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ÉTICA PROFISSIONAL

Profº Rafael de Almeida Pujol


Das Infrações e das Sanções Disciplinares (art. 34 a 43 EAOAB)

Art. 34. Constitui infração disciplinar:

“é o descumprimento voluntário de uma norma administrativa para a qual


se prevê sanção cuja imposição é decidida por uma autoridade no
exercício de função administrativa – ainda que não aplicada nesta esfera”
Bandeira de Mello
Das Infrações e das Sanções Disciplinares (art. 34 a
43 EAOAB)

Ato voluntário intenção – dolo genérico

Princípio da
sanção previamente estabelecida
legalidade

no exercício de função administrativa


Autoridade
(Tribunais de Ética)

Infrator advogado ou estagiário regularmente inscrito


E quem exerce a profissão sem ser
advogado?

“Todo aquele que exerce ilegalmente a


profissão de advogado, embora não haja
tipo penal para tanto, pode ser enquadrado
na figura típica do estelionato na forma do
art. 171, caput, do Código Penal, não está
sujeito às infrações ética-disciplinares”
EAOAB comentado
I – exercer a profissão, quando impedido de fazê-lo, ou
facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não inscritos,
proibidos ou impedidos;

- Exercício irregular ≠ exercício ilegal

- Irregular – infração disciplinar

- Ilegal – ilícito penal

- Destinatário da norma – aqueles regularmente inscritos

Facilitar aos não inscritos, ex: Assinar petição realizada por não advogado;
IMPEDIDO (RESTRIÇÃO PARCIAL):

Art. 30. São impedidos de exercer a advocacia:


I - os servidores da administração direta, indireta e
fundacional, contra a Fazenda Pública que os
remunere (..)
II - os membros do Poder Legislativo (contra a
Fazenda e prestadores de serviços)

*Professores de cursos jurídicos = podem


V – assinar qualquer escrito destinado a processo judicial ou
para fim extrajudicial que não tenha feito, ou em que não
tenha colaborado;

Objetivo: preservar a liberdade e independência do advogado

Exemplos:
• Assinar documentos formulados por outros;
• Assinar petição em desacordo com sua convicção em razão de
subordinação empregatícia;
VI – advogar contra literal disposição de lei, presumindo-se a
boa-fé quando fundamentado na inconstitucionalidade, na
injustiça da lei ou em pronunciamento judicial anterior;

• Objetivo: evitar lides temerárias (proteção do cliente)

• Exige má-fé comprovada – em razão da complexidade da


legislação (excetuam-se as teses de inconstitucionalidade,
injustiça da lei ou precedente judicial)
VIII - estabelecer entendimento com a parte adversa sem
autorização do cliente ou ciência do advogado contrário;
E
XIX - receber valores, da parte contrária ou de terceiro,
relacionados com o objeto do mandato, sem expressa
autorização do constituinte;

Também prevista no art. 2, d, CED;


Objetivo: proteger ambos os clientes (próprio e adverso)
CPC: art. 105 (exige-se procuração com poderes específicos para
transacionar)

VIII - Censura
Diferença: Sanção

XIX - Suspensão
XI - abandonar a causa sem justo motivo ou antes de
decorridos dez dias da comunicação da renúncia;

• Causa: processo judicial; extrajudicial; obrigação contratual etc;

• É justo motivo a ausência de pagamento de honorários?

• Não.
XIV - deturpar o teor de dispositivo de lei, de citação
doutrinária ou de julgado, bem como de depoimentos,
documentos e alegações da parte contrária, para confundir o
adversário ou iludir o juiz da causa;

• CED - Art. 6º É defeso ao advogado expor os fatos em Juízo ou


na via administrativa falseando deliberadamente a verdade e
utilizando de má-fé.

• “Restará configurada quando (...) cumulativamente: a) o texto é


deturpado; b) há intenção de fazê-lo; c) visa a confundir o
adversário ou o julgador“ Lobo, Paulo apud EAOAB Comentado
XVII – prestar concurso a clientes ou a terceiros para
realização de ato contrário à lei ou destinado a
fraudá-la;

“Prestar concurso é ajudar de alguma Bem jurídico tutelado: regular


forma aquele que, em tese, será o aplicação da lei, proteção do
beneficiado pela realização do ato sistema jurídico.
contrário à lei ou com a fraude”
(EAOAB comentado)
Conduta: atuar como coautor ou
partícipe daquele que burla a lei.
“O exemplo clássico de ato ilícito – e que infelizmente resulta em várias
representações nos Tribunais de Ética e Disciplina da OAB – são as
reclamações trabalhistas simuladas. Advogados inescrupulosos, em
conluio com outros colegas, simulam reclamatória com acordo prévio
avençado, buscando a homologação deste pelo Judiciário (...) Objetivando
esse fim, induzem os empregados demitidos, pessoas simples, a erro (...)
tudo em verdadeiro ato simulatório, pois todos os termos do acordo já estão
pactuados antes da propositura da reclamatória.(...) A doutrina ainda refere
outros atos ilegais ou fraudulentos gravíssimos, maculando a dignidade da
advocacia: ‘destinar importância recebida para aquisição de objetos
furtados (...)’ ou “advogado que se utiliza de alvará de soltura
ostensivamente falso para libertar constituintes seus” De Azevedo apud
EAOAB comentado
XIX - receber valores, da parte contrária ou de terceiro,
relacionados com o objeto do mandato, sem expressa
autorização do constituinte;
XX - locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da
parte adversa, por si ou interposta pessoa;
XXI – recusar-se, injustificadamente, a prestar contas ao cliente
de quantias recebidas dele ou de terceiros por conta dele;

