentença proferida pelo juiz José Domingues Filho, titular da 6ª Vara Cível de
Dourados, julgou parcialmente procedente a ação de improbidade administrativa
movida pelo Ministério Público contra um psicólogo, condenado ao pagamento de
multa civil de 100 vezes o valor dos honorários periciais, suspensão dos direitos
políticos por cinco anos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber
incentivos e benefícios por três anos.
O Ministério Público ingressou com ação civil pública contra o psicólogo R. de O.U.
porque, valendo-se de sua função pública, exigia vantagem indevida de familiares de
detentos para emissão de laudo pericial favorável, elaborada com a função de avaliar a
possibilidade de concessão de progressão de regime de cumprimento de pena, como
concessão de livramento condicional. Alega o MP que sua conduta foi desonesta e
desleal, causando danos ao erário público.
Atuando como perito nomeado pelo juiz da execução penal, o réu foi preso em
flagrante delito porque exigiu de G.A.A. a quantia de R$ 800,00 para expedir laudo
psicológico jurídico favorável ao seu filho preso.

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Em contestação, o réu afirmou que jamais procurou qualquer familiar de preso, assim
como não exigiu vantagem para elaboração de laudos, e que o fato ocorrido em 5 de
outubro de 2012 foi claramente um flagrante preparado.
Para o juiz que proferiu a sentença, José Domingues Filho, o flagrante preparado,
embora atípico penalmente, não desnatura a conduta ímproba do agente público e,
tendo em conta a gravidade extrema do comportamento, por advir de perito nomeado
como pessoa de confiança do juiz da execução penal, como atestam os autos, a
improbidade em tela deve ser apenada na forma máxima do inciso III do art. 12 da Lei
de Improbidade Administrativa.

O magistrado excluiu a pretensão do MP de ressarcimento do dano, pois os prejuízos


não foram suportados pelo Estado, uma vez que o dano material se deu a particulares
que podem buscar as vias legais apropriadas para o ressarcimento dos valores.

Processo nº 0802071-

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