• Objetivo: proteção do cliente

• XX - Tipo aberto: não elenca a forma de locupletar-se (receber


mais do que o cliente, levantar depósitos judiciais sem repassar)
O que fazer com o dinheiro se não encontrar o
cliente?
“PRESTAÇÃO DE CONTAS - RELAÇÕES COM O CLIENTE - VALORES
PERTENCENTES AO CLIENTE QUE SE ENCONTRA EM LOCAL
DESCONHECIDO - POSTURAS PRÁTICAS A SEREM ADOTADAS
LASTREADAS EM FUNDAMENTOS ÉTICOS. A prestação de contas é
dever do advogado e direito do cliente, e entre estas está a entrega de
valores a ele pertencentes. Estando o mesmo em local incerto e não
sabido, e uma vez concluída a causa, deve o advogado realizar minudente
prestação de contas, de forma contábil e integral, enviando-a, via Correios,
com A.R. ou equivalente, ao endereço constante da procuração ou do
contrato de honorários. Com a devolução da missiva, deve depositar os
valores em Conta Poupança aberta em nome daquele, devidamente
corrigidos, ou propor as medidas judiciais pertinentes. (...) Proc. E-
4.309/2013 - v.u., em 19/09/2013 TED OAB-SP).
XXV – manter conduta incompatível com a advocacia.
(...)
Parágrafo único. Inclui-se na conduta incompatível:
a) prática reiterada de jogo de azar, não autorizado por lei;
b) incontinência pública e escandalosa;
c) embriaguez ou toxicomania habituais.

• Rol exemplificativo

• Entende-se que a previsão existe para todas as hipóteses não


tipificadas mas que possam ser consideradas reprováveis – a fim
de preservar a dignidade da advocacia
Art. 35. As sanções disciplinares consistem em:
I - censura;
II - suspensão;
III - exclusão;
IV - multa.

• O poder de punir disciplinarmente compete exclusivamente à


OAB;

• Não é disponível: mesmo que o denunciante desista, poderá


seguir o procedimento (a defesa é da classe)
Art. 36. A censura é aplicável nos casos de:
I - infrações definidas nos incisos I a XVI e XXIX do art. 34;
II - violação a preceito do Código de Ética e Disciplina;
III - violação a preceito desta lei, quando para a infração não se
tenha estabelecido sanção mais grave.

• Finalidade: perda da primariedade - anotação da punição nos


assentamentos do advogado (não público)

• Pode ser convertida em advertência – havendo atenuante


(discricionário – ver art. 40)
Art. 37. A suspensão é aplicável nos casos de:
I - infrações definidas nos incisos XVII a XXV do art. 34;
II - reincidência em infração disciplinar.

• Prazo: 30 dias a 12 meses

• XXI e XXIII do 34 (prestar contas e anuidade): até prestação de


contas e pagamento;

• XXIV do 34 (inépcia): até realizar nova prova

• Publicidade: Sim (I.P)


Art. 38. A exclusão é aplicável nos casos de:
I - aplicação, por três vezes, de suspensão;
II - infrações definidas nos incisos XXVI a XXVIII do art. 34.

• Exclusão - Vedação ao exercício da advocacia;

• XXVI a XXVIII (art. 34) – falsidade de documentos para inscrição,


imoralidade e crime infamante.
O QUE É CRIME INFAMANTE?

Não há definição legal – por isso, há quem negue aplicabilidade do


dispositivo

“Parece-nos, portanto, que a aplicação da hipótese de crime


infamante se concretiza, quando possível, de forma subjetiva e
a partir de um grau extremo de gravidade do delito cometido. O
exemplo mais encontrado na doutrina é a prática de crimes
definidos legalmente como hediondos” EAOB comentado
EMENTA N. 30/2013/SCA-TTU. 1. Processo Administrativo de natureza
ética e disciplinar. Arts. 34, inciso XXVII, e 38, inciso II, do Estatuto da
Advocacia e da OAB. Conduta do profissional que o tornou moralmente
inidôneo para o exercício da advocacia. (...) A prática de crime infamante
justifica a exclusão dos quadros da OAB, conforme prescreve o art.
38, inciso II, do Estatuto. Necessidade de trânsito em julgado da decisão
penal condenatória. Precedentes. 4. Exclusão dos quadros da OAB por
tornar-se, o profissional, moralmente inidôneo para o exercício da
advocacia. Violência sexual contra crianças e adolescentes. Registro
de imagens das ocorrências, inclusive com a participação direta do
recorrente. Natureza extremamente repulsiva e especialmente grave das
condutas consideradas. (...) Pena de exclusão dos quadros da OAB
mantida. Decisão unânime.288
É possível a reabilitação ou a exclusão é
definitiva?

“Admitida está, no entanto, a reabilitação da sanção observados os


requisitos do art. 8º, I, V, VI e VII, EAOAB. A reabilitação, no entanto, não
mitiga o caráter definitivo da sanção, uma vez que, ainda que reabilitado, o
profissional não recuperará o número de inscrição originário” EAOAB
comentado
Art. 39. A multa, variável entre o mínimo correspondente ao valor de uma
anuidade e o máximo de seu décuplo, é aplicável cumulativamente com a
censura ou suspensão, em havendo circunstâncias agravantes.

“A multa representa sanção complementar à censura e suspensão quando


presente circunstância agravante.
Não pode ser aplicada de forma autônoma e seu valor, no importe mínimo de
uma e máximo de dez anuidades, é direcionado ao Conselho Seccional” EAOAB
comentado
Art. 40. Na aplicação das sanções disciplinares, são consideradas, para fins
de atenuação, as seguintes circunstâncias, entre outras:
I - falta cometida na defesa de prerrogativa profissional;
II - ausência de punição disciplinar anterior;
III - exercício assíduo e proficiente de mandato ou cargo em qualquer órgão
da OAB;
IV - prestação de relevantes serviços à advocacia ou à causa pública.
Parágrafo único. Os antecedentes profissionais do inscrito, as atenuantes,
o grau de culpa por ele revelada, as circunstâncias e as conseqüências da
infração são considerados para o fim de decidir:
a) sobre a conveniência da aplicação cumulativa da multa e de outra sanção
disciplinar;
b) sobre o tempo de suspensão e o valor da multa aplicáveis.
Ausência de punição disciplinar anterior;

• Discute-se a necessidade de trânsito em julgado (prevalente, não);

Exercício assíduo e proficiente de mandato ou cargo em órgão da OAB;

“A expressão deve ser entendida, literalmente, como cumulativa, exigindo


assiduidade e proficiência. Muitas vezes, a longa permanência no cargo ou no
exercício do mandato não vem acompanhada da necessária e desejada
capacidade para as funções. O exercício meramente formal de mandato ou cargo
não satisfaz as exigências da regra” EAOAB comentado
Aplicação cumulativa da multa e de outra sanção disciplinar, tempo da
suspensão e valor da multa

• Necessidade de fundamentação; caráter amplamente discricionário:

• Multa – 1 a 10 anuidades;
• Suspensão – 30 dias a 12 meses
Art. 41. É permitido ao que tenha sofrido qualquer sanção disciplinar
requerer, um ano após seu cumprimento, a reabilitação, em face de provas
efetivas de bom comportamento.
Parágrafo único. Quando a sanção disciplinar resultar da prática de crime, o
pedido de reabilitação depende também da correspondente reabilitação
criminal.

“Embora pareça inadmissível a reabilitação postulada por advogado excluído


(porque, perde sua credencial profissional com cancelamento da inscrição e têm
extintos seus vínculos com a Instituição, vez que a exclusão é a penalidade
máxima), atendendo consulta nesse sentido formulada pela Ordem dos
Advogados do Brasil, Seção do Paraná, sob nº49.0000.2014.008016-6/OEP, o
Conselho Federal entendeu que, a despeito de seu caráter de definitividade, a
pena de exclusão é compatível com a reabilitação, sem restauração do
número de inscrição anterior e com submissão a novo processo de seleção,
dispensado o bacharel de prestar novo Exame de Ordem”
Art. 43. A pretensão à punibilidade das infrações disciplinares prescreve em
cinco anos, contados da data da constatação oficial do fato.
§ 1º Aplica-se a prescrição a todo processo disciplinar paralisado por mais
de três anos, pendente de despacho ou julgamento, devendo ser arquivado
de ofício, ou a requerimento da parte interessada, sem prejuízo de serem
apuradas as responsabilidades pela paralisação.

Prescrição à pretensão punitiva – 05 anos para o julgamento (contados da


constatação oficial pela OAB – representação ou de ofício)

Prescrição intercorrente – 03 anos de inércia durante o curso do processo.


Referências

BRASIL. Lei 8.906 de 4 de julho de 1994. Dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a


Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). D.O.U de 5 de julho de 1994.

OAB. Resolução n. 02 de 2015. Aprova o Código de Ética e Disciplina da Ordem dos


Advogados do Brasil – OAB. Brasília: 19 de outubro de 2015.

PIOVEZAN, Giovani Cassio. Estatudo da advocacia e da OAB comentado. Curitiba:


OABPR, 2015. 481 p.

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